125
Coordenação dos Investimentos no Transporte e Produção de Electricidade: Estudo da Interligação Portugal-Espanha-França João Gustavo da Cunha Feio Dissertação para a Obtenção de Grau de Mestre em Engenharia Electrotécnica e de Computadores Orientador: Prof. Doutor João José Esteves Santana Júri Presidente: Prof. Doutor Rui Manuel Gameiro de Castro Orientador: Prof. Doutor João José Esteves Santana Vogal: Prof. Doutor Antero Miguel Lopes Moreira da Silva Março de 2015

Coordenação dos Investimentos no Transporte e Produção de ... · o desenvolvimento deste trabalho, nomeadamente na implementação do modelo de análise utilizado, bem como na

Embed Size (px)

Citation preview

Coordenação dos Investimentos no Transporte e

Produção de Electricidade: Estudo da Interligação

Portugal-Espanha-França

João Gustavo da Cunha Feio

Dissertação para a Obtenção de Grau de Mestre em

Engenharia Electrotécnica e de Computadores

Orientador: Prof. Doutor João José Esteves Santana

Júri

Presidente: Prof. Doutor Rui Manuel Gameiro de Castro

Orientador: Prof. Doutor João José Esteves Santana

Vogal: Prof. Doutor Antero Miguel Lopes Moreira da Silva

Março de 2015

ii

iii

Agradecimentos

Este trabalho marca o fim de uma etapa importante na minha vida, a qual não poderia ter percorrido

sozinho, pelo que quero agradecer a todos aqueles que nela foram importantes.

Em primeiro lugar, agradeço ao Professor Doutor João Santana que, enquanto docente, me motivou

e transmitiu o gosto pela área, com o seu conhecimento, experiência e capacidade de ensino; e que,

enquanto orientador, a sua dedicação, disponibilidade, apoio, ajuda e paciência foram fundamentais

para o desenvolvimento e conclusão desta dissertação.

Em segundo lugar, um agradecimento aos Professores Doutores Hung-Po Chao e Robert Butler

Wilson – professores da Stanford University e autores do artigo em que este trabalho se baseia – com

quem tive o privilégio de contactar e cujo auxílio prestado, esclarecimentos e a rápida disponibilização

de materiais, foram fundamentais para o desenvolvimento do estudo aqui descrito.

Agradeço ao colega Engenheiro Ruben Couto Costa que também teve um papel fundamental para a

o desenvolvimento deste trabalho, nomeadamente na implementação do modelo de análise utilizado,

bem como na disponibilização dos materiais por ele utilizados na realização da sua dissertação de

mestrado.

Um profundo agradecimento aos meus pais – as mais importantes figuras da minha vida – pela

oportunidade que me deram em prosseguir os estudos superiores, pelas condições favoráveis que

sempre me proporcionaram, pelas palavras de apoio e incentivo nos momentos mais difíceis…por

tudo!

Ao meu irmão, pela amizade, companheirismo, apoio, optimismo e estímulo que sempre me deu e

que foram fundamentais para chegar até aqui. Agradeço-lhe, também, a ajuda na revisão deste

trabalho e o auxílio prestado na implementação do modelo matemático.

Aos meus amigos e colegas, por me terem acompanhado durante o meu percurso, pela paciência e

amizade e que foram decisivos para o meu sucesso académico e pessoal. Um especial

agradecimento à Inês do Ó, à Lígia Fernandes, ao Pedro Lima e ao Rui Neto, por terem sido os

amigos, além de colegas de curso.

Finalmente, agradeço a todos aqueles que não referi e que, directa ou indirectamente, acreditaram

em mim e me apoiaram nesta caminhada.

iv

v

Abstract

With the liberalization of the electricity industry, notorious organizational changes were introduced as

well as new challenges within the sector. Vertically integrated companies, characteristics of the

traditional sector, were dismantled and competition was introduced in the generation sector. In a

deregulated electrical industry, the transmission has a key role in the proper functioning of the energy

market.

An efficient transmission capacity must ensure the fair access to the energy for all the stakeholders,

mitigating the market power of producers and increasing competition in the electricity generation, as

well as ensuring the integration of the increasingly decentralized production.

Due to the role of the transmission sector in this restructured industry, planning and expanding the

electricity network is a complex and extremely important process. Investments in transmission shall

enable and encourage an efficient system expansion. Consequently, an impact distribution analysis of

a transmission investment is a key tool for a proper planning.

This work consists in a theoretical study of the electricity transmission sector in a restructured industry,

particularly with regard to the interconnection between Portugal, Spain and France. For this purpose, a

previously established analytical model is applied, due to a three nodes and two transmission lines

network. The aim of this study is to identify which parties are benefited and which are harmed in a

transmission investment between the three countries in this network. Optimal results will be presented

and, hence, conclusions will be drawn, allowing to achieve the objectives of this study.

Keywords: Electrical Transmission, Transmission Investments, Cost-Benefit Analysis,

Transmission Network Planning

vi

vii

Resumo

Com a liberalização da indústria eléctrica introduziram-se alterações notórias a nível organizacional,

bem como novos desafios dentro do sector. As empresas verticalmente integradas, características do

sector tradicional, foram desmanteladas e a concorrência foi introduzida no sector da produção.

Numa indústria eléctrica desregulada, a transmissão, que continua regulada, desempenha um papel

fundamental no bom funcionamento do mercado de energia.

Uma capacidade de transporte eficiente deve garantir o livre e justo acesso à energia a todos os

intervenientes, mitigando o poder de mercado dos produtores e aumentando a concorrência a nível

da produção eléctrica, bem como garantir a integração da crescente produção descentralizada.

Considerando o papel desempenhado pelo sector do transporte nesta indústria reestruturada, o

planeamento e expansão da rede constitui um processo complexo e de extrema importância. Os

investimentos em transmissão devem possibilitar e incentivar uma expansão eficiente do sistema.

Como consequência, uma análise da distribuição de impactos relativos a um investimento no

transporte de electricidade constitui uma ferramenta fundamental para um correcto planeamento.

Neste trabalho é feita uma análise teórica sobre o sector do transporte de electricidade numa

indústria reestruturada, nomeadamente no que concerne à interligação entre Portugal, Espanha e

França. Para o efeito, é aplicado um modelo matemático, previamente estabelecido, para uma rede a

três nós e duas linhas de transmissão. Pretende-se com isto identificar as partes beneficiadas e

prejudicadas num investimento em transmissão de energia eléctrica, entre os três países constituintes

desta rede. Serão apresentados resultados optimizados e, daí, serão retiradas conclusões, permitindo

cumprir os objectivos deste estudo.

Palavras-chave: Transporte de Energia Eléctrica, Investimentos em Transmissão, Análise Custo-

Benefício, Planeamento da Rede de Transporte

viii

ix

Índice

Capítulo 1 – Introdução 1

1.1. Contexto 1

1.2. Objectivos 2

1.3. Estado da Arte 2

1.4. Estrutura 4

Capítulo 2 – Contexto do Mercado Eléctrico 7

2.1. Caracterização do Sector Electroprodutor Nacional (SEN) 7

2.1.1. Overview 7

2.1.2. Procura 8

2.1.3. Oferta 10

2.2. Caracterização do Sector Electroprodutor Espanhol 12

2.2.1. Overview 12

2.2.2. Procura 13

2.2.3. Oferta 14

2.3. Caracterização do Sector Electroprodutor Francês 16

2.3.1. Overview 16

2.3.2. Procura 16

2.3.3. Oferta 17

2.4. A Liberalização do Sector Eléctrico 19

2.4.1. Organização do Sistema Eléctrico 19

2.4.2. O Mercado de Energia 21

2.4.3. Regulação 23

2.4.4. Contratos Bilaterais 23

2.4.5. Planeamento e Expansão da Rede de Transporte 24

2.4.5.1. Sector Eléctrico Tradicional 24

2.4.5.2. Sector Eléctrico Reestruturado 25

2.4.6. Sector Tradicional versus Sector Reestruturado 27

2.4.7. Enquadramento no Mercado Europeu de Electricidade 27

2.4.7.1. O Caso Ibérico: MIBEL 28

x

2.4.7.2. O Caso Francês: Powernext 29

Capítulo 3 – Contexto Económico 31

3.1. Lei da Utilidade Marginal Decrescente 31

3.2. Excedente 31

3.2.1. Excedente do Consumidor 32

3.2.2. Excedente do Produtor 32

3.2.3. Excedente Económico-Social 33

3.3. Elasticidade 33

3.3.1. Elasticidade Preço da Procura 33

3.3.2. Elasticidade Preço da Oferta 34

Capítulo 4 – Coordenação de Investimentos 37

4.1. Coordenação dos Investimentos no Transporte e Produção de Electricidade 37

4.2. Congestionamento na Transmissão 38

4.2.1. Custos de Congestionamento: Sector Tradicional 38

4.2.2. Custos de Congestionamento: Sector Reestruturado 41

4.2.2.1. Uplift Charges 43

4.2.2.2. System Reispatch Costs 43

4.2.2.3. Congestion Revenues 44

Capítulo 5 – Análise Custo-Benefício num Investimento em Transmissão Numa Rede de Três Nós 47

5.1. Características Básicas do Modelo Analítico 47

5.1.1. Ambiente Estacionário 47

5.1.2. Mercado de Energia Competitivo 48

5.1.3. Possibilidades de Investimento 48

5.1.4. Complementaridade e Substituição à Produção 48

5.1.5. Métodos de Recuperação de Custos de Investimento 48

5.1.6. Medição de Impactos no Bem-Estar Social 49

5.2. Formulação do Modelo 49

5.3. Modelação da Interligação Portugal – Espanha – França 51

5.4. Limitações do Modelo 52

5.5. Metodologia Adoptada 53

xi

5.6. Resultados 55

5.6.1. Resultados do Troço Portugal – Espanha 55

5.6.1.1. Período de Ponta de Verão 55

5.6.1.2. Período de Vazio de Verão 59

5.6.1.3. Período de Ponta de Inverno 63

5.6.1.4. Período de Vazio de Inverno 68

5.6.1.5. Análise de Resultados 72

5.6.1.6. Análise Comparativa 74

5.6.2. Resultados do Troço Espanha – França 76

5.6.2.1. Período de Ponta de Verão 77

5.6.2.2. Período de Vazio de Verão 82

5.6.2.3. Período de Ponta de Inverno 86

5.6.2.4. Período de Vazio de Inverno 91

5.6.2.5. Análise de Resultados 95

Capítulo 6 – Conclusões 99

6.1. Trabalho Futuro 101

Referências Bibliográficas 103

xii

xiii

Lista de Figuras

Figura 2.1. – Evolução do consumo de electricidade em Portugal Continental 9

Figura 2.2. – Evolução prevista da procura de energia eléctrica em Portugal Continental 9

Figura 2.3. – Evolução da produção bruta de electricidade em Portugal Continental 10

Figura 2.4. – Mix de produção de electricidade em Portugal Continental 11

Figura 2.5. – Potência instalada por sector do Mix energético, em Portugal 12

Figura 2.6. – Evolução do consumo de energia em Espanha, em MTep 13

Figura 2.7. – Evolução do consumo de electricidade em Espanha 14

Figura 2.8. – Evolução da produção de electricidade em Espanha 15

Figura 2.9. – Potência instalada por sector do Mix energético, em Espanha 15

Figura 2.10. – Evolução do consumo de energia em França, em MTep 17

Figura 2.11. – Mix energético Francês 18

Figura 2.12. – Evolução da produção de energia em França, em TWh 18

Figura 2.13. – Potência instalada por sector do Mix energético, em França 19

Figura 2.14. – Modelo de concorrência no mercado grossista 20

Figura 2.15. – Modelo de concorrência no mercado retalhista 21

Figura 2.16. – Cálculo do preço diário de energia 22

Figura 2.17. – Organização do Operador de Mercado Ibérico (OMI) 29

Figura 2.18. – Organização do Powernext como mercado de electricidade 30

Figura 3.1. – Excedente do consumidor e excedente do produtor 32

Figura 4.1. – Sistema de dois nós interligados 39

Figura 4.2. – Custos de produção nodais 39

Figura 4.3. – Sistema de dois nós com limitação na transmissão 40

Figura 4.4. – Custos de produção devido a limitação da capacidade de transmissão 40

Figura 4.5. – Efeito de um investimento em transmissão nos custos de produção 40

Figura 4.6. – Preço de referência no sector desregulado 41

xiv

Figura 4.7. – Efeito da restrição na capacidade de transmissão 42

Figura 4.8. – Custos de congestionamento segundo o método Uplift Charges 43

Figura 4.9. – Variação de custos devido ao redespacho 44

Figura 5.1. – Esquema em árvore, ilustrando a interligação Portugal – Espanha – França 51

Figura 5.2. – Preço horário do mercado diário, ponta de Verão, Portugal – Espanha 55

Figura 5.3. – Utilização da capacidade de interligação, ponta de Verão, Portugal – Espanha 56

Figura 5.4. – Curvas agregadas da oferta e procura, para Portugal, ponta de Verão 56

Figura 5.5. – Curvas agregadas da oferta e procura, para Espanha, ponta de Verão 57

Figura 5.6. – Preço horário do mercado diário, vazio de Verão, Portugal – Espanha 59

Figura 5.7. – Utilização da capacidade de interligação, vazio de Verão, Portugal – Espanha 60

Figura 5.8. – Curvas agregadas da oferta e procura, para Portugal, vazio de Verão 60

Figura 5.9. – Curvas agregadas da oferta e procura, para Espanha, vazio de Verão 60

Figura 5.10. – Preço horário do mercado diário, ponta de Inverno, Portugal – Espanha 64

Figura 5.11. – Utilização da capacidade de interligação, ponta de Inverno, Portugal –

Espanha 64

Figura 5.12. – Curvas agregadas da oferta e procura, para Portugal, ponta de Inverno 65

Figura 5.13. – Curvas agregadas da oferta e procura, para Espanha, ponta de Inverno 65

Figura 5.14. – Preço horário do mercado diário, vazio de Inverno, Portugal – Espanha 68

Figura 5.15. – Utilização da capacidade de interligação, vazio de Inverno, Portugal –

Espanha 69

Figura 5.16. – Curvas agregadas da oferta e procura, para Portugal, vazio de Inverno 69

Figura 5.17. – Curvas agregadas da oferta e procura, para Espanha, vazio de Inverno 69

Figura 5.18. – Preço horário do mercado diário, ponta de Verão, Espanha – França 77

Figura 5.19. – Utilização da capacidade de interligação, ponta de Verão, Espanha – França 77

Figura 5.20. – Saldo e sentido do fluxo energético, ponta de Verão, Espanha – França 78

Figura 5.21. – Curvas agregadas da oferta e procura, para Espanha, ponta de Verão 78

Figura 5.22. – Curvas agregadas da oferta e procura, para França, ponta de Verão 79

xv

Figura 5.23. – Preço horário do mercado diário, vazio de Verão, Espanha – França 82

Figura 5.24. – Utilização da capacidade de interligação, vazio de Verão, Espanha – França 82

Figura 5.25. – Saldo e sentido do fluxo energético, ponta de Verão, Espanha – França 83

Figura 5.26. – Curvas agregadas da oferta e procura, para Espanha, vazio de Verão 83

Figura 5.27. – Curvas agregadas da oferta e procura, para França, vazio de Verão 83

Figura 5.28. – Preço horário do mercado diário, ponta de Inverno, Espanha – França 87

Figura 5.29. – Utilização da capacidade de interligação, ponta de Inverno, Espanha –

França 87

Figura 5.30. – Saldo e sentido do fluxo energético, ponta de Inverno, Espanha – França 87

Figura 5.31. – Curvas agregadas da oferta e procura, para Espanha, ponta de Inverno 88

Figura 5.32. – Curvas agregadas da oferta e procura, para França, de ponta de Inverno 88

Figura 5.33. – Preço horário do mercado diário, vazio de Inverno, Espanha – França 91

Figura 5.34. – Utilização da capacidade de interligação, vazio de Inverno, Espanha – França 92

Figura 5.35. – Saldo e sentido do fluxo energético, ponta de Inverno, Espanha – França 92

Figura 5.36. – Curvas agregadas da oferta e procura, para Espanha, vazio de Inverno 92

Figura 5.37. – Curvas agregadas da oferta e procura, para França, vazio de Inverno 93

xvi

Lista de Tabelas

Tabela 2.1. – Alterações trazidas ao sector eléctrico, com a reestruturação 27

Tabela 5.1. – Datas seleccionadas para aplicação do modelo, troço Portugal – Espanha 52

Tabela 5.2. – Datas seleccionadas para aplicação do modelo, troço Espanha – França 52

Tabela 5.3. – Dados para simulação, ponta de Verão, Portugal – Espanha 57

Tabela 5.4. – Resultados obtidos para 1900MWh, ponta de Verão, Portugal – Espanha 58

Tabela 5.5. – Resultados da simulação, ponta de Verão, Portugal – Espanha 58

Tabela 5.6. – Dados para simulação, vazio de Verão, Portugal – Espanha 61

Tabela 5.7. – Resultados obtidos para 350MWh, vazio de Verão, Portugal – Espanha 61

Tabela 5.8. – Impacto da incrementação da capacidade de transmissão, vazio de Verão,

Portugal – Espanha 62

Tabela 5.9. – Impacto da incrementação da capacidade, até extinção de market splitting, vazio

de Verão, Portugal – Espanha 63

Tabela 5.10. – Dados para simulação, ponta de Inverno, Portugal – Espanha 65

Tabela 5.11. – Resultados obtidos para 2000MWh, ponta de Inverno, Portugal – Espanha 66

Tabela 5.12. – Impacto da incrementação da capacidade de transmissão, ponta de Inverno,

Portugal – Espanha 66

Tabela 5.13. – Impacto da incrementação da capacidade até extinção de market splitting, ponta

de Inverno, Portugal – Espanha 67

Tabela 5.14. – Dados para simulação, vazio de Inverno, Portugal – Espanha 70

Tabela 5.15. – Resultados obtidos para 1900MWh, vazio de Inverno, Portugal – Espanha 70

Tabela 5.16. – Impacto da incrementação da capacidade de transmissão, vazio de Inverno,

Portugal – Espanha 71

Tabela 5.17. – Impacto da incrementação da capacidade até extinção de market splitting, vazio

de Inverno, Portugal – Espanha 72

Tabela 5.18. – Dados para simulação, ponta de Verão, Espanha – França 79

Tabela 5.19. – Resultados obtidos para 1000MWh, ponta de Verão, Espanha – França 80

xvii

Tabela 5.20. – Impacto da incrementação da capacidade de transmissão, ponta de Verão,

Espanha – França 80

Tabela 5.21. – Impacto da incrementação da capacidade até extinção de market splitting, ponta

de Verão, Espanha – França 81

Tabela 5.22. – Dados para simulação, vazio de Verão, Espanha – França 84

Tabela 5.23. – Resultados obtidos para 700MWh, vazio de Verão, Espanha – França 84

Tabela 5.24. – Impacto da incrementação da capacidade de transmissão, vazio de Verão,

Espanha – França 85

Tabela 5.25. – Impacto da incrementação da capacidade até extinção de market splitting, vazio

de Verão, Espanha – França 86

Tabela 5.26. – Dados para simulação, ponta de Inverno, Espanha – França 88

Tabela 5.27. – Resultados obtidos para 1000MWh, ponta de Inverno, Espanha – França 89

Tabela 5.28. – Impacto da incrementação da capacidade de transmissão, ponta de Inverno,

Espanha – França 90

Tabela 5.29. – Impacto da incrementação da capacidade até extinção de market splitting, ponta

de Inverno, Espanha – França 90

Tabela 5.30. – Dados para simulação, vazio de Inverno, Espanha – França 93

Tabela 5.31. – Resultados obtidos para 1000MWh, vazio de Inverno, Espanha – França 93

Tabela 5.32. – Impacto da incrementação da capacidade de transmissão, vazio de Inverno,

Espanha – França 94

Tabela 5.33. – Impacto da incrementação da capacidade até extinção de market splitting, vazio

de Inverno, Espanha – França 95

xviii

Acrónimos ou Lista de Abreviações

COMEL Compañia Operadora del Mercado Eléctrico

CPI Consumer Price Index

CE Comissão Europeia

EBIT Earnings Before Interest and Taxes - lucros antes de juros e impostos de renda

EC European Comission

EDF Electricité de France

EDP Energias de Portugal

ENTSO-E European Network of Transmission System Operator for Electricity

ERSE Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos

IESOE Electricity Interconnection in South-Western Europe

MIBEL Mercado Ibérico de Electricidade

OECD Organization for Economic Co-operation and Development

OMIE Operador de Mercado Ibérico de Electricidade

ORT Operador da Rede de Transporte

REE Red Eléctrica de España

REN Rede Eléctrica Nacional

RNT Rede Nacional de Transporte

ROE Return On Equity

RTE Réseau de Transport d’Électricité

SEN Sector Electroprodutor Nacional

tcma taxa de crescimento médio anual

TSO Transmission System Operator

xix

1

Capítulo 1 – Introdução

1.1. Contexto

No passado, empresas verticalmente integradas coordenavam os investimentos em capacidade de

produção (ou geração) e transporte (ou transmissão) de energia. Com a liberalização da indústria

eléctrica foram introduzidas alterações notórias a nível organizacional, bem como novos desafios

dentro do sector. Desmantelaram-se as empresas verticalmente integradas e foi introduzida a

concorrência na produção de energia eléctrica, ao passo que os segmentos do transporte e da

distribuição se mantiveram regulados. O objectivo desta liberalização do mercado é, a longo prazo e

segundo a literatura, aumentar a eficiência e redução de custos do sistema eléctrico. Presentemente,

um Operador da Rede de Transporte (ORT ou TSO, do inglês), regulado, gere a infra-estrutura do

transporte e do mercado de serviços de energia.

A introdução destas alterações no sector resultou no aparecimento dos mercados de energia que,

agora, oferecem ao consumidor a possibilidade de escolher livremente o seu fornecedor.

Num sistema de electricidade, dois elementos essenciais são as capacidades de produção e de

transporte. Os investimentos nessas capacidades são determinantes básicos do desempenho desse

sistema [1]. Embora, no passado, todas as decisões associadas ao mercado fossem centralizadas

em sistemas integrados verticalmente, no actual sistema de mercado liberalizado a coordenação dos

investimentos em capacidade de produção e de transporte é uma tarefa difícil, tornando-se um

problema constante em sistemas como o actual [1].

Um TSO planeia a maioria dos projectos e investimentos em transporte de energia, enquanto as

empresas comerciais privadas escolhem os investimentos em geração numa base mercantil. É,

então, importante para o processo de planeamento reconhecer o papel dos investimentos privados e

assegurar a equidade na distribuição desses mesmos benefícios por todas as partes envolvidas no

processo. Isto inclui prever a capacidade de produção dos mercados, comparando os projectos de

transporte regulados e os privados, e comparando soluções de transmissão e geração para

problemas específicos [1].

Esses aspectos do planeamento e previsão exigem novas ferramentas. Nesse sentido, um TSO tem

a seu cargo o papel de antecipar os incentivos para os investimentos, estimar os impactos de

projectos regulados e privados sobre os preços de energia e, consequentemente, sobre o bem-estar

de todos os participantes nos mercados de energia.

Como o período de planeamento de transmissão é muito superior ao da geração [1], tais modelos são

imprescindíveis para permitir uma coordenação eficiente dos investimentos em projectos pré-

existentes e na previsão de novos projectos ou novas alternativas comerciais. Assim, as estimativas

de preços e de impactos no bem-estar são de extrema utilidade, pois um projecto de transporte de

energia e respectiva alocação de custos deve ser aprovado, se possível, pelas partes interessadas.

2

Desta forma, tendo em consideração a elevada importância da rede de transporte, bem como o

aumento da complexidade do planeamento da sua expansão e as necessidades futuras de

investimento no segmento, impõe-se como uma ferramenta fundamental uma análise económica

sobre um possível projecto. É na sequência de suprir essa necessidade de análise, que surge este

trabalho.

1.2. Objectivos

Esta dissertação tem como objectivo analisar o segmento da transmissão num sector eléctrico

liberalizado, pelo que se pretende revisitar alguns aspectos teóricos pertinentes relativos à

transmissão eléctrica.

Pretende-se também propor um plano, apoiado por um modelo matemático, que analise a distribuição

de impactos relativos a um investimento em transmissão. Este plano, que servirá como uma

ferramenta para a identificação de alguns dos principais efeitos das estratégias de investimento no

sector, identificará claramente a distribuição dos custos e benefícios resultantes, entre os

participantes do mercado, num investimento em transporte de electricidade. Para isso, ter-se-á por

base o modelo proposto por H. Chao e R. Wilson no artigo “Economic Analysis of Distribuitional

Impacts of Transmission Investments” [3].

O foco principal deste estudo é a distribuição de benefícios e custos sobre todas as partes afectadas

por um possível investimento no transporte de electricidade na interligação entre Portugal, Espanha e

França. Assim, recorre-se ao modelo estabelecido a três nós e duas linhas de transmissão. Desta

forma, será possível não só analisar um futuro investimento na interligação Ibérica, mas também na

interligação dos Pirenéus e o respectivo impacto em todas as partes envolvidas. Note-se que, na

verdade, o modelo é apenas descrito como sendo a “duas linhas de transmissão” de forma a tornar

mais simples a compreensão do conceito subjacente; na verdade, a rede é mais complexa do que

isso. De facto, a energia não flui apenas em duas linhas, mas sim através de uma rede que interliga

nós constituintes desse sistema.

1.3. Estado da Arte

O trabalho desenvolvido pretende dar continuidade e complementar o trabalho levado a cabo por R.

Costa na dissertação “Coordenação dos Investimentos no Transporte e Produção de Electricidade”

[2], cujo estudo se baseia na aplicação de um modelo de análise da distribuição de impactos num

investimento em transmissão na interligação Ibérica, a dois nós – Portugal e Espanha.

No seu trabalho, o modelo aplicado por R. Costa teve como base um dos modelos de análise de

impactos económicos apresentados por H. Chao e R. Wilson no artigo preliminar e não publicado

3

“Economic Analysis of Distribuitional Impacts of Transmission Investments” [3]. Para diferentes

objectivos, os modelos estabelecidos em [3] calculam o ponto óptimo de funcionamento do sistema

eléctrico, onde as variáveis de optimização são os preços nodais e a capacidade de transmissão a

instalar. Em [3], os autores propõem diferentes modelos para análise de impactos num investimento

em transmissão, sendo estes modelos classificados em dois grupos. Por um lado, são estabelecidos

os modelos que consideram investimentos privados; por outro, aqueles que consideram

investimentos regulados.

O modelo escolhido por R. Costa para a aplicação à realidade Ibérica, denomina-se Efficient System

Plan e insere-se no segundo grupo, considerando somente os investimentos regulados. Este modelo

foi projectado com o intuito de maximizar o bem-estar social, sendo o ponto óptimo obtido pelo

modelo, aquele que corresponde ao excedente social bruto máximo. O excedente social é bruto, uma

vez que não considera qualquer tipo de distribuição dos custos de investimento [2].

As conclusões do autor de [2] face a esse estudo coincidiram com o esperado teoricamente: o

aumento da capacidade de transmissão tem um impacto positivo nos produtores do nó exportador e

nos consumidores do nó importador. Por outro lado, o autor verificou uma diminuição do excedente

dos consumidores no nó exportador e do excedente dos produtores no nó importador, concluindo

assim, que, como Portugal tem tido um saldo importador positivo, os consumidores portugueses em

conjunto com os produtores espanhóis são quem beneficia de um possível investimento na

interligação [2].

No entanto, o trabalho desenvolvido por R. Costa apenas foca a interligação entre Portugal e

Espanha. Contudo, a interligação Ibérica não apresenta níveis de congestionamento muito elevados,

pelo que se considera de maior pertinência a elaboração deste estudo tendo em conta a interligação

eléctrica nos Pirenéus, entre Espanha e França, por ser considerada um dos bottlenecks da rede

Europeia.

Esta abordagem não é feita no estudo de R. Costa e, é na tentativa de suprir esta necessidade de

resolver as lacunas existentes que, no presente trabalho, será feita uma análise semelhante, mas

contando com a introdução de um terceiro nó, que representa França, e uma nova linha de

transmissão. Desta forma, torna-se possível a análise de um investimento futuro na interligação

Ibérica, mas também na interligação dos Pirenéus e o respectivo impacto no bem-estar de todas as

partes envolvidas nesse processo.

Estas lacunas, que constituem pontos-chave neste estudo, podem ser colmatadas utilizando um

modelo como o proposto por Hung-po Chao e Robert Wilson, em [3]. Neste sentido, este será o

modelo-base da consecução dos objectivos propostos para o estudo que se pretende desenvolver.

4

1.4. Estrutura

Serve o presente trabalho como suporte para uma explicação detalhada das decisões tomadas no

âmbito da dissertação de mestrado “Coordenação dos Investimentos no Transporte e Produção de

Electricidade: Estudo da Interligação Portugal-Espanha-França”. Este documento funciona, também,

como meio de exposição e discussão do trabalho desenvolvido no sentido de cumprir os objectivos

propostos.

Este documento encontra-se dividido em seis capítulos. No primeiro e presente capítulo é feita uma

introdução ao tema do trabalho, são definidos os objectivos e é apresentada a estrutura da

dissertação.

No segundo capítulo é feita a contextualização do tema, segundo um estudo teórico de alguns dos

aspectos mais importantes relativos ao mercado de electricidade. Este capítulo está dividido em

quatro secções. Na primeira secção, é feita uma caracterização do sector electroprodutor nacional no

que respeita à sua organização e evolução da oferta e da procura de energia eléctrica. Nas segunda

e terceira secções é feita a mesma análise, mas com respeito ao sistema eléctrico Espanhol e

Francês, respectivamente. A quarta secção diz respeito à liberalização do sector eléctrico; faz-se uma

revisão da organização do sistema eléctrico, define-se o mercado de energia e revêem-se aspectos

relacionados com a regulação do sector e contratos bilaterais, bem como o planeamento e expansão

da rede de transporte de energia eléctrica, distinguindo o sector tradicional do reestruturado. Aqui, é

também feito um enquadramento do trabalho no Mercado Europeu de Electricidade, com particular

ênfase ao caso Ibérico – e, portanto, ao MIBEL – e ao caso Francês – nomeadamente no que se

refere ao Powernext.

No terceiro capítulo contextualiza-se o tema no âmbito da Economia, subdividindo-se o estudo em

três secções. Na primeira aborda-se a Lei da Utilidade Marginal, na segunda o conceito de

excedente, dando particular destaque ao excedente do consumidor, ao excedente do produtor e ao

económico-social. Na terceira e última secção deste capítulo aborda-se o conceito de elasticidade,

definindo a elasticidade da procura e a elasticidade da oferta.

No capítulo seguinte, aborda-se a coordenação dos investimentos em energia eléctrica. O capítulo

divide-se em duas secções. Na primeira é feita uma introdução à coordenação dos investimentos em

transporte e produção de electricidade, bem como os impactos decorrentes desses investimentos. Na

segunda secção aborda-se o tema do congestionamento em transmissão eléctrica, sendo analisados

os custos de congestionamento no sector eléctrico tradicional e num sector reestruturado. Neste

último caso, são apresentados três métodos diferentes para fazer face aos custos de

congestionamento.

No quinto capítulo é feito um estudo da distribuição de impactos num investimento em transmissão

eléctrica, aplicando um modelo analítico ao caso prático da interligação entre Portugal, Espanha e

França. Este capítulo encontra-se dividido em seis secções. Na primeira estabelecem-se as

5

características básicas do modelo analítico. Na segunda é formulado e detalhado esse modelo, para

posterior aplicação. Na terceira secção é proposta uma solução para adaptar esse modelo de

optimização ao caso prático em estudo. Na secção seguinte apontam-se as limitações encontradas

no modelo a aplicar e, com base nesses limites, adopta-se a metodologia que se descreve na quinta

secção deste capítulo. Na sexta e última secção são apresentados e discutidos os resultados das

simulações do modelo, distinguindo as interligações Portugal – Espanha e Espanha – França,

particularmente no que se refere aos períodos de ponta e vazio de Verão e Inverno.

Finalmente, no sexto e último capítulo, são apresentadas as conclusões decorrentes do estudo

desenvolvido e são feitas algumas sugestões para um trabalho futuro.

6

7

Capítulo 2 – Contexto do Mercado Eléctrico

Nas secções que se seguem, procura-se enquadrar o presente trabalho, revisitando e definindo os

conceitos que se consideram de maior pertinência para este estudo, no âmbito da transmissão

eléctrica numa indústria liberalizada, tendo em vista a melhor compreensão do modelo que se

pretende aplicar.

2.1. Caracterização do Sector Electroprodutor Nacional (SEN)

2.1.1 Overview

Nos últimos 40 anos o sector eléctrico português sofreu uma grande evolução do ponto de vista

estrutural, regulamentar e da propriedade dos activos envolvidos.

Antes de 1970, o sector baseava-se na coexistência de diversas companhias eléctricas, umas

orientadas para a produção de energia, outras para a distribuição, sendo apenas uma dedicada ao

transporte de energia eléctrica. Estas empresas sofreram um processo de nacionalização e, em 1976,

foi constituída a empresa pública Electricidade de Portugal (EDP) que integrou todas as funções das

empresas absorvidas. Desta forma, a EDP passou a ser a empresa que se dedicava à produção,

transporte e distribuição de energia eléctrica no país. Este conceito monopolizador de estrutura

vertical vigorou não só em Portugal, mas também em diversos países do mundo.

Funcionando como um monopólio do Estado, a EDP investiu, explorou e alargou o sector eléctrico. A

década de oitenta correspondeu a uma fase de múltiplos esforços no que respeita ao

desenvolvimento do sector eléctrico, tendo-se realizado operações de electrificação de grandes áreas

de superfície e investido no reforço das estruturas já existentes [54].

No início dos anos noventa, na Europa, manifestou-se um movimento que levou à liberalização do

sector eléctrico. Em Portugal, a liberalização foi estabelecida pelo Decreto-Lei n.º 182/95, a 27 de

Julho de 1995. A nova legislação publicada estruturava o sector eléctrico nacional em termos de um

sistema de serviço público e de um sistema explorado segundo as leis de mercado.

Assim, deu-se o início de uma série de transformações que têm continuado até aos dias de hoje. A

empresa EDP, uma empresa pública monopolista e verticalmente integrada, foi reestruturada e

parcialmente privatizada, promovendo a coexistência de várias empresas em áreas geográficas bem

definidas e a separação entre produção, transporte e distribuição de energia eléctrica [52]. No

entanto, apesar de a EDP começar a enfrentar concorrência na actividade de produção, manteve o

regime monopolista nas actividades de transporte e de distribuição. Como tal, ainda no âmbito do

pacote legislativo de 1995, foi criada a Entidade Reguladora do Sector Eléctrico, actualmente

designada por Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), à qual foram atribuídas as

funções de índole regulamentar, sancionatória e administrativa. O actual modelo de operação

comercial do sistema eléctrico português também deriva do pacote legislativo de 1995.

8

Inserida no processo de liberalização dos sectores eléctricos a nível europeu a ERSE tem vindo a

definir, de forma progressiva desde 1999, os limiares de elegibilidade. O dia 4 de Setembro de 2006

marca o fim do processo iniciado em 1999, permitindo a todos os clientes o acesso ao mercado.

Assim, a partir dessa data, todos as instalações, independentemente do nível de tensão a que estão

ligados às redes, têm condições para eleger o seu fornecedor de electricidade.

Em 2006, foram estabelecidos os princípios de organização e funcionamento do sistema eléctrico

nacional como é conhecido hoje em dia, bem como as regras gerais aplicáveis ao exercício das

actividades de produção, transporte, distribuição e comercialização, tendo por finalidade o incremento

de um mercado livre e concorrencial.

Acompanhando o movimento de reestruturação já realizado ou em preparação nos mais diversos

países da Europa, o SEN encontra-se em fase de progressiva liberalização. Está a atravessar uma

fase transitória em que a regulamentação deverá ser flexível para proporcionar aos agentes que

actuam no sector a possibilidade de se adaptarem de forma progressiva às novas formas de

funcionamento do sistema e à evolução das relações entre eles [55].

Em traços gerais, estas foram as alterações mais notórias no SEN. Resta analisar a procura e a

oferta de energia em Portugal, de forma a melhor compreender estas mudanças.

2.1.2. Procura

A crise económica que se tem sentido até aos dias de hoje contribuiu, não só para uma redução dos

consumos de energia, como também para a redução das pontas de carga (potência), representando

um comportamento atípico face à sua evolução nos últimos anos. Nesse sentido, os montantes de

investimento na RNT apresentam, desde logo e para um período previsional de curto e médio prazo

(2014-2018), uma redução na ordem dos 36%, face a períodos anteriores [4].

A procura de electricidade em Portugal continental cresceu consideravelmente no período 2000-2007

com uma taxa de crescimento médio anual (tcma) de cerca de 2.0%. Entre 2007 e 2009 houve um

decréscimo na procura e, em 2010, houve novamente um crescimento, embora menos considerável.

Em 2011, o consumo total no continente foi de 46.7 TWh, correspondendo a uma quebra de -3% face

a 2010, verificando-se uma inversão no crescimento do consumo que se tinha registado de 2009 para

2010. O peso da electricidade no consumo total de energia final tem vindo a aumentar

significativamente nos últimos anos, sendo que em 2011 representava 1/4 do consumo total de

energia final. Relativamente ao consumo de electricidade per capita em 2011, verificou-se um

consumo de 4.65MWh/habitante, o que representa um aumento de 20% face a 2000 e de 3% em

relação a 2005.Contudo,comparativamente a 2010, verificou-se uma redução de 2% [5].

9

Figura 2.1 – Evolução do consumo de electricidade em Portugal Continental [5]

Este fenómeno de variação súbita na evolução dos consumos dificulta o exercício previsional da

evolução da ponta nacional de consumo e, por maioria de razão, também a determinação das pontas

em cada ponto de entrega [4].

A previsão de consumos associada à evolução dos cenários de rede tem por base o documento [5],

de Abril de 2012, o qual prevê a banda de evolução da procura de electricidade (consumo), a nível

global de Portugal Continental, ilustrada na Figura 2.2.[4].

Figura 2.2 – Evolução prevista da procura de energia eléctrica em Portugal Continental [4]

Entre 2013 e 2023, esta previsão apresenta uma taxa média anual de evolução do consumo

compreendida entre 0.8% e 1.1%, conforme se considere o limite inferior (Cenário Central RMSA

2013-2030) ou superior da banda (Cenário Superior RMSA 2013-2030). Registe-se que esta banda

10

foi desenvolvida no pressuposto de “temperatura média”, com identificação das variáveis relevantes

para a evolução económica em Portugal [4].

2.1.3. Oferta

Em 2011, a produção bruta de electricidade foi de 53.1TWh, dos quais 5% correspondem a saldo

importador, apresentando uma redução de -3% ou 1.8TWh face a 2010. O saldo importador de

electricidade registou uma tcma de +11% no período compreendido entre 2000 e 2011. Este

crescimento, bastante influenciado pela abertura do MIBEL, não foi uniforme, pelo que se verificou

entre 2000 e 2005 uma tcma de 49%, enquanto no período de 2005-2011 essa taxa foi -14%,

influenciado por alguns bons anos em termos de hidraulicidade, como foi o caso do ano de 2010. De

2010 para 2011 o saldo importador registou um aumento de 7%, em resultado de uma redução de

produção hídrica quando comparada com 2010. Em 2011, cerca de 45% da produção bruta de

electricidade teve origem em fontes renováveis, da qual 49% teve origem hídrica, 37% de eólica, 12%

na biomassa (inclui cogeração) e 1% Solar [5].

Figura 2.3 – Evolução da produção bruta de electricidade em Portugal Continental [5]

Ao nível da capacidade instalada para produção de electricidade, existia em 2011 um total de 18.900

MW, tendo-se verificado um aumento de 6% face a 2010. Na última década, o sistema

electroprodutor registou um crescimento considerável, em parte graças à expansão da capacidade

renovável, mais significativa a partir de 2005. A principal componente renovável que contribuiu para

este crescimento foi a hídrica (53%), seguida da eólica (40%), biomassa (6%) e solar fotovoltaico

(2%) num total de 10.230 MW no final de 2011. Face a 2010 – ano de grande hidraulicidade – a

capacidade de produção a partir de fontes de energia renováveis cresceu 9% [5].

11

Figura 2.4 – Mix de produção de electricidade em Portugal Continental, 2011 [5]

A capacidade de recepção da RNT tem-se verificado adequada às necessidades de acesso às redes

por parte dos promotores, em consequência da política de reforço da rede que tem sido levado a

cabo ao longo dos últimos anos, nomeadamente com os desenvolvimentos verificados nas regiões do

interior onde a RNT não era tão desenvolvida [4].

Na sequência de garantir a oferta adequada aos consumos existentes prevêem-se, segundo o PDIRT

2014-2023, alguns investimentos com a principal finalidade de integrar nova produção, com particular

destaque para os novos aproveitamentos hidroeléctricos.

No âmbito do MIBEL tem sido levada a cabo uma estratégia de investimento que engloba, não só o

reforço das interligações com a rede de Espanha, mas também alguns reforços internos, que têm

permitido ao longo dos últimos anos aumentar progressivamente a capacidade de interligação entre

Portugal e Espanha, a qual se encontra hoje em valores superiores a 2000 MW. Este valor de

interligação tem, efectivamente, possibilitado a redução do número de horas de market splitting entre

os dois países e a redução de preços praticados no MIBEL. Neste sentido, segundo o PDIRT 2014-

2023, prevê-se a continuação do reforço da capacidade de interligação com a rede espanhola, com

vista a alcançar, em 2016, a meta de 3000 MW de capacidade comercial, valor que corresponde a um

aumento de cerca de 40% relativamente aos valores médios verificados em 2012 [4].

Na Figura 2.5. é possível observar a potência instalada por sector do Mix energético português.

12

[GWh] [MW]

Total generation 47837 Installed capacity 17792

Renewable 28373 Renewable 10913

Big hydro 12146 Big hydro 5239

Small hydro 1337 Small hydro 413

Wind 11751 Wind 4368

Thermal 1160 Thermal 467

Cogeneration 1532 Cogeneration 343

Solar 446 Solar 282

Non-renewable 18307 Non-renewable 6879

Coal 10953 Coal 1756

Natural gas (CCGT) 1501 Natural gas (CCGT) 3829

Cogeneration (nat. gas) 5407 Cogeneration (nat. gas) 929

Others 446 Others 364

Cogeneration 211 Cogeneration 199

Dados de 2013

Figura 2.5 – Potência instalada por sector do Mix energético, em Portugal [68]

2.2. Caracterização do Sector Electroprodutor Espanhol

2.2.1 Overview

Até ao ano de 1995 o sector eléctrico espanhol encontrava-se organizado por um conjunto de

empresas verticalmente integradas, sendo que cada uma operava numa determinada área

geográfica. Isto significava que, apesar de existirem múltiplas empresas, não existia concorrência e

os clientes encontravam-se física e comercialmente ligados à empresa concessionária da respectiva

região.

Porém, em 1995, foi publicada uma nova legislação, de acordo com a qual o sector eléctrico passou a

ser organizado em termos de um sistema integrado e de um sistema independente. Uma vez que

este modelo foi contestado, em Novembro de 1997, foi aprovada uma nova lei – Ley 54 del Sector

Eléctrico – a qual originou o mercado de electricidade espanhol, iniciado a 1 de Janeiro de 1998.

Esta lei consagra a reestruturação do sector eléctrico espanhol visando, nomeadamente, a redução

da intervenção estatal, a diferenciação entre actividades reguladas e competitivas, a criação de um

mercado eléctrico grossista, a liberdade de escolha do fornecedor por parte dos consumidores, bem

como o acesso livre às redes de transporte e distribuição por parte dos diferentes tipos de

consumidores [52].

Daqui se pode salientar que as reformas introduzidas por esta lei no funcionamento do sistema

eléctrico deste país foram profundas, tal como se observou no caso português. Foi declarada a

liberdade de contratação e estabelecida, como base económica do sector eléctrico espanhol, o

mercado organizado de electricidade, com separação da gestão económica e técnica. Desta forma,

os sistemas integrados e independentes foram abolidos, sendo adoptados procedimentos baseados

puramente numa lógica de mercado para ligar a produção ao consumo [52].

13

Na sequência deste facto, foi criado o operador de mercado – que no caso espanhol se refere à

Compañia Operadora del Mercado Eléctrico Espanhol (COMEL) – para organizar e gerir o pool,

sendo também criado o operador de segurança – que no caso espanhol se refere à Rede Eléctrica de

España (REE) – para explorar a rede de transmissão de energia eléctrica.

Com a criação deste sistema, a produção de energia eléctrica passou a ser gerida por mecanismos

de mercado. As transacções começaram a ser efectuadas por intermédio de um mercado de

electricidade organizado (a pool), com programas baseados em propostas de venda por parte da

produção e propostas de compra por parte do consumo, bem como por contratos bilaterais e

contratos de carácter financeiro realizados entre quaisquer duas partes interessadas [53].

Tal como para o caso português, descreveu-se o sector eléctrico espanhol em traços gerais,

evidenciando as alterações notórias que se fizeram sentir com a sua reestruturação. De forma a

complementar esta descrição e facilitar a compreensão da evolução do sector em Espanha, analisa-

se, de seguida, a procura e oferta de energia naquele país.

2.2.2. Procura

Ao observar os consumos de energia em Espanha, verifica-se um crescimento significativo, desde

1970, tal como comprova a Figura 2.6..

Figura 2.6. – Evolução do consumo de energia em Espanha, em MTpe (Tpe – Tonelada equivalente de petróleo) [58]

Desde meados da década anterior, observa-se que ocorre uma inversão na tendência de consumo de

energia, quando comparada com os dados referentes às três décadas anteriores.

Na figura anterior, é possível observar ainda que o petróleo foi sempre o combustível dominante por

excelência e que, mais recentemente, esta fonte de energia sofreu um revés considerável no

consumo, em mais de 20%. Observa-se, igualmente, que o consumo de gás sofreu uma queda de

14

19% desde 2008 e que o consumo de carvão decresceu em 12%. No que respeita ao consumo de

energia nuclear, verifica-se que não ocorreram alterações significativas entre 2005 e 2008. A REE

justifica este facto com a não existência de novas centrais a entrar em produção [58].

Quanto à energia hidroeléctrica, a par da fonte energética anterior, não se observam alterações

consideráveis nos consumos, ainda que a sua variação seja maior. As pequenas variações

verificadas devem-se, sobretudo, à pluviosidade ocorrida nesse período de tempo, conduzindo,

portanto, a anos hidrológicos mais ou menos constantes.

De forma inversa àquilo que aconteceu com as fontes de energia anteriores, as estatísticas da eólica

e solar parecem seguir o seu crescimento ascendente nos consumos. Este facto é explicado pelas

medidas governamentais de atribuição de subsídios para a criação de novas instalações solares e

eólicas, entre 2009 e 2010, segundo a REE.

Com a evolução do consumo de energia eléctrica, ocorre algo similar, tal como observável na Figura

2.7., onde pouco mais há a notar senão o observável crescimento entre 1998 e 2008, ano em que se

verifica uma quebra no consumo de energia eléctrica. No entanto, em 2009 essa quebra de

consumos inverte-se e aumenta até 2010, ano em que o consumo pareceu estabilizar em torno de

valores próximos dos 270GWh. Note-se que este valor é cerca de cinco vezes superior ao

correspondente português.

Figura 2.7. – Evolução do consumo de electricidade em Espanha, em GWh [56]

2.2.3. Oferta

A produção de energia eléctrica em Espanha fez-se, pela primeira vez, em escala massiva, com as

grandes obras hidráulicas levadas a cabo nas principais bacias desde os anos 1920, como é o caso

15

das obras dos Saltos del Duero – projecto hidroeléctrico na fronteira entre Portugal e Espanha, para

aproveitamento da bacia hidrográfica do rio Douro.

Actualmente, encontram-se em funcionamento seis centrais nucleares em Espanha: Santa María de

Garoña, Almaraz I e II, Ascó I e II, Cofrentes, Vandellós II e Trillo. No ano de 2009, 19% da energia

eléctrica produzida em Espanha proveio de fontes nucleares [58].

Numa perspectiva histórica, observa-se que a maioria da energia eléctrica produzida era obtida com

recurso à queima de combustíveis fósseis (centrais de ciclo combinado, fuel e carvão). Contudo,

desde 2010, as energias renováveis – com principal enfoque para a eólica e solar – correspondem à

principal fonte de geração eléctrica em Espanha ou, pelo menos, verificaram um maior crescimento

nos últimos anos, como é possível observar na Figura 2.8..

Figura 2.8. – Evolução da produção de electricidade em Espanha, em TWh [57]

Na Figura 2.9. é possível observar a potência instalada por sector do Mix energético Espanhol.

Figura 2.9. – Potência instalada por sector do Mix energético, em Espanha [56]

16

2.3. Caracterização do Sector Electroprodutor Francês

2.3.1 Overview

Em França, à semelhança dos países anteriormente descritos, o mercado de energia tem sofrido um

processo de liberalização progressivo, como resultado do plano europeu para o estabelecimento de

um mercado único que ponha fim aos monopólios nacionais. Neste sentido, foram tomadas medidas

legislativas e regulatórias, sendo a principal datada de 9 de Maio de 2011, data em que foi revisto e

actualizado o Código Francês da Energia, em conformidade as alterações de paradigma que

actualmente se experienciam.

Estas alterações legislativas e regulamentares fizeram-se sentir, principalmente, no antigo monopólio

concedido à companhia eléctrica Electricité de France (EDF), no que respeita à produção, transporte

e distribuição de electricidade.

Com as directivas da Comissão Europeia de 1996 e 1998 – que visavam a promoção de um mercado

de energia interno eficiente, aberto à concorrência – o processo de reestruturação e liberalização do

sector desenrolou-se gradualmente, à semelhança daquilo que ocorreu em Portugal e Espanha,

sendo que o ano de 2000 foi considerado o ano de viragem do panorama energético daquele país.

Porém, até ao ano de 2004, apenas indústrias de grande dimensão eram abrangidas pelas medidas

tomadas. A partir desse ano, o mercado concorrencial foi aberto a todos os consumidores

profissionais e, a 1 de Julho de 2007, o mercado passou a estar disponível – segundo as novas

regras – a todos os consumidores, incluindo os particulares e residenciais.

As trocas comerciais de energia são feitas segundo os mesmos princípios a nível europeu, sendo

que, para o efeito, foi criado um mercado de energia, em moldes semelhantes ao caso português e

espanhol [60].

2.3.2. Procura

Analisando a Figura 2.10., verifica-se que o consumo de energia aumentou 18.6% em 31 anos,

conhecendo um pico entre 2006 e 2008, seguido de um recuo de 3.7% nos consumos, em 2009.

Verifica-se, também, uma larga e expectável predominância do petróleo; contudo, depois de uma

progressão quase contínua entre 1986 e 2002, observa-se uma quebra no consumo deste

combustível, tornando-se ainda mais evidente com a crise de 2008: -3.6% em 2009 e -3.1% em 2010.

Em 2011, observa-se um ligeiro crescimento de 1.4% que, em 2012, deu lugar a uma nova quebra de

consumos, desta vez em -2.4%. Numa visão global, verifica-se que, entre 1981 e 2012, ocorreu uma

redução no consumo de petróleo de cerca de 11,2%.

No que respeita ao gás natural e à electricidade, observa-se, nos 31 anos representados na Figura

2.10., uma forte progressão: + 81% para o gás e +105% para a electricidade. No entanto, após o

máximo verificado para o gás em 2005, conheceu-se um recuo (-8.7% em 7 anos), sendo que a

17

electricidade decresceu 3.3% em 2009. Assim, conclui-se que a crise económica quebrou o ímpeto

até então verificado: os consumos de 2012 encontraram-se ao nível daqueles observados em 2008.

Quanto ao carvão, observa-se um declínio ininterrupto (-60% em 31 anos), contrariando o

crescimento de +84% verificado nas energias renováveis.

Em 2012, o consumo de energia distribuiu-se da seguinte forma: carvão 3.5%, petróleo e derivados

42.7%, gás natural 21.0%, electricidade 23.9% e energias renováveis 9% [61].

Figura 2.10. – Evolução do consumo de energia em França, em Mtep – Mega toneladas equivalentes de petróleo [61]

Note-se que o consumo de electricidade em França é, aproximadamente, o dobro do correspondente

espanhol. Assim, verifica-se que este valor é cerca de dez vezes superior ao correspondente

português.

2.3.3. Oferta

Segundo dados de 2012 da RTE France – Rede de Transporte de Electricidade francesa – a

produção de electricidade deste país assenta, na sua maioria, sobre o seu amplamente conhecido

parque nuclear, de onde provêm cerca de três quartos da electricidade gerada em território nacional.

A restante electricidade provém das energias renováveis e de origem fóssil, correspondendo a cerca

de 15% e 10% da produção, respectivamente [60].

18

Figura 2.11. – Mix energético Francês [59]

De acordo com a RTE, em 2012, a produção de energia primária local atingiu 139.1 Mtep, dos quais

118.8 Mtep em forma de electricidade, principalmente a partir da energia nuclear: cerca de 74,8% da

electricidade gerada.

Com efeito, estes dados colocam o país como o segundo maior produtor desta fonte de energia no

mundo, a seguir aos Estados Unidos. Enquanto geradores de energia nuclear com fins de produção

de electricidade, França ocupa o primeiro lugar na lista mundial de produtores. Ainda nesse período

de tempo e de acordo com a rede de transporte de electricidade francesa, a restante produção de

energia eléctrica foi assegurada a partir de fontes renováveis (16,4%) e de origem fóssil (8.8%).

Da parcela referente às energias renováveis, destaca-se a energia hidroeléctrica, cuja contribuição

pesou 11,8% para a produção de electricidade. Em menor medida, destaca-se a energia solar, com

uma parcela de 0.7% e a eólica contribuindo com 2.8%. Nas energias de origem fóssil, a RTE

evidencia as centrais térmicas que perfizeram a totalidade da parcela de 8.8% que contribuiu para a

produção de electricidade daquele país.

Figura 2.12. – Evolução da produção de energia em França, em TWh [59]

19

Como é observável na Figura 2.12., ocorreu um aumento quase contínuo na produção de energia de

origem nuclear, térmica fóssil e hídrica – com principal destaque para a primeira fonte energética –

sendo que, em 2009 se verificou uma quebra de 6.7% nas produções que, tal como verificado

anteriormente, foi acompanhada pelo decréscimo na procura, sendo justificada pela crise económica

que se fez sentir.

Em 2010 voltou a ocorrer um aumento na produção de electricidade, sendo que as energias de

origem renovável – destacando-se a eólica e solar – começaram a ter uma notoriedade que, até

então, não era observada.

Segundo dados da RTE France, em 2013, a produção líquida de electricidade aumentou para

550.9TWh, sendo que as centrais nucleares produziram cerca de 73.3% deste valor, as hídricas

13.8%, as centrais térmicas 8.1%, as eólicas 2.9%, as fotovoltaicas 0.8% e outras fontes de energia

renovável contribuíram com 1.1% para a produção eléctrica deste país.

Na Figura 2.13. é possível observar a potência instalada por sector do Mix energético Francês.

Figura 2.13. – Potência instalada por sector do Mix energético, em França [60]

2.4. A Liberalização do Sector Eléctrico

2.4.1. Organização do Sistema Eléctrico

A indústria de energia eléctrica encontra-se estruturada em produção, transporte, distribuição e

comercialização.

Segundo a literatura, o modelo de organização verticalmente integrada, não incluindo concorrência a

nenhum nível, tem prevalecido; neste modelo, uma única empresa detém o exclusivo da produção e

da entrega aos consumidores finais através das redes de transporte e distribuição. O planeamento e

desenvolvimento do parque produtor estava intrinsecamente relacionado com as mesmas fases da

20

rede de transporte de energia. A coordenação deste processo era feita de forma a garantir que a

totalidade da procura era satisfeita, ao mesmo tempo que o sistema eléctrico funcionava dentro de

limites que garantissem a segurança e fiabilidade do mesmo [6]. As decisões sobre investimentos em

transmissão eram tomadas de forma central, conjuntamente com as decisões associadas aos

investimentos em geração. Baseados nas previsões da procura da energia eléctrica, as empresas

optavam pela construção de novas centrais de determinado tipo ou por contratos de importação de

energia, sendo que os investimentos na rede de transporte eram realizados em concordância com os

investimentos em geração, bem como com as necessidades de importação e a localização das

cargas [9].

Recentemente, desmantelaram-se as empresas verticalmente integradas e iniciou-se a liberalização

do sector. Este processo baseia-se na introdução de concorrência na geração e comercialização de

energia, conferindo aos consumidores a poder de optar livremente pelo seu fornecedor de

electricidade [10]. A concorrência foi introduzida na produção e comercialização de electricidade,

enquanto a transmissão se manteve um monopólio natural regulado [9].

Associada à liberalização e à construção do mercado interno de electricidade está um esperado

aumento da concorrência, com reflexos ao nível dos preços e da melhoria da qualidade de serviço, a

que deverá, na teoria, corresponder uma maior satisfação dos consumidores de energia eléctrica [11].

Em [8] é apresentado um modelo – Figura 2.14. – onde se permite a concorrência entre os

produtores, que oferecem a sua energia numa bolsa (pool) em ambiente concorrencial, podendo

ainda ser autorizados a vender directamente aos distribuidores através de contratos bilaterais. Estes

têm acesso livre à rede de transporte e mantêm o monopólio sobre os consumidores finais. Contudo,

a alguns destes, que consomem acima de determinado patamar – designados por consumidores

elegíveis – pode ser conferida a possibilidade de adquirir a sua energia no mercado ou contratar

directamente com os produtores.

Figura 2.14. – Modelo de concorrência no mercado grossista [8]

21

O modelo acima descrito é hoje encarado como uma transição para o outro modelo no qual todos os

consumidores podem escolher o seu fornecedor, requerendo acesso livre às redes de transporte e de

distribuição – Figura 2.15. O fornecedor pode ser um produtor (para os clientes de maior dimensão)

ou um comercializador – que compra a energia por grosso e a vende a retalho [8]. Desde 2006, todos

os consumidores são considerados elegíveis.

Figura 2.15. – Modelo de concorrência no mercado retalhista [8]

É neste contexto que surge a figura do Operador do Sistema de Transporte (TSO). O TSO é

responsável pela gestão e operação da rede de transporte. Dependendo do grau de separação do

sector, este pode ou não possuir estruturas físicas na rede. Na Europa, todos os TSO possuem

estruturas físicas, caso não verificado, por exemplo nos Estados Unidos da América.

2.4.2. O Mercado de Energia

Segundo [4], idealmente, o aumento da integração europeia de mercados de energia eléctrica tem

como objectivo a promoção da concorrência entre agentes, assim como a exploração das

interligações eléctricas entre países fronteiriços e a integração de montantes mais elevados de

energias renováveis. Teoricamente, estes princípios irão beneficiar o consumidor final, tanto ao nível

do mix energético, como na segurança global de abastecimento.

As transformações organizacionais introduzidas ao sector guiaram à criação dos mercados de

energia eléctrica [6], que servem como plataforma para as transacções de energia eléctrica entre

produtores e consumidores [12]. A sua operação alicerça-se nas curvas agregadas da oferta e da

procura dos produtores e consumidores participantes nesse processo. A classificação das ofertas de

venda de energia é feita segundo duas vertentes: ou são consideradas complexas ou simples. As

primeiras correspondem àquelas sujeitas a condições impostas pelos produtores, sendo estas

22

condições de natureza física ou económica. No acto da proposta de compra ou venda de energia,

cada participante no mercado identifica o dia, a hora, o preço e a respectiva quantidade. Todas as

ofertas efectuadas são reunidas, de forma a obter a curva agregada da procura, para determinada

região e data. A curva agregada da oferta é construída com base nas ofertas de energia realizadas

pelos produtores e, similarmente, à dos consumidores [12].

A reestruturação da indústria eléctrica permitiu que os produtores possam estabelecer livremente os

preços das suas ofertas de venda. Assim, as curvas dos custos de produção – próprias do modelo

regulado – são substituídas pelas curvas das ofertas. Se o mercado for competitivo, apesar dos

produtores poderem escolher o preço das suas ofertas de energia, a curva agregada da oferta no

modelo desregulado deve aproximar-se da curva agregada dos custos de produção [2].

A intersecção das curvas agregadas da oferta e da procura permite obter o preço de referência do

mercado para uma determinada hora. Este procedimento encontra-se representado na Figura 2.16..

O preço de referência do mercado deve, então, reflectir a solução referente ao menor custo de

produção e que satisfaz a procura [12]. Este preço é aplicado a todas as unidades de energia

seleccionadas para venda, inclusive as que foram oferecidas a um preço inferior ao estabelecido. Por

exemplo, para os geradores que ofereceram energia a preço zero, todas as suas unidades de energia

vão ser vendidas ao preço de mercado, recebendo estes um valor superior ao preço presente na sua

oferta [10].

Figura 2.16. – Cálculo do preço diário de energia [12]

Este procedimento repete-se, já vez que a energia é negociada para cada uma das 24 horas de cada

dia do ano e é transaccionada no dia seguinte à negociação. O bom funcionamento da bolsa de

energia está a cargo de um agente independente, o operador de mercado. O operador de mercado

tem a responsabilidade de recolher as ofertas de produção e consumo de energia, estabelecer as

curvas agregadas da procura e da oferta, bem como o preço de referência do mercado [10].

Outro método aplicado ao mercado desregulado baseia-se na não obrigatoriedade da bolsa de

energia. Este método confere liberdade aos intervenientes do mercado para estabelecerem, entre si,

contratos bilaterais de transacção de energia não submetidos à regulação [10].

23

2.4.3. Regulação

A abertura do mercado da produção eléctrica constitui outra alteração introduzida ao sector, com a

reestruturação. No entanto, os segmentos do transporte e distribuição eléctrica mantêm-se um

monopólio, sendo que a sua existência – quer seja um monopólio público ou privado – determina a

necessidade de uma acção reguladora, que deve ser exercida pelo estado ou delegada numa

entidade independente [10].

Nesse sentido, as actividades de transporte, distribuição, comercialização de electricidade de último

recurso e de operação logística de mudança de comercializador estão sujeitas a regulação, exercida

pelo regulador energético. No caso português, trata-se da Entidade Reguladora dos Serviços

Energéticos – ERSE. Por outro lado, a segurança no abastecimento é garantida pelo Estado, através

da DGEG, a quem compete a monitorização da segurança no abastecimento [8].

O transporte de energia eléctrica é algo complexo, dificultando a regulação de uma empresa deste

sector. A acrescer a estas dificuldades, o aspecto da flutuabilidade da procura torna a ocupação da

capacidade de transmissão num problema. O maior desafio inerente a esta regulação prende-se com

a optimização do investimento, que deve incentivar uma expansão eficiente da rede, minimizando os

custos de investimento [2].

A regulação de uma empresa de transporte de energia eléctrica deve ponderar objectivos como a

garantia da viabilidade financeira da empresa regulada, a estimulação da prestação justa e adequada

do serviço, bem como incitar a minimização de custos de operação ou motivar a expansão eficiente

da rede. Este último aspecto é principalmente relevante, pois a expansão óptima da rede constitui um

factor crítico para o bom funcionamento do modelo liberalizado do sector [1], [2].

Neste sentido, a regulação económica do sector será tanto mais perfeita quanto melhor for capaz de

criar mecanismos que incentivem as empresas monopolistas a comportar-se como as empresas que

actuam no mercado concorrencial, estimulando a eficiência e a inovação e permitindo-lhes

apropriarem-se, ainda que temporariamente, dos ganhos conseguidos [8].

2.4.4. Contratos Bilaterais

Este modelo de transacção de energia permite que as empresas dos diversos segmentos do sector

energético – produtores, distribuidores, consumidores e comercializadores – negoceiem de forma

directa e livre os preços e condições dos contratos de aquisição de energia. As condições negociadas

– volumes de energia e respectiva data e local da entrega ao comprador – devem considerar os

limites técnicos da rede eléctrica, assim como a sua segurança. Em particular, os contratos devem

ser comunicados à entidade responsável pela rede de transporte, de forma a garantir que a

segurança da rede não é posta em causa [13].

Os contratos bilaterais têm a vantagem de permitir uma maior segurança face à estabilidade dos

preços, já que possibilita a manutenção do mesmo preço de energia durante longos períodos de

24

tempo (seis meses ou mais), evitando a exposição à volatilidade dos preços de mercado. Contudo,

apresenta algumas desvantagens, como é o caso da possibilidade de não contribuir para um

despacho optimizado [13].

Tal como referido, em termos práticos, a comercialização é normalmente efectuada de dois modos

distintos, seja com recurso aos mercados organizados em bolsa (a pool) ou directamente através

destes contratos bilaterais. Enquanto no primeiro caso, os participantes actuam num leilão,

submetendo ao operador de mercado licitações de venda e de compra de energia para determinado

período, nos contratos bilaterais, os diferentes agentes negoceiam directamente os preços, volumes

de energia e duração dos contratos, não sendo necessário recorrer à bolsa para contratar

electricidade.

2.4.5. Planeamento e Expansão da Rede de Transporte

Num mercado liberalizado, a rede de transporte desempenha um papel fundamental. A transmissão é

indispensável para que a procura de energia eléctrica seja satisfeita pela oferta, garantindo a

segurança e a fiabilidade de todo o sistema [2]. Com a liberalização do sector, a transmissão é

também responsável pelo bom funcionamento do mercado. Uma capacidade de transmissão eficiente

garante o livre e justo acesso de todos os intervenientes à energia de baixo custo, mitiga o poder de

mercado por parte dos geradores e aumenta a concorrência a nível da produção eléctrica [2], [7].

Mais recentemente, a rede de transporte tem que garantir a integração da produção descentralizada,

principalmente eólica, que altera fortemente os perfis de produção de electricidade [2], [6].

O planeamento e expansão da rede de transmissão numa indústria eléctrica reestruturada torna-se

num processo complexo, principalmente devido aos investimentos em geração de electricidade serem

feitos por empresas privadas, com base em sinais de mercado. Além disso, a conclusão de uma nova

linha de transmissão demora, regra geral, significativamente mais tempo do que um investimento em

produção [1], [2].

2.4.5.1. Sector Eléctrico Tradicional

Considerando o sector eléctrico verticalmente integrado – dito tradicional – o planeamento da rede

encontra-se centralizado na empresa gestora de todo o sector. Assim, os investimentos em transporte

de electricidade têm por base a necessidade de garantir a segurança e fiabilidade do sistema, bem

como satisfazer o crescimento da procura. Por seu turno, o planeamento do sistema eléctrico baseia-

se na redução de custos [17].

Segundo [17], no sector tradicional, os investimentos em transmissão são de menor valor quando

comparados com a instalação de nova capacidade de produção. Assim, geralmente, o processo de

expansão da rede é feito numa forma sequencial, isto é, a instalação de nova capacidade de

transmissão segue os investimentos em geração. Por outras palavras, os autores do artigo declaram

25

que, primeiramente, é construída a capacidade de geração – resultante no custo de produção mais

baixo – e, só depois, é construída uma linha ou aumentada a capacidade de uma já existente; desta

forma, procura-se potenciar ao máximo a nova capacidade de produção.

Com recurso a estudos económicos pode concluir-se que, nalguns casos concretos, um investimento

em transmissão é suficiente para satisfazer o crescimento da procura, não havendo a necessidade de

instalar nova capacidade de produção. Noutros casos, os investimentos em transmissão são

justificados exclusivamente pela garantia de segurança do sistema. Face ao exposto, é possível

inferir que o planeamento e expansão da rede de transporte – bem como do sistema eléctrico em

geral – consiste num problema de minimização de custos, cujas restrições são a segurança e

fiabilidade do sistema [17].

2.4.5.2. Sector Eléctrico Reestruturado

Com a reestruturação do sector eléctrico e o aumento da incerteza no planeamento da rede de

transporte, novos objectivos foram traçados. Assim, com a expansão da rede de transporte, pretende-

se permitir a competitividade no sector, bem como a livre entrada de todos os participantes no

mercado; além disso, procura-se manter, em todos os instantes, a estabilidade do sistema [18], [19].

Em [19], Buygi conclui que este processo tem como principal função a satisfação das expectativas de

todos os intervenientes no mercado. Em adição, o autor reúne os objectivos esperados pelas partes

interessadas face a um novo projecto na rede de transporte de electricidade:

1. Incentivo e facilitação da concorrência no mercado eléctrico;

2. Acesso indiscriminado a energia de baixo custo;

3. Minimização dos riscos de investimento;

4. Minimização dos custos do investimento e operação;

5. Aumento da fiabilidade da rede;

6. Aumento da flexibilidade do operador do sistema;

7. Redução dos custos da rede;

8. Diminuição dos impactos ambientais;

9. Aumento do valor global do sistema.

No mesmo trabalho, Buygi afirma que o aumento da incerteza é outro factor que diferencia o

planeamento numa indústria regulada face à desregulada. Assim, o autor identifica essas fontes de

incerteza associadas à indústria desregulada:

1. Cargas;

2. Custos de produção e, consequentemente, as ofertas dos produtores;

3. Potência e ofertas de produtores independentes;

4. Transacções de energia com outras áreas e países;

5. Colapso ou encerramento de geradores ou linhas;

6. Expansão ou recuo de produção;

26

7. Expansão ou recuo do consumo;

8. Instalação, encerramento ou reparação de instalações da rede;

9. Custos de expansão de transmissão;

10. Regras de mercado.

Face ao exposto, considerando esta mudança de paradigma e tendo em conta estes novos desafios

presentes no planeamento da rede, impôs-se o necessário desenvolvimento de novos métodos e

critérios.

Nesse sentido, em [22] propõe-se um método de planeamento da rede baseado em padrões de

trânsito de energia distintos. Por outro lado, em [23], desenvolve-se um plano de expansão da rede,

combinando um trânsito de energia probabilístico óptimo e uma tomada de decisão incerta.

Choi, et.al, em [24], apresenta um plano a médio prazo, com recurso a programação linear.

Recorrendo também a programação linear – embora numa formulação mista – os autores de [25]

desenvolvem um plano a longo praxo, para um mercado de electricidade. Em [20] propõe-se um

algoritmo genético para a expansão de um sistema de transmissão. Por outro lado, em [26] e [27]

apresentam-se modelos de expansão baseados na segurança e fiabilidade do sistema.

Sauma e Oren, em [28], expõem um estudo que envolve os critérios económicos a considerar no

planeamento da rede. Por seu turno, em [29], F. Wu explica um modelo que tem em conta

investimentos privados em transmissão e que emite sinais de mercado aos produtores.

Em [30] analisa-se um caso prático aplicado à realidade do TSO italiano, estudando um plano de

desenvolvimento da rede realizado por um TSO proactivo. Em [21] consideram-se diferentes planos

de expansão da capacidade de produção, sendo seleccionado aquele que produz melhores

resultados para os produtores. Posteriormente – e para o mesmo plano de expansão da geração –

são estudados diversos planos de expansão da rede, seleccionando aquele que melhor mitiga o

poder de mercado. Já em [31], F.Wu analisa a evolução dos investimentos em transmissão num

ponto de vista económico e de engenharia. Buygi, em [19], apresenta um método probabilístico que

calcula a função densidade de probabilidade dos preços nodais e, no mesmo trabalho, apresenta

diferentes modelos comerciais. Em [32] é apresentado um modelo analítico de multicamadas e, em

[18], os diferentes métodos de expansão são classificados, sendo feita uma sumarização dos

métodos não determinísticos.

No entanto, e apesar de existirem todos estes métodos de expansão do sistema, é necessária uma

análise económica – além do estudo técnico – sendo imperativo que esta permita estudar os

diferentes impactos de um novo projecto em transmissão, considerando todos os pontos de vista e

obtendo informação relevante acerca dos benefícios recolhidos por todos os participantes no

processo [17].

É neste sentido que se apresentará, mais adiante neste trabalho, uma breve introdução aos conceitos

económicos mais relevantes para o estudo que se pretende efectuar.

27

2.4.6. Sector Tradicional versus Sector Reestruturado

Nesta secção analisa-se, de forma comparativa, as principais alterações observadas entre o sector

eléctrico tradicional e o sector reestruturado. Para tal, apresenta-se a Tabela 2.1., que sintetiza as

mudanças consideradas notórias e descritas ao longo deste documento.

Tabela 2.1. – Alterações trazidas ao sector eléctrico, com a reestruturação

Passado Presente/Futuro

Regime de monopólio Mercados competitivos

Empresas verticalmente integradas Desagregação do sector eléctrico

Custos de geração na base de planeamento e

operação do sistema eléctrico

Indicadores do preço de electricidade na base de

planeamento e operação do sistema eléctrico

Preço da electricidade permitia recuperação de

custos de investimento e exploração Preço da electricidade ditado pelo mercado

Tarifação baseada em custos médios Tarifação em tempo real

Procura inelástica Procura elástica

Minimização de custos Maximização de lucros

Solução matemática única

(problema de optimização)

Grande número de estratégias de operação

(problema de decisão)

2.4.7. Enquadramento no Mercado Europeu de Electricidade

A Directiva Europeia 96/92/CE constituiu um grande marco para o sector da energia, tornando real o

processo de liberalização que reestruturou a indústria Europeia de electricidade [9]. Introduziu-se a

concorrência na produção, conferindo aos consumidores o direito de escolha de fornecedores. A nova

capacidade de geração passou a ser atribuída mediante autorização ou adjudicada por concurso.

Definiram-se as condições de acesso de terceiros às redes, sendo resolvida a questão do

reconhecimento dos custos pelos direitos do uso das infra-estruturas de transporte. Ocorreu uma

separação de segmentos, tornando o segmento da transmissão independente da produção e

comercialização, ao nível da gestão [14].

Em 1998 uma segunda directiva (2003/54/CE) surge, visando uma actualização das regras

estabelecidas pela directiva anterior. A nova capacidade de transmissão é construída mediante

autorização ou, em casos de falta de garantia de abastecimento, através de concurso. Os segmentos

do transporte e distribuição sofrem alterações tais, que lhes conferem independência quer a nível

jurídico, quer a nível organizacional e de tomada de decisão. Com esta directiva, a aplicação de

tarifas ao acesso à rede visou a não descriminação de clientes e, nos casos de insuficiência de

capacidade de transmissão, o operador terá a possibilidade de negar o acesso à rede [14].

Tal como referido, a abertura do mercado e o consequente crescimento nas trocas de energia, assim

como o aumento da produção descentralizada, conduziu a um crescente congestionamento na rede

28

Europeia [6]. As autoridades Europeias reconhecem que o uso eficiente das infra-estruturas

existentes, assim como a expansão da rede de transmissão transeuropeia são indispensáveis ao bom

funcionamento do Mercado Interno Europeu de Electricidade. Apesar de as redes nacionais

europeias serem robustas, estas necessitam de estar bem interconectadas, pois só assim se

consegue desenvolver uma rede suficientemente sólida e flexível, constituindo a base do Mercado

Interno Europeu. Assim, a débil interligação das redes Europeias é um problema reconhecido desde o

início do processo de liberalização do sector. Este aspecto tem especial destaque na Directiva

(2003/54/CE) de Julho de 2004. Em 2003, a Trans-European Energy Networks, com base na

frequência e gravidade do congestionamento e da capacidade de transmissão inter-países, elaborou

uma lista dos principais bottlenecks Europeus. Com base nos dados presentes nessa publicação,

conclui-se que países com pouca capacidade de interligação não são necessariamente os países que

sofrem maior congestionamento e que os países com maior capacidade de interligação não são,

necessariamente, aqueles que apresentam valores de congestionamento mais baixos [9].

Segundo a literatura, recentemente, a Comissão Europeia, através de um inquérito aos sectores

Europeus do gás e electricidade, afiança que a maioria das fronteiras apresenta grau de

congestionamento significativo. O mesmo estudo permitiu identificar níveis elevados de

congestionamento em algumas redes nacionais [2].

2.4.7.1 O Caso Ibérico: MIBEL

No final dos anos 90, a geografia Europeia, aliada à grande variedade de soluções e aos distintos

graus de liberalização já existentes dentro dos estados membros, faziam prever que a implementação

do Mercado Único de Energia Europeu não fosse simples. Partindo deste princípio, a Comissão

Europeia decidiu desenvolver o Mercado Interno Europeu baseado nos mercados regionais já em

desenvolvimento. Neste sentido, em 2000, o Governo português propôs ao Governo espanhol a

criação de um novo mercado regional de electricidade, o MIBEL [14].

O Mercado Ibérico de Electricidade permite a qualquer consumidor adquirir energia, num regime de

concorrência, a qualquer produtor ou comercializador Português ou Espanhol, tendo como principais

objectivos [14]:

- Beneficiar os consumidores de electricidade dos dois países;

- Estruturar o funcionamento do mercado liberalizado;

- Construir um preço de referência único para Portugal e Espanha;

- Possibilitar o livre acesso ao mercado, em condições de igualdade, transparência e

objectividade;

- Favorecer a eficiência económica das empresas do sector eléctrico;

- Promover a livre concorrência entre as mesmas.

O MIBEL entrou em funcionamento em Julho de 2006, tendo como operador de mercado o OMI. Este

operador dispõe de dois pólos: um em Espanha e um em Portugal, sendo o primeiro responsável pelo

mercado diário (OMEL) – isto é, o chamado spot market ou Mercado à Vista – e o segundo dirigido

29

para o mercado a prazo (OMIP) [14]. Na Figura 2.17. é possível observar a estrutura organizacional

do Operador de Mercado Ibérico.

Figura 2.17. – Organização do Operador de Mercado Ibérico (OMI) [14]

2.4.7.2. O Caso Francês: Powernext

Tal como no caso Ibérico – e a já descrita constituição do MIBEL – a história do caso Francês e a

criação do Powernext, prende-se com os distintos graus de liberalização existentes dentro dos

estados membros da União Europeia e a consequente implementação do Mercado Único de Energia

Europeu. Neste sentido, a Comissão Europeia desenvolveu o Mercado Interno Europeu baseado nos

mercados regionais já em desenvolvimento e, em Julho de 2001 foi criado o mercado francês

homónimo do MIBEL: o Powernext.

Assim como no MIBEL, este também permite a qualquer consumidor adquirir energia, num regime de

concorrência, tendo objectivos em tudo semelhantes ao do mercado ibérico.

O Powernext é uma empresa de investimentos regulada, sedeada em Paris e cujo capital é detido por

doze TSOs de electricidade e gás natural e concessionárias energéticas europeias, como a RTE, a

EDF ou a Total.

Esta empresa é ainda detentora de metade do capital do EPEX Spot – mercado de energia

equivalente ao OMEL, com sede em França – sendo a EEX Alemã detentora do restante capital. Este

pólo do Powernext negoceia energia nos mercados Francês, Alemão, Austríaco e Suíço e iniciou a

30

sua actividade a 1 de Janeiro de 2009, constituindo, assim, o chamado Mercado à Vista ou spot

market daqueles países.

Já em Abril de 2009, foi constituída a empresa EEX Power Derivatives, dedicada exclusivamente ao

Mercado de Derivados – ou seja, o mercado a prazo – sendo o equivalente francês do OMIP e

estando sedeado na Alemanha [62], [63]. A Powernext detém 20% do capital desta empresa, sendo o

restante capital detido pela EEX Alemã.

Na Figura 2.18. encontra-se um diagrama da estrutura do Powernext na operação do mercado de

electricidade.

Figura 2.18. – Organização do Powernext como mercado de electricidade [62]

31

Capítulo 3 – Contexto Económico

Para que a expansão da rede de transporte de electricidade seja óptima, é importante uma análise

económica profunda que vise os impactos que um projecto em transporte de electricidad tem em

todas as partes envolvidas. Com recurso a alguns conceitos económicos, estes impactos podem ser

medidos, nomeadamente se forem analisados os excedentes dos produtores e consumidores, bem

como o excedente económico-social. Estas noções são de extrema importância, constituindo os

alicerces para análises sustentadas de custo-benefício, e que são decisivos na tomada de decisão

em investimentos em transmissão eléctrica.

É neste sentido que, no presente capítulo, serão revistos estes conceitos, de tal forma que seja

possível facilitar a compreensão do trabalho desenvolvido.

3.1. Lei da Utilidade Marginal Decrescente

À medida que o consumo de determinado bem aumenta, a respectiva utilidade marginal diminui. Por

outras palavras, para o consumidor, as primeiras unidades adquiridas de determinado bem possuem

um valor mais elevado que as restantes. A utilidade total aumenta com o consumo. Não obstante, a

utilidade marginal – utilidade da unidade seguinte adquirida – diminui [33]. De uma forma mais

sintética, pode dizer-se que a utilidade de cada unidade de determinado bem decresce com o

aumento da oferta desse mesmo bem.

Esta lei constitui a base dos conceitos que se apresentam de seguida [33]

3.2. Excedente

O conceito de excedente, ou superavit, está intrinsecamente ligado ao conceito de utilidade de

determinado bem ou serviço e o seu respectivo valor. Este conceito é indissociável dos conceitos de

consumidor e produtor. Neste sentido, é possível distinguir três tipos de excedente em economia: o

excedente do consumidor, o excedente do produtor e o excedente económico-social. No entanto, ao

elaborar uma análise de investimentos em transmissão de energia eléctrica, o excedente económico-

social não está confinado unicamente ao excedente do produtor e do consumidor; com efeito, uma

terceira parcela deverá ser incluída: as rendas de transmissão. Estas constituem a fonte de receitas

dos detentores das linhas [33]. As rendas de transmissão consistem no custo do transporte de

energia, correspondendo à diferença entre o valor pago pelos consumidores e aquele recebido pelos

produtores [35]. Este assunto, tal como o custo de congestionamento, será estudado em maior

detalhe mais à frente neste trabalho.

32

3.2.1. Excedente do Consumidor

O conceito de excedente do consumidor é definido como sendo a diferença entre a utilidade total de

um bem e o respectivo valor de mercado, podendo ser analisado segundo duas perspectivas: o

excedente do consumidor de um indivíduo isolado ou de um mercado.

Na perspectiva de um indivíduo isolado, o excedente do consumidor resulta da lei da utilidade

marginal decrescente; isto é, à medida que o consumo de um bem aumenta, tende a diminuir a sua

utilidade marginal. Assim sendo, a utilidade do consumidor é superior ao valor de mercado, sendo

definida pelo integral da curva da procura desse indivíduo, limitado pela recta do preço de mercado.

Já no que diz respeito ao excedente do consumidor de um mercado, a sua definição assemelha-se à

anterior mas considerando a curva de procura agregada de um mercado, ao invés da curva da

procura de um único consumidor. A curva da procura agregada corresponde àquela que quantifica

aquilo que os consumidores estão disponíveis a pagar por cada unidade consumida desse bem.

Assim sendo, a área abaixo dessa curva – representativa da utilidade desse mesmo bem – subtraída

do valor de mercado, corresponde ao excedente dos consumidores. Teoricamente, um investimento

apenas deve ser efectivado, no caso em que o excedente total do consumidor supere os seus custos

[33].

3.2.2. Excedente do Produtor

O conceito de excedente do produtor define-se pela diferença entre as receitas dos produtores e os

seus custos totais. Neste caso, ocorrem também duas perspectivas – excedente individual ou de um

mercado – e são definidos analogamente ao excedente do consumidor [33]. Na Figura 3.1.

encontram-se representados os excedentes do consumidor e do produtor.

Figura 3.1. – Excedente do produtor e excedente do consumidor [33]

33

3.2.3. Excedente Económico-Social

Este conceito é definido pela soma dos excedentes dos produtores e dos consumidores,

representando a utilidade total – gerada por determinada economia – que excede os seus custos de

produção totais. Uma economia é tão mais eficiente quanto maior for o excedente económico, gerado

a partir dos recursos disponíveis [33].

3.3. Elasticidade

As leis da procura e da oferta indicam a direcção das variações do preço e da quantidade em

resposta às várias alterações de mercado. Contudo, de um modo geral, não é muito elucidativo saber

apenas que o preço e a quantidade aumentam ou diminuem, para se conhecer o mercado. O

conhecimento da grandeza relativa de cada uma das variações constitui também um ponto

importante da análise microeconómica.

É essencial medir e descrever a magnitude relativa das variações das quantidades de um produto

face às alterações dos preços e de outras variáveis explicativas. A medida desta magnitude é

explicada pelo conceito de elasticidade [51].

3.3.1. Elasticidade Preço da Procura

Em economia, o conceito de procura – ou demanda – corresponde à quantidade de

um bem ou serviço que os consumidores desejam adquirir, por determinado preço, num

dado mercado, durante uma unidade de tempo. À quantidade desse bem ou serviço que os

consumidores desejam e podem comprar, atribui-se o nome de quantidade procurada ou demandada.

A quantidade demandada depende de variáveis que influenciam a escolha do consumidor pela

compra, ou não, de um bem ou serviço: o seu preço, o preço dos outros

bens substitutos ou complementares e o gosto ou preferência do indivíduo.

A procura constitui a principal influência da oferta, ou seja, é a procura que determina o movimento

da oferta. Assim sendo, para as empresas, além de identificar os desejos e as necessidades dos

seus consumidores, é de extrema importância identificar a demanda para um determinado produto

ou serviço, uma vez que é esta que ditará o quanto se comprará da oferta que a empresa

disponibiliza no mercado. De uma forma mais simplista, será o mesmo que saber quem e quantos

são os consumidores que irão adquirir o produto ou serviço.

Imagine-se que, num dado contexto, a oferta de determinado produto diminui; ou seja, a curva de

oferta deste produto move-se para a esquerda. Fazendo uso das leis da procura e da oferta, sabe-se

que o preço de equilíbrio aumentará e a quantidade de equilíbrio baixará. À grandeza relativa de cada

uma destas variações dá-se o nome de elasticidade da procura.

34

De forma menos rigorosa, diz-se que a curva de procura é elástica quando a quantidade procurada é

muito sensível às variações do preço. Contrariamente, quando a quantidade procurada pouco reage

às variações do preço, diz-se que a curva de procura é inelástica.

Uma análise mais sólida das variações relativas do preço e da quantidade procurada requer o

conhecimento da medida da elasticidade preço da procura.

A elasticidade preço da procura (ou simplesmente elasticidade da procura) é a medida da

sensibilidade da quantidade procurada de um produto face à sua variação do preço. A elasticidade

preço da procura é representada simbolicamente pela letra grega 𝜂. Matematicamente, define-se do

seguinte modo [51]:

(1)

A inclinação da curva de procura é negativa e, por isso, a elasticidade preço da procura assume um

valor negativo. Contudo, para facilitar a interpretação do valor numérico, é usual ignorar-se o sinal

negativo e admitir-se que a grandeza desta elasticidade é positiva.

Deste modo, quanto maior é a sensibilidade da quantidade procurada em relação às variações do

preço, maior é a medida da elasticidade preço da procura.

O valor numérico da elasticidade preço da procura pode variar de zero a infinito. A elasticidade é igual

a zero quando a quantidade procurada não reage à variação do preço. Diz-se, então, que a procura é

perfeitamente inelástica. A elasticidade é menor que a unidade quando a variação percentual da

quantidade procurada é menor que a variação percentual do preço. A procura é assim inelástica. A

elasticidade é unitária (igual a 1) quando as duas variações percentuais são iguais. A elasticidade é

maior que a unidade quando a variação percentual da quantidade procurada é maior que a variação

percentual do preço. É o caso da procura elástica. A elasticidade é igual a infinito quando os

compradores se dispõem a comprar qualquer quantidade do bem em causa a um dado preço e se

dispõem a comprar nada a um preço maior. A procura é, deste modo, perfeitamente ou infinitamente

elástica [51].

3.3.2. Elasticidade Preço da Oferta

Num sentido amplo, o conceito de oferta indica o que é disponibilizado ao mercado, independente da

sua natureza. Define-se, também, como a quantidade de bens que os vendedores estão dispostos a

comercializar em diversos níveis de preço. De acordo com esta lei, sempre que o preço aumenta, a

quantidade ofertada aumenta; por outro lado, sempre que o preço diminui, a quantidade ofertada

também diminui. Como parâmetro para o estabelecimento dos preços dos produtos pelo mercado, a

oferta possui um peso inversamente proporcional – isto é, quanto maior a oferta, menor o preço. A

oferta é influenciada directamente pela demanda do produto [51].

35

O conceito de elasticidade pode também ser aplicado à oferta. Com a devida precaução e mudando

os nomes das variáveis, a generalidade das definições e fórmulas utilizadas para a elasticidade da

procura podem ser aplicadas ao caso da oferta.

A elasticidade preço da oferta (ou simplesmente elasticidade da oferta) mede a sensibilidade da

quantidade oferecida de um produto face à variação do seu preço. É denotada por 𝜀𝑆 e é

matematicamente definida da seguinte forma:

(2)

A inclinação da curva de oferta de um produto é positiva, ou seja, o aumento (a diminuição) do preço

causa o aumento (a diminuição) da quantidade oferecida. O preço e a quantidade variam na mesma

direcção. Por esta razão, o valor da elasticidade da oferta é positivo. Contudo existem dois casos

especiais. Se a curva de oferta é vertical, o valor da elasticidade da oferta é zero; e se a curva de

oferta é horizontal, o valor da elasticidade da oferta é infinito. Entre estes dois extremos, o valor da

elasticidade varia e depende da configuração da curva de oferta [51].

36

37

Capítulo 4 – Coordenação de Investimentos

4.1. Coordenação dos Investimentos no Transporte e Produção de Electricidade

Um investimento em nova capacidade de transporte pode ser encarado como substituto à capacidade

de produção de electricidade. Contudo, um novo projecto de transporte não pode ser considerado

apenas como substituto ou complemento à produção, mas sim um misto das duas características [1].

As consequências de um investimento em transmissão eléctrica são diferentes, dependendo do ponto

de vista adoptado, nomeadamente naquilo que respeita ao preço da energia fornecida em cada nó da

linha de transmissão – preço nodal. Tanto um produtor como um consumidor num nó importador

vêem um novo projecto em transmissão como substituto à produção. Contrariamente ao consumidor,

que beneficia do preço mais baixo da electricidade – que a nova capacidade de transmissão permite

– o produtor sofre uma diminuição das receitas. No nó exportador, a nova capacidade de transmissão

é encarada como suplemento, uma vez que permite ao produtor exportar uma quantidade de energia

maior, aumentando as suas receitas. Se, em produção eléctrica, não se assumirem economias de

escala, o aumento da quantidade exportada pelo produtor, tem como consequência o aumento dos

custos de produção. Estes últimos, irão reflectir-se num aumento do preço da energia, que conduzirá

ao decréscimo do excedente dos consumidores do nó exportador [1].

Segundo H.Chao e R. Wilson, em [1], para fazer face ao aumento da procura – ou ao fecho de um

centro produtor num nó da rede – existem duas soluções distintas. A primeira passa pelo incremento

da capacidade de transmissão, que possibilita a importação de energia mais barata, proveniente de

um nó cujo preço marginal é mais baixo. A segunda passa por uma empresa privada avançar com a

construção de nova capacidade de geração no nó em causa, substituindo assim a necessidade de

investimento em transmissão.

Na sequência desta dualidade de soluções, é imperativa uma coordenação coerente entre

investimentos em produção e transmissão de electricidade, não só devido à característica de

complemento e substituição dos mesmos, como também devido à forte interligação entre os dois

segmentos desta indústria. Se por um lado, o congestionamento da rede pode influenciar os

processos de operação e planeamento dos produtores – afectando a localização e capacidade de

novas centrais – por outro, a expansão do parque produtor pode aumentar os níveis de

congestionamento da rede, comprometendo a eficiência dos reforços da mesma [15].

A liberalização do mercado eléctrico teve como consequência a descentralização da tomada de

decisões respeitantes à coordenação de investimentos em transporte e produção de electricidade. Os

investimentos em nova capacidade de produção são realizados por empresas privadas cujo objectivo

é, inevitavelmente, a maximização dos seus lucros. Na rede de transporte, é o TSO que tem a

responsabilidade dos investimentos em nova capacidade. O objectivo deste operador de mercado

passa por garantir a segurança da rede e maximizar o bem-estar social. O desalinhamento de

38

objectivos do planeamento da rede de transporte pode resultar num conflito entre factores

económicos, de segurança e bom funcionamento da rede [15]. Neste contexto, um dos desafios

presentes a um TSO é o planeamento imparcial da expansão da rede. Este planeamento e expansão,

a longo prazo, devem resolver o congestionamento desde que seja economicamente viável. O TSO

deve investir de forma a reduzir os custos da rede, através de uma ponderação dos custos de

congestionamento e de investimento, maximizando assim o bem-estar social.

4.2. Congestionamento na Transmissão

A liberalização da indústria eléctrica trouxe alterações severas aos fluxos de energia. No sector

tradicional, a localização dos centros produtores era estável e mais fácil de prever. A reestruturação

possibilitou a transacção de energia sem restrições, incrementando o trânsito de energia, tornando-o

mais dinâmico. A isto acresce o contributo do aumento da produção descentralizada. Neste novo

cenário, assiste-se ao aumento significativo de congestionamento na rede [6].

Quando, devido aos limites de segurança das linhas, não existe capacidade suficiente para suportar

todos os pedidos de serviço de transporte de energia, diz-se que ocorre congestionamento na

transmissão. Para garantir a fiabilidade do sistema, o TSO efectua um redespacho dos geradores e,

no limite, nega alguns pedidos de transmissão, impedindo que as linhas colapsem. Os custos

associados ao congestionamento equivalem a cerca de 3% a 5% do preço total de energia. Em

adição ao seu custo, o congestionamento conduz à diminuição do efeito da concorrência entre

produtores, impedindo o acesso a energia a baixo custo a uma parte dos consumidores [2].

Em [35] expõem-se diferentes métodos para fazer face ao congestionamento e respectivos custos,

sendo analisado um exemplo simples de dois nós interligados. Aqui, é analisado o impacto do

congestionamento num sector eléctrico vertical. No que concerne à indústria eléctrica reestruturada,

os autores nomeiam três métodos distintos para gerir os custos de congestionamento identificados

como: Uplift Charges, System Redispatch Costs e Congestion Revenues. Nesta secção, apresenta-se

em traços gerais o trabalho desenvolvido em [35], expondo os aspectos que se consideram

fundamentais para o propósito desta dissertação.

4.2.1. Custos de Congestionamento: Sector Tradicional

O congestionamento da rede de transporte de electricidade e respectivos custos são característicos

não só de um mercado de energia liberalizado como, também, de um mercado regulado [2].

Analisando o caso prático descrito por Lesieutre, et.al, em [35], é possível identificar os custos de

congestionamento respeitantes ao modelo centralizado do sector eléctrico, bem como a forma como

estes são distribuídos. Lesieutre, et.al caracteriza os nós por uma procura inelástica de 500MW. No

que concerne à linha de transmissão estudam-se dois casos: no primeiro a capacidade da linha é

ilimitada; no segundo, considera-se a linha com capacidade limitada.

39

Figura 4.1. – Sistema de dois nós interligados [35]

Figura 4.2. – Custos de produção nodais [35]

Atente-se nas Figuras 4.1. e 4.2.. Cada produtor, em cada nó, oferece a energia ao custo marginal.

Adicionando as curvas da oferta de cada produtor, em cada nó, definem-se as curvas agregadas de

oferta nodais. Na Figura 4.2. encontram-se representadas as curvas da oferta para cada nó.

Para o cálculo do despacho económico – que corresponde à solução de menor custo de produção –

intersectam-se as linhas agregadas da oferta nos dois nós. Para suprir a procura em cada nó,

produzem-se 700MW no nó A e 300MW no nó B. A linha de transmissão de capacidade ilimitada

permite um trânsito de energia de 200MW de A para B. Não existindo quaisquer restrições ao nível do

transporte de energia, o preço nodal é igual nos dois nós, tendo o valor de $25.

Impondo um limite de 100MW à capacidade de transmissão na linha que liga os dois nós, verifica-se

uma influência no despacho económico do sistema. Contrariamente ao caso anterior, são transferidos

apenas 100MW. Conclui-se que os restantes 100MW (fundamentais para satisfazer a procura no nó

B) terão de ser produzidos pelo produtor localizado em B. Com a Figura 4.4. conclui-se que, havendo

esta restrição na capacidade, o custo marginal em B aumenta, diminuindo A. Quando comparados

aos custos verificados no caso sem restrição, esta variação nos preços marginais conduz a um

aumento global dos custos de produção de energia. O custo de produção global corresponde à área a

sombreado da figura, limitada pelas curvas agregadas da oferta dos dois nós. Tratando-se de uma

empresa verticalmente integrada, o aumento nos custos é considerado como o preço a pagar pela

segurança do sistema. Este preço é distribuído pelos consumidores dos dois nós.

40

Figura 4.3. – Sistema de dois nós com limitação na transmissão [35]

Figura 4.4. – Custos de produção devido a limitação da capacidade de transmissão [35]

Observando a Figura 4.5. verifica-se uma diminuição dos custos de produção, com o aumento do

excedente dos consumidores que seria obtido através do aumento da capacidade de transmissão. A

redução dos custos de produção não é obtida exclusivamente através da instalação de nova

capacidade de transmissão. O investimento em produção eléctrica no nó cujo custo de produção seja

mais elevado poderá funcionar como um mecanismo de substituição ao investimento na ligação. Tal

como está patente na Figura 4.5., esta redução de custos – obtida através do incremento da

capacidade de transporte – constitui um instrumento importante na tomada de decisões sobre novas

estratégias e investimentos na rede, de forma a tornar o sistema mais eficiente.

Figura 4.5. – Efeito de um investimento em transmissão nos custos de produção [35]

41

Quaisquer decisões tomadas envolvendo investimentos, terão diferentes impactos sobre as partes

interessadas no processo, uma vez que nova capacidade de produção ou transmissão implica

impactos distintos consoante o ponto de vista do consumidor, do produtor e do nó onde estes se

localizam. De notar que, nesta secção do trabalho, apenas se pretende analisar os diferentes

métodos de gestão do congestionamento e respectivos impactos. Considerando o exemplo de uma

indústria tradicional apura-se que, sendo os produtores remunerados pelos seus custos de produção,

apenas os seus custos variáveis seriam recuperados. Os custos fixos dos produtores são obtidos

através do estabelecimento de contratos [2].

4.2.2. Custos de Congestionamento: Sector Reestruturado

Nesta secção analisa-se um mercado reestruturado, onde a concorrência é introduzida ao nível da

produção, sendo que a transmissão fica a cargo de uma empresa que é um monopólio natural.

No mercado liberalizado as curvas nodais agregadas da oferta são construídas com base nas ofertas

de energia realizadas pelos produtores e não nos custos marginais de produção. No cado de um

mercado competitivo, as curvas de energia oferecidas pelos produtores devem aproximar-se das

curvas representativas dos seus custos de produção [35].

No modelo liberalizado, introduz-se o conceito de preços marginais locais e de preço de referência do

mercado. Tal como anteriormente, nas ofertas de energia feitas pelos produtores, os preços

marginais locais substituem os custos marginais de produção. O preço de mercado – ou preço de

referência – constitui o preço pelo qual vão ser vendidas todas as unidades de energia consumidas

numa determinada região, que pode conter vários nós. Este valor corresponde ao preço ao qual foi

oferecida a última unidade de energia aceite pelo mercado, sendo aplicado a todas as unidades de

energia que foram primeiramente aceites e oferecidas a um preço inferior [35].

A Figura 4.6. apresenta as curvas agregadas da oferta para o exemplo de dois nós estudado

anteriormente. Analisa-se, agora, o caso do mercado restruturado sem restrições ao nível do

transporte entre os nós A e B.

Figura 4.6. – Preço de referência no sector desregulado [35]

42

Analogamente ao caso anterior, os produtores localizados em A produzem 700MW de energia e os

do nó B 300MW. Para a suprir a procura inelástica de 500MW em cada nó, ocorre um trânsito de

200MW de A para B. Não havendo restrições à capacidade de transporte, o preço de mercado, em

cada hora, é igual em ambos os nós ($25). Este será também o preço de mercado, pelo que,

seguindo o princípio anterior, será aplicado a todas as unidades de energia vendidas. Partindo deste

valor, as receitas pagas pelas cargas aos geradores nos dois nós podem ser calculadas:

700[𝑀𝑊] × 25[$ /𝑀𝑊ℎ] + 300[𝑀𝑊] × 25[$ /𝑀𝑊ℎ] = 25000[$ / ℎ] (3)

A área a sombreado, na Figura 4.6., corresponde ao valor pago a cada grupo de produtores, A e B.

Este valor é superior ao custo de produção e o excedente dos produtores corresponde à área

sombreada acima da curva da oferta. Neste modelo, o facto de as receitas do produtores serem

superiores aos seus custos funciona como incentivo ao investimento em produção de baixo custo, o

que, a longo-prazo, se traduz numa redução de custos de produção [2].

Analisando, agora, um sistema sujeito a um limite de capacidade de transporte de 100MW – Figura

4.7. – o resultado obtido será semelhante ao do caso do mercado não liberalizado. A procura de

500MW em cada nó é satisfeita através de 600MW e 400MW nos nós A e B, respectivamente. A

energia transportada é de 100MW de A para B.

Figura 4.7. – Efeito da restrição na capacidade de transmissão [35]

O decréscimo de produção em A conduz à diminuição do preço marginal local para $23. Em B, ocorre

o oposto: o preço marginal local aumenta de $25 para $30, resultado do incremento de produção.

Analisados estes casos práticos apresentados em [35], impõe-se necessária a análise dos três

métodos apresentados pelos autores para lidar com os custos de congestionamento. Lesieutre et.al

afirma no seu trabalho que os métodos Uplift Charges, System Redispatch Payments e Congestion

Revenues, são aqueles utilizados no mercado liberalizado de energia Norte-Americano.

43

4.2.2.1. Uplift Charges

Este método é aquele que mais se aproxima do caso de uma indústria eléctrica vertical. Apesar dos

preços marginais locais diferirem, é estabelecido um preço comum aos dois nós do sistema. Na

Figura 4.8. a área a sombreado representa as receitas dos produtores. Estas receitas podem ser

calculadas como se segue:

600 × 25 + 300 × 25 + 100 × 27,5 = 25250 [$ / ℎ] (4)

Figura 4.8. – Custos de congestionamento segundo o método Uplift Charges [35]

O custo associado ao congestionamento, neste método, é definido como Uplift Charges e é igual a

$250/h. O preço de mercado cobrado às cargas, independentemente da sua localização, é obtido

através da equação:

25250[$/ℎ] / 1000[𝑀𝑊] = 25.25[$/𝑀𝑊ℎ] (5)

O estabelecimento de um preço de referência aplicado aos consumidores, em caso de

congestionamento, não incentiva o investimento em nova geração onde esta é mais necessária.

Assim, a competitividade do mercado a longo prazo pode não ser preservada [35].

4.2.2.2. System Redispatch Costs

Em caso de congestionamento – e contrariamente ao método anterior – este método define dois

preços de referência diferentes. O preço de referência em cada localização equivale ao preço

marginal local. Analisando de forma comparativa com o caso em que não ocorre congestionamento, e

considerando preços locais distintos, verifica-se um decréscimo nos custos por parte dos

consumidores em A e um aumento de custos em B.

Na Figura 4.9., é possível observar as alterações aos encargos dos consumidores em cada região.

44

Figura 4.9. – Variação de custos devido ao redespacho [35]

Com a expressão matemática que se segue, é possível calcular o aumento dos custos globais dos

consumidores do sistema com restrição, comparativamente ao sistema sem restrições na

transmissão:

600[𝑀𝑊] × 23[$/𝑀𝑊ℎ] + 400[𝑀𝑊] × 30[$/𝑀𝑊ℎ] – (6)

700[𝑀𝑊] × 25[$/𝑀𝑊ℎ] − 300[𝑀𝑊] × 25[$/𝑀𝑊ℎ] =

= 800 [$ / ℎ]

Comparando o método Uplift Charges com este que agora se estudou, observa-se que, neste último,

o aumento de 800$/MWh nos custos dos consumidores é superior ao do primeiro. Em adição,

verifica-se que o aumento dos custos devidos a congestionamento, não são distribuídos por todos os

consumidores, mas sim apenas pelos consumidores do nó B.

Este método de gestão do congestionamento foi concebido principalmente para ser aplicado em

tempo real, sendo a sua utilização possível noutros horizontes temporais [6].

4.2.2.3. Congestion Revenues

Este método, também designado como Market Splitting, é semelhante ao anterior, na medida em que

a gestão do congestionamento é feita recorrendo à definição de preços de referência distintos para

cada uma das regiões afectadas.

As linhas que atingem o limite de funcionamento são identificadas e o sistema é dividido em dois ou

mais subsistemas separados por troços congestionados [36]. Os preços de referência de cada

subsistema, são definidos com base nas curvas da oferta e procura locais e correspondem ao preço

marginal local [6], [36].

Segundo este método, as receitas pagas aos produtores independem do local onde a energia é

consumida. Assim, ocorre uma discrepância entre o valor pago pelos consumidores e o recebido

45

pelos produtores. Tal como se observou, os preços de referência dos nós A e B são 23$/MWh e

30$/MWh, respectivamente. O valor recebido pelos produtores calcula-se, então, como se segue:

600[𝑀𝑊] × 23[$/𝑀𝑊ℎ] + 400[𝑀𝑊] × 30[$/𝑀𝑊ℎ] = 25800[$/ℎ] (7)

O custo pago pelos consumidores é superior ao recebido pelos produtores, uma vez que toda a

energia consumida em cada nó é cobrada ao respectivo preço marginal local:

500[𝑀𝑊] × 23[$/𝑀𝑊ℎ] + 500[𝑀𝑊] × 30[$/𝑀𝑊ℎ] = 26500[$/ℎ] (8)

À diferença entre aquilo que é pago pelas cargas e o recebido pelos produtores dá-se o nome de

rendas de congestionamento. Estas rendas são distribuídas pelos detentores dos direitos de

transmissão da linha congestionada [35]. Na Europa, as rendas de congestionamento são

normalmente atribuídas ao TSO, ou TSOs envolvidos.

Este método conduz à utilização total da capacidade de transporte. A existência de uma renda que se

considera como a receita do TSO, pode conduzir a que esta, durante o exercício das suas funções,

decida preservar o congestionamento por forma a aumentar as suas receitas. De forma a evitar estes

casos, impõe-se necessária – se não obrigatória – uma maior acção reguladora e, em geral, as

rendas de congestionamento são direccionadas para investimentos de reforço da rede ou diminuição

de tarifas. Este método permite o envio de sinais de mercado eficientes, o que o torna na melhor

solução para resolver o congestionamento a nível estrutural [6].

46

47

Capítulo 5 – Análise Custo-Benefício num Investimento em Transmissão Numa

Rede de Três Nós

Neste capítulo é descrito um modelo de análise de impactos num investimento em transmissão

eléctrica na interligação entre Portugal, Espanha e França. Este modelo é extrapolado para a

realidade do presente trabalho, sendo apresentados os seus fundamentos e formulação, bem como

as suas características técnicas e económicas.

O modelo que aqui se aplica funciona como instrumento de estudo dos diferentes cenários patentes

na coordenação e planeamento das capacidades de produção e transporte de electricidade em

mercados competitivos. Este modelo funciona igualmente como ferramenta para identificação de

alguns dos principais efeitos quantitativos das estratégias de investimento no sector, na perspectiva

de todos os stakeholders. O foco principal incide sobre investimentos cujas consequências são

principalmente económicas, tais como os efeitos sobre o padrão de preços nodais da rede.

Em [1] apresentam-se diferentes modelos que permitem estudar os impactos económicos de um

investimento em capacidade de transmissão. Para diferentes objectivos e cenários, os modelos

calculam o ponto óptimo de funcionamento do sistema eléctrico, tendo como variáveis de optimização

os preços nodais da energia e a capacidade de transmissão a instalar. O modelo que se segue, bem

como os seus fundamentos, têm o artigo referido como base.

Os modelos propostos por H.Chao e R.Wilson são classificados em dois grupos distintos, de acordo

com a natureza dos investimentos. Por um lado, consideram-se os modelos que atentam nos

investimentos realizados por empresas privadas; por outro, aqueles que têm em conta investimentos

regulados. Para o caso de estudo deste trabalho, considera-se o modelo Efficient Transmission

Planning, que se insere no segundo grupo, considerando os investimentos de origem regulada. Em

traços gerais, este modelo tem como objectivo fulcral a maximização do bem-estar social. Neste

sentido, o ponto óptimo calculado pelo modelo corresponde ao excedente social bruto – diz-se bruto,

por não considerar qualquer tipo de distribuição de custos de investimento.

5.1. Características Básicas do Modelo Analítico

5.1.1. Ambiente Estacionário

Para efeitos de aplicação do modelo, assume-se que a rede de transporte e as funções de oferta e

procura em cada nó são conhecidas e estacionárias, excepto para investimentos em nova

capacidade de produção ou transporte. Tal como descrito posteriormente, o modelo estabelece um

status quo com base em capacidades já estabelecidas e, em seguida, avalia projectos de

investimento como incrementos para o status quo.

48

São definidos dois períodos com procuras diferentes, denominados períodos de ponta e vazio. Estes

períodos são considerados síncronos, isto é, os períodos de pico ocorrem simultaneamente em todos

os nós. São desprezadas variações temporais da procura, que se assume constante para

determinado instante. De igual forma, não são considerados os aspectos relativos à segurança do

sistema, podendo apenas estar implícitos nos custos do projecto [1].

5.1.2. Mercado de Energia Competitivo

As empresas de produção de energia eléctrica não são reguladas, isto é, cada uma participa nos

mercados de energia numa base privada. No entanto, o modelo assume que os mercados grossistas

de energia são competitivos; mais especificamente, o preço da energia de um nó é modelado como

correspondendo ao custo marginal local de produção, embora permita um tecto para os preços da

energia nodais. Assim sendo, são conhecidas as curvas de oferta e procura e, apesar de os

produtores terem a possibilidade de escolher o preço a que oferecem a sua energia, assume-se que

as curvas da oferta correspondem ao custo marginal de produção dos produtores. Note-se que os

preços nodais obtidos podem desviar-se dos custos marginais de produção devido à existência de

rendas de transmissão ou aos custos de congestionamento, sempre que estes existam [1].

5.1.3. Possibilidades de Investimento

Os modelos descritos em [1], apenas assumem a possibilidade de investimento em nova capacidade

de transporte de electricidade. Tal como supramencionado, os investimentos em transmissão

eléctrica podem ser encarados como substitutos ou complementos aos investimentos em nova

capacidade de produção. No entanto, neste modelo, os investimentos em produção de energia

eléctrica são excluídos.

5.1.4. Complementaridade e Substituição à Produção

Se, por um lado, a transmissão complementa a produção no nó exportador – permitindo aumentar a

quantidade de energia vendida, com recurso à exportação – por outro, pode funcionar como um

substituto à produção no nó importador, possibilitando a compra de energia a produtores externos.

Dada esta ambivalência dos investimentos em transmissão, para determinado investimento, o modelo

permite analisar os consequentes impactos em cada nó e em cada uma das partes envolvidas.

5.1.5. Métodos de Recuperação de Custos de Investimento

O método utilizado – Efficient Transmission Planning – não considera qualquer tipo de distribuição de

custos.

49

5.1.6. Medição de Impactos no Bem-estar social

Assume-se que as funções agregadas da oferta e da procura, em cada nó, são conhecidas; por

exemplo, as funções de oferta são iguais às dos custos marginais dos produtores. A receita de uma

empresa de transmissão é derivada de rendas de transmissão, nomeadamente, rendas de

congestionamento.

Os benefícios dos produtores em cada nó são medidos pelo respectivo superavit (ou excedente), que

corresponde apenas ao lucro bruto, ou seja, a diferença entre a receita de energia – com base nos

preços locais – e os custos totais de produção, medidos como a área sob a curva da oferta. Por outro

lado, os benefícios dos consumidores em cada nó são medidos pelo respectivo superavit,

correspondendo à área sob a função da procura e acima do preço da energia local. Tanto para os

produtores como para os consumidores, estes são benefícios brutos, isto é, antes da subtracção de

qualquer alocação de custos da capacidade de transmissão para obter os benefícios líquidos.

Note-se que o uso do superavit total – a soma dos excedentes dos produtores e consumidores – para

medir o benefício agregado de um projecto e verificar se a sua concepção global é eficiente, invoca o

chamado princípio da compensação, frequentemente utilizado em estudos económicos. Este princípio

baseia-se no argumento seguinte: se os benefícios agregados são maximizados na concepção de

muitos projectos ao longo do tempo, sem remuneração/compensação dos participantes afectados

adversamente por cada projecto individual, será provável que cada participante beneficie de forma

geral dos vários projectos realizados. Uma vez que não existe a garantia de que este resultado

favorável irá ocorrer, o modelo inclui uma opção para usar o valor de Shapley para identificar a

compensação para os participantes negativamente afectados face àqueles que beneficiam. Assim,

procura-se obter uma distribuição justa de benefícios e, portanto, implica que o peso da recuperação

de custos seja compartilhado.

5.2. Formulação do Modelo

Neste modelo básico, assume-se uma rede de transporte simplificada, com três nós, numa estrutura

em árvore. Nesta estrutura a três nós, designados 𝐴 – 𝐵 – 𝐶 ou 𝑁 = {𝐴, 𝐵, 𝐶}, designa-se B como

sendo o eixo entre A e C. Aqui, são ignoradas as perdas na transmissão e os investimentos em

capacidade de transporte são apenas permitidos entre os nós A e B e entre B e C. Não são

consideradas as perdas em transmissão e, desta forma, podem ser desprezadas externalidades

relativas ao trânsito de energia [66].

O objectivo da implementação é, como já foi mencionado, maximizar o bem-estar social. Este é

composto pelo excedente dos consumidores, o excedente dos produtores e as rendas de

congestionamento [16].

De seguida, as três parcelas que integram o excedente económico-social são apresentadas e

analisadas.

50

O excedente dos consumidores representa o valor acrescentado líquido da compra de energia e é

calculado com recurso a (9), onde 𝐷𝑖(𝑝𝑑𝑖) representa a curva da procura do nó i em função do preço

de compra 𝑝𝑑𝑖:

∫ 𝐷𝑖(𝑝𝑑𝑖)∞

𝑝𝑑𝑖𝑑𝑝 (9)

O excedente dos produtores representa a diferença entre as receitas e os custos associados à venda

e produção de energia, respectivamente. Este conceito é formulado em (10). A função 𝑆𝑖(𝑝𝑠𝑖)

corresponde à curva da oferta característica do nó i, definida pela quantidade de energia 𝑆𝑖 em função

do preço de venda de energia 𝑝𝑠𝑖:

∫ 𝑆𝑖(𝑝𝑠𝑖)𝑝𝑠𝑖0

𝑑𝑝 (10)

Estes dois conceitos equivalem aos benefícios brutos destes dois grupos de participantes, uma vez

que não está considerada qualquer alocação dos custos de investimentos, relativos a nova

capacidade de transmissão. Partindo deste princípio, o excedente agregado dos consumidores e

produtores é calculado através da equação (11).

∑ [∫ 𝐷𝑖(𝑝)∞

𝑝𝑑𝑖𝑑𝑝𝑖 + ∫ 𝑆𝑖(𝑝)

𝑝𝑠𝑖0

𝑑𝑝] (11)

As rendas de congestionamento constituem a receita do TSO. Estas são definidas pelo produto da

diferença de preços nodais, pela quantidade de energia transitada. Este valor é representado pela

equação (12):

∑ [𝑝𝑑𝑖𝐷𝑖(𝑝𝑑𝑖)𝑖∈𝑁 − 𝑝𝑠𝑖𝑆𝑖(𝑝𝑠𝑖)] (12)

Os custos de investimento dividem-se em custos fixos (CF) e custos variáveis (CV). A função que os

representa é dada pela equação (13), onde 𝑡 corresponde à capacidade instalada:

𝐾(𝑡) = 𝐶𝐹 + 𝐶𝑉 × 𝑡 (13)

A função a maximizar é constituída pelas três parcelas consideradas: benefício líquido dos

consumidores e produtores, rendas de transmissão e custos de investimento. O problema de

optimização é definido como em (14).

{

𝑀𝑎𝑥𝑝𝑑𝑖,𝑝𝑠𝑖,𝑡

∑ [∫ 𝐷𝑖(𝑝)∞

𝑝𝑑𝑖𝑑𝑝𝑖 + ∫ 𝑆𝑖(𝑝)

𝑝𝑠𝑖0

𝑑𝑝] + ∑ [𝑝𝑑𝑖𝐷𝑖(𝑝𝑑𝑖)𝑖∈𝑁 − 𝑝𝑠𝑖𝑆𝑖(𝑝𝑠𝑖)] − 𝐾(𝑡)

Sujeito a: ∑ [𝐷𝑖(𝑝𝑑𝑖)𝑖∈𝑁 − 𝑆𝑖(𝑝𝑠𝑖)] = 0

−𝑡 ≤ 𝐷𝑖(𝑝𝑑𝑖) − 𝑆𝑖(𝑝𝑠𝑖) ≤ 𝑡, para cada nó i

(14)

Note-se que as duas primeiras parcelas são positivas e a terceira, referente aos custos de

investimento, é negativa. Note-se, ainda, que a função de maximização está sujeita a três restrições,

sendo uma de igualdade e duas de desigualdade. Quanto à primeira, permite garantir que, dentro do

sistema, a produção total iguala a procura; assim, a procura é satisfeita em todos os instantes, não

51

B

ES

C

FR

A

PT

havendo excesso de produção. Por outro lado, as restrições de desigualdade representam o limite da

capacidade da linha de interligação. Desta forma, a capacidade de transmissão é limitada para

garantir a segurança e estabilidade do sistema. Estas duas restrições de desigualdade impedem

ainda que o trânsito de energia ultrapasse o limite estabelecido, em ambos os sentidos.

5.3. Modelação da Interligação Portugal – Espanha – França

Nesta secção, aplica-se o modelo descrito à interligação entre Portugal, Espanha e França. Aqui, é

considerado um ambiente estacionário, um mercado de energia competitivo e assumem-se apenas

investimentos em transmissão de energia eléctrica, tal como explicado nos fundamentos do modelo.

São também tidos em consideração os efeitos de complemento ou substituição, não sendo

considerado qualquer método de recuperação de investimento. As curvas agregadas da oferta e da

procura assumem-se conhecidas a priori.

A rede de transporte de electricidade é modelada por um sistema simples de três nós, interligados por

duas linhas de transmissão. Tal como explicado na secção anterior, estes nós são designados por A,

B e C, seguindo uma estrutura em árvore, sendo que o nó B constitui o eixo entre A e C. Consideram-

se os investimentos em transmissão apenas entre A e B e entre B e C. Por questões de simplificação,

assumem-se os nós A, B e C como sendo Portugal, Espanha e França, respectivamente, onde o

segundo país representa o eixo entre os restantes dois, tal como se ilustra na Figura 5.1..

Figura 5.1. – Esquema em árvore, ilustrando a interligação Portugal – Espanha – França

Assim, os sistemas eléctricos Português, Espanhol e Francês são modelados como um único nó,

cada um. Consequentemente, agrupam-se os consumidores e produtores individuais, localizados em

cada país, em produtores e consumidores portugueses, espanhóis e franceses. As curvas da oferta e

procura representativas dos respectivos sistemas eléctricos, são reproduzidas com base nos dados

disponíveis nos websites do pólo espanhol do operador Ibérico de electricidade e do mercado de

energia Francês [65], [68], bem como na plataforma de transparência do IESOE [67].

Para o caso prático em estudo no presente trabalho analisam-se, individualmente, a interligação

Portugal – Espanha (nós A e B) e Espanha – França (nós B e C).

Antes de prosseguir, impõe-se necessário definir o que se entende por períodos de Verão e Inverno,

bem como ponta e vazio, num horário relativo a energia eléctrica. Ora, neste contexto, o ano divide-

se em Verão e Inverno, sendo que esta divisão coincide com a hora legal definida por decreto-lei.

52

Assim, o horário de Verão tem início no último Domingo do mês de Março, sendo que o horário de

Inverno se inicia no último Domingo do mês de Outubro. Por outro lado, e seguindo uma explicação

simplificada, os dias encontram-se divididos em horas de ponta e vazio. As horas de vazio

correspondem àquelas em que a electricidade é mais barata, implicando fundamentalmente as horas

de período nocturno; já o horário de ponta é aquele em que o consumo de electricidade é mais caro

e, geralmente, o período diurno [66].

Para a aplicação do modelo e análise da realidade em estudo, foram, então, escolhidos quatro dias

do ano onde, por restrições ao nível da capacidade, se verificou congestionamento na transmissão de

energia eléctrica. Estes quatro dias foram seleccionados de tal forma que cada um representa um

cenário distinto no que diz respeito ao diagrama de carga do sistema. Assim, obtiveram-se dados

relativos à ponta e vazio, nos períodos de Inverno e de Verão. As datas correspondentes são aquelas

identificadas nas Tabelas 5.1. e 5.2..

Tabela 5.1. – Datas seleccionadas para aplicação do modelo, troço Portugal – Espanha

Interligação Portugal – Espanha

Período Carga Dia Mês Ano Hora

Verão Ponta

Vazio

17

16

Julho

Junho 2014

13

04

Inverno Ponta

Vazio

04

09

Fevereiro

Janeiro

20

08

Tabela 5.2. – Datas seleccionadas para aplicação do modelo, troço Espanha – França

Interligação Espanha – França

Período Carga Dia Mês Ano Hora

Verão Ponta

Vazio

30

21

Julho

Junho 2014

13

07

Inverno Ponta

Vazio

31

14

Janeiro

Janeiro

19

08

Como consequência da restrição activa na capacidade de transmissão, presente em todos os dias

seleccionados, ocorre a separação do sistema em dois subsistemas – market splitting. – que conduz

a curvas agregadas da oferta e da procura distintas para os três países. Note-se que, para cada caso,

consideram-se as unidades MWh, por se tratar da capacidade, em MW, para cada hora estudada.

5.4. Limitações do Modelo

No decorrer do estudo e análise do modelo proposto por H. Chao e R. Wilson foram encontradas

algumas limitações na sua aplicação. Esta secção visa, essencialmente, apontar essas limitações,

53

bem como procurar explicá-las para que, daí, se possam inferir as conclusões que posteriormente

serão apresentadas.

Uma importante limitação encontrada no modelo prende-se com o método utilizado para o

estabelecimento dos preços de referência nodais da energia. Estes são sempre considerados iguais

aos custos marginais de produção, independentemente das trocas de energia.

Outra fragilidade do modelo de H.Chao e R.Wilsom reside no facto de não ser tida em conta a

elasticidade da oferta e da procura de energia eléctrica, uma vez que tanto a oferta como a procura

variam consoante o dia, a hora e as condições de mercado. Como consequência da inelasticidade

deste modelo, conclui-se que este não é um modelo preditivo, não sendo possível prever os

comportamentos da oferta e procura em cada nó, nem os eventuais benefícios daí decorrentes.

Por outro lado, observa-se uma limitação neste modelo, que se prende com a modelação da

interligação dos dois nós de um dado sistema. Uma vez que se agregam os consumidores de cada

país no respectivo nó e se desprezam os limites da capacidade individual dos produtores e

consumidores, pode dar-se o caso em que a procura ou a produção de energia não seja suficiente

para recolher os benefícios atribuídos ao respectivo nó. Dessa forma, apenas uma fracção dos

excedentes será, efectivamente, absorvida pelos participantes.

Tal como expresso nos fundamentos do modelo, este não considera as externalidades relativas ao

trânsito de energia. De referir, ainda, que a modelação da interligação desta rede despreza o facto de

as limitações ao nível da transmissão poderem ter origem interna no sistema de energia. Com efeito,

a restrição pode não ocorrer na linha de transmissão, mas sim, no sistema eléctrico de um dos três

países constituintes da rede. Por outras palavras, este modelo não considera externalidades como as

perdas de energia na transmissão, perdas por efeito de Joule, entre outras.

O modelo não penaliza o sobredimensionamento da linha de transmissão, independentemente da

capacidade da linha ser esgotada, ou caso ainda exista margem de utilização até ao limite máximo.

Por exemplo, caso a linha seja dimensionada para 1000MWh e desses apenas 800MWh tenham sido

ocupados, não decorre daí qualquer penalização.

5.5. Metodologia Adoptada

Considerando as limitações encontradas no modelo proposto por H. Chao e R. Wilson, adoptou-se a

metodologia que a seguir se descreve.

Com os dados fornecidos por aplicação do modelo, procede-se a uma análise qualitativa da

distribuição de benefícios associados a um investimento em transporte de electricidade na

interligação em estudo. Com efeito, dadas as limitações associadas à modelação da transmissão, os

resultados quantitativos obtidos serão discutidos através de uma avaliação qualitativa.

54

Com base nas curvas de oferta e procura estabelecidas, para cada nó – no dia e hora seleccionados

– define-se uma curva de supply e demand aproximadamente lineares e, portanto, com um

comportamento conhecido.

Para análise da distribuição dos impactos do investimento na interligação em estudo – isto é, para

conhecer as partes beneficiadas e prejudicadas pelo investimento – adoptaram-se duas fases de

decisão: na primeira, estabelece-se a capacidade de transmissão da linha – assumindo-se esta como

sendo a capacidade máxima de transmissão – e fixa-se a variável de optimização correspondente; na

segunda etapa, o problema de optimização é resolvido, mantendo como livres as duas variáveis

correspondentes aos preços nodais de energia e a capacidade utilizada.

Assim, este método permite que a optimização seja feita nas três variáveis livres: 𝑡, correspondente à

capacidade de transmissão e 𝑝1 e 𝑝2, correspondentes aos respectivos preços nodais. Com recurso

aos resultados que daí se obtêm, será possível estabelecer os valores correspondentes aos

excedentes dos produtores e consumidores, assim como as rendas de congestionamento e os custos

de investimento. Os valores do consumo e produção nodais de energia também podem ser

calculados. e, claro, o excedente económico-social.

No presente trabalho, para cada dia seleccionado, realizaram-se três simulações correspondentes a

capacidades de interligação distintas. A primeira simulação destina-se ao estabelecimento do status

quo do sistema em estudo, sendo que a capacidade de transmissão máxima é definida como igual à

capacidade real da interligação entre os dois nós, para o dia e hora seleccionados. Esse valor

encontra-se disponível em [65]. Por outro lado, as segunda e terceira simulações, visam estabelecer

um incremento de 50 e 100MWh na capacidade da interligação, com respeito ao status quo, com o

intuito de analisar os impactos decorrentes do aumento da capacidade da linha. Com base nas

variações observadas, em cada nó, nos excedentes dos consumidores e produtores – assim como da

observação das rendas de congestionamento e do excedente económico-social – será possível inferir

conclusões sobre a distribuição de impactos.

De forma a averiguar qual o ponto em que deixará de ocorrer market splitting no sistema – e,

portanto, a ocupação total da capacidade da linha de transmissão – serão feitas simulações

consecutivas, com incrementos sucessivos de 50MWh, até que essa condição seja verificada e,

assim, os preços da energia em cada nó sejam iguais. Daí, serão retiradas conclusões.

Finalmente, assume-se que o incremento da capacidade da linha de transmissão não foi obtido

através da construção de uma nova linha, mas sim recorrendo a investimentos na estrutura pré-

existente da rede. Desta forma, assume-se que os custos de investimento na interligação, 𝐾(𝑡),–

equação (13) – são dados unicamente pela parcela 𝐶𝑉 × 𝑡. Para os custos variáveis, estabelece-se o

valor de 10€/MWh instalado, tal como proposto por R. Costa, em [2]. Assume-se este valor, por ser

uma importância previamente estudada por R. Costa, permitindo estabelecer uma comparação mais

fiável dos resultados que aqui se obterão com aqueles conseguidos em [2].

55

5.6. Resultados

Nesta secção apresentam-se e discutem-se os resultados obtidos através da simulação, para cada

um dos quatro dias seleccionados e para cada troço do sistema em estudo. Note-se que, para cada

caso, consideram-se as unidades MWh, por se tratar da capacidade, em MW, para cada hora

estudada.

5.6.1. Resultados do Troço Portugal – Espanha

De seguida, apresentam-se os resultados obtidos para a ponta e vazio, nos períodos de Verão e

Inverno, para a interligação do troço Portugal – Espanha, para que daí sejam retiradas as conclusões

quanto à distribuição de impactos resultantes de um investimento.

5.6.1.1. Período de Ponta de Verão

Para a caracterização do período de ponta de Verão, seleccionou-se o dia 17/07//2014, cujo

diagrama de carga – assim como os preços da energia transaccionada em Portugal e Espanha – se

encontram representados na Figura 5.2..

Figura 5.2. – Preço horário do mercado diário, ponta de Verão, Portugal – Espanha [65]

Tal como patente na figura anterior, à hora 13, no período em estudo, ocorre congestionamento na

interligação entre os dois países, conduzindo à separação dos mercados. Tal como visto

anteriormente, a este fenómeno dá-se o nome de market splitting. Como consequência deste

acontecimento, registam-se dois preços distintos para a energia em Portugal e Espanha. Para o

primeiro país, observa-se um preço de 59.69€/MWh; já para o segundo, o preço verificado é de

51.00€/MWh. Verifica-se, também, que a energia total negociada no mercado Ibérico, nessa hora,

toma o valor de 33739.3MWh.

56

Os valores horários da capacidade de interligação são aqueles constantes na Figura 5.3.. Segundo

esta figura, na hora 13, a capacidade de transmissão disponível foi de 1900MWh, sendo que esta

capacidade foi esgotada. Isto significa que ocorreu um trânsito de energia de 1900MWh na

interligação Ibérica, com o sentido de Espanha para Portugal.

Figura 5.3. – Utilização da capacidade de interligação, ponta de Verão, Portugal – Espanha [65]

Já no que concerne às curvas da oferta e procura, referentes ao dia e hora seleccionados, há a

explicar que a curva laranja representa a curva da oferta inicial e que contém ofertas complexas de

energia. Por outro lado, as curvas vermelha e laranja-claro correspondem às curvas de procura e

oferta casadas, que resultam do não cumprimento de algumas restrições nas ofertas complexas. São

estas últimas curvas que irão servir como base do cálculo dos preços nodais. Estes dados são

observáveis nas Figuras 5.4. e 5.5..

Figura 5.4. – Curvas agregadas da oferta e procura, para Portugal, ponta de Verão [65]

57

Figura 5.5. – Curvas agregadas da oferta e procura, para Espanha, ponta de Verão [65]

Os dados obtidos por análise gráfica, para posterior utilização para fins de simulação, encontram-se

sistematizados na Tabela 5.3..

Tabela 5.3. – Dados para simulação, ponta de Verão, Portugal – Espanha

Ponta de Verão (17/07/2014 – hora 13)

Energia Negociada

(MWh)

Preço Capacidade de Transporte

% Ocupação

Sentido do Fluxo Portugal

(€/MWh) Espanha (€/MWh)

Disponível (MWh)

Ocupada (MWh)

33739.3 59.69 51.00 1900 1900 100% ESPT

Tendo os dados recolhidos e sistematizados na Tabela 5.3. como referência, procedeu-se da forma

descrita na metodologia, simulando o modelo. Desta forma, a capacidade de transmissão foi fixada

nos 1900MWh e, através da aplicação do modelo, obtiveram-se os resultados que se apresentam na

Tabela 5.4..

Note-se que, tal como detalhado anteriormente, os resultados constantes nesta tabela servem para

estabelecer o status quo e, posteriormente, como termo de comparação para efeitos de incrementos

na capacidade de interligação.

58

Tabela 5.4. – Resultados obtidos para 1900MWh, ponta de Verão, Portugal – Espanha

País

Portugal Espanha

Resu

ltad

os

Preço [€/MWh] 52.5 52.5

Excedente dos consumidores [€] 438301.7 1843384.6

Excedente dos produtores [€] 149417.3 786748.4

Excedente nodal [€] 587718.9 26301323.9

Benefícios globais do sistema [€] 3217851.9

Rendas de congestionamento [€] 0

Investimento em transmissão [€] 0

Excedente económico-social [€] 3217851.9

Procura [MWh] 6856.7 28837.9

Oferta [MWh] 5697.1 29997.5

Observando os resultados obtidos após simulação, para o período de ponta de Verão, verifica-se que

o limite imposto à linha é de 1900MWh. Na realidade, segundo os dados obtidos por simulação, a

aplicação do modelo de optimização formulado resolveria o problema de congestionamento da linha,

tal como sugerem os dados das Tabelas 5.4. e 5.5..

Com efeito, a utilização do algoritmo Efficient System Plan, encontra o ponto óptimo de

funcionamento do sistema quando os preços nodais igualam, em ambos os nós, o valor de 52.5€,

conduzindo à situação de extinção de market splitting. Neste sentido, as rendas de congestionamento

seriam nulas e, portanto, o excedente económico-social será igual ao valor dos benefícios globais do

sistema.

Tabela 5.5. – Resultados da simulação, ponta de Verão¸ Portugal – Espanha

Status Quo

1900 MWh

País

Resu

ltad

os

Preço [€/MWh] Portugal 52.5

Espanha 52.5

Capacidade Utilizada [MWh] 1159.6

Rendas de Congestionamento [€] 0

Com base nos dados da simulação, e tal como referido, o ponto óptimo seria aquele patente na

Tabela 5.5., levando a concluir que a linha de transmissão que interliga os nós português e espanhol

59

se encontrava dimensionada com uma capacidade suficiente para suprir as necessidades

energéticas.

Conclui-se que não haveria necessidade de incrementar a capacidade da linha e, caso o mercado

tivesse os preços nodais de energia estabelecidos nos 52.5€, utilizando este algoritmo de

optimização, não ocorreria market splitting. Assim, sendo o ponto óptimo inferior ao limite da

capacidade de transmissão, investimentos em transmissão apenas conduziriam ao aumento dos

custos totais do sistema, resultando numa diminuição do bem-estar social.

5.6.1.2. Período de Vazio de Verão

Para caracterizar o período de vazio de Verão, seleccionou-se o dia 16/06/2014, na hora 04. Nesta

data e hora, tal como observável na Figura 5.6., verifica-se o fenómeno de market splitting.

Consequentemente, os preços português e espanhol da energia são diferentes, tomando os valores

de 24.20 €/MWh e de 12.36 €/MWh, respectivamente para Portugal e Espanha. Verifica-se, também,

que a energia total do sistema toma o valor de 19661.5MWh.

Figura 5.6. – Preço horário do mercado diário, vazio de Verão, Portugal – Espanha [65]

No que diz respeito ao trânsito de energia, na Figura 5.7. observa-se a ocorrência de

congestionamento, responsável pela separação dos sistemas. Na hora 04, a capacidade disponível

era de 350MWh e, tal como espectável, na presença de congestionamento, a utilização desta

capacidade é total. Este fluxo de 350MWh é observado no sentido de Espanha para Portugal.

60

Figura 5.7. – Utilização da capacidade de interligação, vazio de Verão, Portugal – Espanha [65]

Uma vez mais, ocorrendo a separação de mercados, verificam-se curvas agregadas da oferta e

procura para Portugal e Espanha, contrariamente àquilo que ocorre num mercado único Ibério, onde

não ocorre market splitting. Estas curvas, referentes ao dia 16/06/2014, à hora 04, encontram-se

ilustradas nas Figuras 5.8. e 5.9.. Note-se que, uma vez mais, o não cumprimento das condições

estabelecidas nas ofertas complexas, conduziu ao aparecimento das curvas casadas presentes nos

gráficos.

Figura 5.8. – Curvas agregadas da oferta e procura, para Portugal, vazio de Verão [65]

Figura 5.9. – Curvas agregadas da oferta e procura, para Espanha, vazio de Verão [65]

61

Após a análise gráfica e tratada a informação, procedeu-se à sua organização, para posterior

utilização em simulação. Estes dados encontram-se sistematizados na Tabela 5.6..

Tabela 5.6. – Dados para simulação, vazio de Verão¸ Portugal – Espanha

Vazio de Verão (16/06/2014 – hora 04)

Energia Negociada

(MWh)

Preço Capacidade de Transporte

% Ocupação

Sentido do Fluxo Portugal

(€/MWh) Espanha (€/MWh)

Disponível (MWh)

Ocupada (MWh)

19661.5 24.20 12.36 350 350 100% ESPT

Repetindo o procedimento já conhecido, desta vez para o período de vazio de Verão, simulou-se o

modelo. A capacidade de transmissão foi fixada em 350MWh e, através da optimização, obtiveram-se

os resultados que se apresentam na Tabela 5.7.. Tal como detalhado anteriormente, estes resultados

estabelecem o status quo, para que, posteriormente, sirvam como termo de comparação para efeitos

de incrementos na capacidade de interligação.

Tabela 5.7. – Resultados obtidos para 350MWh, vazio de Verão¸ Portugal – Espanha

País

Portugal Espanha

Resu

ltad

os

Preço [€/MWh] 22.7 11.3

Excedente dos consumidores [€] 380630.7 1294217.6

Excedente dos produtores [€] 50765.9 88673.6

Excedente nodal [€] 431396.6 1382891.2

Benefícios globais do sistema [€] 1814287.8

Rendas de congestionamento [€] 3971.6

Investimento em transmissão [€] 0

Excedente económico-social [€] 1818259.4

Procura [MWh] 4829.4 15317.9

Oferta [MWh] 4479.4 15667.9

Partindo dos resultados obtidos após simulação, para o dia e hora em estudo, verifica-se uma

ocupação total da interligação, que se traduz numa transferência de energia de 350MWh, de Espanha

para Portugal. Os preços locais português e espanhol são, respectivamente, de 22.7€/MWh e

11.3€/MWh.

No nó português, a procura toma o valor de 4829.4MWh e a oferta de 4479.4MWh. Já em Espanha, o

consumo é de 15317.9MWh e a produção de 15557.9MWh.

62

As simulações para os incrementos de 50 e 100MWh produziram os resultados apresentados na

Tabela 5.8..

Tabela 5.8. – Impacto da incrementação da capacidade de transmissão, vazio de Verão¸ Portugal – Espanha

Status Quo Valores Incrementados

350 MWh 400 MWh 450 MWh

País

Resu

ltad

os

Preço [€/MWh] Portugal 22.7 22.4 22.2

Espanha 11.3 11.4 11.4

Excedente dos

consumidores [€]

Portugal 380630.7 381689.3 1058.6 382749.4 2118.7

Espanha 1294217.6 1293698.3 -519.3 1293179.2 -1038.4

Excedente dos

produtores [€]

Portugal 50765.9 49789.4 -976.5 48822.4 -1943.5

Espanha 88673.6 89205.6 532.0 89739.2 1065.6

Excedente social [€] 1818259.4 1818320.4 61.0 1818368.8 109.4

Capacidade Utilizada [MWh] 350 400 450

Rendas de Congestionamento [€] 3971.6 4437.8 466.2 4878.7 907.1

Com base nos resultados obtidos, verifica-se que os incrementos de 50 e 100 MWh no limite da linha

conduzem a um incremento da energia transitada. Não obstante, em ambos os casos é verificada

uma ocupação total da interligação, sendo que o trânsito de energia ocorre no sentido de Espanha

para Portugal, tomando os valores de 400 e 450 MWh, dada a condição de ocupação da interligação

a 100%.

Conclui-se que o aumento da capacidade de transmissão se traduz num incremento de produção no

nó espanhol, reflectindo-se negativamente nos respectivos custos de produção e, consequentemente,

no respectivo preço nodal. No que diz respeito ao nó português – e em oposição ao caso espanhol –

assiste-se a uma diminuição no custo de produção e, portanto, no preço nodal, como resultado da

maior disponibilidade de energia em Espanha.

Como estabelecido pelo modelo, incrementar o limite da capacidade da linha, tem consequências no

excedente económico-social. Com efeito, verifica-se que este excedente aumenta, sobretudo devido

à variação positiva das rendas de congestionamento, do excedente dos consumidores no nó

importador e do excedente dos produtores no nó exportador. Em oposição, observa-se que os

produtores portugueses e os consumidores espanhóis sofrem uma redução dos seus excedentes.

Na Tabela 5.9 encontram-se os resultados relativos às simulações executadas até extinção do

congestionamento.

63

Tabela 5.9. – Impacto da incrementação da capacidade até extinção de market splitting, vazio de Verão, Portugal – Espanha

Status Quo Valores Incrementados

350 MWh

2600 MWh

País

Resu

ltad

os

Preço [€/MWh] Portugal 22.7 12.8

Espanha 11.3 12.8

Excedente dos

consumidores [€]

Portugal 380630.7 429566.1 48935.4

Espanha 1294217.6 1271026.5 -23191.1

Excedente dos

produtores [€]

Portugal 50765.9 16290.2 -34475.7

Espanha 88673.6 114102.6 25429.1

Excedente social [€] 1818259.4 1808485.5 -9773.9

Capacidade Utilizada [MWh] 350 2593.0

Rendas de Congestionamento [€] 3971.6 0

Incrementando, sucessivamente, a capacidade da linha, verifica-se que deixa de ocorrer market

splitting, aos 2600MWh de capacidade instalada, com uma utilização de 2593.0MWh

Com base nos dados da simulação, e tal como evidencia a Tabela 5.9., verificam-se rendas de

congestionamento nulas – e, portanto, extinção da separação de mercados – quando a capacidade

instalada na linha toma o valor de 2600MWh. Neste ponto, os preços nodais igualam o valor de

12.8€, verificando-se uma ocupação de 2593.0 dos 2600MWh instalados. No entanto, o investimento

neste incremento de 2250MWh à capacidade da linha teria um impacto negativo no excedente social,

já que este teria uma variação negativa, como patente na tabela anterior.

A diminuição do excedente social é resultado da variação negativa do excedente dos consumidores

espanhóis e do excedente dos produtores portugueses, bem como do aumento dos custos de

investimento. Uma vez que o modelo em estudo considera os preços nodais da energia iguais ao

preço marginal nodal, os consumidores no nó exportador serão lesados pelo incremento da produção

nesse nó. Por outro lado, no nó importador, os consumidores continuam a beneficiar da reduzida

produção nodal, que é substituída pela energia importada. Note-se, ainda, que devido à igualdade de

preços nodais, ocorre a anulação das rendas de congestionamento, contribuindo para a redução do

excedente social.

5.6.1.3. Período de Ponta de Inverno

Na hora 20, do dia 04/02/2014, verifica-se um diagrama de carga característico do período de ponta

de Inverno. Tal como para as restantes datas seleccionadas, ocorre congestionamento na

interligação Ibérica, ocorrendo separação de mercados com consequentes preços nodais distintos.

64

Estes preços tomam os valores de 29.69 €/MWh e 38.00 €/MWh, respectivamente, para Portugal e

Espanha. Nesta data e hora, a energia total do sistema foi de 34095.4MWh. O diagrama de carga,

bem como os preços da energia transaccionada em Portugal e Espanha, encontram-se

representados na Figura 5.10..

Figura 5.10. – Preço horário do mercado diário, ponta de Inverno, Portugal – Espanha [65]

Neste dia, na hora 20, são transitados 2000MWh de energia, sendo que a ocupação da capacidade

de interligação é total. O fluxo de energia é verificado no sentido de Portugal para Espanha.

A informação relativa à capacidade de interligação horária é aquela constante na Figura 5.11..

Figura 5.11. – Utilização da capacidade de interligação, ponta de Inverno, Portugal – Espanha [65]

No que diz respeito às curvas agregadas da oferta e procura, para o dia e hora seleccionados, para

cada país, encontram-se representadas nas Figuras 5.12. e 5.13.. À semelhança dos casos

anteriores, os preços nodais foram estabelecidos com base nas curvas casadas da oferta e da

procura, devido ao não cumprimento de algumas restrições do mercado.

65

Figura 5.12. – Curvas agregadas da oferta e procura, para Portugal, ponta de Inverno [65]

Figura 5.13. – Curvas agregadas da oferta e procura, para Espanha, ponta de Inverno [65]

Com base nos dados gráficos recolhidos, obteve-se a informação anteriormente descrita e que,

agora, se apresenta de forma resumida na Tabela 5.10., para posterior utilização em simulação.

Tabela 5.10. – Dados para simulação, ponta de Inverno¸ Portugal – Espanha

Ponta de Inverno (04/02/2014 – hora 20)

Energia

Negociada

(MWh)

Preço Capacidade de Transporte

%

Ocupação

Sentido do

Fluxo Portugal

(€/MWh)

Espanha

(€/MWh)

Disponível

(MWh)

Ocupada

(MWh)

34095.4 29.69 38.00 2000 2000 100% PTES

Tal como anteriormente, foram tidos em conta os dados da Tabela 5.10. e procedeu-se da forma

descrita na metodologia, simulando o modelo. Desta vez, admitiu-se que o limite da capacidade da

interligação era de 2000MWh. Os resultados obtidos são os constantes na Tabela 5.11..

66

Tabela 5.11. – Resultados obtidos para 2000MWh, ponta de Inverno, Portugal – Espanha

País

Portugal Espanha

Resu

ltad

os

Preço [€/MWh] 34.9 36.2

Excedente dos consumidores [€] 672448.6 2057791.1

Excedente dos produtores [€] 196293.7 479949.1

Excedente nodal [€] 868742.3 2537740.2

Benefícios globais do sistema [€] 3406482.5

Rendas de congestionamento [€] 2506.6

Investimento em transmissão [€] 0

Excedente económico-social [€] 3408989.0

Procura [MWh] 9249.1 28551.2

Oferta [MWh] 11249.1 26551.2

Em Espanha, o transporte de 2000MWh, permite satisfazer a procura de 28551.2MWh, com uma

produção de 26551.2MWh. O défice energético é colmatado com os 2000MWh provenientes de

Portugal. Por outro lado, em Portugal, são produzidos 11249.1MWh, que satisfazem a procura de

9249.1MWh e ainda permitem exportar 2000MWh para Portugal. Uma vez que o modelo estabelece

os preços nodais como sendo iguais ao preço marginal de produção de cada país, registam-se

preços de 34.9 €/MWh e 36.2 €/MWh, nos nós português e espanhol, respectivamente.

Os resultados obtidos nas segunda e terceira simulações, considerando um aumento de limite de 50

e 100MWh são os expostos na Tabela 5.12.

Tabela 5.12. – Impacto da incrementação da capacidade de transmissão, ponta de Inverno, Portugal – Espanha

Status Quo Valores Incrementados

2000 MWh 2050 MWh 2100 MWh

País

Resu

ltad

os

Preço [€/MWh] Portugal 34.9 35.0 35.2

Espanha 36.2 36.1 36.0

Excedente dos

consumidores [€]

Portugal 672448.6 671250.8 -1197.8 670054.2 -2394.4

Espanha 2057791.1 2059322.3 1531.2 2060854.1 3063.0

Excedente dos

produtores [€]

Portugal 196293.7 197753.8 1460.1 199219.3 2925.6

Espanha 479949.1 478526.5 -1422.6 477106.0 -2843.1

Excedente social [€] 3408989.0 3408547.1 -441.9 3408096.0 -893.0

Capacidade Utilizada [MWh] 2000 2050 2100

Rendas de Congestionamento [€] 2506.6 2193.7 -312.9 1862.6 -644.0

67

Tendo em atenção os resultados obtidos por simulação do modelo em estudo, para o período de

ponta de Inverno considerado, não se verifica um aumento do bem-estar social, com o incremento da

capacidade de linha. Com efeito, os incrementos de 50 e 100MWh no limite da interligação,

conduzem a variações negativas do excedente social. Com efeito, esta diminuição de bem-estar

resulta da variação negativa do excedente dos consumidores portugueses, do excedente dos

produtores espanhóis e do incremento dos custos de investimento. Uma vez mais, como o modelo

estabelece os preços nodais iguais ao preço marginal de produção, os consumidores no nó

exportador sofrem com o aumento da produção nesse nó. Por outro lado, no que respeita ao nó

importador, os consumidores continuam a beneficiar da reduzida produção local, que é substituída

pela energia importada. Note-se, ainda, que a diminuição das rendas de congestionamento tem

grande impacto na variação negativa do excedente social.

Ao incrementar a capacidade, verifica-se que só deixa de ocorrer market splitting com 2350MWh de

capacidade instalada, havendo uma utilização de 2342.1MWh. Os dados obtidos para estes valores

de capacidade são aqueles constantes na Tabela 5.13.

Tabela 5.13. – Impacto da incrementação da capacidade até extinção de market splitting, ponta de Inverno, Portugal–Espanha

Status Quo Valores Incrementados

2000 MWh

2350 MWh

País

Resu

ltad

os

Preço [€/MWh] Portugal 34.9 35.8

Espanha 36.9 35.8

Excedente dos

consumidores [€]

Portugal 672448.6 664275.0 -8173.6

Espanha 2057791.1 2068279.0 10487.9

Excedente dos

produtores [€]

Portugal 196293.7 206391.7 10098.0

Espanha 479949.1 470257.7 -9691.4

Excedente social [€] 3408989.0 3405703.4 -3285.6

Capacidade Utilizada [MWh] 2000 2342.1

Rendas de Congestionamento [€] 2506.6 0

Tal como evidencia a Tabela 5.13., apenas se verifica o caso de rendas de congestionamento nulas –

e, portanto, extinção da separação de mercados – quando a capacidade instalada na linha toma o

valor de 2350MWh. Neste ponto, os preços nodais igualam o valor de 35.8€, verificando-se uma

ocupação de 2342.1 dos 2350MWh instalados. No entanto, o investimento neste incremento de

350MWh na capacidade da linha teria um impacto negativo no excedente social, já que este teria uma

variação negativa, como patente na tabela anterior. Assim, como seria de esperar, o contínuo

68

incremento da capacidade instalada na linha de transmissão (até à ocorrência de market splitting),

permite estabelecer as mesmas conclusões retiradas para os incrementos de 50 e 100MWh.

A diminuição do excedente social é resultado da variação negativa do excedente dos consumidores

portugueses, do excedente dos produtores espanhóis, bem como do aumento dos custos de

investimento. Por outro lado, devido à igualdade de preços nodais, ocorre a anulação das rendas de

congestionamento, contribuindo também para a redução do excedente social.

5.6.1.4. Período de Vazio de Inverno

De forma a caracterizar o período de vazio de Verão, seleccionou-se o dia 09/01/2014, à hora 08,

verificando-se o diagrama de carga da Figura 5.14., onde se obtêm informações relativas aos preços

da energia, bem como ao total de energia do sistema. Neste sentido, como resultado do

congestionamento na transmissão e consequente market splitting, os preços nodais de Portugal e

Espanha são de 26.45 €/MWh e 44.17 €/MWh, respectivamente. Observa-se, também, que a energia

total transaccionada no sistema foi de 23469.8MWh.

Figura 5.14. – Preço horário do mercado diário, vazio de Inverno, Portugal – Espanha [65]

Na Figura 5.15., encontram-se os valores horários da capacidade de interligação dos dois países,

sendo que se verificou um limite de capacidade de 1900MWh na interligação. Tal como esperado, a

utilização da interligação foi de 100%, sendo que o sentido do fluxo foi observado de Portugal para

Espanha.

69

Figura 5.15. – Utilização da capacidade de interligação, vazio de Inverno, Portugal – Espanha [65]

As curvas agregadas da oferta e procura, para o período em estudo, encontram-se representadas

nas Figuras 5.16. e 5.17, respectivamente, para Portugal e Espanha. Uma vez mais, os preços nodais

foram estabelecidos com base nas curvas casadas da oferta e da procura, pelos motivos

sobejamente justificados nos casos anteriores.

Figura 5.16. – Curvas agregadas da oferta e procura, para Portugal, vazio de Inverno [65]

Figura 5.17. – Curvas agregadas da oferta e procura, para Espanha, vazio de Inverno [65]

70

A informação obtida nos gráficos das figuras anteriores foi devidamente tratada, encontrando-se

sintetizada na Tabela 5.14., para posterior utilização em simulação, à semelhança dos restantes

períodos estudados.

Tabela 5.14. – Dados para simulação, vazio de Inverno, Portugal – Espanha

Vazio de Inverno (09/01/2014 – hora 08)

Energia

Negociada

(MWh)

Preço Capacidade de Transporte

%

Ocupação

Sentido do

Fluxo Portugal

(€/MWh)

Espanha

(€/MWh)

Disponível

(MWh)

Ocupada

(MWh)

23469.8 26.45 44.17 1900 1900 100% PTES

Considerando os dados recolhidos e simulando o sistema com o limite de capacidade fixado nos

1900MWh, obtêm-se os resultados patentes na Tabela 5.15..

Tabela 5.15. – Resultados obtidos para 1900MWh, vazio de Inverno, Portugal – Espanha

País

Portugal Espanha

Resu

ltad

os

Preço [€/MWh] 32.6 40.7

Excedente dos consumidores [€] 506843.2 1308887.9

Excedente dos produtores [€] 142596.8 342766.0

Excedente nodal [€] 649440.0 1651653.9

Benefícios globais do sistema [€] 2301093.8

Rendas de congestionamento [€] 15449.4

Investimento em transmissão [€] 0

Excedente económico-social [€] 2316543.2

Procura [MWh] 6860.9 18750.1

Oferta [MWh] 8760.9 16850.1

Observa-se que existe uma ocupação total da capacidade de transmissão disponível, sendo o fluxo

de energia no sentido Portugal – Espanha. O preço da energia em Portugal é de 32.6€/MWh e em

Espanha, o preço é de 40.7€/MWh.

71

Por outras palavras, em Espanha, o transporte de 1900MWh, permite satisfazer a procura de

18750.1MWh, com uma produção de 16850.1MWh. O défice energético é colmatado com os

1900MWh provenientes de Portugal.

Por outro lado, em Portugal, são produzidos 8760.9MWh, que satisfazem a procura de 6860.9MWh e

ainda permitem exportar 1900MWh para Espanha.

Os resultados obtidos nas segunda e terceira simulações, incrementando em 50 e 100MWh o valor

estabelecido no status quo – são os expostos na Tabela 5.16.

Tabela 5.16. – Impacto da incrementação da capacidade de transmissão, vazio de Inverno, Portugal – Espanha

Status Quo Valores Incrementados

1900 MWh 1950 MWh 2000 MWh

País

Resu

ltad

os

Preço [€/MWh] Portugal 32.6 32.7 32.9

Espanha 40.7 40.6 40.5

Excedente dos

consumidores [€]

Portugal 506843.2 505756.7 -1086.5 504671.3 -2171.9

Espanha 1308887.9 1310597.7 1709.8 1312308.7 3420.8

Excedente dos

produtores [€]

Portugal 142596.8 143988.3 1391.5 145386.5 2789.7

Espanha 342766.0 341231.6 -1534.4 339700.7 -3065.3

Excedente social [€] 2316543.2 2316443.5 -99.7 2316331.4 -211.8

Capacidade Utilizada [MWh] 1900 1950 2000

Rendas de Congestionamento [€] 15449.4 15369.2 -80.2 15264.1 -185.3

Como é possível observar na Tabela 5.16., com o aumento da capacidade de transmissão, ocorre um

decréscimo do excedente social. Esta variação deve-se, sobretudo, à variação negativa o excedente

dos consumidores portugueses, do excedente dos produtores espanhóis, assim como ao acréscimo

de custos de investimento. Por outro lado, as rendas de congestionamento verificadas com os

incrementos de capacidade diminuem, reflectindo-se negativamente o excedente social. Com efeito,

para um incremento de 50MWh na capacidade da linha, observa-se uma diminuição do excedente

social em 99.7€; já num incremento de 100MWh, assiste-se a uma diminuição do excedente em

211.8€.

Continuando a incrementar a capacidade, verifica-se a extinção de market splitting quando a

capacidade instalada é de 3550MWh, com uma utilização de 3528.8MWh. Os dados obtidos para

estes valores de capacidade são aqueles constantes na Tabela 5.17.

72

Tabela 5.17. – Impacto da incrementação da capacidade até extinção de market splitting, vazio de Inverno, Portugal – Espanha

Status Quo Valores Incrementados

1900 MWh

3550 MWh

País

Re

su

lta

do

s

Preço [€/MWh] Portugal 32.6 37.7

Espanha 40.7 37.7

Excedente dos

consumidores [€]

Portugal 506843.2 472048.8 -34797.4

Espanha 1308887.9 1365162.9 56275.0

Excedente dos

produtores [€]

Portugal 142596.8 191401.6 48804.8

Espanha 342766.0 294552.1 -48213.9

Excedente social [€] 2316543.2 2306665.3 -9877.9

Capacidade Utilizada [MWh] 1900 3528.8

Rendas de Congestionamento [€] 15449.4 0

Com base nos dados da simulação, e tal como evidencia a Tabela 5.17., apenas se verifica a

extinção da separação de mercados – e consequente anulação das rendas de congestionamento –

quando a capacidade instalada na linha toma o valor de 3550MWh. Neste ponto, os preços nodais

igualam o valor de 37.7€, verificando-se uma ocupação de 3528.8MWh dos 3550MWh instalados. No

entanto, o investimento neste incremento de 1650MWh à capacidade da linha revela ter um impacto

negativo no excedente social, já que este evidencia uma variação negativa.

A diminuição do excedente social resulta da variação negativa do excedente dos consumidores

portugueses, do excedente dos produtores espanhóis, assim como do aumento dos custos de

investimento. Tal como sobejamente mencionado, devido à igualdade de preços nodais, ocorre a

anulação das rendas de congestionamento, contribuindo também de forma significativa para a

redução do excedente social.

5.6.1.5. Análise de Resultados

Nesta subsecção analisam-se os dados das subsecções anteriores, sistematizando as conclusões

retiradas para cada uma das datas representativas dos períodos de ponta e vazio de Verão e de

Inverno.

Para cada uma das datas e horas seleccionadas, registou-se a ocorrência de congestionamento na

interligação entre os nós português e espanhol.

Simulando o sistema com recurso às curvas de oferta e procura aproximadas às curvas reais – isto é,

aplicando o algoritmo de optimização do sistema – verificou-se a ocorrência de congestionamento em

três das datas em estudo. Teoricamente, no ponto óptimo de funcionamento do sistema, não existiria

congestionamento. No entanto, tal como expresso nos fundamentos do modelo aplicado, este não

73

optimiza o bem-estar social recorrendo à diminuição dos custos de produção do sistema, mas sim

através da maximização do excedente económico-social. Este excedente é obtido pela soma dos

excedentes dos produtores e consumidores com as rendas de congestionamento, a que se subtraem

os custos de investimento. Assim sendo, e considerando as limitações do modelo, o ponto óptimo do

sistema – correspondente à maximização do bem-estar social – pode ser obtida sem a extinção total

do congestionamento da linha de transmissão.

A utilização deste modelo implica, então, a maximização dos excedentes dos consumidores e

produtores, bem como das rendas de congestionamento associadas à linha, e dos custos de

investimento. Por outras palavras, a aplicação deste modelo procura um ponto óptimo de

funcionamento, onde o bem-estar social seja máximo, isto é, onde todas as partes envolvidas sejam

beneficiadas, independentemente de se tratar de produtores, consumidores ou o TSO.

Com o intuito de beneficiar, especificamente, uma das várias partes envolvidas num investimento em

transmissão eléctrica, H.Chao e R.Wilson estabelecem, em [3], diferentes modelos daquele aplicado

neste caso – o Efficient System Plan.

Para o modelo aplicado, e com base nos resultados obtidos através da simulação, procede-se a uma

análise qualitativa da distribuição de benefícios associados a incrementos na capacidade de

transmissão eléctrica na interligação.

No período de ponta de Verão, o limite da capacidade de transmissão foi de 1900MWh e conduziu ao

congestionamento da rede. Assim, no dia 17 de Julho, à hora 13, Portugal importou energia, sendo

Espanha o país exportador. No entanto, tal como mencionado anteriormente, o ponto óptimo obtido

pela simulação do sistema indica que a utilização da capacidade de interligação não deveria ter sido

total, mas sim de apenas 1159.6MWh. Ao que tudo indica, a utilização deste algoritmo de optimização

resolveria o problema de congestionamento, pelo que incrementar a capacidade de transmissão iria,

somente, aumentar os custos de investimento e, consequentemente, diminuis o excedente

económico-social.

No que diz respeito ao período de vazio de Verão, o trânsito de energia foi realizado, novamente, no

sentido de Espanha para Portugal, verificando-se um fluxo de 350MWh, com ocupação de 100% da

interligação. Nestas circunstâncias, Portugal classifica-se como nó importador e Espanha como nó

exportador de energia. Com o incremento do limite da capacidade de interligação entre os dois

países, os maiores beneficiários são os produtores espanhóis e os consumidores portugueses. Em

oposição, os produtores portugueses e os consumidores espanhóis assistem à redução dos seus

excedentes. Em termos globais, o excedente económico-social aumenta em 61.0€ e 109.4€, com os

incrementos de 50 e 100MWh, respectivamente. Este aumento é explicado, sobretudo, pela variação

positiva das rendas de congestionamento, do excedente dos consumidores portugueses e do

excedente dos produtores espanhóis. Através das simulações com incrementos sucessivos à

capacidade limite, verifica-se que deixa de ocorrer separação de mercados aos 2600MWh de

capacidade instalada, com uma utilização de 2593.0MWh. No entanto, o excedente-social diminui

com este investimento, uma vez que se verifica a anulação das rendas de congestionamento e,

74

portanto, os benefícios recolhidos pelos participantes passa a ser menor do que os custos totais dos

investimentos em nova capacidade.

Por outro lado, no período de ponta de Inverno, verificou-se um trânsito de energia no sentido de

Portugal para Espanha. A capacidade de interligação foi de 2000MWh e a sua ocupação foi total.

Nesta situação, classifica-se Portugal como o nó exportador e Espanha como o nó importador. Os

resultados obtidos por simulação do modelo de optimização indicam que os incrementos de 50 e

100MWh na interligação conduzem a variações negativas do excedente económico-social. Com

efeito, a variação negativa do excedente dos consumidores do nó exportador e do excedente dos

produtores no nó importador, bem como o incremento dos custos de investimento, superam as

variações positivas dos benefícios recolhidos pelos restantes participantes, conduzindo a um

decréscimo do bem-estar social. Por outro lado, a diminuição das rendas de congestionamento tem,

também, um grande impacto na variação negativa do excedente económico-social, contribuindo ainda

para esta variação. Incrementando a capacidade até aos 2350MWh, verifica-se que deixa de ocorrer

market splitting, sendo utilizados apenas 2342.1MWh. No entanto, e tal como expectável, o

investimento neste incremento de 350MWh continuaria a surtir um impacto negativo no excedente

social.

Finalmente, no período de vazio de Inverno, regista-se um trânsito de energia de 1900MWh, com o

sentido de Portugal para Espanha. Este fluxo de energia corresponde à utilização total da capacidade

de interligação e, consequentemente, à existência de congestionamento. Uma vez mais, o nó

importador foi Espanha e o exportador foi Portugal. À semelhança do caso anterior, o incremento da

capacidade de transmissão – seja em 50MWh, em 100MWh ou até à extinção de market splitting –

teria efeitos negativos do ponto-de-vista do bem-estar social. Com efeito, verifica-se um decréscimo

do excedente económico-social, sobretudo, devido à variação negativa do excedente dos

consumidores portugueses e do excedente dos produtores espanhóis. Por outro lado, o acréscimo

dos custos de investimento em nova capacidade de transmissão, assim como o decréscimo das

rendas de congestionamento – e a sua anulação, no caso da não existência de market splitting, aos

3550MWh – também contribuem de forma significativa para estar variação negativa do excedente

económico-social. Assim, conclui-se que os benefícios recolhidos pelos intervenientes neste processo

não seria suficiente para superar os custos totais do investimento em nova capacidade, conduzindo a

uma redução do bem-estar social.

5.6.1.6. Análise Comparativa

Nesta subsecção analisam-se os dados obtidos nas subsecções anteriores, de forma comparativa

com aqueles obtidos por R.Costa, em [2]. A análise dos resultados deste trabalho e de [2] será feita,

separadamente, para os períodos de ponta e vazio de Verão e de Inverno.

Em ambos os trabalhos, para cada uma das datas e horas seleccionadas, registou-se a ocorrência de

congestionamento na interligação entre os nós português e espanhol.

75

No período de ponta de Verão, em ambos os casos, o fluxo energético ocorre no sentido de Espanha

para Portugal. No caso de [2], regista-se um aumento do bem-estar social, com o incremento da

capacidade de interligação entre os dois países, pelo que R.Costa conclui que os consumidores

portugueses, em conjunto com os produtores espanhóis são os principais beneficiados com o

investimento em nova capacidade de interligação. No entanto, para o mesmo período, neste trabalho

a conclusão é diferente: simulando o sistema, o ponto óptimo obtido indica que não deveria ter

ocorrido separação de mercados e, portanto, congestionamento da rede. Assim sendo, qualquer

investimento na interligação conduziria, unicamente, ao decréscimo do excedente económico-social

e, por isso, iria lesar todos intervenientes no processo.

No que diz respeito ao período de vazio de Verão, uma vez mais, o fluxo energético é coincidente, em

ambos os trabalhos, com o sentido de Espanha para Portugal. De igual modo, tanto em [2] como na

presente investigação, se conclui que os maiores beneficiados com um incremento da capacidade de

interligação seriam os produtores espanhóis e os consumidores portugueses, que veriam os

respectivos excedentes aumentar. No entanto, em termos de excedente económico-social, em [2],

assiste-se a uma variação negativa, tornando injustificado o investimento na interligação, do ponto-

de-vista do bem-estar social. Já neste trabalho os resultados apontam noutro sentido: um incremento

na capacidade de transmissão entre os dois países iria trazer benefícios aos intervenientes,

aumentando o excedente económico-social.

Quanto ao período de ponta de Inverno, em [2] as conclusões apontam para uma utilização

injustificada da totalidade da interligação. Com efeito, R.Costa conclui que o ponto óptimo obtido não

corresponderia a uma utilização de 100% da capacidade e que, por isso mesmo, os investimentos em

incremento desta capacidade apenas iriam lesar os participantes, já que o aumento dos custos de

investimento iria superar os benefícios recolhidos por todas as partes, conduzindo à redução do

excedente económico-social. Neste trabalho, as simulações obtidas apontam noutro sentido, mas as

conclusões referentes ao investimento são coincidentes. Isto é, com os incrementos de 50 e 100MWh

na capacidade de interligação, verifica-se que o excedente dos consumidores no nó importador e o

excedente dos produtores no nó exportador aumentam, beneficiando, assim, os consumidores

espanhóis e os produtores portugueses. Não obstante, assiste-se a uma redução do excedente

económico-social, já que a variação negativa do excedente dos consumidores no nó exportador e do

excedente dos produtores no nó importador – bem como o incremento dos custos de investimento e o

decremento das rendas de congestionamento – superam as variações positivas dos benefícios

recolhidos pelos restantes participantes, conduzindo a um decréscimo do bem-estar social.

Finalmente, no que concerne ao período de vazio de Inverno, R.Costa conclui que o fluxo energético

toma o sentido de Espanha para Portugal, em oposição ao analisado nesta investigação, onde

Portugal corresponde ao nó exportador de energia e Espanha ao nó importador. Em [2], as

conclusões apontam, uma vez mais, para o aumento dos excedentes dos produtores portugueses e

dos consumidores espanhóis, tornando-os como principais beneficiados num investimento na

interligação entre os dois países. A investigação levada a cabo neste trabalho leva a concluir que o

incremento da capacidade de transmissão teria efeitos negativos do ponto-de-vista do bem-estar

76

social, diminuindo, por isso, o excedente económico-social. Por outro lado, do ponto-de-vista de

consumidores e produtores, regista-se que este investimento beneficiaria os produtores portugueses,

assim como os consumidores espanhóis, que veriam os respectivos excedentes aumentar. No

entanto – e à semelhança do caso anterior – os benefícios recolhidos pelos restantes intervenientes

não seriam suficientes para cobrir as variações negativas verificadas, tornando o investimento

inviável do ponto-de-vista social.

Em termos globais, verifica-se que o aumento da capacidade de transmissão tem um impacto positivo

nos produtores do nó exportador e nos consumidores do nó importador. Em oposição, o excedente

dos consumidores no nó exportador e o excedente dos produtores no nó importador diminuem. Este

facto concluir que há consonância com a conclusão retirada em [2], apesar da dissemelhança de

dados e resultados entre R.Costa e o presente trabalho.

5.6.2. Resultados do Troço Espanha – França

De seguida, apresentam-se os resultados obtidos por simulação do modelo de optimização, para os

períodos de ponta e vazio, de Verão e Inverno, para a interligação Espanha – França. Daí serão

retiradas conclusões relativas à distribuição de impactos resultantes de um investimento.

Para caracterização e análise da interligação entre os nós espanhol e francês, utilizou-se um

processo semelhante àquele empregue no troço Portugal-Espanha. No entanto, dada a escassez de

dados fornecidos pelo EPEXSpot, - mercado francês de electricidade – recorreu-se, maioritariamente,

aos dados disponibilizados pelo IESOE – Electricity Interconnection in South-Western Europ,

plataforma que disponibiliza os dados referentes às interligações do sudoeste europeu.

Nas subsecções que se seguem – além da exposição e discussão dos resultados obtidos por

simulação – apresentam-se os preços nodais da energia, para os dias e horas seleccionados, tal

como o sentido do fluxo de energia e a capacidade da linha, segundo dados recolhidos em [67].

Quanto às curvas agregadas de oferta e procura, para cada um dos nós, há a referir o seguinte: para

o nó francês, as curvas foram obtidas com recurso a [67]; por seu lado, para o nó espanhol,

obtiveram-se as curvas agregadas recorrendo ao OMIE. Como referido anteriormente, dada a

escassez de dados fornecidos para as transacções energéticas entre estes dois países, e embora se

saiba, à partida, que estas curvas não correspondem exactamente às curvas reais de procura e oferta

entre Espanha e França, admite-se que, para as datas seleccionados, a oferta e procura espanholas,

neste mercado, têm um comportamento semelhante ao observado no mercado ibérico.

Note-se que, nos dados recolhidos para as capacidades de cada um dos nós constituintes desta

interligação, existe uma grande discrepância na energia disponível para compra e venda, entre

Espanha e França. Esta diferença de MWh deve-se ao facto de a pool Ibérica ser quase obrigatória,

ao passo que, em França, grande parte da energia é vendida segundo contratos bilaterais, sendo

apenas a remanescente vendida na pool.

77

5.6.2.1. Período de Ponta de Verão

O dia 30 de Julho de 2014, à hora 13, caracteriza o período de ponta de Verão. Os preços nodais da

energia, assim como o sentido do spread, encontram-se ilustrados na Figura 5.18..

Figura 5.18. – Preço horário do mercado diário, ponta de Verão, Espanha – França [67]

Como é possível verificar pela Figura anterior, à hora 13, observam-se preços nodais diferentes para

Espanha e França, correspondendo a 55.96€ no nó espanhol e 35.91€ no nó francês. Esta diferença

de preços nodais indica que ocorreu market splitting. O congestionamento inerente a este fenómeno

– isto é, uma ocupação de 100% da capacidade da linha de transmissão – encontra-se ilustrado na

Figura 5.19..

Figura 5.19. – Utilização da capacidade de interligação, ponta de Verão, Espanha – França [67]

78

Na Figura 5.20. é possível observar que, para a hora e dia em estudo, a capacidade da linha foi de

1000MWh, sendo que o fluxo tomou o sentido França – Espanha.

Figura 5.20. – Saldo e sentido do fluxo energético, ponta de Verão, Espanha – França [67]

As curvas agregadas da oferta e procura, referentes ao dia 30 de Julho de 2014, à hora 13, são

aquelas constantes nas Figuras 5.21. e 5.22.. Na primeira, encontram-se as curvas alusivas ao nó

espanhol, obtidas pelo OMIE, segundo os trâmites descritos anteriormente. Na segunda figura,

encontram-se as curvas relativas ao nó francês, onde a laranja corresponde a curva da compra de

energia e a cinzento a curva de venda.

Figura 5.21. – Curvas agregadas da oferta e procura, para Espanha, ponta de Verão [65]

79

Figura 5.22. – Curvas agregadas da oferta e procura, para França, ponta de Verão [68]

Com base nos dados recolhidos e anteriormente expostos, sintetizou-se a informação relevante, que

agora se apresenta na Tabela 5.18..

Tabela 5.18. – Dados para simulação, ponta de Verão, Espanha – França

Ponta de Verão (30/07/2014 – hora 13)

Preço Capacidade de Transporte

% Ocupação Sentido do

Fluxo Espanha

(€/MWh)

França

(€/MWh)

Disponível

(MWh)

Ocupada

(MWh)

55.96 35.91 1000 1000 100% FRES

Seguindo o método já conhecido, simulou-se o modelo. A capacidade foi fixada nos 1000MWh, e

obtiveram-se os resultados da Tabela 5.19.. Estes valores estabelecem o status quo do sistema e

servirão como termo de comparação aos incrementos na capacidade de interligação.

80

Tabela 5.19. – Resultados obtidos para 1000MWh, ponta de Verão, Espanha – França

País

Espanha França

Resu

ltad

os

Preço [€/MWh] 54.7 39.0

Excedente dos consumidores [€] 2022882.8 647644.0

Excedente dos produtores [€] 853449.2 198133.7

Excedente nodal [€] 2876332.0 845777.7

Benefícios globais do sistema [€] 3722109.7

Rendas de congestionamento [€] 15709.8

Investimento em transmissão [€] 0

Excedente económico-social [€] 3737819.5

Procura [MWh] 32210.2 9165.8

Oferta [MWh] 31210.2 10165.8

Neste caso, verifica-se um limite de linha de 1000MWh. A capacidade de transmissão encontra-se

completamente esgotada, tal como acontece na realidade. Este trânsito de energia ocorre no sentido

França–Espanha. Conclui-se, assim, que em Espanha o transporte de 1000MWh satisfaz a procura

de 32210.2MWh, com uma produção de 31210.2MWh, colmatando o défice energético com a energia

importada de França. Por outro lado, em França, são produzidos 10165.8MWh, que permitem

satisfazer a procura de 9165.8MWh e exportar 1000MWh para Espanha. Quanto aos preços nodais

da energia, em Espanha o preço é superior ao francês: 54.7 € em Espanha e 39.0 € em França.

Estabelecido o status quo, procedeu-se às simulações relativas aos incrementos de 50 e 100MWh no

limite da capacidade de transmissão. Os resultados obtidos são os constantes na Tabela 5.20..

Tabela 5.20. – Impacto da incrementação da capacidade de transmissão, ponta de Verão, Espanha – França

Status Quo Valores Incrementados

1000 MWh 1050 MWh 1100 MWh

País

Resu

ltad

os

Preço [€/MWh] Espanha 54.7 54.6 54.6

França 39.0 39.1 39.3

Excedente dos

consumidores [€]

Espanha 2022882.8 2024830.4 1947.6 2026779.0 3896.2

França 647644.0 646237.4 -1406.6 644832.4 -2811.6

Excedente dos

produtores [€]

Espanha 853449.2 851563.6 -1885.6 849680.0 -3769.2

França 198133.7 199697.7 1564.0 201267.7 3134.0

Excedente social [€] 3737819.5 3738099.7 280.2 3738369.1 549.6

Capacidade Utilizada [MWh] 1000 1050 1100

Rendas de Congestionamento [€] 15709.8 16270.6 560.8 16810.0 1100.2

81

Atentando nos resultados da tabela anterior, pode-se concluir que os incrementos de 50 e 100MWh

no limite da linha de transmissão conduzem a um aumento da energia transitada entre os dois países.

Com efeito, e apesar destes incrementos, regista-se uma ocupação de 100% da interligação, em

ambos os casos, sendo que o fluxo é observado no sentido de França para Espanha. O aumento da

capacidade de transmissão traduz-se num incremento de produção no nó francês, com

consequências nos custos de produção, reflectindo-se negativamente no preço nodal deste país. Já

no caso espanhol, uma vez que se encontra maior quantidade de energia disponível em França,

assiste-se a uma diminuição dos custos de produção e, portanto, no preço nodal. Os incrementos no

limite da capacidade de transmissão reflectem-se no aumento do excedente económico-social, tal

como objectiva o modelo em estudo. Assim, verifica-se que este valor é incrementado em 280.2€ aos

1050MWh e 549.6€ aos 1100MWh. Este aumento deve-se à variação positiva das rendas de

congestionamento, do excedente dos consumidores no nó importador e do excedente dos produtores

no nó exportador (França). Em oposição, os produtores espanhóis, bem como os consumidores

franceses, sofrem uma redução dos respectivos excedentes.

Após a análise de impactos associados aos incrementos de 50 e 100MWh na capacidade limite

estabelecida pelo status quo, procedeu-se aos incrementos sucessivos de 50MWh até se observar a

extinção de market splitting. Os resultados obtidos encontram-se esquematizados na Tabela 5.21..

Tabela 5.21. – Impacto da incrementação da capacidade até extinção de market splitting, ponta de Verão, Espanha – França

Status Quo Valores Incrementados

1000 MWh

4700 MWh

País

Resu

ltad

os

Preço [€/MWh] Espanha 54.7 50.3

França 39.0 50.3

Excedente dos

consumidores [€]

Espanha 2022882.8 2168355.2 145472.4

França 647644.0 548449.2 -99194.8

Excedente dos

produtores [€]

Espanha 853449.2 720599.9 -132849.3

França 198133.7 329288.0 131154.3

Excedente social [€] 3737819.5 3729652.3 -8167.2

Capacidade Utilizada [MWh] 1000 4670.7

Rendas de Congestionamento [€] 15709.8 0

Simulando o sistema até extinção de market splitting, verifica-se que este fenómeno deixa de ser

observad aos 4700MWh de capacidade instalada, com uma utilização de 4670.7MWh. Aqui, verifica-

se uma igualdade de preços nodais aos 50.3€. Observa-se que os consumidores espanhóis, tal como

os produtores franceses continuam a incrementar os seus excedentes. No entanto, o excedente

económico-social sofre uma variação negativa de 8167.2€ devido, sobretudo, à anulação das rendas

82

de congestionamento e aos custos elevados de investimento na linha. Para este caso, o incremento

de 3700MWh na capacidade limite não será vantajosa do ponto de vista do bem-estar social.

5.6.2.2. Período de Vazio de Verão

O dia 21 de Junho de 2014, à hora 07, representa o período de vazio de Verão. Segundo os dados

recolhidos, ocorre market splitting na interligação Espanha–França, registando-se os preços de

46.58€ no nó espanhol e 16.88€ no nó Francês. Na Figura 5.23 encontram-se estes dados.

Figura 5.23. – Preço horário do mercado diário, vazio de Verão, Espanha – França [67]

A diferença de preços nodais observada indica a separação de mercados. O congestionamento

inerente a este encontra-se ilustrado na Figura 5.24..

Figura 5.24. – Utilização da capacidade de interligação, vazio de Verão, Espanha – França [67]

Na Figura 5.25. observa-se uma capacidade da linha de de 700 MWh, com sentido França–Espanha.

83

Figura 5.25. – Saldo e sentido do fluxo energético, vazio de Verão, Espanha – França [67]

As curvas agregadas da oferta e procura, referentes ao dia 21 de Junho de 2014, à hora 07, são

aquelas constantes nas Figuras 5.26. e 5.27.. Na primeira, encontram-se as curvas alusivas ao nó

espanhol e, na segunda, encontram-se as curvas relativas ao nó francês, onde a laranja corresponde

a curva da compra de energia e a cinzento a curva de venda.

Figura 5.26. – Curvas agregadas da oferta e procura, para Espanha, vazio de Verão [65]

Figura 5.27. – Curvas agregadas da oferta e procura, para França, vazio de Verão [68]

84

Com base nos dados recolhidos e anteriormente expostos, sintetizou-se a informação relevante, que

agora se apresenta na Tabela 5.22..

Tabela 5.22. – Dados para simulação, vazio de Verão, Espanha – França

Vazio de Verão (21/06/2014 – hora 07)

Preço Capacidade de Transporte

%

Ocupação

Sentido do

Fluxo Espanha

(€/MWh)

França

(€/MWh)

Disponível

(MWh)

Ocupada

(MWh)

46.58 16.88 700 700 100% FRES

Seguindo o método já conhecido simulou-se o modelo, fixando a capacidade de transmissão nos

700MWh. Oss resultados obtidos através da optimização são os constantes na Tabela 5.23.. Note-se

que estes valores estabelecem o status quo do sistema e irão servir como termo de comparação para

efeitos de incremento na capacidade de interligação entre os dois países agora em estudo.

Tabela 5.23. – Resultados obtidos para 700MWh, vazio de Verão, Espanha – França

País

Espanha França

Resu

ltad

os

Preço [€/MWh] 45.2 18.4

Excedente dos consumidores [€] 1286480.0 562940.6

Excedente dos produtores [€] 414832.3 70441.9

Excedente nodal [€] 1701312.3 633382.4

Benefícios globais do sistema [€] 2334694.7

Rendas de congestionamento [€] 18769.6

Investimento em transmissão [€] 0

Excedente económico-social [€] 2353464.3

Procura [MWh] 19047.7 6954.5

Oferta [MWh] 18347.7 7654.5

No período em análise, regista-se um limite na capacidade de interligação de 700MWh, sendo que

esta se encontra completamente esgotada, tal como acontece na realidade. Este trânsito de energia é

observado no sentido França – Espanha.

Analisando os dados conclui-se que, em Espanha, o transporte de 700MWh possibilita satisfazer a

procura de 19047.7MWh, fazendo uso da produção de 18347.7MWh e colmatando o défice verificado

com a energia importada de França. Por outro lado, em França, são produzidos 7654.5MWh de

energia, satisfazendo a procura de 6954.5MWh e exportando 700MWh para Espanha.

85

Quanto aos preços nodais da energia, verifica-se em Espanha um preço superior ao francês, sendo

que estes tomam os valores de 45.2€ e 18.4€, respectivamente.

Considerando os dados da tabela 5.23. como correspondentes ao status quo do sistema, procedeu-

se às simulações relativas aos incrementos de 50 e 100MWh no limite da capacidade de transmissão.

Os resultados obtidos são os constantes na Tabela 5.24..

Tabela 5.24. – Impacto da incrementação da capacidade de transmissão, vazio de Verão, Espanha – França

Status Quo Valores Incrementados

700 MWh 750 MWh 800 MWh

País

Resu

ltad

os

Preço [€/MWh] Espanha 45.2 45.1 45.0

França 18.4 18.5 18.6

Excedente dos

consumidores [€]

Espanha 1286480.0 1288222.5 1742.5 1289966.1 3486.1

França 562940.6 562183.0 -757.6 561425.9 -1514.7

Excedente dos

produtores [€]

Espanha 414832.3 413156.1 -1676.2 411483.4 -3048.9

França 70441.9 71278.4 836.5 72120.0 1678.1

Excedente social [€] 2353464.3 2354300.0 835.7 2355125.6 1661.3

Capacidade Utilizada [MWh] 700 750 800

Rendas de Congestionamento [€] 18769.6 19959.9 1190.3 21130.3 2360.7

À semelhança daquilo que se observou no caso anterior, verifica-se que os incrementos de 50 e

100MWh no limite da linha de transmissão, conduzem a um aumento da energia transitada entre os

dois países, sendo que a ocupação da interligação se mantém nos 100%, em ambos os casos. O

fluxo energético é registado no sentido de França para Espanha.

Uma vez mais, o aumento da capacidade de transmissão manifesta-se num incremento de produção

no nó francês, com consequências nos custos de produção. Consequentemente, o preço nodal deste

país aumenta. Por outro lado, em Espanha, devido à maior quantidade de energia disponível no nó

vizinho, assiste-se a uma diminuição dos custos de produção e, portanto, do preço nodal. No que diz

respeito ao excedente económico-social, observa-se que, ao incrementar o limite da capacidade de

transmissão, este aumenta, cumprindo o objectivo do modelo de optimização aplicado. Com efeito,

assiste-se a um incremento de 835.7€ no excedente social, quando se incrementa em 50MWh o

limite da linha e um aumento de 1661.3€ quando o limite é incrementado em 100MWh. Este aumento

de excedente deve-se, sobretudo, à variação positiva das rendas de congestionamento, ao aumento

do excedente dos consumidores no nó importador (Espanha) e do excedente dos produtores no nó

exportador (França). Tal como se observou no período de ponta de Verão, os produtores espanhóis,

assim como os consumidores franceses assistem a uma redução dos respectivos excedentes.

86

Feita a análise de impactos decorrentes dos incrementos de 50 e 100MWh na capacidade limite

estabelecida, procedeu-se à incrementação sucessiva de 50MWh até à extinção de market splitting e,

portanto, até à extinção de congestionamento da rede. Os resultados obtidos encontram-se

esquematizados na Tabela 5.25..

Tabela 5.25. – Impacto da incrementação da capacidade até extinção de market splitting, vazio de Verão, Espanha – França

Status Quo Valores Incrementados

700 MWh

7400 MWh

País

Resu

ltad

os

Preço [€/MWh] Espanha 45.2 33.0

França 18.4 33.0

Excedente dos

consumidores [€]

Espanha 1286480.0 1530074.5 243594.5

França 562940.6 466116.5 -96824.1

Excedente dos

produtores [€]

Espanha 414832.3 220723.2 -194109.1

França 70441.9 226233.8 155791.9

Excedente social [€] 2353464.3 2376148.0 22683.7

Capacidade Utilizada [MWh] 700 7389.4

Rendas de Congestionamento [€] 18769.6 0

Nestas condições, verifica-se que a separação de mercados deixa de ser observada aos 7400MWh

de capacidade instalada, isto é, após um incremento de 6700MWh na capacidade de interligação. Tal

como seria de esperar, assiste-se a uma igualdade de preços nodais, sendo que estes tomam o valor

de 33.0€.

Nestas condições, verifica-se que os consumidores espanhóis, conjuntamente com os produtores

franceses, aumentam os respectivos excedentes. Em oposição, o excedente dos consumidores

franceses, assim como o excedente dos produtores espanhóis sofre uma variação negativa, de

96824.1€ e 194109.1€, respectivamente. No entanto, o excedente económico-social continua a

aumentar, mesmo após o incremento de 6700MWh na capacidade de interligação, sofrendo uma

variação positiva de 22683.7€. Assim sendo, do ponto-de-vista do bem-estar social, este seria um

investimento que continuaria a beneficiar todas as partes envolvidas.

5.6.2.3. Período de Ponta de Inverno

De forma a caracterizar o período de ponta de Inverno, seleccionou-se o dia 31 de Janeiro de 2014, à

hora 19. Considerando os dados recolhidos, observa-se a ocorrência de market splitting na

interligação Espanha – França e registam-se como preços nodais os valores de 46.00 € no nó

espanhol e 61.76 € no nó Francês. Na Figura 5.28. ilustram-se estes dados.

87

Figura 5.28. – Preço horário do mercado diário, ponta de Inverno, Espanha – França [67]

A diferença de preços nodais evidencia a separação de mercados, assim como o congestionamento

da rede, tal como ilustrado na Figura 5.29., onde está patente a ocupação de 100% da interligação

entre Espanha e França, à hora 19, do dia 31 de Janeiro de 2014.

Figura 5.29. – Utilização da capacidade de interligação, ponta de Inverno, Espanha – França [67]

Na Figura 5.30. é possível observar que, para a hora e dia em estudo, a capacidade de interligação

entre os dois países foi de 1000MWh, sendo que o fluxo tomou o sentido Espanha – França.

Figura 5.30. – Saldo e sentido do fluxo energético, ponta de Inverno, Espanha – França [67]

88

Nas Figuras 5.31. e 5.32. encontram-se as curvas agregadas da oferta e procura. Na primeira,

encontram-se as curvas espanholas e, na segunda, as curvas francesas.. Recorde-se que estas

curvas irão servir como base para estabelecimento das curvas de demand e supply de cada nó da

rede, para a posterior análise inerente aos objectivos deste trabalho.

Figura 5.31. – Curvas agregadas da oferta e procura, para Espanha, ponta de Inverno [65]

Figura 5.32. – Curvas agregadas da oferta e procura, para França, ponta de Inverno [68]

Tendo como base os dados recolhidos e anteriormente expostos, sintetizou-se a informação

relevante, e que se apresenta na Tabela 5.26..

Tabela 5.26. – Dados para simulação, ponta de Inverno, Espanha – França

Ponta de Inverno (31/01/2014 – hora 19)

Preço Capacidade de Transporte

%

Ocupação

Sentido do

Fluxo Espanha

(€/MWh)

França

(€/MWh)

Disponível

(MWh)

Ocupada

(MWh)

46.00 61.76 1000 1000 100% ESFR

89

Uma vez mais, adoptou-se o método sobejamente descrito, e fixou-se a capacidade de transmissão

nos 1000MWh. Os resultados obtidos através da optimização são os constantes na Tabela 5.27..

Estes valores estabelecem o status quo do sistema e servirão como termo de comparação para

efeitos de incremento na capacidade de interligação entre os dois países em estudo.

Tabela 5.27. – Resultados obtidos para 1000MWh, ponta de Inverno, Espanha – França

País

Espanha França

Resu

ltad

os

Preço [€/MWh] 51.5 58.0

Excedente dos consumidores [€] 1496442.4 674132.7

Excedente dos produtores [€] 624701.9 290368.7

Excedente nodal [€] 2121144.3 964501.4

Benefícios globais do sistema [€] 3085645.7

Rendas de congestionamento [€] 6418.9

Investimento em transmissão [€] 0

Excedente económico-social [€] 3092064.6

Procura [MWh] 23243.2 11020.5

Oferta [MWh] 24243.2 10020.5

No período de ponta de Inverno, regista-se um limite na capacidade de interligação de 1000MWh,

sendo que esta se encontra completamente esgotada, tal como acontece na realidade.

Contrariamente ao observado nos casos anteriores, este trânsito de energia é observado no sentido

de Espanha para França.

Optimizando o sistema, verifica-se que, em França, a procura de 11020.5MWh é satisfeita pelos

10020.5MWh de energia produzida, em conjunto com a importação de 1000MWh provenientes de

Espanha. Já no nó espanhol, a produção de 24243.2MWh possibilita satisfazer a procura de

23243.2MWh desse país e colmatar o défice energético verificado em França. No que diz respeito

aos preços nodais da energia, regista-se um valor superior em França, face a Espanha, tomando os

valores de 58.0 € e 51.5 €, respectivamente.

Tendo os dados constantes na Tabela 5.27. como referência – isto é, o status quo do sistema –

procedeu-se às simulações relativas aos incrementos de 50 e 100MWh no limite da capacidade de

transmissão. Os resultados obtidos são os constantes na Tabela 5.28..

90

Tabela 5.28. – Impacto da incrementação da capacidade de transmissão, ponta de Inverno, Espanha – França

Status Quo Valores Incrementados

1000 MWh 1050 MWh 1100 MWh

País

Resu

ltad

os

Preço [€/MWh] Espanha 51.5 51.6 51.7

França 58.0 57.8 57.6

Excedente dos

consumidores [€]

Espanha 1496442.4 1494657.5 -1784.9 1492873.7 -3568.7

França 674132.7 676229.6 2096.9 678329.8 4197.1

Excedente dos

produtores [€]

Espanha 624701.9 626565.5 1863.6 628431.9 3730.0

França 290368.7 288466.6 -1902.1 286570.8 -3797.9

Excedente social [€] 3092064.6 3091878.9 -185.7 3091679.8 -384.8

Capacidade Utilizada [MWh] 1000 1050 1100

Rendas de Congestionamento [€] 6418.9 6459.6 40.7 6473.5 54.6

Segundo a Tabela 5.28., com o aumento da capacidade de transmissão, decresce o excedente

social. Esta variação deve-se, sobretudo, à variação negativa do excedente dos consumidores

espanhóis, do excedente dos produtores franceses e ao acréscimo de custos de investimento. Por

outro lado, as rendas de congestionamento verificadas com os incrementos de capacidade

aumentam, mas não de forma suficientemente expressiva para que o excedente social aumente. Com

efeito, para um incremento de 50MWh na capacidade, observa-se uma diminuição do excedente

social em 185.7€; já aos 100MWh, assiste-se a uma diminuição do excedente em 348.8€.

Incrementando de forma continua, em 50MWh, o limite da capacidade de interligação, é verificado

que deixa de ocorrer congestionamento da rede aos 2250MWh de capacidade instalada. Os dados

obtidos para esta simulação de capacidade são aqueles constantes na Tabela 5.29.

Tabela 5.29. – Impacto da incrementação da capacidade até extinção de market splitting, ponta de Inverno, Espanha – França

Status Quo Valores Incrementados

1000 MWh

2250 MWh

País

Resu

ltad

os

Preço [€/MWh] Espanha 51.5 53.4

França 58.0 53.4

Excedente dos

consumidores [€]

Espanha 1496442.4 1453818.5 -42623.9

França 674132.7 725457.8 51325.1

Excedente dos

produtores [€]

Espanha 624701.9 670283.2 45581.3

França 290368.7 246363.8 -44004.9

Excedente social [€] 3092064.6 3083423.3 -8641.3

Capacidade Utilizada [MWh] 1000 2202.3

Rendas de Congestionamento [€] 6418.9 0

91

Com base nos dados da simulação, e tal como evidencia a Tabela 5.29., a extinção de market

splitting – e consequente anulação das rendas de congestionamento – quando a capacidade

instalada na linha toma o valor de 2250MWh, ou seja, após um incremento de 1250MWh. Neste

ponto, os preços nodais igualam o valor de 53.4€, verificando-se uma ocupação de 2202.3MWh dos

2250MWh instalados. No entanto, o investimento neste incremento à capacidade da linha revela ter

um impacto negativo do ponto-de-vista do excedente social, já que este evidencia uma variação

negativa.

A diminuição do excedente social resulta da variação negativa do excedente dos consumidores

espanhóis, do excedente dos produtores franceses, assim como do aumento dos custos de

investimento. Tal como sobejamente mencionado, devido à igualdade de preços nodais, ocorre a

anulação das rendas de congestionamento, contribuindo também de forma significativa para a

redução do excedente social.

5.6.2.4. Período de Vazio de Inverno

Para o período de ponta de Inverno, o dia 14 de Janeiro de 2014, à hora 08, foi o seleccionado.

Considerando os dados recolhidos, observa-se a ocorrência de market splitting na interligação

Espanha – França e registam-se como preços nodais os valores de 25.00 € no nó espanhol e 60.09 €

no nó Francês. Na Figura 5.33. ilustram-se estes dados.

Figura 5.33. – Preço horário do mercado diário, vazio de Inverno, Espanha – França [67]

A diferença de preços nodais evidencia a separação de mercados, assim como o congestionamento

da rede, tal como ilustrado na Figura 5.34., onde está patente a ocupação de 100% da interligação

entre Espanha e França, à hora e dia estudados

92

Figura 5.34 – Utilização da capacidade de interligação, vazio de Inverno, Espanha – França [67]

Na Figura 5.35. é possível observar que, para o dia 14 de Janeiro de 2014, à hora 08, a capacidade

de interligação entre os dois países em análise foi de 1000MWh, sendo que o fluxo tomou o sentido

de Espanha para França.

Figura 5.35. – Saldo e sentido do fluxo energético, vazio de Inverno, Espanha – França [67]

Nas Figuras 5.36. e 5.37. encontram-se as curvas agregadas da oferta e procura, referentes ao dia e

hora em estudo. Na primeira, encontram-se as curvas alusivas ao nó espanhol e, na segunda,

encontram-se as curvas relativas ao nó francês, onde a laranja representa a curva da compra de

energia e a cinzenta a curva de venda.

Figura 5.36. – Curvas agregadas da oferta e procura, para Espanha, vazio de Inverno [65]

93

Figura 5.37. – Curvas agregadas da oferta e procura, para França, vazio de Inverno [68]

Considerando os dados recolhidos, sintetizou-se a informação relevante, que consta na Tabela 5.30..

Tabela 5.30. – Dados para simulação, vazio de Inverno, Espanha – França

Vazio de Inverno (14/01/2014 – hora 08)

Preço Capacidade de Transporte

%

Ocupação

Sentido do

Fluxo Espanha

(€/MWh)

França

(€/MWh)

Disponível

(MWh)

Ocupada

(MWh)

25.00 60.09 1000 1000 100% ESFR

Uma vez mais, adoptou-se o método descrito, e fixou-se a capacidade de transmissão nos 1000MWh.

Os resultados obtidos através da optimização são os constantes na Tabela 5.31.. Estes valores

estabelecem o status quo do sistema e servirão como termo de comparação para efeitos de

incremento na capacidade de interligação entre os dois países em estudo.

Tabela 5.31. – Resultados obtidos para 1000MWh, vazio de Inverno, Espanha – França

País

Espanha França

Resu

ltad

os

Preço [€/MWh] 29.7 42.3

Excedente dos consumidores [€] 526599.5 1278301.0

Excedente dos produtores [€] 118705.0 370973.5

Excedente nodal [€] 645304.5 1649274.5

Benefícios globais do sistema [€] 2294579.1

Rendas de congestionamento [€] 12624.2

Investimento em transmissão [€] 0

Excedente económico-social [€] 2307203.2

Procura [MWh] 6993.4 18529.8

Oferta [MWh] 7993.4 17529.8

94

No período de vazio de Inverno, regista-se um limite na capacidade de interligação de 1000MWh,

sendo que esta se encontra completamente esgotada, tal como acontece na realidade. À semelhança

do caso anterior, este trânsito de energia é registado no sentido de Espanha para França.

Optimizando o sistema, verifica-se que, em França, a procura de 18529.8MWh é satisfeita pelo

conjunto dos 17529.8MWh de energia produzida e da importação de 1000MWh provenientes de

Espanha. Já no nó espanhol, a produção de 7993.4MWh possibilita satisfazer a procura de

6993.4MWh desse país e colmatar o défice energético verificado em França. Quanto aos preços

nodais da energia, regista-se um valor superior em França, face a Espanha, tomando os valores de

42.3€ e 29.7€, respectivamente.

Estabelecido o status quo do sistema, procedeu-se à simulação do sistema, agora, com os

incrementos de 50 e 100MWh no limite da capacidade de transmissão. Os resultados obtidos são os

constantes na Tabela 5.32..

Tabela 5.32. – Impacto da incrementação da capacidade de transmissão, vazio de Inverno, Espanha – França

Status Quo Valores Incrementados

1000 MWh 1050 MWh 1100 MWh

País

Resu

ltad

os

Preço [€/MWh] Espanha 29.7 29.9 30.0

França 42.3 42.2 42.1

Excedente dos

consumidores [€]

Espanha 526599.5 525492.0 -1107.5 524385.7 -2213.8

França 1278301.0 1279990.8 1689.8 1281681.7 3380.7

Excedente dos

produtores [€]

Espanha 118705.0 119974.9 1269.9 121251.6 2546.6

França 370973.5 369377.1 -1596.4 367784.2 -3189.3

Excedente social [€] 2307203.2 2307328.2 125.0 2307440.7 237.5

Capacidade Utilizada [MWh] 1000 1050 1100

Rendas de Congestionamento [€] 12624.2 12993.3 369.1 13337.5 713.3

No período de vazio de Inverno, com o aumento da capacidade de transmissão, ocorre um acréscimo

do excedente social, associado ao aumento do excedente dos consumidores em França e do

excedente dos produtores em Espanha. Observa-se, ainda, que em ambos os casos, a capacidade

de interligação é completamente esgotada, tendo como consequência a variação positiva das rendas

de congestionamento, que contribui também para o aumento do excedente social. Assim, ao

incrementar em 50MWh o limite da linha de transmissão, observa-se um aumento de 125.0€ no

excedente social. Já uma capacidade de transmissão incrementada até aos 1100MWh produzirá um

excedente social superior ao observado no status quo, em 237.5€. Incrementando continuamente, em

50MWh, o limite da capacidade de interligação, até à extinção de congestionamento na rede, obtêm-

se os resultados constantes na Tabela 5.33..

95

Tabela 5.33. – Impacto da incrementação da capacidade até extinção de market splitting, vazio de Inverno, Espanha – França

Status Quo Valores Incrementados

1000 MWh

3550 MWh

País

Resu

ltad

os

Preço [€/MWh] Espanha 29.7 37.7

França 42.3 37.7

Excedente dos

consumidores [€]

Espanha 526599.5 472048.8 -54550.7

França 1278301.0 1365162.8 86861.8

Excedente dos

produtores [€]

Espanha 118705.0 191401.6 72696.6

França 370973.5 294552.1 -76421.4

Excedente social [€] 2307203.2 2297665.3 -9537.9

Capacidade Utilizada [MWh] 1000 3528.8

Rendas de Congestionamento [€] 12624.2 0

Verifica-se que a separação de mercados deixa de ser observada aos 3550MWh de capacidade

instalada. Aqui, verifica-se uma igualdade de preços nodais, tomando o valor de 37.7€. Observa-se

que os consumidores espanhóis, tal como os produtores franceses vêem os respectivos excedentes

diminuir. No entanto, os consumidores franceses, assim como os produtores espanhóis assistem a

um aumento dos respectivos excedentes.

No que diz respeito ao excedente económico-social, há a salientar uma variação negativa de 9537.9€

devido, sobretudo, à anulação das rendas de congestionamento e aos custos elevados de

investimento na linha. Verifica-se que, para este caso, o incremento de 2550MWh na capacidade

limite não será vantajosa do ponto de vista do bem-estar social, não contribuindo para um acréscimo

de benefícios para todas as partes envolvidas no investimento.

5.6.2.5. Análise de Resultados

Nesta subsecção, à semelhança do estudo da interligação Portugal – Espanha, analisam-se os dados

obtidos nas subsecções anteriores, sistematizando as conclusões retiradas para cada uma das datas

seleccionadas, representativas dos períodos de pico e vazio de Verão e de Inverno.

Para cada uma das datas e horas seleccionadas, registou-se a ocorrência de congestionamento na

interligação entre os nós espanhol e francês.

Aplicando o algoritmo de optimização do sistema, verificou-se a ocorrência de congestionamento na

rede, em todas as datas estudadas. Tal como explicado para a interligação Portugal – Espanha,

teoricamente, no ponto óptimo de funcionamento do sistema, não deveria ocorrer congestionamento;

no entanto, o modelo aplicado não optimiza o bem-estar social com recurso à diminuição dos custos

96

de produção do sistema, mas sim recorrendo à maximização do excedente económico-social. Como

este excedente se obtém através da soma dos excedentes dos produtores e consumidores com as

rendas de congestionamento, subtraindo os custos de investimento, a diminuição dos custos de

produção não é assegurada. Assim, o ponto óptimo do sistema pode ser obtido sem a extinção total

do congestionamento da linha de transmissão.

A aplicação deste modelo procura um ponto óptimo de funcionamento, onde o bem-estar social seja

máximo, isto é, onde todas as partes sejam beneficiadas.

Para o modelo aplicado, e com base nos resultados obtidos através da simulação, procede-se a uma

análise qualitativa da distribuição de benefícios associados a incrementos na capacidade de

transmissão eléctrica na interligação entre Espanha e França.

No período de ponta de Verão, o limite da capacidade de transmissão foi de 1000MWh e conduziu ao

congestionamento da rede. Assim, no dia 30 de Julho, à hora 13, Espanha importou energia, pelo que

França constitui o nó exportador. Os resultados das simulações relativas aos incrementos de 50 e

100MWh no limite da linha de transmissão evidenciam um aumento do excedente económico-social.

Particularizando para o caso dos consumidores e produtores de energia, regista-se um aumento do

excedente dos consumidores espanhóis e do excedente dos produtores franceses, evidenciando que

são estes os beneficiados pelo investimento na interligação. Incrementando sucessivamente o limite

da capacidade de interligação, verifica-se que deixa de ocorrer market splitting aos 4700MWh de

capacidade, com uma utilização de 4670.7MWh. Nestas circunstâncias, os consumidores espanhóis

conjuntamente com os produtores franceses continuam a ser os principais beneficiados pelo

investimento, vendo os respectivos excedentes aumentar. No entanto, numa perspectiva global,

verifica-se que este investimento não seria viável do ponto-de-vista do bem-estar social, uma vez que

o excedente económico-social assiste a uma variação negativa. Esta redução é explicada pelo facto

de os benefícios recolhidos pelos participantes ser inferior aos custos totais do investimento na nova

capacidade de interligação.

No período de vazio de Verão, à semelhança do caso anterior, o trânsito de energia foi realizado no

sentido de França para Espanha. O fluxo de 700MWh, com ocupação de 100% da interligação,

permitiu classificar o nó espanhol como importador e o nó francês como o exportador de energia.

Com o incremento do limite da capacidade de interligação entre os dois países, verificam-se como

maiores beneficiados no investimento os produtores franceses, em conjunto com os consumidores

espanhóis. O aumento dos respectivos excedentes, conjuntamente com a variação positiva das

rendas de congestionamento, conduz ao incremento do excedente económico-social. Através das

simulações com incrementos sucessivos à capacidade limite, verifica-se que deixa de ocorrer

separação de mercados aos 7400MWh de capacidade instalada. Nestas condições, os consumidores

espanhóis, conjuntamente com os produtores franceses, aumentam os respectivos excedentes,

tornando-se assim nos principais beneficiados com este investimento. Contrariamente ao que

acontecia no período de ponta de Verão, nestas circunstâncias, o excedente económico-social

97

continua a aumentar – mesmo após o incremento de 6700MWh na capacidade de interligação – o

que indica que este investimento traria benefícios do ponto-de-vista económico-social.

No que diz respeito ao período de ponta de Inverno, observou-se um trânsito de energia no sentido

de Espanha para França. A capacidade de interligação foi de 1000MWh e a sua ocupação foi total.

Nesta situação – e em oposição aos casos anteriores – classifica-se Espanha como o nó exportador

e França como o nó importador de energia. Os resultados da simulação indicam que os incrementos

de 50 e 100MWh na interligação conduzem a um decréscimo do excedente económico-social,

indicando que os benefícios recolhidos pelos participantes não são suficientes para cobrir os custos

totais dos investimentos em nova capacidade de transmissão. No entanto, assiste-se a um aumento

dos excedentes dos consumidores franceses e dos produtores espanhóis, evidenciando que estes

serão os principais beneficiados com o investimento. Incrementando a capacidade até aos 2250MWh,

verifica-se que deixa de ocorrer market splitting. No entanto, o investimento neste incremento revela

ter um impacto negativo do ponto-de-vista do excedente social, já que este sofre uma variação

negativa. Esta redução terá uma justificação consistente com aquela atribuída aos incrementos de 50

e 100MWh.

Finalmente, no período de vazio de Inverno, regista-se um trânsito de energia de 1000MWh, com

ocupação da totalidade da interligação. O sentido do fluxo é verificado de Espanha para França,

tornando uma vez mais Espanha no nó exportador e França no nó importador de energia. Os

incrementos de 50 e 100MWh no limite da capacidade de interligação evidenciam um acréscimo do

excedente económico-social, associado ao aumento das rendas de congestionamento, bem como à

variação positiva dos excedentes dos consumidores franceses e dos produtores espanhóis. Assim

sendo, conclui-se que seriam, uma vez mais, os consumidores do nó importador em conjunto com os

produtores do nó exportador, os beneficiados pelo investimento na interligação. Incrementando

continuamente, em 50MWh, o limite da capacidade de interligação, até à não- ocorrência de

congestionamento na rede, verifica-se que a separação de mercados deixa de ser observada aos

3550MWh de capacidade instalada. Nesta situação, os consumidores franceses, assim como os

produtores espanhóis assistem a um aumento dos respectivos excedentes, mantendo válidas as

conclusões retiradas para os incrementos de 50 e 100MWh. Em termos globais, este investimento

não se considera viável, já que conduz a uma diminuição do excedente económico-social. Esta

variação negativa revela, uma vez mais, que os benefícios recolhidos pelos intervenientes no

processo não são suficientes para fazer face aos custos totais de investimento na interligação, tendo

como consequência o prejuízo social.

98

99

Capítulo 6 – Conclusões

Na década de 90, partindo de directivas emitidas pela Comissão Europeia, o processo de

liberalização da rede eléctrica deu os primeiros passos. Neste sentido, Portugal e Espanha criaram

em conjunto um Mercado Ibérico de Energia, o MIBEL, e França assistiu à criação e desenvolvimento

do mercado Francês, o Powernext. O processo de liberalização e a introdução da concorrência no

sector da produção alteraram o paradigma do sector eléctrico. As actividades de planeamento e

operação do parque produtor são efectuados por empresas privadas, cujo principal objectivo é a

maximização dos seus lucros.

Em geral, o segmento do transporte de energia mantém-se um monopólio regulado, sendo operado e

planeado por um Operador do Sistema de Transporte (TSO).

Estas alterações estruturais no sistema eléctrico conduziram à criação destes mercados de energia,

que permitem a livre transacção de energia entre produtores e consumidores.

O segmento do transporte de energia eléctrica, sendo considerado um monopólio natural, está sujeito

a regulação. Esta regulação deve afiançar a viabilidade financeira da empresa regulada, fomentar a

prestação justa e apropriada do serviço, estimular a minimização de custos de operação e garantir a

existência de uma renda recolhida pelo TSO, bem como garantir uma expansão eficiente da rede de

transporte.

Esta alteração de paradigma no sector da indústria eléctrica tem um forte impacto no planeamento da

expansão da rede. Assim, enquanto numa indústria tradicional as decisões sobre investimentos em

transporte e produção de electricidade eram tomadas centralmente, num sector reestruturado as

decisões sobre a expansão do parque produtor, tomadas por empresas privadas, podem resultar num

conflito de interesses.

O papel desempenhado pela transmissão eléctrica, no contexto de um sector reestruturado, é

fundamental, uma vez que não só deve garantir a segurança e estabilidade da rede, como também é

essencial para mitigar o possível poder de mercado dos produtores e permitir o livre e justo acesso à

energia a todos os participantes. O exercício destas funções é imprescindível para um bom

funcionamento do mercado.

O crescente aumento da produção descentralizada, assim como o crescimento das trocas de energia

resultantes da abertura do mercado, são factores determinantes para a imprevisibilidade e dinâmica

do trânsito de energia. De forma a fazer face a estas alterações nos padrões de produção e consumo,

a rede deve ser flexível e robusta, implicando a sua expansão e organização óptimas.

Estes fluxos de energia mais dinâmicos e imprevisíveis podem conduzir ao aumento significativo do

congestionamento da rede de transporte, constituindo um obstáculo ao bom funcionamento do

mercado. Numa indústria tradicional, os custos de congestionamento são suportados igualmente por

todos os consumidores, sendo considerado como o preço a pagar pela garantia da segurança e

100

fiabilidade do sistema. Numa indústria reestruturada, são desenvolvidas diversas estratégias para

gerir este congestionamento. É com o propósito de conhecer essas estratégias que, no presente

trabalho, são apresentados alguns desses métodos: o Uplift Charges, o System Redispatch Costs e o

Congestion Revenues ou Market Splitting. O primeiro visa a gestão dos custos de congestionamento,

estabelecendo um preço único de mercado. No entanto, este método não conduz ao fomento de uma

expansão óptima da rede, já que não envia sinais de investimentos aos produtores. Os segundo e

terceiro métodos fazem uso de uma diferenciação de preços, de forma a gerir os custos de

congestionamento. A diferença entre estas duas estratégias reside, essencialmente, no método

adoptado para a definição dos preços. O método Market Splitting, adoptado no estudo levado a cabo

neste trabalho, foi considerado a melhor solução, resolvendo o congestionamento a nível estrutural,

por enviar sinais de investimento eficientes aos produtores.

Esta expansão óptima da rede está intrinsecamente interligada à coordenação dos investimentos em

transporte e produção de electricidade, tema fundamental deste trabalho. O transporte de energia

eléctrica pode ser encarado como complemento ou substituto à capacidade de produção. Desta

forma, os investimentos na rede, assim como os preços que daí advêm, influenciam fortemente a

localização, a temporalidade e o tipo de investimentos a efectuar em produção de energia. De forma

a garantir que um investimento em nova capacidade de produção é feito onde é mais necessário, o

TSO deve conseguir, a curto prazo, uma gestão eficiente do congestionamento da rede; por outro

lado, e a longo prazo, o TSO deve garantir uma expansão adequada da rede.

O estabelecimento dos preços nodais de energia – métodos de pricing – com base nos preços

marginais locais é, no imediato, eficaz na resolução do congestionamento, enviando ao operador do

sistema sinais eficientes sobre os investimentos em transmissão. De forma complementar, o TSO

deve investir na rede, em projectos que visem a maximização do excedente económico-social.

Como foi sobejamente referido, o sector do transporte de electricidade constitui um monopólio

natural. Contudo, em determinados ambientes, é possível considerar investimentos privados na rede.

Estes investimentos são remunerados com base em rendas e direitos de transmissão que, na teoria,

conduzem a uma expansão óptima da rede. Todavia, dadas as imperfeições do mercado e,

principalmente, devido à descontinuidade dos investimentos em transmissão, os investimentos

privados não são sustentáveis a grande escala. Estes são considerados viáveis, apenas, em

projectos de pequena dimensão, que não conduzam à diminuição da diferença de preços nodais.

Como consequência, a expansão da rede de transporte de energia depende sempre de investimentos

regulados, sendo que, na rede eléctrica europeia, não se consideram de todo os investimentos

privados.

A rede europeia de transporte de electricidade carece de investimentos fundamentais para a

manutenção e expansão do sistema. No entanto, os TSOs não dispõem de capacidade financeira

suficiente para suportar a maioria dos investimentos necessários. Apesar de os investimentos

regulados gozarem de um retorno financeiro fixo, o investimento inicial é bastante avultado, sendo

apenas recuperado ao longo da vida do projecto.

101

Recorrendo à aplicação de um modelo de análise da distribuição dos impactos decorrentes de um

investimento em transmissão na interligação Ibérica, um estudo anterior verificou que o aumento da

capacidade de transmissão tem um impacto positivo nos produtores do nó espanhóis, conjuntamente

com os consumidores portugueses. No entanto, uma vez que esse estudo focava apenas alguns

aspectos da transmissão eléctrica, e somente relativos à interligação entre Portugal e Espanha – e

sabendo que, no sudoeste europeu, um dos maiores bottlenecks da rede se localiza na interligação

espanhola com França – considerou-se que um estudo neste âmbito faria mais sentido.

Neste trabalho foi estudado o modelo matemático, que permite a optimização do bem-estar social,

num investimento em transporte de energia eléctrica, identificando claramente os benefícios e

prejuízos daí decorrentes. Este modelo de optimização, designado Efficient System Plan, permite

encontrar um ponto de funcionamento óptimo da rede de transporte em estudo, maximizando o

excedente económico-social. Este excedente caracteriza-se por ser a soma do excedente agregado

dos produtores e consumidores, com as rendas de congestionamento, a que se subtraem os custos

de investimento. Note-se, no entanto, que este modelo poderá ser manipulado no sentido da sua

aplicação contemplar somente o benefício dos consumidores, ou dos produtores, ou o aumento das

rendas de congestionamento; bastando, para o efeito, multiplicar as devidas parcelar por um factor de

escala.

Foi, então, com base num estudo semelhante ao descrito, que se desenvolveu uma análise da

distribuição de benefícios resultantes de investimentos nas interligações do sudoeste europeu –

nomeadamente entre Portugal, Espanha e França – procurando, assim, colmatar as falhas apontadas

no estudo anterior.

A aplicação deste modelo analítico à interligação entre os três países constituintes da rede

considerada, permitiu concluir que os incrementos da capacidade de interligação entre cada um dos

nós surtirão efeitos positivos nos produtores do nó exportador e nos consumidores do nó importador

de energia. Em oposição, registou-se que os consumidores do nó exportador, conjuntamente com os

produtores do nó importador vêem os respectivos excedentes diminuir, sendo por isso lesados num

possível investimento na interligação.

6.1. Trabalho Futuro

No decorrer deste trabalho foram tomadas algumas decisões que determinaram o rumo a seguir.

Outras opções poderiam ter sido tomadas e, certamente, outros resultados seriam encontrados e

novas perspectivas de abririam. Esta dissertação não representa um estudo terminado, mas antes

uma parte do mesmo. Desta forma, esta secção visa a apresentação de algumas sugestões de

trabalho a desenvolver, com o intuito não só de complementar o trabalho realizado, como também

abrir novos percursos de investigação.

102

O estudo desenvolvido neste trabalho não deu primazia aos contratos bilaterais de energia, métodos

de pricing ou tarifas de electricidade. Como trabalho futuro, aconselha-se um estudo teórico que

inclua este tipo de conceitos associados ao transporte de electricidade.

Por outro lado, considera-se pertinente a aplicação de um modelo matemático preditivo, ou seja, cuja

utilização seja possível com recurso a previsões de mercado – isto é, que tenha em conta factores

como a elasticidade da procura e da oferta de energia eléctrica – pois, como é sabido, tanto a oferta

como a procura variam consoante o dia, a hora e as condições de mercado. Para o efeito, propõe-se

a aplicação de um modelo como o estudado por H. Chao e R. Wilson, em [1], calibrando valores para

as elasticidades da oferta e procura. Para esta calibração recomenda-se o estudo das curvas de

demand e supply, dos nós constituintes da rede, por exemplo, para o conjunto dos últimos dez anos.

O modelo de [1] considera, também, a possibilidade da existência de investimentos em produção de

electricidade, como substituto à transmissão, bem como a possibilidade desses investimentos terem

origem regulada ou privada. Considera-se um estudo desta dimensão, também, bastante pertinente

para a avaliação da distribuição de benefícios associados a um investimento em energia eléctrica.

O modelo de optimização adoptado pressupõe a agregação dos consumidores de cada país no

respectivo nó, desprezando os limites da capacidade individual dos produtores e consumidores.

Assim, em adição às sugestões anteriores, aconselha-se o desenvolvimento de um modelo

matemático – e sua aplicação – que considere uma rede mais complexa, mais ajustado à realidade.

Com efeito, julga-se de elevado interesse a concretização de um estudo que considere todos os

pontos constituintes das interligações da rede, ao invés da simplificação feita onde se agrupam todos

os consumidores (ou produtores) de determinado nó, num único.

Por fim, sabendo que o modelo utilizado não considera as perdas de energia na transmissão,

considera-se de interesse um estudo que atente este tipo de externalidades no transporte de energia,

de forma que os resultados obtidos sejam, tanto quanto possível, ajustados à realidade.

103

Referências Bibliográficas

[1] Chao, H. e Wilson, R. (2012, 1 de Dezembro). Coordination of Electricity Transmission and

Generation Investments. ISO New England and Standford University 1 – 48.

[2] Costa, R.C. (2013). Coordenação dos Investimentos no Transporte e Produção de Electricidade.

(Dissertação de Mestrado, Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa, 2013).

[3] Chao, H. e Wilson, R. (2012, Julho). Economic Analysis of Distributional Impacts of Transmission

Investments – Preliminary Draft Working Paper, ISO New England and Standford University, pp. 1–16.

[4] PDIRT - Plano de Desenvolvimento e Investimento da Rede de Transporte de Electricidade 2014-

2023, REN – Rede Eléctrica Nacional, S.A., Maio de 2013.

[5] RMSA – Relatório de Monitorização da Segurança de Abastecimento do Sistema Eléctrico

Nacional 2013 – 2030, DGEG – Direcção Geral de Energia e Geologia, Março de 2013.

[6] Torres, P. M. C. e Pestana, R. J.O. N. (2005), Congestion Management Methodologies: Iberian

Electricity Transmission Grid, CIGRE/IEEE PES, International Symposium, pp. 214 – 221.

[7] Castro, R. (Outubro de 2012). Uma Introdução às Energias Renováveis: Eólica, Fotovoltaica e

Mini-Hídrica, 2ª Edição, IST PRESS.

[8] Paiva, J. P. S. (Agosto de 2011). Redes de Energia Eléctrica – Uma Análise Sistémica, 3ª Edição,

IST PRESS.

[9] Meeus, L., Purchala, K., Esposti, C. D., Van Hertem, D. and Belmans, R. (2004). Regulated Cross-

Border Transmission Investments in Europe, Transmission and Distribution Conference and

Exhibition, 2005/2006 IEEE PES, pp. 1285 - 1290.

[10] Santana, J., (2003), A concorrência no sector eléctrico, pp. 1 – 13.

[11] Portal ERSE – Liberalização do Sector.” [Online]. Available:

http://www.erse.pt/pt/electricidade/liberalizacaodosector/Paginas/default.aspx

[12] Portal ERSE - Mercado diário.” [Online]. Available:

http://www.erse.pt/pt/supervisaodemercados/mercadodeelectricidade/mercadodiario/Paginas/default

[13] Pereira, B. R. R. (2011). Contratos Bilaterais em Mercados Multi-Agente de Energia Eléctrica.

(Dissertação de Mestrado, Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, 2013).

[14] Braga da Cruz, L. (2003), A liberalização do sector da energia, o MIBEL (Mercado Ibérico de

Electricidade) e o OMIP (Operador do Mercado Ibérico de Energia - pólo português), Centro de

Informação Europeia Jacques Delors. Europa: Novas Fronteiras. Política Energética Europeia nº 22,

pp. 1 – 8.

[15] Genesi, C., Marannino, P., Silvero, I., e Zanellini, F. (2008), Coordinated Transmission and

Generation Planning to Increase the Electricity Market Efficiency, 6th Power Systems Computation

Conference 2008, pp. 1–7.

[16] Hogan, W. W. (2011), Transmission Benefits and Cost Allocation, Illinois Commerce Commission

v. FERC, pp 1 – 25.

[17] F. Wu, F. Zheng, e F. Weng (2006, Maio), Transmission investment and expansion planning in a

restructured electricity market, Energy, vol. 31, no. 6-7, pp, 954 – 966.

104

[18] M. O. Buygi, S. Member, H. M. Shanechi, S. Member, e G. Balzer (2003) Transmission Planning Approaches in Restructured Power Systems, Power Tech Conference Proceedings, IEEE Bologna, vol. 2, pp. 1 – 7.

[19] M. O. Buygi, (2004, Setembro), Transmission Expansion Planning in Deregulated Power Systems.

[20] Z. Xu, Z. Dong, e K. Wong, Transmission planning in a deregulated environment, IEEE Proceedings: Generation, Transmission and Distribution, vol. 153, no. 3 May, pp. 326–334, 2006.

[21] A. Motamedi e H. Zareipour (2008, Setembro), Transmission Planning in Deregulated Markets Considering GenCos’ Strategic behavior, Power Symposium NAPS. 40th North American, pp. 1 – 8.

[22] R. Fang e D. Hill, A new strategy for transmission expansion in competitive electricity markets (2003), IEEE Transactions on Power Systems, vol. 18, nº 1 February, pp. pp. 374–380.

[23] M. Buygi, H. Shanechi, G. Balzer, M. Shahidehpour, e N. Pariz (2006), Network planning in unbundled power systems, IEEE Transactions on Power Systems, vol. 21, nº2 August, pp. 1379 –1387.

[24] P. Sanchez-Martin, A. Ramos, e J. Alonso (2005), Probabilistic midterm transmission planning in a liberalized market, IEEE Transactions on Power Systems, vol. 20, nº 4 November, pp. 2135 – 2142.

[25] S. de la Torre, A. J. Conejo, e J. Contreras (2008), Transmission expansion planning in electricity markets, IEEE Transactions on Power Systems, vol. 23, nº 1 February, pp. 238 – 248.

[26] J. Choi, T. Tran, A. El-Keib, R. Thomas, H. Oh, e R. Billinton (2005), A method for transmission system expansion planning considering probabilistic reliability criteria, IEEE Transactions on Power Systems, vol. 20, nº 3 August, pp.1606 – 1615.

[27] J. Choi, T. Mount, e R. Thomas (2007), Transmission expansion planning using contingency criteria, IEEE Transactions on Power Systems, vol. 22, nº 4 November, pp. 2249 – 2261.

[28] E. Sauma e S. Oren (2007), Economic criteria for planning transmission investment in restructured electricity markets, IEEE Transactions on Power Systems, vol. 22, nº 4 November, pp. 1394 – 1405.

[29] J. H. Roh, M. Shahidehpour, e Y. Fu (2007), Market-based coordination of transmission and generation capacity planning, IEEE Transactions on Power Systems, vol. 22, nº 4 November, pp.1406 – 1419.

[30] E. Fumagalli e A. Groppi (2011, Novembro), Transmission network expansion by a proactive tso: a case study, 4

th Annual Conference on Competition and Regulation in Network Industries, pp. 1–21.

[31] F. F. Wu (2005, Junho), Transmission planning in restructured electric power systems, 2005 IEEE Russia Power Tech, pp. 1–4.

[32] J. Contreras e G. Gross (2004, Agosto), Transmission Investment in Competitive Electricity Markets, Proceedings of the IREP Symposium 2004, Cortina D’Ampezzo.

[33] P. A. Samuelson e W. D. Nordhaus, Economia, vols. 1 e 2. 3ª Edição, McGraw-Hill, 1993.

[34] Notapositiva [Online]. Available: http://www.notapositiva.com/dicionario_economia/leiutilidademargindec.html.

[35] B. C. Lesieutre and J. H. Eto (2003, Outubro), Electricity Transmission Congestion Costs: A Review of Recent Reports, Consortium for Electric Reliability Technology Solutions, pp. 1 – 40.

[36] J. Santana, A. L. Garcia, M. J. Resende, e P. Verdelho, ANEXO III: OTIMIZAÇÃO DO SISTEMA ELÉTRICO COM REDE DE TRANSPORTE, Análise Técnico-Económica do Sistema Eléctrico.

105

[37] G. Brunekreeft, K. Neuhoff, e D. Newbery (2005, Junho), Electricity transmission: An overview of the current debate, Utilities Policy, vol. 13, nº 2, pp. 73 – 93.

[38] J. Tirole e P. Joskow (2005), Merchant transmission investment, vol. LIII, nº 2, pp. 233 – 265,

[39] S. Littlechild (2012, Março), Merchant and regulated transmission: theory, evidence and policy, Journal of Regulatory Economics, vol. 42, nº 3, pp. 308 – 335.

[40] W. W. Hogan (1992, Setembro), Contract networks for electric power transmission, Journal of Regulatory Economics, vol. 4, nº 3, pp. 211 – 242.

[41] J. Bushnell e S. Stoft (1996), Electric grid investments under a contract network regime, Journal of Regulatory Economics, nº 10, pp. 61 –79.

[42] J. Bushnell e S. Stoft (1997), Improving private incentives for electric grid investment, Resources and Energy Economics, vol. 19, pp. 85–108.

[43] J. Rotger e F. A. Felder (2001), Reconciling market-based transmission and transmission planning, The Electricity Journal, pp. 31–43.

[44] W. W. Hogan (2003), Electricity deregulation: where to from here?, Paper presented to a conference at bush presidential conference center, Texas A&M University.

[45] W. W. Hogan (1999, Agosto), Market-based transmission investment and competitive market, Center for Business and Government, John F. Kennedy School of Government, Harvard Universit, pp.

1 – 34.

[46] P. L. Joskow (2010, Junho), Market imperfections versus regulatory imperfections, CESifo DICE Report 8(3) pp. 1–13.

[47] W. W. Hogan (2012, Julho), Allocating Costs Commensurate with Multiple Transmission Benefits, Australian Competition and Consumer Commission (ACCC), Annual Regulatory Conference, Brisbane, Australia.

[48] T.O. Léautier e V. Thelen (2009, Janeiro), Optimal expansion of the power transmission grid: why not?, Journal of Regulatory Economics, vol. 36, nº 2, pp. 127–153.

[49] MEDIUM TERM VISION FOR THE INTERNAL ELECTRICITY MARKET – Strategy Paper, Comissão Europeia, Bruxelas, 2004.

[50] A. Henriot (2013, Agosto), Financing investment in the European electricity transmission network: Consequences on long-term sustainability of the TSOs financial structure, ElSevier – Energy Policy, vol. 62, pp. 821 – 829.

[51] AULAS DE INTRODUÇÃO À MICROECONOMIA 1º Ano das Licenciaturas de Economia, de MAEG e de Finanças do ISEG, 2005/2006, consultado a última vez em 2015/Março, [Online] Available: http://www.iseg.utl.pt/disciplinas/licenciaturas/intromicro/

[52] Catalão, J.P.S., Novas Metodologias de Optimização em Sistemas de Energia Hidrotérmicos, Dissertação de Doutoramento, Universidade da Beira Interior, 2006

[53] Urzaiz, H.J.I.U. (1998), Liberalization of the Spanish Electricity Sector: An Advanced Model, The Electricity Journal, Vol. 98, pp. 29-37. [54] Nogueira, T.A., Estabelecimento de Preços no Mercado da Electricidade, Dissertação de Mestrado, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, 2001. [55] Saraiva, J.T. Silva, J.P. Leão, M.P, Mercados de Electricidade – Regulação e Tarifação de Uso das Redes, FEUP Edições, 2002.

106

[56] “Informes anuales de Red Eléctrica de España” [Online]. Available: http://www.ree.es

[57] US Energy Information Administration [Online]. Available: http://www.eia.gov/

[58] BP Statistical Review of World Energy 2013 con datos de 2012, [Online]. Available:

http://www.bp.com/content/dam/bp/pdf/statistical-review/statistical_review_of_world_energy_2013.pdf

[59] Schwartz, David L. (2012, Junho), The Energy Regulation and Markets Review, 2nd

Edition, Law

Business research.

[60] “Ministère de L’Écologie, du Développement Durable et de L’Énergie” [Online]. Available:

http://www.developpement-durable.gouv.fr/7

[61] “Powernext” [Online]. Available:

http://www.powernext.com/

[62] Roggenkamp, Martha M. e Boisseleau, François H.A.R., The Regulation of Power Exchanges in

Europe, Energy and Law, Vol.2, pp.195 – 219, Jan. 2005.

[63] “OMIE” [Online]. Available:

http://www.omie.es/inicio

[64] “Resultados de mercado – OMIE” [Online]. Available:

http://www.omie.es/files/flash/ResultadosMercado.swf

[65] “EDP” [Online]. Available:

http://www.edpsu.pt/pt/particulares/tarifasehorarios/BTN/Pages/HorariosBTN.aspx

[66] “IESOE” [Online]. Available:

http://www.iesoe.eu/iesoe/

[67] “EPEXSpot – Auction Chart” [Online]. Available:

http://www.epexspot.com/en/market-data/auction/chart/auction-chart/

[68] J. Santana (2014), Economia e Mercados de Energia, Notas das Aulas Teóricas, pp. 1 – 93.