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ANO XXXI - Nº 225 - MARçO/ABRIL - 2009 A REVISTA DA ELETRONORTE Eletronorte corrente contínua corrente contínua Reservatórios hidrelétricos: fontes de gases ou sumidouros de carbono?

corrente contínua contínua - eln.gov.br · corrente contínua 3 Érica Neiva Um dia de cada vez. Ninguém nasce sa-bendo. A vida é um imenso laboratório aonde alguns fatores como

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Ano XXXI - nº 225 - MArço/AbrIl - 2009 A rEVISTA DA ElETronorTE

Eletronorte

corrente contínuacorrente contínua

reservatórios hidrelétricos:fontes de gases ou sumidouros de carbono?

SCN - Quadra 06 - Conjunto A Bloco B - Sala 305 - Entrada Norte 2

CEP: 70.716-901Asa Norte - Brasília - DF.

Fones: (61) 3429 6146/ 6164e-mail: [email protected]

site: www.eletronorte.gov.br

Prêmios 1998/2001/2003

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corrente contínua

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Diretoria Executiva: Diretor-Presidente - Jorge Palmeira - Diretor de Planejamento e En-genharia - Adhemar Palocci - Diretor de Produção e Comercialização - Wady Charone - Diretor Econômico-Financeiro - Antonio Barra - Diretor de Gestão Corporativa – Tito Cardoso - Coordenação de Comunicação Empresarial: Isabel Cristina Moraes Ferreira - Gerência de Imprensa: Alexandre Accioly - Equipe de Jornalismo: Alexandre Accioly (DRT 1342-DF) - Bruna Maria Netto (DRT 8997-DF) - Byron de Quevedo (DRT 7566-DF) - César Fechine (DRT 9838-DF) - Érica Neiva (DRT 2347-BA) - Michele Silveira (DRT 11298-RS) - Assessorias de comunicação das unidades regionais - Fotografia: Alexandre Mourão - Roberto Francisco - Rony Ramos - Assessorias de comunicação das unidades regionais - Arte gráfica: Jorge Ribeiro - Foto da capa: Rony Ramos - Arte da contracapa: Sandro Santana - Tiragem: 10 mil exemplares - Periodicidade: bimestral.

rESPonSAbIlIDADE SoCIAlEm Tucuruí, cooperativas geram renda e esperançaPágina 3

EnErGIA ATIVA

Planejamento estratégico: guia para o futuroPágina 17

CIrCuITo InTErnoSelo Pró-Equidade: a marca que pode mudar a históriaPágina 21

TrAnSMISSÃoRepasse de ativos de baixa tensão às distribuidoras contribui para o resultado financeiro da EletronortePágina 26

MEIo AMbIEnTEEnsaios para a sustentabilidadePágina 32

CorrEIo ConTÍnuoPágina 45

FoTolEGEnDAPágina 47

AMAZÔnIA E nÓS“Quem foi ao Pará parou, tomou açaí ficou”Página 39

GErAçÃoInventários e viabilidades: uma questão de princípiosPágina 8

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Érica Neiva

Um dia de cada vez. Ninguém nasce sa-bendo. A vida é um imenso laboratório aonde alguns fatores como o tempo e as experiências nos conduzem ao amadurecimento. A bus-ca pelo aprendizado pode ser um processo planejado ou chegar de maneira inesperada, mas nem por isso menos construtiva. Maria do Socorro Oliveira (foto à direita), moradora de Itupiranga, no Estado do Pará, é uma dessas mulheres para quem o trabalho no coopera-tivismo trouxe mudanças significativas. Filha de expropriados das terras onde se formou o lago da Usina Hidrelétrica Tucuruí, Maria do Socorro desconhecia o conceito de cooperati-va quando, em 2006, foi convidada a ser vice-presidente de uma.

Em 21 de janeiro de 2008, no entanto, um incidente com o presidente da cooperativa fez com que Socorro ocupasse o cargo. “Estou trabalhando seguindo o projeto que foi apro-vado. A Eletronorte deu explicações, tivemos reuniões, treinamentos e palestras sobre coo-perativismo. Sem isso jamais teria conseguido, pois não sabia mesmo”, afirma.

A Cooperativa Agroindustrial e Comercial dos Expropriados de Itupiranga é constituída

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IAl Em Tucuruí, cooperativas

geram renda e esperança

por 290 famílias. O projeto principal é a cria-ção de peixes em tanques escavados, para o qual está sendo construída uma pequena bar-ragem, seguida da escavação de 40 tanques com extensão de 15m x 45m, totalizando 2,7 hectares de viveiros, destinados à criação de pirapitinga.

A Cooperativa decidiu pela diversificação do projeto em subprojetos - horta comunitá-ria, produção de mudas, criação de aves e fruticultura. Para agregar valor à produção, comprou-se uma despolpadeira para proces-sar diversos tipos de frutas e uma ensacadeira com dosador para que as polpas sigam direta-

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mente para os estabelecimentos comerciais. A Cooperativa conta com sede própria, móveis, equipamentos e um terreno de 11 alqueires. Os investimentos chegam a R$ 1,2 milhão.

Para o cooperado José Oliveira de Sousa (ao lado), 72 anos, a vida em Itupiranga apresen-

ta sinais de melhora. “Está melhor do que antes, mas precisamos ter paciência. A vida mudou, há recursos, a produção está sendo vendi-da. Temos de tudo – polpa de murici, cupuaçu, cajá, acero-la. Plantamos hortas, mandio-ca, abacaxi, maracujá, milho, feijão, arroz, macaxeira. Da-qui a poucos dias já teremos frango e milho”, destaca.

Proset – o município de Itupiranga (PA)

está entre os sete onde foram criadas coope-rativas - Tucuruí, Jacundá, Nova Ipixuna, Novo Repartimento, Breu Branco e Goianésia -, fru-to do Programa Social para os Expropriados de Tucuruí – Proset. O Programa, criado e fi-nanciado pela Eletronorte, é formado por cer-ca de 600 famílias atingidas pelo enchimento do reservatório, no início da década de 1980. É destinado a criar mecanismos de organi-zação, dinâmica e coletividade da produção dos expropriados e seus beneficiados, com o objetivo de emancipá-los por meio de proje-tos para a geração de emprego e renda. “A ideia do sistema de cooperativas existiu desde o início. Separamos as famílias por grupo e fizemos um diagnóstico considerando renda, grau de escolaridade, recebimento de bene-

fícios e também as preferências de trabalho. Esse estudo ajudou na criação dos projetos que deram origem às cooperativas”, relembra o coordenador do Proset em Tucuruí, Francis-co de Assis Barros (abaixo).

Assis esclarece que as pessoas residentes nas áreas impactadas foram remanejadas e in-denizadas pela Eletronorte na época da cons-trução da Usina. “Elas acreditaram, porém, que a maneira adotada pela Empresa não ha-via sido adequada e reivindicaram novas com-pensações financeiras pelas desapropriações. Houve uma série de negociações até que ficou acordado, em setembro de 2004, o pagamen-to de mais R$ 7 mil por cada processo. Como não havia natureza indenizatória, uma vez que todos os processos estavam prescritos pelo decurso do prazo, nasceu como resultado das negociações, em 2005, o Proset”, explica.

Cooperativismo:decisões,

projetos e renda divididos

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Passaram a fazer parte do Programa ape-nas aqueles indenizados anteriormente e que estivessem morando no entorno do lago. As-sim, foram reduzidos de 5,7 mil para exatos 3.015. O repasse dos recursos foi dividido em duas partes. Primeiro, foi pago o valor de ma-nutenção temporária, R$ 200,00 mensais du-rante 20 meses, para treinar os expropriados em cooperativismo.

Num segundo momento foram repassados R$ 3 mil para a implementação dos projetos em que cada família iria trabalhar, originan-do as cooperativas. “A Eletronorte já repas-sou duas parcelas referentes a esta segunda etapa. Estamos aguardando a prestação de contas para darmos início ao pagamento da terceira parcela. Foram repassados também R$ 100 mil a cada uma das seis cooperativas para a aquisição de uma sede com toda in-fraestrutura necessária, pagamento de impos-tos e tarifas, e contratação de empregados no primeiro ano de funcionamento”, esclarece o analista ambiental, José Luis da Silva Pereira (acima, à direita).

Plantar, criar e colher - Falar da terra para

Júlio Oliveira (abaixo) é como falar da vida, do nascimento, da sobrevivência. Filho de expro-priado, seus 40 anos de idade representam o tempo de luta e labuta com a plantação, cria-

ção de animais, enfim, com a vida no campo. Pai de três filhas, trabalha há seis meses na Cooperativa Agroindustrial e Comercial dos Expropriados de Jacundá em atividades como montagem de estufa, plantação, colheita e ser-viços de limpeza.

Com planos de continuar na Cooperativa, Júlio descreve um pouco do seu dia-a-dia. “Desde que nasci, trabalho com roça. Come-cei na terra do meu pai. Acompanho a Coo-perativa desde o início. No começo foi difícil,

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mas de três meses para cá melhorou 100%. Temos plantação de mandioca, maracujá e milho; finalizamos a colheita de melancia, e agora estamos fazendo tanques para criação de peixes. Também estamos preparando es-tufas para plantação de hortaliças – couve, alface, cebolinha, coentro e rúcula. Plantar, criar e colher é motivo de orgulho. Acredito que a Cooperativa vai mudar muita coisa. Precisamos acreditar na força que temos e continuar”, reflete.

Com uma propriedade de aproximadamen-te 52 alqueires e 418 famílias associadas, a Cooperativa de Jacundá tem como carro-che-fe o plantio de mandioca. A colheita, realizada em abril, foi de 4.250 toneladas em 2009, um rendimento de R$ 700 mil reais. Existem 1,2 mil pés de maracujás produzindo e fornecen-do aos supermercados mais de três toneladas por semana. A primeira safra de melancia produziu 27 toneladas. Há também plantio de abacaxi, mudas de mamão, limão, coco da praia e cerca de 40 mil pés de açaí que ajudarão na formação de reserva legal. Como estrutura, a Cooperativa conta com uma sede própria, máquinas, trator, implementos, duas casas e galpão para ferramentas. Já foi inves-tido R$ 1,7 milhão.

Para o presidente da Cooperativa, José Martins Silva Filho (acima), a entidade é uma espécie de novo horizonte que começa a ser visto pelos seus associados. “No início, 90% dos cooperados eram contrários ao projeto. Hoje a mentalidade está começando a mu-dar. Estamos trabalhando para que esse gru-po de pessoas tenha uma renda continuada. Agora eles têm uma Cooperativa, são micro-

empresários. A Eletronorte não está apenas fazendo um pagamento indenizatório, mas também um projeto social. Eles possuem uma cidadania a partir do que a Empresa proporcionou”, afirma.

Filha de expropriados e secretária do Conselho Administrativo da Cooperativa de Jacundá, Maria Deuzanilia Pinto (abaixo) re-afirma o compromisso dos associados: “An-tes, muitos não acreditavam no projeto. Hoje você faz uma reunião e comparece mais da metade. Estão vendo que existe produção. Houve dificuldades para montar. Depois de montado é trabalhar e trabalhar para produ-zir. Tudo depende do trabalho. A tendência agora é só crescer. É um futuro que vemos para os nossos filhos”, destaca.

Economia solidária – O papel da Eletro-norte sempre foi mais que gerar e transmitir energia elétrica. O meio ambiente, a tecnologia e a responsabilidade social são pilares presen-tes em sua atuação na Região Norte. Para o diretor de Planejamento e Engenharia da Em-presa, Adhemar Palocci, o Proset é uma refe-rência no trato das questões sociais. “Estamos muito otimistas em relação ao resultado do Programa. Incentivamos a criação das coope-rativas para que elas assumam o seu próprio desenvolvimento. Vamos continuar apoiando, mas agora numa perspectiva de quebrar a de-pendência da Eletronorte. A Empresa sempre teve uma preocupação social com o resgate da cidadania. Esse trabalho que fazemos, além de contribuir na mitigação de problemas socioambientais, insere-se na perspectiva da responsabilidade social”, analisa.

O Proset passa por uma nova fase no sen-tido de iniciar a agregação de conceitos como economia solidária, mercado justo e produção orgânica. A expectativa é de que seja assina-do, ainda no primeiro semestre de 2009, um acordo de três anos entre o governo brasilei-

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Cooperativa Agroindustrial e Comercial dos Expro-priados de Tucuruí – Focada na criação de peixes em tanques-rede, possui um parque aquícola na região do Caraipé, no lago da Hidrelétrica Tucuruí. Dos 200 tan-ques lançados, 115 já estão povoados. Na Semana Santa foi comercializada a primeira produção de cerca de nove mil toneladas de peixes. Com 519 famílias associadas, a cooperativa possui um pequeno barco, uma caminhone-te e sede própria. Para o presidente, Euclides Ferreira, “é necessário que os filiados à Cooperativa participem e acompanhem melhor o trabalho. Afinal, é com o en-volvimento de todos que o projeto encontrará força para continuar a crescer”.

Cooperativa Agroindustrial dos Expropriados de Novo Repartimento – Atua como agente facilitador na comercialização de gado e cacau, eliminando a ação do atravessador e propiciando um incremento de renda às famílias. Estão sendo plantados mandioca, milho, açaí e hortas comunitárias. Fazem parte do patrimônio da Coo-perativa uma sede, um caminhão, trator e implementos.

É a Cooperativa mais numerosa, com 759 famílias associa-das; e com mais recursos, cerca de R$ 3 milhões.

Cooperativa Agroindustrial e Comercial dos Expropria-dos de Breu Branco e Goianésia – Dedica-se à produção de horta comunitária e grãos - milho, feijão e mandioca. Constituída por 335 famílias, a Cooperativa dispõe de sede própria, um terreno de 42 alqueires, trator e caminhão. No local está sendo construída uma pequena barragem, onde serão instaladas rodas d’água para irrigação de toda a pro-priedade.

Cooperativa Agroindustrial e Comercial dos Expropria-dos de Nova Ipixuna - Decidiu pela compra e instalação de uma usina de beneficiamento de arroz para atender a pe-quenos produtores da região. Com 22 famílias cooperadas, a associação conta com sede própria. Para o presidente da Cooperativa, João de Souza Pereira, “apenas a comerciali-zação não iria sustentar nosso projeto por muito tempo. O beneficiamento de arroz e a melhoria da nossa produção é que farão com que nossa cooperativa cresça e que nosso produto apareça no mercado”, destaca.

ro, por intermédio da Eletronorte, e o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agri-cultura – IICA, que possui experiência com questões socioambientais de impactados por usinas hidrelétricas, a exemplo do trabalho realizado em Itaparica, entre Pernambuco e Bahia, no Rio São Francisco.

O IICA vai acompanhar a implantação dos projetos das cooperativas, oferecendo suporte técnico por meio da alocação de profissionais, como agrônomos, zootecnistas, veterinários e engenheiros florestais. O Instituto também vai oferecer suporte legal e administrativo na ges-tão das cooperativas.

O Proset caminha a passos largos no intui-to de fortalecer as cooperativas, possibilitando autonomia financeira, técnica e administrati-va. Para Francisco de Assis, o seu sonho de vida e projeto profissional é ver o Proset con-cluído. “Acredito que minha última atividade na Eletronorte é o Proset, pois já devia estar aposentado. Peço a Deus que possa concluí-lo. Sem dúvida, o Programa será um modelo não apenas para futuros empreendimentos do Sistema Eletrobrás, mas para todos aque-les que desejam saber como se conduz de forma satisfatória e produtiva um projeto so-cial” finaliza.

Diversificação e alternativas para os associados

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Inventários e viabilidades: uma questão de princípios

Byron de Quevedo

Diz o primeiro livro da Bíblia, o Gênesis: “Chamou Deus à porção seca Terra; e ao ajun-tamento das águas chamou Mares; e viu Deus que era bom”. Mais adiante, Ele mesmo, após criar o mundo, precisou repor energias: “E viu Ele que o descanso era bom...”. A mesma pre-ocupação teve o homem, que, às voltas com a geração de eletricidade, criou o inventário dos rios e viu que era bom, principalmente para ex-trair da natureza seu potencial sem depredá-la. Hoje, estamos cercados de boas energias, que usamos tornando possível a vida. É consenso entre os técnicos do Setor Elétrico ser aquela advinda das hidrelétricas “uma providência di-vina”: renovável, limpa e provedora de reservas

aquíferas para milhares de espécimes. Em ou-tros tempos, construídos simplesmente por en-tendê-los imprescindíveis, os projetos hidrelétri-cos percorrem hoje rosários de obrigatoriedades extraoficiais e legais que até Deus duvida.

Há realizações, mas nem sempre na rapi-dez que a sociedade exige. No momento, a Aneel conduz 105 inventários com potencial de até 14 mil megawatts, um acervo energé-tico fundamental. O Brasil foi abençoado com um potencial hidráulico de 260 mil megawatts reunidos em nove bacias, um verdadeiro mila-gre. Porém, destes, 73,3 mil megawatts ainda precisam ser inventariados. E por que os pro-jetos são lentos? Bem, ouçamos as vozes dos homens de boa vontade.

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Inventaram o inventário - A história da hidro-eletricidade inicia-se com o inventário dos rios. O Superintendente de Expansão da Geração da Eletronorte, Luiz Fernando Rufato, (acima, à es-querda ao lado de Arnaldo Ferreira), relata que o Brasil desconhece o seu real potencial ener-gético e consequentemente não sabe qual a sua capacidade de geração. Daí a necessidade de se inventariar bacias e rios. Por exemplo, a Bacia do Tapajós são todos os rios que correm para o seu leito principal. “Há elevações geográficas

divisoras das bacias. O chamado Parque das Águas Emendadas (DF), por exemplo, na Chapa-da dos Veadeiros, despeja suas águas nas bacias dos rios São Francisco, Tocantins e Paraná. Isto acontece porque na região central do País está o ponto de maior altitude, onde brotam esses ma-nanciais. Para se conhecer o potencial hidráu-lico das bacias devem-se estudar os possíveis aproveitamentos hidrelétricos desde a nascente e os afluentes até a foz no oceano, quando for o caso”, explica Rufato.

Aproveitamento ótimo – Antigamente, o Manual de Inventário Brasileiro dava maior im-portância à potencialidade energética dos rios. Hoje, o ‘aproveitamento ótimo’ leva em consi-deração outros fatores. “Por exemplo, no estu-do do Aproveitamento Hidrelétrico São Luiz do Tapajós, no Rio Tapajós, próximo a Itaituba, no Pará, a opção para obter a maior quantida-de de energia seria fazer o empreendimento com um barramento alto, com 80 metros de queda, podendo gerar até 11 mil MW, mas isto provocaria inundação de parte do Parque Na-

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cional da Amazônia. Optou-se então por fazer a divisão dessa usina em dois aproveitamen-tos, reduzindo significativamente a área ala-gada. Perdemos capacidade energética, mas ganhamos um aproveitamento econômico e ambientalmente viável”, detalha Rufato.

Segundo ele, outro benefício de usinas hi-drelétricas com reservatório, em vez daquelas a fio d’água, é tornar os rios navegáveis por sistemas de eclusas, como em Tucuruí. Em outros empreendimentos são buscadas solu-ções tecnológicas inovadoras, como em Belo Monte, no Rio Xingu, onde a água necessária para a geração será desviada por dois canais até a casa de força, preservando a chamada Volta Grande do Xingu. No inventário do Rio Tapajós foram estudadas 13 alternativas. A propósito, os critérios do Manual de Inventário do Setor Elétrico, versão 2006/2007, vêm sen-do modernizados. No levantamento aéreo, por exemplo, tudo deve ser demarcado em esca-las mínimas de 1/5000 ou 1/10.000, realçan-do as curvas de níveis e com a representação gráfica do empreendimento.

Pequenos e médios aproveitamentos - Pequenas centrais hidrelétricas - PCHs, são alternativas para resolver problemas de microrregiões. Cada situação geográfica re-presenta arranjos específicos. Não há como aplicar um projeto em outro lugar, mas é possível usar as boas soluções em projetos diferentes. Técnicos do setor apontam como alternativa à construção de grandes barra-gens, por exemplo, a reunião de pequenos e médios aproveitamentos, o que evitaria maiores impactos ambientais. Mas cada caso é um caso. Rufato explica que em rela-ção a Belo Monte, com seus 11.233 mil MW de potência instalada, não se poderia trocá-la por 100 pequenas e médias hidrelétricas, pois o volume total de todos os reservatórios seria maior do que o do lago previsto, de apenas 516 km². “Não é sempre indicado fragmentar grandes aproveitamentos, pois a geografia e a geologia das regiões nor-malmente não permitem. A fragmentação também dificulta a logística e a alocação de mão-de-obra”, comenta.

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Vertedouros – Outra questão importante levantada por Rufato são os custos dos ver-tedouros. Por exemplo, pode-se fazer uma usina de 1.200 MW no Rio Araguaia, ou cin-co usinas de 240 MW. “Se adotássemos esta opção teríamos que construir cinco vertedou-ros com igual capacidade, pois o rio passará por todos com o mesmo volume de água. O critério de se fazer um vertedouro advêm da análise do rio, acometido, hipoteticamente, por uma cheia decamilenar (ocorrente a cada dez mil anos), verificando sua capacidade de vazão e o comportamento do vertedouro numa cheia extraordinária, com a casa de

força fechada. A Usina Hidrelétrica Tucuruí, por exemplo, suporta 110 mil metros cúbicos de água por segundo. A maior cheia até hoje, após 25 anos de operação, foi de 62 mil m³/s. Se fizéssemos essa usina mais abaixo, só com três mil MW instalados, e outra barragem acima, teríamos de construir outro vertedouro com igual capacidade, e aí se perderia ener-gia e encareceria a edificação”.

Reservatórios - Os técnicos do Setor Elétri-co chamados barrageiros amam belos lagos. Já os colegas dos órgãos ambientais não são tão românticos assim, gostam de cascatas.

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Barrageiros admiram as usinas com reserva-tórios, não os gigantescos, mas os razoáveis, porque, explicam, só se gera energia se hou-ver demanda. Tudo acontece e é possível a partir da identificação pelos estudos de inven-tário de uma situação onde se confrontam va-zões e quedas que permitam armazenar água e fazê-la cair de certa altura para acionar as pás das turbinas, as máquinas geradoras de eletricidade.

Arnaldo Ferreira da Costa, engenheiro ci-vil da Gerência de Estudos e Projeto Civil de Obras de Geração da Eletronorte, diz que não há como se armazenar eletricidade, mas os re-

servatórios representam ‘energia líquida guar-dada’. “Se alguns ambientalistas optam por usinas a fio d’água, ou seja, sem reservatórios, abrem mão de uma reserva estratégica de água e de energia. Por exemplo, Belo Monte tem uma queda de 90 metros e um pequeno re-servatório. É diferente de Tucuruí, que ganhou um lago como caixa d’água. Por isto o nível das águas pode baixar até 20 metros, que a Usina continua gerando, mesmo na estiagem”.

Regime hidrológico – De acordo com Ar-naldo, um estudo sério de inventário consi-dera uma gama de estudos que vão da so-cioeconomia e topografia ao meio ambiente e geologia. “A princípio, o inventário tem características regionais, mas na fase dos estudos de viabilidade técnica, econômica e socioambiental do empreendimento, os da-dos recolhidos na primeira etapa são aprimo-rados. Na fase de viabilidade acontecem as audiências públicas, quando os estudos são discutidos com as comunidade e entidades envolvidas, e por isto devem ter excelente qualidade”, explica.

Os estudos de inventário e viabilidade sempre levam em consideração os regimes hidrológicos diferenciados existentes no Bra-sil. Num período do ano, os reservatórios do Norte e Nordeste do País estão cheios, e noutro, vazios; enquanto os do Sul e Sudeste estão vazios e vice-versa. Não é possível des-locar os reservatórios, mas a energia pode ser transportada por meio do Sistema Interligado Nacional – SIN. Para os rios amazônicos, de grandes volumes d’água, os aproveitamentos estudados são acima de 100 MW, nas bacias do Araguaia, Tocantins, Xingu, Tapajós, Ma-deira e seus afluentes principais. No caso do rio Jamanxim, um afluente do Tapajós, por exemplo, podem-se ter aproveitamentos óti-mos com um reservatório de apenas 74 km², para uma potência de até 880 MW.

EIA/Rima - A Eletronorte estuda 13 situa-ções em diferentes rios onde há potencial para se instalar vários aproveitamentos. O inventário do Rio Tapajós, concluído em 2008, já foi en-tregue à Aneel. Em paralelo com o estudo de viabilidade deverão ser feitos o Estudo de Im-pacto Ambiental – EIA, e o Relatório de Impac-to de Meio Ambiente - Rima. O primeiro é mais compacto e o segundo mais detalhado. Ambos são obrigatórios e devidamente encaminhados aos órgãos ambientais para a obtenção do li-cenciamento da obra, a Licença Prévia.

(continua na página 16)

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A Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel, tem tido um papel fundamental na execução do atual mode-lo do Setor Elétrico brasileiro, agindo no sentido tanto de aprovar os estudos de inventário e viabilidades de obras de geração e transmissão, quanto promovendo os leilões para a construção e operação desses empreendimentos. Conversamos com o superintendente de Gestão e Estudos Hidroenergéticos da Aneel, Jamil Abid. Confira.

Como a Aneel atua em relação aos projetos prioritários do PAC? A Aneel é uma agência reguladora vinculada ao Ministé-

rio de Minas e Energia, mas não subordinada a ele. O PAC é um programa de governo como são também o Proinfa e o Luz Para Todos, por exemplo. Nós atuamos na regulação do Setor Elétrico e, portanto, não temos distinção entre projetos. Há situações em que, em função do avanços dos estudos, priorizamos, como o inventário do Rio Tapajós. Dada a sua potencialidade e importância para o País passamos a avaliá-lo. Nossa carteira tem três critérios de prioridade: estudos de inventário com potência até 50 MW, que contempla a maio-ria dos inventários; aqueles com potências acima de 50 MW; e nestes, os estratégicos. Por exemplo, o estudo do Tapajós passou à frente dos demais já contemplados porque foi con-siderado relevante e estratégico pelo que ele acrescentará ao Brasil. É evidente que pelo fato do projeto estar no PAC já demonstra ser estratégico.

A Aneel tem estrutura para dar fluxo à aprovação dos estudos de inventários? Este é o nosso maior problema. Temos apenas 17 espe-

cialistas para analisar estudos, sejam de inventários, viabi-lidade e projetos básicos, de pequenos, médios e grandes empreendimentos. É uma equipe pequena para dar fluxo a toda essa demanda. E temos três técnicos responsáveis pelos estudos das grandes obras do PAC. Precisamos de mais especialistas, sem dúvida.

Qual o potencial brasileiro em hidreletricidade?Hoje estamos com 27% da matriz energética de fonte hi-

dráulica explorada. Temos 72% para explorarmos, mas alguns rios não terão projetos hidrelétricos. O projeto Canambra, nas décadas de 60 e 70, mapeou o potencial hidráulico do País, estimado então em 260 mil megawatts. Porém, a possibilidade de viabilizar esse volume deve ser mais bem avaliada. Nesse contexto, há os remanescentes: o que foi estimado; aqueles que precisam ser inventariados; o que já foi inventariado e agora está em fase de estudos de viabilidade; o que está em projeto básico; em construção e até aqueles em operação.

“Deve-se achar o melhor para sociedade”

Existe interação entre a Aneel e os órgãos ambientais?Uma de nossas prerrogativas legais é fazer essa arti-

culação tanto com os órgãos ambientais, quanto com os órgãos de recursos hídricos e outros integrantes do pro-cesso. Os órgãos ambientais reclamam de tomarem co-nhecimento dos estudos depois de aprovados, e isto tem certa razão de ser, por não estarmos atuando com a articu-lação que se faz necessária. Interagimos com a Agência Nacional de Águas – ANA, Ibama e órgãos estaduais, para os estudos avançarem em paralelo. A Aneel tem as suas competências e limitações. Não podemos entrar na esfera ambiental, mas podemos contribuir para que os processos avancem tecnicamente sendo avaliados ambientalmente também. As nossas aprovações, por exemplo, dos estudos de viabilidade, só são efetivadas em um despacho formal, indo posteriormente a leilão, com a obtenção da Licença Prévia do órgão ambiental, e da Licença de Reserva de Disponibilidade Hídrica, emitida pelo gestor de recursos hídricos. É necessária a conjugação de esforços.

Há sobreposição de papeis entre os agentes do setor?A princípio não. A atribuição legal da Empresa de Pes-

quisa Energética – EPE, por exemplo, é preparar e verificar os estudos de viabilidade, se estão em condições de serem licitados. Os agentes públicos como a EPE, Eletronorte, Furnas e outros, se quiserem desenvolver estudos de in-ventário ou de viabilidades, devem seguir a mesma regra dos agentes privados. Estamos ajustando os campos ideais de atuação para não haver confronto. Quem estabelece os prazos para a realização dos inventários são os agentes, me-diante solicitação de registro na Aneel. Só estabelecemos os prazos para as PCHs. Hoje, pela Resolução 343, o agente tem um prazo de no máximo 14 meses para apresentar um projeto básico. Dependendo da complexidade, uma obra pode durar até três anos ou mais.

Porque os projetos hidrelétricos emperram?Não emperram simplesmente. Às vezes pode ser uma

questão de estratégia. Tivemos no final da década de 1990 um cenário onde o mercado buscava alternativas para desenvolver a matriz energética, o que causou re-tração no desenvolvimento desses estudos. Os agentes privados tinham horizontes no curto prazo. Após a criação da EPE, se retomou o planejamento em curto, médio e longo prazos. Creio que o pior já passou. A aprovação de estudos acabou ficando comprometida por quase uma década e isto repercutiu nos quatros anos recentes. Não tínhamos estudos aprovados em condições de serem li-citados. E os poucos que havia passaram pela questão ambiental. Agora procuramos trabalhar antecipadamente e juntos, tanto na gestão dos recursos hídricos, quanto no licenciamento ambiental.

As concessões das grandes hidrelétricas estão vencendo. Como se pensa em enfrentar a questão?Provavelmente, teremos novas licitações para os inte-

ressados que farão uso desses bens públicos já amorti-zados, e que com o fim da concessão se revertem para a União. É necessário definir como ficará a operação, a manutenção e o custo de todo esse acervo. Não é matéria fácil, prova disto é que o Ministério de Minas e Energia tem um grupo específico estudando o assunto. Os nossos grandes empreendimentos são da década de 60 a 80 e tem longevidade, e isto terá desdobramentos. Seja qual for a solução, ela deverá colaborar para a modicidade tarifária, beneficiando o consumidor final. Modicidade tarifária não significa necessariamente abaixar ou reduzir as tarifa: é a melhor tarifa para usufruir de um serviço público. Deve-se achar o melhor para sociedade como um todo, consumi-dores e investidores.

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A Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel, tem tido um papel fundamental na execução do atual mode-lo do Setor Elétrico brasileiro, agindo no sentido tanto de aprovar os estudos de inventário e viabilidades de obras de geração e transmissão, quanto promovendo os leilões para a construção e operação desses empreendimentos. Conversamos com o superintendente de Gestão e Estudos Hidroenergéticos da Aneel, Jamil Abid. Confira.

Como a Aneel atua em relação aos projetos prioritários do PAC? A Aneel é uma agência reguladora vinculada ao Ministé-

rio de Minas e Energia, mas não subordinada a ele. O PAC é um programa de governo como são também o Proinfa e o Luz Para Todos, por exemplo. Nós atuamos na regulação do Setor Elétrico e, portanto, não temos distinção entre projetos. Há situações em que, em função do avanços dos estudos, priorizamos, como o inventário do Rio Tapajós. Dada a sua potencialidade e importância para o País passamos a avaliá-lo. Nossa carteira tem três critérios de prioridade: estudos de inventário com potência até 50 MW, que contempla a maio-ria dos inventários; aqueles com potências acima de 50 MW; e nestes, os estratégicos. Por exemplo, o estudo do Tapajós passou à frente dos demais já contemplados porque foi con-siderado relevante e estratégico pelo que ele acrescentará ao Brasil. É evidente que pelo fato do projeto estar no PAC já demonstra ser estratégico.

A Aneel tem estrutura para dar fluxo à aprovação dos estudos de inventários? Este é o nosso maior problema. Temos apenas 17 espe-

cialistas para analisar estudos, sejam de inventários, viabi-lidade e projetos básicos, de pequenos, médios e grandes empreendimentos. É uma equipe pequena para dar fluxo a toda essa demanda. E temos três técnicos responsáveis pelos estudos das grandes obras do PAC. Precisamos de mais especialistas, sem dúvida.

Qual o potencial brasileiro em hidreletricidade?Hoje estamos com 27% da matriz energética de fonte hi-

dráulica explorada. Temos 72% para explorarmos, mas alguns rios não terão projetos hidrelétricos. O projeto Canambra, nas décadas de 60 e 70, mapeou o potencial hidráulico do País, estimado então em 260 mil megawatts. Porém, a possibilidade de viabilizar esse volume deve ser mais bem avaliada. Nesse contexto, há os remanescentes: o que foi estimado; aqueles que precisam ser inventariados; o que já foi inventariado e agora está em fase de estudos de viabilidade; o que está em projeto básico; em construção e até aqueles em operação.

“Deve-se achar o melhor para sociedade”

Existe interação entre a Aneel e os órgãos ambientais?Uma de nossas prerrogativas legais é fazer essa arti-

culação tanto com os órgãos ambientais, quanto com os órgãos de recursos hídricos e outros integrantes do pro-cesso. Os órgãos ambientais reclamam de tomarem co-nhecimento dos estudos depois de aprovados, e isto tem certa razão de ser, por não estarmos atuando com a articu-lação que se faz necessária. Interagimos com a Agência Nacional de Águas – ANA, Ibama e órgãos estaduais, para os estudos avançarem em paralelo. A Aneel tem as suas competências e limitações. Não podemos entrar na esfera ambiental, mas podemos contribuir para que os processos avancem tecnicamente sendo avaliados ambientalmente também. As nossas aprovações, por exemplo, dos estudos de viabilidade, só são efetivadas em um despacho formal, indo posteriormente a leilão, com a obtenção da Licença Prévia do órgão ambiental, e da Licença de Reserva de Disponibilidade Hídrica, emitida pelo gestor de recursos hídricos. É necessária a conjugação de esforços.

Há sobreposição de papeis entre os agentes do setor?A princípio não. A atribuição legal da Empresa de Pes-

quisa Energética – EPE, por exemplo, é preparar e verificar os estudos de viabilidade, se estão em condições de serem licitados. Os agentes públicos como a EPE, Eletronorte, Furnas e outros, se quiserem desenvolver estudos de in-ventário ou de viabilidades, devem seguir a mesma regra dos agentes privados. Estamos ajustando os campos ideais de atuação para não haver confronto. Quem estabelece os prazos para a realização dos inventários são os agentes, me-diante solicitação de registro na Aneel. Só estabelecemos os prazos para as PCHs. Hoje, pela Resolução 343, o agente tem um prazo de no máximo 14 meses para apresentar um projeto básico. Dependendo da complexidade, uma obra pode durar até três anos ou mais.

Porque os projetos hidrelétricos emperram?Não emperram simplesmente. Às vezes pode ser uma

questão de estratégia. Tivemos no final da década de 1990 um cenário onde o mercado buscava alternativas para desenvolver a matriz energética, o que causou re-tração no desenvolvimento desses estudos. Os agentes privados tinham horizontes no curto prazo. Após a criação da EPE, se retomou o planejamento em curto, médio e longo prazos. Creio que o pior já passou. A aprovação de estudos acabou ficando comprometida por quase uma década e isto repercutiu nos quatros anos recentes. Não tínhamos estudos aprovados em condições de serem li-citados. E os poucos que havia passaram pela questão ambiental. Agora procuramos trabalhar antecipadamente e juntos, tanto na gestão dos recursos hídricos, quanto no licenciamento ambiental.

As concessões das grandes hidrelétricas estão vencendo. Como se pensa em enfrentar a questão?Provavelmente, teremos novas licitações para os inte-

ressados que farão uso desses bens públicos já amorti-zados, e que com o fim da concessão se revertem para a União. É necessário definir como ficará a operação, a manutenção e o custo de todo esse acervo. Não é matéria fácil, prova disto é que o Ministério de Minas e Energia tem um grupo específico estudando o assunto. Os nossos grandes empreendimentos são da década de 60 a 80 e tem longevidade, e isto terá desdobramentos. Seja qual for a solução, ela deverá colaborar para a modicidade tarifária, beneficiando o consumidor final. Modicidade tarifária não significa necessariamente abaixar ou reduzir as tarifa: é a melhor tarifa para usufruir de um serviço público. Deve-se achar o melhor para sociedade como um todo, consumi-dores e investidores.

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Segundo o coordenador de Viabilização de Negócios da Eletronorte, Wilson Fernandes de Paula (abaixo, ao lado de Luiz Cláudio de Oli-veira, à direita), os fatores determinantes para se construir uma hidrelétrica são o custo, a capacidade instalada, a viabilidade e o meio ambiente. Soluções ambientais mal resolvi-das geram dificuldades posteriores. “É por isto que estamos detalhando os estudos de viabilidade. Por exemplo, para Torixoréu, com 400 MW, situado no Rio Araguaia, na divisa dos estados de Mato Grosso e Goiás, que terá seus estudos concluídos em 2010. Estamos fazendo também o inventário do Rio Itacaiu-nas, um afluente do Tocantins, que deságua próximo a cidade de Marabá. Trabalhamos com a divisão da escada do rio desde a foz

até o último trecho, com vistas a escolher um bom aproveitamento, com um potencial de 200 megawatts instalados”.

Juruena, 46 MW, e Cachoeirão, com 72 MW, são aproveitamentos no Rio Juruena, em Mato Grosso, em fase de obtenção da Licen-ça Prévia e serão construídos pela Eletronorte em parceria com o Grupo Maggi. “As obras estão inseridas no Plano de Aceleração do Crescimento – PAC, do Governo Federal, e se conectarão ao sistema de transmissão mato-grossense, já que o e Estado se tornou, nos últimos três anos, um exportador de energia, em virtude das novas linhas construídas e em construção”, comenta Wilson.

Reservas estratégicas – Por falar em no-

vas linhas de transmissão, é interessante recordar, também ao abordar inventários de bacias hídricas, que apenas dois sistemas da Interligação Norte-Sul, que liga Tucuruí a Brasília, adicionaram o equivalente a uma nova usina de 3.200 MW. Segundo Luiz Cláudio de Oliveira Coutinho, gerente de via-bilização de Negócios de Geração da Eletro-norte, “toda usina construída com formação de lago aumenta esse reservatório geral equi-valente. Curiosamente, estão sendo licencia-das termelétricas à base de óleo combustível e até nucleares, enquanto as licenças para hidrelétricas têm demorado sobremaneira. A França esgotou o seu potencial hidrelétrico, e agora esta usando a geração nuclear. A EUA, sem outras opções, estão instalando usinas nucleares. E nós só usamos 40% do nosso potencial hídrico. Se não vamos ter hidrelétri-cas teremos o quê? As eólicas, uma energia complementar, são apenas para regiões onde há ventos suficientes. Não conheço nenhum caso de hidrelétrica desativada. Muitas são recondicionadas e estão funcionando há mais de 120 anos, como a Usina do Grupo Rede, em Bragança, (SP). O apagão de 2001 era para ter acontecido cinco anos antes. Não ocorreu porque nossos reservatórios de água eram suficientes para cinco anos de geração. Ao optarmos por usinas a fio d’água, também estamos tomando uma direção perigosa. É incompreensível abrirmos mão dos grandes reservatórios no momento em que estamos prestes a uma crise mundial de suprimento de água e de energia”.

Ele estará certo? Esperamos continuar ci-tando o Gênesis, para que não possamos es-tar em breve citando o Apocalipse. Que Deus nos ilumine!

Medições de cotas são um dos estudos

fundamentais do inventário

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César Fechine

Corria o ano de 1978, quando foram ini-ciadas as obras na Usina Hidrelétrica Tucuruí para a implantação do sistema de transmissão em 500 kV que interligaria os sistemas Norte e Nordeste. O engenheiro José Antônio Corrêa Coimbra, empregado de carreira da Eletronor-te, atualmente exercendo a função de chefe de Gabinete do ministro de Minas e Energia, Edi-son Lobão, lembra que os paraenses enfrenta-vam problemas no abastecimento de energia naquela época. “Eu trabalhei na interligação. Quando Tucuruí estava em construção, Be-lém sofria com racionamento de energia e foi decidido pelo governo antecipar a interligação Norte/Nordeste no sentido inverso, trazendo energia para atender Belém. Só depois, com a entrada em operação de Tucuruí, é que o fluxo de energia foi invertido.”

Foi quando surgiu o sistema de planeja-mento empresarial da Eletronorte, conforme relata Coimbra (abaixo), autor de dissertação de mestrado sobre o tema. “O primeiro siste-ma de planejamento empresarial foi definido em outubro de 1978, visando a estabelecer e documentar, através dos planos e programas, as políticas, diretrizes, objetivos e metas da Empresa.”

No decorrer dos anos, a Eletronorte adotou diferentes metodologias, desde o planejamen-to de longo prazo, utilizado para definir a ex-

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A Planejamento estratégico: guia para o futuro

pansão dos sistemas elétricos, passando pelo planejamento econômico-financeiro, a partir de metas orçamentárias, redução de despe-sas, aumento de receitas e eficiência opera-cional; até a formulação do primeiro Plano Es-tratégico, em 1990.

“Desde então, a Eletronorte faz o seu plane-jamento, montando mapas de indicadores que possam refletir o desempenho financeiro, e de geração e transmissão. Mas a Empresa nunca deixou de fazer os seus planos de expansão, econômicos e de operação e manutenção, sempre baseados em cenários, oportunidades e ameaças do ambiente”, afirma Coimbra.

Transformação - Hoje, o foco maior da Dire-toria da Eletronorte é estar alinhada com o Plano de Transformação do Sistema Eletrobrás. Esse processo originou a revisão do Plano Estratégi-co Ciclo 2009-2010, criando uma maior vinculação entre a visão de longo prazo e o alinhamento das pessoas no desenvolvimento das atividades do dia-a-dia, além de nortear as ações prioritárias da Empresa. “Nós nos dedicamos recentemente a fazer toda a revi-são do Plano Estratégico vigente para adequá-lo ao modelo atual do Setor Elétrico e às estratégias traçadas pela Eletrobrás”, explica o diretor-presidente da Eletronor-te, Jorge Palmeira (ao lado).

Entre as principais orientações estratégi-cas da Diretoria estão expandir os negócios de geração e transmissão de energia com in-vestimentos que garantam a Taxa Interna de Retorno – TIR, direcionados a novos empre-endimentos e aos ativos próprios; alcançar o equilíbrio econômico-financeiro; acompanhar e influenciar a concepção do marco regulató-rio do sistema isolado, propondo soluções que promovam a redução de custos e a justa com-pensação dos encargos de geração e trans-missão; e implementar processos de gestão das participações da Eletronorte em Socieda-des de Propósitos Específicos – SPEs.

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Não foram esquecidas a Governança Cor-porativa e a Gestão de Processos, com a in-tensificação das ações de melhorias, aumento da eficiência e aprimoramento das práticas de sustentabilidade empresarial, bem como a integração dos sistemas de informações cor-porativas. Outras orientações são a conscien-

tização dos empregados quanto à necessidade de melhoria da qualidade e do aumento de pro-dutividade nos processos empre-sariais, visando a alcançar os re-sultados frente ao modelo setorial e o fortalecimento da comunica-ção empresarial.

Lucro - O Mapa Estratégico 2009/2011 da Eletronorte con-templa as perspectivas de pes-soas e aprendizado, processos

internos, clientes e mercado, e financeiro, divi-didos em dez objetivos estratégicos. “O Mapa permite mostrar aos empregados o que nós temos que trabalhar para alcançar o resultado empresarial. Nesse horizonte, a Diretoria co-

locou como meta maior a obtenção do lucro”, afirma Ângelo do Carmo, gerente da Assesso-ria de Planejamento Empresarial da Eletronor-te (ao lado).

A perspectiva de pessoas e aprendizado busca alinhar a força de trabalho à estratégia corporativa, garantir qualidade de vida a todos e dar sustentabilidade à organização na exe-cução dos processos internos. Para melhorar a eficiência desses processos foi contratada a empresa especializada, Roland Berger.

O trabalho envolve a análise de 28 macropro-cessos, por meio de 13 equipes, com a partici-pação de gerentes de várias áreas da Empresa e deverá ser aprovado e validado até junho de 2009, quando será iniciada a etapa de imple-mentação do plano de ação para a otimização dos processos, o que pode levar de um a três anos. “Nas iniciativas do grupo de planejamen-to e controle veremos os indicadores empresa-riais e a gestão de custo, e montaremos novos indicadores para garantir o êxito do projeto”, afirma o consultor Francisco Aranda.

Outra ação corporativa que vai ao encon-tro do Planejamento Estratégico é a apli-

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Transformar a Eletro-brás numa megaempresa brasileira que conquiste no mundo a mesma respei-tabilidade da Petrobras. É com foco nessa orientação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que trabalha a Diretoria da Eletrobrás, conforme explicou o diretor Financeiro e de Relações com Investidores, Astrogil-do Quental (foto), em apre-sentação na Associação dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais do Distrito Federal – Apimec-DF, no dia 2 de abril de 2009.

Tudo começa pelo Plano de Transformação do Sis-tema Eletrobrás, que introduz um ambiente de mu-danças e envolve ações em todas as empresas do Sistema. “Esse Plano conta com a participação ativa dos empregados de vários segmentos para aprimorar a gestão das empresas controladas”, explica Astrogildo.

Os investimentos em projetos de geração que vão agregar mais de sete mil MW ao Sistema Interligado Nacional - SIN e em 15 mil km de linhas de transmissão são as princi-pais metas constantes do Programa de Ações Estratégicas – PAE 2009-2012, apresentado pelo Diretor. “Os investimentos constantes do Pro-grama, com recursos públicos e em parceria com a iniciativa privada, para alcançar as metas de geração e de transmissão, somam R$ 30,2 bi-lhões”, informa Astrogildo.

Até o fim de 2009, o PAE aponta investimentos de R$ 8,7 bilhões, sendo R$ 4,5 bilhões destinados à geração, R$ 2,5 bi-lhão à transmissão, R$ 1 bilhão às empresas de distribuição das regiões Norte e Nordeste, e investimentos em reforços, amplia-ções de sistemas e outros equipamentos que somam R$ 592 milhões.

O Programa, o primeiro com objetivos e investimentos inte-grados de todas as subsidiárias do Sistema Eletrobrás, prevê também, no seu projeto de internacionalização, a conclusão de estudos de projetos de geração de cerca de 18 mil MW e de 11 mil km de linhas de transmissão até 2012. Entre os projetos em estudo encontram-se seis usinas no Peru, que somam sete mil MW, Garabi, na Argentina, com potencial de 1,8 mil MW, além dos estudos de viabilidade do Aproveita-mento Hidrelétrico Binacional de Baynes, na fronteira de An-gola com a Namíbia, na África. Quental esclarece, entretanto, “que a realização desses projetos depende dos estudos de viabilidade financeira e ambiental e sempre prevalecendo os interesses e a soberania do Brasil”.

Outras metas na área de gestão corporativa são listar a Eletro-brás no índice de sustentabilidade da Bolsa de Valores de Nova Iorque, ascender ao Nível 2 de Governança Corporativa da Boves-pa e conquistar a certificação na Lei Sarbanes-Oxley.

Todo esse conjunto de ações, e outros fatores como as medidas de saneamento das distribuidoras, já apresenta bons resultados. “O lucro do Sistema Eletrobrás al-cançou R$ 6,1 bilhões em 2008. E vamos pagar R$ 1,7 bilhão de remuneração aos acionistas este ano”, informou Astrogildo, acres-centando aos economistas, estu-dantes e outros participantes da apresentação que a transparência é uma das marcas da Eletrobrás.

PAE aponta investimentos de R$ 8,7 bilhões em 2009

cação dos procedimentos previstos na Lei Sarbanes-Oxley – SOX. Já a segunda pers-pectiva do Mapa Estratégico, a de clientes e mercado, tem o objetivo de aumentar a participação no negócio de energia elétrica e atender aos requisitos de sustentabilidade da Eletrobrás, que acaba de lançar o Progra-ma de Ações Estratégicas – PAE 2009-2012 (ver boxes).

“E temos a perspectiva financeira, com os objetivos estratégicos de aumentar o resultado empresarial e equacionar os problemas estrutu-rais para que possamos atingir o objetivo maior que é a obtenção do lucro”, explica Ângelo.

O desdobramento, a análise crítica dos objetivos estratégicos e o acompanhamento

das metas projetadas estão sendo feitos mês a mês pela Diretoria. “O nosso balanço de 2008 não foi muito bom, mas nós aproveita-mos esse momento para limpar todos aque-les ativos que estavam com o valor contábil muito elevado, tanto de geração, quanto de transmissão, que produziam prejuízos econô-micos”, acrescenta Jorge Palmeira.

Problemas estruturais - Resolver os proble-mas estruturais é outro desafio da Eletronorte em busca do lucro. Desde a sua origem, a Em-presa faz o atendimento aos sistemas isolados de energia em Manaus e nos estados do Ama-pá, Rondônia, Acre e Roraima, por meio, prin-cipalmente, da queima de óleo combustível

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em usinas termelétricas. A situação agravou-se a partir de 1993.

“Com a mudança na Lei 8.631, esses sis-temas não foram contemplados e não se criou uma legislação própria. Nas legislações sub-sequentes também não houve um tratamen-to específico para o Sistema Isolado, que tem custo de geração muito alto. E, atualmente, esse dispêndio leva a desequilíbrios estrutu-rais muito grandes, que vêm sendo absorvidos pelo caixa da Eletronorte”, relata Coimbra.

Para superar o problema, o Ministério de Minas e Energia estuda criar uma legislação setorial específica, por meio de Medida Pro-visória. A mudança na administração das dis-tribuidoras estaduais, que foi centralizada na Eletrobrás, é outra medida adotada para redu-zir custos e melhorar resultados (veja matéria na página 26).

“Para esses problemas estruturais, o go-verno vai regulamentar os sistemas isolados.

As empresas do Sistema Eletrobrás estão fazendo a revisão e a documen-tação dos seus controles de processos, conforme os procedimentos estabele-cidos na Lei Sarbanes-Oxley - SOX, vi-sando à negociação das ações da hol-ding no pregão da Bolsa de Valores de Nova York.

A Lei Sarbanes-Oxley foi proposta em conseqüência de grandes escândalos financeiros coorporativos e promulga-da pelo governo dos Estados Unidos da América em 2002. Os requisitos de SOX incluem regras para a criação de comitês e comissões en-carregados de supervisionar as atividades e operações das empresas, de modo a mitigar os riscos aos negócios, evitar a ocorrência de fraudes e identificar quan-do elas ocorrem, garantindo, ainda, a transparência na gestão.

A Eletrobrás está implementando em todas as suas subsidiárias o Projeto SOX 2008/2009, que trata da aderência à Lei, tendo em vista o recém-obtido registro de seus American Depositary Receipts – ADRs (certificados que representam as ações da companhia) Nível II na Securi-ties and Exchange Commission (SEC), a comissão que regula o mercado de capi-tais americano.

SOX: transparência na gestão

Depois tem o equacionamento da dívida junto à Eletrobrás e a transferência de alguns ativos e contratos. Já transferimos, por exemplo, os contratos da Termonorte, em Rondônia, para a Ceron, o que vai fazer com que deixemos de ter um prejuízo na ordem de R$ 250 milhões por ano. E a Eletrobrás também contratou uma empresa para estudar como promover a capitalização para equacionar a dívida das empresas que compõem a holding”, informa Palmeira.

Quando se fala em Planejamento Estratégico empresarial, muitas pessoas citam como refe-rência a Petrobras, a maior empresa brasileira. “A Petrobras é considerada benchmarking nes-sa área. Não é à toa que é a maior empresa do Brasil. Mas o próprio processo de planejamen-to energético, retomado pelo Governo Federal, exige um processo de planejamento estratégico integrado, que será o guia para o futuro das empresas do setor”, conclui Coimbra.

As empresas só têm a ganhar com a criação de mecanismos de auditoria e segurança confiá-veis, que aumentam o nível de responsabilidade e comprometimento dos seus administradores, possibilitando a supervisão sobre as demons-trações financeiras e uma maior transparência e credibilidade das informações divulgadas ao mercado financeiro.

“A Eletrobrás precisa participar de novos empreendimentos e, para captar recursos com custos mais baixos, a opção foi abrir o capital num nível de governança maior. Para manter os ADRs no Nível II, a Empresa precisa certificar

os seus processos e controles. Estamos nos preparando para essa certificação”, explica Luís Cláudio Araujo de Almeida (foto), gerente da Controladoria Empresarial e

de Participações Societárias e líder do Projeto SOX na Eletronorte.

Os primeiros testes na Eletronor-te serão feitos nos controles gerais da tecnologia da informação. Em dezembro, a PricewaterhouseCoo-pers fará os testes visando à certifi-cação dos processos que garantam a fidedignidade das demonstrações financeiras. Com base em critérios estabelecidos pela Eletrobrás e pela Ernest&Young, a Eletronorte terá 30 processos certificados.

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“O Programa Pró-Equidade de Gênero tra-balha com aquilo que é mais difícil de modifi-car: cultura. E hoje há uma cidadania capaz de mudar a nossa realidade e fazer transbordar a equidade das empresas para a sociedade”. As palavras da ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres - SPM, Nilcéa Frei-re, encheram de orgulho uma platéia ansiosa por ver o reconhecimento ao trabalho feito pe-los comitês de gênero de 23 empresas e ins-tituições que receberam o Selo Pró-Equidade de Gênero – 2009, uma iniciativa da SPM, com a parceria do Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher – Unifem, e da Organização Internacional do Trabalho - OIT.

Numa cerimônia marcada pela euforia e determinação, o Centro de Convenções Brasil

21, em Brasília, recebeu cerca de 1.200 con-vidados na noite de 25 de março deste ano. No placo, uma mestre de cerimônias especial: a atriz e poeta Elisa Lucinda (abaixo). Come-çava a cerimônia quando ela fechou e ergueu as mãos para interpretar um de seus poemas e emocionar a todos:

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o Selo Pró-Equidade: a marca que pode mudar a históriaEletronorte e outras nove empresas do Sistema Eletrobrás são reconhecidas

“Filho..., igualzinho à minha poesiavocê nunca foi meu órgãoA arte é constante e me habita à hora que ela quere à hora que eu deixoMas não me existe combinada, não há contratos nem despejosvocê tem intimidade com meus interiorescom meus departamentosVocê é um argumento contra mim e a meu favorMe trai porque conhece meu avessoMe enobrece porque me tornou poderosaCapaz de prosseguir com essa invenção chamada humanidadeVocê é a barbaridade de ter feito a minha barriga crescerMeu corpo zunir, abrir, escancarar pra você sairde onde eu nunca pus sequer os pés, as mãosda casa em que vivo e habito sem nunca ter entradoporque moro fora de mim.(...)Espião de meus bastidoresOlhou minhas entranhas enquanto virava ser humanoquieto dentro de mim como as palavras antes de serem poesiaMas fui apenas uma pensão, uma besteiraou um hotel cinco estrelasou um amniótico colchão.Hoje saído dessa embalagem, me olhas como miragemde parecer tão próprio, tão seuMe olhas como árvoreziguezagueia e olha para o que fui: passageira semente.(...)Está pronto e feito, como o meu melhor poemaNem branco nem preto.Nem real nem ilusão.Um grande amuleto da palavra são.

(Da série Consagração da Criatura. Poema completo em www.escolalucinda.com.br)

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Depois de parabenizar os trabalhos dos comitês de gênero das premiadas, Nilcéa Freire deixou um recado para quem ainda considera pequenos os resultados atingidos até agora. “Falamos no reconhecimento

da união homoafetiva, da ampliação da li-cença maternidade, da ampliação do Pró-Equidade, da Lei Maria da Penha, do pacto contra Violência. E há quem nos diga: mas só isso? E aí nós temos que responder: vai fazer tudo isso!”. Para a ministra, essas são as pequenas revoluções cotidianas que fa-zem a diferença.

Eletronorte - Ao conquistar o Selo pela segunda vez, a Eletronorte marcou pre-sença. Com um número expressivo de co-laboradores, subiu ao palco representada pelo diretor de Engenharia e Planejamento, Adhemar Palocci (ao lado, ao centro). Se-gundo ele, essa é mais uma demonstração do compromisso da Empresa com a ques-tão. “Estamos num setor em que temos ambientes realmente masculinizados e a Eletronorte, como o Sistema Eletrobrás, vem assumindo uma postura capaz de gerar um ambiente favorável à promoção da equida-de de gênero, assim como o fortalecimento das relações humanas”.

Na Eletronorte, o Pró-Equidade começou em 2005. A Empresa foi uma das primei-

Eletronorte no palco: ambiente favorável à equidade

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ras a participar do programa e a criar o seu Comitê de Gênero. Nesses quatro anos a simples percepção da identificação visual na Empresa já faz a diferença. “Hoje nós estamos presentes nos eventos, nos trei-namentos, na recepção de novos colabo-radores e conquistamos o reconhecimento da questão da equidade como ferramenta importante no Planejamento Estratégico da Empresa. Vale ressaltar que o diretor-presi-dente da Empresa, Jorge Nassar Palmeira, já assinou a adesão da Eletronorte à tercei-ra etapa do Programa”, afirma a coordena-dora do Comitê de Gênero da Eletronorte, Gleide Brito.

“Sem volta” - Numa noite de homena-

gens, não faltaram as certezas de que há muito trabalho pela frente. Para a vice-di-retora do Unifem Brasil e Cone Sul, Junia Puglia, um dos aspectos mais significativos do Programa é que as empresas estão com-preendendo a necessidade de empreender a equidade. “Eu gostaria de deixar um re-cado a cada uma dessas empresas: não

há retrocesso; não há volta atrás. Daqui, só para frente!”.

A diretora da OIT Brasil, Laís Abramo, destacou que, nesta segunda edição, foi constatada a participação de instituições como a Prefeitura Municipal de Quixadá, no Ceará. “Isso confere um caráter de conti-nuidade, e é fundamental para transformar os estereótipos. Nós fazemos um elogio às diferenças, mas também fazemos a luta in-transigente contra a desigualdade, que ain-da é tão real em nosso Brasil”.

Em 2009 foram inscritas 50 organizações, entre empresas privadas e instituições públi-cas. Dessas, 36 apresentaram e acordaram o plano de ação a ser implementado no âmbito da organização candidata, mas somente 23 conseguiram chegar à etapa final, cumprin-do, no mínimo, 70% das ações planejadas.

A premiação das empresas conclui um processo que começa após a adesão volun-tária. Segundo a Secretaria, o caráter vo-luntário evidencia uma sensibilização pré-existente na direção do grupo ou instituição para a temática da equidade de gênero.

Sistema Eletrobrás: presença forte todos os anos

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Nascida no Rio de Janeiro, em 1952, Nilcéa Freire é médica e professora universitária, graduada na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro em 1978. Divorciada e mãe de dois filhos, Nilcéa ocupa, desde fevereiro de 2004, o car-go de ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres - SPM. Cin-co anos depois, comemora a criação do Ministério das Mulheres, anunciada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em março deste ano.

Ainda em 2004, organizou e coorde-nou, em conjunto com o Conselho Nacio-nal de Direitos da Mulher, a I Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres. Dessa Conferência resultaram as diretri-zes para a elaboração do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (PNPM), lançado em dezembro de 2004.

Nesta entrevista à Corrente Contínua, a Ministra, com opi-niões firmes e argumentos sólidos, questiona os rótulos que cercam a temática de gênero e faz um balanço desses cinco anos e dos desafios que vêm pela frente.

Criticada logo no início do governo Lula, a criação da Secretaria foi palco de polêmicas – como a legalização do aborto, e conquistas - como a Lei Maria da Penha e o Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência contra as Mulheres. Agora, durante as comemorações da Semana da Mulher, o presidente Lula anunciou a transformação da Secretaria em Ministério. A que a senhora atribui uma decisão como essa?Não há dúvida de que a decisão do presidente Lula repre-

senta uma reiteração do compromisso de seu governo com a promoção da igualdade entre homens e mulheres no Brasil. Desde o início do primeiro mandato, o Presidente manifestou inequivocamente esse compromisso com a decisão de criar a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, vincula-da à Presidência da República. É claro que há também um reconhecimento dos resultados obtidos pela SPM, e isso nos alegra e incentiva ainda mais a perseguir novos avanços e conquistas.

Uma pesquisa Ibope revelou que 90% dos brasileiros elegeriam uma mulher para cargo público. Desse grupo, 74% votariam em uma mulher para prefeito, governador ou presidente. Como reconhecer que num país que elegeria mulheres como suas representantes, ainda exista preconceito?Essa pesquisa trouxe revelações extraordinárias. Foi reali-

zada por meio de convênio entre a SPM e o Instituto Patrícia Galvão, com parceria do Cultura Data, no âmbito do capítulo cinco do II Plano Nacional de Políticas para as Mu-lheres, que trata da “ampliação da participação política das mulheres nos espaços de poder e decisão”. Dentre outras revelações, a pes-quisa apurou que a grande maioria dos brasileiros (83%) acredita que a presença de mulheres no poder me-lhora a política nesses espaços. Para muitos (75%) só há democracia, de fato, se elas estiverem nos espaços de poder. E note bem: o apoio majo-ritário a uma maior participação das mulheres na política ocorre em to-dos os segmentos da amostra, tanto demográficos, como nas diferentes regiões do País.

Mas para que muitas mulheres ingressem na política é preciso alterar o cenário de dificuldades que qualquer mulher tem de enfrentar para tornar-se candidata, por qualquer partido. É aí que os preconceitos estão forte-mente instalados, no interior dos próprios partidos polí-ticos e nas instâncias de poder dos parlamentos, de tal forma que tornam a política uma cena masculina. Por isso publicamos uma portaria ministerial que institui uma Comissão Tripartite para discutir, elaborar e encaminhar proposta de revisão da Lei 9.504, de 30 de setembro de 1997, que estabelece normas para as eleições.

A redução das desigualdades passa também pelo aumento da participação da mulher na política? A alternativa são as cotas? A mesma pesquisa Ibope revelou que nada menos

do que 75% das brasileiras e brasileiros são favoráveis a cotas para mulheres na política. E mais: 86% apóiam a punição dos partidos políticos que não cumprem a atual legislação, que prevê 30% de candidaturas femininas. O problema está, dentre outros fatores, na inexistência de sanção para os partidos políticos que não cumprem a cota mínima. Na década de 90 as mulheres represen-tavam 10,8% dos parlamentos na América Latina. Uma década depois, após a adoção de políticas de cotas em vários países, o índice saltou para 18,5%. Argentina e Costa Rica apresentaram os melhores resultados: passa-ram de 6% e 14% para 38,3% e 36,8% respectivamen-te. Dentre os países da América Latina que adotaram políticas de cotas para mulheres, o Brasil apresentou o pior resultado: 8,9%.

“Há um significativo diferencial das empresas do Sistema Eletrobrás”

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O que significou a Lei Maria da Penha na vida das mulheres brasileiras?A Lei Maria da Penha é sem dúvida um grande avan-

ço e uma importantíssima conquista de toda a sociedade brasileira. Podemos dizer que a abordagem à violência contra as mulheres era uma antes, e é outra depois da lei. O texto tornou-se o novo regramento social no que se refere à violência de gênero. Segundo outra pesqui-sa realizada pelo Ibope/Instituto Patrícia Galvão, com o apoio da SPM, em 142 municípios brasileiros existe um alto grau de conhecimento (68%) da Lei Maria da Penha e um grande reconhecimento de sua importância (83%) para reduzir a violência contra as mulheres. Esse cenário nos permite afirmar que esta é uma lei que “pegou”. A sociedade brasileira está mais vigilante e menos tolerante aos casos de violência de gênero.

Uma das conquistas recentes foi a licença maternidade de seis meses. As mulheres devem sofrer as consequências do preconceito no momento de procurar emprego? Que indicativos mostram que a licença de seis meses é realmente positiva para o País? Ao contrário dessa discussão de que a licença am-

pliada tira a mulher do mercado de trabalho, nós afir-mamos que ela, enfim, começa a caminhar na direção da corresponsabilidade de Estado e sociedade naquilo que são as tarefas da reprodução do viver. Se nos pri-meiros seis meses a criança precisa da presença da mãe, não pode ser só ela a arcar com isso. As empre-sas vão se adaptar. Até porque as mulheres começam a demandar dos sindicatos que essa questão seja in-cluída como direito na pauta das negociações coletivas de trabalho. O governo fez o dever de casa, agora fica mais fácil cobrar.

A Secretaria lançou o Observatório Brasil Igualdade de Gênero. Qual o objetivo? Como as pessoas podem participar ou acompanhar os trabalhos?O Observatório Brasil da Igualdade de Gênero é

uma iniciativa da SPM, em parceria com organismos internacionais e organizações da sociedade civil. O objetivo é subsidiar o processo de formulação e im-plementação de políticas públicas com perspectiva de gênero, além da disseminação de informações acer-ca das desigualdades e dos direitos das mulheres. O conteúdo produzido pelo Observatório destina-se aos gestores públicos, representantes políticos, autorida-des de partidos políticos, sindicatos, movimentos e organizações da sociedade civil, e em particular aos movimentos e às organizações feministas e de mulhe-res, assim como aos centros de produção de conhe-cimento e às universidades. Por meio do endereço

eletrônico www.observatoriodegenero.gov.br é possível a qualquer brasileiro ou brasileira acompanhar todo o desen-volvimento dos trabalhos desse importante projeto.

O Comitê de Gênero do Ministério de Minas e Energia e Empresas Vinculadas completa cinco anos. A Eletrobrás e mais nove empresas do Sistema recebem o Selo Pró-Equidade de Gênero 2009. Quais são, em sua opinião, os diferenciais do Sistema Eletrobrás? Com toda a certeza, há um significativo diferencial das

empresas do Sistema Eletrobrás. Antes mesmo da primeira edição do Selo Pró-Equidade de Gênero, o Comitê do MME já estava instalado. Todas as empresas do Sistema já integravam o Comitê, possibilitando a unificação de políticas, o compar-tilhamento de experiências e o desenvolvimento de práticas voltadas para questões de gênero.

A Eletronorte recebe o Selo pela segunda vez e já prepara a inscrição na terceira etapa. Como a senhora avalia o desempenho e o envolvimento da Empresa na questão da equidade?A avaliação que importa não é a da Ministra, mas a do Co-

mitê Pró-Equidade de Gênero e do Comitê Ad hoc. Esses comi-tês assessoram a coordenação do Programa nas suas diversas etapas, inclusive a etapa de monitoramento e avaliação das organizações para a obtenção do Selo Pró-Equidade de Gê-nero. A Eletronorte está de parabéns, pois o seu desempenho foi realmente bem avaliado, por ambos os comitês, para que a Empresa se tornasse ganhadora do Selo Pró-Equidade de Gênero nas duas edições já realizadas.

Numa análise geral, de que forma a Secretaria contribui para a vida das mulheres brasileiras? Foram muitas as contribuições. Entre elas, temos a Política

Nacional de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, que assegura a ampliação da rede de serviços de atendimento em situação de violência e a capacitação de profissionais dos ser-viços de saúde, casas-abrigo, centros de referência de aten-dimento, defensorias públicas, delegacias especializadas no atendimento à mulher, além dos profissionais da segurança pública. A aprovação da Lei Maria da Penha. O lançamento do Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, que conta com recursos da ordem de R$ 1 bilhão a serem executados até 2011 em todos os estados. Também é importante destacar outras ações, como o Programa Mu-lher e Ciência, um concurso de redações para estudantes do ensino médio e de artigos científicos para estudantes de graduação e graduados, que está em sua quarta edição; o in-centivo à formalização do trabalho doméstico, por meio da Lei 11.324/06; a ampliação de crédito para trabalhadoras rurais; a Política Nacional de Direitos Sexuais e Reprodutivos, e o Plano de Ações Integradas para o Enfrentamento da Femini-zação da Aids.

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Bruna Maria Netto

Entre as décadas de 1970 e 1980 do sécu-lo passado, como é sabido, a Eletronorte che-gava aos estados da região amazônica com a difícil missão de levar energia aos pontos mais isolados do País. O que poucos sabem é que, além da construção de grandes parques geradores, a Empresa também criou subes-tações e linhas de transmissão para suprir as necessidades da população, transmitindo e distribuindo eletricidade em potências entre 13,8 kV e 500 kV. Estava caracterizada a fun-ção de transmissora de energia da Empresa, mesmo que atuando também em níveis me-nores aos da Rede Básica – caracterizada por potências iguais ou maiores a 230 kV.

Mário Dias Miranda (ao lado), coordenador de Relações Insti-tucionais da Eletronorte, explica o motivo: “As subestações e as linhas de transmissão abaixo de 230 kV deveriam ser de res-ponsabilidade das distribuidoras desde sempre, mas a Eletronorte teve de implantá-las devido às dificuldades de operação na re-gião. A Empresa recebeu orien-tação do Governo Federal para implantar usinas hidrelétricas e assumir as termelétricas oriun-

das das distribuidoras estaduais. Como con-sequência desse ato, teve que implementar as linhas de transmissão associadas a essas usinas adquiridas. Dessa forma, construiu linhas em 230 kV, 138 kV, 69 kV e 34,5 kV, e nesse processo de uni-versalização da energia na Amazônia, não foi remune-rada adequadamente na sua tarifa”.

A falta de remuneração apropriada contribuiu para saldos negativos no fluxo de caixa da Empresa que, aten-dendo a legislação vigente, agora faz a transferência

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SÃo repasse de ativos de baixa tensão às distribuidoras

contribui para o resultado financeiro da Eletronorte

desses ativos a quem pertencem: às distri-buidoras de energia. Jésus Alves da Costa (abaixo), superintendente de Contabilidade

da Eletronorte, justifica a ação: “Como os ativos são típicos da atividade de distribuição de energia elétrica, não há o menor sentido, sob qualquer ângulo que se queira avaliar, continuar fazendo parte do imobilizado da Eletronorte, que tem como ativi-dades principais a geração e a transmissão de energia elétrica. Aliás, essa transferência preci-saria ser realizada de qualquer forma, por se tratar de uma exi-gência legal”.

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repasse de ativos de baixa tensão às distribuidoras contribui para o resultado financeiro da Eletronorte

DITs e Rede Básica - O que Jésus está falando é sobre a classificação homologada pela Resolução nº 067/04 da Agência Na-cional de Energia Elétrica - Aneel, que regula quais ativos são pertencentes às transmisso-ras e às distribuidoras: “De acordo com o mo-delo do Setor Elétrico brasileiro, a Eletronorte não pode ter compondo o seu ativo imobiliza-do instalações com tensão inferior a 230 kV”, alerta. As instalações de transmissão de ten-sões menores que 230 kV são denominadas Demais Instalações de Transmissão, ou DITs, enquanto as iguais ou maiores a esse valor fazem parte da Rede Básica.

Na Eletronorte, os estudos para a trans-ferência das DITs foram iniciados em 2007, tendo como intenção o repasse de subesta-

ções nos estados do Amapá, Acre, Rondônia, Pará, Mato Grosso e Maranhão. O primeiro deles foi feito em abril de 2009, diminuindo a disfunção da Empresa e colaborando prin-cipalmente com sua saúde financeira: “O que motivou nossa Diretoria foi a questão dos resultados empresariais, pois esses ativos, justamente por não se encaixarem em nos-so perfil de transmissão, têm um custo muito alto e não havia outra maneira senão fazer essas transferências, já que são de responsa-bilidade dos agentes distribuidores”, explica Sidney Custódio Santana Júnior (abaixo), su-perintendente de Engenharia de Operação e Manutenção da Transmissão da Eletronorte.

Jésus Alves complementa: “As DITs trazem efetivos prejuízos para a Eletronorte, que vem arcando com os gastos de manutenção, além

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de os seus encargos de depreciação afetar negativamente o resultado da Empresa, sem que haja contrapartida de receita para cobrir tais ônus”. Miranda conclui: “Essas instala-ções são de uma época anterior, mas estão sendo revisitadas pela Empresa. Não estamos praticando o acomodamento, e sim avaliando o que é melhor para todos. A Eletronorte tem uma dívida grande. E o que podemos fazer para continuar a ser competitivos e amortizar essa dívida? A transferência das DITs se inse-re aí. O que se pretende com isso, além de seguir a legislação, é obter uma Eletronorte mais viva”.

Negociações – Na Eletronorte foram forma-dos dois grupos de trabalho para a implemen-tação dos repasses. De acordo com Sidney, a discussão está no âmbito da Empresa com as respectivas distribuidoras, com a ciência e aprovação da Aneel. Isso ocorre porque, de acordo com Mário Miranda, “mesmo existin-do uma legislação que define a Rede Básica e as DITs, a resolução da Aneel não tornou obrigatório um prazo para esse repasse, sen-do feito por meio de ajuste negocial entre as empresas. O importante foi a criação da Rede Básica, onde a Eletronorte se insere”.

O primeiro grupo está encarregado de avaliar os bens físicos e a administração dos contratos de transmissão, levantamento de contabilidade dos ativos e, de acordo com Miranda, “principalmente de negociar com a distribuidora o valor que a Aneel vai homolo-gar. E nós queremos assegurar que a Eletro-norte receba uma valoração justa por isso”. Todos os ativos que compõe as DITs são inventariados e, posteriormente, é feito um

levantamento contábil em cada subestação. Após a aprovação do relatório final pela Dire-toria, o segundo grupo de trabalho discute a situação com a distribuidora e a Aneel.

Sidney ressalta: o que será transferido é um termo aditivo do contrato de concessão que foi dado à Eletronorte, subtraindo os ati-vos sob esse processo – e documentado em conjunto com a Aneel – sendo aditados ao contrato da distribuidora, que os absorve-rão. “A área de distribuição é diferente da de transmissão, que trabalha por meio de con-corrência em que se busca modicidade tari-fária em leilão”. Com a transferência, também deverá ser feito um compartilhamento na su-bestação, quando será necessário o ajuste da operação em conjunto com as distribuidoras, já que as tensões são trabalhadas no mes-mo ambiente físico. “Se compararmos com a aviação, caberá à Eletronorte a operação de grandes rotas nacionais e às distribuidoras a rota regional. Assim, o aeroporto seria como as subestações, onde se compartilharia as rotas nacionais e regionais”, esclarece Mário, observando ainda que, como as distribuidoras ainda não possuem experiência em trabalhar em alguns níveis de tensão, será firmado um contrato de prestação de serviços de opera-ção e manutenção.

“A Eletronorte irá repassar os equipamen-tos, mas vai continuar a prestar o serviço de manutenção e operação. Com isso, nossa mão-de-obra estará totalmente preservada”. O consumidor também não será afetado: “A sociedade de cada região não precisa se pre-ocupar, porque há um agente regulador bem estruturado que não vai permitir grandes mu-danças na tarifa. No contrato de concessão da

As subestações compõem

a maior parte dos ativos

a serem transferidos...

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Eletronorte com a distribuidora, dependendo de como se forme situações não aplicáveis ao Setor Elétrico, a Aneel pode multar e até jul-gar essas concessões”, esclarece Sidney.

Prazos - A Eletronorte tem pressa, e os gru-pos estão com a agenda apertada, tendo de cumprir prazos estipulados tanto pela revisão quinqüenal das distribuidoras junto a Aneel, quanto da integração de linhas da Eletronorte ao Sistema Interligado Nacional - SIN. No Es-tado do Amapá - onde a Eletronorte irá trans-ferir todas as instalações para a Companhia de Eletricidade do Amapá - CEA, ficando ape-nas com a Usina Hidrelétrica Coaracy Nunes – a concessionária estadual será a primeira a passar por revisão quinqüenal junto à Agên-cia. “As distribuidoras têm de apresentar toda sua base de ativos para que a Aneel valorize adequadamente a tarifa. Para elas é funda-mental que esse repasse seja feito o quanto antes, já que, se perdido, a revisão tarifária será feita apenas daqui a cinco anos, signifi-cando prejuízo - por estarem adquirindo ati-vos sem reavaliação da tarifa -, sendo essen-cial que esse processo ocorra em sincronia”, enfatiza Miranda.

Cada distribuidora tem essa data pré-determinada, o que ajuda a nortear quais estados terão prioridade nas transferências: “Como há esse escalonamento de períodos, o que a Eletronorte está querendo é concluir o repasse antes do período da revisão tarifária de cada distribuidora. Caso contrário, perde-ríamos o momento oportuno”, avalia Sidney. Nos estados do Acre e Rondônia, por conta da integração ao SIN, a data-limite para o re-passe de nove subestações é julho de 2009.

“Com o SIN, as DITs passariam a ser remu-neradas, porém, para a Eletronorte é interes-sante fazer o repasse porque irá fazer o en-contro de contas com a Eletrobrás. No caso do Acre e Rondônia o encargo é maior do que a remuneração vinda dessas instalações”, diz Miranda.

Diante disso, serão repassadas integralmen-te à Companhia de Eletricidade do Acre – Eletro-acre, as subestações Tangará, São Francisco, Sena Madureira e Epitaciolândia, com as suas respectivas linhas de transmissão. Além disto, serão transferidos os vãos de 69 kV, de 34,5 kV e alimentadores em 13,8 kV existentes na Subestação Rio Branco. Para as Centrais Elé-tricas de Rondônia – Ceron, serão transferidas integralmente as subestações Areal, Alfaville, Guajará, Rolim de Moura e Tiradentes, além de partes das subestações Abunã, Ji-Paraná, Pimenta Bueno, Ariquemes, Jaru, Vilhena, e Porto Velho. No Maranhão, os ativos da su-bestação São Luiz I é o processo mais adian-tado, onde já houve reuniões com a Aneel e a Companhia Energética do Maranhão - Cemar. “São transições cercadas por confiabilidade, segurança e continuidade de operação de to-dos os lados, sempre sob fiscalização da Ane-el”, garante Miranda.

Competitividade, qualidade e lucro – Mi-randa explica que só com o repasse dos ativos às distribuidoras do Acre e Rondônia a Eletro-norte irá receber por volta de R$ 300 milhões, mas que os ganhos serão bem maiores. “Com a Empresa trabalhando com a transmissão exclusiva da Rede Básica, irá se especializar e oferecer mais qualidade no atendimento, pois as regras de continuidade operacional

... mas a Eletronorte continuará a prestar os serviços de operação e manutenção

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são muito inflexíveis quanto à penalização. No sistema Acre/Rondônia ficaremos com uma linha de transmissão de Vilhena até Rio Branco, com mais de mil quilômetros de ex-tensão, além de sete subestações em 230 kV, consolidando a forte presença da Eletronorte na região”. Mário explica que a Empresa tem todas suas funções orquestradas: “Por um lado estamos conquistando, fazendo novos negócios baseados em rentabilidade asse-gurada, e por outro estamos revendo o que nós temos, e isso que é importante, porque não continuamos a ter só porque já está lá, e sim avaliarmos constantemente se realmente vale a pena continuar com ele, pois o enfo-que sempre tem de ser no resultado para a instituição”.

Miranda ainda lembra que os novos desa-fios já estão sendo enfrentados, e o repasse será benéfico também às distribuidoras: “Es-tamos recebendo uma nova tecnologia, que é a transmissão em corrente contínua, e com esses grandes desafios temos de olhar para frente. Do ponto de vista das distribuidoras, o que elas irão receber com esses ativos é tão importante que, embora inicialmente a Eletronorte dê toda a assistência operacio-nal, futuramente elas estarão capacitadas a fazer novas subestações já por conta própria. Somente esses ativos que serão repassados para a Eletroacre, por exemplo, significa mais que duplicar o seu patrimônio atual, e isso será muito desafiante para eles. O grande im-pacto será para as distribuidoras, que agora passarão a gerir uma grande quantidade de valores”.

Para o Sistema Eletrobrás o repasse é bom porque favorece o resultado global. De acor-do com Jésus Alves, “existe efetiva vantagem econômico-financeira para o Sistema Eletro-brás, pois tais ativos, ao serem transferidos para as empresas de distribuição, irão com-por a base tarifária destas, ou seja, passarão a gerar receita, o que não acontece atual-mente”. Mário Miranda exemplifica o caso do Acre, onde os ativos serão transferidos para uma empresa que está sob a administração da Eletrobrás e, a rigor, estaria ainda sob o Sistema Eletrobrás. “Toda empresa que quer ser eterna tem de se modernizar diariamen-te. A empresa que quer viver de passado não sobrevive em nenhum mundo. Acabou a fase de a Eletronorte ser o suporte do governo na região, agora teremos de ser reconhecidos como uma Empresa competitiva em todo o Brasil”, conclui.

A reestruturação na gestão das empresas dis-tribuidoras de energia do Norte e Nordeste já rendeu bons resultados: foram elas os grandes destaques do balanço da Eletrobrás em 2008, divulgado pela holding no dia 27 de março de 2009. O presidente da Eletrobrás, José Anto-nio Muniz Lopes, mostrou-se satisfeito com o resultado das distribuidoras, que registraram lucro de R$ 53 milhões, contra um prejuízo de R$ 1,12 bilhão em 2007. “Nossa expectativa era de que somente em 2009 conseguiríamos reverter o prejuízo”, afirmou. Para Muniz, o bom desempenho das distribuidoras explica, em parte, o lucro de R$ 6,1 bilhões registrado pela Empresa em 2008.

A administração unificada, somada à redu-ção de custos operacionais e ao planejamento estratégico integrado - possibilitando ganhos de escala e otimização de esforços - foram al-guns dos ingredientes da receita criada pela Eletrobrás para atingir o lucro já em 2008. Em dez anos, a Empresa investiu cerca de R$ 22,5 bilhões nas seis concessionárias, que apresen-tavam um histórico de prejuízos. Para reverter o quadro, desde maio de 2008, Cepisa, Ceal, Manaus Energia, Boa Vista Energia, Eletroacre e Ceron estão sob controle direto da holding, que criou uma nova diretoria para administrá-las, sob o comando de Flávio Decat (foto), tam-bém presidente de todas as concessionárias. A unificação da gestão sob a supervisão da nova diretoria foi o primeiro passo, que Decat justi-fica de modo sintético. “A Eletrobrás precisa-va assumir a distribuição como seu negócio”. Confira a entrevista:

Como veio a idéia de unificar as diretorias de distribuição?Diversas medidas haviam sido tomadas, visando

à promoção da eficiência empresarial e ao ajuste da situação econômico-financeira dessas empre-sas, desde a sua federalização. Passados já alguns anos de controle federal, podia se dizer que as con-dições de atendimento às populações locais apre-sentaram melhora significativa. No entanto, não se conseguiu reverter o quadro financeiro negativo da maioria delas. Além disso, a falta de agilidade inerente às empresas estatais em função de suas

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limitações legais, assim como as fortes influências dos interesses locais sobre sua gestão, particularmen-te pressionados pelas enormes demandas sociais de regiões muito carentes, podem ser indicados como os principais fatores limitadores da ação gerencial nessa empresas.

Para viabilizá-las empresarialmente seria necessá-rio um “choque de gestão” capaz de enfrentar com sucesso esses e outros problemas. Com uma postura empresarial comprometida com o desempenho ope-racional e financeiro, acreditava-se ser possível obter resultados na redução das perdas e da inadimplência, assim como das despesas operacionais, particular-mente nas com pessoal e serviços de terceiros. Essa oportunidade surgiu com a decisão do Governo Fede-ral de promover o fortalecimento do Sistema Eletro-brás, que determinou em uma diretriz específica que a holding promovesse a “reorientação dos negócios de distribuição”. Criou-se uma Diretoria de Distribui-ção na Eletrobrás, cujo Diretor é o Diretor-Presidente de todas as distribuidoras, estruturou-se uma Dire-toria comum a todas elas, composta por seis direto-res e um Conselho de Administração também único, mantendo-se Conselhos Fiscais específicos para cada empresa.

Quais os benefícios de ter essas diretorias unificadas?A principal missão é o saneamento financeiro e a

melhoria da qualidade do atendimento das empresas.

Com uma diretoria única, garante-se uma regularidade na gestão, permitindo focar na melhoria dos principais problemas das empresas: a qualidade do produto, com-bate às perdas e inadimplência dos clientes, e adequa-ção dos custos operacionais aos reconhecidos na tarifa.

O que a sociedade e os usuários podem esperar dessa unificação?Os consumidores já puderam perceber, nesse curto

período, a atuação dessas empresas na continuidade e qualidade da energia entregue. Por outro lado, é com-promisso recuperar a condição econômico-financeira, gerando lucro, e de utilizar esses recursos para investir na própria região, revitalizando o comércio, a indústria e possibilitando a geração de mais empregos, enfim con-tribuindo para o crescimento socioambiental.

Como surgiu a necessidade do repasse dos ativos menores de 230 kV às distribuidoras?A Eletronorte realizou no passado diversas obras de

subtransmissão necessárias ao atendimento de energia elétrica nos estados do Acre e Rondônia. Como a Ele-tronorte é uma empresa geradora e transmissora, pela legislação atual, aqueles ativos não podem fazer parte da sua base de remuneração, de modo que os investi-mentos não têm sido remunerados. Passá-los para uma distribuidora é a forma de permitir essa remuneração, via tarifa.

É de interesse das distribuidoras esses ativos? Por quê?Sim, porque ao incluir esses ativos em sua base de

remuneração, a distribuidora terá reconhecida na tarifa uma remuneração de capital e uma quota de reintegra-ção (depreciação) relativa a esses ativos, aumentando sua receita. Isso deverá ocorrer por ocasião da próxima revisão tarifária da Ceron e Eletroacre, previstas para no-vembro de 2009.

As distribuidoras farão investimentos com essas aquisições? Há o compromisso das distribuidoras assumirem a

operação e manutenção desses ativos no menor período possível. Para isso, terá que haver treinamento, além da contratação de novos colaboradores. No entanto, inicial-mente, a idéia é continuar com o pessoal da Eletronorte. Para isso, está sendo elaborado um termo de coopera-ção entre as distribuidoras e a Empresa.

Colaborou a Assessoria de Comunicação da Eletrobrás

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TE Ensaios para a sustentabilidadeComo a pesquisa e a tecnologia podem esclarecer as incertezas sobre a emissão de gases de efeito estufa em reservatórios

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Michele Silveira

A linha editorial da Corrente Contínua procu-ra seguir os preceitos do chamado Novo Jorna-lismo (New Journalism). Com expoentes como Gay Talese, Truman Capote ou Ernest Hemin-gway, o estilo reúne jornalismo e literatura e en-volve o leitor com a história e seus personagens. Mas nem sempre essa história está completa. E é aí que o jornalismo e a literatura tendem a se

misturar ainda mais. As conclusões e expecta-tivas de um final ficam ainda mais individuais. Foi o que aconteceu nesta reportagem, que pretende mostrar os caminhos que estão sendo desenhados na medição e análise de emissão de gases de efeito estufa em reservatórios de usinas hidrelétricas. Apesar das discussões acaloradas dos pesquisadores sobre diferentes métodos e resultados, essa história ainda está nos primeiros capítulos.

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Hoje, o aquecimento global e a emissão de gases é pauta em qualquer jornal ou revista. Mas para quem pesquisa o tema é preciso mais. Uma solução ou o caminho para minimi-zar o problema está nos planos de quem viaja quilômetros pelas águas de reservatórios para fazer o trabalho de medição. Essa discussão não começou agora, mas o avanço do debate e da tecnologia permitiu que novos métodos fossem implementados.

O gerente da Divisão de Meio Ambiente Na-tural de Furnas Centrais Elétricas, André Cim-berlis (ver box), explica que, com a crescente demanda mundial de energia, a hidreletricida-de se coloca como uma alternativa bastante atrativa de fonte renovável, especialmente nas regiões com alto potencial hídrico, como o Brasil e o Canadá. Segundo estimativas oficiais do setor de energia do governo dos Estados Unidos (apresentadas por meio do documento International Energy Outlook – IEO), em 2007, os países da Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento - OECD consu-miram em torno de 26% a mais da energia consumida pelos países em desenvolvimento (non-OECD). Entretanto, até 2030, as pro-jeções indicam um crescimento três vezes maior na demanda energética nos países em desenvolvimento quando comparada com os países da OECD.

O desafio, segundo ele, é que este cres-cimento seja acompanhado da descarbo-

“Temos um grande desafio e uma rotina pesada du-rante as campanhas. São horas viajando de barco e, quando chega a noite, começa a rotina de ensaios físicos e químicos, além da preparação de amostra para análise no laboratório”, conta o coordenador do projeto de Moni-toramento e Diagnóstico das Hidrelétricas da Amazônia, Augusto Saraiva, do Centro de Tecnologia da Eletronorte.

O projeto conta com uma equipe multidisciplinar de 15 colaboradores, entre eles nove químicos, uma biólo-ga, três estatísticos e dois técnicos em química. O mo-

Desafio e determinação para monitorar reservatórios

nitoramento está sendo realizado nos reservatórios de Tucuruí, Balbina, Samuel, Coaracy Nunes e Curuá-Una. São monitorados 115 parâmetros químicos, fí-sicos e microbiológicos. As campanhas tiveram início em maio de 2008 e são realizadas trimestralmente. “A preparação para a campanha conta com uma lo-gística complexa, onde nos deslocamos juntamente com um laboratório itinerante. A principal dificulda-de é encontrada quando temos que embarcar esse material, visto que temos vários produtos químicos e reagentes para transportar, sem contar as horas de estrada e as chuvas”, explica Augusto.

Em cada campanha, milhares de quilômetros qua-drados de água são percorridos pela equipe, que conta com a ajuda de barqueiros experientes para não cor-

Muitos estudos e

equipamentos ainda

estão sendo desenvolvidos

para avaliar as emissões

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nização da matriz energética, uma vez que, atualmente, a base da produção de energia nesses países, especialmente energia elétrica, está calcada na utilização de carvão ou petró-leo. A utilização de fontes mais limpas, como gás natural, esbarra em questões econômi-cas, sendo o carvão ainda a alternativa mais barata em diversas partes do globo. “Apesar da importância da geração hidrelétrica, exis-tem instituições e também pesquisadores in-ternacionais que, mesmo morando do Brasil, se dedicam a questionar se essa forma de energia é realmente limpa. Nesse contexto, é fundamental que pesquisemos as emissões de gases de efeito estufa em nossos reserva-tórios”, afirma.

André é biólogo e coordenou o projeto Ba-lanço de Carbono nos Reservatórios de Furnas, uma pesquisa pioneira no Brasil que começou em 2003. Durante cinco anos, os reservató-rios de oito hidrelétricas da Empresa foram investigados com o objetivo de determinar as

emissões de gases de efeito estufa, identificar as rotas do ciclo de carbono e os fatores am-bientais envolvidos nesse processo.

Os primeiros resultados do projeto indica-ram que os lagos de hidrelétricas jovens, com seis a dez anos de operação, pouco contribuem para o aumento do efeito estufa em compara-ção ao lançamento de uma usina termelétrica de igual potência – a emissão de carbono por MW gerado é cem vezes menor. As pesquisas indicaram ainda que os reservatórios mais an-tigos, com operação superior a 40 anos, apre-sentam uma taxa ainda menor de emissão de carbono que os mais jovens. O projeto Balan-ço de Carbono teve um orçamento superior a R$ 12 milhões e reuniu pesquisadores do Instituto de Pesquisas Espaciais - Inpe, do Ins-tituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia - Coppe/UFRJ, do Instituto Internacional de Ecologia - IIEGA, da Universidade Federal de Juiz de Fora, além de especialistas estrangeiros.

rer riscos de acidentes e de perda de material. “Nas campanhas, coletamos amostra de água, solo, sedi-mento, material biológico e coleta de gases de efeito estufa. A medição dos gases é realizada por liberação difusiva, liberação ebulitiva e degasing”, explica.

Desde o início do projeto já foram realizadas nove coletas: quatro em Tucuruí, cujo relatório está sendo elaborado; três em Balbina e duas em Coaracy Nu-nes. Dentro de dois meses estão previstas as etapas de coleta em Samuel e Curuá-Una. A primeira cam-panha em Tucuruí foi realizada entre 28 de maio e 7 de junho de 2008. A equipe foi treinada para a coleta de gases por difusão e por funis. A manobra foi reali-zada em 20 pontos - 13 à montante e sete à jusante da barragem.

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Quais os resultados do Balanço de Carbono nos Reservatórios até agora? O projeto Balanço de Carbono nos Reservatórios de Fur-

nas, iniciado em 2003, foi desenvolvido ao longo de cinco anos, reunindo dados coletados nos reservatórios das usi-nas hidrelétricas de Serra da Mesa, Manso, Corumbá, Itum-biara, Furnas, Mascarenhas de Moraes, Luiz Carlos Barreto de Carvalho e Funil, nas estações seca e chuvosa, totalizan-do 27 campanhas. Os estudos relativos aos gases de efeito estufa em reservatórios de hidrelétricas até então realizados no Brasil e no exterior restringiam-se à medição das emis-sões da superfície da água para a atmosfera ou do fundo do reservatório para a coluna d’água. Este Projeto foi mais adiante, ao considerar a bacia de drenagem e as entradas e saídas do carbono nos reservatórios, sendo que cada insti-tuição participante estudou um compartimento do sistema.

Dos resultados alcançados até o momento, podemos destacar os seguintes aspectos: o balanço afluente e de-fluente de carbono orgânico total nos sistemas é geralmente próximo a zero; as emissões difusivas de CO2 no sedimen-to diminuem com a idade do reservatório; as emissões de metano por bolhas, na interface água-atmosfera, diminuem com a idade do reservatório; a variação espacial nos fluxos de GEE está associada não só a processos biológicos, mas também aos processos físicos relacionados à mistura de massas d’água; as taxas de emissões de GEE, na interface água-atmosfera nos reservatórios estudados, por geração de energia, são relativamente pequenas quando comparadas às termelétricas.

Ao ratificar a Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, o Brasil comprometeu-se a elaborar e atualizar inventários de suas fontes de emissão. De que forma os estudos promovidos pelo Sistema Eletrobrás contribuem para isso? O Subcomitê de Meio Ambiente do Sistema Eletrobrás,

o qual atua como parte do Comitê de Operação, Planeja-

Fontes ou sumidouros de carbono - Al-guns estudos realizados na última década indicaram que a cadeia alimentar de mui-tos ambientes aquáticos não é sustentada pelos organismos produtores (fitoplâncton), mas pelos organismos decompositores (bac-térias) e pela entrada de matéria orgânica proveniente da bacia de drenagem (material alóctone). Se a produção primária, baseada na fotossíntese, é menor que a atividade res-piratória das bactérias, então esses sistemas

não contribuem para a fixação do carbono at-mosférico, mas sim, tornam-se fontes emis-soras de gás carbônico. Essa abordagem do funcionamento dos sistemas aquáticos é relativamente nova e muitos estudos e equi-pamentos ainda estão sendo desenvolvidos para a avaliação das taxas de respiração bacteriana em comparação com a produção fotossintética.

Apesar da constatação da emissão de Gases de Efeito Estufa – GEE, a Comissão

mento, Engenharia e Meio Ambiente - Copem, possui um grupo de trabalho sobre emissões de gases de feito estufa, que tem como uma de suas atribuições a elabo-ração e atualização de inventários de GEE, trabalho que se encontra em desenvolvimento. Como uma ação com-plementar, Furnas participa do GHG Protocolo Brasilei-ro, iniciativa do empresariado nacional com o mesmo objetivo de inventariar fontes e sumidouros de GEE.

Entrevista - André CimberlisGerente da Divisão de Meio Ambiente Natural de Furnas

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Mundial de Barragens tem ressaltado que é preciso considerar o modo com que o sistema anterior à construção da barragem se com-portava em relação às trocas de gases com a atmosfera. Daí a importância do cálculo de um balanço de quanto o reservatório irá emitir no seu curso de vida, e quanto o sistema an-terior emitiria naturalmente nesse mesmo pe-ríodo. Em áreas de floresta ou banhado, por exemplo, já é identificada a emissão de gases por meio de medições prévias feitas em locais

onde há perspectiva da construção de usinas hidrelétricas.

Ainda hoje há muita discussão a respeito dos reservatórios serem fontes de gases de efeito estufa ou sumidouros de carbono. Tam-bém há pesquisas de biotecnologia que investi-gam a proporção de bactérias que contribuem para geração de gás metano e aquelas que consomem o gás. O fato é que há ainda muita discussão pela frente. Entre os pesquisadores, as discussões pautam a metodologia de coleta e os cálculos. Algumas pesquisas mais antigas trabalhavam apenas com a amostragem de um determinado reservatório e a extrapolação desses dados para outros de acordo com o tamanho do reservatório. Atualmente, os labo-ratórios e os métodos de captação contribuem para que novos estudos agreguem seus resul-tados ao debate.

Na Eletronorte, dois projetos mapeiam os reservatórios de hidrelétricas na Amazônia. Ainda sem cálculos definidos, ambos simbo-lizam a preocupação do Setor Elétrico em dis-cutir o tema com o embasamento técnico e a metodologia adequada. Desde 2007 a Empre-sa está investindo cerca de R$ 3,9 milhões nos projetos de Monitoramento e Diagnóstico das Hidrelétricas da Amazônia, executado pelo Centro de Tecnologia da Eletronorte; e de Medidas de Fluxos de Gases de Efeito Estufa nos Reservatórios Hidrelétricos da Amazônia: fase montante e fase jusante, executado pelo Coppe/UFRJ. Desde então estão sendo rea-lizadas campanhas de medição nos reserva-tórios de Balbina, Tucuruí e Samuel. Também estão previstas coletas nos reservatórios de Coaracy Nunes e Curuá-Una. O Coppe tam-bém está fazendo medições nas regiões onde deverão ser construídas as hidre-létricas de Belo Monte e Marabá.

O assessor da Gerência de No-vos Negócios da Eletronorte, Os-mar Vieira Filho (ao lado), explica que esses projetos têm, entre os objetivos, incentivar, de forma estruturada, o avanço da pesqui-sa e trabalho técnico na área de emissões e remoções de gases de efeito estufa em reservatórios. “A expectativa é aumentar o conhe-cimento dos processos envolvidos e padronizar métodos para a avaliação dos flu-xos dos GEE. É preciso estabelecer diretrizes para o planejamento desses estudos, levando em conta os diferentes tipos, tamanho, idade e localização dos reservatórios”, explica.

Nos últimos anos a comunidade científica tem questionado se os reservatórios destinados à geração hidrelétrica contribuem substancialmente para o aumento do efeito estufa. O que há de concreto sobre isso até agora? Sabemos que logo após o enchimento dos reser-

vatórios, com a inundação da biomassa vegetal, as emissões de GEE aumentam consideravelmente, fe-nômeno esse transitório. Em contrapartida, as taxas de sedimentação do carbono também aumentam, sendo que esse processo persiste ao longo da vida do reser-vatório. Destaca-se, inclusive, que parte do carbono é depositado permanentemente. Assim, ainda há uma controvérsia se os reservatórios são fontes de GEE ou sumidouros de carbono.

De forma geral, essas pesquisas poderiam resultar numa espécie de ‘manual de boas práticas’ que le-vasse em consideração as observações para reduzir a emissão, como exemplo a altura da captação de água? De que forma esse estudos podem contribuir para a inserção no mercado de créditos de carbono?

Sim. Além de considerar questões relacionadas ao uso e à ocupação da bacia de drenagem. Atu-almente, reservatórios que possuam uma densidade de potência (W/m2) inferior a quatro não são elegíveis ao mecanismo do desenvolvimento limpo e, conse-quentemente, projetos com essa característica tam-bém não são viáveis para o mercado de créditos de carbono voluntário.

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Segundo Osmar, depois de consolidadas, as pesquisas devem resultar na elaboração de uma espécie de ‘manual de boas práticas’ que contribua para reduzir a emissão de GEE. Hoje se sabe, por exemplo, que se a tomada de água for muito baixa, a concentração de meta-no é maior. Portanto, no momento da constru-ção, pode-se considerar essa informação. “O que precisamos é investir em pesquisa, utilizar metodologias adequadas e considerar as dife-rentes realidades para termos um quadro real sobre essa discussão”, afirma Osmar.

Memória - Desde a década de 1990 espe-cula-se se os reservatórios artificiais podem es-tar contribuindo para a intensificação do efeito estufa por meio da emissão de gases, como o dióxido de carbono (CO²) e o metano (CH4). Em 1992 a Eletrobrás, Coppe/UFRJ e USP/São Carlos começaram a investigar o assunto e pretendiam estimar o fluxo de GEE nos reser-vatórios de Balbina, Tucuruí e Samuel. Nesses estudos, que tiveram caráter experimental e de desenvolvimento metodológico pioneiro, foram medidas as emissões provenientes dos sedi-mentos para a coluna da água e desta para a atmosfera. Cinco anos depois, Furnas fez um estudo em Serra da Mesa e, em 1998, o Itaipu Binacional quis determinar as emissões bru-tas do seu reservatório. Também em 1998, o Coppe iniciou outro estudo envolvendo dife-rentes reservatórios, entre eles o de Três Ma-rias, Segredo, Xingó, Barra Bonita e Tucuruí.

Esses estudos incorporaram os resultados anteriores e apresentaram conclusões impor-tantes, entre as quais a grande variabilidade na intensidade das emissões comparando-se os diferentes reservatórios; a baixa correlação entre as emissões e a idade do reservatório; e a dificuldade de se distinguir entre emissões antrópicas decorrentes de alagamento pro-duzido pelos reservatórios e as naturais pré-existentes. A pesquisa fez parte dos relatórios de referência para o I Inventário Nacional de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases de Efeito Estufa para a Convenção das Na-ções Unidas sobre Mudança do Clima.

Em razão das constatações dos pesquisa-dores, os resultados numéricos do estudo não foram contabilizados no inventário, indicando a necessidade de se intensificar as pesquisas. Durante as discussões, a constatação de que não existe ainda um consenso global em rela-ção às metodologias de medição e à estimativa de emissões, acentuou-se a necessidade de aumentar o conhecimento sobre os processos de emissão, além de procedimentos práticos e metodológicos que resultassem em informa-ções adequadas.

Décadas depois dos primeiros estudos, o único consenso entre os pesquisadores é que essa história não termina aqui. E que é o resul-tado desse trabalho – e o produto desse resul-tado – que vai fazer a diferença num cenário de sustentabilidade. Ou seja, ainda vem por aí muito jornalismo e muita literatura.

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“Belém, Belém acordou a feiraQue é bem na beira do GuajaráBelém, Belém, menina morenaVem ver-o-peso do meu cantarBelém, Belém és minha bandeiraÉs a flor que cheira do Grão Pará”

Nas palavras do compositor paraense Chico Sena podemos dar uma voltinha pelo portão de entrada da Amazônia, a capital do Estado do Pará, Belém, situada as margens da Baía do Guajará. Mas, quem é Belém, afi-nal? A Cidade das Mangueiras ou a Cidade Morena? O Mercado Ver-o-Peso, com seu “cheiro bom de peixada no ar” ou as belas

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parou, tomou açaí ficou”instalações da Estação das Docas? O carimbó ou as guitarradas? Uma cuia de tacacá em uma tarde quente ou uma tigela de açaí com tapioca no almoço? A cidade velha com seus prédios coloniais históricos ou os prédios mo-dernos abrigados entre ruas congestionadas no centro da cidade?

Belém é muito mais do que tudo isso. Uma cidade com tantos contrastes, tantas belezas, de impossível definição, e inigualável, seja em seus cheiros, sabores, danças, e povo. Mais do que explicada, Belém precisa ser sentida, pois é uma cidade sinestésica. É preciso viver a cidade no meio da floresta amazônica, para entendê-la. Para isso convidamos os leitores a dar uma voltinha por Belém e pelo Pará.

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História - A nossa história começa 393 anos atrás, quando Francisco Caldeira Caste-lo Branco, capitão-mor da Coroa Portuguesa, chegou ao local com o objetivo de proteger a foz do Rio Amazonas dos barcos inimigos. Na época, foi erguido o Forte do Presépio, que existe até hoje, mas agora não mais com o ob-jetivo de assegurar o domínio da cidade, e sim como um museu com cerâmicas tapajônicas e marajoaras (artesanato típico da região).

O Forte do Presépio fica localizado na Ci-dade Velha, o bairro coração da cidade, pois ali nasceu Belém, que à época era chamada Feliz Lusitânia. Lá podemos encontrar ainda hoje os antigos prédios com fachada colonial e azulejos portugueses; a igreja de Santo Ale-xandre, repleta de influências barrocas e neo-clássicas; a Casa das Onze Janelas, construída no século XVIII. Belém é isso, a modernidade e a história, o rústico e o clássico vivendo lado a lado, às margens da Baía do Guajará.

Pois, se sairmos do complexo Feliz Lusitânia podemos encontrar bem ao seu lado o Merca-do do Ver-o-Peso, parada certa pra quem vem de fora e quer conhecer a variedade de peixes, ervas, frutas e grãos que só a Amazônia ofere-ce. Você já ouviu falar em frutas como cupua-çu, muruci, bacuri, sapoti, uxi, açaí? (o último é provável que sim, mas o sabor é bem diferente do consumido no Pará, que é batido na hora,

Passado e presente

se misturam nas ruas

da Cidade Morena

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grosso, com uma boa farinha de tapioca ou mandioca para acompanhar).

E o que falar dos peixes da região: tambaqui, tucunaré, mapará, tamuatá, xaréu, sarda, pira-pema, pratiqueira, e por aí vai, com sabores tão diferentes quanto os nomes. Mas, para quem preferir encontrar os peixes já preparados, bas-ta sair do Mercado do Ver-o Peso e virar à es-querda que vai dar de cara com a Estação das Docas. Complexo construído há sete anos, que possui diversos restaurantes, lojas, artesanato, música ao vivo, em um ambiente moderno e agradável. Para quem quer ter uma visão geral da cidade e conhecer um borboletário, vale a pena visitar o Mangal das Garças, inaugurado há cinco anos.

“Quem foi ao Pará parou, tomou açaí fi-cou” – Esse ditado paraense explica bem o que se sente quando se visita o Estado do Pará, cheio de encantos, belezas e varieda-des. Somente na capital, são mais de 39 ilhas para se visitar, e, no interior, a Companhia Paraense de Turismo – Paratur preparou 11 rotas de viagem, que atendem aos mais di-versos gostos e interesses, indo desde muni-cípios onde é praticada a pesca esportiva, a localidades nas quais se pode “reviver” a his-tória da Amazônia, através de seu belo acervo cultural, como em Santarém e Belterra.

Segundo a turismóloga Flávia Lima, que trabalha na Paratur, “o Pará possui muitas opções culturais. É um estado cercado por rios, com lugares agradáveis que atendem a vários gostos. Quem quer curtir algo tranqui-lo pode ir a Cotijuba pegar uma praia; quem quer algo mais agitado pode ir para Mos-queiro e curtir um rio com ondas. E quem não quiser nada disso pode ficar em Belém e almoçar um pato no tucupi”. Flávia reco-menda ainda conhecer o maior arquipélago

Açaí no Ver-o-Peso e o borboletário do Mangal das Garças: belezas paraenses

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fluviomarinho do mundo, o de Marajó, que contempla mais de três mil ilhas, com des-taque para a Ilha de Marajó e as cidades de Soure e Belterra, onde se pode ver o fenô-meno da pororoca.

Cultura - Uma dança de roda é formada. Os pares começam a se alinhar um a um. As mu-lheres com suas saias compridas balançando de um lado a outro. Os homens com blusas coloridas, abertas na frente e amarradas com

um laço na altura da cintura. Começa uma va-riação de batuque, com direito a xeque-xeque, reco-reco, pandeiro e tambores. Assim se for-ma o carimbó (foto ao lado), dança e ritmo paraense, que é encontrado, principalmente, nos municípios de Curuçá, Marapanim, Ma-racanã e Belém. O nome original era “dança do curimbó”, que vem da língua indígena, e significa “pau que produz som”, já que no ca-rimbó não entram instrumentos eletrônicos. O carimbó é tão importante que já deu origem a outros ritmos característicos da região, caso das guitarradas, uma mistura de guitarra elé-trica com carimbó, cumbia e merengue, que tem feito sucesso em outras cidades do País e do mundo.

Círio de Nazaré – O Círio de Nazaré é um capitulo da história paraense que merece ser contado separadamente, devido à importância cultural e religiosa que essa manifestação tem. Maior procissão católica do mundo, realizada na cidade de Belém, literalmente faz a cidade parar, já que há mais de 200 anos é responsá-vel por atrair multidões, hoje até dois milhões de pessoas à capital no segundo domingo de outubro, quando é realizada a peregrinação de 4,5 km da Catedral até a Basílica-Santuário de Nazaré. A procissão de Nazaré é o feria-do religioso mais importante do paraense, é o momento dos que já não moram na cidade voltarem e se reunirem com a família, além de

Ervas, folhas e temperos:

toque exótico no Ver-o-Peso

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participarem desse momento de fé que atrai para a cidade turistas de todo o Brasil.

No Círio, os chamados “romeiros” acompa-nham, durante todo o percurso, a imagem de Nossa Senhora de Nazaré na ‘berlinda’. Alguns estão ali pagando promessas, outros apenas para ver a Santa de perto, outros tantos curio-sos para entender o que leva tantas pessoas a fazer todo o percurso de joelhos, ou segurando a corda que leva a ‘berlinda’ (considerada um elo entre os romeiros e a santa); o que exige muito esforço físico e persistência embaixo de sol quente. E a multidão segue embalada pelas músicas em homenagem à Padroeira, cada um de seu jeito, com seus motivos, mas todos juntos em um momento de união e fé como poucas vezes se pode ver na vida.

Gastronomia - Quando se fala em culiná-ria, o Pará é referência de comida genuina-mente brasileira, com grande influência indí-gena. O que dá um toque especial e exótico à comida paraense é a variedade de ervas, folhas, temperos e frutas que a região possui. É um privilégio desfrutar de comidas peculia-res como a maniçoba, feita a partir da folha da maniva - folha extraída da mandioca – que deve ser cozida cerca de uma semana antes de ser consumi-da, para que o ácido cianí-drico, que é venenoso, seja retirado da planta.

Para Daniela Martins, responsável pelo restau-rante de comidas típicas paraenses Lá em Casa, todas essas peculiarida-des da região amazônica tornam o sabor da comida paraense inigualável: “O sabor

não há igual. É diferente de tudo o que se en-contra no Brasil. Primeiro, não é em qualquer lugar que encontramos as ervas e temperos daqui; também não é de qualquer raiz de mandioca que se retira um bom tucupi, nem de qualquer folha de maniva que se pode fazer uma maniçoba”, ressalta Daniela, que coman-da o único restaurante paraense que é parada obrigatória segundo o guia “1000 coisas que se deve fazer antes de morrer”.

A casa conta com um cardápio típico, como a famosa maniçoba; o pato no tucupi (ver box) - diga-se de passagem, o tucupi é o queridi-nho do paraense, já que tudo se come com ele: peixes, camarão, língua..tudo! -, e para acom-panhar, o inexplicável jambú, planta que tem propriedades anestésicas, e combina perfeita-mente com o sabor adocicado do tucupi. Será que deu pra entender porque a comida paraen-se é tão diferente e a mais brasileira de todas? Daniela Martins, explica: “As nossas coisas não existem em lugar nenhum do mundo!”.

Colaborou Kennya Corrêa, da Regional de Transmissão do Pará

Seguindo Nossa Senhora de Nazaré, fiéis se juntam na corda

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Aprenda a preparar o saborosopato no tucupiIngredientes: (6 pessoas)- 2 patos médios - 6 litros de tucupi- 6 maços de jambú- 1 maço de alfavaca- 1 maço de chicória- 2 cabeças de alho- 20 unidades de pimentas de cheiro- sal a gostoPara o “vinha-d’alho”:- 5 unidades de limão- 3 cabeças de alho- Sal a gosto- ½ litro de vinho branco- 1 pimenta de cheiro

Preparo:- Lavar os patos em água corrente.- Em um recipiente preparar o “vinha-d’alho” com o suco dos limões, três cabeças de

alho socadas, o vinho branco, a pimenta de cheiro, sal e água a gosto.- Temperar os patos no “vinha d’-alho” e deixar descansar de um dia para o outro na

geladeira.- Assar os patos em forno médio por aproximadamente 90 minutos.- Em uma panela colocar para ferver o tucupi com três pimentas de cheiro, duas ca-

beças de alho, alfavaca, chicória e sal a gosto.- Após os patos esfriarem, cortá-los em quatro pedaços cada.- Em uma panela colocar dois litros de tucupi já temperado e ferver os patos em pe-

daços até ficarem bem macios. - Desossar e tirar a pele dos patos já macios.- Preparar o jambú, catando e separando as folhas com os talos mais tenros e lavando

em água corrente.- Em uma panela com água fervente e sal a gosto escaldar levemente o jambú. Es-

correr e reservar. - Preparar o molho de pimenta de cheiro com o restante das pimentas amassadas

com sal a gosto, um dente de alho socado, completando com um pouco de tucupi quente.

Como servir:Em um prato de sopa colocar os pedaços de pato e cobri-los com o jambú, e o res-

tante do tucupi que não foi usado para amaciar os patos. O pato no tucupi é servido com arroz branco, farinha d’água de mandioca e molho de pimenta.

Receita do Chef Paulo Martins, do restaurante Lá em Casa

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“Prezados senhores, recebemos e agradecemos o envio da revista Corrente Contínua. A mesma será de grande importância para o nosso acervo. Gostaríamos de continuar recebendo doações”.

Mara Patrícia Divisão de Processamento Técnico - Biblioteca Central da Universidade Federal do Amapá Macapá- AP

“Prezados, na edição da revista Corrente Contínua, Novembro/Dezembro de 2008, saiu uma matéria so-bre nosso emprendimento (AHE Dardanelos), e nos-sos programas de educação básica ambiental. Tenho em minha posse aqui na empresa apenas um exem-plar e gostaria de receber mais alguns”.

Vinycius Kaizer Energética Águas da Pedra Cuiabá - MT

“Senhores, peço-lhes um favor, caso possam nos atender: a revista Corrente Contínua, edição 223, de Novembro/Dezembro de 2008, na página 42, estampa uma foto de frutas, que não conhecemos. Caso os senhores puderem me enviar o nome dessa fruta, agradeço. Esta revista da Eletronorte é adorá-vel! Parabéns”.

Cláudio Santiago Maracás - BA “Na edição 224 da revista Corrente Contínua,

reportagem afirma que a primeira hidrelétrica da Amazônia é Curuá-Una. Gostaria que esse título não nos fosse tirado. Nossa Usina Hidrelétrica Coaracy Nunes foi inaugurada para fins comerciais em 13 de janeiro de 1976, enquanto que Curuá-Una foi em 19 de agosto de 1977. Segue minha insatisfação como usuário das informações divulgadas por nossa im-prensa da Eletronorte”.

José Maciel Reis Regional de Produção do Amapá Macapá- AP

“Meus prezados, longe de mim ser bairrista, mas não poderia deixar de me manifestar a res-peito da matéria do último número 224, da nossa excelente revista Corrente Contínua, página 40, sobre colocar Curuá-Una como a primeira hidrelé-trica da Amazônia. Vamos fazer justiça. A primeira hidrelétrica da Amazônia é e sempre será Coaracy Nunes (antiga Paredão), no Amapá. A mesma foi colocada em operação comercial em 1976, história da qual faço parte, pois sou da primeira turma de operadores formada pela Eletronorte e nossa pri-

meira missão foi rodar a usina de Coaracy Nunes e energizar o sistema elétrico isolado do Amapá. Esperando a reparação, coloco-me a disposição para dirimir dúvidas”.

Manuel Alves Regional de Produção do Amapá Macapá - AP

“Prezado Alexandre, apesar de o título estar in-correto, a Usina Hidrelétrica Curuá-Una pode ser compreendida como a primeira usina da bacia ama-zônica”.

Mário Dias Miranda Coordenação de Relações Institucionais Brasília – DF

N.R.: Cometemos uma grave falha na última edi-ção da revista Corrente Contínua, ao afirmar, na pá-gina 40, que a Usina Curuá-Una foi a primeira hidre-létrica da Amazônia, quando, na verdade, esse título cabe à Usina Hidrelétrica Coaracy Nunes. Pedimos desculpas pelo erro histórico, principalmente aos co-legas do Amapá.

“Prezada equipe da Gerência de Imprensa, a cada exemplar da Corrente Contínua eu tenho mais orgu-lho dessa Empresa, de ver a sua riqueza e diversida-de. Parabéns. Porém, a matéria sobre o Maranhão ficou com nota 9,9, pois não consegui ver o início do refrão da música Maranhão, meu Tesouro meu Torrão (Maranhão, meu tesouro, meu torrão/Fiz esta toada, pra ti Maranhão...). Complementando a música, aí sim, a matéria ganha nota dez”.

Arthur Quirino da Silva Neto Regional de Transmissão do Maranhão São Luís – MA

“Prezado Alexandre, parabéns pela revista e princi-palmente pelas matérias do Plano de Transformação do Sistema Eletrobrás, muito abrangente, e a outra sobre inovação. Parabenize o Enock Byron também por sua criatividade”.

Luis Cláudio Silva Frade Departamento de Gestão Tecnológica da Eletrobrás Rio de Janeiro - RJ

“Senhor Arthur Quirino, tive a oportunidade de ver a publicação da revista Corrente Contínua, onde foi publicado um resumo extraordinário sobre o Estado do Maranhão. Eu, como um autêntico ludovicense, também me chamo José Ribamar e, de certa forma, me senti homenageado, por dois motivos: primeiro você em sua matéria ajudou a elevar o nome dessa

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maravilhosa criação divina a qual os homens deram o nome de Maranhão, com todas essas peculiarida-des. Segundo, citou em sua obra uma toada do nosso poeta maior, da nossa melhor manifestação cultural, que em poucos versos sintetiza o nosso estado. Tenho orgulho em dizer que sou maranhense e faço parte do bumba-boi de Maracanã. Fica aqui meu muito obriga-do e parabéns!”.

José Ribamar Sousa Martins Divisão de Transmissão de Presidente Dutra- Presidente Dutra MA

“Prezada Isabel, escrevo para elogiar a espetacu-lar cobertura que a revista Corrente Contínua deu ao Plano de Transformação do Sistema Eletrobrás. Vo-cês foram exemplares em tudo, desde a realização do evento até a revista. Fiquei emocionado e o presidente José Antonio mais ainda. Valeu mesmo!”.

Luiz Augusto P. A. Figueira Coordenador-Geral da Presidência da Eletrobrás Rio de Janeiro - RJ

“Prezados senhores, sou leitor há algum tempo da excelente publicação Corrente Contínua. Infeliz-mente, não recebi a edição 221. Peço, se possível, recebê-la. Segue meu endereço para postagem”.

Caio Fernandes Lopes Itajubá - MG

“Recebemos e agradecemos a revista Corrente Contínua: da Eletronorte, Vol. XXXI, Nº 222, de set./out. de 2008”.

Mara Regina Boaventura Gerência de Documentação e Programas Especiais da Universidade Federal de Mato Grosso Cuiabá - MT

“Recebemos e agradecemos a doação da obra re-vista Corrente Contínua - Ano XXXI - nº 223. Temos certeza de que irá enriquecer sobremaneira, nosso acervo, por ser fonte de informações preciosas para os usuários desta Biblioteca”.

Maria Hilda de Medeiros Gondim Diretora da Divisão de Desenvolvimento de Coleções da Biblioteca Central da Universidade Federal do Pará Belém – PA

“A Fotolegenda da edição de janeiro/fevereiro da Corrente Contínua ficou magnífica! A imagem, car-regada de sutileza, demonstra a paradoxal junção da força e da delicadeza feminina. O ‘casamento’ do tex-to com a imagem com certeza conseguiu transmitir a

mensagem pretendida aos receptores. E ainda legiti-ma o compromisso que a Empresa tem em dissemi-nar a equidade no ambiente de trabalho. Parabéns pelo texto e pela imagem!”.

Rose Dayanne Regional de Transmissão do Tocantins Palmas - TO

“Queridos amigos, estou muito lisonjeada com o carinho de vocês, eu só tenho a agradecer. As maté-rias ficaram ótimas, e não poderia ser diferente: com a competência e amor ao que fazem o resultado só poderia ser esse mesmo. Amei a Fotolegenda, ficou muito fofo!”.

Katiana Silva Santos Divisão de Transmissão de Imperatriz Imperatriz – MA “Prezado Accioly, parabéns pela edição da Corren-

te Contínua nº 224, especialmente a matéria do Cé-sar Fechine, “Usina-plataforma, o novo conceito em hidrelétricas”. É um conceito muito importante para o Setor Elétrico.”

Marcos Bezerra Gerência de Obras de Geração Brasília - DF

“Como mulher, colaboradora da Empresa e leito-ra da revista Corrente Contínua, gostaria de elogiar a quarta capa da edição Ano XXXI – nº 224 – Janeiro/Fevereiro – 2009. Inteligente, visualmente moderna e humana: a idéia foi dez!”.

Fernanda Monteleone Barros Superintendência de Suprimento de Material e Serviços Brasília - DF “Agradeço bastante o envio da matéria feita pela

Eletronorte e gostaria de receber exemplar da revista impressa. Nosso endereço segue abaixo”.

Rafael Mileo Assessor de Comunicação da Cooperação Internacional do Governo do Pará Belém - PA

“Recebemos a última edição da revista Corrente Contínua que, por sinal, está muito boa, principal-mente, a matéria sobre a usina plataforma. Todos na redação da revista GTD gostaram muito. Para-béns!”.

Anna Flávia Rochas Subeditora e repórterda revista GTD Energia Elétrica São Paulo - SP

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O que foi mãe?Mãe....Mamãeiê!!!Ô filho, o que foi?O que a senhora tava olhando? Não tava olhando. Tava ouvindoOuvindo o quê? O rio.E rio fala mãe? Fala com os peixes?Fala de um jeito diferente filho. Com os peixes, as árvores, e até com a gente. Ele fala com a senhora mãe? E o que ele já disse?Me disse que adora quando a gente senta aqui na calçada de casa e fica olhando ele como a rua mais grandona de todas.....E o que mais mãe? Ele gosta que a gente tome banho aqui?Ah, claro que gosta. Ele adora abraçar. Abraça tudo. Gente, terra, bicho e mato. Mãe. Eu acho que eu ouvi. Ouviu o quê, menino?O rio mãe!É? E o que ele te disse? Disse pra eu ficar quietinho. Quietinho?!?!É. Pra ouvir uma história, mãe. E que história será essa filho?Sei não mãe. Acho que ele vai começar agora e terminar só quando eu crescer. Será que o rio vai ficar aí mãe?Vai sim filho, vai sim....é só ficar de ouvido nele.

Texto: Michele SilveiraFoto: Rony Ramos