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PRO-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISA EM QUALIDADE DE VIDA E MEIO AMBIENTE
MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE URBANO
TONYA PENNA DE CARVALHO PINHEIRO DE SOUZA
CRESCIMENTO DO RUÍDO URBANO E SEUS IMPACTOS NO CONFORTO ACÚSTICO DE ESPAÇOS HOSPITALARES.
BELÉM 2011
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TONYA PENNA DE CARVALHO PINHEIRO DE SOUZA
CRESCIMENTO DO RUÍDO URBANO E SEUS IMPACTOS NO CONFORTO ACÚSTICO DE ESPAÇOS HOSPITALARES.
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano da Universidade da Amazônia com requisito para obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano, sob a orientação da profª. Drª. Elcione Maria Lobato de Moraes.
BELÉM 2011
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TONYA PENNA DE CARVALHO PINHEIRO DE SOUZA
CRESCIMENTO DO RUÍDO URBANO E SEUS IMPACTOS NO CONFORTO ACÚSTICO DE ESPAÇOS HOSPITALARES.
Banca Examinadora _____________________________________ Profa Drª Elcione Maria Lobato de Moraes Orientadora - UNAMA _____________________________________ Profª. Drª. Cinthya Lynch UNAMA _____________________________________ Profº. Drº. Antonio Marcos de Lima Araújo IESAM e IFPA Data da avaliação: ____/ ____ / 2011. Conceito: 10 (DEZ)
BELÉM 2011
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Aos meus pais, Luiz Alberto e Maria Clara, pela dedicação e educação que me proporcionaram. Aos meus filhos amados José e Hugo, meus maiores incentivos em todos os momentos.
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AGRADECIMENTOS
A Deus, pela fé, saúde e equilíbrio nos momentos difíceis; A Jesus, que me carrega todos os dias; A Nossa Senhora de Nazaré, por ter alcançado esta graça; A Universidade da Amazônia, pela oportunidade para realização deste curso; Aos pacientes, acompanhantes e gestores do Hospital Santa Casa, pela paciência, disponibilidade e confiança no meu trabalho; A minha orientadora, amiga professora Drª Elcione Lobato de Moraes, pelo carinho, dedicação e competência; Aos Professores Dr. Francisco Paco e Professor Dr. Antônio Moreno, pelo carinho; Às minhas alunas, em especial, as que participaram desta pesquisa: Rhafaela, Carolina Pamella, Isabele e Malu pelo respeito ético e comprometimento pelo estudo; Aos professores do curso do mestrado e em especial ao Coordenador do curso Professor Drº Marco Aurélio, pelos conteúdos brilhantes repassados; Às minhas queridas amigas Bia, Simone, Tânia, Cinthya, Francisca, Tainá, Alexandra, Bethe, Suzana e Heloisa pela amizade sincera e apoio fundamentais para a conclusão do curso; As minhas queridas tias Elisa e Florinda, por todos os momentos que compartilhamos e pela amizade sempre presente e confiante nos momentos que eu mais precisava; Aos meus pais brasileiros Luiz e Clara e americanos Ivan e Ignês, pela força e incentivo para conclusão do curso; Ás minhas amigas Socorro e Lucita, do grupo de oração, pelas orações de fé;
6
Vamos fazer tudo que depende de nós, mas sabendo que tudo depende de DEUS.
LUCAS, 21,5-19
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RESUMO
A presente pesquisa objetivou comprovar a eficiência, ou não, das condições de conforto
acústico em um ambiente hospitalar, neste caso, das enfermarias da Santa Casa de
Misericórdia do Pará sob influência do ruído urbano e sua influência no bem estar físico e
subjetivo dos pacientes. O arcabouço teórico da pesquisa foi delineado sob a literatura de
conforto acústico e ruído urbano. No entanto, outros conceitos também foram considerados,
tais como, espaços hospitalares, espaço urbano e humanização. Para a realização do trabalho,
recorreu-se às pesquisas bibliográficas, documental e de campo. O público alvo foi definido
entre os pacientes e seus acompanhantes que permanecem durante um período mínimo de 8
horas/dia nos espaços hospitalares sob influência do ruído urbano. Observou-se como
hipótese da pesquisa que as condições de conforto acústico das enfermarias, sob impacto do
ruído urbano, contribuíram para o retrocesso do quadro clínico dos pacientes durante a sua
permanência no hospital. Constatou-se na análise dos resultados obtidos que as enfermarias
São Paulo, Frei Caetano, São Francisco e Santa Ludovina possuem associação
estatisticamente significativa com a categoria “Pouco” incomodo com o ruído causado pelos
carros que trafegam nas suas proximidades aos pacientes e acompanhantes das suas
instalações. A enfermaria São Roque possuiu maior associação com as categorias, “Regular”,
“Forte” e “Muito forte” em relação ao incomodo provocado pelo ruído dos carros e a
enfermaria Santana apresenta maior associação com as categorias “Regular” e “Muito Forte”.
Palavras-chave: Ruído urbano. Conforto acústico. Humanização. Espaços hospitalares.
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ABSTRACT
This study aimed to prove the efficiency, or the lack of it, of the acoustic comfort conditions
in a hospital environment, in this case the wards of the Santa Casa de Misericordia do Para
under the influence of urban noise and its influence on physical and subjective well-being of
patients. The theoretical research was outlined under the literature of urban noise and acoustic
comfort. However, other concepts will also be considered, such as hospital spaces, urban
space and humanization. To perform the work, we resorted to library research, documental
and field. The target was set between patients and their caregivers who remain for a minimum
of 8 hours per day on hospital grounds under the influence of urban noise. It was observed as
a research hypothesis that the terms of acoustic comfort on the wards, under the impact of
urban noise, have helped to reverse the situation of patients during their stay in hospital. It
was found on the analysis of the results that the wards Paul Frei Caetano, San Francisco and
Santa Ludovina have a statistically significant association with the category "little bit"
uncomfortable with the noise caused by cars traveling on their proximity to patients and
companions of their facilities. The infirmary San Roque had greater association with the
categories “Regular”, “Strong”, and “Very Strong” in relation to nuisance caused by noise
from cars, and the ward Santana correlates more closely with the categories “Regular” and
“Very Strong”.
Keywords: Urban noise. Acoustic comfort. Humanization. Hospital grounds.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Santa Casa de Misericórdia do Pará 13 Figura 2: Localização da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará 37 Figura 3: Localização das enfermarias estudadas 38 Figura 4: Fotos referentes a brinquedoteca da Santa Casa de Misericórdia do Pará 40 Figura 5: Mapa acústico de Belém do bairro do Umarizal 48 Figura 6: Efeitos do excesso de ruído sobre o organismo 54 Figura 7: Análise de correspondência das variáveis enfermaria versus ruído dos carros 71 Figura 8: Análise de correspondência das variáveis enfermaria e ruído dos ônibus e
caminhões 73
Figura 9: Análise de correspondência das variáveis enfermaria e ruído das ambulâncias e sirenes
75
Figura 10: Análise de correspondência das variáveis enfermaria e ruído dos carros som 77 Figura 11: Análise de correspondência das variáveis enfermaria e ruído das buzinas 79
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Características dos participantes do estudo 62 Tabela 2: Distribuição dos participantes por enfermaria 63 Tabela 3: Percepção dos participantes sobre o barulho nas enfermarias 64 Tabela 4: Período do dia que percebem a enfermaria mais barulhenta 65 Tabela 5: Grau de estresse do provocado pelo ruído de rua nos participantes, de acordo com a localização das enfermarias
66
Tabela 6: Perda do sono a noite por enfermaria 67 Tabela 7: Intensidade de dor cabeça por enfermaria 68 Tabela 8: Irritabilidade por enfermaria 69 Tabela 9: Percepção do ruído dos carros por enfermaria 70 Tabela10: Percepção do ruído dos ônibus e caminhões por enfermaria 72 Tabela 11: Percepção do ruído das ambulâncias e suas sirenes por enfermaria 74 Tabela 12: Percepção do ruído dos carros de som por enfermaria 76 Tabela 13: Percepção do ruído das buzinas dos veículos por enfermaria 78 Tabela 14: Percepção dos sons agradáveis e desagradáveis 80 Tabela 15: Descrição da percepção do ruído pelos pacientes, acompanhantes e servidores da enfermaria São Roque
83
Tabela 16: Percepção do incômodo do ruído sobre a saúde dos pacientes, acompanhantes e servidores da enfermaria São Roque
84
Tabela 17: Descrição da percepção do ruído pelos pacientes, acompanhantes e servidores da enfermaria Frei Caetano
85
Tabela 18: Percepção do incômodo do ruído sobre a saúde dos pacientes, acompanhantes e servidores da enfermaria Frei Caetano.
86
10
LISTA DE SIGLAS
ABNT Associação Brasileira de Norma Técnica AC Análise de Correspondência AMAM Projeto de Aleitamento Materno CINE VIDA Cinema Sobre a Vida CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente dB Decibel dBA Decibel Leq A GTH Grupo de Trabalho de Humanização H1N1 Gripe Influência A sub Tipo H1N1 HUMANIZA-SUS Programa de Humanização do Sistema de Saúde Hz Hertz IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ISSO Internacional Organization for Standardization MAB Mapa Acústico Belém NBR Norma Brasileira de Ruído NR Norma Regional OIT Organização Internacional do Trabalho OMS Organização Mundial de Saúde PNH Política Nacional de Humanização PNHAH Programa Nacional de Humanização de Assistência Hospitalar RN Recém Nascido RT Reunião de trabalho SEEPS Secretaria Especial de Proteção Social SLOW Devagar SO Saúde Ocupacional SUS Sistema Único de Saúde UNFPA Union Nations Population Funa UTI Unidade de Terapia Intensiva WHO World Helath Organization
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 13 2 OBJETIVOS 18 2.1 GERAL 18 2.2 ESPECÍFICOS 18 3 TRILHAS METODOLÓGICAS PERCORRIDAS 19 4 CRESCIMENTO URBANO 21 4.1 INTRODUÇÃO 21 4.2 PROCESSO DE URBANIZAÇÃO NAS GRANDES CIDADES 21 4.3 PROCESSO DE URBANIZAÇÃO NO BRASIL 24 4.4 IMPACTOS DECORRENTES DO PROGRESSO DE URBANIZAÇÃO NO
BRASIL 27
4.5 CONCLUSÃO 29 5 HUMANIZAÇÃO HOSPITALAR 31 5.1 INTRODUÇÃO 31 5.2 POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO 33 5.3 MODERNIZAÇÃO E HUMANIZAÇÃO DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DO PARÁ
36
5.4 CONCLUSÃO 40 6 O RUÍDO 42 6.1 INTRODUÇÃO 42 6.2 RUÍDO URBANO 43 6.2.1 Introdução 43 6.2.2 Ruído urbano e sustentabilidade nas cidades 44 6.2.3 Panorama do ruído urbano no mundo 46 6.2.4 Ruído urbano em Belém 47 6.3 O RUÍDO HOSPITALAR 49 6.3.1 Introdução 49 6.3.2 Contextualização do ruído hospitalar e a saúde ocupacional 50 6.3.3 O Ruído na Santa Casa de Misericórdia do Pará 51 6.4 EFEITO DO RUÍDO URBANO SOBRE A SAÚDE 52 6.4.1 Introdução 52 6.4.2 Efeitos extra-auditivo do ruído na saúde 53 6.5CONCLUSÃO 56 7 RESULTADOS 58 7.1 DESCRIÇAO DAS ENFERMARIAS 58 7.1.1 Enfermaria São Roque 58 7.1.2 Enfermaria Frei Caetano 59 7.1.3 Enfermaria São Francisco 59 7.1.4 Enfermaria São Paulo 59 7.1.5 Enfermaria Santana 60 7.1.6 Enfermaria Ludovina 60 7.2 ANÁLISES E DISCUSÃO DOS RESULTADOS 61 7.2.1 Perfil/Deficiência Auditiva 61 7.2.2 Conforto acústico 64
12
7.2.3 Interferência/sintomas 66 7.2.4 Ruído do tráfego 70 8 ESTUDO COMPARATIVO DO NÍVEL DE RUÍDO EM DUAS
ENFERMARIAS 81
8.1 INTRODUÇÃO 81 8.2 ANÁLISE 82 8.2.1 Enfermaria São Roque 82 8.2.2 Enfermaria Frei Caetano 84 8.2.3 Análise dos níveis de ruído 86 8.2.4 Conclusão do estudo comparativo 88 9 CONCLUSÃO 89 REFERÊNCIAS 92 APÊNDICE A – QUESTIONARIO 99 APÊNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 105 APÊNDICE C - RELATÓRIO DA SEEPS 107 ANEXO A - COMITÊ DE ETICA EM PESQUISA 108
13
1 INTRODUÇÃO
No período de 2002 a 2006, no estado do Pará, na Amazônia, nasce um inovador
projeto de modernização e humanização dos espaços físicos dos hospitais públicos da rede do
Sistema Único de Saúde (SUS). Coordenado pela então Secretaria Especial de Proteção Social
(SEEPS), um desses espaços foi a Santa Casa de Misericórdia do Pará, um hospital
centenário, com 346 leitos, voltado ao atendimento de pacientes de Belém e do interior do
Estado, em várias especialidades médicas, entre elas as destinadas, ao atendimento materno
infantil. A figura 1 abaixo ilustra a vista principal do Hospital objeto de estudo.
Figura 1: Santa Casa de Misericórdia do Pará. Fonte: Autoria própria, 2010.
O projeto de humanização foi uma política pública desenhada pelo governo estadual
para assegurar aos pacientes atendidos pelo SUS um serviço de qualidade, com conforto
ambiental e atendimento digno para suprir as suas necessidades básicas na área da Saúde. O
trabalho desenvolvido nessa área, no período citado, ganhou destaque na UTI Neonatal, nos
espaços do Cantinho do Peito e da Mãe Canguru e, ainda, em grande parte das alas de
enfermagem, que passaram por reformas e foram equipados dentro de padrões técnicos para
assegurar o conforto ambiental desses pacientes.
A enfermaria de cirurgia pediátrica e outras como, São Francisco, São Roque, Frei
Caetano, Santa Ludovina, Santana e São Paulo, por exemplo, foram reformadas para oferecer
aos pacientes um acolhimento humanizado. Além do conforto ambiental para impedir
14
claridade externa, a sua estrutura física foi pintada com tinta lavável na cor creme e as
enfermarias ganharam uma ambiência baseadas no universo infantil, com destaque para as
personagens do Sítio do Pica Pau Amarelo, do escritor brasileiro Monteiro Lobato.
A enfermaria tinha como foco prioritário o atendimento eletivo de pacientes
encaminhados para cirurgia pediátrica, com ênfase no tratamento especializado em cirurgia
infantil, neurocirurgia e com prioridade para os pacientes infantis vítimas de escalpelamento,
atendendo a uma orientação do Ministério Público e do Governo do Estado. O trabalho no
local contava com um corpo clínico multiprofissional, incluindo cirurgiões infantis, pediatras,
enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, nutricionistas, pedagogos, assistente social,
psicólogos e terapeutas ocupacionais.
Com o mesmo objetivo de oferecer esse serviço humanizado foi instalado na Santa
Casa o serviço do follow-up, implantado para assegurar um acompanhamento rigoroso das
crianças no sentido de dar-lhes maior oportunidade de terem melhor qualidade de vida. O foco
principal eram os recém nascidos de risco que recebiam acompanhamento nos primeiros dois
anos de vida, tudo dentro de um ambiente acolhedor e confortável.
Picada (1999, p.2) afirma que conforto ambiental “está intimamente ligado às
necessidades psicossomáticas do indivíduo que, muitas vezes, têm que ser expressas para que
possam ser atendidas e, em outras vezes, por tão específicas e particulares são relegadas a
solução genérica adotada”.
Dessa forma, setores do hospital foram dotados de ambientes internos e externos
acolhedores, resolutivos e humanos tanto para os profissionais, como para usuários e
familiares, atendendo o que determina o Ministério da Saúde, por meio das diretrizes da
Política Nacional de Humanização – Humaniza SUS. (BRASIL, 2004).
Dentro desses objetivos foram delineadas as políticas públicas que permitiram levar
aos espaços indicados dentro da Santa Casa de Misericórdia do Pará um trabalho de
humanização e de conforto ambiental que assegurassem, aos usuários dos serviços, uma
melhor atenção e um atendimento mais eficiente, a partir de uma ambiência acolhedora e
confortável. Como tivemos a oportunidade, na época, de participar da equipe multidisciplinar
que efetivou essa política, por meio do programa de Humanização dos Hospitais, do Governo
do Estado, surgiu o nosso interesse em pesquisar sobre essa temática.
O projeto contemplou apenas alguns enfoques das vertentes do conforto ambiental:
cores, iluminação e climatização, e surgiu uma lacuna a ser estudada referente ao contexto do
conforto acústico nas enfermarias, São Roque, Frei Caetano, São Paulo, São Francisco e Santa
Ludovina e Santana.
15
Sabe-se que a construção de um hospital exige um grande volume de recursos
financeiros para dotá-los de equipamentos e para mantê-lo operacionalmente. O que se
observou, no entanto, é que poucos gestores públicos se preocupavam em assegurar aos
usuários condições mais humanizadas de atendimento, tanto no que se refere à garantia de
ambientes mais aconchegantes até mesmo a ausência de filas e outros fatores. O hospital da
Santa Casa de Misericórdia parece ter rompido essa lógica ao investir nesse setor,
caminhando para perto do que Martins, V. (2004, p.1) chama de hospital do futuro.
Dessa forma, o hospital do futuro, além da viabilidade econômico-financeira, deve
atender aos requisitos de: expansibilidade, flexibilidade, segurança, eficiência e, sobretudo,
humanização. Nesse ponto, o conforto ambiental aparece como forte aliado nos processos de
cura de pacientes.
Segundo a mesma autora, o investimento na melhoria desses espaços reflete,
sobremaneira, no processo de cura do paciente, e indica que os estabelecimentos assistenciais
de saúde devem também, priorizar essa área. O que não pode ocorrer, é o paciente ter que
lutar para recuperar a sua saúde e ainda ser submetido a agressões do meio ambiente,
relacionadas a agentes físicos (ruídos, radiação ionizante e não ionizante, vibração, pressão
anormal, temperaturas extremas e outros), químicos (substâncias químicas em forma sólida,
líquida e gasosa), biológicos (vírus, bactérias, fungos e ácaros), ergonômicos e psicológicos
(MARTINS, V, 2004).
Para a Organização Mundial de Saúde (OMS) o limite de poluição sonora tolerável ao
ouvido humano é de até 65 decibéis. Acima disso, nosso organismo sofre estresse, o qual
aumenta o risco de doenças. Com ruídos acima de 85 decibéis aumenta o risco de
comprometimento auditivo, sendo os dois fatores determinantes para mensurar a amplitude da
poluição sonora, o tempo de exposição e o nível do barulho a que se expõe a pessoa, segundo
Oliveira (2000). O autor afirma ainda que “o ruído é uma das principais fontes de perturbação
em ambientes urbanos e em geral as grandes cidades representavam 70% das reclamações aos
órgãos de controle ambiental”. Assim o interesse da pesquisa referente ao ruído urbano na
área hospitalar surgiu através de um trabalho de modernização e revitalização desenvolvido
nas enfermarias da Santa Casa de Misericórdia do Pará.
O interesse deve-se também ao fato de que, embora a política implementada tenha
procurado assegurar os melhores resultados no que refere ao conforto ambiental dos espaços
citados, o trabalho realizado no grupo de modernização e humanização da SEEPS, através de
relatórios técnicos e de avaliação do grau de satisfação do usuário, do servidor e da
ambiência, não constou de dados e recomendações das normas direcionada à área acústica, o
16
que acendeu o nosso desejo de aprofundar mais o conhecimento sobre essa questão, sobretudo
no que se refere ao conforto acústico relacionado ao controle de ruídos, a fim de verificar
como esse fator interfere no bem estar físico e subjetivo dos pacientes internados.
O interesse pela pesquisa se evidenciou por sabermos que a poluição sonora é um
problema mundial, que se agravou depois do advento da revolução industrial, ao ponto do
intolerável, segundo já alertavam Falk e Wood (1973) há mais de três décadas. De acordo
com os autores não há locais livres de excesso de ruído, pois estamos expostos durante todos
os momentos de nossas vidas: em casa, na rua e/ou no trabalho.
Nos hospitais, o ruído também se faz presente, o que pode trazer consequências
danosas à saúde dos pacientes, já que muitas unidades hospitalares estão localizadas em áreas
expostas a fontes intensas de ruídos externos, como por exemplo, o trânsito, os aeroportos e o
centro da cidade, o que exige um maior cuidado com a ambiência desses espaços. Bentley;
Murphy e Dudley (1977), no entanto, afirma que muito do ruído que ocorre nos hospitais
provêm, também dos setores internos, como das Unidades de Terapias Intensiva (UTI),
dotadas, muitas vezes, de equipamentos que contribuem para a ocorrência do problema, o que
exige que os cuidados nesses ambientes sejam redobrados.
Estudos realizados mostram que o ruído e seus efeitos afetam o estado psicológico dos
indivíduos e também causam perturbação do sono (TOPF; DILLON, 1988), em que a
Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos recomenda que os níveis de ruídos em
hospitais não devem exceder 45 dBA, no período diurno, e 35 dBA, no período noturno.
O bem estar físico e subjetivo de pacientes internados em ambientes hospitalar está
diretamente relacionado com as condições de conforto ambiental do espaço utilizado em todas
as suas vertentes: conforto acústico. O ruído urbano, por sua vez, é um dos principais
contaminadores do meio ambiente nas cidades, seu controle depende de grandes ações por
parte dos gestores municipais especialmente em zonas de uso especiais como o caso de zonas
hospitalares. A Santa Casa de Misericórdia do Pará está localizada em uma zona
acusticamente contaminada da cidade de Belém sendo afetada pelo ruído durante todos os
períodos do dia.
Com base nessas perspectivas e, ainda, por conta do nosso interesse pelo assunto,
sobretudo o relacionado à questão do ruído urbano nos espaços hospitalares, foi formulado o
seguinte problema de pesquisa a ser investigado: será que as condições de conforto acústico
interferem no bem estar físico e subjetivo dos pacientes internados na unidade de saúde a
ponto de alterar seu quadro clínico geral? Como hipótese alternativa acredita-se que as
condições de conforto acústico das enfermarias contribuem para o retrocesso do quadro
17
clinico dos pacientes durante a sua permanência no hospital, e como hipótese nula que as
características do ruído e as condições de conforto acústico das enfermarias não contribuem
para o retrocesso do quadro clínico dos pacientes durante a sua permanência no hospital.
Esta dissertação foi dividida em cinco capítulos. No primeiro capitulo foi abordado o
crescimento urbano, bem como o processo de urbanização nas grandes cidades e no Brasil,
com as vantagens e desvantagens deste crescimento. O segundo refere-se a humanização no
espaço hospital e aborda a política nacional de humanização e a modernização e humanização
da Santa Casa de Misericórdia do Pará. O terceiro capítulo contempla o objeto de estudo
dessa pesquisa, no que tange o ruído urbano e a sustentabilidade na cidade e o panorama do
ruído urbano mundial, especificamente no município de Belém e no entorno da Santa Casa de
Misericórdia, contextualizando o ruído hospitalar e a saúde ocupacional, abordando o efeito
extra-auditivo físico e subjetivo do ruído urbano sobre a saúde. No quarto capitulo apresenta-
se as análises estatísticas e a discussão dos resultados alcançados. No quinto e ultimo capítulo
faz-se o estudo comparativo dos níveis de ruído entre duas enfermarias, uma localizada na
fase externa do edifício, portanto exposta ao ruído urbano; e a outra na face interna protegida
do ruído externo e as análises dos resultados cientificamente relevantes na conclusão, de
forma reflexiva.
18
2 OBJETIVOS
2.1 GERAL
Analisar a influencia do ruído urbano nas condições de conforto acústico sobre o bem
estar físico e subjetivo dos pacientes da Santa Casa de Misericórdia do Pará.
2.2 ESPECÍFICOS
- Identificar as fontes de ruídos que interferem nas atividades desenvolvidas no objeto
de estudo;
- Analisar comparativamente o nível de ruído em duas enfermarias posicionadas
diferentemente em relação às ruas;
- Propor instrumento de gestão de conforto acústico nos espaços hospitalares da rede
pública.
19
3 TRILHAS METODOLÓGICAS PERCORRIDAS
A pesquisa para o alcance do objetivo proposto foi dividida em cinco etapas,
envolvendo uma abordagem qualitativa, cuja orientação do ponto de vista teórico-
metodológico é de Chizzoti (1991, p.79):
a abordagem qualitativa parte do fundamento de que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito. O conhecimento não se reduz a um rol de dados isolados, conectados por uma teoria explicativa; o sujeito observador é parte integrante do processo de conhecimento e interpreta os fenômenos, atribuindo-lhes um significado. O objeto não é um dado inerte e neutro, está possuído de significado e relações que sujeitos concretos criam em suas ações.
A primeira etapa refere-se a pesquisa documental e bibliográfica. Segundo Marconi
(2002), a pesquisa de campo é aquela que tem como objetivo obter informações e/ou
conhecimento acerca de um problema para o qual se procura uma resposta, ou de uma
hipótese que se queira comprovar, ou, ainda, descobrir novos fenômenos ou as relações entre
eles. Por isso, nessa etapa, foi feita a visita ao hospital Santa Casa de Misericórdia do Pará a
fim de resgatar informações do trabalho de humanização e de conforto ambiental
desenvolvidos no período de 2002 a 2006.
Foi feito o levantamento do arcabouço teórico que trate de humanização e de conforto
acústico em espaços públicos, sobretudo, em estabelecimentos hospitalares, relacionando-os
com literaturas que tratem de qualidade de vida e ruído urbano.
A pesquisa documental é definida por Severino (2007, p.32), como aquela que tem
como fonte, documentos no sentido amplo, que envolve os impressos e outros tipos, como:
jornais, fotos, filmes, gravações e documentos legais. “Nestes casos, os conteúdos dos textos
ainda não têm nenhum tratamento analítico, são ainda matéria-prima a partir da qual o
pesquisador vai desenvolver sua investigação e análise.” No que se refere à pesquisa
bibliográfica, o autor afirma que “é aquela que se realiza a partir do registro disponível,
decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses,
dentre outros”.
A segunda etapa corresponde ao levantamento dos dados físicos e subjetivos em todas
as enfermarias: São Roque, Santana, Santa Ludovina, Frei Caetano, São Francisco e São
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Paulo, analisadas e descritas quanto suas localizações no capitulo dos resultados da
dissertação. Esta pesquisa apresentou riscos mínimos aos participantes da pesquisa e
resguardou-se a sua integridade física e moral. Não foram realizados procedimentos
invasivos ou perguntas constrangedoras. O risco possível seria a quebra da confidencialidade
pelo pesquisador, todavia foram tomados os cuidados para que isto não ocorra. Os
formulários, assim como os termos de consentimento livre e esclarecido, foram mantidos em
sigilo e incinerados após cinco anos. Outros benefícios foram os relacionados ao conforto
acústico urbano hospitalar
Na terceira etapa foi realizada a análise estatística e discussão dos resultados
encontrados. Os programas utilizados para realização deste trabalho foram o Microsoft Word
e Excel, os pacotes estatísticos Bioestat versão 5.0 e o SPSS versão 18, utilizados para
construir o banco de dados e investigar a relação entre as variáveis que envolvem esse estudo.
Os testes estatísticos aplicados foram os não paramétricos, Qui-quadrado de independência e
o teste G e Análise de correspondência (AC). Esta é uma técnica que se destaca pela sua
facilidade de aplicação e de interpretação, bem como por sua versatilidade no tratamento de
variáveis categóricas. Observa-se que a aplicação desta AC nos mapas percentuais permite
visualizar as proximidades (similaridades ou dessimilaridades) entre os objetos a serem
pesquisados.
A quarta etapa refere-se à caracterização do objeto de estudo e aplicação do projeto
piloto que consta de medições e entrevistas semiestruturadas, apenas nas enfermarias Frei
Caetano e São Roque, com o objetivo de ajustar o questionário para a coleta de dados
definitiva.
Minayo (2004, p.108) considera que o questionário semiestruturado “combina
perguntas fechadas (ou estruturadas) e abertas, onde o entrevistado tem a possibilidade de
discorrer o tema proposto, sem respostas ou condições prefixadas pelo pesquisador”.
Antes de iniciar a etapa de entrevista, o projeto foi submetido ao Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade da Amazônia, aprovado com o Protocolo Nº 273746/09 (Apêndice
C).
Nessa etapa foram observadas, também, as ações realizadas para conter a interferência
de fenômenos ambientais externos no espaço hospitalar com ênfase à contenção do ruído
urbano e na quinta e última etapa uma análise cientifica reflexiva na conclusão desta
dissertação.
21
4 CRESCIMENTO URBANO
4.1 INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, a principal característica das transformações sócioespaciais é o
crescimento da conurbação em aglomerações metropolitanas ou não-metropolitanas,
concentrando parcela crescente da população, assim como, o fenômeno de redução do peso
das atividades agrícolas no emprego e na renda das pessoas que habitam o meio rural, que tem
sido registrado em países desenvolvidos (CALADO; SANTOS, 2003).
Para Castells (1983, p.25) o fenômeno de urbanização pode ser definido como um
“processo social que concentra a população em um espaço, no qual se desenvolveram
aglomerações, funcional e socialmente; interdependentes, articulados em relação
hierarquizada”. Para o mesmo autor, este processo não deve ser visto apenas como
determinante de mudanças promissoras no espaço urbano e no desenvolvimento de uma
cidade, pois é responsável também por gerar nocividade à população, principalmente as que
afetam a saúde.
Assim, torna-se necessário realizar uma breve explanação sobre como o processo de
urbanização são realizadas nas grandes cidades, suas vantagens e desvantagens e os desafios
do crescimento urbano na nossa cidade.
4.2 PROCESSO DE URBANIZAÇÃO NAS GRANDES CIDADES
O termo genérico “cidade” tornou-se pouco preciso para expressar o sentido do que se
produziu socialmente como espaço urbano ou expansão de “cidade” a partir dos anos 40.
Desde então, procura-se adjetivar o termo para designar a resultante espacial do processo que
gerou forma às periferias metropolitanas (GROSTEIN, 2001).
Torna-se de grande importância iniciar essa discussão conforme Lefebvre (2002) já
que seus estudos sobre sociedades relatam que a sociedade urbana surgiu a partir do processo
de industrialização que resulta da urbanização completa. Esse fato provocou crescimento
desordenado, como citado anteriormente, não havendo preocupação em implantações de
22
hospitais, sejam públicos ou privados, em áreas tranqüilas com o objetivo de favorecer um
ambiente sossegado e saudável para os pacientes. Desta forma, os hospitais foram
implantados em zonas urbanas, perto de casas, prédios e em ambiente de grande tráfego de
veículos.
Só após os anos 60 a cidade assumiu um novo processo de desenvolvimento nacional
em consequência do chamado “modelo de substituição das importações” que acelerou a
urbanização. A partir de 1964, as cidades passaram a ocupar o centro de uma política
destinada a mudar o padrão de produção. No novo padrão, o Brasil instalou a indústria
automobilística que modificou radicalmente o sistema de transporte brasileiro. Recursos
financeiros foram drenados para o mercado habitacional, em grande escala, modificando o
perfil das cidades. Iniciou-se o processo de verticalização no país com a construção de
edifícios de apartamentos como forma de habitação da classe média (MARICATO;
ARANTES; VAINER, 2000).
Segundo Calado e Santos (2003), o crescimento urbano tem ampliado a divisão de
funções urbanas entre algumas cidades e a atração que alguns centros exercem sobre o
território. No Brasil a existência de áreas metropolitanas, onze aglomerações urbanas e várias
cidades de porte médio são a face de uma estrutura territorial, cuja contra face está no grande
número de municípios com população urbana inferior a 20 mil habitantes.
Dois fatores devem ser considerados no processo de crescimento urbano: o
populacional e o padrão de expansão física das ocupações urbanas. O primeiro representa um
desafio em si mesmo quando exerce um importante peso na expansão da infra-estrutura
urbana. Já o padrão de ocupação pode e deve ser entendido como um fator essencial para que
esse crescimento possa acontecer com maior ou menor custo social (UNFPA, 2007).
O Brasil possui cerca de 192 milhões de habitantes (estimativa do IBGE, 2010) o que
representa uma das maiores populações absolutas do mundo, destacando-se como a quinta
nação mais populosa do planeta. Ao longo dos últimos anos, o crescimento demográfico do
país tem diminuído o ritmo, que era muito alto até a década de 1960.
O aumento de concentração da população nas grandes cidades e do número de grandes
centros urbanos são características importantes do processo de urbanização brasileiro. Com o
crescimento populacional, as cidades se expandiram e, muitas vezes, as rodovias que tinham
como objetivo primordial o tráfego de entrada e saída dos municípios, ou de passagem pela
cidade, perdem esta função e se transformam em avenidas de intenso tráfego urbano
(CALIXTO; DINIZ; ZANNIN, 2001).
23
Para Maricato (2000), as reformas urbanas realizadas em diversas cidades brasileiras
entre o final do século XIX e início do século XX, lançaram as bases de um urbanismo
moderno “à moda” da periferia. Eram feitas obras de saneamento básico e embelezamento
paisagístico, implantavam-se as bases legais para um mercado imobiliário de corte capitalista,
ao mesmo tempo em que a população excluída desse processo era expulsa para os morros e as
franjas da cidade.
A mesma autora afirma que Manaus, Belém, Porto Alegre, Curitiba, Santos, Recife,
São Paulo e especialmente o Rio de Janeiro são cidades que passaram, no século XIX, por
mudanças que conjugaram saneamento ambiental, embelezamento e segregação territorial.
Segundo Grostein (2001) a urbanização imprimiu às metrópoles especificidades
regionais ao menos duas fortes características associadas ao modo predominante de fazer
“cidade”: apresentam componentes de “insustentabilidade” associados aos processos de
expansão da área urbana e de transformação e modernização dos espaços intraurbanos; e
proporcionam baixa qualidade de vida urbana a parcelas significativas da população.
Segundo Angel; Sheppard; Civco (2006), há que se distinguir estes dois processos,
pois é natural que o crescimento da população urbana leve a uma expansão das áreas urbanas
para comportar esse contingente populacional dentro das cidades. Mas o que se desenha,
enquanto um desafio, no século XXI, não é apenas a pressão dos números, mas como as
formas urbanas se moldam e são moldadas pelas tensões entre crescimento populacional e
expansão urbana.
O estágio atual do crescimento metropolitano tem como característica marcante a
importância assumida pela dimensão ambiental dos problemas urbanos, especialmente os
associados ao parcelamento, uso e ocupação do solo, com relevante papel desempenhado
pelos assentamentos habitacionais para população de baixa renda (GROSTEIN, 2001).
A mesma autora afirma que as regiões metropolitanas, por contingência ou natureza
das relações estabelecidas entre municípios que a compõem, dependeriam de políticas
integradas de desenvolvimento urbano e de ações articuladas, que seriam próprias de uma
gestão compartilhada. Pela ausência histórica de procedimentos desse tipo, agravaram-se as
inadequações no uso e ocupação do solo com forte impacto ambiental.
Dados do IBGE de 1998-2000 apontam índices significativos de crescimento da
população residente em favelas (118,33%) e de domicílios situados em favela (133,19%),
destacando-se o aumento nas regiões de Belém, Recife, Curitiba e São Paulo. (IGBE, 2009).
Grostein (2001) também destaca que em todas as cidades a expansão da área urbana
assumiu características semelhantes, isto é, não resultou de determinações ou projetos
24
articulados visando à extensão da cidade, mas, ao contrário, prevaleceram à difusão do padrão
periférico, condutor da urbanização do território metropolitano, perpetuando, assim, o
loteamento ilegal, a casa autoconstruída e os distantes conjuntos habitacionais populares de
produção pública, como seus principais propulsores.
A urbanização na Amazônia ocorreu a partir de uma política pública que sustentava
que os núcleos urbanos assumiam a função econômica e social. Trata-se de um processo
recente ocorrido há aproximadamente 40 anos. Em decorrência desta política quase dois
terços da população ocupou esses núcleos no início deste milênio (SERRE, 2001).
Já a urbanização de Belém está fortemente ligada ao comércio da borracha a partir de
1897 com o governo de Antonio Lemos (1897-1911). De forma similar a outras cidades no
mundo, as intervenções urbanas foram bastante comuns, tendo como modelo a cidade de
Paris, com ruas largas, iluminação pública e espaços verdes. A capital foi transformada em
centro financeiro e de consumo dos investidores estrangeiros e dos seringalistas. Para atender
a estas necessidades foram introduzidos planos de saneamento e embelezamento da cidade.
Com o intuito de facilitar o escoamento da produção e a transação comercial da borracha
foram construídas avenidas largas, calçadas nas ruas e instalada rede de esgoto. Foram, ainda,
construídos bosques, quiosques e praças, além de um serviço de transporte público (SARGES;
SOLER; MATOS, 1999).
Nos espaços centrais encontram-se construções de conjuntos de prédios residências e
comerciais que agravam os problemas ambientais com congestionamentos do trânsito nas
ruas. Da mesma forma a produção do espaço urbano, em Belém, segue a lógica de ocupação
de outras cidades brasileiras. Inicia-se nas áreas mais altas e mais valorizadas e atinge, mais
tarde, as áreas mais baixas que obedece, portanto, à lógica da produção e da valorização do
espaço da cidade (OLIVEIRA, 2000).
4.3 PROCESSO DE URBANIZAÇÃO NO BRASIL
O processo de urbanização no Brasil é considerado recente, tendo início no século XX
em que a população residente nas áreas urbanas passou a ser maior do que no meio rural. O
processo acelerado de urbanização que ocorria no Brasil provocou transformações
fundamentais da sociedade brasileira (BRITO, 2007).
25
Para Faria (1991 apud OJIMA, 2007, p.3) “a reflexão sobre a sociedade urbana no
Brasil se funde e confunde com a reflexão sobre os processos de mudança social que
caracterizam a constituição de uma sociedade urbano-industrial”. Pode-se considerar, então,
que grande parte dos estudos urbanos brasileiros consolidou-se sob o paradigma da produção
social do espaço, em que espaço urbano é tratado como a expressão material do modo de
produção capitalista.
Soares (2007) pontua que as décadas de 50 e 60 foram as mais promissoras para o
crescimento das atividades industriais no país. O mandato do então Presidente da República
Jucelino Kubitchek de Oliveira foi determinante para que isto ocorresse, uma vez que em seu
governo ocorreu um crescimento responsável por 80% da indústria nacional, reforçada pela
construção da cidade de Brasília e da Rodovia Belém-Brasília. Desta forma, o intenso e
contínuo crescimento da industrialização no país foi um dos fatores que mais contribuiu para
a urbanização das metrópoles.
Lacerda; Zancheti; Diniz (2000) afirmam que o Brasil é hoje um país urbano, uma vez
que 78% de sua população habitam em cidades. Esse resultado foi gestado, sobretudo, nas
décadas de 60 e 70, quando as metrópoles brasileiras foram estruturadas. As grandes cidades,
capitais em geral, passaram por um intenso processo de crescimento, decorrente da expansão
populacional e industrial. Além disso, absorveram os núcleos urbanos que se organizavam ao
seu redor.
De acordo com os mesmos autores a primeira fase do processo de metropolização,
correspondente, sobretudo às décadas de 60 e 70, foi caracterizada por um modelo de
crescimento urbano extensivo, isto é, de deslocamento contínuo das margens da área urbana
(a fronteira cidade/campo), gerando um desenho do território semelhante a uma mancha de
óleo com um centro e uma periferia de forma tentacular em contínua expansão.
De acordo com Santos (2005), o Brasil, como os demais países da América Latina,
apresentou intenso processo de urbanização, justamente na segunda metade do século XX.
Em 1940 a população urbana era de 26,3% do total. Em 2000 já era de 81,2%. Esse
crescimento se mostra mais impressionante ainda em números absolutos: em 1940, a
população que residia nas cidades era de cerca de 18,8 milhões de habitantes, e em 2000 ela
era de aproximadamente 138 milhões. Constata-se, portanto, que em 60 anos, os
assentamentos urbanos foram ampliados de forma a abrigar mais de 125 milhões de pessoas.
Ainda segundo Santos (2005), a partir da virada do século XIX e das primeiras
décadas do século XX que o processo de urbanização da sociedade brasileira começa
realmente a se consolidar, impulsionado pela emergência do trabalhador livre, pela
26
Proclamação da República e por uma indústria ainda incipiente, que se desenrola na esteira
das atividades ligadas à cafeicultura e às necessidades básicas do mercado interno.
A partir da última década do século XIX, houve um crescimento da população nas
cidades brasileiras em mais 2.718.968 habitantes. Exigindo um gigantesco movimento de
construção urbana para o assentamento residencial dessa população, bem como para a
satisfação de suas necessidades de trabalho, abastecimento, transporte, saúde, energia e água
(SANTOS, 2005).
Segundo Maricato; Arantes; Vainer (2000), a urbanização da sociedade brasileira tem
constituído, sem dúvida, um caminho para a modernização, mas, ao mesmo tempo, vem
contrariando aqueles que esperavam ver, nesse processo, a superação do Brasil arcaico,
vinculado à hegemonia da economia agroexportadora. O processo de urbanização recria o
atraso a partir de novas formas, como contraponto à dinâmica de modernização.
Para o mesmo autor, as características do Brasil urbano impõem tarefas desafiadoras, e
os arquitetos e planejadores urbanos não têm conhecimento acumulado nem experiência para
lidar com elas. A dimensão da tragédia urbana brasileira está a exigir o desenvolvimento de
respostas que devem partir do conhecimento da realidade empírica para evitar a formulação
das “idéias fora do lugar” tão característica do planejamento urbano no Brasil.
A fonte do movimento de urbanização, que se verifica a partir do fim da segunda
guerra mundial, é contemporâneo de uma fonte de crescimento demográfico, resultado de
uma natalidade elevada e de uma mortalidade em descenso, cujas causas essenciais são os
progressos sanitários, a melhoria relativa nos padrões de vida e a própria urbanização.
Alcançamos, neste século, a urbanização da sociedade e a urbanização do território,
depois de longo período de urbanização social e territorial seletiva (SANTOS, 2005). Durante
séculos o Brasil foi um país agrário, um país “essencialmente agrícola”, segundo a expressão
do conde Afonso Celso.
Segundo Vianna (1956, p.55 apud SANTOS, 2005, p.19):
urbanismo é condição moderníssima de nossa evolução social. Toda a nossa história é a de um povo agrícola é a história de uma sociedade de lavradores e pastores. É no campo que se forma a nossa raça e se elaboram as forças intimas de nossa civilização.
27
O mesmo autor inclui como elementos explicativos da urbanização o que chama “O
sistema social da colônia”. O sistema é formado pela organização político-administrativo,
onde as municipais eram atividades econômicas rurais com desenvolvimento de atividades
econômicas urbanas no comércio e mineração.
A urbanização brasileira conhece, ao longo das diferentes periodizações que se
proponham. Após os anos 1940-1950, os nexos econômicos ganham enorme relevo, e
impõem-se às dinâmicas urbanas na totalidade de território (SANTOS, 2005).
Conforme Santos (2005) foi necessário ainda mais um século para que a urbanização
atingisse sua maturidade, no século XIX, e ainda mais um século para adquirir as
características com as quais conhecemos hoje.
4.4 IMPACTOS DECORRENTES DO PROGRESSO DE URBANIZAÇÃO NO BRASIL
Paralelamente a uma evolução altamente positiva em relação à mortalidade infantil, à
esperança de vida ao nascer, à diminuição do crescimento demográfico e ao aumento da
escolaridade, o processo de urbanização no Brasil apresenta a reprodução de novos e antigos
males, nos indicadores de violência, pobreza, predação urbana e ambiental, poluição do ar e
da água (MARICATO, 2000).
Para Ojima (2007, p. 4) os impactos decorrentes do processo de urbanização e do
agravamento dos problemas sociais, ocorrem principalmente a partir da transferência de
população de áreas tipicamente agrárias para as aglomerações urbanas. Parece ter havido,
portanto, uma perspectiva na qual a associação entre processo de urbanização e a
industrialização limitou, em parte, a compreensão dos aspectos espaciais da urbanização.
Os problemas ambientais urbanos nas cidades brasileiras não são novos, entretanto, o
que está mudando é a consciência social de que muitos deles poderiam ser evitados e a
importância que a solução desses problemas assume para a sociedade. Em um território
urbanizado, onde prevalecem a escassez de terra adequada e acessível para o assentamento
das populações de baixa renda e a precariedade nas periferias em um quadro de exclusão e
pobreza, dificilmente poderão ser equacionados os problemas ambientais, sem uma política
habitacional (GROSTEIN, 2001).
Para a mesma autora, construir uma “cidade” é tarefa social complexa que requer
investimentos públicos e privados, projetos e programas de intervenção e justiça na
28
distribuição dos benefícios urbanos. Não basta abrir ruas e parcelar glebas em lotes. Para
introduzir qualidade ambiental na cidade informal, não basta regularizar loteamentos ou
urbanizar as favelas.
Além dos inúmeros eletrodomésticos e bens eletrônicos, o automóvel produzido pela
grande indústria promove, a partir dos anos 50, mudanças significativas no modo de vida dos
consumidores (que inicialmente eram restritos às faixas de maior renda) e também na
habitação e nas cidades. Com a massificação do consumo dos bens modernos, dos
eletroeletrônicos e dos meios de transportes, mudam radicalmente o modo de vida, os valores,
a cultura e o conjunto do ambiente construído (MARICATO, 1996).
Segundo Maricato; Arantes; Vainer (2000) o Brasil apresentou um crescimento
econômico acelerado durante o período de 1940 a 1980, sem, entretanto modificar
significativamente a forte desigualdade social. O impacto do declínio econômico nas décadas
de 80 e 90 sobre uma sociedade já desigual aprofundou a exclusão social.
O mesmo autor diz que nas décadas de 80 e 90, no Brasil, como em quase todo o
mundo (excetuando os Estados Unidos, nos anos 90), aumentaram a desigualdade social, o
desemprego, as relações informais de trabalho e a pobreza nas áreas urbanas. Mas é bastante
diferente iniciar o processo de reestruturação produtiva a partir de uma base de pleno emprego
ou de direitos universais relativamente extensivos ou de uma base na qual os direitos são
privilégios de apenas alguns.
Um dos indicadores mais expressivos e definitivos da piora nas condições de vida
urbana é o aumento da violência a níveis antes nunca vividos pelas metrópoles brasileiras. A
taxa nacional de homicídios, para cada 100 mil habitantes no final dos anos 90 é de 24,10, em
São Paulo e no Rio de Janeiro ela é mais do que o dobro. “O crescimento da violência está
relacionado de maneira intrínseca às metrópoles. É a principal causa de morte de homens com
idades entre 10 e 38 anos e já começa a afetar a expectativa de vida ao nascer da população
masculina brasileira”. (SIMÕES, 2000 apud MARICATO, 2000).
De acordo com Maricato; Arantes; Vainer (2000) a violência social sempre foi
característica das zonas rurais, consideradas atrasadas diante do universo urbano, que se
pretende moderno. Dadas suas dimensões, trata-se de um fenômeno inédito na sociedade
brasileira e desconhecido anteriormente aos anos 80. É justamente no início dessa década que
tal fenômeno ganha expressão significativa, coincidindo com o primeiro impacto recessivo
das “décadas perdidas”, o que levou o país a mergulhar no desemprego.
O fato de, à escala mundial, se verificar uma tendência de reforço da concentração das
populações em cidades, constitui certamente um argumento justificativo da consolidação de
29
uma corrente de investigação autônoma sobre a qualidade de vida urbana ao qual se junta, no
entanto, outro argumento, igualmente importante, que tem a ver com o reconhecimento de que
a urbanização atual, muitas vezes intensa e desordenada, é ela própria geradora de um
conjunto de problemas e de disfunções internas cuja influência nas condições de vida dos
cidadãos importa conhecer e avaliar (SANTOS; MARTINS, 2002).
Os mesmos autores dizem que a investigação atual sobre a qualidade de vida urbana
confronta-se, assim, com o desafio da procura de novos modelos de abordagem que levem em
conta as profundas mudanças econômicas, sociais e tecnológicas em curso que, justamente, se
têm vindo a manifestar de forma particularmente expressiva à escala das cidades.
4.5 CONCLUSÃO
A literatura permitiu entender que a urbanização é um fenômeno caracterizado pelo
crescimento acelerado da população nas cidades. Com este crescimento surgiram vários
problemas ambientais decorrentes de aumento e falta de planejamento urbano das cidades.
Dentre eles destaca-se a poluição sonora, que provoca sérios danos à saúde humana e causa
prejuízos em diversas áreas urbanas.
Com este crescimento acelerado, as áreas urbanas foram se desenvolvendo e ocupando
o solo sem um planejamento urbano e sem zonas próprias para construção de ambientes
especiais como hospitais e escolas.
Embora vários estudos realizados sobre urbanização na área hospitalar, ainda há
poucos dados técnicos e a aplicação das normas de conforto acústico nos hospitais é
praticamente inexistente, seja no interior dos edifícios hospitalares ou nas vias que os
contornam.
Considerando que a migração da população rural para as grandes cidades como Belém,
em busca de serviços de saúde, trabalho e melhoria de qualidade de vida, resulta no aumento
da circulação interna e externa nos espaços hospitalares, que fazem parte da realidade urbana
de hoje das cidades.
A literatura mostra, ainda, que não existem estudos relacionados ao crescimento e o
ruído urbano no entorno de áreas hospitalares, especificamente no caso das enfermarias
localizadas junto às vias de tráfego de ônibus e veículos grandes, carros de passeio,
ambulâncias e outros, que são fontes geradoras de ruído em potencial.
30
Os hospitais públicos permanecem nos corredores de intenso fluxo de veículos, sem
legislação que lhes garanta condições de conforto acústico. Os hospitais não estão imunes ao
processo de crescimento das cidades e da poluição sonora, ficando os pacientes e
acompanhantes expostos a níveis de ruído que interferem e causam efeitos na saúde e na
recuperação dos mesmos.
Em termos metodológicos, a literatura mostra que a maioria dos estudos é
desenvolvido nas grandes cidades com caráter quantitativo, experimental e/ou algumas
pesquisas de opinião. Verifica-se uma menor preocupação com estudos qualitativos que
relacionem o crescimento das cidades com impacto do ruído nas áreas hospitalares.
As pesquisas relacionadas aos problemas do ruído hospitalar ocorrem nas unidades
intensivas, e são produzidas através de aparelhos utilizados nos setores internos. Poucos
estudos contemplam as percepções dos pacientes internados, as interferências do ruído
urbano, o processo de urbanização como agravantes dos problemas de saúde e seus aspectos
físicos e subjetivos.
31
5 HUMANIZAÇÃO HOSPITALAR
5.1 INTRODUÇÃO
Este capítulo descreve a implantação do estudo de caso sobre a Política Nacional de
Humanização (PNH) e o programa de modernização e humanização da Santa Casa de
Misericórdia do Pará implantado nas seis enfermarias estudadas nesta pesquisa, baseada no
relatório de trabalho realizado pela equipe da SEEPS (2004).
De acordo com Lamounier (1999), a compreensão do significado das políticas públicas
corresponde a um duplo esforço: de um lado entender a dimensão técnico-administrativa que
a compõe buscando verificar a eficiência e o resultado prático para a sociedade das políticas
públicas; de outro lado reconhecer que toda política pública é uma forma de intervenção nas
relações sociais em que o processo decisório condiciona e é condicionado por interesses e
expectativas sociais.
A área de saúde no Brasil é uma função social exercida de forma ampla pelo Estado.
Apesar do SUS, no Brasil, legalmente fornecer cobertura integral de saúde a todos os
cidadãos do país, mostra na maior parte das vezes um péssimo funcionamento evidenciado,
por exemplo, pela demora no atendimento para consultas e exames médicos. As razões que
explicam este problema é uma questão que requer um tratamento tanto ligado à compreensão
das estruturas institucionais e de funcionamento administrativo do SUS quanto a argumentos
ligados à intermediação de interesses políticos inerentes ao processo da política de saúde o
Brasil.
Souza (2004) resume a política pública como o campo do conhecimento que busca, ao
mesmo tempo, “colocar o governo em ação” e/ou analisar essa ação (variável independente) e,
quando necessário, propor mudanças no rumo ou curso dessas ações (variável dependente).
O hospital, nesse sentido, deve ser um espaço humano para atender o conjunto de
necessidades e de saúde dos pacientes. Essa questão tornou-se mais importante com a
Constituição de 1988 que confere a todo cidadão o direito à saúde1 pública gratuita. Em 1990,
foi publicada a Lei Orgânica da Saúde – Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, que
regulamenta a Constituição e cria o Sistema Único de Saúde (SUS), estabelecendo as
1 Saúde é entendida pelo Ministério da Saúde como o estado de completo bem estar físico, mental e social, não
só a ausência de doença.
32
competências dos três níveis de governo (Federal, Estadual e Municipal). Nesse sentido o
hospital deve apresentar os requisitos de: expansibilidade, flexibilidade, segurança, eficiência
e, sobretudo, humanização. Nesse ponto, o conforto ambiental aparece como forte aliado nos
processos de cura de pacientes (MARTINS, V., 2004).
O conforto ambiental nos estabelecimentos assistenciais de saúde é de grande
relevância, pois o paciente luta para recuperar sua saúde e, ao mesmo tempo, é submetido a
agressões do meio ambiente relacionadas a agentes físicos (ruídos, radiação ionizante e não
ionizante, vibração, pressão anormal, temperaturas extremas e outros), químicos (substâncias
químicas em forma sólida, líquida e gasosa), biológicos (vírus, bactérias, fungos e ácaros),
ergonômicos e psicológicos (MARTINS, V, 2004).
o processo de humanização da Saúde tem suas origens nos movimentos de reformas sanitárias, nas Conferências de Saúde e nos grupos militantes voltados a ações em prol dessa humanização, e tem suas origens o desenvolvimento de uma consciência cidadã e cujas atuações se tornaram, a partir da década de 1980, gradativamente influentes, estruturadas e articuladas. Na realidade, a reordenação do conceito de saúde, incorpora, entre seus determinantes, as condições de vida e desloca no sentido da comunidade a assistência médico-hospitalar como diretriz da atenção à saúde (QUEIRÓZ, 1992 apud REIS; MARAZINA; GALLO, 2004, p.1).
A institucionalização desse processo, com a Constituição de 1988 e a estruturação do
SUS, inaugurou o reordenamento teórico, paradigmático e operacional da Saúde que a levou a
ser compreendida no âmbito da Segurança Social. Nesse contexto, a idéia de Humanização
passou a ser entendida como “a valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de
produção de Saúde” (BRASIL, 2004).
Destaca-se na definição do SUS que o esforço de humanização é concebido como um
aporte de valor positivo alocado ao sujeito implicado na produção da Saúde, embora, no
entendimento comum, não seja raro que designe o usuário ou cliente externo como principal,
quando não único, alvo da humanização.
Para Reis; Marazina; Gallo (2004) a humanização em Saúde aparece como uma
intervenção nessa lógica e finda por questionar paradigmas que sustentam essa forma de ver o
mundo. Tal intervenção e tal questionamento têm, amiúde, por efeito, provocar fortes
resistências nos sujeitos que compartilham da lógica instrumental.
Falar em humanização do hospital pode parecer paradoxal, como se, por sua própria
natureza ele não devesse exercer uma atividade essencialmente humanizada. Segundo
MEZZOMO et. al. (1986 apud MESQUITA, [1999], p. 1), “o hospital, à semelhança de tantas
33
outras instituições, frequentemente esquece a finalidade pela qual surgiu e que constitui sua
razão de ser: o atendimento global à pessoa humana enferma”.
A humanização não é simples, pois exige esforço de todas as áreas envolvidas para o
bom funcionamento do hospital, por haver problemas que surgem da abordagem
exclusivamente física da doença, da formação puramente técnica do pessoal que constitui a
equipe hospitalar, da sobrecarga de trabalho e da divisão dos cuidados prestados ao paciente.
O fator humano deve se fazer presente em cada processo hospitalar. A pessoa que
antes era tratada como paciente, hoje é tida como cliente do hospital; devido a isto, é
importante prestar serviços de hotelaria e serviços de qualidade. Estes fatores subsidiam o
processo de manutenção e recuperação da saúde em um hospital.
5.2 POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO
Martins e Bógos (2004) revelam que um indivíduo está confortável em um ambiente
quando se sente em neutralidade. No caso dos hospitais a estrutura física pode ser um
instrumento terapêutico ao contribuir para o bem-estar físico do paciente. O desconforto
ambiental nos hospitais pode ser um problema a mais nesses espaços.
A humanização do ambiente físico hospitalar, ao mesmo tempo em que colabora com
o processo terapêutico do paciente, contribui para a qualidade dos serviços de saúde prestados
pelos profissionais envolvidos (MARTINS, V., 2004).
Nesse sentido, devido a sua escala e complexidade, a implantação de um hospital na
estrutura urbana provoca impactos físico-funcionais, muitos dos quais extrapolam o entorno
imediato da edificação, atingindo grandes áreas da cidade, bem como os aspectos de conforto
ambiental.
Com a adoção da nova proposta, os hospitais deixam de ser apenas instituições de
assistência, para assumir também a missão de curar. Para que esse objetivo fosse alcançado,
tanto as práticas médicas como os edifícios hospitalares passaram por grandes
transformações, dentre as quais podemos destacar sua medicalização, já que, até então, a
prática da medicina se dava fora do ambiente hospitalar. Essa foi, certamente, uma das
primeiras iniciativas de humanização. A importância desse momento para a arquitetura
hospitalar pode ser medida pelo fato de que as diretrizes propostas por Tenon mantiveram-se
válidas até meados do século XX (TOLEDO, 2002).
34
Segundo Mezzomo et. al (1986 apud MESQUITA, 1999, p.2):
a política de humanização dos hospitais requer a aplicação de cuidados e medidas especiais, sobretudo em relação ao ingresso no hospital, às relações materiais de permanência do paciente no hospital e às condições psicológicas de permanência do paciente no hospital.
O ingresso no hospital, independente de ser o hospital público ou privado, há a
necessidade de acompanhar o grau de satisfação de sua equipe médica, de seus funcionários,
imprensa ou pacientes, com o objetivo visualizar sua imagem, pois existem expectativas que
precisam ser mais bem compreendidas no seu relacionamento com sua clientela
(CARVALHO, 1998).
Para o mesmo autor algumas fases precisam ser repensadas, principalmente no que se
refere à entrada do paciente, ao atendimento enquanto ele está internado. Por se tratar de
momentos de tensão e fragilidade, é preciso levar em consideração o grau de ansiedade do
cliente que dá entrada num hospital.
O interesse pela questão da humanização teve grande avanço em 2004, quando o
Ministério da Saúde lançou do programa “Humaniza Sus”, com diretrizes de uma política
nacional de humanização da atenção à saúde (TOLEDO, 2002).
A humanização, baseada nas diretrizes do Ministério da Saúde (BRASIL, 2004) deve
ser entendida como: valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção
de saúde: usuários, trabalhadores e gestores; fomento da autonomia e do protagonismo desses
sujeitos; aumento do grau de corresponsabilidade na produção de saúde e de sujeitos;
estabelecimentos de vínculos solidários e de participação coletiva no processo de Gestão;
identificação das necessidades sociais de saúde; mudança nos modelos de atenção e gestão
dos processos de trabalho tendo como foco as necessidades dos cidadãos e a produção de
saúde; compromisso com a ambiência2, melhoria das condições de trabalho e de atendimento.
Sob o ideal de “humanização da atenção à saúde”, observam-se diferentes iniciativas
no Brasil, tanto na forma de uma política nacional (HumanizaSUS), como de propostas
técnicas mais específicas (Humanização do Parto; Maternidade Segura; Método Canguru).
Sem desconsiderar a centralidade do acesso à atenção a saúde e a qualidade técnica das ações
desenvolvidas, as propostas de humanização têm dado especial ênfase à integralidade da
2 Toledo (2002) afirma que ambiência é um ambiente físico, social, profissional e de relações interpessoais que
deve estar relacionado a um projeto de saúde voltado para a atenção acolhedora, resolutiva e humana.
35
atenção e, em particular, às interações entre profissionais e usuários nos serviços de saúde
(BRASIL, 2004).
Toledo (2002) afirma que a humanização do edifício hospitalar é resultante não só de
um processo projetual, mas também dos aspectos de criação de espaços que favoreçam a
recuperação da saúde e garantam o bem-estar físico e psicológico aos usuários.
O Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH) foi criado
em 1999, pela Secretaria da Assistência à Saúde do Ministério da Saúde, com os objetivos de:
melhorar a qualidade e a eficácia da atenção dispensada aos usuários da rede hospitalar;
recuperar a imagem dos hospitais junto à comunidade; capacitar os profissionais dos hospitais
para um conceito de atenção à saúde baseado na valorização da vida humana e da cidadania;
conceber e implantar novas iniciativas de humanização beneficiando tanto os usuários como
os profissionais de saúde; estimular a realização de parcerias e trocas de conhecimentos;
desenvolver um conjunto de indicadores/parâmetros de resultados e sistemas de incentivo ao
tratamento humanizado. O objetivo central, portanto, era o de promover uma mudança de
cultura no atendimento na área hospitalar (BRASIL, 2004).
Em 2003, o Ministério da Saúde definiu sete áreas prioritárias de atuação, uma delas a
Humanização do SUS. Desde então, o Programa de Humanização passa a ser subordinado à
Secretaria Executiva do Ministério, sendo então denominado Política Nacional de
Humanização (PNH) (MARTINS, 2003).
Um dos princípios norteadores da PNH é a dimensão subjetiva e social em todas as
práticas de atenção e gestão. Assim, são valorizados os diferentes sujeitos implicados no
processo de produção de saúde: os usuários, os trabalhadores e os gestores (BRASIL, 2003).
A PNH pressupõe, para sua implementação, vários eixos de ações atualizadas: o das
instituições, o da gestão do trabalho, o do financiamento, o da atenção, o da educação
permanente, o da informação/comunicação e, finalmente, o da gestão da própria PNH, isto é,
o acompanhamento e avaliação sistemáticos das ações realizadas, estimulando a pesquisa
relacionada às necessidades do SUS na perspectiva da humanização. Nessa direção, uma das
ações propostas para 2004 a 2010 é a de instituir uma sistemática de acompanhamento e
avaliação da PNH articulada com outros processos de avaliação do Ministério da Saúde
(BRASIL, 2003).
36
5.3 MODERNIZAÇÃO E HUMANIZAÇÃO DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DO
PARÁ
Toledo (2002) afirma que a publicação da Repartição Sanitária Pan-americana, do
Escritório Regional da Organização Mundial da Saúde define o que chamava de hospital
Moderno como “uma instituição destinada ao diagnóstico e tratamento de doentes, internos e
externos, planejada, construída ou modernizada com orientação técnica; bem organizada e
convenientemente administrada consoante padrões e normas estabelecidas; geral ou
especializada; oficial ou particular, com finalidades diversas; grande ou pequena; custosa ou
modesta para atender os ricos, os menos afortunados, os indigentes e necessitados, recebendo
doentes gratuitos ou contribuintes; servindo ao mesmo tempo para prevenir contra a doença e
promover a saúde, a prática, a pesquisa e o ensino da medicina e da cirurgia, da enfermagem e
da dietética, e das demais especialidades afins”.
Nesse sentido, o arquiteto quando é contratado para intervir na construção de hospital
enfrenta a complexidade dos problemas que caracterizam o projeto hospitalar, decorrentes da
própria edificação como também, da inserção destas unidades na área urbana. Devido a sua
escala e complexidade, a implantação de um hospital na estrutura urbana provoca impactos
físico-funcionais, muitos dos quais extrapolam o entorno imediato da edificação, atingindo
grandes áreas da cidade, bem como os aspectos de conforto ambiental, como as instalações,
clima, as vibrações e principalmente, o ruído urbano proveniente do espaço urbano.
Muitos hospitais estão localizados em áreas expostas a fontes de ruído externo, como o
ruído de tráfego das grandes cidades (PEREIRA, 2003). Esse fato pode ser observado no caso
da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará que está localizado no centro urbano de
Belém, no bairro do Umarizal, cercado por ruas de grande tráfego de pessoas, carros
particulares e coletivos.
37
Figura 2: Localização da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará. Fonte: Google maps, 2009, adaptado pela autora, 2010.
O bairro do Umarizal, atualmente faz fronteira com os bairros de São Braz, Nazaré,
Reduto, Telegrafo, Fátima e Pedreira, e de acordo com o Censo Demográfico (IBGE, 2010),
apresenta uma população de 30.100 habitantes. O bairro do Umarizal foi local de grandes
transformações, principalmente com a construção do prédio da Santa Casa de Misericórdia do
Pará, localizado na Avenida Generalíssimo Deodoro, em vizinhança com a Rua Diogo Moia,
Bernal do Couto e Travessa 14 de Março, que promoveu desenvolvimento urbano
ocasionando e o aumento do número de ruas, áreas publicas, além do aumento do fluxo de
transportes públicos e privados.
A Santa Casa de Misericórdia do Pará é um hospital da rede pública de saúde possui
em torno de 346 leitos, e é voltado ao atendimento de pacientes, de Belém e do interior do
Estado, em várias especialidades médicas. As enfermarias estudadas foram escolhidas tendo
em vista sua localização, três delas com janelas para as ruas - São Roque, Santana e Santa
Ludovina - e três com janelas para a parte interna do estacionamento: Frei Caetano, São
Francisco e São Paulo. Conforme planta de setorização abaixo:
38
1 –São Roque 2- Santa Ludovina 3- Santana I e II 4- São Paulo 5- Frei Caetano 6- São Francisco
Figura 3: Localização das Enfermarias estudadas. Fonte:Google, maps, 2010, adaptado pela autora, 2010
A Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará é um órgão da administração indireta,
vinculado à Secretaria de Estado de Saúde Pública. Foi certificada como Hospital de Ensino,
conforme Portaria Interministerial MS/MEC n° 2378 de 26 de Outubro de 2004 e efetivado
seu processo de contratualização junto ao SUS por meio da Portaria 2.859/MS, de 10 de
novembro de 2006. Tem como finalidades essenciais: a assistência, o ensino e a pesquisa, em
consonância com o perfil assistencial na atenção a saúde da criança, da mulher e do adulto,
prestando serviços ambulatoriais e de internação. É um hospital de referência na atenção à
gestante de alto risco e ao recém nascido. E tem como missão, de acordo com o relatório de
avaliação:
prestar assistência à saúde, inserida no SUS, atuando como hospital geral de ensino e de referência na atenção integral à saúde da mulher e da criança, na média e alta complexidade, com qualidade e de forma humanizada, articulada com as políticas públicas e em parceria com a Sociedade Civil. (FUNDAÇÃO SANTA CASA DE MISERICÓRDIA, 2008)
39
Segundo o mesmo relatório de 2008 a visão de futuro é “ser reconhecida pela
sociedade como Hospital Geral e de Ensino, que oferece assistência de excelência em Média e
Alta Complexidade na Saúde da Mulher e da Criança”.
A referência técnica de humanização é um serviço que está diretamente vinculado á
Gerência de Gestão de Pessoas, tendo como principal objetivo o fomento da Política Nacional
de Humanização da Atenção e Gestão do SUS-PNH, na Fundação Santa Casa de Misericórdia
do Pará.
Criada em Setembro de 2008, a referência técnica de Humanização foi instituída com
base no desejo da atual gestão de programar novas ações focadas na PNH nos diversos
serviços ofertados, considerando em especial, a valorização das ações existentes, as quais
podem ser citadas: as reformas de espaços físicos, priorizando a melhoria da ambiência; a
aquisição de equipamentos, móveis e utensílios; a criação de grupos de trabalho para
implementar novos serviços; a criação de espaço de interlocução com a implementação da
escuta dos usuários e servidores através da ouvidoria.
As ações do GTH (grupo de trabalho de humanização) são planejadas e
desempenhadas em parceria com diversos setores de todas as diretorias; por ser uma política
transversal, a PNH perpassa invariavelmente por todos os serviços e a construção coletiva e o
fomento da troca dos saberes é o que faz das ações da RT de Humanização uma nova forma
de processo de trabalho, estabelecendo uma rede interativa e participativa de atuação entre
diversos setores e serviços na Santa Casa.
Em 2008, 2009 e 2010 foram feitas reformas de espaços físicos, priorizando a
melhoria da ambiência; aquisição de equipamentos, móveis e utensílios; criação de grupos de
trabalho para implementar novos serviços – Nova Portaria; fomento de espaço de interlocução
dos servidores através das rodas de conversas, as quais ofereceram subsídios aos gestores para
planejar e executar ações visando a melhoria da assistência dos usuários do SUS e a
valorização do servidor; ações recreativas, visando integração dos servidores; implementação
da interlocução: escuta dos usuários e servidores através da ouvidoria, instituída oficialmente
em 2008; investimento na valorização dos servidores através de iniciativas da educação
continuada; organização de serviços: estratégia para enfrentamento do H1N1; oficinas
Temáticas; Grupo de Trabalho de Humanização (atualmente desmobilizado); integração com
a Gerência de Ensino; CINE VIDA; e formação de rede de capacitação - Projeto AMAM
(FUNDAÇÃO..., 2008).
40
Todos estes espaços hospitalares sofreram etapas de projetos arquitetônicos discutidos
com as equipes e chefias de cada setor, mas a Secretaria de Obras do Estado preocupou-se
com ambiência e obras físicas, não ressaltando a grande importância do conforto acústico nas
enfermarias.
A Santa Casa passou por um projeto, nos anos de 2004 a 2006, de modernização e
humanização dentro do conforto ambiental, como a revitalização de varias enfermarias,
sempre utilizando temas regionais e infantis. Ocorreu a construção com a parceria da Empresa
Vivo, de uma nova brinquedoteca para proporcionar melhor qualidade de vida às crianças
hospitalizadas.
Figura 4: Fotos referentes a brinquedoteca da Santa Casa de Misericórdia do Pará. Fonte: Grupo de trabalho de Humanização (GTH), 2010.
5.4 CONCLUSÃO
A escolha deste capítulo do estudo da PNH do SUS exigiu da pesquisadora
correlacionar o crescimento urbano com os impactos do ruído externo no processo de
internação nas enfermarias hospitalares.
Nesse sentido, devido a sua escala e complexidade, a implantação de um hospital na
estrutura urbana provoca impactos físico-funcionais, muitos dos quais extrapolam o entorno
imediato da edificação, atingindo grandes áreas da cidade, bem como os aspectos de conforto
ambiental.
41
No entanto, as dificuldades em relação ao conforto acústico foram evidenciadas no
decorrer do projeto piloto desta pesquisa, com ajuda de alunos voluntários do curso de
Terapia Ocupacional e Fisioterapia da UNAMA, através da aplicação de questionários
semiestruturados, comparando os impactos do conforto ambiental e acústico das enfermarias
conforme sua localização – interna ou externa - do hospital de estudo.
As realizações das visitas foram aceitas sem problemas por pacientes e gestores
hospitalares, inclusive pela gestora do GTH (Grupo de Trabalho de Humanização da Santa
Casa de Misericórdia do Pará), pois o fator humano deve se fazer sempre presente durante o
processo de hospitalização.
Em contrapartida, no momento da realização de pesquisa e observações diretas com os
acompanhantes e pacientes das enfermarias, verificou-se a ausência da preocupação na
ambiência relativamente ao item de conforto acústico. Considerando os dados capturados
através do questionário aplicado, pode ser confirmada a necessidade de propor um
instrumento de gestão de conforto acústico nos espaços hospitalares da rede pública.
Nos anos de 2004 a 2006 foi realizado um projeto de modernização e humanização nas
enfermarias que gerou um resultado apenas no conforto ambiental, nas cores das paredes e nas
comunicações visuais com temas regionais de flores e frutas.
A vivência e a participação da pesquisadora no grupo de trabalho de humanização nos
anos citados facilitaram o estudo e a conclusão de que foi feito apenas um trabalho no
conforto ambiental, deixando uma lacuna científica na área no conforto acústico, no sentido
de buscar a melhoria da qualidade de vida dos pacientes internados na rede pública.
Já em 2008 a 2010 foi criada a referência técnica de humanização da Santa Casa de
Misericórdia do Pará, com ações focadas nos servidores e pacientes, especificamente nas
reformas dos espaços físicos com melhorias na ambiência e equipamentos, sem preocupação
com o conforto acústico.
Assim concluímos que o referencial teórico deste capítulo é de fundamental
importância para o resultado desta pesquisa que vem contribuir, cientificamente, para
construção de novas alas hospitalares com projetos acústicos para melhor acolher os pacientes
e acompanhantes.
42
6 O RUÍDO
6.1 INTRODUÇÃO
Um dos mais graves problemas urbanos contemporâneos é o representado pela
poluição sonora ou ruídos urbanos, definido como o conjunto de todos os ruídos provenientes
de uma ou mais fontes sonoras, manifestadas ao mesmo tempo num ambiente qualquer. A
poluição sonora é causada, principalmente, pelo excesso de ruídos gerados pela circulação de
veículos e má localização de ruas, comércio e lazer (ARAÚJO; DINIZ; GOMES JÚNIOR,
2007).
O ruído é, hoje em dia, tratado como um problema grave de saúde pública. Alguns dos
efeitos mais frequentes do ruído traduzem-se em distúrbios psicológicos ou alterações
fisiológicas associadas ao stress e cansaço, dos quais resultam perturbações do sono e falta de
concentração, por exemplo, (LEVY; BEAUMONT, 2008).
Segundo os mesmos autores têm sido realizados vários estudos no sentido de
estabelecer uma relação entre o ruído e a incomodidade gerada na saúde pública, e com base
nesses estudos verifica-se que é muito difícil determinar uma relação causa-efeito, devido não
só às diversas situações acústicas como, também, à resposta de cada indivíduo face aos níveis
de ruído.
Para Russo (1999), o ruído pode ser conceituado, seguindo diferentes critérios de
classificação: subjetivamente (ruído como um som desagradável e indesejável); objetivamente
(um “sinal acústico originado da supervisão de vários movimentos de vibração com diferentes
frequências as quais não apresentam relação entre si); quantitativamente (definido de acordo
com seus atributos físicos indispensáveis para o processo de determinação de sua nocividade,
em função da sua duração no tempo, do espectro de frequência (em Hz) e dos Níveis de
Pressão Sonora (em dB); e qualitativamente (de acordo com a Norma ISSO 2204/1973).
De acordo com esta Norma os ruídos podem ser classificados segundo a variação do
seu nível de intensidade com o tempo em: Ruído contínuo (com variações de níveis
desprezíveis); Ruído intermitente (cujo nível varia continuamente de um valor apreciável);
Ruído de impacto e de impulso, apresenta-se em picos de energia acústica de duração inferior
a um segundo (FELDMAN; GRIMES, 1985).
43
Moraes et al (2004, p.1) afirmam que: estudos sobre o ruído urbano têm contribuído de forma definitiva para o controle da poluição sonora. As grandes cidades se caracterizam, em sua maioria, pela concentração excessiva de comércio e serviço nas áreas centrais. A conformação urbana dessas áreas não suporta a demanda acentuando diversos problemas, entre eles a poluição sonora, causada principalmente por fontes como o tráfego e o ruído proveniente da própria comunidade.
6.2 RUÍDO URBANO
6.2.1 Introdução
Saliba (2004) define o som como “qualquer vibração ou conjunto de vibrações ou
ondas mecânicas que podem ser ouvidas”. É gerado a partir de uma vibração das moléculas
em um meio, causando a propagação de uma onda de pressão. A movimentação dessas
moléculas é responsável em transmitir o som até o aparelho auditivo. Dois atributos principais
caracterizam o som: frequência e intensidade. A frequência relaciona-se a velocidade de
vibração ou ao número de ciclos completos que uma partícula executa em um segundo, sendo
expressa em ciclos por segundo ou Hertz (Hz). A orelha humana é capaz de detectar, em
média, sons entre 20 a 20.000Hz, sendo que a faixa mais importante para se compreender a
fala encontra-se entre 250 a 8.000Hz. A intensidade do som é representada pelo volume com
que as ondas sonoras são emitidas e chegam ao ouvido, medida em decibéis (dBA).
Em se tratando do ruído, a higiene do trabalho delimita-o como um tipo de som, porém
sendo um “som indesejável; onde o ruído, ou barulho, é a interpretação subjetiva e
desagradável ao som”. Considera-se, portanto, a poluição sonora como sendo sinônima de
ruído e não de som (GERGES, 2000; MACHADO, 2003; WHO, 1999; SALIBA, 2004).
Carmo (1999) descreve que os ruídos são sons que provocam desconforto
mental/físico, que resultam de vibrações irregulares que pode afetar o equilíbrio sonoro,
repercutindo sobre o sistema auditivo e as funções orgânicas.
As grandes cidades têm sido cada vez mais alvo de desconforto ambiental e de
significativa deterioração da qualidade de vida por excesso de ruído. As principais fontes de
ruído em veículos, maior contaminador do ambiente sonoro nas cidades, são unidades
propulsoras do motor, rolamento contato da roda com o asfalto, freios e vibrações e outra
44
fonte de ruído é o escape dos gases procedentes da combustão. Assim o ruído gerado pela
passagem do veiculo é a soma de toda essa série de fontes sonoras embora haja comprovação
da existência de diferenças de fontes sonoras que depende do tipo de veículo e seu regime de
condução (MORAES; LARA, 2004b).
Atualmente, as principais fontes sonoras relacionadas com o tráfego de pessoas e
mercadorias se encontram nos grandes centros urbanos. Sem dúvida, a fonte de ruído mais
importante nas zonas urbanas é o tráfego rodado, o qual se conceitua como o ruído mais
comum causado pelo tráfego de veículos nas ruas. Outra fonte de ruído é causada pela
indústria e comércio, assim como obras públicas e maquinários (MORAES; LARA, 2004b).
Uma das fontes mais relevantes nesta pesquisa é o ruído comunitário, pois em todas as
grandes cidades existem diversos tipos de ruído que não podem ser associados a uma única
fonte sonora, mais sim às diversas atividades desenvolvidas dentro e fora da área de estudo.
Segundo Moraes e Lara (2004b) os níveis do ruído gerado por uma mesma comunidade
sofrem variações em função da atividade específica da própria comunidade e das
comunidades vizinhas fixas ou flutuantes.
6.2.2 Ruído urbano e sustentabilidade nas cidades
Alberti (1997) considera que para a cidade ser sustentável torna-se necessário atuar nas
dimensões econômica, política, ecologia, social e espacial, através de instrumentos de gestão,
planejamento e política.
Souza (2004) diz que para alcançar a sustentabilidade há que se atender determinadas
exigências. Primeiro é necessário equilibrar as necessidades dos seres humanos com a
capacidade de suporte do planeta, ao mesmo tempo em que esta capacidade se estende as
gerações futuras e que possam continuar a existir.
Para a mesma autora, a mera sobrevivência não é o objetivo. O que se deseja é viver
em um ambiente que ofereça boa qualidade de vida, isso inclui toda a hierarquia das
necessidades. A exigência básica é a habilidade de viver em segurança, com uma vida
saudável e produtiva em harmonia com a natureza e com os valores culturais e espirituais
locais.
45
A WHO (1999) destaca que a poluição sonora poderá afetar adversamente futuras
gerações, considerando a degradação dos ambientes residenciais, sociais e de aprendizagem,
envolvendo perdas econômicas.
Moraes (2003) relata que há uma escassez de dados sobre o ruído ambiental nos
grandes centros urbanos, especificamente no que se refere à identificação das fontes de ruído.
Nas grandes cidades brasileiras observa-se uma acentuada degradação ambiental como
consequência da elevada taxa de ocupação do solo e grande concentração de atividades,
degradação esta que recebe influência também do aumento das fontes geradoras de ruído.
A poluição sonora constitui-se, não só um incômodo à população, mas também um
problema de saúde pública, que contribui para a perda da qualidade de vida da população e da
não sustentabilidade das cidades (SOUZA, 2004).
Segundo a mesma autora, o aumento da poluição sonora, seja em países desenvolvidos
ou em desenvolvimento, é insustentável, necessitando que seja reduzido e contido.
De acordo com Moraes e Lara (2004a) as principais fontes sonoras produzidas no
meio ambiente urbano estão relacionadas com o meio de transporte de pessoas e mercadorias,
através de três tipos de veículos: o rodado, o aéreo e o ferroviário. Destes, o tráfego rodado
constitui a maior fonte de ruído nas grandes cidades, variando entre 80 e 90 dB, para os carros
e 70 a 80 dB para motocicletas. Estes valores não são fixos e podem ter um considerável
aumento, uma vez que os níveis de ruído são produzidos por diferentes tipos de veículo,
concomitantemente.
Os veículos em circulação emitem ruídos que variam em função da velocidade, das
condições de pilotagem, da qualidade do veículo e da pavimentação, e podem ser modificados
em cruzamentos, semáforos e frenagens devido às variações de rotação do motor. Desta
forma, as mudanças, repentinas ou não, de velocidade dentro dos espaços urbanos geram
níveis de ruído intensos e variados a todo o momento, em marcha lenta, gerando ruídos que se
somam aos produzidos por outras fontes. A contaminação acústica produzida por veículos
com motores a gasolina pode ultrapassar 70 dB, e a diesel 85 dB. Os aviões vêm logo depois,
com grande emissão de energia sonora durante as decolagens e as aterrissagens (MORAES;
SACAVEM; GUIMARÃES, 2003).
O estudo de Nunes e Satter (2004) diz que em áreas que exigem maior rigor no
controle de ruído, como escolas e hospitais, é possível alterar as características do tráfego de
veículos a partir do nível de pressão sonora recomendado, considerando-se o conforto
acústico como um dos principais condicionantes do controle de tráfego urbano.
46
De acordo com Calixto; Diniz e Zannin (2001) os sinais de danos físicos e mentais por
exposição ao ruído não são facilmente percebidos, instalando-se lentamente e levando ao
estresse, à insônia, à problemas mentais. Devido as característica dos ruídos presentes nas
grandes cidades (ruídos de intensidade moderada) aqueles que estão expostos dificilmente os
identificam como agentes causadores do mal estar. As fontes de ruído, externas às edificações
são: ruído de tráfego de veículos, tráfego aéreo, de obras públicas, de indústrias, de atividades
urbanas comunitárias, de agentes atmosféricos.
Os mesmos autores também afirmam que, em algumas cidades brasileiras como
Curitiba (PR), estudos foram realizados sobre o nível de incômodo causado pelo ruído de
tráfego de automóveis; ações foram implantadas visando à redução da poluição sonora
urbana, dentre esses o Programa Silêncio, implantado no Estado do Paraná e estabelecido em
1990 foi uma iniciativa pioneira de lidar com o problema em nível nacional. Esse programa
constitui-se como um ponto de partida para a realização de diversas ações, dentre as quais as
mais importantes foram a elaboração da Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA), assim como a criação de Normas Técnicas, disciplinando as metodologias de
medição e avaliação de ruído. Não obstante, percebe-se uma falta de harmonização entre os
diplomas legais e regulamentares nos diferentes níveis de ação, local, regional ou nacional.
Considerando que o crescimento demográfico descontrolado nos centros urbanos acarretam
uma concentração de diversos tipos de fontes de ruído excessivo que possa interferir na saúde
e bem-estar da população.
Carneiro (2001) salienta que a Norma NBR 10.151 “Acústica – Avaliação do ruído
áreas habitadas visando o conforto da comunidade – Procedimento” da ABNT, em vigor
desde 1º de Agosto de 2000, fixa condições exigíveis para a avaliação da aceitabilidade do
ruído em comunidades independente da existência de reclamações.
6.2.3 Panorama do ruído urbano no mundo
Segundo Silva (2009), o excesso de ruído ambiental parece inevitável na medida em
que há aumento do número de atividades e de fontes geradoras de ruído, particularmente no
meio urbano. Sem controle os níveis de quietude e de silêncio serão progressivamente
rebaixados. Embora as grandes cidades do mundo como Lisboa, em Portugal e Paris na
França tenham legislação específica para o ruído, estas têm se mostrado eficientes. Em Nova
47
York há um número grande de multas e advertências expedidas contra os infratores, mas a
cidade continua barulhenta.
No Brasil as cidades como Belém, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, de acordo
com Costa (1997), são alvos frequentes de matérias jornalísticas devido à poluição sonora.
Na União Européia aproximadamente 40% da população é exposta ao ruído de tráfego
rodoviário com níveis de pressão sonora excedendo a 55 dBA no período diurno e 20%
expostas a níveis superiores a 65 dBA. Considerando todas as fontes de ruído de transporte,
estima-se que mais da metade da população vive em zonas nas quais o conforto acústico não é
assegurado em suas residências. Durante o período noturno mais de 30% da população está
exposta a níveis superiores a 55dB (A), provocando distúrbios no sono (WHO, 1999).
Ainda segundo a WHO (1999), a poluição sonora também é grave em países em
desenvolvimento, sendo causada principalmente pelo ruído de tráfego. No Brasil, apesar da
reduzida disponibilidade de dados sobre exposição sonora da população, de acordo com
levantamentos sonoros realizados em algumas de suas cidades, verifica-se que a população é
exposta a níveis de ruído elevados.
As grandes cidades, sejam elas em países desenvolvidos ou em via de
desenvolvimento, apresentam uma série de fontes de ruído associadas aos processos de
expansão econômico e tecnológico que tem favorecido seu crescimento e aumentado os níveis
de qualidade de vida, fato cada vez mais relevante para aferir a capacidade de atração de
inversão que uma cidade possui (MORAES; SIMON, 2008).
6.2.4 Ruído urbano em Belém
De acordo com Moraes e Lara (2004a) cada vez mais, as grandes cidades têm sido
alvo de desconforto ambiental e de significativa deterioração da qualidade de vida por excesso
de ruído. O ambiente urbano é composto de espaços construídos que são acusticamente ricos.
A cidade de Belém foi palco de um crescente processo, desordenado e caótico de
urbanização, em que sofreu grandes alterações nos parâmetros ambientais, em especial em sua
área central, intensamente edificada. Esse fato ocorreu pelo acelerado crescimento e com
ausência de um planejamento do meio físico, o que influenciou na diminuição da qualidade
sonora e de vida local (MORAES; LARA, 2004b).
48
Esse desenvolvimento e crescimento da área provocaram um aumento significativo no
ruído urbano da área do entorno do bairro. Pesquisas realizadas por Moraes e Lara (2004a)
para a elaboração do Mapa Acústico de Belém (MAB) comprovaram que no bairro do
Umarizal, onde está localizado o objeto de estudo desta pesquisa, os índices de poluição
sonora apresentavam em 2004 valores superiores aos recomendados pela legislação brasileira
NBR 10151/2000. (ABNT, 2000)
Na pesquisa realizada pelo Mapa Acústico de Belém foram feitas medições em 15
pontos do bairro do Umarizal, distantes 400 metros entre si, nos intervalos dos horários de 7
às 22 horas, com média variando entre 69 dB e 72 dB. Os horários mais críticos com relação a
poluição sonora foram às 8h, 15h, 18h e 19h sendo considerados intolerantes, nos demais
horários a poluição sonora foi considerada intensa pelas autoras. (MORAES; LARA, 2004a).
Figura 5: Mapa acústico de Belém do bairro do Umarizal. Fonte: Moraes; Simon, (2008).
Conforme o quadro 1 abaixo, os Níveis de Pressão Sonora em dB (A) da Norma NBR
10.151/2000 para ambientes externos, os níveis máximos recomendados em áreas estritamente
residencial urbana ou de hospitais ou de escolas é de 50 dB (A) no período diurno e de 45 dB (A) para
o período noturno. Comparando com os níveis apresentados na figura 4 os Níveis de Pressão Sonora
observados nas proximidades do Hospital de referência variam entre 65 e 80 dBA, excedentes aos
recomendados pela Norma citada, comprovando, assim, a relevância dos índices para este estudo.
49
Tipos de áreas Ambientes Externos
Diurno Noturno
Área estritamente residencial urbana ou de hospitais ou escolas 50 dB (A) 45 dB (A)
Área mista, predominantemente residencial 55 dB (A) 50 dB (A)
Área mista, com vocação comercial e administrativa 60 dB (A) 55 dB (A)
Área mista, com vocação recreacional 65 dB (A) 55 dB (A)
Área predominantemente industrial 70 dB (A) 60 dB (A)
Quadro 1: Níveis de Pressão Sonora em dB (A) da NBR – 10151 para ambientes externos. Fonte: ABNT 10151/2000.
A área mista, predominantemente residencial, é aquela que apresenta, além de
moradias, estabelecimentos comerciais, tais como: restaurantes, bares abertos e fechados,
supermercados, farmácias, entre outros (SOMMERHOFF, 2002; SALIBA, 2004).
6.3 O RUÍDO HOSPITALAR
6.3.1 Introdução
Em princípio, um hospital deveria ser um ambiente silencioso, acolhedor e de conforto
ambiental e humanizado que proporciona as melhores condições possíveis para o
restabelecimento da saúde dos seus usuários.
A urbanização acelerada tem colocado alguns hospitais no centro das grandes
metrópoles e sujeitos, portanto, as consequências dos efeitos da urbanização, do tráfego
decorrente de veículos e em especial, o ruído.
Para Pereira et al (2003) a poluição sonora ambiental é um problema que começou
com a Revolução Industrial, tornando-se hoje muito presente nos mais diversos ambientes. É
difícil encontrar um local onde não exista a presença de ruídos, seja na recreação, em casa,
nas ruas ou no trabalho e não é muito diferente nos ambientes hospitalares.
Nos hospitais, o avanço tecnológico traz como consequência níveis de ruído
potencialmente danosos (OTENIO; CREMER; CLARO, 2007). Muitos hospitais estão
localizados em áreas expostas a fontes de ruído externo, como o trânsito de grandes avenidas.
50
Todavia, muito do ruído no hospital provém de dentro do próprio ambiente, sendo as
principais causas de ruído interno nos ambientes hospitalares os equipamentos e a
conversação entre a equipe (PEREIRA et al, 2003).
Diversas fontes de ruído podem ser encontradas nesse ambiente, especialmente os
gerados pelos diferentes tipos de alarmes sonoros integrados aos modernos equipamentos.
Paixão (2006) afirma que os ruídos gerados nas unidades hospitalares é uma realidade
constatada, motivo de reclamações, e menciona que os hospitais, antes, ficavam isolados, mas
hoje estão envoltos pelos centros urbanos que possuem tráfego intenso de veículos.
6.3.2 Contextualização do ruído hospitalar e a saúde ocupacional
Russo (1999) relata que, o ruído gerado nos locais de trabalho, denominado ruído
laboral, assume um papel importante na vida dos nossos dias, por ser uma das principais
causas de doenças profissionais.
Assim sendo, nesta pesquisa tratar-se-á de analisar a interferência do ruído interno e
externo ao objeto de estudo sobre a comodidade dos pacientes ingressos.
A saúde ocupacional dos trabalhadores dos serviços da saúde é de suma importância,
tendo em vista que estes precisam estar bem física e psicologicamente para que dêem atenção
com qualidade ao paciente.
A saúde ocupacional (SO) de acordo com o comitê da Organização Internacional do
Trabalho - OIT e Organização Mundial da Saúde - OMS tem como finalidade “incentivar e
manter o mais elevado nível de bem-estar físico, mental e social dos trabalhadores em todas
as profissões; prevenir todo o prejuízo causado à saúde destes pelas condições de seu
trabalho; resumidamente adaptar trabalho a homem e cada homem ao seu trabalho”.
(SACRAMENTO; LOUREIRO, 2010)
No Brasil, a NBR 10.151/2000 da ABNT (ABNT, 2000) estabelece que o ruído em
áreas habitadas visando o conforto da comunidade, os níveis de ruído ideais para cinco tipos
de áreas urbanas e um tipo de área rural, totalizando seis áreas com usos e ocupações do solo
distintos. Esta norma estabelece o nível sonoro para ambientes internos de hospitais
(apartamentos, enfermarias, berçários e centro cirúrgico) em 35 a 45 dBA, sendo o primeiro
considerado desejável e o segundo, limite aceitável, considerando ainda o tempo de exposição
ao ruído. E os níveis de ruído hospitalar encontram-se, em sua maioria, elevados.
51
A NR 15 (BRASIL, 1978), estabelece a regulamentação dos limites de tolerância em
atividades e operações consideradas insalubres. Dentre essas, os limites de tolerância para
ruído contínuo ou permanente, os quais deverão ser medidos em dBA com o uso de
instrumento medidor de nível de pressão sonora, operando no circuito de compensação “A” e
circuito de resposta lenta (SLOW).
Essa norma estabelece, por exemplo, que um trabalhador pode ficar exposto a 85 dB
(A) por no máximo 8 horas, a exposição contínua a ruídos superiores pode provocar perdas
auditivas permanentes. De acordo com Russo (1999), a cada 5 dB acima de 85 dB o tempo de
exposição permitido reduz à metade. Logo, a exposição de um indivíduo a 90 dB será
permitida por período de, apenas, 4 horas considerando-se que o Ministério do Trabalho
recomenda, no máximo, exposição de oito horas de trabalho a níveis de 85 dB.
De acordo com Rodarte (2007 apud CARVALHO; PEDREIRA; AGUIAR, 2005, p.1)
os níveis de ruído intensos podem ter efeitos fisiológicos, tais como aumento na pressão
arterial, alterações no ritmo cardíaco, vasoconstrição periférica, dilatação das pupilas e
aumento na secreção de adrenalina. Estas perturbações podem reduzir a eficiência das
comunicações entre os profissionais e impedir o descanso e a reabilitação de pacientes em
fase de recuperação.
na perspectiva da saúde do trabalhador, os principais efeitos da exposição ao ruído no ambiente de trabalho referem-se à perda auditiva neurossensorial e irreversível, a alterações fisiológicas, a alterações do sono e a transtornos digestivos, vestibulares, neurológicos e comportamentais diversos, como irritação, cansaço, diminuição na produtividade, intolerância a ruídos, angústia, ansiedade, depressão e estresse. (ZAMBERLAN et al, 2008, p. 432).
6.3.3 O Ruído na Santa Casa de Misericórdia do Pará
Como já foi citado anteriormente, vários hospitais estão localizados em áreas expostas
a elevado nível de ruído urbano, agravado pelo tráfego de veículos, a exemplo disso, a
Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará na cidade de Belém, objeto de estudo deste
trabalho.
O Mapa Acústico de Belém (MORAES; LARA, 2004b) constatou que a Santa Casa
está localizada em uma zona acusticamente saturada da cidade, estando, diretamente afetada
pelo ruído de tráfego de veículos em todos os períodos do dia. O estudo mostra que os níveis
52
de ruído no entorno da Santa Casa fica entre 65 dBA e 70 dBA no período de 7 às 22 horas. A
principal fonte de ruído é o de tráfego rodado que é caracterizado por coletivos e veículos de
uso particular que trafegam pelas vias que contornam o bairro do Umarizal, onde a Santa Casa
de Misericórdia do Pará está localizada.
O confronto entre o estudo do Mapa Acústico de Belém e a Norma NBR – 10151 para
ambientes externos em áreas hospitalares demonstra claramente o diferencial estipulado pela
Norma e o apresentado em torno do hospital estudado. Estes dados são de importante
relevância para o objetivo da pesquisa do conforto acústico em zona urbana hospitalar.
6.4 EFEITO DO RUÍDO URBANO SOBRE A SAÚDE
6.4.1 Introdução
Ruídos são os sons que provocam desconforto mental / físico, que resultam de
vibrações irregulares que podem afetar o equilíbrio sonoro, repercutindo sobre o sistema
auditivo e as funções orgânicas (CARMO, 1999).
Então, o homem passou a se deparar com vários problemas de saúde consequentes dos
agentes de risco que começaram a aparecer cada vez mais, fatores físicos ambientais como
ruído em níveis elevados, que isolados ou conjuntamente causam danos a saúde do homem.
Araújo; Diniz; Gomes Junior (2007) relata que vários estudos relacionam diretamente
a poluição sonora com os distúrbios da saúde do cidadão urbano, principalmente aos
distúrbios do sono, por meio do estresse ou perturbação do ritmo biológico provocado pelo
ruído.
Segundo Russo e Santos (1993), som é uma modificação da pressão que ocorre em
meios elásticos, propagando-se em forma de ondas ou oscilações mecânicas, longitudinais e
tridimensionais. Resulta de um movimento vibratório de partículas materiais, muitos corpos
podem servir como fonte sonora, porém devem ter uma característica vibrátil. Também pode
ser definido como a sensação produzida quando as vibrações longitudinais de moléculas no
ambiente externo atingem a membrana timpânica, produzindo estímulo de som agradável ou
desagradável.
53
O ruído de modo geral pode provocar efeitos auditivos e extra-auditivos na saúde.
Nesta pesquisa a discussão será apenas sobre os efeitos do ruído no aspecto extra-auditivo
nos pacientes e acompanhantes entrevistados e internados no hospital estudado.
6.4.2 Efeitos extra-auditivos do ruído na saúde
Os efeitos extra-auditivos são aqueles que afetam o sujeito ouvinte, dependendo
diretamente do quanto de contato com o ruído ele está exposto. São vistos também como um
conjunto de sinais que são consequências da exposição ao ruído, sendo classificados como
efeitos subjetivos. (KWITKO, 2001; NUDELMAN et al 2001; SALIBA, 2004).
Os mesmo autores dizem que esses sinais podem ser atribuídos ao cansaço físico e
mental decorrente da exposição ao ambiente laboral ou de lazer sob condição ruidosa, que não
é confortável. São manifestações devido ao estresse sobre a pessoa e à sua fatigabilidade. Isto
é explicado pelo fato do ruído agir como um potente estímulo para estabelecer uma conexão
com o sistema nervoso no sentido de manter um estresse crônico.
Conforme Cândido (2002), quando uma pessoa é submetida a altos níveis de ruído,
existe a reação de todo o organismo a esse estímulo. As alterações na resposta vegetativa
(involuntária ou inconsciente) são: alterações fisiológicas, mudanças bioquímicas, efeitos
cardiovasculares.
O mesmo autor afirma que as principais alterações fisiológicas reversíveis são:
dilatação das pupilas, hipertensão sanguínea, mudanças gastrointestinais, reação da
musculatura do esqueleto, vasoconstricção das veias. As principais mudanças bioquímicas
são: mudanças na produção de cortisona, na produção de hormônio da tiróide, na produção de
adrenalina, na glicose sanguínea, na proteína do sangue, fracionamento dos lipídios do
sangue. Os efeitos cardiovasculares são: aumento do nível de pressão sangüínea sistólica e
diastólica, hipertensão arterial. A figura 6 abaixo ilustra os efeitos do ruído sobre o corpo
humano segundo Candido (2002).
54
Figura 6: Efeitos do excesso de ruído sobre o organismo. Fonte: Candido, 2002.
De acordo com Cândido (2002), quanto ao bem estar das pessoas, o ruído pode ser
analisado de várias formas, como: exposição ao ruído no ambiente comunitário (níveis mais
baixos que os ocupacionais, alto grau de incômodo - fator adicional de estresse. Em ensaios
com 1.000 pessoas as pessoas submetidas a níveis maiores que 70 dB (A), houve alto índice
de hipertensão arterial, o grupo mais suscetível é o de pessoas entre 29 e 39 anos.
O efeito do ruído durante o sono depende do estímulo sonoro, sua intensidade, da
largura banda, duração, frequência, como também da idade da pessoa. Como efeitos primários
ocorreram aumento da frequência cardíaca, vaso constrição periférica, movimentação do
corpo; com aumento do nível de ruído, acima de 39 dBA há uma diminuição do sono; com
aumento do nível de ruído, ao atingir 64 dBA 5 % das pessoas já haviam acordado, e com 97
dBA 50 % acordaram. Como efeitos secundários (no dia seguinte) ocorreram: mudança na
disposição, mudança no rendimento, perda da eficiência, queda de atenção, aumento do risco
de acidentes (CÂNDIDO, 2002).
O autor afirma ainda que quanto aos efeitos sociológicos quanto a reação da
comunidade são mais comuns a irritação geral e incômodo, perturbação na comunicação
conversação, telefone, rádio, televisão, prejudica o repouso e o relaxamento dentro e fora da
residência, perturbação do sono, prejudica a concentração e performance, sensação de
vibração, associação do medo e ansiedade, mudança na conduta social.
Toledo et al (1983) enfatizam que o ruído altera o comportamento do indivíduo, uma
vez que interfere em atividades que exijam atenção, concentração mental e vigília. Em
constante exposição a níveis excessivos de ruído, o organismo pode chegar à estafa física e
mental que, por sua vez, ocasionam outras alterações psicossomáticas.
55
Segundo Russo e Santos (1993), um mecanismo também citado como envolvido na
gênese da hipertensão arterial induzida pelo ruído, é o de que este elemento pode provocar
uma variação da pressão arterial, através de uma adaptação estrutural dos vasos sanguíneos,
em resposta aos repetidos picos de variação da pressão arterial.
No entanto, alguns autores encontraram resultados contrários, como Santana e
Barberino (1995), que realizaram um estudo sobre a hipótese da relação ruído-hipertensão
arterial, utilizando um grupo de 276 pacientes, abordando dois aspectos: história referida de
exposição ao ruído, e diagnóstico de disacusia ocupacional (doença profissional decorrente da
exposição ao elevado Nível de Pressão Sonora continua). A hipertensão arterial foi definida
de acordo com os critérios da OMS, incluindo-se, também referência e tratamento anti-
hipertensivo. Constataram através da análise estratificada e da modelagem logística não
condicional dos dados obtidos, que a hipótese não foi comprovada, pois não se encontrou
diferenças entre a pressão sistólica ou diastólica ou entre as proporções de hipertensão entre
indivíduos expostos e não expostos ao ruído.
Kwitko (2001), Nudelman et al (2001), Zannin et al (2002), Saliba (2004) ressaltam
que com o indivíduo exposto continuamente ao ruído pode surgir alguns sintomas que são
como: irritabilidade, insônia, aumento dos batimentos cardíacos, hipertensão leve ou
moderada, alterações digestivas, ansiedade, nervosismo, redução da libido, aumento do tônus
muscular, dificuldade de repouso do corpo, tendência à apresentação de espasmos musculares,
aumento da frequência respiratória, vertigem e cefaléia.
Colleoni et al (1981) comentam que na faixa de frequências baixas, iniciando-se com
as infrassônicas (abaixo de 16Hz), os efeitos do ruído não são auditivos, e dentre eles estão
enjoos, vômitos, tonturas, etc. À medida que a frequência aumenta, os efeitos são diferentes e
podemos encontrar alterações na atenção e concentração mental, no ritmo respiratório, ritmo
cardíaco, aumento da irritabilidade, perda de apetite e estados pré-neuróticos.
Kitamura & Costa (1995) descrevem que a exposição à ruídos elevados, produz efeitos
não auditivos, por via polineural, não específica através das conexões colaterais na substância
reticular do tronco cerebral. Algumas teorias citam que o estímulo auditivo antes de atingir ao
córtex cerebral, passa por inúmeras estações subcorticais em particular das funções
vegetativas, o que explica os efeitos extra-auditivos do ruído.
Seligman (1993) relata que durante a exposição ao ruído e mesmo depois dela, muitos
pacientes apresentam distúrbios tipicamente vestibulares, descritos como: vertigens,
56
acompanhadas ou não por náuseas, vômitos e suores frios, dificuldades no equilíbrio e na
marcha, nistagmos, desmaios, e dilatação de pupilas.
Em experiências realizadas o nível mínimo de ruído que causou dilatação na pupila foi
de 75 dB. (JOACHIM, 1996).
Quick e Lapertosa (1981) descrevem casos em que foram demonstradas
experimentalmente, as influências do estímulo sonoro sobre a visão, manifestando-se por
dilatação das pupilas, motilidade e tremores nas mãos.
Estudo realizado por Lourenço et al (2009) em Unidades de Terapia Intensiva (UTI)
avalia que há um elevado risco ocupacional pela exposição crônica ao ruído, especialmente
quando há tarefas complexas. O ruído contínuo e excessivo superior a 85dB pode causar
efeitos fisiológicos e psicológicos, tais como hipertensão arterial, alteração no ritmo cardíaco
e no tônus muscular, cefaléia, perda auditiva, confusão mental, baixo poder de concentração e
irritabilidade.
Segundo Alexandry (1978) existe uma relação entre a intensidade do ruído e os efeitos
subjetivos. O som, de acordo com sua intensidade, pode apresentar respostas somáticas
(vasoconstrição periférica, hiporritimia ventilativa), química (secreção de substâncias
glandulares que produzem trocas químicas na composição do sangue, urina, e suco gástrico),
e psicológicas ( interferência no sono, tensão, irritabilidade e nervosismo).
Gerges (1997) acrescenta ainda: nervosismo, fadiga mental, frustração, irritabilidade,
mau ajustamento em situações novas, e conflitos sociais entre operários expostos ao ruído.
Gerges (2000); Sommerhoff (2002) e Zannin et al (2002) enfantizam que,
fisicamente, não há distinção na definição entre som e ruído. As diferenças entre eles
obedecem a critérios subjetivos de análise e percepção por parte do indivíduo. O som
apresenta diferentes características físicas, porém só pode ser interpretado como ruído quando
afeta psicológica e fisiologicamente a saúde das pessoas. Para que isso ocorra, depende da
experiência auditiva do indivíduo, assim como sua opinião subjetiva sobre o mesmo.
6.5 CONCLUSÃO
A literatura permitiu entender que existem poucos estudos de ruído urbano na área
hospitalar. Segundo os autores citados os problemas ocasionam alterações na saúde da
população.
57
Embora vários estudos tenham sido realizados nos setores internos como nas UTI
(Unidades de Terapias Intensivas) constatamos nesta pesquisa a importância de estudarmos o
ruído externo urbano provocado pelo fluxo dos veículos e ambulâncias, considerando a
localização das enfermarias dos Hospitais nas grandes cidades. Entre eles destaca-se o
hospital Santa Casa de Misericórdia do Pará.
Com base no estudo do mapa acústico de Belém Pará no bairro Umarizal escolhemos o
nosso objeto de estudo nesta área, pois apesar do reconhecimento por parte do governo da
existência do problema, não observaram a relevância de um estudo acústico na revitalização
deste hospital.
A maioria dos autores relacionaram que o efeito do ruído provoca alterações,
fisiológicas, sociais e psíquica, chegando a alterar a saúde e o comportamento do individuo.
Em termos metodológicos, a literatura destas bibliografias citadas verifica-se que os estudos
dos profissionais e pacientes da saúde não contemplam as percepções das fontes do ruído com
seu bem-estar físico e social, com seu meio ambiente e qualidade de vida.
58
7 RESULTADOS
7.1 DESCRIÇAO DAS ENFERMARIAS
Neste capítulo são analisados os dados coletados no questionário, os quais foram
demonstrados através de tabelas e gráficos. Além disso, foram utilizados testes estatísticos
aplicados no cruzamento dos dados da pesquisa para relacionar as variáveis estudadas.
Os dados foram discutidos e comparados com a literatura já existente sobre o tema,
considerando-se as características de cada enfermaria, como localização, sua especialidade
clinica e interferências.
7.1.1 Enfermaria São Roque (entrevistados 50 usuários: 24 pacientes e 26 acompanhantes)
É uma enfermaria de clínica médica adulta de uso misto, possui vinte e seis leitos, tem
um quadro fixo de funcionários de oito servidores por turno. O tempo de internação é de
aproximadamente 29 dias (segundo informe do censo da enfermaria). A enfermaria está
localizada no limite lateral do hospital, com janelas voltadas diretamente para as ruas (R.
Oliveira Belo e R.Quatorze de Março), que a contornam.
Nesta enfermaria, a medição efetuada com sonômetro no estudo comparativo,
evidenciou um ruído maior em comparação a enfermaria Frei Caetano, pois além da conversa
dos acompanhantes e pacientes, existe, bem próximo, uma obra do próprio hospital, em
construção, que contribui como mais um fator de interferência do ambiente. O barulho
proveniente de carros, de buzinas e de carros-som é muito alto, pois esta enfermaria encontra-
se em frente de uma rua, e são utilizados ventiladores antigos e barulhentos.
59
7.1.2 Enfermaria Frei Caetano (entrevistados 41 usuários: 16 pacientes e 25
acompanhantes)
É uma enfermaria de clínica cirúrgica de uso misto, possui quatorze leitos, apresenta
um quadro fixo de funcionários de quatro servidores por turno. O tempo médio de internação
é de 28 dias (segundo informe do censo da enfermaria). A enfermaria está localizada na parte
interna do hospital, possui climatização com ar condicionado e não sofre influência do ruído
externo, pois as janelas e portas permanecem fechadas o dia inteiro, abafando o ruído externo
das obras do prédio ao lado. Embora localizada perto do estacionamento, verificou-se um
ambiente agradável, calmo, com poucos leitos, sem grande movimentação de pessoas e não há
interferência do ruído urbano.
7.1.3 Enfermaria São Francisco (entrevistados 28 usuários:1 pacientes e 27 acompanhantes)
É uma enfermaria de cirurgia pediátrica, de localização interna, perto do
estacionamento, calma, não há ruídos, apenas com circulação excessiva de pessoas da própria
enfermaria (equipe médica, residentes, estagiários e funcionários de limpeza); mesmo assim, a
equipe evita barulhos no ambiente. Janelas e portas permanecem fechadas o dia inteiro devido
à central de ar, o que abafa o ruído externo, principalmente das obras ao lado do prédio. A
enfermaria possui 10 leitos e tempo médio de internação de 58 dias.
7.1.4 Enfermaria São Paulo (entrevistados 50 usuários:17 pacientes e 33 acompanhantes)
A enfermaria São Paulo é uma enfermaria de clinica médica masculina de localização
interna, também perto do estacionamento da Santa Casa. Observamos barulhos em vários
aspectos: há uma grande movimentação de funcionários, pacientes e acompanhantes
transitando o tempo todo e conversando alto; barulho de técnicos fazendo a manutenção de
todas as centrais de ar; elevado ruído proveniente de rádio escutado por adolescentes,
deixando alguns pacientes e acompanhantes estressados. A enfermaria contem vinte e dois
60
leitos, com a ocupação no decorrer da pesquisa de todos os leitos, e o tempo de permanência
variando entre 2 e 64 dias.
7.1.5 Enfermaria Santana (entrevistados 50 usuários: 30 pacientes e 20 acompanhantes)
A Enfermaria Santana presta assistência materna, a localização é externa, limite com a
Av. Generalíssimo Deodoro. Esta enfermaria é subdividida em duas alas: ala I, para as
puerperas sem comorbidades e a ala II, para as que apresentam problemas de saúde como
hipertensão arterial. Segundo as enfermeiras da ala II, no período na noite, se eleva a pressão
arterial de quase todas as mães. Tanto na ala I quanto na ala II, há grande circulação de
pessoas, tanto da equipe médica, como os próprios pacientes (mãe e bebê), acompanhantes e
visitantes, fazendo com que essa enfermaria seja muito ruidosa, além da interferência do ruído
urbano, por estar muito próximo de uma rua movimentada. A enfermaria contém 20 leitos,
com a ocupação no decorrer da pesquisa de todos os leitos, e com o tempo de permanência
variando entre um e 14 dias.
7.1.6 Enfermaria Ludovina (entrevistados 45 usuários: 1 paciente e 44 acompanhantes)
É uma enfermaria de referência para pediatria e clínica médica, de localização interna,
com grande movimentação de funcionários e estagiários, barulhos excessivos principalmente
durante os horários de visitas. Algumas mães e acompanhantes favorecem o barulho com
conversas nos corredores ou mesmo em torno dos leitos, sobretudo quando assistem à
televisão, pois às vezes o volume do áudio é excessivo. Fora isso, há o barulho normal da
enfermaria, incluindo gritos, choro e brincadeira de criança, pois a maioria é menor de 8 anos.
Também se percebe o barulho da sirene de ambulância, pois esta enfermaria localiza-se no
andar acima do estacionamento das ambulâncias do hospital. A enfermaria contém vinte e
quatro leitos, com a ocupação no decorrer da pesquisa de todos os leitos, e o tempo de
permanência de 1 a 36 dias.
61
7.2 ANÁLISES E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
As análises e discussões dos resultados desta pesquisa foram baseadas no cruzamento,
por métodos estatísticos, entre as variáveis e as características das seis enfermarias
selecionadas para o estudo:
- Enfermarias versus percepção dos participantes sobre o barulho;
- Enfermarias versus período do dia mais barulhento;
-Enfermarias versus interferências do ruído e sintomas percebidos pelos entrevistados
quanto a localização das mesmas,internas situadas no estacionamento e externas com janelas
para as ruas;
- Enfermarias versus ruído de tráfego, considerando a análise de correspondência
(carros, buzinas, caminhões, ônibus, ambulâncias e sirenes, carros som).
As reflexões dos resultados foram realizadas com embasamento na literatura
pertinente ao assunto, pesquisada nas referências bibliográficas citadas anteriormente nesta
dissertação.
7.2.1 Perfil/Deficiência Auditiva
A tabela 1 apresenta o perfil dos usuários entrevistados quanto ao sexo e problemas
quanto a categoria deficiência auditiva, se paciente ou acompanhante, apenas com finalidade
ilustrativa para auxiliar o entendimento dos resultados que se seguirão.
62
Tabela 1: Características dos participantes do estudo.
*Falta de informação em 2 pacientes Fonte: Pesquisa de campo, 2010. Sem significância estatística
Na Tabela 1 e 2 dos 264 (100%) indivíduos entrevistados, 50 (18,94%) são da
enfermaria Santana, sendo 30 (60,00%) pacientes e 20 (40,00%) acompanhantes. Na
enfermaria Santa Ludovina foram entrevistados 45 (17,05%) indivíduos, sendo apenas 1
paciente respondente ao questionário e 44 acompanhantes. Dos 41 (15,53%) entrevistados na
Frei Caetano, 16 foram pacientes e 25 foram acompanhantes. Na enfermaria São Francisco
foram, no total 28 (10,61%), sendo 1 paciente e 27 acompanhantes. Dos 50 (18,94%)
indivíduos da São Roque, 24 foram pacientes e 26 acompanhantes e na São Paulo, dos 50
(18,94%) foram entrevistados 17 pacientes e 33 acompanhantes. Quanto ao sexo, a maioria é
feminino, e quanto à categoria de deficiência auditiva, em resposta à pergunta: “você possui
algum problema auditivo?”, a maioria (84,09%), respondeu que não. Nas respostas
afirmativas à pergunta “você tem algum tipo de problema auditivo?”, a maioria foi surdez,
seguidas de dor auditiva e zumbido. Os dados demonstrados apresentam apenas uma análise
ilustrativa e subjetiva sem significância estatística.
Variável N %
Identificação Paciente 89 33,71 Acompanhante 175 66,29 Total 264 100 Sexo Masculino 51 19,32 Feminino 213 80,68 Total 264 100 Possui algum problema auditivo? Sim 42 15,91 Não 222 84,09 Total 264 100 Tipo de problema auditivo* Dor auditiva 11 27,50 Irritação 01 2,50 Zumbido 09 22,50 Surdez 17 42,50 Saída de líquido 02 5,00 Total 40 100
63
Quando perguntados se teriam alguma queixa de problema auditivo, a grande maioria,
222 entrevistados, declarou que não, a enfermaria Santana foi a que apresentou maior número
de respostas negativas (46), seguida por Santa Ludovina e São Paulo, ambas com 41 cada. A
enfermaria São Francisco foi a que menos teve casos negativos de problema auditivo, apenas
22; mesmo assim, bem superior ao número de pacientes que declararam ter algum problema
auditivo (06). Em relação aos pacientes que disseram haver alguma queixa de problema
auditivo, pode-se considerar como baixo o número total, apenas 42 casos de 264
entrevistados. A enfermaria São Roque foi a que apresentou maior número de casos positivos
(11) e a que apresentou menor número foi a Santana, apenas 04
Como observado na tabela1, dos 42 entrevistados que se queixaram de algum
problema auditivo, 11 são da enfermaria São Roque, sendo a queixa mais frequente a surdez
(08 do total de 17 casos), em seguida vem a enfermaria São Paulo com 5 casos de surdez.
Outra queixa comum é a dor auditiva, tendo a Frei Caetano o maior número de casos (03 do
total de 11 casos). O zumbido também foi uma das maiores queixas (09 do total de 42 casos).
Tabela 2: Distribuição dos participantes por enfermaria.
Paciente Acompanhante TOTAL Enfermaria
N % N % N %
Santana 30 60,00 20 40,00 50 18,94
São Roque 24 48,00 26 52,00 50 18,94
Santa Ludovina 01 2,22 44 97,78 45 17,05
Frei Caetano 16 39,02 25 60,98 41 15,53
São Francisco 01 3,57 27 96,43 28 10,61
São Paulo 17 34,00 33 66,00 50 8,94
TOTAL 89 33,71 175 66,29 264 100
Fonte: Pesquisa de campo, 2010. Sem significância estatística
Na tabela 2, também se observa o predomínio de acompanhantes entre os usuários
entrevistados, sobretudo nas enfermarias Santa Ludovina e São Francisco, pois são
respectivamente enfermarias para puerperas e crianças, onde os acompanhantes são, em geral,
culturalmente suas mães.
64
7.2.2 Conforto acústico
Na tabela 3 são apresentados os resultados do cruzamento entre as enfermarias e a
opinião dos entrevistados quanto ao fato da enfermaria ser ou não barulhenta, bem como, o
resultado do teste estatístico Qui-quadrado para investigar a relação entre estas variáveis.
Tabela 3: Percepção dos participantes sobre o barulho nas enfermarias.
Você acha esta enfermaria barulhenta? SIM NÃO Enfermaria N % N %
Santana 16 32,00 34 68,00 São Roque 09 18,00 41 82,00 Santa Ludovina 17 37,78 28 62,22 Frei Caetano 05 12,20 36 87,80 São Francisco 01 3,57 27 96,43 São Paulo 09 18,00 41 82,00 TOTAL 57 21,59 207 78,41 Fonte: Pesquisa de campo, 2010. p< 0.05 pelo teste do Qui-quadrado p = 0,0024) Estatisticamente Significante
O nível descritivo (p = 0.0024) do teste não paramétrico Qui-quadrado de
independência indica que há relação estatisticamente significante entre a variável “Você
acha essa enfermaria muito barulhenta” e as enfermarias estudadas ao nível de significância
= 0.05. Dentre as enfermarias estudadas, as que apresentaram maior número de respostas
negativas, ou seja, menos barulhenta, foram a São Francisco (96,43%), Frei Caetano (87,80%)
e a São Paulo, 41 (82%). As enfermarias mais barulhentas são Santa Ludovina (37,78%),
Santana (32%) e São Roque(18%)
Observa-se que (21,59 %) dos dados indicam que os usuários entrevistados acham as
enfermarias barulhentas, porcentagem não desprezível frente o desconforto que é produzido.
As medidas estatísticas têm significado que foram aceitáveis, ou seja, afirmando não parecer
adequado que um hospital seja barulhento, pois os usuários o procuram para reabilitar sua
saúde em um ambiente tranquilo e acolhedor.
As enfermarias Santa Ludovina e Santana são de especialidade clinica materno-
infantil, de modo que o ruído percebido pelos entrevistados é de predominância interna, como
por exemplo, choro das crianças e conversa dos acompanhantes e funcionários, que compõem
o ruído de fundo, o qual neste estudo foi avaliado por meio subjetivo. Já pela ABNT
65
10152/2000, a definição técnica de ruído de fundo corresponde: “a média dos mínimos níveis
de ruído de um ambiente na ausência da fonte objeto de estudo, no horário e ambiente
considerados, ignorando-se eventuais ruídos transitórios tais como os de veículos
automotores, aeronaves, fontes passageiras dignas de nota, etc.”
Vale ressaltar que a enfermaria Santana está localizada na lateral externa do hospital,
de forma que o ruído urbano contribui com nível de ruído global nesta enfermaria.
O período mais barulhento cruzado com cada enfermaria de acordo com os
entrevistados e o resultado do teste G utilizado para investigar a existência de relação
significativa entre estas variáveis são apresentados na tabela 4
Tabela 4: Período do dia que percebem a enfermaria mais barulhenta.
MANHÃ TARDE NOITE
Enfermaria N % N % N %
Santana 10 62,50 2 12,50 4 25,00
São Roque 6 66,66 1 11,11 2 22,23
Santa Ludovina 11 64,70 2 11,77 4 23,53
Frei Caetano 4 80,00 0 0,00 1 20,00
São Francisco 0 0,00 0 0,00 1 100,00
São Paulo 3 33,33 4 44,44 2 22,23
TOTAL 34 59,65 9 15,79 14 24,56
Fonte: Pesquisa de campo, 2010. p< 0.05 pelo teste do Qui-quadrado, p< 0,0001 Estatisticamente Significante
Segundo o teste do qui-quadrado envolvendo o total dos usuários que responderam a
este quesito, verificou-se com significância estatística (p<0,0001). Os dados ilustram que o
turno da manhã como o mais barulhento, especificamente na enfermaria Frei Caetano, que
apresentou maior número de indicações, com 4 (80,00%). Em relação ao turno da tarde, a
enfermaria São Paulo a mais indicada, com 04 opiniões (44,44%). No turno da noite, as
enfermarias Santana e Santa Ludovina as mais apontadas como barulhenta (04 indicações
cada). A enfermaria São Francisco indica a menos barulhenta independente do turno.
66
7.2.3 Interferência/sintomas
A tabela 5 apresenta o cruzamento entre o grau de estresse provocado pelo ruído de
rua nos participantes, de acordo com a localização das enfermarias.
Tabela 5: Grau de estresse do provocado pelo ruído de rua nos participantes, de acordo com a
localização das enfermarias. Pouco (pouco/regular) Forte (forte/muito forte) Enfermarias
N (%) N (%) Internas Frei Caetano 40 (97,56) 1 (2,44) São Francisco 27 (96,42) 1 (3,57) São Paulo 49 (98,00) 1 (2,00) Total 116 (97,47) 3 (2,53) Externas Santana 47 (94,00) 3 (6,00) São Roque 42 (84,00) 8 (16,00) Santa Ludovina 41 (91,11) 4 (8,89) Total 130 (89,66) 15 (10,34)
Fonte: Pesquisa de campo, 2010. p< 0,05 entre as categorias enfermaria interna x externa pelo teste do Qui-quadrado, p = 0,012. Estatisticamente Significante.
Segundo o nível descritivo (p = 0,012) teste do Qui quadrado pode-se dizer que há
significância estatística para sugerir que existe relação entre a variável “O ruído da rua lhe
provoca estresse?” e as enfermarias ao nível de significância = 0.05. A maioria dos
entrevistados considera como Pouco (246) o estresse causado pelo ruído da rua. Dos 18
indivíduos que declararam como Forte, 8 indicaram a enfermaria São Roque e 4 a Santa
Ludovina. Como Muito Forte destaca-se a enfermaria Santana com 3 (50,00%) das 6
observações. Relevante destacar que as indicações Forte e Muito Forte relacionam-se com as
enfermarias cujas janelas se localizam abertas para as ruas, demonstrando que o ruído provoca
estresse nos usuários entrevistado, dados estes de relevância na pesquisa como comprovação
cientifica.
A análise é afirmativa em relação do incômodo gerado pelo ruído produzido na rua
com o grau de estresse dos usuários das enfermarias, estes declararam, de forma comprovada,
que a interferência resulta especialmente do ruído gerado pelo tráfego de veículos. Levy;
67
Beaumont (2008) afirmam que a intensidade do ruído está associada ao stress e ao cansaço,
dos quais resultam perturbações do sono e irritabilidade e dor de cabeça, por exemplo:
comprovado com dados relevantes e fidedignos que o ruído causa efeitos físicos na saúde do
individuo conforme Tabelas 6, 7 e 8.
Tabela 6: Perda do sono a noite por Enfermaria.
Pouco (pouco/regular) Forte (forte/muito forte) Enfermarias N (%) N (%)
Internas Frei Caetano 40 (97,56) 1 (2,44) São Francisco 25 (89,29) 3 (10,71) São Paulo 46 (92,00) 4 (8,00) Total 111 (93,28) 8 (6,72) Externas Santana 48 (96,00) 2 (4,00) São Roque 44 (88,00) 6 (12,00) Santa Ludovina 35 (77,78) 10 (22,22) Total 127 (87,59) 18 (12,41)
Fonte: Pesquisa de campo, 2010. p< 0,05 entre as categorias enfermaria interna x externa pelo teste do Qui-quadrado, p = 0,0293. Estatisticamente Significante.
De acordo com o nível descritivo (p = 0.0293) do teste não paramétrico Qui-quadrado
pode-se sugerir que há relação estatisticamente significativa entre a variável “Perda do sono
a noite” e as enfermarias estudadas ao nível de significância = 0.05, sendo a enfermaria
Santana a que apresentou maior número de casos de pessoas com Regular perda de sono,
permanecendo com janelas abertas durante todo o período diurno. Quanto a Forte e Muito
Forte perda do sono, foram destacadas Santa Ludovina e São Roque, todas relacionadas com
ruído urbano.
68
Tabela7: Intensidade de dor cabeça por Enfermaria. Pouco (pouco/regular) Forte (forte/muito forte) Enfermarias
N (%) N (%) Internas Frei Caetano 41 (100) 0 (0,00) São Francisco 26 (92,86) 2 (7,14) São Paulo 47 (94,00) 3 (6,00) Total 114 (95,80) 5 (4,20) Externas Santana 48 (96,00) 2 (4,00) São Roque 45 (90,00) 5 (10,00) Santa Ludovina 37 (82,22) 8 (17,78) Total 130 (89,66) 16 (11,03)
Fonte: Pesquisa de campo, 2010. p< 0,05 entre as categorias enfermaria interna x externa pelo teste do Qui-quadrado, p = 0,0425. Estatisticamente Significante.
De acordo com o nível descritivo (p = 0.0425) do teste não paramétrico G pode-se
dizer que há evidências estatísticas suficientes para sugerir que existe relação entre a
variável “Dor de cabeça” e as enfermarias ao nível de significância = 0.05, sendo a
enfermaria São Paulo a que apresentou maior número de casos de pessoas com Regular
intensidade de dor de cabeça. Já Santa Ludovina e São Roque responderam que a intensidade
é Forte e Muito Forte. Demonstrando resultados relevantes quanto ao posicionamento de cada
enfermaria e suas interferências do ruído externo.
69
Tabela 8: Irritabilidade por Enfermaria. Pouco (pouco/regular) Forte (forte/muito forte) Enfermarias
N (%) N (%) Internas Frei Caetano 39 (95,12) 2 (4,88) São Francisco 28 (100) 0 (0,00) São Paulo 46 (92,00) 4 (8,00) Total 113 (94,96) 6 (5,04) Externas Santana 43 (86,00) 7 (14,00) São Roque 42 (84,00) 8 (16,00) Santa Ludovina 33 (73,33) 12 (26,67) Total 118 (81,38) 27 (18,62)
Fonte: Pesquisa de campo, 2010. p< 0,05 entre as categorias enfermaria interna x externa pelo teste do Qui-quadrado, p = 0,0330. Estatisticamente Significante.
O nível descritivo (p = 0.0330) do teste não paramétrico G indica haver relação
estatisticamente significativa entre a variável “Irritabilidade” e as enfermarias estudadas ao
nível de significância = 0.05, sendo a enfermaria São Paulo a que apresentou maior número
de casos de pessoas com Regular irritabilidade. Quanto às localizadas na parte externa:
Santana, Santa Ludovina e São Roque apresentaram maior números de casos dos
entrevistados com Forte e Muito Forte de irritabilidade.
De acordo com WHO (1999), isto se deve ao fato que a poluição sonora causa efeitos
adversos à saúde humana: efeitos diretos ou efeitos primários (ex: incômodos, interferência
com a comunicação pela fala, entre outros); efeitos cumulativos ou efeitos secundários (ex:
estresse, risco de hipertensão, e infarto); além de efeitos sócio-culturais, estéticos e
econômicos (ex: isolamento social, queda da qualidade acústica na vizinhança, e depreciação
do valor do imóvel, entre outros). A poluição sonora é considerada a terceira maior forma de
poluição, uma das mais difundidas forma de contaminação encontrada na sociedade moderna.
A grandeza do problema tem exigido soluções para o controle do ruído em razão dos seus
efeitos.
Os dados das tabelas 5, 6, 7, 8 mostram que o posicionamento das enfermarias
externas com as janelas abertas para as ruas expostas ao ruído do tráfego, multiplica ou eleva
a percentagem dos usuários entrevistados quanto a percepção da intensidade Forte e Muito
Forte do estresse, perda do sono, dor de cabeça e irritabilidade.
A percepção do grau de estresse nas enfermarias internas (2,53%) é quatro vezes
menor do que nas externas (10,34%). A perda do sono de (6,72%) nas internas é duas vezes
70
menor do que nas externas (12,41%), a intensidade da dor de cabeça (4,20%) nas internas é
três vezes menor que nas externas (11,03%). Quanto à irritabilidade, o percentual das internas
(5,04%) é menor do que nas externas (18,62%).
7.2.4 Ruído do tráfego
O resultado do cruzamento da variável “ruído dos carros” com as enfermarias, bem
como, o resultado do teste G para estudar a relação entre estas variáveis são apresentados na
tabela 9
Tabela 9: Percepção do ruído dos carros por enfermaria. Pouco Regular Forte Muito Forte
Enfermaria N (%) N (%) N (%) N (%) Santana 34 (68,00) 9 (18,00) 3 (6,00) 4 (8,00) Santa Ludovina 43 (95,56) 0 (0,00) 2 (4,44) 0 (0,00) Frei Caetano 39 (95,12) 2 (4,88) 0 (0,00) 0 (0,00) São Francisco 26 (92,86) 1 (3,57) 1 (3,57) 0 (0,00) São Roque 32 (64,00) 7 (14,00) 6 (12,00) 5 (10,00) São Paulo 42 (84,00) 4 (8,00) 1 (2,00) 3 (6,00) TOTAL 216 (81,82) 23 (8,71) 13 (4,92) 12 (4,55)
Fonte: Pesquisa de campo, 2010. P< 0,05 (Teste G; p = 0,0004) Estatisticamente significativa
Segundo o nível descritivo (p = 0.0004) do teste não paramétrico G pode-se sugerir
que há relação estatisticamente significativa entre a variável “Ruído dos carros” e as
enfermarias estudadas ao nível de significância = 0.05, tendo as enfermarias Santana e São
Roque mais indivíduos que consideraram como Muito Forte e Forte o incômodo provocado
pelo ruído dos carros.
A maioria dos pacientes e acompanhantes entrevistados considera como “Pouco” o
incômodo causado pelo ruído dos carros 216 (81,82%). A enfermaria Santa Ludovina e São
Paulo foram as que tiveram maior número de indivíduos que consideraram como “Pouco” o
incômodo causado pelos ruídos dos carros - 43 (95,56%) e 42 (84%) respectivamente. Dos 12
(4,55%) indivíduos que classificaram como “Muito Forte” o nível de incômodo, 5 (10%)
eram da enfermaria “São Roque”, 4 (8%) da “Santana” e 3 (6%) da “São Paulo”.
71
Esta análise permite afirmar que o ruído gerado pelo tráfego dos carros em torno das
enfermarias Santana e São Roque apresentam relação com a localização próxima às ruas,
sofrendo a interferência do ruído externo, e comprovam a intensidade do ruído Muito Forte e
Forte afirmado pelos entrevistados.
Estes dados foram afirmativos com o que a literatura expõe como um dos mais graves
problemas urbanos contemporâneos que é o representado pela poluição sonora ou ruídos
urbanos, definido como o conjunto de todos os ruídos provenientes de uma ou mais fontes
sonoras, manifestadas ao mesmo tempo num ambiente qualquer. A poluição sonora é causada,
principalmente, pelo excesso de ruídos gerados pela circulação de veículos e má localização
de ruas, comércio e lazer (ARAÚJO; DINIZ; GOMES JÚNIOR, 2007).
Na Figura 7 são apresentadas as associações estatisticamente significativas entre as
enfermarias estudadas e os níveis de incômodo causado pelo ruído dos carros que trafegam
nas suas proximidades por meio da Análise de Correspondência.
SantanaFrei CaetanoSão Paulo
São Francisco
São Roque Santa Ludovina
Pouco
Regular
Forte
Muito Forte
-1.2 -1.0 -0.8 -0.6 -0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6
Eixo 1 (85.61% de Inercia)
-0.4
-0.3
-0.2
-0.1
0.0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
Eixo
2 (1
1.99
% d
e In
erci
a)
Enfermaria Ruído dos carrosCritério Beta = 5.35
Figura 7: Análise de correspondência das variáveis enfermaria versus ruído dos carros. Fonte: Pesquisa de Campo, 2009/2010.
De acordo com a Figura 7 e a Tabela 9 observa-se que as enfermarias São Paulo, Frei
Caetano, São Francisco e Santa Ludovina possuem associação estatisticamente significativa
com a categoria “Pouco” incômodo causado com o ruído dos carros que trafegam nas suas
proximidades aos pacientes e acompanhantes das suas instalações. A enfermaria São Roque
72
possui maior associação com as categorias, “Regular”, “Forte” e “Muito forte” em relação ao
incômodo provocado pelo ruído dos carros e a enfermaria Santana apresenta maior associação
com as categorias “Regular” e “Muito Forte”.
A tabela 10 apresenta o cruzamento entre a variável nível de incômodo causado pelo
ruído dos ônibus e caminhões com a variável enfermaria e o resultado do teste G utilizado
para investigar a relação entre estas variáveis.
Tabela10: Percepção do ruído dos ônibus e caminhões por enfermaria.
Pouco Regular Forte Muito Forte Enfermaria N (%) N (%) N (%) N (%)
Santana 37 (74,00) 6 (12,00 2 (4,00) 5 (10,00) Santa Ludovina 44 (97,78) 1 (2,22) 0 (0,00 0 (0,00) Frei Caetano 36 (87,80) 4 (9,76) 1(2,44) 0 (0,00) São Francisco 27(96,43) 0(0,00) 1(3,57) 0 (0,00) São Roque 33(66,00) 5(10,00) 7(14,00) 5 (10,00) São Paulo 37(74,00) 6(12,00) 3(6,00) 4 (8,00) TOTAL 214(81,06) 22(8,33) 14(5,30) 14(5,30) Fonte: Pesquisa de campo, 2010. P < 0,05 (Teste G; p = 0,0324) Estatisticamente significativa
De acordo com o nível descritivo (p = 0.0.324) do teste não paramétrico G pode-se
dizer que há evidências estatísticas para sugerir que existe relação entre a variável “Ruídos
dos ônibus e caminhões” e as enfermarias ao nível de significância = 0.05.
A maioria dos usuários entrevistados 214 (81,06%) considera como “Pouco” o
incômodo causado pelo ruído dos ônibus e caminhões que trafegam nas suas proximidades.
As enfermarias Santa Ludovina e São Paulo foram as que apresentaram maior número de
indivíduos que consideraram como “Pouco” o incômodo causado pelos ruídos dos ônibus e
caminhões 44 (97,78%) e 37 (74,00 %) respectivamente. Dos 14 indivíduos que classificaram
como “Muito Forte” o nível de incômodo, 5 (10,00%) eram da enfermaria “Santana” e da São
Roque, cada e 4 (8,00%) da “São Paulo”.
Por meio da Análise de Correspondência foram identificadas as associações
estatisticamente significativas entre as enfermarias estudadas e os níveis de incômodo causado
pelo ruído dos ônibus e caminhões que trafegam nas suas proximidades sendo ilustradas essas
associações por meio da Figura 8.
73
Santana
Frei CaetanoSão Paulo
São FranciscoSão Roque
Santa Ludovina
Muito Forte
Pouco
Forte
Regular
-1.0 -0.8 -0.6 -0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6
Eixo 1 (80.43% de Inercia)
-0.6
-0.5
-0.4
-0.3
-0.2
-0.1
0.0
0.1
0.2
0.3
0.4
Eixo
2 (1
5.03
% d
e In
erci
a)
Enfermaria Ruído dos ônibus
e caminhõesCritério Beta = 4.45
Figura 8: Análise de correspondência das variáveis enfermaria e ruído dos ônibus e caminhões. Fonte: Pesquisa de Campo, 2009/2010.
Analisando as associações destacadas na Figura 8 e Tabela 10 observa-se que as
enfermarias Frei Caetano, Santa Ludovina e São Francisco possuem associação
estatisticamente significativa com a categoria “Pouco” incômodo causado pelo ruído dos
ônibus e caminhões que trafegam nas suas proximidades aos pacientes e acompanhantes das
suas instalações. As enfermarias Santana e São Paulo possuem maior associação com o
incômodo de intensidade “Regular” e “Muito Forte” e São Roque com “Forte” e “Muito
Forte”.
O cruzamento das variáveis, nível de incômodo causado pelo ruído das ambulâncias e
sirenes e a variável enfermaria, bem como, o resultado do teste G utilizado para investigar a
relação entre estas variáveis são apresentados na tabela11.
74
Tabela 11: Percepção do ruído das ambulâncias e suas sirenes por enfermaria. Pouco Regular Forte Muito Forte
Enfermaria N (%) N (%) N (%) N (%) Santana 37(74,00) 4(8,00) 4(8,00) 5(10,00) Santa Ludovina 40(88,89) 1(2,22) 3(6,67) 1(2,22) Frei Caetano 37(90,24) 2(4,88) 2(4,88) 0(0,00) São Francisco 25(89,29) 1(3,57) 2(7,14) 0(0,00) São Roque 20(40,00) 5(10,00) 15(30,00) 10(20,00) São Paulo 42(84,00) 4(8,00) 1(2,00) 3(6,00) TOTAL 201(76,14) 17(6,44) 27(10,23) 19(7,20)
Fonte: Pesquisa de campo, 2010. P < 0,05 (Teste G; p < 0,0001) Estatisticamente significativa
Segundo o nível descritivo (p < 0.0001) do teste não paramétrico G pode-se sugerir
que há relação estatisticamente significativa entre a variável “Ruído das ambulâncias e
sirenes” e as enfermarias estudadas ao nível de significância = 0.05, sendo a enfermaria
São Roque a que apresentou maior número de casos de pessoas que consideraram como Forte
ou Muito forte o ruído das ambulâncias e sirenes.
Dos 264 pacientes e acompanhantes entrevistados, 201 consideram como “Pouco” o
incômodo causado pelo ruído das ambulâncias que trafegam nas suas proximidades. A
enfermaria Santa Ludovina e São Paulo foram as que apresentaram maior número de
indivíduos que classificaram como “Pouco” o incômodo causado pelo ruído das ambulâncias
e sirenes 40 (88,89%) e 42 (84,00 %) respectivamente. Dos 19 indivíduos que classificaram
como “Muito Forte” o nível de incômodo, 10 (20,00%) eram da enfermaria “São Roque”, 5
(10,00%) da “Santana”, 3 (6,00%) da São Paulo e 1 (2,22%) da Santa Ludovina. Observou-se,
também, que dos 27 indivíduos que consideraram como “Forte” o ruído das ambulâncias e
sirenes mais da metade eram da enfermaria São Roque, 15 (30,00%).
Na Figura 9 são apresentadas as associações estatisticamente significativas entre as
enfermarias e os níveis de incômodo causado pelo ruído das ambulâncias e sirenes segundo a
Análise de Correspondência.
75
Santana
Frei Caetano
São Paulo
São Francisco
São Roque
Santa Ludovina
Muito Forte
Pouco
Regular
Forte
-1.2 -1.0 -0.8 -0.6 -0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6
Eixo 1 (92.36% de Inercia)
-0.4
-0.3
-0.2
-0.1
0.0
0.1
0.2
0.3
0.4
Eixo
2 (7
.020
% d
e In
erci
a)
Enfermaria Ruído de ambulância
e sirenesCritério Beta = 11.10
Figura 9: Análise de correspondência das variáveis enfermaria e ruído das ambulâncias e sirenes. Fonte: Pesquisa de Campo, 2009/2010. Analisando a Figura 9 e a Tabela 11 observa-se que as enfermarias São Paulo, Frei
Caetano, Santa Ludovina e São Francisco possuem associação estatisticamente significativa
com “Pouco” incômodo causado pelo ruído das ambulâncias e sirenes. A enfermaria Santana
possui associação com “Muito Forte” e a enfermaria São Roque com “Regular”, “Forte” e
“Muito Forte” incômodo causado pelo ruído das ambulâncias e sirenes que trafegam no seu
entorno.
A tabela 12 apresenta o cruzamento entre o variável nível de incômodo causado pelos
carros som e a variável enfermaria e também o resultado do teste G utilizado para investigar a
relação entre estas variáveis.
76
Tabela 12: Percepção do ruído dos carros de som por enfermaria. Pouco Regular Forte Muito Forte
Enfermaria N (%) N (%) N (%) N (%) Santana 35 (70,00) 1 (2,00) 4 (8,00) 10 (20,00) Santa Ludovina 43 (95,56) 2 (4,44) 0 (0,00) 0 (0,00) Frei Caetano 37 (90,24) 2 (4,88) 1 (2,44) 1 (2,44) São Francisco 25 (89,29) 0 (0,00) 3 (10,71) 0 (0,00) São Roque 31 (62,00) 6 (12,00) 8 (16,00) 5 (10,00) São Paulo 40 (80,00) 0 (0,00) 2 (4,00) 8 (16,00) TOTAL 211 (79,92) 11 (4,17) 18 (6,82) 24 (9,09)
Fonte: Pesquisa de campo. P < 0,05 (Teste G; p < 0,0001) Estatisticamente significativa
O nível descritivo (p < 0.0001) do teste não paramétrico G pode-se sugerir que há
relação estatisticamente significativa entre a variável “Ruído dos carros som” e as
enfermarias estudadas ao nível de significância = 0.05, sendo a enfermaria Santana a que
apresentou maior número de casos de pessoas que consideram como “Muito forte” o ruído
causado pelos carros som e a São Roque a que informou a maioria de casos como “Forte”.
Dos 264 pacientes e acompanhantes entrevistados, 211 considera como “Pouco” o
incômodo causado pelo ruído dos carros som. A enfermaria Santa Ludovina e São Paulo
foram as que apresentaram maior número de indivíduos que classificaram como “Pouco” o
incômodo causado pelo ruído dos carros som 43 (95,56%) e 40 (80,00%) respectivamente.
Dos 24 indivíduos que classificaram como “Muito Forte” o nível de incômodo, 10 (20,00%)
eram da enfermaria “Santana”, 8 (16,00%) da “São Paulo”, 5 (10,00 %) da São Roque e 1
(2,44%) da Frei Caetano. Observou-se, também, que dos 18 indivíduos que consideraram
como “Forte” o ruído dos carros som, 8 (16,00%) eram São Roque.
Na Figura10 são apresentadas as associações estatisticamente significativas entre as
enfermarias estudadas e os níveis de incômodo causado pelo ruído dos carros som
77
Santana
F. Caetano
São Paulo
S. Francisco
São Roque
S. Ludovina
Muito Forte
Pouco
Forte
Regular
-0.8 -0.6 -0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6
Eixo 1 (53.67% de Inercia)
-1.0
-0.8
-0.6
-0.4
-0.2
0.0
0.2
0.4
0.6
0.8
Eixo
2 (3
8.23
% d
e In
erci
a)
Enfermaria Ruído dos carros somCritério Beta = 7.91
Figura 10: Análise de correspondência das variáveis enfermaria e ruído dos carros som. Fonte: Pesquisa de Campo, 2009.
De acordo com a Figura 10 e Tabela 12 observa-se que as enfermarias São Francisco,
Frei Caetano e Santa Ludovina possuem associação estatisticamente significante com
“Pouco” incômodo com o ruído causado pelos carros som que trafegam no entorno de suas
instalações nos seus pacientes e acompanhantes. As enfermarias Santana e São Paulo possuem
associação com o incômodo “Muito Forte” e a enfermaria São Roque com “Regular” e
“Forte”.
O cruzamento das variáveis, nível de incômodo causado pelo ruído das buzinas e a
variável enfermaria, bem como, o resultado do teste G utilizado para investigar a relação entre
estas variáveis são apresentados na tabela13.
78
Tabela 13: Percepção do ruído das buzinas dos veículos por enfermaria. Pouco Regular Forte Muito Forte
Enfermaria N (%) N (%) N (%) N (%) Santana 9(18,00) 30(60,00) 5(10,00) 6(12,00) Santa Ludovina 8(17,78) 36(80,00) 1(2,22) 0(0,00) Frei Caetano 2(4,88) 34(82,93) 5(12,20) 0(0,00) São Francisco 4(14,29) 24(85,71) 0(0,00) 0(0,00) São Roque 14(28,00) 26(52,00) 7(14,0) 3(6,00) São Paulo 3(6,00) 42(84,00) 2(4,00) 3(6,00) TOTAL 40(15,15) 192(72,73) 20(7,58) 12 (4,55)
Fonte: Pesquisa de campo, 2010. P < 0.05 (Teste G; p = 0.0002) Estatisticamente significativa Segundo o nível descritivo (p = 0.0002) do teste não paramétrico G pode-se sugerir
que há relação estatisticamente significativa entre a variável “Ruído de buzina” e as
enfermarias estudadas ao nível de significância = 0.05, sendo a enfermaria São Roque a
que apresentou maior número de casos de pessoas que consideram como Forte o ruído
causado pelas buzinas.
A maioria (192) dos indivíduos pesquisados declarou ser “regular” o incômodo
causado pelo ruído das buzinas. A enfermaria Santa Ludovina e São Paulo foram as que
apresentaram maior número de indivíduos que classificaram como “regular” o incômodo
causado pelo ruído das buzinas 36 (18,75%) e 42 (21,88%) respectivamente. Dos 12
indivíduos que classificaram como “Muito Forte” o nível de incômodo, 6 (50,00%) eram da
enfermaria “Santana”, a São Roque, e São Paulo tiveram 3 (25,00%) indivíduos cada. O
Ruído da buzina foi considerado como “Forte” por 40 indivíduos, sendo 14 (35,00%) da São
Roque, 9 (22,50) da “Santana” e 8 (20,00%) da Santa Ludovina.
Na Figura 11 são apresentadas as associações estatisticamente significativas entre as
enfermarias estudadas e os níveis de incômodo causado pelo ruído das buzinas
79
Santana
Frei Caetano
São Paulo
São FranciscoSão RoqueSanta Ludovina
PoucoRegular
Forte
Muito Forte
-1.0 -0.8 -0.6 -0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6
Eixo 1 (63.05% de Inercia)
-0.7
-0.6
-0.5
-0.4
-0.3
-0.2
-0.1
0.0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
Eixo
2 (2
1.68
% d
e In
erci
a)
Enfermaria Ruído das buzinasCritério Beta = 6.13
Figura 11: Análise de correspondência das variáveis enfermaria e ruído das Buzinas Fonte: Pesquisa de Campo, 2009.
Analisando os dados apresentados na Figura 11 e na Tabela 13 observa-se que as
enfermarias Santa Ludovina, São Francisco, Frei Caetano e São Paulo possuem associação
estatisticamente significativa com “Pouco” incômodo causado pelo ruído das buzinas nos seus
pacientes e acompanhantes. A enfermaria Santana possui associação com “Regular”, “Forte”
e “Muito Forte” e a enfermaria São Roque com “Regular” e “Forte”.
80
Tabela 14: Percepção dos sons agradáveis e desagradáveis. Pouco (pouco/regular) Muito (forte/muito forte) Sons N (%) N (%)
Agradáveis Pássaros 117 (44,4) 147 (55,6) Chuva 129 (48,8) 135 (51,2) Ventilador 231 (87,5) 33 (12,5) Rádio/Televisão 247 (93,5) 17 (6,5) Ar condicionado 247 (93,5) 17 (6,5) Desagradáveis Construção 210 (79,5) 54 (20,5) Batimento das portas e janelas 215 (81,5) 49 (18,5) Conversa das pessoas 229 (86,7) 35 (13,3) Rodas das macas e carros 244 (92,5) 20 (7,5) Campainhas 260 (98,4) 4 (1,6) Bombas de infusão 262 (99,3) 2 (0,7)
Fonte: Pesquisa de campo, 2010. Sem significância estatística
Os dados da tabela 14 são apenas uma análise ilustrativa dos sons agradáveis e
desagradáveis por ordem crescente, já que não apresentam significância estatística.
O barulho dos pássaros em primeiro com percentual de (55,6%) Forte e Muito Forte,
em seguida o ruído da chuva, depois o do ventilador e da televisão com o mesmo percentual, e
o ruído do ar condicionado, foram considerados sons agradáveis (ruídos de fundo), pois
servem de proteção contra o ruído externo e de dentro das enfermarias. Em especial quanto
aos sons dos pássaros, que são fontes de ruído da natureza e são percebidos pelo ouvido
humano de forma agradável, promovendo um bem estar nos pacientes e acompanhantes.
Já os sons desagradáveis, destaca-se o da construção, percebido por 54 entrevistados,
seguido com 49 que responderam sobre o batimento das portas e janelas das enfermarias, em
terceiro (35) referenciam a conversa das pessoas, em quarto (20) ressaltam o ruído das rodas
das macas e carros; quinto, o barulho das campainhas mencionado por 4 pessoas, e por
último, o barulho das bombas de infusão com apenas 2 entrevistados. Estes sons
desagradáveis foram percebidos de forma Forte e Muito Forte nas seis enfermarias estudadas.
81
8 ESTUDO COMPARATIVO DO NÍVEL DE RUÍDO EM DUAS ENFERMARIAS
8.1 INTRODUÇÃO
O objeto de estudo é a Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará localizado no
bairro do Umarizal na cidade de Belém. O hospital foi parte integrante do projeto de
modernização e humanização dos espaços físicos dos hospitais públicos da rede do SUS
(2002-2006), no contexto do conforto ambiental enfocando as áreas lumínica, térmica,
comunicação visual e acessibilidade, entretanto, naquele momento não foi abordado o tema
acústico.
A Santa Casa é um hospital centenário, com 346 leitos, voltado ao atendimento de
pacientes de Belém e do interior do Estado, em várias especialidades médicas, especialmente
as destinadas ao atendimento materno infantil. A escolha desse hospital para estudo ocorreu
por ele pertencer à rede pública de saúde do estado e por sua situação geográfica. O hospital
está situado em uma área considerada pelo mapa acústico de Belém como sendo de condição
acústica saturada, ou seja, os níveis sonoros no seu entorno ultrapassam os limites máximos
recomendáveis para zonas hospitalares tanto pela Organização Mundial de Saúde como pela
NBR 10.151/2000 (ABNT, 2000a)
Foram analisadas as enfermarias São Roque e Frei Caetano: a primeira fica localizada
no limite externo do edifício, voltada para uma rua de trânsito intenso e sofre influência direta
do ruído urbano; a outra está localizada na área central do hospital voltada para o pátio de
estacionamento a cerca de 40 metros da rua que o contorna (SOUZA et al, 2010).
Realizou-se uma pesquisa inicial com os participantes da pesquisa, que são os usuários
e os acompanhantes do hospital Santa Casa de Misericórdia do Pará. Foi aplicado um
questionário piloto que continham dados referentes a deficiência auditiva, e intensidade do
ruído queixa do ruído em relação á saúde.
Verificou-se como resultado parcial que a localização das enfermarias demonstrava
uma diferença da percepção da intensidade do ruído urbano.
82
8.2 ANÁLISE
8.2.1 Enfermaria São Roque
É uma enfermaria de clínica médica adulta de uso misto, possui vinte e seis leitos, tem
um quadro fixo de funcionários de oito servidores por turno. O tempo médio de
permanência/internação é de aproximadamente 29 dias. A enfermaria está localizada no limite
lateral do hospital, com aberturas (janelas) voltadas diretamente para as ruas que a contornam.
A enfermaria São Roque é externa, situada perto da Rua Oliveira Belo. Foi observada
uma maior prevalência de ruídos em comparação às outras enfermarias, a própria conversas
dos acompanhantes e pacientes fazem com que o ambiente seja ruidoso, além disso, a obra de
construção ao redor do hospital também é mais próxima, sendo mais um fator na interferência
do ambiente. O barulho dos carros, das buzinas e dos carros som é muito alto, pois esta
enfermaria encontra-se em frente de uma rua. Alguns quartos não têm ar condicionado o que
aumenta o barulho para o paciente no leito, por precisar ficar de janela aberta, e ainda ter que
utilizar ventiladores antigos e barulhentos.
Com relação à percepção do ruído pelos entrevistados, as respostas estão quantificadas
na tabela 15 abaixo. Observa-se que pouco mais da metade dos entrevistados (51,1%)
considera que a enfermaria não é barulhenta. Dos 49% que consideram a enfermaria
barulhenta, 50% percebem que o período da manhã é mais ruidoso. Quanto à intensidade,
60% consideram o ruído intenso ou muito intenso. A enfermaria São Roque está sob forte
interferência do ruído do trânsito, causada pela sua localização e pela proximidade da obra de
ampliação do hospital.
83
Tabela 15: Descrição da percepção do ruído pelos pacientes, acompanhantes e servidores da enfermaria São Roque.
Fonte: Pesquisa de Campo, 2009. Legenda: M /T /N: Manhã, Tarde, Noite; P /I /M: Pouco intenso; Intenso; Muito intenso
Com relação ao incômodo gerado pelo ruído na enfermaria os entrevistados
declararam que a interferência do ruído gera sintomas especialmente com relação à perda do
sono (5 entrevistados) e dor de cabeça (4 entrevistados). Quanto a agradabilidade dos sons, 11
entrevistados consideram o canto dos pássaros como o mais agradável, enquanto o ruído
externo, principalmente o ruído gerado pelo tráfego de veículos, é o mais desagradável para
18 dos entrevistados (tabela 16).
Período Intensidade Total Questões Sim Não M T N P I M
Nº Nº Nº Nº Nº Nº Nº Nº Nº
Você acha a
enfermaria muito
barulhenta?
22 23 - - - - - - - - - - - - 45
Em caso positivo,
que período é mais
barulhento?
- - - -
11
4 7 32 - - - - 22
Como você considera o barulho que
vem da rua?
- - - - - - - - - - 18 15 12 45
Você sente qo barulho prejudica
sua saúde?
18 27 - - - - - - - - - - - - 45
84
Tabela 16: Percepção do incômodo do ruído sobre a saúde dos pacientes, acompanhantes e servidores da enfermaria São Roque. Fonte: Pesquisa de campo, 2009.
8.2.2 Enfermaria Frei Caetano
É uma enfermaria de clínica cirúrgica de uso misto, possui quatorze leitos, apresenta
um quadro fixo de funcionários de quatro servidores por turno. O tempo médio de
permanência/internação é de 28 dias. A enfermaria está localizada na parte interna do
hospital, possui climatização com ar condicionado e não sofre influência do ruído externo.
A Frei Caetano é uma enfermaria cirúrgica interna, localizado perto do estacionamento
da Santa Casa, onde foi observado que o ambiente é agradável, calmo, com poucos leitos, sem
grande movimentação de pessoas e não há interferência do ruído urbano. Janelas e portas
também permanecem fechadas o dia inteiro devido à central de ar, abafando o ruído externo
das obras ao lado do prédio.
Quanto à identificação de deficiência auditiva, todos os entrevistados (29) declaram
ouvir bem e não apresentam queixas de problemas auditivos. No tocante a percepção do ruído
na enfermaria, os entrevistados declararam que não consideram a enfermaria barulhenta
(76%). Já dos 24% que a consideram barulhenta, 43% percebem que os períodos tarde e noite
são mais ruidoso. Quanto à intensidade, 86% consideram o ruído pouco intenso (ver tabela
17).
Questões Comentários Pessoas Caso a resposta anterior for positiva, em que o ruído prejudica a saúde:
Interfere no sono 5
Dor de cabeça 4 Concentração 3 Irritabilidade 2 Prejudica o raciocínio 1
Estresse 1 Na enfermaria onde você está internado, que tipo de barulho lhe é agradável?
Canto dos pássaros 11
Nada 11 Vento 8 Chuva 5 Música 1
Ruído externo (trânsito) 18 Ruído interno 9 Obra 3 Que tipo de barulho lhe é desagradável? Máquinas da lavanderia do hospital 2
85
Tabela 17: Descrição da percepção do ruído pelos pacientes, acompanhantes e servidores da enfermaria Frei Caetano.
Fonte: Pesquisa de Campo, 2009. Legenda: M / T / N: Manhã / Tarde / Noite; P / I / M: Pouco intenso / Intenso / Muito intenso
Os resultados encontrados nessa enfermaria (Frei Caetano), como já se esperava, se
diferem da anterior (São Roque) devido, sobretudo, por estar localizada afastada das ruas,
além de possuir climatização com ar condicionado o que contribuí para o isolamento sonoro
da mesma.
A tabela 18 ilustra que os sintomas mais frequentes para os entrevistados são a dor de
cabeça e o estresse. Quanto à agradabilidade dos sons, 4 entrevistados consideram o barulho
da chuva e do ar condicionado os mais agradáveis, enquanto que o ruído gerado pela obra no
estacionamento é o mais desagradável, seguido de barulho das portas e janelas, e campainhas
utilizada para solicitação do serviço de enfermagem.
Período Intensidade Total Questões Sim Não M T N P I M Nº Nº Nº Nº Nº Nº Nº Nº Nº
Você acha a enfermaria
muito barulhenta?
7 22 - - - - - - - - - - - - 29
Em caso positivo, que
período é mais barulhento?
- - - -
1
3 3 - - - - - 7
Como você considera o barulho que vem da rua?
- - - - - - - - - - 25 4 0 29
Você sente q o barulho
prejudica sua saúde?
8 21 - - - - - - - - - - - - 29
86
Tabela 18: Percepção do incômodo do ruído sobre a saúde dos pacientes, acompanhantes e servidores da enfermaria Frei Caetano.
Questões Comentários Pessoas Estresse 2
Dor de cabeça 2 Caso a resposta anterior for positiva, em que o ruído prejudica a saúde:
Concentração 1 Chuva 4
Barulho do ar condicionado 4 Barulhos da natureza 2
Rádio/TV 2 Ventilador 1
Na enfermaria onde você está internado, que tipo de barulho lhe é agradável?
Pássaros 1 Obra 3
Janelas e portas barulhentas 2 Campainha 2 Coversa alta 2
Bomba de infusão 1 Maqueiros 1
Que tipo de barulho lhe é desagradável?
Carro de limpeza 1 Fonte: Pesquisa de Campo, 2009.
8.2.3. Análise dos níveis de ruído
A NBR-10152/2000 (ABNT, 2000b) recomenda de 35 dBA a 45 dBA como níveis
aceitáveis para diferentes ambientes hospitalares. Estes limites são frequentemente
ultrapassados, gerando distúrbios fisiológicos e psicológicos, tanto nos pacientes como nos
que trabalham no setor. Efetivamente, foram registrados níveis de pressão sonora equivalente
(LeqA) nos quartos, de ambas as enfermarias, com valores muito acima do recomendado. Os
LeqA variam de 54 à 64,4 dBA na enfermaria Frei Caetano, a mais protegida do ruído de
tráfego, enquanto que na enfermaria São Roque os Leq(A) atingem 67,6 dBA, chegando ao
máximo de 75 dBA, e não baixam de 50 dBA (Gráficos 1 e 2).
A diferença entre os níveis medidos “in loco” e os recomendados pela norma é
significativa, pois o nível de pressão sonora em dBA é proporcional à intensidade sonora
medida em escala logarítmica. Deste modo, de acordo com a lei da física acústica, um
aumento de 10 dBA resulta no dobro do valor da escala sonora subjetiva. Portanto, os
entrevistados estão submetidos a valores de até 20 dB acima do recomendado, o que
demonstra um incremento preocupante do nível de ruído. Embora os entrevistados da
enfermaria Frei Caetano não considerem o ambiente ruidoso, eles estão expostos diariamente
87
a níveis de ruído que podem representar perturbações fisiológicas e/ou psicológicas ao
indivíduo. É importante ressaltar que os aparelhos de ar condicionado contribuem para o
incremento do ruído nessa enfermaria, pois eles podem gerar ruído com até 70 dB de
intensidade.
Gráfico1: Níveis de pressão sonora equivalente (LeqA) na enfermaria São Roque. Fonte: Souza et al (2010).
Gráfico2:Níveis de pressão sonora equivalente (LeqA) na enfermaria Frei Caetano. Fonte: Souza et al (2010).
88
8.2.4. Conclusão do estudo comparativo
Pode-se constatar, como já era percebido subjetivamente, que a enfermaria São Roque
é mais ruidosa do que a Frei Caetano, primeiro em função de sua localização e segundo por
que as janelas e portas permanecem abertas durante o período diurno, o que não acontece na
enfermaria Frei Caetano, que é climatizada e beneficiada por sua localização distante das ruas
e, consequentemente, do ruído urbano.
Conclui-se que a maioria dos ruídos na enfermaria São Roque advêm do meio externo,
principalmente os relacionados com o trânsito, já na enfermaria Frei Caetano a maior parte do
ruído é causado por fontes de dentro da própria enfermaria, conversas altas entre
acompanhantes e profissionais, música, carros de limpeza, entre outros já citados. Dessa
forma, as fontes produtoras de ruído excessivo precisam ser identificadas, quantificadas e
classificadas para que esses dados sirvam de subsídios aos gestores no sentido de que possam
ser tomadas as devidas medidas para atenuação dos ruídos à níveis mais aceitáveis (SOUZA
et al, 2010).
Na enfermaria São Roque quase metade dos entrevistados perceberam o ruído,
principalmente no período da manhã e o consideram intenso e muito intenso, enquanto que na
enfermaria Frei Caetano a grande maioria não a considera ruidosa, embora os níveis sonoros
médios equivalentes estejam em alguns casos a quase 20 dBA acima do recomendado, o que
pode representar uma sonoridade com o dobro desse valor. Vale ressaltar que ela está
localizada na área interna do hospital.
Algumas pessoas têm sensibilidade para perceber agradabilidade com alguns sons
como o ruído da chuva, pássaros e vento. Entretanto, o ruído advindo do tráfego de veículos e
de obras públicas, são especialmente desagradáveis. Mas também o ruído interno desagrada
pelas conversas nos corredores e música alta nos quartos, por exemplo. A própria atividade
funcional nas enfermarias, como a campainha para solicitação do serviço de enfermagem na
enfermaria Frei Caetano, causa desagrado, assim como o ruído das janelas e portas ao serem
abertas e fechadas, ou seja, a análise do ruído deve considerar as diversas fontes geradoras,
involuntárias e voluntárias no espaço hospitalar, ressaltando a importância de haver uma
reestruturação do funcionamento do espaço para que seja propiciado ao paciente um
tratamento completo, tanto do ponto de vista clínico quanto psicológico (SOUZA et al, 2010).
89
9 CONCLUSÃO
O projeto de humanização da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará deixou de
contemplar uma das vertentes do conforto ambiental de grande efeito negativo para as
condições ideais de bem estar físico e psicossocial dos usuários, o conforto acústico. Ao final
desta dissertação ficou clara a necessidade de gestão no campo do condicionamento sonoro
das enfermarias estudadas e da implantação de programas de conscientização educacional do
ambiente e áreas de uso comum (corredores, recepção, banheiros, salas de espera, etc) por
parte de toda a classe de usuários (servidores, equipe médica, serviços terceirizados, etc). A
soma das variáveis comportamentais e condições físicas do hospital é a causa da elevada taxa
de queixas e sintomas dos danos gerados pelo ruído no interior de objeto de estudo.
Os efeitos do ruído e a falta das condições de conforto acústico nas enfermarias
estudadas nesta pesquisa obtiveram os seguintes resultados: foi considerável o percentual de
(21%) participantes que acharam as enfermarias barulhentas, com diferença estatisticamente
significante. As mais barulhentas foram Santa Ludovina, Santana e São Roque com os
percentuais de (37%; 32%; 18%), respectivamente. Essas são as enfermarias que possuem
janelas abertas para as ruas. Na maioria das enfermarias (quatro das seis estudadas) o turno da
manhã foi considerado o mais barulhento.
Foi de grande relevância estatística os resultados referentes a localização das
enfermarias externas: São Roque, Santa Ludovina e Santana, interferindo, também, na perda
de sono durante a noite, provocando irritabilidade e gerando dor de cabeça em parte dos
entrevistados. As demais enfermarias (Frei Caetano, São Paulo e São Francisco) registraram
níveis de estresse pouco e regular.
Observou-se, ainda, a interferência do ruído no bem estar físico e subjetivo dos
pacientes e acompanhantes internados. Quanto aos sintomas e percepções do grau de estresse
provocado pelo ruído urbano, o sono, dor de cabeça e irritabilidade foram os mais destacados,
afirmando, assim, a problematização da pesquisa, formulada como hipótese alternativa.
Constatou-se que os Níveis de Pressão Sonora Equivalente (LeqA) em todos os
quartos da enfermaria São Roque variavam entre 14 dBA e 22 dBA, estando acima dos níveis
máximos aceitáveis para ambientes hospitalares de acordo com NBR-10152/2000 (ABNT,
2000b).
90
Os altos níveis de ruído, mostram um estágio da sociedade em que há pouca
preocupação com bem estar das pessoas, em especial pessoas que estão tentando se recuperar
de problemas de saúde e, estão submetidas aos malefícios do ruído intenso e suas graves
consequências, condições incompatíveis com suas necessidades especiais de saúde. O
indivíduo perde o sono por causa do ruído, quando deveria dormir para recuperar sua saúde.
Na enfermaria Frei Caetano (localização interna), em 3 dos 4 quartos medidos o NPS
supera o preconizado pela norma vigente, que recomenda de 35 a 45 dBA. Nem todos os
entrevistados consideraram o ambiente hospitalar ruidoso, embora todos estejam expostos
diariamente a seus efeitos nocivos e determinantes para produzir alterações psicofisiológicas,
afetando, assim, o quadro clínico geral desses pacientes.
De acordo com a lei da acústica física, a pressão sonora é uma característica objetiva
do som que quando aumentada, aumenta também a sensação percebida pelo ouvido, enquanto
que a sonoridade é a característica subjetiva do som. Embora o aumento da pressão sonora
não se relaciona linearmente com o aumento da sonoridade, esta é aproximadamente
proporcional ao nível de pressão sonoro. Comparando as escalas de nível de sonoridade
(fonios), que também pode ser expressado em dB por ser um nível, e de sonoridade (sonios),
cada vez que o nível de sonoridade aumenta em 10 dB se duplica a sonoridade e viceversa
(COLINA; MORENO, 2005), expondo os usuários a níveis de sonoridade 20 vezes maior que
o Nível de Pressão Sonora medido no local.
Os resultados desta pesquisa comprovam que efeitos do ruído na saúde dos usuários
existem. Portanto, sugerimos medidas de condicionamento acústico nas atuais e novas
construções e/ou reformas nos ambientes hospitalares. Assim como a implantação de projetos
de ação no tocante a comunicação visual, como a utilização de placas de silêncio, muito
utilizadas nos antigos espaços hospitalares. Essas estratégias poderiam apoiar medidas de
prevenção e controle do ruído nos hospitais.
É importante ressaltar que a implantação de futuras instalações para uso hospitalar
deve ser conjugada com as condições ambiental do espaço a ser edificado, seja no aspecto
urbano como no físico. O acelerado ritmo de crescimento das cidades vem a ser um agravante
na busca por um ambiente acusticamente mais saudável. Estratégias construtivas e escolha
criteriosa do local de implantação podem ser vistas como um bom começo para a prevenção e
o possível controle do ruído no interior dos hospitais.
Espera-se dar continuidade ao estudo estudando outros parâmetros de igual
importância ao aqui exposto, e expandindo a pesquisa à outros hospitais ou setores da saúde
91
do estado. Almeja-se, ainda, alertar aos gestores da Saúde e a classe política local para a
necessidade de cuidar da saúde dos nossos ambientes hospitalares e das nossas cidades.
92
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APÊNDICE A – QUESTIONARIO
PESQUISA SOBRE RUIDO
IDENTIFICAÇÃO
Paciente ( ) Acompanhante ( )
Sexo: M ( ) F ( ) Idade: ______ Tempo de internação: ______(dias)
Profissão: ____________________
DEFICIENCIA AUDITIVA
1. Você ouve bem? Sim ( ) Não ( )
2. Tem alguma queixa de problema auditivo? Sim ( ) Não ( )
3. Caso a resposta for positiva, do que você se queixa?__________
__________________________
4. Há quanto tempo se queixa do problema? ___________________________
CONFORTO ACÚSTICO
5. Você acha esta enfermaria muito barulhenta? Sim ( ) Não ( )
6. Caso a resposta for positiva, que período do dia é mais barulhento? Manhã ( ) Tarde (
) Noite ( )
INTERFERÊNCIA/SINTOMAS
7. O ruído da rua lhe provoca estresse?
( ) Pouco
( ) Regular
( ) Forte
( ) Muito Forte
8. Dor de Cabeça ?
( ) Pouco
( ) Regular
( ) Forte
( ) Muito Forte
100
9. Perda da Concentração?
( ) Pouco
( ) Regular
( ) Forte
( ) Muito Forte
10. Prejudica o racioncínío?
( ) Pouco
( ) Regular
( ) Forte
( ) Muito Forte
11. Irritabilidade?
( ) Pouco
( ) Regular
( ) Forte
( ) Muito Forte
12. Perda do sono a noite?
( ) Pouco
( ) Regular
( ) Forte
( ) Muito Forte
RUÍDO DO TRÁFEGO
13. Ruído dos carros?
( ) Pouco
( ) Regular
( ) Forte
( ) Muito Forte
101
14. Ruído dos ônibus e caminhão?
( ) Pouco
( ) Regular
( ) Forte
( ) Muito Forte
15. Ruído das ambulâncias e sirenes?
( ) Pouco
( ) Regular
( ) Forte
( ) Muito Forte
16. Ruído dos carros de som?
( ) Pouco
( ) Regular
( ) Forte
( ) Muito Forte
17. Ruído dos animais (cachorro, gato,...)?
( ) Pouco
( ) Regular
( ) Forte
( ) Muito Forte
18. Ruído de buzina?
( ) Forte
( ) Pouco
( ) Regular
( ) Muito Forte
102
RUÍDOS AGRADÁVEIS
19. O ruído da chuva?
( ) Pouco
( ) Regular
( ) Forte
( ) Muito Forte
20. Ruído dos Pássaros?
( ) Pouco
( ) Regular
( ) Forte
( ) Muito Forte
21. Ruído do ar condicionado?
( ) Pouco
( ) Regular
( ) Forte
( ) Muito Forte
22. Ruído do Rádio e TV?
( ) Pouco
( ) Regular
( ) Forte
( ) Muito Forte
23. Ruído do Ventilador?
( ) Forte
( ) Pouco
( ) Regular
( ) Muito Forte
103
RUÍDOS NÃO AGRADÁVEIS
24. Ruído da obra?
( ) Pouco
( ) Regular
( ) Forte
( ) Muito Forte
25. Ruído das janelas abrindo ou fechando?
( ) Pouco
( ) Regular
( ) Forte
( ) Muito Forte
26. Ruído das portas batendo?
( ) Pouco
( ) Regular
( ) Forte
( ) Muito Forte
27. Ruído das campainhas?
( ) Pouco
( ) Regular
( ) Forte
( ) Muito Forte
28. Ruído das conversas das pessoas?
( ) Pouco
( ) Regular
( ) Forte
( ) Muito Forte
104
29. Ruído das bombas de infusão?
( ) Pouco
( ) Regular
( ) Forte
( ) Muito Forte
30. Ruído do atrito das rodas das macas/carros de limpeza/ alimentação no piso (maqueiros)?
( ) Pouco
( ) Regular
( ) Forte
( ) Muito Forte
31. Ruído do ar condicionado?
( ) Pouco
( ) Regular
( ) Forte
( ) Muito Forte
32. Ruído do Rádio e TV?
( ) Pouco
( ) Regular
( ) Forte
( ) Muito Forte
33. Ruído do Ventilador?
( ) Forte
( ) Pouco
( ) Regular
( ) Muito Forte
105
APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
ESTUDO: Conforto ambiental em espaços hospitalares: analise da influência do ruído urbano
no processo de cura dos pacientes internados na Santa Casa de Misericórdia do Pará.
Você está sendo convidado(a) a participar do projeto de pesquisa acima citado. O documento
abaixo contém todas as informações necessárias sobre a pesquisa que estamos fazendo. Sua
colaboração neste estudo será de muita importância para nós, mas se desistir a qualquer
momento, isso não lhe causará nenhum prejuízo.
Eu, .............................................................................................., residente e domiciliado
na............................................................................, portador da Cédula de identidade, RG
........................ , e inscrito no CPF/MF ......................................... nascido(a) em / / ,
abaixo assinado(a), concordo de livre e espontânea vontade em participar como voluntário(a)
do estudo “”.Declaro que obtive todas as informações necessárias, bem como todos os
eventuais esclarecimentos quanto às dúvidas por mim apresentadas.
Estou ciente que:
I) Esta pesquisa tem como objetivo analisar os efeitos extra-auditivos do ruído urbano no
processo de cura dos pacientes internados na Santa Casa. O tema proposto neste estudo tem
como preocupação o conforto ambiental e o atendimento humanizado dentro do Plano
Nacional de Humanização.
II) Será feita pesquisa de grupo focal envolvendo pacientes, servidores do hospital e
familiares dos pacientes a fim de observar os resultados alcançados.
III) A pesquisa será feita apenas para este estudo, não causando nenhum risco e/ou transtorno
ao entrevistado. Quanto aos benefícios ao sujeito da pesquisa, estes contribuirão para que se
melhore cada vez mais o conforto ambiental no espaço, especialmente os relacionados ao
ruído urbano.
I) A participação neste projeto não me acarretará qualquer ônus pecuniário com relação aos
procedimentos efetuados com o estudo;
II) Tenho a liberdade de desistir ou de interromper a colaboração neste estudo no momento
em que desejar, sem necessidade de qualquer explicação;
III) A desistência não me causará nenhum prejuízo.
106
IV) Os resultados obtidos durante este ensaio serão mantidos em sigilo, mas concordo que
sejam divulgados em publicações científicas, desde que meus dados pessoais não sejam
mencionados;
V) Caso eu desejar, poderei pessoalmente tomar conhecimento dos resultados, ao final desta
pesquisa
( ) Desejo conhecer os resultados desta pesquisa.
( ) Não desejo conhecer os resultados desta pesquisa.
Belém, de de 2009
( ) Responsável ..................................................................................................
Testemunha 1 : _______________________________________________
Nome / RG / Telefone
Testemunha 2 : ___________________________________________________
Nome / RG / Telefone
Responsável pelo Projeto:
Professora Dra. Elcione Moraes e Mestranda Professora Tonya Penna no telefone e endereço
UNAMA Av Alcindo Cacela, n° 287, Umarizal. Belém-Pa. Tel: (91)40093123 e (91)
40093284.