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1 PÁGINA 1 PÁGINA 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA - UFBA FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – FDUFBA CONTEÚDO DO CADERNO DE SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES – 2009.1 Assuntos de Sociologia das Organizações RECOMENDAÇÕES DE LEITURA: - “Educar pela Pesquisa”, de Pedro Demo; - “As Regras do Método Sociológico”, de Émile Durkheim; - “A Sociedade Contra o Estado”, de Pierre Clastres, Capítulos I e XI. - “O Príncipe”, de Maquiavel; - “Dicionário de Sociologia”, de Allan Johnson J.Z.E.; - “Introdução à Sociologia”, de Tom Bottomore e Jorge Zarated; - “Dicionário de Política”, de Norberto Bobbio e parcerias; - Obras que abordam o tema Introdução à Sociologia. CIÊNCIAS SOCIAIS 1. CONDIÇÕES CONSTITUITIVAS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS - FILOSOFIA POLÍTICA - FILOSOFIA DA HISTÓRIA a) MODERNIDADE b) PROBLEMAS SOCIAIS c) PLANEJAMENTO d) CIENTIFIZAÇÃO DO CONHECIMENTO FATORES RELACIONADOS RUPTURA CIVILIZACIONAL REFORMA PROTESTANTE GRANDES NAVEGAÇÕES RENASCIMENTO PROTO-CIÊNCIA PRÉ-MODERNA (ALQUIMISMO) ILUMINISMO REVOLUÇÃO INDUSTRIAL/CAPITALISMO 2. CARACTERÍSTICAS INICIAIS DA SOCIOLOGIA a) ADOÇÃO DO MODELO DAS CIÊNCIAS NATURAIS b) POSITIVISMO CIENTÍFICO c) ETNOCENTRISMO COMUNIDADE X SOCIEDADE DE MASSAS ESTATUTO DE CIENTIFICIDADE PARA A SOCIOLOGIA AS DIVERSAS FORMAS DE SE ATINGIR A COMPREENSÃO DO COMPORTAMENTO SOCIAL - RECOMENDAÇÃO DE LEITURA: “Um discurso sobre as ciências”, de Boaventura de Sousa Santos. DELIMITAÇÕES EPISTÊMICAS EPISTEMOLOGIA Condições de sustentação, de embasamento de uma ciência. Segundo o Aurélio: Estudo Crítico dos princípios, hipóteses e resultados das ciências já constituídas; teoria da ciência. ONDE HÁ SOCIEDADE, HÁ DIREITO. ABORDAGEM DE DIVERSAS FORMAS, DE DIVERSOS CONTEÚDOS. FENÔMENO HISTÓRICO VINCULADO A INTERESSES ECONÔMICOS, CULTURAIS, RELIGIOSOS, POLÍTICOS, SEXUAIS, RACIONAIS, GERACIONAIS, ENTRE OUTROS.

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Assuntos de Sociologia das Organizações

RECOMENDAÇÕES DE LEITURA: - “Educar pela Pesquisa”, de Pedro Demo; - “As Regras do Método Sociológico”, de Émile Durkheim; - “A Sociedade Contra o Estado”, de Pierre Clastres, Capítulos I e XI. - “O Príncipe”, de Maquiavel; - “Dicionário de Sociologia”, de Allan Johnson J.Z.E.; - “Introdução à Sociologia”, de Tom Bottomore e Jorge Zarated; - “Dicionário de Política”, de Norberto Bobbio e parcerias; - Obras que abordam o tema Introdução à Sociologia. CIÊNCIAS SOCIAIS 1. CONDIÇÕES CONSTITUITIVAS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS - FILOSOFIA POLÍTICA - FILOSOFIA DA HISTÓRIA a) MODERNIDADE b) PROBLEMAS SOCIAIS c) PLANEJAMENTO d) CIENTIFIZAÇÃO DO CONHECIMENTO FATORES RELACIONADOS

RUPTURA CIVILIZACIONAL REFORMA PROTESTANTE GRANDES NAVEGAÇÕES RENASCIMENTO PROTO-CIÊNCIA PRÉ-MODERNA (ALQUIMISMO) ILUMINISMO REVOLUÇÃO INDUSTRIAL/CAPITALISMO

2. CARACTERÍSTICAS INICIAIS DA SOCIOLOGIA a) ADOÇÃO DO MODELO DAS CIÊNCIAS NATURAIS b) POSITIVISMO CIENTÍFICO c) ETNOCENTRISMO COMUNIDADE X SOCIEDADE DE MASSAS ESTATUTO DE CIENTIFICIDADE PARA A SOCIOLOGIA

AS DIVERSAS FORMAS DE SE ATINGIR A COMPREENSÃO DO COMPORTAMENTO SOCIAL

- RECOMENDAÇÃO DE LEITURA: “Um discurso sobre as ciências”, de Boaventura de Sousa Santos. DELIMITAÇÕES EPISTÊMICAS EPISTEMOLOGIA – Condições de sustentação, de embasamento de uma ciência. Segundo o Aurélio: Estudo Crítico dos princípios, hipóteses e resultados das ciências já constituídas; teoria da ciência.

ONDE HÁ SOCIEDADE, HÁ DIREITO. ABORDAGEM DE DIVERSAS FORMAS, DE DIVERSOS CONTEÚDOS. FENÔMENO HISTÓRICO VINCULADO A INTERESSES ECONÔMICOS, CULTURAIS,

RELIGIOSOS, POLÍTICOS, SEXUAIS, RACIONAIS, GERACIONAIS, ENTRE OUTROS.

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DIREITO É UM FENÔMENO MULTIDIMENSIONAL: FATO, VALOR E NORMA. PARA HANS KELSEN, CONTUDO, DIREITO CONSTITUI-SE UNICAMENTE DA

NORMA. PROPOSTA POSITIVISTA PARA O ESTUDO DO DIREITO PARA O POSITIVISMO – Segundo o Novo Aurélio: Conjunto de doutrinas de August Comte (1798-1875), que atribuem à Constituição e ao processo da ciência positiva importância capital para o progresso do conhecimento – o Direito deve ser dividido em três partes antes de ser estudado.

O ESTUDO DO DIREITO REQUER CONHECIMENTO SOBRE A SOCIEDADE E O SEU FUNCIONAMENTO.

O DIREITO MANIFESTA-SE COMO FATO SOCIAL. É PRECISO COMPREENDER A GÊNESE SOCIAL DO DIREITO, SUAS CONEXÕES

ECONÔMICA, POLÍTICAS, RELIGIOSAS, SEXUAIS, RACIAIS, ETC, BEM COMO OS PROCESSOS SOCIAIS QUE DETERMINAM A INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO PELAS INSTITUIÇÕES.

MODERNIDADE, CIÊNCIA E SOCIEDADE. ORIGENS DA FILOSOFIA POLÍTICA.

ÉMILE DURKHEIM

“É FATO SOCIAL TODA MANEIRA DE AGIR, FIXA OU NÃO, SUSCETÍVEL DE EXERCER SOBRE O INDIVÍDUO UMA COERÇÃO EXTERIOR”, DISSE DURKHEIM.

“OS FATOS SOCIAIS DEVEM SER TRATADOS COMO COISAS”. “É PRECISO AFASTAR SISTEMATICAMENTE TODAS AS PRENOÇÕES”.

KARL MARX

“A ESTRUTURA E O DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE POSSUEM BASE ECONÔMICA”.

“A INFRA-ESTRUTURA ECONÔMICA (MODO DE PRODUÇÃO) DETERMINA A SUPERESTRUTURA INSTITUCIONAL (CULTURA, RELIGIÃO, ARTES, DIREITO).

“AS FORMAS DE PRODUÇÃO DETERMINAM A FORMA DE CONSCIÊNCIA”. MAX WEBER

ESCREVEU “A ÉTICA PROTESTANTE E O ESPÍRITO DO CAPITALISMO”.

DIREITO

FATO

Sociologia Jurídica

VALOR

Filosofia do Direito

NORMA

Teoria Geral do Direito

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OUTROS TÓPICOS ABORDADOS

EMPIRISMO – BACON. CETICISMO – DAVID HUNK. RACIONALISMO – DESCARTES.

A BUSCA DO FATOR ÚLTIMO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS POR KARL MARX. KARL MARX (1818-1883) – Karl Marx, em parte influenciado por Feurbach e em parte

por Hegel, incrementa o materialismo, tornando-o dialético e histórico, sabendo entrever na História Humana a sucessão de regimes econômicos de exploração e de alternância de classes dominantes. Identifica estrutura e superestrutura. Sua leitura dos métodos capitalistas de acumulação primitiva é apuradíssima. Juntamente com Engels, consegue dar início, bem como acompanhar, os principais movimentos dos trabalhadores do Século XIX, ideologia engatilhada sobretudo a partir do Manifesto Comunista. Sua doutrina traz fortes influências sobre os movimentos sociais dos Séculos XIX e XX.

- RECOMENDAÇÃO DE LEITURA: “A tumultuosa saga do criminoso nato”, de Pierre Darmon; “Cinco Desafios à Imaginação Sociológica”, de Boaventura de Sousa Santos.

NATURWISSENSCHAFTEN – Ciência da Natureza; GEISTESWISSENSCHAFTEN – Ciência do Espírito; ESTUDO DOS OBJETOS:

- IDEAIS – Apreensíveis pela dedução, unicamente. Por exemplo, o triângulo equilátero; - NATURAIS – Se dá a apreensão pela via da indução. Existência física, no mundo concreto. - CULTURAIS – Não podem ser apreendidos. Devem ser abordados por procedimento dialético. Não cabe descrição, mas compreensão. Não cabe neutralidade axiológica. - METAFÍSICOS – Não cognoscíveis. É preciso conhecer de forma sistemática. Por exemplo, Deus, Alma, Espírito.

DIREITO – Instrumento de controle social. É aquilo que é eficaz socialmente. A legitimidade, a ética e a justiça não existem na análise sociológica positivista, pois ela

se baseia unicamente em descrever os fatos. REALISMO JURÍDICO – Escola que diz que não adianta discutir a realidade da norma,

mas unicamente ver o que é eficaz. Fundamentos iniciais da Sociologia Positivista. Controle Social e Formas Estatais da Gênese do Direito. SOCIOLOGIA JURÍDICA (Positivista) – SOCIOLOGIA DO DIREITO (Pós-positivista). O DEBATE sobre a definição de sociologia jurídica enquanto campo autônomo do saber

científico ainda está em aberto;

CIÊNCIA

PARADIGMÁTICA

POSITIVISTA

FÍSICA DE NEWTON BIOLOGIA DE DARWIN IDEIAIS DE KANT

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FUNDADORES DA ATUAL SOCIOLOGIA DO DIREITO. SEMINÁRIOS (Recortes temáticos dos grupos): 1. Criança e Adolescente: Medidas Sócio-Educativas no Estado da Bahia; 2. Reforma Agrária: Política Estadual de Reforma Agrária do Governo Wagner; 3. Desenvolvimento Urbano: PDDU de Salvador-BA e as políticas de transporte e habitação; 4. Acesso à Justiça: Poder Judiciário – O Poder Judiciário Baiano segundo o CNJ; 5. Bioética e Direito: A questão do abortamento no Brasil; 6. Desigualdades raciais: Racismo no mercado de trabalho em Salvador e RMS; 7. Intolerância: Criminação contra as religiões de matrizes africanas na Bahia; 8. Acesso à Justiça (MPE): Atuação na Proteção ao Meio Ambiente; 9. Relações de Gênero: Política do Governo Wagner para a promoção da igualdade de gênero; 10. Orientação Sexual: Crime de Homofobia na Bahia; 11. Segurança Pública: Homicídios em Salvador e RMS. CAPÍTULO VI DO LIVRO “DARWIN E O DARWINISMO”, DE DENIS BUICAN, COLEÇÃO CULTURA CONTEMPORÂNEA, JORGE ZAHAR EDITOR: DARWINISMO SOCIAL, EUGENISMO E SOCIOBIOLOGIA - Por darwinismo social deve-se entender a extensão à sociedade humana de certas noções do darwinismo geral; - Darwin é também um dos fundadores do darwinismo social. É necessário analisá-lo com a necessária prudência e todo o rigor, sobretudo devido às implicações políticas e ideológicas; - O darwinismo social implica uma doutrina seletiva, baseada sobre a luta pela existência, característica para todas as espécies biológicas, inclusive o homem; - O neolamarckismo social indica que, a partir da influência do meio sobre a hereditariedade, há o desejo de melhorar a espécie e a sociedade humanas. Ele, quando defendido por experiências falsificadas, conduziu às aberrações do “darwinismo criador soviético” que queria obter um homem compatível com os dogmas do materialismo dialético e histórico; - Em nosso século, o darwinismo social, com a eugenia e a sociobiologia, prevaleceu contra o neolamarckismo social, que se tornou um simples vestígio histórico; - A eugenia é uma teoria cujo fundador é Francis Galton (1822-1911), primo de Darwin; ela se refere ao melhoramento da espécie humana a partir de bases biológicas, como acontece na seleção artificial das plantas cultivadas e dos animais domésticos; - O eugenismo é considerado como a parte filosófica e política, elaborada a partir da eugenia; - O eugenismo, e através dele a eugenia, foi desconsiderado após a Segunda Guerra Mundial, por causa das aplicações criminosas e abusivas que dele fez o nazismo, doutrina que militava a favor de uma mitologia do “ariano”, desprovida de base científica; - Do ponto de vista prático, a eugenia, tomando como ponto de partida a seleção artificial, adota os dois métodos preconizados por esta: a eugenia negativa, que afasta da reprodução os possuidores dos genes desfavoráveis e a eugenia positiva, que favorece a reprodução dos indivíduos, cujo patrimônio genético é portador de genes vantajosos; - Como exemplo de eugenia negativa, pode-se mencionar o aborto por razões médicas, legítimo, no caso de mongolismo e outras doenças encontradas no feto humano, nos países como a França; - Quanto à eugenia positiva, o exemplo mais notável é o banco de esperma dos prêmios Nobel, aberto nos Estados Unidos às mulheres desejosas de ter para seus filhos esses pais, graças à inseminação artificial; - A eugenia negativa, voluntariamente aplicada, poderia evitar sofrimentos suplementares aos homens. Contudo, é preciso usar com prudência, para impedir eventuais abusos familiares ou

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políticos. Ademais, a eugenia pode adquirir uma força excepcional no século do gênio e da manipulação genética: cabe às leis do futuro, para evitar eventuais abusos, canalizá-la, usando, se possível, para os interesses mais elevados do homem, da humanidade e da nossa biosfera; - A sociobiologia representa uma teoria de síntese que, partindo do darwinismo e do neodarwinismo, leva em conta os conhecimentos da etologia e da genética atual; - A sociobiologia é acusada, principalmente, desde a esquerda marxista até a direito clerical, de um imperialismo biológico e de um reducionismo dos fenômenos da inteligência, da consciência e das sociedades humanas às suas raízes genéticas. De qualquer forma, é preciso considerar a sociobiologia, como qualquer outra teoria, com todo o rigor dos critérios científicos, mas somente em função desses critérios, sem introduzir de modo algum uma inquisição na ciência; - A etologia, a ciência do comportamento, reúne uma série de fatos que parecem confirmar a sociobiologia, assim, a evolução dos comportamentos no seio das relações intra e inter-específicas poderiam explicar a vantagem seletiva de que gozam certas categorias que se encontram na ética humana, como, por exemplo, o egoísmo, a agressividade e o altruísmo; - Se, em certos casos, as hipóteses da sociobiologia parecem plausíveis, em outros, parecem demasiadamente arraigadas num reducionismo biológico cientista; - A “sociobiologia da relação”, segundo a qual “as imposições genéticas programadas, agindo sobre o aprendizado e reveladas pela psicologia do desenvolvimento devem estar de acordo com as principais tendências das práticas religiosas”, não parece ter fundamento científico. CONTINUAÇÃO DOS ASSUNTOS DE SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES 1. ETNOCENTRISMO MODERNO; 2. PREDESCRIÇÃO E CIÊNCIA: A IDEOLOGIA NOS ESTUDOS CIENTÍFICOS; 3. ECONOMIA DE SUBSISTÊNCIA; 4. PODER E POLÍTICA; 5. ESTADO COMO CONSTRUÇÃO HISTÓRICA; 6. KARL MARX E PIERRE CLASTRES; 7. A DEMOCRACIA: UM NOVO DETERMINISMO?! OUTROS TÓPICOS ABORDADOS

ESTRUTURALISMO – Lévi Strauss; ARQUEOLOGIA DA VIOLÊNCIA – Pierre Clastres; ANARQUISMO; MUTILAÇÃO DO CLÍTORIS EM ÁRABES; REPRESSÃO FEMININA DA SEXUALIDADE NAS SOCIEDADES OCIDENTAIS

CONTEMPORÂNEAS. ANÁLISE DE DOIS TEXTOS PROPOSTOS PARA LEITURA E DEBATE 1. USO DE CIÊNCIAS NATURAIS NA ABORDAGEM SÓCIO-HISTÓRICA; 2. REPERCUSSÃO JUNTO ÀS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS EM FORMAÇÃO DURANTE O SÉCULO XIX; 3. ARTICULAÇÃO INTERTEXTUAL; 4. CAPACIDADE DE ARGUMENTAÇÃO PARA SUSTENTAÇÃO DE POSIÇÕES. DEVE SER FUNDAMENTADA, MAS NÃO PRECISA SER DEFINIDA. A TUMULTOSA SAGA DO CRIMINOSO NATO: DARMON, Pierre: médicos e assassinos na belle époque. Tradução de Regina Grissi de Agostino. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991.

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- Cesare Lombroso era um grande professor de Turin, fundador e mestre da Escola Italiana e Antropologia Criminal, que acabara de demonstrar ao mundo atônito que todo delinqüente é um indivíduo que carrega os estigmas atávicos de suas tendências criminosas; - A documentação da Exposição Universal, em Paris, tinha por objetivo demonstrar a existência de um tipo humano destinado ao crime e estigmatizado por sua formação morfológica defeituosa; - Na exposição os cientistas haviam trazido crânios, encéfalos, rostos de cera, cérebros, “cerâmicas criminais”. Até mesmo um antopômetro destinado a medir as dimensões do pavilhão da orelha e o cateterômetro, pequena obra-prima da tecnologia que permitia efetuar nos crânios de assassinos as medições mais precisas e mais variadas em condições de luxo e de conforto incomparáveis; - Disciplinas voltadas para o estudo da delinqüência: antropologia criminal, biologia e etiologia criminais, sociologia e psiquiatria criminais, medicina legal e direito penal; - O mestre Turim construiu a teoria do criminoso nato que revolucionou a criminologia, suscitou paixões e deu origem a um dos maiores debates de idéias do final do século. O que estava em jogo era saber se o homem criminoso, repentinamente visto sob uma nova luz através da ciência de Lombroso, estava desde o nascimento predestinado ou não ao crime. Para além dessa questão era novamente colocado o antigo problema do livre arbítrio e do determinismo. A sociologia criminal demonstrava assim os seus limites, e a jurisprudência, bem como o sistema penal clássico eram atacados em seus fundamentos através da negação da responsabilidade criminal. O juiz perdia em parte a sua razão de existir e até corria o risco de ver-se despojado de suas prerrogativas em favor do médico; - Naquela época os crânios e a craniologia já estavam há muito tempo em voga. Camper e Gall haviam rompido com as doutrinas espiritualistas e sondado a inteligência e os sentimentos através da configuração da caixa craniana. Cedo ou tarde, era inevitável que os crânios de assassinos ganhassem forma; - Camper adquire a certeza de que existe uma relação íntima entre a inteligência e o volume da massa cerebral. Nos indivíduos de fronte alta, o cérebro pode desenvolver-se amplamente, mas, quando a fronte é projetada para trás, a massa cervical comprimida tem a sua expansão prejudicada; - A partir de uma intersecção entre duas linhas da face, Camper constatou que, com um ângulo facial de 70º, o negro encontra-se a meio caminho entre o homem e o macaco. Essa teoria foi banida pela teoria do orifício occipital de Cuvier. Posteriormente o alemão Blumenbach propõe o estudo dos crânios pela sua parte superior. Owen, por sua vez, decide que é preciso examinar os crânios pela parte inferior. Mas também aqui surgem críticas de todas as partes; - De vicissitudes em vicissitudes, os craniologistas põem-se a medir a capacidade da caixa craniana das diferentes raças; - A craniologia pretende estabelecer uma ligação entre o desenvolvimento intelectual e a estrutura da caixa craniana. Desta ciência, que caiu em desuso com o passar dos anos, não resta nada hoje a não ser uma pseudociência, a morfopsicologia. Alguns vestígios da frenologia também encontraram refúgio na linguagem corrente, na qual não é raro ouvir-se dizer que tal indivíduo tem “a bossa da matemática” e outro tem “a bossa do comércio”; - A craniologia marcou um progresso no sentido de supor que o cérebro é a sede dos pensamentos e sentimentos; - A fisiognomonia pretende descobrir os segredos da alma e da inteligência fundamentando-se não no exame dos crânios, mas no estudo da fisionomia; - O aspecto mais original do pensamento criminológico de Gall repousa sobre a singular novidade de suas idéias em matéria de sanção penal. Em sua opinião, a pena deveria ser estabelecida não em função do delito, mas do criminoso. As prisões deveriam ser concebidas

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como casas de educação para todos aqueles que são educáveis e como locais de internação para os criminosos destinados ao crime em razão de sua organização fisiológica defeituosa; - Houve o apelo dos cientistas que almejavam a doação de cérebros para estudos. Principalmente cérebros, crânios e esqueletos de homens ilustres. Da imensa coleta de cérebros realizada no mundo inteiro foi extraída uma grande quantidade de observações; - De uma maneira geral, associou-se à inteligência a complexidade das circunvoluções cerebrais e o peso do encéfalo. Em 1903, o Prof. Marthiega, de Praga, estabelece a escala dos pesos do encéfalo em função da categoria sócio-profissional; - No decurso do Sexto Congresso de Antropologia Criminal que teve lugar em Turim no ano de 1906, Cesare Lombroso relatou, com ênfase teatral, a origem da descoberta que iria abalar a criminologia: Lombroso asseverou que, após várias pesquisas em prisões e hospícios, constatou que os caracteres dos homens primitivos e dos animais inferiores deviam reproduzir-se em nosso tempo. - A documentação de Lombroso tinha por objetivo demonstrar a existência de um tipo humano destinado ao crime e estigmatizado por sua organização morfológica defeituosa; No decênio que se segue à publicação de “O homem criminoso”, surgem revistas de antropologia criminal por toda parte e os especialistas do gênero adquirem o hábito de reunirem-se em congressos cujos trabalhos encontram ego no grande público. Através dessas revistas ou desses congressos, manifesta-se o sonho de uma grande antropologia criminal de essência pluridisciplinar; - Filme “Minority Report”, de Steven Spielberg. Aborda um futuro no qual os crimes são investigados antes mesmo de serem cometidos pelos criminosos; - O Prof. Topinard e o Prof. Alexander teceram críticas às teorias de Lombroso. Alexander se insurge contra o lado místico da teoria de Lombroso. O meio social é o caldo de cultura do que o faz fermentar. Topinard contestou dizendo que o tipo criminalóde não passaria de um conjunto artificial de caracteres reunidos de qualquer maneira pelo criminologista italiano; - Questionamento proposto: Discorrer sobre as abordagens científicas acerca do crime e da criminalidade desenvolvidas pela antropologia positivista do século XIX. Localize nesse âmbito a teoria do criminoso nato, elaborada por Césare Lombroso, indicando suas principais características; - Fundada por volta da metade do século XVIII, a craniologia pretende estabelecer uma ligação entre o desenvolvimento intelectual e a estrutura da caixa craniana; - “O julgamento é feito antecipadamente”, nota Topinard, “depois procuram-se as provas, defende-se a tese, como um advogado que acaba persuadindo a si próprio”. “ESPETÁCULO DAS RAÇAS: CIENTISTAS, INSTITUIÇÕES E QUESTÃO SOCIAL NO BRASIL (1870-1930)”, LÍLIA MORITZ SCHWARCZ. SÃO PAULO: COMPANHIA DAS LETRAS, 1993. - Montagem de uma rede de instituições de saber estável no Brasil: Ensino elementar dos jesuítas – Colônia dotada de estabelecimentos de ensino por D. João VI – Imprensa Régia, a Biblioteca, o Real Horto e o Museu Real – Processo continuado por D. Pedro, como escolas de Direito criadas cinco anos após o rompimento com Portugal – a fundação, no Rio de Janeiro, do Primeiro Instituto Histórico e Geográfico; - Faculdade de Direito de São Paulo – adotava, majoritariamente, modelos liberais de análise; - Faculdade de Direito do Recife – predominava o social-darwinismo de Haeckel e Spencer;; - Também há destaque no campo da medicina, o Instituto Manguinhos, liderado por Oswaldo Cruz; atuação dos Institutos Históricos, que começaram a escrever a história oficial deste jovem país;

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- Se a elite ilustrada não era, em sua maioria, originária das camadas mais pobres, também não pode ser entendida como totalmente oriunda ou até mesmo porta-voz exclusiva dos interesses das classes dominantes; - O período dos anos 70 coincide com a emergência de uma nova elite profissional que já incorporara os princípios liberais à sua retórica e passava a adotar um discurso científico evolucionista como modelo de análise social. Adotando uma espécie de “imperialismo interno”, o país passava de objeto a sujeito das explicações, ao mesmo tempo que se faziam das diferenças sociais variações raciais; - Era a partir da ciência que se reconheciam diferenças e se determinavam inferioridades; - Segundo a tendência da época, a ciência era vista como sacerdócio; - Guardadas as especificidades de cada disciplina, o que se pode afirmar é que em todos os lados reformulavam-se concepções científicas arraigadas e faziam-se das pesquisas e experimentações procedimentos de contestação às antigas concepções; - D. Pedro II também ficou conhecido como assíduo freqüentador de exposições, expedições e reuniões de cunho científico nacionais e internacionais; - Também os romances naturalistas da época fariam larga utilização e divulgação dos modelos científicos deterministas. Com efeito, a moda cientificista entra no país por meio da literatura e não da ciência mais diretamente; - A entrada do ideário cientificista difuso, nas grandes cidades, se faz sentir diretamente a partir da adoção de grandes programas de higienização e saneamento. Por exemplo, uma campanha de vacinação que acarretou a “Revolta da Vacina”; - A introdução de um novo ideário científico expõe, também, as fragilidades e especificidades de um país já tão miscigenado; - Em meados do Século XIX a vertente pessimista de interpretação vê o Brasil como “exemplo de nação degenerada de raças mistas”. Thomas Buckle, fiel à teoria do determinismo climático, mesmo sem ter passado pelo país, condenava o homem brasileiro à decadência em função da pujança de sua vegetação; - Os pesquisadores europeus viam as tristes implicações das teorias raciais européias quando aplicadas ao contexto local: a inviabilidade de uma nação composta por raças mistas. O Brasil era visto como um “modelo da falta e atraso” em função de sua composição étnica e racial; - Os profissionais intelectuais não formavam um grupo homogêneo. Divididos em funções de diversos interesses profissionais, econômicos e regionais; - Os intelectuais tenderam a adotar os modelos evolucionistas e em especial social-darwinistas, já bastante desacreditados no contexto europeu, que tinham como objeto central o estudo das raças e a verificação de sua contribuição singular. “MULTICULTURALISMO”: “O NÓ GÓRDIO EPISTEMOLÓGICO”, DE ANDREA SAMPAINI - MULTICULTURALISMO – Um poderoso movimento de idéias. Segundo o Houaiss, trata-se da coexistência de várias culturas num mesmo território, país, etc. - EPISTEMOLOGIA – Reflexão geral em torno da natureza, etapas e limites do conhecimento humano, especialmente nas relações que se estabelecem entre o sujeito indagativo e o objeto inerte, as duas polaridades tradicionais do processo cognitivo; teoria do conhecimento; Ou o estudo dos postulados, conclusões e métodos dos diferentes ramos do saber científico, ou das teorias e práticas em geral, avaliadas em sua validade cognitiva, ou descritas em suas trajetórias evolutivas, seus paradigmas estruturais ou suas relações com a sociedade e a história; teoria da ciência; - DUALISMO – Padrão recorrente de pensamento desde os primórdios da filosofia, que busca compreender a realidade e a condição humana, dividindo-as em dois princípios básicos, antagônicos e dessemelhantes (por exemplo, forma e matéria, essência e existência, bem e mal, aparência e realidade, etc.);

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- Os quatro aspectos principais da epistemologia multicultural: A realidade é uma construção; as interpretações são subjetivas; os valores são relativos e o conhecimento é um fato político. Para a discussão da epistemologia monocultural, John Searle resume o essencial da herança intelectual ocidental: - A realidade existe independentemente das representações humanas. Este é o princípio constituitivo de toda a tradição racionalista ocidental; - A realidade existe independentemente da linguagem; - A verdade é uma questão de precisão de representação; - O conhecimento é objetivo; - Uma redução do sujeito às suas funções intelectuais e cognitivas; - Uma desvalorização dos fatores culturais e simbólicos da vida coletiva; - A crença numa base biológica de comportamento; - Orgulho pelas conquistas do pensamento ocidental. “AS RAÇAS HUMANAS”, DE NINA RODRIGUES - Nina Rodrigues recebeu influências poderosas das ciências experimentais que abalavam o mundo no século XIX. Tinha muita fé nos novos postulados e conhecimentos em medicina, sociologia, história e etnografia. Ademais, demonstrava um notável senso crítico, caracterizando o seu trabalho ao investigar as teorias à luz da realidade brasileira, sem ser jamais um reles “papel-carbono”. Ele se dedicava à pesquisa de assuntos nacionais ou do modo de ser comportar entre nós, meio, raça e momentos diferentes de civilização, os conhecidos fatores biológicos ou sociológicos que determinam os fenômenos da vida. Era como um “apóstolo da Antropologia Criminal no Novo-Mundo”; - “... a cada fase da evolução social de um povo, e ainda melhor, a cada fase da evolução da humanidade, se se comparam raças antropologicamente distintas, corresponde uma criminalidade própria, em harmonia e de acordo com o grau do seu desenvolvimento intelectual e moral”; - No final da obra é abordado que a conceituação da mestiçagem dentro de certos grupos étnicos acarreta a fatalidade de anomalias físicas, intelectuais e morais. Mas nem sempre ele dava ênfase necessárias aos fatores sociais, como também não aceitava em definitivo o antropologismo puro; - “A civilização ariana está representada no Brasil por uma fraca minoria da raça branca a quem ficou o encargo de defendê-la, não só contra os atos anti-sociais – os crimes – dos seus próprios representantes, como ainda contra os atos anti-sociais das raças inferiores; - “Eu não pretendo seguramente que cada Estado Brasileiro deva ter seu código penal à parte. Nem há necessidade disso. Queria que, desde que se lhe concede que tenha organização judiciária própria, fossem igualmente habilitados a possuir a codificação criminal que mais de acordo estivesse com as suas condições étnicas e climatológicas”; - “Há, [...] entre nós extrema facilidade na adoção de todas as novidades, porque, povo novo como somos, todas as instituições são novas para nós e só temos a dificuldade da escolha; - “As condições existenciais das sociedades, em que vivem as raças inferiores, impõe-lhes também uma consciência do direito e do dever, especial, muito diversa e às vezes mesmo antagônica daquela que possuem os povos cultos”; - “A concepção espiritualista de uma alma da mesma natureza em todos os povos, tendo como conseqüência uma inteligência da mesma capacidade em todas as raças, apenas variável no grau de cultura e passível, portanto, de atingir mesmo num representante das raças inferiores, o elevado grau a que chegaram as raças superiores, é uma concepção irremessivelmente condenada em face dos conhecimentos científicos modernos”; - Pioneiro nos estudos sobre cultura negra no Brasil. Também defendeu uma reformulação no conceito de responsabilidade penal;

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- Nina Rodrigues desenvolveu profundas pesquisas sobre origens étnicas da população e a influência das condições sociais e psicológicas sobre a conduta do indivíduo. Sugeriu, com os resultados dos seus estudos, a reforma dos exames médicos-legais e foi pioneiro da assistência médico-legal a doentes mentais, além de defender a aplicação da perícia psiquiátrica não apenas em manicômios, mas também em tribunais. “A SOCIOLOGIA DOS TRIBUNAIS E A DEMOCRATIZAÇÃO DA JUSTIÇA”, DE BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS. - Boaventura de Sousa Santos é doutor em Sociologia do Direito pela Universidade de Yale e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. É, atualmente, um dos primeiros intelectuais da área de ciência sociais com mérito internacionalmente reconhecido, tendo ganho especial popularidade no Brasil, principalmente, depois de ter participado nas três edições do Fórum Social Mundial em Porto Alegre. Seus escritos dedicam-se ao desenvolvimento de uma Sociologia das Emergências, que segundo ele procuraria valorizar as mais variadas gamas de experiências humanas, contrapondo-se a uma “Sociologia das Ausências”, responsável pelo desperdício da experiência. Uma de suas preocupações é aproximar a ciência do “senso comum” com vista a ampliar o acesso ao conhecimento. Defensor da idéia de que movimentos sociais e cívicos são essenciais ao controle democrático da sociedade e ao estabelecimento de formas de democracia participativa; - Ao contrário doutros ramos da sociologia, a sociologia do Direito se ocupa de um fenômeno social, o Direito, sobre o qual incidem séculos de produção intelectual cristalizada na idade moderna em disciplinas como a filosofia do Direito, a dogmática jurídica e a história do Direito; - No primeiro quartel do nosso século a visão normativista substantivista do direito continuou a dominar, ainda com nuances, o pensamento sociológico sobre o Direito; - No que diz respeito ao Direito Vivo, é central a contraposição entre o Direito oficialmente estatuído e formalmente vigente e a normatividade emergente das relações sociais pela qual se regem os comportamentos e se previne e resolve a esmagadora maioria dos conflitos; - No que diz respeito à criação judiciária do Direito, é ainda a mesma visão fundante que dá sentido à distinção entre a normatividade abstracta da lei e a normatividade concreta e conformadora da decisão do juiz; - A preocupação de Weber em definir a especificidade e o lugar privilegiado do Direito entre as demais fontes da normatividade em circulação nas relações sociais no seio das sociedades capitalistas levou-o a centrar a sua análise no pessoal especializado encarregado da aplicação das normas jurídicas, as profissões jurídicas, a burocracia estatal. Segundo ele, o que caracterizava o Direito nas sociedades capitalistas e o distinguia do Direito nas sociedades anteriores era o construir um monopólio estatal administrado por funcionários especializados segundo critérios dotados de racionalidade formal, assente em normas gerais e abstractas aplicadas a casos concretos por via de processos lógicos controláveis, uma administração em tudo integrável no tipo ideal de burocracia por ele elaborado; - Esta tradição intelectual diversificada, mas que domina a visão normativista e substantivista do Direito teve uma influência decisiva na constituição do objecto da sociologia do Direito no pós-guerra. Dois temas de exemplo: a discrepância entre o Direito e o desenvolvimento sócio-econômico e mais especificamente o papel do Direito na transformação modernizadora das sociedades tradicionais; - No entanto, esta conjuntura intelectual em breve se alterou. Entre as condições teóricas: o desenvolvimento da sociologia das organizações, em ramo da sociologia que tem em Weber um dos principais inspiradores, dedicado em geral ao estudo dos agrupamentos sociais criados de modo mais ou menos deliberado para a obtenção de um fim específico, com enfoques diversos sobre a estrutura e a forma das organizações, sobre o conjunto das interações sociais no seu seio ou no impacto delas no comportamento dos indivíduos;

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- Outra condição teórica é constituída pelo desenvolvimento da ciência política e pelo interesse que esta revelou pelos tribunais enquanto instância de decisão e de poderes políticos. - A terceira condição teórica é constituída pelo desenvolvimento da antropologia do Direito ou da etnologia jurídica, ao libertar-se progressivamente do seu objeto privilegiado, as sociedades coloniais, virando-se para os novos países africanos e asiáticos e para os países em desenvolvimento na América Latina, até finalmente descobrir o seu objecto duplamente primitivo dentro de casa, nas sociedades capitalistas desenvolvidas; - Condições sociais que, juntamente com as condições teóricas, possibilitaram a orientação do interesse sociológico para as dimensões processuais, institucionais e organizacionais do Direito: 1ª) Lutas sociais protagonizadas por grupos sociais até então em tradição histórica de ação coletiva de confrontação. A igualdade dos cidadãos perante a lei passou a ser confrontada com a desigualdade da lei perante os cidadãos; 2ª) A eclosão, na década de 60, da chamada crise da administração da justiça, uma crise de cuja persistência somos hoje testemunhas. Esta condição está em parte relacionada com a anterior. - A consolidação do Estado-providência significou a expansão dos direitos sociais e, através deles, a integração das classes trabalhadoras nos circuitos de consumo anteriormente fora do seu alcance. Essa integração, por sua vez, implicou que os conflitos emergentes dos novos direitos sociais fossem constitutivamente conflitos jurídicos cuja dirimição caberia em princípios aos tribunais, litígios sobre a relação de trabalho, sobre a segurança social, sobre a habilitação, sobre os bens de consumo duradouros, etc. - De tudo isto resultou uma explosão de litigiosidade, à qual a administração da justiça dificilmente poderia dar resposta. Acresce que esta explosão veio a agravar-se no início da década de 70, ou seja, num período em que a expansão econômica terminava e se iniciava uma recessão, para mais uma recessão com caráter estrutural. Daí resultou a redução progressiva dos recursos financeiros do Estado e a sua crescente incapacidade para dar cumprimento aos compromissos assistenciais e providenciais assumidos para com as classes populares da década anterior; - O autor passa, a partir da página 166, a analisar de modo sistemático o âmbito diversificado dessa contribuição com vista a apontar, no final da obra, as linhas de investigação mais promissoras e o perfil de uma nova política judiciária. Assim, ele indica que irá distinguir três grandes grupos temáticos: o acesso à justiça; a administração da justiça enquanto instituição política e organização profissional, dirigida à produção de serviços especializados; a litigiosidade social e os mecanismos da sua resolução existentes na sociedade; - ACESSO À JUSTIÇA – Esse tema é o que mais diretamente equaciona as relações entre o processo civil e a justiça social, entre igualdade jurídico-formal e desigualdade sócio-econômica. Não se trata de um problema novo. Neste domínio a contribuição da sociologia consistiu em investigar sistemática e empiricamente os obstáculos ao acesso efetivo à justiça por parte das classes populares com vista a propor as soluções que melhor os pudessem superar. Muito em geral pode dizer-se que os resultados desta investigação permitiram concluir que eram de três tipos esses obstáculos: econômicos, sociais e culturais. Certos estudos citados na obra revelam que a justiça civil é cara para os cidadãos em geral, mas revelam sobretudo que a justiça civil é proporcionalmente mais para os cidadãos economicamente mais débeis. É que são eles fundamentalmente os protagonistas e os interessados nas ações de menor valor e é nessas ações que a justiça é proporcionalmente mais cara, o que configura um fenômeno da dupla vitimização das classes populares face à administração da justiça. De fato, verificou-se que essa vitimização é tripla na medida em que um dos outros obstáculos investigados, a lentidão dos processos, pode ser facilmente convertido num custo econômico adicional e este é proporcionalmente mais gravoso para os cidadãos de menos recursos; - As reformas do processo, embora importantes para fazer baixar os custos econômicos decorrentes da lentidão da justiça, não são de modo nenhum uma panacéia. É preciso tomar em conta e submeter à análise sistemática outros fatores quiçá mais importantes. Por outro

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lado, a distribuição dos recursos e custos mas também dos benefícios decorrentes da lentidão da justiça; - A sociologia da administração da justiça tem-se ocupado também dos obstáculos sociais e culturais ao efectivo acesso à justiça por parte das classes populares, e este constitui talvez um dos campos de estudo mais inovadores; - Os cidadãos de menores recursos tendem a conhecer pior os seus direitos e, portanto, a ter mais dificuldades em reconhecer um problema que os afeta como sendo problema jurídico; - Os dados mostram que os indivíduos de classes baixas hesitam muito mais que os outros em recorrer aos tribunais, mesmo quando reconhecem estar perante um problema legal; - O conjunto destes estudos revelou que a discriminação social no acesso à justiça é um fenômeno muito mais complexo do que à primeira vista pode parecer, há que, para além das condicionantes econômicas, sempre mais óbvias, envolve condicionantes sociais e culturais resultantes de processos de socialização e de interiorização de valores dominantes muito difíceis de transformar; - A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA ENQUANTO INSTITUIÇÃO POLÍTICA E PROFISSIONAL – Foi inicialmente propugnada pelos cientistas políticos que viram nos tribunais um subsistema do sistema político global, partilhando com este a característica de processarem uma série de inputs externos constituídos por estímulos, pressões, exigências sociais e políticas e de, através de mecanismos de conversão, produziram outputs – as decisões – portadoras elas próprias de um impacto social e políticos nos restantes subsistemas; - Uma tal concepção dos tribunais teve duas conseqüências muito importantes. Por um lado, colocou os juízes no centro do campo analítico. A segunda conseqüência consistiu em desmentir por completo a idéia convencional da administração da justiça como uma função neutra protagonizada por um juiz apostado apenas em fazer justiça acima e eqüidistante dos interesses das partes; - Ainda no âmbito da administração da justiça como organização profissional, são de salientar os estudos sobre o recrutamento dos magistrados e a sua distribuição territorial; - Os estudos têm vindo a chamar a atenção para um ponto tradicionalmente negligenciado: a importância crucial dos sistemas de formação e de recrutamento dos magistrados e a necessidade urgente de os dotar de conhecimentos culturais, sociológicos e econômicos que os esclareçam sobre as suas próprias opções pessoais e sobre o significado político do corpo profissional a que pertencem, com vista a possibilitar-lhes um certo distanciamento crítico e uma atitude de prudente vigilância pessoal no exercício das suas funções numa sociedade cada vez mais complexa e dinâmica; - OS CONFLITOS SOCIAIS E OS MECANISMOS DA SUA RESOLUÇÃO – Este tema constitui a terceira contribuição da sociologia para a administração da justiça. Os estudos de diversos pesquisadores na África Oriental, na África Central/Austral e na África Ocidental tiveram um impacto decisivo no desenvolvimento da sociologia do Direito. Deram a conhecer formas de Direito e padrões de vida jurídica totalmente diferentes dos existentes nas sociedades ditas civilizadas; direitos com baixo grau de abstração, discerníveis apenas na solução concreta de litígios particulares; direitos com pouca ou nula especialização em relação às restantes atividades sociais; mecanismos de resolução dos litígios caracterizados pela informalidade, rapidez, participação ativa da comunidade, conciliação ou mediação entre as partes através de um discurso jurídico retórico, persuasivo, assente na linguagem comum. Acima de tudo, estes estudos revelaram a existência na mesma sociedade de uma pluralidade de direitos convivendo e interagindo de diferentes formas; - Em primeiro lugar, de um ponto de vista sociológico, o Estado contemporâneo não tem o monopólio da produção e distribuição do direito. Sendo embora o direito estatal o modo de juridicidade dominante, ele coexiste na sociedade com outros modos de juridicidade, outros direitos que com ele se articulam de modos diversos. Este conjunto de articulações e

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interrelações entre vários modos de produção do direito constitui o que designo por formação jurídica; - Em segundo lugar, o relativo declínio da litigiosidade civil, longe de ser início da diminuição da conflitualidade para outros mecanismos de resolução, informais, mais baratos e expeditos, existentes na sociedade; - Estas conclusões não deixaram de influenciar algumas das reformas da administração da justiça nos últimos anos. Distinguirei dois tipos de reformas: as reformas no interior da justiça civil tradicional e a criação de alternativas. Ainda assim, as reformas que visam a criação de alternativas constituem hoje uma das áreas de maior inovação política e judiciária; - Hoje, o florescimento internacional da arbitragem e dos mecanismos conhecidos, em geral, por Alternative Dispute Resolution (ADR) são a manifestação mais concludente das transformações em curso nos processos convencionais de resolução de conflitos; - PARA UMA NOVA POLÍTICA JUDICIÁRIA – Seria uma política judiciária comprometida com o processo de democratização do Direito e da Sociedade. 1 – A democratização da administração da justiça é uma dimensão fundamental da democratização da vida social, econômica e política. Essa democratização tem duas vertentes. A primeira diz respeito à constituição interna do processo e a segunda diz respeito à democratização do acesso à justiça; 2 – Estas medidas de democratização, apesar de amplas, têm limites óbvios. A desigualdade da proteção dos interesses sociais e dos diferentes grupos sociais está cristalizada no próprio substantivo, pelo que a democratização da administração da justiça, mesmo que plenamente realizada, não conseguirá mais do que igualizar os mecanismos de reprodução da desigualdade. “Quanto mais caracterizadamente uma lei protege os interesses populares e emergentes maior é a probabilidade de que ela não seja aplicada”. Sendo assim, a luta democrática pelo Direito deve ser, no nosso país, uma luta pela aplicação do Direito vigente, tanto quanto uma luta pela mudança do Direito; 3 – Se é certo que as classes de menores recursos tendem a não utilizar a justiça pelas razões que expusemos, a verdade é que as classes de maiores recursos tendem igualmente a resolver os seus litígios fora do campo judiciário. É certo que muitas das reformas recentes da administração da justiça visam reduzir a sua marginalidade ou residualidade; 4 – A contribuição maior da sociologia para a democratização da administração da justiça consiste em mostrar empiricamente que as reformas do processo ou mesmo do Direito substantivo não terão muito significado se não forem complementadas com outros dois tipos de reformas; - As novas gerações de juízes e magistrados deverão ser equipadas com conhecimentos vastos e diversificados (econômicos, sociológicos, políticos) sobre a sociedade em geral e sobre a administração da justiça em particular. Ademais, é deveras necessário aceitar os riscos de uma magistratura culturalmente esclarecida. - Ação Social; - Paradigma liberal-individualista-normativista; - Elite e Classe Média; - E. Husserl; - Horizonte contemporâneo da Sociologia Jurídica; - Sociologia do Direito (Instituições, Práticas e Formação Jurídica); - Justiça; - Recomendação de leitura: “As Raças Humanas”, de Nina Rodrigues; “Vigiar e Punir”, de Michel Foucault.