Corpos Da Dança

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  • 7/24/2019 Corpos Da Dana

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    Revista da EDUCAO FSICA 7/UEM(1):3-11, 1!"

    ARTIGOS

    A EXPRESSO DOS CORPOS PELA DANA:VIVNCIA E REFLEXO EM MEIO ESCOLAR

    Larissa Michelle Lara*Aa!ri A" #$ss%li &e Oli'eira**

    RESUMO"Visando contribuies rea educacional, principalmente no que se refere Educao Fsica e sproblemticas a ela atribudas, desenvolveu-se uma experincia prt ica no !entro de "plicaes #eda$%$icas da&niversidade Estadual de 'arin$, com uma turma de () s*rie, buscando contribuir para uma conscienti+ao

    acerca das necessidades e possibilidades de movimento, no sentido de vencer determinadas resistncias quedificultam o trabalo de contedos no li$ados s ra+es culturais esportivas. !oncreti+ada a experincia, p/de-se perceber que a expresso dos corpos pela dana na escola * dificultada pelas resistncias sociais, culturais e

    peda$%$icas que so parte da vida dos indivduos e que inviabili+am muitas ve+es o acesso a taisconecimentos. 0o entanto, a conscienti+ao torna-se possibilitada medida que reflexes comeam a seconcreti+ar por meio do comprometimento de profissionais com a cultura de movimento em todos os seusaspectos.

    #a$av%as-&'ave: expresso, corpos e escola

    #OD( EXPRESSION IN DANCING:EXPERIENCE AND REFLEXION IN A SC)OOL ENVIROMENT

    ASRAC"" practical experience at te !entro de "plicaes #eda$%$icas 12eacers32rainin$ !entre4 ofte &niversidade Estadual de 'arin$ 5as developed, in te educational field, ciefl6 in #6sical Educationand te problems attibuited to it. 2e experiment 5as underta7en 5it cildren of ( tform. 8t tried to $ive ana5areness about necessities and possibilities of movements so tat certain resistances inderin$ temes tolin7ed to sport3s cultural roots colud be overcome. 2e bod6 expression in 9ancin$ at scool is indered b6social, cultural and peda$o$ical resistances. 2e latter are part of te person3s life and in man6 circumstancesrender difficult is:er te de$ree of reflexions trou$ te commitment of teacers to te culture of movementsin all teir aspects.

    *e+ %ds:expression, bod6, scool.

    ; #rofessora Especiali+anda em Educao Fsica 8nfantil pela &niversidade Estadual de 'arin$, "v. !olombo,?, !@mpus &niversitrio, (=?A?->??, 'arin$-#aran, Brasil.

    ; ; #rofessor do 9epartamento de Educao Fsica, &niversidade Estadual de 'arin$, "v. !olombo, ?,!@mpus &niversitrio, (=?A?->??, 'arin$-#aran, Brasil e doutorando em Educao 'otora pela &08!"'#.

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    #RIMEIRAS CO.SIDERAES

    " educao como um todo passa por umprocesso de intensas reflexes, principalmente,porque no est concreti+ando no omem real o

    estabelecimento de relaes si$nificativas pormeio do movimento. C corpo, instrumento dessaao, * vislumbrado em $rande parte pela %tica dosinteresses capitalistas e acaba, cada ve+ mais,sendo moldado dentro dos padres estabelecidospela sociedade.

    Baseadas nisso, contribuies no sentido dedesvelar certas prticas so de fundamentalimport@ncia para a busca de uma educao queveDa o omem no pela simbolo$ia de mais umcorpo a ocupar o espao, mas pelo sentido e

    si$nificado desse corpo, enquanto ser ist%rico e,portanto, real. "ssim, * no fa+er ist%rico queprocuramos entender o omem e suas necessidadesde movimento, por meio de prticas quecontribuam para a ampliao da cultura corporalem meio escolar. " dana, uma das expressesdessa cultura, *, certamente, um dos elementoscaves de contribuio a uma visuali+ao doomem em todas as suas potencialidades. ummeio de expresso sur$ido mediante asnecessidades umanas e transformado a partir denovas necessidades reli$iosas, formas de pensar,

    a$ir e relacionar-se com o corpo. Visuali+ada nascivili+aes anti$as e, ap%s, pelo entendimento deseparao do sensvel e do intele$vel 1Freire,>>4, renasce com novas caractersticas baseadasnas necessidades advindas de um novo omem.#assa a ser lembrada dentro da Educao Fsica,em que praticamente est ausente, devido aomassacre cultural dos elementos da cultura demovimento que no privile$iem o mundoesportivo. " partir de ento, esse contedo emmeio escolar torna-se um $rande desafio a

    profissionais que se empenam em trabalar umanova proposta de Educao Fsica."ssim, o trabalo em questo teve por

    obDetivo caracteri+ar a expresso dos corpos peladana e a sua relao com a Educao Fsicaescolar, a fim de verificar a sua contribuiocomo a$ente conscienti+ador do omem e dassuas possibilidades de movimento, atrav*s deuma experincia prtica Dunto aos alunos da ()s*rie do !entro de "plicao #eda$%$ica da &E'.#ara este relato apresentamos um pequeno

    introdut%rio te%rico e detivemo-nos maisespecificamente ao relato da experinciavivenciada, procurando a aborda$em dasresistncias culturais, sociais e peda$%$icas quedificultaram a concreti+ao desse elemento na

    escola.

    CO.SCIE.I0A.DO COR#OS

    " Educao Fsica sempre tratou o corpo, oumelor, os corpos, como obDeto, produto de umasociedade ditada por padres bur$ueses. o corpoda moda, o corpo consumista, o corpo atl*tico.!omo coloca Gaiarsa 1>>H, p.I4J a indstriado olhe para mim, forma oficial de exibicionismo

    e de chamar a ateno.Ko esses corpos que vi$oram. o corpo quese v e no o corpo que se sente. o corpo que seli$a aos condicionantes sociais, educao, sfrustraes, ao consumo. E a Educao Fsica maisuma ve+ se esquece do umano do corpo, dosentimento, das sensaes, dos pra+eres, docultural, do poltico e continua a querer moldar umcorpoJ rob/, acrtico e individual.

    Kantin 1>>H4 coloca que tudo o que se sabesobre o corpo no partiu dele, mas sim dopensamento racional $re$o e que ap%s os

    conecimentos sobre o mesmo foram apresentadospelo pensamento reli$ioso. !om a modernidade,vincula-se esse corpo ra+o. Kur$em as cinciasexperimentais e o corpo * visto pelas leis da fsica,c%di$o $en*tico ou estruturas biol%$icas,escravi+ando o mesmo s leis mec@nicas ebiomec@nicas. Gonalves 1>>H4 di+ que, nassociedades em que a diviso do trabalo *acentuada, so redu+idas a espontaneidade, aexpresso por meio do corpo e acentua-se ainstrumentali+ao do mesmo.

    Foucault 1>=>4 di+ que a conscienti+ao docorpo p/de ser conse$uida atrav*s do instrumentofeito pelo poder 1a $instica, os exerccios, odesenvolvimento muscular, a nude+, a valori+aodo corpo belo4, levando as pessoas a buscarem umtipo de corpo, efeito causado pelo trabaloinsistente e meticuloso do poder sobre o mesmo. "sociedade de lucro passa cada ve+ mais a investirno corpo e isso fa+ com que as pessoas passem aacreditar sobre a posse de um corpo a ser cuidado."ssim, podemos perceber, baseado nas palavras de

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    Freire 1>>, p.4 que ... a alienao caminha apasso com a conscientizao."ssim, se antes o poder era visuali+ado de formaclara e direta pela i$reDa, pelo estado autoritrio emilitar, a$ora * visto de forma sutil, como afirma!a$as 1>>H4, e dispersado no cotidiano por meiode discursos que pre$am a liberdade sexual, oculto ao corpo belo e fidedi$nidade da cincia.Cs estudos acerca da corporeidade esto maispresentes neste s*culo LL e fa+em com que oomem comece a descobrir que * corpo e noapenas que tem um corpo. 9esse modo, entende-se a necessidade de uma educao voltada para acorporeidade, tendo como elemento primordial asensibilidade. !omo coloca Freire 1>>H, p.I4J

    Acredito firmemente que os rumos daEducao Fsica, os rumos daeducao corporal ou motora, osrumos das terapias corporais, nomundo ocidental, sero marcados

    pela preocupao com a educaopara a sensibilidade, com a educaopara a tomada de conscincia dacorporeidade. !ensar a educao nanossa "rea como uma educao paraas pessoas se saberem corpo est", nomeu entender, de acordo com o queh" de mais atual no pensamentohumano ho#e.

    0esse sentido, * preciso que a educao comoum todo entenda a necessidade de Mser corpoM eno apenas um instrumento a ser manipulado,pensado e direcionado por outros c*rebros. 0oentanto, Kantin 1>>H4 ao colocar sua preocupaosobre os estudos reali+ados acerca do corpoatualmente, menciona que * preciso ficarmosatentos para esses discursos de exaltao ao corpo,posto que no passam de uma forma camuflada demenospre+-lo. "ssim ele comentaJ

    $er" que ao falarmos do corpoestamos querendo des%elar e res&ataro si&nificado do corpo na hist'ria dohomem, ou estamos apenas olhando ocorpo conforme a 'tica da sociedadeindustrial. 1Kantin, >>H, p.=H4.

    9essa forma, o alerta * vlido para que nocontribuamos, embora no seDa o nosso prop%sito,para valori+ar demasiadamente um discursocorporal que vena cada ve+ mais aumentar a

    espiral da produo de corpos e:ou de corposprodutivos.

    &m trabalo corporal voltado ou no para aEducao Fsica, que considere apenas o aspectofisiol%$ico do mesmo, estaria desconsiderando, naviso de 9aolio 1>>>H4 busca uma Educao Fsica queseDa capa+ de fa+er com que os omens veDam esintam a sua corporeidade por meio de uma *ticada sensibilidade, nascida a partir do momento quese pode entender e viver o corpo. 2al vivnciatorna-se, dessa forma, imprescindvel para que sepossa entender a corporeidade aleia. 'as, elebem lembra que essa sensibilidade precisa serdesenvolvida, cultivada, como qualquer outranecessidade vital, principalmente porque pode seresma$ada pelos princpios da racionalidade.

    "ssim ele di+J( ser humano, particularmente ohomem, foi proibido de manifestar

    sua sensibilidade. Ele no podeemocionar)se, chorar ou deixar)seconduzir pelos sentimentos. Essasmanifesta*es so contr"rias aocomportamento racional, + di&nidadede uma personalidade equilibrada eest"%el. 1Kantin,>>H, p.=N4.

    9essa forma, pensando a corporeidade,

    buscando res$atar a sensibilidade existente emcada ser, o lado umano dos omens e daEducao Fsica * que pretendeu entender o corpoem movimento atrav*s da dana, meio que podefa+er aflorar novas necessidades de movimento econtribuir para aes reflexivas. 'as, por que adanaO #orque a escola desse elementoO #araesclarecer a nossa escola, lembramos mais umave+ Kantin 1>>H4 que fala da necessidade de sebuscar espaos para se res$atar a di$nidadecorporal, em que os dualismos no impusessem

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    sua fora. "ssim, averia momentos onde umaunidade poderia ser percebida e um dessesmomentos seria vislumbrado na dana, em que odanarino se sente como um Mtodo inseparvelM.

    Entende-se, portanto, que esse * um dosmotivos importantes, mas no o nico da e sc ol ade tal elemento da cultura de movimentoumano. Entendemos a import@ncia do res$ate dadana nas aulas de Educao Fsica, nodespre+ando nenum outro elemento da cultura demovimento, mas sim res$atando um elemento toesquecido quanto o pr%prio Mser corpoM. " partirdesse entendimento, a experincia educacionalcomea a tomar forma.

    CO2OCA.DO EM #RICA

    Fleuri 1>>A4 di+ que educar requer umcompromisso com a tarefa de conecer a $nese dapr%pria prtica, o que implica buscar alianas eassumir conflitos. Ki$nifica desafiar e serdesafiado a mudar ou manter as estruturasexistentes.

    0o que di+ respeito Educao Fsica, tem-seclara a necessidade de contribuir para que a suaprtica atue no sentido de transformao e no dereproduo, por meio de profissionais realmentecomprometidos com a cultura do movimento ecom um omem ist%rico-social concreto. 0o

    entanto, isso muitas ve+es acaba no ocorrendo,estreitando-se o mundo de movimentos dos alunospor meio de uma Educao Fsica sin/nima deesportes. !omo afirma Bract 1>>A, p.HN4J

    A le&itimidade das pr"ticas corporais,principalmente o esporte, nassociedades modernas, pode serdeduzida da praticamente unanimidadeque o esporte ho#e alcana.

    'as, tentativas esto sendo viabili+adas no

    sentido de novas perspectivas para a EducaoFsica e al$umas dessas, executadas no !entro de"plicaes #eda$%$icas da &niversidade Estadualde 'arin$, fi+eram-se necessrias e puderam serpostas no plano real.

    "ntes de darmos incio aos contedos, umanecessidade fe+-se presenteJ a reali+ao de umplaneDamento participativo com os alunos, em queestes pudessem atuar de forma dial%$ica naescola dos contedos a serem desenvolvidos. 0oentanto, al$umas direes foram dadas para um

    melor encaminamento do processo. " $instica,uma das temticas a ser desenvolvida, no foi, decerta forma, uma escola dos alunos em si, masuma necessidade de se dar continuidade aotrabalo de $instica artstica D iniciado pelaprofessora da turma. Ku$erimos que a dana fossetrabalada no primeiro semestre devido necessidade de relatos em trabalos posteriores.!omo contedos de dana os alunos escoleramJo fandan$o paranaense, o samba, o roc-n roll. #orfim, um trabalo com uma dana livre foisu$erido, baseada em temas-$eradores1Freire,>=>4, denominada por n%s de Pdana livreeducacionalQ, com suporte em elementosenfati+ados na dana moderna, pela necessidade dedar nfase ao lado criativo e expressivo no meioeducacional, fu$indo s danas D construdas.!omo di+ Raban 1>>?, p.(4J

    as escolas onde se fomenta aeducao artstica, o que se procurano / a perfeio ou a criao deexecuo de danas sensacionais,mas o efeito ben/fico que a ati%idadecriati%a da dana tem sobre o aluno.

    2rabalando a $instica, lo$o percebemos atimide+ dos alunos e at* mesmo a ausncia deexperincias anteriores que facilitassem o trabaloa ser reali+ado. C medo em se expor,principalmente pelo ambiente ao ar livre, de errar eser ridiculari+ado pelo $rupo era evidente. "princpio, as meninas tiveram uma boaparticipao, embora receosas em se expor frenteaos meninos. Estes dificilmente reali+avam asatividades, passando apenas a observ-las. 0umprimeiro momento, buscamos incentiv-los atrav*sde conversas sobre o medo em se expor, sobrevalores culturais, mas no tivemos avanossi$nificativos e a forma de fa+er com queparticipassem das aulas prticas foi, infeli+mente,pelo sistema avaliativo. " necessidade de criar

    uma se qSn ci a coreo$rfica de $instica fe+com que $rande parte dos alunos vivenciassem osfundamentos desenvolvidos em aula e, pelo menosnesse momento de criao e apresentao,pudemos v-los em movimento.

    "o iniciarmos o trabalo com a dana,pensvamos que esse quadro seria revertido,principalmente pela diversidade das danasescolidas. 0o entanto, isso no se concreti+ou."ntes de iniciarmos o trabalo, cada alunorespondeu al$umas questes referentes ao

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    entendimento sobre a dana, diversos tipos dedana, $osto pela mesma e discriminao em tornodo omem que dana.

    " partir das respostas pudemos perceber que$rande parte dos alunos possua o entendimento dadana como sendo uma forma de expresso corporal,uma forma de movimentar o corpo, liberar a alma, eoutros ainda a viam como um esporte, umdivertimento, forma de liberao de ener$ia. !omrelao ao sur$imento da dana, a maioria dosalunos atriburam a sua $nese necessidade doomem em se expressar, em a$radecer deuses,comunicar-se com os mesmos, a$radecer pelacoleita, o que condi+ com os fatos ist%ricos, eoutros relacionaram-na com os ind$enas, aspectono evidenciado na literatura.

    " maior parte dos alunos disse $ostar dedanar porque * uma forma de transmitir s

    pessoas os sentimentos mais ntimosT porque * ummeio de se expressar com o corpo, enturmar edivertir e tamb*m * um passatempo. &ma pequenaparcela disse no $ostar de danar devido ver$ona ou porque no v $raa nessa prtica.

    Uuanto visuali+ao do omem que pratica adana, a maior parte considera normal, al$unsvem como quase normal, uma minoria aca omximo, outros interessante e outros ainda vemesse omem como doente.

    "p%s o trabalo reali+ado com a dana, as

    id*ias praticamente no se alteraram. "l$unsconceitos puderam ser melor elaborados comrelao a al$umas questes. " dana foi vistacomo importante por al$uns porque fa+ia esqueceros problemas, era um passatempo, aDudava arelaxar enquanto al$uns continuavam vendo-acomo sem $raa, no vislumbrando a mesma comoimportante, a partir do momento que o professorobri$a os alunos a participarem, pela dificuldadede execuo de al$umas danas, por no teremexperincia e, ainda, por apresentarem ver$ona.C que p/de ser alterado com maior evidncia foi

    com relao discriminao do omem que dana,passando a entender o mesmo como uma pessoainteli$ente, culta, que se preocupa com apreparao fsica , que $osta de se exercitar. 'as,a id*ia de louco e Pperfeito idiotaQ, comocolocaram al$uns, ainda permaneceu. 8sso porquevalores transmitidos e adquiridos socialmentecomo sendo verdades absolutas, so fortementeincorporados pela presso exercida por meiosopressoresJ famlia, educao, reli$io, Estado,meios de comunicao, dentre outros, que tendem

    a vincular muito bem as id*ias e$em/nicas, demodo que uma nova visuali+ao torna-sedificultada e muitas ve+es inviabili+ada.

    9urante as aulas, procuramos trabalar oist%rico da dana de modo $eral, comdramati+aes, discusses em $rupo eapresentaes. "p%s, buscou-se um trabalo maisespecfico 1fandan$o paranaense, samba, roc-nroll e dana livre educacional4. 0o entanto, osmeninos raramente participavam das aulas e essaausncia fe+ com que, em certos momentos, umnmero redu+ido de meninas se predispusessem avivenciar experincias com os meninos asobservando. Cu seDa, embora a maioria dos alunosdissessem $ostar da dana e no ter preconceitosacerca da mesma, na prtica isso no seconcreti+ava. 'as, tal situao no era $eral.9ependia da dana a ser vivenciada, do momento

    da aula e da disposio das mesmas para otrabalo. "ssim, * preciso mais que oentendimento de que os corpos se expressam deuma forma diferente porque representam culturasdiferentes, conforme afirma 9aolio 1>>

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    criao para os demais e ap%s, discutindo sobre aapresentao da mesma. Eram os primeiros passospara a reali+ao do que denominamos Pdanalivre educacionalQ.

    C processo de elaborao da penltimaavaliao do bimestre ocorreu da se$uinte formaJos $rupos se dividiram aleatoriamente, em quatro.8ncentivamos os mesmos a expressarem umatemtica por meio da dana, seDa pessoal, social oucultural. Cs $rupos escoleram al$umas temticascomo a fome, a ami+ade, o futebol e a diferenasocial.

    C $rupo do futebol, formado apenas pormeninos, no se preocupou muito com a atividadea ser desenvolvida. Baseados na improvisao,na diverso, encenaram al$umas situaes de Do$o.C $rupo que trabalou a diferena social, formadotamb*m por menin os, preoc upou- se desd e a

    carac ter i+ ao dos person a$ ens at* a marcaoforte da msica mais adequada situao a servivenciada. 'as, embora se tratasse de umaencenao, esquecendo-se que o elemento demaior evidncia, naquele momento, seria a dana,retratou situaes cotidianas com muitacriatividade.

    C $rupo da fome, composto de meninos emeninas 1em sua maior parte4, tamb*m preocupou-se com a caracteri+ao. #ratos foram utili+adoscomo forma de melor representar a temtica e

    como meio de enriquecimento coreo$rfico. o$rupo da ami+ade, composto somente de meninas,preocupou-se tanto com a msica,caracteri+ao, como com o aspecto coreo$rfico,cuDos movimentos e expresses eram criativos einteressantes, enquadrando-se perfeitamente natemtica desenvolvida.

    Embora ouvesse descaso por al$uns comrelao a esse tipo de trabalo, muitos dos alunosacaram diferente e se sentiram bem com a suareali+ao, principalmente porque foram eles osmentores de tal processo e execuo. C que os

    inibia, em muitas ve+es, era a ver$ona, o nointeresse por atividades do tipo e os preconceitoscom relao a quem pratica a dana, D de ori$emfamiliar e transmitidos aos filos, comoevidenciado por um dos alunosJA', se 4e5 6ai4e visse assi4" 8sto pode ser melor entendido,como afirma Freire 1>(=4, por meio da invasocultural, que representa a penetrao dos invasoresno mundo dos invadidos, impondo a sua forma devisuali+ar a realidade, constituindo-se assim, numato de violncia.

    'as, sem dvida, por menos elaborados quetivessem sido os trabalos, por menorpreocupao que tivessem para com os mesmos, oprocesso foi extremamente vlido, pois discutiramo que iriam elaborar, que movimentos melor seadequariam situao escolida, realidade a serrepresentada.

    Revando-se em considerao que os alunospraticamente vivenciaram o esporte em toda asua vid a, tra bal an do essencialmente sobrere$ras, t*cnicas, no les dando oportunidades devivncias de outras prticas corporais apoiadas emconecimento cientfico, resultando em ampliaodo mundo de movimento por meio de experinciasnovas e de carter reflexivo sobre si mesmo e asociedade, o trabalo desenvolvido pelos alunosfoi satisfat%rio. 2od os par ti ci par am e de rama su a contribuio, no somente aos cole$as de

    classe, ao crit*rio de avaliao, aos anseios daprofessora, mas a si mesmos, como umaexperincia de movimento enriquecedora,permitindo que expusessem seus corpos, suasnecessidades, seus medos e preconceitos.

    #E.SA.DO OS #RO2EMAS DA DA.A

    9evido aos problemas enfrentados durantetodo o perodo de trabalo com essa turma de ()s*rie, sentimos a necessidade de uma avaliao

    te%rica que, encerrando os contedos do bimestre,constasse uma per$unta semelante, oupoderamos di+er, i$ual situao real encontrada.Cu seDa, se os alunos, enquanto professores,tivessem que transmitir e produ+ir determinadocontedo da cultura de movimento com seusalunos, neste caso a dana, em que muitos dosalunos se ne$avam a participar 1em $rande partedo sexo masculino4 como resolveriam o problemaO"s su$estes para resolver a problemtica foramas mais variadas possveis, sendo que muitas eram

    de cuno estritamente repressivo. Cu seDa, quandoos indivduos se visuali+am numa posio tidacomo PsuperiorQ, com privil*$io de poder, asid*ias passam de democrticas a autoritrias.!omo nos di+ Freire 1>(I4, a democracia, antesde ser forma poltica, * forma de vidacaracteri+ada pela transitividade de conscincia,que nasce e se desenvolve a partir do debate eanlise do omem e dos problemas comuns."ssim, dificilmente isso se concreti+a, posto queos opressores tendem a podar todo ato

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    democrtico, a incentivar a relao autoritria e asubmisso dos oprimidos.

    Kobre a problemtica, al$uns alunoscolocaram que, sendo omens, entenderiam asdificuldades dos mesmos e deixariam de transmitiro contedo. Cutros enfati+aram que os alunos somovidos nota e, por isso, dariam muitas aulasprticas, em que avaliariam constantemente aparticipao dos mesmos. "l$uns tentariamconvencer os alunos a participarem e quem no ofi+esse ficaria sem nota. !olocariam ainda parafora da classeT levariam diretoriaT tentariamconvenc-los a participar e se no desse certo,daria a mat*ria para as meninas e pesquisa em casapara os meninosT passariam o contedo dana ecaso no fosse possvel a concreti+ao do mesmo,dariam Do$os e esportes em substituio a ele.Cutras id*ias, de certa forma, interessantesJ

    disseram que incentivariam a prtica, buscandodesinibi-los, mostrando exemplos concretos da nointerferncia na masculinidadeT relacionariamesses contedos com coisas que os $arotos $ostame que no tm preconceitosT verificariam osmotivos da reDeio e, ap%s, buscariam variar asaulas. 'as, sem dvida, como colocou um dosalunos, esta * uma Di8&i$ 4iss9 ; &eit5sas e se%iadi8&i$ %eti%;-$as da &a?e@a, 6%i>&i6a$4e>te dead$es&e>tes"

    Cutras id*ias a esse respeito foram colocadas."l$uns alunos dariam aulas separadasT outrosdariam todas as aulas como teste e quem noparticipasse ficaria com +eroT mostrariam ao sexomasculino que se foi le$ali+ado * para o bem econecimento de todosT tentariam dialo$ar e se noconse$uissem resultados, passariam a encarar amat*ria como dadaT conversariam com os pais dosalunosT verificariam os motivos da reDeio e depoisbuscariam variar as aulas. Cutros ainda disseram queno dariam essa mat*ria. #oderiam at* trabalar ateoria, mas no que di+ respeito a um bimestre de

    prtica de dana so contra.Cutros ar$umentaramque o aluno deve fa+er o que o professor quer e no oque ele querT colocariam todos para danar de al$umDeito, pois se um se prope a danar, o outro acabaindo. #or fim, colocaram ainda que * a ver$onaentre os ami$os que atrapala.

    #ode-se perceber a existncia de id*ias maisdemocrticas e interessantes como dialo$ar com osalunos, apresentar exemplos concretos da nointerferncia na masculinidade, buscar desinibi-los, embora al$umas destas tentativas tivessem

    sido reali+adas e sem resultados satisfat%rios. 0oentanto, $rande parte das respostas evidenciadastinam perspectivas autoritrias, resultado de umasociedade em que os dominantes impem suae$emonia aos dominados pelo uso abusivo dopoder, o que acaba sendo incorporado s pessoasquando se encontram em situao que consideramcomo privile$iada naquele momento.

    0esconfiar dos homens oprimidos,no / propriamente desconfiar delesenquanto homens, mas desconfiar doopressor hospedado neles. 1Freire,>(=, p.>>4.

    "ssim, somente na medida que os ospedeirosdo opressor se descobrirem como tal * que poderocontribuir para o alvorecer de uma peda$o$ialibertadora.

    Enquanto que, na situao de aluno,vislumbra-se uma democracia e at* uma certapeda$o$ia libertria, quando se trata de exercer afuno de professor atuam pelo lado autoritrio,cuDas medidas opressoras resumem-se em retirarnotas, conversar com os pais, com o diretor, dentreoutras. "l$umas pessoas ainda buscam uma fu$a problemtica existente como o no trabalar talcontedo, simplesmente substituindo-o por outroscontedos.

    " avaliao te%rica contina ainda umaquesto em que os alunos deveriam criar aper$unta e respond-la. &ma das alunas elaboroua questo e a respondeu da se$uinte formaJ

    Voc acha que a dana em si

    necessria para a sua vida? .9"Fa>tasias >9 45da4 >ssas vidas" a %ea$idade 9 vaiae% &4 'es5a vida, s5ste>te s5a a48$ia" O

    %asi$ = 54 6a8s de 6%?$e4as, evive%4s >a i$5s9, @a, >9 $eva a >ada"

    Cu seDa, essa forma de pensamento, quebuscamos respeitar em todas as suas formas, emtodos os seus aspectos, principalmente porque esseentendimento no deve ter sido elaboradocircunstancialmente, mas baseado na vida dessealuno, em suas necessidades concretas, no condi+com a forma que visuali+amos a dana e ossi$nificados de tal prtica para a sociedade. 'as,

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    no * inviabili+armos essas formas de pensamentoou buscarmos moldar no indivduo maneirasdiferentes de entendimento da dana queestaremos contribuindo para que o mesmo passe amelor compreender a si e suas relaes com omeio. Entendemos que novas reflexes sobre essatemtica possam sur$ir a partir do momento emque o indivduo passa a estabelecer relaes comum corpo vivido 1'oreira, >>H4 e no meramentepensado. 0esse sentido, nossa atuao est empropiciarmos aos alunos condies de acesso aoconecimento cientfico como fu$a ao senso-comum e ampliao do seu mundo de movimento,oportuni+ando-les condies de refletir por seuspr%prios atos e necessidades, ap%s a vivnciadessas experincias, mesmo com a existncia derepdios e outras barreiras.

    CO.SIDERAES FI.AIS

    " caracteri+ao dos corpos pela dana e arelao estabelecida com a Educao Fsica, pormeio de uma experincia prtica no !entro de"plicaes #eda$%$icas da &niversidade Estadual de'arin$, contriburam para reflexes acerca daimport@ncia em se possibilitar ao omem umaconscienti+ao sobre as suas possibilidades demovimento, permitindo tamb*m a visuali+ao dasresistncias que dificultam o acesso a esse

    conecimento.2rabalados os contedos e concreti+ada a

    experincia, pudemos perceber que, embora osresultados esperados e a $rande participaoideali+ada anteriormente no pudesse ter sidoviabili+ada em sua nte$ra, foi interessante comotudo se processou. " adolescncia * realmenteuma fase difcil de se trabalar, mas interessantena medida que situaes diferentes so criadasdiversas ve+es, exi$indo de n%s perspiccia,criatividade e dialo$icidade para entend-los e

    super-los. Encontramos alunos inteli$entes, mascom interesses diferentes daqueles discutidos emsala de aula, tornando-se portanto, um problema,pela forma com que buscava inviabili+ar oprocesso de estudoJ conversas, bri$as comcompaneiros, discusses em sala e outros.

    9eparamo-nos com alunos que se sentem bemem ridiculari+ar companeiros de classe,principalmente no que di+ respeito sua reli$io esexualidade. 9eparamo-nos com alunos desafiadoresno sentido de perspectivas ne$ativasJ testar o

    professor, seus conecimentos, como uma forma dele tirar a credibilidade frente ao $rupo.Vi+uali+amos alunos interessados nos contedosdesenvolvidos, criativos, preocupados com o sistemade avaliao, mas presos a re$ras que a sociedadeimpe como verdadeiras. Encontramos alunosfr$eis, sem perspectivas de discusso e anlise,pacatos, voltados para o seu pr%prio mundo, que noce$am nem a perturbar, nem a contribuir.9eparamo-nos ainda com alunos ora quietos, orafalantes e dispostos a discusses de contribuioao processo, com id*ias inovadoras e desprovidasde carter individual.

    #or fim, podemos di+er que encontramospessoas que mar$inali+am seus corpos, quebloqueiam seus movimentos, que cultivam id*iasdiscriminat%rias em termos de dana, de contato como outro e de conecimento de si mesmo, que

    necessitam buscar a sensibilidade dentro de si paraque no esma$ue e nem seDa esma$ado pelosprincpios da racionalidade. E esse * um dos $randesdesafios que a Educao Fsica, em especial, tempela frente.

    &ma Educao Fsica que esteDa realmentecomprometida em ser mais que movimentoesportivo, em priori+ar o omem em todas as suaspotencialidades, em destituir-se de seu carterfuncionalista e alienante. &ma Educao Fsica queseDa incentivada pelo buscar, por meio de

    profissionais realmente comprometidos com prticasque busquem um direcionamento poltico-peda$%$ico em favor de uma conscienti+ao socialTde repdio a uma Educao Fsica sin/nimo deesporte evidenciada na escola, mas de apoio a umaEducao Fsica aberta a diferentes elementos dacultura de movimento, por meio da concreti+ao domovimento umano em interao com um corpo real,voltado para necessidades tamb*m reais.

    9esse modo, entende-se que a falta de atenocom relao a esse elemento e a sua import@nciaem meio educacional, passa pelo desconecimento

    de sua ist%ria e le$itimao social, assim como,pelo pr%prio descomprometimento do profissionalcom prticas que impeam a mera reproduo eque, de certa forma, abalem o seu campo dedomnio de conecimentos. 0esse momento, esta* a nossa contribuio no sentido de PnovosolaresQ Educao Fsica.

    REFER.CIAS I2IORFICAS

  • 7/24/2019 Corpos Da Dana

    9/9

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