Crimes Contra patrimônio Damásio

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DIREITO PENAL Crimes Contra o Patrimnio

1. FURTO ART. 155 DO CDIGO PENAL

1.1. Furto Simples Caput: Subtrair para si ou para outrem coisa alheia mvel: Pena recluso de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

1.1.1. Elementos a) Subtrair: tirar algo de algum, desapossar Pode ocorrer em dois casos:

tirar algo de algum; receber uma posse vigiada e sem autorizao levar o bem, retirando-o da esfera de vigilncia da vtima.

Conclui-se que a expresso engloba tanto a hiptese em que o bem tirado da vtima quanto aquela em que a coisa entregue voluntariamente ao agente e este a leva consigo.

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Essa modalidade difere da apropriao indbita porque nesta a posse desvigiada. Ex.: caixa de supermercado, tem a posse vigiada, se pegar dinheiropraticar furto.

b) nimo de assenhoramento definitivo do bem, para si ou para outrem (animus rem sibi habendi) Trata-se do elemento subjetivo especfico do tipo. No basta apenas a vontade de subtrair (dolo geral): a norma exige a inteno especfica de ter a coisa, para si ou para outrem, de forma definitiva. esse elemento que distingue o crime de furto e o furto de uso (fato atpico). Para a sua caracterizao necessrio que o agente tenha inteno de uso momentneo e que restitua a coisa imediata e integralmente vtima.

c) Coisa alheia mvel (objeto material do tipo)

Coisa mvel: aquela que pode ser transportada de um local para outro. O Cdigo Civil considera como imvel alguns bens mveis, como avies, embarcaes, o que para fins penais irrelevante.

Os semoventes tambm podem ser objeto de furto, como, por exemplo, o abigeato, ou seja, o furto de gado. Areia, terra (retirados sem autorizao) e rvores (quando arrancadas do solo) podem ser objeto de furto, desde que no configure crime contra o meio ambiente. A coisa deve ser alheia (elemento normativo do furto).2/14

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O furto um tipo anormal porque contm elemento normativo que exige juzo de valor. Coisa alheia aquela que tem dono; dessa forma, no constituem objeto de furto a res nullius (coisa de ningum, que nunca teve dono) e a res derelicta (coisa abandonada). Nessas hipteses, o fato ser atpico porque a coisa no alheia. A coisa perdida (res desperdicta) tem dono, mas no pode ser objeto de furto porque falta o requisito da subtrao; quem a encontra e no a devolve no est subtraindo - responder por apropriao de coisa achada, tipificada no art. 169, par. n., inc. II, do Cdigo Penal. A coisa s considerada perdida quando est em local pblico ou aberto ao pblico. Coisa perdida, por exemplo, dentro de casa, dentro do carro, se achada e no restituda ao proprietrio, caracterizar crime de furto.

Coisa de uso comum: (gua dos mares, ar atmosfrico etc.) no pode ser objeto de furto, exceto se estiver destacada de seu meio natural e for explorada por algum. Ex.: gua da Sabesp.

No confundir com furto de coisa comum, art. 156 do Cdigo Penal, que ocorre quando o objeto pertence a duas ou mais pessoas nas hipteses de sociedade, condomnio de coisa mvel e co-herana. crime de ao penal pblica condicionada representao. O art. 155, 3.o, do Cdigo Penal trata do furto de energia. Equipara-se coisa mvel a energia eltrica, bem como qualquer outra forma de energia com valor econmico. Esse dispositivo uma norma penal explicativa ou complementar (esclarece outras normas; na hiptese, define como objeto material do furto, a energia). A TV a cabo est sendo equiparada.3/14

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O smen considerado energia gentica e sua subtrao caracteriza o delito de furto. Ser humano no pode ser objeto de furto, pois no coisa. A subtrao de cadver ou parte dele tipifica o delito especfico do art. 211 do Cdigo Penal (destruio, subtrao ou ocultao de cadver). O cadver s pode ser objeto de furto quando pertence a uma instituio e est sendo utilizado para uma finalidade especfica. Ex.: faculdade de medicina, institutos de pesquisa. A subtrao de rgo de pessoa viva ou de cadver, para fins de transplante, caracteriza crime da Lei n. 9.434/97. Cortar o cabelo de algum para vender, no configura furto, mas sim, leso corporal. No caso de algum retirar dente de ouro ou palet do cadver, h dois entendimentos: Esses bens possuem dono, que so os sucessores do falecido, por isso tratam-se de coisa alheia que pode ser furtada, caracterizando o crime de furto que ter como sujeito passivo os familiares do de cujus. Os bens equivalem coisa abandonada, por no haver interesse por parte dos sucessores em recuper-los. Assim, o crime no o de furto, mas o de violao de sepultura art. 210 do Cdigo Penal.

1.1.2. Sujeito ativo Pode ser qualquer pessoa, exceto o dono, porque o tipo exige que a coisa seja alheia.4/14

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Subtrair coisa prpria, que se encontra em poder de terceiro, em razo de contrato (mtuo pignoratcio) ou de ordem judicial (objeto penhorado), acarreta o crime do art. 346 do Cdigo Penal (tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa prpria, que se acha em poder de terceiro por determinao judicial ou conveno). Este crime no tem nome; um subtipo do exerccio arbitrrio das prprias razes. O credor que subtrair bem do devedor, para se auto-ressarcir de dvida j vencida e no paga, pratica o crime de exerccio arbitrrio das prprias razes (art. 345 do CP). No responde por furto porque no agiu com inteno de causar prejuzo. Se algum, por erro, pegar um objeto alheio pensando que lhe pertence, no responder por furto em razo da incidncia do erro de tipo.

1.1.3. Sujeito passivo sempre o dono e, eventualmente, o possuidor ou detentor que sofre algum prejuzo. O agente que furta um bem que j fora anteriormente furtado responde pelo delito, que ter como vtima no o primeiro furtador, mas o dono da coisa. Pessoas jurdicas podem ser vtimas de furto, porque o seu patrimnio autnomo do patrimnio dos scios.

1.1.4. Consumao O furto consuma-se mediante dois requisitos:5/14

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retirada do bem da esfera de vigilncia da vtima; posse tranqila do bem, ainda que por pouco tempo.

Se, na fuga, o agente se desfaz ou perde o objeto, que no venha a ser recuperado pela vtima, consuma-se o delito, pois a vtima sofreu efetivo prejuzo. exceo exigncia de que o agente tenha posse tranqila do bem. Quando h concurso de agentes, se o crime est consumado para um, est tambm consumado para todos adoo da teoria unitria. Ex.: dois ladres furtam uma carteira, um foge com o bem e o outro preso no local: o crime est consumado para ambos.

1.1.5. Tentativa possvel, at mesmo na forma qualificada, com exceo do 5.o do art. 155 do Cdigo Penal. O fato de ter havido priso em flagrante no implica, necessariamente, que o furto seja tentado, como, por exemplo, o caso do flagrante ficto (art. 302, IV, do CPP), que permite a priso do agente encontrado, algum tempo depois da prtica do crime com papis, instrumentos, armas ou objetos (PIAO) que faam presumir ser ele o autor do crime.

1.1.6. Concurso de delitos A violao de domiclio fica absorvida pelo furto praticado em residncia por ser crime meio (princpio da consuno).6/14

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Se o agente, aps a subtrao, danifica o bem subtrado, responde apenas pelo furto, sendo o dano um post factum impunvel, pois a segunda conduta delituosa no traz novo prejuzo vtima. Se a pessoa furta um bem, e depois o aliena a um terceiro de boa-f, deve responder por furto e por disposio de coisa alheia como prpria. A jurisprudncia, entretanto, diz que um post factum impunvel.

1.2. Furto Noturno - Art. 155, 1. o, do Cdigo Penal A pena aumenta-se de 1/3, se o crime praticado durante o repouso noturno. Trata-se de causa de aumento de pena que tem por finalidade garantir a proteo em relao ao patrimnio durante o repouso do proprietrio, uma vez que neste perodo h menor vigilncia de seus pertences. O furto noturno no se aplica ao furto qualificado. S vale para o furto simples:

pela posio do pargrafo(o 1. s vale para o que vem antes); no furto qualificado j h previso de pena maior.

A jurisprudncia dominante traa algumas consideraes:

s se aplica quando o fato ocorre em residncia (definida pelo art. 150, 4.o, do Cdigo Penal como sendo qualquer compartimento habitado, ou o aposento de habitao coletiva, ou compartimento no aberto ao pblico, onde algum exerce profisso ou atividade) ou em qualquer de seus compartimentos, desde que haja morador dormindo;7/14

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o aumento no se aplica se a casa estiver desabitada ou se seus moradores estiverem viajando;

no se aplica o aumento no caso de furto praticado na rua ou em comrcio.

Para o Prof. Damsio o aumento cabvel estando a casa habitada ou no, bastando que o agente se aproveite da menor vigilncia que decorre do perodo do sossego noturno, conforme orientao da Exposio de Motivos do Cdigo Penal, n. 56.

1.3. Furto Privilegiado - Art. 155, 2. o, do Cdigo Penal

1.3.1. Requisitos

Que o agente seja primrio (todo aquele que no reincidente). Se o ru for primrio e tiver maus antecedentes, far jus ao privilgio, porque a lei no exige bons antecedentes.

Que a coisa subtrada seja de pequeno valor. A jurisprudncia adotou o critrio objetivo para conceituar pequeno valor, considerando aquilo que no excede a um salrio mnimo. Na tentativa leva-se em conta o valor do bem que se pretendia subtrair.

Deve ser examinado o valor do bem no momento da subtrao e no o prejuzo suportado pela vtima. Ex.: no furto de um carro, que recuperado depois, o prejuzo pode ter sido pequeno, mas ser levado em conta o valor do objeto furtado.8/14

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No confundir privilgio com furto de bagatela; pelo princpio da insignificncia, o crime de furto de bagatela atpico porque a leso ao bem jurdico tutelado nfima, irrisria. No furto privilegiado, ao contrrio, o fato considerado crime, mas haver um benefcio.

1.3.2. Conseqncias Na aplicao da pena no furto privilegiado ... o juiz pode converter a recluso em deteno, podendo reduzir uma ou outra de um a dois teros, ou aplicar somente a multa. O que no pode reduzir a privativa e a multa (JTACrimSP 76/363). Apesar do 2. trazer a expresso pode, presentes os requisitos legais, o juiz deve aplicar o privilgio, porque no h faculdade, e sim, direito subjetivo do ru.

P.: O privilgio pode ser aplicado ao furto qualificado? R.: A doutrina diverge a respeito: uma corrente afirma que sim, pois no h vedao legal; a outra, majoritria, no admite a aplicao e fundamenta que o privilgio encontra-se no 2.o, e portanto, no poderia ser aplicado aos 4.o e 5.o; ademais, a gravidade do furto qualificado incompatvel com as conseqncias brandas (de reduo da pena) do privilgio.

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1.4. Furto Qualificado - Art. 155, 4. e 5., do Cdigo Penal Quando o juiz reconhecer mais de uma qualificadora, utilizar a segunda como circunstncia judicial na primeira fase da fixao da pena. O furto qualificado tentado admite a suspenso condicional do processo, pois a pena mnima passa a ser de 8 meses para se chegar a esse resultado diminui-se a pena mnima em abstrato, prevista para o delito, do redutor mximo previsto na tentativa (2 2/3 = 8 meses).

1.4.1. Art. 155, 4., do Cdigo Penal A pena de recluso de 2 a 8 anos, e multa, se o crime cometido:

a) Com rompimento ou destruio de obstculo Pressupe uma agresso que danifique o objeto, destruindo-o (destruio total) ou rompendo-o (destruio parcial). O art. 171 do Cdigo de Processo Penal exige percia. O obstculo pode ser passivo (porta, janela, corrente, cadeado etc.) ou ativo (alarme, armadilha). A simples remoo do obstculo no caracteriza a qualificadora, que exige o rompimento ou destruio. Desligar o alarme no danifica o objeto, no fazendo incidir a qualificadora. O co no considerado obstculo.10/14

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O crime de dano fica absorvido pelo furto qualificado quando meio para a subtrao, por ser uma qualificadora especfica. A qualificadora s aplicada quando o obstculo atingido no parte integrante do bem a ser subtrado. Ex.: arrombar o porto para furtar o carro aplica-se a qualificadora; quebrar o vidro do carro para subtrair o automvel furto simples; quebrar o vidro do carro para subtrair uma bolsa que est dentro furto qualificado. A divergncia surge quanto ao furto de toca-fitas. Para uns, incide a qualificadora; para outros, o furto simples porque o toca-fitas parte integrante do carro.

b) Com abuso de confiana, mediante fraude, escalada ou destreza

Com abuso de confiana requisitos:

Que a vtima, por algum motivo, deposite uma especial confiana em algum: amizade, namoro, relao de emprego etc. Saliente-se que a relao de emprego deve ser analisada no caso concreto, pois, em determinados empregos, patro e empregado no possuem qualquer contato, inclusive para os empregados domsticos a jurisprudncia exige a demonstrao da confiana.

Que a subtrao tenha sido praticada pelo agente, aproveitando-se de alguma facilidade decorrente da relao de confiana.

Emprego de fraude: significa usar de artifcios para enganar algum, possibilitando a execuo do furto.

O furto mediante fraude distingue-se do estelionato porque neste a fraude utilizada para convencer a vtima a entregar o bem ao agente e naquele, a fraude serve para distrair a vtima para que o bem seja subtrado.11/14

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No furto, a fraude qualificadora; no estelionato elementar do tipo. A jurisprudncia entende que a entrega do veculo a algum que pede para test-lo, demonstrando interesse na sua compra, caracteriza o crime de furto qualificado pela fraude (para possibilitar a indenizao por parte do seguro, que cobre apenas furto e no estelionato, crime que realmente ocorreu porque houve entrega).

Escalada: o acesso por via anormal ao local da subtrao. Ex.: entrada pelo telhado, pela tubulao do ar-condicionado, pela janela, escavao de um tnel e outros.

Para configurao da escalada tem-se exigido que o agente dispense um esforo razovel para ter acesso ao local: entrar por uma janela que se encontra no andar trreo, saltar um muro baixo, por exemplo, no qualificam o furto. O art. 171 do Cdigo de Processo Penal exige a percia do local.

Destreza: habilidade do agente que permite a prtica do furto sem que a vtima perceba.

A vtima deve estar ao lado ou com o objeto para que a destreza tenha relevncia (uma bolsa, um colar etc.). Se a vtima est dormindo ou em avanado estado de embriaguez no se aplica a qualificadora, pois no h necessidade de habilidade para tal subtrao. Se a vtima percebe a conduta do agente, no se aplica a qualificadora. Se a vtima no perceber a conduta do agente, mas for vista por terceiro, subsiste a qualificadora.

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c) Com emprego de chave falsa Considera-se chave falsa:

cpia feita sem autorizao; qualquer objeto capaz de abrir uma fechadura. Ex.: grampo, chave mixa, gazua etc.

A chave falsa deve ser submetida percia para constatao de sua eficcia. A utilizao da chave verdadeira encontrada ou subtrada pelo agente no configura a qualificadora; o furto ser simples. Se subtrada mediante fraude, haver furto qualificado mediante fraude.

d) Mediante o concurso de duas ou mais pessoas A aplicao da qualificadora dispensa a identificao de todos os indivduos e cabvel ainda que um dos envolvidos seja menor. P.: Exige-se que as duas pessoas pratiquem os atos de execuo do furto? R.: Para Nelson Hungria e Celso Delmanto a qualificadora ser aplicada quando pelo menos duas pessoas executarem a subtrao, pois o crime seria cometido com maior facilidade, dificultando a defesa da vtima.

Para Damsio de Jesus e Heleno Fragoso a qualificadora existir ainda que uma s pessoa tenha praticado os atos executrios, porque a lei exige o13/14

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concurso de duas ou mais pessoas, no distinguindo co-autoria de participao, sendo que nessa o agente no pratica atos executrios. Demonstram ainda que a lei, quando exige a execuo por todos os envolvidos, expressa-se nesse sentido, citando como exemplo o art. 146 do Cdigo Penal que impe para execuo do crime a reunio de mais de trs pessoas. Reconhecida a existncia do crime de quadrilha ou bando (art. 288 do CPP), o juiz no poder aplicar a qualificadora do furto mediante concurso de duas ou mais pessoas porque constituiria bis in idem.

1.4.2. Art. 155, 5., do Cdigo Penal Inserido pela Lei n. 9.426/96 A pena passa a ser de recluso de 3 a 8 anos, se a subtrao de veculo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. A definio de veculo automotor encontra-se no Anexo I do CTB. O 5. absorve as qualificadoras do 4., que s podero ser utilizadas como circunstncias judiciais, j que as penas previstas em abstrato so diversas. No basta a inteno do agente de transportar o veculo para outro Estado ou para o exterior; deve ocorrer o efetivo transpasse da fronteira ou divisa para incidncia da qualificadora. Se o agente for detido antes de cruzar a divisa, haver o crime de furto simples consumado e a qualificadora no ser aplicada. A tentativa dessa modalidade de furto qualificado ser possvel quando o agente tentar transpor a barreira da divisa e for detido.14/14

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CURSO DO PROF. DAMSIO A DISTNCIA

MDULO XVII

DIREITO PENAL

__________________________________________________________________ Praa Almeida Jnior, 72 Liberdade So Paulo SP CEP 01510-010 Tel.: (11) 3346.4600 Fax: (11) 3277.8834 www.damasio.com.br

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1. ROUBO ART. 157 DO CDIGO PENAL

Enquanto o furto a subtrao pura e simples de coisa alheia mvel, para si ou para outrem (art. 155 do CP), o roubo a subtrao de coisa mvel alheia, para si ou para outrem, mediante violncia, grave ameaa ou qualquer outro recurso que reduza a possibilidade de resistncia da vtima. O caput do artigo citado trata do roubo prprio, e o seu 1. descreve o que a doutrina chama roubo imprprio. A diferena reside no preciso instante em que a violncia ou a grave ameaa contra a pessoa so empregadas. Quando o agente pratica a violncia ou grave ameaa, antes ou durante a subtrao, responde por roubo prprio; quando pratica esses recursos depois de apanhada a coisa, para assegurar a impunidade do crime ou a deteno do objeto material, responde por roubo imprprio. A pena para ambos (violncia e/ou grave ameaa) de recluso, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa.

1.1. Elementos do Tipo Subtrair e coisa alheia mvel j foram objeto de anlise no mdulo relativoao crime de furto.

Violncia: considera-se apenas a violncia real; a violncia presumida trazida pelo art. 224 do Cdigo Penal excluda.1/26

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Grave ameaa: a promessa de um mal grave e iminente (exs.: anncio de morte, leso, seqestro).

Qualquer outro meio: chamado

violncia imprpria, pode ser

revelado, por exemplo, pelo uso de sonfero, da hipnose etc. A simulao de arma e o uso de arma de brinquedo configuram a grave ameaa. A trombada ser considerada como violncia se for meio utilizado pelo agente para reduzir a vtima impossibilidade de resistncia, caracterizando o roubo e no o furto. O mesmo acontece com o arrebatamento.

1.2. Sujeito Ativo Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa.

1.3. Sujeito Passivo Sujeito passivo pode ser qualquer pessoa que sofra diminuio (perda) patrimonial (proprietrio ou possuidor) ou que seja atingida pela violncia ou grave ameaa.

1.4. Objetividade Jurdica A lei pretende assegurar o patrimnio e a integridade fsica ou liberdade individual.

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1.5. Concurso de Crimes O nmero de vtimas no guarda equivalncia com o nmero de delitos. Este ltimo ser relacionado com base no nmero de resultados (leso patrimonial), que o agente sabia estar realizando no caso concreto. possvel que um s roubo tenha duas vtimas, pois a vtima do roubo tanto quem sofre a leso patrimonial, como quem sofre a violncia ou grave ameaa. Ex.: emprestar o carro a algum que venha a ser assaltado (tanto o proprietrio quanto o possuidor so vtimas). Da mesma forma, havendo grave ameaa contra duas pessoas, mas lesado o patrimnio de apenas uma, haver crime nico, porm, com duas vtimas. Empregada grave ameaa contra cinco pessoas e lesado o patrimnio de trs, por exemplo, h trs crimes de roubo em concurso formal. A soluo, na hiptese de grave ameaa contra uma pessoa lesando bens de duas, d-se da seguinte maneira: se o agente no sabe que est lesando dois patrimnios, h crime nico, evitando-se a responsabilidade penal objetiva; se o agente sabe que est lesando dois patrimnios (pega o relgio do cobrador e o dinheiro do caixa, por exemplo), h dois crimes de roubo em concurso formal. possvel a existncia de crime continuado, se preenchidos os requisitos do art. 71 do Cdigo Penal. Ex.: indivduo rouba uma pessoa em um nibus, sai dele, entra em outro e rouba outra pessoa.

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1.6. Consumao do Roubo H certa divergncia quanto ao momento consumativo do roubo prprio. Para alguns doutrinadores, o roubo consuma-se da mesma maneira que o furto quando o agente consegue a posse tranqila do objeto, fora da esfera de vigilncia da vtima. O entendimento do Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justia que o roubo se consuma com a simples retirada do bem da vtima, aps o emprego da violncia ou grave ameaa, ainda que no consiga a posse tranqila.

1.7. Tentativa A tentativa possvel e ser verificada quando, iniciada a execuo do tipo, mediante violncia ou grave ameaa, o agente no consegue efetivar a subtrao; no se exige o incio da execuo do ncleo subtrair, e sim da prtica da violncia (Damsio de Jesus). Quando o agente preso em flagrante com o objeto do roubo, aps perseguio, responde por crime tentado (para aqueles que exigem a posse tranqila da coisa para consumao) e por crime consumado (Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justia, que dispensam o requisito da posse tranqila da coisa para consumao do roubo).

1.8. Roubo Imprprio Art. 157, 1., do Cdigo Penal Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtrada a coisa, emprega violncia contra a pessoa ou grave ameaa, a fim de assegurar a4/26

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impunidade do crime ou a deteno da coisa para si ou para terceiro.

1.8.1. Diferenas entre roubo prprio e roubo imprprio No roubo prprio a violncia ou grave ameaa ocorre antes da subtrao; no roubo imprprio, depois. No roubo prprio, a violncia ou grave ameaa constituem meio para a subtrao, enquanto no roubo imprprio, o agente, inicialmente, quer apenas furtar e, depois de j se haver apoderado de bens da vtima, emprega violncia ou grave ameaa para garantir a sua impunidade ou a deteno do bem. No roubo prprio, a lei menciona trs meios de execuo, que so a violncia, a grave ameaa ou qualquer outro recurso que dificulte a defesa da vtima. No roubo imprprio, a lei menciona apenas dois, que so a grave ameaa e a violncia, incabvel o emprego de sonfero ou hipnose (violncia imprpria).

1.8.2. Requisitos do roubo imprprio So os seguintes os requisitos do roubo imprprio:

Que o agente tenha se apoderado do bem que pretendia furtar. Se o agente ainda no tinha a posse do bem, no se pode cogitar de roubo imprprio, nem de tentativa. Ex.: o agente est tentando arrombar a porta de uma casa, quando algum chega ao local e agredido pelo agente, que visa garantir sua impunidade e fugir sem nada levar. Haver tentativa de furto qualificado em concurso material com o crime de leses corporais.5/26

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Que a violncia ou grave ameaa tenham sido empregadas logo aps o apoderamento do objeto material. O "logo depois" est presente enquanto o agente no tiver consumado o

furto no caso concreto. Aps a consumao do furto, o emprego de violncia ou de grave ameaa no pode caracterizar o roubo imprprio. Haver um furto consumado e uma leso corporal, grave ameaa, resistncia etc. A violncia ou grave ameaa pode ser contra o prprio dono do bem ou contra um terceiro qualquer, at mesmo um policial. Para a jurisprudncia, se a violncia contra policial serviu para transformar o furto em roubo imprprio, no se pode aplicar em concurso o crime de resistncia, porque seria bis in idem.

Que a violncia ou grave ameaa tenham por finalidade garantir a deteno do bem ou assegurar a impunidade do agente.

1.8.3. Consumao O roubo imprprio consuma-se no exato momento em que empregada a violncia ou grave ameaa, ainda que o agente no atinja sua finalidade (garantir a impunidade ou evitar a deteno). O golpe desferido que no atinge a vtima considerado violncia empregada; portanto, roubo imprprio consumado.

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1.8.4. Tentativa A tentativa no admissvel, pois ou o agente emprega a violncia ou a grave ameaa e o crime est consumado, ou no as emprega e o crime o de furto. Alguns autores (minoria) admitem a tentativa quando o agente quer empregar a violncia, mas impedido.

1.9. Causas de Aumento da Pena Art. 157, 2., do Cdigo Penal (Roubo Circunstanciado) Se o juiz reconhecer a existncia de duas ou mais causas de aumento da pena poder aplicar somente uma, de acordo com o pargrafo nico do art. 68 do Cdigo Penal. As causa de aumento da pena incidem apenas para o roubo simples (prprio ou imprprio), e no se aplicam ao roubo qualificado (leso grave ou morte).

1.9.1. Emprego de arma chamado de roubo qualificado pelo emprego de arma; porm, correto nomear de causa de aumento do roubo (de 1/3 at 1/2). Arma qualquer instrumento que tenha poder vulnerante; pode ser prpria ou imprpria (qualquer objeto que possa matar ou ferir, mas que no possui esta finalidade especfica, como, por exemplo, faca, tesoura, espeto etc.).7/26

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No necessrio que a arma seja apontada para a vtima; basta que o agente esteja armado e que a vtima tome conhecimento disto. A simples simulao de arma no faz incidir o aumento da pena. Parte da jurisprudncia entende que a arma de brinquedo gera o aumento da pena, desde que tenha causado temor vtima. Assim, o agente teria atingido sua finalidade de evitar eventuais reaes e, portanto, facilitado o roubo. Outra parte da jurisprudncia (majoritria na doutrina) entende que no se aplica o aumento da pena: primeiro porque no arma; depois porque se a arma de brinquedo, o potencial lesivo da conduta do agente menor. A Terceira Seo do Superior Tribunal de Justia, no REsp n. 213.054, de So Paulo, em 24.10.2001, relator o Ministro Jos Arnaldo da Fonseca, decidiu cancelar a Smula n. 174 (No crime de roubo, a intimidao feita com arma de brinquedo autoriza o aumento da pena.), considerando que o emprego de arma de brinquedo, embora no descaracterize o crime, no agrava o roubo, uma vez que no apresenta real potencial ofensivo. Ficou assentado que a incidncia da referida circunstncia de exasperao da pena:

fere o princpio constitucional da reserva legal (princpio da tipicidade);

configura bis in idem; deve ser apreciada na sentena final como critrio diretivo de dosagem da pena (circunstncia judicial do art. 59 do CP);

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lesa o princpio da proporcionalidade1.

De notar-se que a deciso apenas cancelou a referida Smula, no havendo impedimento a que juzes e tribunais ainda continuem adotando a primeira orientao, que determina o agravamento da pena. Alm disso, h o perigo de que, cancelada a mencionada Smula, venham a reconhecer concurso formal entre o roubo simples e a utilizao de arma de brinquedo no cometimento do crime, nos termos do art. 10, 1., II, da Lei n. 9.437/972. Se isso ocorrer, teremos a seguinte situao: se o agente emprega arma verdadeira, no incidindo mais a Smula, a pena mnima abstrata de recluso, de quatro a dez anos (CP, art. 157, caput); se rouba com revlver de brinquedo, por fora do concurso formal, a pena m nima abstrata maior, de quatro anos e oito meses a onze anos e oito meses. Ento, se o assaltante receber a mensagem, ir usar somente arma verdadeira.

Caso a arma esteja quebrada ou desmuniciada, h duas posies:

se at arma de brinquedo autoriza o aumento da pena, arma quebrada ou desmuniciada tambm tem o mesmo efeito;

no tem potencial ofensivo, por isso no se aplica o aumento.

1.9.2. Concurso de duas ou mais pessoas As anotaes feitas a respeito do concurso de pessoas no furto (art. 155 do CP) aplicam-se ao roubo; a distino quanto natureza jurdica: naquele qualificadora; neste causa de aumento.1

GOMES, Luiz Flvio. STJ cancela Smula 174: arma de brinquedo no agrava o roubo. So Paulo: IBCCrim , 27.9.2001. Disponvel em: . O autor alinha outras concluses do acrdo. 2 Sem prejuzo de que reconheam o concurso material de crimes.

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1.9.3. Servio de transporte de valores Aplicvel apenas se a vtima est trabalhando (em servio) com o transporte de valores (ex.: assalto de office-boy, de carro-forte etc.). Se o ladro assaltar o motorista do carro-forte, levando somente o seu relgio, no h qualificadora. Exige-se que o agente conhea a circunstncia do transporte de valor (dolo direto), no se admitindo dolo eventual. Obs.: no existe qualificadora semelhante no crime de furto.

1.9.4. Veculo automotor que venha a ser transportado para outro estado ou pas Ver anotaes sobre furto.

1.9.5. Se o agente mantm a vtima em seu poder, restringindo sua liberdade Aplica-se s hipteses em que a vtima mantida pelos assaltantes por pouco tempo, ou tempo suficiente para a consumao do roubo. Se o perodo for longo, haver concurso material de roubo simples e seqestro (art. 157 c.c. art. 148, ambos do CP).

1.10. Roubo Qualificado Art. 157, 3., do Cdigo Penal H duas formas de roubo qualificado, aplicveis tanto ao roubo prprio10/26

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quanto ao imprprio. De acordo com a primeira parte do dispositivo: se da violncia resulta leso corporal de natureza grave, a pena de recluso, de 7 (sete) a 15 (quinze) anos, alm de multa. Houve alterao da pena mnima, para tornar pacfico o entendimento de que as causas de aumento da pena do 2. no se aplicam s qualificadoras do 3.. Se a leso leve, esta fica absorvida. A parte final dispe que se resulta morte, a recluso de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, sem prejuzo da multa. o denominado latrocnio (crime hediondo). No confundir tentativa de latrocnio com roubo qualificado pela leso grave. O que distingue o dolo (vontade de matar ou vontade de lesar). Se a vtima morre em razo da grave ameaa tem-se concurso formal de roubo simples e homicdio culposo (ex.: a vtima, ao ver a arma, sofre ataque cardaco e morre). O roubo ser qualificado se a morte ou a leso corporal grave resultarem da violncia; o tipo no menciona a grave ameaa. Nos termos do art. 19 do Cdigo Penal, via de regra, o crime qualificado pelo resultado preterdoloso (h dolo na conduta antecedente e culpa na conseqente). No crime de latrocnio, excepcionalmente, a morte pode decorrer de culpa ou dolo, respeitando-se o Princpio da Proporcionalidade das Penas (roubo simples + homicdio doloso = 4 +12 = 16, a pena seria inferior pena prevista para hiptese de resultar morte culposa no crime de roubo). Smula n. 603 do STF: "ainda que a morte seja dolosa, por haver latrocnio (crime contra o patrimnio), a competncia do juzo singular".11/26

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Tem-se, como regra, que a morte ou leso corporal grave, resultando de violncia, pode ser de qualquer pessoa. A exceo encontra-se na morte ou leso corporal grave de co-autor ou partcipe.

1.10.1. Consumao e tentativa Por se tratar de crime complexo tem-se o seguinte:

Subtrao consumada + morte tentada = latrocnio tentado. Subtrao consumada + morte consumada = latrocnio consumado. Subtrao tentada + morte tentada = latrocnio tentado. Subtrao tentada + morte consumada = latrocnio consumado (Smula n. 610 do STF: H crime de latrocnio, quando o homicdio se consuma, ainda que no realize o agente a subtrao de bens da vtima).

Caracteriza-se a violncia quando empregada em razo do roubo (nexo causal) e durante o cometimento do delito (no mesmo contexto ftico). O nexo causal estar presente quando a violncia constituir meio para a subtrao (ex.: roubo prprio qualificado pela morte) ou quando for empregada para garantir a deteno do bem ou a impunidade do agente (ex.: roubo imprprio). Faltando um desses requisitos, haver roubo em concurso material com homicdio doloso ou delito de leso corporal dolosa.

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Ex.1: Joo rouba algum hoje; semanas depois, para garantir a impunidade, mata a vtima. Responder por roubo em concurso material com homicdio. Ex.2: ladro mata um desafeto seu, que passa pelo local durante o roubo. Foi durante o roubo, mas no em razo dele.

2. EXTORSO ART. 158 DO CDIGO PENAL

A extorso consiste em empregar violncia ou grave ameaa com a inteno ou de obter indevida vantagem econmica, ou para obrigar a vtima a fazer, deixar de fazer ou tolerar que se faa algo. A pena de recluso de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa ( a mesma pena do roubo).

2.1. Objetividade Jurdica A principal a inviolabilidade do patrimnio. A secundria a proteo vida, integridade fsica, liberdade pessoal e tranqilidade do esprito.

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2.2. Diferena entre Extorso e Exerccio Arbitrrio das Prprias Razes Na extorso o agente visa a uma vantagem patrimonial indevida, enquanto no exerccio arbitrrio das prprias razes a vantagem devida (art. 345 do CP).

2.3. Roubo e Extorso Para Nelson Hungria, no roubo o bem tirado da vtima, e na extorso a vtima entrega o bem. A doutrina e a jurisprudncia discordam dessa teoria em algumas hipteses que dizem respeito conduta entregar. Quando a vtima obrigada a entregar o objeto sem ter qualquer opo (ex.: arma de fogo apontada para ela), o crime ser o de roubo. Para que o crime seja de extorso necessrio, portanto, que, aps o emprego da violncia ou grave ameaa, a vtima tenha alguma opo de escolha, sendo sua colaborao imprescindvel para que o agente obtenha a vantagem visada. Enquanto no roubo a ao e o resultado so concomitantes, na extorso o mal prometido e a vantagem so futuros. Questo polmica a que diz respeito ao constrangimento da vtima para sacar dinheiro em caixa eletrnico. Para a jurisprudncia, o delito de extorso (art. 158 do CP) e no de roubo (art.157, 2., inc.V, do CP), com fundamento no princpio da dispensabilidade ou indispensabilidade da conduta da vtima. Para o Professor Damsio de Jesus, as condutas devem ser analisadas no caso concreto: De acordo com o princpio da prescindibilidade do comportamento da vtima, quando o autor pode obter o objeto material14/26

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dispensando a sua conduta, trata-se de roubo; quando, entretanto, o escopo do agente depende necessariamente de ao do ofendido, cuida-se de extorso. E exemplifica: Quando o autor constrange a vtima a lhe entregar o carto magntico, a hiptese de roubo agravado (art.157, 2., inc. V) e no de extorso, uma vez que ele pode, para obter o dinheiro, dispensar a ao da vtima; a soluo ser diversa quando a vtima coagida a retirar o dinheiro do banco mediante a emisso de cheque, caso em que o autor no pode prescindir de seu comportamento.

2.4. Diferena entre Extorso e Estelionato Para se saber se o crime o de extorso, deve-se verificar se a entrega do objeto material foi espontnea (voluntria) ou no. No estelionato, a entrega espontnea porque a vtima est sendo enganada; na extorso, esta entrega a coisa contra a sua vontade para evitar um mal maior. No estelionato, a vtima no sabe que est havendo um crime. Quando o agente emprega fraude e violncia ou grave ameaa para obter a coisa, o delito de extorso, pois a entrega ocorre no em razo da fraude, mas sim da violncia ou grave ameaa. Observe o exemplo citado pelo Professor Victor Gonalves: Uma pessoa simula ser policial e, sob ameaa de morte, obriga a vtima a entregar-lhe certa quantia em dinheiro.

2.5. Extorso e Constrangimento Ilegal Tanto na extorso quanto no constrangimento ilegal, o agente emprega violncia ou grave ameaa contra a vtima, no sentido de que faa ou deixe de fazer alguma coisa.15/26

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A diferena entre extorso e constrangimento ilegal est na finalidade: no constrangimento ilegal, o sujeito ativo deseja que a vtima se comporte de determinada maneira, para obter qualquer tipo de vantagem. Na extorso, o constrangimento realizado com o objetivo expresso no tipo de obter indevida vantagem econmica.

2.6. Consumao e Tentativa Smula formal. De acordo com entendimento do Professor Damsio de Jesus, o crime se consuma quando a vtima faz, deixa de fazer ou tolera que se faa alguma coisa. A tentativa possvel quando o constrangido no realiza a conduta, por circunstncias alheias vontade do autor. n. 96 do STJ: O crime de extorso consuma-se

independentemente da obteno da vantagem indevida. , portanto, um crime

2.7. Causas de Aumento da Pena O 1. do art. 158 do Cdigo Penal dispe que a pena aumentada de um tero a metade (1/3 a 1/2) se o crime cometido por duas ou mais pessoas ou com o emprego de arma.

2.8. Extorso Qualificada Segundo o 2. do mesmo dispositivo deve-se aplicar extorso as regras e penas do roubo qualificado pela leso grave ou morte.16/26

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3. EXTORSO MEDIANTE SEQESTRO ART. 159 DO CDIGO PENAL

Trata-se de crime hediondo em todas as modalidades (forma simples ou qualificada). As penas foram alteradas pela Lei n. 8.072/90, que aumentou a pena privativa de liberdade de 6 (seis) a 12 (doze) anos para 8 (oito) a 15 (quinze) anos, eliminando a multa. O caput do art. 159 do Cdigo Penal trata da forma simples da extorso mediante seqestro: seqestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condio ou preo do resgate.

3.1. Objetividade Jurdica A principal a inviolabilidade do patrimnio. A secundria a tutela da liberdade de locomoo. Trata-se de crime complexo.

3.2 Sujeito Ativo Sujeito ativo qualquer pessoa.

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3.3. Sujeito Passivo Sujeito Passivo qualquer pessoa. Admite-se a pluralidade de sujeitos passivos um que seqestrado e o outro a quem se dirige a finalidade do agente de obter a vantagem.

3.4. Consumao O crime se consuma no momento do seqestro, com a privao da liberdade de locomoo da vtima. Trata-se, portanto, de crime formal, j que no exige o pagamento do resgate considerado simples exaurimento. delito permanente.

3.5. Competncia A competncia para julgamento desse delito do local onde se deu a consumao; por ser crime permanente, o local onde se estendeu o seqestro. Se o crime consumar-se em territrio de duas comarcas, ambas sero competentes, fixando-se uma delas por preveno (art. 71 do CPP). possvel a priso em flagrante a qualquer tempo, enquanto a vtima no for libertada (art. 303 do CPP).

3.6. Tentativa A tentativa possvel quando, iniciado o ato de seqestrar, os agentes no tiverem xito na captura da vtima.

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3.7. Extorso Mediante Seqestro e Rapto No crime do art. 159 do Cdigo Penal (extorso mediante seqestro) ocorre privao da liberdade com o intuito de se obter vantagem patrimonial. No rapto, a privao da liberdade de mulher honesta (sujeito passivo do delito) tem fins libidinosos.

3.8. Extorso Mediante Seqestro e Seqestro e Crcere Privado O seqestro do art. 148 do Cdigo Penal crime subsidirio. a privao da liberdade de algum mediante violncia ou grave ameaa, desde que o fato no constitua crime mais grave.

3.9. Elementos Objetivos do Tipo O tipo traz a expresso qualquer vantagem. P.: Qual o seu alcance? R.: O Professor Damsio de Jesus entende que, para configurao da extorso mediante seqestro, a vantagem visada pode ser devida ou indevida, econmica ou no-econmica, uma vez que o Cdigo Penal no especifica. A maioria da doutrina entende que se a vantagem visada for devida haver concurso entre os crimes de seqestro e exerccio arbitrrio das prprias razes. S existe extorso mediante seqestro se a vantagem for indevida e necessariamente patrimonial.

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Animal capturado para exigncia de resgate no caracteriza o art. 159 do Cdigo Penal, que exige como vtima pessoa, caracterizando apenas crime de extorso.

3.10. Formas Qualificadas

3.10.1. Art. 159, 1., do Cdigo Penal A pena de recluso de 12 (doze) a 20 (vinte) anos, se:

o seqestro dura mais de 24 horas; a vtima tem menos de 18 anos; o crime praticado por quadrilha.

Se a vtima menor de 14 anos, no se aplica a qualificadora prevista nesse pargrafo, mas sim o art. 9. da Lei n. 8.072/90 (Lei dos Crimes Hediondos), que manda acrescer a pena de metade, respeitando o limite mximo de 30 anos de recluso. Se o crime for cometido por quadrilha ou bando, aplica-se a qualificadora do pargrafo em anlise, ficando absorvido o delito de quadrilha ou bando previsto no art. 288 do Cdigo Penal, que, segundo o Prof. Victor Gonalves, apesar de ser delito formal e normalmente autnomo em relao s infraes perpetradas pelos quadrilheiros, nesta hiptese constituiria inegvel bis in idem. Para o doutrinador Julio Fabbrini Mirabete, existe

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concurso material com o delito de quadrilha ou bando com a pena agravada (de trs a seis anos) pela Lei n. 8.072/90 (Lei dos Crimes Hediondos).

3.10.2. Art. 159, 2. e 3., do Cdigo Penal A pena de recluso de 16 (dezesseis) a 24 (vinte e quatro) anos, se resulta em leso grave. E de 24 (vinte e quatro) a 30 (trinta) anos, se resulta em morte. Essas duas qualificadoras s se aplicam quando o resultado recair sobre a pessoa da vtima (seqestrado). A morte de outras pessoas constitui crime de homicdio autnomo em concurso com o crime do art. 159 do Cdigo Penal. As qualificadoras se aplicam tanto ao resultado doloso quanto ao resultado culposo. S no ser aplicada se o resultado for conseqncia de caso fortuito. O reconhecimento de uma qualificadora mais grave afasta o reconhecimento de uma qualificadora menos grave. O art. 9. da Lei dos Crimes Hediondos dispe aumentar da metade a pena na extorso mediante seqestro em trs hipteses:

vtima com idade no superior a 14 anos; se a vtima doente mental e os seqestradores sabem dessa condio;

se a vtima no pode, por qualquer outra causa, oferecer resistncia.

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Se a vtima tem menos de 14 anos, s se aplica o art. 9. da Lei dos Crimes Hediondos. A qualificadora prevista no art. 159, 1., do Cdigo Penal afastada.

3.11. Delao Eficaz Art. 159, 4., do Cdigo Penal Se o crime for praticado em concurso (duas ou mais pessoas), o concorrente (co-autores e partcipes) que denunciar o fato autoridade, facilitando a libertao da vtima, ter sua pena reduzida de 1/3 a 2/3 (um a dois teros). O pargrafo foi inserido pela Lei dos Crimes Hediondos, alterada pela Lei n. 9.269/90. Trata-se de causa de diminuio de pena. Haver a diminuio da pena se a delao efetivamente facilitar a libertao da vtima. Quanto maior a colaborao, maior ser a reduo da pena.

4. DANO ART. 163 DO CDIGO PENAL

Dano um crime contra o patrimnio no qual o agente no visa necessariamente obteno de lucro. O tipo descreve no caput: Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia. Pena: deteno de 1 a 6 meses, ou multa.22/26

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Trata-se de crime da competncia do Juizado Especial. A reparao do dano ou a simples composio em relao ao prejuzo, desde que homologado pelo juiz em audincia preliminar, gera a extino da punibilidade do agente nos termos do art. 74, par. n., da Lei n. 9.099/95.

4.1. Objeto Material Objeto material a coisa alheia (mvel ou imvel).

4.2. Sujeito Ativo Sujeito ativo qualquer pessoa, menos o proprietrio. Responde pelo crime do art. 346 do Cdigo Penal quem destri coisa prpria que se encontra em poder de terceiro em razo de contrato (ex.: aluguel, penhor etc.) ou de ordem judicial (ex.: juiz determina a penhora de um bem entregue ao depositrio que no o devedor). Se houver condmino da coisa e o bem for infungvel, h crime; se o bem for fungvel, s haver crime se a conduta do agente superar sua cotaparte, pois s assim causar prejuzo ao outro. No h crime de dano culposo previsto pela legislao comum. No Cdigo Penal Militar existe, por exemplo, policial desidioso que danifica sua arma.

4.3. Sujeito Passivo Sujeito passivo o titular do direito de propriedade.23/26

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4.4. Elementos Objetivos do Tipo

Destruir: a coisa deixa de existir em sua individualidade; demolir, desfazer o objeto.

Inutilizar: fazer com que o bem se torne intil para as funes originrias.

Deteriorar: qualquer outra forma de dano que no seja destruir ou inutilizar; estragar; causar modificao para pior.

A conduta de pichar caracteriza o crime do art. 65 do Cdigo Ambiental (Lei n. 9.605/98), desde que atinja edificao ou monumento pblico. Na conduta de fazer desaparecer o objeto alheio, o fato atpico. Tratase de uma lacuna das normas penais incriminadoras, pois no h adequao ao tipo do art. 163 do Cdigo Penal. A destruio do objeto material furtado um post factum impunvel.

4.5. Consumao A consumao tem lugar com o efetivo dano ao objeto material, total ou parcial. indispensvel a prova pericial no crime de dano. 4.6. Tentativa A tentativa admissvel.

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4.7. Dano Qualificado Art. 163, par. n., do Cdigo Penal A pena de deteno, de 6 (seis) meses a 3 (trs) anos, e multa, alm da pena correspondente violncia.

4.7.1. Emprego de violncia contra a pessoa ou grave ameaa A qualificadora incide sobre o meio de execuo. Se a violncia ou grave ameaa posterior ao dano, no se tem a qualificadora. Haver concurso material se da violncia resultar leses, ainda que leves.

4.7.2. Uso de explosivo ou substncia inflamvel, salvo se o fato constituir crime mais grave O tipo traz uma subsidiariedade expressa; o crime de dano ficar absorvido se o fato constituir delito mais grave, como, por exemplo, crime de incndio (art. 250 do CP), ou de exploso (art. 251 do CP).

4.7.3. Contra o patrimnio da Unio, dos Estados, dos Municpios, da sociedade de economia mista ou concessionria de servio pblico Se o bem particular e est locado ao Poder Pblico, o dano simples, pois o patrimnio, no caso, particular. O preso que danifica a cela para fugir, para alguns doutrinadores, no comete crime de dano, pois este exige inteno especfica de causar prejuzo vtima. Para outros, incluindo-se o Professor Damsio de Jesus, h crime de25/26

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dano, pois, para sua existncia, basta que o agente tenha cincia de que causar prejuzo com sua conduta.

4.7.4. Motivo egostico ou se resulta prejuzo considervel vtima A intensidade do prejuzo ser analisada de acordo com o patrimnio da vtima.

4.8. Ao Penal Art. 167 do Cdigo Penal No dano simples e no dano qualificado do inciso IV a ao penal privada. Nas demais formas de dano qualificado a ao penal pblica incondicionada. Se o promotor denunciar por dano qualificado pelos incisos I, II ou III, e, no curso do processo, o juiz desclassificar o dano para simples, o processo deve ser anulado por ilegitimidade de parte.

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CURSO DO PROF. DAMSIO A DISTNCIA

MDULO XVIII

DIREITO PENAL

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1. APROPRIAO INDBITA - ART. 168 do CP

Apropriar-se de coisa alheia mvel, de que tem a posse ou deteno. Pena - recluso de 1 a 4 anos, e multa. Trata-se de crime que se caracteriza pela quebra da confiana, porque a vtima entrega ao agente a posse desvigiada, acreditando que aquele lhe restituir o bem quando pedido.

1.1. Requisitos

Que a vtima, por algum motivo, entregue ao agente um objeto, fazendo-o de forma livre, espontnea e consciente.

Difere da extorso, em que a entrega feita em razo de violncia ou grave ameaa, e do estelionato, caracterizado pela entrega de forma consciente, mas fruto de uma fraude (vtima mantida em erro). Na apropriao indbita, o agente recebe a posse lcita.

Que o agente tenha a posse ou deteno desvigiada; se a posse for vigiada, o crime ser o de furto. Posse vigiada aquela em que no h autorizao para a retirada do objeto da esfera de vigilncia da vtima.1/28

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Que o agente, ao receber o bem, esteja de boa-f (no ter dolo de se apoderar do bem naquele momento). Porque, se h dolo antes do recebimento do bem, o crime de estelionato.

Na dvida, denuncia-se por apropriao indbita, pois, a boa-f presumida.

Que, aps estar na posse do bem, o agente inverta o seu nimo em relao ao objeto, passando a se considerar e a se portar como se fosse dono.

O comportamento de dono pode se dar com o assenhoramento definitivo (apropriao indbita negativa de restituio) ou quando o agente dispe do bem, vendendo-o, alugando-o (apropriao indbita propriamente dita).

1.2. Observaes Gerais O funcionrio pblico que se apropria de coisa pblica, ou de coisa particular que se encontra sob a guarda da Administrao, pratica o crime de Peculato (peculato-apropriao art. 312 do CP). A posse do todo (continente) entregue trancado no implica a posse do contedo. Ex.: algum recebe um cofre trancado para transport-lo e o arromba para se apropriar dos valores nele contidos. O agente pratica furto qualificado pelo rompimento de obstculo. A apropriao de uso no constitui crime pela ausncia de nimo de assenhoramento definitivo.

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possvel a apropriao indbita de coisa fungvel. H, entretanto, duas excees, quando o bem recebido em razo de contrato de mtuo ou de depsito, porque os arts. 1.257 e 1.280 do CC estabelecem que nesses contratos a tradio transfere a propriedade e, assim, o sujeito no recebe a posse de coisa alheia recebe na posio de dono e no de possuidor de coisa alheia. A demora na restituio em que no se estipula prazo no configura o delito. Se houver prazo para a restituio, o delito configura-se aps seu decurso.

Tem-se reconhecido crime nico nas condutas de quem: estando obrigado a uma prestao conjunta, em vrias ocasies apropria-se do numerrio de terceiro; sendo empregado, recebe dinheiro de vrias pessoas e no o entrega ao patro.

1.3. Causas de Aumento de Pena - Art. 168, 1., do CP A razo de ser do aumento o motivo pelo qual a pessoa recebe a posse. Aumenta-se a pena em 1/3, quando:

Se o bem recebido em razo de depsito necessrio (art. 1.282 e 1.284 do CC):

Legal: decorre de lei. Se o funcionrio pblico recebe um bem em depsito necessrio e dele se apropria, comete peculato, art. 312 do CP.3/28

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Miservel: feito em razo de situaes de calamidades como enchentes, desabamentos etc.

Por equiparao: refere-se aos valores bagagens dos hspedes em hotis, penses ou estabelecimentos congneres.

Se o agente recebe o objeto na qualidade de: tutor, curador, sndico, inventariante, testamenteiro, liqidatrio (figura que no existe mais em nosso sistema) ou depositrio judicial.

Se o agente recebe o objeto no desempenho de sua profisso, emprego ou ofcio.

1.3.1. Apropriao indbita previdenciria art. 168 - A, 1. (Lei n. 9.983/2000) Deixar de repassar Previdncia Social as contribuies recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional. Pena recluso, de 2 a 5 anos, e multa. Trata-se de modalidade de sonegao fiscal. O 2. estabelece a extino da punibilidade se o agente, antes do incio da ao fiscal, espontaneamente, confessa, declara, paga e presta todas as informaes que lhe forem solicitadas pela Previdncia. O 3., inc. I, diz que, se o pagamento for feito aps o incio da ao fiscal (procedimento administrativo da Previdncia, que visa apurar o valor devido) e antes do oferecimento da denncia, o juiz poder aplicar somente a4/28

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pena de multa ou conceder o perdo judicial. A providncia cabvel se o ru for primrio e de bons antecedentes (inc. II do mesmo pargrafo).

1.4. Apropriao de Coisa Havida Por Erro (caput) - Art. 169 do CP Caracteriza-se pela entrega da coisa pela vtima, que se encontra em erro, ao agente. Diferencia-se da apropriao indbita porque nessa a vtima no est em erro. O erro pode se referir:

pessoa a quem deve ser entregue o objeto; ao prprio objeto; existncia da obrigao.

1.4.1. Extorso estelionato apropriao de coisa havida por erro Se a vtima entrega o bem mediante coao, h extorso, art. 168 do CP. Se a vtima entrega a coisa por estar em erro, pode ocorrer estelionato, art. 171 do CP, ou apropriao de coisa havida por erro, art. 169 do CP. Nos trs crimes a vtima entrega o objeto. A diferena encontra-se no erro da vtima, inexistente na extorso, antecedente no estelionato e posterior na apropriao de coisa havida por erro. No estelionato o agente sabe que a vtima est em erro antes de receber o bem porque cria uma situao de fraude para a induzir ou manter nessa5/28

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circunstncia, justamente para que ela efetue a entrega do objeto (o agente recebe a coisa de m-f). Na apropriao de coisa havida por erro, o agente no percebe que recebeu o objeto por equvoco; posteriormente toma conhecimento do engano e decide no devolver o bem (o agente recebe a coisa de boa-f).

1.5. Apropriao de Coisa Achada - Art. 169, par. n., II, do CP Tipifica a conduta de quem encontra coisa perdida e dela se apodera no total ou em parte, deixando de devolv-la ao dono ou legtimo possuidor ou de entreg-la autoridade no prazo de 15 dias. A autoridade pode ser policial ou judiciria. Coisa perdida a que se extraviou do dono em local pblico ou aberto ao pblico. Coisa esquecida em local particular no eqivale coisa perdida. O delito se consuma aps os 15 dias que a lei estabelece para a devoluo, salvo se antes disso o agente deixa clara sua inteno de no devolver. um crime a prazo.

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2. ESTELIONATO ART. 171 do CP

Obter, para si ou para outrem, vantagem ilcita, em prejuzo alheio, induzindo ou mantendo algum em erro, mediante artifcio, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento. Pena - recluso de 1 a 5 anos, e multa. Difere-se pelo emprego de fraude, para manter ou induzir a vtima em erro convencendo-a a entregar seus pertences. Artifcio a utilizao de algum aparato material para enganar (cheque, bilhete etc.). Ardil a conversa enganosa. Pode ser citado, como exemplo de qualquer outra fraude, o silncio. Caracteriza crime contra a economia popular: obter ou tentar obter ganhos ilcitos em detrimento do povo ou de nmero indeterminado de pessoas, mediante especulaes ou processos fraudulentos (bola de neve, cadeias, pichardismo, e quaisquer outros meios equivalentes) art. 2., IX, da Lei n. 1.521/51.

2.1. Sujeito Ativo Qualquer pessoa. Admite-se o concurso de pessoas em co-autoria quando um emprega a fraude e o outro obtm a indevida vantagem patrimonial.

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2.2. Sujeito Passivo Qualquer pessoa, desde que determinada. No se pode denunciar por estelionato quando as vtimas so indeterminadas. Em casos tais, pode se caracterizar crime contra a economia popular. Ex.: adulterao de balana. A vtima a pessoa enganada que sofre o prejuzo material. Pode haver mais de uma (a que enganada e a que sofre o prejuzo).

2.3. Objetivo da Fraude Provocar o equvoco da vtima (induzir em erro) ou manter o erro em que j incorre a vtima, independentemente de prvia conduta do agente. O emprego da fraude dever ser anterior obteno da vantagem ilcita.

2.4. Consumao O estelionato tem duplo resultado (prejuzo para a vtima e obteno de vantagem pelo agente). O crime material, s se consuma com a efetiva obteno da vantagem ilcita (no h a expresso com o fim de, tpica dos crimes formais). Se a vtima sofre o prejuzo, mas o agente no obtm a vantagem, o crime tentado.

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2.5. Tentativa possvel. Mas, se a fraude meio inidneo para enganar a vtima, o crime impossvel (por absoluta ineficcia do meio). A inidoneidade do meio deve ser analisada de acordo com as circunstncias pessoais da vtima. Se o meio idneo, mas, acidentalmente, se mostrou ineficaz, h tentativa.

2.6. Observaes O trfico de influncia, art. 332 do CP, espcie de estelionato em que a fraude consiste em dizer o agente que, de alguma forma, ir influir em funcionrio pblico para beneficiar a vtima delito especfico em relao ao art. 171 do CP. Qualquer banca de jogo de azar ilegal e o agente pratica a contraveno do art. 50 da LCP, exceto se h emprego de fraude com o fim de excluir a possibilidade de ganho nesse caso tem-se estelionato. Falsificao de documento pblico ou particular crime, arts. 297 e 298 do CP.

P.: Qual a responsabilizao de quem falsifica documento para cometer estelionato? R.: H divergncia:

Uma corrente entende que h concurso material entre falsificao de documento e estelionato (posio do STF antes de 1998). No h absoro de um crime por outro porque atingem bens jurdicos diversos, sendo tambm diversas as vtimas.9/28

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A corrente dominante aplica a Smula n. 17 do STJ: Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, por este absorvido. Ex.: se o agente falsifica um RG e o usa junto com o cheque da vtima, a potencialidade lesiva do falso persiste, pois o agente, aps entregar o cheque (cometendo estelionato art. 171, 2., VI, do CP), continua com o RG da vtima, podendo vir a praticar outros crimes no h absoro, o agente responder pelos dois delitos.

Outra corrente sustenta que o falso absorve o estelionato porque tem pena mais grave. Da a regra do crime mais grave absorver o menos grave.

Para uma outra corrente, ambos os crimes coexistem, mas em concurso formal.

P.: Que se entende por fraude bilateral? R.: H fraude bilateral quando a vtima tambm age de m-f.

P.: No caso de fraude bilateral existe estelionato por parte de quem ficou com o lucro? R.: A doutrina se divide:

Segundo Nelson Hungria no h crime, pois:

A lei no pode amparar a m-f da vtima.

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Se no cvel a pessoa no pode pedir a reparao do dano, ento tambm no h ilcito penal.

Na viso de Magalhes Noronha, Mirabete e Damsio de Jesus existe estelionato, pois:

A lei no pode ignorar a m-f do agente com a qual obteve uma vantagem ilegal (a boa-f da vtima no elementar do tipo).

O Direito Penal visa tutelar o interesse de toda a coletividade e no apenas o interesse particular da vtima.

2.7. Privilgio Art. 171, 1. , do CP

2.7.1. Requisitos

Pequeno valor do prejuzo. Para o Prof. Damsio, no deve superar um salrio-mnimo. O valor do prejuzo deve ser apurado no momento de sua consumao por ser um delito instantneo. No caso de tentativa, leva-se em conta o prejuzo que o agente pretendia causar vtima.

Que o agente seja primrio.

As conseqncias so as mesmas do furto privilegiado, art. 155, 2., do CP. Aplica-se s figuras do caput e do 2., que no so qualificadoras. No se trata de faculdade, mas de direito do ru.11/28

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2.8. Disposio de Coisa Alheia Como Prpria Art. 171, 2., I, do CP O fato consuma-se com o recebimento da vantagem. No necessria a tradio ou inscrio no registro do objeto da venda. A cincia do adquirente exclui o delito. O silncio do agente a respeito da propriedade da coisa imprescindvel. admissvel a tentativa. Tem-se entendido que, se o agente est na posse ou na deteno do objeto material e o aliena, responde somente por apropriao indbita, ficando absorvido o estelionato, a no ser que tenha agido com dolo ab initio, caso em que prevalece o estelionato.

2.9. Alienao ou Onerao Fraudulenta de Coisa Prpria Art. 171, 2., II, do CP A inalienabilidade pode ser legal, convencional ou testamentria. A simples promessa de venda no configura o delito. Consuma-se com a obteno da vantagem. A tentativa admissvel.

2.10. Defraudao de Penhor Art. 171, 2., III, do CP O sujeito ativo somente o devedor do contrato de penhor.12/28

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Consiste em defraudar o objeto material que constitui a garantia pignoratcia. Trata-se de crime material, exigindo-se a efetiva defraudao da garantia pignoratcia. Consuma-se com a alienao, a ocultao, o desvio, a substituio, o consumo, o abandono etc. da coisa dada em garantia.

2.11. Fraude na Entrega de Coisa O sujeito ativo aquele que tem a obrigao de entregar a coisa a algum. A ao incide sobre a qualidade ou a quantidade da substncia. Consuma-se com a tradio do objeto material. Admite-se a tentativa.

2.12. Fraude para Recebimento de Indenizao ou Valor de Seguro Art. 171, 2., V, do CP O sujeito ativo o segurado, o sujeito passivo, o segurador. Trata-se de crime prprio. Nada impede que terceiro intervenha no comportamento tpico, respondendo tambm pelo crime. Na hiptese de leso causada no segurado, o terceiro responde por dois crimes: estelionato e leso corporal.

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crime formal, basta que se realize a conduta, independentemente da obteno da vantagem indevida. No necessrio que o autor do fato seja o beneficirio do contrato de seguro, pode ser que terceiro venha a receber o valor da indenizao. Admite-se a tentativa.

2.13. Fraude no Pagamento por Meio de Cheque Art. 171, 2. , VI, do CP VI emite cheque, sem suficiente proviso de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento Emitir preencher, assinar e colocar em circulao (entregar a algum). Smula n. 521 do STF: O foro competente para o processo e o julgamento dos crimes de estelionato, sob a modalidade da emisso dolosa de cheque sem proviso de fundos, o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado. Smula n. 48 do STJ: Compete ao juzo do local da obteno da vantagem ilcita processar e julgar o crime de estelionato cometido mediante falsificao de cheque. Smula n. 246 do STF: Comprovado no ter havido fraude, no se configura o crime de emisso de cheques sem fundos. Trata-se de crime doloso, no admite a modalidade culposa.

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No caso de o agente emitir dolosamente um cheque sem fundos, mas, antes da consumao, se arrepender e depositar o valor, ocorre o arrependimento eficaz que exclui o crime. O pagamento com cheque roubado caracteriza estelionato simples. O desconto do cheque fora do prazo para apresentao descaracteriza o delito. Se, aps a consumao do delito e antes do recebimento da denncia, o agente pagar o valor do cheque, incide o art. 16 do CP, que estabelece reduo de pena de 1 a 2/3 revogando a Smula n. 554 do STF: O pagamento de cheque emitido sem proviso de fundos, aps o recebimento da denncia, no obsta ao prosseguimento da ao penal. O entendimento era no seguinte sentido: se o pagamento efetuado aps a denncia no obstava a ao penal, o pagamento efetuado antes da denncia, impedia a ao penal. Com a reforma penal de 1984, surgiu o instituto do arrependimento posterior (art. 16 do CP), que impe a reduo da pena para a hiptese. Na prtica, porm, por questo de poltica criminal, a smula continua sendo aplicada. O Prof. Damsio entende que no houve cancelamento. A reparao do dano feita aps o recebimento da denncia mera atenuante genrica. Frustrar o pagamento do cheque o segundo ncleo do crime. Caracteriza-se pela existncia de fundos no momento da emisso e o posterior impedimento do recebimento do valor, p. ex., sustao de cheque, saque da garantia antes da apresentao do cheque etc.15/28

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2.13.1. Consumao Quando o banco sacado se recusa a efetuar o pagamento basta uma nica recusa.

2.13.2. Tentativa A tentativa existe nas duas modalidades. Ex.: o agente atua com dolo mas esquece que tem dinheiro na conta e o banco paga o cheque. O agente quis o estelionato, mas por circunstncias alheias sua vontade o crime no se consumou.

2.13.3. Observao O delito em estudo pressupe que a emisso do cheque sem fundos tenha sido a fraude empregada pelo agente para induzir a vtima em erro e convencla a entregar o objeto. No h crime quando o prejuzo preexiste em relao emisso do cheque (ex.: emprstimo e posterior pagamento com cheque sem fundos). Pela mesma razo, no h crime quando o cheque entregue em substituio a outro ttulo de crdito anteriormente emitido. Se o agente encerra sua conta corrente, mas continua emitindo cheques que manteve em seu poder, configura o crime (art. 171, caput, do CP). o estelionato do caput porque a fraude preexiste em relao emisso do cheque. Inexiste crime quando o cheque emitido para pagamento de dvida de conduta ilcita (jogo, p. ex.).16/28

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No caso de cheque especial, s h crime se o cheque emitido superar o limite que o banco oferece ao correntista. A natureza jurdica do cheque de ordem de pagamento a vista. Qualquer atitude que desconfigure essa natureza afasta o delito em anlise. Ex.: cheque pr-datado, cheque dado como garantia etc.

2.14. Art. 171, 3. , do CP Causa de aumento de pena Aumenta-se a pena em 1/3:

Se o estelionato praticado contra entidade de direito pblico. A Smula n. 24 do STF estipula: Aplica-se ao crime de estelionato, em que figure como vtima entidade autrquica da Previdncia Social, a qualificadora do 3. do art. 171 do Cdigo Penal.

Se praticado contra entidade assistencial, beneficente ou contra instituto de economia popular. Porque o prejuzo no atinge apenas as entidades, mas todos os seus beneficirios.

3. RECEPTAO ART. 180 do CP

Trata-se de crime acessrio, cuja existncia exige a prtica de um delito antecedente. O tipo menciona produto de crime para a caracterizao da receptao, portanto, aquele que tem sua conduta ligada a uma contraveno anterior no comete receptao.17/28

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A receptao crime contra o patrimnio, porm, o crime antecedente no precisa estar previsto no ttulo dos crimes contra o patrimnio, mas necessrio que cause prejuzo a algum (ex.: receber coisa produto de peculato). A receptao crime de ao pblica incondicionada, independente da espcie de ao do crime anterior. Existe receptao de receptao, e respondem pelo crime todos aqueles que, nas sucessivas negociaes envolvendo o objeto, tenham cincia da origem espria do bem. Desse modo, ainda que tenha ocorrido uma quebra na seqncia, haver receptao; por ex.: o receptador A vende o objeto para B, que no sabe da origem ilcita e, por sua vez, vende-o a C, que tem cincia da origem espria do objeto. bvio que nesse caso A e C respondem pela receptao, pois o objeto no deixa de ser produto de furto apenas porque B no sabia da sua procedncia (Victor Gonalves).

3.1. Art. 180, 4., do CP Trata-se de norma penal explicativa que impe a autonomia da receptao, traando duas regras: a receptao punvel ainda que desconhecido o autor do crime antecedente, ou isento o mesmo de pena So causas de iseno de pena que no atingem o delito de receptao:

excludentes de culpabilidade (p. ex.: inimputabilidade); escusas absolutrias (art. 181 do CP).

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Comete crime de receptao quem adquire objeto furtado por alienado mental, ou por algum que subtraiu do ascendente, p. ex. De acordo com o disposto no art. 108 do CP, a extino da punibilidade do crime anterior no atinge o delito que dele dependa, salvo duas excees, abolitio criminis e anistia.

3.2. Sujeito Ativo Pode ser praticado por qualquer pessoa, desde que no seja o autor, coautor ou partcipe do delito antecedente. O advogado no se exime do crime com o argumento de que est recebendo honorrios advocatcios.

3.3. Sujeito Passivo a mesma vtima do crime antecedente. O tipo no exige que a coisa seja alheia, no entanto o proprietrio do objeto no comete receptao quando adquire o bem que lhe havia sido subtrado porque no se pode ser sujeito ativo e passivo de um mesmo crime. Tem-se como exceo o mtuo pignoratcio algum toma um emprstimo e deixa com o credor uma garantia. Terceiro furta o objeto, sem qualquer participao do proprietrio, e oferece a esse, que adquire com o intuito de favorecer-se. H receptao porque o patrimnio do credor foi lesado com a perda da garantia.

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3.4. Objeto Material A coisa deve ser produto de crime ainda que tenha sido modificado; p. ex.:furto de automvel h receptao mesmo que sejam adquiridas apenas algumas peas. O instrumento do crime (arma, chave falsa etc.) no constitui objeto do crime de receptao, pois no produto de crime.

P.:Imvel pode ser objeto de receptao? R.: A doutrina no pacfica:

Como a lei no exige que a coisa seja mvel, tal como faz em alguns delitos (p. ex.: art. 155 do CP), Mirabete e Fragoso entendem que pode ser objeto de receptao.

Na opinio de Damsio de Jesus, Nelson Hungria e Magalhes Noronha, a palavra receptao pressupe o deslocamento do objeto, tornando prescindvel que o tipo especifique coisa mvel; dessa forma, excluem a possibilidade de um imvel ser objeto de receptao. a posio do STF.

3.5. Receptao Dolosa Simples art. 180, caput, do CP

3.5.1. Receptao prpria art.180, caput, 1. parte, do CP So cinco as condutas tpicas:20/28

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Adquirir: obter a propriedade a ttulo oneroso ou gratuito. Receber: obter a posse (emprestar). Ocultar: esconder. Conduzir: estar na direo, no comando do veculo. Transportar: levar de um lugar para outro.

As duas ltimas figuras foram introduzidas no CP pela Lei n. 9.426/96. A receptao distingue-se do favorecimento real (art. 349 do CP) porque nesse o agente oculta o objeto material do crime pretendendo auxiliar o infrator; naquela, o fato praticado em proveito prprio ou alheio, h inteno de lucro e no de favorecer o sujeito ativo do delito anterior. receptao dolosa aplica-se o privilgio previsto no 2. do art. 155 do CP, como dispe a 2. parte do 5. do art. 180 do CP.

3.5.2. Consumao delito material, consuma-se quando o agente adquire, recebe, oculta, conduz ou transporta, sendo que os trs ltimos ncleos tratam de crime permanente cuja consumao protrai-se no tempo, permitindo o flagrante a qualquer momento.

3.5.3.Tentativa possvel.21/28

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3.5.4. Elemento subjetivo o dolo direto, o agente deve ter efetivo conhecimento da origem ilcita do objeto, no basta a dvida (o dolo eventual). O dolo subseqente no configura o delito, como no caso de o agente vir a descobrir posteriormente que a coisa por ele adquirida produto de crime.

3.5.5. Receptao imprpria art. 180, caput, 2. parte, do CP A receptao imprpria consiste em influir para que terceiro, de boa-f, adquira, receba ou oculte objeto produto de crime. Influir significa persuadir, convencer etc. A pessoa que influi chama-se intermedirio, no pode ser o autor do delito antecedente e necessariamente tem de conhecer a origem espria do bem, enquanto o terceiro (adquirente) deve desconhecer o fato. Quem convence um terceiro de m-f partcipe da receptao desse.

3.5.6. Consumao Ocorre no exato instante em que o agente mantm contato com o terceiro de boa-f, ainda que no o convena a adquirir, receber ou ocultar crime formal. Assim, no se admite tentativa, pois ou o agente manteve contato com o terceiro configurando-se o crime ou no, tornando-se fato atpico.

3.6. Causa de Aumento Art. 180, 6., do CP22/28

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o antigo 4., que cuidava de qualificadora, tendo sua natureza jurdica modificada pela Lei n. 9.426/96, aumento. Se o objeto produto de crime contra a Unio, Estado, Municpio, concessionria de servio pblico ou sociedade de economia mista, a pena aplica-se em dobro. O agente deve saber que o produto do crime atingiu uma das entidades mencionadas. Se assim no fosse, haveria responsabilidade objetiva. A figura do 6. s se aplica receptao dolosa do caput. tratando-se agora de causa de

3.7. Receptao Qualificada art. 180, 1. , CP A pena de recluso, de 3 (trs) a 8 (oito) anos, e multa se o crime praticado por comerciante ou industrial no exerccio de suas atividades, que deve saber da origem criminosa do bem. O nomem juris do delito est incorreto, pois trata-se de um tipo autnomo e prprio, j que s pode ser cometido por comerciante ou industrial. Interpretao da expresso deve saber:

Trata-se de dolo eventual (Celso Delmanto, Paulo Jos da Costa Jnior e Damsio de Jesus).

Significa culpa (Nlson Hungria e Magalhes Noronha).

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P.:Como punir o comerciante que sabe da procedncia ilcita (dolo direto)? R.: A questo no pacfica:

Alguns entendem que tambm incide a forma qualificada, uma vez que conduta mais grave.

O prof. Damsio defende a necessidade de aplicar o princpio da tipicidade plena, por isso o comerciante que sabe (dolo direto) s pode ser punido pela figura simples do caput Enquanto o comerciante que deve saber responde pela forma qualificada do 1. Por essa interpretao a condenao torna-se injusta, pois a conduta mais grave ter pena menor.

Outros afirmam que o deve saber usado como elemento normativo do tipo; o juiz deve analisar, pelo ramo do comrcio, se o comerciante tinha ou no a obrigao de saber da origem ilcita do bem.

3.8. Art. 180, 2. , do CP Para fins penais, considera-se comerciante aquele que exerce sua atividade de forma irregular ou clandestina, mesmo que em residncia. uma norma de extenso, pois explica o que se deve entender por atividade comercial.

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3.9. Receptao Culposa Art. 180, 3. , do CP Adquirir ou receber so os verbos do tipo, que excluiu a conduta ocultar por se tratar de hiptese reveladora de dolo. Os crimes culposos, em geral, tm o tipo aberto, a lei no descreve as condutas, cabendo ao juiz a anlise do caso concreto. A receptao culposa exceo, pois a lei descreve os parmetros ensejadores da culpa:

Desproporo entre o valor de mercado e o preo pago: deve haver uma desproporo considervel, que faa surgir no homem mdio uma desconfiana.

Natureza do objeto: certos objetos exigem maiores cuidados quando de sua aquisio. Ex.: armas de fogo deve-se exigir o registro.

Condio do ofertante: quando pessoa desconhecida ou que no tem condies de possuir o objeto, como no caso do mendigo que oferece um relgio de ouro.

O tipo abrange o dolo eventual, mesmo tratando-se de modalidade culposa. Entende a doutrina e a jurisprudncia que o dolo eventual no se adapta hiptese do caput do art. 180 do CP, que pune apenas o dolo direto, enquadrando-se na receptao culposa prevista no 3. do artigo.

3.9.1. Consumao Quando a compra ou o recebimento se efetivam. No cabe tentativa, porque no se admite tentativa de crime culposo.25/28

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3.11. Art. 180, 5. , do CP O pargrafo prev o perdo judicial (na primeira parte) e a aplicao do 2. do art. 155 do CP privilgio (na 2. parte). O perdo judicial somente aplicado receptao culposa, exigindo que:

o agente seja primrio; o juiz considere as circunstncias.

Trata-se de direito subjetivo do ru e no faculdade do juiz em aplic-lo no obstante a expresso pode.

4. DISPOSIES GERAIS

Vlidas para todos os crimes contra o patrimnio.

4.1. Imunidades Absolutas Art. 181 do CP A conseqncia a iseno de pena. Tem natureza jurdica de escusa absolutria; significa que subsiste o crime com todos os seus requisitos, excluindo-se apenas a punibilidade. Em razo disso, a autoridade policial est impedida de instaurar inqurito policial.26/28

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4.1.1. Hipteses legais

Se o crime praticado em prejuzo do cnjuge na constncia da sociedade conjugal.

Pouco importa o regime de bens do casamento. Leva-se em conta a data do fato, que deve ocorrer na constncia do casamento. Se o fato delituoso ocorre antes do casamento no persiste o benefcio. A separao de fato no exclui a imunidade. A imunidade alcana ao concubino, se o fato ocorre durante a vida em comum (analogia in bonam partem). No alcana os noivos, mesmo que venham a se casar.

Se o crime praticado em prejuzo de ascendente ou de descendente.

Atinge qualquer grau de parentesco na linha reta. No abrange o parentesco por afinidade. A enumerao legal taxativa. A obrigao de reparao do dano no excluda.

4.2. Imunidades Relativas Art. 182 do CP Transformam o crime contra o patrimnio de ao penal pblica incondicionada em condicionada representao.

4.2.1. Hipteses legais Se o crime cometido em prejuzo:27/28

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Do cnjuge desquitado ou judicialmente separado.

Se o fato ocorre aps o divrcio no h qualquer imunidade.

De irmo, sejam germanos ou unilaterais. De tio ou sobrinho, com quem o agente coabita deve ser na mesma residncia e de forma no-transitria.

4.3. Art. 183 do CP Prev duas hipteses em que fica vedada a aplicao das imunidades (absoluta e relativa):

Nos crimes de roubo e de extorso, ou, em geral, quando h emprego de violncia ou grave ameaa (p. ex., esbulho possessrio e dano qualificado pela violncia ou grave ameaa).

Ao terceiro que toma parte do crime.

O Prof. Damsio cita o seguinte ex.: o filho, em companhia de terceiro, subtrai bens de seu pai. O terceiro responde por delito de furto qualificado pelo concurso de agentes.

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CURSO DO PROF. DAMSIO A DISTNCIA

MDULO XIX

DIREITO PENAL

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