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Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação
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Convergência midiática e a exposição nos blogs: a sedução na e pela linguagem
Profa Dra Maria Angélica Freire de Carvalho1 (UFPI)
Resumo:
A interatividade centra-se na interface. No ambiente online, destacam-se
para estudo os Blogs: espaços de criação conjunta, colaborativa e
cooperativa, os quais se caracterizam por (i) participação e escolha; (II)
intervenção; (iii) bidirecionalidade; (iv) permuta: redes articulatórias com
associações congêneres: fotolog, twiter, facebook, linkedins do ciberespaço
(hiperinterface). O estudo realizado compreendeu: a) formas de
interlocução: “relacionamento e participação” (mostrar, interagir,
seduzir); b) heterogeneidade enunciativa c) interdiscursos, integrações
midiáticas. Verificou-se que, seja como espaço informativo, educativo,
divulgador (moda, “cultura”, exposição), etc., os recursos sígnicos
utilizados na exposição da linguagem nos blogs moldam-se sob um perfil
“visagista”, isto é, a forma sempre segue a função. Assim, pode-se afirmar
que a animação e a moderação de redes sociais são atravessadas por um
discurso sedutor estreitado pela funcionalidade dirigida ao “interlocutor”,
visando fazer “ver o que quer que seja visto”.
Palavras-chave: Interfaces e Blogs; discurso expositivo-sedutor;
convergência-multimeios.
Abstract:
The interactivity centers itself on interface. In the on line environment,
the focus to an examination will be the Blogs: conjunct spaces creation,
collaborative and cooperative, which is characterized by (i) participation
and choice;(ii) intervention(iii) bidirectionality;(iv) exchange: articulatory
networks with congeners associations: photolog, twitter. Facebook,
cyberspace’s linkedins (hyperinterface). The accomplished investigation
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included: a) dialogue forms: “relation and participation” (showing,
interacting, and seducing); b) enunciative heterogeneity) interspeeches
mediatic integrations. It was found that, as informative, educative and
divulging space (fashion, “culture”, exposition), etc, the signics resources
that are used in the language exposition in the blogs, accommodate
themselves under a “visagist”profile that means, the form always follows
the function. In such case, it can be acclaimed that the animation and the
social networks moderation are crossed by a seducing speech confirmed by
the functional character directed to the “interlocutors”, aiming to do “see
whatever may be seen”
Keywords: Interfaces and blogs; expositive-seducing speech; convergence-
multimeans.
Introdução:
Para o desenvolvimento das idéias aqui expostas faz-se necessário apresentar
alguns conceitos fundamentais para a compreensão do tema, que abrange o
funcionamento da linguagem no blog sob a perspectiva da exposição, em
particular, a observação de marcas textuais que indiciam uma sedução no discurso
apresentado; assim, o enfoque passa a ser linguagem em suas formas de
apropriação e de ressignificação particularizada numa das redes de relacionamento
mais caracterizadoras do que se pode denominar, conforme Jenkins (2009),
convergência de mídias: processo em que múltiplas plataformas midiáticas se
cooperam e migram-se com o propósito de buscar experiências e trocas
interpessoais, culturais, tecnológicas, mercadológicas, etc. dependendo de
interesses e de perfis dos colaboradores das comunidades interativas.
A linguagem como uso da palavra articulada ou escrita, como meio de
comunicação entre pessoas, que compreende um sistema complexo de signos,
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símbolos, recursos multissemióticos torna-se operante nas instâncias de
significação humana e se apresenta, atualmente, de modo significativo em
ambientes de circulação online, absorvendo os diferentes aportes sígnicos e
sensoriais. Como, por exemplo, em redes virtuais de relações sociais, enfoque de
estudo deste artigo, nas interfaces digitais blogs.
Nos ciberespaços vinculam-se pessoas, instituições, documentos; permitem-se
desvios de escolhas interativas, saltos hiperlinkados, etc.; há convergências
midiáticas, participação síncrona e assíncrona2, usabilidade, mobilidade,
ubiqüidade, colaboração, criação, etc. Enfim, há um multicentramento das
interfaces3e não o “estouro da bolha.com” (Jenkins, 2009, p.33) ou, ainda, como
afirmou Marcuschi (2001) é só um novo olhar sobre o mesmo objeto.
Nossa observação contemplará também o perfil de rede em que se enreda o
blog onde na página da web possibilita variadas buscas e mobilidades interativas,
além de associações, o estabelecimento de cooperações e acordos firmados como
equipe de blogs, sendo possível modificá-las e/ou encaminhá-las a outros
blogueiros (as), estabelecendo possíveis ligações com outros textos (link), inclusive
merchandising, que conduzem ao hipertexto4.
1. A linguagem e sua (re) contextualização no ciberespaço: o caso
dos blogs
No decorrer do processo de evolução social há interferências de modo direto
na vida dos seres humanos e isso provoca cisões nos comportamentos. As pessoas,
segundo Umberto Eco (1979), reagem de modo diferentes. No que diz respeito ao
desenvolvimento tecnológico o comportamento das pessoas permitia que fossem
classificadas em apocalípticas ou integradas, de acordo com a aceitação ou não
dessas mudanças socioculturais. Para ele, os apocalípticos seriam os que não
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aceitavam as mudanças e os integrados seriam os que as aceitavam sem questioná-
las.
O fato é que as mudanças são contínuas, principalmente, em termos de
comunicação, processo que é transformação permanente. Em relação às
Tecnologias da Informação, o que abre caminhos para um sistema que abrange e
integra todas as formas de expressão, de diversidade de interesses, valores e
imaginação e, também, o posicionamento frente aos conflitos sociais é evidente
que haverá um reflexo nos comportamentos sociais.
É importante entender que não se tem, somente, a informação intermediada
pelo computador, por exemplo, agindo sobre o sujeito de interação passivamente,
mas esse sujeito agindo também nessa informação, estabelecendo, portanto, uma
rede dinâmica, uma grande revolução em relação a outras revoluções tecnológicas
do passado.
E dentro desse contexto de revolução5 da linguagem suscitada pela internet, o
blog se insere como uma parte constitutiva dessa revolução, pelos simples fato de
poder conter em seu interior uma verdadeira convergência midiática, revelando-se
como uma interface de ambientes virtuais com alta capacidade de seduzir seus
leitores e ou colaboradores.
O historiador Chartier (1998) discute a mistura das funções de editor, autor e
leitor que se apresentam em diversos espaços de expressão similares ao blog, por
exemplo. Hoje, com as possibilidades abertas pela Internet, qualquer um pode
escrever um texto, editá-lo e disponibilizá-lo na rede, desde que possua o
equipamento apropriado e saiba manejá-lo. E isso é o que vem acontecendo com
relação à criação de milhares de blogs a cada minuto no ciberespaço. É a fase de
hibridismo com uma cultura escrita e uma cultura eletrônica que tem rendido para
a linguagem saltos muito produtivos e inovadores. Embora, haja espaços
específicos de uso para cada uma dessas formas.
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Com a revolução industrial da imprensa, os papéis do autor, editor, tipógrafo,
distribuidor, livreiro, estavam separados. Com as redes eletrônicas, essas
operações podem ser acumuladas (Chartier, 1998), como no caso dos blogs, nos
quais essas várias dimensões do processo de produção, criação e circulação de
sentidos produzidos pelas novas linguagens do séc. XXI estão concentrados em uma
única pessoa: o seu criador, mas que se podem estender às parcerias que se
estabelecem com a cultura do merchandising que dá ao blog similaridade a outros
recursos como, por exemplo, uma homepage ou uma revista eletrônica.
Historicamente, validando os estudos apontados por Chartier (1998), Barthes
(1984) expõe que a escrita real deu ao homem valores visuais lineares e uma
consciência fragmentada, ao contrário da rede de convivência profunda dos
espaços auditivos, onde a comunicação podia ser multivariada. Fragmentou o
espaço de convivência com os indivíduos posicionados em um tempo linear. A
tipografia terminou de vez com a cultura tribal e multiplicou as características da
cultura escrita no tempo e no espaço. O homem passou a raciocinar de uma
maneira linear, sequencial, alfabética, categorizando e classificando a informação.
Tornou-se um ser especializado na produção de novos conhecimentos. Esta
passagem da cultura tribal para a cultura escrita/ tipográfica foi uma
transformação para o indivíduo e para a sociedade como vem sendo a passagem da
cultura escrita para a cultura eletrônica, conforme reforça Pierre Levy (1994).
Com a chegada da comunicação eletrônica foram delimitados, novamente, o
tempo e o espaço da informação. A importância do instrumental da tecnologia da
informação forneceu a infra-estrutura para modificações, sem retorno, nas
relações da informação com seus usuários. Conforme aponta Barreto (1997), ao
comparar o contexto da comunicação oral com a comunicação eletrônica percebe-
se a proximidade de muitas características, além da coincidência do tempo de
transferência que é imediato nas duas situações. Muitas vezes, a comunicação
eletrônica, devido à especificidade contextual que pode englobar, e junto com as
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suas características conversacionais, assume uma intencionalidade tribal na
publicidade dos fatos e idéias. É a proximidade com as características da oralidade,
no que tange ao contexto em que está inserida, desvinculada das normas
linguísticas, que faz a linguagem eletrônica do blog, por vezes, assumir uma
intencionalidade tribal, já extinta pela cultura tipográfica, conforme Barthes
(1984).
Sem aprofundarmos nesta questão, diremos que tal retorno a essa
intencionalidade tribal pode ser vista, atualmente, como uma estratégia de
sedução dos blogs no espaço cibernético, através dos quais se oportuniza a
interação, leituras de homem e de mundo, um espaço definido por Pierre Levy
(1994) como um terreno onde está funcionando a humanidade hoje. E o blog
inserido nesse campo se constitui num espaço de interação humana de grande
importância para as mais diferentes esferas da vida dos sujeitos sociais, seja o
econômico, o social, o político, o científico, o cultural, o educacional e por que
não dizer também, o campo pessoal e interpessoal?
O interesse é pensar qual o significado disso, o que isso representa na
atualidade. Com o espaço cibernético que abriga os blogs, tem-se um ambiente
virtual de comunicação muito diferente da mídia clássica, porque é nesse espaço
que todas as mensagens se tornam interativas, ganham uma plasticidade e tem
uma possibilidade de metamorfose imediata, dinâmica em que outras interfaces se
encontram, e na mesma teia, se enredam convergindo narrativas em exposições.
E, a partir do momento em que se tem o acesso a essa troca, cada pessoa
pode se tornar uma emissora, diferentemente de outras mídias tradicionais. Então,
é possível fazer uma tipologia rápida dos dispositivos de comunicação, onde há um
tipo em que não há interatividade, porque existe um centro emissor e uma
multiplicidade de receptores passivos, podemos exemplificar o caso dos
telespectadores, e o tipo em que a informação esteja sob forma de rede e não
tanto a mensagem porque esta já existia em uma enciclopédia ou dicionário, como
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é o caso dos blogs. Mas, por outro lado, o blog (numa perspectiva diarista), ainda
que em momentos espaçados, permitia (permite) o direito de réplica, de uma
atitude responsiva diante do discurso do “outro”, “(...) só a corrente da
comunicação verbal fornece à palavra a luz da sua significação” Bakhtin
(2002:132). Quanto ao blog, portanto, podemos afirmar que ele permite um
multicentramento ativo e a passivo. .
Ao considerarmos o impulso de aperfeiçoamento das tecnologias e o processo
e mutação em relação ao blog, passando de uma visão de diário online para uma
versão de plataforma de comunicação, há de notar-se que a verdadeira mutação se
dá em outros aspectos. Retomando perspectivas teóricas de Levy (1996)
ressaltamos que, no caso do blog, em primeiro lugar, não é mais o leitor que vai se
deslocar diante do texto, mas é o texto que, como um caleidoscópio, vai se dobrar
e desdobrar-se diferentemente diante de cada leitor. O segundo ponto é que tanto
a escrita quanto a leitura modificarão o seu papel, porque o próprio leitor
participará da mensagem na medida em que ele não estará apenas ligado a um
aspecto. O leitor passa a participar da própria redação do texto ao passo que não
está mais na posição passiva diante de um texto estático, pois tem diante de si não
uma mensagem estática, mas um potencial de mensagem (Levy, 1996).
Dessa forma, o espaço cibernético introduz a idéia de que toda leitura é uma
escrita em potencial. O terceiro ponto que, sem dúvida, é o mais importante, é
que estamos assistindo a uma desterritorialização dos textos, das mensagens;
enfim, de tudo o que é documento: tanto o texto como a mensagem se tornam uma
matéria. O espaço cibernético, retoma-se Marcuschi (2000), torna-se um lugar
essencial de comunicação humana e de pensamento humano.
Em que este novo espaço se transformará em termos culturais e políticos
permanece completamente em aberto; mas, com certeza, percebem-se
implicações muito importantes no campo da educação e da linguagem. Em relação
aos blogs, por exemplo. Por isso mesmo, analisa Marcuschi (2000), há hoje, na
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Internet, muitos espaços específicos para a conversação escrita, para a escrita
coletiva, para a publicação de textos individuais, cada qual com sua linguagem
própria, como no caso dos blogs.
2. Interatividade e exposição: o blog como um espaço de
convergências.
O blog, contração do termo "Web log", é uma interface cuja estrutura permite
a atualização rápida a partir de acréscimos dos chamados artigos, ou "posts". Esses
são, em geral, organizados de forma cronológica inversa, tendo como foco a
temática proposta do blog, podendo ser escritos por uma única pessoa, como um
diário online, onde seu responsável publica suas ideias, histórias, notícias, imagens
ou pode liberar para a participação de colaboradores (comunidade de fãs) que
provocarão a bidirecionalidade e a co-criação, Isto é, atuaram conjuntamente
estendendo as discussões, construindo conhecimentos de forma dialógica e
colaborativa.
Alguns sistemas de criação e edição de blogs são muito atrativos pelas
facilidades que oferecem, disponibilizando ferramentas próprias que dispensam o
conhecimento de HTML. E essa condição é o que tem atraído milhares de pessoas
para produzirem seus espaços de publicação de histórias, vivências e de trocas
dialógicas; enfim, de estabelecimento de uma rede de relacionamentos.
O termo "weblog" foi criado por Jorn Barger em 17 de dezembro de 1997.A
abreviação "blog", por sua vez, foi criada por Peter Merholz, que,
espontaneamente, desmembrou a palavra weblog para formar a frase we blog ("nós
blogamos") na barra lateral de seu blog Peterme.com, em abril ou maio de 1999.
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Pouco depois, Evan Williams do Pyra Labs empregou o termo "blog" tanto como
substantivo quanto verbo ("to blog" ou "blogar", significando "editar ou postar em
um weblog"), aplicando a palavra "blogger" em conjunção com o serviço Blogger, da
Pyra Labs, o que levou à popularização dos termos.
Um dado interessante é que em dezembro de 2007, o motor de busca de blogs
Technorati rastreou a existência de mais de 112 milhões de blogs. Com o advento
do videoblog, a palavra "blog" assumiu um significado ainda mais amplo, implicando
qualquer tipo de mídia onde um indivíduo expresse sua opinião ou simplesmente
discorra sobre um assunto qualquer.
A maioria dos blogs são primariamente textuais, embora uma parte seja
focada em temas exclusivos como arte, fotografia, vídeos, música, formando uma
ampla rede de mídias sociais. Outro formato é o microblogging, que consiste em
blogs com textos curtos. Essa concepção não é bem vista para muitos teóricos, pois
concebem, por exemplo, uma interface como o twitter, onde embora se possam
postar comentários tal como o blog, com limitações de caracteres, constituem-se
em recursos diferentes. E, de outro lado, há autores que consideram o twitter um
microblog, concepção da qual partilhamos.
Muitos blogs expõem comentários ou notícias sobre um assunto em particular;
outros, funcionam mais como diários particulares online. Um blog típico combina
texto, imagens e links para outros blogs, páginas da web e mídias relacionadas a
seu tema, daí tomarmos essa interface, neste artigo, como um espaço de
convergência midiática de caráter sedutor através de suas estratégias de
enunciação, que evidenciam a linguagem de maneira sedutora, construindo
discursivamente uma imagem de si (do blog) e de um tu (seus leitores), dois
elementos indispensáveis para a realização de seu contrato de leitura.
O contrato de leitura do qual falamos, na visão de Verón (2003), é um
dispositivo de enunciação para a análise da imagem de si, ou seja, como os
enunciadores do blog se constroem na sua relação com o leitor; da imagem do tu
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ou do leitor virtual, que diz respeito as marcas deixadas pelos enunciadores do
blog para que o leitor se presentifique no texto, com o fim de interpelá-lo e \ou
seduzí-lo, e da relação entre autores de blogs e leitores no e pelo discurso,
expressa, por exemplo, através dos comentários deixados no blog pelos leitores,
de forma a interagir com o autor e outros leitores.
2.1 Alguns atrativos do Blog
Nesse item do artigo, escreveremos de uma forma similar a um “bate-rebate”
para apontar umas ideias sobre o blog e sua exposição discursiva bem como a
utilização em termos de espaço de interação predominante na internet e,
obviamente, objeto de discussão do artigo, sob aspectos de apresentação e as
estratégicas discursivas de sedução.
O Blog é um espaço em que se tem o direito de resposta, sem um comentário-
resposta ele tem uma função descaracterizada que o aproximaria mais de um site e
não seria propriamente um blog. No blog há o pressuposto do direito de resposta:
fica registrado e visível. A pessoa (o fã) pode responder, embora alguns blogs
tenham o direito de censurar a participação no seu espaço de interação. Se não
houver o diálogo é só um espaço de registro.
Assim que essa interface se popularizou foi muito associada a um diário, mas
nesse gênero não se pode fazer intervenções, há particularização, uma idéia de
intimidade, ausência de interferência. Ações permitidas no blog e, na verdade,
que lhes são caracterizadoras. No entanto, consideramos que o blog foi
relacionado ao diário por parecer uma espécie de “caderno virtual”, ou seja, um
espaço onde qualquer assunto (notícia) pode ser escrito e ficar lá acumulado. Como
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as pessoas tinham (tem) a prática de usar cadernos como diários, o blog acabou, a
princípio, servindo como “diário”. Mas com a expansão da internet, na década de
90, principalmente, o blog se tornou um espaço opinativo, em que grupos excluídos
das grandes corporações midiáticas começaram a dar outras visões sobre as
notícias. E surgiram variações de blogs uma rede inter e transdisciplinar.
Chegamos aos anos 2000 em que a internet se mostra como uma oposição à
grande mídia, tornando um reduto de grupos minoritários e, até mesmo, de
perspectivas individualistas. O blog pode continuar sendo blog, no sentido de
caderno virtual, se o autor bloqueia comentários... não deixa de aproximar-se da
configuração de um site, a sua estrutura no modo de alimentação é que o
diferencia de um site. Os sites precisam de uma modificação completa de sua
estrutura para postar uma notícia, o blog tem um design fixo, que acrescentando
notícias não se modifica. Os grandes portais de notícias como G1 e R7 são, por
exemplo, blogs “grandes” denominados “portais”, que, na verdade, são
administradores de múltiplos blogs!
Há uma união de blog + twitter (envia-se mensagem para o twitter, interface
que se integra, também, ao blog, desde que a pessoa insira esse módulo no seu
blog, isto é, há uma interdisciplinaridade de suporte. Se a pessoa enviar a
mensagem pelo celular, caso ele permita essa função, imediatamente ela será
encaminhada ao blog. As pessoas, de um modo geral, estão indexando o facebook
ao blog. Não são todas as pessoas que combinam essas ferramentas, mas são
opções que já se popularizaram, via celular para o blog, a mensagem + facebook,
porque são interfaces que se aproximam. Nesse sentido, há a ideia da convergência
como uma somatória de interfaces que vivem independentes, mas podem se ajudar
porque trazem benefícios em termos de comunicação e no estabelecimento das
redes sociais.
O blog é o principal meio de informação no mundo da internet atualmente.
Twitter/facebook/Orkut são redes sociais, mas tem uma abordagem diferenciada,
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elas se dirigem para conversações, contato direto entre as pessoas, e não para
construção de conteúdo em si. Essas interfaces podem, de certo modo, ser suportes
para os blogs na medida em que servem para divulgar noticias sobre eles.
Facebook/Orkut/twitter entram no mundo do blog apenas como modos de
divulgação em vários meios. O twitter, atualmente, é o que está em alta, o perfil
dos blogs no twitter serve apenas para lançar em tempo real as novidades do blog,
quando se posta no blog, automaticamente, se posta no twitter/faceebok, por
exemplo. Eles são suporte de divulgação, e não, exatamente, produtores de
conteúdo. Geralmente, se faz a chamada com o titulo do texto e de quem escreveu
seguido do link; além disso, mais nada.
A pessoa que acompanha essas redes sociais se interessa pelo conteúdo, clica
e vai parar no blog, ou seja, eles não se auto-anulam ou são “interdependentes”, o
twitter é um microblog, mas que em 80% dos casos serve de suporte para blogs de
verdade. O twitter como blog no máximo serve como lugar onde se conta piadas
curtas... Em um blog você disserta um texto com dez páginas ou um assunto com
larga duração, tempo e espaço e no twitter você tem uma limitação de,
aproximadamente, 256 caracteres, em relação ao twitter e ao facebook. Então, de
fato, não se pode considerar um “blog”.
Essas redes sociais que servem para comunicação direta, como as citadas, são
diferentes dos blogs/portais em si. O interessante é que quando as ferramentas
tem funções aproximadas a tendência é uma crescer e outra cair, mas nesse caso
mencionado elas souberam conviver mutuamente e cumprindo papéis dialogando
entre si e, por outro lado, de modo individualizado.
Um blog jornalístico, de cunho científico, educativo, por exemplo, também
lança mão desses recursos, porque, inclusive, trata-se de possibilidades de, no caso
de um blog jornalístico, por exemplo, você ter o imediatismo dos acontecimentos e
validar furos de reportagem e a novidade do acontecimento; entretanto, isso pode
ser um desvio positivo como negativo, pois pode tratar-se de uma divulgação de
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cunho difamatório (“blogs sujos”), pois não se permite a verificação da veracidade
dos fatos ou uma divulgação incompleta ou ambígua, provocando inferências
indevidas que, de um modo ou de outro, causam distorções no conteúdo que
compromete a informação assumida no blog.
O blog e o twitter dão privilégio à escrita embora os recursos de imagem se
apresentem. É possível aproximar o facebook do Orkut, mas em comparação ao
blog, podemos afirmar que é o blog que se destaca como um suporte que dá maior
espaço de maior liberdade de autoria, de visual, de estratégias interativas,
demonstrativas de escolha dos interlocutores, a partir de um perfil traçado,
implicitamente ou suposto, e com o poder de abarcar as outras ferramentas sem
apagá-las, apenas absorvê-las. Por essa razão, nesse artigo, consideramos o blog
como uma plataforma comunicativa.
3. Estratégias do dizer para fazer desejar o desejo e ver o que quer
que seja visto
Para construir nossas (re) apresentações e apresentações do mundo por meio
do discurso, utilizamos recursos diversos para a comunicação; dentre eles, a língua,
na sua natureza falada ou escrita. Em qualquer forma de expressão sempre a
intenção será a de persuadir o nosso interlocutor, no sentido de que ele “aceite” e
partilhe o nosso dizer. E para isso lançamos mão de estratégias argumentativa, as
quais surgem na prática discursiva exigindo de nós todo um trabalho lingüístico que
emerge da interação contextual.
Isso permite o entendimento de que a língua é uma forma em que se
expressam sentimentos, ações e representações, é o meio pelo qual se interagem
os sujeitos e através do qual se constroem os sentidos; por esta razão, ela é uma
construção discursiva que acontece de modo colaborativo. Conforme afirma
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Marcuschi (2000) “Nossos discursos são versões públicas do mundo, em que a
adequação se dá em termos de negociação pública, ajustes, acordos, desacordos
etc. entre os interlocutores e não numa presumida relação objetiva e direta com
um mundo exterior. Nossos discursos se dão como atividades de enunciação em
formações discursivas históricas e sociais, tornando a interação uma matriz de
sentidos.”.
Desse modo, nós elaboramos e reelaboramos os nossos dizeres em diferentes
espaços de interação adequando-os a esses espaços; em outras palavras: “(...)
através da palavra, defino-me em relação ao outro (...) [ela] é uma espécie de
ponte lançada entre mim e os outros. Se ela se apóia em mim numa extremidade,
na outra se apóia sobre o meu interlocutor”. (Bakhtin [1977] 2002:113)
Nesse sentido, na Internet nos diversos ambientes e nas redes de
relacionamento, essa forma de apresentação da linguagem é uma realidade. Não se
trata de abordar, como geralmente se faz, questões sobre as variantes da língua e
informações do tipo: hoje, milhões de pessoas no Brasil utilizam a Internet e vão
aprendendo o “internetês”, o linguajar do internauta (Miglio, 2001, p. 3). E ainda:
o internauta não se comunica dentro dos padrões linguísticos já normatizados,
escrevendo as palavras corretamente e obedecendo ao máximo às regras de
ortografia. Essa comunicação, no chamado tempo real, tem de ser ágil, dinâmica,
não se pode perder tempo digitando as palavras de forma rigorosamente correta,
consultando dicionários (Marcuschi, 2000). Para Miglio (2001), outro agravante é
que a pluralidade de perfis com diferentes faixas etárias e níveis de escolaridade
fazem com que grande parte dos internautas não tenham um domínio completo da
língua escrita, possuindo dificuldade em redigir um texto seguindo, rigorosamente,
as normas da língua escrita culta. Conseqüentemente, o linguajar da Internet com
suas abreviações está se inserindo no campo semântico do mundo real,
principalmente entre crianças e adolescentes.
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O que nos importa, aqui, são os modos de dizer, de mostrar e de seduzir.
Essas formas são, neste artigo, observadas em “recortes” de apresentação de
alguns participantes de um blog escolhido, a título de ilustração, devido ao seu
estilo ousado e provocativo. Na definição de Jenkins (2009:358) os “fabricadores de
discórdia”, ou na nossa definição “os que buscam uma causa” ou “optam por causa
alguma” como se definem os escolhidos: “Nerds endemoniados vomitando infâmias
em um blog caótico”. Caracterizam-se a nosso ver pelo tom provocativo e
evidencia um dissenso. Há muito a se observar, destacar e comentar no material
escolhido para análise, mas dada a natureza do trabalho a ser feito: a escrita de
um artigo, e as exigências e as limitações que acompanham esse gênero
apresentamos similiar ao formato tópico uma abordagem, dentre muitas possíveis,
em que se pode desvelar o funcionamento da linguagem sob as estratégias de
sedução no discurso, no módulo de apresentação de cada participante deste blog,
em particular, para o qual nosso artigo se desdobra em convite.
Antes de passarmos para as exemplificações comentadas, citaremos alguns
aspectos que podemos considerar como característicos de um discurso sedutor;
para uma designação mais apropriada: estratégias discursivas sedutoras.
Um entendimento de sedução como meio de encantar o outro com o propósito
de atingir determinados objetivos pode englobar o interpessoal e também o
contexto dos objetos que se incluem no espaço de interação. Do mesmo modo com
que as pessoas procuram no seu dia-a-dia seduzir seus interlocutores em busca de
melhor vivência e de melhor qualidade de vida, assim também, por exemplo, a
propaganda utiliza-se muito dessa arma para induzir ao consumo. Encantar o
cliente no terreno da propaganda é seduzi-lo! Sedução, enfim, faz parte das
relações intersubjetivas.
Podemos estabelecer algumas estratégias como, por exemplo, as listadas a
seguir, com a contribuição de Gabriel Chalita (2009) e com a análise do material de
que dispomos:
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1. O processo de sedução é de cumplicidade: ao deixar-se seduzir, aquele que
é seduzido recebe algo em troca de sua disposição em ouvir, em aprender o que se
comunica; da mesma forma, ao sedutor parece estar implícito oferecer algo em
troca da atenção daquele a quem seduz.
No caso, o leitor também tem a possibilidade de interferir na fala do sedutor,
deixando claro que foi seduzido ao ler o texto; entretanto, concordando apenas
parcialmente ou discordando, podendo através de seu comentário fazer uma
sedução inversa da própria pessoa que posta no blog! No caso há uma relação de
mão-dupla de sedução. Afinal, o blog é um espaço ideal para a construção de
idéias, não necessariamente concordantes.
2. A sedução é um processo emocional: recorre a artifícios retóricos e
alegóricos a fim de envolver e comover, o elemento emocional é crucial para
convencer os ouvintes: é força da influência.
Os primeiros estudos maciços sobre mídia de massa foram feitos na escola de
Frankfurt, estudando principalmente as propagandas fascistas, tentando entender o
que levou àquela adoração dos líderes de Estados, etc. Estudiosos como Herbert
Marcuse chegaram à conclusão de que a propaganda atingia, a princípio,
emocionalmente, o povo, chamando para uma luta pelas suas famílias, pelos
antepassados e pela nação, deixando escondidos os motivos mais pragmáticos
como, dominação de territórios vizinhos. No entanto, para manter os discursos
eram necessários resultados efetivos, algum tipo de gratificação real. Seria aquilo
que, para além da sedução, teria um dever de resultado efetivo.
Podemos, a partir desse contexto, considerar que um blog pode através de
sua proposta seduzir o leitor, pela curiosidade, a lê-lo (isso o tomando
metonimicamente), mas se, a princípio, não satisfaz suas próprias propostas, os
leitores afastam-se, porque não houve a estratégia da aproximação e não ocorreu
encantamento. Logo, não há razão para prosseguir na interação nem “bisbilhotar”!
Então, a retórica, a alegoria e a poética são, realmente, atrativos; porém,
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precisam vir acompanhados de discursos realmente coerentes com as proposta dos
blogs.
3. A linguagem é cuidadosamente manipulada de modo a excitar a
imaginação.
A linguagem em uso depende do tipo de blog: acadêmicos escreverão com as
formalidades de cada área, jornalísticos escreverão de acordo com as técnicas de
redação exigidas, e assim por diante. Em um blog de pessoas comuns,
descompromissadas com algum contexto profissional, ou de atividades informais, a
linguagem via “imagens” (o que é um bom atrativo) a comunicação se dá não
através de pomposos discursos abstratos, mas de uma linguagem que se remete a
metáforas relacionados com o dia-a-dia, etc. Deste modo, a comunicação se
moldará ao público; por isso, afirmamos que a forma segue a função, numa linha
visagista. O que vai influenciar desde a escolha do design do blog à escolha do uso
da linguagem.
4. Pode-se entender "seduzir" em sentido amplo como "tirar do caminho", o
emissor seduz quando transporta o receptor para o seu universo, fazendo-o
enxergar o que ele quer que enxergue.
Não pensamos que seduzir se restrinja a tirar do caminho, mas convidar para
partilhar de “outros caminhos”. As pessoas, hoje em dia, tem um medo, (fictício?),
de atender a discursos ortodoxos/dogmáticos; então, elas dificilmente saem de
seus próprios caminhos. Caso sejam convidadas de um modo apelativo, uma
linguagem kitsch6, exageradamente emotiva, quanto por influência de outros para
irem ou entrarem em outro caminho, do qual podem sair, assim que desejar, mais
facilmente tais pessoas serão “atraídas”.
Podemos pensar a geração que cresceu de 1990 para cá e, principalmente,
esta mais nova, as antigas, logicamente, ainda estão em outros sistemas de
pensamentos e as estratégias de seduções são diferentes, pois as estratégias de
sedução se atrelam a ideologias: uma pessoa de 1970, teria resistência para
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interagir no NerDevils, a não ser que tenha sido um contraculturalista daquela
época; geralmente, essas pessoas de gerações anteriores se sentem mais à vontade
em um local “limpo, controlado e imparcial”, ou seja, onde as palavras dizem
pragmaticamente o que se diz, não com usos mirabolantes de metáforas e
agressividade.
5. Comunicação direcionada, sobretudo a estimular os sentidos e despertar
sentimentos, muito mais do que falar à razão; o discurso sedutor não respeita,
necessariamente, os padrões da lógica formal, pois não visa demonstrar algo e sim
influenciar pessoas.
Não se trata somente de um caso de influência, pois ao mesmo tempo
podemos afirmar que a comunicação nos blogs (depende do blog, isso tem que ser
sempre esclarecido, pois, por exemplo, um historiador pode ver em fragmentos...
cada local e tempo histórico e grupos de pessoas ou personalidades individuais,
identificando-as em ações diferenciadas, portanto no blog as personalidades são
muito mais expostas que no mundo “real”; então, as individualidades são desnudas,
cada blog é diferente!) é um estimulo de sentidos e um discurso fora dos padrões,
mas também simplesmente a opinião pessoal sobre algo!
É uma espécie de jornalismo/opinião/discurso diferente dos veiculados pelas
grandes mídias, mas que também demonstra quando julga ser necessário provar o
que se diz. A liberdade das pessoas criarem suas próprias informações, visitarem
elas mesmas as fontes das notícias, ao mesmo tempo em que jornalistas
profissionais o fazem, promove uma sensação de poder, uma proximidade com
valor de eloqüência, o saber e poder dizer (Foucault, 1989) Podemos, a título de
ilustração, acessar dados do governo Norte-Americano sobre a Guerra do Iraque, os
quais antes seriam escondidos, até mesmos dados secretos sobre espiões, etc que
hackers liberam na internet e os blogs disseminam. Enfim, o blog cria seu próprio
universo discursivo, seu próprio ambiente em que os lugares de fala do sujeito são
deslocados e tudo de certa perspectiva pode acontecer.
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6. O discurso deve se revestir de elementos agradáveis, com palavras carregadas de
poesia e sentidos enigmáticos, basear-se na subjetividade e nas diferentes
maneiras de mobilizar as emoções no que for necessário para produzir uma
exposição ornamentada e colorida sobre o assunto em questão.
Afirmamos que o discurso tanto pode revestir-se de elementos agradáveis
quanto agredir o leitor, isso depende do blog. A agressão pode ser agradável para
um público em específico e não para o público geral, algo colorido pode atrair um
grupo e agredir outro, e assim por diante. No caso, os discursos dos blogs podem
ser direcionados para grupos específicos, ou até mesmo para confrontar grupos
específicos, sendo o atrativo justamente a irritação que eles causam nas pessoas.
O “troll”, os que se dispõem ao avesso do discurso corrente, tem sucesso
porque eles conseguem chamar atenção incomodando os outros, fazendo com que
os incomodados espalhem o conteúdo do blog justamente por odiarem e sentirem
uma necessidade de mostrar como “aquilo” (o conteúdo do blog) é “ruim”. Na
internet em geral, os trolls fazem mais sucessos que coisas “agradáveis”. Pelo
menos nos cantos da internet por onde viajamos... até então.
7. Para seduzir, o discurso precisa ter mais de sonoridade do que de concatenação.
O receptor recria em sua mente as imagens e sensações transmitidas pela fala.
Quem busca seduzir tem de, através do discurso, fazer das palavras imagens,
o que se obtém por meio de detalhes que prendem a atenção do receptor, das
pequenas coisas que compõem um cenário e que exercem atração sobre quem
ouve. (um dos recursos de que se pode lançar mão é a descrição).
A sedução a nosso ver pode vir tanto da forma como o texto se constrói como
apenas do que ele propõe, por exemplo, o Leosis (um dos blogueiros citados) tem
textos que a comunidade de fãs comenta no NerDevils, julgando-os como horríveis e
não necessariamente os são, porque podem ser lidos por ângulos diversos, identifica-
se por exemplo: mistura de viagens lisérgicas com misticismo e sonhos. Em suma, o
texto não faz nenhum sentido e por isso pode ser muito bom, dependendo do
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propósito do blog e da comunidade a que se destina. É possível? Claro. São muitas
questões envolvidas na interação e no objetivo da produção: para que grupo o grupo
se direciona? A que/quem ele se opõe? Qual sua proposta ou anti-proposta? Quais os
seus limites? Tudo isso é muito diferente para cada blog em si.
4. Desnudando perfis: uma análise parcial
http://nerdevils.wordpress.com/
Para ilustrarmos as reflexões apresentadas, o blog NerDevils foi escolhido
pela identificação de um perfil (conforme Jenkins, 2009:358) polêmico, em que os
membros buscam a adesão, mas estabelecendo confronto e agindo de modo
corrosivo em relação ao outro e, muitas vezes, buscando desestabilizar o
interlocutor, de “fabricar dissenso”, de modo a conquistar (ou afastar) possíveis
fãs.
Na internet, o acabamento gráfico em si pode não ser um indicador de
conteúdo ou ser responsável diretamente pelo interesse das pessoas, mas o que
acontece, no mínimo, é que ele deve ser uma forma direcionada para a função que
é apontar às pessoas a temática, podendo daí fazê-las se interessarem ou não, pelo
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conteúdo. Porque a sedução passa pelo olhar, é o que atrai: “o que puxa a gente
pro fundo é a superfície, a paisagem, o que dá cor na vista (...) superfície é tudo o
que dá para ver por fora num primeiro olhar7”. Assim, pensar a estrutura do site é
como pensar de que modo “puxar uma pessoa para dentro”. Como afirma Chalita
(2009:24) “sedução haverá onde houver discurso. E a apresentação para esse
discurso é também importante, é uma forma de chamar atenção para o dizer.
No caso do NerDevils o conteúdo tem a ver com o design, a abordagem do
blog é de fogo, labaredas e cinzas, se referindo a mentes destruídas pelos seus
próprios textos. Essa atitude um tanto agressiva, que visa agredir os leitores novos
ou simplesmente deixar indentificável para pessoas de personalidades parecidas
qual o perfil a quem se destina o blog, serve como um ponto de sedução, pois a
identificação é uma estratégia sedutora. O “sujeito” deixa transbordar o seu “eu”,
abre o seu “coração”, a sua mente, conforme exposto: “mentes destruídas pelos
seus próprios textos” e permite com essa “atitude um tanto agressiva” com que o
interlocutor se identifique ou não, com um determinado jeito de ser e de
compreender uma realidade. Há uma mobilização, um envolvimento; assim, pode-
se promover a identificação simbólica que é o que atrai para a interação no blog.
Recomendamos a leitura do texto que inaugurou o NerDevils
(http://nerdevils.wordpress.com/2010/08/10/hello-world/).
4.1. Exposição e identidades
Quem são os NerDevils?
O texto de apresentação dos nove membros começa com “Cavaleiros do
Apocalipse? Não, eles são quatro. Sociedade do Anel? Não – somos nove, mas
não estamos lutando por um mundo melhor. Apenas jogando nossa lava em
cima dele.” (grifo nosso).
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Ao falar de sociedade do anel refere-se ao clássico livro “Senhor dos anéis” de
Tolkien, que juntamente com “Star Wars” e “Guia do Mochileiro das Galáxias”
fazem parte do aparato básico do que se refere aos Nerds clássicos, deixando uma
justificativa para o nome do blog e, logo em seguida, diz-se que o blog, na
verdade, serve apenas para jogar “lava” em cima do mundo, por isso “Devils”,
malvados, endemoninhados. Ao mesmo tempo em que justifica o título do blog,
talvez por um caráter de expressão de anti-sociabilidade, (o poder de negar e o
poder de marginalizar – Jenkins, 2009: 351), explicita o blog e deixa claro o que
deseja fazer: alimentar chamas, confusão, discussões.
Quando se diz que não estão lutando pelo mundo melhor, o que os
contribuintes do blog possibilitam entender é que se eximem de modelar as mentes
dos outros, eles não querem “seguidores” ou “apoiadores”, e sim queimar,
literalmente, as idéias dos outros, às vezes falando um monte de asneiras,
xingamentos e outras falando assuntos relevantes. Isso acaba servindo para deixar o
leitor interessado em saber o que de tão forte assim se pode ter a dizer. A dúvida
persiste na intenção de querer o “apagamento” do discurso do “queimar”, porque
o que o blog promove é a discussão e a interação; então, há a contradição na
construção da própria identidade do grupo.
O medidor de fogo é o módulo onde são mostradas as visitas gerais, chama-se
assim porque indica o número de "mentes queimadas" através do acesso do blog!
São queimadas porque se juntam às que ali se consideram destruídas ou fazendo
parte daquela organização. E se consideram destruídas sob uma ideia de aliança
rebelde, isto é, o que se fez alusão à citação de Stephen Duncombe sobre a
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fabricação de discórdias (apud: Jenkins, 2009: 358) “... nossos espetáculos serão
participativos: sonhos que o público poderá moldar e formatar sozinhos. Eles serão
atrativos, espetáculos que funcionam somente se as pessoas ajudarem a criá-los.
Serão ilimitados: preparando cenas para fazer perguntas e deixando silêncios para
formular respostas. E serão transparentes: sonhos que as pessoas saberão ser
sonhos, mas que terão o poder de atrair e inspirar. E, por fim, os espetáculos que
criarmos não irão encobrir ou substituir a realidade e a verdade, mas irão encená-
las e amplificá-las”
É a parte do blog no qual aparecem as pessoas que fizeram os últimos
comentários. Como se pode ver o caráter irreverente do blog de se considerar um
"queimador de mentes" talvez seja um dos pontos sedutores, já que instiga a saber
se realmente esse conteúdo é questionador, diferente, etc. Então, o passado, isto
é, pessoas que já participaram são cinzas, embora continuem a contribuir, já se
integraram à comunidade e nela se destruíram, e numa leitura possível, se
reconstruíram cinzas e permanecem em interlocução. Apesar de identificar-se
pouco sedutor virar cinza, o que se pode associar à ideia de morte, mas se pode
também associar à ideia do ressurgir, do romper e do refazer-se “surgir das
cinzas”. Pensamos que toda essa justificativa fica no espaço do implícito. Os
interlocutores, fãs, mais adequadamente, certamente, não será que os visitantes
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estão atentos às designações dos módulos? As associações são estabelecidas? Nesse
caso, teria que inverter o foco de análise e passar para o olhar leitor, o que seria
bastante enriquecedor sob o ponto de vista pesquisador.
4.1.2. Identidades
Apresentamos participantes do blog destacando um módulo onde cada um
escreveu um “quem sou eu” e mandou para o administrador inserir no site,
juntamente com uma foto. A foto é uma exposição, e sua apresentação é uma
demonstração de fidelidade à escolha de ser visto e permitir-se ver e de
apresentar-se de modo cúmplice no espaço de interlocução, embora isso não dê a
certeza da identidade.
Figura 1: @myialine
Fonte: http://nerdevils.wordpress.com/
Os nomes com @ antes são os meios usados para se comunicar no twitter,
você coloca o nick da pessoal depois do @ e a mensagem vai para ela. Nesse perfil
é bom deixar claro o termo “trollagem” que vem de troll”.
“Um troll , na gíria da internet, designa uma pessoa cujo comportamento
tende sistematicamente a desestabilizar uma discussão, provocar e enfurecer as
pessoas envolvidas nelas. O termo8 surgiu na Usenet, derivado da expressão trolling
for suckers (lançando a isca para os trouxas), identificado e atribuído ao(s)
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causador(es) das sistemáticas flamewars.” (verbete troll na Wikipédia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Troll_(internet) )
O Alborghetti foi o maior troll do jornalismo brasileiro, por isso ela fala de
“Alborghetti de saias”.
A verdade é que o NerDevils tem como atrativo de público justamente ser um
blog formado por trolls insistentes, que antes trollavam no twitter e em blogs
pessoais e em seguida uniram forças em uma megatrollagem canalizada em um
blog! A união dos nove na verdade serviu para garantir o publico que já se tinha no
twitter e nos blogs pessoais em um lugar só, por isso a idéia do joint blog,
corroborado pela sincronicidade não intencional de idéias.
Figura 2: @Synthzoid
Fonte: http://nerdevils.wordpress.com/
É ao lado do Leosias, o principal mentor do blog, o sujeito que disse que “é
publicitário de dia e batman virtual a noite”, ou melhor, é vigilante de causas
impossíveis e de trollagens foras da lei quando está em casa.
Um termo interessante usado pela comunidade de fãs é “metaverso”, que na
verdade tanto se refere ao mundo virtual, corpos de avatares destituídos de
materialidade, quanto ao mundo espiritual, ou melhor, metafísico, além de
identidades paralelas e realidades alternativas. Em suma, metaverso é outro
universo que não o cotidiano, cujo um deles se tornou acessível pela internet. O
termo é usado tanto em filmes como Matrix, como em obras de Grant Morrison e
Alan Moore, HQs de temática mística como Promethea e Os invisíveis. Também em
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obras cyber-punk como de Gibson, livros como a triologia: Neuromancer, Monalisa
Overdrive e Count-Zero, livros que tiveram os conceitos apropriados em Matrix.
Já o termo Pop Magick não é simples de explicar, mas podemos dizer que se
relaciona com Metaverso e os autores de HQs e místicos que citamos. Por isso
citaremos o trecho de uma obra do próprio Grant Morrison sobre mágica no novo
século, é necessário, pois, o público do blog também se relacionar com outros
temas, intertextualidade, e sem dúvida essa troca é um dos atrativos do NerDevils,
sua posição caoísta:
POP MAGIC! é Magia! Para o Povo. POP MAGIC! é Magia! Nua. POP MAGIC! tira os sete véus e lhes mostra as tetas do infinito. PENSANDO SOBRE Tudo o que você precisa para começar a paraticar magia é concentração, imaginação, habilidade de rir de si mesmo e aprender com os erros. Algumas pessoas gostam de se vestir como egípcios ou como monges para entrar no clima; Outros vestem máscaras animais ou fantasias de Barbarella.A função e o uso dessa parafernália é apenas como uma ajuda para a imaginação. Qualquer coisa que você possa imaginar,qualquer coisa que você possa simbolizar,pode ser feito para provar mudanças mágicas em seu ambiente. PRIMEIROS PASSOS NO CAMINHO Magia é fácil de fazer.Dúzias de livros com regras e manuais de instrução estão disponíveis na seção de ocultismo ou na de “mente,corpo e espírito” das mais modernas livrarias.Muitos dos manuais foram escritos quando um poderoso e vingativo aparato da natureza estava tentando suprimir todas as outras estradas para a Verdade que muitos deles estão geralmente tão altamente codificados e disfarçados através de sistemas simbólicos arcanos queque isso raramente valia a pensa ? exceto pela idéia de como outras pessoas usavam SEUS poderes imaginativos para interpretar contatos e comunicações não-físicas. Aleister Crowley - o Picasso mágico - escreveu isto e e eu não conseguiria dizer de forma melhor que a dele: "Neste livro, fala-se de Sephiroth & de Caminhos, de Espíritos & de Encantamentos, de Deuses, Esferas, Planos e muitas outras coisas que podem ou não existir. "É imaterial se existem ou não. Fazendo certas coisas, certos resultados acontecem; estudantes são seriamente avisados a não atribuir realidade objetiva ou validade filosófica a qualquer um deles?." Esta é a mais importante regra de todas e é por isso que começamos com ela. Assim que você continue a aprender e desenvolver seus própios psicocosmos e estilos de prática mágica, assim que encontrar estranhos, e estranhos habitantes de mundos infernais e mundos superiores,você irá
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retornar a estas palavras de sabedoria de novo e de novo com um novo entendimento a cada vez. COMO SER UM MÁGICO Simples. Declare-se um mágico, aja como um mágico, pratique mágica diariamente. Seja honesto sobre seu progresso, seus sucessos e falhas.Viajar com 500 cogumelos podem liberar seu esfíncter anal um pouco mas isto geralmente não lhe dará nenhum dos benefícios da mágica que estou discutindo aqui.Mágica se trata do que você pode trazer DE VOLTA dos Reinos Iluminados da Überconsciência.O mágico mergulha no Imenso Outro na busca de pistas, truques e tesouros que possa trazer para casa a fim de enriquecer a vida no mundo sólido.E se necessário, fingir ter feito isso.”
Assim, podemos dizer que o NerdeVils não só apresenta o dissenso mas tem
um universo de magia que pode contagiar um grupo de fãs que enxergarão esse viés
de troca para o “pensar diferente” permitindo o que, no nosso entender, o blog
defende o livre-pensar, o deixar as mentes destruídas pode ser visto no sentido de
não ser moldada, ser disforme.
4.1.3. Reticências para a trollagem virtual
Na análise geral do perfil do NerdeVils identificamos que o blog é uma
trollagem virtual e é isso o que atrai o internauta, o blogueiro e as demais
comunidades de fãs. As estratégias de mostrar que se tem uma posição diferente,
única, personalizada e não baseada em leituras comuns a todos como as indicadas
em listas “dos mais lidos” ou, por exemplo, na Universidade, onde monografias,
teses e dissertações saem sempre com caras parecidas por sempre usarem as
mesmas referências, transformando a Instituição (ou melhor, o institucionalizado)
num antro de massificação e produção massificada de informações e não de
conhecimentos (Morin, 2003) e não de inovação ou, ao menos, pesquisa no sentido
lato do termo. Nesse espaço, o jogo discursivo tem uma liberdade mais instaurada,
embora não ausente de controle, mesmo escamoteado.
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O blog se faz como uma alternativa de opinião sobre o mundo, os fatos, mas
basicamente para os escritores não passa de um lugar para simplesmente escrever
o que lhe vier à cabeça, sem censura de algum tipo.
O “quem são os nove” termina com o que vai ser todo o delineamento do
blog:
Se você achou que essa galera se juntou meio por acaso e do nada pra
encher a web de FLAME, você está certo. Se você acha que isso aqui é fogo de
palha, você está errado. Agora que já sabe quem somos, VÁ LER OS NOSSOS
TEXTOS, PORRA!
Esse comando agressivo, injuntivo, pode funcionar positivamente para alguns,
apesar de arrogante, mas pode repudiar outros para a interação. Assim, o que pode
ser sedução para um, pode não ser para outro. É o que marca o caráter do
subjetivo (Benveniste, [1966 ]2001) na linguagem e a particularidade do olhar de
cada um, as idiossincrasias e como cada um percebe e recebe o “real” construído e
descontruído pelo “outro”.
Flamewar é o que os trolls fazem na internet, uma guerra de opiniões, uma
guerra de discussões esvaziadas e de resistência para manter o livre-pensar, e o
pensar heterodoxo.
5. Considerações finais
Consideramos, ao longo do artigo, a linguagem como forma de ação entre os
homens, cuja função básica é persuadir e convencer, não somente comunicar
(Barreto, 1994) e, assim, ao pensar o seu funcionamento é necessário considerar
contextos abrangentes, incorporando aspectos socioculturais e históricos que
promovem mudanças e refletem novos comportamentos nas interações e, por
extensão, na produção, circulação e consumo de materiais e de conhecimentos.
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As evoluções identificadas com a inserção, paulatinamente, das tecnologias
produzem uma apropriação de novas formas de comunicação que podem ser
recebidas de forma crítica ou acrítica. Esse é um processo natural que faz com que
as sociedades evoluam e acompanhem as transformações sociais, econômicas e
culturais que geram novas formas de circular as informações. Acabam por surgir, a
partir desse contexto, práticas enunciativas que atendam às necessidades e aos
anseios das comunidades nos objetivos de comunicação emergentes dos espaços de
interação em que estão inseridas.
Atualmente, como verificamos no texto apresentado, uma prática discursiva
de realce no ambiente virtual é o diário online, blog, que é abordado, aqui, como
uma plataforma de comunicação onde identidade, personalização e estilo,
estabelecem-se nas instâncias e nos contextos do saber-dizer em interação.
Os argumentos se construíram sob o objetivo de verificar, dentre outros
aspectos textuais-discursivos, estratégias de sedução no discurso utilizadas no blog
NerDevils escolhido pela identificação de um perfil (conforme Jenkins, 2009:358)
polêmico. Verificamos que essa comunidade busca a adesão, como qualquer outra,
mas estabelecendo confronto e agindo de modo corrosivo em relação aos
interlocutores e, muitas vezes, de modo a desestabilizar um possível visitante.
Caracterizamos esse blog no perfil daqueles que se constroem para “fabricar
dissenso”; mas, por outro lado, reconhecemos que há a promoção de uma ruptura
com o “já dito”, os integrantes permitem-se ao diferente e dizem um “não” à
reprodução (Bourdieu: [1970] 1982).
Observamos diferentes aspectos na estrutura do blog: escolhas multimodais,
cores, emblemas, figuras, formas de disposição dos módulos, fotografias, títulos,
etc. bem como o uso da expressão escrita, isto é, a exposição dos participantes: a
forma como eles se apresentam, se o modo como eles a fazem tem marcas típicas
de um discurso sedutor que podem ou não, aproximar ou afastar o fã para o blog,
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entendendo que tanto afastando quanto aproximando é uma forma de influência,
sendo uma sedução e/ou uma anti-sedução.
É relevante assinalarmos que nossa cultura referencia, majoritariamente, a
palavra sedução no sentido de ideias positivas, mas ela tem e pode ter uma
referenciação negativa, ainda exprima proximidade, pode não ser correspondida,
ou seja, pode levar a não aderência discursiva que será, no caso, não ter
cumplicidade em relação aos discursos expostos no blog, caso estudado, ou melhor,
às ideias compartilhadas, às formas de pensar, ser mais uma “mente destruida” e
integrar-se a ou identificar-se com a comunidade visitada.
Assim, por mais que se veja a sedução inerente ao discurso e o sujeito
enredado nele é possível a estratégia da escolha entre circular ou não, por meio de
determinadas redes sociais, conforme a identificação e a aproximação do perfil de
cada um, bem como as ideias com as quais partilha; mas, por outro lado, há uma
imaginação que não se pode controlar e, nesse sentido, não se pode afirmar que
haverá fidelidade em relação ao perfil “particular” de cada um no que diz respeito
à comunhão a um determinado grupo virtual de relacionamento. Fica a questão a
se responder sobre as redes de relacionamento: Com quem realmente estou
interagindo do lado de lá? Essa é a foto da pessoa que, por minutos, horas, me
seduz e me prende em seu dizer? Quem compõe/frequenta meu “lar” virtual? O
que me é dito(lido) [frequenta, oferece] permite brecha para esse
questionamento?
De acordo com a situação em que se está inserido, o produtor de discurso faz
escolhas, elabora estratégias discursivas para a qual a situação interativa lhe
exigirá; assim, a abordagem de um tema, o cumprimento, a forma de uso da
linguagem, a adequação ao grupo (se for o caso); enfim, haverá escolhas a se
fazerem na hora da produção escrita (e se fosse oral, também ocorreria o mesmo;
porém, de modo mais dinâmico, sem muito tempo de elaboração e de retorno para
reelaboração), dependendo do contexto. A produção não se dá de modo aleatório,
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sem propósito, sem pensar no sentido que provocará no “outro”, o interlocutor. Só
nesse passo já se trata de uma preocupação em relação a quem vai ler o que está
escrito, como esse leitor participará desse dizer. Ainda que, pretensamente
inconsciente, essa escolha é feita e nisso há a intensão de conquista; logo, há
interesse, podemos dizer: há sedução.
Desse modo, podemos afirmar não há uso de linguagem sem argumentação,
sem querer chamar o “outro” para si, para o seu dizer; então, ao usar a linguagem,
há, de modo atenuante ou não, marcas de sedução. Numa sequência de dizer
expositiva essas marcas ficam mais evidentes, pois o enunciador se expõe e a
figuração emotiva sobressai no seu comportamento linguistico-comunicativo.
Numa breve consideração para pontuarmos o que muito falta para dizer é
certo afirmarmos que a evasão de emoções expressa no uso da linguagem, seja do
modo que for, não significa um teor melodramático; muito ao contrário, mas um
domínio articulatório proposital. De modo, inclusive, a ter a perspicácia de
identificar no outro (interlocutor) o espaço vazio de discurso, onde melhor se
encaixará o seu dizer e verificar como poderá valer-se de uma dada estratégia de
persuasão, de conquista, de convencimento e de sedução.
Referências bibliográficas
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1 Profa Dra Maria Angélica Freire de Carvalho – Universidade Federal do Piauí – [email protected] – www.interletramentos.com.br
2 Participação síncrona ocorre em tempo real, os participantes interagem ao mesmo tempo, comunicam-se no ambiente virtual conjuntamente desde que estejam conectados como, por exemplo, a interface “chat”. A interface “forum” ilustra uma participação assíncrona, pois não necessariamente todos os participantes estão conectados ao mesmo tempo e ela permite um registro que se poderá retomar num momento diferenciado em relação a outros acessos.
3 É importante fazer uma observação nesse trecho quanto ao uso do termo “interface”, pois se poderia pensar por que não foi usado o termo “ferramentas”. Assume-se a posição de Johnson (2001: 19) entendendo que, no contexto das tecnologias de informação (TICs) “ferramenta” ganha o sentido de dispositivo para o encontro de duas ou mais faces em atitude comunicacional, dialógica ou polifônica. A ferramenta opera, pois, com o objeto material e a interface é um objeto virtual, esta é um espaço online de encontro de comunicação entre duas ou mais faces. [ JOHNSON, Steven. A cultura da interface: como o computador transforma nossa maneira de criar e de comunicar. Trad. Maria L. Borges. Rio de Janeiro: Zahar, 2001]
4 Um conjunto de nós ligados por conexões. Os nós podem ser palavras, páginas, imagens, gráficos ou parte de gráficos, seqüências sonoras, documentos complexos que podem ser eles mesmos hipertextos. Os itens de informação não são ligados
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linearmente, como uma corda com nós, mas cada um deles, ou a maioria, estende suas conexões em estrela, de modo reticular. O hipertexto sinaliza um novo estilo linguístico, um texto aberto, livre, solto, sem fronteiras definidas. Nesta ruptura com normas fundamentadas na história e na cultura de um povo e implícitas em seu linguajar formal ou coloquial, ele caracteriza-se por uma produção independente e extremamente liberal, mas que não exclui, nem pode excluir outros textos. É inegável que a gama de possibilidades de informações instantâneas acelera a motivação da multilinearidade nos nexos e redes em contraposição à linearidade do texto tradicional.( Linguagem da internet: do virtual para o não-virtual Sabrina Beffa Falcão Jornalista, especialista em Gestão Empresarial (UCAM)). Uma definição bem descrita é a apresentada por LÉVY (1993) Pierre Lévy: ...um conjunto de nós ligados por conexões. Os nós podem ser palavras, páginas, imagens, gráficos ou parte de gráficos, seqüências sonoras, documentos complexos que podem ser eles mesmos hipertextos. Os itens de informação não são ligados linearmente, como uma corda com nós, mas cada um deles, ou a maioria, estende suas conexões em estrela, de modo reticular. [LÈVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993.]
5 Destaca-se que o termo “revolução” é repensado por Jenkins (2009:32-33), pois o autor afirma que “Se o paradigma da revolução digital presumia que as novas mídias substituiriam as antigas, o emergente paradigma da convergência permite que novas e antigas mídias irão interagir de forma cada vez mais complexas O paradigma da revolução digital alegava que os novos meios de comunicação digital mudariam tudo. Após o ‘estouro da bolha pontocom’, a tendência foi imaginar que as novas mídias não haviam mudado nada. Como muitas outras coisas no atual ambiente de mídia, a verdade está no meio-termo. Cada vez mais, líderes da indústria midiática estão retornando à convergência como uma forma de encontrar sentido, num momento de confusas transformações. A convergência é nesse sentido, um conceito antigo assumindo novos significados.
6 Uso de linguagem coloquial, kitsch, isto é, profundamente ligada a um rerpertório sentimentalista, em certo sentido, é a ideal para o discurso sedutor, porque não busca alimentar a atenção raciocinal do receptor, mas o atinge através do uso de símbolos e de referências familiares, ligado às vicissitudes da intimidade das pessoas na sociedade, sempre com elementos facilmente identificáveis por parte de quem ouve o discurso. (descrições exageradas e sentimentalismo "barato") (Chalita, 2009).
7 Márcio Vassalo, jornalista escritor. Publicado em “Leituras Compartilhadas, ano 5, Fascículo 14, Cidadania: Escolhas, www. Leiabrasil.org.br.
8 “1. troll
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One who posts a deliberately provocative message to a newsgroup ormessage board with the intention of causing maximum disruption and argument. [...]
5.Troll
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One of many unsung internet heroes who are almost entirely misunderstood. Contrary to popular belief, many trolls are actually quite intelligent. Their habitual attacks on forums is usually a result of their awareness of the pretentiousness and excessive self-importance of many forum enthusiasts. As much as people may hate trolls, they are highly effective - their actions bring much of the stupidity of other forum users out into the great wide open.
Man, that troll really owned those dumb forum users who take themselves too damn seriously” (dois verbetes de troll no Urban Dictionary http://www.urbandictionary.com/define.php?term=troll)