Upload
ferraz-wagner
View
9
Download
0
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Capítulo do livro "Parafernálias I: Diferença - Artes - Educação". Disponível em: http://canto.art.br/parafernalias-i-diferenca-artes-educacao/
Citation preview
Cop
yrig
th @
201
3 D
anie
le N
oal G
ai &
Wag
ner F
erra
z (O
rg.)
Org
aniz
ação
: D
anie
le N
oal G
ai &
Wag
ner F
erra
z
Proj
eto
Edi
tori
al:
IND
EPIN
- M
iriam
Pib
er C
ampo
sPr
oces
so C
3 - c
olet
ivo
de v
ária
s coi
sas -
Wag
ner F
erra
z
Cap
a:
And
erso
n Lu
iz d
e So
uza
e Lu
ísa
Trev
isan
Tei
xeira
Art
e da
cap
a:
And
erso
n de
Sou
za
Lay
out e
dia
gram
ação
: D
iego
Mat
eus e
Wag
ner F
erra
z
Rev
isão
de
Text
o:
Car
la S
ever
o Tr
inda
de
IND
EPIn
Edi
tora
- C
oord
enaç
ão E
dito
rial
Miri
am P
iber
Cam
pos e
Wag
ner F
erra
z
2013
IND
EPIn
Edi
tora
ww
w.in
depi
n-ed
u.co
m.b
r
Bib
liote
cária
Res
pons
ável
: Ana
Líg
ia T
rinda
de C
RB
/10-
1235
P22
P
araf
erná
lias I
: dife
renç
a, a
rtes e
edu
caçã
o. /
orga
niza
ção
de
Dan
iele
Noa
l Gai
Wag
ner F
erra
z. –
Por
to A
legr
e:
IN
DEP
IN, 2
013.
22
1p.:
il.
I
SBN
: 978
-85-
6640
2-02
-5
1
. Edu
caçã
o. 2
. Arte
s. 3.
Tex
tos p
oétic
os.
I.
Gai
, Dan
iele
Noa
l. II
. Fer
raz,
Wag
ner.
CD
U 3
7.01
Dad
os In
tern
acio
nais
de
Cat
alog
ação
na
Publ
icaç
ão (C
IP)
209PARAFERNÁLIAS I
Wag
ner F
erra
z - U
FRG
S
210
Dire
mos,
entã
o, qu
e o p
ensa
ment
o dife
re do
conh
ecime
nto
pens
amos
sem o
sabe
r, at
é con
tra os
sabe
res; e
que
, por
iss
o, pe
nsar
é um
ato
invo
luntá
rio, s
eja n
o seu
surg
imen
to sej
a no
seu
criar
46.
Um
cor
po e
m u
ma
cena
dan
çant
e! U
ma
cena
pr
oduz
ida
por
um c
orpo
que
dan
ça. U
ma
danç
a co
mo
cond
ições
de
poss
ibili
dade
s de
pot
encia
lizar
o fa
lso q
ue
se d
á no
s ins
tant
es d
ança
ntes
. Um
cor
po q
ue se
con
stitu
i en
quan
to c
orpo
no
ato
do d
ança
r, na
rep
etiçã
o de
um
a da
nça
e/ou
na
repe
tição
de
mov
imen
tos d
ança
ntes
ond
e se
dá
a di
fere
nciaç
ão d
e um
ser q
ue é
dev
ir, d
e um
cor
po
se to
rnar
o q
ue é
em
cad
a in
stan
te. U
m d
ança
r po
tent
e pa
ra a
cria
ção
de fa
lsos,
e nã
o pa
ra re
pres
enta
ções
. Um
a da
nça,
um d
ança
r, um
cor
po,
uma
frag
ilida
de,
uma
pens
ados
pelo
disp
aro
da le
itura
do
livro
A I
MAG
EM
-TE
MPO
(Ci
nem
a II
) de
Gill
es D
eleuz
e, de
stac
ando
o
Dife
renç
a po
r de
ntro
de
estu
dos
na á
rea
da E
duca
ção
cruz
ando
com
Est
udos
do
Corp
o.
Alg
umas
da
nças
di
tas,
reco
nhec
idas
ou
at
é co
nven
ciona
das
com
o de
es
tétic
a co
ntem
porâ
nea,
mui
tas
veze
s, pr
oduz
em e
stra
nham
ento
, dist
ancia
ndo-
se
das
fada
s, pr
íncip
es, p
rince
sas
e fa
unos
dos
rep
ertó
rios
cláss
icos
de b
alé.
Ess
as D
ança
s po
dem
ser
pen
sada
s
46
211PARAFERNÁLIAS I
com
o po
ssib
ilida
des
de (
des)
orga
niza
ção,
tan
to a
rtíst
ica
quan
to c
orpo
ral,
prod
uzin
do u
m c
orpo
dan
çant
e co
mo
espa
ço p
ara
liber
ação
, se
afa
stan
do d
a id
eia d
e co
rpo
com
o es
paço
par
a um
a mor
al da
dan
ça. S
ão p
ossib
ilida
des
em d
ança
que
com
bate
m a
repr
esen
taçã
o. R
epre
sent
ação
tem
ática
, que
stõe
s mui
tas v
ezes
vol
tada
s par
a o
hum
ano,
pa
ra o
aca
dem
icism
o ar
tístic
o e
para
ver
dade
s un
iver
sais
que
tant
as v
ezes
se
desd
obra
m e
m r
elativ
ismos
com
o te
ntat
ivas
de d
ifere
nciaç
ão, m
as o
pera
m se
mpr
e de f
orm
a du
alist
a on
de a
dife
renç
a se
dá
pela
com
para
ção.
Des
taca
m-s
e por
mor
al na
dan
ça as
regr
as a
sere
m
segu
idas
por
todo
s os
dan
çant
es, o
nde
as p
ossib
ilida
des
para
a c
riaçã
o se
dão
atra
vés
da b
usca
de
verd
ades
id
entit
árias
. A
ssim
, é
poss
ível
pen
sar
faze
r o
que
se
dese
ja na
tent
ativ
a de
não
repr
esen
tar n
o at
o do
dan
çar,
repe
nsan
do n
orm
as e
reg
ras
na b
usca
de
não
prod
uzir
iden
tidad
es d
ança
ntes
par
a di
fere
nças
em
si.
Pode
mos
.
(Des
)org
aniz
ar
estr
utur
as
no
ato
de
danç
ar,
ou n
a cr
iação
em
dan
ça, p
ossib
ilita
pen
sar
o co
rpo
de
dife
rent
es f
orm
as,
indi
cand
o ol
har
pela
mul
tiplic
idad
e de
cad
a co
rpo
danç
ante
. A s
ensa
ção
de d
esac
omod
ação
da
s po
ssív
eis
inst
abili
dade
s em
dan
ça p
ertu
rba,
prod
uz
uma
danç
a vi
olen
ta q
ue p
rovo
ca n
áuse
as e
mui
tas
veze
s in
dign
ação
por
não
pro
duzi
r re
sulta
dos
cêni
cos
que
fada
s. M
as, a
ssim
, cria
r con
diçõ
es d
e po
ssib
ilida
des
para
ou
tras
criaç
ões,
para
a d
ança
das
pos
sibili
dade
s, pa
ra a
D
ança
Con
tem
porâ
nea c
omo
poss
ibili
dade
ética
de v
iver
,
47 -
FOU
CAU
LT, 2
010,
p. 2
67.
212
com
o m
odo
de p
ensa
r, co
mo
criaç
ão d
o im
pens
ado
no
pens
amen
to. A
ssim
com
o D
eleuz
e pe
nsa
o pe
nsam
ento
em
um
a mes
a de e
diçã
o po
r meio
do
cinem
a, ta
lvez
pos
sa
cons
tant
e de
vir,
mov
imen
to d
ança
nte,
o pe
nsam
ento
co
mo
uma
danç
a de
vi
da
que
prod
uz
cena
s qu
e
repr
esen
taçõ
es.
A
danç
a da
s po
ssib
ilida
des
não
é a
danç
a em
que
tud
o se
pod
e, m
as a
dan
ça o
nde
se p
ode
vive
r a
mul
tiplic
idad
e da
nçan
te n
o co
rpo
e a
próp
ria
mul
tiplic
idad
e de
cor
pos,
um c
orpo
-pen
sam
ento
, um
co
rpo-
pens
amen
to-d
ança
nte.
Um
a da
nça
que
disp
ara
ques
tões
ace
rca
dos
mod
os d
e su
bjet
ivaç
ão n
a pr
ópria
da
nça,
dos m
odos
de e
duca
r a si
. Tra
ta-s
e mais
da c
riaçã
o de
cad
a da
nçan
te c
omo
inve
nção
de
si, q
ue p
ode
se
que
dos
mod
os p
ré-e
stab
elecid
os d
e da
nçar
. Um
a da
nça
que
parte
de
prin
cípio
s pro
duto
res d
e ve
rdad
es a
bsol
utas
danç
am
dá
cond
ições
pa
ra
repr
esen
taçõ
es.
Alg
umas
da
nças
co
ntem
porâ
neas
ap
rese
ntam
co
ndiçõ
es,
de
form
a m
últip
la, p
ara
não
repr
esen
tar e
ao
mes
mo
tem
po
cond
ições
par
a rep
rese
ntar
, poi
s não
se tr
ata d
e di
zer q
ue
um ti
po o
u pe
rspe
ctiv
a de
dan
ça se
ja m
elhor
ou
pior
que
ou
tro, m
as, s
im, d
e ob
serv
ar a
s co
ndiçõ
es q
ue p
odem
orde
ns d
a vi
da.
Para
indi
car a
lgun
s po
ntos
sob
re o
repr
esen
tar e
nã
o re
pres
enta
r na d
ança
se fa
z ne
cess
ário
apre
sent
ar u
m
reco
rte d
e ênf
ase h
istór
ica, q
ue p
ossib
ilite
resu
mid
amen
te
pens
ar a
lgum
as c
ondi
ções
que
for
am p
rodu
zida
s pe
lo
pens
amen
to
ocid
enta
l da
re
pres
enta
ção,
de
stac
ando
aq
ui a
s da
nças
clás
sica
(balé
clás
sico)
e m
oder
na c
omo
213PARAFERNÁLIAS I
dife
rent
es p
rodu
ções
est
ética
s. Is
so c
omo
form
a de
ev
iden
ciar,
no in
terio
r de
uma
cultu
ra d
a da
nça,
com
o se
de
term
inou
que
os
danç
ante
s po
dem
se
cons
titui
r com
o
com
o fo
rma
de in
venç
ão d
e si.
A d
ança
cên
ica e
nten
dida
com
o um
a da
nça
prod
uzid
a/pe
nsad
a/cr
iada/
ensa
iada
para
a c
ena,
que
acon
tece
na c
ena,
que
pode
oco
rrer
em
um
palc
o ita
liano
(c
aixa
pret
a), e
m u
m e
spaç
o pú
blico
, em
um
a ar
ena,
na
rua,
em u
ma
casa
, em
um
esp
aço
de a
rtes,
uma
danç
a pe
squi
sada
, pre
para
da, e
nsaia
da (o
u nã
o) p
ara
dife
rent
es
cena
s. E
na
prod
ução
des
sas
dife
rent
es c
enas
é p
ossív
el
que,
ao m
esm
o te
mpo
, dão
con
diçõ
es p
ara
a re
aliza
ção
perf
orm
ática
e v
irtuo
sa d
e da
nças
.
O b
alé (
danç
a clá
ssica
) se
car
acte
riza,
além
de
reco
nhec
idos
em q
ualq
uer l
ugar
do
mun
do. D
esen
volv
eu-
se n
a Itá
lia, a
par
tir d
o sé
culo
XV,
em
Flo
renç
a, em
fest
as
e no
iníci
o do
posiç
ões b
ásica
s dos
pés
par
a est
a dan
ça: t
odo
e qu
alque
r pa
sso
e mov
imen
tos i
nicia
m o
u te
rmin
am n
as re
spec
tivas
po
siçõe
s. Pa
ra o
s br
aços
e c
abeç
as t
ambé
m f
oram
as p
osiçõ
es e
mov
imen
tos
de p
és. U
ma
danç
a id
ealiz
ada
regi
dos
pela
técn
ica, o
que
, de
certa
for
ma,
com
bas
e no
s id
eais
que
se b
usca
atin
gir,
rest
ringe
alg
uns
corp
os
posic
iona
ndo-
os e
m u
m l
ugar
de
não
adeq
uado
s pa
ra
essa
dan
ça, p
or n
ão p
oder
em ch
egar
ao re
sulta
do es
tétic
o id
ealiz
ado.
Um
a da
nça
tradi
ciona
l que
se
deve
rea
lizar
,
214
ensin
ar e
apre
nder
com
o ela
foi i
nven
tada
, poi
s é es
sa su
a pr
opos
ta -
tradi
ção.
Um
corp
o qu
e rea
liza a
dan
ça cl
ássic
a de
for
mas
dife
renc
iadas
não
est
á re
aliza
ndo
esta
dan
ça,
e qu
ando
não
con
segu
e alc
ança
r o
que
foi
idea
lizad
o na
pro
post
a de
ssa
danç
a po
de s
er a
té c
onsid
erad
o nã
o ad
equa
do p
ara
danç
ar,
não
poss
uind
o co
ndiçõ
es p
ara
ser
adm
irado
ou
capa
citad
o pa
ra e
sta
arte
. Pr
ecisa
-se
apre
nder
a r
epre
sent
ar e
ssa
técn
ica. E
xist
em p
ropo
stas
qu
e bu
scam
out
ras
poss
ibili
dade
s no
pró
prio
balé
, mas
ne
m se
mpr
e re
conh
ecid
as e
legí
timas
.
A b
usca
por
reali
zar o
utra
s fo
rmas
de
danç
a qu
e nã
o se
ja o
balé,
tent
ando
pos
sibili
tar
que
outro
s co
rpos
po
ssam
ser
com
pree
ndid
os c
omo
potê
ncia
danç
ante
, ab
riu e
spaç
o pa
ra a
cria
ção
de o
utra
s da
nças
/téc
nica
s, co
mo
as d
ança
s m
oder
nas.
A d
ança
mod
erna
(ou
as
danç
as m
oder
nas)
sur
ge,
cron
olog
icam
ente
, de
pois
da
danç
a cl
ássic
a, ap
esar
de
ser r
esul
tado
do
pens
amen
to d
e um
a det
erm
inad
a épo
ca n
o se
ntid
o de
abrir
pos
sibili
dade
s pa
ra c
riaçã
o. T
ambé
m t
em c
omo
forte
car
acte
rístic
a a
exer
cício
s qu
e co
nstit
uem
téc
nica
s de
dan
ça m
oder
na,
apon
tand
o se
mpr
e pa
ra o
s ch
amad
os p
rincíp
ios.
Mar
tha
Gra
ham
des
envo
lve u
ma t
écni
ca q
ue te
m co
mo
prin
cípio
s
Por
mais
que
se
trate
de
um p
erío
do h
istór
ico,
cara
cter
ística
s té
cnica
s. Ta
nto
a da
nça
cláss
ica c
omo
as
danç
as m
oder
nas
são
técn
icas,
mas
não
só
isso,
poi
s ap
onta
rão
para
det
erm
inad
os r
esul
tado
s es
tétic
os,
pré-
esta
belec
idos
mui
tas
veze
s, pr
opos
tos
por
cada
um
a. A
lém d
essa
s, br
evem
ente
apre
sent
adas
aqui
, mui
tas o
utra
s
215PARAFERNÁLIAS I
danç
as ta
mbé
m sã
o re
conh
ecid
as p
or su
as c
arac
terís
ticas
té
cnica
s (m
odos
de
faze
r) qu
e ch
egar
ão a
um
res
ulta
do
pens
ado
para
a c
ena.
Toda
s se
mpr
e ap
rese
ntan
do s
uas
dita
s e
sem
pre
refo
rçad
as i
dent
idad
es,
que
pode
m s
er
perc
ebid
as e
m q
ualq
uer
luga
r e
tem
po, p
oden
do h
aver
pe
quen
as a
ltera
ções
. M
as i
sso
vai
se e
mba
ralh
ar,
(des
)or
gani
zar,
deslo
car
com
o
acon
tecim
ento
da
da
nça
de p
ensa
r a d
ança
.”
Pens
ar a
dan
ça c
omo
a da
nça
das
poss
ibili
dade
s ab
re e
spaç
o pa
ra d
iver
sos p
roce
ssos
de
criaç
ão e
m d
ança
qu
e ap
rese
ntar
ão s
ingu
lares
res
ulta
dos
cêni
cos,
e qu
e, m
uita
s ve
zes,
estã
o em
dev
ir. S
endo
ass
im,
é po
ssív
el
de u
m si
que
dá
em c
ada
danç
ar c
omo
uma
(re)in
venç
ão
cons
tant
e de
cor
pos.
Taiw
an, n
a Fra
nça,
na A
leman
ha, n
a Hol
anda
, na
Bélg
ica, n
os E
stad
os U
nido
s e n
o Br
asil.
Em
cada
um
des
ses p
aíses
há c
oreó
graf
os d
e car
acte
rístic
as
dist
inta
s qu
e re
aliza
m
traba
lhos
co
rpor
ais
conh
ecid
os co
mo
danç
a con
tem
porâ
nea,
mas
que
Em
com
um, p
ode-
se d
izer
que
cad
a um
pro
duz
cont
ágio
s múl
tiplo
s.”
48 -
TOM
AZ
ZO
NI,
2006
.
49 -
SIQ
UE
IRA
, 200
6, p
.10.
216
Com
est
a da
nça,
ou d
evir-
danç
a, pr
oduz
em-s
e m
uito
s m
odos
do
danç
ar, (
des)
orga
niza
ndo
o qu
e já
se
fazi
a em
dan
ça,
reor
gani
zand
o co
nsta
ntem
ente
o q
ue
se p
ensa
r de
form
a tra
nsitó
ria, p
rovo
cand
o, p
rodu
zind
o ou
pr
opor
ciona
ndo
estra
nham
ento
s. É
at
ravé
s do
es
tranh
amen
to q
ue é
pos
sível
sair
do l
ugar
com
um,
do lu
gar
onde
se
enco
ntra
os
mod
os, d
esen
hado
s pe
lo
corp
o, m
odos
de
faze
r dan
ça já
est
rutu
rado
s e tr
aduz
idos
em
rece
itas.
O c
orpo
na
danç
a co
ntem
porâ
nea
pass
a a
ser
pens
ado
nas s
uas p
ossib
ilida
des,
e nã
o em
pos
sibili
dade
s cr
iadas
par
a se e
ncaix
ar n
esse
corp
o. É
com
o se
um
a dan
ça
um b
om d
ança
nte
aque
le qu
e se
enc
aixar
per
feita
men
te
dent
ro d
a gar
rafa
. Se o
corp
o/pe
nsam
ento
/prá
tica n
ão se
en
caix
ar n
a gar
rafa
, est
e cor
po n
ão se
rve p
ara c
erta
dan
ça
prop
osta
em
det
erm
inad
a sit
uaçã
o. Já
em
mui
tas
danç
as
cont
empo
râne
as é
com
o se
se
pens
asse
o c
orpo
com
o
para
ess
e co
rpo
que
a pr
oduz
iu e
m u
m d
eter
min
ado
inst
ante
e a
pro
duzi
rá m
uita
s vez
es d
e di
fere
ntes
form
as.
Cada
co
rpo
criar
á/co
nstr
uirá
/inv
enta
rá
sua
próp
ria
garr
afa,
e iss
o, n
a da
nça
cont
empo
râne
a, ba
gunç
a, (d
es)
orga
niza
, pr
oduz
est
ranh
amen
to,
pois
não
se t
rata
de
regr
as e
for
mat
os a
ser
em r
epet
idos
, m
as d
e re
gras
e
form
atos
cria
dos
o te
mpo
tod
o pa
ra c
ada
danç
a e
que,
em m
uito
s ca
sos,
deix
am d
e va
ler a
cad
a no
va p
ropo
sta
ou a
cad
a di
a, po
is es
tão
sem
pre
em d
evir.
A d
ança
das
pos
sibili
dade
s é p
rodu
zida
pelo
corp
o qu
e se
con
stitu
i nas
sua
s ex
periê
ncias
étic
as, n
a te
ntat
iva
e ex
perim
enta
ções
de
seus
mod
os d
e fa
zer d
ança
, mod
os
217PARAFERNÁLIAS I
quan
do
com
pree
ndid
a co
mo
poss
ibili
dade
de
co
mpo
sição
de
ideia
s, ou
de
com
posiç
ão d
e um
cor
po
de id
eias,
é um
esp
aço
entre
o q
ue s
e co
mpr
eend
e po
r
onde
o c
oreo
graf
ar é
des
feito
par
a se
ref
azer
. Iss
o na
te
ntat
iva
de n
ão c
orre
r o
risco
de
enca
rar
o co
reog
rafa
r
um lu
gar d
e co
mpo
sição
que
, fac
ilmen
te, p
ode
se to
rnar
poss
ibili
dade
s de
desd
obra
men
tos.
A d
ança
cont
empo
râne
a vist
a com
o po
ssib
ilida
de
de
indi
car
mod
os
de
pens
ar/c
riar
danç
as,
um
pens
amen
to q
ue d
á em
ato
de
criaç
ão, u
m p
ensa
men
to
da n
ão r
epre
sent
ação
, um
pen
sam
ento
que
dan
ça,
um
reco
nhec
ido
com
o ve
rdad
eiro,
poi
s se
mpr
e se
des
faz
e re
faz
dife
rent
e.
FR
AG
ILID
AD
E P
OT
EN
TE
Frág
eis,
talv
ez,
sejam
as
co
ndiçõ
es
de
poss
ibili
dade
s enc
ontra
das c
omo
mod
o de
torn
ar p
oten
te
o da
nçar
. Pot
ência
com
o um
a car
ga, i
nten
ções
, um
dev
ir...
Os
corp
os s
e to
rnav
am d
ança
: dig
o iss
o nã
o ap
enas
em
re
lação
aos
cor
pos a
natô
mico
s, m
as ta
mbé
m a
os c
orpo
s-
ao co
rpos
-vid
a que
se co
nstit
uem
nos
enco
ntro
s de t
odos
os
cor
pos e
m c
ena.
Tant
as v
ezes
um
a da
nça
tem
um
iníci
o da
tado
, e,
com
o m
ovim
ento
da
vida
, o
que
se p
rodu
z ne
sse
218
mes
mo
tem
po se
torn
a pot
ente
par
a a tr
ansf
orm
ação
, par
a a p
rodu
ção
da d
ifere
nça.
A co
reóg
rafa
alem
ã Pin
a Bau
sch
criav
a su
as o
bras
pot
encia
lizan
do e
m s
eus
baila
rinos
o
que
pode
ria s
er d
ifere
nte
em c
ada
um. A
ssim
pro
punh
a alg
umas
exp
erim
enta
ções
de
mov
imen
tos
disp
arad
os
pela
mul
tiplic
idad
e do
s en
cont
ros,
onde
se
repe
tia o
s m
ovim
ento
s par
a di
fere
nciar
e p
rodu
zir a
lgo
novo
.
a um
gra
u qu
e se
efe
tua,
não
mais
na
form
a, m
as n
a tra
nsfo
rmaç
ão.
Já n
ão h
á ve
rdad
e ne
m a
parê
ncia.
Já
não
há f
orm
a in
variá
vel
nem
pon
to d
e vi
sta
variá
vel
sobr
e um
a fo
rma.
Há
um p
onto
de
vist
a qu
e pe
rtenc
e tã
o be
m à
coi
sa q
ue a
coi
sa n
ão p
ara
de s
e tra
nsfo
rmar
num
dev
ir id
êntic
o ao
pon
to d
e vi
sta.
Met
amor
fose
do
verd
adeir
o. O
arti
sta
é cr
iador
de
verd
ade,
pois
a ve
rdad
e nã
o te
m
de se
r alca
nçad
a, en
cont
rada
ou
repr
oduz
ida,
ela d
eve
ser c
riada
.”
Nas
pe
squi
sas
expe
rimen
tais
cêni
cas
para
a
criaç
ão e
m d
ança
, é c
omum
ver
(re
)leitu
ras,
conc
eitos
, im
agen
s (v
isuali
dade
s), r
ecor
tes
joga
dos
com
o fo
rma
de
map
eam
ento
de
tem
as, q
ue g
rand
e pa
rte d
as v
ezes
são
jo
gado
s na
s ce
nas
prod
uzid
as e
ent
endi
dos
com
o um
pr
oces
so d
e pe
squi
sa.
Talv
ez o
que
se
pesq
uisa
pod
e se
rvir
de d
ispar
ador
par
a a
criaç
ão, t
orna
ndo
frág
il o
que
e pe
nsar
o im
pens
ado
com
o cr
iação
. Poi
s já n
ão in
tere
ssa
50
219PARAFERNÁLIAS I
mais
tant
o o
que
foi p
esqu
isado
cen
icam
ente
, mas
sim
o
que
se c
ria c
om is
so, o
s us
os q
ue s
e fa
z do
que
se
tem
, do
que
se
vê, d
o qu
e se
lê, d
o qu
e se
esc
reve
, do
que
se
pres
encia
, do
que
se o
uve,
do q
ue se
regi
stra
...
É tã
o in
tere
ssan
te a
ssist
ir a
um e
spet
ácul
o on
de
os m
odelo
s re
pres
enta
tivos
de
técn
icas,
de m
odos
de
mov
imen
to d
e res
istên
cia se
des
taca
. Por
resis
tênc
ia qu
ero
dize
r re
sistir
a t
udo
o qu
e se
faz
, e p
elo m
enos
ten
tar
faze
r de
outra
s for
mas
. Mas
ond
e es
tão
as in
terp
reta
ções
de d
ança
? Na
criaç
ão, n
a fr
agili
zaçã
o do
que
se fe
z co
mo
inte
rpre
taçõ
es q
ue lo
caliz
em e
m u
m m
odelo
iden
titár
io
danç
ar c
once
ituan
do o
u de
calca
ndo
com
con
ceito
s qu
e se
tem
est
udad
o. M
as s
e tra
ta d
e ol
har p
ara
as p
otên
cias
dos c
orpo
s, da
s cen
as, d
as re
laçõe
s...
corp
o cr
ia ou
tra p
ossib
ilida
de d
e vi
r a se
r um
cor
po, u
m
para
com
bate
r a re
pres
enta
ção
na p
rópr
ia re
pres
enta
ção,
on
de a
s co
ndiçõ
es d
e po
ssib
ilida
des
são
pote
ntes
par
a a
criaç
ão d
e co
rpos
... d
e se
res
em d
evire
s... O
EU
deix
a de
exi
stir
a ca
da in
stan
te e
m c
ena
e ou
tros t
anto
s mod
os
de v
iver
um
eu
(sem
pre
plur
al) s
ão s
empr
e cr
iados
. Que
im
agen
s po
dem
ser
pro
duzi
das
na d
ança
pen
sand
o es
ta
danç
ante
em
si
é um
a im
agem
, frá
gil
mas
pot
ente
, de
pens
amen
to n
o vi
r a se
r de
uma
vida
dan
çant
e.
220
CORA
ZZ
A,
Sand
ra M
ara.
Cu
rríc
ulo
da
infâ
nci
a e
. In:
X
Coló
quio
Luso-
Bras
ileiro
sobr
e Que
stões
Curri
cular
es &
VI
Colóq
uio L
uso-B
rasil
eiro d
e Cur
rículo
: ca
mpo d
o cur
rículo
. Sub
tem
a: Cu
rrícu
lo e
edu
caçã
o in
fant
il.
Aleg
re: 2
012.
17
p.
DE
LEU
ZE
, G
illes
. Ci
nema
II
– A
ima
gem-te
mpo.
Trad
. E
loisa
de
Ara
ujo
Ribe
iro.
São
Paul
o: B
rasil
iense
, 200
7.
L. e
RA
BIN
OW
, Pau
l. M
ichel
Fouc
ault,
um
a tra
jetór
ia
Trad
. Ver
a Po
rtoca
rrer
o e
Gild
a G
omes
Car
neiro
. 2ª E
d.
Ver.
Rio
de Ja
neiro
: For
ense
Uni
vers
itária
, 201
0.
SIQ
UE
IRA
, D
enise
da
Co
sta
Oliv
eira.
Corp
o,
Com
unica
ção
e Cu
ltura
: a
danç
a co
ntem
porâ
nea
em
cena
. Ca
mpi
nas,
SP: A
utor
es A
ssoc
iados
, 200
6.
TOM
AZ
ZO
NI,
Airt
on. E
ssa t
al de
danç
a con
tem
porâ
nea.
Publ
icado
em
: http
://i
danc
a.net