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COLÉGIO PEDRO II - U.E. SÃO CRISTÓVÃO III. PASTA DE HISTÓRIA COORDENADOR: PAULO SEABRA 1ª SÉRIE – ENSINO MÉDIO TURMA: DATA: PROFESSOR RODRIGO MOURÃO A CRISE SÉCULO XIV Desde as últimas décadas do século XIII, o período de expansão e a vitalidade que marcaram a sociedade feudal, nos duzentos anos anteriores perdia grande parte de sua força. Assim, ao longo dos séculos XII e XIII já vinham ocorrendo algumas transformações que irão desembocar no grande movimento de crise do século XIV. Essa crise foi global, atingindo todos os aspectos da sociedade feudal. Dessa forma ao examinarmos, para maior clareza, cada manifestação da mesma separadamente, não devemos esquecer a interligação entre elas. No que tange ao aspecto econômico a crise deriva do tipo de exploração agrícola do feudalismo. O desmatamento, a ampliação das terras cultiváveis, o “roubo das terras da pecuária” e as mudanças climáticas provocaram colheitas desastrosas. Essas, por sua vez, trouxeram a fome. A extração de minérios atingiu seus limites tecnológicos. A queda na produção de metais levou à desvalorização das moedas. Como os reis necessitavam de recursos para as guerras, a solução era manter o valor nominal das moedas mas, diminuir a quantidade de metais nelas. Assim, para se obter uma mesma quantidade de metal precioso era necessário uma maior quantidade de moeda. Os preços subiam. A crise do século XIV também tem um aspecto demográfico. A população não aumentava. Com a crise agrícola, a fome e a desnutrição foram acompanhadas por epidemias. A chamada peste negra” agrava o problema demográfico. A peste apresentava taxas de mortalidade extremamente altas. Atingia indiscriminadamente ricos e pobres. Com esta situação a servidão recebeu golpe profundo, ao ser diminuída a quantidade de mão-de-obra dos senhores. A peste obrigava- os a recorrer ao assalariamento e, ao mesmo tempo, amenizar a dependência dos servos sobreviventes. A desorganização social que se segue à peste e, a crescente procura por mão- de-obra facilitavam a fuga de servos dos feudos principalmente em direção às cidades . 1 A sociedade medieval era dividida em estamentos. Os três principais grupos eram: 1. Nobreza; 2. Clero; 3. Servos. A sociedade apresentava pouca ascensão social e quase inexistia mobilidade social. Cada grupo detinha uma função. O clero cumpria a função da salvação da alma de todos, a nobreza deveria proteger a todos e os servos deveriam trabalhar para sustentar a todos. EPIDEMIA DE PESTE : Em 1348 iniciou-se na Europa uma longa e devastadora epidemia de peste bubônica (provocada por ratos), que ficou historicamente conhecida como peste negra, alastrou-se rapidamente pela Europa no século XIV. A proximidade entre as pessoas favoreceu a contaminação das cidades, onde ocorreram os mais altos índices de mortalidade. Foi trazida ao continente por mercadores genoveses vindos da China e do extremo oriente. Algumas viram metade da sua população desaparecer. Pelas estimativas A FOME: No início do século XIV, a Europa enfrentou terríveis mudanças climáticas e suas conseqüências. Em 1315 violentas chuvas atingiram o continente, afetando diretamente a produção de alimentos. Segundo o historiador Jean Gimpel: “na Irlanda, a miséria prolongou-se até 1318 e foi particularmente trágica: os esfomeados desenterravam cadáveres dos cemitérios. Pais comeram seus filhos”. Em certas regiões do Sacro Império Romano- Germânico e em lugares do leste europeu

Crise Do Seculo XIV

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Material didático produzido por mim para aulnos do Colégio Pedro II - UESC III

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COLÉGIO PEDRO II - U.E. SÃO CRISTÓVÃO III.PASTA DE HISTÓRIA COORDENADOR: PAULO SEABRA

1ª SÉRIE – ENSINO MÉDIO TURMA: DATA:

PROFESSOR RODRIGO MOURÃO

A CRISE SÉCULO XIV

Desde as últimas décadas do século XIII, o período de expansão e a vitalidade que marcaram a sociedade feudal, nos duzentos anos anteriores perdia grande parte de sua força. Assim, ao longo dos séculos XII e XIII já vinham ocorrendo algumas transformações que irão desembocar no grande movimento de crise do século XIV. Essa crise foi global, atingindo todos os aspectos da sociedade feudal. Dessa forma ao examinarmos, para maior clareza, cada manifestação da mesma separadamente, não devemos esquecer a interligação entre elas.

No que tange ao aspecto econômico a crise deriva do tipo de exploração agrícola do feudalismo. O desmatamento, a ampliação das terras cultiváveis, o “roubo das terras da pecuária” e as mudanças climáticas provocaram colheitas desastrosas. Essas, por sua vez, trouxeram a fome.

A extração de minérios atingiu seus limites tecnológicos. A queda na produção de metais levou à desvalorização das moedas. Como os reis necessitavam de recursos para as guerras, a solução era manter o valor nominal das moedas mas, diminuir a quantidade de metais nelas. Assim, para se obter uma mesma quantidade de metal precioso era necessário uma maior quantidade de moeda. Os preços subiam.

A crise do século XIV também tem um aspecto demográfico. A população não aumentava. Com a crise agrícola, a fome e a desnutrição foram acompanhadas por epidemias. A chamada “peste negra” agrava o problema demográfico. A peste apresentava taxas de mortalidade extremamente altas. Atingia indiscriminadamente ricos e pobres. Com esta situação a servidão recebeu golpe profundo, ao ser diminuída a quantidade de mão-de-obra dos senhores. A peste obrigava-os a recorrer ao assalariamento e, ao mesmo tempo, amenizar a dependência dos servos sobreviventes. A desorganização social que se segue à peste e, a crescente procura por mão-de-obra facilitavam a fuga de servos dos feudos principalmente em direção às cidades .

A crise social caracterizou-se por importantes alterações na composição das camadas sociais e na relação entre elas. Senhores leigos ou da Igreja transformavam as obrigações servis, normalmente pagas em serviços e produtos, em renda monetária. Com a desvalorização da moeda a aristocracia perdia seu poder de compra. As rendas senhoriais encolhiam cada vez mais. Paralelamente, os salários subiam. Além disso, as guerras constantes empobreceram os nobres, que tinham gastos excessivos com os conflitos, como a aquisição de armas, e o pagamento de resgate por prisioneiros. Atingida pela peste e por dificuldades econômicas, a aristocracia viu descer sua taxa de natalidade. Muitas famílias nobres desapareceram. A nobreza precisava renovar-se através de

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A sociedade medieval era dividida em estamentos. Os três principais grupos eram:

1. Nobreza;2. Clero;3. Servos.

A sociedade apresentava pouca ascensão social e quase inexistia mobilidade social. Cada grupo detinha uma função. O clero cumpria a função da salvação da alma de todos, a nobreza deveria proteger a todos e os servos deveriam trabalhar para sustentar a todos.Existiam outros grupos sociais, como os poucos comerciantes existentes no início da Idade Média. Foi somente na Baixa Idade Média que surgiu a burguesia que rompeu com a característica da sociedade

EPIDEMIA DE PESTE: Em 1348 iniciou-se na Europa uma longa e devastadora epidemia de peste bubônica (provocada por ratos), que ficou historicamente conhecida como peste negra, alastrou-se rapidamente pela Europa no século XIV. A proximidade entre as pessoas favoreceu a contaminação das cidades, onde ocorreram os mais altos índices de mortalidade. Foi trazida ao continente por mercadores genoveses vindos da China e do extremo oriente. Algumas viram metade da sua população desaparecer. Pelas estimativas conservadoras, a peste matou 1/3 da população européia, mais ou menos 25 milhões de pessoas. Muitos acreditavam que até o olhar de um doente podia contaminar alguém.

A FOME: No início do século XIV, a Europa enfrentou terríveis mudanças climáticas e suas conseqüências. Em 1315 violentas chuvas atingiram o continente, afetando diretamente a produção de alimentos. Segundo o historiador Jean Gimpel: “na Irlanda, a miséria prolongou-se até 1318 e foi particularmente trágica: os esfomeados desenterravam cadáveres dos cemitérios. Pais comeram seus filhos”. Em certas regiões do Sacro Império Romano-Germânico e em lugares do leste europeu como a Polônia, a fome se estendeu ate 1319, e ali também foram verificados episódios de

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casamento com membros dos novos grupo sociais tais como: a burguesia, a burocracia monárquica e até mesmo o campesinato mais rico.

Portanto, quebra-se aos poucos a rigidez social anterior, desestabilizando a idéia de uma sociedade de ordens onde existia pouca mobilidade social. A burguesia, nascida da própria dinâmica de expansão da sociedade feudal nos séculos anteriores, mas ao mesmo tempo elemento desestruturador da mesma, continuava a ganhar terreno.

A burguesia revelava-se um elemento dissolvente do feudalismo em vários aspectos. Por suas atividades comerciais, artesanais e bancárias, rompia aos poucos com o predomínio da agricultura. Por seus interesses na centralização do poder e apoio à monarquia, contribuía para o recuo do poder da aristocracia. Por seu racionalismo e individualismo se opunha ao coletivismo e religiosidade feudais. Por sua origem, muitas vezes camponesa, quebrava a rigidez social.

Em relação aos camponeses, a crise apresentou dois resultados . Por um lado, em alguns lugares surgia um campesinato rico, formando uma elite camponesa. Essa elite enriquecia através do aproveitamento de novas áreas para o cultivo e para pecuária. Mas, em outras regiões, senhores faziam face a seus problemas aumentando o rigor dos laços servis, explorando de forma mais aguda o trabalho dos servos que lhe restavam. Nesses locais houve, muitas vezes, revoltas camponesas. Na França seriam chamadas de "jacqueries".

A crise política expressou-se na lenta reconstrução da centralização monárquica. Os reis feudais haviam sido suseranos e não soberanos. Porem, a medida que os poderes regionais exercidos pela aristocracia entravam em crise, os reis podiam caminhar para uma unificação jurídica, territorial e monetária. Aliás, a própria aristocracia, assustada com a possibilidade de revoltas camponesas e da ascensão da burguesia, aceita a autoridade do rei acima da própria. Afinal ,tornava-se necessária uma autoridade capaz de controlar os “desmandos”.

A crise militar deriva da mudança da regionalização para a nacionalização da defesa, marcada pelas mudanças da tecnologia bélica. A artilharia, armada de arcos, substituía o cavaleiro que perdia seu prestígio. O cavaleiro perdia sua função militar e, assim, seu prestígio e poder .

A Igreja também passava por crises. Desde o século XII as heresias contestavam o misticismo e a própria organização da sociedade aprovada “por Deus”. Criticava-se a intromissão da Igreja em assuntos políticos e econômicos. Criticava-se a idéia de que a comunicação com Deus deveria ser feita exclusivamente através da Igreja. Criticava-se a pouca preocupação do alto clero com as questões religiosas.

O MUNDO FEUDAL ESTAVA DESMORONANDO... Diante da crise agrária fazia-se necessária a conquista de novas área produtoras. Diante da crise demográfica fazia-se necessário o domínio sobre populações não européias. Diante da crise monetária, fazia-se necessária a descoberta de novas fontes de metais preciosos. Diante da crise social, fazia-se necessário um monarca forte, controlador das tensões e das lutas sociais. Diante da crise político-militar, fazia-se necessária uma força centralizadora e defensora de todos.. Diante da crise clerical fazia-se necessária uma nova Igreja. Diante da crise espiritual fazia-se necessária uma nova visão de Deus e do homem. Começavam os novos tempos .

(Adaptação de FRANCO JÚNIOR, Hilário. O Feudalismo. São Paulo: Brasiliense, 1986, pp78/93)

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