Conteúdos Módulos 01-02-03-04

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    INTERPRETAO E PRODUO DE TEXTOS MDULOS 01-02-03-04-051 BIMESTRE

    Apresentao

    Primeiro bimestre:

    1) Conscientizao da importncia da leitura como fonte de conhecimento e participao nasociedade;

    2) As diferentes linguagens: verbal, no verbal; formal e informal;

    3) Noes de texto: unidade de sentido;

    4) Textos orais e escritos;

    5) Estilos e gneros discursivos: jornalstico, cientfico, tcnico, literrio, publicitrio entre outros;interpretao de textos diversos e de assuntos da atualidade;

    Para enriquecer seus estudos, sugerimos a seguinte bibliografia bsica:

    FARACO, Carlos Alberto e TEZZA, Cristovo.Prtica de texto para estudantes universitrios. 13. ed.Petrpolis: Vozes, 2008.FIORIN, Jos Luiz e PLATO, Francisco.Lies de texto: leitura e redao. So Paulo: tica, 2006.KOCH, I. V. & ELIAS, V. M.Ler e compreender: os sentidos do texto. 2. ed. So Paulo: Contexto, 2007.

    MODULO 01 - A Importncia da Leitura

    Gostaramos de dar incio ao nosso trabalho, convidando-o(a) leitura de um texto de Clarice Lispector.

    FELICIDADE CLANDESTINAEla era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha umbusto enorme, enquanto ns todas ainda ramos achatadas. Como se no bastasse, enchia os dois

    bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possua o que qualquer criana devoradora dehistrias gostaria de ter: um pai dono de livraria.Pouco aproveitava. E ns menos ainda: at para aniversrio, em vez de pelo menos um livrinhobarato, ela nos entregava em mos um carto-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagemdo Recife mesmo, onde morvamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrs escrevia com letrabordadssima palavras como "data natalcia" e "saudade".Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingana, chupando balas com barulho.Como essa menina devia nos odiar, ns que ramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas,de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha nsia de ler, eunem notava as humilhaes a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livrosque ela no lia.At que veio para ela o magno dia de comear a exercer sobre mim um tortura chinesa. Como

    casualmente, informou-me que possua As reinaes de Narizinho, de Monteiro Lobato. Era umlivro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E,completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e

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    que ela o emprestaria.At o dia seguinte eu me transformei na prpria esperana de alegria: eu no vivia, nadava devagarnum mar suave, as ondas me levavam e me traziam.No dia seguinte fui sua casa, literalmente correndo. Ela no morava num sobrado como eu, e simnuma casa. No me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestadoo livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para busc-lo. Boquiaberta, sa devagar,mas em breve a esperana de novo me tomava toda e eu recomeava na rua a andar pulando, que erao meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem ca: guiava-me a promessa dolivro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelomundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e no ca nenhuma vez.Mas no ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono da livraria era tranqilo ediablico. No dia seguinte l estava eu porta de sua casa, com um sorriso e o corao batendo.Para ouvir a resposta calma: o livro ainda no estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte.Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do "dia seguinte" com ela ia se repetircom meu corao batendo.E assim continuou. Quanto tempo? No sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel noescorresse todo de seu corpo grosso. Eu j comeara a adivinhar que ela me escolhera para eusofrer, s vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, s vezes aceito: como se quem quer me fazer

    sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.Quanto tempo? Eu ia diariamente sua casa, sem faltar um dia sequer. s vezes ela dizia: pois olivro esteve comigo ontem de tarde, mas voc s veio de manh, de modo que o emprestei a outramenina. E eu, que no era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhosespantados.At que um dia, quando eu estava porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa,apareceu sua me. Ela devia estar estranhando a apario muda e diria daquela menina porta desua casa. Pediu explicaes a ns duas. Houve uma confuso silenciosa, entrecortada de palavraspouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de no estar entendendo. Atque essa me boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livronunca saiu daqui de casa e voc nem quis ler!E o pior para essa mulher no era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada

    da filha que tinha. Ela nos espiava em silncio: a potncia de perversidade de sua filha desconhecidae a menina loura em p porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi ento que, finalmente serefazendo, disse firme e calma para a filha: voc vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: "Evoc fica com o livro por quanto tempo quiser." Entendem? Valia mais do que me dar o livro: "pelotempo que eu quisesse" tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mo. Acho que eu nodisse nada. Peguei o livro. No, no sa pulando como sempre. Sa andando bem devagar. Sei quesegurava o livro grosso com as duas mos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei atchegar em casa, tambm pouco importa. Meu peito estava quente, meu corao pensativo.Chegando em casa, no comecei a ler. Fingia que no o tinha, s para depois ter o susto de o ter.Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adieiainda mais indo comer po com manteiga, fingi que no sabia onde guardara o livro, achava-o,abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que eraa felicidade. A felicidade sempre ia ser clandestina para mim. Parece que eu j pressentia. Comodemorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.s vezes sentava-me na rede, balanando-me com o livro aberto no colo, sem toc-lo, em xtasepurssimo.No era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.

    Clarice Lispector. In: "Felicidade Clandestina"Ed. Rocco - Rio de Janeiro, 1998

    Ler sign if ica aproximar-se de algo que acaba de ganhar existncia.talo Calvino

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    O ato de ler soberano. Implica desvendar e conhecer o mundo. pela leitura que desenvolvemos oprocesso de atribuir sentido a tudo o que nos rodeia: lemos um olhar, um gesto, um sorriso, um mapa, umaobra de arte, as pegadas na areia, as nuvens carregadas no cu, o sinal de fumaa avistado ao longe e tantosoutros sinais. Lemos at mesmo o silncio!

    Nos dias de hoje, a comunicao, mesmo presencial, est mediada por uma infinidade de signos. Na era dacomunicao interplanetria, estabelecemos infinitas conexes com pessoas de todos os cantos do mundo, oque nos obriga a decodificar um universo poderoso de mensagens e a nos adaptar a elas: comunidadesvirtuais do Orkut, conversas pelo MSN, compras e negcios fechados pela rede e, se essa informao foidominantemente verbal at ento, agora se torna tambm visual com a chegada do YouTube.

    Sabemos o quanto a fora da imagem exerce fascnio e entendemos, definitivamente, que no h mais comosobreviver neste mundo sem que haja, de nossa parte, uma adaptao constante no que se refere ao acesso sdiferentes linguagens disponveis.

    fundamental reconhecer que o sentido de todas as coisas nos vem, principalmente, por meio do olhar, dacompreenso e interpretao desses mltiplos signos1que enxergamos, desde os mais corriqueirosnomesde ruas, por exemploat os mais complexosuma poesia repleta de metforas. O sentido das coisas nosvem, ento, por meio da leitura, um ato individual de construo de significado num contexto que seconfigura mediante a interao autor/texto/leitor.

    A leitura uma atividade que solicita intensa participao do leitor e exige muito mais que o simplesconhecimento lingstico compartilhado pelos interlocutores: o leitor , necessariamente, levado a mobilizaruma srie de estratgias, com a finalidade de preencher as lacunas e participar, de forma ativa, da construodo sentido. Dessa forma, autor e leitor devem ser vistos como estrategistas na interao pela linguagem para

    que se construa o sentido do texto.

    Segundo Koch & Elias (2006),

    [...] numa concepo interacional (dialgica) da lngua, os sujeitos so vistos como atores/construtoressociais, sujeitos ativos quedialogicamentese constroem e so construdos no texto. [...} Nessaperspectiva, o sentido de um texto construdo na interao texto-sujeitos e no algo que preexista aessa interao. A leitura , pois, uma atividade interativa altamente complexa de produo de sentidos, que

    se realiza evidentemente com base nos elementos lingsticos presentes na superfcie textual e na sua formade organizao, mas requer a mobilizao de um vasto conjunto de saberes no interior do eventocomunicativo.

    Para esclarecer as idias at aqui apresentadas, leia a tira a seguir:

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    http://tiras-hagar.blogspot.com/(acesso em 16/02/2007)

    Na tira, Hagar, o viking, revela o papel do leitor queinteragecom o texto, no caso, da placa, e atribui-lheo sentido, considerando tanto as informaes explcitas, como tambm o que sugerido de maneiraimplcita, subentendida.

    Podemos, ento, concluir quea)a leitura de qualquer texto exige do leitor muito mais do que o conhecimento do cdigo lingstico;

    b)o leitor realiza um trabalho ativo de compreenso e interpretao do texto, a partir, entre outros aspectos,de seu conhecimento lingstico, textual e, ainda, de seu conhecimento de mundo.

    Leitura , assim, uma atividade de produo de sentido. nesse intercmbio de leituras que se refinam, sereajustam e redimensionam hipteses de significado, ampliando constantemente a nossa compreenso dosoutros, do mundo e de ns mesmos.

    O exerccio pleno da cidadania passa necessariamente pela garantia de acesso aos conhecimentos construdose acumulados e s informaes disponveis socialmente. E a leitura a chave dessa conquista.

    Sugesto de leitura

    Ler e compreender os sentidos do textoIngedore V. Koch e Vanda Maria EliasEditora ContextoTexto e Leitor: aspectos cogniti vos da leiturangela KleimanPontes

    1

    Signos:entidades lingsticas dotadas de duas faces: o significante (imagem acstica) e o significado(conceito).

    MODULO 02 - As Diferentes Linguagens

    A linguagem o instrumento com que o homem pensa e sente, forma estados de alma, aspiraes, volies eaes, o instrumento com que influencia e influenciado, o fundamento ltimo e mais profundo da

    sociedade humana.

    L. Hjelmslev

    http://tiras-hagar.blogspot.com/http://tiras-hagar.blogspot.com/http://tiras-hagar.blogspot.com/
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    Para dar incio s suas reflexes a respeito do tema a ser estudado, leia o texto que segue.

    Comunicao

    importante saber o nome das coisas. Ou, pelo menos, saber comunicar o que voc quer.Imagine-se entrando numa loja para comprar um... um... como mesmo o seu nome?Posso ajud-lo, cavalheiro?Pode. Eu quero um daqueles, daqueles...Um... como mesmo o nome?Sim?Pomba! Um... um... Que cabea a minha. A palavra me escapou por completo. uma coisa

    simples, conhecidssima.Sim senhor.O senhor vai dar risada quando souber.Sim senhor.Olha, pontuda, certo?

    O qu, cavalheiro?Isso que eu quero. Tem uma ponta assim, entende? Depois vem assim, assim, faz uma volta,a vem reto de novo, e na outra ponta tem uma espcie de encaixe, entende? Na ponta temoutra volta, s que esta mais fechada. E tem um, um... Uma espcie de, como que se diz?

    De sulco. Um sulco onde encaixa a outra ponta, a pontuda, de sorte que o, a, o negcio,entende, fica fechado. isso. Uma coisa pontuda que fecha. Entende?Infelizmente, cavalheiro...Ora, voc sabe do que estou falando.Estou me esforando, mas...Escuta. Acho que no podia ser mais claro. Pontudo numa ponta, certo?Se o senhor diz, cavalheiro...Como, se eu digo? Isso j m vontade. Eu sei que pontudo numa ponta. Posso no sabero nome da coisa, isso um detalhe. Mas sei exatamente o que eu quero.Sim senhor. Pontudo numa ponta.Isso. Eu sabia que voc compreenderia. Tem?bom, eu preciso saber mais sobre o, a, essa coisa. Tente descrev-la outra vez. Quem sabeo senhor desenha para ns?No. Eu no sei desenhar nem casinha com fumaa saindo da chamin. Sou uma negaoem desenho.Sinto muito.No precisa sentir. Sou tcnico em contabilidade, estou muito bem de vida. No sou umdbil mental. No sei desenhar, s isso. E hoje, por acaso, me esqueci do nome desse raio.

    Mas fora isso, tudo bem. O desenho no me faz falta. Lido com nmeros. Tenho algum

    problema com os nmeros mais complicados, claro. O oito, por exemplo. Tenho que fazer umrascunho antes. Mas no sou um dbil mental, como voc est pensando.Eu no estou pensando nada, cavalheiro.Chame o gerente.No ser preciso, cavalheiro. Tenho certeza de que chegaremos a um acordo. Essa coisaque o senhor quer, feito do qu? de, sei l. De metal.Muito bem. De metal. Ela se move?Bem... mais ou menos assim. Presta ateno nas minhas mos. assim, assim, dobraaqui e encaixa na ponta, assim.Tem mais de uma pea? J vem montado? inteirio. Tenho quase certeza de que inteirio.

    Francamente.Mas simples! Uma coisa simples. Olha: assim, assim, uma volta aqui, vem vindo, vemvindo, outra volta e clique, encaixa.

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    Ah, tem clique. eltrico.No! Clique, que eu digo, o barulho de encaixar.J sei!timo! O senhorquer uma antena externa de televiso.No! Escuta aqui. Vamos tentar de novo...Tentemos por outro lado. Para o que serve?Serve assim para prender. Entende? Uma coisa pontuda que prende. Voc enfia a ponta

    pontuda por aqui, encaixa a ponta no sulco e prende as duas partes de uma coisa..Certo. Esse instrumento que o senhor procura funciona mais ou menos como um gigantescoalfinete de segurana e...Mas isso! isso! Um alfinete de segurana!Mas do jeito que o senhor descrevia parecia uma coisa enorme, cavalheiro! que eu sou meio expansivo. Me v a um... um... Como mesmo o nome?

    (Lus Fernando Verssimo.Para gostar de ler. v.7. So Paulo, tica, 1982.)

    A linguagem nasce da necessidade humana de comunicao; nela e com ela, o homem interage com o

    mundo. Para tratarmos das diferentes linguagens de que dispomos, verbais e no verbais, precisamos,inicialmente, pensar que elas existem para que possamos estabelecercomunicao. Mas o que , em si,comunicar?

    Se desdobrarmos a palavra comunicao, teremos:

    Comunicao: comum + ao, ou melhor, ao em comum.

    De modo geral, todos os significados encontrados para a palavra comunicaorevelam a idia de relao.Observe:

    Comunicao: deriva do latim communicare, cujo significado seria tornar comum, partilhar, repartir,trocar opinies, estar em relao com.

    Podemos assim afirmar que, historicamente, comunicaoimplica em participao, interao entre dois oumais elementos, um emitindo informaes, outro recebendo e reagindo. Para que a comunicao exista,ento, preciso que haja mais de um plo: sem o outro no h partilha de sentimentos e idias ou decomandos e respostas.

    Leia o cartum a seguir e procure reconhecer como o humor se produz na situao apresentada.

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    Para que a comunicao seja eficiente, necessrio que haja um cdigo comum aosinterlocutores.

    O que a linguagem?

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    Linguagem a capacidade humana de articular conhecimentos e compartilh-los socialmente. Assim, todo equalquer processo humano capaz de expressar e compartilhar significao constitui linguagens: tirar fotos,pintar quadros, produzir textos e msicas, escrever jornal, danar, etc. As linguagens fazem parte dasdiversas formas de expresso representadas pelas artes visuais, pela msica, pela expresso corporal e pelaescrita.

    A linguagem, portanto, nomeia, fixa e concebe objetos, utiliza

    conceitos e tem por funo permitir a comunicao.

    Ns encontramos a lngua pronta quando nascemos e aprendemos autiliz-la com as pessoas mais velhas. a partir dessa aprendizagemque passamos a reproduzi-la.

    Muitas das expresses artsticas atuais tm origem conhecida: afotografia surgiu no sculo XIX; o teatro ocidental surgiu na Grciae na Idade Mdia. J a escrita surgiu h milhares de anos.

    Tomemos, agora, o conceito apresentado por Bechara (1999:28) para fundamentar o conceito de linguagem:

    Entende-se por linguagemqualquer sistema de signos simblicos empregados na intercomunicao socialpara expressar e comunicar idias e sentimentos, isto , contedos da conscincia.A linguagem , ento, vista como um espao em que tanto o sujeito quanto o outro que com ele interage sointeiramente ativos. Por meio dela, o homem pode trocar informaes e idias, compartilhar conhecimentos,expressar idias e emoes. Desse modo, reconhecemos a linguagem como um instrumento mltiplo edinmico, isso porque, considerados os sentidos que devem ser expressos e as condies de que dispomosem dada situao, valemo-nos de cdigos diferentes, criados a partir de elementos como o som, a imagem, acor, a forma, o movimento e tantos outros.

    Vale salientar a idia de que o processo de significao s acontece verdadeiramente quando, aoapropriarmo-nos de um cdigo, por meio dele nos fazemos entender.

    Dica de vdeo

    A Guerra do Fogo(La Guerre du feu, 81, FRA/CAN)Dir.: Jean-Jacques Annaud. Com: Everett McGill, Rae Dawn Chong,Ron Perlman, Nameer El Kadi.

    Uma interessante oportunidade para refletir sobre a questo dasprimeiras manifestaes de linguagem no homem.

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    LINGUAGEM VERBAL E NO VERBAL

    Chamamos de linguagema todo sistema de sinais convencionais que nos permite realizar atos decomunicao. Certamente, voc j observou que o ser humano utiliza as mais diferentes linguagens: a damsica, a da dana, a da pintura, a dos surdos-mudos, a dos sinais de trnsito, a da lngua que voc fala, entreoutras.

    Como vemos, a linguagem produto de prticas sociais de uma determinada cultura que a representa e amodifica, numa atividade predominantemente social.

    Considerando o sistema de sinais utilizados na comunicao humana, costumamos dividir a linguagem emverbal e no verbal. Assim, temos:

    a. Linguagem verbal:aquela que utiliza as palavraspara estabelecer comunicao. A lngua que vocutiliza, por exemplo, linguagem verbal, assim como a literatura.

    b. Linguagem no verbal:aquela que utiliza outros sinais que no as palavraspara estabelecercomunicao. Os sinais utilizados pelos surdos-mudos, por exemplo, constituem um tipo de linguagem noverbal.

    Para viver em sociedade, o ser humanopossuidor de capacidade criativa e cumulativacria um arsenalde cdigos, que se entrecruzam e atendem s suas necessidades de sobrevivncia, de intercmbio com o

    outro, de satisfao afetiva, de aprimoramento intelectual.A comunicao d-se, assim, por intermdio de algum tipo de linguagem que, como vimos, altera-se deacordo com o uso que as pessoas fazem dela. Verbais ou no verbais, criamos sinais que tm significadoespecial para o grupo humano do qual fazemos parte.

    Veja, por exemplo, a tela de Portinari:

    Ao pintar os trabalhadores rurais em atividade, Portinarirevela, com preciso, uma importante questo social: avida sofrida dos lavradores nas lavouras do caf que, aocumprir longas jornadas de trabalho, misturam-se terra,

    numa interminvel fila de homens e mulheres annimos,com mos e ps enormes, sugerindo, talvez, o excesso e afora de tanto trabalho. No h cu, no h horizonte; opredomnio da cor marrom refora o drama vivido por

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    esses trabalhadores.

    Diante do no verbal, como espectadores, experimentamos a emoo que o quadro desperta, no porque seusignificado esteja expresso em palavras, mas porque ele exibe a sntese do sentimento do artista.

    Podemos concluir, assim, que a linguagem mltiplae, a partir da combinao de seus variados cdigos,promove a interao entre os seres humanos, permitindo a expresso do que pensa e do que sente.

    Dica de leitura:

    O verbal e o no verbalVera Teixeira de AguiarEditora Unesp

    LIGUAGEM FORMAL E INFORMAL

    Nossa lngua apresenta uma imensa possibilidade de variantes lingsticas, tanto na

    linguagem formal(padro) quanto na linguageminformal(coloquial). Elas no so, assim, homogneas.Especialmente no que se refere ao coloquial, as variaes no se esgotam. Alguns fatores determinam essavariedade. So eles:

    diferenas regionais:h caractersticas fonticas prprias de cada regio, um sotaque prprio que d traosdistintivos ao falante nativo. Por exemplo, a fala espontnea de um caipira difere da fala de um gacho empronncia e vocabulrio;

    nvel social do falante e sua relao com a escrita:um operrio, de modo geral, no fala da mesmamaneira que um mdico, por exemplo;

    diferenas individuais.

    importante salientar que cada variedade tem um conjunto de situaes especficas para seu uso e, de modogeral, no pode ser substituda por outra sem provocar, ao menos, estranheza durante a comunicao. O textode Luis Fernando Verssimo ilustra uma dessas situaes inusitadas:

    A, Galera

    Jogadores de futebol podem ser vtimas de estereotipao. Por exemplo, voc pode imaginar um jogador de futeboldizendo estereotipao? E, no entanto, por que no?- A, campeo. Uma palavrinha pra galera.- Minha saudao aos aficionados do clube e aos demais esportistas, aqui presentes ou no recesso dos seus lares.

    - Como ?- A, galera.- Quais so as instrues do tcnico?- Nosso treinador vaticinou que, com um trabalho de conteno coordenada, com energia otimizada, na zona de

    preparao, aumentam as probabilidades de, recuperado o esfrico, concatenarmos um contra-golpe agudo comparcimnia de meios e extrema objetividade, valendo-nos da desestruturao momentnea do sistema oposto,surpreendido pela reverso inesperada do fluxo da ao.- Ahn?- pra dividir no meio e ir pra cima pra peg eles sem cala.- Certo. Voc quer dizer mais alguma coisa?- Posso dirigir uma mensagem de carter sentimental, algo banal, talvez mesmo previsvel e piegas, a uma pessoa qual

    sou ligado por razes, inclusive, genticas?- Pode.- Uma saudao para a minha progenitora.- Como ?

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    - Al, mame!- Estou vendo que voc um, um...- Um jogador que confunde o entrevistador, pois no corresponde expectativa de que o atleta seja um ser algo

    primitivo com dificuldade de expresso e assim sabota a estereotipao?- Estereoqu?- Um chato?- Isso.

    Correio Braziliense, 13/05/1998.

    Podemos concluir da que cada variedade tem seus domnios prprios e que no existe a variedade certa ouerrada. Para cada situao comunicativa existe a variante mais ou menos adequada. certo, noentanto, que atribuda variante padro um valor social e histrico maior do que coloquial. Cabe, assim,ao indivduocompetente lingisticamente - optar por uma ou outra variante em funo da situaocomunicativa da qual participa no momento.

    Por fim, citando Bechara (1999), a linguagem sempre um estar no mundo com os outros, no comoum indivduo em particular, mas como parte do todo social, de uma comunidade.

    MODULO 03 - Noes de Texto: Unidade de Sentido

    A palavra texto bastante familiar no mbito escolar e fora dele, embora, de modo geral, no oreconheamos em diversas de suas ocorrncias. Certamente j ouvimos: Que texto interessante! Seu textoest confuso! Faa um texto sobre suas frias...

    No entanto, no que diz respeito especialmente leitura, muitas vezes os alunos lem fragmentos do texto ebuscam entender partes isoladas que, sem relao com as demaiscom o todo, levam o leitor,provavelmente, a chegar a concluses precipitadas e at mesmo erradas sobre o sentido do texto.

    Os estudos mais avanados na rea da Lingstica Textual, a partir da dcada de 60, detiveram-se emexplicar as caractersticas prprias da linguagem escrita concretizada em forma de textoe no em forma deum mero amontoado de palavras e frases.

    Para a Lingstica Textual, a linguagem o principal meio de comunicao social do ser humano e, portanto,seu produto concretoo textotambm se reveste dessa importante caracterstica, j que por

    intermdio dele que um emissor transmite algo a um receptor, obedecendo a um sistema de signos/regrascodificado. O texto constitui-se, assim, na unidade lingstica comunicativa bsica.

    Inicialmente, faz-se necessrio expor o conceito de texto, por ser ele o elemento fundamental decomunicao. Vejamos o conceito proposto por Bernrdez (1982):

    Texto a unidade lingstica comunicativa fundamental, produto da atividade verbal humana, que possuisempre carter social: est caracterizado por seu estrato semntico e comunicativo, assim como por suacoerncia profunda e superficial, devida inteno (comunicativa) do falante de criar um texto ntegro, e

    sua estruturao mediante dois conjuntos de regras: as prprias do nvel textual e as do sistema da lngua.

    Alguns elementos nos parecem centrais nessa definio. So eles:

    a. Um texto no um aglomerado de frases; o significado de suas partes resulta das correlaes que elasmantm entre si. Uma leitura no pode basear-se em fragmentos isolados do texto. Observe a seqncia:

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    Marilene ainda no chegou. Comprei trs melancias. O escritrio de Srgio encerrou o expedientepor hoje. A densa floresta era assustadora. Ela colocou mais sal no feijo. O vaso partiu-se empedacinhos.

    Essa seqncia apresenta um amontoado aleatrio de frases, j que suas partes no se articulam entre si, noformam um todo coerente. Portanto, tal seqncia no constitui um texto.

    Agora, observe a tira:

    Inicialmente notamos que os personagens curtem o sol num momento de lazer. No segundo quadro da tira,ao lermos mas, infelizmente..., acreditamos que o personagem vai interromper o agradvel momento porconta de alguma obrigao que deva cumprir. No terceiro quadro, porm, somos obrigados a reinterpretar osignificado anteriormente atribudo e verificar que ambos esto, mesmo, dispostos a aproveitar o sol semqualquer pressa. Como vemos, o sentido global de um texto depende das correlaes entre suas partes.

    Veja como isso se d no texto que segue.

    Circuito Fechado

    Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. gua. Escova, creme dental, gua, espuma, creme de barbear, pincel, espuma,gilete, gua, cortina, sabonete, gua fria, gua quente, toalha. Creme para cabelo; pente. Cueca, camisa, abotoaduras,cala, meias, sapatos, gravata, palet. Carteira, nqueis, documentos, caneta, chaves, leno, relgio, maos de cigarros,caixa de fsforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xcara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos. Quadros. Pasta, carro.Cigarro, fsforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papis, telefone, agenda, copo com lpis, canetas, blocos de notas,esptula, pastas, caixas de entrada, de sada, vaso com plantas, quadros, papis, cigarro, fsforo. Bandeja, xcara

    pequena. Cigarro e fsforo. Papis, telefone, relatrios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone,papis. Relgio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboos de anncios, fotos, cigarro, fsforo, bloco de papel, caneta,projetos de filmes, xcara, cartaz, lpis, cigarro, fsforo, quadro-negro, giz, papel. Mictrio, pia, gua. Txi. Mesa, toalha,cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xcara. Mao de cigarros, caixa de fsforos. Escova de dentes,

    pasta, gua. Mesa e poltrona, papis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fsforo, telefone interno, externo, papis,

    prova de anncio, caneta e papel, relgio, papel, pasta, cigarro, fsforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone,papis, folheto, xcara, jornal, cigarro, fsforo, papel e caneta. Carro. Mao de cigarros, caixa de fsforos. Palet,gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xcaras, cigarro efsforo. Poltrona, livro. Cigarro e fsforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fsforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias,cala, cueca, pijama, espuma, gua. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.

    (Ricardo Ramos)

    Em Circuito fechadono h apenas uma srie de palavras soltas; temos aqui um texto. E por qu? Apesar dehaver palavras, aparentemente, sem relao umas com as outras, possvel reconhecer, depois de uma leituraatenta, que h uma articulao entre elas. A escolha dos substantivos e a seqncia em que so empregadosrevelam um significado implcito, algo que une e relaciona essas palavras, formando um texto. Podemos,assim, dizer que esse texto se refere a um dia na vida de um homem comum.

    Note que no incio do texto h substantivos relacionados a hbitos rotineiros, como levantar, ir ao banheiro,lavar o rosto, escovar dentes, fazer barba tomar banho, vestir-se e tomar caf da manh.

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    Chinelos, vaso, descarga. Pia. Sabonete. gua. Escova, creme dental, gua, espuma, creme de barbear, pincel, espuma,gilete, gua, cortina, sabonete, gua fria, gua quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras,cala, meias, sapatos, gravata, palet. Carteira, nqueis, documentos, caneta, chaves, leno, relgio, mao de cigarros,caixa de fsforos.

    J no final do texto h o ritual que denota a volta para casa. Observe:

    Carro. Mao de cigarros, caixa de fsforos. Palet, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos,talheres, copos, guardanapos. Xcaras, cigarro e fsforos. Poltrona, livro. Cigarro e fsforo. Televisor, poltrona. Cigarroe fsforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, cala, cueca, pijama, espuma, gua. Chinelos. Coberta, cama,travesseiro.

    Descobrimos que a personagem um homem tambm pela escolha dos substantivos. Parece que suaprofisso pode estar relacionada publicidade e o personagem , tambm, um fumante, pois, por quatorzevezes, o narrador retoma a seqncia cigarro, fsforo.

    Creme de barbear, pincel, espuma, gilete [...] cueca, camisa, abotoadura, cala, meia, sapatos, gravata, palet [...] Mesa e

    poltrona, cadeira, cinzeiro, papis, telefone, agenda, copo com lpis, canetas, blocos de notas, esptula, pastas, caixas deentrada, de sada [...] Papis, telefone, relatrios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes [...] Mesa, cavalete,cinzeiros, cadeiras, esboos de anncios, fotos, cigarro, fsforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes, xcara, cartaz,lpis, cigarro, fsforo, quadro-negro, giz, papel.

    Enfim, o texto Circuito fechado uma crnicaum texto narrativo curto, cujo tema o cotidiano e levao leitor a refletir sobre a vida. Usando somente substantivos, o autor produziu um texto que termina ondecomeou. Essa estrutura circular tem relao com o ttulo e com a rotina que aprisiona o homem nos diasatuais.

    b. O texto tem coerncia de sentido e o sentido de qualquer passagem de um texto dado pelo contexto1. Seno levarmos em conta as relaes entre as partes do texto, corremos o risco de atribuir a ele um sentidooposto quele que efetivamente tem.

    c. Todo texto tem um carter histrico, no no sentido de narrar fatos histricos, mas no de revelar asconcepes e a cultura de um grupo social numa determinada poca.

    http://www.propagandasantigas.blogger.com.br/(acesso em 05/01/2007)

    Os anncios retratam duas concepes distintas a respeito da moda infanto-juvenil em pocas diferentes: o recato dosculo XIX e o olhar prtico e dinmico dos dias atuais.

    http://www.propagandasantigas.blogger.com.br/http://www.propagandasantigas.blogger.com.br/http://www.propagandasantigas.blogger.com.br/
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    1Contexto:unidade maior em que uma unidade menor est inserida. Exemplo: a frase serve de contexto paraa palavra, o texto para a frase etc.

    MODULO 04 - Textos Orais e Textos Escritos

    A interao pela linguagem materializa-se por meio de textos, sejam eles orais ou escritos. relevante, noentanto, reconhecer que fala e escrita so duas modalidades de uso da lngua que, embora se utilizem domesmo sistema lingstico, possuem caractersticas prprias. As duas no tm as mesmas formas, a mesmagramtica, nem os mesmos recursos expressivos. Para a compreenso dos problemas da expresso e dacomunicao verbais, necessrio evidenciar essa distino.

    Para dar incio s suas reflexes, leia o texto de Millr Fernandes, a seguir.

    A vaguido especfica"As mulheres tm uma maneira de falar que eu chamo de vago-especfica."

    Richard Gehman

    Maria, ponha isso l fora em qualquer parte.Junto com as outras?No ponha junto com as outras, no. Seno pode vir algum e querer fazer coisa com elas. Ponha no lugar do outrodia.Sim senhora. Olha, o homem est a.Aquele de quando choveu?No, o que a senhora foi l e falou com ele no domingo.

    Que que voc disse a ele?Eu disse pra ele continuar.Ele j comeou?Acho que j. Eu disse que podia principiar por onde quisesse. bom?Mais ou menos. O outro parece mais capaz.Voc trouxe tudo pra cima?No senhora, s trouxe as coisas. O resto no trouxe porque a senhora recomendou para deixar at a vspera.Mas traga, traga. Na ocasio ns descemos tudo de novo. melhor, seno atravanca a entrada e ele reclama comona outra noite.Est bem, vou ver como.

    FERNANDES, Millr. Trinta anos de mim mesmo.So Paulo, Crculo do Livro, 1976, p.77.

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    No texto, o autor revela ironia ao atribuir s mulheres o falar de modo vago e por meio de elipses. Noentanto, tais caractersticas so prprias do texto oral, em que a interao face-a-face permite que osinterlocutores, situados no mesmo tempo e espao, preencham as lacunas ali existentes, j que ambos,ancorados em dados do contexto e no conhecimento partilhado que possuem, so capazes de compreender eproduzir sentido ao que se diz.

    Em nossa sociedade, fundamentalmente oral, convivemos muito mais com textos orais do que com textosescritos. Todos os povos1, indistintamente, tm ou tiveram uma tradio oral e relativamente poucos tiveramou tm uma tradio escrita. No entanto, isso no torna a oralidade mais importante que a escrita. Mesmoque a oralidade tenha uma primazia cronolgica sobre a escrita, esta, por sua vez, adquire um valor socialsuperior oralidade.

    A escrita no pode ser tida como representao da fala. Em parte, porque a escrita no consegue reproduzirmuitos dos fenmenos da oralidade, tais como a prosdia, a gestualidade, os movimentos do corpo e dosolhos, entre outros. Ela apresenta, ainda, elementos significativos prprios, ausentes na fala, tais como otamanho e o tipo de letras, cores e formatos, sinais de pontuao e elementos pictricos, que operam comogestos, mmica e prosdia graficamente representados.

    Observe a transcrio de um texto falado, retirado de uma aula de Histria Contempornea, ministrada noRio de Janeiro, no final de dcada de 70. Procure ler o texto como se voc estivesse ouvindo a aula.

    ... ns vimos que ela assinala... como disse o colega a,,, a elevao da sociedade burguesa... e capitalista... ora... pode-sej ver nisso... o que uma revoluo... uma revoluo significa o qu? Uma mudana... de classe... em assumindo opoder... voc v por exemplo... a Revoluo Francesa... o que ela significa? Ns vimos... voc tem uma classe que sobe... eoutra classe que desce... no isso? A burguesia cresceu... ela ti/a burguesia possua... o poder... econmico... mas elano tem prestgio social... nem poder poltico... ento... atravs desse poder econmico da burguesia... que controlava ocomrcio... que tinha nas mos a economia da Frana... tava nas mos da classe burguesa... que crescera... desde o

    sculo quinze... com a Revoluo Comercial... ns temos o crescimento da classe burguesa... essa burguesia quer... quer...o poder...ela quer o poder poltico... ela quer o prestgio social... ela quer entrar em Versalhes... ento ns vamos ver queatravs... de uma Revoluo...ela vai... de forma violenta... ela vai conseguir o poder... isso uma revoluo porque

    significa a ascenso de uma classe e a queda de outra... mas qual a classe que cai? a aristocracia... tanto que... o Reiteve a cabea cortada... no isso?

    Dinah Callou (org.).A linguagem falada culta na cidade do Rio de Janeiromateriaispara seu estudo.Elocues formais. Rio de Janeiro, Fujb, 1991, p. 104-105.

    possvel notar que o texto bastante entrecortado e repetitivo, apresenta expressivas marcas de oralidade eprogride apoiando-se em questes lanadas aos interlocutores, no caso, aos alunos. Isso no significa que otexto falado , por sua natureza, absolutamente catico e desestruturado. Ao contrrio, ele tem umaestruturao que lhe prpria, ditada pelas circunstncias sociocognitivas de sua produo.

    No entanto, tais caractersticas, prprias do texto oral, so consideradas inapropriadas para o texto escrito. Epor qu?

    Para entender essa questo, inicialmente, faz-se necessrio observar a distino entre essas duas modalidadesde uso da lngua, proposta por Marcuschi (2001:25):

    A fala seria uma forma de produo textual-discursiva para fins comunicativos na modalidade oral.Caracteriza-se pelo uso da lngua na sua forma de sons sistematicamente articulados e significativos,bem como os aspectos prosdicos e recursos expressivos como a gestualidade, os movimentos docorpo e a mmica.

    A escrita, por sua vez, seria um modo de produo textual-discursiva para fins comunicativos comcertas especificidades materiais e se caracterizaria por sua constituio grfica, embora envolvatambm recursos de ordem pictrica e outros. Pode manifestar-se, do ponto de vista de sua

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    tecnologia, por unidades alfabticas (escrita alfabtica), ideogramas (escrita ideogrfica) ou unidadesiconogrficas. Trata-se de uma modalidade de uso da lngua complementar fala.

    De modo geral, discute-se que ambas apresentam distines porque diferem nos seus modos de aquisio,nas suas condies de produo, na transmisso e recepo, nos meios atravs dos quais os elementos deestrutura so organizados.

    Para Koch (1992), dentre as caractersticas distintivas mais freqentemente apontadas entre as modalidadesfalada e escrita esto as seguintes:

    Fala Escrita

    1.Contextualizada.2.No-planejada.3.Redundante.4.Fragmentada.5.Incompleta.6.Pouco elaborada.

    7.Predominncia de frases curtas, simples oucoordenadas.8.Pouco uso de passivas.9.Pouca densidade informacional.10.Poucas nominalizaes.11.Menor densidade lexical.

    1.Descontextualizada.2.Planejada.3.Condensada.4.No-fragmentada.5.Completa.6.Elaborada.

    7.Predominncia de frases complexas, comsubordinao abundante.8.Emprego freqente de passivas.9.Densidade informacional.10.Abundncia de nominalizaes.11.Maior densidade lexical.

    Ocorre, porm, que essas diferenas nem sempre distinguem as duas modalidades. Isso porque se verifica,por exemplo, que h textos escritos muito prximos ao da fala conversacional (bilhetes, recados, cartasfamiliares, por exemplo), e textos falados que mais se aproximam da escrita formal (conferncias, entrevistasprofissionais, entre outros). Alm disso, atualmente, pode-se conceber o texto oral e o escrito comoatividades interativas e complementares no contexto das prticas culturais e sociais.

    Oralidade e escrita, assim, so prticas e usos da lngua com caractersticas prprias, mas nosuficientemente opostas para caracterizar dois sistemas lingsticos distintos. Ambas permitem a construode textos coesos e coerentes, ambas permitem a elaborao de raciocnios abstratos e exposies formais einformais, variaes estilsticas, sociais e dialetais.

    Cabe lembrar, finalmente, que em situaes de interao face a face, o locutor que detm a palavra no onico responsvel pelo seu discurso. Trata-se, como bem mostra Marcuschi (1986), de uma atividade de co-produo discursiva, visto que os interlocutores esto juntamente empenhados na produo do texto.

    1Povos:Em todas as comunidades, a fala antecede a escrita. Segundo pesquisas, h 3 mil lnguas faladas nomundo, das quais 180 possuem escrita e, aproximadamente, apenas 78 delas, literatura.

    MODULO 05 - Estilos e Gneros Discursivos

    Voc conhece essa piada?

    Desconfiado de que sua festa estava cheia de penetras, o anfitrio grita:

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    - Convidados da noiva, para o lado direito!

    Metade se aloja do lado direito dele.

    - Agora, convidados do noivo, do meu lado esquerdo!

    Um monte de gente se junta do lado esquerdo.

    - E, agora, caiam fora vocs! Isto aqui uma festa de aniversrio!

    Todos os dias, deparamo-nos com diferentes textos durante as mais diversas situaes comunicativas dasquais participamos socialmente: anncios, relatrios, notcias, palestras, piadas, receitas etc. Veja, porexemplo, o que podemos fazer quando queremos:

    escolher um filme para assistir no cinema.Podemos consultar a seo cultural de um dos jornais da cidade ou uma revista especializada, lernum outdoorsobre o lanamento de um filme que lhe agrada ou, ainda, pedir a opinio de umamigo.

    saber como chegar a um local desconhecido por ns.Podemos consultar um guia de ruas da cidade ou, ainda, perguntar a algum que conhea o trajeto.Quem sabe at pedir que essa pessoa lhe desenhe o caminho?

    convidar um amigo para sua festa de aniversrio.Podemos mandar um e-mail, um convite pelo correio, telefonar ao colega, enviar um torpedo pelocelular.

    entreter uma criana.Aqui as possibilidades so vrias! Podemos ler histrias de fadas, lanar adivinhas, lembrar antigascanes, recitar quadrinhas e parlendas, propor jogos diversos, assistir a um desenho etc.

    Em todas as situaes descritas acima, utilizamos textos em diferentes gneros, isto , para situaes e/ou

    finalidades diversas, lanamos mo de um repertrio diverso de gneros textuais que circulam socialmente ese adaptam s diferentes situaes de comunicao. Cada um desses gneros exige, para sua compreenso ouproduo, diferentes conhecimentos e capacidades.De modo geral, todos os gneros textuais tm em comum, basicamente, trs caractersticas:

    o assunto: o que pode ser dito atravs daquele gnero; o estilo: as palavras, expresses, frases selecionadas e o modo de organiz-las; o formato: a estrutura em que cada agrupamento textual apresentado.

    Os gneros surgem, situam-se e integram-se funcionalmente nas culturas em que se desenvolvem. Oconjunto dos gneros potencialmente infinito e mutvel, materializado tanto na oralidade quanto na escrita.Eles so vinculados vida cultural e social e contribuem para ordenar e estabilizar as atividades

    comunicativas do seu dia-a-dia. Assim, so exemplos de gneros textuais: telefonema, carta, romance,bilhete, reportagem, lista de compras, piadas, receita culinria, contos de fadas etc.

    Para Bronckart (1999), a apropriao dos gneros um mecanismo fundamental de socializao, deinsero prtica nas atividades comunicativas humanas.