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Contribuições da Psicopedagogia Para a Educação de Jovens e Adultos Unidade 1 – Andragogia e as Teorias da Aprendizagem VAMOS DEFINIR OS TERMOS PEDAGOGIA, ANDRAGOGIA E HEUTAGOGIA? Querido aluno, a intenção desse tópico é diferenciar os termos: Pedagogia, Andragogia e Heutagogia. A palavra Pedagogia, de origem grega teve seu início através da Paidéia (séc. V e VI a.C,) e designava o escravo que conduzia crianças. Assim, paidós significa crianças e agogus guiar, conduzir ou educar. Posteriormente os escravos passaram a ser conhecidos como paidagogos e conduziam seus filhos e crianças filhos dos seus senhores. Assim, a Grécia foi considerada o berço da Pedagogia. Iniciando pela Pedagogia, historicamente torna-se importante acompanhar a trajetória do Curso de Pedagogia no Brasil. Lima (2002, p. 209) identifica três fases distintas. A primeira localiza-a a partir da sua estruturação em 1939, “[...] até à Reforma Universitária instituída pela Lei 5540/68 (BRASIL, 1968)”. A segunda, desta data até 1996, quando da promulgação da nova LDB 9.394/96 (BRASIL, 1996), e a terceira, que compreende o período de 1996 até o presente momento. A autora relata que, no início, o Curso era composto por duas fases, a primeira que formava o Bacharel e tinha uma duração de três anos e a “[...] segunda, com um ano de estudos de Didática formava o Licenciado” (SILVA apud LIMA, 2002, p. 210), o qual, dada esta certificação, poderia atuar nas antigas Escolas Normais, porém após uma formação dicotômica entre teoria e prática. Libâneo descreve o campo da Pedagogia como: Pedagogia é, então, o campo do conhecimento que se ocupa do estudo sistemático da educação, isto é, do ato educativo, da prática educativa concreta que se realiza na sociedade como uns dos ingredientes básicos da configuração da atividade humana (LIBÂNEO, 1999, p. 25). A função do Pedagogo é de articulador do trabalho pedagógico na escola, combatendo paradigmas conservadores que conferem à instituição de ensino a função de transmitir os saberes que a sociedade considera importante para a manutenção da ordem e do progresso. A visão de homem como pessoa inserida no mundo, privilegia o grande número de informações, que deverão ser propagadas no exercício de sua futura profissão. A educação formal deve dar conta da transmissão da realidade de mundo. O ensino está centrado no professor, que tem autoridade máxima na sala de aula, que reproduz mecanicamente conhecimentos. Os paradigmas conservadores podem ser classificados em: “[...] paradigma tradicional, paradigma escolanovista e paradigma tecnicista” (BEHRENS, 2010, p. 41).

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Unidade 1 – Andragogia e as Teorias da Aprendizagem

VAMOS DEFINIR OS TERMOS PEDAGOGIA, ANDRAGOGIA E HEUTAGOGIA?

Querido aluno, a intenção desse tópico é diferenciar os termos: Pedagogia, Andragogia e Heutagogia. A palavra Pedagogia, de origem grega teve seu início através da Paidéia (séc. V e VI a.C,) e designava o escravo que conduzia crianças. Assim, paidós significa crianças e agogus guiar, conduzir ou educar.

Posteriormente os escravos passaram a ser conhecidos como paidagogos e conduziam seus filhos e crianças filhos dos seus senhores. Assim, a Grécia foi considerada o berço da Pedagogia. Iniciando pela Pedagogia, historicamente torna-se importante acompanhar a trajetória do Curso de Pedagogia no Brasil. Lima (2002, p. 209) identifica três fases distintas. A primeira localiza-a a partir da sua estruturação em 1939, “[...] até à Reforma Universitária instituída pela Lei 5540/68 (BRASIL, 1968)”. A segunda, desta data até 1996, quando da promulgação da nova LDB 9.394/96 (BRASIL, 1996), e a terceira, que compreende o período de 1996 até o presente momento. A autora relata que, no início, o Curso era composto por duas fases, a primeira que formava o Bacharel e tinha uma duração de três anos e a “[...] segunda, com um ano de estudos de Didática formava o Licenciado” (SILVA apud LIMA, 2002, p. 210), o qual, dada esta certificação, poderia atuar nas antigas Escolas Normais, porém após uma formação dicotômica entre teoria e prática.

Libâneo descreve o campo da Pedagogia como:

Pedagogia é, então, o campo do conhecimento que se ocupa do estudo sistemático da educação, isto é, do ato educativo, da prática educativa concreta que se realiza na sociedade como uns dos ingredientes básicos da configuração da atividade humana (LIBÂNEO, 1999, p. 25).

A função do Pedagogo é de articulador do trabalho pedagógico na escola, combatendo paradigmas conservadores que conferem à instituição de ensino a função de transmitir os saberes que a sociedade considera importante para a manutenção da ordem e do progresso. A visão de homem como pessoa inserida no mundo, privilegia o grande número de informações, que deverão ser propagadas no exercício de sua futura profissão. A educação formal deve dar conta da transmissão da realidade de mundo. O ensino está centrado no professor, que tem autoridade máxima na sala de aula, que reproduz mecanicamente conhecimentos. Os paradigmas conservadores podem ser classificados em: “[...] paradigma tradicional, paradigma escolanovista e paradigma tecnicista” (BEHRENS, 2010, p. 41).

O trabalho do pedagogo e da escola como um todo, volta-se para o paradigma da complexidade que surge da necessidade de possibilitar mudanças na educação que ultrapassem o modelo cartesiano. Esse paradigma compreende uma visão holística, onde o mundo é visto de forma integrada, combatendo a fragmentação do conhecimento, que reveste-se de características em rede, propondo a interconexão entre o conhecimento.

Capra (2004), ao se referir a esse paradigma, afirma que “[...] pode ser chamado de uma visão de mundo holística, que concebe o mundo como um todo integrado, e não como uma coleção de partes dissociadas” (CAPRA, 2004, p. 25). Assim, o ser humano é visto como um todo, assim, a proposta educacional valoriza uma postura ativa, reflexiva e crítica do sujeito. Destaca também, a necessidade de o aluno produzir conhecimento de forma autônoma, prevalecendo o exercício da criatividade e o espírito investigativo, tendo como foco “[...] a visão complexa do universo e a educação para a vida” (BEHRENS, 2006, p. 14). Behrens (2000) coloca o professor na posição de articulador do trabalho pedagógico, mas destaca que o atendimento ao aluno precisa ser

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diferenciado, que busque o processo de aprender por toda a vida, dessa forma aprendizagem precisa ser significativa, para que possamos formar alunos com autonomia.

Sobre a Andragogia, a terminologia não é tão recente, foi utilizada pela primeira vez por Alexander Kapp em 1833. Contudo, enquanto um conjunto de conceitos sobre a educação de adultos foi introduzida mais tarde, pelo americano Malcolm Knowles, sendo considerado precursor da Andragogia, sua obra em 1900 The modern Practice of Adult Education, fazia referência a alguns mestres como: Confúcio, Lao Tse, Sócrates, Platão, Jesus Cristo, etc. e baseava-se em um modelo andragógico pragmático, que contemplava um modelo pedagógico.

Knowles (apud NOGUEIRA, 2004, p. 5) apresenta algumas características da aprendizagem dos adultos:

a) necessitam de saber o motivo pelo qual devem realizar certas aprendizagens;b) aprendem melhor experimentalmente;c) concebem a aprendizagem como resolução de problemas;d) aprendem melhor quando o tópico possui valor imediato e os motivadores mais potentes para a aprendizagem são internos.

A missão do professor é de “[...] ultrapassar a reprodução para a produção do conhecimento [buscando] opções metodológicas que caracterizem uma ação docente compatível com as exigências e necessidades do mundo moderno” (BEHRENS, 2010, p. 62). Nessa perspectiva, é importante que o docente reflita sobre a finalidade da sua ação educativa, reconhecendo as potencialidades de seus alunos. O aluno deve ser visto como ser complexo e competente, mas, para que se atinjam os objetivos é necessário estabelecer o respeito entre as pessoas, através de um ambiente harmonizador. “Com a globalização os pressupostos de informação foram ampliados, e os alunos podem acessar com independência o universo da rede de informação” (BEHRENS, 2010, p. 66).

O termo Heutagogia se refere à autoaprendizagem e aprendizagem colaborativa, surgiu em 2000, de origem grega (heuta - próprio+agogus = guiar, conduzir, educar) foi definido pela primeira vez por Hase e Kenyon (2000) sendo muito utilizado na EaD - educação à distância.

Considerando-se que o mundo globalizado é, também, marcado pela evolução das ciências, das tecnologias e das inúmeras informações disponíveis no ciberespaço, não há como ignorar que “[...] tudo isso gera um descompasso na forma como pensamos, fazemos e sentimos, fruto da própria complexidade de nossa dinâmica evolutiva [...]” (GUEVARA; DIB, 2007, p. 1). Assim, há que o indivíduo saiba organizar o conhecimento, não lhe basta ter-lhe acesso, mas consciência sobre esses saberes, adquirir competências para saber lidar com o crescente volume de informações. Tal postura exige flexibilidade, podendo escolher o que precisa ou deseja aprender, respeitando seus estilos de aprendizagem e flexibilidade em relação a espaço tempo e ritmo de aprendizagem. Não podemos caracterizar uma faixa de idade para a Heutagogia, alguns autores fazem referência a geração digital, ou seja, pessoas nascidas a partir de 1980.

Como lembra Edgar Morin, ao fazer referência a Montaigne: “[...] mais vale uma cabeça bem-feita que bem cheia” (MORIN, 2011, p. 21) nesse sentido, ao trabalhar com os conteúdos é necessário que os professores imitem seus alunos a exercitar a criatividade, a fomentarem a dúvida, e a problematizar os conteúdos que aprende, organizando-os, pois o efeito do ensino não se reduz à simples acumulação de conhecimentos. Esse autor defende a importância e a necessidade de professores e alunos procurarem estabelecer “[...] as relações e inter-retro-ações entre cada fenômeno e seu contexto” (MORIN, 2011, p. 25) buscando a unidade de pensamento, e desse modo, derrubarem os limites entre os saberes das disciplinas, a fim de que alcancem os “princípios organizadores do conhecimento” (MORIN, 2011, p. 25), os quais evidenciam as relações entre as partes, percebendo que os saberes necessitam de contextualização e globalização. Desenvolvendo uma prática não fragmentada, isto é, oposta à compartimentação,

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segundo esse autor, pode-se levar o aluno a aprender a aprender, de forma autônoma e articulada, em um processo que o coloca como agente da sua própria formação. Heutagogia pode ser associada ao “autodidatismo”, a aprendizagem em rede. Litto (2009) contribui para a diferenciação dos termos, dessa forma construímos um quadro que retrata seu posicionamento:

Quadro: Diferenças entre Pedagogia, Andragogia e Heutagogia

Fonte: Adaptado de Litto (2009)

Morin (2011) descreve pontos importantes relacionados à missão de ensinar, como: levar os alunos a contextualizar e distinguir os problemas multidimensionais; prepará-los para compreender a crescente complexidade dos problemas, prepará-los para enfrentar as incertezas, educando-os para a compreensão humana e ensinando a cidadania. O mundo é visto de forma integrada, combatendo a fragmentação do conhecimento, onde se adota características de rede, que propõe a interconexão entre o conhecimento. Capra (2004) ao se referir a esse paradigma, afirma que este “[...] pode ser chamado de uma visão de mundo holística, que concebe o mundo como um todo integrado, e não como uma coleção de partes dissociadas” (CAPRA, 2004, p. 25).

A proposta fundamental é reconhecer que nossos alunos são marcados por diferenças individuais e na perspectiva andragógica a aprendizagem de adultos se diferencia das crianças e adolescentes, uma vez que os adultos são auto motivados, possuem uma vivência rica em experiências, tanto na sua vida pessoal como profissional, são capazes de agir e tomar decisões de forma autônoma. O sentido é de formação ao longo da vida, podendo refletir e realizar escolhas, dando novos direcionamentos.

TEORIAS DE APRENDIZAGEM E ANDRAGOGIA

MALCOM KNOWLES

O princípio básica da aprendizagem de adultos é o auto direcionamento, a autonomia possibilitados pela maturação orgânica e prontidão, que ao longo da vida vão se aprimorando a medida que novas experiências vão surgindo. Partindo dos pressupostos teóricos de Knowles, a definição inicial de andragogia proposta pelo autor, foi a seguinte: “[...] a arte e a ciência de ajudar os adultos a aprender” (KNOWLES, 1980, p. 43). Posteriormente defendeu a Andragogia como disciplina que tem como objeto de estudo a educação de adultos e sua formação.

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Para Osório (2003)

Knowles, será quem mais se empenha na defesa de um termo independente para se referir à prática e ao estudo de adultos com base no facto de, apesar de alguns princípios da educação infantil serem aplicáveis à dos adultos, a sua posição social, as suas responsabilidades perante os outros e as suas funções são muito diferentes das primeiras idades e isso exige uma nova disciplina (2003, p. 92).

Ao definir princípios básicos da Andragogia, Knowles (1980), apresenta cinco: Autoconceito; experiência; prontidão para aprender; orientação para a aprendizagem: solução de problemas e motivação para aprender. O autoconceito diz respeito a capacidade do adulto de ser auto direcionado, para agir e forma independente, podendo tomar decisões, fazer escolhas e responsabilizar-se por elas.

Segundo Knowles, Horton e Swanson (1998 apud CARDOSO, 2006, p. 34) dois conceitos prevalecem:

1) O aprendiz se auto-ensina, ou seja, possui o controle e técnica de se ensinar um determinado conteúdo.2) O chamado aprendiz autodidata, cuja autonomia significa não só assumir o controle das metas e propósitos da aprendizagem, bem como a autoria do próprio aprendizado. Isto o leva a uma mudança interna de consciência, na qual o aprendiz vê o conhecimento como contextualizado e pode questionar o que é aprendido.

Outro pressuposto diz respeito à experiência, ao lodo da vida acumulamos experiências que são fundamentais para a aprendizagem. È importante que ao organizar sua prática pedagógica, o professor considere essa gama de saberes que são fruto da experiência, trabalhando com situações problema.

Qualquer grupo de adultos traz consigo uma gama maior de experiências do que um grupo de adolescentes mais velhos. Os adultos são mais heterogêneos em termos de experiências prévias, necessidades, motivação, estilos de aprendizagem, interesses e metas. Portanto, a ênfase na educação de adulto deve ser colocada na individualização das estratégias de ensino e aprendizagem (CARDOSO, 2006, p. 35).

A Prontidão para aprender está associada às tarefas executadas pelo adulto ao desempenhar diferentes papéis sociais è fundamenta que o professor possa estar

[...] atento às mudanças em suas necessidades de direcionamento e apoio ao longo da experiência de aprendizagem. O desenvolvimento dessa prontidão pode ser estimulado através de exposição a modelos superiores de performance, aconselhamento de carreira, exercícios de simulação e outros (CARDOSO, 2006, p. 39).

A Motivação para aprender está diretamente relacionada a possibilidade de aplicação imediata do conhecimento, assim a orientação passa ter foco em problemas. Adultos buscam satisfação com o sucesso obtido em sua aprendizagem, pelo que aprenderam, são direcionados por objetivos e valorizam o que aprendem.

O modelo andragógico de Knowles, Holton e Swanson (1998) considera que o adulto tende a ser mais motivado para uma aprendizagem que irá ajudá-lo a resolver problemas da sua vida ou que resultará em recompensas pessoais e internas. Esses motivos são pressões internas, como, por exemplo, o desejo de aumentar a satisfação no trabalho, a auto-estima, a qualidade de vida. O que não quer dizer que o adulto também não responda às motivações externas, como uma

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melhor opção de emprego, aumento de salário, promoção, etc. Mas com certeza as motivações internas são as mais significativas (apud CARDOSO, 2006, p. 40-41).

Quanto à orientação para a aprendizagem: solução de problemas em problemas, está relacionada às aprendizagens adquiridas em função da aplicação em situações reais.

[...] os adultos têm a sua orientação para aprendizagem centrada na vida e sentem-se motivados a aprender algo a partir do momento em que percebem que o aprendizado irá ajudá-los na resolução de problemas, tarefas, ou lidar com situações do dia-a-dia (CARDOSO, 2006, p. 25).

Knowles (1980) esclarece a aprendizagem de adultos está diretamente relacionada ao desempenho de papéis sociais desenvolvidos na família, no desempenho profissional e nas comunidades, entre outros.

CARL ROGERS

Carl Rogers influenciou muito as propostas andragógicas em 1950, propõe um ensino com base na autonomia do aluno em aprender, onde o centro do processo encontra-se no aluno, o professor é visto como facilitador. A escola torna-se o espaço ideal para a formação de atitudes, visando a excelência no relacionamento interpessoal, preocupando-se mais com os problemas psicológicos do que com os pedagógicos ou sociais (LIBÂNEO, 1990).

A educação deve facilitar a aprendizagem do aluno com o objetivo de:

Liberar a sua capacidade de auto-aprendizagem de forma que seja possível seu desenvolvimento tanto intelectual quanto emocional. Seria a criação de condições nas quais os alunos pudessem tornar-se pessoas de iniciativa, de responsabilidade, de autodeterminação, de discernimento, que soubessem a aplicar-se a aprender as coisas que lhe servirão para a solução de seus problemas e que tais conhecimentos os capacitassem a se adaptar as novas as novas situações, aos novos problemas (MIZUKAMI, 1986, p. 45).

Segundo Mizukami (2002, p. 53)

[...] cada educador eficiente, deve desenvolver um estilo próprio para facilitar a aprendizagem dos alunos. Dessa forma, aprender consiste em um processo de modificar percepções, dando ênfase a relação pedagógica e um clima favorável de desenvolvimento.

Aprender é modificar suas próprias percepções. Defende-se a auto-avaliação, onde o aluno deve assumir responsabilidades e o professor avaliá-lo tendo como parâmetro os objetivos a serem atingidos.

É importante que o professor esteja aberto às experiências, aceitar a pessoa do aluno assim, “[...] as técnicas audiovisuais, técnicas didáticas, recursos, meio e mídia, etc., tem muito pouca importância” (MIZUKAMI, 2002, p. 53). A relação pedagógica entre professor e aluno é extremamente valorizada e deve ser autêntica, onde deve estabelecer um clima harmonizador e favorável para desencadear a liberdade para aprender, o aluno é sempre respeitado e considerado capaz de governar suas ações rumo à aprendizagem. É preciso que tenha confiança na capacidade de todos em sala de aula, ser confiável e receptivo.

Predomina a não-diretividade, na qual o professor cria as condições de atuação do aluno e deve ser especialista em relações humanas e despertar confiança e respeito pelo aluno. A metodologia baseia-se na autogestão e valoriza-se a autoavaliação do aluno como parte da aprendizagem, da autocrítica e da responsabilidade.

LEV VYGOTSKTY

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O psicólogo e filósofo Vygotsky (1988-1989) de origem russa, dedicou-se a perspectiva sociointeracionista, recuperando conceitos da aprendizagem significativa. Acredita que a aprendizagem sustenta o desenvolvimento humano e as funções psicológicas superiores são fruto do desenvolvimento cultural. Concebe relevância as relações dialógicas mediadas e considera o homem um ser histórico cultural. A teoria de Vygotsky se inscreve no conceito de zona de desenvolvimento proximal (ZDP), Vygotsky (1991) delimita dois níveis de desenvolvimento, o nível de desenvolvimento real, que corresponde às tarefas que a criança desempenha em um dado momento, sem o auxílio do professor, e muitas vezes, comete erros ao desempenhar tais tarefas. O nível de desempenho potencial corresponde às tarefas que pode realizar, mas tem limitações, necessitando assim, da ajuda de outras pessoas. São ações que não pode realizar sozinha, mas com o tempo terá maior autonomia. Com a mediação, valorizam-se as potencialidades do aluno levando-o a superar limites e a vencer desafios.

Partindo dos pressupostos teóricos de Vygotsky, a ZDP (Zona de Desenvolvimento Proximal) leva o aluno a compreender e enfrentar as tarefas e dificuldades, graças à ajuda e aos recursos oferecidos por meio da interação, assim o que:

[...] a pessoa é capaz de fazer com a ajuda da ZDP, em um dado momento, poderá realizar independentemente mais tarde: aquilo que primeiro pode ser realizado no plano social ou inter-pessoal poderá, mais tarde, ser dominado e realizado de maneira autônoma pelo participante inicialmente menos competente (ONRUBIA, 1999, p. 123).

Para Vygotsky (1991, p. 97):

[...] a distância entre o nível do desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes.

Nos dizeres de Onrubia (1999, p. 124) a intervenção do professor é uma ajuda ajustada e deve ser diversificada, “[...] ajustar-se e criar ZDP requer necessariamente variação e diversificação nas formas de ajuda”. Assim, o professor deve respeitar o universo cultural do aluno, favorecendo a interação, sendo o mediador que promove atividades cooperativas. A aprendizagem é potencializada pela zona de desenvolvimento proximal (ZDP), sendo favorecida também pela interação do aluno com seus pares. Vygotsky (1978) assinala a necessidade de criação da ZDP, através da interação e da cooperação.

A intervenção realizada pelo professor pode ser em alguns momentos, ajuda ajustada para alguns alunos e em outros, para outros grupos de alunos em outros momentos pode não surtir efeito, em função dos sentidos que atribuíram. Assim, o ensino não pode oferecer sempre o mesmo tipo de ajuda. “Ajustar-se e criar ZDP requer necessariamente variação e diversificação nas formas de ajuda” (ONRUBIA, 1999, p. 124).

PAULO FREIRE

Paulo Freire um dos grandes educadores brasileiros, suas obras foram traduzidas em dezenas de línguas, para o autor o aluno é um sujeito historicamente situado, a meta da instituição de ensino é prepará-lo para ser agente de transformação. Sua proposta educacional parte de uma análise critica da realidade e tem como eixo central o contexto sócio-político-econômico-cultural da sociedade, assim, a educação é espaço de

[...] conflitos, interesses sociais contraditórios, lutas de poder, e no qual é possível criar-se um discurso crítico capaz de desvelar esta realidade, seus condicionamentos sócio-econômicos e as condições necessárias à sua superação. Neste contexto, torna-se imprescindível a discussão

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sobre a cultura popular versus cultura erudita, enfim, passa-se necessariamente a discutir a problemática da democratização da cultura (SCHÜTZ-FOERSTE, 1996, p. 43).

A proposta implica, de acordo com Saviani (2008), ver com transparência os determinantes sociais da educação, posicionamento do professor em relação as contradições para direcionar-se de forma adequada em relação as questões educacionais. O precursor dessa proposta é Paulo Freire. De acordo com Freire (2004, p. 26, grifo do autor):

[...] ensinar não se esgota no “tratamento” do objeto ou do conteúdo, superficialmente feito, mas se alonga à produção das condições em que aprender criticamente é possível. E essas condições implicam ou exigem a presença de educadores e de educandos criadores, instigadores, inquietos, rigorosamente curiosos, humildes e persistentes. [...] nas condições de verdadeira aprendizagem os educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador, igualmente sujeito do processo. Só assim podemos falar realmente do saber ensinado, em que o objeto ensinado é apreendido na sua razão de ser e, portanto, apreendido pelos educandos.

Essa abordagem possibilita ao aluno uma leitura de mundo mais crítica e transformadora. A relação professor e aluno não é imposta, mas horizontal e de acordo com Mizukami (2002, p. 99) “[...] o professor procurará criar condições para que, juntamente com os alunos a consciência ingênua seja superada e que estes possam perceber as contradições da sociedade e grupos em que vivem”. A dialogicidade está sempre presente, e quanto à avaliação prevalece a auto-avaliação, priorizando a abordagem formativa. É uma proposta de trabalho não formal, revestida por um caráter político e considerada um ato amoroso. Essa abordagem percebe o professor como orientador do ensino, centrando seu trabalho em temas sociais e políticos, visando a ação transformadora sobre a realidade e seus problemas. Enfatiza o diálogo, o trabalho em grupo, debates, relatos de experiências a partir dos temas geradores.

DAVID KOLB - TEORIA EXPERIENCIAL DE APRENDIZAGEM

David Kolb em 1984 publicou o livro: Aprendizagem Experiencial: Experiência Como a Fonte de Aprendizagem e Desenvolvimento. Partindo do princípio que o aluno adulto apresenta maturação e prontidão para aprender, afirma que sua aprendizagem é marcada pelo autodirecionamento.

Kolb inclui esse ‘círculo de aprendizagem’ como um princípio central de sua teoria de aprendizagem experiencial, tipicamente expressa como círculo de aprendizagem de quatro estágios, em que ‘experiências imediatas ou concretas’ fornece uma base para ‘observações e reflexões’. Tais ‘observações e reflexões’ são assimiladas e destiladas em ‘conceitos abstratos’, produzindo novas implicações para a ação que pode ser ‘ativamente testada’, a qual, por sua vez, cria novas experiências (BATISTA; SILVA, 2010, p. 2, grifo do autor).

Kolb (1984) acredita que o processo de aprendizagem de adultos seria mais produtivo se o objeto de aprendizagem fosse vivenciado, experienciado, pois acredita que a aprendizagem é um processo holístico, ou seja, assim, o ser humano é visto como um todo, assim a proposta educacional valoriza uma postura ativa, reflexiva e crítica do sujeito. Destaca também, a necessidade de o aluno produzir conhecimento de forma autônoma, prevalecendo o exercício da criatividade e o espírito investigativo, tendo como foco “[...] a visão complexa do universo e a educação para a vida” ( apud CARDOSO, 2006, p. 14).

Aprender envolve solucionar conflitos dos modos opostos de adaptação e construir conhecimento a partir das experiências acumuladas ao longo da vida. O modelo de Kolb baseado no ciclo de aprendizagem vital apresenta quatro estágios (BATISTA; SILVA, 2010, p. 2).

1. Experiência Concreta

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2. Observação Reflexiva

3. Conceituação Abstrata

4. Experimentação Ativa

De acordo com Kolb (1984) a experiência envolve o envolvimento em novas experiências, a conceitualização abstrata compreende a construção de conceitos abstratos e generalizações; a partir das reflexões e observações. Dessa forma, observar e fazer implica em transformação da realidade, por meios opostos, que foram chamados por Kolb de observação reflexiva que consiste na reflexão sobre a vivência e a experiência concreta a partir de diferentes perspectivas. A experimentação ativa diz respeito à aplicação dos conceitos e situações novas, envolvendo a capacidade de tomar decisões e resolver problemas.

Kolb 1984 (apud BATISTA; SILVA, 2010, p. 8) destaca a importância da articulação dos quatro estágios através de um ciclo progressivo que transforma a experiência em conhecimento, sendo o professor o facilitador. Os quatro estilos podem ser descritos da seguinte maneira:

Divergência (sentir e observar) – estas pessoas são hábeis para observar as coisas de diferentes perspectivas. Elas são sensitivas. Elas preferem observar a fazer, tendendo a obter informação e usar a imaginação para resolver problemas. Elas são melhores para enxergar situações concretas sob vários e diferentes pontos de vista [...].

Assimilação (observar e pensar) – A preferência de aprendizagem ‘Assimilação’ é para uma abordagem concisa e lógica. Idéias e conceitos são mais importantes do que pessoas. Estas pessoas requerem explanação boa e clara ao invés de oportunidade prática. Elas se sobressaem em entender informação de amplo alcance e em organizá-la de forma clara e lógica. Pessoas com um estilo de aprendizagem ‘Assimilação’ são menos focadas em pessoas e mais interessadas em idéias em conceitos abstratos [...].

Convergência (fazer e pensar) – pessoas com um estilo de aprendizagem ‘Convergência’ podem resolver problemas e usarão sua aprendizagem para encontrar soluções para questões práticas. Elas preferem tarefas técnicas e são menos relacionadas com pessoas e com aspectos interpessoais [...].

Acomodação (fazer e sentir) – O estilo de aprendizagem ‘Acomodação’ é ‘passar’ e confia na intuição mais que na lógica. Estas pessoas usam análise de outras pessoas e preferem tomar uma abordagem prática e experimental. Elas são atraídas para novos desafios e experiências e para executar planos [...]

Unidade 2 – Andragogia: Modalidades de Aprendizagem e População Atendida

Prezado (a) aluno (a):

É com muita alegria que iniciamos a segunda unidade desta web aula, espero que tenha aprendido muito com a unidade 1 e sinta-se desafiado e motivado a conhecer mais sobre a educação de adultos.

ADOLESCENTES E JOVENS NO ENSINO REGULAR

Como você pode perceber na unidade 1, a Andragogia diz respeito a educação de jovens e adultos, precisamos então verificar qual a população atendida, os adultos apresentam uma variedade de estilos e necessidades de aprendizagem. A adolescência como período psicológico se constitui em uma fase de transição da infância para a vida adulta, a Organização mundial de

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Saúde considera duas fases, uma de 10 a 16 anos e a outra de 16 a 20 anos. É um período de desenvolvimento físico acelerado, com muitas alterações também na área cognitiva, afetiva e social. O período de intensa transformação biológica e fisiológica é denominado puberdade.

A adolescência é caracterizada por grandes transformações biológicas, emocionais e sociais verificadas na segunda década da vida, quando o indivíduo passa a adotar comportamentos e práticas diferenciados, caracterizados principalmente pela autonomia e maior exposição às situações do cotidiano. Representa a fase de maior velocidade de crescimento na vida extrauterina, implicando alterações no tamanho, na aparência e na satisfação corporal (CIAMPO, CIAMPO, 2010, p. 55).

Após a puberdade, ou seja, esse período de intensas alterações na estrutura física, que prepara o indivíduo para a reprodução, a dimensão psicológica e social continua em transformação e passamos para a juventude, de acordo com a ONU – Organização das nações Unidas, jovens são indivíduos com faixa etária entre 15 e 24 anos e adolescentes compreende a faixa etária entre 13 a 19 anos.

A juventude tem-se constituído objeto de inúmeros estudos de diferentes perspectivas. Abordagens sociológicas, psicológicas, pedagógicas, antropológicas, analisam mudanças físicas, psicológicas e comportamentais que ocorrem nesse momento da vida. Muitos estudos sociológicos voltam-se para problemas comuns da juventude, como abuso de álcool e drogas, delinqüência, gravidez, vida escolar, entre outros. Ou seja, circulam idéias no cotidiano que associam a juventude à noção de crise, irresponsabilidade e problema social e que carecem de políticas públicas. No entanto, abordar a juventude, na normalidade do seu cotidiano é tarefa importante, caso se queira empreender uma reflexão sobre a sociedade atual (SOUZA, 2004, p. 47).

No momento em que vivemos é característica da juventude a busca incessante pela beleza, os grupos apresentam características próprias marcadas pela heterogeneidade, apresentam valores diferenciados e necessitam ser compreendidos por seus professores.

Sendo assim, são direitos do aluno em contexto educativo: direito cultural (aquisição e construção dos saberes e competências que lhe permitam o crescimento e lhe possibilite uma vida pessoal autodirigida no futuro); direito pessoal (reconhecimento e respeito pela diferença individual); direito político à participação na tomada de decisão sobre as atividades educativas (FERREIRA; SANT’ANA, 2012, p. 3).

Nesse sentido, a nosso ver, inicialmente, é necessário ultrapassar o sentido tradicional de ensino como mera transmissão, para avançar rumo a uma educação dialógica. Tal avanço pode envolver, por exemplo, o emprego de ferramentas, a partir de suportes teóricos-metodológicos da mediação por tecnologias de informação e comunicação (TICs). Uma análise adequada dessa modalidade de mediação só será possível situando-a em um contexto mais amplo, pois como afirma Morin (2011, p. 14) “[...] o desafio da globalidade é também um desafio da complexidade”.

Torres (2005) sugere competências cognitivas básicas a serem desenvolvidas nos estudantes: aprender a pensar, aprender a aprender, aprender a estudar, aprender a ensinar, aprender a recuperar o conhecimento e aprender a aplicar o que foi aprendido. E afirma que o conteúdo proposto pelas disciplinas que compõem o currículo escolar tradicionalmente não comporta capacidades e habilidades cognitivas. Aprender a pensar é uma das missões das propostas curriculares que possibilitaria aos alunos o desenvolvimento de habilidades de pensamento complexo, pois o importante não é dominar quantidade de conteúdos, mas adquirir os mecanismos para aplicação dos conteúdos de forma eficaz. “Tomar decisões concretas, desenvolver o espírito de indagação e raciocínio” (TORRES, 2005, p. 86). O pensamento é o caminho para obter conhecimento e envolve algumas habilidades, como: a resolução de problemas, a criatividade e a metacognição. Quanto a resolução de problemas, a autora enfatiza

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mais o processo, do que o conhecimento em si. A criatividade é complexa e manifesta-se em diferentes âmbitos. As atitudes criativas, segundo Torres (2005) incluem:

A originalidade (que pressupõe uma predisposição para o original); a valoração autônoma (independências das influências sociais e dos valores convencionais) e o exercício da crítica e o uso produtivo da crítica dos outros (que precisa ser recuperada e aplicada, mas nem por isso, deve impedir a elaboração de uma conclusão própria (TORRES, 2005, p. 89)).

Quanto à metacognição, que se refere à capacidade de conhecer e controlar seus próprios saberes, Torres (2005) aponta como habilidades metacognitivas importantes o controle da avaliação do próprio conhecimento e do desempenho e a comprovação da realidade.

Outra competência apontada por Torres (2005) se refere ao aprender a aprender, ou seja, um processo de autoaprendizagem, que envolve:

Refletir sobre a própria aprendizagem, tomar consciências das estratégias e dos estilos cognitivos individuais, reconstruir os itinerários seguidos, identificar as dificuldades encontradas, assim, como os pontos de apoio que permitam avançar [consiste na] possibilidade de aprimorar a própria aprendizagem (TORRES, 2005, p. 92).

Aprender a estudar diz respeito às habilidades desenvolvidas pelo graduando, uma vez que essa capacidade não é inata e pode ser aprimorada, no sentido de desenvolver uma capacidade maior de concentração, menor dependência do professor e automotivação. Assim, é importante que o aluno faça anotações, concentre-se em fatos, seja crítico em relação às leituras que realiza, organizando argumentos, tendo iniciativa própria e possa cumprir os prazos estabelecidos no ambiente virtual de aprendizagem (TORRES, 2005).

Aprender a ensinar para Torres (2005, p. 95) “[...] é uma das melhores formas de aprender”, pois envolve a organização e sistematização das próprias idéias. Aprender a recuperar o conhecimento em momentos oportunos é tão fundamental quanto aplicar o que foi aprendido, utilizando os saberes teóricos em situações práticas. Acredita-se que ensinar envolve os saberes “[...] pedagógicos sobre a gestão interativa em sala de aula, os didáticos nas diferentes disciplinas e os saberes da cultura” (ALTET, 2001, p. 29).

A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA)

Vamos a mais um tópico onde o objetivo é abordar a educação de jovens e adultos que iniciam seu processo de escolarização tardiamente ou retornam à escola após um período de suspensão das suas atividades acadêmicas, não realizando seus estudos na idade apropriada. Considerando como eixos da EJA trabalho, cultura e tempo, destaco nessa modalidade de ensino a importância de uma aprendizagem significativa, que possibilite a (re)construção de saberes, valorizando suas experiências de vida. O foco do trabalho está na formação permanente e preparação para o trabalho e exercício da cidadania.

Estudos mostram a preocupação com a qualidade dessa modalidade e sua ampliação no que se refere ao atendimento, buscando atender o disposto no Parecer CEB n. 1/2000 (BRASIL, 2000) que traz um panorama das funções da EJA, destacando sua formação contínua ao longo da vida, para ampliar a inserção no mundo do trabalho e na sociedade. Essa modalidade que por muitos anos foi infantilizada necessita de um modelo pedagógico adequado às características de seu alunado, favorecendo a reconstrução de seus conhecimentos através da valorização de suas experiências, possibilitando o desenvolvimento da autonomia para que jovens e adultos possam ocupar seu lugar na sociedade.

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São muitas histórias de vida marcadas por diferentes saberes, culturas e pela heterogeneidade, que são socializados no espaço escolar, após percorrem todo um caminho onde foram sendo acumuladas uma multiplicidade de saberes de áreas diversas.

O seu perfil traz como ponto de partida, os atos mais simples e elementares da vida, tais como: circular dentro da cidade, tomar ônibus, ler a bíblia, fazer compras, ajudar os filhos nas tarefas escolares, viver as relações estabelecidas no seu grupo social (família, trabalho, comunidade, igreja), buscar a inserção no mercado de trabalho, querer melhoria de vida, buscar atualização no espaço de trabalho e etc. Essas vivências permitem que tenham experiências bastante diversificadas e busquem, via escolarização, a melhoria de sua condição de vida (VAGULA, 2006, p. 4).

São detentores de muitas histórias de vida e expectativas em relação ao seu processo de escolarização, as condições de vida e conhecimentos são variadas, é desejável um professor com perfil para trabalhar na EJA que leve em conta a heterogeneidade de seus alunos, as características da vida adulta e os diferentes estilos de aprendizagem, um profissional que valorize a formação continuada.

Nas cidades, as escolas para jovens e adultos recebem alunos e alunas com traços de vida, origens, idades, vivências profissionais, históricos escolares, ritmos de aprendizagem e estruturas de pensamentos completamente variados. A cada realidade corresponde um tipo de aluno e não poderia ser de outra forma, são pessoas que vivem no mundo adulto do trabalho, com responsabilidades sociais e familiares, com valores éticos e morais formados a partir da experiência, do ambiente e da realidade cultural em que estão inseridos (BRASIL, 2006, p. 4- caderno 1).

Nesse sentido, a escola é o espaço privilegiado para a cultura, que considera possível construir a “unidade na diversidade” (FREIRE, 1994, p. 157). Nessa perspectiva, a nossa missão é construir conhecimento, através de metodologias diferenciadas que promovam uma educação emancipadora e dialógica. Estatísticas apontadas pelo MEC demonstram que os alunos da EJA, em sua maioria, apresentam baixo poder aquisitivo, baixa auto-estima, que muitas vezes foram geradas pelo não sucesso escolar.

É preciso reconhecê-los como sujeito de direito e realizar um levantamento das suas necessidades e expectativas, conhecer suas histórias de vida, verificando os motivos que os levaram a retornar ou iniciar seu processo de escolarização, os quais são fruto de tentativas de sucesso ou fracasso escolar. A escola representa uma oportunidade de inserção social e desenvolvimento pessoal e profissional. Muitas vezes, pode gerar insegurança diante do novo. [...] É natural que esses sujeitos (fiquem) apreensivos e temerosos diante de situações nas quais

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lhes fossem demandado expor seus conhecimentos, uma vez que se colocavam (e foram socialmente colocados) no lugar do não saber (SOUZA, 2003, p. 19).

A valorização dos saberes desses jovens e adultos implica em mecanismos que possam combater a discriminação e a exclusão da sociedade. A qualificação implica em uma melhor expectativa de vida para todos.

Somente o diálogo é

[...] capaz de conceber noções ao mesmo tempo complementares e antagonistas, e completará o conhecimento da integração das partes em um todo, pelo reconhecimento da integração do todo no interior das partes (MORIN, 2011, p. 93).

É necessário conhecer a individualidade, a realidade de cada aluno, a fim de que possamos renovar seu pensamento e regenerar o ensino. Dessa forma, Morin (2011) descreve pontos importantes relacionados à missão de ensinar, como: levar os alunos a contextualizar e distinguir os problemas multidimensionais; prepará-los para compreender a crescente complexidade dos problemas, prepará-los para enfrentar as incertezas, educando-os para a compreensão humana e ensinando a cidadania.

Sugiro a leitura dos cadernos da EJA que foram elaborados pelo MEC, trata-se de um material muito importante e voltado para a realidade dos alunos que freqüentam a educação de jovens e adultos.

Na EJA professores e alunos aprendem juntos, você se lembra de alguma situação onde possa ter aprendido com seu aluno? Vamos pensar?

ADULTOS EM PROCESSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA

O impacto da revolução nos diversos campos do conhecimento tem gerado novas formas de comunicação na sociedade do conhecimento, focando nosso olhar para a universidade, observo que na contemporaneidade a sociedade do conhecimento sugere aprendizagem contínua. “Precisamos da educação ao longo da vida para termos escolha. Mas precisamos dela ainda

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mais para preservar as condições que tornam essa escolha possível e a colocam a nosso alcance” (BAUMAN, 2007, p. 167). Os adultos em processo de formação continuada compreendem os egressos de cursos superiores, os profissionais que já atuam no mercado de trabalho e buscam cursos de formação continuada de curta, média ou longa duração, como a pós-graduação que geralmente conta com flexibilidade em relação ao seu horário de funcionamento. Neste caso, a intenção é complementar sua formação e adquirir novas competências e habilidades, podemos apontar nesse processo, adultos que buscam aprender alguma língua estrangeira, ou tocar algum instrumento, por exemplo. Acredito na importância de investir em práticas andragógicas para a formação do professor que atua na docência com adultos.

Outra modalidade de formação continuada diz respeito à educação corporativa e atende aos objetivos organizacionais com a finalidade de aplicação dos conhecimentos adquiridos.

Educação corporativa pode ser definida como uma prática coordenada de gestão de pessoas e de gestão do conhecimento tendo como orientação a estratégia de longo prazo de uma organização. Educação corporativa é mais do que treinamento empresarial ou qualificação de mão-de-obra. Trata-se de articular coerentemente as competências individuais e organizacionais no contexto mais amplo da empresa. Nesse sentido, práticas de educação corporativa estão intrinsecamente relacionadas ao processo de inovação nas empresas e ao aumento da competitividade de seus produtos (bens ou serviços) (EDUCAÇÃO CORPORATIVA, 2012).

Os cursos livres possibilitam a profissionalização direcionada às diversas áreas de atuação do mercado de trabalho, podendo envolver uma diversidade de cursos, com metodologias diferenciadas. O curso livre pode fazer parte da Educação Profissional e tem a finalidade de oferecer a qualificação profissional para o trabalho.

A Formação continuada centra sua preocupação na prática, possibilitando a articulação teoria e prática, pois todo fazer implica um saber. O adulto em formação procura encontrar situações didáticas nas quais utilize os conhecimentos que aprendeu e, ao mesmo tempo, possa mobilizar outros, oriundos de diferentes experiências, aprimorando seu fazer cotidiano. O profissional engajado no mercado de trabalho é visto como produtor de saberes e sua formação é permanente, acompanha sua trajetória pessoal e acadêmica. Sua ação é integradora e apresenta múltiplas facetas, sendo algo muito complexo, sem contar com as dificuldades e desafios impostos no dia-a-dia como as condições inadequadas de trabalho.

Ao analisarmos os fundamentos históricos do processo de Formação de Professores, verifica-se que a formação, anteriormente, era voltada para a competência técnica do professor, enquanto que hoje está voltada para um processo dinâmico de construção de saberes, no qual a prática cotidiana do professor está sendo cada vez mais valorizada. O professor em sua formação profissional necessita que lhe sejam propiciadas condições para que futuramente possa dispor de recursos cognitivos pertinentes, de saberes, de capacidades de informações, de atitudes, de valores e consiga-os mobilizar em momentos oportunos, sendo fundamental nesse processo a formação continuada.

ESTILOS DE APRENDIZAGEM

Os estilos de aprendizagem dizem respeito às preferências e as formas individualizadas de aprender de cada adulto. Os autores Dunn e Dunn (1995) desenvolveram um estudo que comprova que os estilos de aprendizagem são influenciados por alguns fatores, são eles: as condições do ambiente, como organização do espaço físico, móveis, temperatura do ambiente, iluminação, som; o grau de motivação e responsabilidade dos alunos; preferências em relação à forma de aprender, individualmente ou em pequenos grupos; suas características fisiológicas

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(auditivas, visuais, cinestésicas, etc.); a forma de processamento dos alunos, global/analítica, impulsivo-reflexiva.

VAKT (DUNN E DUNN)

Este estilo de aprendizagem discute a aprendizagem dos adultos analisando as diferenças individuais a parir de modalidades perceptivas, que culminam em estilos de aprendizagem: visual, auditivo, tátil e sinestésico, baseada no modelo já apresentado de Dunn e Dunn (1992) considera relevante alguns pontos para que a aprendizagem se desenvolva. Os adultos apresentam um estilo que domina sobre os demais, como também podem ter uma amostra equilibrada de ambos os estilos.

TABELA: Estilos de Aprendizagem

Fonte: Adaptado de Dunn e Dunn (1992)

Outro apontado pelo autor é o estilo sinestésico que compreende movimentos corporais, dessa forma é um indivíduo que se envolve em jogos, experiências, dramatização, desenhos, entre outros.

Quadro – Estilos de Aprendizagem

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Fonte: Alvarez apud Dicas... (2012)

INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS

Gardner (1995) partindo das características e critérios da inteligência organizou sete inteligências: a inteligência musical, corporal-sinestésica, lógico-matemática, linguística, espacial, interpessoal, intrapessoal, dessa forma, sua tese foi contrária ao pensamento da época que acreditava que o homem tinha apenas duas inteligências, estudando a cognição em sua totalidade.

O autor ressalta que todos nós somos detentores de um repertório de capacidades que utilizamos para resolver situações-problema, para chegar a este grupo de inteligências partiu do estudo do “[...] cérebro, do desenvolvimento humano, da evolução e das comparações entre as culturas” (p. 29). A intenção de Gardner ao elaborar a teoria das inteligências Múltiplas, foi de explicar a cognição humana, suas implicações para a área da educação precisam ser consideradas, uma vez que na adolescência ou na vida adulta se afloram por meio das atividades profissionais e de lazer. Cabe enfatizar, que todos os indivíduos apresentam as sete inteligências, mas com grau bem diferenciado.

Nascemos com potencial biológico para desenvolver as inteligências, contudo, o contexto onde vivemos e as situações-problema que nos deparamos influenciam nesse processo.

Quadro: Inteligências Múltiplas

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Fonte: Adaptado de Gardner (1995)

DEPENDÊNCIA/INDEPENDÊNCIA DE CAMPO (WITKIN)

Herman Witkin (1969 apud OSPINA, 2003) em seus estudos desenvolvidos na década de 50, procurou ressaltar as diferenças existentes entre os seres humanos do ponto de vista de como percebem o mundo e a si mesmo. Buscou comprovar como as pessoas eram influenciadas por seu contexto.

Witkin (apud OSPINA, 2003) encontrou uma relação extremamente alta entre a habilidade para resolver certo tipo de problemas e seu grau de dependência do campo do individuo. Uma alta independência de campo acontece quando o indivíduo enfrenta o processo de resolução de uma situação particular, apresentando facilidade para resolver problemas analíticos e adaptando-se melhor à abstração. Pessoas que apresentam dificuldades são altamente dependentes de campo e preferem quantidades relativamente maiores de estrutura externa, direcionamento e feedback, necessitando de apoio através da aprendizagem colaborativa. Apresentam dificuldades de trabalhar com material desorganizado, necessitando de muitas orientações.

David Kolb (1984) partindo do princípio que o conhecimento é resultado da interação do conceito abstrato com o experiencial, criou o Inventário de Estilos de Aprendizagem, identificando quatros estilos: divergentes, convergentes, assimiladores e acomodadores. Ao se referir a aprendizagem experiencial de Kolb (1984), Cerqueira (2000, p. 53) apresenta os estilos de aprendizagem como: "[...] um estado duradouro e estável que deriva de configurações consistentes das transações entre o indivíduo e o seu meio ambiente”.

Na visão de Kolb, o estilo divergente analisa uma determinada situação sob diferentes ângulos, utilizando da imaginação e da emoção, tem preferência para trabalhar em grupo o dar feedback. São pessoas observadoras. O estilo convergente compreende pessoas com facilidade para

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resolver problemas e aplicação imediata de suas idéias e projetos, são capazes de tomar decisões. Assim, utilizam-se da teoria para solucionar problemas práticos.

O estilo assimilador

[...] compete às pessoas que são capazes de guardar informações de forma lógica, clara para serem consultadas. Este estilo leva o profissional a seguir carreiras na parte de ciências e de informações, por privilegiar o uso do intelecto (BERNDT; IGARI, 2003 Apud GRESELE; CAVALCANTI NETO, 2008, p. 6-7).

São pessoas capazes de organizar fatos para compor o todo.

O estilo acomodador utiliza-se da experiência prática como fonte de aprendizagem, está aberto a novas experiências e desafios, não se importando em assumir riscos, dessa forma, tem facilidade para adaptar-se às mudanças.

Algumas das características dessas pessoas são a busca por novas experiências e o comprometimento com seus planos. Essas pessoas seguem mais os seus instintos que as planilhas e acreditam nas pessoas para obter informações para resolução dos problemas. São encontrados com freqüências em funções voltadas para a ação e se adaptam com facilidade nas formações técnicas e práticas (BERNDT; IGARI, 2003 Apud GRESELE; CAVALCANTI NETO, 2008, p. 7).