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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO CONTRATO DE SEGURO: NEGATIVAS DE PAGAMENTO DAS SEGURADORAS JESSICA MUELLER PINOTTI Itajaí [SC], Junho de 2010

CONTRATO DE SEGURO: NEGATIVAS DE …siaibib01.univali.br/pdf/Jessica Mueller Pinotti.pdf · v PÁGINA DE APROVAÇÃO A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

CONTRATO DE SEGURO: NEGATIVAS DE PAGAMENTO DAS SEGURADORAS

JESSICA MUELLER PINOTTI

Itajaí [SC], Junho de 2010

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

CONTRATO DE SEGURO: NEGATIVAS DE PAGAMENTO DAS SEGURADORAS

JESSICA MUELLER PINOTTI

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor Esp. Eduardo Erivelton Campos

Itajaí [SC], Junho de 2010

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AGRADECIMENTO

Ao meu amado pai, que é meu exemplo de vida, como pessoa e como profissional.

A minha mãe, que infelizmente não poderá participar deste momento.

E a minha família e amigos especiais, que sempre estão juntos comigo!

Eu amo vocês! Do fundo do meu coração!

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DEDICATÓRIA

Dedico essa conquista ao meu pai, meu tudo.

Também aos amigos que conquistei ao longo dessa grande jornada e aos professores que

contribuíram para a obtenção de todo o conhecimento adquirido ao longo desse curso.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí [SC], Junho de 2010

Jessica Mueller Pinotti Graduando

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Jessica Mueller Pinotti, sob o título

Contrato de Seguro: Negativas de Pagamento das Seguradoras, foi submetida em

07/06/2010 à banca examinadora composta pelos seguintes professores: MSc.

Emerson de Morais Granado e Esp. Eduardo Erivelton Campos, e aprovada com

a nota 10,00.

Itajaí [SC], Junho de 2010

Professor Esp. Eduardo Erivelton Campos Orientador e Presidente da Banca

Professor MSc. Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

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SUMÁRIO

RESUMO......................................................................................... VIII

INTRODUÇÃO ................................................................................... 1

CAPÍTULO 1 ......................................... ............................................. 3

CONTRATO DE SEGURO - GENERALIDADES ................. .............. 3 1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA ............................. ....................................................3 1.1.1 SEGURO NO BRASIL ..........................................................................................9 1.2 CONCEITOS.....................................................................................................9 1.2.1 DIREITO DO SEGURO .........................................................................................9 1.2.2 CONTRATO DE SEGURO .....................................................................................9 1.3 CLASSIFICAÇÃO.................................. .........................................................11 1.3.1 BILATERAL OU SINALAGMÁTICO .......................................................................11 1.3.2 ONEROSO ......................................................................................................12 1.3.3 COMUTATIVO / ALEATÓRIO ..............................................................................13 1.3.4 CONSENSUAL .................................................................................................14 1.3.5 NOMINADO .....................................................................................................15 1.3.6 DE ADESÃO ....................................................................................................15 1.3.7 DE BOA-FÉ .....................................................................................................16 1.4 MODALIDADES .................................... .........................................................16 1.4.1 DANO ............................................................................................................17 1.4.1.1 RESPONSABILIDADE CIVIL.............................................................................18 1.4.2 PESSOAS .......................................................................................................20 CAPÍTULO 2 ......................................... ........................................... 25 CONTRATO DE SEGURO - APÓLICE ....................... ..................... 25 2.1 INSTRUMENTOS DO CONTRATO DE SEGURO .........................................25 2.1.1 PROPOSTA .....................................................................................................25 2.1.2 APÓLICE ........................................................................................................27 2.2 ELEMENTOS DO CONTRATO DE SEGURO................ ................................30 2.2.1 RISCO............................................................................................................30 2.2.2 PRÊMIO..........................................................................................................31 2.2.3 SEGURADOR ..................................................................................................33 2.2.4 CORRETOR DE SEGUROS .................................................................................36 2.2.5 SEGURADO ....................................................................................................38 2.2.6 BENEFICIÁRIO - ABERTO/FECHADO ...................................................................39 2.2.7 INDENIZAÇÃO .................................................................................................40 2.2.7.1 MORA DO SEGURADO ...................................................................................42 2.2.7.2 MORA DO SEGURADOR .................................................................................43

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CAPÍTULO 3 ......................................... ........................................... 46 CONTRATO DE SEGURO - INDENIZAÇÃO................... ................. 46 3.1 FATORES QUE DETERMINAM A EXCLUSÃO DA INDENIZAÇÃ O.............46 3.1.1 ÁLCOOL / DROGAS ..........................................................................................47 3.1.2 SUICÍDIO ........................................................................................................51 3.1.3 DECLARAÇÃO PESSOAL DE SAÚDE - DPS ..........................................................56 3.1.4 AGRAVAÇÃO DO RISCO ...................................................................................59 3.1.5 QUESTIONÁRIO PERFIL ....................................................................................64 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................... ............................... 66

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ...................... .................... 68

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RESUMO

O trabalho contido nessa pesquisa explora o conteúdo

abordado na área do direito civil, no sentido de analisar o contrato de seguro e os

fatores que determinam a indenização ou a negativa de um processo de sinistro,

instituto decorrente deste negócio jurídico. Nesse âmbito verificou-se que os

contratos de seguros amparam dois tipos de risco, duas modalidades: dano e

pessoas. Também se tornou notável a classificação jurídica que esse tipo de

negócio engloba, ou seja, é o contrato de seguro: bilateral, oneroso, aleatório,

consensual, nominado, de adesão e de boa-fé. É aquele pelo qual os

contratantes, segurado e seguradora, assumem obrigações recíprocas, sendo a

da seguradora a de indenizar as perdas e danos resultantes de um evento futuro

e incerto, proveniente de um risco previamente contratado na apólice. A apólice

de seguro é um contrato regulado pelo Código Civil Brasileiro que possui

cláusulas limitativas elaboradas pelo segurador, sendo o segurado a parte

submissa da relação jurídica, pois não aceitando as cláusulas impostas, não terá

seu interesse garantido. Percebeu-se também, que o Código de Defesa do

Consumidor prevê em seu artigo 47 que as cláusulas contratuais serão

interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor. Outro fator destacado é

em relação a apólice de seguro e seus instrumentos e elementos, sendo esses

últimos: risco, prêmio, segurador, corretor de seguros, segurado, beneficiário e

indenização. Por fim, ganha destaque a análise jurídica acerca da indenização no

contrato de seguro e os fatores que determinam as situações de exclusão da

garantia.

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia terá como objeto o estudo sobre os

fatores que determinam a exclusão da indenização nos contratos de seguro.

Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando da evolução

história do seguro no mundo e também com atenção especial para o surgimento

no Brasil. Também serão apresentados alguns conceitos importantes acerca do

tema desenvolvido, assim como será explorada a classificação do contrato de

seguro no ordenamento jurídico brasileiro. Por fim, explicando individualmente

cada modalidade prevista no Código Civil Brasileiro.

No Capítulo 2, tratando da apólice de seguro como um todo,

trazendo importantes definições envolvendo os instrumentos do contrato de

seguro e também os elementos mais importantes para a formação do mesmo.

No Capítulo 3, tratando especificamente dos fatores que

determinam a exclusão da garantia securitária em eventual sinistro ocorrido,

sendo relacionados entendimentos doutrinários e jurisprudenciais para embasar

toda a pesquisa realizada.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais serão apresentados pontos conclusivos

destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões

sobre o contrato de seguro e as possíveis negativas de pagamento das

seguradoras.

Para a presente monografia foram levantadas as seguintes

hipóteses:

Primeira hipótese: a indenização decorrente do suicídio do

segurado só será devida se o mesmo vier a falecer dois anos após a vigência

inicial do contrato ou de sua recondução após suspenso, conforme artigo 798 do

Código Civil Brasileiro.

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Segunda hipótese: se o segurado ou pessoa autorizada por

ele, em caso de seguro de dano, estiver sob efeito de álcool ou drogas, a

indenização, em qualquer caso não será devida, por infringir disposições do

Código de Trânsito Brasileiro, que proíbe tal pratica.

Terceira hipótese: a ausência de imediata comunicação de

sinistro à seguradora constitui agravamento de risco e acarretará penalidades ao

segurado, inclusive a negativa de pagamento.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase

de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, na Fase de Tratamento de Dados

o Método Cartesiano, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente

Monografia é composto na base lógica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Técnicas do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa

Bibliográfica.

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CAPÍTULO 1

CONTRATO DE SEGURO – GENERALIDADES

1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA

É fato inegável que a origem do contrato de seguro é

bastante remota, tendo surgido como um produto cultural vinculado a um dos

grandes problemas do homem, ou seja, a ocorrência de eventos prejudiciais aos

seus interesses, sobre os quais é impossível o controle.

Fruto da necessidade humana de preservar e garantir seus

bens, o contrato de seguro surge caracterizado pelo mutualismo, onde os

indivíduos perceberam que era mais fácil suportar os efeitos dos riscos em

coletividade. “O auxílio de muitos para suprir as necessidades de poucos

amenizava as conseqüências danosas e fortalecia o grupo”.1

As atividades mercantis foram o marco inicial do contrato de

seguro na história da humanidade, sendo que a doutrina predominante dispõe de

duas teorias para a origem deste tão importante contrato.

Na visão de SILVA2 uma das teorias é a dos cameleiros

nômades:

[...] na prática de suas atividades mercantis de compra e venda de animais, eram obrigados a percorrer inóspitas regiões desérticas e, em função dessa atividade insalubre, não raro tinha-se a perda de um camelo, que diga-se de passagem, representava o mais importante instrumento destinado a promover o sustento dos indivíduos pertencentes àquele grupo. [...] Contudo, para evitar que o efeito da perda daqueles animais fosse suportada apenas por um integrante do grupo, os cameleiros passaram a firmar

1 ALVIM, Pedro. O contrato de seguro . 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001. p. 2. 2 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro . São Paulo: Saraiva, 2008. p. 2.

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pactos de cooperação mútua para que, na hipótese de perda do camelo, todo o grupo prestasse auxílio à vítima para reconstituí-la ao statu quo ante.

Para MARTINS3 “[...] na antiguidade os cameleiros do

Extremo Oriente faziam acordos no sentido de indenizar a eventual perda de um

camelo de qualquer um dos componentes das caravanas, durante o período das

viagens”.

Assim, pode-se dizer que a primeira teoria é a dos

cameleiros; todavia, também há a teoria dos navegantes fenícios, que também é

digna de crédito na história. Semelhantes aos interesses dos cameleiros surgem

os fenícios e suas embarcações que enfrentavam o mar revolto.

Para SENE4, os donos das embarcações “[...] se uniam para

repor eventual perda de uma das embarcações do grupo ao qual pertenciam” e

através destes pactos conseguiam suportar os riscos inerentes a atividade

praticada por eles.

SILVA5 comenta que “[...] o instituto do seguro, desde as

suas origens, mostrou-se um importante mecanismo de salvaguarda aos

interesses dos titulares dos bens de produção [...]”.

Cumpre salientar que as viagens marítimas têm o mérito

pelo nascimento da primeira modalidade formal de seguro, o contrato de dinheiro

a risco marítimo, surgido no século XII.

Sobre o assunto, GUIMARÃES6 discorre:

Por força de suas cláusulas, um financiador emprestava ao navegador dinheiro correspondente ao valor da embarcação e das mercadorias transportadas. Se não houvesse acidente, o

3 MARTINS, João Marcos Brito. O contrato de seguro: comentado conforme as disposi ções do novo Código Civil . Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003. p. 5. 4 SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas: negativas de pagamento das segur adoras . Curitiba: Juruá, 2008. p. 22. 5 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro . p. 3. 6 GUIMARÃES, Antonio Marcio da Cunha. Contratos internacionais de seguros. São Paulo: RT, 2002. p. 16.

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navegador devolvia o dinheiro ao financiador acrescido de juros. Em caso de sinistro, que era justamente o acidente com o navio/mercadorias transportadas, o dinheiro não era devolvido.

Foi com o advento deste ramo do seguro que começaram as

mudanças em relação ao praticado anteriormente. SENE7 conta que “[...] Deixou-

se de lado a solidariedade, a mutualidade desinteressada, que deram lugar à

transferência do risco [...], a terceiro, no caso o banqueiro [...]”. Contratando com

financiadores, a população passou a ter uma maior garantia de indenização em

virtude de um possível sinistro.

Ocorre que este tipo de contrato era baseado em juros

remuneratórios, o que contrariava os ensinamentos da Igreja Católica.

Condenando a usura e com total controle sobre as atividades do homem, diz

SENE8 que “[...] o Papa Gregório IX proibiu por decreto, a cobrança de

empréstimos a juros. Dentre as práticas vedadas estava o contrato de dinheiro a

risco marítimo.”

Todavia a norma papal não evitou que os interessados

continuassem a praticar o seguro, pois se adequaram ao solicitado alterando os

juros pela multa.

Embora seja uma das mais antigas formas de proteção

social desenvolvida pelo homem, somente no século XIV há registros dos

primeiros pactos de seguro. Informa OLIVEIRA9 que “[...] a primeira emissão de

apólice se deu na cidade de Pisa, em 1385.” Também comenta ALVIM10 que “[...]

somente um notário da praça de Gênova fizera 80 contratos, num mês, durante o

ano de 1393.”

7 SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas: negativa de pagamento das segura doras . p. 23. 8 SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas: negativa de pagamento das segura doras . p. 23. 9 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Contrato de seguro: interpretação doutrinária e jurisprudencial . Campinas: LZN, 2002. p. 4. 10 ALVIM, Pedro. O contrato de seguro . p. 28.

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A aceitabilidade do seguro foi imensa e este negócio jurídico

expandiu-se por grande parte da Europa, ensejando a criação de normas

regulamentadoras para tal. SILVA11 relata:

No alvorecer da Renascença, período em que o comércio – e a já indústria nascente ostentava inquestionável patrimônio – era objeto de acentuada movimentação financeira, motivo pelo qual é de considerar que os bens ficavam sujeitos aos diversos riscos provenientes da própria atividade ou, não raro, por circunstâncias naturais, verificamos que o Estado – a exemplo do que se mostrou uma constante em épocas posteriores – passou a regulamentar as operações securitárias e, nesse sentido, em 1435 surgiram as Ordenações de Barcelona, com o fim de legislar a respeito do seguro. Diante desse mister estatal, foi criado um tribunal especializado para julgamento da matérias e proibida a prática abusiva de certas operações que desfiguravam a natureza do contrato.

Afirma SENE12 que também são dignas de registro as:

[...] Ordenanças de Veneza (1468), Estatutos de Gênova (1498), Ordenanças de Florença (1522), de Burgos (1537), de Flandres (1537), de Sevilla (1553), de Bilbao (1560), de Amsterdã (1598), Ordenanças da Marinha Francesa (1681).

Com as normas instauradas e o crescimento do interesse

das pessoas pela contratação deste instituto, foram criados outros ramos de

seguro, com o intuito de garantir outros riscos provenientes das transformações

da sociedade em geral. Em virtude da tragédia londrina de 1666 há registros do

surgimento da modalidade de seguro contra incêndio residencial, tido como

seguro terrestre.

Aponta LOPES13 que a criação das primeiras companhias de

seguros deu-se em função da citada tragédia, são elas:

11 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro . p. 10. 12 SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas: negativas de pagamento das segur adoras . p. 24. 13 LOPES, Serpa. Curso de direito civil: fonte das obrigações – cont ratos . 4.ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1993. p. 388.

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A Fire Office e a Royal Exchange, surto esse que se espalhou por outros países, como os Estados Unidos, Alemanha e França, onde, entretanto, em virtude da revolução com um movimento contrário às sociedades por ações, veio a sofrer um colapso temporário, que se refletiu no Código de Napoleão, o qual, se bem que houvesse incluído entre os contratos aleatórios, contudo não o regulou devidamente.

Todavia, SENE14 contesta a afirmação de LOPES,

ressaltando que já havia sido criada uma companhia de seguros antes do

acontecimento de 1666:

[...] surgiram então, na Inglaterra, as primeiras sociedades seguradoras. [...], tem-se como a de maior relevo entre estas sociedades, a Lloyd’s, fundada em 1662, que [...] se transformara na mais tradicional companhia de seguros do mundo.

Após a grande anuência dos seguros terrestres e de vida e

com a influência da Revolução Industrial cresceram os investimentos dos grandes

empresários na constituição de companhias de seguros. Enfatizando esta

questão, SILVA15 leciona:

Nesse compasso é possível sustentar que os seguradores passaram a gerenciar o seguro com critérios técnicos a partir do século XVIII, sendo certo que a implementação de técnicas atuariais, naturalmente, possibilitou o sucesso financeiro dos investidores do mercado securitário e, por conta disso, é previsível que essa ascensão tenha corroborado com o crescimento e credibilidade do instituto do seguro.

Enfim, importa mencionar que a atividade da seguradora é

um negócio com o objetivo de lucro, que busca a eficiência para cumprir sua

função social.

14 SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas: negativas de pagamento das segur adoras . p. 25. 15 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro . p. 12.

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1.1.1 Seguro no Brasil

A história do seguro no Brasil é recente. LAS CASAS16

observa que este tipo de contrato foi impulsionado com a abertura dos portos do

país as nações amigas de Portugal, em 1808. Sendo que o marco inicial é a

fundação da primeira seguradora do país, a Companhia de Seguros Boa Fé, com

sede na Bahia, e regulamentada pela Casa de Seguros de Lisboa.

A padronização do seguro no mercado brasileiro ocorreu

com o advento do Código Comercial em 1850, no qual se estruturou e

regulamentou o seguro marítimo pela primeira vez, sendo que os riscos terrestres

eram regidos pelas normas gerais dos contratos e pelos princípios admitidos nos

pactos individuais. Essa legislação teve a sua primeira parte expressamente

revogada pela Lei n. 10.406/2002 (Código Civil), sendo que somente estão em

vigor os artigos 666 a 730, que disciplinam o seguro marítimo.

A última década do século XIX e o início da industrialização

foram os propulsores do desenvolvimento do seguro no nosso país. Ademais a

globalização fez com que várias seguradoras estrangeiras instalassem filiais no

Brasil e, como conseqüência, forneceram know-how e técnicas resultantes de

suas experiências de vários anos.17

Com o advento do Código Civil e sua entrada em vigor em

janeiro de 2003, o seguro teve um capítulo (XV) dedicado expressamente a este

negócio jurídico. Com mudanças significativas para o contrato de seguros, o

capítulo passou a separar os seguros de bens dos de pessoas, possibilitou a

inclusão do companheiro não oficialmente casado entre os beneficiários, entre

outras alterações.18

Essa rápida visão histórica permite o conhecimento e a

noção de que o seguro surgiu da necessidade de proteção contra eventos

aleatórios, futuros e incertos, que pudessem destruir o patrimônio do homem.

16 LAS CASAS, Alexandre Luzzi. Marketing de seguros . 2.ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 05. 17 LAS CASAS, Alexandre Luzzi. Marketing de seguros . p. 05. 18 LAS CASAS, Alexandre Luzzi. Marketing de seguros . p. 05.

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1.2 CONCEITOS

1.2.1 Direito do seguro

O Direito do Seguro possui autonomia específica, em que

pese sua inarredável ligação com o moderno Direito Empresarial. Embora

vinculado ao Direito Civil, apresenta uma série de princípios que o particulariza e

justifica-se o tratamento de determinados sub-ramos do direito mediante uma

principiologia própria.19

Assim sendo, é totalmente necessário que, embora tenha

estreitos vínculos com o Direito Empresarial, o Direito do Seguro receba

tratamento dentro dos seus próprios princípios que o tornam particular dentro dos

negócios jurídicos.20

SILVA21 conceitua o Direito do Seguro:

[...] é o conjunto de normas destinadas a disciplinar as operações securitárias celebradas em solo nacional, bem como regulamentar o conjunto de sanções administrativas aplicáveis aos órgãos participantes do sistema nacional de seguros privados que não atenderem as diretrizes da política nacional de seguros privados.

Conclui-se que o Direito do Seguro busca regulamentar os

negócios jurídicos que envolvam as operações securitárias, independente da

realização de um contrato de seguro, celebradas no Brasil.

1.2.2 Contrato de seguro

O artigo 757 do Código Civil define com precisão o contrato

de seguro como aquele pelo qual “[...] o segurador se obriga, mediante o

pagamento de prêmio a garantir interesses legítimos do segurado, relativo à

pessoa ou à coisa, contra riscos predeterminados”.

19 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro . p. 14. 20 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro . p. 15. 21 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro . p. 15.

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Em harmonia com o artigo 757 do Código Civil, está o artigo

3º do Decreto-Lei n. 73/66, dispondo que as operações de seguros privados são

representadas pelo seguro de coisas, pessoas, bens, responsabilidade,

obrigações, direitos e garantias.

Ensina MENDONÇA22 sobre o contrato de seguro:

[...] é um contrato nominado, formal e de adesão. Seu nome é apólice de seguro e a formalidade está justamente no seu clausulando, que, se não infringir a lei, é quem norteia a relação entre a seguradora e o seguro e por isso deve ser sempre obrigatoriamente escrito, já que qualquer combinação entre seguradora e segurado que não estiver escrita no contrato de seguro não tem valor jurídico. E é um contrato de adesão porque o segurado adere aos termos da apólice, ele aceita as condições de cobertura que lhe são oferecidas, tendo pouca margem para modificá-las.

Detentor de notável saber jurídico, HEMARD23 dá o seguinte

conceito:

O seguro é uma operação pela qual, mediante o pagamento de uma pequena remuneração, uma pessoa, o segurado, se faz prometer, para si ou para outrem, no caso da realização de um evento determinado a que se dá o nome de risco, uma prestação, de uma terceira pessoa, o segurador, que assumindo um conjunto de riscos, os compensa de acordo com as leis da estatística e o princípio do mutualismo.

A operação denominada seguro é um contrato, sendo que

através dele o segurado contrata com determinada seguradora a obrigação de ela

assumir seus prejuízos em virtude de um risco coberto pela apólice. Assim, a

apólice é o contrato do seguro. Se não existir uma apólice, ou um bilhete, que é

22 MENDONÇA, Antonio Penteado. Temas de seguro . São Paulo: Roncaratti, 2008. p. 41. 23 HEMARD, apud WALD, Arnoldo. Curso de direito civil brasileiro . 10.ed. São Paulo: RT, [s.d.]. p. 434.

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uma forma simplificada de apólice, não existe o contrato, ou seja, não existe

obrigação de indenizar.24

1.3 CLASSIFICAÇÃO

Os contratos de seguros têm características que os tornam

únicos e peculiares; com elementos que os diferenciam abruptamente dos demais

contratos previstos na legislação brasileira, tendo regras próprias que os

individualizam, como o boa-fé.

Classificado pela doutrina brasileira como bilateral, oneroso,

comutativo/aleatório, consensual, nominado, de adesão e de boa-fé. É o único

contrato onde a exigência da boa-fé está explícita e expressa no Código Civil.

1.3.1 Bilateral ou sinalagmático

O contrato bilateral é aquele que gera obrigações para as

ambas as partes. Doutrinando, SENE25 comenta que neste tipo de contrato há

“[...] reciprocidade de obrigações. Ao segurado cabe o dever de pagar o prêmio

[...]. Em contraprestação, a obrigação principal do segurador é garantir

tranqüilidade ao segurado, vez que, ocorrendo o sinistro, deverá indenizar [...].”

Importante salientar que a indenização pode ser o pagamento do prejuízo ou do

capital segurado no caso de seguro de pessoas.

Somente nos contratos bilaterais é aplicável a exceptio non

adimpleti contractus, que consiste na regra de que nenhum dos contratantes,

antes de cumprida a obrigação, pode exigir o implemento da prestação pelo

outro26.

24 MENDONÇA, Antonio Penteado. Temas de seguro . p. 43. 25 SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas: negativas de pagamento das segur adoras . p. 46. 26 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: contratos . São Paulo: Saraiva, 2005. p. 128-129.

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Na forma do artigo 44127 do Código Civil, é consagrada aos

contratos bilaterais a disciplina dos vícios redibitórios, percebidos como os vícios

ou defeitos ocultos, que tornam o contrato impróprio ao que é destinado ou que

lhe diminuam o valor, a importância.28

1.3.2 Oneroso

Preleciona SILVA29 que “em função das obrigações

estabelecidas nos contratos de seguro, estão eles elencados na categoria de

contratos onerosos”.

As partes contratantes estão sujeitas a gastos e vantagens

financeiras. Dessa maneira, cumpre ressaltar que o contrato de seguro é oneroso:

[...] porque implica gastos e vantagens econômicas para ambas as partes. O segurado, ao pagar o prêmio, obtém a vantagem econômica resultante da transferência do risco ao segurador; este, por sua vez, precisa efetuar os dispêndios de ordem administrativa e operacional, além da contraprestação de indenização nos caso de ocorrência de riscos previstos e cobertos [...].30

Uma questão de fundamental importância com relação a

este atributo inerente aos contratos de seguro é, no entendimento de SENE31, se

“a não ocorrência do risco, pois, eliminaria o caráter oneroso do contrato de

seguro?”. Representando a maioria doutrinária, ALBUQUERQUE32 afirma que “o

fato da não-ocorrência do sinistro, caso em que o segurador não teria que pagar a

27 Código Civil de 2002, artigo 441: “A coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser enjeitada por vícios ou defeitos ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor”. 28 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: contratos . p. 129. 29 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro . p. 80. 30 FUNENSEG – Fundação Escola Nacional de Seguros. Direito do seguro . Supervisão e coordenação metodológica da Diretora de Ensino e Pesquisa; assessoria técnica de Liliana Caldeira; ordenação didática de Marília Scofano de Souza Aguiar. 6.ed. Rio de Janeiro: Funenseg, 2004. p. 56. 31 SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas: negativas de pagamento das segur adoras . p. 47. 32 ALBUQUERQUE, J. B. Torres de. O seguro no direito brasileiro . São Paulo: Edjur, 2003. p. 31.

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indenização, não descaracteriza a onerosidade, visto que, ainda assim, o

segurado desfrutará da vantagem de gozar de proteção patrimonial”.

1.3.3 Comutativo / aleatório

Há dois entendimentos doutrinários para a classificação

neste quesito. Comutativo ou aleatório? Correntes inovadoras surgem com a ideia

de que o contrato de seguro é comutativo, uma vez que:

[...] no momento da celebração da avença as partes estabelecem rigorosamente as suas obrigações. De um lado, o segurado obriga-se ao pagamento do prêmio certo e determinado e, de outro lado, o segurador toma por obrigação garantir os interesses legítimos do segurado [...].33

Além do fato de ter esta diretriz expressa no artigo 75734 do

Código Civil, definem como comutativo pelo fato de serem “compreendidos como

[...] aqueles em que os contratantes, desde a estipulação do contrato, tomam

conhecimento exatamente de qual será a sua prestação [...]”.35

Assim sendo, lecionam que, antes de tudo, a obrigação da

seguradora consiste em garantia, tranqüilidade e sossego em relação ao objeto

do risco, sendo fornecidos durante toda a vigência do contrato.36

Todavia, opostamente, a outra linha de pensamento

doutrinário define o contrato de seguro como aleatório, já que:

[...] o sinistro pode ou não acontecer num determinado momento desconhecido, afetando determinada apólice e obrigando a seguradora a indenizar o seguro. Se o risco de sinistro é certo,

33 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro . p. 83. 34 Código Civil de 2002, artigo 757: “Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados”. 35 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro . p. 82. 36 SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas: negativas de pagamento das segur adoras . p. 48.

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também aí a contratação de um seguro é proibida e desobriga a seguradora do pagamento da indenização.37

Ou seja, o seguro só pode ser contratado para cobrir riscos

incertos e futuros, justamente o que caracteriza a função aleatória, a ocorrência

ou não do sinistro.

Conclui-se que o contrato pode ser comutativo, pois as

prestações das partes devem referir-se a coisa certa e equivalente, ou aleatório,

com a obrigação sobre riscos futuros e incertos.

1.3.4 Consensual

Por depender do acordo das partes, tem-se o contrato de

seguro como consensual. Na visão de SILVA38:

É contrato consensual aqueles que se perfazem com a simples anuência dos contratantes; não há necessidade de fórmulas legais para a sua celebração. Para que tais pactos tenham validade no mundo jurídico, basta que as partes manifestem sua vontade no sentido de estabelecer um vínculo contratual formador de direitos e obrigações entre as partes.

Justamente o que ocorre na contratação de um seguro, já

que o simples manifesto de vontade de celebração por parte do segurado e

anuência de aceitação da seguradora, concretizam este negócio jurídico.

Destaca-se a disposição do Superior Tribunal de Justiça que

“firmou posicionamento no sentido de que o contrato de seguro nasce com o

simples encontro de vontades, não precisando de ato posterior para formalizar-se

como, por exemplo, a emissão de apólice”.39

37 MENDONÇA, Antonio Penteado. Temas de seguro . p. 48. 38 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro . p. 84. 39 HARTEN, Carlos. O contrato de seguro visto pelo Superior Tribunal d e Justiça . São Paulo: ÕTE, 2009. p. 37.

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1.3.5 Nominado

Um contrato é nominado quando previsto e regulado por lei.

No caso do contrato de seguro, há regência por parte do Código Civil (artigo 757

ao artigo 802). “Não obstante, hoje sofre larga influência das normas constantes

no Código de Defesa do Consumidor, que ora funcionam supletivamente, ora em

primeiro, plano”.40

1.3.6 De adesão

O contrato de adesão surgiu com o objetivo de dar agilidade,

padronizar e atender a dinâmica das massas, o qual, em razão do conteúdo

preestabelecido, retira do segurado a opção de discutir as cláusulas, tão somente

sendo capaz de aderir e concordar com elas.41

Na visão de LAS CASAS42, o contrato de seguro “[...] é de

adesão, pois o segurado é obrigado a aceitar as condições contratuais já

estabelecidas pelo governo e pela seguradora”.

O segurado não tem liberdade e autonomia suficientes para

participar da redação das cláusulas e termos contratuais. O Código de Defesa do

Consumidor, conceitua:

Artigo 54 - Contrato de adesão é aquela cujas cláusulas tenham

sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.

Assim, ou o segurado aceita o contrato como um todo ou o

rejeita da mesma maneira.

40 MARTINS, João Marcos Brito. Direito de seguro: responsabilidade civil das segur adoras . 2.ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004. p. 37. 41 SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas: negativas de pagamento das segur adoras . p. 51. 42 LAS CASAS, Alexandre Luzzi. Marketing de seguros . p. 12.

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1.3.7 De boa-fé

A boa-fé é princípio fundamental de qualquer negócio

jurídico e está contemplada no artigo 42243 do Código Civil; todavia, é certo que o

legislador pensou ser este de maior relevância para os contratos de seguro,

norteando especificamente e exigindo a prática da boa-fé tanto pelo segurado

quanto pelo segurador, de conformidade com o artigo 76544 do Código Civil.

Justificando assim, classificá-lo também como de boa-fé.

Assim coloca SILVA45:

A boa-fé, [...], exprime a ideia de que as partes dentro do âmbito pré-contratual e contratual devem agir de modo a preservar, no âmbito das tratativas, execução e conclusão do contrato, uma perfeita sintonia com o equilíbrio da vontade individual e as diretrizes legais voltadas à preservação da ordem jurídica.

[...]

Percebesse, com efeito, que o contrato de seguro, assim como os demais, atinge tanto as partes contratantes como o contexto social, sendo coerente que a legislação apresente em nosso direito positivo um dever que encontra o seu ancoradouro no âmbito de valores morais regados pelo senso de justiça esperado por aqueles que se envolvem em relações jurídicas.

Como apreciado anteriormente, o contrato de seguro não

pode ser realizado com propósito oposto a ordem jurídica e a obrigação de

fidelidade mútua entre segurado e seguradora.

1.4 MODALIDADES

Os dois grandes gêneros dos contratos de seguro, dano e

pessoas, estão disciplinados entre os artigos 778 e 802 do Código Civil. São eles

43 Código Civil de 2002, artigo 422: “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”. 44 Código Civil de 2002, artigo 765: “O segurado e o segurador são obrigados a guardar na conclusão e na execução do contrato, a mais estrita boa-fé e veracidade, tanto a respeito do objeto como das circunstâncias e declarações a ele concernentes.” 45 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro . p. 64.

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o alicerce para a constituição de todos os outros ramos de seguro existentes no

mercado brasileiro.

1.4.1 Dano

Em face do antigo Decreto 61.589/67, os seguros de dano

eram nomeados como “ramos elementares”, sendo que esta expressão ainda é

utilizada com freqüência no mercado segurador.

O seguro de dano tem como objetivo principal repor a perda

sofrida pelo segurado, de modo que este volte a ocupar a mesma posição que

sustentava antes da ocorrência do sinistro. Nesse sentido, oportuno se mostra o

entendimento de SILVA46:

Os seguros de dano são aqueles que detêm natureza tipicamente indenitária, ou seja, são voltados à recomposição patrimonial do segurado, de modo que, ocorrendo o sinistro, o sujeito favorecido pela indenização deverá fazer prova dos prejuízos econômicos sofridos.

Na mesma vertente ensina KRIGER FILHO47 que o objeto

do seguro de dano:

[...] é precisamente o risco de desfalque ou de perda que recai sobre os bens que compõem a esfera jurídica do segurado, capaz de ser atingida tanto por fatores naturais, como por ato seu (não doloso) ou de terceiro. Por essa razão, a dinâmica da vida moderna possibilita seja ele contratado para cobrir os mais variados tipos de prejuízos que possam afetar os seus bens ou direitos, afigurando-se muito vasta a gama de abrangências que a sua cobertura pode apresentar, conforme desejem as partes: ressarcimento de prejuízos causados por incêndio, explosão, roubo ou furto do bem segurado, danos materiais e pessoais gerados por acidentes naturais ou provocados, etc. tudo com vistas a repor o segurado na situação econômica que se encontrava anteriormente ao sinistro.

46 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro . p. 177. 47 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. Seguro no Código Civil . Florianópolis: OAB/SC, 2005. p. 148.

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Na oração do artigo 778 do Código Civil está mais que

configurado o caráter indenitário desta espécie de seguro. Veja-se sua redação:

Artigo 778 - Nos seguros de dano, a garantia prometida não pode ultrapassar o valor do interesse segurado no momento da conclusão do contrato, sob pena do disposto no art. 766, e sem prejuízo da ação penal que no caso couber.

Consoante o já exposto:

[...] o valor do seguro não deve superar o da coisa ou do interesse segurável, ao tempo da celebração do contrato, [...]. É preceito inibidor do uso especulativo do seguro, visto que constituiria locupletamento ilícito o segurado vir a receber pelo sinistro valor indenizatório superior ao adequado da coisa sinistrada ou do interesse segurado. O valor despropositado constitui engenho de lucro indevido, [...]. Afinal, o dever de veracidade, imposto pelo art. 765, norteia que as declarações sejam exatas, e uma delas diz respeito, claramente, ao valor real do interesse segurado. A infringência de tal dever impõe a conseqüência da perda do direito à garantia, além da obrigação ao prêmio vencido. [...].48

A finalidade do seguro é repor o bem e não enriquecer o

segurado sem causa. O valor atribuído ao contrato deve representar exatamente

a realidade, evitando que o seguro seja utilizado para fins escusos.49

1.4.1.1 Responsabilidade civil

A responsabilidade civil é uma espécie do seguro de dano

que também encontra regramentos próprios expressos no Código Civil. Com

efeito, o artigo 787 preleciona:

Artigo 787 - No seguro de responsabilidade civil, o segurador

garante o pagamento de perdas e danos devidos pelo segurado a terceiro.

48 ALVES, Jones Figueiredo. Código Civil comentado . Coordenação de Regina Beatriz Tavares da Silva. 6.ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 707. 49 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro . p. 178.

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§1º Tão logo saiba o segurado das conseqüências de ato seu, suscetível de lhe acarretar a responsabilidade incluída na garantia, comunicará o fato ao segurador.

§2º É defeso ao segurado reconhecer sua responsabilidade ou confessar a ação, bem como transigir com o terceiro prejudicado, ou indenizá-lo diretamente, sem anuência expressa do segurador.

§3º Intentada a ação contra o segurado, dará este ciência da lide ao segurador.

§4º Subsistirá a responsabilidade do segurado perante o terceiro, se o segurador for insolvente.

Todo seguro de responsabilidade civil é praticado e

indenizado mediante reembolso do segurador ao segurado após decisão

transitada em julgado, muito embora, na prática, este procedimento é, na maioria

das ocorrências, substituído pela agilidade, onde a seguradora indeniza

diretamente a vítima do dano. 50

Comporta transcrever o posicionamento do Superior Tribunal

de Justiça no que tange ao seguro de responsabilidade civil:

O contrato de seguro não é feito para beneficiar a vítima, mas para garantir o patrimônio do próprio segurado, caso tenha ele que responder por dano causado a terceiro. (REsp 228.840/RS, Rel. Min. ARI PARGENDLER, Rel. p/ Acórdão Min. CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, TERCEIRA TURMA, julgado em 26.06.2000, DJ 04.09.2000, p.150).

De suma importância ressaltar a contribuição de SILVA51

para a compreensão desta espécie de seguro:

Via de regra a vítima do dano somente poderá ajuizar demanda em face daquele que diretamente lhe causou prejuízos extrapatrimoniais. Contudo, o art. 788 é uma marcante exceção a esta regra geral, de modo que nos seguros de responsabilidade legalmente obrigatórios é possível que o lesado promova ação judicial diretamente em face do segurador. [...].

50 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. Seguro no Código Civil . p. 190-191. 51 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro . p. 183.

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Os seguros de responsabilidade civil obrigatórios ora

mencionados estão arrolados no artigo 2052 do Decreto-Lei n. 73/66 e

demonstram como são inúmeras as possibilidades de contratação deste seguro,

tendo em vista que este atende a diversas necessidades da população e é um

dos ramos mais comercializados no mercado segurador.

Digno de explanação, KRIGER FILHO53 observa que:

O fim visado pelo segurado ao contratá-lo não é o aumento de seu patrimônio econômico, mas sim preservá-lo do eventual desfalque materializado pela obrigação de indenizar, o que demonstra sua natureza eminentemente “ressarcitória” [...].

1.4.2 Pessoas

No antigo Código Civil, de 1916, o seguro de pessoas era

apresentado apenas como “seguro de vida”, razão pela qual ainda há muita

confusão no instante de referenciar-se a um ou a outro. Ocorre que o seguro de

pessoas é o gênero do qual o seguro de vida é espécie.

52 Decreto Lei n. 73/66, artigo 20: “Sem prejuízo do disposto em leis especiais, são obrigatórios os seguros de:

a) danos pessoais a passageiros de aeronaves comerciais;

b) responsabilidade civil do proprietário de aeronaves e do transportador aéreo;

c) responsabilidade civil do construtor de imóveis em zonas urbanas por danos a pessoas ou coisas;

d) bens dados em garantia de empréstimos ou financiamentos de instituições financeiras públicas;

e) garantia do cumprimento das obrigações do incorporador e construtor de imóveis;

f) garantia do pagamento a cargo de mutuário da construção civil, inclusive obrigação imobiliária;

g) edifícios divididos em unidades autônomas;

h) incêndio e transporte de bens pertencentes a pessoas jurídicas, situadas no País ou nele transportados;

i) (revogada pela Lei Complementar n. 126/2007)

j) crédito à exportação, quando julgado conveniente pelo Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP), ouvido o Conselho Nacional do Comércio Exterior (CONCEX);

l) danos pessoais causados por veículos automotores de vias terrestres e por embarcações, ou por sua carga, a pessoas transportadas ou não;

m) responsabilidade civil dos transportadores terrestres, marítimos, fluviais e lacustres, por danos à carga transportada.

Parágrafo único. Não se aplica à União a obrigatoriedade estatuída na alínea h deste artigo.” 53 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. Seguro no Código Civil . p. 191.

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O próprio artigo 78954 do Código Civil, que inicia a disciplina

sobre o assunto, já trás uma boa noção do conceito e do objetivo desta

modalidade, todavia é digno de exame o ensinamento de RIZZARDO55, que diz

que este tipo de contrato de seguro tem como escopo:

[...] a proteção da pessoa, garantindo interesses que envolvem o dano pessoal ou que se referem a certos eventos sem trazer danos, como a satisfação de uma importância determinada ao atingir uma idade mais avançada, ou quando da morte do segurado.

Detentor de uma natureza não indenitária, o seguro de

pessoas não possui limite de capital segurado para contratação da apólice, sendo

este valor estipulado livremente pelo segurado e, conforme o caso, aceito pelo

segurador. Sendo que também há disposição legal permitindo o estabelecimento

de mais de um seguro sobre o mesmo segurado, independente das coberturas

contratadas. 56

Conforme KRIGER FILHO57, a característica que mais

diferencia o seguro de pessoas do seguro de dano é o fato do primeiro levar em

consideração a vida humana, ou seja, tanto o capital que o segurador se obriga a

pagar quanto o prêmio que recebe para tal, são estimados sobre a vida humana.

Outra questão fundamental é que o segurador não pode negar um sinistro sob

alegação de que este não prejudicou o segurado ou seu beneficiário, uma vez

que ao ser contratada, esta modalidade de seguro garante o direito de haver para

si ou para outrem determinada soma em dinheiro quando da ocorrência do

sinistro, independente da lesão gerada à sua esfera jurídica.

54 Código Civil, artigo 789: “Nos seguros de pessoas, o capital é livremente estipulado pelo proponente, que pode contratar mais de um seguro sobre o mesmo interesse, com o mesmo ou diversos seguradores”. 55 RIZZARDO, Arnaldo. Contratos . 3.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p. 866. 56 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro . p. 185. 57 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. Seguro no Código Civil . p. 209.

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SILVA58 comenta que no “seguro de pessoa, o segurador se

reserva o direito de aceitar, recusar ou limitar sua responsabilidade, mas o

segurado fica livre para procurar outro segurador que atenda os seus interesses,

bem como as suas reservas técnicas”.

Aponta SANTOS59 que:

[...] a expressão “livremente estipulado pelo proponente” não significa que o segurador, diante da realidade dos fatos, não possa nem deva limitar sua responsabilidade para atender às conveniências da mutualidade e suas próprias, inclusive o seu próprio limite de retenção, mas nada impedirá que o segurado procure outro segurador para completar a soma pela qual pretende segurar sua vida e integridade física ou de terceiros.

Os artigos 79160, 79261 e 79362 do Código Civil estabelecem

algumas regras específicas sobre os beneficiários desta modalidade de seguro.

KRIGER FILHO63 sustenta “[...] que se o seguro não tiver por causa a garantia de

alguma obrigação, isto é, se não for o caso do devedor firmar seguro de vida em

favor do seu credor, tem o segurado a liberdade de escolher o beneficiário que lhe

aprouver [...]”. O beneficiário escolhido pelo segurado pode ser modificado a

qualquer tempo, desde que cumpridos os requisitos legais para tal ato.

58 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro . p. 185-186. 59 SANTOS, Ricardo Bechara. Direito de seguro no novo Código Civil e legislação própria . 2.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p. 355. 60 Código Civil, artigo 791: “Se o segurado não renunciar à faculdade, ou se o seguro não tiver como causa declarada a garantia de alguma obrigação, é lícita a substituição do beneficiário, por ato entre vivos e de última vontade.

Parágrafo único. O segurador, que não for cientificado oportunamente da substituição, desobrigar-se-á pagando o capital segurado ao antigo beneficiário. 61 Código Civil, artigo 792: “Na falta de indicação da pessoa ou beneficiário, ou se por qualquer motivo não prevalecer a que for feita, o capital segurado será pago por metade ao cônjuge não separado judicialmente, e o restante aos herdeiros do segurado, obedecida a ordem da vocação hereditária.

Parágrafo único. Na falta das pessoas indicadas neste artigo, serão beneficiários os que provarem que a morte do segurado os privou dos meios necessários à subsistência. 62 Código Civil, artigo 793: “É válida a instituição do companheiro como beneficiário, se ao tempo do contrato o segurado era separado judicialmente, ou já se encontrava separado de fato. 63 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. Seguro no Código Civil . p. 214.

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Sustentando o entendimento do artigo 792 do Código Civil,

SANTOS64 doutrina:

[...] que padeceria de nulidade cláusula constante de apólice de seguro que pré-estipule a indicação ou nomeação de beneficiários que destoe do art. 792 em comento, que estabeleceu as regras para a destinação do capital segurado na hipótese de o segurado não fizer nomeação ou indicação expressa do beneficiário, até porque se interpreta que a omissão do segurado representa sua última vontade de que o capital segurado fosse destinado àqueles indicados na lei, assim como acontece, repita-se, com a pessoa que não deixa testamento, justamente porque com tal omissão pretendera que seus bens sejam destinados na ordem de vocação hereditária estabelecida pelo Código Civil.

Corroborando os ensinamentos anteriores, ALVES65 expõe

que “[...], é certo que a livre escolha dos beneficiários constitui, por sua própria

natureza, preceito basilar dessa espécie de seguro. Por isso, diz-se que o

segurado pode, [...], preterir os próprios parentes, em favor de estranhos”.

O beneficiário somente fará jus a indenização se sobreviver

a morte do segurado, tendo em vista que se isto não ocorrer, a porcentagem que

seria devida será rateada entre os demais beneficiários. 66

Fabio Ulhoa Coelho, citado por SENE67, dá grande

contribuição a matéria, fazendo alusão ao artigo 79468 do Código Civil, comenta

que:

[...] o recebimento pelo beneficiário do capital devido pela seguradora, quando falece o segurado, não tem a natureza de sucessão. É o próprio beneficiário o titular do direito de crédito, de

64 SANTOS, Ricardo Bechara. Direito de seguro no novo Código Civil e legislação própria . p. 402. 65 ALVES, Jones Figueiredo. Código Civil comentado . p. 719 66 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. Seguro no Código Civil . p. 215. 67 COELHO, apud SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas: negativas de pagamento das seguradoras . p. 71-72. 68 Código Civil, artigo 794: “No seguro de vida ou de acidentes pessoais para o caso de morte, o capital segurado estipulado não está sujeito as dívidas do segurado, nem se considera herança para todos os efeitos de direito”.

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modo que não incide sobre a importância paga qualquer tributo de transmissão causa mortis.

Enfim, SILVA69 aduz que o capital segurado pago em

conseqüência de sinistro coberto pela apólice “[...] não é bem do espólio, haja

vista que ele não integra a herança. Em reforço a esta premissa, o art. 649, inciso

IX, do Código de Processo Civil, inclui o seguro de vida entre os interesses

pecuniários absolutamente impenhoráveis.”

Diante de todo o exposto, conclui-se que a garantia do

seguro tem base no interesse legítimo do segurado, calcada na teoria da

necessidade, tanto para o seguro de dano quanto para o seguro de pessoas,

cada um com seus regramentos particulares. Todavia, o seguro de dano é de

todo indenizatório, enquanto não ocorre o mesmo no seguro de pessoas. A

expressão capital segurado, para o seguro de pessoas, denota que o segurado

está livre para escolher o valor que pretende contratar em seu seguro, assim

como veda expressamente a sub-rogação de direitos, pelo artigo 80070 do Código

Civil. Já no seguro de dano, a expressão é indenização, que deve corresponder

ao valor real da coisa contratada e permite expressamente a sub-rogação por

parte da seguradora, através do artigo 78671 do Código Civil. 72

Desta forma, encerra-se este capítulo onde se tratou dos

contratos de seguro e suas generalidades, para, na sequência, adentrar no

estudo referente às especificidades deste tipo de contrato.

69 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro . p. 188 70 Código Civil, artigo 800: “Nos seguros de pessoas, o segurador não pode sub-rogar-se nos direitos e ações do segurado, ou do beneficiário, contra o causador do sinistro.” 71 Código Civil, artigo 786: “Paga a indenização, o segurador sub-roga-se, nos limites do valor respectivo, nos direitos e ações que competirem ao segurado contra o autor do dano.

§1º Salvo dolo, a sub-rogação não tem lugar se o dano foi causado pelo cônjuge do segurado, seus descendentes ou ascendentes, consangüíneos ou afins.

§2º É ineficaz qualquer ato do segurado que diminua ou extinga, em prejuízo do segurador, os direitos a que se refere este artigo.” 72 SANTOS, Ricardo Bechara. Direito do seguro no novo Código Civil e legislação própria . p. 356.

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CAPÍTULO 2

CONTRATO DE SEGURO – APÓLICE

2.1 INSTRUMENTOS DO CONTRATO DE SEGURO

É fundamental ao exato entendimento do tema a abordagem

apropriada dos principais instrumentos do contrato de seguro, apresentados a

seguir.

2.1.1 Proposta

O documento que antecede a aceitação do risco pela

seguradora é denominado proposta. O artigo 759 do Código Civil determina que

“a emissão da apólice deverá ser precedida de proposta escrita com a declaração

dos elementos essenciais do interesse a ser garantido e do risco.”

O entendimento de SANTOS73 sobre o aludido é que “[...]

legal e juridicamente, não é possível a realização de contrato de seguro sem a

proposta e, muito menos, sem a apólice, que são os instrumentos indispensáveis

para abrigar as condições gerais [...], que irão regê-lo [...]”.

Ensina ROCHA FILHO74 que:

A proposta escrita é um documento de natureza técnica encaminhado à Sociedade Seguradora, que descreve os elementos básicos para o estudo do risco. Ao preencher a proposta, o Segurado deve responder a todos os quesitos formulados.

73 SANTOS, Ricardo Bechara. Direito de seguro no novo código civil e legislação própria . p. 36. 74 ROCHA FILHO, Gumercindo. O corretor de seguros à luz do novo Código civil . Rio de Janeiro: SINCOR/FENACOR/FUNENSEG, 2003. p. 21.

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26

A proposta escrita deve conter a declaração dos elementos

essenciais do interesse a ser garantido e do risco, tendo em vista que esta é a

manifestação da vontade do segurado em contratar o seguro e é a base para

apreciação da seguradora, que decidirá sobre a aceitação ou não da proposta.

Na visão de ALVES75 os elementos essenciais são “[...] a

espécie do sinistro, os interesses a acobertar, os bens, as responsabilidades e

obrigações, os valores de pagamento do prêmio e do seguro, os direitos e

garantias, os riscos assumidos etc.”.

É importante frisar que a seguradora dispõe de 15 dias para

se manifestar pela aceitação ou não do risco a ser segurado. Este prazo é

contado a partir da data de recebimento da proposta, de acordo com a Circular

SUSEP n. 251/04 que dispõe em seu artigo 2º:

Artigo 2 - A sociedade seguradora terá o prazo de 15 (quinze) dias para manifestar-se sobre a proposta, contados a partir da data de seu recebimento, seja para seguros novos ou renovações, bem como para alterações que impliquem modificação do risco.

Implica frisar que se a seguradora não se manifestar, estará

caracterizada a aceitação tácita. Neste sentido o Superior Tribunal de Justiça já

consolidou:

Recurso Especial. Seguro. Existência do contrato. Dúvida infundada. Execução. Viabilidade. Desde que aceita, ainda que tacitamente, a proposta de seguro, o fato de a morte da proponente haver ocorrido antes do pagamento da primeira parcela do prêmio e da emissão da respectiva apólice não obsta a execução. Recurso provido. – Em consonância com a Circular SUSEP n. 240, feita a proposta, a seguradora tem o prazo de quinze dias para manifestar-se por escrito; não o fazendo, estará caracterizada sua ‘aceitação tácita’ (REsp 722.469/PB, Rel. Min. CASTRO FILHO, TERCEIRA TURMA, julgado em 23.08.2007, DJ 17.09.2007, p.252).

75 ALVES, Jones Figueiredo. Código civil comentado . p. 686.

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27

Sobre a aceitação, e sintetizando o já comentado,

SANTOS76 doutrina que “fica facultado à seguradora comunicá-la ou não, afinal, a

resposta da aceitação é a emissão da apólice, no caso em 15 dias a contar do

decurso do primeiro prazo, para aceitação, também de 15 dias.”

Para facilitar o entendimento a respeito da importância da

proposta, comenta COSTANZE77:

A proposta é o documento preenchido pelo corretor ou segurado onde se estabelecem as condições do cliente e propostas da seguradora. É muito importante ser bastante preciso na hora de prestar informações, pois qualquer inconsistência pode acabar dificultando o pagamento da indenização, ou até, a recusa do pagamento sob suspeita de fraude.

Sendo assim, fica evidente a necessidade de prestar

informações corretas e objetivas, sem qualquer tipo de omissão, para a confecção

da proposta de acordo com a necessidade de cada segurado.

2.1.2 Apólice

O Código Civil exige a existência de documento escrito que

comprove a contratação do seguro. Na maioria dos casos essa confirmação é

feita através da apólice de seguro, que, resumidamente, é um “[...] documento

que tem a finalidade de externar o conteúdo do contrato entabulado entre

segurado e companhia seguradora”.78

É na apólice que estão expressas as coberturas contratadas

pelo segurado e suas limitações, razão esta que a torna um importantíssimo meio

de prova da relação contratual e encontra-se formalmente incluída no Código

Civil, sendo que o artigo 758 é totalmente taxativo ao definir que:

76 SANTOS, Ricardo Bechara. Direito de seguro no novo Código Civil e legislação própria . p. 45 77 COSTANZE, Bueno Advogados. Contrato de seguro de automóvel . Bueno e Costanze Advogados, Guarulhos. Disponível em <http://buenoecostanze.adv.br>. Acesso em 15.12.2009. 78 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro . p. 130-131.

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Artigo 758 - O contrato de seguro prova-se com a exibição da

apólice ou do bilhete de seguro, e, na falta deles, por documento comprobatório do pagamento do respectivo prêmio.

A comprovação feita por meio da apólice existe desde o

Código Comercial de 1850, que deixou evidente o papel da apólice. Ao definir o

conceito de seguro marítimo no artigo 666 da referida lei, o legislador escreveu:

Artigo 666 - O contrato de seguro marítimo, pelo qual o

segurador, tomando sobre si a fortuna e riscos do mar, se obriga a indenizar ao segurado da perda ou dano que possa sobrevir ao objeto do seguro, mediante um prêmio ou soma determinada, equivalente ao risco tomado, só pode provar-se por escrito, a cujo instrumento se chama apólice; [...]

Cumpre salientar que a apólice é um instrumento

fundamental para a comprovação do liame entre as partes, mas, conforme dispõe

o artigo 758 do Código Civil, não é o único. Com o intuito de facilitar os interesses

do consumidor, o legislador permiti que a prova da relação contratual seja feita

também por bilhete ou pelo mero comprovante de pagamento do prêmio.79

É de apreciar o comentário de KRIEGER FILHO80 sobre a

disposição do Código Civil:

Essa previsão do legislador em admitir que a prova do seguro se dê pelo comprovante de recolhimento do prêmio afigura-se plenamente correta, pois mesmo que não tenha havido a emissão da apólice pelo segurador, se ele recebeu o pagamento da parcela do prêmio, aí se encontra a certeza de que houve a proposta e a aceitação do seguro, tendo inclusive o segurado obtido ciência das condições da apólice e com elas se conformado. Em todo caso, se por qualquer motivo não houve a emissão da apólice ou bilhete de seguro, deve-se presumir que o mútuo consentimento das partes manifestou-se de acordo com as cláusulas usuais do contrato que se pretendia firmar.

O artigo 760 do Código Civil menciona o conteúdo mínimo

que uma apólice de seguro deve possuir:

79 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro . p. 132. 80 KRIEGER FILHO, Domingos Afonso. Seguro no código civil . p. 50.

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Artigo 760 - A apólice ou bilhete de seguro serão nominativos, à

ordem ou ao portador, e mencionarão os riscos assumidos, o início e o fim de sua validade, o limite da garantia e o prêmio devido, e, quando for o caso, o nome do segurado e do beneficiário. [...]

Dizem-se nominativas as apólices que identificam as partes

envolvidas no contrato de seguro; já à ordem são aquelas que operam a

transmissão por meio de endosso e ao portador são aquelas que produzem os

efeitos em favor de quem as detenha, por transferência informal.81 No

entendimento de SENE82, “as apólices à ordem e ao portador, [...], não tem

utilização na prática do mercado segurador brasileiro, que adota para todos os

contratos a forma nominativa”.

Todo o pactuado deve estar expresso. O risco assumido

pela seguradora, a vigência do contrato, o limite de garantia, o prêmio a ser pago

pelo segurado e dependendo da modalidade, o nome do segurado e do

beneficiário.

Corroborando o já elencado, ROCHA FILHO83 leciona que

“[...] o risco, suas limitações, exclusões, garantias, enfim, as condições

contratuais, deverão constar da apólice do seguro ou do bilhete, em conformidade

com a proposta, quando houver, sob pena de não terem validade”.

Enfim, é fato que a apólice deve ter um conjunto de

subsídios aptos a ratificar os limites do contratado entre as partes. Dispõe o artigo

83 do Decreto-Lei n. 73/66 que “as apólices, certificados e bilhetes de seguro

mencionarão a responsabilidade máxima da sociedade seguradora, expressa em

moeda nacional para cobertura dos riscos neles descritos e caracterizados”.

81 ALVES, Jones Figueiredo. Código civil comentado . p. 687. 82 SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas: negativas de pagamento das segur adoras . p. 35-36. 83 ROCHA FILHO, Gumercindo. O corretor de seguros à luz do novo Código civil . p. 09.

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2.2 ELEMENTOS DO CONTRATO DE SEGURO

Não há entendimento doutrinário dominante que defina quais

são os elementos do contrato de seguro, sendo assim, estão explanados a seguir

vários pontos relevantes para a perfeita análise e compreensão do tema.

2.2.1 Risco

Na visão de SILVA84, “o termo risco leva à ideia de perigo,

sendo certo que, [...], este sentido traduz adequadamente a ideia relacionada aos

contratos de seguro, eis que na avença, por força do art. 757 do Código Civil, o

risco é transferido ao segurador”.

No mesmo sentido MONTEIRO85 dá o seguinte conceito:

“[...] risco é precisamente o objeto da convenção; é o perigo a que está sujeito o

objeto segurado, em conseqüência de um acontecimento futuro, alheio à vontade

das partes”.

É fundamental que o risco seja lícito, ou seja, não pode estar

relacionado a operações ilícitas do segurado. Por exemplo, não há como contratar

um seguro de um veículo roubado, de uma plantação de maconha, de uma

fábrica de notas de dinheiro falsas, e assim por diante.

Em consenso, dispõe o artigo 762 do Código Civil que “nulo

será o contrato para garantia de risco proveniente de ato doloso do segurado, do

beneficiário, ou de representante de um ou de outro”.

O IRB – Instituto de Resseguros do Brasil86, em harmonia

com o já declarado, caracteriza que o “[...] risco deve ser um acontecimento

possível, mas futuro e incerto, quer quanto à sua ocorrência, quer quanto ao

84 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro . p. 105. 85 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil . 28.ed. São Paulo: Saraiva, 1995. v.5, p. 335. 86 INSTITUTO DE RESSEGUROS DO BRASIL. Noções fundamentais de seguros . Publicação n. 15, p. 27.

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31

momento em que se deverá produzir, independentemente da vontade dos

contratantes”.

O contrato de seguro tem por função assegurar um bem

determinado, aquele proclamado na proposta e futuramente na apólice, logo, não

estando expressamente previsto, o risco não é indenizável.

Frente a este entendimento, MENDONÇA87 contribui ao

doutrinar que:

[...] a definição do objeto do seguro e dos riscos contra os quais ele está segurado são fundamentais para a correta contratação da apólice, mas só elas não bastam. Toda apólice de seguro tem uma cláusula muito mais comprida, contento os risco excluídos, além de outra, quase do mesmo tamanho, contendo os riscos não cobertos.

Assim, para se contratar bem uma apólice, não basta

descrever com exatidão o objeto do seguro e a cobertura, é também fundamental

verificar com cuidado se a principal ameaça, que justifica a contratação do

seguro, não está incluída entre as exclusões de cobertura, porque, estando, não

será indenizada. E a mesma regra se aplica aos bens não cobertos.

Para compendiar, com o pagamento do prêmio, o segurado

transfere à seguradora o risco ao qual pretende se precaver.

2.2.2 Prêmio

O valor que o segurado paga ao segurador para que este

último garanta indenização no caso de risco coberto pela apólice é denominado

de prêmio, nada mais que o preço do seguro.

Importa transcrever o conceito elaborado por SILVA88:

O prêmio é um elemento de extrema importância no contrato

de seguro, haja vista que ele representa a prestação do segurado pela assunção

87 MENDONÇA, Antonio Penteado. Temas de seguro . p. 122. 88 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro . p. 93-94.

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dos riscos predeterminados assumidos pelo segurador. Além disso, os prêmios

recebidos pelos seguradores acabam por constituir um fundo comum para a

própria articulação do mercado segurador. Sem o prêmio, não haverá recursos

suficientes para o pagamento dos sinistros, despesas de administração,

dividendos para os acionistas das sociedades seguradoras etc.

É de fundamental relevância destacar o aludido no artigo

764 do Código Civil, que legisla: “Salvo disposição especial, o fato de se não ter

verificado o risco, em previsão do qual se faz o seguro, não exime o segurado de

pagar o prêmio”.

Na teoria de ROCHA FILHO89:

O prêmio é devido ainda que não ocorra sinistro, haja vista que o objeto do contrato de seguro é o risco. Assim, mesmo não tendo se efetivado o sinistro, o risco de sua ocorrência existiu, o que torna devido o pagamento do prêmio.

A expressão “Salvo disposição especial”, presente neste

artigo, remete a uma situação peculiar, referente à cobertura de “Risco Corrido”,

passível de ser contratada nas apólices de Transporte e de Vida. Trata-se dos

seguros feitos por averbação, nos termos do artigo 2790, do Decreto Lei n. 73/66.

Desde os primórdios a realização do seguro teve alicerce no

esforço coletivo, no mutualismo. Hoje não é muito diferente, os segurados pagam

o prêmio para um fundo comum mantido pela seguradora que, com técnicas

atuariais especializadas cobram um prêmio do segurado, equivalente,

principalmente, a possibilidade de ocorrência do risco e ao histórico de sinistros

na seguradora.

O cálculo atuarial envolve vários fatores técnicos para que

seja finalizado sem prejudicar a seguradora. Tudo que é necessário para não

atingir os acionistas e o fundo de reserva, sempre tendo como capital de giro os

valores pagos pelos segurados. Ou seja, com o total dos prêmios pagos pelos

89 ROCHA FILHO, Gumercindo. O corretor de seguros à luz do novo código civil . p. 19. 90 Decreto Lei n. 73/66, artigo 27: “Serão processadas pela forma executiva as ações de cobrança dos prêmios dos contratos de seguro”.

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segurados, a seguradora forma um fundo do qual utilizará as verbas necessárias

para indenizar os sinistros.

2.2.3 Segurador

Uma das partes do contrato de seguro é a seguradora. Essa

é entidade constituída e devidamente autorizada para exercer a atividade

securitária, seguindo os preceitos do parágrafo único do artigo 757 do Código

Civil que elucida: “somente pode ser parte, no contrato de seguro, como

segurador, entidade para tal fim legalmente autorizada”.

O artigo 74 do Decreto-Lei n. 73/66 regulamenta a questão

ao dispor que:

Artigo 74 - A autorização para funcionamento será concedida através de Portaria do Ministério da Indústria e do Comércio, mediante requerimento firmado pelos incorporadores, dirigido ao CNSP e apresentado por intermédio da SUSEP.

SENE91 aborda a demanda ao especificar que “[...] para

cada ramo de seguro é exigida uma autorização própria, expedindo-se, como

instrumento da devida permissão, uma carta patente para cada um dos

específicos ramos”. Ainda sobre o tema, completa afirmando que “[...] às

seguradoras é defeso explorarem qualquer outro ramo de atividade empresária”.

Com a autorização concedida, a seguradora pode atuar nos

ramos que constam no documento expedido. Dentro das obrigações da

seguradora está o dever de indenizar em caso de sinistro. Segundo

MENDONÇA92:

[...] ela é responsável pelo pagamento da indenização do sinistro, o que é completamente diferente de responder pelo próprio dano e por seus prejuízos. Mais do que isso, ela é responsável apenas dentro dos limites do contrato, ou seja, em função da apólice de seguro a seguradora tem fronteiras definidas, dentro das quais

91 SENE, Leone Tida. Seguro de pessoas: negativas de pagamento das segur adoras . p. 42-43. 92 MENDONÇA, Antonio Penteado. Temas de seguro . p. 31.

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suas responsabilidades precisam estar claramente colocadas, e a mais importante dessas limitações – até mesmo para a defesa do mútuo e dos outros segurados – é a que veda a companhia de indenizar mais do que o previsto na apólice, sejam em função do valor, ou de cláusula de garantia do risco ou de exclusão de cobertura.

Corroborando o ensinamento de Mendonça, LAS CASAS93

ainda complementa ao informar que as:

Sociedades seguradoras são aquelas autorizadas a operar com seguros privados. São empresas que, recebendo o prêmio, assumem a responsabilidade de pagar a indenização em casos de eventual sinistro. [...]. Essas empresas devem ser necessariamente sociedades anônimas, e suas ações, nominativas. Não podem estar sujeitas a falências nem impetrar concordatas, conforme o art. 26 da Lei dos Seguros. A liquidação compulsória ou voluntária das seguradoras ficará a cargo da Susep, que indicará o liquidante.

Salienta ainda sobre o capital mínimo que uma seguradora

deve ter para poder operar e também sobre o limite técnico, este último de suma

importância para a compreensão das negativas de propostas e dos diferentes

prêmios cobrados no mercado segurador. Veja-se:

As seguradoras deverão ter um capital mínimo para operar, o qual depende de resolução especial do CNSP, que o estabelece com periodicidade mínima de dois anos e determina a forma de sua subscrição e realização.

[...].

As seguradoras operam dentro de seus limites técnicos fixados pela Susep, conforme normas aprovadas pelo CNSP. Todo o valor que ultrapassa esse limite técnico para cada ramo de seguro deverá ser ressegurado no IRB e, em caso de cosseguro, a cota será fixada pelo CNSP. [...].

93 LAS CASAS, Alexandre Luzzi. Marketing de seguros . p. 21.

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Sendo assim, é absoluto o fato de que as seguradoras não

podem agir por conta própria, todos os atos são supervisionados e fiscalizados

constantemente pelas entidades governamentais.

A Resolução do CNSP de n. 88/2002 dispõe sobre os

critérios para a realização de investimentos pelas sociedades seguradoras e é

taxativa ao instruir, em seu artigo 9º, que:

Artigo 9 - Os investimentos devem ser geridos de modo que lhes sejam garantidas segurança, rentabilidade, solvência e liquidez e que sejam observados:

I – elevados padrões éticos; e

II – as especificidades da sociedade/entidade, tais como as características de suas obrigações, com vistas à manutenção do necessário equilíbrio econômico-financeiro entre ativos e passivos.

A seguradora tem um limite para poder usar no investimento

de capital, tendo em vista que sempre deve haver a reserva necessária para o

pagamento dos possíveis sinistros.

A propósito, a Circular n. 284/2005 da SUSEP dispõe sobre

registro, custódia e movimentação de bens, títulos e valores mobiliários

garantidores das reservas técnicas e também sobre os fundos e provisões das

sociedades seguradoras.

Em seu artigo 1º a Circular citada define que “serão

registrados na Superintendência de Seguros Privados – SUSEP os bens

garantidores das reservas técnicas, fundos e provisões das sociedades

seguradoras [...]”. A legislação é expressa e fundamenta ao inserir, artigo 2º, que

os bens que as seguradoras registrarem junto a SUSEP não poderão ser

alienados ou gravados de qualquer forma, pois sem a autorização da referida

instituição os gravames constituídos ou as alienações realizadas serão nulas de

pleno direito.

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A SUSEP é o órgão responsável pela fiscalização e pelo

controle do mercado de seguros e tem obrigação de vigiar as seguradoras, de

modo que operem respeitando todas as normas fixadas pelo CNSP e também

pela própria SUSEP.

2.2.4 Corretor de seguros

A pessoa legalmente habilitada pela SUSEP, através de

formação na FUNENSEG, para exercer a função de “[...] representante do

segurado diante da seguradora, o responsável pela defesa de seus interesses

durante toda a vigência da apólice, aconteça ou não sinistro” 94 recebe o nome de

corretor de seguros.

A Lei dos Seguros conceitua o corretor de seguros como

sendo “[...] o intermediário legal autorizado a angariar e promover contratos de

seguro entre as Sociedades Seguradoras e as pessoas físicas ou jurídicas de

Direito Privado.” 95 Não obstante seja necessário salientar que a Lei n. 4594/64

estendeu aos corretores de seguro a possibilidade de angariar os seguros de

pessoas jurídicas de direito público também, isto logo em seu artigo 1º.

São vários os doutrinadores que comentam sobre, muito

embora todos tenham o mesmo fundamento enfatizado. Com isso, veja-se a

afirmação de ALVES96 no que concerne aos principais deveres do corretor:

[...] atuar com aplicação e presteza, segundo reclamam o negócio e o interesse do cliente, fornecendo-lhe, nesses fins, por sua iniciativa e empreendimento, as informações sobre as tratativas eventualmente existentes e a desenvoltura da mediação, a ensejar o êxito esperado. A segunda, também essencial ao desempenho, tem por escopo o resguardo do negócio, quanto aos riscos ou segurança dele, devendo o corretor de tudo fazer ciente o comitente, transmitindo-lhe todos os esclarecimentos que lhe seja possível prestar.

94 MENDONÇA, Antonio Penteado. Temas de seguro . p. 170. 95 Decreto-Lei nº 73/66, artigo 122. 96 ALVES, Jones Figueiredo. Código Civil comentado . p. 658.

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Colabora SANTOS97, ao ensinar sobre a importância da

Circular SUSEP n. 127/00:

A Circular em causa, além de repetir a definição de corretor já estabelecida na lei (Lei nº 4594/64 e Decreto-Lei nº 73/66), da qual decerto não poderia jamais se afastar, estabelece as regras sobre o registro e exercício da profissão do Corretor de Seguros, conferindo à SUSEP a atribuição de conceder as devidas autorizações, expedir carteiras ou títulos de habilitação e exigir a documentação para tanto necessária, documentação e requisitos esses que vêm elencados na mencionada Circular.

No que tange a responsabilidade civil do corretor de

seguros, é de apreciarmos a decisão do Superior Tribunal de Justiça, em virtude

de ação intentada por segurado cobrando conhecimento do corretor pelo

segurador entrar em regime de fiscalização pela SUSEP:

RESPONSABILIDADE CIVIL. CORRETOR. DECRETAÇÃO DE INTERVENÇÃO FISCAL NA SEGURADORA. AUSÊNCIA DE INFORMAÇÃO. INDENIZAÇÃO INDEVIDA. O corretor não responde civilmente perante o segurado por deixar de informá-lo da portaria da SUSEP que decreta a intervenção fiscal na companhia seguradora, uma vez que nesse regime a seguradora continua operando nos termos do art. 65 do Decreto nº 60.459/67. Recurso conhecido e provido. (REsp 467.343/PR, Rel. Min. RUY ROSADO AGUIAR, QUARTA TURMA, publicado no DJU em 05.05.2003).

Sobre o tema, leciona SANTOS98:

Creio demasiadamente o entendimento de que o corretor de seguro, no contexto brasileiro e tendo em vista a sua formação, deva responder em casos tais, pois compete à Superintendência de Seguros Privados – SUSEP a responsabilidade pela avaliação de solvência das sociedades seguradoras, por isso que a função do corretor não chega a ponto de analista de solvência da seguradora, até porque não tem acesso aos dados, [...], que a SUSEP, [...], dispõe e exige com poder de polícia. Militaria a favor

97 SANTOS, Ricardo Bechara. Direito de seguro no novo código civil e legislação própria . p. 171. 98 SANTOS, Ricardo Bechara. Direito de seguro no novo código civil e legislação própria . p. 157-158.

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do corretor a presunção de que toda seguradora é solvente enquanto não declarado em contrário pela SUSEP [...].

Destarte, o corretor de seguro precisa ser habilitado e

autorizado a exercer essa importante profissão para o mercador segurador e para

a economia do país.

2.2.5 Segurado

Em um dos pólos da relação estabelecida no contrato de

seguro figura o segurado. Para SENE99 é aquela “[...] pessoa física ou jurídica,

que, através do pagamento do [...] prêmio, adquire uma garantia sobre interesse

segurável, transferindo ao segurador o risco, objeto da apólice [...]”.

Concordando em termos com o entendimento de SENE,

SILVA100 esclarece sua visão ao doutrinar que:

O segurado é aquele que tem interesse sobre o bem da vida descrito no contrato de seguro.

[...]

Registramos aqui nossa discordância com parte majoritária da doutrina que identifica o segurado como aquele que promove o pagamento do seguro, haja vista que, conforme verificaremos abaixo, nem sempre o valor é desembolsado por este, pois existe a possibilidade, nos casos de prêmio não-contributário, de outros sujeitos efetuarem a paga, v.g., o estipulante.

Ainda segundo o ilustre doutrinador, temos o destaque que

também poderão estar resolvidos como segurados as personalidades anômalas,

que como exemplo há o condomínio e o espólio, ambos não estão alocados na

definição legal de pessoa física ou jurídica, mas possuem interesse fidedigno em

bens perfeitamente seguráveis.101

99 SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas: negativas de pagamento das segur adoras . p. 44. 100 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro . p. 88-89. 101 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro . p. 89.

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É basilar que o segurado seja pessoal natural com

capacidade civil, ou seja, os incapazes até podem figurar, todavia devem ser

assistidos ou representados pelo responsável. Ai surge uma questão polêmica e

em discussão no Senado, no que se refere a contratação de seguro de vida para

os menores de 14 anos.

O artigo 109 do Decreto-Lei n. 2.063/40 é preciso ao ordenar

expressamente que “é proibida a estipulação de qualquer contrato de seguro

sobre a vida de menores de quatorze anos de idade [...]”, todavia, está aprovado

o Projeto de Lei do Senado n. 442 de 2008, que revoga totalmente o artigo citado.

Ocorre que, mesmo implicitamente revogado pelas normas

que sucederam tal artigo, carecia de total garantia jurídica, justamente a função

do Projeto de Lei do Senado n. 442, não deixar imprecisão sobre o término da

regra que impede a estipulação de seguro de vida para menores de 14 anos de

idade.

2.2.6 Beneficiário – aberto/fechado

Em síntese, o beneficiário é a pessoa indicada pelo

segurado ou definida em lei que está apta a receber a indenização em caso de

sinistro que por ventura ocorra.

O artigo 791 do Código Civil informa que:

Artigo 791 - Se o segurado não renunciar à faculdade, ou se o

seguro não tiver como causa declarada a garantia de alguma obrigação, é lícita a substituição do beneficiário, por ato entre vivos ou de última vontade.

Parágrafo único. O segurador, que não for cientificado oportunamente da substituição, desobrigar-se-á pagando o capital segurado ao antigo beneficiário.

Explica ROCHA FILHO102 que “o segurado pode indicar

como beneficiário a pessoa que bem lhe convier, podendo, inclusive, alterar a

102 ROCHA FILHO, Gumercindo. O corretor de seguros à luz do novo código civil . p. 10.

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indicação feita a qualquer momento” sendo que também “[...] poderá, a seu

critério, renunciar, quando da contratação do seguro, da possibilidade de alterar o

beneficiário.

Observando o ensinamento acima, ALVES103 afirma:

A lei permite a substituição do beneficiário do seguro de vida por ato unilateral de vontade do segurado, que a essa faculdade não renunciou ao clausular as condições do seguro, desde que este não tenha por origem declarada a garantia de determinada obrigação, o que se dará por ato inter vivos ou mortis causa.

Sem dificuldades de interpretação está o artigo 792 do

Código Civil, que é de simples entendimento em sua ampla utilidade:

Artigo 792 - Na falta de indicação da pessoa ou beneficiário, ou

se por qualquer motivo não prevalecer a que for feita, o capital segurado será pago por metade ao cônjuge não separado judicialmente, e o restante aos herdeiros do segurado, obedecida a ordem de vocação hereditária.

Parágrafo único. Na falta das pessoas indicadas neste artigo, serão beneficiários os que provarem que a morte do segurado os privou dos meios necessários à subsistência.

Ou seja, o seguro de vida permite a livre escolha do

beneficiário, até mesmo permitindo-se elencar o companheiro ou a companheira

como tal, pois, conforme prevê o artigo 793 do Código Civil: “é válida a instituição

do companheiro como beneficiário, se ao tempo do contrato o segurado era

separado judicialmente, ou já se encontrava separado de fato”.

2.2.7 Indenização

Nos seguros de dano é usada a expressão indenização,

enquanto nos seguros de pessoas o termo é capital segurado, muito embora

ambos tenham a mesma função no contrato de seguro, ou seja, transferir uma

importância em dinheiro ao segurado, repondo o prejuízo que o mesmo teve no

sinistro coberto pela apólice.

103 ALVES, Jones Figueiredo. Código Civil comentado . p. 718.

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Isto posto, vale transpor o entendimento do ilustre

doutrinador SILVA104, que consigna que:

[...] a indenização, pela própria natureza do contrato de seguro, não visa lucro. Dessa forma, o valor da indenização não poderá ultrapassar o montante do interesse segurado informado na apólice, salvo na hipótese de mora do segurador na adimplência de sua obrigação contratual.

Em consonância com o exposto, está o artigo 781 do Código

Civil, que define:

Artigo 781 - A indenização não pode ultrapassar o valor do

interesse segurado no momento do sinistro, e, em hipótese alguma, o limite máximo da garantia fixado na apólice, salvo em caso de mora do segurador.

Assim como qualquer pessoa, seja ela física ou jurídica, a

seguradora deve obedecer as normas legais. Sobre o assunto, é questão de

grande valor a discordância entre os artigos 774 e 796 do Código Civil. O artigo

774 é imperativo ao regulamentar que “a recondução tácita do contrato pelo

mesmo prazo, mediante expressa cláusula contratual, não poderá operar mais de

uma vez.” Por outro lado, o artigo 796, caput, do mesmo código preceitua que “o

prêmio, no seguro de vida, será conveniado por prazo limitado, ou por toda a vida

do segurado”.

A última parte do caput do artigo 796 origina grande

discussão sobre a possível renovação sem o consentimento de uma das partes.

Sobre o tópico, ROCHA FILHO105 leciona:

Existem, [...], modalidades de seguro em cuja apólice só se tem a data de início da vigência do contrato. Diz-se, a respeito, que tais apólices “não vencem”, simplesmente “fazem aniversário” e, até trinta dias antes da data do aniversário, se não houver manifestação em contrário, a apólice é reconduzida (renovada), por período igual a um ano, tendo as Sociedades Seguradoras o direito de reajustar o prêmio.

104 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro . p. 117. 105 ROCHA FILHO, Gumercindo. O corretor de seguros à luz do novo código civil . p. 22.

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Obtém-se a ideia de que os seguros de pessoas são

renovados automaticamente e, os seguros de dano, necessitam de aprovação do

segurado.

2.2.7.1 Mora do segurado

Estar inadimplente com a obrigação de efetuar o pagamento

do prêmio gera perda de direito a indenização em caso de sinistro, conforme

artigo 763 do Código Civil que preceitua:

Artigo 763 - Não terá direito a indenização o segurado que estiver

em mora no pagamento do prêmio, se ocorrer o sinistro antes de sua purgação.

Segundo ROCHA FILHO106, essa “é uma tentativa de coibir

o inadimplemento dos Segurados, em face do prêmio devido.”

Todavia, a jurisprudência oferece soluções divergentes

sobre o mesmo assunto. Em consonância com o artigo 763 está o julgado que

afirma que:

Se não for paga a última parcela do prêmio o seguro caduca. O pagamento da indenização depende do pagamento do prêmio devido, antes do sinistro (RT, 488/119).

Já em desacordo com o dispositivo legal:

Nos contratos de seguro, a cláusula contratual prevendo a perda do direito a indenização pelo atraso ou falta de pagamento do prêmio, mormente se inadimplidas apenas as duas últimas prestações, é abusiva e iníqua. Pois coloca o segurado em admissível desvantagem, uma vez que lhe acarreta a perda total da cobertura securitária, embora a seguradora tenha recebido a quase-totalidade do valor do prêmio (RT, 773/254).

O falecido Deputado Ricardo Fiúza foi autor do Projeto de

Lei n. 7312/02 que apresenta nova redação ao dispositivo:

106 ROCHA FILHO, Gumercindo. O corretor de seguros à luz do novo código civil . p. 17.

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Não terá direito a indenização o segurado que estiver em mora no pagamento do prêmio, se ocorrer o sinistro antes de sua purgação, desde que o segurado tenha sido intimado, por escrito, para tanto.

ALVES assevera que o Superior Tribunal de Justiça vem,

em muitos casos, mitigando os efeitos da mora do segurado no pagamento do

prêmio, para fins de pagamento da indenização. Assim, ALVES alinha seu

entendimento ao do ilustre parlamentar, sustentando ambos que a exigência da

constituição em mora é fundamental para alertar ao segurado da eminência da

perda da cobertura securitária e permitir eventual purgação.107

O Enunciado n. 371, aprovado na IV Jornada de Direito Civil,

promovida pelo Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal,

dispõe: “A mora do segurado, sendo de escassa importância, não autoriza a

resolução do contrato, por atentar ao princípio da boa-fé objetiva”.

É evidente a relevância do pagamento do prêmio no prazo

máximo fornecido pela seguradora, pois, com o cumprimento deste requisito, não

haverá problemas futuros em prováveis indenizações.

2.2.7.2 Mora do segurador

Não só o segurado está sujeito as penalidades caso ocorra à

mora, o segurador também tem sua punição. O prazo estabelecido pela SUSEP

para que a seguradora efetue o pagamento da indenização é de 30 (trinta) dias

após a entrega de todos os documentos solicitados por esta. Sendo que, no caso

de dúvida fundada e justificável, a seguradora poderá solicitar novos documentos,

e nesta situação a contagem de tempo será suspensa e reiniciada após a entrega

dos novos documentos solicitados.108

O Código Civil registra em seu artigo 772:

107 ALVES, Jones Figueiredo. Código civil comentado . p. 691. 108 BRASIL. SUPERINTÊNCIA DE SEGUROS PRIVADOS . MINISTÉRIO DA FAZENDA Disponível em <www.susep.gov.br/menuatendimento/info_auto.asp>. Acesso em 16.12.2009.

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Artigo 772 - A mora do segurador em pagar o sinistro obriga à

atualização monetária da indenização devida segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, sem prejuízos dos juros moratórios.

Diante de tal dispositivo, é sustentável o posicionamento de

SILVA109, que leciona:

Criou-se, pela prática, o chamado prazo médio de trinta dias para o pagamento da indenização, período este que será estendido quando o segurado deixar de entregar documentos necessários para a efetivação do pagamento da indenização por parte da seguradora.

E é diante deste entendimento que nota-se a razoabilidade

no prazo, sendo que quando excedido:

[...] a demora injustificada do segurador em concluir o processo de regulação do sinistro autorizará o segurado a pleitear em juízo a correspondente indenização, acrescida de juros de mora e, ainda, eventuais perdas e danos.

Em um dos julgados do Tribunal de Justiça do Rio Grande

do Sul ficou resolvido que com a ultrapassagem do prazo, a seguradora também

deveria arcar com os lucros cessantes tolerados pelo segurado. Nesta linha,

segue a ementa:

SEGURO. Ação de cobrança. Danos materiais e morais incomprovados. Lucros cessantes devidos. Tendo a seguradora, no caso concreto, demorado no processo de regulação do sinistro, ultrapassando o prazo médio de 30 (trinta) dias, e considerando que o segurado era motorista, privando-o de seu instrumento de trabalho, deve arcar com o pagamento de lucros cessantes. Danos morais e materiais incomprovados. Honorários advocatícios mantidos. Recursos improvidos (Ap. Cív. 70008922262, QUINTA CÂMARA CÍVEL, Rel. Des. ANA MARIA NEDEL SCALZILLI, julgado em 03.03.2005).

Autenticando o entendimento do Tribunal de Justiça do Rio

Grande do Sul, o Superior Tribunal de Justiça já julgou:

109 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro . p. 119.

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Recurso Especial. Seguro. Atraso no pagamento dos valores devidos pela seguradora. Lucros cessantes. Ocorrência. Precedentes desta corte superior. Recurso não conhecido. 1.Já decidiu esta Corte que, descumprindo a seguradora o contrato, causando danos adicionais ao segurado, que por isso fica impossibilitado de retomar suas atividades normais, são devidos lucros cessantes. 3.Recurso Especial não conhecido. (REsp 593.196/RS, Rel. Min. HÉLIO QUAGLIA BARBOSA, QUARTA TURMA, julgado em 04.12.2007).

Entende-se que, com a mora do segurador, o segurado

poderá desempenhar o seu direito subjetivo de ação para a cobrança da

indenização securitária, se essa ainda não houver sido realizada, e, envolvendo

inclusive os eventuais valores suplementares decorrentes da mora da liquidação

devida.

Assim sendo, conclui-se este capítulo onde se tratou da

apólice de seguro e dos instrumentos e elementos do contrato de seguro, para, na

sequência, adentrar no estudo referente a indenização e os fatores que excluem a

mesma em um processo de sinistro.

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CAPÍTULO 3

CONTRATO DE SEGURO – INDENIZAÇÃO

3.1 FATORES QUE DETERMINAM A EXCLUSÃO DA INDENIZAÇÃ O

É lei e está expresso no artigo 768 do Código Civil que

enuncia: “o segurado perderá o direito à garantia se agravar intencionalmente o

risco objeto do contrato.” Nessa linha, ROCHA FILHO110 ensina:

Toda vez que o segurado, voluntariamente, praticar um ato considerado lesivo ao contrato, perde o direito a cobertura securitária. Há necessidade de se comprovar cabalmente a intenção – vontade – do segurado no agravamento do risco.

O próprio doutrinador comenta que a legislação é esparsa e

não define quais são os atos capazes de agravar o risco.

Com sua notável sabedoria, MENDONÇA111 constitui uma

definição para a dita agravação do risco:

[...] É a ação ou a omissão deliberada do segurado, de seu preposto, ou de quem tem a posse, ou está responsável, com consentimento do segurado, pelo bem garantido do contrato, que pode aumentar as chances da ocorrência de um sinistro.

Todavia esse entendimento não é pacífico, já que SENE112

pensa diferente e salienta que “[...] apenas o risco agravado pelo próprio

segurado determina o perecimento do direito ao recebimento do capital [...].”

Assim, a ação ou omissão tem que ser do segurado, e não de outra pessoa

estranha a relação jurídica.

110 ROCHA FILHO, Gumercindo. O corretor de seguros à luz do novo código civil . p. 8. 111 MENDONÇA, Antonio Penteado. Temas de seguro . p. 117. 112 SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas: negativas de pagamento das segur adoras . p. 118.

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Corroborando o acima, sito ALVES113:

Vale observar, afinal, que “não se estende ao segurado a culpa ou dolo que se possa atribuir ao preposto. Diferentemente do ilícito civil, o contrato de seguro se atém entre a linha seguradora-segurado, não se podendo transferir para este último um comportamento alheio, conquanto de preposto, se circunstância nenhuma aflora para jungir o preponente ao procedimento fora da lei” (RT, 589/118). Desse modo, tem sido reiterada a posição do STJ ao reconhecer que a culpa ou dolo do preposto não é causa da perda do direito do seguro, porquanto o agravamento “deve ser imputado à conduta direta do próprio segurado” (STJ, 4ªT., REsp 223.119/MG, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ, 25-10-1999), isto é, “exige-se que o contratante do seguro tenha diretamente agido de forma a aumentar o risco” (STJ, 4ªT., REsp 79.533/MG, Rel. Min. Aldir Passarinho Júnior, DJ, 6-12-1999).

O Superior Tribunal de Justiça já julgou:

Direito civil. Seguro. Acidente de trânsito. Terceiro condutor. Embriaguez. Agravamento do risco. Firme o entendimento desta Corte de que o agravamento do risco ensejador da perda do direito ao seguro deve ser imputado à conduta direta da própria segurada. Recurso especial conhecido e provido. (REsp 578.290/PR, Rel. Min. CESAR ASFOR ROCHA, QUARTA TURMA, julgado em 09.12.2003).

Enfim, o ilustre doutrinador MARENSI114 é preciso ao

lecionar que “[...] todos os ramos de seguro estão sujeitos a sofrer de parte do

julgador um critério analítico e casuístico, [...], para se aquilatar quando o

segurado tenha agravado, ou não, o risco inicialmente acobertado.”

3.1.1 Álcool / Drogas

O primeiro assunto a ser tratado individualmente e com

ênfase é a questão da embriaguez, existente tanto no seguro de dano quanto no

seguro de pessoas. Para que seja correta a negativa da cobertura em função do

113 ALVES, Jones Figueiredo. Código civil comentando . p. 698-699. 114 MARENSI, Voltaire Giavarina. O seguro no direito brasileiro . 8.ed. São Paulo: IOB Thomson, 2007. p. 29.

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agravamento do risco por estado de embriaguez, é fundamental que exista o nexo

de causa entre o sinistro e a conduta do segurado.

O entendimento jurisprudencial vem mudando. Nos julgados

atuais, o segurado está perdendo o direito a indenização quando há testemunhas

que garantam o estado de embriaguez no momento do sinistro, independente de

qualquer teste de bafômetro. Claro, sempre levando em consideração o nexo

causal entre o estado etílico e o sinistro. Para a sociedade isso é o correto, tendo

em vista o fato de que este condutor pode causar danos a esta.

Detentor de inestimável saber jurídico, SANTOS115 leciona

acerca da matéria:

[...] a excludente do risco da embriaguez nas apólices de seguro, quer de automóvel quer de acidentes pessoais, representa um desestímulo a menos àqueles que se põem no comando da máquina mais perigosa do planeta em estado etílico, sabido que o álcool retira do indivíduo os reflexos e os tornam audaciosos e por conseguinte aptos a agravar os risco de sua integridade física e os de outras pessoas que nada têm a ver com tudo isso.

O fato é que não há quem não conheça o famoso slogan “se

dirigir não beba, se beber não dirija” ventilado em todos os meios de comunicação

no país. Sendo assim, nada mais justo para com a população num todo, punir

aqueles que intencionalmente provocam um sinistro por estarem alterados seja

por álcool, seja por drogas.

SANTOS116 continua, alertando que:

[...] à luz do Código Civil e de sua aplicação pelo juiz, tal não bastaria, eis que a embriaguez será considerada, para eficácia da excludente, levando-se em conta o nexo de causalidade adequada com o sinistro, de modo a se verificar tenha sido ela eficiente na produção do dano.

115 SANTOS, Ricardo Bechara. Direito de seguro no novo Código Civil e legislação própria . p. 110. 116 SANTOS, Ricardo Bechara, Direito de seguro no novo Código Civil e legislação própria . p. 111.

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Ou seja, não basta o segurado estar alcoolizado ou sob

efeito de entorpecentes, esse deve contribuir para o resultado negativo que

enseja o acionamento da seguradora.

O artigo 306117 do Código de Trânsito Brasileiro elevou a

embriaguez a crime de perigo, portanto não há o que se falar em excesso na

negativa de sinistro, já que este ato colabora com as autoridades de trânsito e

contribui para a consciência nacional, que tanto repele esta conduta.118

SENE119 não concorda com SANTOS e ainda assegura que:

O mais comum se faz presente quando o segurado, em estado de alcoolismo, vem a óbito em razão de acidente automobilístico. Para se eximir do pagamento da indenização ao beneficiário, o segurador alega que, ao dirigir o veículo alcoolizado, o segurado agravou intencionalmente o risco. Com a negativa, o conflito é levado à apreciação do judiciário. Alguns Tribunais de 2ª instância têm acatado o entendimento das seguradoras, a maioria não, vez que consoante já exposto, entendem, ser necessário vinculação entre a embriaguez e o sinistro. Em outras palavras, ocorre que as seguradoras comprovam nos autos, através de perícias ou mesmo testemunhas, o efetivo estado de embriaguez do segurado no momento do sinistro. Contudo, não se demonstra que aquele estado determinou o acidente, ficando evidenciado que o sinistro se deu por motivos externos, verbi gratia, um outro veículo invadiu a contramão de direção e causou o acidente.

Ora o exposto é contrário ao atual entendimento do Superior

Tribunal de Justiça. No ano de 2007, grande parte das jurisprudências davam

provimento ao pedido do segurado, obrigando a seguradora a quitar o sinistro. Já

117 Código de Trânsito Brasileiro, artigo 306: “Conduzir veículo automotor, na via pública, estando com concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas, ou sob influência de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência. Penas – detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor. Parágrafo único. O Poder Executivo federal estipulará a equivalência entre distintos testes alcoolemia, para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo.” 118 SANTOS, Ricardo Bechara. Direito de seguro no novo Código Civil e legislação própria . p. 112. 119 SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas: negativas de pagamento das segur adoras . p. 118-119.

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em 2008 a situação começou a mudar e, hoje, há uma divisão nos entendimentos,

“cada caso é um caso”.

Veja-se um julgado de 2008 do STJ:

Civil. Seguro de Vida. Embriaguez. A cláusula do contrato de seguro de vida que exclui da cobertura do sinistro o condutor de veículo automotor em estado de embriaguez não é abusiva; que o risco, nesse caso, é agravado resulta do senso comum, retratado no dito ‘se beber não diriga, se dirigir não beba”. Recurso especial não conhecido. (REsp 973.725/SP, Rel. Min. ARI PARGENDLER, TERCEIRA TURMA, julgado em 26.08.2008).

Importa destacar duas jurisprudências com pareceres

totalmente diferentes, sendo que ambas foram do ano de 2009. O motivo principal

que faz o julgador definir sobre tornar o pedido procedente ou não é o já dito nexo

de causalidade:

Obrigando a seguradora a liquidar o sinistro, do mesmo STJ:

Direito Civil. Contrato de Seguro. Acidente Pessoal. Estado de Embriaguez. Falecimento do Segurado. Responsabilidade da Seguradora. Impossibilidade de Elisão. Agravamento do Risco Não-Comprovado. Prova do Teor Alcoólico e Sinistro. Ausência de Nexo de Causalidade. Cláusula Liberatória da Obrigação de Indenizar. Arts. 1454 e 1456 do Código Civil de 1916. (REsp 780.757/SP, Rel. Min. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUARTA TURMA, julgado em 01.12.2009).

E também outro julgado, eximindo a seguradora de tal

responsabilidade:

Agravo Regimental. Recurso Especial. Ação de Cobrança. Contrato de Seguro de Veículo. Violação do art. 535 do CPC. Inocorrência. Acidente de Trânsito. Embriaguez Comprovada. Reexame de Prova. Impossibilidade. Súmula 7/STJ. Dissídio Jurisprudencial Não Comprovado. Decisão Agravada Mantida por Seus Próprios Fundamentos. (STJ – AgRg no REsp 1.024.723/SP, Rel. Min. FERNADO GONÇALVES, QUARTA TURMA, julgado em 18.08.2009).

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Enfim, os dois julgados têm sua decisão fundamentada no

nexo de causalidade do sinistro com a atitude do envolvido. É uma questão difícil

de ser analisada e que gera muitas dúvidas e entendimentos divergentes, sendo

um dos grandes motivos de negativa de pagamento por parte das seguradoras.

3.1.2 Suicídio

Certamente o suicídio está alocado dentre os principais

pontos de discussão sobre a indenização do contrato de seguro. O Código Civil

em seu texto do artigo 798 é contumaz ao indicar que:

Artigo 798 - O beneficiário não tem direito ao capital estipulado quando o segurado se suicida nos primeiros dois anos de vigência inicial do contrato, ou da sua recondução depois de suspenso, observado o disposto no parágrafo único do artigo antecedente.

Parágrafo único. Ressalvada a hipótese prevista neste artigo, é nula a cláusula contratual que exclui o pagamento do capital por suicídio do segurado.

Pelo que dele se nota, qualquer disposição no contrato de

seguro que exclua o pagamento do capital segurado em virtude de suicídio, nos

primeiros dois anos de contrato, são nulas.

Adaptando-se as novas regras do Código Civil, a SUSEP

emitiu a Circular n.º 302/2005 que dispõe sobre as regras complementares de

funcionamento e os critérios para operação das coberturas de risco oferecidas em

plano de seguros de pessoas. Em seu texto trás que é “[...] vedada a excludente

de suicídio ou sua tentativa, após o período de carência de dois anos de vigência

inicial do contrato, ou da sua recondução depois de suspenso [...]”.

Os tribunais superiores firmaram súmulas a respeito da

matéria, com posicionamento oposto ao Código Civil e a Circular SUSEP. O

Superior Tribunal de Justiça emitiu a Súmula 61 com a seguinte redação: “O

seguro de vida cobre morte por suicídio não premeditado”, e o Supremo Tribunal

Federal definiu na Súmula 105: “Salvo se tiver havido premeditação, o suicídio do

segurado no período contratual de carência não exime o segurados do

pagamento do seguro”.

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A doutrina de SANTOS120 complementa:

Acredita-se que, pela dicção do dispositivo em comento, tende a prevalecer, até como presunção absoluta, o entendimento de que premeditado seria o suicídio na carência e, como presunção relativa, o de que involuntário o cometido depois dela [...].

O Enunciado n. 187121 está em harmonia com o

entendimento do doutrinador, pois define:

No contrato de seguro de vida, presume-se, de forma relativa, ser premeditado o suicídio cometido nos dois primeiros anos de vigência da cobertura, ressaltando-se ao beneficiário o ônus de demonstrar a ocorrência do chamado suicídio involuntário.

Com isso, expirado o prazo de dois anos da realização do

contrato e caso o segurado venha a suicidar-se, o beneficiário terá direito a

indenização, independente de provas de que este não foi premeditado.

A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça julgou o

Recurso Especial n. 472.236122, em que foi Relatora a Ministra NANCY

ANDRIGHI, e reconheceram como correta a afirmativa da seguradora de que o

suicídio foi realmente premeditado, justificando a decisão de procedência da

demanda dos beneficiários por perceber que a premeditação, a que se refere a

Súmula n.º 61 do STJ, é a existente no momento da conclusão do contrato, e não

no da materialização do ato.

Com sensatez discorre NERY JUNIOR123:

Suicídio premeditado. Exclusão do seguro. A premeditação do suicídio pode excluir a obrigação de a seguradora pagar o capital

120 SANTOS, Ricardo Bechara. Direito de seguro no novo Código Civil e legislação própria . p. 426 121 Enunciado aprovado na III Jornada de Direito Civil, promovida pelo Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal, no período de 1º a 3 de dezembro de 2004. 122 Suicídio premeditado. Caracterização. Exclusão do pagamento. Para que o seguro de vida cubra suicídio, é necessário que ele não seja premeditado. No entanto, tal premeditação, regulada pelo STJ 61, é aquela existente no momento da contratação do seguro e não a da concretização do ato. 123 NERY JUNIOR, Nelson. Código civil comentado e legislação extravagante. 3.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 507.

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estipulado, quando for anterior ou concomitante com a celebração do contrato, por ofensa à cláusula geral da boa-fé objetiva, regra de conduta imposta pelo sistema aos contratantes. Celebrado e aperfeiçoado o contrato com observância da boa-fé objetiva e subjetiva, o suicídio premeditado posteriormente, isto é, durante a execução do contrato de seguro, é irrelevante e não exime o segurado de pagar o capital ao beneficiário no caso de ocorrer o evento. É do segurador o ônus de provar que a premeditação é anterior ou concomitante à época da celebração do contrato.

Também o renomado jurista ALVIM124 após discorrer a

respeito de “Suicídio e o seguro”, conclui afirmando que:

A falta de um critério seguro para distinguir o suicídio voluntário do involuntário induziu Fanelli, citado por J.C. Motinho de Almeida, a admitir como voluntário apenas aqueles em que a vontade preordenada do segurado de pôr fim a seus dias, se verificou por ocasião de celebrar o contrato.

Ou seja, o segurado só celebrou o contrato para deixar sua

família segura, pois já estava com o plano perfeito para ceifar a própria vida.

Na mesma linha, o Tribunal de Justiça de Goiás decidiu:

Apelação. Seguro de Vida. Suicídio. Se o suicídio não é premeditado, deve ser considerado como acidente pessoal, sendo nula a cláusula que exclui o pagamento da indenização. Inteligência das Súmulas 61 do STJ e 105, do STF. Recurso conhecido e improvido. (Apelação Cível 92185-0/188 – 200502069575, publicado no Diário da Justiça em 15.02.2006. TJGO).

Instada a examinar essa quaestio iuris, a 5ª Câmara Cível do

Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, no recente julgamento da Apelação n.º

70018348953, relatado pelo Des. Paulo Sergio Scaparo, produziu excelente

acórdão que, de forma objetiva e precisa, asseverou à luz do artigo 798 do

Código Civil:

[...] é vedado à seguradora negar o pagamento da indenização em decorrência de suicídio levado a termo após 2 anos da

124 ALVIM, Pedro. O contrato de seguro. 2.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1986. p. 239.

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contratação, independentemente da existência ou não de premeditação. Contudo, se ocorrer o suicídio nos 2 anos subseqüentes ao início da vigência do contrato ou de sua renovação, após suspensão, a indenização não será devida, se demonstrado, de forma inequívoca, pela seguradora, que houve premeditação. [...]. Assim, em se tratando de suicídio cometido durante o biênio imediatamente subseqüente ao da celebração do contrato deverá a seguradora, para elidir o dever de indenizar, comprovar que o suicídio foi premeditado. Isso porque a razão motivadora da norma é evitar fraude ao seguro, não se justificando, portanto, o não-pagamento da indenização, salvo se comprovado que o segurado agiu de má-fé ou, mais precisamente, que premeditou o suicídio [...].

Em complemento DINIZ125 disserta:

Realmente, o beneficiário não terá direito ao capital estipulado, quando o segurado se suicidar nos primeiros dois anos de vigência inicial do contrato, ou da sua recondução, depois de suspenso, hipótese em que o segurador deverá devolver ao beneficiário o montante da reserva técnica já formada (CC, art. 798 c/c o 797, parágrafo único) [...]. Não se compreendem, nessa hipótese, os casos em que não houver intenção deliberada de se matar (RT, 444: 127, 471:189, 538:235), como p. ex., [...] o suicídio inconsciente devido à insanidade mental [...].

Nessa linha de razão, MONTEIRO126 ensina:

Involuntário é o suicídio praticado em razão de força irresistível, sob o impulso de insopitável violência de ordem física ou moral, que lhe retira a natureza de ato livre, caracterizando-se como produto de força maior. Cláusula que exclua a indenização no suicídio involuntário é inoperante, porque contraria à própria finalidade econômica e específica do contrato de seguro.

Muitos doutrinadores, como SENE127, não concordam com a

nova redação do artigo 798 do Código Civil de 2002, fundamentando que a

125 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria das obrig ações contratuais e extracontratuais . 17.ed. São Paulo: Saraiva, 2002. v.3, p. 471-472. 126 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil . 32.ed. São Paulo: Saraiva, 2000. v.5. p. 354-355. 127 SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas: negativas de pagamento das segur adoras . p. 168-171.

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normal legal, mesmo editada validamente, não tem o condão de modificar, da

noite para o dia, todo o entendimento jurisprudencial e doutrinário, firmado ao

longo de quase cem anos. A alteração veio depois de vencida toda e qualquer

controvérsia, estando o entendimento pacificado quanto à obrigação de cobrir o

risco decorrente do suicídio involuntário.

Nas palavras de RIZZARDO128:

A questão do prazo é para o suicídio voluntário, ou aquele que a pessoa retira sua própria vida deliberadamente, encontrando-se em seu perfeito juízo. Se ela está doente, ou num estado mental psicótico tal que lhe subtrai a capacidade de raciocínio e de determinar seus atos, não se exige o implemento do prazo, pois equivale à morte por causa natural ou doença que independa da vontade humana.

Havendo alterações de vontade, seja por moléstia ou causas

emocionais, o que gera violação anômala, não se isenta a seguradora da

obrigação a qualquer tempo, como na morte por doenças comuns.

E finaliza SENE129:

[...] O fato de se estabelecer, por meio de lei, um prazo de carência, não modifica em nada a realidade fática do suicídio involuntário, que continua sendo produto de uma depressão profunda ou de alienação mental, que retira do indivíduo todo e qualquer controle sobre suas ações, o levando ao cometimento de atos, absolutamente impensados em seu estado normal.

Atualmente a aplicação da lei não pode ser sempre taxativa

e literal, devendo sempre admitir a inclusão dos valores da sociedade, o

entendimento dos doutrinadores e principalmente as jurisprudências e as súmulas

firmadas pelos Tribunais Superiores, buscando a adequação da lei a realidade da

nação.

128 RIZZARDO, Arnaldo. Contratos . p. 874-875. 129 SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas: negativas de pagamento das segur adoras . p. 171.

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3.1.3 Declaração Pessoal de Saúde – DPS

Ao realizar a contratação de um seguro de vida individual, o

segurado, normalmente, preenche uma declaração pessoal de saúde, onde

responde a perguntas elaboradas pela seguradora, que ajudam a mesma a prever

o risco e definir por aceitar ou não a efetivação do pacto.

No seguro de vida em grupo há seguradoras que dispensam

o preenchimento do mesmo até o valor de R$ 30.000,00 em média, todavia, só há

a dispensa após análise meticulosa da formação do grupo a ser segurado.

Ocorre que a declaração pessoal de saúde tem como

alicerce a inserção do princípio da boa-fé, exigido neste tipo de contrato, embora

muitas vezes o segurado seja omisso ao preenchê-la.

Comentando, SENE130 afirma que “[...] ao segurado cabe o

dever de fazer declarações verídicas sobre seu real estado de saúde, cujo

conteúdo é determinante para a aceitação da proposta, bem como para a fixação

do prêmio.”

O Superior Tribunal de Justiça já está farto de

jurisprudências acerca da possibilidade ou não de cobertura nos casos em que o

segurado omite ou negue a existência de doenças preexistentes. HARTEN131

coloca que inicialmente o entendimento era de “[...] que não caberia afastar a

obrigação da seguradora de indenizar, quando esta contratou a apólice sem

realizar prévio exame da saúde do segurado, vez que ela teria assumido o ‘risco

do negócio’[...]”. Todavia, existem decisões minoritárias que indicam inexistir a

obrigação da seguradora de realizar estes exames nos segurados.

Quando os Ministros percebem um aspecto que torna

possível a existência da má-fé do segurado, as decisões são proferidas no

sentido de que, mesmo sem os exames prévios, não há cobertura securitária

devida.

130 SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas: negativas de pagamento das segur adoras . p. 122. 131 HARTEN, Carlos. O contrato de seguro visto pelo Superior Tribunal d e Justiça . p. 110.

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Como já afirmado há jurisprudências nos três sentidos.

Primeiramente, se a seguradora aceitou o risco sem realizar exames de saúde

prévios:

Contrato de Seguro. Se a seguradora aceita a proposta de adesão, mesmo quando o segurado não fornece informações sobre o seu estado de saúde, assume os riscos do negócio. Não pode, por essa razão, ocorrendo sinistro, recusar-se a indenizar. (STJ – REsp 198.015/GO, Rel. Min. EDUARDO RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em 23.03.1999).

Há cobertura securitária, salvo prova de má-fé do segurado

em oculta-lá:

Nos termos da jurisprudência dominante deste Tribunal, a doença preexistente pode ser oposta pela seguradora ao segurado apenas se houver prévio exame médico ou prova inequívoca da má-fé do segurado. (AgRg no Ag 818.443/RJ, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 01.03.2007).

Ocorre a perda do direito a indenização pela omissão ou

falsidade do segurado na declaração do estado de saúde:

Ora, se o segurado devendo prestar declarações verdadeiras e completas, não as prestou, conforme noticiado no acórdão não procedeu de boa-fé: procedeu, isto sim, de má-fé.

Seguro Saúde. ‘Se o segurado’ – conforme acórdão recorrido –‘ao contratar o seguro, expressamente, omite que teve problemas de saúde, que jamais procurou medicou ou esteve internado, inválido é o ajuste’, não há dissídio com julgados segundo os quais não se presume a má-fé do segurado. Não houve aqui presunção. Procede de má-fé o segurado que não faz declarações verdadeiras e completas, omitindo ‘informações sobre a sua saúde’. Arts. 1443 e 1444 do Cód. Civil. Recurso Especial pela alínea ‘c’, de que a turma não conheceu. (STJ – REsp 49.731/RJ, Rel. Min. NILSON NAVES, TERCEIRA TURMA, julgado em 06.12.1994).

Cumpre salientar que a causa do sinistro deve estar

relacionado com a omissão ou negativa do segurado na declaração. Por exemplo,

se o segurado vier a falecer em um acidente de trânsito e não declarou na

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proposta que era portador de câncer na garganta, não gera nexo de causalidade

entre o evento danoso e a negligência do segurado.

Segundo MARTINS132:

A ausência de visualização acurado do risco por parte do segurado não pode servir de base para a negativa de indenização, sob a rubrica da omissão. Esta só restará definitivamente caracterizada quando ficar provado que o segurado sabia e devia ter dito sobre o que silenciou, à luz dos indícios e evidências concretas cujo juízo de valor venha a ser formado no conjunto das relações pré-negociais até o fechamento do contrato.

Em síntese, se o segurado não souber da existência da

doença no momento da contratação do seguro, a indenização é devida. Por outro

lado, caso omita e seja comprovada a má-fé nesta, deve realmente não fazer jus

a compensação.

No que tange aos recursos de reexame de prova pela

comprovação sumária da má-fé do segurado, MARENSI133 destaca: “as decisões

do Superior Tribunal de Justiça, [...], são no sentido de não conhecer destes

recursos diante de ‘fatos que informem, de modo indelével, a má-fé do segurado,

ao omitir informações a que estava obrigado [...]’”.

O mesmo doutrinador continua sua análise:

Porém, [...], se comprovada a boa-fé do segurado, ignorando seu real estado de saúde, [...], cão não saiba, realmente, que é portador de alguma doença grave, por ocasião da assinatura do cartão-proposta, que o vincula ao seguro de vida em grupo, não poderão os seus beneficiários deixar de receber o valor segurado. Procede-se aqui uma inversão do ônus da prova, cabendo à seguradora comprovar que o segurado era portador de grave enfermidade e que não ignorava seu verdadeiro estado de comprometimento.

132 MARTINS, João Marcos Brito. O contrato de seguro: comentado conforme as disposi ções do novo Código Civil . p. 67. 133 MARENSI, Voltaire. O seguro no direito brasileiro . p.39.

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Enfim, o princípio norteador do contrato de seguro é mais

uma vez invocado para satisfação da obrigação contratual, sempre em

conformidade com a lei.

Outra questão polêmica em relação aos questionários de

saúde é a pergunta existente neste que faz referência a prática de esportes

radicais, serviço militar e até mesmo de utilização de transportes arriscados

(p.ex.: moto-boy). Diante da assertiva do artigo 799 do Código Civil, a mesma

deveria ser totalmente dispensada, pela taxatividade do enunciado:

O segurador não pode eximir-se ao pagamento do seguro, ainda que da apólice conste a restrição, se a morte ou incapacidade do segurado provier da utilização de meio de transporte mais arriscado, da prestação de serviço militar, da prática de esporte, ou de atos de humanidade em auxílio de outrem.

Em comentário ao artigo, ALVES134 fundamenta:

Na realidade, o dispositivo em questão confirma, em maior escala, a responsabilidade do segurador, ainda que o óbito provenha de ato do segurado, no qual sobreleve maior risco e mesmo que da apólice conste essa restrição. Para que tal regra seja efetivamente aplicada, faz-se necessário que o segurado esteja em uma das quatro hipóteses taxativamente elencadas. São elas: o segurado há de estar no exercício regular do direito (prestação de serviço militar ou prática de esporte), praticando filantropia (atos de humanidade em auxílio de outrem) ou se utilizando de meio de transporte mais arriscado, quando – é óbvio – não vai prever o resultado, somente porque se trata de atividade de maior risco.

Assim, o contrato de seguro mantém seu fundamento de que

o sinistro deve ser proveniente de um evento futuro e incerto.

3.1.4 Agravação do Risco

O segurado deve sempre comunicar a seguradora os fatos

que possam agravar o risco já assumido por ela, para que essa assuma o

134 ALVES, Jones Figueiredo. Código Civil comentado . p. 726.

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agravamento ou resolva o contrato. Não informando a seguradora, ficará sujeito

ao previsto no artigo 769 do Código Civil:

Artigo 769 - O segurado é obrigado a comunicar ao segurador, logo que saiba, todo incidente suscetível de agravar consideravelmente o risco coberto, sob pena de perder o direito à garantia, se provar que silenciou de má-fé.

§1º O segurador, desde que o faça nos quinze dias seguintes ao recebimento do aviso da agravação do risco sem culpa do segurado, poderá dar-lhe ciência, por escrito, de sua decisão de resolver o contrato.

§2º A resolução só será eficaz trinta dias após a notificação, devendo ser restituída pelo segurador a diferença do prêmio.

Segundo os entendimentos de ROCHA FILHO135, “[...] a

omissão voluntária do segurado ensejará a perda do direito à cobertura

securitária. É facultado à Sociedade Seguradora continuar, ou não, com o

contrato após o agravamento do risco [...].”

Em complemento SILVA136 frisa que “[...] a plenitude da

sanção prevista no art. 769 do Código Civil ser dará quando o agravamento for

considerável, caso contrário não há de se falar em perda de direito à garantia.”

Para haver agravamento do risco, o fato dever ser a causa

do sinistro. Sendo assim, se o segurado não comunicar a alteração do risco à

seguradora e for surpreendido com um sinistro, esse deve ter relação com aquele.

Se não houver relação, a indenização é devida. Neste sentido:

Direito Civil. Contrato de seguro. Acidente de trânsito. Embriaguez do seguro. Excludente de responsabilidade não configurada. A embriaguez do segurado, por si só, não enseja a exclusão da responsabilidade da seguradora prevista no contrato, mas a pena da perda da cobertura está condicionada à efetiva constatação de que o agravamento de risco foi condição determinante na existência do sinistro. Recurso Recurso Especial conhecido e provido. – Desse modo, na esteira do precedente desta Turma,

135 ROCHA Filho, Gumercindo. O corretor de seguros à luz do novo código civil . p. 8. 136 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro . p. 112.

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entendo que a eventual ingestão de bebida alcoólica, ainda que em quantidade acima do permitido na legislação de trânsito, constitui risco inerente ao seguro de automóveis, dadas as condições comuns de trânsito. Logo, sua eventual exclusão como risco só implicará a pena do mencionado no art. 1.454 quando constatada vinculação determinante entre a condição e o acidente, tendo em vista as circunstâncias reais de cada caso. (STJ – REsp 599.985/SC, Rel. Min. ASFOR ROCHA, QUARTA TURMA, julgado em 02.08.2004).

Resta ressaltar as anotações de ALVES137 a respeito do §2º

do artigo 769, que enfatiza a importância do prazo de trinta dias para o

mantimento do contrato, concedendo ao segurado este período para buscar uma

solução ao caso ou até mesmo a revisitação da cláusula contratual no tocante ao

prêmio, ajustando-o a situação superveniente.

O artigo 768 do Código Civil é ainda mais severo ao dispor

que “o segurado perderá o direito à garantia se agravar intencionalmente o risco

objeto do contrato”. Quais condutas se enquadram nesse caput?

Algumas são mais comuns: entrega do veículo a pessoa

sem habilitação, conduzir o veículo em estado de embriaguez e furto facilitado por

funcionário do segurado. Já outras, apesar de controvérsias, não constituem

agravamento do risco: simples transferência de propriedade do veículo segurado,

mudança no trajeto em seguro de transporte de valores, conduzir veículo pela

contramão e, não manter no estabelecimento comercial, durante o contrato de

seguro, os sistemas de segurança contra sinistro.138

Veja-se decisões nos dois sentidos. Constituindo

agravamento do risco segurado:

Direito Civil. Seguro. Cláusula excludente do agravamento do risco. Furto facilitado pelos vigilantes da segurada. Validade. Recurso desprovido. I – no contrato de seguro, ressalvados os princípios da mais estrita boa-fé, assim como as regras que o disciplinam, e de observar-se o pactuado pelas partes. II – lícita se

137 ALVES, Jones Figueiredo. Código Civil comentado . p. 700. 138 HARTEN, Carlos. O contrato de seguro visto pelo Superior Tribunal d e Justiça . p. 123-130.

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apresenta estipulação efetuada pelas partes, voluntariamente, excluindo da cobertura eventuais atos culposos de empregados da segurada. (REsp 7.167/SP, Rel. Min. SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA TURMA, julgado em 16.10.1991).

Não configurando agravamento do risco:

Civil. Seguro facultativo. Transferência de veículo. Ausência de comunicação à seguradora. A só e só transferência de titularidade do veículo segurado sem comunicação à seguradora não constitui agravamento do risco. [...]. (REsp 188.694/MG, Rel. Min. CESAR ASFOR ROCHA, QUARTA TURMA, julgado em 18.04.2000).

Enfim, se por ventura a seguradora negar a indenização

baseada no agravamento intencional do risco, essa deve ser por escrito e

justificada na lei ou nas condições gerais do contrato.

A não comunicação imediata da ocorrência do sinistro para a

seguradora também gera a possibilidade da negativa do atendimento ao

segurado. A decisão é fundamentada no Código Civil, que, em seu artigo 771

define:

Artigo 771 - Sob pena de perder o direito à indenização, o

segurado participará o sinistro ao segurador, logo que o saiba, e tomará as providências imediatas para minorar-lhe as conseqüências.

Parágrafo único. Correm à conta do segurador, até o limite fixado no contrato, as despesas de salvamento conseqüente ao sinistro.

Comentando o artigo, ALVES139 salienta:

A par da obrigação cometida ao segurado de fazer ciente o segurador da ocorrência do sinistro, cumpre-lhe agora, também, empreender providências imediatas para atenuar as conseqüências deste, diligências e iniciativas que, por regras de experiência máxima, são mais factíveis ao emprego do segurado do que da seguradora, comunicada ao depois e que, por razões lógicas, pouco ou nada dispõe de condições para atenuação [...].

139 ALVES, Jones Figueiredo. Código Civil comentado . p. 701.

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Na realidade a seguradora tem que demonstrar que se o

segurado tivesse avisado no momento que conheceu o dano, teria evitado que

ocorresse o prejuízo ou que fosse atenuado.

O Superior Tribunal de Justiça já resolveu sobre a matéria:

Indenização. Seguro de vida em grupo e acidente pessoal. Acidente típico ocorrido durante a vigência do contrato de seguro. Responsabilidade da seguradora pelas conseqüências do fato, ainda que vencido o prazo contratual. – A responsabilidade da companhia seguradora decorre do fato (acidente típico), do qual resultaram seqüelas incapacitantes, evento lesivo esse que ocorreu no período de vigência do contrato de seguro com ela celebrado. – Irrelevância, na espécie, da falta de comunicação do sinistro à seguradora. Recurso Especial conhecido e provido parcialmente. (REsp 173.190/SP, Rel. Min. BARROS MONTEIRO, QUARTA TURMA, julgado em 13.12.2005)

Nas palavras de SILVA140:

É, [...], dever do segurado preservar o que sobrou da coisa segurada, ou seja, do salvado. Com efeito, o salvado em sinistros de dano é a coisa, ou o que dela sobrou, sendo certo que ela, posteriormente à indenização, pertencerá ao segurador.

O fato de a coisa estar garantida pelo seguro não autoriza

qualquer desídia por parte do seu dono ou possuidor. Esse comportamento

previdente decorre, inclusive, do dever de lealdade que as partes devem guardar

no contrato de seguro.

Então, cumpre ao segurado avisar a seguradora assim que

tiver certeza da ocorrência do sinistro, evitando perda de indenização futura.

Muito embora muitas pessoas desconheçam essa necessidade de comunicação

imediata, o que gera diversos problemas no decorrer do processo de regulação

do sinistro.

140 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro . p. 138.

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3.1.5 Questionário Perfil

O preenchimento do questionário de perfil no seguro de

automóvel segue o mesmo preceito da boa-fé ao preencher a declaração pessoal

de saúde no seguro de pessoas. É super importante na taxação do seguro e,

justamente por isso, influencia uma negativa em caso de omissão por má-fé. Para

MENDONÇA141:

[...] o questionário do perfil do segurado foi desenvolvido justamente para permitir uma taxação mais exata de cada risco, levando em conta as particularidades de cada motorista e o do uso do veículo, o que pode resultar em preços diferentes para seguros hipoteticamente semelhantes. [...]

O artigo 766 do Código Civil retrata justamente a

possibilidade da não ocorrência da indenização pela razão já exposta:

Artigo 766 - Se o segurado, por si ou por seu representante, fizer

declarações inexatas ou omitir circunstâncias que possam influir na aceitação da proposta ou na taxa do prêmio, perderá o direito à garantia, além de ficar obrigado ao prêmio vencido.

Parágrafo único. Se a inexatidão ou omissão nas declarações não resultar de má-fé do segurado, o segurador terá direito a resolver o contrato, ou a cobrar, mesmo após o sinistro, a diferença do prêmio.

Importante inserir o conhecimento de MONTEIRO142 a

respeito da matéria:

[...] o legislador só comina pena para o segurado, porque este é que tem maior possibilidade de burlar o dever de veracidade e boa-fé, inerentes ao contrato. Se a dobrez e a má-fé promanam do segurador, poderá o segurado pleitear a anulação do seguro; se do segurado, como é mais freqüente, a conseqüência também é a nulidade, [...].

141 MENDONÇA, Antonio Penteado. Temas de seguro . p. 100. 142 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito das obrigações . 4.ed. São Paulo: Saraiva, 1965, v.2., p. 357.

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Com a mesma abordagem, ROCHA FILHO143 faz importante

lembrança:

[...] a má-fé não se presume, ao contrário, exige prova robusta e inequívoca de sua existência.

Outrossim, aplicando-se a possibilidade de inversão do ônus da prova a favor do consumidor (Art. 6º, inciso VIII, da Lei nº 8.078/90 – Código de Defesa do Consumidor) cabe às Sociedades Seguradoras que alegam má-fé do Segurado, demonstrá-la.

A inexatidão ou a omissão no preenchimento dos quesitos

do questionário de perfil levam à seguradora a possibilidade de não liquidar o

sinistro. Julgados recentes demonstram tal assertiva:

APELAÇÃO CÍVEL. SEGURO. PERFIL. BOA-FÉ. Somente com prova da má-fé do segurado no preenchimento da avaliação do risco é que pode ser cogitada a possibilidade de perder o direito à indenização securitária quando ocorrido o risco contratado. NEGARAM PROVIMENTO. UNÂNIME. (Apelação Cível 70032234544, Quinta Câmara Cível, Relator Des. Luiz Felipe Brasil Santo, julgado em 14/04/2010. TJRS).

De outro tribunal:

Apelação Cível. Contrato de Seguro. Furto de Veículo. Ausência de Prova de Violação da Cláusula Perfil Idônea a Eximir a Seguradora do Pagamento da Indenização. Dano Moral Indenizável de Pequena Monta que Justifica a Redução da Indenização para Dois Mil Reais. RECURSO A QUE SE DÁ PARCIAL PROVIMENTO. (Apelação Cível 0001245-08.2006.8.19.0042, Quinta Câmara Cível, Relator Des. Márcia Alvarenga, julgado em 02/03/2010. TJRJ).

Realmente, provar a existência da má-fé não é algo fácil, por

isso, dificilmente há um processo no qual a seguradora sai vitoriosa, com toda a

demanda positiva a seu favor.

143 ROCHA FILHO, Gumercindo. O corretor de seguros à luz do novo código civil . p. 14.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente monografia teve como objeto de estudo a matéria

pertinente ao contrato de seguro e os possíveis motivos que levam as

seguradoras a recusar o pagamento de eventuais indenizações. Pôde-se verificar

a importância desse tema e principalmente notar que há muita divergência entre

os julgados a respeito da matéria. Cada situação é analisada particularmente, não

sendo totalmente vinculada a legislação.

O interesse pelo tema surgiu em virtude desse estar

presente no cotidiano da sociedade, que diariamente encara situações em que

não tem seu risco contratado coberto, mesmo após o pagamento do prêmio do

seguro.

Para uma melhor apreciação do assunto abordado e

consequente desenvolvimento lógico da matéria, se fez imprescindível dividir a

monografia em três capítulos, sendo que, no primeiro capítulo foi realizado um

estudo sobre os conceitos de seguro, percebendo-se sua origem e evolução

histórica, seu conceito atual, sua classificação como negócio jurídico e também as

modalidades expressas no Código Civil Brasileiro.

No segundo capítulo, ocupou-se em especificar os

instrumentos e elementos para formação do contrato de seguro, ou seja, da

apólice. Explanando principalmente sobre risco, prêmio, segurador, corretor de

seguros, segurado, beneficiário e indenização, conceitos fundamentais para o

bom entendimento da pesquisa realizada.

No capítulo final o tema foi tratado com ênfase, sendo que

os fatores de extrema relevância foram abordados individualmente, com

entendimentos doutrinários e jurisprudenciais que ajudaram a obter uma

compreensão acerca dos maiores motivos de negativas de pagamento por parte

das seguradoras. São eles a ingestão de álcool e o uso de drogas, o suicídio, a

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declaração pessoal de saúde elaborada pelo segurado, a agravação do risco e

também as informações fornecidas para o preenchimento do questionário perfil.

Com relação às hipóteses, verificou-se que, a primeira não

procede, já que os entendimentos doutrinários e jurisprudenciais apontam para

decisões divergentes da solução taxada no Código Civil. Ocorre que o

pensamento é que a indenização somente não será devida se o suicida já

planejava sua morte antes de contratar o seguro, ou seja, já tinha intenção de

ceifar a própria vida e fez o seguro dotado de má-fé. Sendo assim, o prazo de

dois anos de carência não é taxativo, os casos são analisados individualmente e

com resultados muitas vezes diferentes.

Observando a segunda hipótese, é possível notar que os

julgados e o pensamento doutrinário caminham para uma unanimidade com o

passar dos anos. Sempre justificando que, o segurado/beneficiário não terá direito

a cobertura, pelo bem da sociedade, pois é do senso comum que se você beber,

você não pode dirigir. Todavia, ainda há posicionamentos que favorecem o

praticante do ilícito, tendo em vista que o famoso nexo causal não foi confirmado

pela seguradora. A seguradora deve provar que a ingestão de álcool ou o

consumo de drogas provocou o sinistro, porém, se não evidenciado, a

indenização é devida, pois não houve nexo causal entre sinistro e atos externos

do segurado.

Enfim, a terceira hipótese segue o mesmo posicionamento

da supra citada, já que com o nexo causal confirmado ou com prova da má-fé por

parte do segurado, nada mais justo que a negativa da indenização por parte da

seguradora. Sendo assim, quando munida de má-fé a terceira hipótese resta

confirmada. O difícil, quase impossível, é provar isso!

Com o término da pesquisa e da monografia, que resultou

neste trabalho, foi possível perceber que o contrato de seguro tem suas

peculiaridades quanto à questão da indenização, que muitas vezes não é devida

mesmo com o prêmio pago.

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763, 903, 937, 938, 1.242, 1.361, 1.572, 1.582, 1.584, 1.622, 1.647, 1.702, 1.704,

1.714, 1.716 , 1.720 , 1.767 e 1.793 , da Lei nº. 10.406 de 10 de janeiro de 2002,

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