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Crimes contra a Fé Pública Fé Pública ≠ Fraude Patrimonial: nesta há ofensa à fé privada, exigindo-se dano efetivo. No falso, basta a possibilidade de dano Posteriormente, incluía-se no falso casos de fraude patrimonial O falso só era punido quando importasse lesão da fé pública ou acarretasse ilícita locupletação em detrimento alheio O falso não é fim em si mesmo. A falsidade é uma espécie de fraude e esta, como a violência e a grave ameaça, é modalidade de ação

Crimes contra a Fé Pública Fé Pública Fraude Patrimonial: nesta há ofensa à fé privada, exigindo-se dano efetivo. No falso, basta a possibilidade de dano

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Crimes contra a Fé Pública

• Fé Pública ≠ Fraude Patrimonial: nesta há ofensa à fé privada, exigindo-se dano efetivo. No falso, basta a possibilidade de dano

• Posteriormente, incluía-se no falso casos de fraude patrimonial

• O falso só era punido quando importasse lesão da fé pública ou acarretasse ilícita locupletação em detrimento alheio

• O falso não é fim em si mesmo. A falsidade é uma espécie de fraude e esta, como a violência e a grave ameaça, é modalidade de ação

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Crimes contra a Fé Pública

• Falso: maliciosa criação de uma possibilidade de engano mediante operação mecânica sobre objeto que segundo as leis vigentes desperta especial fidúcia (corrente alemã)

• Fé Pública: confiança pública de que são depositárias certas pessoas (em razão do caráter oficial ou especial profissão) ou coisas que trazem em si mesmo um cunho de fidedignidade

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• Pessina: fé pública é a certeza jurídica, é a confiança geral na verdade de certos atos, símbolos ou formas (testemunho, moeda, documento) a que a lei atribui valor jurídico

• Fé Pública é lesionada quando há adulteração de atos, símbolos e formas, que a lei atribui a nota de confiança da veracidade um estado de coisa da qual deriva uma conseqüência jurídica

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• Fé Pública: mera abstração, impossível de formar objeto de ataque de um crime

• Crítica: o que se protege não é a confiança, mas porque a lesão à integridade são ameaçados interesses ou bens jurídicos patrimoniais, interesse na segurança das relações jurídicas, privilégio monetário do Estado, meios de prova

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Crimes contra a Fé Pública

• Fé Pública é uma realidade da vida coletiva, é fenômeno social

• Manzini: toda idéia jurídica, como qualquer expressão matemática, é sempre e necessariamente abstrata e artificiosa. O que importa saber é se chega ao nível de abstração partindo da realidade ou da ficção

• Falso lesiona interesses vários, mas o principal é o interesse correspondente à necessidade social

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Crimes contra a Fé Pública

• Alguns Códigos adicionam como crimes contra a fé pública:

1. Falso testemunho e denunciação caluniosa

2. Violação de segredo profissional

3. Usurpação de função pública

4. Fraude no comércio

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• Os crimes contra a fé pública ocorrem por meio do falso

• Requisitos do falso:

1. Imitatio veri

2. Dano potencial

3. Dolo

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Moeda Falsa (artigo 289)

1.Bem Jurídico: fé pública, tendo como objeto a moeda

• O objetivo da criminalização é a credibilidade na autenticidade da moeda e a segurança de sua circulação

• Atenta-se contra interesses individuais e do Estado

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Moeda Falsa

2. Sujeito ativo: qualquer pessoa3. Sujeito passivo: coletividade/pessoa

lesada/Estado4. Tipo Objetivo: crime de perigo (Fragoso)• Núcleos verbais: falsificar (fabricar,

contrafazer – cria algo inexistente) e alterar (modificação de algo existente – modificação ou acréscimo de algarismo, redução de parte do metal que a constitui)

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Moeda Falsa

• Objeto material: moeda metálica ou papel-moeda

• Moeda nacional ou estrangeira• Moeda de curso legal: obrigatoriedade de

aceitação, sob pena de incidir no art. 43, da LCP

• Moeda, sob o prisma jurídico, é a peça metálica cunhada pelo Estado, sendo equiparado a moeda o papel-moeda

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Moeda Falsa

• Não há crime: apagar emblemas ou sinais, desde que não aparente maior valor ou se substituir letras ou números para aparentar menor valor

• É crime apor nº ou letras recortadas de cédulas verdadeiras sobre outras de modo a aparentar valor superior

• Não há crime de moeda falsa que é retirada de circulação. Neste caso o interesse é artístico, numismático ou metálico

• Exame pericial

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Moeda Falsa

5. Tipo Subjetivo: dolo, não havendo elemento subjetivo do tipo

• Se a falsificação ou alteração for jocandi animo ou demonstrandi causa: não há o crime

6. Consumação: com a falsificação ou alteração. Basta a falsificação de uma única moeda. Várias moedas: crime único

7. Tentativa: admissível8. Competência: Justiça Federal; se grosseira a

falsificação: estelionato

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Crimes subseqüentes à falsificação (artigo 289, § 1º)

• Crime de circulação de moeda falsa• Importar, exportar, adquirir (obter), vender

(transferir a propriedade), trocar (permutar), ceder( entregar, transferir) ,emprestar (entregar para posterior recebimento), guardar (ter à disposição) e introduzir na circulação

• Por conta própria ou alheia• Tipo misto alternativo

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Crimes subseqüentes à falsificação (artigo 289, § 1º)

• Condutas previstas nos diversos verbos guardam relação com o último

• Se o receptor da moeda, desconhece a falsidade e a recebe de boa-fé: introdução em circulação; se sabe: enquadra-se nos verbos anteriores

• O fim do repasse do dinheiro é irrelevante• Se as condutas forem praticadas no mesmo contexto fático: crime

único• Se o agente é o mesmo que fabrica ou altera e em seguida pratica

uma das condutas do artigo 289, § 1º, responde por um só crime• Dolo direto ou eventual• Guardar: crime permanente• Consumação: com a prática das condutas • Tentativa: admissível

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Crime privilegiado ( artigo 289, § 2º)

• Visa a evitar o prejuízo

• O agente recebeu a moeda falsificada de boa-fé

• Geralmente é criminoso de ocasião

• Dolo subseqüente: dolo contemporâneo

• Consumação: com a volta à circulação

• Tentativa: punível

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Fabricação/emissão com fraude ou excesso (artigo 289, § 3º)

• Crime próprio: funcionário público, diretor, gerente ou fiscal de banco de emissão

• Tipo misto alternativo• Núcleos verbais: fabricar (produzir), emitir

(expedir) ou autorizar a fabricação ou emissão

• Objeto material: moeda com peso inferior ao determinado e papel moeda em quantidade superior à autorizada

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Fabricação/emissão com fraude ou excesso (artigo 289, § 3º)

• Título: proporção ou teor da liga metálica• Fabricação ou emissão de moeda metálica em

quantidade superior à autorizada: fato atípico• Dolo• Consumação: com as condutas, crime formal• Na autorização: exige-se a fabricação ou

emissão• Tentativa: admissível• Crime formal

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Circulação não autorizada (art. 289 § 4º)

• Sujeito ativo: qualquer pessoa. Se for funcionário público, o crime é único, enquadrando-se apenas neste parágrafo

• Desvia: retira de onde se encontra (Fragoso, Hungria e Noronha)

• Conduta única: desviar e fazer circular a moeda• Objeto material: moeda verdadeira desviada ou tem a

sua circulação iniciada sem autorização• Tentativa: com o desvio, mas não consegue a circulação• Não há necessidade de obtenção de vantagem pessoal

nem o desvio a pressupõe (Fragoso). A idéia de desvio faz supor o intuito de locupletação do agente (Hungria)

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Crimes assimilados ao de moeda falsa (art. 290)

1. Bem Jurídico: fé pública2. Sujeito ativo: qualquer pessoa. Se

funcionário público, forma qualificada3. Sujeito passivo: coletividade e particular.

Fragoso inclui o Estado como secundário4. Tipo Objetivo:• Objeto material: cédula, nota, bilhete.

Exclui a moeda metálica. Papel-moeda verdadeiro

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Crimes assimilados ao de moeda falsa (art. 290)

• Condutas:1. Formação de cédula nova com fragmentos de

cédulas verdadeiras 2. Supressão de sinais indicativos de inutilização:

carimbos, picotes, por meios químicos, físicos (utilização de raios) ou mecânicos (raspagem)

3. Restituição à circulação: compreende-se como objeto material as cédulas descritas nas hipóteses anteriores. Se o agente tiver praticado junto a estas condutas, as descritas nas situações anteriores: crime único (Fragoso e Mirabete)

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Crimes assimilados ao de moeda falsa (art. 290)

• Aquele que recebe a qualquer título cédula, nota ou bilhete nas condições acima, responde:

1. Por receptação (Fragoso e Paulo José)

2. Receptação ou favorecimento real (Hungria e Mirabete)

3. Artigo 289, § 2º: se for de boa-fé (José Silva Júnior)

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Crimes assimilados ao de moeda falsa (art. 290)

5.Tipo subjetivo: dolo• Elemento subjetivo do tipo: supressão

para o fim de restituir a circulação6. Consumação: • Com a formação da moeda• Com a supressão• Com a entrada em circulação 7.Tentativa: admissível

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Petrechos para falsificação de moedas (artigo 291)

1. Bem Jurídico: fé pública. Crime de perigo

2. Sujeito ativo: qualquer pessoa

3. Sujeito passivo: coletividade e Estado

4. Tipo objetivo: ato preparatório de crime (Hungria/Fragoso)

• Núcleos verbais: adquirir (obtenção a qualquer título), fornecer (entregar, de forma gratuita ou onerosa), possuir (ter a propriedade ou a posse), guardar (ter à sua disposição)

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Petrechos para falsificação de moedas (artigo 291)

• Objeto material:

1. Maquinismo: conjunto de peças, máquina

2. Aparelho: engenho, conjunto de maquinismo

3. Instrumento: agente mecânico utilizado na execução de trabalho

4. Qualquer objeto

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Petrechos para falsificação de moedas (artigo 291)

• Objetos especialmente destinados: deve ser este o principal fim

• Basta que sejam idôneos à falsificação de parte do objeto

• Se o objeto não tem essa finalidade especial, mas se presta à falsificação: há o crime (Paulo José)

• Deve-se verificar subjetivamente (destinação dada pelo agente) e objetivamente (aptidão do objeto para produzir o desejado pelo agente)

• Prática de mais de uma conduta: crime único (Hungria, Fragoso, Noronha). Mais de um objeto: concurso material

• Objetos podem ser autênticos ou subtraídos• Exame Pericial: verificação se os objetos são aptos

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Petrechos para falsificação de moedas (artigo 291)

5. Tipo subjetivo:dolo6. Consumação: com a prática das

condutas.• Crimes permanentes: possuir e guardar• O artigo 289 absorve o 2917. Tentativa: admitida por Fragoso e

Noronha• Prado e Paulo José: não há a tentativa no

possuir e guardar