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CORREIO FRATERNO SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA Publicação da Editora Espírita Correio Fraterno • e-mail: [email protected] • Ano 43 • Nº 435 • Setembro - Outubro 2010 No Triângulo Mineiro, uma revolução ferroviária levou, para o distrito de Santa Maria, “sinhô Mariano”, um dos precursores do espiritismo na região, e seu sobrinho Eurípedes Barsanulfo. Pág. 7 ssunto por vezes evitado, por preconceito, medo ou dor, o suicídio exige aten- ção. Analisado por Lygia Barbiére Amaral, autora de um romance espírita sobre o tema, e pelo jornalista Andre Trigueiro, é ação que pode ser prevenida, segun- do especialistas, na grande maioria dos casos, mas chama a atenção atualmente por seus índices alarmantes. O espiritismo traz uma vasta literatura sobre a imortalidade da alma e a situação dos suicidas no plano espiritual, revelando aflições, lutas e histórias de superação. A visão espírita da vida previne o suicídio, numa época em que a humanidade atravessa período turbulento, de inseguranças, intensificadas pela busca da fecilidade efêmera. Allan Kardec mostra em suas obras o quanto o espírito é capaz de se realizar e se superar pela fé raciocinada, estando justamente nessa descoberta a base consoladora do espiritismo. Ao saber da sua origem e destinação, cuida melhor de seus atos, ciente de que são as reencarnações suas grandes oportunidades de evolução. Se assim não fosse, tudo seria injusto e descartável. Págs. 4, 5 e 15 A vida por um fio A ISSN 2176-2104 Viagens de um trem espírita Siga o CORREIO FRATERNO no Twitter www.twitter.com/correiofraterno Veja nosso site: www.correiofraterno.com.br Maus políticos. Eles merecem o nosso perdão? Mal sabem eles, os políticos, que nossos atos nefastos têm um peso na balança divina quando atingem pou- cas pessoas. Esse peso é diferente quando aquilo que fazemos atinge negativamente milhares. Nas constan- tes contendas com escribas e fariseus, Jesus deixou cla- ro que aquele que tem autoridade moral pode e deve tentar conduzir de volta aos trilhos aquele que erra. Pág. 6 Espiritismo, o grande desconhecido É preciso estar atento aos escla- recimentos trazidos por Allan Kardec para que não haja detur- pações da verdade, pelo orgulho e vaidade dos homens. A doutrina ainda é nova, mas os conceitos es- píritas vêm dos séculos. Pág. 13 Suicídio

Correio Fraterno 435

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Correio Fraterno, um dos mais conceituados veículos de informação espírita do Brasil.

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CORREIOFRATERNO

SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA

P u b l i c a ç ã o d a E d i t o r a E s p í r i t a C o r r e i o F r a t e r n o • e - m a i l : c o r r e i o f r a t e r n o @ c o r r e i o f r a t e r n o . c o m . b r • A n o 4 3 • N º 4 3 5 • S e t e m b r o - O u t u b r o 2 0 1 0

No Triângulo Mineiro, uma revolução ferroviária levou, para o distrito de Santa Maria, “sinhô Mariano”, um dos precursores do espiritismo na região, e seu sobrinho Eurípedes Barsanulfo.Pág. 7

ssunto por vezes evitado, por preconceito, medo ou dor, o suicídio exige aten-ção. Analisado por Lygia Barbiére Amaral, autora de um romance espírita sobre o tema, e pelo jornalista Andre Trigueiro, é ação que pode ser prevenida, segun-do especialistas, na grande maioria dos casos, mas chama a atenção atualmente por seus índices alarmantes.

O espiritismo traz uma vasta literatura sobre a imortalidade da alma e a situação dos suicidas no plano espiritual, revelando afl ições, lutas e histórias de superação. A visão espírita da vida previne o suicídio, numa época em que a humanidade atravessa período turbulento, de inseguranças, intensifi cadas pela busca da fecilidade efêmera. Allan Kardec mostra em suas obras o quanto o espírito é capaz de se realizar e se superar pela fé raciocinada, estando justamente nessa descoberta a base consoladora do espiritismo. Ao saber da sua origem e destinação, cuida melhor de seus atos, ciente de que são as reencarnações suas grandes oportunidades de evolução. Se assim não fosse, tudo seria injusto e descartável. Págs. 4, 5 e 15

A vida por um fi o

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Viagens de um trem espírita

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Maus políticos.Eles merecem o nosso

perdão?Mal sabem eles, os políticos, que nossos atos nefastos têm um peso na balança divina quando atingem pou-cas pessoas. Esse peso é diferente quando aquilo que fazemos atinge negativamente milhares. Nas constan-tes contendas com escribas e fariseus, Jesus deixou cla-ro que aquele que tem autoridade moral pode e deve tentar conduzir de volta aos trilhos aquele que erra. Pág. 6

Espiritismo, o grande

desconhecidoÉ preciso estar atento aos escla-recimentos trazidos por Allan Kardec para que não haja detur-pações da verdade, pelo orgulho e vaidade dos homens. A doutrina ainda é nova, mas os conceitos es-píritas vêm dos séculos. Pág. 13

Suicídio

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mmanuel, no livro O consolador, explica a diferença entre a dor físi-ca e a dor moral: a primeira é um

fenômeno, vem e passa, ainda que se faça acompanhar pela transição da morte dos órgãos materiais; a segunda é essência, é dor espiritual, bastante grande e profun-da para promover o luminoso trabalho do aperfeiçoamento e da redenção.

Seja lá qual for a dor, do corpo ou da alma, o importante é que se tenha cora-gem, esperança e fé, pois, como também atesta o autor espiritual, se todo espírito tem consigo a noção de felicidade, é si-nal que ela existe, não sempre, porém, como a sonhada pelo homem do mun-

do. A felicidade vai além e, por isso, nem sempre existe para os que ainda não con-seguem contemplar as paisagens exterio-res que os cercam. Contudo, é mesmo no globo terrestre que a criatura edifi ca as bases da sua ventura real, pelo traba-lho e pelo sacrifício a caminho das suas aquisições morais. E aí está a realidade da vida, onde tudo se encadeia.

É com esse objetivo, de refl etir e in-formar, que esta edição acaba de chegar. Trazendo temas importantes, capazes de tornar a caminhada, aqui e agora, mais segura. Temas como a dor, amor, sauda-de, ética, pesquisa se entrelaçam e nos ajudam a entender porque o espiritismo

é considerado ‘consolador’. Que o conhecimento dessa intensa

luz seja realmente um bálsamo nos cora-ções afl itos, mostrando que é na luta pla-netária que se adquire os valores morais para a visão ampla de novos horizontes.

Equipe Correio Fraterno

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CORREIO DO CORREIO

Surpresa no anúncioFiquei emocionado ao receber a edição 434, pois na caixa dos DVDs sobre o Chico Xavier [Publicidade Versátil Vi-deo, pág. 8], vejo uma foto minha com ele, de 1972, quando o entrevistei para o jornal Última Hora, do qual eu era na época repórter.

Zair Cançado, Rio de Janeiro, RJ

Relembrando a LeiNo texto “O outro lado de portas

abertas”(edição 434), a articulista escre-ve que ‘Jesus veio relembrar a Lei’. Não me pareceu muito apropriada a coloca-ção, visto que Jesus é a personifi cação da Lei, e não desempenhou um papel qual-quer, o que o texto poderia sugerir.

Rogério Miguez, por e-mail

Claro que Jesus não desempenhou um papel qualquer, mesmo porque foi o espírito mais elevado que esteve entre nós. Ao cumprir a lei, através de seus exemplos, ele “relembrou”

Envio de artigosEncaminhar para e-mail: [email protected] Os artigos deverão ser inéditos e na dimensão máxima de 4.500 caracteres, constando referência bibliográfi ca e pequena apresentação do autor.

CORREIOFRATERNO

JORNAL CORREIO FRATERNOFundado em 3 de outubro de 1967. Registrado no Registro de Pessoas Jurídicas em São Bernardo do

Campo, sob o n.o 17889. Vinculado ao Lar da Criança Emmanuel - www.laremmanuel.org.br

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Uma ética para a imprensa escrita

Em dois artigos, escritos por Allan Kar-dec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação:

• A apreciação razoável dos fatos, e de suas conseqüências.

• Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros.

• Discussão, porém não disputa. As in-conveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pes-soas sensatas.

• A história da doutrina espírita, de al-guma forma, é a do espírito humano. O estudo dessas fontes nos forneceráuma mina inesgotável de observa-ções, sobre fatos gerais pouco conhe-cidos.

• Os princípios da doutrina são os de-correntes do próprio ensinamento dos Espíritos. Não será, então, uma teoria pessoal que exporemos.

• Não responderemos aos ataques di-rigidos contra o Espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que podem degenerar em persona-lismo. Discutiremos os princípios que professamos.

• Confessaremos nossa insufi ciência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. Longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos. Serão um meio de esclarecimento.

• Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião indivi-dual que não pretenderemos impor aninguém. Nós a entregaremos à dis-cussão e estaremos prontos para re-nunciá-la, se nosso erro for demons-trado.

Esta publicação tem como fi nalidade oferecer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. E ligar, por um laço comum, os que compreendem a doutrina espí-rita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.

Envie seus comentários para [email protected]

ISSN 2176-2104

Dor físicae dor moral

aos homens o que já havia sido “lembrado” por Moisés. Para compreendermos a Lei, que já está escrita na nossa consciência, houve três revelações – A primeira, com Moisés, que trazia a ideia de um Deus único e os Dez Mandamentos); a segunda, com Jesus (que veio exemplifi cá-la, resumindo-a no amor a Deus, ao próximo e a si mesmo), e a terceira, com o espiritismo, que veio explicá-la.Se Jesus é a personifi cação da própria Lei, como governador planetário, esteve espiri-tualmente também nas outras revelações espirituais para a Humanidade. Na segun-da, veio como homem até nós para dar o próprio exemplo e não como simples legis-lador moral.Um abraço da equipe Correio Fraterno

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omeço da tarde de um sábado qualquer. Um grupo de jovens chega à sala de passes para pre-

paração da tarefa. Eles entram, recebem um passe e se sentam junto aos demais adultos. Após o término da preparação, esse grupo sobe ao último pavimento do prédio e recebe os outros participantes.

Estou me referindo à instituição que frequento, a Mocidade Azaluz, do Grupo da Fraternidade Espírita João Ramalho, em São Bernardo do Campo, mas isso pode acontecer de

diversas formas nos inúmeros centros espíritas espalha-dos pelo Brasil.

Toda semana esses jovens reali-zam estudos dos temas da atualida-de, de O evangelho segundo o espiri-tismo e de outras obras da doutrina. Além do estudo, há a integração,

Por ANDRÉ PAIXÃO

Participação jovem renova casas

espíritas

C

algo mais dinâmico para descontração geral dos participantes, e os momentos de música, que proporcionam ale-gria geral e levantam a galera.

Além das reuniões semanais, nosso grupo também promove visitas a orfa-natos, a outras mocidades e mensalmen-te realiza o Evangelho no Lar, na casa de um dos integrantes do grupo.

Há também os encontros da Oscal – Organização Social Cristã-Espírita An-dré Luiz, ao menos três vezes por ano. No Carnaval é realizado em Alto Para-íso de Goiás, GO, um grande encontro nacional, denominado Comemofra – Confraternização das Mocidades Espí-ritas do Movimento da Fraternidade. Nesse evento participam cerca de 350 pessoas de todo o país.

O local é a Cifrater, uma fazenda belíssima na Chapada dos Veadeiros, criada para abrigar crianças carentes das várias regiões do Brasil, e que com o tempo teve sua proposta alterada e hoje mantém suas atividades voltadas para a comunidade em geral. Num cli-ma muito agradável, os jovens estudam e refletem o tema proposto e como o nome já diz, se confraternizam. Mal

acaba a Comemofra já começa a preparação para os encontros regionais, geralmente em maio e outubro. Esses são cha-mados de Pré e Pós-Co-memofra, são realizados pelo país afora e servem

para quem não pôde ir ao encontro na-cional estudar o tema e também para avaliar os resultados da Comemofra e planejar a edição seguinte.

Cabe ressaltar que o papel do jo-vem não deve se restringir, entretanto, somente às atividades da mocidade. Ele deve também aprender mais sobre a doutrina, participar ativamente em ou-tras tarefas na casa – sempre com o aval dos dirigentes e de acordo com sua dis-posição de tempo e conhecimento. Não adianta o jovem sair da mocidade aos 24, 25 anos e não ter se engajado na casa espírita. Essa transição, ou melhor, re-novação natural nas instituições, deveria ser automática, o que nem sempre acon-tece. É assim que ideias novas aparecem, e com elas pessoas dispostas a trabalhar. Os jovens espíritas estão querendo opor-tunidade. Não querem apenas ir à moci-dade, ou fazer o curso da doutrina, mas participar. Fica o recado.

André Paixão é estudante de jornalismo. Site: www.mofra.org.br e mofrasoul.blospot.com

FOTOS: ELISANGELA SILVA

Muita vontade e trabalhoProva da capacidade das mocidades espíritas diante de desafios pode ser de-

monstrada em diversos eventos realizados por jovens. O exemplo mais recente foi a 3ª Noite Cultural, também realizada no GFE João Ramalho, no último dia 18 de setembro.

O evento foi todo organizado pela mocidade. O contato com os artistas, já consagrados no meio espírita, assim como toda a organização foi feita pela equipe da Azaluz. Surgiu em 2007, com base na vontade de um grupo de ami-gos de realizar um encontro que envolvesse a doutrina espírita e a arte em suas diversas formas de manifestação. Contou com 30 participantes, apresentação da peça teatral, encenada pela Mocidade Euzébio, do Grupo de Fraternidade Irmão de Sagres, de São Paulo. Em 2008, o encontro reuniu mais de 100 participantes. Contou com a apresentação do grupo vocal Sementes do Amanhã, de Denis Soares, de Minas Gerais, além de integração e pequena encenação realizada pela Mocidade Euzébio. O evento se fortaleceu e se manteve pela vontade de se rever os amigos e também pela necessidade de se levantar recursos para os encontros de estudos e trabalhos dos jovens, realizado todo ano na Cidade da Fraternidade.

Segundo o coordenador do evento, da Mocidade Azaluz, Antonio Sagrado Lovato, 24 anos, o papel do jovem é semelhante, se não for o mesmo, ao de qualquer outro tarefeiro na casa espírita; talvez a diferença seja apenas o tempo de adaptação à casa e à doutrina. “Estamos tratando de um espírito tão ve-lho como qualquer outro, apenas a carcaça física que é nova”, lembra Toninho, referindo-se ao período de adaptações diversas dos jovens na vida terrena. “Até para lidar com mediunidade nesta idade é bem mais complicado”. Já as tarefas assistenciais, acredito serem até mesmo um quesito necessário nas mocidades, como diz nosso querido Palminha (Espírito bastante ligado ao movimento da Fra-ternidade): “É bom conhecer a realidade desde cedo, para não perder tempo”.

Segundo Toninho, o jovem pode melhorar de muitas formas as casas espíritas, levando renovação de energia e ideias de aprimoramento. “Das músicas à partici-pação nas demais tarefas, o jovem traz renovação, bom ânimo, confraternização e integração de opiniões, muitas vezes diferentes das já massificadas na casa espírita”.

Pintura, música e integração consolidam encontros anuais de jovens

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Escritora desvenda os insondáveis caminhos

do suicídio

Lygia Barbiére Amaral

Por ELIANA FERRER HADDAD

A roteirista e escritora carioca Lygia Barbiére Amaral é casada e mãe de quatro fi lhos - Sophia (12 anos), Alice (9 anos), Estevão (6 anos) e Miguel (7 meses). Morando há 15 anos em Caxambu, MG, formada em jornalismo, pós-graduada em teatro e com mestrado em literatura brasileira, ela se apai-xonou pela literatura ainda menina, o que a motivou mais tarde, inclusive, a ser professora de língua portuguesa.”Mas sempre soube que iria escrever”.

Autora de obras de sucesso , entre elas O jardim dos girassóis, a autora entrelaça as ideias espíritas em emocionantes histórias de personagens que se envolvem com dilemas existenciais, como síndrome do pânico, alcoolis-mo, depressão, regressão de memória e suicídio.

Lygia Barbiére lança agora pela Editora Correio Fraterno uma nova edi-ção, revisada e ampliada, do seu consagrado romance A luz que vem de dentro. E faz questão de salientar que seus livros não são psicografados, mas frutos de muito trabalho e suor. Acompanhe sua entrevista.

Você relaciona o suicídio com obsessão. Isso é sempre uma verdade?Lygia Amaral: Acho que sim. A Laura [personagem principal de A luz que vem de dentro] estava obsediada quando se suicidou. Ela entrou numa sintonia nega-tiva. Acredito que cerca de 80% dos suicí-dios sejam causados por obsessão. É uma questão de instantes, às vezes; em outras, uma ideia que fi ca nos perseguindo.

Você se baseou em caso verídico para escrever seu livro A luz que vem de dentro? Por que a abor-dagem desse tema?Lygia Amaral: Quando tive a minha fi -lha Sophia, ela não queria mamar no pei-to. Foi um desespero pra mim, que tinha me programado para ter parto normal, amamentar. Até dois meses, tentamos tudo o que era possível. Ela ia fi cando magra, com aspecto de doente e eu de-sesperada, até que tudo se resolveu. De-pois de um tempo, um casal de amigos dos meus pais foi nos visitar. Contaram a história de uma moça que também não havia conseguido amamentar, entrou

em depressão e se suicidou. Pensei: Meu Deus, coitada, ela não conseguiu vencer. Aquilo me doeu muito e decidi estudar sobre suicídio. Queria ajudar, e, na me-dida do possível, fazer alguma coisa para que outras pessoas não fi zessem o mesmo.

Você sentiu a ajuda da autora Yvonne Pereira para escrever esse romance?Lygia Amaral: Acho que sim. Eu reza-va muito para ela me ajudar. Em geral, quando escrevo, tenho sempre muita aju-da. E agradeço muito a Deus por isso. Suas obras não são psicográfi cas; exigem muito trabalho de pes-quisa. Quanto tempo você leva para escrever um romance?Lygia Amaral: Leio em torno de 200 obras para cada romance que escrevo, para depois poder pesquisar e relacionar os itens necessários à história. Para escre-ver A Luz que vem de dentro levei nove meses. Realmente A luz veio à luz. (risos)

E por que exatamente esse título?Lygia Amaral: Porque somente a luz

que vem dentro é que pode ajudar tirar as trevas em volta de nós, que geram tan-ta difi culdades e compromissos. Há um trecho na história em que um dos irmãos da moça que se suicidou encontra um bilhete que ela mesma deixou para ele há muito tempo, onde diz que ele tinha que achar a luz que vem de dentro, en-contrar a solução dentro dele. Isso ilustra que o suicídio é uma questão de envol-vimento de um momento da pessoa. A moça, no caso, já havia pensado um dia iluminadamente. Há pessoas que se revoltam, que julgam, mas é preciso ter compaixão do suicida, porque isso pode acontecer com qualquer um de nós.

Mas ainda se fala meio de lado sobre casos de suicídio. Por quê?Lygia Amaral: Isso passa pela cabeça de muito mais pessoas que você imagina. E muitas vezes não se quer falar sobre o assunto por próprio medo. Porque, na verdade, o que mais nos incomoda no outro é o que justamente se tem. A psi-cologia diz isso. E quem não passa mo-mentos difíceis em que surge a ideia de desistir da luta?

O suicídio é isso, para você?Lygia Amaral: Sim. É você desistir da oportunidade que tem de crescer e apren-der na vida. É você acreditar que não con-segue mais. É preciso saber que nada está fora do lugar. E que estamos preparados para dar conta do recado, inclusive da dor por que passamos. O conhecimento da vida, numa visão aberta para a espiri-tualidade, só ajuda você a pensar antes de se enganar, de se desesperar. Acho que o suicídio, principalmente, acontece muito mais porque não se conversa a respeito das tristezas, das angústias. Quanto mais eu puder externalizar, mais possibilidades terei de me sentir acolhida, de pedir aju-da para outras pessoas.

Na sua opinião, falta contato en-tre as pessoas. Está faltando om-bro amigo?Lygia Amaral: Sim. Não podemos es-quecer que um desespero, uma desilu-são, pode desencadear o suicídio numa fração de segundos. No Congresso Es-pírita de Brasília, uma mensagem de Yvonne Pereira mostrou que um grupo de suicidas foi desarticulado durante o

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evento e que eles queriam levar mais gente dessa forma. (Leia a mensagem em nosso site.) Ela fala que o momento que atravessamos é seriíssimo. Há alguns es-píritos que, depois que cometem o sui-cídio, querem levar outros para a mesma situação, por vingança, diversão ou ig-norância, porque ainda não despertaram para a luz. Eles se aproveitam dos nossos momentos de fraqueza.

Por que há tanto suicídio? (Leia texto de André Trigueiro, na pág. 15)Lygia Amaral: Porque precisamos ter uma visão mais espiritualista da vida. Descobrir e compreender realmente o que estamos fazendo aqui. Não estou na Terra apenas para comprar roupas, sapatos, carro novo, ir para churrasco ou balada. Os valores estão muito de-turpados; muitas vezes nem são pas-sados de pais para fi lhos. Muitos não dão conta de criar, quanto mais de passar valores. Aí se sentem culpados e substituem essa tarefa por dar coi-sas, presentes. Contudo, não tapam o vazio que fi ca, a falta de esperança, de perspectivas, de crença em si mesmo, nos próprios valores. O homem veio ao mundo para servir e ser útil. Quem se sente útil não pensa em suicídio.

Você concorda que muitas pesso-as se decepcionam com a falta da felicidade ilusória estampada nas capas das revistas: a mãe perfei-ta, a mulher sensual, o executivo bem-sucedido, a família feliz...Lygia Amaral: Não podemos nos en-tregar a essa ilusão, senão tudo fi ca mui-to superfi cial. Ao se viver esse mundo de Hollywood, acaba-se deslumbrado, perdendo-se a noção da tarefa, do que se veio fazer aqui. Quando você está fa-zendo aquilo para o que veio, você se sente bem com você mesmo e com o próximo. Que solução você daria para a sociedade materialista, que valo-riza o glamour, a posse, o poder ?Lygia Amaral: Perceber que tudo isso é transitório. Como digo sempre a meus fi lhos, você não pode levar um sofá para o mundo espiritual. Nem um computador. São coisas materiais, que fazem parte deste contexto de vida aqui. Mas a nossa sociedade, infeliz-mente, valoriza tanto o material, o ilu-

sório que o desejo de felicidade acaba se desvirtuando. Nas suas pesquisas, o que mais lhe chamou atenção?Lygia Amaral: Em 2001, o suicídio já era considerado a terceira causa de mor-te de jovens no Brasil, perdendo apenas para homicídios e acidentes de trânsito. A mesma reportagem informava que os jovens tinham entre 15 e 24 anos e que este número havia aumentado cerca de 40% só entre 1993 e 1998. Pelo que li recentemente, o quadro só piorou de lá para cá.

Não seria uma desistência do espírito, quando ele começa a assumir as suas tarefas, a sua re-encarnação?Lygia Amaral: Não sei. Acho que tam-bém é muita droga e muito álcool. Eles acabam se destruindo, fi cando muito loucos, assediados por obsessores. Be-bem antes de ir pra balada, durante e de-pois; se drogam até se sentirem fora da realidade, para “fi car bem”. Depois pe-gam o carro, correm e morrem. Quan-do não, vão fi cando desequilibrados em meio a tantos devaneios. E aí as portas realmente se abrem. Foi uma escolha.

Você sente saudades de seus personagens?Lygia Amaral: Alguns realmente mar-cam a gente. A Laura [de A luz que vem de dentro], por exemplo, era bailarina. Ela se joga de um edifício. No mundo espíritual, percebe que para voltar à re-encarnação, precisará valorizar o que destruiu. Em determinado momento da história, ela pergunta ao médico sobre suas difi culdades, limitações futuras: “...mas eu nunca mais vou poder dançar?” Isso me emocionou muito. Passado al-gum tempo, fui a um espetáculo de balé. Chorei tanto! Parece que eles ganham vida própria depois que a gente acaba o livro. A gente sente saudades.

Como você costura suas histó-rias? O que é, afi nal, escrever um romance?Lygia Amaral: Eu tenho regras. Fiz o curso de ofi cina de roteiros, na Globo. Tenho formação para escrever teleno-velas. Há a parte técnica, determinados pontos que têm que ser marcantes na história para se criar suspense, os gan-

chos, os pontos fortes. Desde o começo sei o fi m a que quero chegar. Um ro-mance, por exemplo, não pode ter ape-nas o tema central. É preciso que se rela-tem outras histórias sobre outros temas interessantes, que despertem a leitura, como se fi zéssemos uma linda embala-gem para presente, criando curiosidade, expectativa.

E o que você tem a dizer sobre quem critica os romances espíri-tas. Eles aproximam ou distan-ciam da realidade?Lygia Amaral: Não se trata de uma ilu-são. Os meus romances são baseados, sim, na vida real. Como fazia Janete Clair, eu busco um fato atual, um recor-te da vida e trago para dentro do tema que quero explorar. Há um preconceito muito grande com relação aos romances. Fico profundamente incomodada quan-do ouço: ah, não se pode só ler romance, tem que estudar para entender o espiri-tismo. Ora, assim como existem as mais diversas religiões para as mais diversas pessoas e tipos de entendimento, assim também é com a literatura. O romance é uma maneira mais fácil de se assimilar conceitos. E, para isso, tenho todo um trabalho como escritora. O maior elogio que posso receber é saber que uma pes-soa que nunca leu, começa a se interessar por leitura, ao ler um dos meus livros. E o meu objetivo é dar a minha contribui-ção ao maior número de pessoas.

E no caso do suicídio...Lygia Amaral: Se eu conseguir passar alguma informação para que as pessoas saibam como é o suicídio e pensem duas vezes antes de fazer qualquer coisa, já vou fi car muitíssimo feliz. Que a história consiga ser uma ruptura no pensamen-to, porque o conhecimento faz o con-traponto na hora de qualquer impulso. Meu objetivo em todos os livros é fazer as pessoas pensarem, terem a informa-ção espírita. O objetivo não é dar lição de moral. Cada um conclui o que quiser. Passo a minha leitura sobre os temas e divido com o leitor.

Você se angustia quando escre-ve? Como é o sentimento do es-critor enquanto está desenvol-vendo uma obra?Lygia Amaral: É muito difícil. Mas escrever, para mim, sempre foi uma ne-

cessidade. Lendo entrevistas de grandes escritores, Jorge Amado, Rubem Braga, que descrevem exatamente aquela angús-tia que sinto, vejo que faz parte. Quando a gente nasce com isso, tem que escrever, porque se não colocar para fora, come-ça a intoxicar e você acaba adoecendo. Quando estou criando, tudo está ótimo. Quando escrevo um capítulo legal, fi co feliz, porque consegui fazer o meu tra-balho. Em compensação, no dia em que não rende sinto uma tristeza profunda, uma sensação de incompetência, fi co zangada comigo mesma. É muita pes-quisa, muita transpiração. Claro que há a inspiração, como em quaquer traba-lho. Tenho uma ajuda imensa da espi-ritualidade, à qual tenho uma gratidão sem tamanho. Mas meus livros não são obras psicografadas. Tenho certeza. Fico megulhada na vida dos personagens, tentando compreender o universo de cada um, buscando a coerência das suas reações. Quando encerro uma história, choro. É uma despedida em todos os sentidos. Você sente que existe além dos personagens toda uma equipe espiritual que trabalhou junto e que ela também termina seu trabalho e vai embora. É muito emocionante, como as cenas de bastidores de último capítulo de novela. Fico em estado de graça.

A quem você recomenda esse seu livro?Lygia Amaral: A todos os que tenham vontade de entender um pouco sobre o tema. Procurei falar de uma manei-ra bem ampla, como para onde vão os suicidas, como é a organização, o que sentem, como se recuperam e o que podemos fazer por quem, infelizmen-te, se suicida. E que não existe aquela história: não posso fazer mais nada por aquela pessoa que já se foi de uma ma-neira tão triste. Não. Pode-se fazer ainda muita coisa, através do auxílio da prece, enviando-lhe fl uidos positivos que a desperte para recomeçar. Nada está aca-bado. Também é próprio para qualquer idade. Minha fi lha de doze anos está lendo A luz que vem de dentro. Foi uma iniciativa dela, fi quei preocupada se era a hora certa. Mas ela parece tão empol-gada, tão satisfeita que acabei perceben-do que era uma decisão que não cabia a mim. Acredito que os livros – todos os livros – têm o “poder mágico” de atrair quem está precisando deles.

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6 CORREIO FRATERNO SETEMBRO - OUTUBRO 2010

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MO

SAIC

O

m texto meu recente, havia me manifestado quanto às aberra-ções com que frequentemente

nos deparamos no rádio e nos telejor-nais, a respeito das atitudes de muitos de nossos políticos. É o nosso dia a dia, já conturbado constantemente, sendo poluído pelas notícias sobre de-sonestidades.

Nesse texto calcado em informa-lidade, eu falava hipoteticamente de que para conhecer as instalações do Congresso só deveriam permitir pes-soas maiores de 21 anos... E fazia alu-são, obviamente, a uma casa que não tem dado bons exemplos nos últimos anos. Mal sabem eles, os políticos, que nossos atos nefastos têm um peso na balança divina quando atingem poucas pessoas. Esse peso é diferente quando aquilo que fazemos atinge ne-gativamente milhares de pessoas.

Foi quando li um texto de um publicitário que usa o cognome de Zinho, postado em seu blog Ninguém perguntou. O autor afirmava que “no Brasil, perdura o hábito de perdoar muito e exigir pouco de nossos gover-nantes [os políticos estão incluídos]. Inclusive, quanto mais perdoamos, mais nos afeiçoamos a eles — e nos dispomos a perdoar cada vez mais, como se o político fosse uma espécie de cachorrinho travesso”.

Esse texto me levou a uma refle-xão sobre o perdão. E sobre até onde vai nosso dever de perdoar indistinta-mente. Jesus, nosso mestre e modelo maior, sempre enfatizou a necessidade de exercitarmos a virtude de perdoar como condição sine qua non para que o Pai Criador também nos perdoe. Ao exaltar a misericórdia que devemos utilizar para com quem nos ofende, o Mestre deixa claro que toda mágoa retida impede que as nossas preces alcancem o objetivo. Quantas ve-

Perdoar os maus políticos?

Por ARISTIDES COELHO NETO

E zes perdoar? Metaforicamente, Jesus menciona “setenta vezes sete vezes”. Quis na realidade dizer — quantas vezes forem necessárias. Saber perdo-ar, assim, seria o termômetro que in-dicaria o quanto somos desenvolvidos espiritualmente. Ou o quanto ainda temos de caminhar.

Nas constantes contendas com escribas e fariseus, Jesus deixou claro que aquele que tem autoridade mo-ral pode e deve tentar condu-zir de volta aos trilhos aquele que erra. Assim, per-d o a r

não tem o sentido de “não corrigir”. O mestre, em muitos momentos de sua trajetória deixa claro que não se deve mesmo é alimentar ódio destrutivo por aquele que nos ofende. Isso nos prejudica sobremaneira.

Consultei a pergunta 661 de O li-vro dos espíritos, inserida no subtítulo ‘Prece’. Sempre pensando nos nossos políticos, examinei a resposta à inda-gação formulada por Kardec: “Pode-remos utilmente pedir a Deus que perdoe as nossas faltas?”. A resposta é: “Deus sabe discernir o bem do mal; a prece não esconde as faltas. Aque-le que pede a Deus o perdão de suas faltas só o obtém se mudar de condu-ta. As boas ações são a melhor prece, porque os atos valem mais do que as palavras”.

Minhas dúvidas se dissiparam. Não me senti na obrigação de perdoar polí-ticos que de forma recorrente cuidam do seu próprio bem em detrimento do

bem de todos, utilizando-se malicio-samente de seu cargo e de seu prestí-gio, nadando em privilégios e sempre querendo mais. Devo apenas entender que ainda não sabem o que fazem. Eles estão acumulando dívidas que só serão anistiadas por meio da mudança de conduta, e do resgate até o último centavo. O meu dever de cristão é não me revoltar — eles são irmãos de ca-minhada, em processo de evolução, e responderão pelos seus atos.

Não me julgo na obrigação de perdoá-los. Quem vai perdoá-los é Deus, na hora exata, se merecerem e fizerem por onde. Enquanto isso, pos-so, sim, exercer meu papel de cidadão, não compartilhando com atitudes er-radas, sem nutrir qualquer rancor. E denunciando, quando for o caso, se isso se constituir como interesse cole-

tivo (imaginem o que não seria de nós se a imprensa — a isenta — não mais se aventurasse a desvendar falcatruas e divulgá-las...). Não digam que a justi-ça dos homens não é necessária. Não há espírita que deixe de lado a segu-rança pública, confiando somente na providência divina.

Imprescindível que eu não me es-queça da eficácia da prece, não para que aconteça um milagre que trans-forme políticos em pessoas dignas, mas para que a luz da compreensão espiritual os envolva e os faça refle-tir sobre a Justiça Divina, que tarda mas não falta. E os faça refletir sobre a sábia e reconfortante lei de causa e efeito, uma dádiva de um Pai Miseri-cordioso, infinitamente justo e sábio. E que está atento. Sempre.

Arquiteto, professor e articulista espírita — www.aristidescoelho.com.bre-mail: [email protected]

“Oremos quanto ao que pode

vir de nós mesmos... Se o fizer-

mos antes, sairemos de nosso

ponto de vista, analisaremos

nossa vida e propósitos, impul-

sos, à luz da imortalidade, da

justiça e da fraternidade.”

“Bons espíritos não afastam o mal

que nos serve de prova ou apren-

dizado, mas nos ajudam a pensar.”

“Desencarnados, estaremos

de volta à vida espírita, nosso

estado natural no plano fluídi-

co, invisível; mas não seremos

fantasma nem assombração e

sim nós mesmos, com nossa

individualidade, memória,

aptidões, defeitos, virtudes e

também, afetos.”

“Quem está inspirado pelo

amor age com calma e perseve-

rança e só faz o bem.”

“Aquele que ama não se irri-

ta nem se descontrola, não se

melindra nem se ofende, não se

alegra com a injustiça, pois que

não beneficia o próximo, mas

se regozija com a verdade, por-

que somente ela constrói o bem

de todos de modo duradouro.”

Fonte: Na luz da mediunidade, Therezinha Oli-

veira. Ed. Allan Kardec.

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SETEMBRO - OUTUBRO 2010 CORREIO FRATERNO 7

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Viagens de um trem espírita

stamos no início do século 20, nas terras do Triângulo Mineiro. A ferrovia Mogiana é um grande

meio de transporte, indo e vindo de um canto do país até outro.

Em meio a essa revolução ferroviária, o pequeno distrito de Santa Maria, per-tencente à cidade de Sacramento, con-tinua sua revolução espiritual, iniciada com a chegada de Mariano da Cunha Júnior, carinhosamente chamado como “sinhô Mariano”, um dos precursores do espiritismo na região, o qual foi para seu sobrinho Eurípedes Barsanulfo, nas devidas proporções, o que João Batista foi para Jesus.

Eurípedes Barsanulfo, conhecido como apóstolo da caridade, aceitou o espiritismo após a leitura do livro De-

pois da morte, de Léon Denis, apresen-tado a ele pelo sinhô Mariano, depois de horas de debate sobre o espiritismo, exemplar enviado ao sinhô Mariano por Leopoldo Cirne, naquela época presidente da FEB, também por meio da ferrovia... Posteriormente, Eurípe-des pôde participar de reunião medi-única com o seu tio, em Santa Maria, onde percebeu que o livro que o encan-tara não era somente uma bela filosofia. Tratava de uma realidade. Mesmo após o desencarne de Eurípedes Barsanulfo, em 1918, sinhô Mariano continuou sua missão em constante trabalho con-sagrado ao espiritismo.

Algumas vezes, era encarregado por seus guias espirituais para dirigir-se a ci-dades distantes para esclarecer e auxiliar

Por TIAGO DE LIMA CASTRO

E

O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ!Envie para nós um fato marcante sobre o Espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção.

E-mail: [email protected].

pessoas com problemas de obsessão espi-ritual, viagens realizadas graças à ferrovia, que além de levar progresso, comércio, cultural a todo o país, também transpor-tava pessoas como sinhô Mariano, e ou-tros “bandeirantes espíritas”, como João Leão Pitta, Batuíra, entre outros...

Mas sinhô Mariano não seguia sozi-nho nestas viagens. Levava uma equipe aos locais endereçados pelos espíritos. Os familiares de um de seus acompa-nhantes, Nicomedes Alves da Silva, contam que devido ao grande número de viagens realizadas, tanto nestas cara-vanas conduzidas pelo sinhô Mariano, como para outros fins, a ferrovia fez uma caderneta onde anotava a quilo-metragem das viagens por ele realizadas, para que ele pagasse por quilômetro via-

jado, ou seja, um verdadeiro plano de milhas em pleno início do século 20!

Quantos destes quilômetros de viagens não foram acompanhando o sinhô Mariano em suas peregrinações, ou melhor, quantas não foram verda-deiras viagens de trem espíritas...

Fontes: Sacramento: religiosidade e fenômenos mediúni-cos, Eduardo C. Monteiro, Correio Fraterno, Jan./ Fev. 2005.Batuíra – Verdade e luz, Eduardo C. Monteiro.100 anos de comunicação espírita em São Paulo, Eduardo C. Monteiro.Cem anos de evangelho com Eurípedes Barsanul-fo, Eduardo C. Monteiro.

Bisneto de Nicomedes Alves Silva, Tiago de Lima Castro ([email protected]) é professor de músi-ca, expositor no IEEF -Instituto Espírita de Estudos Filosóficos.

Em foto da década de 80, Tiago encontra-se no colo do bisavô

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8 CORREIO FRATERNO SETEMBRO - OUTUBRO 2010

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SETEMBRO - OUTUBRO 2010 CORREIO FRATERNO 9

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Liga dos Pesquisadores Espíritas renova compromissos em encontro nacional

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As surpresas da cidade espiritual Nosso Larde Isabel Scoqui e Marco Antônio Vieira192 páginas14x21 cm

Jonathan, o pastor De Josephopsicografada por Dolores Bacelar160 páginas14x21 cm

A temática espírita na pesquisa contemporâneade autores diversos240 páginas14x21 cm

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arcado pelo debate e tro-ca de informações, o 6º Encontro Nacional da Liga dos Pesquisadores

Espíritas, realizado em 21 e 22 de agos-to, em São Paulo, cumpriu mais uma vez com sua principal proposta: incentivar a amplitude de temas em pesquisas e res-peitar a diversidade de opiniões.

Criado em 2002, despertando o inte-resse de historiadores e pesquisadores de 14 estados brasileiros, e também de paí-ses como Áustria, Suécia, Inglaterra, Es-tados Unidos e Portugal, esse grupo,com marcante participação virtual, surgiu por idealização do pesquisador espírita Edu-ardo Carvalho Monteiro, que desencar-nou em dezembro de 2005. O objetivo sempre foi o de intercâmbio de ideias, ao reunir pela internet estudiosos e inte-ressados na temática espírita. Muitos de seus participantes, inclusive, passaram a ser os responsáveis por levar o espiritismo às bancas de mestrado e doutorado das universidades, o que motivou a criação da coleção Espiritismo na Universidade, que reúne em livros as teses espíritas. O primeiro volume da série – a tese de doutorado Voluntários (Jáder Sampaio-UFMG) – foi lançado no ano passado.

O segundo, Unir para di-fundir (douto-rado defendido por Jeferson Betarello, em Ciências da Religião - PUC-SP) foi lançado durante o 6º. Encontro.

Segundo Jáder Sampaio, um dos res-ponsáveis pelo evento e pela edição dos livros, ambos tiveram bom acolhimento no ambiente universitário. “O primeiro tornou-se a base da disciplina Motivação, Cultura e Terceiro Setor, em curso e com ampla adesão dos alunos da Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais; o Voluntários terá sua resenha publicada por uma das revistas mais prestigiadas da área de Psicologia Organizacional e do

Trabalho no Brasil, a RPOT”. O trabalho do grupo tem se voltado

também para a documentção e divulga-ção das pesquisas mais recentes, tanto que a Liga e o CCDPE passaram a pu-blicar os anais dos encontros presenciais, com seus respectivos conteúdos - Pesqui-sas sobre o espiritismo no Brasil: Textos sele-cionados (2009) e A temática espírita na pesquisa contemporânea (2010).

Jáder acredita que os desafi os futuros não serão menores, envolvendo assuntos relevantes como a sistematização das pes-quisas e a presença dos núcleos de pesquisa nos encontros anuais da Liga, bem como o incentivo à recuperação da memória es-pírita. “É necessário que os pesquisadores, universitários ou não, das diversas áreas, façam pesquisas continuamente e que es-crevam os resultados dos seus trabalhos, não para participar de um evento, mas como uma atividade contínua. O evento é uma oportunidade de apresentação e di-álogo, mas não deve ser visto como vitrine e sim como reunião de trabalho. Este tem sido o esforço das fundações de fomento à pesquisa no Brasil, e esta mentalidade encontra-se em franca mudança.”

Veja os resumos dos trabalhos em nosso site www.cor-reiofraterno.com.br

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CEUDa REDAÇÃO

1) Anna Lídia Gomes apresenta pesquisa sobre o espiritismo em Uberaba. 2) Jáder Sampaio e Júlia Nezu 3) Autora Tatiana Benites autografando seu livro Tem espíritos no banheiro?

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10 CORREIO FRATERNO SETEMBRO - OUTUBRO 2010

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BER!

ara compreender essa parti-cularidade da arquitetura de Nosso Lar precisamos remon-

tar à história, atentar para os fatos que regem a formação das cidades espirituais, colônias de transição que servem para trabalho e aprendizado de espíritos ainda condicionados aos hábitos do mundo.

Criada no século 16 por portu-gueses que desencarnaram no Brasil, a colônia Nosso Lar, afeita ao nosso país, era habitada pelos espíritos dos índios, que o povoavam com suas ta-bas em meio a fl orestas. Os portugue-ses estabeleceram seus edifícios, com trabalho perseverante e solidariedade. No início, as moradias eram muito ligadas ao mundo físico; “ninguém suportava a ausência de notícias da parentela comum”, conta André Luiz. Boatos disseminavam afl ição e calamidades, “a cidade era mais um departamento do umbral, que propriamente zona de refazimento e instrução”. Por volta de 1750, o Governador proibiu o intercâmbio generalizado.

Com o passar dos séculos, nossa sociedade materialista criou insti-tuições egoístas. Escravidão e mor-domias marcaram a nossa história, povoando-se poucos palácios e mui-tos cortiços. Indivíduos que aqui exigiram regalias e vantagens, viviam dores e remorsos no outro lado da vida. Aos poucos, milhões de almas sofredoras construíram fl uidicamente com suas mentes as densas paragens do umbral. Conforme descreve An-dré Luiz, Nosso Lar está construído em terras contíguas ao umbral, com diversos caminhos, em meio às suas fl orestas, que conduzem os socorris-tas àqueles ambientes de sofrimento.

Por volta de 1850, almejando no-vas metas de estudo e superação do

apego como disciplina da colônia, o Governador propôs o fi m de alguns abusos. Num processo longo de conscientização, alguns rebeldes pro-moveram manifestações. “Tudo isso provocou enormes cisões nos órgãos coletivos de Nosso Lar, dando ensejo a perigoso assalto das multidões obs-curas do umbral, que tentaram in-vadir a cidade, aproveitando brechas nos serviços de Regeneração, onde grande número de colaboradores en-tretinha certo intercâmbio clandesti-no, em virtude dos vícios de alimen-tação”. O Governador determinou, então, medidas fi rmes: “proibiu tem-porariamente os auxílios às regiões inferiores, e, pela primeira vez em sua administração, mandou ligar as bate-rias elétricas das muralhas da cidade, para emissão de dardos magnéticos a serviço da defesa comum. Não houve combate, nem ofensiva da colônia, mas resistência resoluta”.

Nosso Lar está no mesmo plano que o umbral e os altos muros co-bertos de trepadeiras fl oridas fazem parte da arquitetura da colônia de transição para esferas mais elevadas. Vale lembrar que o fi lme Nosso Lar, como toda obra cinematográfi ca, é fi cção e arte, refl etindo as ideias, juizo e emoções de seus autores. Já o livro Nosso Lar não é uma fi cção, mas o relato autobiográfi co de André Luiz após a morte, trazido pela psicogra-fi a de Chico Xavier. Com a evolução nos dois mundos, a regeneração da humanidade terrena banirá as dores e, com muito trabalho e solidarieda-de, o umbral será esvaziado de pensa-mentos densos. Já estamos escreven-do o fi nal dessa história.

Administrador de empresas, autor do livro Mes-mer, a ciência negada e os textos escondidos. Ed. Lachâtre. E-mail: [email protected]

Para que servem os muros de

Nosso Lar?Por PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO

P

Assisti ao fi lme Nosso Lar e fi quei intrigada com um fato. Para que servem os muros em volta da colônia?

Pergunta de Denise Albuquerque Lemos, São Paulo, SP

Todo mundo é irmão?Por TATIANA BENITES

– Paaaaaai! Entra Laurinha gritando na sala.– Paaaaaai!– Fala, Laurinha. O que aconteceu?– Lembra que eu te falei que descobri lá no centro que Deus era o pai e Jesus era o fi lho?– Lembro.– Você não sabe o que eu descobri agora.– O quê?– Que Jesus era nosso irmão.– Isso mesmo.– Não, pai, você não está entendendo. Hoje eu descobri que Jesus era nosso irmão e que todo mundo é irmão.– É fi lha.... – Laurinha interrompeu.– Sabe por quê? Porque todos nós também somos fi lhos de Deus. Você sabia?– Sabia, fi lha.... – e antes que ele terminasse, Laurinha já respondeu...– Não sabia, não, pai. Porque eu descobri hoje e sabe o que mais? Você é meu irmããããão!!! –gritou Laurinha – Vê se pode uma coisa dessas!– Filha, calma! Sente-se um pouco. Se você considerar que Deus é pai de todos nós, temos que considerar também que todos somos irmãos, porque somos to-dos fi lhos de Deus! Mas...Laurinha coloca as mãos no rosto, numa interjeição de espanto, olha bem para o pai e diz:– Pai, você não está entendendo. Se todos nós somos irmãos e Deus é o pai de todos, por que eu tenho que te chamar de pai se você é meu irmão?– Laurinha, deixa eu te explicar...Laurinha levanta do sofá com a cabeça baixa e fala:– Não precisa pai, me deixe aceitar primeiro que eu não conheci meu pai, um irmão morreu na cruz e que meu pai não é meu pai, é meu irmão... Será que a gente pode conversar depois? É que está sendo difícil de entender.– Está bem, fi lha, depois a gente conversa – respondeu seu pai com um sorriso nos lábios. Laurinha foi para o quarto, ainda inconformada e se jogou na cama.Seu pai já tinha começado a ler seu livro novamente quando de repente a Lauri-nha surge gritando:– PaaaaaaaaaaaaaaaiiiiSeu pai leva um grande susto e pergunta:– O que foi?Ela para em frente de seu pai e diz:– Estou muito mais assustada agora! Sabe por quê?– Por quê? – pergunta seu pai sorrindo.– Porque se todo mundo é irmão, signifi ca que a mamãe também é minha irmã e que vocês são irmãos e são CASADOOOOOOOOOOOOS!!!! – e se joga no sofá.– Calma, fi lha! Deus é pai de todos e criou todos nós para que formássemos fa-mílias, por isso temos também na Terra outro pai, mãe, irmãos.– É mesmo? – perguntou se acalmando?– Sim, é por isso que somos tão felizes, sendo todos irmãos, mas tendo uma família.– Ufa! Ainda bem que é assim, estava pensando que éramos um monte de famí-lias de pecadores.Seu pai sorriu, abraçou Laurinha e perguntou:– Está mais calma agora?Laurinha pensou, pensou e disse:– Pai, eu não quero que o Rex seja meu irmão... Ele come meias sujas!... Fala pra mim que os cachorros são irmãos de mentira, por favor!

COISAS DE LAURINHA

– Lembra que eu te falei que descobri lá no centro

– Não, pai, você não está entendendo. Hoje eu descobri que Jesus era nosso irmão e que todo mundo é irmão.

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SETEMBRO - OUTUBRO 2010 CORREIO FRATERNO 11

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ENSA

IO

Preciso de palha. Preciso de tempero.Preciso de carinho

o princípio, foi a internet. E todos viram que era uma coi-sa boa. Depois vieram os sites,

os e-mails, os sistemas de mensagens instantâneas e as redes sociais. E então vieram os joguinhos online. Para quem (ainda) não sabe, são jogos eletrônicos jogados pelo computador, com um os mais participantes que não necessaria-mente precisam estar no mesmo local. Basta estarem num computador conec-tado à internet.

Nas redes sociais, estão se tornando prática comum os jogos onde cada um tem sua lojinha, sua fazenda, seu restau-rante, sua ofi cina... O objetivo é pros-perar, ganhar ‘dinheiro’, juntar ‘clientes’ (os amigos), trocar presentes, ajudar os ‘vizinhos’ a crescer, passando por etapas que vão permitindo ampliar o próprio ‘negócio’. Então, surge o efeito previsí-vel: os jogos estimulam o petitório entre os amigos. Quanto mais amigos, mais se prospera. E aí o jeito é fazer mais ami-gos, para pedir mais e mais ajuda, ainda que entre pessoas que você não conhece ou nem tem o mínimo de intimidade. Neste ponto, avança-se sobre a tênue linha que separa o prazer de jogar pela ansiedade descontrolada. Não é um sin-toma novo: desde que se tornou parte do cotidiano das pessoas, a internet e seus serviços despertam uma necessida-de compulsiva de se estar conectado. A lavoura virtual não pode secar.

Na década de 1970, o sociólogo ame-ricano Robert Weiss escreveu que exis-tem dois tipos de solidão: a emocional e a social. A primeira seria um “sentimento de vazio e inquietação causado pela falta de relacionamentos profundos”. A se-gunda, solidão social, é o sentimento “de tédio e marginalidade causado pela falta de amizades”. Não são poucos os estudos feitos em diversos países do mundo que reforçam tese de que os sites de relaciona-mentos diminuem a solidão social, mas aumentam signifi cativamente a emo-cional. Um estudo da Universidade de

NPor GEORGE DE MARCO

Sydney, Austrália, feito em 2009, mos-trou que pessoas que usavam a internet como uma ferramenta de comunicação, tinham um nível menor de solidão social. Já os que utilizavam a rede para fazer ami-zades, apresentaram um grau de solidão emocional considerável.

É fácil entender: uma amizade virtu-al, como o próprio nome diz, não é físi-ca. Não tem contato, não há uma reação emocional aparente. Como não sabe-mos o que estamos causando, nos expo-mos muito além do comum (e do neces-sário). As relações se tornam superfi ciais, enquanto as mais afetivas, baseadas na reciprocidade, princípio da verdadeira amizade, se perdem. Num momento di-fícil, o ombro amigo é substituído pelo teclado frio, pelo mouse silencioso. E você nunca saberá se a pessoa do outro lado da tela está, de fato, conectada a você pelos liames do sentimento verda-deiro. A amizade é um dos muitos tipos de laço de amor entre as criaturas, mas nem todos possuem mãos hábeis para atar estes laços. Curiosamente, um es-tudo recente feito por cientistas da Uni-versity College de Londres comprovou que um aperto de mão forte, decidido, convicto, pode mesmo indicar o estado de saúde e a longevidade da pessoa.

Nas redes sociais, prevalece a amizade por conveniência. O nível de afi nidade,

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tras tarefas – inclusive jogando.Falando de lavoura e amizade, mas

as reais, no livro Vinha de luz, Emma-nuel, pela psicografi a de Chico Xavier, comenta que “existe uma ciência de cultivar a amizade e construir o entendi-mento”. E nos lembra que não é possível colher, sem semear. A amizade surge do esforço que dedicamos à aquisição do amor. Se queremos amizades fi éis, pre-cisamos ser fi éis aos nossos atos, palavras e atitudes, porque aqueles que temos na conta de amigos esperam isso de nós.

Atentemos para o conselho de Em-manuel: examinemos, diariamente, nos-sa lavoura afetiva tal qual fazemos com nossas lavouras virtuais. Precisamos estar atentos para não exigir demais de nossos amigos, pois amizade surge da confi an-ça, da certeza de sermos úteis, sem exigir algo em troca, ainda que seja palha, co-mida, cavalo, carinho...

Cultivar amizades sinceras é colher paz, alegria e progresso na senda espiri-tual que nos aguarda.

George De Marco é jornalista, publicitário e radia-lista. Realiza atividades como expositor e educador de mocidade espírita. E-mail: [email protected]

ou a falta dela, fi ca explícito. Bloqueia-se esta ou aquela informação, ignora-se ou deleta-se este ou aquele fulano, para, mais adiante, em sendo preciso, adicioná-lo novamente. Ninguém mais precisa atu-rar, suportar ou dividir o mau momento de alguém, se não quiser. Ou pode fi n-gir que se importa, afi nal ninguém está vendo, de fato, se ele está preocupado ou não com aquilo. Ao dividir um momen-to difícil pela internet, seu interlocutor pode estar teclando com inúmeras ou-tras pessoas, fazendo um monte de ou-

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12 CORREIO FRATERNO SETEMBRO - OUTUBRO 2010

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AG

END

A

8º CONEC em Serra NegraDe 15 a 17 de outubro, será realizada no

Centro de Convenções, em Serra Negra (SP) o Congresso do Espiritismo do Circuito das Águas, que terá como tema central “As imensões de Chico

Xavier – a mediunidade, a caridade, o espírita e o ci-dadão do mundo”. Inscrições: www.usecircuitodasaguas.com.br.

Festival de Música Espírita em UberabaA União da Mocidade Espírita de Ube-

raba realizará na cidade o IX FEMEU – Festival de Música Espírita de Ubera-ba, no dia 13 de novembro, no Centro Espírita Uberabense.

As inscrições estão abertas até dia 22 de outubro. Informações: [email protected] ou fones: (34) 3322-2140 ou (34) 9969-7191 (Luiz Carlos).

2º Simpósio de Filosofi a Espírita em São Paulo

O Instituto Espírita de Estudos Filosófi -cos realizará nos dias 20 e 21 de novem-

bro o II Simpósio de Filosofi a Espírita, que terá como tema central “Filosofi a Espírita: seu lugar no tempo e na His-

tória da Filosofi a”.Local: Centro Espírita Nosso Lar Casas André Luiz. Rua Duarte de Azevedo, 691 – Santana. Inscrições: www.simposioieef.com.br.

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A União da Mocidade Espírita de Ube-raba realizará na cidade o IX FEMEU – NOV

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O Instituto Espírita de Estudos Filosófi -cos realizará nos dias 20 e 21 de novem-NOV

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De 15 a 17 de outubro, será realizada no Centro de Convenções, em Serra Negra OUT

15

ENIGMA

Quantas edições de O livro

dos espíritos já haviam sido

lançadas quando Allan Kardec desencarnou?

CAÇA-PALAVRAS DO CORREIOElaborado por Tatiana Benites e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno

Resposta do Enigma: Quando Kardec

desencarnou, aos 65 anos de idade, O livro

dos espíritos, lançado em 1857, já estava na sua

16ª edição.Fonte: Obras póstumas

Saiba mais www.correiofraterno.com.br

Chá e Bazar Benefi centesDia 7 de novembro, às 15 horas

Local: Associação dos Funcionários Públicos Rua 28 de Outubro, 61 - Centro - S.B.Campo - R$ 20,00Tel: (11) 4109-8938 (Lar)

Dia 7 de novembro, às 15 horasLocal: Associação dos Funcionários Públicos NOV

7E V E N T O S D O

Encontre no quadro abaixo os nomes dos mentores que são personagem dos livros da coleção ditada por André Luiz ao médium Chico Xavier. Você vai se divertir e aprender um pouco mais!

Programa Voluntário realiza bazar

No dia 16 de setembro, o Lar da Criança Emmanuel realizou um bazar para a comunida-de, em ação conjunta com o Programa Volun-tário do Carrefour, com renda revertida para a instituição. Cerca de 30 funcionários voluntários (fi lial Demarchi, S. Bernardo) mobilizaram-se para a atividade, além de desenvolverem regular-mente trabalho de educação ambiental, coleta se-letiva e reciclagem, com as crianças. Atualmente o Lar atende a 300 crianças em regime de creche. Saiba como ajudar: www.laremmanuel.org.br

Aconteceu

O evento mais aguardado no ano! (Enxovais bordados, artesanatos fi nos, pinturas)

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ESPECIA

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endo o livro de Humberto Roh-dem sobre Paulo de Tarso, pensei em como a compreensão do con-

solador prometido por Jesus é difícil ain-da nesse século 21. Quanta confusão em relação à doutrina espírita!

Na apresentação do mestre de Lyon, Allan Kardec, a doutrina ainda é nova, mas os conceitos espíritas vêm dos sécu-los. Quinhentos, oitocentos anos antes da vinda de Jesus, enviados por ele, sa-cerdotes druidas que viviam nas Gálias já professavam uma doutrina, o druidis-mo, com conceitos espíritas. Reencar-nação, intercâmbio entre encarnados e desencarnados, importância do pensa-mento e inexistência da morte já eram bem apresentados.

Com Sócrates, a verdade brilha in-tensamente; ele faz o convite para com-preendermos a necessidade do “orai e vigiai de Jesus”, porque a alma fica tola quando encarna, diz o grande filósofo. Mas é com Cristo que as luzes se acendem em toda a intensidade; o grande Mestre exemplifica a arte de viver bem, vive e teoriza sobre a verdade que nos li-berta, demonstra algumas possibilidades especiais que possuímos.

Jesus envolve Saulo de Tarso, que compreende a grandeza dos seus ensinos

L

Espiritismo,o grande desconhecido

e começa a divulgá-los através de grandes sacrifícios pessoais. Apedrejado, enfrentando di-ficuldades, trabalhando para o próprio sustento, Saulo se transforma no grande Paulo, explicando o que Jesus queria dizer... Luta contra ideias pagãs

e judaicas que poderiam mutilar os seus ensinos. O trabalho é intenso e produti-vo, mas deturpações vão surgindo. Fruto do nosso egoísmo, vaidade e ignorância, criamos uma doutrina tão diferente dos ensinamentos do Mestre que a torna-mos irreconhecível. Como diz o pensa-dor Khalil Gibran, se Jesus encontrasse o nosso Cristo não se reconheceriam.

José Herculano Pires (foto abaixo) destaca nos seus vários livros, inclusive em Revisão do cristianismo e Espiritismo, o grande desconhecido, a necessidade de estudarmos Kardec para compreen-dermos a verdade que liberta; fala sobre a hipocrisia que causa os grandes males na incompreensão da arte do bem viver. E muitos que deveriam contribuir para a genuína divulgação da cartilha do amor de Jesus continuam perdidos em confu-sões e novidadeirismos. Não lembram do belíssimo trabalho de Kardec em O livro dos médiuns, no qual explica a necessi-

dade de estudarmos a linguagem dos espíritos para verificar se os no-mes apresentados cor-respondem à realidade, enfatizando que os escri-tos de determinado espí-rito devem trazer as suas características. Como cita João, “não devemos acreditar em todos os espíritos, mas verificar se

eles vêm de Deus”, e precisamos tomar cuidado quando nomes conhecidos são usados, pois espíritos nobres preocupam-se em auxiliar os encarnados com mensa-gens lógicas, que fazem um apelo à razão e convidam ao bem.

Hoje, quando o espiritismo vem sendo tão bem considerado fora das ca-sas espíritas, muitos dos que as frequen-tam ainda fazem confusões e raras vozes se fazem ouvir para esclarecer e evitar novas deturpações.

O exemplo de ChicoUm es-

pírito nobre reencarnou na Terra e fez um trabalho belís-simo, assesso-rado por Em-manuel, para colocar com Kardec os pin-

gos nos ‘is’: Francisco Cândido Xavier.Através da psicografia e de sua vida,

nos convida ao desenvolvimento que nos é próprio – “sois deuses e luzes”, disse o Mestre. Acende sua preciosa luz, ajuda no despertar dos reencarnados adormecidos. Sua vida é um exemplo de sacrifício e amor. Desencarna, mas bem antes avisa que o seu mentor Em-manuel já estava reencarnado na Terra.

Após sua partida, alguns médiuns começam a recebê-lo mediunicamente. Mas não há característica alguma nas mensagens do modo de ser de Chico Xavier... Como disse Erasto, é melhor rejeitar noventa e nove verdades a aceitar uma mentira.

Fico me perguntando então: Qual a intenção? Ingenuidade? Falta de com-

preensão dos livros básicos de Kardec? O problema torna-se ainda mais grave quando surgem as comunicações de Em-manuel que, como dito, já se encontra encarnado, fato inclusive confirmado na voz do próprio Chico, em gravação origi-nal apresentada por Nena Galves, no 3º Encontro Nacional dos Amigos de Chi-co Xavier, em julho passado. Francisco Xavier não merece nossa credibilidade?

Se Emmanuel reencarnou, usa ago-ra uma nova identidade e não ficaria se comunicando através de mensagens e livros que o impediriam de realizar a tarefa para a qual veio. Cumpre-nos aplicar o uso da razão, o discernimen-to. Como poderia o espírito ficar numa “vida virtual”, escrevendo livros se está encarnado? Até poderíamos pensar em uma comunicação rápida, o que tam-bém seria desnecessário. Mas viver mais na vida passada do que na atual contra-ria a própria Lei.

Diz Paulo de Tarso: “acorda tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e volta a caminhar”. Vamos todos acordar, então, para não fazermos com o espiri-tismo o que fizemos com o cristianismo: deturpá-lo, mutilar sua verdade para atender aos nossos interesses, por igno-rância, orgulho e vaidade.

Que, agora, mais de dois mil anos passados da vinda de Jesus, consigamos caminhar de cabeça erguida, olhando as luzes que nos envolvem, não mais per-manecendo focados no barro, na iniqui-dade e criando dores terríveis. É hora de crescer. Precisamos do alimento sólido trazido por Jesus. Somos o sal da Terra e vamos salgá-la.

Pedagoga, oradora e escritora espírita, Heloísa Pires é filha do professor e filósofo Herculano Pires.

Por HELOÍSA PIRES

É preciso estar atento aos esclarecimentos trazidos por Allan Kardec para que não haja deturpações da verdade, pelo

orgulho e vaidade dos homens

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… Um depoimento doloroso

Por IRACEMA SAPUCAIA RIZZINI

Por J. HERCULANO PIRES*

Descartes sonhou com o Espírito da Verdades raras vezes que vi espíri-

tos não me autorizam afir-mar ser médium vidente.

No entretanto, quando meu filho Ricar-do sofreu um desastre de carro, vi, per-feitamente, num dos cantos do quarto, o espírito de minha mãe, Eucharia Fal-co. Ela havia falecido em nossa casa com a idade de sessenta e sete anos. Permane-cera conosco em consequência da morte de meu pai. Tínhamos muita afinidade. Era inteligente e bondosa. Muito culta e já aposentada, continuava a ler, prin-cipalmente livros espíritas. Assim apri-morava e atualizava seus conhecimentos herdados do pai com o qual sempre con-versava e aprendera.

Minha visão aconteceu quando, pela madrugada, a campainha soou. Estava começando a clarear. Jorge [Jorge Rizzini, seu marido] levantou e abriu a janela para atender. Ligou a luz tênue do abajur. Foi nesse exato momento que vi o espírito de minha mãe. Foi uma visão nítida que permaneceu uns segundos e desapareceu, mas que me transmitiu a certeza de que algo muito grave havia acontecido.

Fiquei na expectativa da notícia que

Rizzini daria pois, absolutamente nada eu escutava. Quando fechou a janela e me contou que Ricardo havia sofrido um acidente, associei, imediatamente, à visão que tivera.

Ricardo e um rapaz da família vizi-nha, ao saírem de uma reunião em casa de uma das amigas que aniversariara, tomaram direções opostas, cada um com seu próprio carro. O choque dos carros foi tão forte na esquina que Ri-cardo desfaleceu. Encontrava-se, naque-le momento, desacordado no Hospital das Clínicas onde fora levado por uma ambulância!

Lá permaneceu em coma por vários dias. Seus amigos o visitavam diaria-mente e, sentados nas escadarias do hos-pital, revezavam-se nas visitas.

Os dias passavam-se, lentamente, até que no quinto dia ele despertou. Deixa-ra-nos numa expectativa terrível.

E eu aprendi uma lição muito inte-ressante: a de que, quando os espíritos querem manifestar-se, eles conseguem porque nos amam. Vencem até nossas limitadas possibilidades de encarnados para nos dar o apoio do amor.

Na noite de 10 para 11 de novembro de 1619, Descartes, então jovem soldado acampado em Ulm, na Alemanha, sentiu-se toma-do por intensas agitações. Seu amigo, biógrafo e correspondente, o Abade Baillet, diria mais tarde que ele “entregou-se a uma espécie de entusiasmo, dispondo de tal maneira do seu espírito já cansado, que o pôs em estado de receber as impressões dos sonhos e das visões”.

De fato, Descartes, que se preocupava demasiado com a incer-teza dos conhecimentos humanos, transmitidos tradicionalmente, deitou-se para dormir e teve nada menos de três sonhos, que con-siderou bastante significativos. A importância desses sonhos não foi até hoje apreciada pelos historiadores e pelos intérpretes do filósofo. Mas Descartes declarou que eles lhe haviam revelado “os funda-mentos da ciência admirável”, uma espécie de conhecimento uni-versal, válido para todos os homens e em todos os tempos. Essa ciência não seria elaborada apenas por ele, pois tratava-se de “uma obra imensa, que não poderia ser feita por um só”.

Descartes sentiu-se de tal maneira empolgado pelos sonhos que acreditou haver sido inspirado pelo Espírito da Verdade. Pediu a Deus que o amparasse, que lhe desse forças para realizar a tarefa que lhe cabia. E desse episódio originou-se toda a sua obra, que abriu os caminhos da ciência moderna.

Não tinha ele, nessa ocasião, mais do que 23 anos. Dezoito anos depois lançou o Discurso do método, que rasgaria os novos cami-nhos da ciência. Seu trabalho prosseguiria com outros pensadores livres e se completaria com a dedicação de Kardec.

Descartes mergulhou em si mesmo, negando toda a realidade material, inclusive a do próprio corpo, na procura de alguma realida-de positiva, que se afirmasse por si mesma, de maneira indubitável. Foi então que descobriu a realidade inegável do espírito, proclaman-do, no limiar da nova era: Cógito, ergo sum, ou seja: “Penso, logo existo.” Descobre no fundo do cógito, no seu próprio pensamento, a realidade suprema de Deus. A chamada revolução cartesiana foi precursora da revolução espírita. A ciência admirável de Descartes é a mesma ciência espiritual de Kardec, ainda em desenvolvimento, por muito tempo, em nosso planeta.

(*) Em O espírito e o tempo, Ed. Paideia

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revenção de doenças se faz com informação. E que o que vale para dengue, AIDS, câncer de mama,

tuberculose e hanseníase vale também para suicídio. Em 90% dos casos, os ca-sos oficialmente registrados de suicídio estão relacionados a transtornos men-tais como depressão, reações ao uso de drogas lícitas ou ilícitas, esquizofrenia, transtornos de personalidade e outros males que podem ser tratados se hou-ver diagnóstico e acompanhamento médico. O apoio de familiares e amigos é considerado fundamental. O assunto merece atenção porque tanto no Brasil quanto no mundo, suicídio é caso de saúde pública.

Quando a Organização Mundial de Saúde revelou que aproximadamente três mil pessoas se matam por dia; que esse nú-mero cresceu 60% nos últimos cinquenta anos, especialmente nos países em desen-volvimento; e que o suicídio já é uma das três principais causas de morte entre os jovens e adultos de 15 a 34 anos, poucos veículos de comunicação se interessaram em abrir espaço para essas informações.

Talvez tenha prevalecido a tese de que qualquer menção ao suicídio na mí-dia possa fomentar a ocorrência de novos casos. O risco de fato existe quando se ex-plora o assunto de forma sensacionalista, dando visibilidade a detalhes mórbidos que possam inspirar a repetição do ges-to fatal. Mas a própria OMS recomen-da enfaticamente a veiculação através da mídia de informações que ajudem na prevenção do suicídio. “A disseminação de informação educativa é elemento es-sencial para os programas de prevenção; nesse sentido, a imprensa tem um papel relevante”, é o que se lê na apresentação do manual de prevenção do suicídio di-rigido aos profissionais de imprensa pelo Ministério da Saúde em parceria com a Organização Pan-Americana de Saúde.

E quais são as informações relevantes que precisam ter mais espaço na mídia?

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Suicídio: prevenção possível em 90% dos casos

Por ANDRÉ TRIGUEIRO

Além do fato de que o suicídio é prevení-vel na maioria absoluta dos casos, é igual-mente importante reconhecer as circuns-tâncias em que há “risco de suicídio”, principalmente quando a pessoa verba-liza o desejo de se matar − nesses casos os profissionais de saúde informam que a maioria das pessoas que tiraram a própria vida comunicou a intenção previamen-te − ou quando apresenta os sintomas de depressão, que, nas manifestações mais graves, requer cuidados redobrados. No enfrentamento da depressão, estima-se que dois terços das pessoas tratadas res-pondem satisfatoriamente ao primeiro antidepressivo prescrito.

Embora este seja um assunto ausen-te na mídia, estima-se que ocorram 24 casos por dia no Brasil. Aqui ainda se re-gistram taxas pequenas em relação a ou-tros países (3,9 a 4,5 para cada cem mil habitantes), mas em números absolutos já estamos entre os dez países do mundo onde ocorrem mais suicídios (aproxima-damente oito mil casos por ano), uma quantidade certamente bem superior, considerando que muitos atestados de óbito omitem a intenção do suicídio em mortes oficialmente causadas por aci-dentes de trânsito, overdose, quedas etc. Há outros números que deveriam justifi-car uma preocupação maior da sociedade em relação ao problema: as tentativas de suicídio ocorrem numa proporção pelo menos dez vezes superior ao dos casos consumados e para cada suicídio, há em

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média cinco ou seis pessoas próximas ao falecido que sofrem consequências emo-cionais, sociais e econômicas.

Omitir essas informações da socieda-de significa esconder a sujeira debaixo do tapete e fingir que o problema não exis-te. Se prevenção se faz com informação, é preciso enfrentar com coragem o tabu que envolve o suicídio. Tão importante quanto rastrear as causas desse problema de saúde pública − incentivando a reali-zação de pesquisas, seminários e congres-sos científicos − é apoiar e divulgar o tra-balho realizado nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) do Ministério da Saúde espalhados por todo o país (infor-mações através DISQUE SAÚDE: 0800

61 1997) e também pelas redes de pro-teção que trabalham em favor da vida, como é o caso dos grupos de apoio que reúnem os “sobreviventes de si mesmo”, aqueles que tentaram, mas não consegui-ram se matar; familiares e amigos de sui-cidas que compartilham suas experiên-cias em dinâmicas de grupo conduzidas por terapeutas; e organizações voluntá-rias que realizam gratuitamente um ser-viço de apoio emocional e prevenção do suicídio por telefone como é o caso do Centro de Valorização da Vida (CVV) pelo número 141.

Saiba mais:Suicídio: uma morte evitável (Ed. Atheneu; Henri-que Côrrea e Sérgio Perez Barrero)O Suicídio (Ed. Martin Claret; Emile Durkheim) Tentativa de Suicídio - Um prisma para Compre-ensão da Adolescência (Ed. Revinter; Enio Resmini)Comportamento Suicida (Ed. Artmed; Blanca Guevara Werlang; Neury Botega) O Demônio do Meio-Dia - Uma anatomia da depressão (Ed. Objetiva; Andrew Solomon)

Jornalista, de rádio e tv, André Trigueiro é criador e professor do curso de Jornalismo Ambiental da PUC, RJ. Autor dos livros Mundo sustentável – abrindo espaço na mídia para um planeta em transformação (Globo) e Espiritismo e ecologia (FEB). Site: www.mundosustentavel.com.br

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