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I , I .' !. ! CAPÍTULO VI CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE SUMÂRIO: 1. Introdução- 2. Fundamentos - 3. Conceito c finalidade - 4. Parâmetro c objeto do controle - 5. Sistema:; de controle de constitucionalidade - 6. Tipos de controle: 6.1. Quanto ao momento: 6.2. Quanto aos órgãos competentes; 6.3. Quanto ã via utilizada - 7. Espécies de inconstituciol1<llidadc: 7.1. Inconstitucionalidade material x inconstitucionalidade formal; 7.2. Inconstitucionalidade por ação x inconstitucionalidade por omiss[lo; 7.3. Inconstitucionalidade imediata x inconstitucionalidade media!a; 7.4. inconstitucionalidade originária X inconstitucionalidade superveniente - 8. Controle de cOllstitucionalidade no Brasil: 8.1. Histórico; 8.2. Controle Preventivo; 8.3. Controle repressivo; 8.3.1. Controle repressivo c político; 8.3.2. possibilidade de controle repressivo por meio de lei - 9. Controlejurisdiciollal difuso ou aberto (c eonerdo): 9.1. Cláusula de reserva de plenário; 9.2. Efeitos da declaração de inconstitucionalidade no controle difu.<;o; 9.3. Possibilidade de ampliação dos efeitos pdo Senado Federal; 9.4. Controle Jifuso e ação civil pública - 10. Controle jurisdicional concentrado e abstrato: 10.1. ADI genérica; 10.2. ADI intcrventiva; 10.3. ADI por omissão; 10.4. Açào Decluratória de Constitucionalidade; 10.5. Argliição de Descumprimento de Preceito Fundamental- 11. Técnicas utilizadas 110 controle de constitucio~nalidade - 12. Controle de constitucionalidade pelos Tribunais de Justiça dos Estados: 12.1. ADI estadual x Recurso Extraordinário ao STF - 13. Exercícios de Fixação. 1. INTRODUÇÃO Foi-se o tempo em que o Direito Constitucional era considerado mera "perfu- maria jurídica", quando ninguém levava a sério as nonnas principiológicas da Carta Magna, notadamente as de caráter programático, consideradas como me- ros avisos ou conselhos direcionados aos poderes públicos. Atualmente, afirmada de maneira definitiva a força normativa de qualqucr norma constitucional (inclusive as principiológicas e programáticas), ganha impor- tância a chamada "jurisdição constitucional" ou controle de constitucionalidade que vem a ser o mecanismo de fiscalização de todos os atos do Poder Público, a fim de avaliar se os mesmos se compatibilizam com os preceitos da Lei Maior e, em última análise, respeitam os direitos fundamentais e o princípio da dignidade da pessoa humana. Diante da importância do tema e da cobrança exaustiva desse assunto nos mais variados concursos públicos, daremos uma atenção especial nesta obra ao sistema brasileiro do controle de constitucionalidade dos atos do Poder Público. 2. FUNDAMENTOS Como afinnado anteriormente, a supremacia da Constituição é uma conseqü- ência direta da rigidez constitucional, uma vez que, ao exigir um procedimento especial e mais dificultoso para a modificação da Carta Magna, a rigidez acaba protegendo o texto constitucional da legislação ordinária, tornando-o hierarqui- camente superior e conferindo-lhe a supremacia no sentido fOffi1alou jurídico. 145 ,;

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CAPÍTULO VI

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

SUMÂRIO: 1. Introdução- 2. Fundamentos - 3. Conceito c finalidade - 4. Parâmetro c objeto do controle - 5.Sistema:; de controle de constitucionalidade - 6. Tipos de controle: 6.1. Quanto ao momento: 6.2. Quanto aosórgãos competentes; 6.3. Quanto ã via utilizada - 7. Espécies de inconstituciol1<llidadc: 7.1. Inconstitucionalidadematerial x inconstitucionalidade formal; 7.2. Inconstitucionalidade por ação x inconstitucionalidade por omiss[lo;7.3. Inconstitucionalidade imediata x inconstitucionalidade media!a; 7.4. inconstitucionalidade originária Xinconstitucionalidade superveniente - 8. Controle de cOllstitucionalidade no Brasil: 8.1. Histórico; 8.2. ControlePreventivo; 8.3. Controle repressivo; 8.3.1. Controle repressivo c político; 8.3.2. possibilidade de controlerepressivo por meio de lei - 9. Controlejurisdiciollal difuso ou aberto (c eonerdo): 9.1. Cláusula de reserva deplenário; 9.2. Efeitos da declaração de inconstitucionalidade no controle difu.<;o; 9.3. Possibilidade de ampliaçãodos efeitos pdo Senado Federal; 9.4. Controle Jifuso e ação civil pública - 10. Controle jurisdicional concentradoe abstrato: 10.1. ADI genérica; 10.2. ADI intcrventiva; 10.3. ADI por omissão; 10.4. Açào Decluratória deConstitucionalidade; 10.5. Argliição de Descumprimento de Preceito Fundamental- 11. Técnicas utilizadas 110

controle de constitucio~nalidade - 12. Controle de constitucionalidade pelos Tribunais de Justiça dos Estados:12.1. ADI estadual x Recurso Extraordinário ao STF - 13. Exercícios de Fixação.

1. INTRODUÇÃO

Foi-se o tempo em que o Direito Constitucional era considerado mera "perfu-maria jurídica", quando ninguém levava a sério as nonnas principiológicas daCarta Magna, notadamente as de caráter programático, consideradas como me-ros avisos ou conselhos direcionados aos poderes públicos.

Atualmente, afirmada de maneira definitiva a força normativa de qualqucrnorma constitucional (inclusive as principiológicas e programáticas), ganha impor-tância a chamada "jurisdição constitucional" ou controle de constitucionalidadeque vem a ser o mecanismo de fiscalização de todos os atos do Poder Público, afim de avaliar se os mesmos se compatibilizam com os preceitos da Lei Maior e,em última análise, respeitam os direitos fundamentais e o princípio da dignidadeda pessoa humana.

Diante da importância do tema e da cobrança exaustiva desse assunto nosmais variados concursos públicos, daremos uma atenção especial nesta obra aosistema brasileiro do controle de constitucionalidade dos atos do Poder Público.

2. FUNDAMENTOS

Como afinnado anteriormente, a supremacia da Constituição é uma conseqü-ência direta da rigidez constitucional, uma vez que, ao exigir um procedimentoespecial e mais dificultoso para a modificação da Carta Magna, a rigidez acabaprotegendo o texto constitucional da legislação ordinária, tornando-o hierarqui-camente superior e conferindo-lhe a supremacia no sentido fOffi1alou jurídico.

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Estando a Constituição no vértice do ordenamento jurídico, entende-se quetodas as demais normas somente são válidas, se compatíveis com O texto esculpi-do na Lei Maior - principin da compatibilidade vertical. Ora, o controle de cons-titucionalidade nada mais é do que esta fiscalização da compatibilidade das nor-mas infraconstitucionais - leis e atos normativos emanados do Poder Público,com as regras e princípios contidos na Norma Normarwn.

Assim, o controle de constitucionalidade pressupõe a rigidez e a supremaciaconstitucionais. Em sentido contrário, não é menos verdade que a rigidez delima Constituição pressupõe a existência de um controle de constitucionalidadeefetivo, que fiscalize os atos normativos do Poder Público, expurgando do orde-namento jurídico aqueles atos incompatíveis com o Texto Supremol •

Celso Ribeiro Bastos2 aponta os seguintes pressupostos para a existência docontrole de constitucionalidade:

a) uma Constituição fonnal- toda Constituição formal é necessariamente es-crita e rígida;

b) compreensão da Constituição como lei fundamental- no topo do ordena-mento jurídico, pressupondo a rigidez e a supremacia constitucionais e a distin-ção entre leis ordinárias e leis constitucionais;

c) previsão de um órgão dotado de competência para O exercício dessa atividade.

3. CONCEITO E FINALIDADE

o controle de constitucionalidade consiste na fiscalização da compatibilidadede uma lei ou ato normativo com as normas explícitas e implícitas] da Consti-tuição, nos seus requisitos materiais - se o conteúdo da nom13 contraria um

J. Como bem lembra Vyvyany Viana Nascimento de Azevedo Gulart: "De nada valeria ter uma Constitui-ção rígida e dizer que ela é suprema, se não houvesse institutos capazes de garantir tal supremacia. Daí anecessidade do conlrole de constitucionalidade das leis e atos nonnativos." GULART, Vyvyany Viana Nasci.mento de Azcvt:do. Controle de conslitllcionalidade. Drasília, Ed. Fortium, 2005.

2. Cdso Ribeiro llllStOSílplld CLEVE, CJe:mersonMerlin. Ajiscalização abslrata da constitucionalidadeno direito brasileiro. Editora RT, 2. ed. p.28129.

3. Na precisa lição de Ronaldo Poleui (apudTAVARES, André Ramos. Curso de DireilO Constitucional. 2"eJ. São Paulo: Saraiva, 2003. p.199): "Uma Constituição nãü é apenas a sua letra, o seu texto literal, mastambém os princípios que a informam e que, sob certa forma, permanecem no scucorpo. É inconstitucional a leivioladora claConstituição, quer ela disponha contrariamente ã letra, quer ela fira o espírito constitucional, pre-sente nos principias deduzivds da expressão de seu~ dispositivos". Ajurispmdência do STF já admitiu, inúme-ras vezt:S, a declaraçào cle inconstitucionalidade de leis por incompatibilidade com o princípio constitucionalimplícito da razoabilidade, a exemplo de quando declarou a inconstitucionalidade de lei estadual do Estado doAmazona" que concedia a servidor inativo a gratificação de férias -no valor de 1/3 da remuneração mensal, emnagrante violação ao princípio constitucional implícito da razoabilidade, com sede no art. 5°. L1V da CF (ADIMC 1.158/AM, Pleno, reI. Min. Celso de Mello, j.19.12.1994, Dl 26.05.1995, p.15154).

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preceito constitucional, e formais - se o processo legislativo constihlcionai foirespeitado: iniciativa, "quonlm" de aprovação etc.

No conceito de Elival da Silva Ramos4, a inconstihlcionalidade "correspondea essa desconfonnidade estática (relativa ao conteúdo) ou dinâmica (relativa aoprocesso de formação) de caráter vertical (hierárquico), entre a lei c a Constihli-ção, resolvida, sempre, 'em favor das normas de grau superior, que funcionamcomo fundamento de validade das inferiores'''.

Veremos adiante que o controle de constitucionalidade objetiva declarar anulidade de uma norma infraconstitucional contrária à Carta Política: quer reti-rando-a definitivamente do ordenamento jurídico - no controle abstrato, querdeixando de aplicá-Ia a um caso particular - no controle concreto.

Ressalte-se que a doutrina aponta como principal finalidade do controle de consti-tucionalidade a proteção dos direitos fundamentais previstos na Carta Políticacontra as investidas do Poder Público ao expedir as leis e os atos normativos.

4. PARÂMETRO E OBJETO DO CONTROLE

Quando falamos em controle de constitucionalidade, devemos ter em menteos dois fatores principais que despontam neste processo: o parâmetro e o objetodo controle.

Parâmetro, eãnon ou paradigma constitucional (também chamado de "blocode constitucionalidade") consiste na norma ou conjunto de normas da Constitui-ção que se toma como referência para a declaração de inconstitucionalidade deuma lei ou ato normativo do Poder Público.

Neste ponto, é de suma importância saber que todos os dispositivos constitu-cionais - do art. 1o ao ar1.250 c as normas do ADCT - servem como parâmetropara a aferição da constihlcionalidade dos atos normativos.

Com o advento da EC/04, os tratados internacionais sobre direitos humanos,incorporados ao direito brasileiro pelo processo legislativo rígido e especial des-crito no art.5", 93' da CF/88 (aprovação no Congresso Nacional por 3/5 dos vo-tos, em dois turnos de discussão e votação), também servirão como parâmetro docontrole de constitucionalidade, por serem considerados normas constitucionaisno seu sentido formal e matcriai5 .

4. ApudTAVARES,Andrê Ramos. Op. cil. p. 177.5. Cf. os capitulas 11e VII desta obra, nos pontos em que analisamos a sinlação atual dos tratados intcma-

cionais sobre direitos humanos após o advento da EC 45/04.

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Já o preâmbulo da CF/88. segundo a doutrina majoritária, não poder serparâmetro para a declaração de inconstitucionalidade das leis por ser desprovidode valor normativo (não é considerado.nonna constitucional), apesar do seu re-conhecido valor interpretativo e intcgrativo.

Resumindo, de acordo com o entendimento da jurisprudência majoritária, aConstituição limita-se á sua concepção foroull, razão pela qual (e para efeito deconcursos) o paradigma do controle de constitucionalidade limita-se às normasdo texto formal da Cnnstituição (arts. I"ao 250 e I" ao 94 do ADCT), juntamentecom os tratados internacionais sobre direitos humanos, nos tcmlOS do art. 5°, 992' c 3" da CF/88'.

o objeto do controle será a lei ou ato normativo do Poder Público que sofre ocontrole de constitucionalidade, podendo ser um ato federal, estadual, distritalou municipal, desde que ofenda diretamente a Constituição Federal e seja edita-do posteriormente a 1988'.

5. SISTEMAS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

No Direito comparado, a depender da natureza dos órgãos que realizam ocontrole de constitucionalidade, podemos reconhecer três sistemas distintos:

a) Sistema Político - o controle é exercido por órgãos de natureza política,distintos do Poder Judiciário - podendo ser um órgão do Legislativo, do Execu-tivo ou, ainda, um órgão especial. É o sistema adotado na França, cujo controlede constitucionalidade é realizado pelo Conselho Constitucional, órgão dc cará-ter político que realiza urna fiscalização eminentemente preventiva (antes da nor-ma entrar em vigor) dos atos do Parlamentos.

6. Sobre o tema, consideramos indispensãvel a leitura da decisão do Min. Celso de Mello na AO! Me 595,j.18.02.2002, DJ 26.02.2002, p. 21 - divulgada no Informativo n"258 do STF. Nestejulgado, o ilustre Ministrofaz uma análise do que se deve entender por parâmetro do controle de constitucionaliu:lde, ressaltando as cor.renles que o reduzem às nonnas ronnais da Constituição e às que consideram que o "bloco de constitucionalida-de" deve abranger o conjunto de nonnas e valores supraposilivos que formam o espírito e a essência da Consti.tuição (a ordem consti~cional global). .

7. A jurisprudência consolidada do Supremo Tribunal Federal (vide ADI nU2, Rei. Min. Paulo Brossard)considera que os aios do Podcr Publico anteriores a 1988 não podem sofrercúlltrole de constitucionalidade, pois~esubmeLemao fenômeno da recepção constitucional. Com isso, os atos anteriores à CFJ88, se com ela materi-almente compatíveis, serão recepcionados pela Carta Magna, permanecendo validos; os que forem material-mente incompatíveis serão considerados não-recepcionados, o que equivale à simples revogação desses atos(denominada por LuisAlberto David Araújo e Vidal Serrano dC'''revogaçào hierarquica" ou por Lúcio DiUencourtdC'"revogação por inconstitucionalidade").

8. A França, desde a Revolução de 1789. adota uma concepção radical do principio da separação dospoderes. não admitindo intromissõcS indevidas de um poder nas funções exercidas pelos outros. Daí Odireitofrancês jamais ter atribuído ao Poder Judiciário a competcneia para o controle de constitucionalidade dos atosdo I'arlamento, sempre o atrihuindo a órgãos de' feição marcadamente politica.

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

. b) Sistema Jurisdicional- o controle é feito por órgãos do Poder Judiciário.E o sistema adotado nos EUA e, como regra, o adotado no Brasil.

c) Sistema Misto - certas categorias de lei são submetidas ao controle politi-co e outras ao controle jurisdicional. Ou também quando o controle é exercidopor u.m órgão formado por membros do Poder Judiciário e por membros politi-coso E o sistema adotado na Suíça.

6. TIPOS DE CONTROLE

6.1. Quanto ao momento

a) Controle Preventivo - a priori - é o controle realizado antes da nomlaentrar em vigor.

b) Controle Sucessivo, Repressivo - a posteriori - é o controle feito após anorma entrar em vigor.

6.2. Quanto aos órgãos competentes

a) Controle Difuso ou Aberto - o controle é exercido por vários órgãos - noBrasil, exercido por qualquer juiz ou tribunal, desde que observadas as regras decompetência jurisdicional;

b) Controle Concentrado ou Fechado - o controle é feito por um únicoórgão ou por poucos órgãos competentes - no Brasil, o controle concentrado érealizado pelo STF, quanto á Constituição Federal e pelos Tribunais de Justiça,quanto ás Constituições Estaduais (e Lei Orgãnica do Distrito Federal).

6.3. Quanto à via utilizada

a) Controle por via de exceção ou de defesa, incidental, incidenJer tafltllln-

controle concreto- no controle por via de exceção, a inconstitucionalidade da leié argüida incidentalmente, no curso de um processo judicial onde estão sendo dis-cutidos direitos subjetivos. O controle incidental é rcalizado diante de uma lide,de uma situação concreta, sendo a questão da inconstitucionalidade prejudicial9ao julgamento do mérito da causa e produzindo efeito somente entre as partes 10.

9. Dt:cisão de mérito de que dcpcnde o julgamento da causa.10. No controle concreto de constitucionalidade, o pedido principal da causa é um bem da vida (liberdade,

propriedade etc), ellquanto a declaração da inconstitucionalidade da lei apresenta-se como prejudicial ao julga-mento da causa, tendo como único eleito a invalidação da lei para :Hlue1ccaso cOllcretu, sem retirá-Ia doordenamento jurü.lico.

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para o exercício de um direito constitucional e o órgão legislativo competentemantém-se inerte.

7.3. Inconstitucionalidade imediata x Inconstitucionalidade media ta

A inconstitucionalidade direta ou imediata resulta da incompatibilidade, dire-ta e imediata, das leis com os preceitos constitucionais.

Já a inconstitucionalidade mediata ou indireta consiste na incompatibilidadede uma nonna infralegal- decreto, resolução, instmção normativa etc., com a leia que ela se reporta e, por via oblíqua, reflexa, mediata, com a própria Constitui-ção. Este tipo de inconstitucionalidade é, em verdade, uma crise de ilegalidade,daí porque, nesses casos, falamos em controle de legalidade e não em controlede constitucionalidadel2.

Assim, a inércia do órgão legislativo em elaborar a lei necessária ao exercíciode um direito previsto na Constituição configura uma "inconstitucionalidade poromissão", por se considerar que houve o desrespeito a um "dever constitucionalde legislar".

A Carta Política de 1988 trouxe para o Direito brasileiro dois mecanismos quebuscam sanar o problema da inconstitucionalidade por omissão: o mandado de in-junção (art.5", LXXI) c a ação dircta de inconstitucionalidade por omissão _ a ADIpor omissão (art.103, ~2°),os quais serão analisados e comparados mais adiante.

7.4. Inconstitucionalidade originária x Inconstitucionalid~lde superveniente

A inconstitucionalidade é originária quando o Poder Público produz urna nor-ma incompatível com a Constituição já em vigor, fazendo Com que o ato scjflinconstitucional desde a sua origem.

A inconstitucionalidade superveniente é aqucla que se manifesta em um mo-mento posterior, ou seja, a nonna nasce constitucional, mas toma-se incompatí-vel com a Carta Magna supervenientcmente: a) seja pelo surgimento de umanova Constituição; b) seja em virtude de reforma no texto constitucional; c) sejapela alteração de circunstâncias fáticas ou pela mudança na interpretação consti-tucional, hipóteses da chamada '''mutação constitueional"J3 .

CONTROLE DE CONSTlTUCIONAlmADF.

12.Nas p:l1avrasdé' Marcelo Né'ves (apudClêmé'rson Cli::vé'.Op. cito p.56.): "0 problcma da inconstitucio.nalidade das lé'is resulta dé' lima relação imediata de ino.õolllpatibilidadecom a Constituiçào. A denominadainconstitucionalidade mcdiata, lambem chamada indireta, é antes um problema de ilegalidade, ou de relação deincompatibilidade intemormativa infralt:gal. inconfundíveis com li noção rigorosa de: inconstitucionalidade".

13. Como dissé'mos no capítulo antt:rior, mutação constiluo.õionalc: o processo infonnal de se alter:1r umaConstituição que ocorre quando a doutrina e ajurisprudêllcia conferem uma nova interpretação ou sentido àsnormas constitucionais. sem modificar o texto formal da Carta Magna.

7.1. Inconstitucionalidade material x Inconstitucionalidade formal

A inconstitucionalidade fonnal ocorre quando as regras de processo Icgislativorevistas na Constituição Federal não foram observadas na elaboração da lei ou

~to nonuativo impugnado. Assim, lei ordinária proposta por Deputado Feder?1ue trate de matéria cuja iniciativa legislativa é privativa do PresIdente da Repu-

~lica - CF, art.61, ~ I" - é inconstitucional sob o seu aspecto formal.

Segundo Clémerson Merlin Clévell, a inconstitucionalidade fonual subdivi:de-se em: "inconstitucionalidade orgânica", quando o órgão que elabora a lei eincompetente (exemplo: quando lei estadual invade a competência de lei fede-ral); e "inconstitucionalidade formal propriamente dita",. quandoa elaboração danorma desrespeita as demais regras de processo legislatIvo prevIstas na CF.

Já a inconstitucionalidade material ocorre quando o conteúdo da lei ou atoormativo é incompatível com o conteúdo da Constituição. Assim, urna lei quen . .criasse no Brasil penas cruéis ou de trabalhos forçados seria matenalmente In-constitucional, por violação do arL5°, inciso XLVII da CF.

b) Controle por via de ação direta, via principal - cont.role abstrato, emtese - no controle por via de ação, determmadas autondades publicas ou e~t~da-des (ex: Presidente da República, Conselho Federal da OAB etc.) podem ajUIzaruma ação autônoma (ADI, ADC, ADI por omissão, ADPF) cUJo objetivo pnncl-

.1 é a declaração da inconstitucionalidade da lei, sem levar em conta qualquerP" . d fi .caso concreto, com o efeito de declarar fi nulidade da norma, rctlrao o-a de lnt-tivamente do ordenamento jurídico.

Observem que, neste tipo de controle, a fiscalização da constitucionalidadedos atos normativos é feita "em tese", sem haver uma lide ou discussão de quais-quer situações individuais subjetivas.

7. ESPÉCIES DE INCONSTITUCIONALIOADE

LEO VAN HOLTHE

11.eLEVE. Clemerson MerJin. Afiscalizaçõo "bslrala da cO/lstitucionalidade 1/0 direilo brasileiro. Edilo-ra RT, 2' cd. p.39.

7.2. Inconstitucionalidade por ação x Inconstitucionalidade por omissão

Enquanto a inconstitucionalidade por ação decorre de um ato positivo do Estado- a elaboração de uma lei incompatível com a Constituição, a inconstitucIOnali-dade por omissão ocorre quando a Constituição exige a edição de ato normativo

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Ajurisprudência consolidada do Supremo Tribunal Federal" não aceita a te-oria da inconstitucionalidade superveniente, entendendo que as leis elaboradasanteriormente a uma nova Constituição ou a uma emenda constitucional ou sãorecepcionadas ou consideradas revogadas (fenômeno da não-~ecepção) pelo novotexto constitucional, não havendo que se falar em mconslItuclOnalidade superve-niente nesses casos1S•

8. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE NO BRASIL

No Brasil, em regra, o controle é do tipo jurisdicional - a cargo do PoderJudiciário, e repressivo - realizado após a vigência da norma, combinando-se omodelo difuso com o modelo concentrado.

Existe, ainda, o controle realizado pelo Poder Legislativo c pelo Executivo(controle político), principalmente antes da norma entrar em vigor - controlepreventivo. Vejamos as peculiaridades do controle de constitucionalidade adota-do pelo Brasil.

8.1. Histórico

O controle de constitucionalidade surge no Brasil a partir da Constituição de1891 sob forte influência do constitucionalismo norte-americano. A partir deentã~, admitiu-se que o Poder Judiciário fiscalizasse a constitucionalidade dasleis c dos atos normativos através de um controle difuso ou aberto - realizadopor qualquer juiz ou tribunal - e incidental- argüido como questão prejudicialem um caso concreto, inspirado no modelo norte-americano.

A Constituição de 1934, mantendo o modelo difuso e incidental, introduziualgumas inovações no sistema de controle de constihlcionalidadc brasileiro, asaber:

14. Vide AO( nO2, ReI. Min. Paulo Brossard e Representação n° 1.012, Rei. Min. MoreiraAlves.15. Gilmar Mendes, apesar de pugnar pela revisão da jurisprudência do STF sobre a matéria, inclusive

citando a Lei n° 9.882/99 que abriu a possibilidade do controle de constitucionalidade do direito pré-constituci-onal por meio de ADPF, assim expõe a posiçào da Alta Corte brasileira: "O Supremo Tribunal Federal admitiu,inicialmente, a possibilidade de examinar, nu processo do controle abstrato de normas, a questào da derroga~ãodo dircito pré-constitucional, em virtude de colisão entre a Constituição superveniente e o direitu pré-constltu~ciona1." ... "Essa posição foi abandonada, todavia, em favor do entendimento de que o processo do controleabstr(lto dt: lIomas destina-se, fundamentalmente, à aferição da constitucionalidade de nonn:lS pôs-constitu-cion;iÍs. Dessa romla, eventual colisão entre o direito pré-constitucional e a nova Constituição deveria ser sim4plcsmente resolvida segundo os princípios de direito intertemporal. Assim, caberia âjurisdição ordinária, tantoquantu ao Supremo Tribunal Federal, examinar a vigência do direito pré-constilucionalllo âmbito do controleincidente de nonnas, ullIa vez que, nesse caso, cuidar.se-ia de simples aplica~ão do princípio do l<!x posteriorderof:nI priori e não de um exame de cOllstitucioll<llidade." (MENDES, Gilmar Ferreira. Jurisdição cOllStilllci-Oll(l!:o conirole ohsfrato de normas no Brasil e /Ia Alemanha. 4" ed. São l'flulu: Sflraiva, 2004. p.183.)

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CONlROLE DF.CONSTITUCIONALIDADE

I) nos tribunais, a inconstitucionalidade somente poderia ser declarada pelovoto da maioria aosoluta de seus membros - cláusula de reserva de plenário.Essa regra - inspirada na jurisprudência norte-americana - busca homenagear oprincípio da constitucionalidade das leis, ao estabelecer um procedimento espe-cial c solene para as declarações de inconstitucionalidade dos tribunais _ apre-ciação do Plenário e votação por maioria absoluta;

2) conferiu-se competência ao Senado Federal para suspender a execução, notodo aLI em parte, de lei ou ato declarado inconstitucional pelo Poder Judiciário.Era a possibilidade do Senado Federal ampliar "'erga omncs" os efeitos da de-claração de inconstitucionalidade proferida pelo Poder Judiciário no controle in-cidental- que só tem efeito entre as partesl6; .

3) foi criada a representação interventiva - ADllnterventiva, com legitimi-dade exclusiva do Procurador-Geral da República nos casos de violação aos "prin-cípios constitucionais sensíveis" e sujeita à competência originária do STF. Emmomento posterior, teceremos comentários sobre esta problcmática hipótese dccontrole de constitucionalidade.

A Constituição outorgada de 1937 manteve basicamente o modelo de con-trole de constitucionalidade instaurado no Brasil desde 1891. Como grande ino-vação, estabeleceu um odioso mecanismo de limitação da autoridade das deci-sões do Poder Judiciário ao prever no seu art.96, parágrafo único que: "no casode ser declarada a inconstitucionalidade de uma lei que, ajuízo do Presidente daRepública, seja necessária ao bem-estar do povo, à promoção ou à defesa deinteresse nacional de alta monta, poderá o Presidente da República submete-ianovamente ao exame do Parlamento; se este a confim1ar por dois terços de votosde cada uma das Câmaras, ficará sem efeito a decisão do Tribunal"'7.

Na Constituição de 1946, mais precisamente com a emenda constitucionaln"16/65 surge no Brasil o controle abstrato de constitucionalidade das leis. Areferida emenda,. cria a "representação de inconstitucionalidade genérica" -equiva-lente à atual ADI genérica. clUa legitimidade ativa foi conferida com exclusivida-de ao Procurador-Geral da República e sujeita à competência originária do STF.

IG. No controle de constitucionalidade nurte-americil110, :IS declarações de inconstitucionalidade ermmadasda Suprema Corte produzem per si eficácia "erga omncs" (é ()sistema do s/are dr.:cisis). Esse mecanismo pre\'is~to pela CF!)4 teve a intenção de aproximar o controle br<lsilciro do seu llIodelo norte-americanu, ao pcnnitirqueo Senado Federal ampliasse os efeitos da declaração de constitucionalidade proferida pelo STF, que ordinaria-mente continuava a produzir efeitos entre as partes.

17. Este mecanismo não foi mantido pela CF de 1946 e marcou. na cvolução histúrica do controle cleconstitucionalidade brasileiro, uma época de intromissões indevidas do Poder EXt:clltivo ll:IS decis(ies de in-constitucionalidade proferidas pelo Poder Judici:írio.

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A partir da Constituição de 1988, o modelo abst:~to/concentrado d~ controlede constitucionalidade passou a ser predommante no Brasil, pnnclpalmentecom o reforço da ADI genérica e a criação daADC - ação declaratória de consti-tucionalidade - pela emenda constitucional n'03/93. Abaixo, destacamos as prin-cipais inovações trazidas pela CF/88:

I) ampliou a legitimidade ativa para a propositura da ADl genérica, nos ter-mos do arU03, I a IX;

2) criou a ADI por omissão c o mandado de injunção;

3) exigiu a citação do Advogado-Geral da União para defender a lei ou o atononnativo impugnado e a manirestação do POR para atuar como curador da Cons-tituição nas ADl's genéricas, assim corno em todos os processos de competênciado STF;

4) criação da ADC - ação dcclaratória de constitucionalidade pela EC n' 03/93;

5) criação da ADPF - argüição de descumprimento de preceito fundamental,outro instrumento de controle abstrato das normas, regulamentado pela Lei n°9.882/99.

8.2. Controle Preventivo

No Brasil, o controle preventivo - realizado antes da nonna entrar em vigor-é eminentemente político, realizado por órgãos políticos, seja pelo PoderLegislativo, seja pelo Executivo. São exemplos desse controle:

a) Comissões de Constituição c Jnstiça (CC]'s) da Cãmara dos Deputados edo Senado Federal - emitem um parecer sobre a constitucionalidade da matériaexaminada, realizando nítida fiscalização de constitucionalidade sobre os proje-tos de lei, proposta de emenda à Constituição (PEC) etc.;

b) veto do Presidente da República, quando se baseia na inconstitucionalida-de da nonna" (veto jurídico).

Excepcionalmente, o controle preventivo poderá ser realizado pelo Poder Ju-diciário. Nesse sentido, o STF admite a impetração de mandado de segurança

18. Para se ter uma iJciJ O<lampliaçàu 00 modelo abstraIo de controle de con~titucionalid<ldc no Hra~il apartir da CF/88, de 1965 (surgimento do controle ahstralo com a EC 16/65) a 1988 (ou seja, em 25 anos), fora~1a\lizadas cerca de 1.050 "representações de inconstitucionalidade". De 1988 até o inicio de 2005 (pouco maisde 16anos), está.•..amos com cerca de 3.400 ADI's ajuizadas! ... .

19. O Prcsidente da Rcpublica, nos lenno~ do art.66, ~lo da CF, pode vetar um projeto de leI por consldcra-lo contrário ao interesse púhlico (veto politico) ou por considera-lo inconstitucional (veto jurídico), quando,então, estará rca1i7.<l1ldocontrole preventivo de constilucionalidade.

154

CONTROLE DE CONSTlTUCIONALIOADE

por parlamentar durante a elaboração de uma lei ou emenda constitucional, quandoo processo de elaboração da norma violar o "devido processo legislativo" _arts.59 a 69 da CF.

Entende-se que o parlamentar, e somente ele, possui o direito líquido e certode não participar de um processo legislativo que desrespeite as regras contidas naConstituição Federal e, por conseqüência, pode impetrar um mandado de segu-rança a fim de sustar o andamento do processo legislativo reputado "inconstituci-ona'''. Nesta hipótese, teremos um controle de constitucionalidade preventivo,concreto (discute-se o direito líquido e certo do parlamentar) e incidental (opedido principal do MS é a paralisação do processo legislativo, sendo a inconsti-tucionalidade do projeto de lei mera causa de pedir).

Assim, como hipótese dc controle de constitucionalidade preventivo realiza-do pc lo Poder Judiciário, temos o mandado de segurança impetrado por parlamen-tar para suspender, por exemplo, a tramitação de uma PEC - proposta de emcndaconstitucional- tendente a abolir cláusula pétrea, nos termos do art. 60, ~4°.

Diante da importância do tema, amplamente cobrado em concursos públicos,segue ementa de decisão do Min. Celso de Mello no MS 23565/DF (STF, j.10.11.1999, DJ 17.11.1999, p.33):

"EMENTA: PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO. CONTRO.LE tNCIDENli\L DE CONSTlTUCtONALlDADE (CF, ART. 60, ~ 4').MANDADO DE SEGURANÇA. LEGITIMIDADEATtVA DO MEMBRODO CONGRESSO NACIONAL. WRtT MANDAMENTAL UTILIZADOPOR SERVIDOR PÚDLICO. FALTA DE QUALIDADE PARA AGtR.MANDADO DE SEGURANÇA NÃO CONHECIDO. - O processo deformação das leis ou de elaboração de emendas à Constituição revela-sesuscetível de controle incidental ou diülSO pelo Poder Judiciário, sempreque, havendo possibilidade de lesão à ordem jurídico-constitucional, a im-PUb'llução vier a ser suscitada por membro do próprio Congresso Nacional,pois, nesse domínio, somente ao parlamentar - que dispõe do direito públi-co subjetivo à correta observância das cláusulas que compõem o devidoprocesso legislativo - assiste legitimidade ativa ad cal/sam para provocar afiscalização jurisdicional." - A jurisprudência do Supremo Tribunal Fede-ral firmou-se no sentido de recusar, a terceiros que não ostentem a condiçãode parlamentar, qualquer legitimidade que Iht:s atribua a prerrogativa dequestionar, incidenter tantum, em sede mandamental, a validade jurídico-constitucional de proposta de emenda à Constituição, ainda em tramitaçãono Congresso Nacional. Precedentes. - Terceiros, ainda que invocando asua potenciJI condição de destinatários da futura lei ou emenda à Constitui.ção, não dispõem do direito publico subjetivo de supervisionar a elabora-ção dos atos legislativos, sob pena de indevida transformação, em controlepreventivo de constitucionalidade em abstrato - inexistente no sistema eomi-titucional brasileiro (RTJ 136/25-26, ReI. Min. CELSO DE MELLO) -, doprocesso de mandado de segurança, que, instaurado por mero particular,

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Page 7: Controle de Constitucionalidade Prof.ranuLFO

LEO VAN HOLTIIECONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

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No modelo concentrado, o controle é realizado exclusivamente pelo órgão decúpula do .Judiciário: o STPI , através do ajuizamento de açõcs específicas22,cuja finalidade exclusiva é a discussão "em tese" da compatibilidade de um atonormativo com a Carta Magna, sem levar em conta qualquer situação subjetivaindividual (controle abstrato).

No controle concentrado, a declaração de inconstitucionalidade da lei, emregra, tem efeitos "erga omnes" - eficácia geral, vinculantes - para os PoderesJudiciário e Executivo, além de retirar a norma do ordenamento jurídico comefeitos ex tunc - retroativos.

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Passemos a exemplificar. Suponha-se que, no Estado da Bahia, seja publicadauma lei estadual, criando novas infrações dc trânsito a sercm aplicadas no âmbitodo seu território. Ora, legislar sobre trânsito é da competência privativa da União- CF, art.22, XI, sendo esta lei estadual de t1agrante inconstitucionalidade orgã-nica (foi elaborada por órgão incompetente). Ajuizada, então, uma ADI no Su-premo Tribunal Federal, haverá a discussão abstrata sobrc a constitucionalidadeda referida lei, desvinculada da análise dc qualquer caso concreto específico. Aeventual declaração de inconstitucionalidade da lei produzirá efeitos uerga on-mes"(todos devem respeitá-Ia); vinculantes (o Poder Judiciário e o Executivo estãoobrigados a desconsidcrar a lei e impedidos de aplicá-la); e, em regra, a lei serádeclarada nula ah initio, retirada do ordenamento jurídico desde a data de suapublicação.

Já no modelo difuso ou aberto, o controle de constitucionalidade podc serrealizado por qualquer juiz ou Trihunal, respeitando-se as regras de competên-cia jurisdicional, sendo que a questão da inconstitucionalidade não é o objetoprincipal da ação, mas argüida como mero incidente processual (controle por viaincidental), prejudicial ao julgamento da causa, a ser decidida no âmbito de umcont1ito individual de interesses (controle concreto).

No controle difuso, a declaração de inconstitucionalidade da lei, em regra,produz efeitos somente entre as partes - "inter partes", fazcndo com que a lei, aoser considerada nula, deixe de ser aplicada 110 processo em que foi julgada, emgeral, com efeitos retroativos.

Exemplifiquemos: suponha-se que um determinado indivíduo tenha sido pre-so em flagrante delito, portando 200 (duzentos) gramas de "maconha" e que a

21. Por enquanto, estamos tratando somente do conlroh:: de constitucionalidade em face da ConstituiçãoFeder:.!' No Controle estadual - em f,1cedas Constituições Estaduais, o modelo concentrado ê exercido pelosTribunais de Justiça. No final deste Capitulo, Serão aJla!isad:Js :IS regras sobre o controle nos Eslados.

8.3. Controle repressivo

O controle repressivo brasileiro, por sua vez, é predominantemcnte jurisdi-cional, combinando-se o modelo difuso com o modelo concentrado. Por estemotivo, a doutrina afirma que o Brasil, como regra, adotou o controle repressivojurisdicional "misto,,20.

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20. MORAES, Alexandre. Direito Cunstilllc;ollal. 12' ed. São Paulo: Atlas, 2002. p.586. Devemos alertarque o sistema de controle de comtitueionalidade adotado como regra pelo Brasil foi o jurisdicional e não omisto (combinação do jurisdicional com o politico). O que a doulrina afirma é que pelo fato do Brasil adotar ocontrole jurisdicional, combinando os modelos norte-americano (difuso-eoncreto.ineidcntal) e :lustríaco (con-cenlmdo-abstrato-direto), nosso sistcma seria o jurisdicional misto. No mesmo sentido: LENZA.l'edro. Direi-to Constituciunal F.sqllemali::ada. São Paulo: cd. Método, 2004, p.95.

Podemos resumir as considerações sobre o controle de constitucionali-dade preventivo e jurisdicional da seguinte fonna:

I) Os projetos de lei e as PEC's podem sofrer controle preventivo de constitu-cionalidade realizado pelo Poder Judiciário, quando houver desrespeito às nor-mas de processo legislativo previstas na CF;

2) Como o MS será ajuizado contra um ato do Congresso Nacional ou de uma desuas Casas, a competência originária será do STF - art.102, inciso I, d da CF/88;

3) Esse controle se dará através de mandado de segurança - scndo classifica-do como um controle concreto e incidental - diante do direito líquido e certo doparlamentar de ver respeitado o "devido processo legislativo";

4) O pedido principal desse MS é a paralisação do processo legislativo - base-ando-se no direito liquido certo do parlamentar de não ser obrigado a participarde um processo legislativo reputado inconstitucional. Assim, é discutida umasituação concreta - o direito líquido e certo de um parlamentar, não havendo adiscussão abstrata da constitucionalidade ou inconstitucionalidade da norma, umavez que o STF não admite o controle preventivo de constitucionalidade emabstrato;

5) A legitimidade ativa para o MS é exclusiva do parlamentar, não cabendo alegitimidade a terceiros, sob a alegação de serem futuros destinatários da norma;

6) Ajurisprudência do STF entende que se a controvérsia é puramente regi~mental, resultante da interpretação de normas regimcntais, não caberá MS por setratar de ato interna cotporis, imune ao controle judicial.

converter-se-ia em um inadmissível sucedâneo da ação direta de inconsti-tucionalidade."

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Autoridade Policial tenha enquadrado a situação no art.12 da Lei n" 6.368/76(tráfico de drogas). Nos termos do art.2° da Lei 8.072/90, este individuo não terádireito a liberdade provisória, devendo responder o processo integralmente na

prisão.

Na situação aprescntada, é possível a impetração de habeas corpus, cujo pedidoprincipal será a concessão de liberdade provisória para o suposto traficante, sendoque, incidentalmente, deve ser pedida a inconstitucionalidade do art.2° da Lei n°8.072/90, que proibc de fonna geral a concessão de liberdade provisória para osacusados por crimes de tráfico de drogas. A inconstitucionalidade, se decl~rada, so-mente produzirá efeitos entre as partes, fazendo com que a lei deixe de ser aplicadaneste processo, não sendo retirada, portanto, do ordenamento jurídico.

Traçadas as linhas gerais dos modelos difuso e concentrado, duas ressalvasimportantes devem ser feitas:

1') No 13rasil, em regra, o controle difuso ou aberto, realizado por qualquerjuiz ou tribunal, é incidental (a inconstitucionalidade é mero incidente processu-al um fundamento da causa); e concrelo (o exame de constitucionalidade é feitodi'ante de um conflito de interesses subjetivos). Neste caso, a declaração de in-constitucionalidade produz efeitos somente entre as partes da relação processualconcreta (inter partes).

Ocorre que, em algumas hipóteses, o controle difuso ou aberto assume a for-ma abstrata (a inconstitucionalidade é analisada "em tese", sem vinculação aum caso concreto). Nestas hipóteses de controle difuso e abstrato, os efeitos dadeclaração de inconstitucionalidade não se limitam às partes do processo, pas-sando a vincular situações posteriores.

Como exemplos, temos o recurso extraordinário (cada vez mais um instru-mento de controle difuso e abstrato") e o incidente de inconstitucionalidade pe-rante tribunais, previsto nos artigos 480 a 482 do CPC. Considera-se que, nestescasos, tanto o Supremo Tribunal Federal, quanto o plenário dos tribunais acabamanalisando a questão da inconstitucionalidade "em tese" (desvinculada do caso

22.Açào direta de inconstimcionulidade genérica -ADI gcncrica, ação direta de inconstitucionalidade poromissão -ADl por omissão,Ação direla de inconstitucionalidade intcrventiva -ADI inlervcntiva. ação declaralóriade constitucionalidade -ADECon ou ADC - e ação de descumprimento de preceito nmdamental-ADPF.

23. DID:ER Jr, Frlldie [el al.I "Aspeclos Processuais da ADIN e da ADC". Açcic.'i Constitucionais. Org.Fredic Didier 1r. Sah-ador:ll1sPODrYM, 2006, p.344. No mesmo sentido,AMARALJÚlllOR, José Levi Mellodo. Incide/l/e de argüição de incon.stitucionalidade. São Paulo: RT, 2002, p.47.

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

concreto), razão pela qual suas decisões, apesar de não possuírem a eficácia geraldas ADI's, irradiam seus efeitos para fora do processoH•

za) Do mesmo modo, como regra geral, o controle de constitucionalidade Con-centrado no STP é abstrato e direito (a inconstitucionalidade é o próprio pedidoda ação e não simples incidente processual).

Ocorre que, em certos casos, o controle de constitucionalidade é concentradono STF, mas envolve a discussão de um caso concreto. Exemplo: possibilidadede mandado de segurança a ser impetrado pelo parlamentar durante a tramitaçãoda PEC no Congresso Nacional, quando hOLlveí violação às cláusulas pétr~as -ar1.60, 94°. Nessa hipótese o controle será concentrado no STF, por força doar1.I02, I, "d" e concreto, pois envolverá a discussão de um direito individuallíquido e certo -o direito do parlamentar de participar de um proccsso legislativoque respeite a Cr/88.

Outro exemplo citado pela doutrina é a ADI !nterventiva (art.36, inciso III clc art.34, VII da CF/88), que seria um controle concenlrado no STF, por vía deação direta, porém envolvendo a discussão de um caso concreto, a saber: umconflito federativo entre a União e os Estados-membros ou o DF, como veremosem momento oportuno.

Resumindo, controle difuso e concreto (assim como os controles concentradoe abstrato) nem sempre caminham juntos, apesar de serem considerados muitasvezes como sinônimos, devendo o caro leitor atentar para as situações acimaapresentadas.

8.3.1. Controle repressivo e político

Excepcionalmente, o controle repressivo é realizado por órgão políticos. Ve-jamos as hipóteses:

1) arl. 49, inciso V da CF/88: O Congresso Nacional pode sustar os atosnonnativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou doslimites de delegação legislativa.

24. Nesse scnlido, o art.32I, 950, inciso VII, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Fedl:ral. qued~temlina qUI: as decisõl:s do STF /lOS recursos extraordinários interpostos no âmbito dos Juizados EspeciaisFederais vinculam as Tunnas Recursais. No mesmo sentido, o art.481, parágrafo único do CPC dispüe que osÓrgãos Fracionários dos tribunais não precisam submctl:r ao plenário, ou ao órgi'io especial, a argüição deinconstiruciollalid:lI.k, quando já houver pronunciamento destes ou do pknário do Supremo Tribunal Federalsobre a questão, dcmollstrand\) que estas decisões do STF oude plcmírio de trihunal, apesar dll tomad<ls em sedede controle difuso, extrapolam 0$ proCIlS$OS em que foram exaradas, influenciando as situações poslcrion::s

exalamentc por St:ll caráter abstrato.

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LEO VAN HOLTflE.

. 'd ões'Sobre essa hipótese, tecemos as segumtes caOSI eraç .

Itr-CF art 84, IV, queé o poder1 I) O Executivo dispõe do poder regu amen a ,. - dI'. I) ara a fiel execuçao e uma Cl,de expedir decretos (decretos regu amentares p I I", . - fi" O decretos não podem ex trapo ar os Iml-facilitando a sua aphcaçao e e IcaCIa. s. .' I'dade'

tes da lei criando direito novo. sob pena de mconstltuclona I ,, .. d tr I de constitucionalidade "repressi-I ?) O art 49 inciso V traz hlpotese e can o e . d _)

.- ,. • N' I desustar(exmmc-apartlf centao os" ever que o Congresso aCIOna po .vo , ao pr . b' d' I poder rcoularnentar (cnouefeitos de um decreto já em vigor que exor ltau o seI . .. :'! .

- .. f a de decreto leglSlaln o,direito novo). O ato de sustaçao vira na ann. d' I b d pelo Presiàente da República a partir de auto-I 3) A lei delega a e e a ora a I - d CN

'. Nacioo'lI por meio de reso uçao o , querização concedida pelo Congrcsso " _ CF t 68 Caso o Presidenteespecificará os temlOS e o conteúdo da delegaçao- : ar.. N' I

1 - d'da cabera ao Congresso aClOna,extrapole dos limites da de egaçao conce I , . c) esta lei delegadapor meio de decreto legislativo, sustar (com efeitos ex nuninconstitucional,

.. d.' d STF o decreto legislativo que susta os atos1.4) Conforme Junspru enCIa o ,', de ar sua vez ser declara-

normativos do Poder Executivo (art,49, mCISOV) po , P 'd d' d .d d ADl caso tenha consl era o e mancl-

do inconstitucional pelo STF em se e e, (ADI n0 1 553/DF Plenora equivocada que houve abuso do poder regulamentar . , ,reI. Min. Marco Aurélio, j.I3.05.2004, DJ 17.09.2004, p.52). . ..

d R . brca ao editar medida provlsona2) 'Irt 62 da CF/88: o Presidente a epu I, . d' C' . " . b t A las de (me Jato ao ongresso

nos casos de relevância e urgenclll, deve ~u me e-dI'b sobre a MP Caso o

. : de 60 + 60 dias para e I erar .NacIOnal, que t~~a o ~r~zeodidaprovisória inconstitucional, a rejeitará exprcssa-congrcssol~~onsdl erveerdadeiro controle de constitucionalidade repressivo (umamente rea Izatl o I' _)vez q~e a MP já estava em vigor desde a data de sua pub Icaçao ,

8.3.2. Possibili,lade de controle repressivo por meio de lei. 'd' • admite a possibilidade do Poder

Em nosso ordenamento Jun ICO, nao se .' I'd d ( I'd de) deLegislativo editar uma lei p.a~aldedclaradreanal:~~~~tJ~~~~~~~~~o~ ~fe~~o: r:troati-

I . anterior a fim de retlra- a o ar .uma lC:1 , , • • • • I'd' de é da competência exclu-vos, pois este cJonltro~ede(fiAmDltllvMo~~~~~~t~t~:~l~;e~o do STF, reI. Min. MoreiraSlva do Poder li( IcranO ~,Alves,j.29.03.1990, DJ 22.10.1993, p.22251).

. . bl'. d d clarando a inconstitucionalidade de outra an-Caso uma lei sCJa pu Ica a, c ;- d lei or outra com

terior, tal ato será interpretado como mera revogaç,lO c uma p ,eficácia ex f1I1I1C - a partir de então.

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

9. CONTROLE JURISDICIONAL DIFUSO OU ABERTO (E CONCRETO)

O controle difuso surge, e com ele a teoria do controle de constitucionalidade, em1803 na Suprema Corte norte-americana, no célebre caso Marbury x Madison, atra-vés de decisão do juiz Marshall.

Como visto, este controle caracteriza-se por ser exercido por qualquer juiz outribunal no caso concreto, quando uma das partes, em um detenninado processoindividual, argúi a inconstitucionalidade de uma lei incidentalmente, por via deexceção.

No controle difuso, a declaração de inconstitucionalidade não é o objeto prin-cipal da ação. A questão da inconstitucionalidade surge quando uma das partesalega, como "causa de pedir" ou como argumento de defesa, a incompatibilidadede uma lei ou ato normativo com o texto da Lei Maior.

Assim, quando o Poder Judiciário aprecia a constitucionalidade de lei ou atonormativo como questão prejudicial ao julgamento do mérito de uma lide, dize-mos que o juiz ou tribunal estará realizando o controle difuso ou incidental.

A questão da inconstitucionalidade, neste tipo de controle, pode ser alegadapor qualquer das partes, pelo Ministério Público, ou ainda, pode ser concedidapelo juiz ou tribunal de ofício, uma vez que o Poder Judiciário tem a obrigaçãode zelar pelo cumprimento da Constituição, sendo esta verdadeira matéria deordem pública.

O controle difuso pode ser realizado em qualquer espécie de ação (ação ordi-nária, ação possessória, ação de alimentos, reclamação trabalhista, habeas corpusetc.) inclusive em mandado de segurança, como ocorre no MS i.mpctrado peloparlamentar durante o processo legislativo (que, como visto, é hipótese de con-trole jurisdicional e preventivo).

Por fim, O controle difuso ou aberto é também conhecido como; controle inci-dental, incidenter tantum, por via de exceção, por via de defesa ou, ainda, contro-le indireto.

9.1. Cláusula de reserva de plenário

O art. 97 da CF/88 dispõe que os tribunais somente poderão declarar a in-constitucionalidade de uma lei ali ato nomlativo pelo voto da MAIORIA AB-SOLUTA de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial.

Assim, quando a inconstitucionalidade de uma lei for argüida cm sedc detribunais por ullla das partes do processo, os juízes do órgão fracionário (câmaraou turma recursal) a que competir o julgamento da causa, terão duas opções:

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13) se rejeitarem a alegação de inconstitucionalidade, prosseguirão com o jul-gamento do processo (notem que a cláusula de reserva de plenário só se aplica àdeclaração de inconstitucionalidade da lei, podendo o órgão fracionário do Tri-bunal declarar a sua constitucionalidade);

2:1) se acolherem a alegação de inconstitucionalidade, será lavrado acórdão afim de que o incidente de inconstitucionalidade seja submetido ao Plenário doTrihunal Oll órgão especial que lhe faça as vezes, nos termos do art. 93, inciso Xl(arL48I , caput do Código de Processo Civil);

Como visto acima, a "cláusula de reserva de plenário" somente se aplica às decla-rações de inconstitucionalidade, mas não às declarações de constitucionalidade.Isto porque o presente instituto pretende homenagear a "presunção de constituciona-lidade das leis", ao estabelecer um procedimento mais rigoroso para a declaração deinconstitucionalidade das nonnas no âmbito dos tribunais.

Resumindo: argüida a inconstitucionalidade de uma lei no âmbito dos tribu-nais, se os juízes do órgão fracionário considerarem a lei constitucional, prosse-guem com o julgamento (não se aplicando O art.97 da CF); se entenderem que alei é inconstitucional, registram tal entendimento em um acórdão a fim de sub-meter a questão ao tribunal pleno ou ao órgão especial que lhe faça as vezes, porforça do art.97 da Carta Magna. No pleno ou órgão especial, a inconstinlcionali-dade somente será declarada pela maioria absoluta de seus membros. Não atin-gida essa votação, a norma é tida por constitucional.

Ocorre que o art. 481, parágrafo único do CPC trouxe duas importantes exce-ções para a cláusula de reserva de plenário. Prescreve o referido dispositivo legalque os órgãos fracionários dos tribunais não precisam submeter a argüição deinconstitucionalidade ao plenário, ou ao órgão especial, quando já houver:

I) pronunciamento anterior do plenário ou do órgão especial do mcsmotribunal no sentido da inconstitucionalidade da norma impugnada; ou

2) pronunciamento anterior do plen:írio do Supremo Tribunal Federal, de-cidindo pela inconstitucionalidade da norma impugnada.

Concluindo, podemos afirmar que a cláusula de reserva de plenário somentese aplica quando os juízes do órgão fracionário do Tribunal decidem pela incons-titucionalidade da lei impugnada e, mesmo assim, desde que não haja um pro-nunciamento anterior do plenário ou do órgão especial do próprio tribunal ou doSTF no sentido da inconslitucionalidade da norma impugnada, hipóteses em queo órgão fracionário pode valer-se desta decisão anterior para, ele próprio, decla-rar a inconstitucionalidade da norma sem necessidade de remessa para o órgãomáximo do seu Tribunal.

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

9.2. Efeitos da dcclaração de inconstitucionalidade no controle difuso

No controle difuso, a declaração de inconstitucionalidade da lei produz efei-tos .somente entre as partes - "inter partes", fazendo com que a lei deixe de seraplicada apenas no processo em que foi julgada.

Observem que a lei impugnada não é retirada do ordenamento jurídico. per-manecendo válida e obrigalória para todos, mas apenas deixa de ser aplicada noprocesso em que foi julgada.

Ainda, como a lei é considerada nula dc pleno direito, ainda que cntrc aspartes, a declaração de inconstitucionalidade terá, em regra, efeitos retroativos-"ex tUIlC", fulminando todos os atos pretéritos praticados com base na lei.

Assim, podemos afirmar que os efeitos do controle de constitucionalidadeditllso ou aberto são, via de regra: "EX TUNC" e "INTER PARTES".

Excepcionalm:nte, o STF tem entendido que, por razões de segurançajuridi,ca ou exccpclOnallllteresse social, pode a inconstitucionalidade no controle difusoser declarada com efeitos ex mmc, pró-ativos ou prospectivos, ou até pro futuro,a partir de um determinado momento fixado pelo STF, isto com base no art.27 daLei n"9.868/99, aplicado por analogia".

9.3. Possibilidade de ampliação dos efeitos pelo Senado Federal

Como vimos antes, qualquer juiz ou tribunal pode realizar o controle de cons-titucionalidade no modelo difuso ou incidental. Declarada a inconstitucionalida-de da lei ou do ato normativo por juiz aLI tribunal inferior, a controvérsia consti-tucional pode chegar até o STF através de Recurso Extraordinário (CF, arLI 02,inciso I1I).

O Pretória Excelso, então, poderá declarar definitivamente a inconstituciona-lidade da lei ou do ato normativo, tendo esta decisão igualmente efeitos interpartes e ex tunc. Ou seja, a lei declarada inconstitucional deixa de ser aplicada noprocesso em que foi julgada e com efeitos retroativos.

2~. No julgamento do RE nO 197.917-SP (reI. Min. Mauricio Corrêl.l, j. 06.06.2002, Dl 07.05.2004), oPlenáriO do STF declarou a inconstitucionalidade do art.6° da Lci Orgânica do município de Mira Estrd3fSP~eduzin.doo número de vereadores desta cidade de 11 (onze) para 9 (nove). Ocorre quc, SC esta declaração d~~nc(Jllstltueionaliditdc tivesse efeitos retroativos (ex lime), todas as leis do município elaboradas eom o numerol~reg.ular~c vereadores seriam invalidadas. Assim, para garantir a segurança jurídica, o STF declarou a incotls-t~luelOnahdade, mas determinou que esta só produzisse cfeitns a partir da legislatura seguinte (inconstituciona-lidade prujlllllro), conferindo ao legislativo municipal tempo hãbil para adequar-se il decisão do STF.

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Ocorre que nos termos do ar1.52, inciso X, o Senado Federal pode: "suspendera execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisãodefinitiva do STF".

Isto significa que o Senado Federal pode ampliar os efeitos da declaraçãoincidental de inconstitucionalidade proferida pelo STF, tornando-os "ERGAOMNES" e "EX NUNC".

Assim, o Senado Federal, ao "suspender a execução" da lei impugnada, estaráconcedendo eficácia geral - erga OInnes - a uma decisão até então restrita àspartes do processo, fazendo com que a lei perca sua eficácia em relação a todosos cidadãos, não podendo mais ser aplicada.

Ressalte-se que esta decisão do Senado Federal somente produzirá efeitospró-ativos, a partir de então - ex nunc. Ou seja, enquanto a decisão do STF noprocesso original tem efeitos ex lune (retroativos), a ampliação realizada peloSenado Federal suspende a lei impugnada com efeitos ex nunc, fazendo com queela deixe de obrigar a coletividade a partir da decisão senatoria!.

Algumas últimas considerações sobre a possibilidade de ampliação dos efei-tos do controle difuso pelo Senado Federal:

I) o art.l78 do Regimcnto Interno do STF determina que, uma vez declaradaincidentalmente a inconstitucionalidade da lei, o Supremo fará comunicação detal decisão ao Senado Federal para efeito do art.52, inciso X da CF. Assim, acomunicação do STF ao Senado Federal é obrigatória;

2) a doutrina majoritária entende ser um poder discricionário do SenadoFederal ampliar ou não os efeitos da declaração de inconstitucionalidade proferi-da pelo STF em sede de conlrole incidental;

J) o art.52, inciso X somente se aplica para as declarações de inconstituciona-lidade profcridas pelo STF no controle difuso, posto que, no conlrole concentra-do (exemplo: ADI genérica), as declarações de inconstitucionalidade já produ-zem efeitos contra todos;

4) considera-se que a decisão do Senado Federal é irreversível e impede queo STF modifique posteriormente o seu entendimento em eventual ADI, pois a leiestará suspensa e os julgamentos posteriores ficarão prejudicados.

9.4. Controle difuso e ação civil pública

O STF já pacificou o entendimento pelo qual a ação civil pública pode serutilizada como mecanismo de controlc difuso de constitucionalidade, apesar dosseus efeitos "erga omnes", bastando que a declaração de inconstitucionalidade

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

da lei seja argüida incidentalmente, Como fundamento do direito difuso cal t'-vo ou individual homogêneo que se quer proteger. ' e I

? que. nã.o é admissível é que a declaração de inconstitucionalidade seja opedIdo prIncIpal daação civil pública, pois, ao se admitir lal possibilidade, cstar-se-Ia fazendo uso lI1devido de via inadequada (a ACP) para substituir a açãodireta de inconstitucionalidade.

10. CONTROLE JURISDICIONAL CONCENTRADO E ABSTRATO

O controle concentrado é aquele realizado exclusivamente pelo órgão de cú-pula do .Judiciário: o STF, quanto à Constihlição Federal c os Tribunais de Jus-liça, quanto às Constituições Estaduais.

Através do ajuizamento de ações específicas, o controle concentrado busca adiscussão "cm tese" (controle abstrato) da compatibilidade de um ato normati-vo com a Lei Maior, sem levar em conta qualquer situação subjetiva individuaL

Nesse sentido, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal enlende que ocontrole abstrato faz instaurar um processo objetivo, sem partes (a não ser emum sentido formal), no qual inexiste um litígio, uma lide, referente a situaçõesconcretas ou individuais; apenas busca-se a harmonia do ordenamento constitu-cional e a defesa da ordem jurídica26.

No controle concentrado, a declaração de inconstitucionalidade da lei, emregra, tem efeitos erga omnes - contra todos, vinculantes (para os Poderes Judi-ciário e Executivo), além de retirar a norma do ordenamento jurídico com efeitosex !une - retroativos.

o controle de constitucionalidade concentrado no STF é realizado medianteas seguintes ações:

a) ADI - Ação Direta de Inconstitucionalidade - Genérica;

b) ADllnlerventiva;

26. Nesse sentido, trecho da ementa da ADI MC 1434/S/', rei Min. Celso de Mello. j.20.08.1996. Dl22; 11.1996, p.45684: "CONTROLE ABSTRATO DE CONSTITUCIONALIDADE _ PROCESSO DE CA-RATER OBJETIVO - IMPOSSIBILIDADE DE DIscussAo DE SITUAÇÕES INDIVIDUAIS E CON-CRE~AS.- O contr~le normativo de constitucionalidaJe 4ua1i fica-se como típico processo de caráter objetivo,VocaclOnado exclUSIvamente à defesa, em tC!'ie, da harmonia do si!'ilcma constitucional. A inSlaur:lção desseprocesso objetivo tem por funçiio instrumental viabilizar o julgamento da validade abstrata do ato cstatal emJilce da Constituição da República. O exame de relações jurídicas concretas e individuai!'i constitui maleriajuridic:Jmente estranha ao domínio do proccsso de controle concelltwJo de constitucionalidade. A tutelajurisJi-cional de situações individuai!'i. uma vez suscitada a controvérsia de índole constitucional. há de ser obtid:l navia do controle difuso de constitucionalidade. 4ue, supondo a existcncia de um caso concreto. revela-se acessi.vcl a qualquer pessoa que disponha de inlert:sse e legitimidade (CPC. art. 37'.

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c) AO! por Omissão;

d) ADC ou ADECon - Ação Declaratória de Constitucionalidade;

e) ADPF - Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental.

Passemos ao estudo de cada uma delas.

10.1. ADI genérica

A ADI genérica é a ação típica do controle de constitucionalidade abstrato noBrasil. Sendo um controle abstrato, a ADI aprecia a constitucionalidade de umalei ou ato nonnativo "em tese", sem discutir casos concretos ou direitos subjeti-vos, com a exclusiva finalidade de garantir a harmonia do ordenamento jurídicoe a proteção do sistema constitucional.

Com isso, a ADI faz instaurar um processo objetivo, sem partes. nem lide(conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida), cujo objeto princi-pal é a apreciação abstrata da compatibilidade do alo normativo com a Lei Maior.

Competência ~ a ADI em face da Constituição Federal só pode ser propostaperante o STF.

Finalidade - esta ação tem a finalidade de declarar a incompatibilidade deuma lei ou ato normativo com a Constituição Federal.

Objeto - poderà ser objeto da ADI Genérica uma lei ou ato normativo dopoder público federal ou estadual.

A legislação municipal não pode ser impugnada em sede de ADI perante oSTF até por razões práticas, sob pena de se inviabilizar o Pretório Excelso diantedo grande númcro de leis editadas pelos mais de 5.500 municipios brasilciros.Caso uma lei municipal viole a Constituição Federal, tal inconstitucionalidadepoderà ser declarada no àmbito do controle difuso, que pode chegar até o STFpor Recurso Extraordinário; ou, ainda, no âmbito da Argüição de Descumpri-mento de Preceito Fundamental (ADPF), a ser posterionnente estudada.

Quanto às leis distritais, dispõe o art.32, ~I" da CF que, ao Distrito Federal,são reservadas as competências legislativas dos Estados e dos Municípios. As-sim, as leis distritais editadas no exercício de competência legislativa estadual(exemplo: lei que trate sobre ICMS) podem ser impugnadas em uma ADI noSTF. Já as leis distritais que versem sobre matéria de competência municipal nãopoderão ser objeto de ADI".

27. Nesse scntido a Súmula 642 tio STF: "Não cabe ação direta dc inconstitucionalidade de lci do DistritoFederal derivada da sua competência legislativa municipal",

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALlOAOE

Ocorre ~ue não são todas as leis c atos normativos federais e estaduais quepodem ser Impugnados em uma ADI no STF. A jurispntdência deste Tribunalestabeleceu alguns requisitos que devem ser atendidos cumulativamente a fim deque a lei ou o ato normativo possa ser objeto de AD!. São eles:

1) a lei ou ato normativo deve ter emanado do Poder Público - é importan-te observar que só pode ser objeto de ADI lei ou ato normativo emanado doPoder Público. Atos de natureza privada contrários à Constituição podem até serimpugnados judicialmente, mas não em sede de controle de constitucionalidade(reservados aos atos do Poder Público).

2) a lei ou ato normativo deve ser posterior à Constituição de 1988 - paraser objeto de uma ADI, as leis federais e estaduais devem ter sido editadas apósa Constitnição de 1988.

Como vimos anterionnente, o STF entende que o direto pré-constitucional,elaborado sob a égide de Constituições anteriores, não é objeto do controle deconstitucionalidade, sendo uma mera questão de lei no tempo - lei posterior re-voga lei anterior, envolvendo o fenômeno da recepção constilucional.

Assim, se a lei anterior à CF/88 é com ela compatível, entende-se que foirecepcionada pela Constituição. Se não for compatível, a lei anterior será revogadapela Lei Maior28 •

3) a lei ou ato normativo deve ser geral, abstrato c impessoal - somentepodem ser impugnadas em AOI, leis ou atos nOlmativos dotados de abstração,generalidade e impessoalidade. Leis ou atos normativos de efeitos concretos29

não podem ser objeto de AD!.

Isto porquc a ADI tem como linalidade a proteção "abstrata" do ordenamentoconstitucional, sem levar em conta quaisquer situações individuais. E as leis ouatos normativos de efeitos concretos relacionam-se a lima situação específica,devendo ser impugnados no controle difuso, e não no controle abstrato da AD\.

4) a iei ou ato normativo dcve ofcnder diretamente a Constituição - leisou atos normativos que ofendam a Constituição de maneira indireta, rellcxa ouobliqua não serão objeto de AD\.

28. Por tais motivos, o STF l~ãoaceita a teoria da "inconstitucionalidade superveniente". Para o Supre-mo, uma lei editada sob li vigência dc uma Constituição antcrior que se tome ineompatívd eOllluma Carta lIovanão resulta em "ineonstillleionalidaJc supcrvellicntc" (a lei só se tornou inconstitucional posterionncnte). O queocom: ~ a rcvo:pção ("não-recepção") da lei anterior pela Constituição nova.

29. Exemplos: lei lJue autoriza a instituição de sociedade de eeonOllliamista; decreto quedeclara Ulllimóvelcomo de interesse social para fins de rcfonna agrária; leis que criam d()taçôcs orçamcntúrias.

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V. s quando estudamos a "inconstitucionalidade mediata ou indireta" que auno (I _. _. t"bilidade entre a norma infralegal decreto, reso uçao, mstruçao norma_mcompa I " d" l'd d . d h .. ) a lei a que ela se reporta e mera CrIse e I ega I a c, aIO a que aja,Uva etc. e '" '_

. obll'qlla reflexa uma vIOlação a ConstltUlçao.por via , •

A 'm quando um decreto extrapola a sua competência e viola a lei que deve-" ~/I ;nentar, ainda que haja uma ofensa reflexa á Constituição, tal decreton" reou a d . d I I'd- d "er impugnado em uma ADI, por se tratar e mera cnse e ega 1 aele.nao po e..:>

5) a lei ou ato normativo deve estar em ple~o ~'igor- não po.c1eser ob~eto deAOI leis ou atos normativos revogados. Se ~ leI fo~r~vogada, deIXOU de Violar od /lto Constitucional não lendo sentido o ajUizamento de uma ADPo.ar ename ,

A partir do cumprimento desses requisitos, a jurisprudência do STF entendebe ADI para impugnar, dentre outros;quc ca

a) emendas constitucionais;

b) nonnas das Constituições Estaduais;

c) tratados intemacionais (que ingressam no Brasil com torça de lei ordinária);d) decretos e regulamentos autônomos;

e) medidas provisórias;

t) regimentos dos tribunais;

g) atos administrativos dotados de ~bstração, generalidade e impessoalidadc( normativos do Poder ExecutIvo, rcsoluções adnllOlstratlvas dos tnbu-pareceresnais etc,).

Em sentido contrário, a jurisprudência do STF entende que não pode ser obje-to de ADl, dentre outros:

a) normas constitucionais originárias (pelo princípioda u~,idade da Cons~i-. - -o existem "normas conslituclOn81S inCOnstItucIOnaiS na COnSlltUlçaotUlçao, na . _ " ' .. . ,. devendo as "aparentes contradlçocs serem hamlOOIzadas e mterpre-ongmana,

tadas sistematicamente);

b) leis ou atos normativos anteriorcs à CF/88 - não são inconstitucionais, massim revogados pela CF/88;

b q"e a ADI faz instaurar um proccsso objetivo, cuja finalidade exclusiva é a Prot.:ção da30Lemremos •• '" ......' . - d denamenlo jurídico sem levar em Conta a dIscussão de mtcresscs subJetivos. Nesse sentIdo.Constltulçaoe oor , , . ". . DI

. p'gnada naADI, o ordcuamentolundlco deixa de ser desrespellado, raz;.10 pela qual a 1\revogad:l a norllla un . '. .b. I devendo ser imediatamente arquivada. Aqueles que se sentIrem preJudlc[ulos durante ollcrde o seu o ~c o. . '. .. ". b' I

. . , . lantevc-sc vigente e eJicaz pol.h:m recorrer ao ludlclano para Impugn<lr u el no um !to (Openodo em que.l ~ln.controle couueto-IDCldelltal.

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

c) leis e atos de efcitos individuais e concretos (exemplos: iei que autoriza ainstituição de sociedade de economia mista, lei que eria dotações orçamentárias etc.);

d) decretos regulamentares e regulamentos executivos (ofendem a Constitui_ção apenas de maneira indireta);

e) súmulas dos tribunais, por não apresentarem características de ato normativo;

f) sentenças coletivas ou convenções coletivas dc trabalho.

.Jurisprudência

l) O STF conheceu de AOf ajuizada contra o Decreto nO 25.723/99 do Estado do H.iode Janeiro por considerar que a norma impugnada não seria mero ato regulamcnta"la Lei2.055/93 daquele ESlado, mas norma autônoma em relação à Lei, dotada de nalurezageral e abstrata; sujeitando_se, portanto, à análise de sua constihlcionalidade por meio deação direta (STF, AD! 2950 AgRlRJ, reLp/ acórdão Min, Eros Grau, julgado em06.10.2004).

Legitimidade - pOssuem legitimidade para propor a ADI: Presidente da Re-pública, Mesa do Senado Federal, Mesa da Câmara dos Deputados, Mesa daAssembléia Legislativa (ou da Câmara Legislativa do DF), Govcrnador de Esta-do (ou do DF), o Procurador-Geral da República, Partido Politico com reprcsen-tação no Congresso Nacional, Confederação Sindical ou Entidade de Classe dcãmbito nacional, Conselho Federal da OAB.

Quanto á legitimidade para a AO! genérica, algumas observações:

I') antes da CF/88, o único legitimado ativo para o ajuizamento da ADI cra oProcurador-Geral da República, tendo a Carta Politica de 1988 ampliado bastan-tc o rol de legitimados ativos da AO!;

2') entrc os legitimados, apenas os partídos políticos com representação noCongresso Nacional e as confederações sindicais ou entidades de classe de âmbi-to naeional necessitam de advogado para a propositura da ação. Os outros legiti-mados podcm ajuizar a AO! independentemente de assistência advocatícia (bemcomo praticar, na ADl, todos os atos privativos de advogado)";

31. Nesse sentido a AOI MC QO 127/AL (STF. rel. Min. Celso de Mello, j.20.11.l989, Dl 04.12.1992,p.23057);"0 Governador do Estado c as demais autoridades c cntidades refcridas 110 art. 103, incisos I óI VII, daConstituição Federal, além de ativamente legitimados a instauração do controle conccntrado de constitucionali_dade das leis c lltos normativos, federais e estaduais, mediante ajuizamento da açilo direta perante o SupremoTribunal Federal, POSSucm capacidade processual plena e dispõcm, e;c vi da própria norma cOllstitllciollal, decapacidade postulatória. Podem, em COllscqüeneia, enquanto ostentarem aquela condição, praticar, no prol.:essode al;ão direta de inconstitLlcionalidóldc, quaisquer atos ordinólriamcllte privmiv(ls de advogado".

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3') "Entidade de Classe de âmbito nacional" - para O STF, a entidade deve serrepresentativa de urna classe econômica, exemplo: associação dos produtores decachaça de alambique do Sul de Minas Gerais, associação dos donos de empre-sas de informática etc.; ou profissional32, exemplo: associação dos bancários doBrasil, associação nacional dos magistrados estaduais - ANAMAGES. Ainda,para ser de uâmbito nacional", o STP entende que a entidade deve fazer-se repre-sentar em pelo menos 9 (nove) Estados da Federação.

4°) a perda superveniente pelo partido político de sua representatividade noCongresso Nacional não mais acarreta O arquivamento da ADI pela perda dalegitimidade ativa. O STF modificou seu entendimento sobre a matéria para con-cluir que basta que o partido político tenha representação no CN no momento dapropositura da ADI, pouco importando que venha a perdê-Ia no curso da ação(ADI AgR 2159/DF, rei pl acórdão Min. Gilmar Mendes, j. 12.08.2004 - notici-ada no Informativo n° 356 do STF);

5') O STF entendia que as "entidades de classe de âmbito nacional" que fos-sem formadas pela reunião de outras pessoas jurídicas, formando a chamada "as-sociação de associações", não teria legitimidade ativa para a AOI. Esse entendi-mento foi modificado, entendendo-se, atualmente, que as "associações de asso-ciações", entidades de classe que contêm pessoasjuridicas em seu quadro social,possuem legitimidade para a propositura de ADI, desde que efetivamente repre-sentativas de uma categoria econômica ou profissional (ADI 3153 AgRIDF, reI.pl acórdão Min. Sepúlveda Pertence, j.12.08.2004 - noticiada nos Informativosn° 356 e 361 do STF).

Pertinência temática - Apesar da Constituição não ter feito qualquer distin-ção entre os legitimados ativos, a jurisprudência do STF passou a exigir de al-guns legitimados a demonstração de um vínculo entre a lJ1atéria impugnada nalei e as suas finalidades institucionais específicas, a que se deu o nome de"pertinência temática"]] ..

32. Nesse sentido, o STF jã negou legitimidade ativa para propositura de ADI n UNE (Uniào Nacional dosEstudantes) por rt:presentar classe estudantil e não classe econômica ou profissional.

33. Na lição de Fredie Didicr Jr ("Aspectos Processuais da ADlN e da ADC", Ações Constitucionais. Org.Frcdie Didier Jr. Salv,ldor; JusI'ODIVM, 2006, p.370/371), a 'ílcrtinência tematica" cOllsiste em critério deaferição da legitimidadead cal/sam e não do interesse de agir, pois busca-se verilicar se o autor da ação ê idôneoou não para a condução da ADI, a partir da verilicação de sua "representatividade adequada". A pertinênciatemalica não seria critério de aferição do interesse de llgir (constatado a partir da utilidade e da necessidade daprestação jurisdicional), pois, tmtando-se de ADI, que c ação necessúria pari. a declaração de inconstitucionali.dade dt: aIOSnonnativos do poder publico, o interesse de agir c, de pbno, presumido. Ainda, para o mestrebaiano, a verilicação da pertinência h:lIlútica decOlTeriada aplicação da clãusula do devido processo legal (CF,art.5u, LlV) para as ações dI: controle abslrato de constitucionalidade.

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CONTROLE DE CONSTlTUCtONALIDADE

A partir da possibilidade de verificação da pertinência temática, o STF passoua reconhecer dois tipos de legitimados:

a) os legitimados neutros ou universais - que não precisam provar a suapertinência temática, podendo ajuizar ADI sobre quaisquer leis ou atos normati-vos, independentemente do seu conteúdo, pois, presumidamente possuempertinência temática sobre qualquer matéria; e

b) os legitimados interessados ou especiais - que devem demonstrar a exis-tência de um vínculo entre a matéria impugnada na lei e as suas finalidadesinstitucionais específicas. Exemplo: o Govcmador, ao ajuizar uma ADI, devedemonstrar que a lei impugnada tem repercussão no seu Estado. A entidade declasse de âmbito nacional só pode ajuizar AOI para impugnar matéría relaciona-da com os interesses dos seus associados etc.

Para o STF, os legitimados universais são: o Presidente da República, Mesas dosenado Federal e da Câmara dos Deputados, Procurador-Geral da República, Con-selho Federal da OAB e partido político com representação no Congresso Nacional.

Já os legitimados especiais são: o Governador de Estado (e do DF), mesa daAssembléia Legislativa (e da Câmara Legislativa do DF), Confederação Sindicale Entidade de Classe de âmbito nacional".

Pedido de desistência - não hâ possibilidade de pedido de desistência deADI, quem quer que seja o autor da ação, em respeito ao princípio dn indisponi-bilidade da instância.

Como a ADI visa à proteção do ordenamento constitucional e não à tutela deinteresses particulares, basta a propositura da ação por um dos legitimados paraque o STF a julgue até o final, sendo inadmissÍvcl o pedido de desistência.

Caráter dúplice - a AOI possui caráter (1(lplicc ou ambivalcnte, ou seja, sejulgada improcedente, se transforma numaADC (ação declaratória de constituci-onalidade), com todos os seus efeitos. Nos termos do art.24 da Lei n° 9.868/99:

Art. 24. Proclamada a constitucionalidade,julgar-se-á improcedente a açãodireta ou procedente eventual ação declaratória; c, proclamada a inconsti-tucionalidade, julgar-se-á procedente a ação direta ou improcedente even-tual ação declaratória.

Prescrição c decadência - a propositura de ADI não se sujeita à prescriçãoou decadência, pois as inconstitucionalidades nunca se convalidam. Assim, noano de 2030, pode ser ajuizada uma ação direta de inconstitucionalidade contrauma lei de 1990 em face da CF de 1988 (se esta aÍnda estiver em vigor!).

34. Dica: os legitimados especiais são os estaduais (ou distritais) e os representantes de classe.

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Julgamento da ADI - o julgamento da ADI será realizado pelo plenário doSTF e necessita do voto da maioria absoluta de seus membros - art. 97 da CFI88. Para ser instaurada a sessão, é necessário um quorum de 2/3 dos Ministros doSTF (8 ministros). Nesse sentido, os arts.22 e 23 da Lei nO9.868/99:

Art. 22. A decisão sobre a constitucionalidade ou a inconstitucionalidadeda lei ou do ato normativo somente será tomada se presentes na sessão pelomenos oito Ministros.

Art. 23. Ereruado O julgamento, proclamar-se-a a constitucionalidade Dl! ainconstitucionalidade da disposição ou da nomm impugnada se num ounoutro sentido se tiverem manifestado pelo menos seis Ministros (maioriaabsoluta), quer se trate de ação direta de inconstitucionalidade Oll de açãodeclaratória de constitucionalidade.

Pelo principio da pareelaridade, a ADI pode ser julgada procedente em par-te, declarando-se a inconstitucionalidade somente de um artigo, parágrafo, inciso,alínea, trecho ou palavra. Assim, diferentemente do que ocorre com o veto presi-dencial, que só pode incidir sobre texto integral de artigo, parágrafo, inciso oualínea (como veremos no capítulo reservado ao Processo Legislativo - CF, art.66,li 2°), o julgamento da ADI pode declarar a inconstitucionalidade de um trechoapenas ou de urna palavra de um artigo35, desde que, evidentemente, não modifi-que o sentido do dispositivo legal".

O julgamento da ADI pode resuUar, ainda, na restrição da norma in!raconsti-tucional a uma detenninada interpretação - interpretação conforme a Consti-tuição, o que será estudado em momento oportuno.

Pelo principio do pedido, considera-se que o STF está adstrito à análise dosdispositivos legais apontados como inconstitucionais pela inicial da ADI. Ouseja, se a ADl impugna os arts. 7°, 8° e 9° de uma determinada lei, o STF limitar-se-á a apreciar a constitucionalidade destes artigos, por mais que outros disposi-tivos lhe pareçam igualmente incompatíveis com a Carta Magna3?

35. Foi o que aconteceu nojulgamcnlo duADI nO1.227-8IDF em que se declarou a inconstitucionalidade dapalavra "desacato" do art.r, 91° da Lei n° 8.906f94 - Estatuto da OAB (3rt.r, 92° - O advogado tem imunidadeprofissional, não constituindo injúria, difamação ou desacato puniveis qualqucr manifestação de sua parte, nocxercício de sua ativid::sde,em juízo ou fora dde, sem prejuízo das sanções disciplinares perante a OAB, pelosexcessos que cometer").

36. O STF não poderia declarar a inconstitucionalidade, por exemplo, da palavra "não" em um artigo de leique dispusesse "Não c pernlitido o uso de ... " para resultar em: "é permitido o uso de ...••, uma vez que, nocontrole de constitucionalidade, o Poder Judiciário só pode atuar como ICI-:isl:ldornegativo, sendo-lhe vedadaa possibilidade de criar nonnajurídica nova, atuando como legislador positivo.

37. Nesse sentido,julgado do Supremo Tribunal: "O STF cstájungido á análise do texto impugnado comoinconstitucional, não podendo, pois, estcnder a declaração de inconstitucionalidade a outros dispositivos \'ineu-lados àquele, mas não al,leados, ainda que o fundamento da incOllstitucionalidilde seja o mesmo" (ADI-MC1.851-AL, Trib.Plcllú, reI. Min.llmar Galvão,j. 03.09.1998, DJ 23.10.1998, p.2).

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CONTROLE DE CONSTITUCIONAUDADE

Ocorre que, excepcionalmente, o STF tem admitido a declaração de inconsti-tucionalidade de dispositivos legais não mencionados na inicial da ADI, quandoreconhecer dispositivos que dependam logicamente das normas declaradas in-constitucionais. É a chamada inconstitucionalidade "por arrastmnento" ou "poratração" (também chamada de inconstitucionalidade conseqüente)38.

Vejamos trecho da emenla da ADJ 28951AL (Trib. Pleno do STF,j. 02.02.2005,Dl 20.05.2005, p.5):

"Ill. - Não obstante de constitucionalidade duvidosa a primeira parte domencionado artigo 74, ocorre, no caso, a impossibilidade de sua aprt:ciação,em obséquio ao "principio do pedido" e por nlio ocom:r. na hipótese, o fenô-meno da inconstitucionalidade por "amlstamento" ou "atrwyào",ja que o cita.do dispositivo legal não e dcpen<h:nte da nomla declarada inconstitucional."

E do voto do Min. Carlos Velloso na mesma ação:

"Também o Supremo Tribunal Federal, no controle concentrado, fica con.dicionado ao "princípio do pedido". Todavia, quando a declaração de in.constitucionalidade de uma nOnllU afeta um sistema nonnativo dela depcn.dente, ou, em virtude da declaração de inconstitucionalidade, norm3S sub.scqüentes são afetadas pela declaração, a declaração de inconstitucionali.dade pode ser estendida a estas, porque ocorrente o fenômeno da inconsti-tucionalidade por "arrastamento" ou "atração"."

Apesar de termos dito que o STF encontra-se vinculado ao pedido da AOI, omesmo não ocorre em relação à causa de pedir, isto é, às normas constitucionaisapontadas pelo autor da AOI como parâmctro para a dcclaração de inconstituci-onalidade da lei" .

Isto porque a Constituição deve ser considerada como uma unidade de senti-do (princípio da unidade da Constituição), não podendo o STF ficar "refém" dosdispositivos constitucionais apontados pelo autor da ADI como parâmetro para ocontrole de constitucionalidade. Ao contrário, deve o Pretório Excelso analisar ainconstitucionalidade da lei impugnada com base em toda a Constituição. Porisso se entende que não há possibilidade de novo questionamento sobre a matériadccidida em sede de AOI, uma vez que o STF, ao julgá-Ia, tem cognição plena,ou seja, analisa não só os fundamentos constitucionais argüidos pelas partes,Como todos os outros que achar pertinentes.

38. Nesse sentido, ADI29S2 QOfCE (Pleno do STF, rcl. Min. Gilmar Mendes,j.17.06.2004, Dl 12.11.2004,p.5): "Questão de on.lcm. Extensão da declaração de inconstitucionalidade a dispositivos não impugnados cx-prcss3mente na inicial. lnconstilucion:llit!ade Jlur arr:lslllmenlo. Explicitação no sentido de que a dcc1araçllode inconstitucionalidade alcança outros Jispo~itivos que mio os pcdidlls na inicial da ADI".

39. A doutrina afiml:! 'Im::, /lO processo dt:ADI, o pedido ê fechado (diante do principio do pedido), mas acausa de pt:dir é aberta.

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Vejamos um exemplo. Considere que foi ajuizada no STF uma ADI para im-art.lgos ]" 2" e 3" de uma determinada lei federal, alegando ofensa aopugnar os '. . ,

art.5", LlV da CF (princípIO do deVido processo legal).

O STF como vimos, deve limitar-se à declaração de inconstitucionalidadedos artigo~ impugnados na ADI (arts. 1",2" e 3') por força do princípio do pedi-do. Ocorre que, em caráter excepcional, pode o Supremo declarar a lOconstlrucI-onalidade de um dispositivo não mencionado na inicial da AOI (exemplo: umtrecho do art.6° da mesma lei que contcnha a expressão: "salvo a hipótese conti-da no art.2(J desta lei") por entender que esta norma depende logicamente dosdispositivos declarados inconstitucionais (hipótese de "inconstitucionalidade porarrasta menta").

Ainda, a Suprema Corte pode declarar a inconstitucionalidade de tais normasnão com base no art.5°, inciso LIV da CF, como alegado, mas por ofensa aosart.2", 18, 50 ete., considerando que o STF deve interpretar a Lei Maior eomouma unidade de sentido, não se vinculando, portanto, à causa de pedir da ADI.

Efeitos - a decisão definitiva de mérito da ADI possui, via de regra, efeitos:

1) Erga omlles - as decisões em sede de ADI não se restringem às partes doprocesso, possuindo eficácia geral, contra todos. A declaração de mconstl.ru~l~-nalidade na ADI resulta na retirada da norma impugnada do ordenamento Jundl-co tendo esta decisão eficácia geral;,

2) Ex tune - diante do princípio da nulidade das normas i~lconstitu~io-nais40 as decisões em ADI declaram a inconstitucionalidade das ICIScom efeItosretroa;ivos, a fim de retirá-la do ordenamento jurídico desde o seu início.

Em regra as decisões definitivas de mérito das ADI's são proferidas comefeitos rctroa;ivos. Ocorre que, como veremos adiante, o art.27 da Lei n° 9.868/99 possibilita a manipulação dos efeitos da ADI pelo Supremo Tribunal Fed,"ral,que poderá declarar a inconstitucionalidade da leI com efeitos ex mme ou ate profuturo;

3) Vinculanles - as decisões definitivas de mérito das ADl's vinculam o Po-der Judiciário e O Poder Executivo (Administração Pública Direta e Indireta dasesferas federal, estadual, distrital e municipal), que devem absoluto respeito aoquanto decidido nesta ação.

40. A declaração de inconstitucionalidade de uma lei represcnta a declaração de sua nulidade (não de suainexistência, anulabilidade (lU simples irregularidade).

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CONTROLE DE CONSilTUCIONAUDADE

Assim, declarada a inconstitucionalidade de uma lei no controle abstrato, nc-nhumjuiz ou tribunal poderá aplica-Ia a um caso concreto, uma vez que a mesmafoi retirada definitivamente do ordenamento jurídico, bem como não poderá oPoder Executivo praticar atos administrativos baseados na legislação invalidada.

Ressalte-se que as decisões da ADI não vinculam o Poder Legislativo. En-tende-se que este Poder não estará impedido de elaborar nova lei, de acordo comas regras de processo legislativo, ainda que contrarie a decisão proferida em sedede ADl4l.

Por fim, a principal conseqüência do efeito vinculante consiste na possibili-dade de qualquer interessado ajuizar uma reclamação no STr (CF, art.l 02, incisoI, alínea "I"), para exigir o respeito à decisão da Suprema Corte em sede de ADIe, se for o caso, dcsconstituir o ato do Poder Judiciário ou do Executivo que adesrespeitou42•

4) Repristinatórios - com a declaração de inconstitucionalidade de uma lei,ocorre a plena restauração da eficácia da legislação anterior que havia sidorevogada pela lei inconstitucional.

41. Nesse sentido,julgado do STF: "A eficácia geral c a efeito vinculante de decisão profcrida pelo STF emação declaratória de constitucionalidade 011 direta de inconstitucionalidade de lei ou ato nonnativo federal nãoalcançam o Poder Legisla.tivo, que podc editar nova lei com idêntico teor ao texto anterionnente ctllsurado pelaCorte. Perfilhando esse entendimento, e tendo em conta o disposto no 9 2° do art. 102 da CF e no par:ígrafounico do ar!. 28 da Lei 9.868/99, o Plellario negou provimento a agravo regimental em reclamação na qual SI;:

alegava que a edição da Lei 14.93812003; do Estado de r-.IinasGerais, que instituiu taxa de sCb'Ul"ançapública,afrontava a decisão do STF na ADf 2424 MC/CE (acórdào pendente de publicação), em que se suspendera adicácia de artigos da Lei 13.0R4/2000, do Estado do Ceará, que: criara semelhante tributo. Ressaltou.se queentender de tonna contrária afetaria a relação de equilíbrio entre o tribunal constitucional e o legislador, redu-zindo o ultimo a papel subordinado penante o poder incontrolável do primciro, acarretando prejuízo do espaçodemocrâtico.represen1ativo da legitimidade politica do órgão lcgislativo, bem como criando mais um fator deresistência a produzir o inaceitavcl fenômeno da chamada fossilização da Constituição." (Rcl 2617 AgRIMG,Trib. Pleno, rei. Min. Cezar Pc1uso,j. 23.2.2005, 0120.05.2005, p.7).

42. "O DESRESPEITO À EFICÁCIA VfNCULANTE, DERIVADA DE DECISÃO EMANADA DO PLE.NÁRlO DA SUPREMA CORTE, AUTORlZA O USO DA RECLAMAÇÃO. O descumprimento, por quais-quer juizes ou Tribunais, de decisões proferidas com efeito vinculante, pelo Plenário do Supremo TribunalFederal, em sede de ação direta de inconstitueionnlidnde Ollde ação d~claratória de constitucionalidade, autori-za a utiliz..1.çiloda via reclamatória, também v(lcacionuda, em sua específica função processual, a resguardar e afazer prevalecer, no que conccme à Suprema Corte, a ifltegridad~. a :lUtoridade e a eficàcia subordinante do.'icomandos que emergem de seus atos decisórios. Precedente: Rcl 1.7221IU, ReI. Min. CELSO DE MELLO(Pleno). (RTJ 187/151, Rcl. Min. CELSO DE MELLO, Pleno). Cabe reconhecer que mesmo tercciros- que nãointervieram no processo objetivo de controle nomlativo abstmto - dispõcm de legitimidade ativa para o ajuiza.mento da reclamação perante o Supremo Tribuníll Federal, quando promovida com o objetivo de fazer restauraro '"imperium" inerente iis decisões emanadas desta Corte, pmferidas em sede de ação dircla de inconslituciona.liJaucouuc aç[lodeclaratória de constitucionalidade." (Rcl3309 MClES. reI. Min. Celso de Mello,j. 1°.07.2005,Dl 04.08.2005, p.45).

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LEO VAN HOLTIlE

Como a declaração de inconstitucionalidade resulta na nulidade da lei, sãoconsiderados inválidos todos os efeitos que a lei impugnada já produziu no pas-saào, inclusive o efeito de ter revogado a legislação anterior que com ela mos-trou-se incompatível.

Com isso, entende-se que esta legislação anterior é plenamente restaurada,passando a reger todo o período em que a lei inconstitucional esteve em vigor.

Manipulação dos cfcilos daAIlI por parte do STF-Art. 27 da Lei 9.868/99:

Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato nonnativo, e ten-do em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social,poderá o STF, por maioria de 2/3 dos seus membros, restringir os efeitosdaquela declaração ou d..:cidir que ela só tenha eficácia a partir de seu tràn-sito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.

Esse dispositivo legal conferiu amplos poderes ao STF no sentido de manipu-lar os efeitos da declaração de inconstitucionalidade: seja para decidir que taldecisão só terá eficácia a partir do seu trânsito ernjulgado (eficácia ex nune) ou apartir de determinado momento a ser fixado pelo próprio Tribunal (inclusive emdata futura - inconstitucionalidade pro fillllro); seja para manipular a eficácia"erga omnes" da decisão, afastando sua incidência em relação a algumas situa-ções.

Com esta possibilidade de manipulação do STF, podemos afirmar que os efei-tos da declaração de inconstitucionalidade de umaAOI são, em regra, erga omnese ex tunc, pois o STF, mediante o voto de 2/3 dos seus membros e por razões desegurança jurídica, pode restringir a abrangência desta decisão ou, ainda, confe-rir-lhe efeitos ex tlUfle ou pro juturo43 .

Concessão de liminar - a medida cautelar na AOI, salvo nos período derecesso e de férias, quando poderá ser excepcionalmente concedida pelo Minis-tro-Presidente do STF ad referendllm do Tribunal, será concedida por decisão damaioria absoluta dos seus membros (6 ministros). Para ser instaurada a sessão,é necessário um quorum de 2/3 dos Ministros do STF (8 ministros).

43. o STF, ao julgar a ADr 3022/RS em 02.08.200..1,declarou a inconstitucionalidade da Lei ComplementarnO10,194 do Estado do Rio Grande do Sul (que defmia como atribuição da Defensoria Pública estadual a assistên-cia judicial aos scrvidort:s processados por ato pruticado em razão do exercido de suas atribuições funcionais) c,por maioria, atribuiu o efeito dcssa decisão a partir do dia 31.12.200-' (inconstitucionalidade prQfuturo), a fim dese evitar prcjuízos desproporcionais decorrentcs da nulidade ex tlInc, bem como pennitir qoe o legislador estadualdisponha adequadamcnte sobre a maléria. Vencidos, m:sse ponto, os ~linistros Eros Grau e Marco Aurêlio quc nãodavam csse efeito por entenderem que, estando a nomKlimpugnada em confronto com a Consliluiçào Federal c,não se tratando, no caso, de segurança juridica nem de excepcional interesse social (art.27 da Lei n° 9.868/99),havcr-se-ia de aplicar aj\lrispnld~ncia do STF no sentido de conferir à declaração efeitos ex III1/C (in infonnalivodo STF nO 355).

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

A decisão da medida cautelar da ADI possui, em regra, efeitos e.'(lumc, ergaomues, e vinculantes, para os Poderes Judiciário e Executivo, e repristinatórios.

Com efeito, nos termos do art. I 1,91' da Lei n' 9.868/99, a medida cautelar daAOI, dotada de eficácia contra todos, será concedida com efeitos ex: IltlnC (regrageral), salvo se o Tribunal entender que deva conceder-lhe eficácia retroativa(ex IIIIIC).

Já o art.ll, 92° da referida Lei prevê que a concessão da medida cautelar tomaaplicável a legislação anterior acaso existente (efeitos repristinatórios), salvoexpressa manifestação do STF em sentido contrário.

Quadro-resumo:

EFEITOS DAS DECISÕES EM SEDE DE ADI-

Liminar Definitiva de Mérito

- EX NUNC, salvo se o STF expressamente - EX TUNC, salvo o art.27 da Lei n° 9.868/conceder eficácia retroativa (ex func). 99 (eficácia ex nunc ou até pro futuro).

- VINCULANTES para o Poder Judiciário - VINCULANTES para o Poder Judiciárioe Executivo (Federal, Estadual e Muniei- e Executivo (Federal, Estadual e Munici-pal), mas não para o Legislativo. pai), mas não para o Legislativo.

- ERGA OMNES. - ERGA OMNES, salvo o art.27 da Lei n°9.868/99.

- REPRISTINATÓRlO, salvo expressa - REPRISTlNATÓRtO.manifestação em contrário.

,.urisprudência

I) O Indeferimento de liminar de AO! não dá margem ao ajuizamento de reclamaçãopelo descumprimento do que decidido pelo STF, pois tal decisão não equivale ao deferiwmenta de liminar de AOC. Nesse sentido, a Reclamação 2810 AgRJMG: "O Tribunal, pormaioria, negou provimento a agravo regimental em reclamação para manter decisão doMin. Marco Aurélio, relator, que negara seguimento ao pedido por entender que o indefc-rimento de liminar em ação direta de inconstitucionalidade não dá margem ao ajuizamen-to de reclamação pelo descumprimento do que decidido pela Cortc. Na espécie, tratava-sede reclamação proposta contra ato de juiz de Ia instância que recebera ação de improbida-de em face de ex-prefeito. A reclamante sustentava ofensa à autoridade da decisão doTribunal na ADl2797/DF - que tem por objeto a Lei 10.628/2002 - sob o timdamento deque a negativa do seu pedido de liminar implicaria a presunção da constinLcionalidade danova redação dada pela referida lei ao art. 84 do CPP. Vencidos os Ministros Gilmarrvlendes e Eros Grau que proviam o recurso por considerarem a ação cabível:' (STF, R.cl2810 AgI{1Ma, reI. Min. Marco Aurélio,j. 18.11.2004, Dl 18.03.2005, p.47);

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,I

LEO VAN HOLTHE

2) "Ementa: AÇÃO DIRETADE INCONSTITUCIONALIDADE. EMBARGOS DEDECLARAÇÃO. CUMPRIMENTO DA DECISÃO. 1. Desnecessário o trânsito em jul-gado para que a decisão proferida no julgamento do mérito em ADI seja cumprida. Ao serjulgada improcedente a ação direta de inconstitucionalidade - ADI n° 2.335 - a Corte,tacitamente, revogou a decisão contrária, proferida em sede de medida cautelar. Por outrolado, a lei goza da presunção de constitucionalidade. Além disso, é de ser aplicado ocritério adotado por esta Corte, quando do julgamento da Questão de Ordem, na AOI 711em que a decisão, em julgamento de liminar, é válida:l partir da data da publicação noDiário da Justiça da Hta da sessão de julgamento. 2. A interposição de embargos dedeclaração, cuja conseqüência fundamental é a interrupção do prazo para interposição deoutros recursos (art. 538 do CPC), não impede a implementação da decisão. Nosso siste-ma processual permite o cumprimento de decisões judiciais, em razão do poder geral decautela, antes do julgamento final da lide. 3. Reclamação proccdentc."(STF, RcI2576/SC,reI. Min. ElIen Graeie,j. 23.06.2004, Dl 20.08.2004, p.38).

3) Normas Constitucionais e Efeito Repristinatório Indesejado. O STF não conheceude ADI sob a justificativa de que a eventual declaração de inconstitucionalidade dos dis-positivos impugnados restauraria a eficácia de normas constitucionais originárias de idên-tico conteúdo material, não impugnadas, e que, ainda que argüida na inicial a declaraçãode inconstitucionalidade destas, outra não seria a conclusão em face do entendimento doTribunal no sentido de que não cabe ação direta contra normas constitucionais originárias.(ADI 2883/DF, Trib. Pleno, reI. Min. Gilmar Mendes,j. 30.8.2006);

4) O Supremo Tribunal Federal considerou não ser aplicável a técnica da modulaçãodos efeitos temporais da declaração de inconstitucionalidade (art.27 da Lei 9.868/99),quando se tratar de mero juízo negativo de recepção de atos pré-constitucionais. Enten-deu-se que a não-recepção de ato estatal pré-constitucional, por não implicar a declaraçãode sua inconstitucionalidade - mas o reconhecimento de sua pura e simples revogação,descaracteriza um dos pressupostos indispensáveis à utilização da técnica da modulaçãotemporal, que supõe, para incidir, dentre outros elementos, a necessária existência de umjuizo de inconstitucionalidade (Ag noAI 421.354-RJ, 2aTurma, ReI. Min. Celso de Mellu,j.07.03.2006, Dl 15.09.2006, p.53).

Advogado-Geral da União - dispõe o arl.I03, li3° da CF/88: "Quando oSupremo Tribunal Federal apreciar a inconstitucionalidade, em tese, de nonualegal ou ato normativo, citará, previamente, o Advogado-Geral da União, quedefenderá o ato ou texto impugnado."

Complementando o dispositivo constitucional, detennina O arl.8° da Lei 9.868/99 que: "decorrido o prazo das informações, serão ouvidos, sucessivamente, oAdvogado-Geral da União c o Procurador-Geral da República, que deverão ma-nifestar-se, cada qual, no prazo de quinze dias".

o Advogado-Geral da União atua na ADI como defensor da norma impugna-da (defensor legis), assegurando o contraditório no controle abstrato.

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

Entende a doutrina majoritária, com base no arl.1 03, li3° da CF, que a atuaçãodo AGU é vinculada, devendo o mesmo obrigatoriamente opinar pela constitu-cionalidade da norma, ainda que seja gritante a violação da Constituição. Daí aafimlação de que, no processo de ADI, o AGU atua necessariamente como curadordo "princípio da constitucionalidade das leis". Ressalte-se, ainda, que o AGU atuarátanto na defesa da lcgislaçâo feueral, quanto na defesa da legislação estadual.

Apesar do que acabamos de afirmar, o Pretório Excelso já decidiu que o Ad-vogado-GeraI da União não se encontra obrigado a defender a norma impugnadana ADI, caso haja jurisprudência anterior do STF no sentido da inconstituciona-lidade da nonna44 •

Procurador-Geral da Rel'í,blica - já o PGR atua na deresa da Constituiçâo,c não da norma impugnada, tendo lima atuação independente que pode resultarem parecer tanto pela constitucionalidade, quanto pela inconstitucionalidade danomla.

Entende-se que a manifestação do PGR é necessária ainda que tenha sido eleo autor da ação; podendo, inclusive, opinar pela improcedência da ADI que elemesmo ajuizou, diante da independência com que deve atuar nesses processos.

Ressalte-se que o PGR deverá ser previamente ouvido não só nas ADI' s, comoem todos os processos de competência do STF (CF, art.l 03, li10).

Intervenção de terceiros - não se admitirá intervenção de terceiros no pro-cesso da ADI (art.7° da Lei 9.868/99). Como se trata de um processo objetivo,onde não há discussão de situações particulares ou de direitos subjetivos, não há efe-tivamente razão para se admitir a intervenção de tcrceiros no âmbito desta ação.

Ocorre que não devemos confundir a intervenção de terceiros (proibida na leida ADI) com a figura do amicus curiae prevista nos arts,7", g2° e 9°, ç 10 da Lei9.868/99, a saber:

"Art. 70 Não se admitirá intervenção de terceiros no proceS$Odc ação diretade inconstitucionalidadc. {... ]

~ 20 O relator, considerando a relevância da matéria e a rcpre.sellt:lti\lida~de dO$postulantes, poderá, por despacho irrecorrível, admitir, observadoo prazo fixado no parágrafo anterior, a manifestação de outros órgãos ouentidades.

44. "O mUllus a que se refere o imperativo constitucional (CF, artigo 103, S )0) deve ser cnit:ndido comtemperamentos. O Advogado-Geral da União não esta obrigado a defender tese juridica se sobre ela esta Cortejã fixou entendimento pda sua inconstitucionalidade." (ADI 16I6!PE, Trib. Pleno, rei. Min. Maurício Corrêa,j.24.05.2001, Dl 24.08.2001, pAI)

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I

LEO VAN HOLTHE

Art. 9° [ ... ]

Si" Em caso de necessidade de esclarecimento de matér~a ou circunstânciade fato ou de notória insuficiência das infonnações eXIstentes ~os autos,poderá o relator requisitar infonnações adicionais, desig~ar perito ou co~missão de peritos para que emita parecer sobre a questao. ou fixa~~da~apara, em audiência pública, ouvir depoimentos de pessoas com expcnenclae autoridade na matéria".

O. . (o pe' ,Ia letra' amigo da corte) não representa um terceiroamzcus cunae a - - . ( .interveniente que ingressa na ADI para pleitear interesses es~eclficos.Ele ~t~acomo auxiliar do juízo, municiando os Ministros do conhecnnento n~c~ssa:1Oao julgamento da causa, notadam:nt~ nos ~:oc~ssosque envolvam matenas tec-nicas específicas ou de alta relevancJa polltlca .

Apesar de entendermos que a figura do amicus clIriae não ~e confu~de com aintervenção de terceiros, devemos registrar que o STF (no Julgado tldo"comoreferência sobre o tema) considerou que o amigo da corte representa uma exce-ção" à proibição da intervenção de terceiros no processo da ADI, devendo o car~leitor atentar para esta afirmação do Pretório Excelso. Segue trecho da ementa dareferida decisão:

"A Lei nO9.868/99, ao regular o processo de controle abstrato de c~nstitu-cionalidade, prescreve que "Não se admitirá intervenção de terceiros ~oprocesso de ação direta de inconstitucionalidade" (art . .1°, caput). A razaode ser dessa vedação legal [ ... ) repousa na circunstâncIa de o proe~sso defiscalização normativa abstrata qualificar-se como processo de carater ob-. " (RTJ 113/22 - RTJ 13tll00l - RTJ t36/467 - RTJ 164/506-507).Jelvo ovaNão obstante todas essas considerações, cabe ter presente a r~gra In -dora constante do art. 7°, 9 2°, da Lei nO9.868/99, qu~, em c.a~atcr exce~-l:ional abrandou o sentido absoluto da vedação pertlllent.e a Intervençaoassist:ncial, passando, agora, a permitir o ingresso de entidade dOlad~ derepresentatividade adequada no processo de control~ abstrato de con~t~tu-cionalidadc. A norma legal em questão, ao excepcionalmente admitir apossibilidade de ingresso formal de terceiros no processo de cont.role nor-mativo abstrato, assim dispõe: [ ... l". (ADI Me 2l30/SC, reI. MIn. Celsode Metto,j. 20.12.2000, DJ 02.02.2001)

Ressalte-se que o «amigo da corte", além de, ~ennitir o aprimoramento dasdecisões judiciais, confere legitimidade dem~c~atlc~ ao~ processos ~e c~n~r~l~de constitucionalidade por possibilitar a partl~lpaç_ao dIreta ~os maiS d~v~r~~setores da sociedade nestes procedimentos formms de mterpretaçao da ConstltUlç ,

- , s'd 'r'lndo o ami o da corte como auxiliar do juízo e não como parte oulerceiro interveni.ente,4~. COII I dt:. co.' " gobre o assunto' AGUIAR Mirella de C3rvalho.AmiCIIS Cur;ae. Salvador: Ediçõesconfenr a obra e rell;renCI, s ... '. . 9

JlIsPODTVJ\.l, 2005. No mesmo sentido, DlDIER Ir, FredlC. Ob. Ctt.p.3 5.

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

nos moldes propostos por Peter Hãberle em sua teoria da sociedade aberta dosintérpretes constitucionais46 ,

Algumas últimas observações sobre o amicus curiae:

1:1) não há um direito subjetivo a ser admitido como "amigo da corte", deven-do a entidade ou pessoa física comprovar a sua "representatividade adequada" cdemonstrar que não irá a juízo para defender interesses subjetivos, mas para au-xiliar o Tribunal Com informações relevantes sobre a matéria em discussão. Dadecisão do relator da AOI que inadmite o amiCllS curiae não cabe recurso;

2;)) o Pretória Excelso tem entendido que a atuação do "amigo da corte" nãose restringe à apresentação de memoriais ou à prestação de informações, incluin-do também a possibilidade de sustentação oral;

3') a figlira do "amigo da corte" é também prevista para o controle difuso deconstitncionalidade no art.482, 93" do CPC.

'.:'fReeorribilidade - a decisão que julga a ADI genérica é irrecorrível, salvo

embargos declaratórios, nãQ cabendo também ação rescisória.Neste sentido, óart.26 da Lei n" 9.868/99:

Art.26 A decisão que declara a constitucionalidade ou a inconstitucionali_dade da lei ou do ato nonnativo em oção direta ou em ação declaratória éirrecorrível, ressalvada a interposição de embargos declaratórios, não POMdendo, igualmente, ser objeto de ação rescisória.

. Reclamações da eficácia da decisão do STF em sede de ADI- no caso deum ato judicial ou administrativo desrespeitar a decisão do STF em sede de ADlou de ADC, caberá a qualquer interessado o ajuizãineIlto de uma ação no'Su-premo (a Reclamação, CF, art.l 02, inciso I, "}"), exigindo o respeito à decisãode mérito (liminar ou definitiva) proferida pelo STF em sede de AO! ou ADC.

Isto porque as decisões, definitivas ou liminares, proferidas nessas ações, con-forme jurisprudência dominante do STF, são dotadas de efeito vinculante, emrelação aos órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública federal, esta-dual e municipal, cuja conseqüência direta é a possibilidade de ajuizamento dareclamação, como forma de garantir a autoridade destas decisões.

46. Sobre a concepção democrática de hernlcnêutica constilucion;11 de Peler Hiibt:rle, conferir o capitulo Ideste livro. Ainda sobre o tema, registre-se a precisa lição de Dirlt:y da CUnha Jr: "A intcrvcnção do amiclIsc/lriae no proccsso objctivo de controlc de constitucionalidade pluraliza o debate dos principais temas de direitoconstitucional e propicia uma maior abertura /lO seu procedimento e na interpretação conslitucional, !lOS moldessugcridos por I'ckr H~berh:: em sua sociedadc aberta dos interpretes da Constituição" ("A intervcnção de tercei_ros no proccsso de controle abstr<1to de constitucionalid;lde - n intervenção do particular, do co-legitimado c duamiClls curiae na i\OrN, ADC c AOPF". Aspeclos polêmicos e alI/ais sohre o.ç terceiros 1/0 prOCe,I.I"Ocivil eassuntos tlfins. Frcdic Didier Jr. c Teresa Amlda Alvim \Vambier (coord.). São Paulo: RT, 2004. p.165.

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10.2. ADI interventiva

A ADI interventiva, também denominada de "representação interventiva" éprevista no art. 36, inciso 1Il da CF/S8, sendo modalidade de controle de consti-tucionalidade direto e concentrado no STF.

Através da ADI intervcntiva, o Procurador-Geral da República ajuíza umaação (representação interventiva) no STF, impugnando um ato estatal que venhaa violar um dos "princípios constitucionais sensíveis"47 da CF (arL34, incisoVII), a fim de quc a nossa mais Alta Corte julgue procedente o pedido de inter-venção federal c, nos termos do art.36, inciso IlI, requisite ao Presidente daRepública a sua decretação, sendo esta uma hipótese de intervenção obrigatória evinculada para o Chefe do Executivo.

Para a doutrina majoritária, a ADI intcrventiva constitui mecanismo de "con-trole direto para fins concretos".jg. Ou seja, °objeto desta acão não é a declara-rjo d,Ynconst.im.çJooalidadc"em tese" ~e um ato estadual, mas a solução de umconflito federativo entre a União e o Estado-mem.b.w (Le., urna situação concre-ta) com o pedido de que se decrele a intervenção federal neste último.

Assim, o STF, na AOI interventiva, não declara a p,,1jdndr no ôto estaQJ}JU,mas limita-se ajulgar procedente ou irn roccde ão pelg intcrven-çao e era. ~m ver a e, quem cc ara a nulidade do ato estadual inconstitucio-nal é o Presidente da República em seu decreto interventivo.

Tanto Que 9 9rt 36 93° da£E dispõe que o decreto interventivo limitar-se-á asuspender a execução do ato impugnado, se esta medida bastar ao restabeleci-mento da nonnalidade, demonstrando que é o decreto do Chefe do Executivoque anula o ato estadual objeto da ADI interventiva.

Hipótese de cabimento - quando lei ou ato normativo estadual ferir um"princípio constitucional sensível" da Constituição Federal (arI.34, inciso VII),que são:

a) a fornla republicana, o sistema representativo e O regime democrático;

h) os direitos da pessoa humana;

c) a autonomia municipal;

47. Assim chamados porque se relacionam com a organização fundamental da Federação brasileira e suaviolação, alenl d;i inconstitucionalidade. pode resultar na deeretaçào de ulIla intervenção federal.

48. Morcirll Alves Aplld C\l':mcrson Cll':vc. Ob cit. p.\29.

182

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

d) prestação de contas da Administração Direta e Indireta;

e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais namanutenção e desenvolvimento do ensino e da saúde.

Legitimidade - A propositura da AOI interventiva é exclusiva do Procura-dor-GeraI da República.

Concessão de liminar - devido à sua natureza, não há possibilidade de con-cessão de liminar.

10.3.1\01 por omissão

A AO! por omissão foi introduzida no Direito brasileiro pela CF/88 Uunta-mente com o mandado de injunção) com o objetivo de dar efetividade às normasconstitucionais que dependem de complementação legislativa4'.l, combatendo adenominada "sÍndrome de inefetividade das nonnas constitucionais".

Competência - só pode ser proposta perante o STF.

Hipótese de cabimento - a AOI por omissão é cabível quando urna nonnaconstitucional, para ter plena eficácia, precisa ser complementada total ou parci-almente pelo legislador ou pelo administrador e este não cumpre o seu deverconstitucional.

Requisito -é requisito daADI por omissão o "dever constitucional de ação",Ou seja, a Constituição deve ter condicionado a eficácia de uma norma do seutexto à edição de uma lei ou ato administrativo.

Dessa forma, surge para o Poder Legislativo ou para a Administração PúblicaO dever constitucional de editar tais regras no sentido de dar plena eficácia àsnonnas constitucionais.

Objetivo - o objetivo desta ação é tornar efetiva nonna constitucional aindadestituída de eficácia, seja porque o legislador ou administrador não elaborou anorma regulamentadora (omissão total); seja porque o fez de forma insuficiente(omissão parcial).

Legitimidade e procedimento - a legitimidade e o procedimento da ADI poromissão são os mesmos da AOI genérica.

49. Confonne já estudado no capítulo 11. são as chamadas normas de cfic:ícia limitada

lH3

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:1

ILEO VAN HOLTIIE

Assim, a legitimidade para a ADl por omissão é a prevista no art.l03, incisosI a IX da CF, sendo cabivcis aqui todas as observações já feitas sobre a legitimi-dade da AD! genérica, inclusive quanto à pertinência temática.

Portanto, a ADI por omissão obedece às mesmas regras básicas da ADI gené-rica, com duas importantes ressalvas:

1) não cabe Iiminarso na ADI por omissão;

2) não há atuação do AGU, uma vez que não há texto impugnado a serdefendidu.

Efeitos da decisão - Em respeito ao princípio da separação dos poderes, en-tende-se que o Poder Judiciário não pode legislar, elaborando a norma faltante afim de sanar a inconstitucionalidade.

A decisão do STF na ADI por omissão terá dois efeitos básicos: declarar amora do legislador ou do administrador cm cumprir o seu dever constitucional delegislar (efeito declaratório); exortando-o a editar a norma regulamentadora (efei-to mandamental).

O art.l 03, g2" estabelece um tratamento diferenciado, a depender do órgãocompetente para a elaboração da norma:

a) se a omissão for do poder competente (Poder Legislativo) - será dadaciência ao poder respectivo, sem estipulação de prazo para a elaboração da lei,nem possibilidade de responsabilização administrativa da autoridade omissa, emrespeito à separação dos poderes. Há quem entenda caber, em tese, indenizaçãopor perdas e danos, se demonstrado () prejuízo com a inércia do legislador;

b) se a omissão for de órgão administrativo - será dada ciência ao órgão,sendo fixado o prazo de 30 dias para suprir a omissão, sob pena de rcsponsabili-dade da autoridade omissa.

Concluindo, podemos afirmar que as decisões em sede de ADI por omissãopossuem efeitos eX" (/llIe (declaram a omissão com efeitos retroativos) e ergaomlles (com eficácia para todos).

50. Confonne posicíonamento do STr: "incompatível com o objeto mediato úa referida demanda a conces~são de liminar. Se nem mesmo o provimento judicial último pode implicar o afastamento da omissão, o que sedirá quanto ao exame preliminar" (ADI 361 MCIDr. rel. Min. i\larco Aurélio.j. 05.10.1990, DJ 26.10.1990,p.1!976).

184

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

\ ADI POR OMISSÃO X MANJ)ADO DE INJur-içÃO,

.00 •

ADJ por omissão Mandado de injunção

- Hipótese de controle abstrato e concen- - Hipótese de controle concreto e difuso deIrado de constitucionalidade (CF, art.1 03, constitucionalidade (CF, art.5°, LXXI).g2').

Declara a mora do órgão competente c - Dá o direito constitucional. ainda não rcgu-exige a elaboração da nonna regulamcn- lamentado, no caso concretoS I .fadara da Constituição.

- Competência: STF (CF, art.1 03, S2"). - Competência: STF (Cr. art. J02, 1, "q" c 11,"a"), STl (CF, art. !OS, I, "h"), TSE (CF. 12I,94°, V) e Tl (art.l2S, 9 1°).

10.4. Ação Declaratória de Constitucionalidade

Competência - só pode ser proposta peranlc o STF.

Finalidade - esta ação tem a finalidade de declarar a adequação de uma leiinfraconstitucional com a Carta Política, transformando a presunção relativa deconstitucionalidade que toda lei possui em presunção absoluta, devido aos seusefeitos vinculantes.

Objeto - somente poderá ser objeto de uma ADC uma lei ou alo normativo dopoder público federal, nunca urna lei estadual ou municipal.

Requisito - há necessidade de demonstração de "comprovada controvérsiajudicial". Ou seja, deve estar acontecendo no Brasil um estado de incerteza so-bre n constitucionalidade da lei, exigindo-se a comprovação de inúmeras açõesem andamento em juízos ou tribunais, em que a constitucionalidade da lei estejasendo impugnada.

Nesse sentido, a ADC não pode ser utilizada corno mero instrumento de con-sulta ao STF, devendo fundar-se em comprovada controvérsia judicial que colo-que em risco o princípio da presunção da constitucionalidade da nonna federalimpugnada.

51. Pum o STF, que adota a posiçãu não-concretista, o Poder Judiciário não pode dar o direito no casoconcreto, na falta da regulamentaçilo da nonna constitucional (vide o capítulo sohre direitos fundamentais).Para o Pretório Excelso, os efeitos do mfl1ldadode íl~unção silo semelhantes ao daADI por omissão, i.c.• qlla~enenhum: declarar a mora do legislador ou do administrador e exol1a-Io a cumprir o seu dever constituciullal deregulamentar fi IIOnna constitucional (Ie eficácia limitada.

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. Legitimidade - com a EC n° 45/04 ("Refor~"1 do Judiciário'.'), a lcgitimid~-de da ADC passou a ser a mesma da ADI genérica, ou seja: PresIdente da Repu-blica, Mesa do Senado Federal, Mesa da Câmara dos Deputados, Mesa da As-sembléia Legislativa (ou da Câmara Legislativa do DF), Governador de Estado(ou i:loDF), o Procurador-Geral da República, Partido Político com representa-ção no Congresso Nacional, Confederação Sindical ou Entidade de Classe deâmbito nacional c o Conselho Federal da OAI3.

Assim, a legitimidade ativa para a propositura de ADC passa a ser a prevista noar1.103, inciso I a inciso IX da Cf~ sendo cabíveis aqui todas as observações já feitassobre a legitimidade da ADI genérica) inclusive quanto à pertinência temática.

Pedido de desistência - não há possibilidade de pedido de desistência, não im-portando quem seja o autor da ação, em respeito ao princípio da indisponibilidadeda instância.

Caráter dúplice - a ADC possui caráter dúplice ou ambivalente, nos mes-mos termos da ADI genérica, ou seja, sc julgada improcedente, se transformanuma ADI, com todos os seus efeitos .

.Julgamento da ADC - o julgamento da ADC, igualmente ao da AO! (Lei n°9.868/99) será realizado pelo plenário do STF e necessita do voto da maioriaabsoluta de seus membros (6 ministros). Para ser instaurada a sessão, é necessá-rio um quorum de 2/3 dos Ministros do STF (8 ministros).

Todas as observações feitas sobre o julgamento da AO! aplicam-se à ADC.

Assim, a ADC pode ser julgada procedente em parte (somente de um ~rtigo,inciso, alínea, parágrafo, trecho ou palavra), diante do princípio da parcclandadc,inclusive restringindo a norma infraconstitucional a uma determinada interpreta-ção - interpretação conforme a Constituição.

Não há possibilidade de novo questionamento sobre a matéria decidida emsedc de ADC porquc o STF. ao julgá-Ia, tem cognição plena, ou seja, analisa nã~só os fundamentos argüidos pelas partes, como todos os outros que achar perti-nentes (causa de pedir aberta).

Efeitos - a decisão definitiva de mérito da ADC possui efeitos: ex tlllle, ergaomues e vinculantes (para os Podercs Exccutivo c Judiciário).

Liminar e snspensão de processos - o art: 21 da Lei 9.868/99 traz a possibi-lidade de concessão de liminar por parte do STF que consistirá na suspensão detodos os processos no Brasil que tratem da matéria cuja constitucionalidade sediscute, até o seu julgamento final ou pelo prazo máximo de 180 dias, quandoos processos voltarão a tcr o scu curso nonnal.

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CONTROLE DE CONST(TUCIONAL1DADE

Entende-se que a decisão da medida cautelar da ADC tem efeitos e.\" IlIlIlC

erga OJlllles e vinculantes52.' ,

Advocacia-Geral da União - a Advocacia-Geral da União não atua na ADCpois, em verdade, ninguém atuará corno defensor da "inconstitucionalidade" d~lei ou ato normativo federal.

Procurador-Ger.al da República - como afirmado anteriormente, o PORatua em todos os processos de competência do STF, inclusive em ADC. Atuará,como sempre, de maneira independente, podendo se manifestar tanto pela cons-titucionalidade, quanto pela inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo fe-deral.

Recorrihilidade - a decisão que julga a AOC é irrecorrível, salvo embargosdeclaratórios, não cabendo também ação rescisória.

10.5. Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental

AADPF é prevista pelo art. 102, li1°da CF/88 e tem seu processo e julgamen-to regulado pela Lei nO9.882/99.

Competência - só pode ser proposta perante o STF.

Legitimidade ativa - a mesma da AOI genérica, nos teonos do ar1.2° da Lei9.882/99" .

52. Uma vez afimlado o efeito vinculante para as medidas cautelares da AD! c da ADC, o STF tem enlt:n~dido que a concessão da liminar duADI também possibilita a suspensão de lodos os processos que envolvam aaplicação da lei cuja vigência toi suspensa pela liminar daADI, à scmclhança do que o art.21 da Lei nQ 9.868/99pr..:viu par:! a liminar da ADC. Nesse sentido, voto do Min. Sepúlvcda Pertence na ADI [.244/SP-QO (;ujotrecho transcrevemos; "Não vejo outra solução, Sr. Presidente. admitindo o elcitq vinculante que terá a dccisãude mêrito, a não ser atribuir ã decisão cautelar efeito suspensivo dos processos cltia decisão pende da aplicação,inaplicação ou declaração de inconstitucionalidade em conerdo da lei que teve sua eficácia Susp~nsa por forçade decisão cautelar do Supremo Tribunal Federal. Do contrário, a convivência,ja dificil, dos dois sistemas decontrole de constitucionalidade que praticamos conduzirá ao caos. Note~se: sequer para adotar d~cisão no sen-tido da decisão cHutclar do Supremo, podcrã ser julgada a ação proposta perante o juízo ordinário, porque danossa decisão de mérito poderá resultar, afinal, em sentido contrário, a declaração de constitucionalidade da lei.Desse modo, acautelar não compele o juiz a que julgue a causa como se a lei fosse incunstitucional, porquc a leiainda não está declarada inconstitucional. A única solução, assim, é a suspensão do andamento do feito ou, pelomenos, a suspensão da dccisão que nele se tenha que lomar, num ou noutro sentido, até a decisão de mérito daação direi:! no Supremo Tribunal Federal". No mesmo sentido, conferir a ementa do RE l68.277fRS, Rei. Min.limar Galvão (jurisprudência extraída da obra do prof. Gilmar Mendes Direitos fimdamenrais e eolltrole d~constitucionalidade: estudos de direito constitucional, São Paulo: Saraiva, 2004. pp.326JJ29).

53. Ressalte-se que o art.2°, inciso li, da Lei 9.882/99, previa a possibilidade de qua[qu~r pessoa lesada Oll

ameaçada por ato do Poder Público ajuizar a ADPF no Supremo Tribunal Federal. Ocorre que este inciso foivetado pelo Presidente da República, razão pela qual, hoje em dia, a legitimidade ativa da AOPF equipara-se alcgitimidad~ ativa daADI genérica, limitada ao art.I03 da CF/88 (ao menos esta é a posição do STF e que deveser seguida para efeito de concursos, apesar de respeit;iveis argumentos da doutrina, confonne analisaremos emseguida).

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Hipóteses de cabimento - de acordo com o art.l o da Lei nO 9.882/99, caberáo ajuizamento de uma ADPF para:

a) evitar ou reparar lesão a preceito fundamental resultante de ato do PoderPúblico (art. I", capltl);

b) quando for relevante o fundamento ~a.cont.rovér~ia constilU~i?n~1 s.obre leiou ato normativo federal, estadual ali municIpal, mcluldos os anteflOI es a Cons-tituição (art.l", parágrafo único).

Na primeira hipótese, temos a AOPF diret.a ou al~tônoma ~ue visa a evitar(caráter preventivo) ou reparar (caráter repressIvo) lesa0 a ~re~eltofundan~e~tal,resultante de ato do Podcr Público (federal, estadual, dlstntal ou mumclpal,tenha ou não caráter nonnativo, podendo, portanto, a lesão resultar de qualquerato administrativo).

AADPF autônoma constitui tipica modalidade de controle de constitucionali-dade concentrado no STF, argüida através de ação direta e fazendo IIlstaurar umprocesso objetivo, em que se discute a inconstitucionalidade de at.os do ~oderPúblico de maneira abstrata (sem referência a casos concretos), cUJa finalIdadeexclusiva é a defesa "em tese" da harmonia do sistema constItucIOnal.

Neste ponto, as principais diferenças daADPF autônoma para aADI e a AD~re~idem tanto no parâmetro do controle (a ADI e ADC protegem toda a Consll-tuiçâo ao passo que a ADPF sô protege os seus "preceitos fundamcntals'.'); quan-to no objeto da demanda (enquanto a ADI somente impugna leiS federais e esta-duais c a ADC volta-se para a legislação federal, a ADPF pode Impugnar qual-qucr ato do Podcr Público - seja ele federal, estadual, distnlal, mUnicIpal, pos-terior ou anterior à CF/88, normativo Oll de efeito concreto, legal ou mfralcgal-que afronte os preceitos fundamentais da Carta Magna).

Percebe-se, nitidamente, que a ADPF veio para completar o sistema de contro~ede constitucionalidadc concenlrado no STF, fazendo com quc atos ?O Poder Pu:blico até então insuscetívcis deADI ouADC, conformc ajunsprudencla do STF(exemplo: leis municipais e o direito pré-constitucional), passassem ~ ser objetode conlrole concentrado de constitucionalidade no Pretôrio Excelso Via ADPF".

54 F Iiação da competência do STF e111 sede de controle abstrato de wnslituciona.lidade, promovida. ,Slaamp . ~ I; I d CF d 1988 eviu de maneIra ampla a Aurf,[ L. 9882/99 devcu_searedaçaodoart.I02,'j o a e qucprpeaeln., , ... ~ I \.t'demosqucnãoh:í

delegando a tart:fa de delimitar a sua abrangência à lcgis'açã~ ordmana, raza~ pc a qua. ~n cn. DI)que se tahrem inconstitucionalidade da Lei n 9.882/99. RegIstre-se que a LeI da AfJPf e obJdo dI,:1l1ll.aA /(

S ' ADI 22J.llDf rel t\1in Néri da Silveira, a qual só conta com o voto do seu rdator (v. [nlonn." IVOuprcmo - . ,., . . I t"t .onahdade

n"253 do STF), não havendo. por enquanto, posicionamento defimtlvo do Supremo so 1rt;a cons I UCI ,da referida 1cgislaçflO.

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

Na segunda hipótese, temos a ADPF incidental ou por equiparação, cabívelquando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ouato nonnativo federal, estadual ou municipal. incluídos os anteriores à Constitui-ção. Aqui residem as maiores controvérsias doutrinárias e jurisprudenciais.

É que, para a doutrina mais autorizada55, aADPF incidental permite que qual-qucr interessado (c não apenas os legitimados daADI genérica) provoque direta-mente o Supremo Tribunal Federal. para que o mesmo resolva com eficácia geral("erga omnes") uma controvérsia constihlcional relevante instalada em um pro-cesso judicial concreto, perrnitindo aos jurisdicionados uma definição antecipa-da e célere do Pretôrio Excelso acerca da compatibilidade de atos do Poder PÚ-blico com os preceitos fundamentais da Carta Magna.

Assim, a exemplo do que já ocorre nos Estados Unidos com o "writ ofcertiorari", na Espanha com o recurso de amparo e na Alemanha com o recursoconstitucional, a ADPF incidental possibilitaria que as "controvérsias constituci-onais rclevantes", originadas de processos concretos em trâmite perante qual-quer juízo ou tribunal, pudessem ser de plano resolvidas pelo guardião da CartaMagna (o STF) via ADPF".

Sua natureza seria de controle de constitucionalidade concentrado no STF,mas concreto e incidental, por se originar de um processo que discute direitossubjetivos, de onde a controvérsia constitucional é suscitada incidentalmente.

Ocorre que, conforme dissemos anteriormente, a possibilidade de qualquerinteressado ajuizar a ADPF incidental no STF foi vctada pelo Presidenle da Rc-pública (mais precisamente, o veto ao ar1.2", inciso II da Lei 9.882/99). Com isso,entende-se que licou completamente esvaziada a ligura da ADPF incidental, umavez que esta teria sido concebida para aparelhar as partes processuais de ummecanismo célere, capaz de levar diretamente ao STF a resolução de uma contro-vérsia constitucional relevante, envolvendo uma lesão ou ameaça aos preceitos

55. Por todos, André Ramos Tavares e Dirk:y da Cunha Jllnior.56. Para uma melhor compreensão do tem:!, registre-se a liçilo de Dirley da Cunha Junior: "A argüição

incidental. l<llcomo concebida, possibilita o tr5nsito direto c imediato ao Supremo Tribunal Fedt:ral de umaqueslão constitucional relevante, debatida 1\0 âmbito das inst5ncias judiciais ordinarias, que envolva a interpre-tação e aplicação de um preceito constitucional fundamental. Na I::spécie,quando admitida a argiiição, operar-se-â uma verdadeira "cisão" entre a questão constitucional e as demais questões suscitadas e discutidas pel<lSpartes nu caso concreto, subindo ao Tribunal, para sua exelusiva apreciaçao, tão-somente a primdra cle];ls.umavez que rernanesce a competcncia dos órgãos judiciãrios ordinari(\s rara decidir a respeito da pretensão deduz.ida.A Corte, 1'011.11110, limita-se a apreciar a questão constitucional, dando-lhe solução adequada t: nipidil, sem semanifestar, porem, sobre ° objeto ou li prt:tellsão veieulad;1 ao caso concreto e pendente de jtllgam~nto pelosórgãos judici!Lrios ordinarios" ("Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamentill". Ações Conslitucjn-/lois. Org. Freclie Didier Jr. Salvador: .I/1sPOOIVM, 2006. 1'.478).

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constitucionais fundamentais, à semelhança do recurso de amparo espanhol e dorecurso constitucional alemão57 •

Com o veto presidencial, O Pretória Excelso tem entendido de forma reiteradaque apenas os legitimados do arLI 03 da CF/88 podem propor a ADPF (tanto aautônoma, quanto a incidental). Considerando-se que a ADPF autônoma não exi-ge a comprovação da "relcvância" da controvérsia constitucional suscitada, con-clui-se que os legitimados do art.1 03 certamente preferirão ingressar com estamodalidade de ADPF, restando à modalidade incidental o papel quase que de"figura decorativa".

Preceito fundamental - já afirmamos que a ADPF é destinada a proteger os"preccitos fundamentais" da Lei Maior, sendo este o parâmetro511 do controle deconstitucionalidade via ADPF. Oeorre que nem a Constituição Federal, nem aLei 9.882/99 definiram o seu conceito, gerando a dúvida sobre o que devemosentender por "preceitos fundamentais".

A primeira observação a ser feita é que, à falta de um conceito legal ou cons-titucional, compete à doutrina e, em última análise, ao Supremo Tribunal Federala tarefa de definir quais normas constitucionais podem ser caracterizadas como"preceitos fundamentais".

Assim, à luz da jurisprudência do STF (ADPF IIRJ, 33/PA etc.), podemosconsiderar como preceitos fundamentais da CF/88: os direitos e garantias funda-mentais (CF, arLS' a 17); as cláusulas pétreas (CF, art.60, ~4'); os princípiosconstitucionais sensiveis (CF, art.34, VII); os princípios fundamentais do Estadobrasileiro (CF, art. 1o ao 4° - democracia, dignidade da pessoa humana, cidadaniaetc.); além das normas fundamentais de organização e estruturação do Estado eda sociedade (federalismo, separação de poderes, princípios norteadores da or-dem econômica e social etc.).

Concessão de liminar - de acordo com o arLSo da Lei n09.882/99, é cabivela concessão de liminar na ADPF por decisão da maioria absoluta dos membrosdo STF (6 ministros). Em caso de extrema urgência ou perigo de lesão grave, ouainda, em período de recesso, poderá o relator conceder a liminar, ad referen-dum do Tribunal Pleno.

57. CUNHA lr, Dirlcy da. Ob cit. pA83.53. Como vislo no inicio deste capitulo. parümetro, paradigma ou cânoll constitucionallÍ o conjunto de

normas da C(lllstituiçilll que se toma como rcfer2ncia p;Jra a declaração de inconstitucionalidade dos atos doPoda Público.

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'I'

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

Nos termos do art.S', ~3' da lei n'9.882/99, a liminar daADPF poderá consis-tir na detennmação de que juízes e tribunais suspcndam o andamento de proces-so ou os efeitos de decisões judiciais que apresentem relação com a matériaobjeto da ADPF (salvo se decorrentes da coisa julgada) até seu julgamento final.

Julgamento da ADI'F - o julgamento da ADPF será realizado pelo plenário doSTF e necessita do voto da maioria absoluta de seus membros (art. 97 da CF/88),presentes 213 deles (quorum de IIlstauração da sessão), ou seja, 8 ministros.

Efcitos - a decisão definitiva de mérito, COI regra, possui efeitos: e.:\:tUlle, ergaO/lllles e vinculantes.

Ocorre que, como na ADI genérica, o art. I I da Lei n 9.882/99 permite ao STFmanipular 0$ efeitos da decisão daADPF, desde que por razões de segurançajurídi-ca ou de excepciona~ interesse social e pclo voto de 2/3 dos seus membros.

Nesses c~sos, a decisão da ADPF poderá ter seus efeitos reduzidos ou apenas sereficaz a partir do seu trânsito em julgado (ex nunc) ou até de outro momento quevenha a ser fixado em data futura pelo STF (inconstitucionalidade pro fUllIro).

Caráter subsidiário - determina o art.4, ~ I' da Lei n' 9.882/99 que não seráadmitida argüição de descumprimento de preceito fundamental quando houverqualquer outro meio eficaz de sanar a lesividadc.

Na ADPF 33 MC/PA (Trib.Pleno, reI. Min. Gilmar Mendes, j. 29.10.2003, DJ06.08.2004, p.20), o STF assentou que, considerando o earáter acentuadamenteobjeti~'o da ADPF, o juízo da subsidiariedade dever levar em consideração apenas osd~mals p~ocesso~ o~jetiv?s já consolidados no sistema constitucional - a açãodireta de mconstltuclOI1alIdade e a ação declaratória de constitucionalidade59 .

Assim, o Pretório Excelso atenuou ~ princípio da subsidiariedade, apenas dei-xando de conhecer uma ADPF quando houver outro meio eficaz capaz de sanar alesão, dentre os processos objetivos de controle de constitucionalidade_ A merapossibilidade de ajuizamento de processos subjetivos de eontrole (mandado desegurança, habeas corpus, ação ordinária etc.) não impede a utilização da AOPF,até porque, se o princípio da subsidiariedade fosse entendido dessa forma ampli-~da, ~enhum~~DPF sequer chegaria a ser conhecida (considerando que sempree cablvel o ajuizamento de um MS ou de uma ação ordinária).

59. "[ ... lCláusul<l da suhsidiariedade Olldo exaurimento das instâncias. Inexistência de outro meio dicazp"m sanar lesão a preceito fundamental de fonna ampla, geral e imediata. Caráter objt:tivo do instituto a revelarcomo meio eficaz aquele apto a solver a controvérsia constitucional rckvante. Compreensão do principio noconh::xtoda ordem constitucional global. Atenuação do signilicado literal do princípio da suhsidiariedade quan-do o prosseguimento d<:ações nas vias ordinárias não se mo:;tra apto para afastar a lesão li preceito ti.mdamen.131.[... ]" (ADPF 33 MC II'A. Trib. Pleno do STF, reI. Min. Gilmar Mendes,j. 29.10.2003, Dl 06.08.200~, p.20).

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I

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Exemplificando: se um dos legitimados do arU 03 da CF/88 pretende impug-nar uma lei municipal (ou uma lei federal editada em 1970) em face da CartaPolitica de 1988, será perfeitamente cabível o ajuizamento de uma ADPF noSupremo Tribunal Federal, posto que tais normas não poderiam ser impugnadasem sede de AD1. A mera pnssibilidade de impetração de um mandado de segu-rança, nesses casos, por óbvio, não impede o ajuizamento da ADPF na SupremaCorte brasileira.

Jurisprudência

I) Tendo em conla o caráter subsidiário da argüição de descumprimento de preceitofundamental - ADPF. consubstanciado no * 1° do art. 40 da Lei 9.882/99, o Tribunalresolveu questão de ordem no sentido de conhecer, como ação direta de inconstituciona-lidade - AOI, a AOPF ajuizada pelo Governador do Estado do Maranhão, em que seimpugna a Portaria 156/2005, editada pela Secretária Executiva de Estado da Fazenda doPará. que estabeleceu, para fins de arrecadação do ICMS, novo boletim de preços míni-mos de mercado para os produtos que elenca em seu anexo único. Entendeu-se demons-trada a impossibilidade de se conhecer da ação como AOPF, em razão da existência deoutro meio eficaz para impugnação da norma, qual seja, a ADI, porquanto o objeto dopedido principal ê a declaração de inconstitucionalidade de preceito autônomo por ofensaa dispositivos constitucionais, restando observados os demais requisitos necessários àpropositura da ação direta (STF, AOPF n' 72, reI. Min, Ellen Gracie, j, 1',06.2005, Dl02.12,2005, p,2);

Recorribilidnde -A decisão da ADPF é irrecorrível, não podendo ser objetoigualmente de ação rescisória.

Reclamnção no STF - Caberá o ajuizamento de reclamação por qualquerinteressado contra ato judicial que desrespeite a autoridade da decisão proferidapelo STF em sede de argüição de descumprimento de preceito fundamental.

,Jurisprudência

1) AOPF e veto: No processo legislativo, o ato de vetar, por motivo de inconstitucio-nalidade ou de contrariedade ao interesse público, e a deliberação legislativa de manterou recusar o veto, qualquer seja o motivo desse juízo, compõem procedimentos que sehão de reservar à esfera de independência dos Poderes Políticos em apreço. Não é, assim,enquadrável, em principio, o veto, devidamente fundamentado, pendente de deliberaçãopolítica do Poder Legislativo - que pode, sempre, mantê-lo ou recusá~lo, - no conceitode "ato do Poder Público", para os fins do art. 1°. da Lei n° 9882/1999. Impossibilidadede intervenção antecipada do Judiciário, - eis que o projeto de lei, na parte vetada, não élei, nem ato normativo, - poder que a ordem jurídica, na espécie, não confere ao Supre-mo Tribunal Federal, em via de controle concentrado. ADPF não conhecida, porque nãoadmissível, no caso concreto, em face da natureza do ato do Poder Púhlico impugnado.(STF, AOPF 1QO / lU, reI. Min. Néri da Silveira, j, 03,02,2000, Dl 07, t 1,2003, p,82),

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

2) Os Enunciados das Súmulas do Supremo não podem ser concebidos como atos dopoder Público lesivos a preceito fundamental. Nesse sentido, o STF não conheceu deADPF que indicava como ato lesivo o Enunciado da Sumula 666 da Corte ("A contribui-ção confederativa de que trata o art. 8°, IV, da Constituição, só é exigível dos filiados aosindicato respectivo."). Ressaltou-se que os enunciados de Súmula são apenas expressõessintetizadas de orientações reiteradamente assentadas pela Corte, cuja revisão deve ocor-rer de fornla paulatina, assim como se formam os entendimentos jurisprudenciais queresultam na edição dos verbetes. (AOPF 80 AgRIDF. Trib. Pleno, rel. Min. Eros Grau,j.12,6.2006),

11.TÉCNICAS UTILIZADAS NO CONTROLE DE CONSTITUCIONA-LIDADE

a) Interpretação conforme a Constituição - o princípio da interpretaçãoconforme a Constituição é utilizado quando uma lei admite mais de uma inter-pretação (normas plurisignificativas), sendo que algumas afrontam o texto cons-titucional, enquanto outras não.

Nesses casos, o princípio da supremacia da Constituição e a presunção deconstitucionalidade das leis exigem que se adote as interpretações compatíveiscom a Carta Política, declarando-se inconstitucionais todas as demais que seincompatibilizem com a Lei Maior.

Ocorre que a regra da "interpretação conforme" só pode scr utilizada quandoa norma inferior impugnada efetivamcnte apresente algum significado que seharmonize com a Constituição. Assim, o Poder Judiciário não pode funcionarcomo "legislador positivo", dando à norma um sentido que nitidamente não foio pretendido pelo legislador.

Por isso, se a única interpretação possível para compatibilizar a norma com aConstituição contrariar o sentido inequívoco que o Podcr Legislativo lhe preten-deu dar, não se aplica o princípio da interpretação conforme a Constituição, de-vendo-se declarar a inconstitucionalidade da lei.

b) Declaração parcial de nulidade sem redução de texto - ocorre esta téc-nica quando o Tribunal declara a nulidade parcial da lei, mantendo intacto o seutexto original, reduzindo apenas a sua interpretação ou a sua aplicação.

Assim, não há supressão de qualquer parte do texto da lei, Em verdade, o queé restringido é a aplicação, em relação a determinadas pessoas ou a certos perío-dos de tempo; ou a illtcrpret2ção - o sentido - da norma.

No primeiro caso, temos como exemplo uma lei que institua um tributo sujei-to ao princípio da anterioridade tributária, pelo qual é vedado eobrar tributo nomesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou

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aumentou (CF, art. ISO, inciso IlI, "b"). Se esta lei determinar que cla entra emvigor na data de sua publicação, podemos reduzir a sua aplicação, sem reduzir otexto, para -afirmar que ela só produzirá efeitos a partir do exercício financeiroseguinte ao de sua publicação. Nesta hipótese, foi utilizada a técniea da "declara-ção parcial de nulidade sem redução de texto".

No segundo caso (reduçãn da interpretação da norma), temos a hipótese da"interprelação confonne a Constituição", Nessa linha de raciocínio, podemosafirmar que a "declaração parcial de nulidade sem redução de texto" é o gênero,sendo, a "interpretação conform~ a Constituição" umas de suas espécies.

Esta é a posição dominante do Supremo Tribunal Federal, exposta no parecer daProeuradoria-Geral da República na ADI n" 3.324/DF, eltio trecho transcrevemos:

Apesar de alguns doutrinadorcs alertarem para a necessidade de se separarconceitualmente os dois institutos (interpretação conforme e declaração denulidade sem redução do texto) - vide MENDES, Gilmar Ferreira. Jurisdi.ção Constitucional. São Paulo: Saraiva; 1999; p. 235 -, ajurisprudência doSupremo Tribunal Federal tem conjugado as duas expressões, tanto em sedede medida cautelar (ADIMC n° I668/DF, "suspensão cautelar sem reduçãode texto para dar interpretação conforme"; ADIMC n° 1.344/ES, "suspen-são da eficácia parcial do texto sem redução de sua expressão literal porinterpretação conforme"; ADIMC nO2.325fDF, "emprestar interpretaçãoconforme e sem redução de texto no sentido de") quanto em decisões demérito (ADI n° 1.098JSP, "procedência em parte para, sem redução de tex-to, exeluir interprctações que"; ADI n° 234/RJ, "por inconstitucionalidadeparcial quanto a todas as interpretações que não sejam"). Cf. SAMPAIO,José Adércio Leite. A Constituição reinventada pela Jurisdição Constituci-onal. Belo Horizonte: Ed. Del Rcy; 2002, p. 213 [... ] Ajurispmdência doSupremo Tribunal Federal está repleta de exemplos de decisões que, mes-mo cm sede de medida cautelar, deram a detemlinado dispositivo normati-vo interpretação conforme á Constituição para se declarar a nulidade deuma norma dele derivada sem a redução de seu texto (in http://www.pgr.mpf.gov. br/pgr/ fonte les/mani festacoes/ad iJ documcntosJadi33 24 .pd f).

Devemos alertar, conforme dito no julgado acima, que parte da doutrina en-tende haver urna clara distinção entre os dois institutos: enquanto a "declaraçãoparcial de nulidade" consiste em uma proclamação de inconstitucionalidade(afirma-se, na decisão, que a norma é inconstitucional se interpretada nesse ounaquele sentido); a "interpretação confonne" resulta em uma declaração de cons-titucionalidade (a parte dispositiva da decisão atesta que a lei é constitucionaldesde que interpretada de determinada forma).

Nesse sentido, Gilmar Ferreira Mendes: ''"Ainda que se não possa negara semelhança dessas categorias e a proximidade do resultado prático de sua utili-zação, é certo que, enquanto, na interpretação conforme à Constituição, se tem,

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CONTROLE DE CONSTlTUcrONALIDADE

dogmaticamente, a declaração de que uma lei é constitucional com a interpreta-ção que lhe é conferida pelo órgão judicial, constata-se, na declaração de nulida-de sem redução de texto, a expressa exclusão, por inconstitucionalidade, de de-terminadas hipóteses de aplicação (Anwendungsjiille) do programa normativosem que se produza alteração expressa do texto legal"60.

Assim, para efeito de concursos públicos, sugerimos ao caro leitor atentar sea questão do concurso refere-se à ju.risprudência do STF ou simplesmente dife-.rencia os dois insti~utos com base no entendimento doutrinário acima exposto.

c) Declaração de Inconstitucionalidade sem pronúncia de nulidade _ al-gumas decisões, apesar de reconhecerem uma inconstitucionalidade, não impli-cam em declaração de nulidade. São elas: a ADI por omissão, onde não há ato aser declarado nulo, uma vez que a inconstitucionalidade está exatamente na omis-são; e a ADI interventiva, em que a decisão do STF não anula o ato _ o que deveser feito pelo decreto interventivo do Presidente da República - mas apenasjulga procedente a Intervenção Federal proposta pelo PGR.

<I)Declaração de Constitucionalidade e lei ainda constitucional- essa téc-nica permite ao Tribunal declarar a constitucionalidade de uma norma, mas res-salvar que essa condição pode variar no tempo pela modificação de circuns-t:1ncias fáticas. Nestes casos, pode ocorrer lima "progressiva inconstitucionali-dade" da norma que ainda é constitucional, mas que pode se tornar incompatívelcom a Lei Maior com o decorrer do tempo e com a modificação de circunstânciasfáticas (também denominada de "situação constitucional imperfeita")61 .

c) Princípio da Proporcionalidade - o princípio da proporcionalidade ou darazoabilidade (entendido como princípio constitucional implícito, deduzido do

60. MENDES, Gilmar Ferreira. Jurisdição constitucional: o controle abstrato de normas no Brasil e naAlemanha. 43• São Paulo: Saraiva, 2004. p.324.

61. Nesst: sentido, julgado do STF: "EMENTA: Ministério Público: legitimação para promoção, no juízocivel, do ressarcimcntododano resultante de crime, pobre o litulardo direito à reparação: C. ProPen., art. 68, aindaconstitucional (cf. RE 135328): processo de inconstitucionalização das leis. I. A alternativa radical dajurisdiçàoconstitucional ortodoxa entre a constitucionalidade plena c <ldeclaração de inconstitucionalidade ou revogação porinconstitucionalidade da lei com fulminante eficácia ex tunc faz abstração da evidencia dequca implementação deUma nova ordem constitucional não é um fato inslantfineo, mas um processo, no qual a possibilid,lde de reali7.açãoda Il0rTn<lda Constituição - ainda quando teoricamente não se cuide de preceito de eficácia limitada _ subordilla~se muitas ve7.1'Sa alterações da realidade fáctica que a viabilizern. 2. No conlexto da Constituição de ]988, aatribuição anteriormente dada ao Ministério Púhlico pelo art. 68 C. ProPcnal- constituindo modalidade de assis-tt:ncia judiciária - deve reputar-se transferida pam a Defensoria Pública: essa, porém, p<lraesse lirn, sô se podeconsidcrarexislt:nle, onde e qllandoorgalliz."lda, de direito c de làro, nos moldes do art. 134 da própria COllstiluiç;1oe da lei complementar por ela ordenada: ale que -na União ou em cada Estado considerado _, se impkmente essacondiçiio de viabilização da cogitada transl""erênda constitucional de afrihuições, o ar!. 68 C. ProPeno será conside-rado ainda vigellle: e o caso do Estado de São P,lUlo, como decidiu o plenário 110 RE 135328." (RE 147776/SP, I"Tllnlla, reI. Min. Scpúlveda Per!cllce,j. 19.05.1998, Dl 19.06.1998, p.9).

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devido processo legal em seu aspecto material, CF, arI.5°, inciso LIV) é constan-temente utilizado pelo STF para aferição da inconstitucionalidade de leis. Comoexemplo, temos a ADI 1.158-8/AM onde se declarou, com base neste princípio,a inconstitucionalidade de lei estadual que concedia vantagem pccuniária de 1/3sobre a remuneração, a título de férias, para servidores públicos inativos.

12. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE PELOS TRIBUNAIS DE.JUSTlÇA DOS ESTADOS

Dispõe o arl. 125, !i2°, CF/88: "cabe aos Estados a instituição de representa-ção de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais e municipaisem face da COllstitüição Estadual, vedada a atribuição da legitimação para agira um único órgão".

Esta é a ADI genérica de lei municipal ou estadual em face da ConstituiçãoEstadual de competência do Tribunal de Justiça. A CF/88 não estabeleceu sualegitimidade ativa, restringindo-se a proibir que as Constituições Estaduais atri-buam a sua legitimação a um único órgão.

Ressalte-se que a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal não admite apossibilidade das Constituições Estaduais instituirem, no âmbito dos Tribunaísde Justiça, ação direta de inconstitucionalidade de lei municipal em face da Cons-tituição Federal, por entender que a proteção da Carta Federal no controle con-centrado é de competência exclusiva do STF62.

O arl. 35, inciso IV da CF ainda prevê a possibilidade de ADf interventivaestadual ao dispor que caberá intervenção dos Estados em seus Municípios quandoo Tribunal de Justiça der provimento a representação para assegurar a observân-cia de princípios indicados na Conslituição Estadual (que serão os "princípios

62. Nesse sentido, julgado do STF onde se nsscntou que o processo objetivo de fiscalização normativaabstrata, inslaunivd perante os Tribunais de Justiça locais, somente pode ter por objeto leis ou atos Ilonnativosmunicipais, estaduais ou distritais, desde que contestados em fac~ da própria Constituição do Estado.rnernbro(ou, quando for o caso, da Lei Orgânica do Distrito Federal), que reprt:senla, nesse contexto, o único parâmetrode controle admitido pela CF, nos tennos do art. 125, ~2°.Assim, a "ADI estadu;ll" somente podc adotar comoparâmetro ou paradi!,'tlla do controle dc constitucionalidade a Constituição estadual (ou a Lei Orgânica do DF),não a Constituição da República, sob pena de usurpação da competência do STF (como guardião exclusivo daCF no controle abstrato de constitucionalidade) c conseqllcnte ajuizamento de reclamação !lO STF para a preser-vação de sua competêncill (CF, art.102, I, "I").

No mesmo julgado, o STF registrou que ê admissível a instauração de "ADl estadual" nos Tribunais d~Justiça respectivos (CF, art. 125,92°) para impugnar leis 0\1 atos nomlativos cstaduais e/oll municipais cm faceda Constituição estadual (ou, se for O caso, da I.ei Orgânica do Distrito Federal). ainda IluC a norma depariimelro - Ileccssâria e formalmente incorporadol ao texto d:1Constituição local- seja reprodução dedispositivos cOllstitlH:iun:lis federais til' uhservância compulsória pelas unidades fcder:ldas, admitindo-sc,em tal hipótese, a possibilidade de conlrole recursal extraordill:írio da decisão local, por parte do Suprt:moTrihunal Federal (Reclamação nO)436Me/DF, Rei. Min. Celso de M~tlo in Inrormati •...o do STF n0394).

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

sensíveis" da Constituição Estadual). A legitimidade ativa da ADI interventivaestadual será do Procurador-Geral de .Justiça, chefe do Ministério Público es-taduai, por força do ar1.129, inciso IV da Carta Magna.

Apesar de não haver previsão expressa na CF/88, a doutrina brasileira admiteque as Cartas Estaduais, com base no princípio da simetria, estabeleçam tam-bém: ADI por Omissãu ou ADC em face das Constituições Estaduais, devendotais ações ser da competência originária do Tribunal de Justiça .

Em relação ao controle difuso ou aberto de leis ou atos normativos estaduaisem face da Constituição do Estado, é ele amplo, sem maiores peculiaridades,cabendo aqui as mesmas observações feitas quando do estudo do controle difusoem face da Constituição Federal.

12.1. ADI estadual x Recurso Extraordinário ao STF

Ordinariamente, quando o Tribunal de Justiçajulga aADI de lei municipal ouestadual em face da Constituição do Estado, a sua decisão será definitiva, nãocabendo recurso para qualquer outro Tribunal.

Ocorre que, ajurisprudência do STF excepcionol! esta regra, admitindo hipó-tese de recurso extraordinário à Alta Corte brasileira quando a ADI perante oTribunal de Justiça impugnar uma lei ou ato normativo municipal, estadual oudistrital em face de norma da Constituição Estadual que reproduza dispositivoda Constituição Federal de observância obrigatória pelos EstrHlos-rncmbros.

Assim, desta decisão proferida pelo Tribunal de Justiça em "ADI estadual", oPretório Excelso admite a interposição de recurso extraordinário por haver vi-olação simultânea da Constituição Estadual (ou Lei Orgânica do DF) e da Cons-tituição da República" .

Ressalte-se que, neste caso, a decisão do STF no recurso extraordinárioterá efeitos erga omlles, produzindo eficácia contra todos, considerando-se que ainterposição do recurso extraordinário não modifica a natureza de controle abs-trato da ADI estadual, razão pela qual, nesta hipótese, o recurso extraordinário(apesar de instrumento típico do controle difuso-incidental) produzirá os efeitospróprios do controle abstrato de constitucionalidade.

63. Como leading case dest~ entendimcnto no STF, vale a pena conferir a ementa da Reclamação 383/SP(Trib. Pleno, rd. Min. Moreira Alves, j. 11.06.1992, Dl 21.05.1993, p.9765): "EMENTA: Reclamação comfundamento na preservação da competência do Supremo Tribunal Federal. Ação direta de in~onstitllc.ional.i~adeproposta perante Tribunal de Justiça na qual se impugna Lei municipal sob a alegação de olensa a dlSPOSltlVOScOllstitucionais federais de observância obrigatória pelos Estados. Eficácia juridica desses dispositivos constitu-cionais estaduais. Jurisdição constitucional dos Estados-membros. AJmiss30 da propositura da ação direta deinconstitucionalidade perante o Tribunal de Justiça local, com possibilidade de recurso extraordin:írio se a inter-pn:taçào da norma constitucional estadual, que reproduz a nonna constitucional federal de obscrv;incia ohriga-tória relos Estados, contrariar o sentido c o alcance desta. Reclamaçào conhecida. mas julgada improcedellte."

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LEO VANHOl.THE

" QUADRO-RESUMO DO CONTROLEDE CONTITUCIONALIIlADE ABSTRATO NO BRAS[L

ADI ADC ADI ADI ADPFGcnérica por Omissão Jntcrvcntiva

Lcgitimida-PR; Mesas: A mesma da A mesma da Apenas o A mesma dada CU, do SI', ADI genérica. AO! genérica. PGR. ADI genérica.

de ativa de AL; Gov;PGR; PP comrepresentaçãono CN; C.F.daOAB;conr.sind. e entida-de de classede âmb. naco

Finalid::ulc Declarar a in- Declarar a Combate;, a Declarar pro- Sanar ou re-constituciona- compatibi- "síndrome de cedente pcdi- parar lesão a!idade de lei lidade de lei inefetividade do de inter- preceito n.m-FEDERAL ou FEDERAL das normas venção fede- damental,ESTAOUAL com a Lei eonstitucio- ral em Est. ou declarando aem relação à Maior. nais". no DF. const. ou in-CF/88. const. de lei

Fed., EsL,Munic.

Objeto Leis Oll atos Leis ou atos Omissão do Leis ou atos Leis ou atosnormativos nonnativos legislador in- normativos normativosFED ou EST FEDERAIS. fraconstitu- EST, que vio- FED., EST.,(ou do DF no cionaL lem os princí- MUNIC., in-exercicio de pios const. c1usiveos pré-comp. EST.) sensíveis. constit.

Decisão I) Maioria ab. I) Maioriaab- Não cabe li- Não cabe li- 1)Maioria ub-liminar soluta; soluta; minar. minar. soluta

2) Efeitos: ex 2) Suspende o 2) Poderá sus-mme (em rc- julgamento tar a eficá-gra); vineulan- dos processos cia da lei im-tes (para os que envolvam pugnada até oPodercs Exec. a lei objeto da julgode méritoe Jud.); erga ADC até seu daADPFomnes; repris~ julgamentode- 3) Poderá con-tinatório,snlvo finitivo (pelo sistir na susp.manifestação prazo máx. de dos proe. queexpressa do 180 dias); envolvam aSTF. 3) Efeitos: matéria objeto

ex nUIIC,erga da ADPF.

Ofunes e vin- 4)Efeitos: ex

culantes. mme, ergaamues evinculantes.

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It

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

QUADRO-RESUMO DO CONTROLE '.H

DE CONTITUCIONALIDADE ABSTRATO NO BRASIL',', .' , .. '.

ADI ADC ADI ADIGenérica por Omissão lutcrventiva ADPF

1)Maioria ab- 1)Maioria ab- 1)Maioria ab- I) Maioria I) Maioria ab-Decisão soluta soluta; soluta simples; solutadefiniti ••..a 2) Efeitos: ex 2) Efeitos: ex 2) Eficácia 2) Efeitos:de mérito /llne- (em re- /une, erga constitutiva 2) Decl<lra a - ex tunc (em

gra); erga omnes c vin- (declara a mo- procedência regra)da interven-omnes; vincu- culantes (para ra do legisla-ção federal.

- erga omneslantes (para os os Poderes dor) c man- - vinculantesPOl1t::resExcc. Exec. c Jud.). datória (exige 3) Manipula-c Jud.); rcpris~ a regulamcnta- ção: art. II datinatório. ção da norma Lei 9.882/99.3) Manipula- const.).ção: art.27 daLei na 9.868/99.

Particillação SIM (para de- NÃO. NÃO. NÃO. É possíveldoAGU fender as leis (art.5",s2" da

EST e FED). Lei 9.882/99).

P:'lrticipação SIM, SIM. SIM. SIM. SIM.do PGR

13, EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

Questão comentada

(OA13/DF.2004-I) Indique a assertiva verdadeira:

a) a declaração de inconstitucionalidade de nonna constitucional cm face de outra norma cons-titucional (norma constitucional inconstitucional) não é possível no direito brasileiro, segundo ajurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal;

b) a norma constitucional de eficácia contida, assim como a de eficácia limitada, depende decomplementação infraconstinlcional para produzir qualquer efeito, inclusive a chamada eficácianegativa de revogar as regras preexistentes que sejam contrárias;

c) a função de curador (defensor legis) das nonnas inconstitucionais, atribuida ao Advogado-Geral da União nos processos de controle de constitucionalidade por via de ação, não se aplica àsllormas de origem estadual;

J) o princípio da unidade da constituição não figura como fundamento das decisões do Supre-me Tribunal Federal em matérias relacionadas com o controle da constitucionalidade.

Letra "A" _ é a alternativa correta. A jurisprudência do Pretória Excelso é pacifica em afirmarque não se admite no Brasil a teoria alemã da "nonua constitucional inconstitucional" (Ouo Buchor)

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