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Site: www.funag.gov.brE-mail: [email protected]

Quem é o autor?

Crispiniano Neto é poeta popular e jornalista. Tem 11 livros, um CD emais de 120 folhetos publicados. Atualmente é presidente da Fundação JoséAugusto e um dos principais articuladores dos cordelistas na retomada daimportância desse gênero literário essencialmente brasileiro.

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01Peço inspiração poéticaÀs musas do mundo inteiroPara falar de um grandeDiplomata brasileiro,Bamba da GeografiaQue foi da diplomaciaBrasileira, o pioneiro!

02Seu valor excede em muitoMina, terra, indústria e banco:José Maria da SilvaParanhos Júnior, homem francoQue brincou, lutou e amouE a História o transformouEm Barão do Rio Branco!

03O Barão foi desses homensQue a natureza compôs,Mas depois quebrou a fôrmaE o projeto não expôs...Foi um daqueles gigantesQue igual não houve antes;Maior não terá depois.

04O barão foi nosso craqueNo gramado diplomático,Foi o papa do acordo,Foi estrategista e tático,Negociador histórico,Um pragmático teóricoCom um genial senso prático!

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05Nasceu no Rio de JaneiroQuarenta e cinco era o ano;O século era o dezenoveVinte de abril, sem engano,O seu pai era o Visconde,Outro nome que respondeComo grande veterano!

06Visconde do Rio Branco,José Paranhos, seu paiFoi Ministro da Marinha,Diplomata no Uruguai,Primeiro ministro honrado,Diplomata e magistradoPara a paz com o Paraguai!

07Seu pai também demonstrouSer da História, um dos bravos,Com a Lei do Ventre LivreQue promulgou contra os travosDa escravidão infeliz.Depois dele, no País...Não nasciam mais escravos!

08Sua mãe era Tereza,De Figueiredo FariaMulher de grande estatura,Que com luz lhe educariaPra que ele pudesse serUm dos bambas do poderQue por certo exerceria!

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09Assim cresceu o meninoSob os cuidados dos paisFez no Dom Pedro Segundo,Estudos colegiaisE prosseguiu no estudoProcurando saber tudoE lendo pra saber mais!

10Teve uma infância felizTendo oito irmãos ao lado,Brincando em praias e parquesE em clube conceituado,Bibliotecas e templosSempre seguindo os exemplosDo pai, Visconde afamado!

11O Barão, na juventude,Ganhou fama de boêmioEra um típico cariocaQue amava o bar e o grêmioMesmo com todo o respeitoUm rasgo de preconceitoEle ganhou como “prêmio”

12Porém não se descuidavaDe aprender com o pai.Nas lições sobre o BrasilBem cedo se sobressaiE ajuda o velho ViscondeQue nos acordos respondePela paz com o Paraguai.

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13Por estes tempos partiuPara em São Paulo estudarNo Largo de São FranciscoFez o seu vestibularMostrando o próprio cacifeE depois foi pra RecifePra enfim se bacharelar!

14Nestes tempos começouUma carreira exemplarDe escritor e jornalistaPassando a biografarO Comandante felizDo Navio Imperatriz,Na “Revista Popular”.

15Prosseguindo na imprensaLogo ao desenho se lança.Na Revista “Ilustração”Que circulava na FrançaFez um relato fielAo descrever a cruelGuerra da Tríplice Aliança.

16Depois que voltou formadoFoi ensinar muito cedo,Corografia e HistóriaDas quais sabia o segredo...Colégio Pedro Segundo.Lá, sucedeu ao profundoJoaquim Manuel de Macedo.

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17Deixou logo o magistérioPartiu pra o interiorFoi exercer o DireitoDemonstrando seu valorPra Nova Friburgo iaExercer com maestriaO cargo de Promotor!

18Mas não se sentia bemDistante da capital.O pai usou do prestígioE num pleito eleitoralConseguiu fazer do moçoPelo Estado Mato Grosso,Deputado federal.

19No jornalismo seguiuDemonstrando vocaçãoAlém de escrever artigosDe grande repercussão,Por conquistar o leitor,Transformou-se em RedatorDo Periódico “A Nação”.

20Porém, nem tudo eram floresNa vida de Rio Branco,Devido ao jeitão largadoBoêmio, liberto e franco,Melindrou dogmas e tesesE sofreu alguns revezesTopando tranco e barranco.

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21A filha de um figurãoPor ele se apaixonou.Com ele quis se casarMas ele não aceitou.Enfrentou muita durezaPorque fora da nobrezaSeu coração se entregou!

22Apaixonou-se por umaBailarina de beleza.“Marrí Filomêne Stêvens”,Contrariando a nobreza.Deixou a nobre na mãoE entregou o coraçãoPra belga com mais firmeza!

23E como se não bastasseDesagradar a elite,Inda fez mais uma coisaQue a época não admite.A paquera engravidouE o escândalo se instalouRompendo todo limite!

24O visconde lhe impôsQue a bailarina e atrizFosse embarcada à EuropaPra ter o filho em ParisPor isto o nobre rapazPerdeu a pompa e a pazVivendo muito infeliz.

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25Na França, “Marrí” chegou,Logo deu à luz um filho.Mas o futuro barãoAqui vivia sem brilho,Lutou, pediu, padeceu,Morar no mundo europeuEra seu único estribilho.

26Foi assim que conseguiuEmprego noutro país,Instalou-se em LiverpoolComo cônsul... Mas se dizQue tendo oportunidadeEscapava da cidadePra ver “Marrí” em Paris.

27Nasceram mais quatro filhosDesta paixão forte e pura.Durante esta fase opacaAo nosso Brasil procuraEstudar profundamenteE vai penetrando habilmenteNos bons círculos de cultura.

28Até que em 83Surge de forma sutilUma oportunidadeDe mostrar seu varonilTalento, saber e astúciaQuando é mandado pra RússiaRepresentando o Brasil.

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29Ali provou que era o homemCerto no lugar certeiro.Pois ao final da missão,Da vida mudou o roteiro,Abrindo um novo capítuloTendo recebido o títuloDe ilustre Conselheiro.

30Um câncer roubou-lhe o paiLhe causando comoção.Mas um novo mundo abriu-seSurgindo mais promoçãoE no ano da Lei ÁureaRecebeu mais uma láureaSe transformando em Barão.

31Foi ministro na AlemanhaNo ano mil novecentos;O seu nome foi crescendoApesar dos novos ventosDa recém vinda repúblicaSua ilustre vida públicaConheceu novos momentos!

32Mesmo sendo um monarquistaFiel ao imperador,IdeologicamenteTido por conservadorNão teve cortados planosPorque os republicanosEntenderam seu valor!

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33Começou logo a assumirDelicadíssimos serviçosDiplomáticos da República,Em casos claros e omissosFoi mostrando competênciasPra resolver as pendênciasDos conflitos fronteiriços.

34Primeiro, A Questão de Palmas,Um conflito com ArgentinaQue pretendia tomarMeia Santa CatarinaE mais meio ParanáE o Barão trouxe pra cáToda esta terra sulina!

35Para ganhar tanta terraO competente barãoProvou com mapas e estudosQue era nossa a região,Usando, em vez de confetes,A luz d’Usi Possidets,De Alexandre de Gusmão!

36Pelo Usi PossidetsA posse de alguma áreaNão se dava por tratadoFeito em linha imagináriaMas por uso e ocupação,Investimento e açãoMorada e luta diária.

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37Esta vitória fantásticaFez com que o PresidenteQue era Rodrigues AlvesO chamasse urgentementePra comandar com valiaA nossa diplomaciaPois o clima estava quente.

38Outra vitória maiúsculaQue o barão mostrou firmezaFoi contra a potente FrançaPois da Guiana FrancesaGanhamos tudo que estáSendo hoje o Amapá,Parte da nossa riqueza!

39Mil novecentos e dois.Sessenta mil brasileirosEncontravam-se no Acre,Como fortes seringueiros.Eram chãos bolivianosE ingleses e americanosQueriam ser seus parceiros.

40Era um grupo poderoso,Um sindicato de empresasClaramente imperialistas,Americanas e inglesasQueriam nos dar insônia,No coração da AmazôniaEnfiando as suas presas!

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41O conflito engrossou tantoQue o Barão mandar barrarOs navios dos yanquesDe em nosso rio passarA Bolívia se agitouSeis mil soldados mandouPara nos ameaçar.

42Foi aí que o barãoQue sempre pregou a pazAchou que aquela ameaçaEstava sendo demaisE também mandou seis milMilitares do BrasilGarantirem os seringais!

43Por fim chegou-se a um acordo,Um negócio verdadeiroO Tratado de PetrópolisPra o Acre ser brasileiro.O Brasil também cedeuE a Bolívia recebeuRespeito, terra e dinheiro!

44E definiu as fronteirasDo Peru com mais clareza;Noutra negociaçãoCom a Guiana FrancesaE usando do seu prestígioDefiniu sem ter litígioCom a Guiana holandesa.

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45E assim o nosso BrasilFincou marcos e bandeiras900 mil quilômetrosQuadrados, dessas maneirasSe encaixaram em nosso mapaFindando assim a etapaDas disputas de fronteiras.

46Graças ao grande BarãoAchamos nossos caminhosUma cerca sem arameSeringueira, aguapés, pinhosRespeito aos países manos...Já são cento e trinta anosSem guerrear com os vizinhos.

47Com ele o Brasil ganhouA atual dimensão,Esse porte de gigante,Esse jeitão bonachãoQue ao nosso mapa revesteCom Norte, Sul, Leste e OesteDesenhando um coração!

48Onze vizinhos amigos,Nada de expansionismoA convivência pacífica,O respeito com altruísmo,O acerto ao momento certoE um coração sempre abertoAo pan-americanismo!

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49Ao chegar ao ministérioNão existia estruturaVinte e sete servidoresSem maior envergaduraVerbas em pouca quantiaE uma diplomacia.Tateando em fase escura!

50O Brasil que foi herdadoPela Era do barãoEra pobre, endividado,Voltado à exportaçãoSe ter um mercado interno,Tendo por marcas do infernoLatifúndio e escravidão.

51Oitenta e quatro por centoDo povo era analfabeto,Revoltas por toda parte,País injusto, incompleto,Resíduos coloniaisImpério frágil, sem pazE a República sem projeto!

52Ele, com força titânicaSe impôs pela consistência.Fez do Itamaraty,Reduto de inteligência,Grande espaço culturalCompetente e triunfal...Um centro de excelência.

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53Rio Branco cresceu tantoEm respeito e inteligência,Em talento e honestidade,Em vitórias e em decênciaQue seu nome foi lembradoPara ser candidatadoAo cargo da presidência.

54Mesmo com a vitória certaEle não quis aceitar.Preferiu ser chancelerE a luta continuarTendo credibilidadeE a quase unanimidadeCom poucos a criticar.

55Foi de quatro presidentesMinistro do Exterior:Rodrigues Alves e AfonsoPena, viram seu valor,Com Fonseca e com Peçanha;Tornou toda questão ganhaFez o Brasil vencedor!

56Entre os intelectuaisConquistou muitos amigos;Para o Jornal do BrasilEscreveu muitos artigos.Foram tamanhos seus briosQue recebeu elogiosAté de alguns inimigos.

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57Foi membro da AcademiaDe Letras e do InstitutoHistórico e Geográfico,Dando seu grande tributo,Da modernidade a mechaPr’um Brasil que tinha a pechaDe caipira e matuto.

58Foram seus auxiliaresEscritores de mais famaO grande Euclides da Cunha, Mestre Domícioda Gama,Bilac, o parnasiano,Rui Barbosa e CapistranoDe Abreu que a História aclama!

59Graça Aranha também foiUm dos seus mais preferidos,Machado de Assis, o gênio,Amigo em todos sentidos,Nabuco, grande orador,Que foi seu embaixadorPara os Estados Unidos

60Quando ele se foi, deixouUm país agigantadoCom as fronteiras definidasAmigos pra todo ladoE uma cultura de pazQue fez e que ainda fazO Brasil mais respeitado!

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61Um Brasil não agressivoArauto do pacifismo,A geopolítica da paz,Diálogo, acordo e civismo,Doze nações irmanadasE as raízes adubadasDo Pan-americanismo.

62Hoje o nome do BarãoDestaca-se em toda parte:Em rios, ruas, cidades,Moeda, cédula, estandarte,Livro, filme, distintivo,Escola e clube esportivo,Centros de cultura e arte.

63Morreu aos sessenta e seisDe idade, em alto astral,Na sala onde trabalhava,Na véspera do carnavalCausando assim, de momentoPelo seu encantamentoComoção nacional!

64O BARÃO DO RIO BRANCOFoi herói, foi líder, guiaGigante da fala mansaO PAI DA DIPLOMACIA...Um exemplo de vitória,Um construtor da históriaSímbolo da cidadania!