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CORRUPÇÃO EMPRESARIAL NO BRASIL REPUBLICANO: A CORDIALIDADE BRASILEIRA NAS RELAÇÕES ENTRE O PÚBLICO E O PRIVADO Anna Flávia Arruda Lanna Barreto 1 Natália Silva Teixeira Rodrigues de Oliveira 2 Resumo: A corrupção, para além do aspecto penal, implica em práticas antiéticas com o objetivo de corromper alguém ou obter favores de alguma pessoa por meios ilícitos. Seu uso não se restringe às esferas política e econômica, ele está inserido em práticas culturais cotidianas que denigrem as relações sociais e legitimam a tolerância a determinados casos de corrupção. Esta pesquisa objetiva estabelecer uma relação entre a corrupção empresarial no Brasil republicano, como os casos das empresas envolvidas em grandes obras de infraestrutura, transporte, construção civil e extração de recursos naturais e minerai s, e a dita “cordialidade” do brasileiro, expressão cunhada por Sérgio Buarque de Holanda. A abordagem pretende verificar as origens das práticas de corrupção no Brasil, e seus efeitos para a sociedade brasileira tanto na esfera jurídica como na esfera cultural, com ênfase no período pós 1964. A metodologia adotada será a pesquisa bibliográfica sobre o tema da corrupção no Brasil republicano, buscando mapear as suas origens e causas. São resultados esperados da pesquisa a explicação dos condicionantes que moldam o “jeito peculiar” do brasileiro tratar a corrupção e tornam imprecisos os limites entre o público e o privado nas inter-relações sociais, políticas e empresariais. Palavras-Chave: corrupção, Brasil Republicano, cultura da cordialidade, empresa. Abstract: Corruption, beyond the criminal aspect, involves unethical practices with the aim of corrupting someone or obtaining favors from someone through illicit means. Its use is not restricted to the political and economic spheres, it is embedded in daily cultural practices that denigrate social relations and legitimize tolerance to certain cases of corruption. This research aims to establish a relationship between corporate corruption in republican Brazil, such as the cases of companies involved in major infrastructure works, transportation, construction and extraction of natural and mineral resources, and the so-called "cordiality" of the Brazilian, an expression coined by Sérgio Buarque de Holanda. The approach seeks to verify the origins of corruption practices in Brazil, and its effects on Brazilian society both in the legal sphere and in the cultural sphere, with emphasis in the period after 1964. The methodology adopted will be the bibliographical research on the subject of corruption in Brazil Republican, seeking to map its origins and causes. The expected results of the research are the explanation of the constraints that shape Brazil's "peculiar way" to treat corruption and make the boundaries between the public and the private in the social, political and business interrelationships imprecise. 1 Doutora em História pela UFMG, professora adjunta do Centro Universitário UNA, pesquisadora do Projeto República: núcleo de pesquisa, documentação e memória da UFMG. E-mail: [email protected]. 2 Doutora em Direito pela UFMG, professora adjunta do Centro Universitário UNA. E-mail: [email protected]. Anais do XIV Congresso Internacional de Direitos Humanos. Disponível em http://cidh.sites.ufms.br/mais-sobre-nos/anais/

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CORRUPÇÃO EMPRESARIAL NO BRASIL REPUBLICANO: A CORDIALIDADE

BRASILEIRA NAS RELAÇÕES ENTRE O PÚBLICO E O PRIVADO

Anna Flávia Arruda Lanna Barreto1

Natália Silva Teixeira Rodrigues de Oliveira2

Resumo:

A corrupção, para além do aspecto penal, implica em práticas antiéticas com o objetivo de

corromper alguém ou obter favores de alguma pessoa por meios ilícitos. Seu uso não se

restringe às esferas política e econômica, ele está inserido em práticas culturais cotidianas que

denigrem as relações sociais e legitimam a tolerância a determinados casos de corrupção. Esta

pesquisa objetiva estabelecer uma relação entre a corrupção empresarial no Brasil

republicano, como os casos das empresas envolvidas em grandes obras de infraestrutura,

transporte, construção civil e extração de recursos naturais e minerais, e a dita “cordialidade”

do brasileiro, expressão cunhada por Sérgio Buarque de Holanda. A abordagem pretende

verificar as origens das práticas de corrupção no Brasil, e seus efeitos para a sociedade

brasileira tanto na esfera jurídica como na esfera cultural, com ênfase no período pós 1964. A

metodologia adotada será a pesquisa bibliográfica sobre o tema da corrupção no Brasil

republicano, buscando mapear as suas origens e causas. São resultados esperados da pesquisa

a explicação dos condicionantes que moldam o “jeito peculiar” do brasileiro tratar a corrupção

e tornam imprecisos os limites entre o público e o privado nas inter-relações sociais, políticas

e empresariais.

Palavras-Chave: corrupção, Brasil Republicano, cultura da cordialidade, empresa.

Abstract:

Corruption, beyond the criminal aspect, involves unethical practices with the aim of

corrupting someone or obtaining favors from someone through illicit means. Its use is not

restricted to the political and economic spheres, it is embedded in daily cultural practices that

denigrate social relations and legitimize tolerance to certain cases of corruption. This research

aims to establish a relationship between corporate corruption in republican Brazil, such as the

cases of companies involved in major infrastructure works, transportation, construction and

extraction of natural and mineral resources, and the so-called "cordiality" of the Brazilian, an

expression coined by Sérgio Buarque de Holanda. The approach seeks to verify the origins of

corruption practices in Brazil, and its effects on Brazilian society both in the legal sphere and

in the cultural sphere, with emphasis in the period after 1964. The methodology adopted will

be the bibliographical research on the subject of corruption in Brazil Republican, seeking to

map its origins and causes. The expected results of the research are the explanation of the

constraints that shape Brazil's "peculiar way" to treat corruption and make the boundaries

between the public and the private in the social, political and business interrelationships

imprecise.

1 Doutora em História pela UFMG, professora adjunta do Centro Universitário UNA, pesquisadora do Projeto

República: núcleo de pesquisa, documentação e memória da UFMG. E-mail: [email protected]. 2 Doutora em Direito pela UFMG, professora adjunta do Centro Universitário UNA. E-mail:

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Key-words: Corruption, Brazil Republican, culture of cordiality, enterprise.

1 INTRODUÇÃO

Uma breve análise do processo civilizatório brasileiro permite-nos observar que as

nossas estruturas políticas e sociais tiveram sua formação viciada por práticas como o

patrimonialismo, o coronelismo e o clientelismo, nas quais os políticos exerciam práticas de

favorecimento de determinadas empresas ou candidatos em troca de apoio para as suas

campanhas. Esta situação nos remete as causas da corrupção no Brasil. Estudiosos e

pesquisadores do assunto defendem diferentes versões para esta questão. Uma das mais

aceitas é a nossa herança patrimonialista ibérica.

Segundo Raimundo Faoro, no patrimonialismo não há distinção, por parte dos líderes

políticos, entre o patrimônio público e o privado, tese esta também defendida por Sérgio

Buarque de Holanda. Mediante essa prática, os representantes do legislativo brasileiro

consideram os cargos políticos e o Estado como patrimônio privado, haja vista a eleição

ocorrida no dia 17 de abril de 2016, na Câmara dos Deputados, em que parlamentares

justificaram seus votos a respeito do impeachment da presidenta eleita Dilma Rousseff,

baseados nos seus familiares e amigos, utilizando argumentos que nada se relacionavam ao

caso em julgamento. Práticas como esta permitem que parentes de políticos, sem qualquer

preparo ou mérito, sejam escolhidos para cargos de confiança na administração pública ou

que empresas financiadoras de campanhas eleitorais vençam licitações públicas. Não são

raros os políticos que “herdam” de seus antepassados o prestígio político e as famílias vão se

perpetuando no poder. Como exemplo, pode ser citada a família Andrada que, desde José

Bonifácio de Andrada e Silva, ou seja, desde o início do século XIX, possui vários membros

ocupando cargos na política brasileira.

O problema da pesquisa se coloca na verificação das origens das práticas de corrupção

no Brasil e seus efeitos para a sociedade brasileira, tanto na esfera jurídica como na esfera

cultural. Trata-se de uma pesquisa oriunda de um projeto de iniciação científica, levada a

efeito numa instituição de ensino superior em Minas Gerais, que objetiva analisar o fenômeno

da corrupção durante o período republicano brasileiro bem como a legislação interna relativa

aos crimes de corrupção.

A estratégia adotada para realização da pesquisa é baseada na retrospectiva histórica

do fenômeno da corrupção no Brasil, a fim de explicar a relação entre os fatores sociais,

políticos e culturais que condicionaram a maneira peculiar do brasileiro de tratar a corrupção

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e a formação do estado nacional brasileiro, tendo, como consequência, a indistinção entre o

público e o privado nas inter-relações sociais e políticas.

Com a finalidade de esclarecer as práticas administrativas corruptas adotadas ao longo

do período republicano brasileiro e seus reflexos sociais e culturais na sociedade, o grupo,

formado pelas autoras e pelos estudantes selecionados optou por focalizar a pesquisa nas

relações entre o público (o Estado, os políticos) e o privado (as grandes empresas), de acordo

com a bibliografia existente. O período da análise se dará a partir da instalação do Regime

Militar Brasileiro até os dias atuais, aludindo aos casos envolvidos na “Operação Lava Jato”.

A escolha desse período procurou associar dois fatores: conhecimento das pesquisadoras e

período auge de crescimento e progresso financeiro das principais empreiteiras brasileiras.

A corrupção no Brasil mostra-se como um flagelo social que serve de agente de

disseminação da desigualdade social e da crise econômica brasileira. Atualmente é notório,

entre os pesquisadores, a visão de uma crise de caráter da sociedade civil e política brasileira,

sobretudo nos altos círculos da administração pública, frequentemente denunciados pelo

Ministério Público em escândalos de corrupção. São tantos os casos de envolvimento dos

parlamentares e grandes empresários brasileiros em casos de desonestidade e de atentados

contra o erário, que a ética passa ser a exceção à regra. Nesse sentido, é de se compreender

que, se essa situação perdurar, o futuro do nosso país e das próximas gerações estará

comprometido, não só economicamente, mas, sobretudo, do ponto de vista ético e moral.

A relevância dessa pesquisa está na verificação de que o comportamento corrupto

daqueles que se relacionam com o Estado brasileiro, nas suas diversas esferas, está na própria

formação política do Brasil, pautada no patrimonialismo e nas relações de cordialidade do

brasileiro. Esta análise, em especial a identificação dos fatores culturais e morais que

condicionam sua frequência e assiduidade nas esferas públicas e privadas, poderá fomentar

questionamento crítico e ético das nossas ações como cidadãos de direitos e deveres,

compromissados com a efetivação dos direitos fundamentais e a conquista da cidadania plena.

O problema da pesquisa é a verificação das origens das práticas de corrupção no

Brasil, que se baseiam nas relações “cordiais” entre o âmbito público (o Estado, os políticos) e

o privado (as empresas), bem como os seus efeitos para a sociedade brasileira republicana

tanto na esfera jurídica como na esfera cultural e moral. Nossa hipótese baseia-se na herança

patrimonialista brasileira que prevê a incorporação do público pelo privado, tornando possível

práticas administrativas e empresariais desonestas que atentam contra o erário público

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nacional. A continuidade e a intensidade dessa prática, apesar de comprometer o futuro

econômico e moral das próximas gerações, encontra respaldo na maneira peculiar do

brasileiro em omitir “pequenos” atos de corrupção e condenar a desonestidade alheia.

2 CORRUPÇÃO, PATRIMONIALISMO E COMÉRCIO NA AMÉRICA

PORTUGUESA

De acordo com uma pesquisa desenvolvida pela ONG Transparência Internacional

(TI), no ano de 2015, o Brasil ocupa o 76º lugar, com uma nota de 38 pontos, no ranking

mundial que analisa a percepção da corrupção em 175 países. Segundo essa pesquisa, o Brasil

caiu sete posições no ranking global, pois, em 2014, ele ocupava a posição 69º, com 43

pontos. As notas dadas aos países analisados vão de 0 a 100, ou seja, quanto maior a nota do

país, mais transparente ele é. Segundo essa classificação, a Dinamarca, que teve a nota 91, é

considerado o país mais transparente e menos corrupto, enquanto a Somália, com a nota 8, é

considerado o país mais corrupto do ranking global.

O citado relatório registra que os países com maior desempenho no ranking

apresentam um nível elevado de liberdade da imprensa, com efetivo acesso da população à

informação sobre o orçamento público e sistemas judiciários independentes de outras esferas

governamentais. Já os países com os menores desempenhos no ranking têm, como

características, a existência de guerras e conflitos, governos frágeis e com baixa capacidade de

planejar, formular, programar políticas e cumprir funções. Este dado nos remete a uma

questão histórica: estaria o fenômeno da corrupção diretamente relacionada as relações

público/privada desenvolvidas nas esferas política, econômica e social de um país ao longo de

sua história?

Tendo em vista que a história se constrói, sobretudo, por processos de longa duração,

que permitem identificar permanências e rupturas em relação ao passado e demonstrar o

quanto estas são fundamentais para a formação cultural de uma sociedade, é possível

identificar que as práticas de corrupção, que estão presentes em todas as esferas da sociedade

brasileira, não são recentes, mas, fazem parte de uma formação cultural, que a acompanha

desde o período colonial. Já ensinava Fernand Braudel que há uma diferença substancial entre

o “acontecimento” e a “ocorrência”, na medida em que o primeiro é único, individual, e

somente a segunda pode se repetir até tornar-se generalidade, estrutura, na medida em que

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“invade a sociedade em todos os seus níveis, caracteriza maneiras de ser e de agir

desmedidamente perpetuadas (BRAUDEL, 2005, p. 17)”. Portanto, os elementos, que

identificam uma sociedade, não se constroem em processos de curta duração. Cultura é uma

construção humana, que exige tempo para se consolidar, para se tornar um costume social e

ser absorvido como identidade de uma determinada sociedade. A compreensão de que a

cultura se forma por meio das estruturas de longa duração é imprescindível para que as

análises muito pontuais e isoladas não se tornem imposição.

Nesse sentido, ao analisarmos a história do Brasil, verificamos que a corrupção no

âmbito político é uma prática que data o período colonial, quando das relações dos primeiros

colonos com a Metrópole portuguesa. Segundo o historiador José Murilo de Carvalho (2009,

p. 18) “a colonização foi um empreendimento do governo colonial aliado a particulares”.

Raimundo Faoro (2001, p. 125) assim descreve a “empreitada” brasileira:

A aliança entre a atividade econômica do rei e a dos comerciantes declara-se, de

imediato, consorciando a força militar das armadas com a exploração comercial. O

monopólio real não se exerceu diretamente, mas mediante concessão: o rei

permaneceria comerciante, sem envolvimento imediato no negócio, mas vigilante,

com o aparelhamento estatal a serviço de seus interesses.

A colonização na América portuguesa baseou-se, como na própria Metrópole, na

relação com a terra, com contornos mais específicos, mas, sem dúvida, voltada para a lógica

fiduciária, já que era a propriedade rural aquela que dava prestígio significativo. Todavia,

desde os primórdios, a relação entre patrimonialismo e comércio também era estreita,

identificando que a empresa mercantil na colônia tinha, como base, a terra e o comércio, nem

que seja o de escravos. João Fragoso, Manolo Florentino e Sheila de Castro Faria (1998, p.

44) exemplificam tal relação:

Nesse sentido, não é de se estranhar que o comércio tenha servido de base para a

formação de famílias senhoriais e, portanto, para o ingresso no topo da hierarquia

colonial. A esse respeito, aliás, é exemplar a trajetória da família Godinho Rosado,

senhores de engenho no recôncavo carioca. A primeira notícia que temos de Pero

Godinho Rosado, patriarca da família, é de cerca de 1650, quando ele enviou uma

procuração para a realização de negócios no Congo e em Angola, o que leva a crer

que Rosado era um comerciante de escravos. Meio século depois, encontramos o seu

neto, João Godinho Rosado, recebendo uma sesmaria para ampliar os domínios de

seu engenho. As últimas informações sobre a família referem-se aos casamentos das

bisnetas de Pero Rosado com membros de antigas casas senhorais do Rio de Janeiro.

Percebe-se, assim, pela história de uma família originária de comerciantes, ao longo

de três gerações, a combinação de diferentes estratégias de acesso ao grupo

senhorial: acumulação mercantil, aquisição de terras por circuitos não comerciais e

alianças matrimoniais. Percebe-se, mais uma vez, como na colônia se reproduzia o

modelo social metropolitano, no qual a terra era o principal indicador da posição e

do prestígio dos indivíduos.

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Baseado no monopólio comercial, que determina a comercialização restrita da colônia

com a Metrópole, visando a obtenção de lucros exclusivos para esta, a conquista da América,

desde o século XVI, contou com práticas ilegais de fiscalização e controle das relações

comerciais desenvolvidas na colônia. Segundo Rita Biason (2009), funcionários da

Metrópole, encarregados de fiscalizar o contrabando e demais transgressões contra a coroa,

praticavam o comércio ilegal de mercadorias brasileiras (como o pau-brasil, o ouro, o

diamante e o tabaco), que acabavam sendo repassadas para os contrabandistas. As grandes

dimensões territoriais da colônia e a dificuldade enfrentada pela Coroa portuguesa em

fiscalizar essas práticas possibilitaram sua continuidade e seu desenvolvimento durante todo o

período colonial. Eduardo Bueno (2006, p. 248), ao descrever um conflito entre o então

governador geral, D. Duarte, e o bispo Sardinha, dá mostras da corrupção que já assolava a

Colônia e de como a fiscalização era precária:

Tão fragilizadas quanto o domínio territorial, encontravam-se a administração da

Justiça e da Fazenda na América portuguesa. A corrupção e os desmandos que

imperavam na capital – exemplarmente retratados pelo conflito entre D. Duarte e o

bispo Sardinha – não eram exclusividade da cidade de Salvador: as demais

capitanias enfrentavam problemas semelhantes, pois, tão logo tomavam o poder, os

homens mais abastados colocavam o aparelho judiciário e o fiscal a seu serviço, em

detrimento da população.

A fiscalização da coroa e a aplicação da justiça eram limitadas pelas dificuldades

enfrentadas para atingir os locais mais afastados das cidades e pela oposição dos grandes

proprietários de terra, que praticavam leis específicas em seus domínios. Sobre este aspecto,

as práticas corruptas tornavam-se possíveis graças à ineficácia da coroa portuguesa em

controlar as relações comerciais e judiciais, à falta de controle das autoridades na prestação de

contas, à ineficiência na punição dos envolvidos e ao descumprimento das leis pelos próprios

funcionários reais.

3 CORDIALIDADE E CORRUPÇÃO

Sérgio Buarque de Holanda, em sua obra síntese dos fundamentos que orientaram a

colonização brasileira, definiu o que ele denominou de “homem cordial” ou “brasileiro

cordial”.

Para um dos explicadores da nossa história, a cordialidade, típica das relações íntimas entre o

público e o privado, entre o estado e o particular, que pautaram a cultura brasileira, está longe

de ser a ideal. Entre estado e particular há de se ter um hiato e não uma intimidade. Conforme

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o autor (1995, p. 141), “o Estado não é uma ampliação do círculo familiar e, ainda menos,

uma integração de certos agrupamentos, de certas vontades particularistas, de que a família é

o melhor exemplo. Não existe, entre o círculo familiar e o Estado, uma gradação, mas antes

uma descontinuidade e até uma oposição”.

Eduardo Bueno (2006, p. 248), lançando mão da análise do brasilianista Harold

Johnson, aponta como a cordialidade, as relações espúrias entre o “público e o privado”

condicionaram, por exemplo, a nomeação para cargos públicos, marca da administração

pública no Brasil até os dias de hoje, não havendo, pois, a necessária impessoalidade:

Os agravos, vexames e acusações mútuas ocorridos no âmbito da disputa entre o

bispo e o governador constituem exemplo significativo de uma realidade que

marcou indelevelmente todo um vasto período da vida e do reino e sobretudo das

colônias, onde o poder da Coroa era mais débil.[...] Refletia-se desta forma a

contaminação da esfera do público pela do privado, problema para cuja resolução as

medidas tomadas pela Coroa – no sentido de distribuir os cargos de acordo com o

preparo técnico de quem os iria desempenhar mais do que com o desejo de contentar

poderosos e preferidos – nunca se revelaram suficientemente eficazes. Com efeito,

cada figura proeminente fazia-se rodear-se de grande número de protegidos,

familiares e compadres, cuja partilha de interesses e a dependência em relação à sua

vontade os levava a preocupar-se mais em servir aquele com quem eram solidários,

e de quem dependia seu modo de vida, do que a agirem de acordo com o bem

comum, de forma reta e justa.

A “cordialidade” do brasileiro nada tem a ver com boas maneiras, educação, polidez.

Na realidade, o “homem cordial”, no Brasil, é aquele que não sabe distinguir o público do

privado, claramente misturando as duas esferas, uma adentrando a outra, sem qualquer pudor

ou constrangimento. Não raras são as relações íntimas entre membros dos poderes do Estado,

juízes recebendo partes em sua esfera particular, cargos sendo distribuídos em razão da

amizade ou de troca de favores políticos e financeiros, bem como empresas favorecendo

políticos, seja financiando campanhas eleitorais, seja com doações para o patrimônio

particular de ocupantes de função ou cargo público. Nas palavras de Lilian M. Schwarcz e

Heloisa M. Starling (2015, p. 17):

Conforme propôs Sérgio Buarque de Holanda, o país foi sempre marcado pela

precedência dos afetos e do imediatismo emocional sobre a rigorosa impessoalidade

dos princípios, que organizam usualmente a vida dos cidadãos nas mais diversas

nações. “Daremos ao mundo o homem cordial”, dizia Holanda, não como forma de

celebração, antes lamentando a nossa difícil entrada na modernidade e refletindo

criticamente sobre ela. Do latim “cor, cordis” deriva-se “cordial”, palavra que

pertence ao plano semântico vinculado a “coração” e ao suposto de que, no Brasil,

tudo passa pela esfera da intimidade (aqui, até os santos são chamados no

diminutivo) num impressionante descompromisso com a ideia de bem público e

numa clara aversão às esferas oficiais de poder. O pior é que mesmo Holanda foi

reprovado pela ideologia do senso comum. Sua noção de “cordial”, na visão

popular, tem sido castigada pelo juízo invertido. Foi reafirmada como um libelo das

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nossas relações cordiais, sim, mas cordiais no sentido de harmoniosas, sempre

receptivas, e contrárias à violência, em vez de ser entendida a partir de seu sentido

crítico – a nossa dificuldade de acionar as instâncias públicas.

Esta “promiscuidade” foi construída por meio de uma herança patrimonialista, típica

da colonização portuguesa no Brasil, já que os “donos do poder político” são e sempre foram

os “donos do poder econômico”. Esta lógica é a que foi implementada na empresa colonial

brasileira e encontram profundas e rígidas raízes em nossa cultura, que influencia todos os

setores estatais, inclusive a justiça.

Nos autos da devassa mais famoso da história colonial brasileira, decorrente da

Inconfidência Mineira, por exemplo, as relações espúrias entre o “ouro” e o poder público já

demonstraram ser uma realidade bem presente até os dias de hoje. Aqueles que participaram

da insurreição, mas que faziam parte das elites mineiras, tiveram penas mais brandas ou foram

perdoados. Alguns deles, inclusive, lançando mão de um procedimento bem conhecido

atualmente, a delação premiada, não só se livraram da pena, como ainda receberam inegáveis

benefícios, como o famoso delator mais conhecido Joaquim Silvério dos Reis e o abastado

sesmeiro das Minas Gerais Inácio Corrêa Pamplona. Com certeza, pagaram caro pela

liberdade. Tiradentes, o nosso herói símbolo nacional, como era um simples alferes e sem

muitos recursos, foi o único condenado à forca, esquartejado e considerado o maior traidor da

Coroa Portuguesa.

O processo de independência do Brasil deu-se via uma negociação entre a elite

nacional, a coroa portuguesa e a Inglaterra. Em 1822, D. João VI aceita a independência do

Brasil mediante o pagamento de 2 milhões de libras esterlinas à coroa portuguesa. As elites

brasileiras adotaram a monarquia como forma de governo, mantendo o povo brasileiro como

mero espectador do processo. A ausência de transparência nas relações políticas durante o

período imperial, possibilitou o surgimento de outras formas de corrupção no cenário

nacional. Uma delas diz respeito à manutenção do tráfico negreiro, embora as elites nacionais

tivessem assinado um acordo com a Inglaterra para aboli-lo, em troca de seu apoio no

processo de independência. A inexistência de um controle eficaz do tráfico negreiro se deve,

em parte, aos lucros obtidos pelos subornos e propinas recebidos por todos os participantes. A

origem da expressão “lei para inglês ver” é atribuída ao período imperial quando foram

criadas, pelo governo brasileiro, uma série de leis que, teoricamente, impediam o comércio de

escravos no Brasil, mas que na prática não eram cumpridas. Essas leis foram criadas somente

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para os ingleses pararem de pressionar as autoridades brasileiras quanto ao cumprimento do

acordo firmado.

A primeira Constituição do Brasil, outorgada em 1824, estabeleceu os três poderes,

Executivo, Legislativo e Judiciário, e criou um quarto poder, o Poder Moderador, que era

privativo do Imperador, como vestígio do absolutismo português. Além disso, a Carta regulou

os direitos políticos dos cidadãos brasileiros e definiu o direito ao voto, permitido a todos os

cidadãos homens a partir dos 25 anos, com renda mínima de 100 mil réis. As mulheres e os

escravos não eram considerados cidadãos, já os libertos poderiam votar nas eleições

primárias. As eleições eram indiretas e feitas em dois turnos. No primeiro, os votantes

escolhiam os eleitores, que deveriam ter renda de 200 mil réis, e esses escolhiam os senadores

e deputados. As eleições primárias eram tumultuadas e muitas vezes eram decididas no grito.

Nesse período, sugiram vários especialistas em burlar as eleições. O principal deles foi o

cabalista, a quem cabia garantir um maior número possível de eleitores partidários de seu

chefe local. Era responsabilidade do cabalista oferecer a prova da renda mínima legal exigida

para o eleitor. Cabe ressaltar que essa prova poderia valer-se de um testemunho pago para

dizer que a renda do votante tinha aspecto legal.

Após a proclamação da República, em 1889, as fraudes eleitorais se sofisticaram. Com

a adoção do federalismo, os presidentes das antigas províncias passaram a ser eleitos pela

população. A descentralização política tinha como objetivo aproximar o governo da

população, via eleições de presidentes de estado (hoje, os governadores) e prefeituras. Essa

aproximação se deu sobretudo com as elites locais, apoiadas em partidos únicos. As práticas

eleitorais continuaram fraudulentas com o voto podendo ser fraudado na hora de ser lançado

na urna, na apuração ou mesmo durante o reconhecimento do eleito. Os grandes

latifundiários, apelidado de “coronéis”, impunham, de forma coercitiva, o voto desejado aos

seus empregados e dependentes. Era o chamado voto de “cabresto”. Além dessa, outras

formas de corrupções eleitorais eram praticadas, tais como o voto comprado e a “eleição a

bico de pena”. No primeiro caso, o votante vendia o voto em troca de um par de sapatos, por

exemplo. O comprador entregava um pé de sapato no dia da eleição e o outro pé após apurado

o resultado das eleições. Caso o candidato do comprador não ganhasse, o votante ficaria

apenas com um pé de sapato. A “eleição a bico de pena” acontecia após a apuração do

resultado das eleições e durante o reconhecimento do eleito. Nas atas eleitorais, eram

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incluídos como votantes as pessoas mortas e inexistentes. Nesse caso, os resultados eleitorais

eram absurdos, sem nenhuma relação com o número efetivo de eleitores (LESSA, 1988).

Na República Nova, as disputas eleitorais presidenciais de 1929 contaram com uma

inusitada reviravolta do resultado final. A disputa entre o candidato das oligarquias

cafeicultoras paulistas Júlio Prestes e Getúlio Vargas, candidato dos setores insatisfeitos com

a tradicional política do “café com leite”, que garantia a alternância do poder executivo ora

com um representante de São Paulo ora com um representante de Minas Gerais, foi marcada

por acusações de fraudes por parte da aliança liberal levando à presidência da República o

candidato derrotado Getúlio Vargas, embora os resultados eleitorais registrassem a vitória do

candidato Júlio Prestes com 1 milhão e cem mil votos contra 737 mil alcançados por Getúlio

Vargas (GOMES, 1988).

Uma breve análise do processo civilizatório brasileiro permite-nos observar que as

nossas estruturas políticas e sociais tiveram sua formação viciada por práticas como o

patrimonialismo, o coronelismo e o clientelismo, nas quais os políticos exerciam práticas de

favorecimento de determinadas empresas ou candidatos em troca de apoio para as suas

campanhas. Um dos casos mais inusitados dessas práticas ocorreu na década de 1950 e se

refere a “caixinha de Adhemar”. Durante o período em que foi governador do estado de São

Paulo, Adhemar de Barros acumulou uma “caixa” de cerca de 2,4 milhões de dólares oriundos

de troca de favores entre bicheiros, fornecedores, empresários e empreiteiros que desejavam

algum benefício do político (MOREL, 2012).

Durante o Regime Militar Brasileiro, a corrupção era interpretada como “resultado

dos produzidos por uma vida política de baixa qualidade moral e vinha associada, às vésperas

do golpe, ao comportamento viciado dos políticos diretamente vinculados ao regime nacional-

desenvolvimentista” (STARLING, 2012, p. 213). Apoiado numa ideologia de cunho

geopolítico expressa na Doutrina de Segurança Nacional, com o objetivo de modernizar o Brasil

e transforma-lo em uma potência mundial no ano 2000, o novo regime (militar) buscava a

modernização do país através da via conservadora ou "Modernização Conservadora". A partir de

1964, instalou-se no Brasil um poder centralizado pelo Executivo, apoiado em leis de exceção,

como os Atos Institucionais e Complementares, e na militarização da vida cotidiana, marcada

pela guerra ao inimigo externo (comunismo) e interno (ações subversivas e guerrilhas). O

aparato militar repressivo se transfere para a população, em especial, os subversivos políticos e

os comunistas.

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Na primeira metade da década de 1960, a sociedade brasileira viveu momentos de intensa

efervescência política e cultural marcada pela renúncia do presidente Jânio Quadros em agosto

de 196, a tumultuada posse do vice presidente João Goulart com o apoio da sociedade civil e de

Leonel Brizola, apesar do veto dos ministros militares, a substituição do presidencialismo pelo

regime parlamentarista, limitando o poder da presidência da República, mas garantindo a posse

de Jango (1961) e a restauração presidencialismo em 1963.

A campanha da legalidade, conduzida por Leonel Brizola, alimentou ânimos nos setores

nacionalistas e de esquerda da sociedade brasileira, que passaram a exigir reformas estruturais na

política e economia do país. Bandeiras e manifestações sociais exigindo a reforma fiscal,

administrativa, universitária, agrária passaram a fazer parte do cenário político e cultural da

época. Neste programa de reforma estavam incluídas nas políticas nacionalistas e o controle

sobre o capital estrangeiro.

O governo Jango foi marcado por intensa politização da sociedade, com amplos debates e

participação do povo na discussão pública de propostas de mudanças e reformas políticas para o

país. Este clima de debate e participação popular preocupou os setores mais conservadores da

sociedade civil, temorosos que uma revolução socialista, similar a Revolução Cubana, viesse a se

instalar no Brasil. Assim, a posse de João Goulart e o anúncio das reformas de base foram

recebidos com grande alarmismo pelos grupos sociais conservadores que buscavam promover

uma campanha de mobilização da opinião pública para desestruturar o governo Jango. Um dos

momentos de maior expressão conservadora da época foram as marchas da Família com Deus

pela Liberdade. Para aqueles que participaram dessas marchas ou se aliaram aos seus propósitos,

o governo de João Goulart tinha pretensões comunistas e “caminhava para a destruições de

valores religiosos, patrióticos e morais da sociedade” (PRESOT, 2010, p. 74). Essas passeatas

sugiram como uma espécie de apoio ao Movimento de 1964, que destituiu o governo

constitucional de João Goulart e instalou a ditadura militar no Brasil. Vários participantes dessas

manifestações eram oriundos da classe média brasileira.

O fato regime militar ter se instalado logo após o governo populista de João Goulart,

onde em teoria, acreditava-se que se tinha uma presença popular na esfera pública, deu margem

para o surgimento de uma intrigante memória histórica. Segundo esta memória, entre os anos de

1946 a 1964, a sociedade brasileira viveu numa democracia. Contudo, segundo M. Chauí,

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essa memória é paradoxal porque tecida de vários esquecimentos significativos como,

por exemplo, o de que a Constituição de 1946 define a greve como ilegal, mantém a

legislação trabalhista outorgada pela ditadura Vargas (e que é reprodução literal da

Carta del Lavoro, de Mussolini), proíbe o voto de analfabetos (isto é, a maioria da

população, na época), coloca o Partido Comunista na ilegalidade, conserva a

discriminação racial e não questiona a discriminação das mulheres, consagrada pelos

códigos Civil e Penal (CHAUÍ, 1989, p. 50).

Na sociedade brasileira Marilena Chauí reconhece alguns traços desta tradição

autoritária sobre o viés da exclusão social e da tomada do espaço público pelo privado.

Segundo a autora,

contra a irracionalidade', a classe dominante apela para técnicas racionalizadoras (a

célebre 'modernização'), as tecnologias parecendo dotadas de fantástico poder

reordenador e racionalizador. Contra o 'perigo', representado sempre pela manifestação

explícita das classes populares, os dominantes partem em busca dos agentes

'responsáveis pela subversão', isto é, iniciam a caça às bruxas que ameaçam a 'paz

nacional' e a 'união da família brasileira'. Finalmente, contra o 'caos', a classe dominante

invoca a necessidade da 'salvação nacional'. A 'união da família brasileira' (isto é, um

elemento do espaço privado definido como elemento central do espaço público) e a

'salvação nacional' conduzem, via de regra, à 'pacificação nacional', isto é, aos golpes de

Estado e às ditaduras (velhas ou 'novas'). Numa palavra, a preservação do que poderia

ser público e contraditório se faz negativamente por redução ao privado (a 'família

brasileira') e à indivisão (a 'pacificação nacional'). Como se observa, o autoritarismo

político se organiza no interior da sociedade e através da ideologia; não é exceção, nem

é mero regime governamental, mas a regra e expressão das relações sociais (CHAUÍ,

1989, p. 60-61).

A justificativa dos militares para a realização do golpe foi a "defesa da ordem e das

instituições, contra a ameaça comunista”. Associados aos interesses militares, dos grandes

latifundiários e dos setores da classe média, estavam os interesses da grande burguesia nacional e

internacional e do governo norte-americano.

O golpe de Estado levado adiante por uma articulação civil e militar, em 1964,

apresentou, nos vinte e um anos de duração do regime autoritário que sucedeu a ele, uma

complexa dinâmica de institucionalização. Marcado pela influência da Doutrina de Segurança

Nacional3, este processo explicitou um conjunto de políticas que, sob a máxima

“desenvolvimento com segurança”, articulou medidas de efetivo controle social com estratégias

econômicas de maior inserção do Brasil na ordem capitalista internacional. A delimitação deste

projeto de modernização-conservadora apresentou duas faces: a construção de uma ordem

política autoritária e a emergência de uma nova fração dirigente no interior da classe dominante,

3 A respeito do complexo ESG/ IPES/ IBAD, Doutrina de Segurança Nacional e seu papel no golpe de

64, ver: (DREIFUSS, 1981) , (STARLING, 1986), (SODRÉ, 1992) .

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os militares. Esta nova fração, que não era comprometida com o pacto político populista,

procurou dar continuidade a este projeto e controlar, internamente, suas possíveis dissensões4.

A sociedade brasileira é uma sociedade autoritária. Em nossa sociedade a cidadania é

conservada como privilégio de classe, sendo concedida periodicamente e provisoriamente pela

classe dominante às demais classes sociais. As diferenças sociais são transformadas em

desigualdades, que seguem relações de hierarquia, de mando e de obediência. Assim, "as

relações sociais tomam a forma de dependência, da tutela, da concessão, da autoridade e do

favor, fazendo da violência simbólica a regra da vida social e cultural" (CHAUÍ, 1989, p. 54). As

lutas e manifestações sociais são pautadas em reivindicações imediatas e específicas. Suas

necessidades são muito variadas, impedindo que os agentes sociais enxerguem claramente onde

está localizado o corruptor. Estes agentes podem tornar-se presas fáceis das ações eleitorais,

discursos autoritários ou informações deturpadas.

Nos tempos atuais, há um abismo que separa os interesses dos governos ou dos líderes

políticos e os da população. As decisões votadas pelos parlamentares não visam atender ao

interesse público, ao contrário restringem-se a atender interesses particulares ou, quando muito,

de alguns grupos específicos. Os representantes do povo, ao ocuparem seu "cargo", parecem

esquecer daqueles que o elegeram e lhe garantiram um lugar na esfera das decisões políticas. A

confiança depositada nestes parlamentares parece ser esquecida quando estes viram as costas

para decisões que beneficiariam aqueles que os elegeram. Por outro lado, a população, descrente

das instituições públicas e políticas e dos líderes políticos, entrega-se à melancolia e

desesperança frente ao futuro do país e a sua participação efetiva nos processos decisórios. O

processo de impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello, em 1992, que contou com

expressiva participação popular nas manifestações de rua, parecia apontar para uma mudança

desse cenário e inaugurar uma nova era de enfrentamento às práticas de corrupção. Mas, será?

Para o ex-Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso (1985), a sociedade

brasileira é marcada pela modernidade, ou seja, ela é, ao mesmo tempo, "parte do mundo

avançado e coletânea do que há de mais atrasado". A classe média brasileira pode ter a ilusão de

ser igual a um europeu desenvolvido, pois a vida que se descreve nas revistas e nos meios de

comunicação é a vida daqueles que não apenas estão integrados na esfera política brasileira,

4 Sobre esta nova fração dirigente (militares) e seu papel na condução do projeto de modernização-

conservadora, consultar (DREYFFUS, 1981), (ALVES, 1989).

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como também daqueles que representam os setores "ricos" da sociedade. Contudo, a grande

maioria da população é deixada fora da cena política do país e à margem do mercado de trabalho.

A vasta massa popular pobre é esquecida pela política brasileira.

4 O ESTADO NA RELAÇÃO COM AS EMPRESAS: A CORDIALIDADE ENTRE O

PÚBLICO E O PRIVADO

Em um cenário de globalização econômica, o compromisso com a garantia dos

direitos humanos não se limita a relação entre Estado e cidadãos, mas abrange também a

responsabilidade das empresas na efetivação e fruição desses direitos. Com a atuação cada

vez mais abrangente das grandes empresas no mercado global, tornou necessário a criação de

princípios e regras que regulam a atuação dessas empresas de forma a garantir o respeito aos

direitos humanos nos países que elas atuam. Em 2011, o Conselho de Direitos Humanos da

ONU aprovou, por consenso, os "Princípios Orientadores sobre Empresas e Direitos

Humanos".

A partir deste ano, passou-se a adotar uma norma de conduta mundial aplicável a todas

empresas, impondo o respeito aos direitos humanos e minimizando os impactos negativos que

a atuação das empresas podem gerar em diversos países, sobretudo em grandes

empreendimentos, como nas atividades mineradoras, na construção civil e nas obras de

infraestrutura do Brasil.

O investimento das grandes empresas em grandes obras de infraestrutura, transporte,

construção civil e extração de recursos naturais e minerais tem trazido intervenções positivas

e negativas para a sociedade. Com relação aos efeitos positivos podemos citar a geração de

uma rede de empregos e ocupações que dinamizam a economia dos países e diversificam os

ramos de produção do conhecimento. Com relação aos efeitos negativos podemos citar a falta

de coordenação entre o planejamento das obras e políticas públicas, incapazes de suprir as

deficiências históricas da população, gerando problemas de saneamento, segurança, moradia,

saúde e educação.

Os grupos mais vulneráveis nesse processo são as crianças, os trabalhadores migrantes

e com deficiência, as minorias nacionais, étnicas e religiosas. Essas são as pessoas que mais

necessitam de proteção e respeito com relação aos direitos humanos. Contudo, não podemos

deixar de mencionar os trabalhadores e a população local que tem seu cotidiano alterado pela

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nova lógica das relações trabalhistas impostas pelas grandes empreiteiras como também a

exploração do meio ambiente, como nas atividades das mineradoras.

Em 1988, com a promulgação da Constituição brasileira, o Brasil passou a assumir,

em termos normativos, um maior compromisso com a efetivação dos direitos humanos no

país. Contudo, a cultura patrimonialista da sociedade brasileira, tem propiciado práticas que

permitem a contratação de parentes de políticos, sem qualquer mérito, para cargos de

confiança na administração pública ou que empresas financiadoras de campanhas eleitorais

vençam licitações públicas. A aprovação dos "Princípios Orientadores sobre Empresas e

Direitos Humanos", em 2011, pelo Conselho de Direito Humanos da ONU, tendo o Brasil um

dos signatários desse acordo, reforçou o compromisso do país com o combate às práticas de

corrupção e com a realização de políticas públicas que visem a garantia dos direitos humanos

à população brasileira e o cumprimento da responsabilidade social das grandes empresas.

A partir da análise cultural da realidade brasileira, que tem, como uma de suas

práticas, senão a ausência, ao menos a dificuldade de tratar, de forma separada, o “público” e

o “privado”, uma das mais evidentes permanências da nossa história republicana. A

importância desta pesquisa está no fato de buscar compreender os diversos fenômenos

presentes na sociedade brasileira republicana, à luz das práticas culturais e históricas, tais

como a corrupção, a pessoalidade das relações, dificuldades de implementação de um

desenvolvimento sustentável, dentre outras, que permitem identificar uma relação estreita e

pouco salutar entre os espaços do privado (empresa) e do público (Estado).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Toda essa retrospectiva histórica nos remete às causas da corrupção no Brasil.

Estudiosos e pesquisadores do assunto defendem diferentes versões para esta questão. Uma

das mais aceitas é a nossa herança patrimonialista ibérica. Segundo Raimundo Faoro (2012),

no patrimonialismo não há distinção por parte dos líderes políticos entre o patrimônio público

e o privado, tese também defendida por Sérgio Buarque de Holanda (1995), ao criar e explicar

a expressão homem cordial. Mediante essa prática, os governantes consideram os cargos

políticos e o Estado como patrimônio privado. Práticas como esta permitem que parentes de

políticos, sem qualquer preparo ou mérito, sejam escolhidos para cargos de confiança na

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administração pública ou que empresas financiadoras de campanhas eleitorais vençam

licitações públicas.

A corrupção, para além do aspecto penal, implica em práticas de suborno com o

objetivo de corromper alguém ou obter favores de alguma pessoa por meios ilícitos. Seu uso

não se restringe às esferas política e econômica, ele está inserido em práticas culturais

cotidianas que denigrem as relações sociais e legitimam a tolerância a determinados casos de

corrupção. Práticas corruptas e frequentes no cotidiano do brasileiro parecem apontar para

uma predisposição ao ilícito e imoral, como traços inerentes ao caráter do brasileiro. Ações

como tentar subornar o guarda de trânsito para evitar uma multa, comprar produtos

falsificados, furar fila, colar na prova para obter uma boa nota, enganar as pessoas em uma

negociação, burlar as leis de trânsito, não pagar impostos, mentir, falsificar ou aceitar troco

errado são práticas corruptas tidas como normais pelos brasileiros. O “jeitinho” para levar

vantagem em transações e relações sociais, mesmo desrespeitando leis, regras e costumes

tradicionais, atribui ao povo brasileiro um caráter desonesto e de desconfiança, como que a

corroborar uma antiga frase, dita por um empresário paulista há mais de 30 anos, “todos

somos corruptos. Ninguém pode atirar a primeira pedra”.

O fenômeno da corrupção não é exclusivo do Brasil ou dos tempos recentes. Ele é

fruto de uma complexidade de processos sociais e históricos que apresentam peculiaridades

em cada país e sociedade. Uma das maneiras mais eficientes de combate a corrupção é o

investimento na transparência das informações com relação ao uso dos recursos públicos e na

educação consciente, baseada em uma moral ética e correta, capaz de orientar as pessoas a

realizarem escolhas livres de vícios imorais e tendenciosos. Como já dizia João Ubaldo

Ribeiro (2011) “nós sabemos de tudo e não somos bobos, somos apenas omissos, submissos,

cínicos e cada vez mais moralmente insensíveis – ninguém é perfeito”.

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