7
Copyrigth @ 2013 Daniele Noal Gai & Wagner Ferraz (Org.) Organização: Daniele Noal Gai & Wagner Ferraz Projeto Editorial: INDEPIN - Miriam Piber Campos Processo C3 - coletivo de várias coisas - Wagner Ferraz Capa: Anderson Luiz de Souza e Luísa Trevisan Teixeira Arte da capa: Anderson de Souza Layout e diagramação: Diego Mateus e Wagner Ferraz Revisão de Texto: Carla Severo Trindade INDEPIn Editora - Coordenação Editorial Miriam Piber Campos e Wagner Ferraz 2013 INDEPIn Editora www.indepin-edu.com.br Bibliotecária Responsável: Ana Lígia Trindade CRB/10-1235 P22 Parafernálias I: diferença, artes e educação. / organização de Daniele Noal Gai Wagner Ferraz. – Porto Alegre: INDEPIN, 2013. 221p.: il. ISBN: 978-85-66402-02-5 1. Educação. 2. Artes. 3. Textos poéticos. I. Gai, Daniele Noal. II. Ferraz, Wagner. CDU 37.01 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 209 PARAFERNÁLIAS I &RUSR TXH GDQoD SRWrQFLD SDUD IDOVLÀFDo}HV GH VL Wagner Ferraz - UFRGS

Corpo que danca: Potência para a falsificação de si - Ferraz Wagner

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Capítulo do livro "Parafernálias I: Diferença - Artes - Educação". Disponível em: http://canto.art.br/parafernalias-i-diferenca-artes-educacao/

Citation preview

Cop

yrig

th @

201

3 D

anie

le N

oal G

ai &

Wag

ner F

erra

z (O

rg.)

Org

aniz

ação

: D

anie

le N

oal G

ai &

Wag

ner F

erra

z

Proj

eto

Edi

tori

al:

IND

EPIN

- M

iriam

Pib

er C

ampo

sPr

oces

so C

3 - c

olet

ivo

de v

ária

s coi

sas -

Wag

ner F

erra

z

Cap

a:

And

erso

n Lu

iz d

e So

uza

e Lu

ísa

Trev

isan

Tei

xeira

Art

e da

cap

a:

And

erso

n de

Sou

za

Lay

out e

dia

gram

ação

: D

iego

Mat

eus e

Wag

ner F

erra

z

Rev

isão

de

Text

o:

Car

la S

ever

o Tr

inda

de

IND

EPIn

Edi

tora

- C

oord

enaç

ão E

dito

rial

Miri

am P

iber

Cam

pos e

Wag

ner F

erra

z

2013

IND

EPIn

Edi

tora

ww

w.in

depi

n-ed

u.co

m.b

r

Bib

liote

cária

Res

pons

ável

: Ana

Líg

ia T

rinda

de C

RB

/10-

1235

P22

P

araf

erná

lias I

: dife

renç

a, a

rtes e

edu

caçã

o. /

orga

niza

ção

de

Dan

iele

Noa

l Gai

Wag

ner F

erra

z. –

Por

to A

legr

e:

IN

DEP

IN, 2

013.

22

1p.:

il.

I

SBN

: 978

-85-

6640

2-02

-5

1

. Edu

caçã

o. 2

. Arte

s. 3.

Tex

tos p

oétic

os.

I.

Gai

, Dan

iele

Noa

l. II

. Fer

raz,

Wag

ner.

CD

U 3

7.01

Dad

os In

tern

acio

nais

de

Cat

alog

ação

na

Publ

icaç

ão (C

IP)

209PARAFERNÁLIAS I

Wag

ner F

erra

z - U

FRG

S

210

Dire

mos,

entã

o, qu

e o p

ensa

ment

o dife

re do

conh

ecime

nto

pens

amos

sem o

sabe

r, at

é con

tra os

sabe

res; e

que

, por

iss

o, pe

nsar

é um

ato

invo

luntá

rio, s

eja n

o seu

surg

imen

to sej

a no

seu

criar

46.

Um

cor

po e

m u

ma

cena

dan

çant

e! U

ma

cena

pr

oduz

ida

por

um c

orpo

que

dan

ça. U

ma

danç

a co

mo

cond

ições

de

poss

ibili

dade

s de

pot

encia

lizar

o fa

lso q

ue

se d

á no

s ins

tant

es d

ança

ntes

. Um

cor

po q

ue se

con

stitu

i en

quan

to c

orpo

no

ato

do d

ança

r, na

rep

etiçã

o de

um

a da

nça

e/ou

na

repe

tição

de

mov

imen

tos d

ança

ntes

ond

e se

a di

fere

nciaç

ão d

e um

ser q

ue é

dev

ir, d

e um

cor

po

se to

rnar

o q

ue é

em

cad

a in

stan

te. U

m d

ança

r po

tent

e pa

ra a

cria

ção

de fa

lsos,

e nã

o pa

ra re

pres

enta

ções

. Um

a da

nça,

um d

ança

r, um

cor

po,

uma

frag

ilida

de,

uma

pens

ados

pelo

disp

aro

da le

itura

do

livro

A I

MAG

EM

-TE

MPO

(Ci

nem

a II

) de

Gill

es D

eleuz

e, de

stac

ando

o

Dife

renç

a po

r de

ntro

de

estu

dos

na á

rea

da E

duca

ção

cruz

ando

com

Est

udos

do

Corp

o.

Alg

umas

da

nças

di

tas,

reco

nhec

idas

ou

at

é co

nven

ciona

das

com

o de

es

tétic

a co

ntem

porâ

nea,

mui

tas

veze

s, pr

oduz

em e

stra

nham

ento

, dist

ancia

ndo-

se

das

fada

s, pr

íncip

es, p

rince

sas

e fa

unos

dos

rep

ertó

rios

cláss

icos

de b

alé.

Ess

as D

ança

s po

dem

ser

pen

sada

s

46

211PARAFERNÁLIAS I

com

o po

ssib

ilida

des

de (

des)

orga

niza

ção,

tan

to a

rtíst

ica

quan

to c

orpo

ral,

prod

uzin

do u

m c

orpo

dan

çant

e co

mo

espa

ço p

ara

liber

ação

, se

afa

stan

do d

a id

eia d

e co

rpo

com

o es

paço

par

a um

a mor

al da

dan

ça. S

ão p

ossib

ilida

des

em d

ança

que

com

bate

m a

repr

esen

taçã

o. R

epre

sent

ação

tem

ática

, que

stõe

s mui

tas v

ezes

vol

tada

s par

a o

hum

ano,

pa

ra o

aca

dem

icism

o ar

tístic

o e

para

ver

dade

s un

iver

sais

que

tant

as v

ezes

se

desd

obra

m e

m r

elativ

ismos

com

o te

ntat

ivas

de d

ifere

nciaç

ão, m

as o

pera

m se

mpr

e de f

orm

a du

alist

a on

de a

dife

renç

a se

pela

com

para

ção.

Des

taca

m-s

e por

mor

al na

dan

ça as

regr

as a

sere

m

segu

idas

por

todo

s os

dan

çant

es, o

nde

as p

ossib

ilida

des

para

a c

riaçã

o se

dão

atra

vés

da b

usca

de

verd

ades

id

entit

árias

. A

ssim

, é

poss

ível

pen

sar

faze

r o

que

se

dese

ja na

tent

ativ

a de

não

repr

esen

tar n

o at

o do

dan

çar,

repe

nsan

do n

orm

as e

reg

ras

na b

usca

de

não

prod

uzir

iden

tidad

es d

ança

ntes

par

a di

fere

nças

em

si.

Pode

mos

.

(Des

)org

aniz

ar

estr

utur

as

no

ato

de

danç

ar,

ou n

a cr

iação

em

dan

ça, p

ossib

ilita

pen

sar

o co

rpo

de

dife

rent

es f

orm

as,

indi

cand

o ol

har

pela

mul

tiplic

idad

e de

cad

a co

rpo

danç

ante

. A s

ensa

ção

de d

esac

omod

ação

da

s po

ssív

eis

inst

abili

dade

s em

dan

ça p

ertu

rba,

prod

uz

uma

danç

a vi

olen

ta q

ue p

rovo

ca n

áuse

as e

mui

tas

veze

s in

dign

ação

por

não

pro

duzi

r re

sulta

dos

cêni

cos

que

fada

s. M

as, a

ssim

, cria

r con

diçõ

es d

e po

ssib

ilida

des

para

ou

tras

criaç

ões,

para

a d

ança

das

pos

sibili

dade

s, pa

ra a

D

ança

Con

tem

porâ

nea c

omo

poss

ibili

dade

ética

de v

iver

,

47 -

FOU

CAU

LT, 2

010,

p. 2

67.

212

com

o m

odo

de p

ensa

r, co

mo

criaç

ão d

o im

pens

ado

no

pens

amen

to. A

ssim

com

o D

eleuz

e pe

nsa

o pe

nsam

ento

em

um

a mes

a de e

diçã

o po

r meio

do

cinem

a, ta

lvez

pos

sa

cons

tant

e de

vir,

mov

imen

to d

ança

nte,

o pe

nsam

ento

co

mo

uma

danç

a de

vi

da

que

prod

uz

cena

s qu

e

repr

esen

taçõ

es.

A

danç

a da

s po

ssib

ilida

des

não

é a

danç

a em

que

tud

o se

pod

e, m

as a

dan

ça o

nde

se p

ode

vive

r a

mul

tiplic

idad

e da

nçan

te n

o co

rpo

e a

próp

ria

mul

tiplic

idad

e de

cor

pos,

um c

orpo

-pen

sam

ento

, um

co

rpo-

pens

amen

to-d

ança

nte.

Um

a da

nça

que

disp

ara

ques

tões

ace

rca

dos

mod

os d

e su

bjet

ivaç

ão n

a pr

ópria

da

nça,

dos m

odos

de e

duca

r a si

. Tra

ta-s

e mais

da c

riaçã

o de

cad

a da

nçan

te c

omo

inve

nção

de

si, q

ue p

ode

se

que

dos

mod

os p

ré-e

stab

elecid

os d

e da

nçar

. Um

a da

nça

que

parte

de

prin

cípio

s pro

duto

res d

e ve

rdad

es a

bsol

utas

danç

am

cond

ições

pa

ra

repr

esen

taçõ

es.

Alg

umas

da

nças

co

ntem

porâ

neas

ap

rese

ntam

co

ndiçõ

es,

de

form

a m

últip

la, p

ara

não

repr

esen

tar e

ao

mes

mo

tem

po

cond

ições

par

a rep

rese

ntar

, poi

s não

se tr

ata d

e di

zer q

ue

um ti

po o

u pe

rspe

ctiv

a de

dan

ça se

ja m

elhor

ou

pior

que

ou

tro, m

as, s

im, d

e ob

serv

ar a

s co

ndiçõ

es q

ue p

odem

orde

ns d

a vi

da.

Para

indi

car a

lgun

s po

ntos

sob

re o

repr

esen

tar e

o re

pres

enta

r na d

ança

se fa

z ne

cess

ário

apre

sent

ar u

m

reco

rte d

e ênf

ase h

istór

ica, q

ue p

ossib

ilite

resu

mid

amen

te

pens

ar a

lgum

as c

ondi

ções

que

for

am p

rodu

zida

s pe

lo

pens

amen

to

ocid

enta

l da

re

pres

enta

ção,

de

stac

ando

aq

ui a

s da

nças

clás

sica

(balé

clás

sico)

e m

oder

na c

omo

213PARAFERNÁLIAS I

dife

rent

es p

rodu

ções

est

ética

s. Is

so c

omo

form

a de

ev

iden

ciar,

no in

terio

r de

uma

cultu

ra d

a da

nça,

com

o se

de

term

inou

que

os

danç

ante

s po

dem

se

cons

titui

r com

o

com

o fo

rma

de in

venç

ão d

e si.

A d

ança

cên

ica e

nten

dida

com

o um

a da

nça

prod

uzid

a/pe

nsad

a/cr

iada/

ensa

iada

para

a c

ena,

que

acon

tece

na c

ena,

que

pode

oco

rrer

em

um

palc

o ita

liano

(c

aixa

pret

a), e

m u

m e

spaç

o pú

blico

, em

um

a ar

ena,

na

rua,

em u

ma

casa

, em

um

esp

aço

de a

rtes,

uma

danç

a pe

squi

sada

, pre

para

da, e

nsaia

da (o

u nã

o) p

ara

dife

rent

es

cena

s. E

na

prod

ução

des

sas

dife

rent

es c

enas

é p

ossív

el

que,

ao m

esm

o te

mpo

, dão

con

diçõ

es p

ara

a re

aliza

ção

perf

orm

ática

e v

irtuo

sa d

e da

nças

.

O b

alé (

danç

a clá

ssica

) se

car

acte

riza,

além

de

reco

nhec

idos

em q

ualq

uer l

ugar

do

mun

do. D

esen

volv

eu-

se n

a Itá

lia, a

par

tir d

o sé

culo

XV,

em

Flo

renç

a, em

fest

as

e no

iníci

o do

posiç

ões b

ásica

s dos

pés

par

a est

a dan

ça: t

odo

e qu

alque

r pa

sso

e mov

imen

tos i

nicia

m o

u te

rmin

am n

as re

spec

tivas

po

siçõe

s. Pa

ra o

s br

aços

e c

abeç

as t

ambé

m f

oram

as p

osiçõ

es e

mov

imen

tos

de p

és. U

ma

danç

a id

ealiz

ada

regi

dos

pela

técn

ica, o

que

, de

certa

for

ma,

com

bas

e no

s id

eais

que

se b

usca

atin

gir,

rest

ringe

alg

uns

corp

os

posic

iona

ndo-

os e

m u

m l

ugar

de

não

adeq

uado

s pa

ra

essa

dan

ça, p

or n

ão p

oder

em ch

egar

ao re

sulta

do es

tétic

o id

ealiz

ado.

Um

a da

nça

tradi

ciona

l que

se

deve

rea

lizar

,

214

ensin

ar e

apre

nder

com

o ela

foi i

nven

tada

, poi

s é es

sa su

a pr

opos

ta -

tradi

ção.

Um

corp

o qu

e rea

liza a

dan

ça cl

ássic

a de

for

mas

dife

renc

iadas

não

est

á re

aliza

ndo

esta

dan

ça,

e qu

ando

não

con

segu

e alc

ança

r o

que

foi

idea

lizad

o na

pro

post

a de

ssa

danç

a po

de s

er a

té c

onsid

erad

o nã

o ad

equa

do p

ara

danç

ar,

não

poss

uind

o co

ndiçõ

es p

ara

ser

adm

irado

ou

capa

citad

o pa

ra e

sta

arte

. Pr

ecisa

-se

apre

nder

a r

epre

sent

ar e

ssa

técn

ica. E

xist

em p

ropo

stas

qu

e bu

scam

out

ras

poss

ibili

dade

s no

pró

prio

balé

, mas

ne

m se

mpr

e re

conh

ecid

as e

legí

timas

.

A b

usca

por

reali

zar o

utra

s fo

rmas

de

danç

a qu

e nã

o se

ja o

balé,

tent

ando

pos

sibili

tar

que

outro

s co

rpos

po

ssam

ser

com

pree

ndid

os c

omo

potê

ncia

danç

ante

, ab

riu e

spaç

o pa

ra a

cria

ção

de o

utra

s da

nças

/téc

nica

s, co

mo

as d

ança

s m

oder

nas.

A d

ança

mod

erna

(ou

as

danç

as m

oder

nas)

sur

ge,

cron

olog

icam

ente

, de

pois

da

danç

a cl

ássic

a, ap

esar

de

ser r

esul

tado

do

pens

amen

to d

e um

a det

erm

inad

a épo

ca n

o se

ntid

o de

abrir

pos

sibili

dade

s pa

ra c

riaçã

o. T

ambé

m t

em c

omo

forte

car

acte

rístic

a a

exer

cício

s qu

e co

nstit

uem

téc

nica

s de

dan

ça m

oder

na,

apon

tand

o se

mpr

e pa

ra o

s ch

amad

os p

rincíp

ios.

Mar

tha

Gra

ham

des

envo

lve u

ma t

écni

ca q

ue te

m co

mo

prin

cípio

s

Por

mais

que

se

trate

de

um p

erío

do h

istór

ico,

cara

cter

ística

s té

cnica

s. Ta

nto

a da

nça

cláss

ica c

omo

as

danç

as m

oder

nas

são

técn

icas,

mas

não

isso,

poi

s ap

onta

rão

para

det

erm

inad

os r

esul

tado

s es

tétic

os,

pré-

esta

belec

idos

mui

tas

veze

s, pr

opos

tos

por

cada

um

a. A

lém d

essa

s, br

evem

ente

apre

sent

adas

aqui

, mui

tas o

utra

s

215PARAFERNÁLIAS I

danç

as ta

mbé

m sã

o re

conh

ecid

as p

or su

as c

arac

terís

ticas

cnica

s (m

odos

de

faze

r) qu

e ch

egar

ão a

um

res

ulta

do

pens

ado

para

a c

ena.

Toda

s se

mpr

e ap

rese

ntan

do s

uas

dita

s e

sem

pre

refo

rçad

as i

dent

idad

es,

que

pode

m s

er

perc

ebid

as e

m q

ualq

uer

luga

r e

tem

po, p

oden

do h

aver

pe

quen

as a

ltera

ções

. M

as i

sso

vai

se e

mba

ralh

ar,

(des

)or

gani

zar,

deslo

car

com

o

acon

tecim

ento

da

da

nça

de p

ensa

r a d

ança

.”

Pens

ar a

dan

ça c

omo

a da

nça

das

poss

ibili

dade

s ab

re e

spaç

o pa

ra d

iver

sos p

roce

ssos

de

criaç

ão e

m d

ança

qu

e ap

rese

ntar

ão s

ingu

lares

res

ulta

dos

cêni

cos,

e qu

e, m

uita

s ve

zes,

estã

o em

dev

ir. S

endo

ass

im,

é po

ssív

el

de u

m si

que

em c

ada

danç

ar c

omo

uma

(re)in

venç

ão

cons

tant

e de

cor

pos.

Taiw

an, n

a Fra

nça,

na A

leman

ha, n

a Hol

anda

, na

Bélg

ica, n

os E

stad

os U

nido

s e n

o Br

asil.

Em

cada

um

des

ses p

aíses

há c

oreó

graf

os d

e car

acte

rístic

as

dist

inta

s qu

e re

aliza

m

traba

lhos

co

rpor

ais

conh

ecid

os co

mo

danç

a con

tem

porâ

nea,

mas

que

Em

com

um, p

ode-

se d

izer

que

cad

a um

pro

duz

cont

ágio

s múl

tiplo

s.”

48 -

TOM

AZ

ZO

NI,

2006

.

49 -

SIQ

UE

IRA

, 200

6, p

.10.

216

Com

est

a da

nça,

ou d

evir-

danç

a, pr

oduz

em-s

e m

uito

s m

odos

do

danç

ar, (

des)

orga

niza

ndo

o qu

e já

se

fazi

a em

dan

ça,

reor

gani

zand

o co

nsta

ntem

ente

o q

ue

se p

ensa

r de

form

a tra

nsitó

ria, p

rovo

cand

o, p

rodu

zind

o ou

pr

opor

ciona

ndo

estra

nham

ento

s. É

at

ravé

s do

es

tranh

amen

to q

ue é

pos

sível

sair

do l

ugar

com

um,

do lu

gar

onde

se

enco

ntra

os

mod

os, d

esen

hado

s pe

lo

corp

o, m

odos

de

faze

r dan

ça já

est

rutu

rado

s e tr

aduz

idos

em

rece

itas.

O c

orpo

na

danç

a co

ntem

porâ

nea

pass

a a

ser

pens

ado

nas s

uas p

ossib

ilida

des,

e nã

o em

pos

sibili

dade

s cr

iadas

par

a se e

ncaix

ar n

esse

corp

o. É

com

o se

um

a dan

ça

um b

om d

ança

nte

aque

le qu

e se

enc

aixar

per

feita

men

te

dent

ro d

a gar

rafa

. Se o

corp

o/pe

nsam

ento

/prá

tica n

ão se

en

caix

ar n

a gar

rafa

, est

e cor

po n

ão se

rve p

ara c

erta

dan

ça

prop

osta

em

det

erm

inad

a sit

uaçã

o. Já

em

mui

tas

danç

as

cont

empo

râne

as é

com

o se

se

pens

asse

o c

orpo

com

o

para

ess

e co

rpo

que

a pr

oduz

iu e

m u

m d

eter

min

ado

inst

ante

e a

pro

duzi

rá m

uita

s vez

es d

e di

fere

ntes

form

as.

Cada

co

rpo

criar

á/co

nstr

uirá

/inv

enta

sua

próp

ria

garr

afa,

e iss

o, n

a da

nça

cont

empo

râne

a, ba

gunç

a, (d

es)

orga

niza

, pr

oduz

est

ranh

amen

to,

pois

não

se t

rata

de

regr

as e

for

mat

os a

ser

em r

epet

idos

, m

as d

e re

gras

e

form

atos

cria

dos

o te

mpo

tod

o pa

ra c

ada

danç

a e

que,

em m

uito

s ca

sos,

deix

am d

e va

ler a

cad

a no

va p

ropo

sta

ou a

cad

a di

a, po

is es

tão

sem

pre

em d

evir.

A d

ança

das

pos

sibili

dade

s é p

rodu

zida

pelo

corp

o qu

e se

con

stitu

i nas

sua

s ex

periê

ncias

étic

as, n

a te

ntat

iva

e ex

perim

enta

ções

de

seus

mod

os d

e fa

zer d

ança

, mod

os

217PARAFERNÁLIAS I

quan

do

com

pree

ndid

a co

mo

poss

ibili

dade

de

co

mpo

sição

de

ideia

s, ou

de

com

posiç

ão d

e um

cor

po

de id

eias,

é um

esp

aço

entre

o q

ue s

e co

mpr

eend

e po

r

onde

o c

oreo

graf

ar é

des

feito

par

a se

ref

azer

. Iss

o na

te

ntat

iva

de n

ão c

orre

r o

risco

de

enca

rar

o co

reog

rafa

r

um lu

gar d

e co

mpo

sição

que

, fac

ilmen

te, p

ode

se to

rnar

poss

ibili

dade

s de

desd

obra

men

tos.

A d

ança

cont

empo

râne

a vist

a com

o po

ssib

ilida

de

de

indi

car

mod

os

de

pens

ar/c

riar

danç

as,

um

pens

amen

to q

ue d

á em

ato

de

criaç

ão, u

m p

ensa

men

to

da n

ão r

epre

sent

ação

, um

pen

sam

ento

que

dan

ça,

um

reco

nhec

ido

com

o ve

rdad

eiro,

poi

s se

mpr

e se

des

faz

e re

faz

dife

rent

e.

FR

AG

ILID

AD

E P

OT

EN

TE

Frág

eis,

talv

ez,

sejam

as

co

ndiçõ

es

de

poss

ibili

dade

s enc

ontra

das c

omo

mod

o de

torn

ar p

oten

te

o da

nçar

. Pot

ência

com

o um

a car

ga, i

nten

ções

, um

dev

ir...

Os

corp

os s

e to

rnav

am d

ança

: dig

o iss

o nã

o ap

enas

em

re

lação

aos

cor

pos a

natô

mico

s, m

as ta

mbé

m a

os c

orpo

s-

ao co

rpos

-vid

a que

se co

nstit

uem

nos

enco

ntro

s de t

odos

os

cor

pos e

m c

ena.

Tant

as v

ezes

um

a da

nça

tem

um

iníci

o da

tado

, e,

com

o m

ovim

ento

da

vida

, o

que

se p

rodu

z ne

sse

218

mes

mo

tem

po se

torn

a pot

ente

par

a a tr

ansf

orm

ação

, par

a a p

rodu

ção

da d

ifere

nça.

A co

reóg

rafa

alem

ã Pin

a Bau

sch

criav

a su

as o

bras

pot

encia

lizan

do e

m s

eus

baila

rinos

o

que

pode

ria s

er d

ifere

nte

em c

ada

um. A

ssim

pro

punh

a alg

umas

exp

erim

enta

ções

de

mov

imen

tos

disp

arad

os

pela

mul

tiplic

idad

e do

s en

cont

ros,

onde

se

repe

tia o

s m

ovim

ento

s par

a di

fere

nciar

e p

rodu

zir a

lgo

novo

.

a um

gra

u qu

e se

efe

tua,

não

mais

na

form

a, m

as n

a tra

nsfo

rmaç

ão.

Já n

ão h

á ve

rdad

e ne

m a

parê

ncia.

não

há f

orm

a in

variá

vel

nem

pon

to d

e vi

sta

variá

vel

sobr

e um

a fo

rma.

um p

onto

de

vist

a qu

e pe

rtenc

e tã

o be

m à

coi

sa q

ue a

coi

sa n

ão p

ara

de s

e tra

nsfo

rmar

num

dev

ir id

êntic

o ao

pon

to d

e vi

sta.

Met

amor

fose

do

verd

adeir

o. O

arti

sta

é cr

iador

de

verd

ade,

pois

a ve

rdad

e nã

o te

m

de se

r alca

nçad

a, en

cont

rada

ou

repr

oduz

ida,

ela d

eve

ser c

riada

.”

Nas

pe

squi

sas

expe

rimen

tais

cêni

cas

para

a

criaç

ão e

m d

ança

, é c

omum

ver

(re

)leitu

ras,

conc

eitos

, im

agen

s (v

isuali

dade

s), r

ecor

tes

joga

dos

com

o fo

rma

de

map

eam

ento

de

tem

as, q

ue g

rand

e pa

rte d

as v

ezes

são

jo

gado

s na

s ce

nas

prod

uzid

as e

ent

endi

dos

com

o um

pr

oces

so d

e pe

squi

sa.

Talv

ez o

que

se

pesq

uisa

pod

e se

rvir

de d

ispar

ador

par

a a

criaç

ão, t

orna

ndo

frág

il o

que

e pe

nsar

o im

pens

ado

com

o cr

iação

. Poi

s já n

ão in

tere

ssa

50

219PARAFERNÁLIAS I

mais

tant

o o

que

foi p

esqu

isado

cen

icam

ente

, mas

sim

o

que

se c

ria c

om is

so, o

s us

os q

ue s

e fa

z do

que

se

tem

, do

que

se

vê, d

o qu

e se

lê, d

o qu

e se

esc

reve

, do

que

se

pres

encia

, do

que

se o

uve,

do q

ue se

regi

stra

...

É tã

o in

tere

ssan

te a

ssist

ir a

um e

spet

ácul

o on

de

os m

odelo

s re

pres

enta

tivos

de

técn

icas,

de m

odos

de

mov

imen

to d

e res

istên

cia se

des

taca

. Por

resis

tênc

ia qu

ero

dize

r re

sistir

a t

udo

o qu

e se

faz

, e p

elo m

enos

ten

tar

faze

r de

outra

s for

mas

. Mas

ond

e es

tão

as in

terp

reta

ções

de d

ança

? Na

criaç

ão, n

a fr

agili

zaçã

o do

que

se fe

z co

mo

inte

rpre

taçõ

es q

ue lo

caliz

em e

m u

m m

odelo

iden

titár

io

danç

ar c

once

ituan

do o

u de

calca

ndo

com

con

ceito

s qu

e se

tem

est

udad

o. M

as s

e tra

ta d

e ol

har p

ara

as p

otên

cias

dos c

orpo

s, da

s cen

as, d

as re

laçõe

s...

corp

o cr

ia ou

tra p

ossib

ilida

de d

e vi

r a se

r um

cor

po, u

m

para

com

bate

r a re

pres

enta

ção

na p

rópr

ia re

pres

enta

ção,

on

de a

s co

ndiçõ

es d

e po

ssib

ilida

des

são

pote

ntes

par

a a

criaç

ão d

e co

rpos

... d

e se

res

em d

evire

s... O

EU

deix

a de

exi

stir

a ca

da in

stan

te e

m c

ena

e ou

tros t

anto

s mod

os

de v

iver

um

eu

(sem

pre

plur

al) s

ão s

empr

e cr

iados

. Que

im

agen

s po

dem

ser

pro

duzi

das

na d

ança

pen

sand

o es

ta

danç

ante

em

si

é um

a im

agem

, frá

gil

mas

pot

ente

, de

pens

amen

to n

o vi

r a se

r de

uma

vida

dan

çant

e.

220

CORA

ZZ

A,

Sand

ra M

ara.

Cu

rríc

ulo

da

infâ

nci

a e

. In:

X

Coló

quio

Luso-

Bras

ileiro

sobr

e Que

stões

Curri

cular

es &

VI

Colóq

uio L

uso-B

rasil

eiro d

e Cur

rículo

: ca

mpo d

o cur

rículo

. Sub

tem

a: Cu

rrícu

lo e

edu

caçã

o in

fant

il.

Aleg

re: 2

012.

17

p.

DE

LEU

ZE

, G

illes

. Ci

nema

II

– A

ima

gem-te

mpo.

Trad

. E

loisa

de

Ara

ujo

Ribe

iro.

São

Paul

o: B

rasil

iense

, 200

7.

L. e

RA

BIN

OW

, Pau

l. M

ichel

Fouc

ault,

um

a tra

jetór

ia

Trad

. Ver

a Po

rtoca

rrer

o e

Gild

a G

omes

Car

neiro

. 2ª E

d.

Ver.

Rio

de Ja

neiro

: For

ense

Uni

vers

itária

, 201

0.

SIQ

UE

IRA

, D

enise

da

Co

sta

Oliv

eira.

Corp

o,

Com

unica

ção

e Cu

ltura

: a

danç

a co

ntem

porâ

nea

em

cena

. Ca

mpi

nas,

SP: A

utor

es A

ssoc

iados

, 200

6.

TOM

AZ

ZO

NI,

Airt

on. E

ssa t

al de

danç

a con

tem

porâ

nea.

Publ

icado

em

: http

://i

danc

a.net