16
CORREIO FRATERNO O ESPIRITISMO EM LINGUAGEM MODERNA Publicação da Editora Espírita Correio Fraterno • e-mail: [email protected] • A no 40 • Nº 423 • Setembro - Outubr o 200 8 ENTREVISTA Alexandre Caroli Rocha: doutorado sobre as psicografias de Chico Xavier Pg. 4 41 ANOS DE CORREIO FRATERNO www.correiofraterno.com.br Visite o nosso site: ciência humana evolverá em cirurgia psíquica, tanto quanto hoje vai avançando em técnica operatória...”. “O médico ter- restre desentranhará o labirinto mental com a mesma facilidade com que atual- mente extrai um apêndice condenado.” Não. Estas não são afirmações alu- cinadas. Elas estão nas obras de André Luiz, um dos autores espirituais que mais abordam o funcionamento do organis- mo humano. Essas expressões causariam espanto, se chegassem ao campo da me- dicina convencional quando aportaram à Terra, há quase 70 anos. O problema é que ainda causam. A boa notícia é que já estão acon- tecendo muitas mudanças no olhar re- ducionista e puramente materialista da forma com que hoje a ciência concebe o que é saúde e o que é doença. Mas essa é uma longa caminhada. Para o Correio Fraterno, não há nada melhor do que comemorar os 41 anos de fundação, agora em outubro, do que divulgar o que de mais atual vem ocor- rendo no campo das diversas pesquisas em direção à saúde integral do ser e que rompe verdadeiros paradigmas no cam- po da ciência médica. Esta edição vem recheada sobre o tema: Leia mais nas pá- ginas 6 e 15. CURA Muito além do corpo físico A RELIGIÃO DEVE SE MODERNIZAR? PRODUÇÃO LITERÁRIA A religião que tenta se modernizar sem- pre terá um preço a pagar? A religião que não se moderniza sempre terá um preço a pagar? A religião que acompanha a mo- dernidade sempre terá um preço a pagar? São perguntas que George De Marco le- vanta em seu ensaio para uma reflexão. Pág. 11 “A O maior evento do mercado editorial no Brasil, a 20ª Bienal Internacional do Livro, realizada de 14 a 24 de agosto, teve presença marcante das obras es- píritas. Mais de 1000 títulos, cerca de 20 mil exemplares, foram disponibili- zados para o público. Pág. 8

Correio Fraterno 423

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Correio Fraterno, um dos mais conceituados veículos de informação espírita do Brasil.

Citation preview

Page 1: Correio Fraterno 423

CORREIOFRATERNO

O ESPIRITISMO EM LINGUAGEM MODERNA

P u b l i c a ç ã o d a E d i t o r a E s p í r i t a C o r r e i o F r a t e r n o • e - m a i l : c o r r e i o f r a t e r n o @ c o r r e i o f r a t e r n o . c o m . b r • A n o 4 0 • N º 4 2 3 • S e t e m b r o - O u t u b r o 2 0 0 8

ENTREVISTAAlexandre Caroli Rocha: doutorado sobre as psicografi as de Chico XavierPg. 4

41 ANOS DE CORREIO FRATERNO

www.correiofraterno.com.br

Visite o nosso site:

ciência humana evolverá em cirurgia psíquica, tanto quanto hoje vai avançando

em técnica operatória...”. “O médico ter-restre desentranhará o labirinto mental com a mesma facilidade com que atual-mente extrai um apêndice condenado.”

Não. Estas não são afi rmações alu-cinadas. Elas estão nas obras de André Luiz, um dos autores espirituais que mais abordam o funcionamento do organis-mo humano. Essas expressões causariam espanto, se chegassem ao campo da me-dicina convencional quando aportaram à Terra, há quase 70 anos.

O problema é que ainda causam.

A boa notícia é que já estão acon-tecendo muitas mudanças no olhar re-ducionista e puramente materialista da forma com que hoje a ciência concebe o que é saúde e o que é doença. Mas essa é uma longa caminhada.

Para o Correio Fraterno, não há nada melhor do que comemorar os 41 anos de fundação, agora em outubro, do que divulgar o que de mais atual vem ocor-rendo no campo das diversas pesquisas em direção à saúde integral do ser e que rompe verdadeiros paradigmas no cam-po da ciência médica. Esta edição vem recheada sobre o tema: Leia mais nas pá-ginas 6 e 15.

CURAMuito além do corpo físico

A RELIGIÃO DEVE SE MODERNIZAR?

PRODUÇÃO LITERÁRIA

A religião que tenta se modernizar sem-pre terá um preço a pagar? A religião que não se moderniza sempre terá um preço a pagar? A religião que acompanha a mo-dernidade sempre terá um preço a pagar? São perguntas que George De Marco le-vanta em seu ensaio para uma refl exão.Pág. 11

“A

O maior evento do mercado editorial no Brasil, a 20ª Bienal Internacional do Livro, realizada de 14 a 24 de agosto, teve presença marcante das obras es-píritas. Mais de 1000 títulos, cerca de 20 mil exemplares, foram disponibili-zados para o público.Pág. 8

Page 2: Correio Fraterno 423

2 CORREIO FRATERNO SETEMBRO - OUTUBRO 2008ED

ITO

RIA

L

ão é a primeira vez que a equipe toda do Correio se depara com o incrível meca-

nismo que ocorre em torno da prepa-ração de uma nova edição. Os temas dos textos de nossos articulistas, da apuração de eventos espíritas e notí-cias vão se entrelaçando, obedecendo à sinfonia do Maestro “invisível”.

Ao ler este número do Correio Fraterno, você vai perceber a intensa presença do tema espiritualidade e de fundamentos espíritas nos diver-sos ambientes da ciência e da cultura, rompendo cada vez mais os limites do preconceito. Um brasileiro faz bonito e apresenta o cientista Allan Kardec no maior Congresso de Parapsicologia do mundo. Impressionou! Um menino,

quase garoto, Alexandre Caroli, desen-volve, dentro da universidade, estudos que comparam as produções literá-rias de autores e poetas famosos com o que eles ditaram, depois da morte, ao médium de Chico Xavier. Médicos propõem considerar a religiosidade no processo de cura do paciente.

E só para refl etir, você acha que a religião deve se modernizar? Leia o in-teressante ensaio de George De Mar-co. Ah! O Fraterninho continua arras-tando a meninada (pequena e grande) para as suas aventuras.

Tudo é alegria! Um pouco menos, com a partida

do nosso amigo Neimer Masotti. Já está fazendo falta!

Boa leitura !!

N

CORREIO DO CORREIO

O casal Júlio e LaízeComo trabalhador do Centro Espírita Alvorada Cristã de Buriti Bravo, uma coisa chamou-me a atenção no Correio Fraterno de março-abril (edição 420). Nós fomos uns dos que receberam incen-tivos do casal Júlio e Laíze, do Maranhão-MA, citado no “Báu de Memórias”, para chegarmos aonde chegamos. Eles vieram por diversas vezes implantar o curso de evangelização infantil e realizar palestras. Foram bons e fi éis servos na seara de edu-

car e servir. Nossa gratidão a eles.Waldimar Alves de Amorim

Buriti Bravo-MA

Qualidade na divulgação do Espiritismo Abraços à equipe editorial do Correio Fra-terno, com minha admiração e notas de muito progresso na concretização de um sonho que alimento há muito anos.

Idelfonso do Espírito SantoSalvador-BA

Envio de artigosEncaminhar para e-mail: [email protected] Os artigos deverão ser inéditos e na dimensão máxima de 4.800 caracteres, constando referência bibliográfi ca e pequena apresentação do autor.

CORREIOFRATERNO

JORNAL CORREIO FRATERNO

Fundado em 3 de outubro de 1967. Registrado no Registro de Pessoas Jurídicas em São Bernardo do

Campo, sob o n.o 17889. Vinculado ao Lar da Criança Emmanuel - www.laremmanuel.org.br

Diretor: Raymundo Rodrigues EspelhoEditora responsável: Izabel Regina R. Vitusso. MTB-3478

Jornalista responsável: Maury de Campos DottoRedação: Mariana Sartor

Comunicação e Marketing: Tatiana BenitesEditoração: PACK Comunicação Criativa

www.packcom.com.brImpressão: AGG –Artes Gráfi cas Guaru

Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 2955Vila Alves Dias - Bairro Assunção - CEP 09851-000

Caixa Postal 58 - CEP 09720-971

São Bernardo do Campo – SPFones: (011) 4109-2939

e-mail: [email protected]: www.correiofraterno.com.br

As colaborações assinadas não representam necessariamente a opinião do jornal.

Periodicidade bimestral

Para assinaturas do jornal ou pedido de livros:Acesse www.correiofaterno.com.br

Ou ligue: (11) 4109-2939.Para assinaturas, se preferir, envie depósito para Banco Itaú-

Ag.0092 c/c 19644-3 e informe a editora.

Assinatura 12 exemplares: R$ 30,00Mantenedor: acima de R$ 30,00

Exterior: U$ 20,00

Editora Espírita Correio Fraterno

CNPJ 48.128.664/0001-67

Inscr. Estadual: 635.088.381.118

Presidente: Izabel Regina R. Vitusso

Vice-presidente: Belmiro Tonetto

Tesoureiro: Adão Ribeiro da Cruz

Secretário: Vladimir Gutierrez Lopes

Nós da equipe Correio Fraterno fi ca-mos lisonjeados com a referência tão carinhosa do Dr. Idelfonso, vice-pre-sidente da Associação Médico-Espírita da Bahia, que não se cansa de traçar planos, inclusive de apresentá-los em Congressos Espíritas, para elevar o pa-tamar do trabalho da divulgação do Espiritismo.

*Nosso abraço a ele, ao sr. Waldimar e a todos que nos escrevem.

Uma ética para a imprensa escrita

Em dois artigos, escritos por Allan Kar-dec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação:

• A apreciação razoável dos fatos, e de suas conseqüências.

• Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros.

• Discussão, porém não disputa. As in-conveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pes-soas sensatas.

• A história da doutrina espírita, de al-guma forma, é a do espírito humano. O estudo dessas fontes nos forneceráuma mina inesgotável de observa-ções, sobre fatos gerais pouco conhe-cidos.

• Os princípios da doutrina são os de-correntes do próprio ensinamento dos Espíritos. Não será, então, uma teoria pessoal que exporemos.

• Não responderemos aos ataques di-rigidos contra o Espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que podem degenerar em persona-lismo. Discutiremos os princípios que professamos.

• Confessaremos nossa insufi ciência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. Longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos. Serão um meio de esclarecimento.

• Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião indivi-dual que não pretenderemos impor aninguém. Nós a entregaremos à dis-cussão e estaremos prontos para re-nunciá-la, se nosso erro for demons-trado.

Esta publicação tem como fi nalidade oferecer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. E ligar, por um laço comum, os que compreendem a doutrina espí-rita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.

Envie seus comentários para [email protected] • Permitida a reprodução parcial de textos do Correio Fraterno desde que citada a fonte.

Sinfonia do Maestro Invisível

Page 3: Correio Fraterno 423

SETEMBRO - OUTUBRO 2008 CORREIO FRATERNO 3A

CO

NTEC

E

No mesmo Encontro, foi efetiva-da a fundação da Associação Médico- Espírita de São Bernardo do Campo, que já está em atividade desde o co-meço do ano. Na ocasião, também foi empossada a diretoria, que tem como presidente a médica infecto-logista Dra. Luciana Lima Galvão e como vice-presidente o ginecologista Dr. Fernando Sansoni.

Contatos: [email protected]

R

Valorização da vida no combate às drogas

ealizou-se no dia 30 de agosto, na IAM - Instituição Assistencial Meimei, em São Bernardo do

Campo, o I Encontro da Valorização da Vida, que reuniu cerca de 250 pes-soas, entre tarefeiros, representantes de 15 instituições espíritas e membros da comunidade em geral.

O objetivo do evento foi permitir a permuta de experiências, vivências en-tre grupos, muitos das quais com larga experiência em projetos de valorização da vida, como meio para o enfrenta-mento das drogas.

Dinâmicas, incluindo dança circu-lar, dramatizações e outras estratégias lúdicas proporcionaram a introspecção dos presentes, dentre eles, profissionais da área da saúde, que entenderam a ur-gência da união para tomada de uma ação mais abrangente.

Argumentos não faltaram para a materialização da expressão “Vós sois luzes”, durante o evento, para passar a idéia de que todos temos a luz interior com potencial para se irradiar através do amor. Palestra e também o registro da emanação da energia através de foto-grafia energética da mão – kirliangrafia – foram usados e aguçaram a curiosi-dade dos participantes. “Embora a luz

fotografada seja um registro físico, a nossa condição espiritual interfere na luz” – explica o médico ginecologista Dr. Fernando Sansoni , professor da Faculdade de Medicina do ABC.

A neurociência – orienta Dr. Fer-nando – mostra que bioquimicamente o cérebro trabalha com área de promoção de recompensa, promovendo o bem-estar. Num trabalho como este, onde se estimula a alegria, o convívio afetuoso, se ofereceu mais do que bem-estar, por-que quando você se harmoniza,você ama mais o próximo. E é uma resposta que não precisa ser espírita para sentir. Em qualquer atitude positiva você vai ter sempre uma recompensa.

Gratidão e plenitude foi o que sen-tiu Miltes Aparecida Bonna, presiden-te e uma das fundadoras do Centro Es-pírita Obreiros do Senhor/ IAM, local do evento, ao ver a grande adesão de pessoas, em um dia tão frio. “Houve o atendimento ao apelo. Os corações estão sedentos de caminhos.” – inter-preta.

Há mais de trinta anos, o Centro Espírita Obreiros do Senhor realiza um trabalho de ponta, no amparo ao alco-olista, dependente de outras drogas e tabagista, na região, denominado DE-

SADEF – D e p a r t a -mento de Socorro e A m p a r o aos Depen-dentes e Familiares. À frente da instituição Miltes, com f o r m a ç ã o em pedago-gia, insiste no aspecto da manifestação do afeto, do amor como parte do con-texto pedagógico. “O amor sempre faz

a diferença.” A multiplicação dessas

oficinas não pode parar. Nesse semestre já deveria haver outro Encontro, avalia Celina Galvão, presidente do Conselho Espírita de São Bernardo, entidade também ligada no projeto. O evento, se-gundo ela, é apenas o co-meço. A idéia é criar um modelo para replicá-lo nas casas espíritas que se

interessarem pela causa. Maria Heloísa Bernardo, psicóloga

à frente da criação da AME - Associação Médico-Espírita de São Bernardo e uma das idealizadoras do projeto, esclarece que há ainda muito o que fazer, prin-cipalmente pela motivação da equipe, para o trabalho não parar. “É preciso formar ondas de comunicação para tra-zer não só trabalhadores espíritas, mas a população para movimento, como hoje, porque a única saída para equacionar o problema de drogas é a união, mãos uni-das, trabalhando a afetividade.”

Contatos: [email protected]

A fundação da AME São Bernardo

Registro da emanação energética do corpo

Miltes Bonna: a prevenção às drogas começa com a construção do homem de bem, no reduto da família

A urgência da união para ações

abrangentes

Page 4: Correio Fraterno 423

4 CORREIO FRATERNO SETEMBRO - OUTUBRO 2008A

CO

NTE

CE

Por MAGALI OLIVEIRA FERNANDES

Da REDAÇÃO

O que o levou a realizar projetos de pós-graduação, mestrado e doutorado, sobre a temática es-pírita, sobretudo referentes às psicografi as de Chico Xavier, pri-meiro, tratando do livro inaugu-ral do médium mineiro; depois, cuidando das publicações me-diúnicas atribuídas ao escritor

Conheci Alexandre Caroli já faz algum tempo. Foi em 2003, na ocasião em que um grupo de pesquisadores do tema espírita se reuniu com o objetivo de trocar experiências e informações a respeito do que estava sendo realizado até aquele momento nas universidades, tanto no Brasil como no exterior, levando em conta diversas áreas do conhecimento: medicina, psicologia, psi-quiatria, física, química, história, letras, comunicação etc.

Alexandre e eu integrávamos o grupo de pesquisadores da área de Ciências Humanas. Outros dois grupos no encontro eram das Ciências Exatas e das Ciências Biomédicas. No perí-odo, Alexandre já havia concluído, em Letras, na Unicamp, sua dissertação de mestrado sobre o primeiro livro de Chico Xavier: Parnaso de Além-túmulo. Agora, em 2008, ele defendeu, tam-bém na Unicamp, sua tese de doutorado, sobre a qual fala nesta entrevista.

Psicografi as de Chico Xavier

Humberto de Campos? AC: Havia, desde a adolescência, o gosto pela leitura, mas sem idéia de que isso poderia virar uma profi ssão. Na gradua-ção, li bastante o que estava à disposição de um modo geral: escritores brasileiros e estrangeiros. Tive, também, acesso aos estudos da linguagem, relacionados à literatura e à lingüística, que muito

Alexandre Caroli Rocha: estudo acurado de textos mediúnicos

ESCRITÓRIO

BRASIL

CONTABILIDADE E SERVIÇOS S/C LTDA.

Tel.: (11) 4126-3300Rua Santa Filomena, 305

1º andar - CentroSão Bernardo do Campo - SP

[email protected]

Chico Xavier

acurado de textos

são temas de pesquisa na universidade

rande parte do público que este ano participou do mais importante congresso mundial de Parapsicologia ouviu falar, de forma mais aprofundada, de um ilustre desconhecido – o pesquisador Allan

Kardec – e se impressionou com ele.O trabalho foi apresentado pelo doutor em Psiquiatria Alexander Mo-

reira de Almeida, diretor do NUPES – Núcleo de Pesquisas em Espiritua-lidade e Saúde da UFJF –, no 51.º Congresso de Parapsicologia, realizado em agosto em Winchester, na Inglaterra, e promovido pela Parapsychologi-cal Association (PA) e pela Society for Psychical Research (SPR).

O psiquiatra, que no Brasil defendeu tese de doutorado sobre médiuns espíritas, apresentou um artigo sobre a pesquisa de Kardec com fenômenos psíquicos, que gerou, a partir de 1857, na França, suas conhecidas – prin-cipalmente no Brasil – obras fundamentais do Espiritismo.

A qualidade da apresentação e a surpresa pelo conteúdo causaram reper-cussões entre os estrangeiros, que imaginavam Kardec como um pesquisa-dor crédulo e ingênuo.

Esta não é a primeira ação com repercussões internacionais do psiquia-tra e de outros pesquisadores que transitam no setor acadêmico, desenvol-vendo estudos que elevam o patamar do estudo científi co do Espiritismo.

No mês de julho, membros desse mesmo grupo levaram dez médiuns psicógrafos brasileiros para a Universidade da Pensilvânia, nos Estados Uni-dos, para pesquisarem o transe mediúnico. Os resultados das pesquisas ain-da estão sendo apurados.

G

Apresentação sobre

Kardec impressiona

europeusAlexander Moreira leva Kardec para Congresso de Parapsicologia

Page 5: Correio Fraterno 423

SETEMBRO - OUTUBRO 2008 CORREIO FRATERNO 5EN

TREV

ISTA

me auxiliaram para enfrentar os textos. Ainda na graduação, consegui duas bol-sas de estudo para pesquisar o contista brasileiro Dalton Trevisan. Nessa épo-ca, minha irmã Cristina, que freqüen-tava um centro espírita em São Paulo, presenteou-me com um livro do Chico Xavier (1910-2002) intitulado Parnaso de Além-túmulo. Aos poucos, fui me in-teressando por aqueles curiosos poemas, atribuídos a dezenas de escritores “mor-tos”. Pouco depois da graduação, come-cei a cursar o mestrado. Após algumas indecisões, resolvi pesquisar esse livro de poemas. Escrevi um esboço de projeto e fui procurar um professor que aceitasse me orientar. Não foi tão difícil, como se poderia imaginar, visto que o tema é controverso. Na terceira tentativa, con-segui um orientador, que me ajudou a concluir o projeto e me acompanhou ao longo da pesquisa, o professor Haquira Osakabe. A dissertação foi defendida em 2001. Em síntese, foi um estudo sobre o livro Parnaso de Além-túmulo, a sua for-mação, o seu histórico, as relações textu-ais que cinco conjuntos de poemas esta-belecem com as obras dos poetas a quem são atribuídos, no caso: João de Deus, Antero de Quental, Guerra Junqueiro, Augusto dos Anjos e Cruz e Sousa. A quem se interessar, a dissertação está dis-ponível na internet, no site da Biblioteca Digital da Unicamp. Depois, no douto-rado, com o mesmo orientador, estudei os livros que Chico Xavier atribuiu a Humberto de Campos e a Irmão X. Os dois trabalhos foram financiados pela Fapesp [Fundação de Amparo à Pesqui-sa do Estado de São Paulo].

Você encontrou, nessas suas pesquisas, o que eu chamaria de “elemento surpresa”, aquilo que não se esperava encontrar?AC: Sim, encontrei várias surpresas. Lembro-me, por exemplo, da surpresa que foi descobrir que, embora com as novidades da temática espírita, muitos dos poemas estudados continham, em diversos níveis, traços poéticos que iam ao encontro dos descritos pelos princi-pais críticos dos autores estudados. No doutorado, fiquei novamente impres-sionado quando descobri, em alguns textos mediúnicos, a existência de cer-tas camadas de leitura, relacionadas ao repertório literário de Humberto de Campos, que sugerem, digamos, um

trabalho de relojoeiro. São achados de difícil assimilação.

Em seu trabalho, como você li-dou com a questão mediúnica nesses textos?AC: Para nós, leitores, o fator mediú-nico é, grosso modo, uma declaração. Um médium afirma em público que o verdadeiro autor dos escritos que pro-duziu é um autor espiritual. O leitor decide se aceita a alegação. A tendência, me parece, é o livro ser lido por aqueles que acreditam na autoria espiritual. Nos meus trabalhos, um primeiro passo para lidar com a questão foi observar como os textos psicografados foram entendi-dos por seus comentadores, quais leitu-ras eles suscitaram. Mas a parte principal das pesquisas foram as análises textuais, orientadas pelo seguinte questionamen-to de fundo: o que o autor desses textos demonstra conhecer do repertório lite-rário da autoria alegada?

Com relação ao procedimento de análise dos textos estudados, o que foi alterado, do mestrado para o doutorado?AC: Uma diferença inicial foi a do re-gistro: no mestrado, poesia; no douto-rado, prosa. No primeiro, a análise dos poemas foi pautada em determinados estudos críticos a respeito dos autores. No segundo, com apoio de uma ampla bibliografia, fiz um estudo sobre Hum-berto de Campos com base no qual pautei as considerações a respeito dos livros mediúnicos atribuídos ao escritor. Mas, nos dois casos, estudei autores da literatura brasileira e portuguesa. Digo isso para diferenciá-los dos autores das páginas de Chico Xavier que não pos-suem uma obra escrita não mediúnica, a exemplo de Emmanuel, André Luiz e tantos outros.

Qual foi sua questão principal na tese sobre Humberto de Campos e Chico Xavier?AC: É muito rico o material de estudo sobre Humberto de Campos e Chico Xavier, ainda mais quando se considera o “caso Humberto de Campos”, ocor-rido em 1944, quando a família do es-critor moveu uma ação judicial contra o médium e a FEB. O processo provocou a substituição do nome do escritor para Irmão X. O meu estudo foi orientado

pelo problema autoral dos livros que Chico Xavier atribuiu a Humberto de Campos e a Irmão X, questão que pos-sui muitos desdobramentos. Minha per-gunta foi a seguinte: como funciona a autoria nesses livros? Um dos pontos que mais me chamaram a atenção, ao longo da pesquisa, foram as estratégias usadas pelo autor para dar a entender que ele é o próprio Humberto de Campos após sua morte. Para isso, ele demonstra ser um perito naquilo que diz respeito ao es-critor. Em dois capítulos da tese, procu-ro desvendar os procedimentos de que o autor lança mão para provocar o que chamei de “efeito de sobrevivência”.

Como aconteceu a escolha do material? E a seleção, você tra-balhou com quais títulos?AC: Fiz uma longa pesquisa sobre Humberto de Campos e li seus textos reunidos em livros, que totalizam cerca de 45 volumes. Para obtê-los, tive que freqüentar muitos sebos, porque o es-critor já caiu em esquecimento há vá-rias décadas – embora seu nome tenha sobrevivido num outro espaço cultural, por meio dos textos de Chico Xavier a ele atribuídos, que continuam sendo re-editados. Quanto a estes, estudei os 12 livros que a FEB publicou entre 1937 e 1969, além de textos do mesmo conjun-to autoral publicados na revista Reforma-dor. A partir desse material, fui reunindo bibliografia para tratar das questões que surgiam durante o estudo.

Quais são os livros em que o au-tor espiritual mais se empenhou no diálogo com a obra de Hum-berto de Campos?AC: São os três primeiros atribuídos ao escritor – Crônicas de além-túmulo (1937); Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho (1938); e Novas mensagens (1940) – e o primeiro de Irmão X: Láza-ro redivivo (1945). Na tese, eu explico por quê.

Como ter acesso à sua tese?AC: Na internet, ela logo estará disponí-vel na Biblioteca Digital da Unicamp.

Há outras psicografias de outros médiuns no Brasil que trazem o nome de Humberto de Campos? Você tratou disso também?AC: Sei que existem, mas não fize-

ram parte da pesquisa.

E Chico Xavier, como ele entra em seu estudo? Isto é, qual o pa-pel desempenhado por ele nesse conjunto de textos psicografa-dos que você estudou?AC: Em 1932, o primeiro livro de Chi-co Xavier foi resenhado duas vezes por Humberto de Campos, que morre-ria dois anos depois, em dezembro de 1934. Na época, ele era um dos escrito-res mais lidos do Brasil, e Chico Xavier, um jovem desconhecido. O médium começou a atribuir textos ao escritor em 1935. Nos anos 30 e 40, a grande popularidade de Humberto de Campos foi um dos fatores que projetaram na-cionalmente o nome de Chico Xavier. Décadas depois, a situação se inverteu: o autor de Memórias foi esquecido, ao passo que o médium se tornou uma das personalidades de maior destaque em nosso país. Na tese, Chico Xavier tam-bém é visto como personagem de alguns de seus textos mediúnicos e, por meio de cartas dele próprio, tornadas públicas nos anos 80, observamos como ele re-agia ao processo de 1944 e como eram os bastidores editoriais de parte de sua produção psicográfica. Na parte final da tese, falo da relação entre a presença de autores de prestígio em seus primeiros livros e a conquista de credibilidade de Chico Xavier como médium.

Das contribuições de sua tese para o público em geral, o que você poderia dizer aqui para concluir esta nossa entrevista?AC: Em certo ponto do trabalho, falo do contraste entre os supostos conhecimen-tos de Chico Xavier, que declarava nun-ca ter estudado Humberto de Campos, e o conjunto de conhecimentos especí-ficos, presentes em textos psicografados, que vem, necessariamente, de uma fonte que detém um especial domínio do re-pertório literário do escritor maranhen-se. Levando em conta contrastes como esse, acho que seria muito importante desenvolver novas pesquisas em diversas áreas, para tentarmos compreender os fenômenos da mediunidade de efeitos e seus devidos desdobramentos.De minha parte, as descobertas sobre psicografia me trouxeram muitas inda-gações, que provavelmente me levarão a tantos outros estudos a esse respeito.

Page 6: Correio Fraterno 423

6 CORREIO FRATERNO SETEMBRO - OUTUBRO 2008

Por IZABEL VITUSSO

ESPE

CIA

L

AME completa 40 anos e realiza congresso

entro das atividades comemo-rativas dos 40 anos de fun-dação, Associação Médico-

Espírita de São Paulo realizou de 5 a 7 de setembro o Congresso AME 40 anos construindo o paradigma médico-espírita. O evento reuniu 450 pessoas no Teatro Santo Agostinho, na capi-tal paulista. Mais de 20 profissionais e acadêmicos – dentre eles Sérgio Fe-lipe de Oliveira, Décio Iandoli Júnior, Marco Palmieri, Roberto Lúcio, Irvê-nia Prada, Jaider Rodrigues, e outros com larga folha de atuação no campo da pesquisa, apresentaram estudos e propostas que enfatizam a maior com-preensão da saúde integral e a adequa-ção da prática clínica, considerando a integração espírito–corpo.

Quatro décadas de trabalho, inicia-

do por médicos conhecidos no meio espírita, muitos dos quais já desencar-nados, apenas deram o impulso para a grande tarefa que ainda há pela frente, a de, segundo o enfoque do congresso, preparar a nova geração de profissio-nais com a prevalência da espirituali-dade no processo de cura do paciente.

A espiritualidade nas universidades brasileirasConvidado a falar sobre medicina

e espiritualidade no ambiente aca-dêmico, o estudante Alejandro Vera mostrou que dos 119 cursos de me-dicina pesquisados, do total de 167 existentes no Brasil, apenas 14% deles abordam algum aspectos da es-piritualidade no processo de ensino. O médico psiquiatra Frederico Leão,

Por IZABEL VITUSSO

Retornou ao plano espiri-tual, na madrugada de 20 de setembro, o querido e dedicado trabalhador espí-rita, Neimer Sebastião Ma-sotti, vitimado por repenti-no problema de saúde, que o levou à fatalidade por uma embolia pulmonar.

Apoio incondicional por quase trinta anos do casal Nena e Francisco Galves, nas atividades do Centro Espírita União, Li-

vraria Espírita União, além de programas de Rádio e TV, em São Paulo, era admirado por sua firmeza e determinação, embasadas em bagagem cultural, poder de reflexão e, sem dúvida alguma, ampla vivência espiritual.

Nasceu na cidade de Pindorama, interior de São Paulo, em 20 de janeiro de 1933, desenvolvendo carreira como gerente do Banco Bandeirantes, que o fez um itinerante pelo interior do Estado. Pas-sou pelas cidades de Araraquara, Campinas, Marília, Votuporanga, Monte Alto, Presidente Prudente, onde deixou boas lembranças nos núcleos espíritas por que passou. Dentre as atividades atuais, Nei-mer também era dirigente de reunião mediúnica, no Centro Espírita União, com quem tínhamos estreito contato, até dias antes de seu desenlace.

Não era raro, em suas lembranças, citar as experiências junto à figura de Romeu Grisi, do C.E. Emmanuel, em Votuporanga, as ati-vidades no Sanatório Espírita de Marília, o estreito convívio com o médium mineiro Chico Xavier, como também com Heigorina Cunha, de Sacramento, com quem, junto à sua esposa, Antonieta Ferraz Ma-sotti, nutria antiga amizade.

Nascido em lar espírita (era irmão do Presidente da FEB, Nestor Masotti), dizia sempre às pessoas ligadas à divulgação que os bons fatos e exemplos vividos ao lado de expoentes espíritas deviam ser garimpados como jóia preciosa e levados a público para amplo apro-veitamento.

A depender deste ideal, Neimer Masotti parte satisfeito. Pois, se-gundo Nena Galves, foi ele um dos maiores incentivadores para que ela enfeixasse em livro suas memórias sobre o longo convívio com o médium Chico Xavier. Lançada há pouco mais de um mês, a obra Até sempre Chico Xavier ocupou o topo da lista dentre os livros espí-ritas mais vendidos na Bienal do Livro, em São Paulo.

Além de tantos amigos, Neimer deixa dois filhos e um neto, mas certamente retorna aos amigos espirituais, juntamente com sua es-posa Antonieta, que o há um ano o antecedeu na viagem ao plano espiritual.

Nosso carinho eterno, nossa sincera admiração, seu Neimer.

Desencarna, em São Paulo,

Neimer Masotti

D

JULI

A N

EZU

JULI

A N

EZU

Page 7: Correio Fraterno 423

SETEMBRO - OUTUBRO 2008 CORREIO FRATERNO 7ESPEC

IAL

coordenador do Neper - Núcleo de Estudos de Problemas Espirituais e Religiosos do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculda-de de Medicina de São Paulo- apre-sentou dados indicativos de mudança dessa realidade, em parte empurrados pela pressão exercida pela demanda da população e pela capacidade dos pesquisadores de formatar essas ques-tões dentro da metodologia científi ca. Segundo o professor, 95% das pesso-as entrevistadas, no Brasil, acreditam em Deus. Setenta e sete por cento disseram que os médicos deveriam considerar suas crenças espirituais, 66% demonstraram interesse em se-rem perguntadas pelos médicos sobre sua religiosidade, mas apenas 10 a 20 % dos médicos pesquisados aborda-riam o assunto junto a seus pacien-tes, o que, na visão do Dr. Frederico Leão, evidencia o grande preconceito que ainda separa a ciência de assuntos relacionados à espiritualidade.

Para o geriatra Franklin dos San-tos, professor da pós-graduação da

disciplina de Emergências Clínicas do Hospital das Clínicas, o problema do preconceito poderá se agravar se não atentarmos para o fato de que espiri-tualidade não é Espiritismo. “Espiritu-alidade agrega tantas outras religiões. Não havendo esse cuidado, há risco de se restringir o que é para ser mais am-plo”- analisa.

Terapia complementar espíritaTambém atentando para a ne-

cessidade de mudança de comporta-mento, o professor Marco Antonio Palmieri alertou que não basta que se reconheça um problema espiritual no paciente, mas que se mude a postura médica. “Pergunte ao paciente qual a sua religião e você terá uma abertura inédita”- orienta. Fazendo referência a uma experiência particular, o profes-sor relatou o fato de ter telefonado ao pastor da igreja para obter apoio à pa-ciente, testemunha de Jeová , com dis-túrbios espirituais. “Eu disse a ele que em minha religião temos uma condu-ta de ajuda às pessoas que apresentam

quadros como o dela. (...) Colocaram-na num círculo de orações e funcio-nou. Nós precisamos estar abertos. É o benefício da religiosidade dentro do processo de cura”- sintetiza.

Em sua apresentação, o otorrinola-ringologista, de Ribeirão Preto, Tácito Sgorlon fez referência sobre a impor-tância dos estudos que comprovem cientifi camente a efi cácia das terapias complementares no processo de cura. E segundo ele, pesquisas recentes constataram a alteração do ph da água quando fl uidifi cada, que se torna mais ou menos alcalina de acordo com a necessidade do paciente.

O médico e escritor Décio Iando-li discorreu sobre a inadequação da expressão cirurgia espiritual,uma vez que, por defi nição, cirurgia é a inter-venção que se faz no outro com vistas à cura. O termo mais adequado, se-gundo ele, seria cirurgia vibracional,

quando se oferece um novo padrão vi-bratório ao paciente, fi cando a seu cargo aceitar ou não aquela nova sintonia, para reconstituir suas ca-madas perispirituais.

No plano mais profundo, essa ci-rurgia agiria não no perispírito, mas na alma, a sede dos pen-samentos e estaria mais relacionada às ações que ajudam a

Presença de Içami Tiba

Convidado especialmente para falar sobre educação, o médico psi-quiatra Içami Tiba, especialista em psicoterapia para adolescentes e fa-mílias, prestigiou o evento dos 40 anos da AME São Paulo com bom humor, simplicidade e sabedoria ao lidar com assuntos delicados, como a necessidade de se olhar criticamente as condições educacionais no Brasil, admitindo os problemas na formação escolar, negados pela pró-pria sociedade, e principalmente nos lares, onde são formados os futuros cidadãos éticos do país. Para o psiquiatra, a maior parte dos problemas psíquicos dos adolescentes pode ser atribuída ao comportamento imaturo e inadequado dos pais.

Autor de mais de 20 livros, dentre eles o conhecido título Quem ama educa, Içami lembrou que a conduta educadora precisa ser alinhada entre os gestores, o que envolve diálogo entre eles e marcado acompanhamen-to. Sobre a falta de coerência no casal e também de pulso na colocação de limites, o psiquiatra comentou sobre a comum ocorrência de pais que hoje são tira-nizados pelos fi lhos, desde tenra idade.” Os pais não podem fazer pelos fi lhos o que eles têm de fazer. Estão atrapalhando a vida deles” – completa o convidado.

pessoa a mudar a sua maneira de pen-sar: como a psicoterapia, terapia de vidas passadas, prece, meditação, exer-cício de caridade etc. Ninguém con-segue mudar a cabeça do outro, por isso a inadequação do termo cirurgia espiritual, segundo o professor.

Recorrendo a André Luiz, Décio Iandoli lembrou que esse será cami-nho para a busca pela cura: desentra-nhar o labirinto mental, um terreno que a medicina terrena há de dominar com a mesma facilidade com hoje atua no corpo físico.

Há dois anos na presidência da instituição, o geriatra Rodrigo Bassi faz referência ao trabalho, consideran-do a equipe um grupo de amigos que acredita no ideal médico-espírita e que escolheu servir ao Cristo através deste trabalho. Referiu-se também ao apoio que todas as AMEs nacionais rece-bem da AME-Brasil, que tem à frente uma das idealizadoras da Associação Médico-Espírita, a médica e gineco-logista Marlene Nobre. “Lembro-me com muita saudade dos que partiram: Antonio Ferreira Filho, Luiz Monteiro de Barros, Alfredo de Castro, Alberto Lyra, Eurico Branco Ribeiro,Oswaldo Jesus de Oliveira Lima, Ney Coutinho, Miguel Dorgan, Reynaldo Kuntz Busch, Ary Lex. Felizmente, eles continuam a nos inspirar do mundo espiritual”- re-lata a médica, referindo-se ao dia da fundação, há 40 anos.

[email protected]. Fone (11) 5585-1703

ESPECIA

L

disciplina de Emergências Clínicas do Hospital das Clínicas, o problema do preconceito poderá se agravar se não atentarmos para o fato de que espiri-tualidade não é Espiritismo. “Espiritu-alidade agrega tantas outras religiões. Não havendo esse cuidado, há risco de se restringir o que é para ser mais am-

Terapia complementar espíritaTambém atentando para a ne-

cessidade de mudança de comporta-mento, o professor Marco Antonio Palmieri alertou que não basta que se reconheça um problema espiritual no

quadros como o dela. (...) Colocaram-na num círculo de orações e funcio-

pessoa a mudar a sua maneira de pen-sar: como a psicoterapia, terapia de

“ “Pergunte ao paciente qual a sua religião e você

terá uma abertura inédita… Nós precisamos estar abertos.

É a religiosidade dentro do processo de cura.

IZABEL VITUSSO

Page 8: Correio Fraterno 423

8 CORREIO FRATERNO SETEMBRO - OUTUBRO 2008LI

TER

ATU

RA

E E

SPIR

ITIS

MO

maior evento do mercado editorial no Brasil, a 20ª Bienal Internacional do Livro, realizada de 14 a

24 de agosto, teve presença marcan-te das obras espíritas, apresentadas ao público em estantes individuais e também em parcerias, como a da

OFederação Espírita Brasileira e a As-sociação de Editoras, Distribuidoras e Divulgadores do Livro Espírita. , além do espaço dedicado às crianças e as já conhecidas sessões de autó-grafos.

Um dos fenômenos de venda, cerca de trezentos exemplares vendi-

Produção literáriafora e dentro da Bienal

dos, estampa na capa o conhecido nome do médium minei-ro. Até sempre Chico Xavier é um livro de memória, no qual a autora, Nena Galves, relata episódios, fo-tografi as e memórias dos mais de 40 anos de convívio dela e de seus familiares com o médium.

“Como médium, podemos co-nhecer o Chico pelos livros, mas como ser humano, só poderá falar quem conviveu com ele.”- analisa Nena Galves. E acrescenta: “Apren-di muito com Chico. Hoje vejo que poderia tê-lo ouvido muito mais. Ficávamos horas conversando ma-drugada adentro, embora eu nunca tivesse a curiosidade de pedir um recado sequer do mundo espiritual. Senti então que não poderia desen-carnar sem escrever alguma coisa que mostrasse a grandeza deste espírito.”- con-clui.

Projeto “Conte Mais”

A Federação Es-pírita do Rio Grande do Sul também esteve presente na Bienal, dando foco em uma de suas iniciativas, o projeto literário “Conte Mais”, fruto do trabalho de recu-peração das histórias

infantis, contadas em 60 anos de ativida-des na evangelização de jovens e crianças, pela Federação Espí-rita do Rio Grande do Sul. “Resgata-mos 400 histórias. Demos a elas uma linguagem moderna, primando pela mo-ral universal, relata a

historiadora e especialista em educa-ção Gladis de Oliveira, presidente da Federação Espírita do Rio Grande do Sul. A coleção, segundo Gladis, que é voltada para pais, educadores e pú-blico em geral, já está sendo adotada pelo Sistema Educacional Estadual, pelas Se-c re ta r i a s Mu n i c i -pais de E d u c a -ção. “Te-mos que

infantis, contadas em 60 anos de ativida-des na evangelização de jovens e crianças, pela Federação Espí-rita do Rio Grande do Sul. “Resgata-mos 400 histórias. Demos a elas uma linguagem moderna, primando pela mo-ral universal, relata a

historiadora e especialista em educa-

A Grande SacerdotisaRomance mediúnicoPelo espírito Julianus Septimus, psicografado por Nadir Gomes

Distante de DEUSRomance mediúnicoPelo espírito Fábio, psicografado por Nadir Gomes

“Através da história de Hamazusayth, uma alta sacerdotisa do antigo Egito, muitas personalidades entram em cena e revelam suas lutas para a verdadeira transformação interior.”

A história de Fábio é como a de muitos, que amargam a dor do arrependimento,depois de seguir nos descaminhos do tráfi co de drogas.Mas...sempre há o despertar para Deus e para as responsabilidades!

Pedidos Tel.: (11) 2209-5484Editora Cristalis

Girassol Editorial (selo espírita)Soc. Espírita Terezinha de Jesus (11) 3975-2801

Pedidos Tel.: (11) 2209-5484Editora Cristalis

Girassol Editorial (selo espírita)Soc. Espírita Terezinha de Jesus (11) 3975-2801

Soc. Espírita Terezinha de Jesus (11) 3975-2801

Soc. Espírita Terezinha de Jesus (11) 3975-2801

Page 9: Correio Fraterno 423

SETEMBRO - OUTUBRO 2008 CORREIO FRATERNO 9

LIVROS & CIA.

Editora Allan KardecTel./Fax: (19) [email protected]

Casa Editora O Clarim Tel.: (16) [email protected]

Correio FraternoTel.: (11) 4109-2939correiofraterno@correiofraterno.com.brwww.correiofraterno.com.br

Editora EMETel./Fax: (19) [email protected]

Para Ler e RelerTh erezinha Oliveira112 páginasformato 14x21 cm

A Mansão Renoir392 páginasformato 14x21 cm

Superando a ansiedadeEulália Bueno (mensagens de Maria do Rosário del Pilar)224 páginasformato 14x21 cm

O mosteiro de São Jerônimode Valter Turini, pelo espírito Monsenhor Eusébio Sintra448 páginasformato 14x21 cm

O mosteiro de São Jerônimode Valter Turini, pelo espírito Monsenhor Eusébio Sintra448 páginasformato 14x21 cm

Para Ler e RelerTh erezinha Oliveira112 páginasformato 14x21 cm

A Mansão Renoir392 páginasformato 14x21 cm

Superando a ansiedadeEulália Bueno (mensagens de Maria do Rosário del Pilar)224 páginasformato 14x21 cm

Excelência em distribuição de materiais hospitalaresDistribuidor autorizado:

Johnson & Johnson Prod. prof.

Kimberly Clark Health Care

Smith’s Health Care

Unidade de S. J. dos CamposRua Cel. João Cursino, 139Vila Icaraí(12) 3904-2399

Unidade de ValinhosRua Guilherme Yansem, 51Castelo(19) 3849-9520

Unidade de São PauloRua Diogo Moreira, 132,cj. 909/910 - Pinheiros(11) 3097-0600

DENIS RODRIGUESSeguros

Rua Rui Barbosa, 131 - Jd. Bela VistaCEP 09030-105 - Santo André - SP

Fone/fax: (11) 4438-7155Cel.: (11) 9503-0575

• Automóvel

• Residência

• Saúde

• Previdência

• Aeronáutico

• Vida

• Condomínio

• Empresa

Produção literáriaestar atentos à boa educação e Kar-dec colocou que quando conhecês-semos a arte de manejar o caráter, a inteligência, nós resolveríamos o problema maior, que é o do egoís-mo. Venceríamos essa chaga da hu-manidade. Mas temos que atacar o mal pela raiz, ou seja, pela educação. (Leia a entrevista na íntegra no site www.correiofraterno.com.br)

Chico, dentro e fora da BienalFora do espaço da Bienal, outras

obras também ganham destaque e

as prateleiras das maiores livrarias. O médium mineiro Chico Xavier volta a ser o tema central de livro, mas desta vez fruto de projeto de doutorado da jornalista Magali Oli-veira Fernandes, que parte de mate-riais de recortes, colagens e pequenas edições elaboradas pelo médium, na década de 20, quando reutilizava ca-dernos para colar gravuras, poemas, imagens, em formulações de pseu-dolivretos. Chico Xavier: um herói no universo da edição popular (Anna-blume, 2008) marca espaço no bojo da refl exão universitária em torno de temas até então intocados.

Correio FraternoTel.: (11) 4109-2939correiofraterno@correiofraterno.com.brwww.correiofraterno.com.br

as prateleiras das maiores livrarias. O médium mineiro Chico Xavier

Page 10: Correio Fraterno 423

10 CORREIO FRATERNO SETEMBRO - OUTUBRO 2008

Por JOSÉ BENEVIDES CAVALCANTE

passe popularizou-se no Brasil com as idéias espíritas, nota-damente a partir dos anos 70,

quando Chico Xavier se apresentou na televisão, conseguindo romper algumas barreiras impeditivas do livre trânsito da doutrina. Na verdade, mesmo antes do Espiritismo, desde a época colonial, havia os benzimentos, como até hoje existem, fórmulas miraculosas oriundas do sincretismo que misturam valores da religião católica com os das culturas indígena e africana. No fi nal do século XVIII, o país já experimentara a infl u-ência do mesmerismo, que adotava os chamados “passes magnéticos”, numa tentativa de mostrar que somos dota-dos de forças naturais, que podem ser utilizadas para fi ns terapêuticos.

O passe é útil para quem procura o centro e também para as idéias espíri-tas, que hoje se propagam com menos difi culdade. O problema está em saber como utilizá-lo no centro, de forma a não cair no imediatismo das curas que prometem resultados espetaculares e nem torná-lo mero instrumento para multiplicar prosélitos. Trata-se de um recurso auxiliar de que não podemos prescindir no atendimento a quem procura alívio. Mas é preciso que te-nha mais que o simples valor terapêu-tico; é necessário que tenha um valor educativo. Para tanto, há que se defi nir seu papel no contexto das atividades do centro, de modo a dar-lhe um di-recionamento adequado às fi nalidades da Doutrina.

Jesus também utilizou esse recurso, pois, das pessoas que o procuravam, em busca de alívio para dores físicas e mo-rais, bem poucas eram as que estavam em condições de compreender o alcan-ce de sua mensagem e menos ainda as que se dispunham a servir ao ideal que anunciava. Prova disso está no episódio dos dez leprosos, quando, após a cura, apenas um retornou, dando a entender

tenha sido o único a buscar entendi-mento em suas palavras.

Como em Jesus, a fi nalidade pre-cípua do Espiritismo para aqueles, que estão chegando, é o despertar das almas para a realidade ampla da vida. A mediunidade de cura, assim como qualquer outra faculdade psí-quica, que encanta os olhos e traz alí-vio ao corpo, não pode ter um fi m em si mesma. Deve estar direcionada, sobretudo, à formação de uma nova consciência e, consequentemente, de um novo estilo de vida. Eis por que se torna indispensável: desvencilhá-lo de qualquer conotação mística, liber-tando-o de apetrechos e rituais mági-cos e, ao mesmo tempo, dar-lhe um sentido espiritual renovador através do esclarecimento espírita.

Não foi por acaso que o Espiritismo surgiu na França e só depois chegou ao Brasil. Suas bases não podiam provir de uma cultura popular apoiada no misti-cismo, como era a nossa, mas deveriam se assentar sobre alicerces racionais, num país onde as culturas fi losófi ca e científi ca podiam servir de baliza para a edifi cação de uma doutrina assenta-da na razão. Também não foi por acaso que essa doutrina se apoiou na persona-lidade lúcida e serena de um intelectual do nível de Hyppolite Léon Denizard Rivail (Allan Kardec) que, além da for-mação moral provinda de suas raízes, reunia sufi ciente discernimento para estabelecer as fronteiras entre a fé cega e a fé raciocinada.

Desse modo, a condução do pas-se espírita deve estar apoiada sobre o princípio da fé raciocinada, aquela que precisa compreender para crer. É bem verdade que mesmo a fé cega, quando bem direcionada, pode promover ver-dadeiros prodígios, mas essa é a fé que as religiões tradicionais nunca utiliza-ram para orientar e esclarecer, educar e libertar o homem. Ao contrário, o

PAR

A E

NTE

ND

ER M

ELH

OR

“Passe” paraa nova consciência

1 x 1 no placarCOISAS DE LAURINHA

Por TATIANA BENITES

O

Laurinha chega em casa toda animada e começa logo a contar para a mãe como foi seu dia no Centro:– Mãe, hoje nós estudamos sobre reencarnação.– Que bom, fi lha! O que você aprendeu?– Aprendi que temos que ser pessoas boas para receber coisas boas nessa e na outra en-carnação.– Muito bem, é isso mesmo! – respondeu a mãe.– Aprendi também que Deus não pune ninguém, que existe uma lei de ação e reação, que tudo o que a gente faz retorna para gente, pode ser bom ou ruim, depende do que você faz.– Nossa! Essa aula foi boa mesmo!Laurinha baixa a cabeça e diz:– Então....– Então o quê?– Então? E quando a gente não consegue ser assim TÃÃO bom?– Daí talvez você não receba todas as bênçãos que Deus poderia te dar, se fosse melhor.– Ah, tá! E se a gente tem uma discussão com um amigo e deseja algum mal a ele?– O que tem?– A gente vai pra um lugar feio quando morre? Acontece com a gente o que desejamos pro outro?– Se for somente uma discussão boba, coisa passageira, não quer dizer que você vai para um lugar feio ou que vá acontecer algo de ruim. Ficam em lugares assim pessoas que pensam muito no mal, fazem coisas ruins, desejam o mal do outro, ... entendeu?Laurinha levantou a cabeça, com ar de quem ainda refl ete sobre algo e responde:– Entendi sim, mamãe, foi isso mesmo que pensei. Pega suas coisas e vai em direção do quarto. Pensativa, refl ete um pouco mais e resolve fazer uma oração:“Deus, você viu que quem começou a discussão foi a Priscila. Aí eu fi quei com raiva e desejei que ela caísse da cadeira mesmo. Na hora que ela caiu, o Senhor viu que eu dei uma risadinha, (mais do que depressa tentou consertar) mas como ela não se machucou eu não preciso passar por isso também, né?” Ia terminar a oração, quando pensou melhor e completou:“Ah! Não sei se o Senhor se lembra, mas a semana passada eu escorreguei e caí na poça d’água... se a gente for pensar bem, eu até paguei antes da hora pelo meu pensamento ruim de hoje. Sendo assim, está 1 x 1. Posso considerar assim? Assim Seja. ”E ainda pensou: “Ufa! Ainda bem que eu pensei rápido!”

Espiritismo não veio para repetir esse mesmo trajeto que abandona as pes-soas à ignorância, mas para repensá-lo de conformidade com as novas idéias e com as novas aspirações de nosso tempo.

Daí porque muitos centros já o uti-lizam como ponte de esclarecimento,

de orientação, e não como solução ple-na e defi nitiva ou como varinha mági-ca, para resolver todos os problemas ou extirpar todos os males.

Advogado, pedagogo. Vice-presidente do CE. Caminho de Damasco e USE Intermunicipal de Garça-SP. E-mail: [email protected]

Laurinha chega em casa toda animada e começa logo a contar para a mãe como foi seu dia no Centro:– Mãe, hoje nós estudamos sobre reencarnação.

– Aprendi que temos que ser pessoas boas para receber coisas boas nessa e na outra en-

– Muito bem, é isso mesmo! – respondeu a

– Aprendi também que Deus não pune ninguém, que existe uma lei de ação e reação, que tudo o que a gente faz retorna para gente, pode ser bom ou ruim, depende

– Então? E quando a gente não consegue ser assim

Page 11: Correio Fraterno 423

SETEMBRO - OUTUBRO 2008 CORREIO FRATERNO 11EN

SAIO

igreja mais liberal do século 16 deu seus primeiros passos ainda no século 6, quando santo Agos-

tinho estabeleceu-se na cidade inglesa de Cantuária, com o objetivo de converter os anglo-saxões ao catolicismo. Agosti-nho tornou-se arcebispo local, colocan-do a Inglaterra sob a proteção do Vati-cano. Foi assim até 1533, quando o rei Henrique VIII pediu o divórcio de sua esposa, Catarina de Aragão para casar-se com Ana Bolena. O papa Clemente VII não só negou o divórcio, como também se recusou a abençoar o segundo casa-mento. Henrique VIII cortou relações com Roma e se declarou chefe de uma nova igreja, a Anglicana. Os anglicanos têm liberdade para escolher a liturgia que querem seguir. Segundo o anglicanismo, cada um deve decidir seu próprio cami-nho, por meio de seu livre-arbítrio, sua liberdade moral e intelectual.

Cada província adaptou a igreja aos seus próprios valores e idéias criando, democraticamente, uma personalidade distinta até na nomenclatura da igreja em torno do mundo. A liberalidade e a democracia anglicana foram permitindo à igreja se adaptar aos novos tempos, convivendo com a diversidade: em 1994 ordenaram a primeira mulher ao sacer-dócio, em 2003 ordenaram o primeiro bispo homossexual. Em 2008, celebra-ram o primeiro casamento entre dois homens. Mas, por ironia, a igreja que sempre foi diferente das demais igrejas cristãs, está enfraquecendo justamente por seu maior atributo: a liberdade. De-pois de cinco séculos, o anglicanismo se divide – quanto mais democracia, mais espaço para divergências. A divisão entre liberais e conservadores está tão acirrada que surgem opções que vão desde a for-mação de uma nova igreja até voltar para o catolicismo.

A religião que tenta se moder-nizar sempre terá um preço a

pagar?Recentemente, o papa Bento XVI

condenou as pesquisas com células em-

Por GEORGE DE MARCO

brionárias. O mesmo papa reiterou que o inferno é um lugar real, onde as pes-soas queimam eternamente. Não é de hoje que o catolicismo se debate contra a ciência: Ela foi contra o átomo, contra a teoria do heliocentrismo (o Sol como centro de nossa galáxia), foi contra a datação do mundo, contra o estudo da anatomia em cadáveres, também desa-provou o número zero, assim como o pára-raio... A cada ano, segundo pesqui-sas, o número de católicos diminui no Brasil.

A religião que não se moderniza sempre terá um preço a pagar?

Em 1823 Joseph Smith, ao rezar nos fundos de sua casa, recebeu a visita do anjo Morôni cuja mensagem foi o iní-cio da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (seus seguidores são os mórmons ou santos). Os mórmons ins-tituíram a poligamia, que foi extinta no grupo em 1890. Além dessa, em 1978, foi extinta a regra que proibia a entrada de negros nos templos. Segundo esta religião, os profetas da doutrina podem mudar mandamentos e leis den-tro da igreja a qualquer mo-mento. Mesmo assim as regras citadas, além de polêmicas, criaram dissidências a pon-to de Smith e seu irmão serem presos e assassinados a tiros na cadeia, em 1844.

A religião que acompanha a mo-dernidade sempre terá um preço a pagar?Debate-se muito a necessidade

de “modernizar” esta ou aquela religião. Esta “necessidade” abre espaços para divergências que, por sua vez, criam dissidências. No Espiritismo não é diferen-te. É de assustar quando desco-brimos que existem “Espíritas

ortodoxos”, “Espíritas Puristas”, “Novos Espíritas”... Muito embora, fique até mesmo difícil entender o tênue fio que separa uma das outras. Afinal, ‘moderni-dade’ em religião precisa significar ‘dis-sidência’?

Evidentemente, em Espiritismo, trata-se de um comportamento desne-cessário, visto que os escritos de Allan Kardec, que é a Codificação Espírita, são claros até mesmo ao afirmar que o Espi-ritismo não é uma doutrina hermética. Não há necessidade de patrulhamentos religiosos e doutrinários, mas não pode-mos olvidar que a causa para escolherem um só homem para o trabalho da Codi-ficação foi a necessidade de unidade dou-trinária. Orientado que foi pelo Espírito de Verdade, Kardec está com a primeira palavra. Por isso, é destoante o ufanismo de alguns espíritas que dão conta ape-

nas do aspecto religioso do Espiritismo. Ou o atavismo religioso de expressões como “culto no lar”, tão errônea quanto chamar espírita de ‘kardecista’, mas que muitos ainda contestam – tanto quanto na óbvia e sacramentada diferença entre Espiritismo e Espiritualismo. Precisamos ficar atentos contra a cegueira farisaica, impedindo o avanço progressista do Es-piritismo. Existem milhares de espíritas nessa lastimável posição de estaciona-mento. Crêem, adoram e consolam-se corretamente; todavia, não marcham para diante, no sentido de se tornarem mais sábios e mais nobres. Talvez seja este o preço a pagar.

Publicitário e radialista. Realiza atividades como expositor, evangelizador de mocidade e coordenador de teatro na seara espírita.

A

A religião deve se modernizar?

Page 12: Correio Fraterno 423

12 CORREIO FRATERNO SETEMBRO - OUTUBRO 2008A

GEN

DA

3.o Congresso Brasileiro de Pe-dagogia Espírita - Um projeto de inclusão integral: Ensinar tudo a todos

De 7 a 9 de novembro No: Campus da Uni Íta-

lo - Teatro Paulo Autran - Av. João Dias, 2046 - Santo Amaro - São Pau-

lo. Realização: Associação Brasileira de Pedagogia Espírita (Coordenação Dora Incontri) Informações: www.pedagogiaespirita.org.br/congresso. Tel: (11) [email protected] Público: a todos que se interessam, por um mundo melhor.

Seminário Jurídico-EspíritaDia 18 de outubro

Tema: A boa-fé objetiva na legislação humanaHorário: 10h00 às 12h15.

Local: USE (União das Sociedades Espíritas) São Paulo. Rua Dr. Gabriel Piza, 433 - Santana - São Paulo-SP. Ex-positores: Advogado Francisco Aranda Gabilan, da Associação Jurídico-Espí-rita do Estado de São Paulo e promo-tor de Justiça de Falências da Capital Marco Antonio Marcondes Pereira.

De 7 a 9 de novembro No: Campus da Uni Íta-

lo - Teatro Paulo Autran - Av. João Dias, 2046 - Santo Amaro - São Pau-

NOV

7

Dia 18 de outubroTema: A boa-fé objetiva

na legislação humanaHorário: 10h00 às 12h15.

OUT

18

OUT

18

OUT

18

OUT11

CRUZADA DO CORREIO

SOLUÇÃO

Elaborado por Tatiana Benites e Hamilton Dertonio especial para o Correio Fraterno

Acesse a Agenda Eletrônica Correio Fraterno e fi que atualizado com o que acontece no

meio espírita. Participe.www.correiofraterno.com.br

qualquer hora, em qualquer lugar

Tel: (11) 2950-6554. [email protected]

6.º CONEC - Congresso de Espiritismo do Circuito das Águas O Espírito do Espiritismo

Dias 18 e 19 de outubroCentro de Convenções

Circuito das Águas, Ser-ra Negra-SP Participação de: Eliseu

Motta Jr, Orson Peter Carrara, Moacyr Camargo. Pedro de Almei-da, Lobo, Carlos Hilsdorf. Peça tea-tral: É impossível morrer, baseada no romance de Ricardo Orestes Forni. Informações: www.usecircuitodasaguas.com.br

Arte EspíritaTeatro

• Dia 11 de outubro O fl a-gelo dos tempos (Drama).

Grupo Meirt.• Dia 18 de outubro A onça de asas (Infan-

til). Grupo Paluarte.• Dia 25 de outubro A vida sexual de Adão e Eva (Tragicomédia) .Baseado na obra Vida e Sexo , de Emmanuel. Grupo O Espírito da Arte.Local: Grupo Espírita Manoel Ben-to. Rua Alfredo Pujol, 77. Próximo à estação metrô Santana. Ingressos R$ 7,00.

Elo entre a vida espititual e o corpo (pl.)

Profetaque

trouxeos10

manda-mentos

Duração,período,época

Órgão responsável pelo paladar

Livro de Dolores Bacelar

– – –Morales,

presidente da Bolívia

Rotaçõespor minuto

De pouco uso

Modo de se locomover

pelo ar

_ _ _ _ _ _ _de Menezes,médium que atuava na

área da cura

Confuso, atordoado

Protocolo de Informação de Roteamento

Ecoa Consoantes de arte

Tanto

Roraima

Nome de mulher

Monte partes do objeto

Abrev. deEditores

– – – – – – – – –Barsanulfo,

médium mineiro

Baixo,rasteiro,

rente

Equipa-mentos

deProteçãoColetiva

Irmãosdopai

Que está desatado ou desprendido

Cartado

baralho

Lugar desabitado,

deserto

Nome técnico de pilha palito

Sétima letra do alfabeto

grego

Sufi xo que indica conexão

Finalde

“Sul”

Arem

inglês

Aletra

sinuosa

2 em romanos

Tratamento da cura através das cores

Cabeça, tronco e membrosNenhuma

pessoa

Aqui

Ágil, arredio

Clínica de emagreci-

mento

Perfeição,excelência

Aquele que se

dedica à defesa e propa-gação

de uma doutrina ou de um

ideal

Guarda de elite do parti-

do nazista alemão

Compaixão,dó

As duas primeiras

vogais

Aqueles que dirigem orquestras

Que é pro-duzido pela

natureza

Pessoa muito

querida

Instituto de Saúde Integrada

Típico espetáculo espanhol

Terceira consoante

CROMOTERAPIATEMPOZURETA

SS

PEEASB

IIARISCOCORPO

RV

SPAPENAAEP

RI

ISIADERMORNMAESTROS

LINGUASOARTTOURA A

DLAO

OVENATURALASOMBRA

DOOLO

ME

IR

1825

EVENTOS BENEFICENTES DO LAR EMMANUEL

Noite da Pizza4 de outubro A partir das 18h00

Chá benefi centeDia 23 de novembro A partir das 14h00

Almoço árabe26 de outubro

Noite da Pizza4 de outubro A partir das 18h00

Almoço árabe

OUT

4

Almoço árabe OUT

26

Chá benefi centeDia 23 de novembro A partir das 14h00

NOV

23

Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 2955 - B. Assunção - S. B. do Campo-SPInformações: (11) 4109-8775

Local: Associação dos Funcionários Públi-cos de São Bernardo do CampoRua 28 de Outubro, 61. S. Bernardo - SP. Tel: (11) 4109-8938 (Lar)O evento mais aguardado do ano! (Enxo-vais bordados, artesanatos fi nos, pinturas)

Ofi cina de Jogos teatrais18 de outubro.

A Arte de Educar com ArteDas 15 às 19 horasLocal: Núcleo Ani-

ta BrizaRua Aurélia,665. LapaSão Paulo Inscrições:fl [email protected]. Tel (11) 3285-0594

Page 13: Correio Fraterno 423

SETEMBRO - OUTUBRO 2008 CORREIO FRATERNO 13B

DE M

EMÓ

RIA

S

rimavera de 1988. A União Es-pírita Mineira realizava sua VI Feira do Livro Espírita, e eu

estava desconfortável em meio a uma enormidade de pessoas que se acoto-velavam nas quatro paredes da livraria, buscando livros que eram vendidos em grande quantidade.

Caiu-me às mãos Vida pretérita e futura de H. N. Banerjee, estudioso indiano, da Universidade de Jaipur, notabilizado pelos casos de reencar-nação. Já o conhecia das referências nas palestras de Divaldo Franco e das notas de imprensa espírita, depois vim a saber que ele pesquisou com apoio de Ian Stevenson da Universidade de Virgínia e da American Society for Psychical Research (Sociedade Ameri-cana de Pesquisas Psíquicas).

Banerjee notabilizou-se com os es-tudos de crianças que se recordavam de vidas passadas na Índia, e que eram capazes de dar detalhes, o que possi-bilitou muitas verificações por par-te de pesquisadores. Ele e Stevenson consolidaram uma nova metodologia de pesquisa para um tema até então considerado não-científico pela comu-nidade acadêmica.

Os anos se passaram e outro livro, recém-publicado, caiu-me às mãos, ou melhor, veio pelo correio, mercê de Dona Vera, que me solicitou um parecer para o Clubame. Foi con-cluindo a primeira crônica que me prendi à obra. Em menos de duas ho-ras ganhei a última página, com uma estranha sensação de paz interior. Palavras simples, mas histórias são cheias de vida. A autora apagou-se para que o personagem mostrasse seu brilho próprio, e este brilho reluz nos episódios, nas ruas da capital paulista-na, na mesa de reuniões mediúnicas, no recesso aconchegante do lar dos Galves, nos corredores dos hospitais,

Por JÁDER SAMPAIO

P

Banerjee e Chico Xavier

nos atos de total desprendimento ao dinheiro, na caridade generosa... A história de Chico Xavier, contada e recontada de muitas perspectivas é sempre contagiante.

Para o leitor do Correio, transcrevo um encontro inusitado, Chico Xavier, a quem um dia apertei a mão enru-gada após uma noite de psicografia no Centro Espírita Luiz Gonzaga, em Pedro Leopoldo, com o emblemático professor Banerjee, doutor em reen-carnação, bandeirante do conheci-mento espiritual.

Narra a autora, Nena Galves, no re-ferido livro Até sempre Chico Xavier1:

“Gentilmente, Chico pede per-missão a nós para convidá-lo à nossa residência, onde poderiam conversar mais tranqüilamente. Estiveram em casa Chico, o Prof. Banerjee, o casal Dra. Maria Júlia e Dr. Ney Prieto Pe-

O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ!Envie para nós um fato marcante sobre o Espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção. E-mail: [email protected].

MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO

res, Dr. Hernani Guimarães Andrade e algumas outras pessoas. Enquanto aguardávamos a chegada do Dr. Ba-

nerjee, Maria Júlia encantou-nos com músicas ao piano. Esperávamos ansio-samente as coisas que o Prof. Banerjee tinha a relatar de seus estudos.

Todavia, a estrela da noite foi Chi-co, dentro de sua humildade. Chico relatou a todos vários desdobramentos ocorridos com ele e descreveu detalha-damente uma reunião de sábios em local da Índia. Prof. Banerjee mara-vilhou-se com o relato, pois conhecia o local, nunca visitado por Chico em corpo físico. Tratava-se de uma reu-nião fechada, à qual só tem acesso as pessoas autorizadas, pertencentes ao grupo de sábios hindus. Essa evidên-cia comprovou a presença de Chico em espírito.

Prof. Banerjee emocionou-se e chamou-o Mahatma ou Buda.

– This is a holy man! Este é um ho-mem santo!”

1 - São Paulo, Ed. CEU, 2008.

Psicólogo, doutor em Administração. Professor da Universidade Federal de Minas Gerais. Editor do blog Espiritismo Comentado.

Page 14: Correio Fraterno 423

14 CORREIO FRATERNO SETEMBRO - OUTUBRO 2008

A sigla CORT (Cases of Reincarnation Type, ou Casos do Tipo Reencarnação) é o termo adotado pela comunidade científica mundial para as pesquisas da hipótese de reencarnação do ser humano. Milhares de crianças em todo o planeta que recordam vidas anteriores é o foco de estudo para comprovação científica.

O abismo entre o conhecimento religioso e o científico criado na idade média foi vencido pelas grandes descobertas na Paris do século XIX. O início da codificação do Espiritismo, a 18 de abril de 1857, abriu uma nova vertente para reatar a aliança Ciência – Religião. O termo reencarnação, cunhado por Allan Kardec, é hoje adotado pela comunidade científica; atestando a universalidade do conhecimento Espírita. Einstein afirmou que a Ciência sem religião é manca e a Religião sem ciência é cega, e isso fica claro no vazio entre os grandes avanços tecnológicos e o tão pouco conhecimento da própria trajetória existencial do ser humano.

O psiquiatra Ian Stevenson, com mais de 2.700 casos documentados, junta-se a dezenas de outros pesquisadores, na busca de evidências que comprovem a reencarnação. Casos do Dr. Haraldsson, pesquisador da Universidade da Islândia foram base para o documentário produzido pelo National Geographics, com o título Reencarnação – Histórias de vidas passadas. Cabe destacar a história da menina Dilukshi nascida em 1984, no Sri Lanka, que aos três anos falou de uma vida anterior que tinha vivido em Dambulla, chamava-se Shiromi e morreu afogada. Chegando ao povoado conduziu o motorista até a casa onde teria morado, reconheceu objetos e as pessoas e as conduziu à pedra de onde escorregou e caiu no rio, o que lhe foi fatal.

onheci Vinícius* quando ainda mo-cinha e ia com a minha mãe ouvir as suas palestras aos domingos na

Federação Espírita. Eram momentos de grande emoção, encantamento e, princi-palmente aprendizagem espiritual. Ele di-zia que quando chegava lá para palestrar, a sua cabeça estava completamente oca e, ao começar a falar, as palavras vinham aos turbilhões no seu cérebro, descendo até os lábios. Para nós eram como gotas de mel e amor a inundar o ambiente.

Mais tarde o encontrei na escola onde meus filhos estudavam. Era o Educandá-rio Hilário Ribeiro, na Rua Guarará, nos Jardins em São Paulo. Ele era um dos responsáveis pela escola e já estava com bastante idade. Aos sábados Vinícius ti-nha, no período da tarde, um trabalho de Evangelização, onde eu e outras pessoas comparecíamos. E como era emocionante ouvir aquele velhinho, de quase 80 anos, ensinar a doutrina de Jesus. Sempre muito educado, era caprichoso no vestir. Cabelos brancos, olhos claros e meigos e com um conhecimento profundo da doutrina espí-rita. O prazer que nos causavam as suas aulas era tão grande que hoje revivo com grande intensi-dade. Explicava os ensinamentos de Jesus com suavidade, lógica e um carisma que a todos en-cantava. E ao finalizar as aulas, lembro-me bem, ele dizia: agora vamos para a sobremesa, que era ler algo romântico para encerrar a reunião. E lia com grande emoção e doçura um capítulo do livro Plenitude, de Amado Nevo, um escritor ar-gentino.

Vinícius era muito preocupado com a edu-cação. Seus livros, O Mestre na Educação, Na Se-ara do Mestre, Nas pegadas do Mestre, Em torno do Mestre são todos sobre educação. Ele achava que quando todos fossem educados não seria ne-cessário haver prisões, nem penitenciárias. Certa feita, ao inaugurar um orfanato na cidade de Pi-racicaba, falou que se cada família daquelas que ali estavam adotassem uma criança abandonada, não haveria a necessidade daquela inauguração.

Depois das reuniões, eu e meu marido o le-vávamos para a sua casa. Eu me sentia tão feliz como se estivesse transportando alguém especial e único neste mundo.

Vinícius faleceu daí a alguns anos. Quis pas-sar para o outro lado numa cadeira de balanço. Eu fui levá-lo até a morada final do seu corpo, mesmo porque o seu Espírito devia estar bem longe dali em companhia de outros com o seu grau de espiritualidade. Agradeço a Deus pela oportunidade de conhecer Vinícius e aprender com ele a doutrina dos Espíritos.

* Vinícius (Pedro de Camargo) nasceu em Piracicab-SP em 1878. Foi um dos pioneiros no trabalho de educação espírita a crianças, no início do século passado. Desencarnou em outubro de 1966, em São Paulo.

Esta história aconteceu com D. Sylvia. Conte a sua também. Escreva para [email protected]

FOI A

SSIM

… Quando convivi com

ViníciusPor LUIS MENEZES

Por SYLVIA NORONHA DE MELLO SARTI

Estudos científicos da reencarnaçãoC

Page 15: Correio Fraterno 423

SETEMBRO - OUTUBRO 2008 CORREIO FRATERNO 15

materialismo cobre os olhos dos médicos, impedindo a observação da verdadeira cau-

sa das doenças. Da mesma forma que se disseca corpos, será pelo estudo da alma que a cura será conquistada.

Décadas antes do Espiritismo, dois médicos dedicaram suas vidas para o surgimento de uma nova Medicina fundamentada no estudo da alma, rompendo as amarras do materialismo. Mesmer e Hahnemann receberiam o apoio e a defesa dos espíritos da Co-dificação. Magnetismo, Homeopatia e Espiritismo são ciências irmãs, unidas para trazer ao mundo a verdadeira e definitiva saúde integral.

Quando o médico e filósofo alemão Franz Anton Mesmer, a partir de suas meticulosas pesquisas experimentais, registrando por duas décadas a cura das doenças, elaborou sua teoria de uma nova medicina. Ele considerou a possibilidade de a energia vital servir como meio de comunicação da vonta-de do médico, exercendo uma ação di-nâmica sobre a causa patológica de seu paciente. Essa influência terapêutica se processa por um tratamento metódico e progressivo, até que se dê por com-pleta a cura. Estava criada a ciência do Magnetismo Animal.

A comunidade científica negaNum passo seguinte, procurou apre-

sentar suas descobertas à comunidade científica para que fosse pesquisada, de-batida, tivesse suas pesquisas repetidas por inúmeros médicos. Por fim, ima-ginou Mesmer, a medicina abraçaria as evidências da energia vital como lei natural, levando os benefícios do Mag-netismo Animal para toda a humani-dade. Todavia, apesar de todo respeito de Mesmer à metodologia científica, os cientistas receberam o Magnetismo Animal com deslumbramento, descon-fiança, depois negação. Por fim acusa-ram-lhe de charlatão e o Magnetismo Animal de uma falsa ciência.

Em suas Memórias, Mesmer con-

EQU

ILÍBR

IO

Virando a mesa da medicinaPor PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO

tou alguns detalhes de sua luta. Acu-saram-no de ter recusado uma comis-são da Sociedade Real de Medicina. No entanto, explicou Mesmer, qual foi o procedimento dessa comissão? O médico deveria entregar um frasco ou amostra de seu medicamento, que seria lacrada e confiada aos comis-sários. Depois, uma análise química e a observação do tratamento pelos médicos resultaria num relatório para a concessão de um brevet, correspon-dente à atual patente.

O que Mesmer poderia colocar no frasco? Ele mesmo explicou a contra-dição, em Mesmer – A ciência negada e os textos escondidos: “eu não possuo nem pó nem licor para depositar, tam-bém não tenho nem brevet nem privi-lege a solicitar. Certamente não desejo fazer nenhum comércio de drogas. Eis como e por que eu recusei uma co-missão”. Ou seja, a Sociedade Real de Medicina não estava preparada para receber uma teoria revolucionária,

destinada a criar um novo paradigma científico. Mesmer concluiu: “Tenho em mãos uma verdade essencial para o bem da humanidade. Mas não é su-ficiente que eu deseje ser benfeitor dos homens: é ainda necessário que eles aceitem o benefício”.

A luz do EspiritismoDepois de Mesmer, o segundo

benfeitor dedicado a criar uma nova medicina foi Samuel Hahnemann, criador da homeopatia. Além dos remédios homeopáticos, ele tratava seus pacientes com passes magnéticos mesméricos. Magnetismo Animal e Homeopatia compartilham a mesma fundamentação teórica. O tratamento homeopático se vale da energia vital de minerais, vegetais e animais, o Magne-tismo da energia vital humana.

O Espiritismo foi um aliado es-clarecedor dessas duas teorias médi-cas revolucionárias. Allan Kardec fora magnetizador por 35 anos: “O magne-

tismo foi o primeiro passo para o co-nhecimento da ação perispiritual, fon-te de todos os fenômenos espíritas”. Na Revista Espírita de 1867, comple-tou: “Magnetismo animal e Espiri-tismo são duas partes de um mesmo todo, dois ramos de uma mesma ci-ência, que se completam e se explicam um pelo outro”.

Com Espírito, em 1863, Hah-nemann deu uma comunicação à Kardec: “Fui o criador da renovação médica que penetra hoje até nas clas-ses dos sectários da antiga medicina; unidos contra a homeopatia, criaram-lhe diques inumeráveis, exclamando: ‘Não irás mais longe!’. A jovem me-dicina, triunfante, venceu todos esses obstáculos. O Espiritismo lhe será um poderoso auxiliar. Graças a ele, ela abandonará a tradição materialista que, há muito tempo, retardou o seu vôo. A medicina disseca os corpos e deve também analisar a alma”.

A medicina atual, como todas as outras ciências, ainda se mantém cega pela estreiteza do materialismo. O in-teresse econômico faz da ambição um objetivo funesto obstruindo o desper-tar da verdadeira arte de curar. O mé-dico, reconhecendo seu papel como benfeitor da humanidade, compreen-derá o que Kardec propôs, ao afirmar, em A Gênese: “Quando se diz que um médico opera a cura de um doente, por meio de boas palavras, enuncia-se uma verdade absoluta, pois que um pensamento bondoso traz consigo fluidos reparadores que atuam sobre o físico, tanto quanto sobre o moral”.

O médico do futuro será um clí-nico de almas, trazendo na maleta, amor, esperança e solidariedade, dei-xando esses valores fluírem de suas mãos, como o fez, há dois mil anos, o meio rabi da Galiléia.

Diretor do grupo editorial Universo das Letras (Revista Universo Espírita). Autor do livro: Mesmer, a ciência negada e os textos escondidos (Lachatrê). [email protected]

O O materialismo cobre os olhos dos médicos, impedindo que vejam a

verdadeira causa das doenças. Da mesma forma que se estuda minuciosamente o corpo físico, será preciso compreender a

alma para conquistar a cura

Page 16: Correio Fraterno 423

16 CORREIO FRATERNO SETEMBRO - OUTUBRO 2008