Coping Religioso

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ESCALA DE COPING RELIGIOSO-ESPIRITUAL (ESCALA CRE): TRADUO, ADAPTAOE VALIDAO DA ESCALA RCOPE, ABORDANDO RELAES COM SADE E QUALIDADE DE VIDA

Raquel Gehrke Panzini

Dissertao apresentada como exigncia parcial para obteno do Grau de Mestre em Psicologia sob orientao da Prof. Dr. Denise Ruschel Bandeira

Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Psicologia Curso de Ps-Graduao em Psicologia do Desenvolvimento Outubro de 2004.

Dedico este trabalho a Deus e Espiritualidade Maior, aos meus pais Suzana e Reonardo, e ao meu marido Mauro aqueles que fazem com que tudo seja possvel em minha vida

AGRADECIMENTOS

S

empre que determinado trabalho realizado por um, ele contm a contribuio de muitos. A todos aqueles que possibilitaram a realizao deste, presto meu tributo, atravs de sinceros e profundos votos de agradecimento:

Em primeiro lugar, agradeo Denise Ruschel Bandeira, minha orientadora, mestre, colega e amiga, que h dez anos acredita em meu trabalho e, com competncia e amizade tm conduzido nossa relao profissional e pessoal. No tenho palavras para descrever tudo quanto cresci em sua companhia. Agradeo, especialmente, por ter aceitado sem reservas o tema de minha dissertao; Agradeo muitssimo (1) Carolyn M. Aldwin por ter abordado o tema Religio e Sade no prefcio edio em brochura de seu livro sobre estresse, coping e desenvolvimento, e (2) Adriane Arteche que, sem o saber, importando tal livro e posteriormente me emprestando para l-lo, proporcionou que eu tomasse contato com o coping religioso (e espiritual) e, assim, decidisse modificar todo o rumo de minha linha de pesquisa para abordar um tema que h muito me interessava e nunca havia tido a oportunidade de a ele me dedicar academicamente; Gostaria de agradecer imensamente a todos aqueles que, com sua valorosa participao, com sua boa-vontade em retornar os protocolos impressos ou virtuais, e com sua pacincia e cuidado em respond-los, tornaram esta pesquisa possvel; Agradeo s instituies, religiosas e no religiosas, que me acolheram para a coleta dos dados, permitindo a consecuo desta pesquisa atravs do acesso aos seus membros participantes e/ou freqentadores; Agradeo aos lderes religiosos contatados e entrevistados, que em muito contriburam para este estudo, analisando a Traduo por Especialistas Sintetizada da Escala CRE, esclarecendo sob a concepo religiosa ou espiritual de suas respectivas crenas e mediando nosso contato com algumas das instituies pesquisadas; Agradeo aos expoentes espiritualizados que, sem participar de nenhuma instituio em particular, nos receberam e contriburam para o entendimento daqueles aqui intitulados sem religio, permitindo a construo de itens especficos; Agradeo aos autores da Escala RCOPE (Pargament, Koenig & Perez, 2000) que autorizaram, na pessoa do primeiro autor, o Prof. Dr. Kenneth I. Pargament, tanto a traduo e adaptao de sua escala para o portugus, quanto sua publicao (Anexo A); Agradeo Prof Dr Nalini Tarakeshwar que deu-nos, atravs de sua amigvel correspondncia por e-mail, tendo sido ela orientanda do Prof. Dr. Pargament durante

seu doutoramento, importantes devolues sobre certas questes em relao escala RCOPE original e suas posteriores verses; Agradeo Thas Leo Melo e Elise Corra Rocha, graduandas em Psicologia e minhas orientandas na disciplina de Metodologia da Pesquisa, pelo interesse no tema deste trabalho e por sua participao prestativa na fase piloto do mesmo; Agradeo Isabela Steigleder Gozalvo, bolsista de iniciao cientfica e graduanda em Psicologia, que participou de diversas maneiras da segunda fase desta pesquisa, sempre prestando seu auxlio com dedicao e alegria. Tua ajuda e companheirismo foram incomparveis; Agradeo s colegas e Profas Adriane Arteche e Janana Pacheco por terem aplicado os protocolos em suas respectivas turmas de Psicologia; Agradeo ao colega e Mestre Afonso Piliackas e Lucila Knackfuss Vaz, farmacutica, por terem participado gentilmente da traduo inicial da Escala RCOPE; Agradeo Dbora Dalbosco DellAglio e Marcia Patta Bardaggi por terem atuado como especialistas e consultoras neste trabalho, e primeira, na qualidade de relatora desta pesquisa, por sua criteriosa reviso, tanto do projeto, quanto da verso final, realizadas sempre com a devida presteza, cordial coleguismo e prestimoso profissionalismo; Agradeo Lia Ferraz Panzini, minha sogra, por sua valorosa contribuio ao permitir o acesso Clnica Geritrica de sua propriedade, por ter recolhido todos os protocolos l respondidos, e por ter torcido tanto pelo sucesso deste trabalho, mesmo quando ela mesma estava passando por certo trabalho com sua prpria sade; Agradeo ao Mauro Ferraz Panzini, fisioterapeuta, meu marido, pelos vrios meios com os quais colaborou para este trabalho: por permitir o acesso Clnica de Fisioterapia e Odontologia onde parte da coleta desta pesquisa foi realizada; por ter recolhido com zelo todos os protocolos l preenchidos; pela valiosa, extremamente necessria e sempre prestimosa consultoria em Histria, Latim e Grego; e, sobretudo, por ter me suportado, amparado e encorajado durante todo este longo processo, nunca reclamando de minha falta de tempo, nem por termos de adiar certos projetos pessoais conjuntos para que este fosse concludo, sempre me auxiliando com generosidade quando minha sade mais de uma vez faltou e atrapalhou o andamento de nossa vida e deste estudo; Agradeo Suzana Maria Bender Gehrke, psicloga, minha me, por ter participado de diversas fases deste trabalho, mais especificamente nas etapas de traduo e adaptao e nas anlises de contedo realizadas atravs da categorizao, por ter atuado como especialista, consultora e avaliadora e, acima de tudo, agradeo por sua fora, seu companheirismo e por sua energia positiva, sem os quais, para comear, este trabalho no teria sido nem escrito.

Agradeo ao meu pai, Reonardo Helcias Gehrke, por estar sempre l quando preciso; por me emprestar sua mulher, privando-se de sua agradvel companhia, sempre que dela necessitei; por ter me mostrado a importncia da curiosidade e do aprendizado; e, por ter me encorajado a realizar este Mestrado; Agradeo aos amigos Gustavo Fuhr Santiago e Luciano Francisco Silveira da Silva pela grande ajuda, pois, com amizade, dedicao e sem cobranas, mantiveram meu velho computador sempre em dia para a realizao desta pesquisa, at que pudessem contribuir em preparar o novo para semelhantes e futuros trabalhos; Agradeo ao PPG em Psicologia do Desenvolvimento/UFGRS e CAPES por terem me concedido uma bolsa durante meu segundo ano de Mestrado; ainda, primeira por proporcionar um mestrado gratuito e ltima, por ter e manter o Portal que, atravs da internet, permite aos estudantes e profissionais brasileiros entrar em contato com diversas publicaes, possibilitando, assim, o trabalho de pesquisa no Brasil; Agradeo do fundo de meu corao a todos os autores que, pelo correio ou pela internet, me enviaram reprints de seus artigos publicados ou in press, sem os quais no poderia ter realizado um trabalho to completo j que, quela poca, aqui no Brasil, no havia uma variedade muito grande de publicaes importadas nesta rea de pesquisa. So eles: Daniel McIntosh, Eric Schrimshaw e Karolynn Siegel, Fereshteh A. Lewin, Harold G. Koenig, Kenneth I. Pargament, Nalini Tarakeshwar, Sheryl Catz e E. Boudreaux; e tambm a autora brasileira Marlia Ferreira Dela Coleta, que enviou por e-mail a escala de sua autoria; Agradeo s psiclogas Dras Lisiane Bizarro e Clarisse Longo dos Santos, que, estando poca na Inglaterra e no Canad, respectivamente, tambm contriburam imensamente com o envio de artigos e dicas para o contato com os autores; Agradeo ao Prof. Dr. Geraldo Jos de Paiva que se disps, por ocasio do I Congresso Brasileiro de Psicologia: Cincia e Profisso, com amabilidade e profissionalismo, a receberme na USP para trocar idias sobre o campo no qual labuta h muito mais tempo, por ter compartilhado bibliografias e, embora no tenha podido aceitar participar da banca do projeto, por ter enviado parecer escrito (e-mail) sobre o trabalho que estava sendo realizado; Agradeo aos membros da banca, os Professores Doutores Dbora Dalbosco DellAglio, Maria Lcia Tiellet Nunes, Marisa Campio Mller e Marcelo Pio de Almeida Fleck, por terem aceitado a tarefa de se dedicar avaliao desta pesquisa, tanto pelas sugestes poca da apresentao do seu projeto, quanto pela apreciao final desta obra, pois muito contriburam para que este estudo se mantivesse altura do que se espera de um trabalho cientfico.

Coletnea de citaes sobre cincia e religio de Albert Einstein (1875-1955), alemo naturalizado americano, fsico e filsofo, formulou a Teoria da Relatividade (traduo, arranjo e grifos nossos):Grandes espritos tm sempre encontrado violenta oposio das mentes medocres. A mente medocre incapaz de entender o homem que recusa curvar-se cegamente aos preconceitos convencionais e, ao invs, usa sua prpria inteligncia corajosa e honestamente, e escolhe expressar seus pensamentos e suas opinies claramente. Aquele que nunca cometeu um erro, nunca tentou nada novo. O importante nunca parar de questionar. A curiosidade tem sua prpria razo para existir. A mera formulao de um problema muito mais essencial do que sua soluo, a qual pode ser meramente uma questo de habilidade matemtica ou experimental. Levantar novas questes, novas possibilidades, olhar velhos problemas de um novo ngulo requer imaginao criativa e marca real avano na cincia. A cincia s pode ser criada por aqueles que so completamente imbudos com a aspirao acerca da verdade e do entendimento. A origem deste sentimento, entretanto, vem da esfera da religio... A situao pode ser expressa por uma imagem: A Cincia sem a Religio manca; a Religio sem a Cincia cega. Quanto mais avana a evoluo espiritual da humanidade, mais certo me parece que o caminho para a genuna religiosidade no repousa no medo da vida e no medo da morte, ou na f cega, mas no esforo em busca do conhecimento racional. Uma coisa eu aprendi em minha longa vida: que toda nossa cincia, avaliada contra a realidade, primitiva e infantil e ainda a coisa mais preciosa que temos. O que eu vejo na Natureza uma magnfica estrutura que ns podemos compreender somente imperfeitamente, e isto deve encher um pensador com um sentimento de humanidade. Este um sentimento genuinamente religioso que no tem nada a ver com misticismo. A experincia mais linda que podemos ter do misterioso. a emoo fundamental que repousa no bero da verdadeira arte e da verdadeira cincia. Aquele que no a conhece e no pode mais se admirar, ou maravilhar-se, est como morto, e seus olhos esto obscurecidos. Foi a experincia do mistrio ainda que misturada com o medo que engendrou a religio. O conhecimento da existncia de algo que no podemos penetrar, nossas percepes da razo mais profunda e da mais radiante beleza, as quais apenas em suas formas mais primitivas so acessveis s nossas mentes: este o conhecimento e a emoo que constitui a verdadeira religiosidade. Neste sentido, e somente neste sentido, sou um homem profundamente religioso... Estou satisfeito com o mistrio da vida eterna e com o conhecimento, um senso, da estrutura maravilhosa da existncia assim como com os humildes esforos para entender mesmo uma minscula poro da Razo que manifesta a si mesma na natureza. Minha religio consiste na admirao humilde do esprito ilimitadamente superior que revela a si mesmo nos mais delicados detalhes que somos capazes de perceber com nossas frgeis e dbeis mentes. Esta convico profundamente emocional da presena de um poder de raciocnio superior, revelado na incompreensibilidade do universo, forma minha idia de Deus. Eu quero saber como Deus criou o mundo. No estou interessado neste ou naquele fenmeno, no espectro deste ou daquele elemento. Eu quero conhecer Seus pensamentos; o resto so detalhes.

SUMRIO

ESCALA DE COPING RELIGIOSO-ESPIRITUAL (ESCALA CRE): TRADUO,ADAPTAO E VALIDAO DA ESCALA RCOPE, ABORDANDO RELAES COM SADE E QUALIDADE DE VIDA ____________________ 1

Dedicatria _____________________________________________________________ 2 AGRADECIMENTOS____________________________________________________ 3 Coletnea de citaes de Albert Einstein ____________________________________ 6 LISTA DE TABELAS E FIGURAS________________________________________ 12 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS___________________________________ 15 RESUMO _____________________________________________________________ 18 ABSTRACT ____________________________________________________________ 19 CAPTULO I __________________________________________________________ 20 INTRODUO ________________________________________________________ 20 1. Estresse _____________________________________________________________ 20 2. Coping ______________________________________________________________ 22 3. Psicologia da Religio _________________________________________________ 24 4. Coping Religioso Espiritual (CRE) _______________________________________ 25 4.1 Estratgias ou Mtodos de CRE ________________________________________ 26 4.2 Estilos de CRE ______________________________________________________ 28 4.3 CRE e Orientao Religiosa ___________________________________________ 28 4.4 CRE e Locus de Controle (LOC) _______________________________________ 30 4.5 CRE e a Religio como Esquema Cognitivo ______________________________ 31 4.6 Modelos Envolvendo CRE_____________________________________________ 32 4.7 CRE e Sade ________________________________________________________ 33 4.8 CRE e Qualidade de Vida (QV) ________________________________________ 35 5. Avaliao Psicolgica __________________________________________________ 42 5.1 Escalas _____________________________________________________________ 42 5.1.1 Escalas Psicomtricas ________________________________________________ 42 5.1.2 Escalas do Tipo Likert______________________________________________ 43 5.2 Parmetros Psicomtricos _____________________________________________ 44 5.2.1 Fidedignidade ______________________________________________________ 44 5.2.1.1 Fidedignidade da Consistncia Interna pelo Alpha de Cronbach. __________ 45 5.2.1.2 Fidedignidade entre Juzes Avaliadores/Apuradores (kappa) ________________ 45

5.2.2 Validade __________________________________________________________ 45 5.2.2.1 Validade de Construto ______________________________________________ 45 5.2.2.1.1 Validade de Construto atravs da Anlise da Representao Comportamental do Construto_____________________________________________________ 46 5.2.2.1.1.1 Anlise Fatorial ________________________________________________ 46 5.2.2.1.1.2 Anlise da Consistncia Interna ____________________________________ 48 5.2.2.1.2 Validade de Construto atravs de Anlise por Hiptese ___________________ 48 5.2.2.1.2.1 Validao Convergente/Discriminante ______________________________ 48 5.2.2.1.2.2 Correlaes com Outros Testes/Escalas _____________________________ 49 5.2.2.2 Validade de Critrio ________________________________________________ 49 5.2.2.2.1 Validade de Critrio Preditiva ______________________________________ 49 5.2.2.2.2 Validade de Critrio Concorrente ___________________________________ 50 5.2.2.3 Validade de Contedo ______________________________________________ 50 5.2.2.3.1 Validade de Contedo Propriamente Dita______________________________ 51 5.2.2.3.2 Validade de Face ou Aparente ______________________________________ 52 5.3 Tradues e Adaptaes ______________________________________________ 52 6. Mensurao do Coping Religioso-Espiritual _______________________________ 55 6.1 Fator Religio em Instrumentos para Avaliao de Coping (Geral) ___________ 56 6.2 Medidas Globais vs. Medidas Especficas de Religiosidade, Unidimensionalidade vs. Multidimensionalidade, Abordagem Quantitativa vs. Qualitativa _______________________________________ 56 6.3 Instrumentos Disponveis para Avaliao de CRE _________________________ 57 7. Justificativa da Escolha pela Traduo/Adaptao da RCOPE Scale __________ 59 8. A Escala RCOPE: Os Muitos Mtodos de Coping Religioso (e Espiritual) ______ 61 9. Justificativa do Estudo_________________________________________________ 65 10. Objetivos ___________________________________________________________ 65 10.1 Objetivo Geral _____________________________________________________ 65 10.2 Objetivos Especficos ________________________________________________ 65 CAPTULO II__________________________________________________________ 66 MTODO _____________________________________________________________ 66 FASE I: Traduo e Adaptao da Escala __________________________________ 66 I.1 Traduo e Adequao Lingstica da Escala RCOPE _____________________ 66 I.2 Adequao da Escala Traduzida Realidade Cultural Brasileira, a partir de Amostra Sul-rio-grandense _______________________________________ 67

I.3 Aplicao Piloto da Escala CRE ________________________________________ 70 FASE II: Aplicao e Validao da Escala CRE______________________________ 77 II.1 Participantes _______________________________________________________ 77 II.2 Instrumentos _______________________________________________________ 79 II.3 Procedimentos ______________________________________________________ 80 CAPTULO III _________________________________________________________ 82 RESULTADOS_________________________________________________________ 82 1. Anlise dos Dados do Questionrio Geral ________________________________ 82 1.1 Aspectos Religioso-Espirituais da Amostra Total__________________________ 82 1.2 Aspectos de Sade da Amostra Total: Sade Subjetiva, Sade Objetiva e Problemas de Sade______________________________________________ 87 2. Anlise das Situaes de Estresse Citadas na Escala CRE ___________________ 91 3. Avaliao dos Parmetros Psicomtricos da Escala CRE ____________________ 91 3.1 Validade de Construto da Escala CRE por Anlise da Representao Comportamental do Construto ____________________________________ 91 3.1.1 Anlises Fatoriais ___________________________________________________ 91 3.1.1.1 Anlise Fatorial do Conjunto da Escala CRE ____________________________ 92 3.1.1.2 Anlise Fatorial da Dimenso de CRE Positivo da Escala CRE ______________ 97 3.1.1.3 Anlise Fatorial da Dimenso de CRE Negativo da Escala CRE ____________ 103 3.1.1.4 ndices de Avaliao da Escala CRE __________________________________ 105 3.1.1.5 Matriz de Correlao dos ndices Gerais, Dimensionais e Fatoriais da Escala CRE___________________________________________ 106 3.1.2 Anlises de Consistncia Interna (Validade de Construto e Fidedignidade) _____ 108 3.2 Validade de Construto da Escala CRE atravs de Anlise por Hiptese ______ 109 3.2.1 Validao Convergente/Discriminante __________________________________ 109 3.2.1.1 Correlaes entre a Escala CRE e Outras Medidas Religiosas Espirituais _____ 109 3.2.1.2 Correlaes entre a Escala CRE e a Escala AR, e entre a Escala AR e Outras Medidas de Religiosidade/Espiritualidade ____________________________ 110 3.2.1.3 Correlaes entre a Escala CRE e o Instrumento WHOQOL-bref, e entre o WHOQOL-bref e Outras Medidas de Religiosidade/Espiritualidade ________ 112 3.3 Validade de Critrio da Escala CRE ___________________________________ 115 3.3.1 Validade de Critrio Concorrente _____________________________________ 115 3.3.1.1 Grupos segundo o Critrio Local de Origem da Coleta (GR/E x GG)_______ 115 3.3.1.2 Grupos segundo o Critrio Freqncia Religiosa (ndice FREQREL) ______ 120

3.4 Validade de Contedo da Escala CRE __________________________________ 124 3.4.1 Validade de Face ou Aparente ________________________________________ 124 3.4.2 Validade de Contedo Propriamente Dita, por Confirmao Emprica das Hipteses Tericas____________________________________________ 125 4. Anlises Descritivas: Mdias e Desvios-Padro dos Instrumentos e ndices Empregados ___________________________________________________ 133 5. Anlise das Relaes entre Coping Religioso-Espiritual (CRE), Qualidade de Vida (QV) e Sade, atravs dos Instrumentos e Variveis Investigados Neste Estudo ___________________________________________________ 135 5.1 Relaes entre CRE e QV ____________________________________________ 135 5.2 Relaes entre Classificao Objetiva de Sade (COS), CRE e QV __________ 139 5.3 Relaes entre Problemas de Sade (PS), CRE e QV______________________ 140 5.4 Relaes entre Classificao Subjetiva de Sade (CSS), CRE e QV__________ 142 CAPTULO IV ________________________________________________________ 145 DISCUSSO__________________________________________________________ 145 FASE I ______________________________________________________________ 145 I-1 Traduo __________________________________________________________ 145 I-2 Adaptao _________________________________________________________ 146 I-3 Estudo Piloto_______________________________________________________ 148 FASE II ______________________________________________________________ 149 II-1 Anlise dos Dados do Questionrio Geral ______________________________ 149 II-1.1 Aspectos Religiosos/Espirituais _____________________________________ 149 II-1.2 Aspectos de Sade ________________________________________________ 159 II-2 Anlise das Situaes de Estresse Mencionadas na Escala CRE ____________ 160 II-3 Avaliao dos Parmetros Psicomtricos da Escala CRE: Validade e Fidedignidade __________________________________________________ 161 II-3.1 Validade de Construto_____________________________________________ 161 II-3.1.1 Validade de Construto por Anlise da Representao Comportamental do Construto (ARCC) _______________________________________________ 161 II-3.1.2 Fidedignidade e Validade de Construto por ARCC ______________________ 166 II-3.1.3 Validade de Construto atravs de Anlise por Hiptese___________________ 168 II-3.2 Validade de Critrio ______________________________________________ 172 II-3.2.1 Critrio Local de Origem da Coleta: GR/E x GG _____________________ 172 II-3.2.2 Critrio Freqncia Religiosa (FR): FR-Alta x FR-Baixa _______________ 174

II-3.3 Validade de Contedo _____________________________________________ 174 II-3.3.1 Validade de Contedo Aparente _____________________________________ 174 II-3.3.2 Validade de Contedo Propriamente Dita, por Confirmao Emprica das Hipteses Tericas _______________________________________________ 175 II-3.3.2.1 Arranjo com Base em Hipteses Tericas versus Arranjo Emprico-Fatorial _ 176 II-3.3.2.1.1 Primeira Situao: RCOPE x Escala CRE __________________________ 176 II-3.3.2.1.2 Segunda Situao: Escala CRE x Escala CRE (Antes e Aps Teste de Campo) ________________________________________________ 179 II-3.3.2.2 Validade de Contedo Propriamente Dita: Concluses __________________ 180 II-4 Anlises Descritivas ________________________________________________ 180 II-5. Anlise das Relaes entre Coping Religioso Espiritual (CRE), Qualidade de Vida (QV) e Sade, atravs dos Instrumentos e Variveis Investigados Neste Estudo________________________________________ 183 II-5.1 Relaes entre CRE e QV __________________________________________ 184 II-5.2 Relaes entre Classificao Objetiva de Sade (COS), CRE e QV________ 188 II-5.3 Relaes entre Problemas de Sade (PS), CRE e QV ___________________ 189 II-5.4 Relaes entre Classificao Subjetiva de Sade (CSS), CRE e QV _______ 190 CAPTULO V ____________________________________________________________ 192 CONSIDERAES FINAIS _______________________________________________ 192 REFERNCIAS __________________________________________________________ 201 ANEXOS _______________________________________________________________ 213 ANEXO A Autorizao de K. I. Pargament quanto a RCOPE (por e-mail) ___________ 214 ANEXO B Escala de Atitude Religiosa _______________________________________ 215 ANEXO C Questionrio Geral ___________________________________________ 216 ANEXO D Parecer do Prof. Dr. Geraldo J. de Paiva __________________________ 218 ANEXO E Traduo por Especialistas Sintetizada da Escala RCOPE ____________ 219 ANEXO F Parecer do Comit de tica em Pesquisa da UFRGS_________________ 222 ANEXO G Escala CRE (verso com 92 itens) ______________________________ 223 ANEXO H Consentimento Esclarecido para Participantes _____________________ 229 ANEXO I WHOQOL-bref (Verso aplicada em Internautas) ___________________ 230 ANEXO J Autorizao - Instituies _____________________________________ 233 ANEXO K Escala CRE (verso final com 87 itens) __________________________ 234

LISTA DE TABELAS E FIGURAS Tabela 1. Mtodos ou Estratgias de Coping Religioso Espiritual __________________ 27 Tabela 2. Itens Novos (Nacionais) Acrescentados Escala CRE, em Relao Escala RCOPE Original________________________________________________ 69 Tabela 3: Distribuio dos 92 Itens da Escala CRE em 33 Subescalas de Estratgias de CRE (Mtodos), segundo as VII Finalidades do CRE (Objetivos) _________ 73 Tabela 4. Caractersticas da Amostra Total (N=616)_____________________________ 78 Tabela 5. Locais de Coleta segundo os Grupos de Origem ________________________ 81 Tabela 6. Aspectos Religiosos/Espirituais da Amostra Total (N=616) _______________ 83 Tabela 7. Freqncia a Templos ou Encontros de Natureza Religiosa (QG13) __________ 84 Tabela 8. Freqncia de Tempo Dedicado a Atividades Religiosas Privativas (QG14) __ 84 Tabela 9. Questes sobre Crescimento Espiritual _______________________________ 85 Tabela 10. Religio Declarada pelos Participantes da Amostra (N=616)______________ 85 Tabela 11. Religio de Evaso ______________________________________________ 86 Tabela 12. Religio de Destino (escolhida)________________________________________ 86 Tabela 13. Categorias para o Conceito de Deus (N=616) _________________________ 86 Tabela 14. Classificao Subjetiva de Sade (CSS) (N=616) ______________________ 88 Tabela 15. Questes Objetivas de Sade (N=616)_______________________________ 88 Tabela 16. Categorias para os Problemas de Sade Mencionados pelos Participantes ___ 89 Tabela 17. Freqncias da Questo n1 (WQ1) do WHOQOL-bref _________________ 89 Tabela 18. Freqncias da Questo n2 (WQ2) do WHOQOL-bref _________________ 90 Tabela 19. Freqncias da Questo n4 (WQ4) do WHOQOL-bref _________________ 90 Tabela 20. Freqncias da Questo n16 (WQ16) do WHOQOL-bref _______________ 90 Tabela 21. Freqncias da Questo n26 (WQ26) do WHOQOL-bref _______________ 90 Tabela 22. Categorias para a Situao de Estresse Vivenciada pelos Participantes nos ltimos Trs Anos _____________________________________________ 91 Tabela 23. Matriz Fatorial da Escala CRE [89 itens] Induzida em Dois Fatores: CRE Positivo e CRE Negativo ___________________________________________ 95 Tabela 24. Matriz Fatorial da Dimenso de CRE Positivo [66 itens] da Escala CRE [87 itens] ___________________________________________ 98 Tabela 25. Matriz Fatorial da Dimenso de CRE Negativo [21 itens] da Escala CRE [87 itens] _________________________________________ 104 Tabela 26. Consistncia Interna e Fidedignidade da Escala CRE e de suas Dimenses e Fatores _____________________________________ 108 12

Tabela 27. Correlaes Pearson (r) entre a Escala CRE e Outras Medidas de Religiosidade/Espiritualidade _______________________________________ 110 Tabela 28. Correlaes Pearson (r) entre a Escala CRE e a Escala AR ________________ 111 Tabela 29. Correlaes Pearson (r) entre a Escala AR e Outras Medidas de Religiosidade/Espiritualidade _______________________________________ 111 Tabela 30. Correlaes do ndice WQTOTAL com os Outros ndices do WHOQOL-bref _____________________________________________ 113 Tabela 31. Correlaes Pearson (r) entre os ndices da Escala CRE e do WHOQOL-bref _____________________________________________ 113 Tabela 32. Correlaes Pearson (r) entre os Fatores da Escala CRE e os ndices do WHOQOL-bref _____________________________________________ 114 Tabela 33. Correlaes Pearson (r) entre as Variveis do WHOQOL-bref e Outras Medidas de Religiosidade/Espiritualidade ___________________________ 114 Tabela 34. Dados do QG e Caractersticas da Amostra Dividida segundo o Critrio Local de Origem da Coleta: Grupo Religioso/Espiritual (n=459) x Grupo Geral (n=157) ___________________________________________ 116 Tabela 35. Ordem das Categorias para o Conceito de Deus no GR/E e no GG _______ 117 Tabela 36. Problemas de Sade Especificados pelos Participantes do Estudo, segundo o Critrio Local de Origem da Coleta (GR/E e GG) ___________________ 118 Tabela 37. Teste t para Amostras Independentes segundo Critrio Local de Origem da Coleta: para as Variveis R/E e Idade _____________________________ 119 Tabela 38. Teste t para Amostras Independentes segundo Critrio Local de origem da coleta: para as Variveis da Escala CRE ______________________________ 120 Tabela 39. Dados do QG e Caracterizao da Amostra Parcial de 526 Participantes segundo ndice FREQREL em: Freqncia Religiosa Alta (n=269), Mdia (n=108) e Baixa (n=149)___________________________________ 121 Tabela 40. Teste t para Amostras Independentes segundo Critrio FREQREL para as Variveis da Escala CRE ________________________________________ 123 Tabela 41. Teste t para Amostras Independentes segundo Critrio FREQREL para Variveis Demogrficas, de Sade e Outras Medidas de Religiosidade/Espiritualidade ____________________________________ 124 Tabela 42. Numerao e Siglas dos Objetivos/Finalidades do Coping Religioso-Espiritual______________________________________ 125 Tabela 43. Possibilidades de Classificao das Estratgias conforme as Finalidades do CRE ____________________________________________ 126 13

Tabela 44. Tabela Comparativa da Distribuio Terica e Emprica dos Itens da Escala RCOPE______________________________________________________ 128 Tabela 45. Tabela Comparativa da Distribuio Terica e Emprica dos Itens da Dimenso Positiva da Escala CRE (DiCREP) ________________________ 129 Tabela 46. Distribuio Terica dos Itens da Dimenso Negativa da Escala CRE (DiCREN)___132 Tabela 47. Distribuio Emprica dos Itens da Dimenso Negativa da Escala CRE (DiCREN) _132 Tabela 48. Dados Descritivos para as Variveis da Escala CRE (N=616) ___________ 134 Tabela 49. Dados Descritivos para as Variveis do Instrumento WHOQOL-bref (N=616) ____________________________________________________ 134 Tabela 50. Dados Descritivos para as Variveis de Outras Medidas Religiosas/Espirituais (N=616) ___________________________________ 134 Tabela 51. Teste t para Amostras Independentes segundo Critrio Qualidade de Vida (atravs do ndice WQTOTAL) para as Variveis da Escala CRE ________ 136 Tabela 52. Teste t para Amostras Independentes segundo Critrio Qualidade de Vida para Variveis de Sade e Outras Medidas de R/E ____________________ 137 Tabela 53. Teste t para Amostras Independentes segundo Critrio Faixa de CRE TOTAL para os ndices do Instrumento WHOQOL-bref ______________________ 138 Tabela 54. Teste t para Amostras Independentes segundo a Faixa de CRE TOTAL para as Variveis de Sade e Outras Medidas Religiosas/Espirituais ____________ 138 Tabela 55. Homogeneous Subsets para CRE TOTAL (segundo Faixa de Idade) ______ 139 Tabela 56. Correlaes Pearson (r) entre a Classificao Objetiva de Sade e os ndices dos Instrumentos que Avaliam CRE e QV __________________________ 139 Tabela 57. Homogeneous Subset para Idade (segundo COS) _____________________ 140 Tabela 58. Teste t para Amostras Independentes Com e Sem Problemas de Sade para as Variveis da Escala CRE e do Instrumento WHOQOL-bref_____________ 141 Tabela 59. Qui-Quadrado para a Varivel Classificao Subjetiva de Sade segundo os Grupos de CRE TOTAL Alto, Mdio e Baixo _______________________ 142 Tabela 60. Qui-Quadrado para a Varivel Classificao Subjetiva de Sade segundo os Grupos de Razo CREN/CREP Alta, Mdia e Baixa __________________ 142 Tabela 61. Homogeneous Subsets para Idade (segundo CSS) _____________________ 144 Figura 1. Eigenvalues da Dimenso CREP.__________________________________ 97 Figura 2. Eigenvalues da Dimenso CREN. ________________________________ 103 Figura 3. Matriz de correlao entre os ndices gerais, dimensionais e fatoriais da Escala CRE. ______________________________________________ 107

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABREVIATURAS E/OU SIGLAS = Significado (ordem alfanumrica) A.ENERGIA = Procura de passe energtico atravs das mos (imposio de mos) A.ENTIDADE = Procura de orientao atravs de entidades espirituais AJU/STRESS = Ajuda da Religio/Espiritualidade para lidar com o estresse

= Alpha de Cronbach (ndice de consistncia interna)AOS = Avaliao Objetiva de Sade (Dicotmica: saudvel ou doente) A.PRTICA = Prtica de preceitos religiosos/espirituais ARTOTAL = ndice Total de Atitudes Religiosas A.TRATAM = Procura de tratamentos espirituais COS = Classificao Objetiva de Sade (respostas em escala Likert de cinco pontos) CRE = Coping Religioso-Espiritual CRE NEGATIVO = ndice da mdia dos itens da DiCREN (quantidade do uso de CRE negativo) CRE NEGATIVO INVERTIDO = Dimenso de Coping Religioso-Espiritual Negativo Invertido CRE POSITIVO = ndice da mdia dos itens da DiCREP (quantidade do uso de CRE positivo) CRESCESP = Grau de Crescimento Espiritual CRE TOTAL = Coping Religioso-Espiritual Total (CRE POSITIVO+CRE NEGATIVO Invertido) CSS = Classificao Subjetiva de Sade (sete categorias a partir de questo descritiva) D.APOIOESP = Procura de apoio espiritual em Deus D.CONEXESP = Procura por conexo espiritual D.FOCO = Procura de apoio atravs de foco religioso DiCREN = Dimenso de Coping Religioso-Espiritual Negativo DiCREP = Dimenso de Coping Religioso-Espiritual Positivo D.LIMITE = Estratgia de construo de limites religiosos D.MGOA = Mgoa espiritual com Deus DOM1 = Domnio Fsico do WHOQOL-bref DOM2 = Domnio Psicolgico do WHOQOL-bref DOM3 = Domnio de Relaes Sociais do WHOQOL-bref DOM4 = Domnio Meio Ambiente do WHOQOL-bref dp = Desvio padro D.PERDO = Busca do perdo/absolvio religiosos D.REVOLTA = Revolta espiritual com Deus E.AUTODIR = Estratgia de CRE baseada no estilo auto-diretivo E.COLAB = Estratgia de CRE baseada no estilo colaborativo 15

E.DELEG = Estratgia de CRE baseada no estilo delegao religiosa passiva E.RENN = Estratgia de CRE baseada no estilo renncia religiosa ativa Escala AR = Escala de Atitude Religiosa Escala CRE = Escala de Coping Religioso-Espiritual E.SPLIC = Estratgia de CRE baseada no estilo splica por intercesso divina F = ndice do teste estatstico ANOVA FREQREL = ndice de Freqncia Religiosa IMPOREL = ndice de Importncia da Religio IMP/STRESS = Importncia da Religio/Espiritualidade para lidar com o estresse kappa = ndice de concordncia entre juzes avaliadores/apuradores = Mdia N = Nmero de sujeitos da amostra total n = Nmero de sujeitos para determinada resposta N1 = Reavaliao Negativa de Deus (Fator Negativo N 1 da DiCREN) N2 = Posicionamento Negativo frente a Deus (Fator Negativo N 2 da DiCREN) N3 = Reavaliao Negativa do Significado (Fator Negativo N 3 da DiCREN) N4 = Insatisfao com o Outro Institucional (Fator Negativo N 4 da DiCREN) O.AOSOC = Ao social, doao pessoal ao prximo O.AJUDANDO = Prover ajuda religiosa a outros O.APOIOINST = Busca de apoio espiritual interpessoal e/ou institucional O.LOCAL = Procura de local religioso O.MGOAINST = Mgoa interpessoal e/ou institucional OVERALL = ndice Geral do WHOQOL-bref p 1tYHOGHVLJQLILFkQFLDHVWDWtVWLFDp menor ou igual ... % = Percentagem de freqncia % Geral = Percentual de freqncia geral % Vl. = Percentual de freqncia vlido (em geral, excetuando os que no responderam) P.LITERAT = Busca de conhecimento religioso e espiritual atravs da literatura P.MDIA = Busca da mdia religiosa/espiritual P.INST = Prticas religiosas/espirituais no institucionalizadas (no organizadas institucionalmente) PS = Problema de Sade (Objetiva dicotmica: sim ou no, mais parte descritiva) P1 = Transformao de Si e/ou de sua Vida (Fator Positivo N 1 da DiCREP) P2 = Aes em Busca de Ajuda Espiritual (Fator Positivo N 2 da DiCREP) P3 = Oferta de Ajuda ao Outro (Fator Positivo N 3 da DiCREP) P4 = Posicionamento Positivo frente a Deus (Fator Positivo N 4 da DiCREP) 16

P5 = Busca Pessoal de Crescimento Espiritual (Fator Positivo N 5 da DiCREP) P6 = Aes em Busca do Outro Institucional (Fator Positivo N 6 da DiCREP) P7 = Busca Pessoal de Conhecimento Espiritual (Fator Positivo N 7 da DiCREP) P8 = Afastamento atravs de Deus, da Religio e/ou da Espiritualidade (Fator Positivo N 8 da DiCREP) QG = Questionrio Geral QG+N = Questo nmero tal do Questionrio Geral r = ndice de Correlao Pearson Razo CREN/CREP = Razo entre CRE NEGATIVO sobre CRE POSITIVO R.BEM = Reavaliao religiosa positiva benevolente R.MAL = Reavaliao malvola do estressor R.PODER = Reavaliao do poder de Deus R.PUNIO = Reavaliao punitiva de Deus SPSS 10.0 = Statistical Package for Social Science, verso n 10 do Software for Windows t = ndice do Teste t de Student T.DIRVIDA = Transformao da direo de vida T.OBJVIDA = Transformao do objetivo de vida T.PERDOAR = Exercendo o perdo atravs da religio/espiritualidade T.REFINT = Reforma ntima espiritual WHOQOL-bref = World Health Organization of Quality of Life-Bref (Escala de qualidade de vida abreviada, com 26 questes). WHOQOL-100 = World Health Organization of Quality of Life-100 (Escala de qualidade de vida com 100 questes) WQ+N = Questo nmero tal do WHOQOL-bref WQTOTAL = ndice de Qualidade de Vida Total $2= ndice do Teste de Qui-Quadrado I-R = Finalidade I da Religio: Busca de significado atravs de reavaliao cognitiva religiosa/espiritual II-E = Finalidade II da Religio: Estratgias de controle indireto segundo estilos de coping III-D = Finalidade III da Religio: Procura de apoio em Deus por conforto e/ou descarga IV-O = Finalidade IV da Religio: Busca de apoio atravs dos outros V-T = Finalidade V da Religio: Transformao de si e/ou de sua vida VI-A = Finalidade VI da Religio: Estratgias de controle direto atravs de aes religiosas ou em direo espiritualidade VII-P = Finalidade VII da Religio: Busca pessoal de crescimento e conhecimento 17

RESUMO OBJETIVOS: A importncia do coping religioso espiritual (CRE) nas reas da sade e qualidade de vida (QV), e a falta de instrumentos brasileiros para avalia-lo so apontadas pela literatura cientfica. Este estudo objetivou realizar a verso brasileira da RCOPE Scale, gerando a Escala de Coping Religioso Espiritual (Escala CRE), e examinar a relao entre CRE, sade e QV. MTODO: A primeira fase deste estudo compreendeu: traduo por especialistas da RCOPE, adaptao cultura brasileira, teste piloto com 50 estudantes de nvel mdio e superior. A segunda abrangeu teste de campo e processo de validao. Os 616 participantes [65% mulheres, 13- DQRV dp=18,44)], foram acessados em um dos seguintes locais que freqentavam: instituies religiosas ou grupos espirituais (74,4%), universidades (13,5%), clnicas para tratamento de sade (9,1%) e Web Mail (2,9%). Eles completaram vrios instrumentos: Consentimento Livre/Esclarecido, Questionrio Geral (questes demogrficas, socioeconmicas, religiosas, de sade), Escala CRE, Escala de Atitude Religiosa e WHOQOL-bref. RESULTADOS: Anlises fatoriais geraram uma Escala CRE com duas dimenses: CRE Positivo (CREP) (8 fatores, 66 itens) e CRE Negativo (CREN) (4 fatores, 21 itens). Foram criados quatro ndices principais para avaliar os respondentes: as mdias CREP e CREN, os escores de CRE TOTAL e Razo CREN/CREP. A Escala CRE demonstrou validade de construto, critrio, contedo e bons nveis de fidedignidade. Testes Qui-quadrado para Classificao Subjetiva de Sade (7categorias) mostraram problemas de sade (PS) fsicos relacionados a altos escores de CRE TOTAL e baixos de Razo CREN/CREP; PS emocionais, acrescidos ou no de PS fsicos, mostraram resultado inverso. Ainda, QV e CRE TOTAL estiveram positiva e significativamente correlacionados. O CREN esteve negativamente correlacionado QV em grau maior do que o CREP esteve positivamente correlacionado com QV. Usando Testes t de Student, aqueles que tiveram altos escores de CRE TOTAL mostraram maiores nveis de QV em todos os domnios do WHOQOL-bref, alm de maior Classificao Objetiva de Sade (Likert 5-pontos). Ademais, aqueles que tiveram altos nveis de QV demonstraram maior uso de CREP e menor de CREN. CONCLUSES: A Escala CRE vlida e fidedigna, permite aplicao clnica e em pesquisas em locais para tratamento de sade pblicos ou privados. PS fsicos podem ser motivadores e educadores do uso do CRE. PS emocionais podem dificultar um melhor uso do CRE, sugerindo que intervenes psicolgicas poderiam facilitar o processo. Alm disso, CRE e QV so construtos correlacionados. Uma proporo mnima de 2CREP:1CREN (Razo CREN/CREPIRL proposta para se obter um efeito benfico geral do CRE na QV. Evidncias sugerem que intervenes focadas no processo de CRE poderiam ser benficas e efetivas para agentes de sade pblica pelo seu potencial de reduzir custos de intervenes e pelo seu impacto significante na sade e QV da populao. Os prximos passos seriam: utilizao de metodologias experimentais longitudinais para melhor avaliar os efeitos do CRE na sade e na QV, elaborao de uma Escala CRE Abreviada, investigao aprofundada da influncia da varivel idade na relao CRE-Sade e testes de proporo e causais, para verificar a direo da correlao, entre CRE e QV. Palavras-chave: Coping Religioso Espiritual; Avaliao Psicolgica; Psicologia da Religio; Qualidade de Vida; Sade.

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ABSTRACT AIMS: The importance of spiritual/religious coping (SRC) construct to health and quality of life (QoL) areas is pointed by scientific literature, as well the lack of Brazilian instruments to assess it. This study goal was make the Brazilian version of RCOPE Scale, generating the Spiritual Religious Coping Scale (SRCOPE Scale), plus examine the relationship between SRC, health and QoL. METHODS: The first phase of this study comprehended: RCOPE translation by experts, scale adaptation to Brazilian culture, and pilot test with 50 college and high school students. The second covered both field test and validation process. The 616 participants (65% female), 13-82 years old (=41,38; SD=18,44), were accessed at one of the following locations they attended: religious institutions or spiritual groups (74,4%), universities (13,5%), health care institutes (9,1%), and web mail (2,9%). They completed several instruments: Informed Consent Form, General Questionnaire (demographic, socioeconomic, religious and health issues), SRCOPE Scale, Religious Attitude Scale and WHOQOL-bref. RESULTS: Factor analyses generated a SRCOPE Scale with two dimensions: Positive SRC (PSRC) (8 factors, 66 items), and Negative SRC (NSRC) (4 factors, 21 items). Four principal indexes were created to evaluate the respondents: PSRC and NSRC averages, SRC Total Scores and NSRC/PSRC Ratio. SRCOPE Scale demonstrated construct, criterion and content validation, plus good reliability levels. Chi-square tests for Subjective Health Classification (7 categories) showed physical health problems related to higher SRC Total Scores and lower NSRC/PSRC Ratios; and emotional health problems, added or not by physical health problems, related to lower SRC Total Scores and higher NSRC/PSRC Ratios. Also, QoL and SRC Total Scores were positively and significantly correlated. Moreover, NSRC was negatively correlated to QoL to a greater degree than PSRC was positively correlated with QoL. Using Student's t test, those who had high SRC Total Scores showed higher overall levels of QoL and in all domains of WHOQOL-bref, plus higher Objective Health Classification (5-pt Likert). Furthermore, those who had higher levels of QoL demonstrated higher use of PSRC and lower use of NSRC. CONCLUSIONS: SRCOPE Scale is valid and reliable, allows clinical and research application at private or public health care settings. Physical health problems can be motivators and educators of SRC use. Emotional health problems can hamper the better use of SRC, suggesting that psychological interventions could facilitate the process. Also, QoL and SRC are correlated constructs. A minimal 2PSRC:1NSRC proportion (NSRC/PSRC RatioZDVSURSRVHG to obtain positive results of SRC on QoL. Evidences suggests that interventions focused on SRC processes, could be effective and beneficial to policy makers because of their potential to reduce interventions costs and their significant impact on population's health and QoL. Next steps are the use of longitudinal experimental methodologies to evaluate effects of SRC on health and QoL, a Brief SRCOPE Scale elaboration, deeply investigation about the age variable influence on SRC-health relationship, and tests of proportion and causation (direction of correlation effect) between QoL and SRC. Keywords: Spiritual/religious coping, Assessment instrument, Psychology of Religion, Quality of life, Health.

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CAPTULO 1 INTRODUO O estresse uma varivel mltipla e um inevitvel aspecto da vida (Lazarus & Folkman, 1984). A exposio freqente, intensa ou crnica ao estresse est associada a numerosos efeitos adversos na sade fsica e mental (Boudreaux, Catz, Ryan, Amaral-Melendez & Brantley, 1995). O que faz diferena no funcionamento humano a maneira como as pessoas manejam este estresse (Lazarus & Folkman, 1984), processo conceituado como coping1. Uma das maneiras de manejar o estresse atravs da religio. Coping religioso, portanto, descreve o modo como os indivduos utilizam sua f para lidar com o estresse e os problemas de vida (Wong-McDonald & Gorsuch, 2000). Alguns esforos no desenvolvimento e validao de instrumentos de avaliao de coping religioso tm sido realizados internacionalmente (Boudreaux & cols., 1995; Hathaway & Pargament, 1990; Pargament & cols, 1990; Pargament, Koenig & Perez, 2000). Apesar disso, a avaliao do coping religioso ainda se encontra em estgios iniciais, havendo necessidade de novas pesquisas para melhor adequar e desenvolver os instrumentos de medida (Boudreaux & cols., 1995; Pargament & cols., 2000). No Brasil, ainda no existem instrumentos validados para avaliao de coping religioso, construto que tem se mostrado relevante, especialmente em pesquisas relacionando religio e espiritualidade com sade mental e fsica (reviso em Pargament, 1997 e Siegel, Anderman & Schrimshaw, 2001) e com qualidade de vida (Ferriss, 2002; Flannelly & Inouye, 2001; Neznanov & Petrova, 2002; Koenig, Pargament & Nielsen, 1998; Pargament, Smith, Koenig & Perez, 1998; Peterman, Fitchett, Brady, Hernandez & Cella, 2002; Robbins, Simmons, Bremer, Walsh & Fischer, 2001; Skevington, 2002). Assim sendo, o objetivo deste trabalho tentar cobrir tal lacuna, traduzindo, adaptando e validando a escala americana de coping religioso/espiritual RCOPE (Pargament & cols., 2000) para a realidade brasileira, na inteno de contribuir para futuras pesquisas nas reas da Psicologia da Religio, Coping, Sade e Qualidade de Vida, entre outras. 1. Estresse Apenas recentemente o estresse foi sistematicamente conceituado e tomado como objeto de pesquisa. Entretanto, no h consenso sobre uma definio do termo que satisfaa a maioria dos pesquisadores (Lazarus & Folkman, 1984). O estresse tem sido definido como um referente, tanto para descrever uma situao de muita tenso, quanto para definir a tenso1

Coping uma palavra inglesa que no possui traduo literal em portugus, podendo significar "lidar com", manejar, "enfrentar" ou "adaptar-se a".

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21 da tal situao (Lipp & Rocha, 1994). Enquanto mobilizao dos recursos pessoais diante das exigncias do meio, o estresse um estado normal e benfico, mas frente a demandas exageradas torna-se fonte de distrbios (Paiva, 1998). Por isso, o estresse tem sido usado como explicao de estados psicofisiologicamente alterados (Ader, 1980, citado em Lazarus & Folkman, 1984) que podem se converter em doenas ou serem a sua expresso. Associadas ao estresse prolongado, a literatura registra a ocorrncia de doenas orgnicas, como asma, acne, problemas de pele (como psorase e eczema), dismenorria, irregularidades cardacas, hipertenso, colite, formao de tumores, lceras gstricas, resfriados, herpes, mononucleose, alergias, verrugas. O mecanismo de ao envolve o sistema nervoso autnomo e o sistema endcrino, que, por sua vez, influem no sistema nervoso central e, ento, no comportamento manifesto (McIntosh & Spilka, 1990). Da o crescente interesse no estudo do estresse na sociedade ps-moderna. O estresse engloba mltiplos processos e variveis. Ele organiza o entendimento de fenmenos importantes na adaptao humana e animal, mas deve haver uma delimitao de sua esfera de significado, ou tudo aquilo que se incluiria no conceito de adaptao representaria estresse. Para tanto, se deve adotar uma estrutura terica sistemtica para examinar este conceito em mltiplos nveis de anlise especificando antecedentes, processos e resultados relevantes (Lazarus & Folkman, 1984). O estresse tambm tem sido definido tanto como estmulo, quanto como resposta. Mas um estmulo s definido como estressante em termos de uma resposta ao estresse. O conceito de estresse enfatiza a interao entre a pessoa e o ambiente, levando em conta caractersticas psicolgicas da pessoa e a natureza do evento ambiental. paralelo ao moderno conceito mdico de doena, que entende que a ocorrncia ou no desta depende, tambm, da suscetibilidade do organismo do indivduo e no apenas da ao de um organismo externo sobre ele. Assim sendo, Lazarus e Folkman (1984) definem o estresse psicolgico como a relao entre a pessoa e o contexto ambiental que percebida como indo alm do que a pessoa pode suportar, ou seja, excedendo seus recursos pessoais e ameaando seu bem-estar. Ressaltam que o processo de avaliao cognitiva dessa relao e os fatores pessoais e situacionais que a influenciam devem ser levados em conta. Isto porque a maneira como um indivduo percebe, interpreta e representa psiquicamente um fenmeno pode ser diferente e mais importante do que o fenmeno em sua realidade objetiva concreta (Freud, 1916/17). Assim, os fatores pessoais e situacionais que influenciam na percepo do fenmeno podem constituir recursos ou sobrecargas a serem manejadas pelo indivduo.

22 2. Coping Quanto utilizao da palavra coping, no Brasil existem estudos que traduzem coping por enfrentamento, conforme literatura estabelecida na rea da Psicologia da Sade (Paiva, 1998). Outros estudos, porm, mantm a palavra coping justamente (1) por no haver, na lngua portuguesa brasileira, uma palavra nica que possa expressar toda complexidade do termo, (2) para facilitar a recuperao de informaes por interessados no tema (Antoniazzi, DellAglio & Bandeira, 1998) e (3) em funo da utilizao generalizada desta expresso na comunidade cientfica brasileira (Savia, Santana & Mejias, 1996). Considerando o fato de que enfrentar significa atacar de frente, encarar, defrontar (Alves, 1956, p.364) e o coping, por vezes, pode revelar-se como fuga, evitao ou negao dos problemas, entende-se que a traduo de coping por enfrentamento poderia levar a equvocos na compreenso e interpretao do conceito. Deste modo, optou-se por no traduzir este termo no presente trabalho. Coping um conceito chave que ajuda a entender adaptao e desajustes na adaptao, j que o estresse sozinho no causa sofrimento e disfuno. O que causa sofrimento como as pessoas manejam com ele (Lazarus & Folkman, 1984; Lazarus, 1993; McIntosh & Spilka, 1990; Pargament, 1997; Pargament & cols., 1988, 1990, 1992; Pargament & Hahn, 1986; Pargament & Park, 1995). Coping concebido como o conjunto das estratgias utilizadas pelas pessoas para se adaptarem a circunstncias adversas ou estressantes (Antoniazzi & cols., 1998). Numa perspectiva cognitivista, coping um conjunto de esforos, cognitivos e comportamentais, utilizado pelos indivduos com o objetivo de lidar com demandas especficas, internas ou externas, que surgem em situaes de estresse e so avaliadas como sobrecarga que excede os recursos pessoais (Folkman & Lazarus, 1980; Lazarus & Folkman, 1984). Na perspectiva da Psicologia da Religio, coping uma busca por significado em tempos de estresse (Pargament, 1997, p.90), um processo pelo qual os indivduos procuram entender e lidar com as demandas significantes de suas vidas (Pargament & cols., 1990). Segundo o modelo de Folkman e Lazarus (1980), devido ao coping ser um processo ou interao entre o indivduo e o ambiente, sua funo administrar (reduzir, minimizar ou tolerar) a situao estressora, mais do que control-la ou domin-la. Os processos de coping pressupem a noo de avaliao do fenmeno estressante, anteriormente mencionada. Conforme tal avaliao, o indivduo empregar estratgias de coping: aes, comportamentos ou pensamentos para lidar com o estressor (Folkman, Lazarus, DunkelSchetter, DeLongis & Gruen, 1986). Tambm chamadas de mtodos de coping

23 (Pargament, 1997), elas podem ser classificadas, segundo sua funo, como estratgias focadas na emoo ou estratgias focadas no problema (Folkman & Lazarus, 1980). O coping focado na emoo definido como um esforo dirigido regulao da resposta emocional associada ao estresse ou resultante de eventos estressantes. Sua funo reduzir a sensao desagradvel do estado de estresse modificando o estado emocional. Inclui processos de reavaliao cognitiva, ou seja, manobras cognitivas que modificam o significado de uma situao sem mud-la objetivamente. Mas nem todas reavaliaes tm o objetivo de regular a emoo. Outras estratgias de coping focadas na emoo podem no mudar o significado do evento diretamente, mas levar a uma reavaliao que proporcione mudana, como algumas estratgias comportamentais. J as estratgias de coping focadas no problema so esforos dirigidos para a definio do problema, gerao de solues alternativas, balano do custo-benefcio das alternativas, escolha entre elas e, por fim, para a ao sobre o problema Ou seja, a funo desta estratgia agir na origem do estresse, tentando alterar o problema existente na relao entre a pessoa e o ambiente, causador de tenso. Pode ser direcionada interna ou externamente, incluindo, respectivamente, reavaliao cognitiva (como redefinio do estressor e estratgias direcionadas a modificaes cognitivas ou motivacionais) e estratgias de ao prtica para a soluo de problemas que implicam processos de anlise objetiva do ambiente (Folkman & Lazarus, 1980; Lazarus & Folkman, 1984). Segundo Carver e Scheier (1994), as pessoas desenvolvem formas habituais de lidar com o estresse, criando estilos de coping, que podem influenciar suas reaes em novas situaes. Deste modo, estratgias de coping se referem a aes cognitivas ou comportamentais tomadas no curso de um episdio particular de estresse, enquanto que estilos de coping tm sido mais relacionados a resultados de coping ou a caractersticas de personalidade. Embora os estilos possam influenciar a extenso das estratgias selecionadas, eles so fenmenos distintos com diferentes origens tericas (Ryan-Wenger, 1992). Os estilos de coping tm sido ligados a fatores disposicionais do indivduo, enquanto as estratgias de coping tm sido vinculadas a fatores situacionais (Antoniazzi & cols., 1998). No entanto, Carver e Scheier (1994) definem o estilo de coping no em termos de preferncia, mas de tendncia a usar uma reao de coping em maior ou menor grau frente a situaes de estresse, sem implicar, necessariamente, a presena de traos subjacentes de personalidade que predispem a pessoa a responder de determinada forma. Aps 1994, cresceu o interesse nos aspectos positivos do estresse e no desenvolvimento da mensurao do coping. Notveis rumos nas pesquisas em estresse e coping emergiram, como os estudos sobre a relao entre coping religioso e

24 psiconeuroimunologia (PNI) (Aldwin, 2000; Koenig, 2000a). Os estudos de coping religioso tm sido realizados na rea da Psicologia da Religio e Coping.

3. Psicologia da Religio Nada de humano alheio Psicologia. Como a Religio continua sendo uma das dimenses mais co-extensivas ao homem, constitui-se num objeto legtimo da pesquisa em Psicologia. Ambas tm na pesquisa cientfica um ponto de encontro (Paiva, 1990), reconhecido internacionalmente na instituio da Diviso 36 Psychology of Religion2 da American Psychological Association (APA) e, nacionalmente, na criao do GT 20 Grupo de Trabalho Psicologia & Religio da Associao Nacional de Pesquisa e PsGraduao em Psicologia (ANPEPP), em 1992 e 1997, respectivamente. Somente na ltima dcada do milnio foi que essa perspectiva ganhou maior espao, com um crescente nmero de pesquisas na rea, pois apesar da abundncia de dados sobre a religio e seu impacto na vida das pessoas, ela foi historicamente ignorada por muitos psiclogos, levando Larson e Larson, em 1992, a nome-la como fator esquecido na sade fsica e mental (Martin, Catz, Boudreaux & Brantley, 1998; Pargament & cols., 1992). Foi nos Estados Unidos que a Psicologia da Religio fugiu rbita da Teologia ou da Filosofia, caracterizando-se como empreendimento cientfico (Paiva, 1990). Uma srie de estudos inter-relacionados tem examinado a associao entre religio e espiritualidade e uma variedade de construtos e aspectos fsicos e/ou psicolgicos, como bem-estar (Francis & Kaldor, 2002; Pargament, Tarakeshwar, Ellison & Wulff, 2001); depresso (Schnittker, 2001); envelhecimento e sade (Musick, Traphagan, Koenig & Larson, 2000); sade mental (Koenig, 2001a; Ventis, 1995), sade fsica (Koenig, 2001c; McIntosh & Spilka, 1990; Siegel & Schrimshaw, 2002), ou ambas (George, Larson, Koenig & McCullough, 2000; Koenig, 2000b; Koenig, Larson & Larson, 2001; Siegel & cols., 2001); psiconeuroimunologia (reviso em Koenig, 2000a); personalidade (Schaefer & Gorsuch, 1993); locus de controle (Welton, Adkins, Ingle & Dixon, 1996); orientao religiosa (Miner & McKnight, 1999; Pargament & Hahn, 1986), modelos ou esquemas cognitivos (Bjorck, 1995; Dull & Skokan, 1995; Koenig, 1995; Koenig, 2001b; Lilliston & Klein, 1991; McIntosh, 1995; Nooney & Woodrum, 2002; Paloutzian & Smith, 1995); e psicoterapia (Carone Jr. & Barone, 2001; Worthington, Kurusu, McCullough & Sandage, 1996), entre outros. A possibilidade de generalizao desses achados em diferentes culturas tem despertado grande interesse, tendo sido desenvolvidos vrios estudos em2

Esta diviso substituiu a PIRI Psychologists Interested in Religious Issues (1970-71 a 1991-92), antiga American Catholic Psychological Association (1949-50 a 1969-70) (ver www.apa.com).

25 diversos pases: Irlanda do Norte, Irlanda, Inglaterra, Estados Unidos, Frana, Repblica Checa, Ghana, Nigria, Austrlia, Sua, etc (Lewis, 2002). No Brasil, a contribuio da Psicologia da Religio ocorre, entre outras, nas reas do catolicismo popular, das religies africanas, do espiritismo e das religies orientais. A multiformidade cultural brasileira criou concretizaes religiosas originais cujo estudo concorrer para o enriquecimento do rol de manifestaes religiosas e dos processos subjacentes (Paiva, 1990). Outra iniciativa de pesquisa em Psicologia da Religio o desenvolvimento e validao de instrumentos para avaliao de orientao religiosa, atitude religiosa, prticas religiosas e coping religioso (Lewis, 2002). 4. Coping Religioso Espiritual3 (CRE) A religio, que pode ter diferentes significados para diferentes pessoas, constitui-se num processo de busca de significado atravs de caminhos relacionados ao sagrado (Pargament, 1997, p.32). Quando as pessoas se voltam para a religio para lidar com o estresse, acontece o coping religioso (Pargament, 1997), definido como uso de crenas e comportamentos religiosos para facilitar a soluo de problemas e prevenir ou aliviar as conseqncias emocionais negativas de circunstncias de vida estressantes (Koenig & cols., 1998). Os objetivos do coping religioso se coadunam com os cinco objetivos-chave da religio, que so: busca de significado, controle, conforto espiritual, intimidade com Deus e com outros membros da sociedade, transformao de vida (Pargament, 1997; Pargament & cols., 2000) e bem-estar fsico, psicolgico e emocional (Tarakewshwar & Pargament, 2001). Existem trs meios pelos quais a religio pode estar envolvida no coping (Pargament, 1997; Pargament & cols, 1990). Primeiro, pode ser parte de cada um dos elementos do processo de coping (avaliaes, atividades, propsitos e resultados de coping), j que muitos eventos de nossas vidas so de natureza religiosa em si mesmos, ou a religio fonte deSegundo George, Larson, Koenig e McCullough (2000), embora ainda hoje sejam usadas como sinnimos, vm crescendo a utilizao distinta das palavras religio e espiritualidade. A primeira com o cunho de ser institucionalmente socializada, vinculada a uma doutrina coletivamente compartilhada e/ou praticada. A segunda refere-se tambm a buscas e prticas subjetivas, individuais e no-institucionais. Ambas tm em comum a busca do sagrado conceito ainda no avaliado diretamente pelos instrumentos de medida atuais. Apenas a partir de 1997 h um movimento discutindo e buscando distintas conceituaes/operacionalizaes das palavras religio e espiritualidade para a criao de uma linguagem terica uniforme (Larson, Swyers & McCullough, 1997). Por isso, textos mais antigos referem-se somente a coping religioso, e deste modo aparecem neste texto, embora muitas vezes possam estar se referindo tambm a coping espiritual. Um exemplo a escala RCOPE, que apesar de referir-se textualmente apenas a coping religioso composta tanto de itens de coping religioso, quanto de coping espiritual, sendo que alguns itens podem ser classificados em ambos. O prprio Pargament, primeiro autor da RCOPE Scale, utiliza em textos posteriores o termo religious/spiritual coping (Fetzer Institute, National Institute on Aging Working Group. 2003 (1999)). Seguindo a nova tendncia, nomeou-se a escala traduzida de Escala de Coping Religioso Espiritual (Escala CRE).3

26 explicao dos mesmos. Segundo, pode contribuir no processo de coping, moldando o carter dos eventos de vida, as atividades de coping e o resultado dos eventos. Terceiro, a religio tambm pode ser um produto do coping, moldado pelos outros elementos do processo. Os dois ltimos referem-se ao papel bidirecional da religio no coping. Estratgias religiosas de coping foram verificadas em estudos a partir de evidncias quanto importncia da religio, em especial diante de situaes de crise (Carver, Scheier & Weintraub, 1989; Vitaliano, Russo, Carr, Maiuro & Becker, 1985), principalmente frente a problemas relacionados sade e ao envelhecimento, como doenas, incapacidades e morte (Koenig & cols., 1995; Pargament & Hahn, 1986; Siegel & cols., 2001; Tix & Frazier, 1998), perda de entes queridos (McIntosh, Silver & Wortman, 1993; Park & Cohen, 1993) e s guerras (Pargament & cols., 1994). A este maior uso de estratgias de coping religioso em determinadas situaes de vida, Lewin (2001) denominou assuno quanto especificidade do evento.

4.1 Estratgias ou Mtodos de CRE A religio oferece uma variedade de mtodos ou estratgias de coping (Pargament, 1997) que, contrariando o esteretipo de que seriam meramente defensivos, passivos, focados na emoo ou formas de negao (Pargament & Park, 1995), se mostram cobrindo toda uma srie de comportamentos, emoes, cognies e relaes, conforme Tabela 1 (adaptada de Pargament, Smith & cols., 1998 e Pargament, Tarakeshwar & cols., 2001). Estudos demonstram que o coping religioso espiritual pode estar associado tanto a estratgias orientadas para o problema, quanto a estratgias orientadas para a emoo (Carver & cols., 1989; Clark, Bormann, Cropanzano & James, 1995; Seidl, Trccoli & Zannon, 2001). Clark e colaboradores (1995) verificaram que, alm da associao com estratgias de coping focadas no problema, a religio tambm se correlacionou moderadamente com a ventilao de emoes, que representa uma tendncia liberao de emoes relacionadas ao estresse e liberao de sentimentos negativos, podendo, ento, apresentar carter no adaptativo. Pargament, Zinnbauer e colaboradores (1998) elaboraram uma escala de CRE para avaliar este aspecto, que denominaram sinais de perigo. Deste modo, em relao aos resultados, pode-se classificar os mtodos de coping religioso espiritual em positivos e negativos (Pargament, Smith & cols., 1998; Pargament, Tarakeshwar & cols., 2001). Evidncias apontam um uso consideravelmente maior de mtodos de coping religioso positivos do que negativos para diferentes amostras em diferentes situaes estressantes de vida (Pargament, Smith, & cols., 1998).

27 Tabela 1. Mtodos ou Estratgias de Coping Religioso Espiritual* Mtodos Positivos: Reavaliao religiosa benevolente Coping religioso colaborao Foco religioso Ajuda atravs da religio Apoio espiritual Apoio de membros e/ou freqentadores da instituio religiosa Perdo religioso Conexo espiritual Mtodos Negativos: Reavaliao de Deus como punitivo Reavaliao demonaca ou malvola Reavaliao dos poderes de Deus Coping religioso delegao Descontentamento espiritual Descontentamento religioso interpessoal Interveno divina Descrio: Redefinir o estressor atravs da religio como benevolente e potencialmente benfico. Tentar controlar e resolver os problemas em parceira com Deus. Buscar alvio da situao estressante focando-se na religio. Esforo para prover conforto e suporte espiritual a outros. Procurar por conforto e segurana renovada atravs do amor e do cuidado de Deus. Procura por conforto e renovao da confiana atravs do amor e cuidado dos membros e freqentadores da instituio religiosa. Buscar ajuda na religio para mudar os sentimentos de raiva, mgoa e medo associados a uma ofensa para a paz. Busca de conexo com foras transcendentais. Descrio: Redefinir o estressor como punio divina aos pecados individuais. Redefinir o estressor como fenmenos do mal ou atos do demnio. Redefinir os poderes de Deus para influenciar a situao estressante. Esperar passivamente que Deus resolva os problemas. Expresso de confuso e descontentamento com Deus Expresso de confuso e descontentamento com membros e freqentadores da instituio religiosa. Splica por interveno divina direta.

* Adaptado de Pargament, Smith e colegas (1998) e Pargament, Tarakeshwar e colegas (2001).

Pesquisas apontam que mtodos ou estratgias de coping religioso espiritual no so apenas melhores preditores dos resultados de experincias estressantes do que medidas religiosas globais, mas acrescentam varincia nica predio destes resultados, inclusive os de sade e bem-estar, acima e alm dos efeitos de mtodos de coping no religioso (Pargament, 1997; Pargament & cols., 1992; Pargament, Smith & cols., 1998; Pargament, Tarakeshwar & cols., 2001). O coping religioso espiritual adiciona um componente nico para a predio de ajustamento a eventos de vida estressantes que no podem ser explicados por outros preditores estabelecidos, como reestruturao cognitiva, suporte social e controle percebido (Tix & Frazier, 1998). Assim, coping religioso espiritual no pode ser reduzido a formas no religiosas de coping. O estudo de Koenig e colegas (1998) que ser exposto em maiores detalhes na seo 4.8 deste trabalho corrobora com estas afirmaes, j que os autores demonstraram que as associaes entre estratgias de coping religioso espiritual e estado de sade mental foram pelo menos to fortes quanto, quando no mais fortes do que aquelas observadas com estratgias de coping no religioso. Neste estudo (1) algumas

28 estratgias de CRE positivo estiveram associadas com melhor sade mental (menor depresso e maior qualidade de vida); (2) a maioria das estratgias de CRE negativo estiveram associadas com pior sade mental e fsica; e, (3) estratgias de coping no religioso estiveram geralmente associadas com sade mental e fsica pobres (apenas aceitao e recebimento de apoio social/emocional estiveram relacionados a melhor sade mental). 4.2 Estilos de CRE Pargament e colegas (1988) propuseram trs estilos de coping religioso e a Religious Problem-Solving Scale para acess-los. O estilo autodireo (self-directing) considera o indivduo ativamente responsvel na resoluo dos problemas. O papel de Deus seria mais passivo. No uma posio anti-religiosa, mas um ponto de vista de que Deus d s pessoas a liberdade e os recursos para dirigirem suas prprias vidas. O estilo delegao (deferring) outorga a responsabilidade na soluo dos problemas a Deus. O indivduo passivamente espera que Deus resolva tudo. O estilo colaborao (collaborative) prev uma coresponsabilidade entre Deus e o indivduo na resoluo dos problemas. O indivduo trabalha em ativa parceria com Deus no processo de coping. Mais tarde, Pargament (1997) vai propor a possibilidade de existncia de outras abordagens religiosas em relao ao controle e responsabilidade na soluo de problemas, e identificar um quarto estilo de coping religioso: splica (pleading or petitionary), caracterizado pela tentativa de influenciar a vontade de Deus atravs de rogos e peties por sua divina interveno. Um estilo adicional, renncia (surrender), teoricamente embasado no conceito de auto-renncia do Novo Testamento (Mateus 10:39, 26:39), foi proposto por WongMcDonald e Gorsuch (2000). Neste estilo, o indivduo escolhe ativamente renunciar sua vontade em favor da vontade de Deus. Est relacionado ao estilo colaborao no sentido de que ambos, Deus e o indivduo, so ativos na soluo dos problemas, mas difere no aspecto sacrifical de submisso da vontade individual. Difere do estilo delegao no aspecto ativo da escolha. Difere do estilo splica pelo carter de renncia vontade de Deus, ao invs da tentativa de influenci-la. As dimenses locus de controle (ou de responsabilidade) e nvel de atividade so subjacentes aos estilos de resoluo de problemas atravs do coping religioso. Elas tm sido usadas para entender pessoas com diferentes orientaes religiosas (Pargament & cols., 1988). 4.3 CRE e Orientao Religiosa Orientao religiosa se refere a como as pessoas orientam sua religiosidade, tendncia que apresentam em relao ao seu uso. Ou seja, uma disposio generalizada

29 para usar determinados meios para obter determinados fins na vida (Pargament & cols., 1992). Este construto apontado como uma das variveis mais bsicas para descrever religio. Segundo Ventis (1995), ele emergiu do trabalho de Gordon Alport, que pretendia descrever os modos como as pessoas se mostravam religiosas, independentemente de credos especficos. Em 1950, Alport distinguiu entre religio madura e imatura, a primeira associada com autogratificao, sem contribuir para integrao da personalidade e para insights auto-reflexivos, e a segunda possibilitando uma funo central organizadora e integradora da personalidade, produzindo uma moralidade consistente (Ventis, 1995). Em 1959, Alport introduziu os conceitos de religiosidade intrnseca, no qual a religio representa a principal fora motivadora na vida de uma pessoa, e religiosidade extrnseca, no qual a religio usada primariamente para ganhos ou fins externos, como status social ou apoio emocional/social (Wong-McDonald & Gorsuch, 2000). Na orientao intrnseca, crena e f so totalmente interiorizadas sem reservas e profundamente vivenciadas; na extrnseca h uma subordinao utilitria da religio a outros propsitos no religiosos (Hathaway & Pargament, 1990). Em 1967, Alport e Ross desenvolveram a ROS Religious Orientation Scale, apontada por Lewin (2001), em conjunto com a SAI Spiritual Assessment Inventory (Hall & Edwards, 1996, 2002), como boas medidas de espiritualidade em contextos onde as pessoas so religiosas de forma no organizacional. Em 1976, Batson sugeriu trs orientaes para a religio: como meio, fim e busca. Como as duas primeiras eram comparveis s orientaes extrnseca e intrnseca de Alport, respectivamente (Ventis, 1995), a maioria dos autores subseqentes tomou busca como um terceiro tipo de orientao, na qual a religio vista como um processo dinmico de procura e questionamento (Wong-McDonald & Gorsuch, 2000) dvida e auto-examinao (McIntosh & Spilka, 1990). Proeminente para indivduos que esto preocupados com questes religiosas, mas tem a mente aberta para a possibilidade de que talvez no existam respostas para estas questes (Ventis, 1995), tem sido relacionada tanto a conflitos religiosos e ansiedade (McIntosh & Spilka, 1990), quanto a maior crescimento e significao pessoal (Pargament & cols., 1992). Mais tarde, Bateson desenvolveu o Religious Life Inventory, tratando as trs como dimenses que variam independentemente (ver McIntosh & Spilka, 1990; Ventis, 1995). Assim como existiram crticas tericas e metodolgicas distino de Alport (ver Ghorbani, Watson, Ghramaleki, Morris & Hood, Jr., 2002; Siegel & cols., 2001), tambm existiram quanto orientao de busca de Batson (McIntosh & Spilka, 1990; Ventis, 1995). Mesmo assim, ainda so as classificaes e escalas mais largamente reconhecidas e

30 utilizadas na literatura cientfica. Em 1989, Gorsuch e McPherson, baseados num estudo fatorial analtico dividem a orientao extrnseca em fatores extrnseco-social e extrnsecopessoal, quando a religio usada, respectivamente, para ganhos sociais, como fazer amigos, ou para benefcios pessoais, como obter paz e conforto (Wong-McDonald & Gorsuch, 2000). Concluindo sua reviso da literatura, Pargament (1997) sugere que mtodos de coping religioso mediam a relao entre a orientao religiosa de um indivduo e os resultados dos principais eventos de vida, pois, frente a eventos estressantes, prticas e crenas religiosas gerais tm de ser traduzidas em formas especficas de coping e estas parecem ter implicaes diretas com a sade do indivduo. Pargament e colaboradores (1988) sugeriram que diferentes estilos de coping talvez reflitam diferentes motivaes e/ou orientaes religiosas. Uma chave para entender distintas orientaes religiosas o conceito de locus de controle.

4.4 CRE e Locus de Controle (LOC) LOC um importante conceito discutido na Psicologia. Portanto, parece oportuno relatar o desenvolvimento e alguns resultados da linha de pesquisa que investiga a relao entre CRE e Locus de Controle na Psicologia da Religio. LOC refere-se ao fato das pessoas atriburem a causa e o controle dos acontecimentos de suas vidas a alguma fonte, para manter ou intensificar seu significado (McIntosh & Spilka, 1990). Esta avaliao importante para o coping (Paiva, 1980). Em McIntosh e Spilka (1990) verifica-se que: 1) em 1966, Rotter apresentou o conceito de locus de controle, originalmente sugerindo que os indivduos vem os eventos de vida como sendo determinados interna ou externamente, ou em algum ponto do continuum entre tais determinaes; 2) em 1973, Levenson refinou o conceito de controle externo em controle por outros poderosos e pelo acaso; 3) em 1976, Kopplin rapidamente acrescentou uma medida de controle exercido por Deus, no qual a pessoa depende passivamente de um Deus ativo. Mais tarde, Pargament e Hahn (1986) afirmaram que as pessoas tm diferentes concepes de Deus, e Pargament e colaboradores (1988) propuseram o estilo de coping religioso colaborao, reconhecendo que h pessoas que aceitam o controle externo exercido por Deus sem abrir mo do controle exercido por elas mesmas. Depois, outra classificao de LOC foi proposta por Rothbaum, Weisz e Snyder, em 1982 e Weisz, Rothbaum e Blackburn, em 1984, distinguindo controle primrio, voltado para a mudana da situao objetiva, e controle secundrio, voltado para a mudana daquele que a percebe (Paiva, 1998). Em 1974, Levenson elaborou a Multidimensional Locus of Control Scale, medindo trs dimenses de controle percebido: interno, outros poderosos e acaso, onde o controle de

31 conseqncias pessoalmente significativas percebido como estando, respectivamente, em si mesmo, em outras pessoas importantes para a situao ou na aleatoriedade da sorte ou do destino (Paiva, 1998). Esta escala foi validada no Brasil, mais tarde, por Tamayo (1989). Anos depois, Welton e colaboradores (1996) acrescentaram itens empiricamente testados escala de Levenson, desenvolvidos para avaliar o controle exercido por Deus, denominando-o de quarta dimenso, produzindo uma melhora significativa na escala. Entretanto, Pargament e colaboradores (1990) apontaram que, enquanto atribuies religiosas contribuem pouco para a predio de resultados positivos de eventos estressantes, escalas de coping religioso adicionam significante e nica varincia predio destes resultados (gerais, religiosos e de sade mental). Pargament e colaboradores (1988) correlacionaram LOC aos estilos de coping religioso espiritual. No estilo de CRE autodireo, o controle buscado pelo self. No estilo de CRE delegao, controle buscado por Deus. No estilo de CRE colaborao, o controle buscado com Deus (colaborao entre self e Deus). No estilo de CRE splica, o controle buscado atravs de Deus (Pargament, 1997). Analogamente, considerando a literatura, se pode considerar que no estilo de CRE renncia, proposto por Wong-McDonald e Gorsuch (2000), o controle buscado pelo self atravs da submisso a Deus, sendo consistente com a associao entre controle interno e controle de Deus, anteriormente mencionada. Prticas e crenas religiosas podem reduzir o senso de perda de controle e desesperana que acompanha as doenas, especialmente as fsicas. Elas provm uma estrutura cognitiva que reduz sofrimento e aumenta o senso de significao e propsito frente a perdas, antes apenas baseado em fontes de auto-estima (Koenig & cols., 2001). Este aspecto se mostra relevante, j que a percepo de controle pessoal tem sido encontrada em associao com melhor ajustamento psicolgico e comportamentos desejveis em vrios contextos (Siegel & cols., 2001). A percepo dos eventos pode ser influenciada por esquemas cognitivos de sistemas de crenas.

4.5 CRE e a Religio como Esquema Cognitivo Em 1995, McIntosh lana a perspectiva da religio como esquema cognitivo, apontando sua capacidade de integrar achados e conceitos anteriores e sua utilidade para explorar/explicar estrutura e funo das crenas religiosas. Ressaltou que a religio-comoesquema poderia ser particularmente importante para o estudo do coping religioso (McIntosh, 1995). Definiu esquema como estrutura cognitiva ou representao mental, que contm conhecimento anterior organizado sobre um domnio em particular, incluindo as especificaes das relaes entre seus atributos. Esquemas so construdos na interao

32 com o ambiente e modificveis pela experincia. Alm disso, operam em vrios nveis de generalidade, com esquemas abstratos amplos, como religio, usualmente contendo esquemas mais especficos inseridos. O conhecimento sobre o funcionamento dos ltimos poderia ajudar a entender o funcionamento dos primeiros. Esquemas religiosos possibilitam s pessoas identificar estmulos rapidamente, preencher as informaes faltantes em sua disposio e selecionar estratgias para a obteno de informaes adicionais ou para a soluo de problemas. Moldam a maneira como a informao perceptualmente organizada, armazenada, recuperada e processada, arranjando a mirade de estmulos, dando-lhes significado e facilitando seu processamento. A adoo do conceito de esquema liga as pesquisas realizadas pelos psiclogos sociais e cognitivos sobre o pensamento e o processamento de informaes no trabalho com sistemas de crenas, em geral, e com religio, em particular (McIntosh, 1995). Outros tericos (Bjorck, 1995; Koenig, 1995; Paloutzian & Smith, 1995) debateram a utilidade e os problemas relacionados utilizao da religio como esquema, concluindo pela necessidade de pesquisas exploratrias e experimentais para melhor definir e mensurar o esquema cognitivo religioso.

4.6 Modelos Envolvendo CRE Alguns modelos envolvendo religio e coping, sob diferentes aspectos, foram propostos. No princpio da dcada de 90, Liliston e Klein (1991) desenvolveram um modelo de reduo de autodiscrepncia de coping religioso, propondo que a efetividade da resposta religiosa a crises pessoais estava relacionada ao tipo e quantidade de autodiscrepncia na percepo do self. Pouco depois, Dull e Skokan (1995) propuseram um modelo cognitivo para a influncia da religio na sade, que incorporava crenas religiosas num sistema de cognio e funcionamento psiconeuroimunolgico. Ressaltaram a necessidade de modelos de processo psicolgico para estudar como os eventos de vida so interpretados no contexto da f religiosa. Anos mais tarde, Koenig (2001b) divulgou seu modelo terico descrevendo como a religio afeta a sade fsica. Este modelo relaciona religio com sade mental, apoio social e comportamentos saudveis, considerando variveis independentes (suscetibilidade e hereditariedade gentica, gnero, idade, raa, educao e renda) e caractersticas e valores pessoais (incluindo aprendizado infantil e decises na adultez), que influenciam o organismo e a gerao de doenas fsicas especficas. O ltimo modelo de que se tem notcia foi proposto por Nooney e Woodrum (2002), testando coping religioso e suporte social baseado na igreja como variveis preditoras de resultados de sade mental. Numa amostra que considerou apenas indivduos afiliados a alguma religio, montaram um

33 modelo que indica a prevalncia do construto coping religioso sobre as outras medidas religiosas utilizadas na predio de resultados de sade mental (depresso), e influencia mais do que suporte social baseado na igreja, sendo que prece e freqncia igreja afetam indiretamente, atravs do coping religioso. Estes resultados corroboraram os de Pargament (1997) e Pargament e colaboradores (1992; 1998; 2001).

4.7 CRE e Sade Existem quatro razes para associao entre religio e sade: 1) crenas religiosas provm uma viso de mundo que d sentido s experincias, seja positivo ou negativo; 2) crenas e prticas religiosas podem evocar emoes positivas; 3) a religio fornece rituais que facilitam e santificam as maiores transies de vida (adolescncia, casamento, morte); 4) crenas religiosas, como agentes de controle social, do direcionamento e estrutura para os tipos de comportamentos socialmente aceitveis (Koenig, 2001b). A vasta maioria das pesquisas indica que prticas e crenas religiosas esto associadas com melhor sade mental e fsica (Koenig, 2001c). De quase 850 estudos examinando a relao entre envolvimento religioso e sade mental, a maioria endossa que o primeiro est associado a maior satisfao de vida e bem-estar, maior senso de propsito de significado de vida, maior esperana e otimismo, menor ansiedade e depresso, maior estabilidade nos casamentos, menor ndice de abuso de substncias (Koenig & cols., 2001). De 225 relatos sobre pesquisas envolvendo religio e sade fsica, a maioria encontrou resultados positivos do envolvimento religioso em relao : dor, debilidade fsica, doenas do corao, presso sangnea, enfarto, funo imune, funo neuroendcrina, doenas infecciosas, cncer e mortalidade (Koenig, 2001c). As conexes positivas encontradas no querem dizer que todas as religies ou alguma em particular sempre promovam emoes humanas positivas, relacionamentos satisfatrios ou estilos de vida saudveis (Koenig, 2001a). Em certas circunstncias, a religio pode ter um efeito adverso na sade, particularmente se as crenas so usadas para justificar comportamentos de sade negativos ou quando prticas religiosas so usadas para substituir cuidados mdicos tradicionais (Koenig, 2001c). Ela, tambm, pode ser usada para induzir culpa, vergonha, medo ou para justificar raiva e agresso. Como agente de controle social, pode ser excessivamente restritiva e limitante, promovendo isolamento social dos que no esto de acordo com os padres religiosos. No geral, entretanto, as principais religies com tradies bem estabelecidas e lideranas responsveis tendem a promover mais experincias humanas positivas do que negativas (Koenig, 2001a), o que

34 parece combinar com o maior uso de estratgias positivas de coping religioso do que negativas (Pargament, Smith & cols., 1998). Da perspectiva da sade pblica, vrios estudos demonstram que pessoas que apresentam envolvimento religioso tm menor probabilidade de usar/abusar de substncias como lcool, cigarros e drogas, ou de apresentar comportamentos de risco, como atividades sexuais extramaritais, delinqncia e crime especialmente os mais jovens (reviso em Koenig, 2001a). H indicaes consistentes de que envolvimento religioso de adolescentes positivamente relacionado com valores pr-sociais e negativamente com comportamento arriscado, incluindo suicdio, abuso de substncia, delinqncia, atividade sexual prematura e gravidez na adolescncia. Em parte como resultado desses achados, o Manual Diagnstico e Estatstico das Doenas Mentais IV (DSM-IV) realizou mudanas significativas em sua apresentao da religio, removendo as freqentes ilustraes negativas da religio na psicopatologia e incluindo o Cdigo V para Problemas religiosos e espirituais (Weaver & cols., 1998). Quanto aos usurios dos servios de sade, Connelly e Light (2003) afirmam que, dos 350 estudos em artigos cientficos por eles pesquisados que mostram alguma correlao entre religio e boa sade, a pluralidade mostrou que a grande maioria dos pacientes quer ser perguntada sobre sua espiritualidade e/ou suas crenas religiosas no contexto do cuidado sade. Profissionais de vrias reas tm demonstrado interesse em abordar estas relaes nos campos tericos e aplicados. Lawler e Younger (2002), baseados no modelo da Teobiologia, realizaram um estudo sobre a relao da espiritualidade e da religio com respostas cardiovasculares agudas, entre outras, e os resultados apontaram para o fato de que a espiritualidade e o envolvimento em religies organizadas pode representar meios de aumentar o senso de propsito e significado de vida, o qual est relacionado a maior resilincia e resistncia ao estresse relacionado s doenas. A Teobiologia, conforme definida por Rayburn (2001, citado por Lawler & Younger, 2002), reflete as interconexes recprocas entre teologia e biologia. Considerando que os seres humanos so organismos incorporados, advoga que os instrumentos da psicologia, biologia e psicofisiologia podem ser utilizados para elucidar as relaes entre teologia, o corpo humano e a experincia religiosa. No entanto, embora os mecanismos especficos (resumo em Musick & cols., 2000) atravs dos quais a religio pode afetar a sade estejam sendo pesquisados, ainda no esto bem esclarecidos. O coping religioso tem sido citado na literatura como melhor preditor de resultados de sade, podendo contribuir nisso. Apresenta correlao positiva com crescimento relacionado ao estresse, crescimento espiritual e cooperatividade (Koenig & cols., 1998) e est

35 associado com aperfeioamento do coping, menor ndice de desordens emocionais, maior suporte social e menor ndice de comportamentos que possam afetar adversamente sade e relacionamentos humanos (Koenig, 2001a). Por isso, certamente necessrio aprender mais sobre os diferentes tipos de coping religioso, para quem eles so mais efetivos e sob que circunstncias eles provm o maior benefcio (Aldwin, 2000). Para tanto, so necessrios meios precisos e confiveis de avali-lo. Uma varivel que tem sido relatada como tendo reflexos, numa certa extenso, na sade mental, no que se refere ao sucesso da adaptao psicolgica dos pacientes a sua doena e seu respectivo tratamento a satisfao com a vida (Neznanov & Petrova, 2002). O conceito de qualidade de vida, inclusive, tem sido proposto para avaliar desfechos clnicos em populaes, alternativamente taxa de mortalidade (WHOQOL Group, 1994). Neste sentido, estudos sobre qualidade de vida vm sendo conduzidos, bem como tm sido averiguadas suas possveis relaes com sade, coping, religio e espiritualidade. 4.8 CRE e Qualidade de Vida (QV4) A Qualidade de Vida compreende a intercorrelao entre trs fatores: fsico, psicolgico e social (Neznanov & Petrova, 2002). Configura-se num conceito bastante complexo, pois abrange sade fsica; estado psicolgico; nvel de independncia; relacionamentos sociais; crenas espirituais, religiosas e pessoais; e relao com o ambiente (Skevington, 2002). importante ressaltar, entretanto, a distino entre os conceitos de padro de vida e QV (Skevington, 2002). O primeiro compreende indicadores globais das caractersticas relevantes do modo de viver das sociedades e dos indivduos, em termos socioeconmicos, demogrficos e de cuidados bsicos de sade disponveis. O segundo conceito baseado em parmetros que se referem percepo subjetiva dos aspectos importantes da vida de uma pessoa, os quais podem ou no coincidir com os indicadores de padro de vida. O Grupo de Avaliao da Qualidade de Vida da Diviso de Sade Mental da Organizao Mundial da Sade (Grupo WHOQOL), props que estas percepes e interpretaes se originam na cultura qual a pessoa pertence (Skevington, 2002). Por isso, na QV, a questo cultural fundamental, j que diferentes culturas tendem a priorizar diferentes aspectos. Segundo Skevington (2002), o Grupo WHOQOL pode ter sido o primeiro a incluir na definio de QV o componente cultural como parte integrante e fundamental, ao invs de tratar sua influncia como uma varivel no relacionada. Este grupo umaOptou-se por utilizar, neste texto, a abreviao QV, em portugus, para qualidade de vida, apesar de salientarmos que a sigla mais utilizada internacionalmente QoL (do ingls, Quality of Life).4

36 colaborao entre pesquisadores, clnicos e cientistas que vm trabalhando juntos h mais de 12 anos a partir de protocolos internacionais consensuais, desenvolvidos de comum acordo a cada estgio do desenvolvimento do projeto. Membros do Grupo WHOQOL (WHOQOL Group, 1994) definiram qualidade de vida como "a percepo do indivduo de sua posio na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relao aos seus objetivos, expectativas, padres e preocupaes" (citado por Fleck, Louzada, Xavier, Chachamovich, Vieira, Santos & Pinzon, 2000). Entretanto, pesquisadores independentes e vrios outros grupos de pesquisadores, subsidiados por diferentes instituies, tambm tm estudado