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Corpos escritos, corpos digitais, corpos cênicos: a memória viva dos acervos teatrais Heleniara Amorim Moura (IFMG Instituto Federal de Minas Gerais/Campus Ouro Branco) Resumo: Este trabalho construiu-se a partir da organização do Acervo Lysia de Araújo, conjunto presente nos Acervos Teatrais da Universidade Federal de São João del-Rei, de grande importância para historiografia do teatro brasileiro das décadas de 60 do século XX. Maria Lysia Corrêa de Araújo (1921-2012), além de escritora, foi atriz em grupos teatrais como o Arena, o Oficina, a Cia Maria-Della Costa, a Cia. Tônia-Autran, trabalhando com diretores como José Celso Martinez, Augusto Boal e Alfredo Mesquita. No processo de organização do espólio intelectual da artista, tem sido realizada a digitalização de parte da documentação, em especial, dos datiloscritos das peças teatrais da atriz, com a finalidade de (re) criar seu universo dramático em montagem a ser realizada pela Insuportável Cia. de Teatro, grupo teatral do IFMG. A pesquisa passa por processos variados desde a conservação de documentos históricos nas instituições públicas até a acessibilidade a esses arquivos, não apenas em documentos digitais para pesquisadores do teatro brasileiro, mas também em montagens teatrais que levem essa memória ao público em geral. Através da elaboração de uma criação artística pautada na memória, este trabalho analisa os processos pelos quais esses corpos escritos transformam-se posteriormente em corpos digitais e em corpos cênicos. Palavras-chaves: Acervo Lysia de Araújo; Memória Teatral; Arte e Representação. Abstract: This document was built from the Lysia de Araújo’s organization collection, that is showed in a Theater collection of Universidade Federal de São João Del Rei and it´s very importante to Brazilian theater historiography in the 20 th century 60’s. Maria Lysia Corrêa de Araújo (1921-2012), besides to be a writer, was an actress in some scenical groups like The Arena, The Oficina, the Cia Maria-Della Costa and the Cia. Tônia-Autran, working with directors as José Celso Martinez, Augusto Boal and Alfredo Mesquita. In the organization process of the intelectual asset’s artist, it is performed the scanning of part of documentation, specially play’s datilocrito of the actress, for the purpose to (re)create her dramatic environment nowadays with Insuportável Cia. de Teatro - scenic group of IFMG. The search follows some diferent steps, since the historical documents conservation in public institutions until the accessibility to these files, not just in digital documents for Brazilian theater researchers, but also in scenic montages whichbring this memories to community. Throught the artistic formulation based in memories, this work analyzes the processes which these writen bodies make into digital bodies after and into scenic bodies. Keywords: Collection Lysia de Araújo; Theatre memory; Art and Acting. Eu queria largar tudo, voltar àquele século do ouro, às irmandades e trabalhar nas iluminuras, ou eu queria ser o próprio pergaminho, uma das figuras coloridas, eu queria ser uma cena, uma folhagem, uma flor, eu queria submergir- me na infância, no passado e permanecer estática, extática. Mas as coisas andaram, aqui estou eu, como um cartógrafo, retocando mapas já diluídos, contornos indefinidos e turvos, minha alma sombriamente coberta de pátina, em ruína... Lysia de Araújo, Um tempo.

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Corpos escritos, corpos digitais, corpos cênicos: a memória viva dos acervos teatrais

Heleniara Amorim Moura

(IFMG – Instituto Federal de Minas Gerais/Campus Ouro Branco)

Resumo: Este trabalho construiu-se a partir da organização do Acervo Lysia de Araújo,

conjunto presente nos Acervos Teatrais da Universidade Federal de São João del-Rei, de

grande importância para historiografia do teatro brasileiro das décadas de 60 do século XX.

Maria Lysia Corrêa de Araújo (1921-2012), além de escritora, foi atriz em grupos teatrais como

o Arena, o Oficina, a Cia Maria-Della Costa, a Cia. Tônia-Autran, trabalhando com diretores

como José Celso Martinez, Augusto Boal e Alfredo Mesquita. No processo de organização do

espólio intelectual da artista, tem sido realizada a digitalização de parte da documentação, em

especial, dos datiloscritos das peças teatrais da atriz, com a finalidade de (re) criar seu universo

dramático em montagem a ser realizada pela Insuportável Cia. de Teatro, grupo teatral do

IFMG. A pesquisa passa por processos variados desde a conservação de documentos históricos

nas instituições públicas até a acessibilidade a esses arquivos, não apenas em documentos

digitais para pesquisadores do teatro brasileiro, mas também em montagens teatrais que levem

essa memória ao público em geral. Através da elaboração de uma criação artística pautada na

memória, este trabalho analisa os processos pelos quais esses corpos escritos transformam-se

posteriormente em corpos digitais e em corpos cênicos.

Palavras-chaves: Acervo Lysia de Araújo; Memória Teatral; Arte e Representação.

Abstract: This document was built from the Lysia de Araújo’s organization collection, that is

showed in a Theater collection of Universidade Federal de São João Del Rei and it´s very

importante to Brazilian theater historiography in the 20 th century 60’s. Maria Lysia Corrêa de

Araújo (1921-2012), besides to be a writer, was an actress in some scenical groups like The

Arena, The Oficina, the Cia Maria-Della Costa and the Cia. Tônia-Autran, working with

directors as José Celso Martinez, Augusto Boal and Alfredo Mesquita. In the organization

process of the intelectual asset’s artist, it is performed the scanning of part of documentation,

specially play’s datilocrito of the actress, for the purpose to (re)create her dramatic environment

nowadays with Insuportável Cia. de Teatro - scenic group of IFMG. The search follows some

diferent steps, since the historical documents conservation in public institutions until the

accessibility to these files, not just in digital documents for Brazilian theater researchers, but

also in scenic montages whichbring this memories to community. Throught the artistic

formulation based in memories, this work analyzes the processes which these writen bodies

make into digital bodies after and into scenic bodies.

Keywords: Collection Lysia de Araújo; Theatre memory; Art and Acting.

Eu queria largar tudo, voltar àquele século do ouro, às irmandades e trabalhar

nas iluminuras, ou eu queria ser o próprio pergaminho, uma das figuras

coloridas, eu queria ser uma cena, uma folhagem, uma flor, eu queria submergir-

me na infância, no passado e permanecer estática, extática. Mas as coisas

andaram, aqui estou eu, como um cartógrafo, retocando mapas já diluídos,

contornos indefinidos e turvos, minha alma sombriamente coberta de pátina, em

ruína...

Lysia de Araújo, Um tempo.

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1. Corpos escritos1

Esta pesquisa é a busca incessante da compreensão de fatos passados extremamente

significantes: trata-se não apenas de um estudo sobre uma escrita realizada por uma habilidosa

escritora, mas também de escritos sobre a vida dessa mulher que foi também atriz, musicista,

artista. Dessa forma, condensa a multiplicidade de descrição de uma vida plural, vivida em

diversos lugares e refletida em uma gama de materiais vários. Para tanto, a ação de “submergir

no passado...” torna-se uma prática verdadeira e se materializa como metáfora. Voltar ao

passado de uma vida é fazer um mergulho profundo em um acervo e nele perder-se e encontrar-

se. Mais que mergulhar, é “retocar mapas já diluídos” das lembranças em fotografias, cartas,

recortes de jornais, entre outros documentos amarelados e marcados materialmente pela

dimensão do tempo. O trabalhar no acervo de Maria Lysia de Araújo tem sido, durante os

últimos anos, uma submersão em diferentes níveis dos diversos materiais que possibilitam

constituir as biografias que compõem a vida de um ser humano.

A atriz e escritora mineira Maria Lysia Corrêa de Araújo (1921-2012) produziu uma

literatura diversificada, apresentando um conjunto de composição literária em variados gêneros

como o drama, a crítica teatral, a crônica, o romance e o conto. A artista foi frequentemente

inserida pela crítica literária na estética do chamado realismo fantástico e sua produção insere-

se no contexto brasileiro de uma conturbada pós-modernidade das décadas de 50, 60 e 70 do

século XX, momento que faz aflorar no país uma produção próxima da literatura hispano-

americana que lhe é contemporânea, escritas circundadas por governos autoritários e violentos.

Além disso, como atriz, esteve presente em montagens expressivas à época, sendo premiada

pela Escola de Arte Dramática de São Paulo. Em sua vida artística, itinerou por várias cidades

como São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Belo Horizonte participando de grupos teatrais

importantes como o Arena, o Oficina, a Cia Maria-Della Costa, a Cia. Tônia-Autran, entre

outras. Trabalhou com diretores como José Celso Martinez, Augusto Boal, Alfredo Mesquita,

além de encenar peças de conteúdos ideológicos profundos em uma época de silenciamento e

repressão. Assim, sua vida encontra-se inserida em um momento de significativas mudanças

no painel artístico brasileiro, especialmente, referentes ao teatro e à literatura nacionais.

Em janeiro de 2012, após o falecimento de Lysia de Araújo, o espólio intelectual da

artista foi doado por sua sobrinha Myriam Corrêa de Araújo Ávila aos Acervos Teatrais da

1 Alusão ao termo utilizado por Wander Melo de Miranda no livro “Corpos escritos: Graciliano Ramos e Silviano

Santiago”.

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Universidade Federal de São João del-Rei, hoje, sob guarda do GPAC (Grupo de Pesquisa em

Artes Cênicas). A primeira constatação a partir da prática organizacional com o acervo pessoal

de Lysia de Araújo foi a de que um mesmo acervo permitiria não apenas a composição de um

único inventário, mas de outros inventários, constituídos a partir de especificidades e

detalhamentos, informações que possibilitaram e possibilitarão, no decorrer da pesquisa, maior

precisão ao conteúdo arquivístico. O primeiro inventário, produzido entre 2012 e 2015,

estabeleceu-se como provisório e, até pouco tempo, ainda era o único documento de

organização do referido acervo. Em 2017, em parceria com a professora Fabiana Siqueira

Fontana2, e com o auxílio de alunos bolsistas e voluntários3, realizou-se um novo documento

ordenador, mais detalhado e que abrangia uma organização pautada na produção intelectual da

artista, tendo como norteador seu arquivo pessoal.

Nesse movimento de guarda, a presença contínua de pesquisadores assegura a

organização e classificação desses espaços da memória cultural. Nesse processo, estamos

lançados à ventura das descrições, das divisões, das familiaridades, das funções.

Compartimentamos os dados, lidamos com segmentações, mesmo quando começamos pelas

listagens mais simples. Como elucida Reinaldo Marques:

Nessa atividade, somos envolvidos em diferentes tarefas, como a de, ao

receber um novo acervo de escritor, elaborar um registro – item por item – de

seus conteúdos, a fim de se lavrar um termo de doação. [...] Outra tarefa

relevante relaciona-se à elaboração de inventários desses arquivos,

implicando a descrição documental, modalidade de ação que demanda um

trabalho de pesquisa. Com isso, somos confrontados com aquela

heterogeneidade própria dos arquivos de escritores, constituídos por acervos

arquivístico, bibliográfico e museológico (MARQUES, 2011, p. 193).

Nesse labor, a classificação se configura como planejadora do futuro do arquivo.

Atribuirá ao acervo uma geografia e marcos para localização. Ao constituir a organização do

acervo de um escritor, estamos diante de um grupo imprevisto de imagens e objetos antigos.

Desse material diverso, há uma grande gama de objetos passíveis de classificação, como os

livros, as correspondências, documentações literárias como diplomas de premiação, recibos

2 Pesquisadora com experiência na organização de arquivos e coleções inseridos no âmbito das artes nacionais e uma das

organizadoras de “Arquivos e coleções privados Cedoc/Funarte: guia geral”, publicado, em 2016, pela Funarte. 3 Estudantes envolvidos: da Universidade Federal de São João del-Rei, a aluna, pesquisadora PIBIC, Isabela

Francisconi e o aluno voluntário Roger Xavier; do Instituto Federal de Minas Gerais, as alunas e o aluno em

atividade voluntária: Marcela Machado Faria, Gabriel Felipe Souza Santos e Magna da Conceiçao Miguel Arcanjo

de Rezende, e a aluna bolsista PIBEXJr. Laura Vienna Gonçalves Gomes.

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etc. Nesse grupo, ainda se enquadram os recortes de jornal, com textos da escritora em

diferentes periódicos, manuscritos, datiloscritos, documentos diversos. Configuram, assim,

dentro de um acervo, uma composição diversificada de corpos escritos que vão tecendo, letra

após letra, a trajetória de uma vida em datas e endereços presentes em crônicas, críticas, peças

teatrais, missivas. Ademais, a presença constante dos recados manuscritos projetam mensagens

pessoais da escritora em um passado, muitas vezes, indefinido, revelando, na superfície dos

arquivos, escritos a um futuro imprevisto. Durante o processo de organização do acervo, a

importância de um olhar sobre os diversos documentos revela a impossibilidade de definição

de um corpus específico: apenas cartas, apenas peças, apenas livros ou apenas crônicas. O

conjunto desses documentos diversos entretece-se e aproxima-nos, de maneira íntima, aos

axiomas de épocas e culturas, ações que possibilitam uma nova forma de compreender a própria

historiografia teatral.

Outro ponto interessante é que alguns objetos, como as máquinas de escrever, também

já se encontram como artefato frequentemente presente nos acervos pessoais de escritores.

Eram instrumentos do trabalho literário ativo, vivo, frutífero e, agora, nos acervos, remetem à

memória do escritor. Esses fragmentos que fazem parte do conjunto mobiliário são, ao mesmo

tempo, “inacessíveis” e apresentam-se ainda “como genius loci, pois neles moram ainda seus

proprietários por quem foram, há séculos, de fato, possuídos” (BENJAMIN, 2000, p. 224). A

máquina de escrever Rheinmetall (Figura 1), de origem alemã, presente no acervo da escritora,

e que aparece em algumas fotografias de Lysia de Araújo (Figura 2), configura-se como um

desses objetos. A fotografia da escritora próxima à sua máquina de escrever revela a intimidade

de seu trabalho literário cotidiano na produção de peças, contos, crônicas e críticas teatrais

periodicamente publicados em jornais e revistas no país e no exterior4. Esse material revela

ainda “os aspectos fisionômicos, mundos de imagens habitando as coisas mais minúsculas,

suficientemente ocultas e significativas” (BENJAMIN, 1993, p. 94). Nesses objetos também

eram escritas as cartas para a família, as missivas a amigos ou a outros escritores. As imagens

desses objetos, despojados agora de seu uso, de sua função, daquilo que os tornava parte da

prática cotidiana da vida daqueles que os utilizava, aparecem como universos representativos

4Encontramos a colaboração da artista nas décadas de 50, 60 e 70, em vários jornais e revistas dentro e fora do

país, como O Cruzeiro, A Cigarra, Ficção, no Rio de Janeiro; O Estado de S. Paulo, Correio Paulistano, Última

Hora e Academus em São Paulo; na revista portuguesa Colóquio-Letras, na revista El Cuento do México; no

Estado de Minas, Diário de Minas, Suplemento Literário do Minas Gerais, Revista Alterosa, Inéditos, entre outros

periódicos mineiros de cidades do interior.

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da memória. São resíduos de uma existência ausente e, por esse motivo, tornam-se a

proximidade maior dessa subjetividade.

Figura 1 – Máquina de escrever da escritora Lysia de Araújo presente em seu acervo.

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Figura 2 – Lysia de Araújo junto a sua máquina de escrever

Além da antiga máquina de escrever, outros objetos figuram como fragmentos da

intimidade de Lysia de Araújo. Exemplo interessante é um móvel de guarda de partituras em

madeira e couro que se agrupa ao acervo, abandonado de sua antiga morada na dimensão da

vida particular da escritora, quando junto ao piano, frente a uma grande janela iluminada, fazia

reviver em suas teclas sonatas de Bach, Beethoven, Mozart. Figuravam ainda no acervo

fotografias diversas, familiares, das encenações como atriz, em viagens, em porta retratos e

molduras dos mais diversos tamanhos, salpicadas de escritos manuscritos em seus versos.

Imagens da escritora, imagens da atriz, da esposa, da amiga, da tia, da irmã, das diversas Lysias

de Araújo que foram compondo suas pequenas histórias em retratos enquadrados,

desterritorializados de seus antigos lugares, abandonando pregos, estantes, mesas, e todo

espaço domiciliar. Expostos, agora, às técnicas de armazenamento, aguardando uma nova

geografia na esfera pública, esses objetos antigos e esses corpos escritos carregam as histórias

fragmentárias da memória da artista. Suportam de maneira intensa o peso do passado de toda

uma vida. Nesse sentido, busca-se, como elucida Reinaldo Marques, “enfatizar o papel dos

arquivos como instâncias não apenas de guarda e conservação, como também de produção de

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variadas representações dos escritores, potencializando suas imagens” (MARQUES, 2012,

p.72). Ao compor, através dessas imagens, a narrativa de um passado, percebemos que esse

conjunto existe como “suportes nos quais a memória se inscreve” (GUIMARÃES, 1997, 30),

constituindo-se como um importante registro da memória da atriz e escritora.

2. Corpos digitais

Através da organização do acervo, este trabalho, além de elucidar fatos e detalhes da

vida intelectual da escritora, visa possibilitar maior acessibilidade aos documentos do acervo

por pesquisadores da área da história da literatura e do teatro no Brasil. Especialmente, ao

realizar também a fotodigitalização dos documentos, busca preservá-los enquanto objetos

físicos, que expostos ao manuseio constante sofreriam maiores desgastes. Como salientam José

Deusimar de Freitas e Keltom Rocha da Cruz:

Atualmente, registrar os documentos em meio digital é de fundamental

importância, pois o conhecimento científico em suporte físico deixou de ter

uma certa “função” para o pesquisador, devido às novas tecnologias terem

proporcionado um acesso instantâneo à informação, sem ser necessário o

deslocamento até os centros de documentação, de forma a economizar tempo,

gastos, etc. (FREITASE; CRUZ, 2012).

Outro aspecto importante dessa etapa é que nela buscou-se disseminar, através da

fotodigitalização e digitação das peças teatrais, as informações colhidas no acervo ao grupo de

jovens atores da Insuportável Cia. de Teatro, grupo de teatro amador criado em 2016, no

Instituto Federal de Minas Gerais, no Campus Ouro Branco. A cia. conta, hoje, com 20

componentes dos cursos de Administração, Informática e Metalurgia da formação integrada.

São jovens entre 15 e 18 anos, em pleno desenvolvimento de sua leitura crítica do mundo. É

válido observar que a fotodigitalização de parte do material facilita o acesso dos jovens

integrantes do grupo teatral às imagens dos documentos e as histórias dos mesmos, informações

que são repassadas pelos estudantes pesquisadores e voluntários aos demais membros do grupo.

Esses corpos digitais fazem parte do processo de guarda da memória. Mesmo que em suportes

diversos, possibilitam a proximidade da história da artista Lysia de Araújo com outros

estudantes que também estão envolvidos no processo de composição dessa memória, mas que

por inviabilidade logística ou econômica não poderiam estar presentes em todo o processo.

Assim, a esfera desse novo suporte é uma das ferramentas de criação do ator, que em trabalho

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de pesquisa, seleciona materiais para a composição posterior do texto teatral de Maria Lysia

Corrêa de Araújo. Ao digitar suas peças, fotografar documentos e imagens do acervo da

escritora, possibilita-se aos demais alunos uma atividade ativa na composição cênica da peça

da escritora, quando então, esses corpos escritos, que transitaram também na esfera de corpos

digitais, possam, finalmente, transformar-se em corpos cênicos

3. Corpos cênicos

Uma preocupação deste trabalho está na proposta de transcender as portas da

academia e ganhar a sociedade ao também se destinar a realizar a montagem de textos teatrais

da escritora, através da ponte com o projeto de extensão “Insuportável Cia. Teatral: desafios e

perspectivas”. Em andamento há mais de doze meses, o projeto já conta com resultados

parciais importantes como a montagem do Recital cênico-poético Quintana na quinta que foi

apresentado durante a Semana de Ciência e Tecnologia do IFMG Campus Ouro Branco em

2016. Em outro flanco, o projeto foi contemplado com uma oficina de Produção Cultural

ministrada pela Cia. teatral belorizontina Luna Lunera em setembro de 2016, curso de grande

auxílio para pensarmos toda a organização do espetáculo teatral: dos ensaios aos dias de

apresentação, da iluminação ao figurino. Além disso, o projeto consolidou importante parceria

com a Insólita Casa de Artes através de uma oficina-montagem que culminou na apresentação

da peça Sabatina, de Ildeu Ferreira, em 2016 e 2017, contando com um público de mais de 400

pessoas da cidade e região. Ainda em 2017, dois esquetes teatrais, de autoria coletiva do grupo,

intitulados A ceia sã e Casa de papel, bonecas de pano que abordam temas como sexualidade,

abuso de drogas, violência doméstica, entre outros assuntos presentes na vida de jovens e

adolescentes, foram representadas em quatro escolas da cidade, contanto também com centenas

de estudantes espectadores. Os textos constituíram-se através de importante parceria com o

NAEE (Núcleo de Apoio ao Educando e ao Educador) dentro do IFMG (Campus Ouro Branco)

. Agora, o grupo se volta para o processo de pesquisa da memória da artista Lysia de Araújo

no intuito de compor também coletivamente o produto artístico que trará aos palcos a obra

teatral da escritora.

No objetivo de aliar pesquisa e extensão, o projeto ilustra o quanto manifestações

artísticas de representação podem inserir-se nos diversos setores da sociedade: da academia às

casas de teatro. A produção científica acerca da história dessas montagens teatrais, de certa

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forma, apresenta-as ao nosso conhecimento, e abre um caminho de amplas projeções para o

regressar dos estudos de teatro dentro da própria sociedade escolar. Nesse sentido, este trabalho

caracteriza-se não apenas pelo resgate de um gênero artístico que representou o Brasil nos mais

variados momentos de nossa história5, como também pela busca de um elo perdido entre

história e representação teatral.

Assim, a escola abre outras janelas de percepção do mundo, principalmente, através

da leitura múltipla que a obra teatral pode oferecer ao aluno. Sendo o teatro uma arte composta

por tantas outras (como a pintura, a música, a escultura, etc.), além de possibilitar uma leitura

mais aguçada de cada parte que o compõe, ele também auxilia na leitura de todas essas artes

em um conjunto vivo e ativo, ou seja, trabalha tanto uma leitura fragmentada dos diferentes

componentes artísticos, como também uma leitura maior e mais ampla da formação de um

conjunto único de arte. Além disso, trazer novamente à cena os textos teatrais de Lysia de

Araújo é dar visibilidade à sua história e à riqueza de sua arte, permitindo que jovens estudantes

tenham acesso ao processo amplo de compreensão da memória e da importância de preservação

de nossos bens culturais.

Assim, a discussão sobre o arquivo e sobre a memória não se refere apenas a uma

questão do passado, “trata-se do futuro, a própria questão do futuro, a questão de uma resposta,

de uma promessa e de uma responsabilidade para amanhã” (DERRIDA, 2001, p.50). A reflexão

sobre o arquivo aborda a preparação de uma “Memória Futura”, tema e título do artigo de

Wander Melo Miranda no caderno Suplemento em junho de 2007, ao falar do Acervo de

Escritores Mineiros pertencente à Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas

Gerais e crítico da importante obra Corpos Escritos: Graciliano Ramos e Silviano Santiago,

metáfora que é referência de parte do título desde artigo. Tal vocábulo, neste trabalho, refere-

se ao corpus presente no centro da pesquisa no Acervo Lysia de Araújo e volta-se para o labor

do pesquisador que, ao “continuar cuidando da memória” desses arquivos, revivendo fatos e

detalhes da vida de outrem, acaba também “vivendo uma memória vicária” (MARQUES, 2003,

p. 149). Ao trazer esse passado para si, dá um determinado rumo à memória escolhida, deixa-

lhe certa marca e, portanto, o arquivista se torna “um agente de formação da memória”

5 Se tomarmos a História da dramaturgia no Brasil, poderemos ver as influências sociais do teatro dentro dos

meios sociais nos quais estava inserido, como também suas implicações em determinadas épocas de nosso país.

Livros como Panorama do Teatro Brasileiro do estudioso Sábato Magaldi ou como a coletânea O teatro através

da história, edição do Centro Cultural Banco do Brasil, entre outros, são interessantes leituras para uma breve

compreensão da História do Teatro no Brasil.

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(MARQUES, 2003, p. 153), conferindo uma interpretação ao material em sua guarda. Assim,

“ao zelar pelas memórias e lembranças alheias”, acaba também por suplementar “a memória

do outro” (MARQUES, 2003, p. 149).

Uma das preocupações de Lysia de Araújo, especialmente relacionadas à doação de

seu acervo, era a utilização do mesmo por pessoas da área teatral, um desejo de que sua herança

fosse guardada a salvo do esquecimento, no intuito claro de doar aquele conjunto de sua

memória a alguém verdadeiramente ávido da história ali arquivada. O anseio da escritora estava

sobretudo ligado à sua idade já avançada e também à ausência de grande parte das pessoas que

compuseram sua vida. Durante entrevista em 2009, uma frase foi repetida diversas vezes pela

atriz: Confesso que vivi, dizendo Lysia de Araújo que desejava roubar para si as palavras do

poeta Neruda. Lysia de Araújo terminou a entrevista com consciente poeticidade: “A vida do

teatro é fascinante”, disse a atriz.

A partir de suas lembranças, surgem relatos de outros personagens dentro do contexto

artístico e cultural brasileiro que, aliados a uma significação plural da multiplicidade artística

de Lysia de Araújo como escritora, jornalista e atriz teatral, representam a possibilidade de

“recorrer ao acervo de toda uma vida (uma vida que não inclui apenas a própria experiência,

mas em grande parte a experiência alheia. O narrador assimila à sua substância mais íntima

aquilo que sabe por ouvir dizer)” (BENJAMIN, 1993, p. 221). Compreender os caminhos do

mundo delineados por essas memórias biográficas, autobiográficas e mesmo “biogeográficas”,

a apreensão dessa natureza inquieta e escorregadia, são questões que se apresentam como

algumas de nossas buscas nesse estudo de um tempo passado, como cartógrafos, “retocando

mapas já diluídos, contornos indefinidos e turvos” (ARAÚJO, 1985, p. 15).

Além disso, busca-se através deste trabalho a divulgação da produção literária e

teatral do país, especialmente, de textos importantes da história de nossa cultura, mas pouco

conhecidos do público que, infelizmente, ainda é cada vez mais parco nas casas de teatro. A

crítica Barbara Heliodora, em recente entrevista à revista Época (17/01/2014), pouco antes de

seu falecimento, afirmou que faltava ao Brasil uma cultura teatral mínima. Nas palavras da

estudiosa: “As pessoas não sabem nada do passado. Não têm perspectiva histórica.”6 A

intelectual, referência em estudos do teatro ocidental no Brasil e reconhecida especialista em

6 HELIODORA apud GIRON. Entrevista cedida ao jornalista Luís Antônio Giron da revista Época. O texto foi

compilado em um artigo intitulado “Barbara Heliodora, a maior crítica de teatro do Brasil, sai de cena”, em razão

da aposentadoria da crítica teatral brasileira aos 90 anos.

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Shakespeare, depois de anos de trabalho dedicados às artes cênicas, salienta ainda que, frente

a uma contemporaneidade empobrecida pelas peças apelativas e clichês que fulguram nas

campanhas de popularização do teatro, há um vazio da memória da arte teatral do país. Não há

mais público para contar essa história.

E sendo o público um componente essencial para a existência do teatro, seria

primordial um trabalho de reintegração dessa arte ao contexto social. Assim, este trabalho

torna-se necessário a partir do momento em que tangencia uma de suas expectativas mais

idealizadas, a de reconhecer, nas palavras de Ana Maria Amaral, a função primordial do teatro:

“a de educar, concretizar desejos, modificar o presente, preparar situações novas para o futuro.

Sendo que o teatro reflete, assim, a pessoa e a comunidade. E no que reflete, as amplia e

transforma” (AMARAL, 1995, p. 08). A partir dessa referência, coloca-se a intenção de

trabalhar as possibilidades do teatro em sua busca por “dar vida à matéria humana” (AMARAL,

1995, p. 08) e fazer com que os alunos consigam refletir os anseios, pensamentos, ideias e

desejos de uma época e sua relação com a produção da arte teatral brasileira.

4. Considerações finais de corpos em trânsito

Cartas, fotografias, recortes de jornais, programas de peças teatrais, livros, revistas,

manuscritos, cadernos, álbuns, objetos, entrevistas, depoimentos: as fontes que fazem parte do

trabalho arquivístico do Acervo Lysia de Araújo são diversas. Nesse percurso mnemônico, o

predomínio das imagens revela uma “vocação icônica da memória” compreendida por César

Guimarães como processo constitutivo da mesma. Como salienta o estudioso:

Com efeito, a memória é constituída por uma textura de imagens. Retratos,

fotografias, descrições, cenas, composições pictóricas, enfim, signos ou conjuntos

de signos que compõe uma imagem ou conjuntos de imagens – esses são suportes

nos quais a memória se inscreve (GUIMARÃES, 1997, p. 30).

Composta por uma perspectiva plural, cada acervo se constitui a partir da

particularidade dessas fontes que exigem uma metodologia rigorosa na qual “cruzam-se

inumeráveis fragmentos de jornais e revistas, confrontam-se imagens, reconstituem-se as

distâncias e roteiros” (WERNECK apud REIS, 1999, p. 12). O caráter transdisciplinar da

composição da literatura comparada já, de início, é remetido à própria pluralidade das fontes

documentais e à compreensão que iremos construir sobre essas inscrições a partir de um

trabalho artístico. É necessário lembrar que os modos de inscrição são tomados “em seu sentido

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amplo, levando em conta tanto os aspectos individuais quanto os coletivos, desde as formas

orais de sua transmissão, passando pelos relatos – histórico e literário –, até chegar aos registros

da fotografia” (GUIMARÃES, 1997, p. 33), além de outras formas de guarda e/ou registro da

memória e de sua interpretação. Se projetarmos para além da guarda e organização, há ainda

mais um processo precioso: quando o registro dessa memória é divulgado e possibilita a

construção de trabalhos artísticos através dos olhares da contemporaneidade, numa prática de

trazer à tona o passado cultural de nosso país. Ao propormos a composição de imagens de suas

peças em acervos digitais e a posterior montagem dos textos por um grupo de teatro,

suplementamos a memória da artista, damos a ela novos suportes e novos sentidos. Re-

significamos a própria história de vozes artísticas femininas como a de Lysia de Araújo,

silenciadas não apenas por uma época, mas também por uma questão de gênero. Estender

nossos estudos para esses textos é um compromisso do presente com o futuro, de pesquisadores

com o material documental que guardam, registram e reelaboram para as novas gerações.

As contribuições aqui previstas podem ser atribuídas ao campo da história da

literatura, do teatro e dos estudos da cultura, em especial, porque possibilita a manutenção de

espaços de conservação de documentos e de preservação da memória de uma escritora ainda

pouco conhecida no meio acadêmico. Dessa forma, possui a importante tarefa de dar voz a

autores esquecidos pela historiografia artística e literária, mas que contribuíram,

significativamente, através de suas obras para a compreensão de lugares e épocas. Maria Lysia

Correa de Araújo foi uma importante escritora e artista do século XX no Brasil. Estudar sua

história, preservar seu acervo e divulgar seu trabalho são ações que contribuem sobretudo para

a construção da memória cultural de nosso país, uma memória viva que traga à cena outras

vozes do meio artístico brasileiro.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

5.1 – Livros e artigos

AMARAL, Ana Maria. Teatro de animação: uma introdução. In: Revista Teatro da

Juventude. São Paulo: Coletânea organizada pela Secretaria de Estado da Cultura do Governo

do Estado de São Paulo, n.º 02, 1995.

ARAÚJO, Lysia de. Um tempo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1993.

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BENJAMIN, Walter. Rua de mão única. São Paulo: Brasiliense, 2000, p. 227-235.

DERRIDA, Jacques. Mal de arquivo – uma impressão freudiana. Rio de Janeiro: Relume

Dumará, 2001.

FREITASE, José Deusimar de; CRUZ, Keltom Rocha da. A importância da digitalização

dos documentos memoriais da Biblioteca Central Zila Mamede. Disponível em:

portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/index.php/moci/article/download/2099/1301. Acesso em 15

jun. 2017.

GIRON, Luís Antônio. Barbara Heliodora, a maior crítica de teatro do Brasil, sai de cena. In:

Revista Época, 17 jan. 2014. Disponível em:

http://epoca.globo.com/vida/noticia/2014/01/bbarbara-heliodorab-maior-critica-de-teatro-do-

brasil-sai-de-cena.html. Acesso em 20 jan. 2014.

GUIMARÃES, César. Imagens da memória: entre o legível e o visível. Belo Horizonte:

UFMG, 1997.

MARQUES, Reinaldo. O arquivamento do escritor. In: SOUZA, Eneida M. de, MIRANDA,

Wander M. (Org.). São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. p.141-156.

MARQUES, Reinaldo. O arquivo literário e as imagens do escritor. In: MARTINS, Anderson

B.; SOUZA, Eneida M. de; TOLENTINO, Eliana da C. (Org.). O futuro do presente: arquivo,

gênero e discurso. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2012, p. 59-89.

MARQUES, Reinaldo. O que resta nos arquivos literários. In: MIRANDA, Wander Melo;

SOUZA, Eneida Maria de (Org.). Crítica e coleção. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011. p.

192 - 203.

MIRANDA, Wander. Corpos escritos: Graciliano Ramos e Silviano Santiago. São Paulo:

Edusp; Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1992.

MIRANDA, Wander Melo. Memória Futura. In: Suplemento. Belo Horizonte: Imprensa

Oficial do Estado de Minas Gerais. Edição especial, junho, 2007, p. 01-03.

NERUDA, Pablo. Confesso que vivi. São Paulo: Difel, 1983.

REIS, Ângela de Castro. Cinira Polônio, a divette carioca: estudo da imagem pública e do

trabalho de uma atriz no teatro brasileiro da virada do século XIX. Rio de Janeiro: Arquivo

Nacional, 1999.

5.2 - Acervos e arquivos consultados:

5.2.1 – Acervo Lysia de Araújo.

5.3 - Entrevistas

ARAÚJO, Lysia de. Depoimento oral. Belo Horizonte/MG, 24 jul. 2009.