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Trabalho para disciplina de Introdução à Antropologia. Da Universidade de Brasília, no primeiro semestre de 2013.
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Universidade de Brasília Instituto de Ciências Sociais
DAN – Departamento de Antropologia
Corpos Reconstruídos: Os processos de transformação de
gênero de drag queens de Brasília.
Andressa Pinto Ferreira Saraiva – 13/0006009
Bruno Rocha Nascimento – 13/0023035
Daniella Leite da Silva Barbosa – 13/0024309
Diego José “Bernardino” da Silva – 13/0008184
Brasília
2013
Universidade de Brasília Instituto de Ciências Sociais
DAN – Departamento de Antropologia
Introdução
Este trabalho foi realizado com o intuito de explorar os processos que se
dão na construção deum corpo performático de drag queens de Brasília, foi
estabelecido contato, ao todo, com quatro delas e nossa observação de campo
foi centrada em Carrie Myers (17), portanto é necessário elucidar que apesar
das referências e do discurso por ela apresentado nos ajudar a compreender
movimentos semelhantes nas construções de outras drag queens, o que é aqui
apresentado diz respeito à sua subjetividade em específico.
Outro ponto a ser esclarecido é que o ser drag queen se constitui
somente em espaços ligados ao público LGBT, Mackaylla (24) trabalha com
festas em eventos em geral e, segundo ela, o que facilita a aceitação do
público é o tipo de personagem que ela desenvolve: caricata, cômica e
extremamente colorida. Já aquelas que trabalham em ambientes mais
receptivos, como Naomi (23) e Bárbara (18), estão mais propícias a
experimentar um maior diálogo com os signos femininos na chamada
montagem amapô (GADELHA, 2008).
Bárbara (18) iniciou recentemente um tratamento hormonal para
transição de gênero, pois seu desejo é uma mudança de sexo, no meio drag
brasileiro isso é bastante comum. Uma coisa não necessariamente implica na
outra, porém é interessante observar que ser drag em casos como esse pode
surgir de uma necessidade de ter um emprego, devido a falta de espaço na
sociedade para transexuais e travestis.
Para compreender o máximo possível de um objeto tão vivo, utilizamos o
recurso de gravação de áudio durante a entrevista, procurando o ouvir
(OLIVEIRA, 1998) e, associando também o olhar com o recurso da imagem,
produzindo uma narrativa visual, fotoetnografia (ACHUTTI, 2009).
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Fotoetnografia: Metamorfose
“I could be girl Unless you want to be man
(…) I could be anything
I could be everything”
Lady GaGa – Government Hooker
Ítalo nos recebeu na casa de uma amiga onde, segundo ele, haveria
mais espaço para que realizássemos o trabalho. Exceto pelas unhas postiças
já coladas, ele não usava nenhum acessório feminino. A casa era bem
movimentada, duas amigas dele se arrumavam para sair e o filho de uma delas
transitava pela cozinha onde estávamos, observando com seus olhos curiosos
os “estranhos” ali presentes, um amigo dele sentou-se ao nosso lado e
perguntou se poderia acompanhar a entrevista. Ítalo tem apenas 17 anos e se
montar profissionalmente há apenas sete meses.
Primeiramente pedimos que Ítalo nos falasse de suas referências
pessoais, do que o inspirava. Falar de sua drag queen foi consequência, o
nome, Carrie Myers, vem de dois personagens icônicos de histórias de terror:
Carrie – A Estranha, do mestre do terror Stephen King e Mike Myers, serial
killer do filme Halloween. Visualmente, sua maior inspiração é Lady GaGa, mas
sua estética também possui influência forte de personagens como Elvira1 e
Sharon Needles2.
Segundo ele, é muito complicado estabelecer uma diferença entre sua
pessoa e sua personagem, pois esta se dá como uma manifestação de sua
personalidade, entretanto, ele também admite a necessidade de uma
separação, mas não deixa claro em momento algum como a mesma se
consuma.
Ao iniciar o seu ritual de montagem, Ítalo prepara seu corpo para ser
destituído de características masculinas. Abre sua maleta de maquiagem e
dispõe sobre a mesa os produtos que utilizará para moldar seu rosto e sua
essência. A partir desse momento, o grupo desenvolve um trabalho que
procura ater-se no impacto visual da transformação realizada.
1 Personagem do filme Elvira – The Mistress of The Dark.
2 Vencedora da 4ª temporada de RuPaul’s Drag Race.
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Figura1: O processo inicia-se com o uso da base, da qual se utilizam três tons diferentes, para criar a ilusão de profundidade na altura das bochechas, abaixo do maxilar e na altura das
têmporas, com o intuito de criar um rosto mais feminino.
Figura 1.1
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Figura 2: Incialmente, o que parece uma máscara disforme, vai assumindo novos contornos. O olho é uma parte estratégica, Carrie não utiliza técnicas para cobrir a sobrancelha, mas caso a montação escolhida exija um olho mais exagerado, cola em bastão e base de unha entram em
cena para esconder o natural, permitindo que o artista adquira uma nova moldura para seu rosto.
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Figura 4: pincéis, bases, pós corretivos, iluminadores e uma palheta de sombras: parte da composição do rosto feminino.
Figura 3: O brilho é parte fundamental da montação, colocado nem cima da pálpebra, tem a função de destacar o olhar, contribuindo com a maquiagem e performance.
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Figuras 5 e 5.1 Com a maquiagem quase pronta, a mudança na postura é nítida, durante o processo, a fugura à nossa frente destituiu-se de Ítalo, revelando a ousadia e o mistério de Carrie Myers
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Figuras 6 e 6.1: Rímel e os últimos acessórios são escolhidos para compor o look final
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Figuras 7, 7.1 e 7.2: Com a peruca, roupas e acessórios no lugar certo, Carrie Myers ganha vida. Os pelos da perna são disfarçados por uma meia-calça fio 80, o salto 18 evidencia mais ainda a altura, criando um personagem extravagante e vivo.
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Bibliografia
CHIDIAC, Maria Teresa Vargas. OLTRAMARI, Leandro Castro. Ser e Estar
Drag Queen¹: Um Estudo Sobre a Configuração da Identidade Queer.
Estudos de Psicologia. Santa Catarina. p. 471-478, 2004
COELHO, Juliana Frota da Justa. As Performances de travestis,
transformistas e Drag Queens: Visibilidade, agenciamentos e
subjetividade. Universidade Federal do Ceará, 2009.
GADELHA, José Juliano B. Performance e Etnoestética: AMontagem como
Ritual ou como Nasce uma Drag-Queen. Florianópolis. 2008
__________. Masculinos em Mutação: A Performance Drag Queen em
Fortaleza. Fortaleza. 2009
PESSOA, Emerson Roberto de Araujo. As aparências e os gêneros: Uma
analise da indumentária das drag queens. Universidade Estadual de
Maringá.
LOURO, Guacira Lopes. Corpos que Escapam.Doutora em Educação pela
UNICAMP, 2009.
MALUF, Sônia Weidner. Corpo e Corporalidade nas Culturas
Contemporâneas: Abordagens Antropológicas. Porto Alegre. 2004
SANTOS, Cyntia Carla Cunha. Livros de Lilitt: Processos de Construção de
um Corpo Perfomático. Brasília. 2008