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1 Consumo Sustentável no contexto empresarial – O caso da cadeia de suprimentos do Walmart Brasil Autoria: Minelle Enéas da Silva, Luis Felipe Machado Nascimento Resumo Sob o contexto de novas relações de mercado, o objetivo do artigo é analisar como o Walmart Brasil se relaciona com seus fornecedores sob a perspectiva do consumo sustentável. Para tanto, com pesquisa exploratória e abordagem qualitativa, analisa-se a marca Hiper Bompreço em Recife-PE, tendo o desenvolvimento sustentável como pano de fundo das discussões realizadas. Assim, identificou-se direcionamento suave da empresa para uma mudança em suas interações com seus stakeholders, tanto em seu posicionamento estratégico como em suas ações cotidianas de acordo com as parcerias desenvolvidas, o que facilita a construção de novas responsabilidades em toda a sociedade.

Consumo Sustentável no contexto empresarial – O caso … não apenas consumir menos, mas diferente e eficientemente. Assim sendo, entende-se que para que seja posto em prática

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Consumo Sustentável no contexto empresarial – O caso da cadeia de suprimentos do Walmart Brasil

Autoria: Minelle Enéas da Silva, Luis Felipe Machado Nascimento

Resumo Sob o contexto de novas relações de mercado, o objetivo do artigo é analisar como o Walmart Brasil se relaciona com seus fornecedores sob a perspectiva do consumo sustentável. Para tanto, com pesquisa exploratória e abordagem qualitativa, analisa-se a marca Hiper Bompreço em Recife-PE, tendo o desenvolvimento sustentável como pano de fundo das discussões realizadas. Assim, identificou-se direcionamento suave da empresa para uma mudança em suas interações com seus stakeholders, tanto em seu posicionamento estratégico como em suas ações cotidianas de acordo com as parcerias desenvolvidas, o que facilita a construção de novas responsabilidades em toda a sociedade.

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1. Introdução Em meio às dinâmicas sociais que são observadas em todo o mundo, as quais podem ser observadas em diferentes âmbitos, principalmente o econômico e o ambiental, surgem as discussões pela necessidade de um novo pensamento coletivo voltado para a continuidade das ações humanas no planeta, o chamado desenvolvimento sustentável (DS). Para que possa ser praticado, a discussão que permeia esse modelo emergente de desenvolvimento relaciona-se com a busca pela harmonização de dimensões fundamentais (social, econômica e ambiental) no sentido de atender as necessidades das gerações atuais sem comprometer a satisfação das necessidades das futuras gerações (ELKINGTON, 2001; SACHS, 2007; WCDE, 1987). Dentro dessa perspectiva, assumindo que as empresas estão inseridas em um contexto de interações sociais que surge de um envolvimento coletivo de diferentes atores, torna-se necessário discutir junto a esses, aspectos referentes a uma prática mais responsável de produção e, por consequência, do consumo. Desse modo, iniciam-se as discussões sobre a perspectiva do consumo sustentável. Compreendido como um padrão de consumo resultante da inter-relação entre diferentes stakeholders (Jackson, 2007; Michaelis, 2003; Silva, 2012), o consumo sustentável (CS) para que possa ser efetivado, enquanto uma prática coletiva, necessita de mudanças em diferentes contextos de atuação. Segundo Michaelis (2003) essas interações se dão em uma rede de influências, na qual cada um dos atores existentes podem desenvolver papéis e assumir responsabilidades para esse novo padrão de consumo. Na literatura acadêmica sobre CS as discussões ainda se apresentam como incipientes (Jackson; Michaelis, 2003; Jackson, 2007), todavia percebe-se que dentre outras ações discutidas, as empresas ao incorporarem novos comportamentos às suas atividades podem se direcionar para uma prática mais responsável no mercado (MICHAELIS, 2003). Essas formas de atuação podem envolver desde ações individuais como a incorporação da eco-eficiência à atividade organizacional, até àquelas interativas, na qual existe um envolvimento com, por exemplo, a interação direta com sua cadeia de suprimentos (MICHAELIS, 2003; WCBSD, 2008). Essa visão mostra que as organizações devem estar continuamente interagindo com diferentes atores para que suas atividades sejam desenvolvidas de forma responsável e que se torne possível o alcance de um consumo sustentável. Dentre as várias possibilidades de atuação, discute-se como uma das mais impactantes nesse processo o envolvimento com os integrantes da cadeia de suprimentos. Essa ideia é corroborada por Elkington (2001) quando o mesmo indica que para que as empresas consigam contribuir com a perspectiva da sustentabilidade as mesmas devem assumir sua responsabilidade e trabalhar com o chamado Triple Bottom Line, repassando práticas responsáveis para todos os participantes de sua cadeia, havendo assim uma participação mais ativa no mercado.

A cadeia de suprimentos que é composta por todos aqueles que trabalham voltados a atividade principal da organização, desde a obtenção de matérias-primas, da produção e da entrega dos produtos ou serviços ao último cliente (PIRES, 2007; REID; SANDERS, 2005), está continuamente sujeita a um processo de gestão que norteia as atividades da organização. Tal fato torna-se mais complexo na medida em que se começa a trabalhar de forma integrada a cadeia de suprimentos e as performances econômica, social e ambiental inerentes ao DS (LINTON; KLASSEN; JAYARAMAN, 2007). Nessa perspectiva, entende-se que com os programas desenvolvidos pelas organizações e a incorporação de novas práticas por cada intermediário da cadeia, mudanças são visualizadas nas práticas desses atores.

Com essa noção de mudanças nas organizações, há a possibilidade de reestruturação tanto nas formas de produção como nos padrões de consumo da população como um todo (TUKKER et al., 2008). Esse pensamento é corroborado por Schumacher (2001) quando o autor indica que deve haver um alinhamento entre a redução da produção de bens que gera grande impacto ambiental e nas taxas de consumo da sociedade, o que sugere novas práticas

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empresariais, ou seja, uma mudança no comportamento assumido no mercado sob um campo de atuação diferente do que até então é praticado, isso por meio da incorporação de práticas que ampliam seu desempenho (GONZÁLEZ-BENITO; GONZÁLEZ-BENITO, 2005).

Nesse sentido, o objetivo é analisar como o Walmart Brasil se relaciona com seus fornecedores sob a perspectiva do consumo sustentável. Para tanto, utiliza-se o setor de supermercados como campo de estudo, buscando projetar as práticas do Walmart Brasil em Recife (PE) para a compreensão dessa relação. A escolha da empresa justifica-se pelo novo posicionamento que a mesma vem assumindo, ao redefinir seu comportamento no mercado (GUNTHER, 2006; SILVA; SANTOS, 2011). Assim, entende-se que a análise da díade selecionada fornece um panorama das ações que são desenvolvidas pela empresa, o que facilita o desenvolvimento de discussões voltadas para o consumo sustentável.

Como forma de melhor compreender a proposta do artigo, o mesmo está dividido em quatro partes distintas além dessa introdutória. São apresentados num segundo momento os aspectos teóricos norteadores da pesquisa para o entendimento do fenômeno. Em seguida visualizam-se os procedimentos metodológicos. Na quarta seção são apresentados e discutidos os resultados da pesquisa, com uma caracterização macro sobre a empresa, a indicação das interações direcionadas para o consumo sustentável, bem como as relações da empresa com sua cadeia de suprimentos. Além disso, como forma de reflexão sobre esses resultados são apresentadas as considerações finais. 2. Discussão Teórica 2.1 Consumo Sustentável

Considerando o contexto de mudança atual, entende-se a necessidade de revisão nas formas de produção e consumo praticadas, tendo em vista a efetivação do consumismo que vem sendo observado na maioria das populações ao redor do mundo, considerando os aspectos culturais de muitos países em meio à sociedade de consumo (ASSADOURIAN, 2010). Assim, verifica-se como necessária a mudança no paradigma de consumo, de modo que seja possível a continuidade de consumo em escala mundial. Ao iniciar o direcionamento das ações humanas para uma perspectiva relacionada com o desenvolvimento sustentável, torna-se possível incluir a discussão do consumo com uma apreciação mais coletiva e preocupada com a continuidade da sociedade no planeta.

No contexto social, a mudança nas práticas de consumo “reflete o momento cultural a qual a sociedade está inserida, perante as dinâmicas e demandas requeridas, necessitando, assim, de um direcionamento coletivo para a efetivação de um desenvolvimento emergente, o sustentável” (SILVA, 2011, p.29). Com isso, entende-se que seguindo a ideia de mudança de paradigma e considerando-a viável, estão surgindo novas preocupações do consumidor, as quais mudam o foco individualista de seu consumo para uma visão mais ampla em termos de consciência do mesmo (MICHAELIS, 2000). Surge, portanto, na visão desses autores o movimento na sociedade por um consumo mais responsável.

Para se trabalhar com o padrão sustentável de consumo, não se devem observar apenas as ações desenvolvidas pelos consumidores, mas sim um conjunto de interações sociais que são desenvolvidas de modo tal que se consiga trabalhar a perspectiva política desenvolvida em meio as relações de consumo em determinado setor econômico. Assim, percebe-se que, segundo Jackson (2004; 2007), para que o consumo sustentável (CS) possa ser praticado é necessária uma adequação dos padrões de consumo à nova realidade social, entendendo que a partir da redução no consumo de boa parte dos materiais, bem como de um redirecionamento das práticas desenvolvidas seu alcance se torna facilitado.

De acordo com Portilho (2005), o CS surge como uma nova perspectiva em relação às estratégias públicas quanto à esfera do consumo, as novas formas de produção das empresas,

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bem como as mudanças comportamentais dos indivíduos no mercado. O mesmo pode ser alcançado pelo compartilhamento de responsabilidades, em meio a uma nova atuação em todas as esferas – econômicas, sociais e políticas, representadas genericamente pelo governo, as empresas e demais atores da sociedade, enfim, por cada indivíduo-cidadão que possua a autonomia e o entendimento nessa prática (CORTEZ; ORTIGOZA, 2007; MICHAELIS, 2000; 2003). De forma direta, Jackson (2004) indica que a prática sustentável do consumo envolve não apenas consumir menos, mas diferente e eficientemente. Assim sendo, entende-se que para que seja posto em prática o consumo sustentável é necessário levar-se em consideração as relações de influência que esses stakeholders possuem sobre o consumo, no qual cada um deve assumir a identidade de seus papéis individuais, dentro da ideia de coletividade que é utilizada para o estudo da temática. Entendendo que esse é um processo cultural, complexo e capaz de auxiliar a efetivação de um novo paradigma de consumo em relação à perspectiva emergente de desenvolvimento, percebe-se que os diferentes autores que discutem consumo sustentável, direcionam seus posicionamentos para o papel dos stakeholders envolvidos nesse processo, desse modo torna-se relevante entender os compromissos e responsabilidade que os mesmos possuem nesse sentido.

Assim frente ao consumo sustentável, cada ator necessita assumir responsabilidades distintas, mas convergentes ao objetivo maior que envolve a reestruturação no paradigma de consumo utilizado. Nessa perspectiva, além das empresas que estão inseridas em diferentes estruturas e que possuem diferentes comportamentos, outros atores podem ser visualizados nesse sistema, direcionando-se para o consumo sustentável, dentre os quais se identifica: os fornecedores, os competidores, organizações do terceiro setor, as instituições financiadoras, as universidades, a mídia, o governo e os indivíduos (dentro do contexto da comunidade) (MICHAELIS, 2003; SILVA, 2012). Para a presente discussão optou-se pela análise das práticas responsáveis junto aos fornecedores ao longo da cadeia de suprimentos selecionada. 2.2 Cadeia de suprimentos e Sustentabilidade sob a ótica da responsabilidade Compreendendo que para que as organizações consigam estar atuando no mercado as mesmas em todas as etapas, de produção e consumo, necessitam estar interagindo com outros atores, se seu comportamento de mercado estiver alinhado a uma perspectiva responsável preocupando-se com a sustentabilidade, as relações por suas interações desenvolvidas podem contribuir diretamente para o consumo sustentável. Isso se apresenta como possível a partir de um processo gerencial, no qual o gestor que possui a capacidade de escolha, bem como o poder de decisão, pode optar pelos melhores direcionamentos para a organização. Segundo Jonas (2006) a partir do momento em que uma ética da responsabilidade é incorporada aos comportamentos de diferentes indivíduos, no qual o mesmo busca preocupar-se com as consequências para as gerações atuais e futuras, o mesmo pode dar continuidade a um ciclo virtuoso no qual suas ações contribuem positivamente com as do outro. Caso esse fato seja incorporado nas ações das organizações para com toda sua cadeia de suprimentos, é possível se observar que um conjunto de práticas sob uma nova perspectiva está sendo desenvolvido e que seus resultados podem guiar as organizações e suas interações para uma nova atuação, sejam essas voltadas para a produção ou para o consumo. Entende-se por cadeia de suprimentos a relação de parceria de diferentes atores que estão focados no suporte para o atendimento das necessidades de uma empresa focal. A configuração dessa cadeia, de acordo com Roldan e Hansen (2012), depende das decisões tomadas por essa empresa em relação aos parceiros com quem interage. Para tanto, necessita-se que um processo de gestão, a qual se refere ao gerenciamento da rede de relacionamento entre atores atuantes em diferentes negócios que convergem em um mesmo sentido (LEITE; PRIMO, 2011; ROLDAN; HANSEN, 2012). Num novo contexto de mercado, cada vez essa

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visão tem convergido para uma adequação às práticas sustentáveis para com todos os participantes de determinada cadeia. Essa ideia de sustentabilidade na cadeia de suprimentos traz a perspectiva de maior responsabilidade por parte dos diferentes stakeholders para a cadeia, ou seja, novas práticas e ações resultantes das interações entre os atores da cadeia, todos voltados a uma preocupação com as gerações atuais e futuras. Para tanto, é necessário compreender essa relação sob um contexto complexo com o qual a sustentabilidade influencia em todo o processo de relação e gestão dos atores da cadeia, principalmente quando se foca na empresa focal, na busca por performance no contexto do Triple Bottom Line e no ciclo de vida dos produtos entregues ao final do processo de produção (MATOS; HALL, 2007; ZUCATTO; PEDROZO, 2011). Assim sendo, torna-se totalmente necessário que haja um processo de gestão atuando nas relações que envolvem a sustentabilidade de uma cadeia de suprimentos de modo tal que a busca pelas mudanças nos paradigmas atuais possa ser mais bem visualizada. Segundo Crater e Rogers (2008) entende-se por gestão da sustentabilidade na cadeia de suprimentos a integração entre a atuação estratégica e transparente com o alcance de metas sociais, econômicas e ambientais na coordenação sistêmica dos principais processos organizacionais para que haja uma melhoria significativa no longo prazo de desempenho da organização e suas cadeias de suprimentos. Tal fato para Linton, Klassen e Jayaraman (2007) deve sempre ser observado em todas as etapas definidas desde a produção até o consumidor final. Essa discussão de envolvimento da responsabilidade da empresa com as interações necessárias em sua cadeia é perpassada por Ramalho (2001) quando a autora discute o processo de incorporação e conscientização do indivíduo enquanto tomador de decisão a partir da ética da responsabilidade pode facilitar uma responsabilidade social corporativa e, por conseguinte, atuação mais responsável dessa organização individualmente e para com todos aqueles com as quais a mesma possa vir a se relacionar. Diante de todas essas considerações, percebe-se que existe um conjunto de relações que podem ser desenvolvidas de maneira tal que o comportamento ético de um gestor e o seu relacionamento por meio de interações sociais com outros stakeholders facilite o alcance de sustentabilidade na cadeia de suprimentos e possa contribuir para com o consumo sustentável no setor analisado. 2.3 Aproximando a Cadeia de Suprimentos ao Consumo Sustentável

A partir dessa visão assume-se o foco nas empresas e em como as mesmas podem contribuir para com o consumo sustentável, a partir das interações com outros stakeholders. Em geral, a comunidade empresarial tem interpretado o CS como apenas o consumo de produtos sustentáveis ou ecologicamente corretos, todavia o que se percebe é que existe uma complexidade maior que circunda a prática sustentável do consumo, por esse motivo é que se discute a ideia de interações sociais (MICHAELIS, 2003). Assim, em meio a esse contexto, três dimensões devem ser consideradas na atuação de uma empresa: (1) desenvolvimento de tecnologias e novas práticas; (2) mudança nos incentivos econômicos, já que segundo o modelo as interações sociais são modificadas em torno da empresa e (3) mudança cultural por parte da empresa em seu contexto de influências.

Málovics, Csigéné e Kraus (2008) corroboram a ideia indicando a possibilidade de atuação empresarial em direção a um consumo mais ou menos sustentável, devendo-se observar os comportamentos adotados pelas mesmas. Baseando-se nessa perspectiva, Silva (2011) desenvolveu uma pesquisa na qual definiu um conjunto de variáveis que estão relacionadas a essa abordagem e que facilitam a identificação prática das ações empresariais nesse sentido. Segundo o autor devem ser analisados: Eco-eficiência, Práticas próprias de consumo, Incentivos do governo, Elos da cadeia de suprimentos, Edição de escolha, Cidadania corporativa, Marketing responsável e Diálogo com stakeholders, cada uma dessas categorias sendo desdobradas em diferentes critérios de análise a ser verificados.

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Para a pesquisa, optou-se pelo foco nas categorias: Elos da cadeia de suprimentos e Edição de escolha. Para que possam ser analisadas, elas são tidas de forma complementar a ideia de incentivos econômicos trazida por Michaelis (2003) na sua discussão sobre o papel das empresas para o consumo sustentável. Para o autor, além dos incentivos governamentais recebidos, outros intermediários devem ser incentivados à perspectiva responsável. Assim, se a cadeia assim for trabalhada, essa pode ser instrumento de promoção para o consumo sustentável a partir da criação de novos padrões sociais e ambientais (MICHAELIS, 2003; MUSTER, 2010; WBCDS, 2008). Desse modo, a partir dos programas desenvolvidos por cada empresa, o processo de incorporação de novas práticas por cada intermediário deve ser realizado a partir de uma mudança clara nas práticas individuais desses atores. Esse aspecto relaciona-se diretamente com outro ponto levantado na discussão sobre CS quanto às mudanças nos incentivos econômicos no que se refere às edições de escolha. Voltadas para a mudança na maneira como se controla as decisões tomadas por cada um dos atores que estão envolvidos, as edições de escolha indicam quais os posicionamentos de cada ator dentro do conjunto de interação à qual a empresa está inserida (TUKKER et al., 2008; WBCSD, 2008). Assim, esses possuem características específicas em sua edição de escolha, que no caso das empresas a escolha pode ser realizada com relação aos seus fornecedores, aos produtos a serem vendidos, a transparência para com seus consumidores ou prática educativa desses para um estilo de vida mais sustentável. Para cada uma dessas escolhas, mudanças nas práticas empresariais devem ser observadas, sejam essas nos incentivos econômicos propostos pela interação empresa-governo, nos incentivos ao longo da cadeia de suprimentos por todos os elos do produtor ao consumidor, ou ainda, às edições de escolha que podem ser realizadas por cada um desses atores. No entanto, todos esses aspectos só podem ser observados a partir de uma mudança no modelo econômico e no modelo de negócio utilizado pelas organizações, para que de fato se observem mudanças claras nas relações existentes no mercado (MICHAELIS, 2003). Desse modo, ratifica-se a necessidade de uma discussão sobre a perspectiva selecionada. 3. Procedimentos Metodológicos

Com o objetivo de analisar como o Walmart Brasil se relaciona com seus fornecedores sob a perspectiva do consumo sustentável, o desenvolvimento da pesquisa efetivou-se por meio de uma abordagem qualitativa, na medida em que se busca entender a efetivação de uma relação (OLIVEIRA, 2005). Para tanto, a mesma pode ser considerada como exploratória por buscar o reconhecimento do contexto argumentativo-teórico e das características pertinentes ao setor e a empresa para explicar o fenômeno (CRESWELL, 2010). Para tanto, utiliza-se a estratégia de estudo de caso, já que a mesma proporciona uma visualização macro do contexto que a empresa está inserida, além de suas características singulares (GOLDENBERG, 2009).

A partir dessa perspectiva, a pesquisa trabalhou com o estado de Pernambuco, já que o mesmo é a sede da empresa na região Nordeste. Nesse contexto, a seleção da marca Hiper Bompreço é relevante pela grande representatividade que essa possui quanto às estratégias socioambientais do Walmart Brasil, considerando que a mesma é uma das representantes de hipermercado que integram a empresa no contexto nacional. Vale ressaltar que o trabalho é fruto de uma pesquisa maior que analisa todas as dimensões, categorias e critérios elaborados para o modelo de Michaelis (2003), o que será perpassado nas análises, todavia para questões desse artigo o foco maior está na relação direta entre a empresa e seus fornecedores.

São tidos como métodos de verificação o levantamento bibliográfico e documental e a realização de entrevistas semiestruturadas, complementada por observação em diferentes lojas que possuem a marca. Participaram do processo de coleta de dados o Diretor Nacional de Comunicação, a Gerente Regional (NE) de Comunicação, que respondem diretamente sobre todas as práticas da empresa voltadas para a questão da sustentabilidade. Para a realização das

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análises foram utilizados como variáveis discutidas na aproximação entre as temáticas antes realizada: Disseminação de práticas responsáveis, Capacidade de influência, Processo decisório responsável, Análise da procedência do produto a ser vendido. Definiu-se como procedimento de análise dos dados a análise de conteúdo na perspectiva de Bardin (2009) para as entrevistas realizadas, as informações contidas no website e nos documentos utilizados, bem como na análise da observação, que foi realizada tanto no momento da realização das entrevistas como nas diferentes lojas visitadas. Para a análise das categorias foram utilizados os parâmetros de análises definidos por Silva (2011) para facilitar a aplicabilidade e operacionalização da pesquisa. Com as respostas dos métodos de verificações, tornou-se possível a realização de uma triangulação de dados para efetivar a validação dos resultados encontrados (CRESWELL, 2010). 4. Resultados e Discussões

Os negócios do Walmart começaram a ser realizados no Estado do Arkansas (EUA) em 1962 e atualmente estão sendo praticados em 15 diferentes países sob o foco de multimarcas. No Brasil suas atividades começaram a ser desenvolvidas no interior de São Paulo em 1995, com a marca Walmart Supercenter, e ao longo de um processo de expansão, a empresa entrou no mercado nordestino em 2004, a partir da aquisição da rede Bompreço de supermercados, agregando ao grupo mais 118 lojas e 03 centros de distribuição na região. Após quase duas décadas de atuação no mercado brasileiro, a empresa indica que vem buscando atender a diferentes perfis de consumidores (WALMART BRASIL, 2010a).

Apesar de conhecido em contexto global, o Walmart possui um destaque e uma imagem no mercado por muitos questionável – a de uma empresa socioambientalmente responsável. Segundo depoimento do Diretor Nacional de Comunicação do Walmart, a preocupação com o problema do aquecimento global e a busca pelo atendimento da missão empresarial – vender por menos para as pessoas viverem melhor – foram estímulos para o início das práticas responsáveis ao entender que para uma melhor qualidade de vida dos seus consumidores a empresa deve direcionar suas atividades a um desenvolvimento sustentável, transformando essa visão em um dos pilares estratégicos da empresa (Tabela 01).

2007 2008 2009 2010Ser a melhor opção deexperiência de comprapara o consumidor

Ser a melhor opção deexperiência de comprapara o consumidor

Ser a melhor experiênciade compras, com preçosimbatíveis

Crescimento acelerado

Focar na redução de custose na produtividade

Foco em custo baixo epreço baixo

Foco na redução de custose no aumento daprodutividade

Melhora na rentabilidade

Crescer de forma lucrativae contínua

Crescer de forma lucrativae contínua

Crescer de forma lucrativae contínua

Ser líder emsustentabilidade eresponsabilidade socialcorporativa

Ter funcionáriosengajados e motivados

Engajar e motivar osfuncionários

Engajar e desenvolver osfuncionários

Ser líder emresponsabilidade social eambiental

Liderar emsustentabilidade

Ser líder emsustentabilidade eresponsabilidade social

Ser o melhor canal entre ofornecedor e o consumidor

Ser o melhor canal entre ofornecedor e o consumidor

Ser o melhor canal entre ofornecedor e o consumidor

Ano de Exercício analisado

Estratégias Corporativas

Tabela 01: Pilares estratégicos do Walmart Brasil

Fonte: Walmart Brasil (2008, p.22; 2009, p.17; 2010b, p.13; 2011, p.13)

Como se pode observar anteriormente, ao longo dos anos a empresa esteve envolvida

com a preocupação com a sustentabilidade ao incorporar essa ideia às suas estratégias. Isso

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pode ser considerado mesmo que essa preocupação tenha assumido um aspecto de diferencial de mercado, por buscar continuamente a ideia de liderança. Liderar não quer dizer que há atuação responsável, por isso é necessário observar quais são as outras ações desenvolvidas pela empresa para identificar se a mesma de fato está atuando positivamente na área. Assim, considerando o modelo de Michaelis (2003) apresentado no referencial teórico, busca-se a seguir identificar quais as principais contribuições da empresa para o consumo sustentável no setor, bem como discutir como se dá o relacionamento sua cadeia de suprimentos. 4.1 Consumo Sustentável no setor de supermercados Para que se possa focar na relação proposta entre a cadeia de suprimentos e o consumo sustentável é necessária uma visualização global de como se apresenta as práticas realizadas sobre a empresa selecionada na busca pelo atendimento de suas estratégias voltadas para sua busca pela liderança em sustentabilidade. Assim, no Quadro 1 está apresentado o mapeamento realizado para cada uma das variáveis elaboradas no processo de pesquisa no Walmart Brasil. Como se observa as variáveis se distribuem em diferentes níveis, mas existe um sentido voltado para uma contribuição positiva da empresa nesse sentido.

Dimensão Categoria Teórica Critérios Situação contributiva

Reciclagem Desfavorável

Reutilização Desfavorável

Estrutura física da loja Desfavorável Eco-eficiência

Certificação Desfavorável

Água Em desenvolvimento

Energia Em desenvolvimento

Gestão de resíduos Em desenvolvimento

Desenvolvimento de novas tecnologias e

práticas Práticas de consumo próprias

Transportes Desfavorável

Comportamento reativo Em desenvolvimento Incentivos do governo

Negociação Em desenvolvimento

Disseminação de práticas responsáveis

Favorável Elos na cadeia de suprimentos

Capacidade de influência Favorável

Processo decisório responsável

Em desenvolvimento

Mudanças nos incentivos econômicos

Edição de escolha Análise da procedência do produto a ser vendido

Em desenvolvimento

Boa cidadania corporativa

Favorável

Cidadania corporativa Disseminação do consumo consciente junto aos funcionários

Favorável

Composto de marketing responsável

Em desenvolvimento Marketing responsável

Relatório social Favorável

Relação com a mídia Favorável

Relação com a comunidade

Favorável

Mudança cultural na rede de influências

Diálogo com stakeholders

Relação com instituições não-governamentais

Favorável

Quadro 1: Quadro-resumo da contribuição da empresa para o consumo sustentável Fonte: Pesquisa de Campo (2011)

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Essa visualização macro apresentada demonstra uma prática favorável da empresa no que se refere aos Elos de sua cadeia de suprimentos, alem de práticas em desenvolvimento na variável Edição de escolha. Tal panorama indica a possibilidade de uma convergência quanto as variáveis que são foco desse artigo. Deve-se entender que, para o desenvolvimento de uma pesquisa sob o contexto do consumo sustentável, apesar de trabalhar apenas com poucas variáveis essas outras relações identificadas junto à organização sugerem a existência ou não de homogeneidade em suas práticas. Assim, o que chama mais atenção é que as principais contribuições da empresa estão no contexto cultural em sua rede de influências, um aspecto interessante para as relações às quais a mesma assume em todo o varejo de supermercados. 4.2 Cadeia de suprimentos e Consumo Sustentável A partir dessa visão macro, foca-se agora na interação com a cadeia de suprimentos. Isso ocorre mais especificamente com relação à díade empresa-fornecedor, o que pode facilitar mais positivamente na busca por um consumo sustentável, se existem produtos com preocupação sustentável e consumidores disponíveis a comprá-los. Salienta-se que as análises buscam relações e interações que podem contribuir para o consumo sustentável, nesse caso utilizando apenas uma das dimensões do modelo de Michaelis (2003), com o foco na prática do Walmart Brasil no contexto nacional e em sua influência na contribuição de práticas responsáveis no Hiper Bompreço. Assim, a seguir estão apresentados os achados de pesquisa. 4.2.1 Elos na cadeia de suprimentos Numa perspectiva de responsabilidade e interação efetiva da empresa para com todos os integrantes de sua cadeia, entende-se que na análise dessa categoria deve-se considerar a disseminação de práticas sustentáveis com os elos da cadeia de suprimentos de modo que as ações de cada intermediário se tornem responsáveis (MICHAELIS, 2003; MUSTER, 2010; WBCSD, 2008). Para que a mesma possa ser analisada deve se observar a disseminação de práticas responsáveis, bem como a capacidade de influência ao longo da cadeia (SILVA, 2011). Tais variáveis facilitam a compreensão de como os elos estão interagindo e atuando no mercado. Essa ideia apresenta-se como complementar a discussão sob a mudança em incentivos econômicos como indicado no referencial teórico. No intuito de identificar como está sendo desenvolvido o processo de mudança nos incentivos do setor estudado faz-se necessário analisar a variável disseminação de práticas responsáveis. Para tanto, considera-se que a partir da disseminação de informações e práticas responsáveis ao longo da cadeia de suprimentos mais facilitada a mudança no comportamento coletivo para o consumo sustentável. Essa variável torna-se necessária no sentido de entender como estão sendo desempenhadas as ações por parte dos fornecedores da empresa. Esse fato pode ser observado a partir da realização de parcerias ou ainda da imposição de mudanças em seus comportamentos, o que depende da maneira como o Walmart Brasil se comporta e se posiciona no mercado.

Segundo a empresa “em seu relacionamento com os fornecedores, a mesma adota um modelo de estímulo mútuo e crescimento integrado, visando consolidar uma rede de negócios sustentáveis dos pontos de vista econômico, social e ambiental” (WALMART BRASIL, 2009, p.53). Isso é visualizado nas suas relações comerciais, já que a mesma possui uma política de ética na cadeia de suprimentos, aplicada a todos os fornecedores. Além disso, a empresa possui o chamado Acordo de Fornecedores que inclui normas para estimular boas práticas em relação às legislações social e ambiental nas unidades produtivas (WALMART BRASIL, 2011). Como resultado dessas ações identifica-se que:

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Impulsionadas pela parceria com o Walmart Brasil, grandes empresas detentoras de marcas tradicionais e com importante participação nos mercados nos quais atuam aceitaram o desafio de avaliar o próprio negócio, em busca de oportunidades de reduzir os impactos ambientais do ciclo de vida de um de seus produtos, desde a fabricação até o descarte (WALMART BRASIL, 2010b, p. 28).

Essas ações dos fornecedores foram estimuladas pela empresa, por meio do programa Sustentabilidade de Ponta a Ponta, na qual a mesma conseguiu realizar uma parceria com dez grandes empresas de modo que alguns produtos começaram a ser visualizados sob uma nova perspectiva. As empresas que participaram desse projeto foram: 3M do Brasil, Cargill, Coca-cola, CP Colgate-Palmolive, Johnson & Johnson, Nestlé, Pepsico do Brasil, Procter & Gamble, Unilever Brasil e Walmart Brasil (marca) (WALMART BRASIL, 2010b, p.29). Sua participação gerou o desenvolvimento de diferentes produtos (Figura 1) que estão alinhados com uma nova perspectiva empresarial, contribuindo positivamente para a mudança nos padrões de consumo dos consumidores finais.

Figura 1: Produtos que integram o programa Sustentabilidade de Ponta a Ponta

Fonte: Walmart Brasil (2010c) Esses produtos começaram a apresentar novas contribuições para a responsabilidade social definida como pilar estratégico da empresa. Os resultados foram tão positivos que em agosto de 2011 foi lançado o anúncio da ‘Segunda Onda da Sustentabilidade de Ponta a Ponta’, para a Gerente Regional (NE) de comunicação da empresa:

Mais 12 Empresas estão participando. Veio aí uma TV da Phillips que usa lâmpadas recicladas, quebradas, moídas pra fazer a tela... Veio o Guaraná Antarctica, que reciclou a tampa e o Rótulo. Veio a Sara Lee, com um café especial, sem tinta na embalagem, todo branco. Isso é muito arriscado pra um fornecedor que tem já uma marca na embalagem dele, mudar a embalagem.

Como se observa, novas empresas que começaram a buscar contribuir com algo planejado para o Walmart Brasil, contribuindo também para toda a sociedade. Como essa forma de atuação é mais em âmbito nacional, entende-se que os produtos que forem resultantes da mudança no processo produtivo de cada fornecedor serão integrados ao mix da empresa. Desse modo, quanto a essa variável há um alinhamento empresarial, na qual as decisões que forem realizadas no Walmart Brasil serão disseminadas com todos os fornecedores parceiros e em todas as marcas que integram a empresa, dentre as quais o Hiper Bompreço localizado em Recife/PE. Esse aspecto pode ser visualizado ainda a partir do programa Clube de Produtores que visa integrar pequenos fornecedores, no caso de produtos agrícolas, à perspectiva responsável da empresa, já que incentivos são dados aos mesmos para que seus produtos estejam apresentados no salão de vendas. Os mesmos assumem um local de destaque na empresa, esse fato ocorre claramente na região sudeste pela observação do pesquisador, todavia a partir da

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observação realizada em Recife apenas na loja Hiper Bompreço Boa Viagem identificou-se a existência de um destaque desses produtos, sendo estes apresentados normalmente como os demais produtos em oferta no salão de vendas. Além do estudo da disseminação de informações ao longo da cadeia de suprimentos, faz-se necessário identificar como se apresenta a capacidade de influência que a empresa possui para com seus fornecedores. Entende-se que ao assumir sua capacidade de influência ao longo de sua cadeia de suprimentos, a empresa desenvolve uma nova forma de atuação no mercado e consegue contribuir mais diretamente para a efetivação do consumo sustentável (SILVA, 2011). Para que isso seja identificado, buscou-se entender como ocorrem as interações entre esses atores. No momento em que os fornecedores começam a assumir os desafios oferecidos pelo Walmart Brasil quanto à mudança no impacto de seus produtos, percebe-se clara a influência que a empresa tem sobre os integrantes de sua cadeia.

Segundo discurso da empresa, “os compromissos do Walmart com a sustentabilidade fazem parte dos contratos comerciais, e a companhia busca engajar os parceiros em um processo contínuo de alinhamento de princípios e práticas” (WALMART BRASIL, 2009, p.54). Com isso fica claro que há um direcionamento para que durante as relações comerciais esses aspectos consigam possuir destaque e ser desenvolvidos ao longo das interações entre a empresa e seus fornecedores. Além disso, percebe-se que essa capacidade de influência também exerce poder sobre os consumidores que se apresentam mais influenciáveis às informações passadas pelo Walmart Brasil (Figura 2).

Figura 2: Flyer de sustentabilidade Fonte: Dados de pesquisa (2011)

Na medida em que uma empresa começa a utilizar seu ambiente de loja para

apresentar novos produtos ou dar destaque aos produtos existentes, no que se refere aos aspectos de sustentabilidade, por meio do marketing responsável, a mesma utiliza-se de sua capacidade de influência e modificação, muitas vezes, na prática de consumo dos seus consumidores, estimulando que os mesmos se tornem consumidores verdes ou consumidores conscientes, ou seja, estimulando que novas relações de consumo possam ser observadas e que a partir das decisões dos consumidores os mesmos possam estar contribuindo, assim como a empresa, para a perspectiva do consumo sustentável.

Apesar dessas considerações, entende-se que um conjunto de interações são necessárias, no qual cada ator deve estar desenvolvendo seu papel de maneira responsável e alinhado com o paradigma do desenvolvimento sustentável (JACKSON, 2004; 2007; MICHAELIS, 2000b; 2003). Segundo discurso da empresa, a mesma continuamente busca desempenhar um papel ativo para assegurar a responsabilidade em toda a cadeia de valor (WALMART BRASIL, 2010b). Isso sugere uma mudança em seu comportamento

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organizacional na medida em que seus valores, sua cultura e suas ações começam a ser desenvolvidas sob uma perspectiva até então não visualizada (SILVA; SANTOS, 2011). Todo esse processo de influência envolve inicialmente a citada interação entre a empresa e seus fornecedores. Dentre as várias iniciativas identifica-se, em 2009, o lançamento do Pacto pela Sustentabilidade Walmart Brasil, que surge com metas e prazos para o desenvolvimento de produtos mais sustentáveis, redução de embalagens e atenção a procedência deles (WALMART BRASIL, 2011). Esse projeto sela “um compromisso, coordenado pela empresa, para preservar o equilíbrio entre produção, cuidado ambiental e respeito aos direitos humanos” (WALMART BRASIL, 2010b, p. 23). Com isso envolvendo o maior número de participantes voltados para a sustentabilidade. Com as discussões até então realizadas, identifica-se que a empresa, na categoria Elos da cadeia de suprimentos, assume seu papel contributivo para o consumo sustentável, tendo em vista o conjunto de interações que foram desenvolvidas, bem como das mudanças comportamentais que foram estimuladas no varejo de supermercado. Isso se apresenta mais claro, segundo a empresa, por exemplo, quando os produtos do ‘Sustentabilidade de Ponta a Ponta’ comprovam que a atividade industrial e o consumo não são incompatíveis com o meio ambiente (WALMART BRASIL, 2010b). Assim sendo, percebe-se um direcionamento positivo, que deve estar alinhado diretamente com a edição de escolha no varejo. 4.2.2 Edição de escolha

Na compreensão de alcance das mudanças almejadas, sejam essas no comportamento organizacional ou nos incentivos econômicos desenvolvidos no setor analisado possam ser postas em prática, surge a necessidade de análise da categoria teórica Edição de escolha, que se refere às decisões que controlam diretamente os impactos de consumo (TUKKER et al., 2008; WBCSD, 2008). Para que essa categoria possa ser analisada deve-se analisar o processo decisório responsável desenvolvido pela empresa, bem como a análise da procedência do produto a ser vendido nas lojas. Desse modo, entende-se que essas variáveis indicam claramente como se define o papel da edição de escolha, contribuindo para o CS e facilita a identificação das relações propostas pelo modelo analisado.

No que tange à variável processo decisório responsável, entende-se que todas as decisões que são tomadas interferem na dinâmica da empresa, todavia, quando as mesmas apresentam-se responsáveis ou voltadas para uma perspectiva social e ambiental, a contribuição empresarial apresenta-se como positiva (SILVA, 2011). Para a análise dessa variável, considera-se que a partir da realização de decisões mais responsáveis tomadas na empresa com relação às práticas que serão desenvolvidas, melhor para o controle dos impactos de seu consumo (FUCHS; LOREK, 2005). Como se percebe, à medida que decisões responsáveis são tomadas, menores impactos serão visualizados e mais facilitada a atuação positiva da empresa (TUKKER et al., 2008; WBCSD, 2008). Um dos aspectos que demonstram esse processo decisório responsável para a empresa refere-se ao processo de assegurar a aceitação e qualidade das marcas próprias, considerando-se que essas representam produtos que se preocupam com o impacto ao meio ambiente para a empresa. Ao longo de suas atividades, o Walmart Brasil avalia os fornecedores – o que inclui auditorias anuais – e realiza pesquisas para identificar segmentos que há demandas e oportunidades (WALMART BRASIL, 2011, p. 32). Percebe-se todo um planejamento que contribui favoravelmente para a perspectiva de decisão discutida, todavia, entende-se que, para a referida variável, os dados que foram levantados não podem ser tidos como conclusivos. Assim, ao envolver ações nacionais, considera-se o processo como gradativo. Já no que se refere à análise da procedência do produto a ser vendido, a edição de escolha da empresa impacta diretamente nos produtos oferecidos em loja e facilita o estímulo ao consumo consciente, por exemplo (WBCSD, 2008). Para analisar essa variável, considera-

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se que a realização da análise da procedência dos produtos melhora os produtos oferecidos aos consumidores e incentiva uma melhor ação dos fornecedores, indicando uma prática empresarial mais responsável. Percebe-se que essa variável está relacionada ao Pacto pela Sustentabilidade Walmart Brasil discutido na seção anterior que indica, dentre outras ações, a preocupação com a procedência dos produtos. Segundo discurso, a empresa “assumiu o compromisso de não comprar produtos oriundos de desmatamento ou de exploração de mão de obra escrava, buscando mobilizar as responsabilidades e compromissos no setor” (WALMART BRASIL, 2010b, p.24). Essa decisão e forma de atuação diferenciada estão intimamente ligadas com a categoria elos da cadeia de suprimentos, tendo em vista os acordos entre empresa e fornecedores que foram definidos. Com isso, percebe-se que o Walmart Brasil possui um direcionamento para essa análise, já que vem buscando modificar suas relações com seus fornecedores. Salienta-se que, assim como na variável anterior, por essa envolver decisões e ações mais nacionais considera-se que os mesmos vêm sendo praticados em Recife, gradativamente. A partir de todas as considerações realizadas, identifica-se que a forma de atuação do Walmart Brasil no mercado vem facilitando o direcionamento de suas atividades com uma contribuição positiva para o consumo sustentável. Como essas ações interferem diretamente na atuação nacional, no que se refere ao Hiper Bompreço em Recife, considera-se que todas essas variáveis são observadas de fato. Assim, entende-se que as mudanças nos incentivos econômicos quanto aos parceiros da cadeia de suprimentos estão sendo ocorrendo, o que facilita o alcance do CS. Toda essa ideia influencia na rede de influências da empresa, que interfere e sofre pressões e incentivos de diferentes stakeholders. 5. Considerações Finais A disseminação da sustentabilidade ao longo da cadeia de suprimentos demonstra uma evolução no posicionamento de uma empresa no mercado, já que essa consegue entender de forma espontânea ou imposta por alguma pressão externa, o papel responsável que possui. Isso é visualizado principalmente no que se refere ao comportamento que um indivíduo tomador de decisão que assume uma visão mais ética e coletivista, mesmo que essa não esteja preocupada com a busca por um desenvolvimento sustentável ou com a redução do pensamento consumista até então utilizado. Assim sendo, cada vez mais deve-se estimular práticas dessas em diferentes contexto de empresas e parcerias no mercado. Em meio às discussões que foram realizadas, identifica-se o atendimento do objetivo de pesquisa proposto, já que esse indicou a busca pelo relacionamento do Hiper Bompreço com seus fornecedores na busca por um novo padrão de consumo, o sustentável. Assim, ao realizar a visualização do panorama de práticas da empresa e focar a relação com a cadeia de suprimentos conseguiu-se facilitar a compreensão de como uma empresa pode estar contribuindo positivamente nesse sentido. Sabe-se que o aspecto cultural e local interfere na realização de diferentes considerações, assim buscou-se neutralidade e visão critica de todos os dados que foram analisados. Com essa visão, identificou-se ao realizar as análises que nem todos os critérios puderam ser identificados em sua plenitude na empresa estudada, especificamente a Edição de escolha considerando que seria necessário um maior aprofundamento no processo de elaboração e aplicação das estratégias de mercado, na busca por um posicionamento mais responsáveis. No entanto, tendo em vista que a articulação realizada almeja trabalhar com um conjunto de categorias aplicável a qualquer empresa integrante do setor de supermercado, entende-se como positiva a sua realização e o estímulo a novas pesquisas nesse sentido. Além disso, a discussão realizada não focou o processo de tomada de decisão efetivamente.

Toma-se como limitação de pesquisa a quantidade de entrevistas realizadas na pesquisa mesmo que as realizadas sejam representativas quanto ao discurso da empresa. Isso

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também pode ser verificado quanto à utilização apenas da visão da empresa, não tendo analisado nesse momento a visão dos integrantes da cadeia como o todo. Assim, essa é a principal recomendação para novas pesquisas, além da aplicação dessa perspectiva em outros setores. Numa perspectiva acadêmica, os estudos podem ser continuados, todavia, percebe-se também a possibilidade de implicações gerenciais, já que ao identificar quais são os hiatos existentes em suas ações desenvolvidas as empresas podem assumir o seu papel de responsabilidade e modificar sua forma de atuação e seu comportamento no mercado. Referências ASSADOURIAN, E. Ascensão e queda das culturas de consumo. In: WORLDWATCH INSTITUTE. Estado do Mundo, 2010: estado do consumo e o consumo sustentável. Salvador: Uma Ed., 2010.

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