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21 ISSN 2238-300X CORRIDAS DE RUA E A PARTICIPAÇÃO DE CADEIRANTES STREET RACING AND THE PARTICIPATION OF WHEELCHAIRS Antônio Sávio 1 João Franco Lima 2 Resumo: As corridas de rua em salvador estão cada vez mais presentes e têm atraído diversos públicos. Assim, investimos neste estudo com objetivo de analisar o processo de inclusão de cadeirantes nas corridas de Rua em Salvador, bem como buscar informações sobre treino, principais dificuldades e motivação para correr. A metodologia empregada foi de caráter exploratório e qualitativo. Foram realizadas entrevistas com cadeirantes envolvidos diretamente em corridas de Rua na Cidade de Salvador. Com este trabalho notamos a necessidade de mais estudos, bem como implantação e implementação de públicas de esporte e lazer, incentivo e ações no aspecto estrutural da Cidade de Salvador. Palavras-chaves: Corridas de rua; cadeirantes; esporte adaptado. Abstract: Road races in Salvador are increasingly present and have attracted various audiences. So we invested in this study to analyze the process of inclusion in wheelchair racing Street in Salvador, as well as get information about training, major difficulties and motivation for running. The methodology was qualitative and exploratory. Interviews were conducted with wheelchair directly involved in street racing in the city of Salvador. With this work we note the need for further studies, as well as deployment and implementation of public sports and leisure, incentive and actions in the structural aspect of the city of Salvador. Keyworls: Adapted sports; street racing; wheelchair. 1 Estudante do Curso de Bacharelado em Educação Física – UNIJORGE, Graduado em Fisioterapia pela UNIJORGE. 2 Orientador - Mestre em Lazer pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, Professor do Centro Universitário Jorge Amado – UNIJORGE.

CORRIDAS DE RUA E A PARTICIPAÇÃO DE CADEIRANTESrevistas.unijorge.edu.br/corpomovimentosaude/pdf/2012_2_artigo3.pdf · atletas, participantes de clubes de corrida, ... com intuito

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ISSN 2238-300X

CORRIDAS DE RUA E A PARTICIPAÇÃO DE CADEIRANTES

STREET RACING AND THE PARTICIPATION OF WHEELCHAIRS

Antônio Sávio1

João Franco Lima2

Resumo: As corridas de rua em salvador estão cada vez mais presentes e têm atraído diversos públicos. Assim, investimos neste estudo com objetivo de analisar o processo de inclusão de cadeirantes nas corridas de Rua em Salvador, bem como buscar informações sobre treino, principais dificuldades e motivação para correr. A metodologia empregada foi de caráter exploratório e qualitativo. Foram realizadas entrevistas com cadeirantes envolvidos diretamente em corridas de Rua na Cidade de Salvador. Com este trabalho notamos a necessidade de mais estudos, bem como implantação e implementação de públicas de esporte e lazer, incentivo e ações no aspecto estrutural da Cidade de Salvador.Palavras-chaves: Corridas de rua; cadeirantes; esporte adaptado.

Abstract: Road races in Salvador are increasingly present and have attracted various audiences. So we invested in this study to analyze the process of inclusion in wheelchair racing Street in Salvador, as well as get information about training, major difficulties and motivation for running. The methodology was qualitative and exploratory. Interviews were conducted with wheelchair directly involved in street racing in the city of Salvador. With this work we note the need for further studies, as well as deployment and implementation of public sports and leisure, incentive and actions in the structural aspect of the city of Salvador.Keyworls: Adapted sports; street racing; wheelchair.

1 Estudante do Curso de Bacharelado em Educação Física – UNIJORGE, Graduado em Fisioterapia pela UNIJORGE.2 Orientador - Mestre em Lazer pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, Professor do Centro Universitário Jorge Amado – UNIJORGE.

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INTRODUÇÃO

As corridas de rua em salvador estão cada vez mais presentes, principalmente no verão, quando ocorrem várias provas pelas ruas da cidade, sejam diurnas ou noturnas com distâncias que variam de 5 a 21 km. Estes eventos têm atraído diversos públicos, desde atletas, participantes de clubes de corrida, idosos, pessoas com deficiência, entre outras categorias.

Devido ao potencial inclusivo das corridas de rua investimos neste estudo para entendermos de que forma os cadeirantes estão inclusos em corridas de Rua na Cidade de Salvador. O objetivo foi analisar o processo de inclusão de cadeirantes nas corridas de Rua em Salvador, bem como buscar informações sobre treino, principais dificuldades e motivação para correr.

A metodologia empregada foi de caráter exploratório e qualitativo, com intuito de promover a sociedade uma maior familiarização do tema em questão visando torná-lo explícito. Foram realizadas entrevistas com cadeirantes envolvidos diretamente em corridas de Rua na Cidade de Salvador, para, por meio de levantamento de dados e análise das experiências, alcançarmos os objetivos da pesquisa (GIL, 1995).

Além de contato com atletas cadeirantes que praticam Corridas de Rua em Salvador recorremos também a informações que foram publicas na literatura nos últimos 10 anos sobre tal modalidade. E realizamos buscas e estudos em livros encontrados na biblioteca do Centro Universitário Jorge Amado. É importante salientar que percebemos escassez de artigos científicos com essa temática.

Foram entrevistados dois atletas que praticam Corrida de Rua em Salvador. Eles são atletas também do time de Basquete em Cadeira de Rodas representados pela Associação de Atletas Baianos com Necessidades Especiais – AABANE que foi criada em 2011, a partir da necessidade de atletas da Bahia que perceberam a importância de serem representados por uma entidade com responsabilidade, dignidade, confiança, transparência e comprometimento com o paradesporto no Estado da Bahia3.

Os critérios de inclusão foram: ser cadeirante, ter participado de pelo menos uma competição de Corrida de Rua em Salvador, aceitado

3 Associação dos Atletas Baiano com Necessidade Especiais – AABANE. Missão: Oferecer as pessoas com necessidades Especiais à inclusão social com melhor qualidade de vida através do esporte. Objetivo: O desenvolvimento das práticas esportivas, em caráter beneficente, de natureza educativa; visando o equilíbrio do atleta, a saúde, o lazer, a cultura e o esporte como meios de crescimento e sua integração psíquico-social na sociedade.

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e concordado com o termo de consentimento livre e esclarecido liberando trechos dos depoimentos para a construção e análise de dados da pesquisa.

É imprescindível salientar que é importante pensar a respeito do esporte adaptado e o que gira ao seu redor, como por exemplo, questões sobre inclusão, acessibilidade, tecnologia assistiva, incentivos, dificuldades, formação profissional, entre outras, para construção e difusão de conhecimento capaz de colaborar para o desenvolvimento do esporte adaptado e favorecimento da inclusão em nível cada vez mais favorável.

Além disso, houve grande popularização das Corridas de Rua nos últimos anos, por indivíduos que buscam atividades competitivas, alívio do estresse, melhoria de saúde e qualidade de vida, estética e inclusão. Até porque, para participar dessa modalidade esportiva, o praticante não necessariamente precisa de habilidades específicas, desta forma, a princípio, qualquer pessoa pode participar. No entanto, é recomendado ao corredor acompanhamento profissional interdisciplinar qualificado na tentativa de se beneficiar de tal prática sem trazer riscos á saúde.

O que nos levou a investir em tal estudo, além do já exposto foi à participação em disciplinas que discutem o tema bem como a experiência com atletas cadeirantes praticantes de basquete em cadeiras de rodas, sendo alguns deles participantes de Corridas de Rua em Salvador. Assim reforçamos a importância de buscar dados e depoimentos que podem ser relevantes no que diz respeito às diretrizes das políticas públicas para inclusão de pessoas com deficiência em eventos esportivos, bem como refletir a respeito de possibilidades e desafios no âmbito do esporte adaptado.

ESPORTE ADAPTADO

É possível que tenha havido adaptação para a prática da atividade física desde período anterior a 3000 a.C. em território que hoje pertence a China. E, de acordo com Itani, Araújo e Almeida (2004), Existem vestígios da prática “desportiva” por pessoa com deficiência desde a Antiguidade, no entanto, a maior ênfase dessas atividades, tanto na área da reabilitação, prevenção e organizações, se deu após a Segunda Guerra Mundial devido ao aumento de pessoas com deficiência, e que os primeiros registros de esporte adaptado, como tiro e arco e flecha, foram encontrados no ano de 1918 na Alemanha e na Inglaterra, em 1932, foi criada uma associação de jogadores de Golfe com um só braço.

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Os autores trazem também que o primeiro programa de esporte em cadeira de rodas teve início em 1945 por iniciativa do médico Ludwig Guttmann no Hospital de Reabilitação de Stoke Mandeville na Inglaterra e em 1960 ocorreu a primeira paralimpíada em Roma.

Na época de 1950 foram formulados vários programas para pessoas com deficiência e obtiveram diversas nomenclaturas: Educação Física Corretiva, Ginástica Corretiva, Educação Física Preventiva, Educação Física Ortopédica, Educação Física Reabilitativa, e Educação Física Terapêutica. Esses termos refletem como os pesquisadores estavam preocupados em dar um direcionamento a Educação Física Adaptada (PREDINELLI; VERENGUER apud GORGATTI; COSTA, 2005).

“Esporte adaptado designa o esporte modificado ou criado para suprir as necessidades especiais dos portadores de deficiências.” (WINNICK, 2004, p. 6). O mesmo autor acrescenta ainda em seus estudos que o termo esporte adaptado:

[...] não é adotado para abranger não só as experiências de competição, mas também as que envolvem atividades recreativas para o tempo de lazer que permitem ao portador de deficiência ter uma vida saudável fora do ambiente escolar. (WINNICK, 2004, p. 37).

O esporte adaptado oferece grande oportunidade para que indivíduos com deficiência possam praticar atividades esportivas. Estas práticas podem ser de extrema importância para pessoas com deficiência, pois, tem potencial para contribuir no desenvolvimento psicomotor, reabilitação e inclusão junto à sociedade, além de promover independência (IANOSKI; LEVANDOSKI, 2009). E, segundo (FERREIRA, p. 27, 2010), tem como funções: possibilitar o relacionamento intra e interpessoal; oportunizar o bem-estar físico, mental, social, emocional e físico; situar atividade física como forma de comunicação e instrumento de expressão – imagem cinestésica; contribuir para compreensão de valores socioculturais; atender a necessidade de movimento, de auto expressão e de lazer.

CORRIDA EM CADEIRA DE RODAS

Houve a participação de corrida em cadeira de rodas na Maratona de Boston de 1975, porém antes disso já se tinha informações sobre o acesso de cadeirantes em outras corridas. Um marco para as corridas de rua foi a Maratona Nacional em Cadeiras de Rodas, em 1977, onde participaram 7 atletas. Desde então as competições pelo mundo todo tem ganhado cada vez mais adeptos (ADAMS, 1985).

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De acordo com a Confederação Brasileira de Atletismo (2012, p. 6)4

Deve ser observado que o desporto para as pessoas portadoras de necessidades especiais é regulado e dirigido por entidades específicas, não cabendo à CBAt ou às Federações suas filiadas a organização de eventos nessa área do desporto. No entanto, considerando-se o caráter de manifestação de massa que as corridas de rua possuem, a participação de atletas portadores de necessidades especiais deverá ser realizada da seguinte forma:1. Os atletas portadores de necessidades especiais, aceitos como inscritos na prova, que utilizem cadeiras de rodas para participar, devem largar antes dos demais participantes, com um intervalo mínimo de 10 (dez) minutos, com a finalidade de serem evitados acidentes.2. Os outros atletas portadores de necessidades especiais, aceitos como inscritos na prova, devem largar juntamente com os demais participantes, no pelotão geral. No caso particular dos deficientes visuais, estes deverão ser obrigatoriamente acompanhados por guias, identificados como tal pela organização da prova com camisas ou números de cores diferentes.

Em cada competição em que haja a participação de pessoa com deficiência é necessária a classificação funcional por equipe e individual para equilibrar as competições. Desta forma, o competidor é classificado de acordo com as regras do evento e assim, dependerá da funcionalidade do indivíduo (VERÍSSIMO; RAVACHE, 2006).

A corrida para pessoas com deficiência tem a mesma classificação que a corrida tradicional sendo dividida em provas de pista ou de campo. Track voltado para a competição de pista e Field para campo. Assim, a classificação funcional utiliza T (track) e F (field) precedidos do número de classificação do atleta (FERREIRA, 2010) como visto na tabela 1.

4 http://www.cbat.org.br/corrida/normas/default.asp

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Tabela 1

Fonte: JÚNIOR, G. Regulamento específico atletismo paralímpico. IBDEEC – Esporte, Educação e Cultura. Minas Gerais, 2012.

CADEIRA DE RODAS PARA COMPETIÇÃO

Houve um avanço muito grande no design das cadeiras de rodas que combinam com a necessidade de cada esporte. É como se comparasse aos tênis, cada modalidade exige um calçado específico, o mesmo com as cadeiras de rodas.

De acordo com Yilla (2004), percebe-se que tanto o atleta quanto o preparador devem estar atentos para as peculiaridades da cadeira de rodas para este desporto.

A estrutura deve ser rígida, porém leve quando possível, ou seja, leve para que o atleta consiga realizar a propulsão sem grandes gastos energéticos, e rígidos para que quando o atleta impuser sua energia não a deforme.

As rodas traseiras são maiores em diâmetros e menores transversalmente. Nas corridas de ruas são usados pneus mais estreitos possíveis – 19 mm ou menos. Para reduzir a resistência durante o deslocamento é importante que as rodas traseiras estejam direcionadas para frente.

Quando se fala nos aros de propulsão, observam-se três pontos cruciais: diâmetro, largura e material de cobertura. O aro representa a marcha, ao usar o aro menor, o atleta usa a marcha alta que gera menor aceleração, mas permite uma boa velocidade final. Já o aro maior ele utiliza a marcha lenta, que por sua vez gera uma aceleração maior, porém com a velocidade final reduzida. O diâmetro do aro de propulsão varia de 35-45 cm.

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Se o aro é mais largo facilita as pegadas durante as subidas / descidas, porém quando os aros são mais estreitos proporciona maiores velocidades.

Por fim, se o material do aro for liso ou escorregadio perde-se o atrito quando a força é aplicada.

RESULTADO E DISCUSSÃO

O Primeiro entrevistado foi AJA praticante de corrida de rua há 11 anos com histórico de assalto no Rio de Janeiro, vítima de Projétil de Arma de Fogo – PAF há 26 anos. A bala atingiu T11-T12 com secção total da medula, e ainda permanece com o projétil. Ficou internado durante 4 anos em um determinado hospital, pela síndrome da imobilidade, apresentou inúmeras escaras.

AJA relata que corre em cadeira normal por não ter condições de comprar uma cadeira específica – triciclo, que custa, no mínimo, R$2.300,00 (dois mil e trezentos reais). Sua queixa principal é que não há incentivo aos cadeirantes a praticarem atividades em Salvador, não há local de treino, não existem pessoas preparadas, a prefeitura juntamente com o Governo do Estado pouco tem investido.

O mesmo contou que pratica a corrida de rua por amor ao esporte e em relação à premiação das corridas que acontecem na cidade, quando existe premiação em dinheiro, é muito pouco. Informa que a última que participou pagou R$300,00 (trezentos reais), um valor, que segundo ele, não paga nem a manutenção da roda.

No momento está sem competir por apresentar queixas álgicas intensas em MMSS, “os braços são as nossas pernas”.

O segundo entrevistado foi ON, 48 anos vítima de acidente automobilístico cursando com fratura e luxação de T3-T4 com lesão parcial da medula. Ele disse: “O carro capotou e eu bati minha coluna em cima da alavanca do carro, quando o carro terminou de virar eu estava consciente e eu já sabia que havia comprometimento motor porque eu não conseguia mexer mais as pernas. Eu tenho uma qualidade de vida melhor que outros atletas, no sentido em que minha lesão foi alta e ando com auxílio de aparelhos. Tenho 22 anos de acidente”.

ON Iniciou sua trajetória na corrida em 1997, no começo utilizava a cadeira do dia a dia para praticar, passou a ter gosto pelo esporte e pensou em comprar uma cadeira adequada. Em 2000 obteve seu triciclo que usa até hoje. Atualmente apresenta um pequeno problema em sua cadeira, pois desgastou um parafuso do encosto e nesse caso precisou mudar a regulagem o que gerou uma perda de 32s/km.

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ON, em seu depoimento, e “abre completamente o jogo” sobre o atual quadro da corrida de rua em Salvador. Refere que o grande problema é algo que já foi abordado pelo outro entrevistado, a falta de premiação e o custo do equipamento que é muito alto. “quando você não tem como repor este material, muitas vezes as pessoas deixam até de treinar.” Os organizadores das corridas além de não oferecerem prêmios em dinheiros para os primeiros colocados não motivam os atletas.

Ele dá exemplo das pessoas que não tem carro e utilizam o transporte público com sua maneira de locomoção, muitas vezes os motoristas dos ônibus não querem levar o atleta com a sua cadeira de rodas mais o triciclo que é utilizado somente nas competições.

O atleta acreditava que uma cadeira excelente de corrida para competir custaria em torno de U$10.000,00 (dez mil dólares), porém já se sabe que um paratleta para competir nas paralimpíadas gasta U$100.000,00 (cem mil dólares) com seus equipamentos.

Muitas das competições que já participou são free-lance e desta forma acaba se perdendo a motivação em competir. Ele cita o exemplo da Cidade de Jacobina, que, no circuito baiano, era a cidade que pagava melhor, R$300,00 (trezentos reais) para o 1° colocado e R$200,00 (duzentos reais) para o 2°. E desabafa: “Não tenho patrocínio, sempre corri com as minhas despesas, antigamente eu tinha uma apoio da Chesf, mas mudou a legislação e hoje as empresas federais não podem custear diretamente o atleta. Às vezes eu pedia R$ 1000,00 para poder competir e aí algumas vezes eles retinham um determinado valor vamos supor 400,00, ou seja, eu tinha 600,00 para poder gastar”.

De maneira indignada, o mesmo cita quando foi competir na Cidade do Rio de Janeiro onde levava suas malas, a sua cadeira do dia a dia mais a cadeira de competição e tinha de pegar um táxi até o hotel, do hotel para o evento, do evento para o hotel e por fim, do hotel para o aeroporto, só aí gastava mais de R$200,00 (duzentos reais). “Com tantas dificuldades eu parei de correr em competições, hoje eu corro só por prazer”.

Em relação ao seu treino, também tem algumas queixas: relata que existe uma pista apropriada de ciclismo que fica a 25 km de Salvador, em Simões Filho. Em Salvador mesmo treina na orla, porém por ser próximo do mar pega todo o vento contra, além do salitre que danifica muito o material, e mais complicado, de acordo com ON, é que ultimamente colocaram alguns quebra-molas na pista de ciclismo da orla e o mesmo disse q sua cadeira já quebrou duas vezes. Seu treino é de Pituaçú até Itapuã e depois volta dando uma

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média de 9 km. Quando ele quer treinar intensamente faz esse percurso duas vezes.

Associado ao treino de corrida, o mesmo ainda faz treino de força em uma academia que ele mesmo montou no ambiente de trabalho. E ressalta: “Eu já participei da volta a Pampulha, da meia maratona do Rio, Aracaju. Nas competições do Sul e Sudeste eles dão uma premiação muito boa. Na volta da Pampulha em 2004 que competi tinha 22 cadeirantes competindo. É outra motivação, com toda a dificuldade que eu tenho aqui ainda consegui chegar em 4º”.

Segundo Teixeira (2002), as políticas públicas “são diretrizes, regras e procedimentos” que irão direcionar as ações do poder público para com a sociedade, tornando os cidadãos mais próximos do governo. Desta forma, a implementação de políticas públicas é fundamental para determinar quem irá fazer o quê, em que momento, quais as consequências e para quem serão destinados os benefícios.

Hoje os paratletas Baianos contam com um apoio da Superintendência dos Desportos do Estado da Bahia – SUDESB que irão passar algumas cadeiras de atletismo, porém a Associação não depende só de cadeira e sim de manutenção, transporte, melhores premiações para que o atleta se sinta mais motivado em participar das competições. Além disso, ainda tem apoio do Governo do Estado que doaram algumas cadeiras para o Campeonato Nordeste de Basquete em cadeira de rodas, mas é preciso ainda investir em segurança para o atleta ir dos seus bairros mais carentes e poder voltar tranquilo, melhores condições de transportes, “ainda falta muito para podermos ser reconhecidos e podermos nos destacar”.

Segundo Maia e Almeida (2008), percebe-se que é bastante evidente a carência de políticas públicas para o esporte e lazer na Cidade de Salvador, é visto também a falta de incentivo e de novas propostas da população em geral.

O entrevistado encerra as suas considerações dizendo que Salvador deve sediar mais eventos paradesportivos como o Campeonato Nordeste de Basquete em cadeiras de rodas em locais públicos como aconteceu no mês de Setembro de 2012, pois é uma maneira de chamar a atenção da sociedade e que as pessoas saibam que a Bahia tem um grupo que desenvolve tais atividades e, desta forma, atrair a participação e adesão de mais paratletas. “A sociedade tem de enxergar esse movimento”, pois através da imprensa e o apoio de entidades públicas foi capaz de tornar o evento divulgado para a cidade e para o interior.

Para Zingoni (1998), muitas pessoas ainda acreditam que o significado de políticas públicas está corelacionado com doações de

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materiais, neste caso esportivo, porém se faz necessário também a ação humana que dão a vida desses equipamentos. É importante atentar-se para as organizações de eventos passageiros, pois muitas vezes acabam não tendo grande relevância social. Ou seja, se faz necessário para ficar na lembrança da população em geral movimentos paradesportivos contínuos na Cidade de Salvador para, de maneira geral, fazer com que ocorram maiores incentivos por parte das empresas públicas e privadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Acreditamos que carecemos de políticas públicas para alavancar não só o esporte adaptado, mas o esporte tanto de alto rendimento como o esporte amador, de participação e de lazer e que garantam a inclusão às pessoas com deficiência não apenas no âmbito do esporte, mas como cidadãos. Como observado durante as entrevistas, o Governo da Bahia juntamente como a SUDESB deram apoio de materiais para a realização de um evento esportivo voltado para pessoas com deficiência. Porém, ainda existe uma lacuna muito grande para desenvolvimento do esporte adaptado.

Observamos a grande necessidade de projetos voltados para o esporte adaptado e o esporte de participação tanto com relação ao poder público como a outros setores da sociedade, que implicam em descaso, dificuldade de inclusão, acessibilidade, investimentos e desenvolvimento na área.

Inclusive, para a realização de Corridas de Rua com possibilidade de inclusão de cadeirantes, é necessário que haja condições para deslocamento e condução dos atletas e das suas cadeiras de rodas, tanto para treinos como em competições, mas, verificamos que são precários o transporte e locais de treino.

Dessa forma a acessibilidade acaba sendo umas das principais queixas de evasão do esporte. É necessário por em prática mais investimentos na área, tanto em relação às estruturas físicas, formação e qualificação profissional para atuação com pessoas com deficiência e ações no sentindo de incentivar a prática de esportes adaptados e de participação para promoção de inclusão social.

Cabe também ao setor privado e as organizações das Corridas de Rua um maior incentivo financeiro no que diz respeito às premiações aos três primeiros colocados de cada categoria, podendo contribuir com o aumento da procura dos paratletas para ingressarem no desporto.

A sociedade também deve exigir mais ações do governo voltadas para as pessoas com deficiências, além disso, as associações

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responsáveis por esporte adaptado devem divulgar, por meio de diversas mídias e redes sociais, os benefícios do fomento e da prática do esporte adaptado no que se refere a saúde e melhoria de qualidade de vida bem como para uma sociedade mais inclusiva para atrair mais adeptos e incentivadores e promover um fortalecimento dos movimentos sociais para um maior engajamento da sociedade.

Além disso, estamos vivendo momento impar para reflexão, investimento e promoção de atividades físicas, esportivas e de lazer, pois, estamos nos preparando para sediar grandes eventos, a Copa do Mundo de 2014, as Olimpíadas e Paralipíadas de 2016.

É preciso que haja também mais estudos acadêmicos, implantação e implementação de públicas de esporte e lazer e as ações tanto no aspecto estrutural da Cidade de Salvador como no incentivo financeiro seja na compra de novas cadeiras, aquisição de materiais ou até mesmo melhores premiações em dinheiro e claro divulgar mais essas ações para que em um futuro próximo os paratletas de Salvador se destaquem cada vez mais no âmbito paradesportivo e consiga seus espaços em grandes competições mundiais.

REFERÊNCIAS

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GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1995;IANOSKI, A.; LEVANDOSKI, G. O Esporte Adaptado: fatores históricos,

inclusão e qualidade de vida para o deficiente físico. Ago. 2009. Disponível em: <http://www.portaleducacao.com.br/esporte/artigos/8605/o-esporte-adaptado-fatores-historicos-inclusao-e-qualidade-de-vida/pagina-2>. Acesso em: 26 de Set. 2012;

ITANI, D. E.; ARAÚJO, P. F.; ALMEIDA, J. G. Esporte adaptado construído a partir das possibilidades: handebol adaptado. Revista Digital. Buenos Aires, ano 10, n. 72, mai. 2004. Disponível em : http://www.efdeportes.com

JÚNIOR, G. Regulamento específico atletismo paralímpico. IBDEEC – Esporte, Educação e Cultura. Minas Gerais, 2012.

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PREDINELLI; VERENGUER. O esporte para pessoas com necessidades especiais. In GORGATTI, M. G.; COSTA, R. F. (Orgs.), Atividade física adaptada: qualidade de vida para pessoas com necessidades especiais. Barueri, São Paulo: Manole, 2005;

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VERÍSSIMO, A; RAVACHE, R. Manuel de Orientação para Professores de Educação Física: Atletismo Paraolímpico. Comitê Paralímpico Brasileiro. Brasília, 2006;

TEIXEIRA, E. C. O Papel das Políticas Públicas no Desenvolvimento Local e na Transformação da Realidade. Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais da Bahia: 2002. Disponível em: <http://www.fit.br/home/link/texto/politicas_publicas.pdf>. Acesso em: 13 de Nov. 2012;

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WINNICK, J. Educação Física e Esportes Adaptados. Barueri, São Paulo: Manole, 2004;

ZINGONI, P. Políticas públicas de esporte e lazer: da congestão à coparticipação. Revista Motrivivência, Editora da UFSC, 1998.