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Crise do sistema colonial
A Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra, integra o conjunto das chamadas
“Revoluções Burguesas” do século XVIII, responsáveis pela crise do antigo
regime, na passagem do capitalismo comercial para o industrial. Os outros dois
movimentos que a acompanham são a Independência dos Estados Unidos e
a Revolução Francesa que, sob influência dos princípios iluministas, assinalam
a transição da Idade Moderna para a Idade Contemporânea. O capitalismo
seria um produto da revolução industrial e não sua causa.
A crise do sistema colonial foi marcada no Brasil por contestações diversas que
comprovam as aspirações de liberdade do povo brasileiro. Entre as revoltas
podemos destacar as Conjurações Mineira e Baiana, estas sofrendo
influências diretas dos movimentos revolucionários ocorridos na Europa,
juntamente com a Independência das 13 Colônias (EUA).
Colonialismo é a política de exercer o controle ou a autoridade sobre um
território ocupado e administrado por um grupo de indivíduos com poder militar,
ou por representantes do governo de um país ao qual esse território não
pertencia, contra a vontade dos seus habitantes que, muitas vezes, são
desapossados de parte dos seus bens (como terra arável ou de pastagem) e
de eventuais direitos políticos que detinham.
O termo colônia vem do latim, designando o estabelecimento de comunidades
de romanos, geralmente para fins agrícolas, fora do território de Roma. Ao
longo da história, a formação de colônias foi à forma como a raça humana se
espalhou pelo mundo
A exploração desenfreada dos recursos dos territórios ocupados – incluindo a
sua população, quase totalmente aniquilada, como aconteceu nas Américas,
ou transformada em escravos que espalharam pelo resto do mundo, como na
África – levou a movimentos de resistência dos povos locais e, finalmente à sua
independência, num processo denominado descolonização, terminando estes
impérios coloniais em meados do século XX.
Ao longo da história, a formação de colônias foi à forma como a raça humana
se espalhou pelo mundo. Na pré-história, a colonização de territórios não era
geralmente acompanhada pelo uso da força - a não ser para lutar contra
eventuais animais que os ocupassem.
Em tempos mais recentes, no entanto, o crescimento populacional e
econômico em vários países da Europa e da Ásia (os mongóis e os japoneses)
levou a um novo tipo de colonização, que passou a ter o caráter de dominação
(e, por vezes, extermínio) de povos que ocupavam territórios longínquos e dos
seus recursos naturais, criando grandes impérios coloniais. Um dos aspectos
mais importantes desta colonização foi à escravatura, com a “exportação” de
uma grande parte da população africana para as Américas, com
consequências nefastas, tanto para o Continente Negro, como para os
descendentes dos escravos, que perduram até hoje.
Em agosto de 1798 começam a aparecer nas portas de igrejas e casas da
Bahia, panfletos que pregavam um levante geral e a instalação de um governo
democrático, livre e independente do poder metropolitano. Os mesmos ideais
de república, liberdade e igualdade que estiveram presentes na Inconfidência
Mineira, agitavam agora a Bahia
As inflamadas discussões na "Academia dos Renascidos" resultarão na
Conjuração Baiana em 1789. Esse movimento, também chamado de Revolta
dos Alfaiates foi uma conspiração de caráter emancipacionista, articulada por
pequenos comerciantes e artesãos, destacando-se os alfaiates, além de
soldados, religiosos, intelectuais, e setores populares.
Se a singularidade da Inconfidência de Tiradentes está em seu sentido
pioneiro, já que apesar de todos seus limites, foi o primeiro movimento social
de caráter republicano em nossa história, Conjuração Baiana, também teve seu
momento por apresentar pela primeira vez em nossa história elementos das
camadas populares articulados para conquista de uma república abolicionista.
Entre as lideranças do movimento, destacaram-se os alfaiates João de Deus
do Nascimento e Manuel Faustino dos Santos Lira (este com apenas 18 anos
de idade), além dos soldados Lucas Dantas e Luiz Gonzaga das Virgens, todos
mulatos. Outro destaque desse movimento foi à participação de mulheres
negras, como as forras Ana Romana e Domingas Maria do Nascimento. As
ruas de Salvador foram tomadas pelos revolucionários Luiz Gonzaga das
Virgens e Lucas Dantas que iniciaram a panfletagem como forma de obter mais
apoio popular e incitar à rebelião. Os panfletos difundiam pequenos textos e
palavras de ordem, com base naquilo que as autoridades coloniais chamavam
de "abomináveis princípios franceses".
A violenta repressão metropolitana conseguiu deter o movimento, que apenas
iniciava-se, detendo e torturando os primeiros suspeitos. Governava a Bahia
nessa época (1788-1801) D. Fernando José de Portugal e Castro, que
encarregou o coronel Alexandre Teotônio de Souza de surpreender os
revoltosos. Com as delações, os principais líderes foram presos e o
movimento, que não chegou a se concretizar, foi totalmente desarticulado.
Após o processo de julgamento, os mais pobres como Manuel Faustino dos
Santos Lira e João de Deus do Nascimento e os mulatos Luiz Gonzaga das
Virgens e Lucas Dantas foram condenados à morte por enforcamento, sendo
executados no Largo da Piedade a oito de novembro de 1799. Outros, como
Cipriano Barata, o tenente Hermógenes Aguilar e o professor Francisco Moniz
foram absolvidos.
Iluminismo
O iluminismo foi um movimento intelectual ligado aos valores da burguesia que ganhou força no final do antigo regime nos séculos XVII e XVIII na Inglaterra. Caracterizava-se pelo racionalismo, antimercantilismo, antiabsolutismo e o anticlericalismo.
Os principais pensadores iluministas são: René Descartes: filósofo, matemático, cientista e considerado um dos pioneiros do iluminismo. Descartes afirmam que o ato de duvidar permite ao homem comprovar sua própria existência pensando. Isaac Newton: físico, astrônomo e matemático foi um dos fundadores do iluminismo. Formulou a lei da gravitação universal que foi uma importante descoberta. John Locke: político, religioso, defendia a liberdade civil e se dedicava a vida pública. Contribuiu para o combate ao absolutismo. Voltaire: escritor, crítico que se destacou por criticar violentamente os abusos do clero e da igreja que segundo ele oprimia as pessoas. Montesquieu: jurista, filósofo e escritor. Apresentava problemas políticos e sugeria soluções. Em seu livro “O espírito das leis” expôs sua teoria dos poderes legislativo, executivo e judiciário a fim de impedir abusos de poder. Rousseau: filósofo, democrático e popular. Pregava liberdade, igualdade e fraternidade. Dizia que “o homem nasce bom, é a sociedade que o corrompe”.
Na economia, o iluminismo gerou a doutrina fisiocrata e do liberalismo econômico. A doutrina fisiocrata foi criada por François Quesnay que afirma que a terra é a única fonte de riqueza e que a agricultura era a mais importante
atividade econômica. A doutrina fisiocrata reagiu contra o mercantilismo e influenciou outros economistas como Thomas Malthus, David Ricardo e Adam Smith.
O liberalismo econômico foi criado por Adam Smith que afirmava que a única fonte de riqueza era o trabalho e não a terra. Mostra-se contra a intromissão do governo na economia e era favorável à liberdade de produção. No poder, ocasionou o despotismo esclarecido que era uma política reformista que tinha como objetivo aumentar o poder e o seu prestígio e enfraquecer a oposição ao governo. Os principais déspotas esclarecidos são: Frederico II, Catarina II, José II, Marquês de Pombal.
Independência dos Estados Unidos da América
A Independência dos Estados Unidos é considerada a primeira revolução americana (a segunda foi a Guerra de Secessão, também nos Estados Unidos). Ela foi um marco na crise do Antigo Regime porque rompeu a unidade do sistema colonial.
As treze colônias americanas se formaram a partir do século XVII. Nos fins do século XVIII, havia 680 000 habitantes no norte, ou Nova Inglaterra: Massachusetts, Nova Hampshire, Rhode Island e Connecticut; 530 000 no centro: Pensilvânia, Nova York, Nova Jersey e Delaware; e 980 000 no sul: Virgínia, Maryland, Carolina do Norte, Carolina do Sul e Geórgia. Ao todo, mais de 2 milhões de colonizadores.
Desenvolvimento desigual
No centro-norte, predominavam a pequena e média propriedades, tocadas por europeus exila dos por motivos políticos ou religiosos. Havia também o trabalho de servos temporários, que trabalhavam de quatro a sete anos para pagar o transporte para a América, financiado pelos proprietários carentes de mão-de-obra. Seus produtos eram semelhantes aos europeus; apenas madeira, produtos de pesca e petrechos navais atraíam o interesse do importador inglês. Isto desestimulou o comércio da Inglaterra com a região, pois, não havendo carga de torna-viagem, o frete ficava caro. Assim, apesar da proibição de manufaturas nas colônias, os ingleses permitiram aos colonos do centro-norte uma quase autonomia industrial.
Manufaturas e policultura trouxeram desenvolvimento econômico e o excedente logo buscou os mercados do sul, dependente da metrópole, para
onde exportava tabaco, anil e algodão e de onde importava manufaturados e demais produtos. Com esse tipo de economia, no sul prevalecia a grande propriedade escravista, com reduzido trabalho livre e monocultura voltada à exportação.
Já os nortistas ultrapassaram as fronteiras coloniais. Organizaram triângulos comerciais. O mais conhecido começava com o comércio de peixe, madeira, gado e produtos alimentícios com as Antilhas, onde compravam melaço, rum e açúcar. Em Nova York e Pensilvânia, transformavam o melaço em mais rum, que trocavam por escravos na África. Os escravos iam para as Antilhas ou colônias do sul. Outro triângulo começava na Filadélfia, Nova York ou Newport, com carregamentos que trocavam na Jamaica por melaço e açúcar; levavam estes produtos para a Inglaterra e trocavam por tecidos e ferragens, trazidos para o ponto inicial do triângulo. Também foi muito ativo o triângulo iniciado com o transporte de peixe, cereais e madeira para Espanha e Portugal, de onde levavam para a Inglaterra sal, frutas e vinho, trocados por manufaturados que traziam de volta à América.
As leis inglesas de navegação não impediam o desenvolvimento da colônia porque não eram aplicadas. Mas quando o comércio colonial começou a concorrer com o comércio metropolitano, surgiram atritos que culminaram com a emancipação das treze colônias.
Mudança na política: os atos intoleráveis
O crescimento do comércio colonial fez a Inglaterra mudar de política. Um dado conjuntural contribuiu para a mudança: a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), entre Inglaterra e França. Vencedora, a Inglaterra se apossou de grande parte do Império Colonial Francês, especialmente terras a oeste das treze colônias americanas. O Parlamento inglês decidiu que os colonos deviam pagar parte dos custos da guerra. O objetivo era aumentar as taxas e os direitos da Coroa na América. Os ingleses também eram movidos pelo comportamento dos colonos, que não haviam colaborado com material e homens; ao contrário, aproveitaram a guerra para lucrar, comerciando com os franceses no Canadá e nas Antilhas.
A política repressiva dos ingleses, aliada a fatores culturais, como a influência do iluminismo, teve papel importante no processo revolucionário americano. George Grenville, primeiro-ministro inglês, decidiu colocar na colônia uma força militar de 10000 homens, acarretando uma despesa de 350000 libras. O Parlamento inglês aprovou duas leis para arrecadar um terço da quantia: a Lei do Açúcar (Sugar Act) e a Lei do Selo (Stamp Act).
O Sugar Act (1764) prejudicava os americanos, pois taxava produtos que não viessem das Antilhas Britânicas e acrescentava vários produtos à lista dos artigos enumerados, que só poderiam ser exportados para a Inglaterra. O
Stamp Act (1765) exigia a selagem até de baralhos e dados. Os colonos protestaram, argumentando que se tratava de imposto interno, e não externo como de costume, e que não tinham representação no Parlamento que havia votado a lei. Reuniu-se então em Nova York, em 1765, o Congresso da Lei do Selo, que, declarando-se fiel à Coroa, decidiu boicotar o comércio inglês. Os comerciantes ingleses pressionaram o Parlamento e a Lei do Selo foi revogada.
Os colonos continuaram contestando o direito legislativo do Parlamento inglês. Recusaram se a cumprir a Lei de Aquartelamento (1765), que exigia dos colonos alojamento víveres e transporte para as tropas enviadas à colônia. Ao substituir Grenville, o primeiro-ministro Charles Townshend baixou em 1767 atos baseados num princípio: se os colonos não queriam pagar impostos internos, pagassem então os externos, isto é, impostos sobre produtos importados, como chá, vidro, papel, zarcão, corantes. Era impossível burlar a lei, diante da criação da Junta Alfandegária Americana, que ainda executaria os odiados Mandados de Busca. O boicote funcionou novamente e o comércio inglês se reduziu a um terço do normal. Mais uma vez os importadores agiram e, em 1770, foram abolidos os Atos Townshend, exceto o imposto sobre o chá.
A crise explodiu em 1773 com a Lei do Chá (Tea Act), que dava o monopólio desse comércio à Companhia das Índias Orientais, onde vários políticos ingleses tinham interesses. A Companhia transportaria o chá diretamente das Índias para a América. Os intermediários tiveram grande prejuízo e ficou aberto um precedente perigoso: quem garantia que o mesmo não seria feito com outros produtos? A reação não demorou. No porto de Boston, comerciantes disfarçados de índios mohawks destruíram trezentas caixas de chá tiradas dos barcos, no episódio conhecido como A Festa do Chá de Boston (The Boston Tea Party).
Se o Parlamento cedesse, jamais recuperaria o controle da situação. Agiu energicamente. Votou as Leis Intoleráveis em 1774: o porto de Boston estava interditado até o pagamento dos prejuízos; funcionários ingleses que praticassem crimes durante as investigações seriam julgados em outra colônia ou na Inglaterra; o governador de Massachusetts teria poderes excepcionais; tropas inglesas ficariam aquarteladas em Boston.
Até aqui está evidente a oposição dos grupos mercantis da colônia aos ingleses, bem como as causas. Mas por que os agricultores ficaram ao lado dos comerciantes contra a metrópole?
Até 1763, o governo inglês havia estimulado a ocupação das terras rumo ao oeste, como forma de combater as pretensões francesas e espanholas. Desaparecidas as ameaças, seria preferível conter a população no litoral, para facilitar o controle político-fiscal. Além disso, os ingleses controlavam o comércio de peles com os índios e não desejavam a intromissão dos colonos. Por fim, agora que as terras estavam valorizadas, a Coroa podia passar a vendê-las. Tais motivos explicam a Proclamação Régia de 176, que demarcava as terras além dos Aleghanis como reserva indígena. Em 1764, a Coroa completou a política de contenção do pioneirismo com o Ato de Quebec, pelo
qual o governador de Quebec passaria a controlar grande parte das terras do centro-oeste.
Os pioneiros iam vendendo suas terras e avançando sobre terras virgens. As novas leis decretavam sua falência. O grande proprietário sulista, também sempre endividado com o comerciante importador e exportador da Inglaterra, sofreria igual destino, pois só se salvava ocupando novas terras. A Lei da Moeda. (Currence Act) de 1764, proibindo a emissão de dinheiro na colônia, limitava a alta de preços dos produtos agrícolas e tornava ainda mais difícil a situação dos plantadores.
Revolução Francesa
Revolução Francesa era o nome dado ao conjunto de acontecimentos que,
entre 5 de Maio de 1789 e 9 de Novembro de 1799, alteraram o quadro político
e social da França. Ela começa com a convocação dos Estados Gerais e a
Queda da Bastilha e se encerra com o golpe de estado do 18 Brumário
de Napoleão Bonaparte. Em causa estavam o Antigo Regime (Ancien Régime)
e a autoridade do clero e danobreza. Foi influenciada pelos ideais
do Iluminismo e da Independência Americana (1776). Está entre as
maiores revoluções da história da humanidade.
A Revolução é considerada como o acontecimento que deu início à Idade
Contemporânea. Aboliu a servidão e os direitos feudais e proclamou
os princípios universais de "Liberdade, Igualdade e Fraternidade" (Liberté,
Egalité, Fraternité), frase de autoria de Jean-Jacques Rousseau. Para a
França, abriu-se em 1789 o longo período de convulsões políticas do século
XIX, fazendo-a passar por várias repúblicas, uma ditadura, uma monarquia
constitucional e dois impérios
Por que uma Revolução?
A França tomada pelo Antigo Regime era um grande edifício construído por
cinquenta gerações, por mais de quinhentos anos. As suas fundações mais
antigas e mais profundas eram obras da Igreja, estabelecidas durante mil e
trezentos anos.
A sociedade francesa do século XVIII mantinha a divisão em três Ordens ou
Estamentos típica do Antigo Regime – Clero ou Primeiro Estado, Nobreza ou
Segundo Estado, e Povo ou Terceiro Estado – cada qual regendo-se por leis
próprias (privilégios), com um Rei absoluto (ou seja, um Rei que detinha um
poder supremo independente) no topo da hierarquia dos Estados. O Rei fora
antes de tudo o obreiro da unidade nacional através do seu poder
independente das Ordens, significando que era ele quem tinha a última palavra
sobre a justiça, a economia, a diplomacia, a paz e a guerra, e quem se lhe
opusesse teria como destino a prisão da Bastilha. A França sofrera uma
evolução assinalável nos últimos anos: não havia censura, a tortura fora
proibida em 1788, e a representação do Terceiro Estado nos Estados
Gerais acabava de ser duplicada para contrariar a Nobreza e o Clero que não
queriam uma reforma dos impostos. Em 14 de Julho de 1789, quando a
Bastilha foi tomada pelos revolucionários, albergava oito prisioneiros.
Com a exceção da nobreza rural, a riqueza das restantes classes sociais na
França tinha crescido imensamente nas últimas décadas. O crescimento da
indústria era notável. No Norte e no Centro, havia uma metalurgia moderna (Le
Cresot data de 1781); em Lyon havia sedas; em Rouen e em Mulhouse havia
algodão; na Lorraine havia o ferro e o sal; havia lanifícios em Castres, Sedan,
Abbeville e Elbeuf; em Marselha havia sabão; em Paris havia mobiliário,
tanoaria e as indústrias de luxo, etc..
Existia uma Bolsa de Valores, vários bancos, e uma Caixa de Desconto com
um capital de cem milhões que emitia notas. Segundo Jacques Necker, a
França detinha, antes da Revolução, metade do numerário existente na
Europa. Nobres e burgueses misturavam muitos capitais em investimentos.
Antes da Revolução, o maior problema da indústria francesa era a falta de mão
de obra.
Desde a morte do rei Luís XIV, o comércio com o exterior tinha mais do que
quadruplicado. Em 1788, eram 1,061 milhões de livres, um valor que só se
voltará a verificar depois de 1848. Os grandes portos, como Marselha,
Bordéus, Nantes, floresciam como grandes centros cosmopolitas. O comércio
interior seguia uma ascensão paralela.
Sabendo-se que existia uma burguesia tão enriquecida, muitos historiadores
colocaram a hipótese de haver uma massa enorme de camponeses famintos.
Na França, o imposto rural por excelência era a "taille", um imposto recolhido
com base nos sinais exteriores de riqueza, por colectores escolhidos pelos
próprios camponeses. A servidão dos campos, que ainda se mantinha em
quase todos os países da Europa, persistia apenas em zonas recônditas da
França, e sob forma muito mitigada, no Jura e no Bourbonnais. Em 1779, o Rei
tinha apagado os últimos traços de servidão nos seus domínios, tendo sido
imitado por muitos senhores.
Ao longo da História, a miséria tem provocado muitos motins, mas em regra
não provoca revoluções. A situação da França, antes da Revolução, era a de
um Estado pobre num país rico. [1]
A Revolução
A Revolução Francesa pode ser subdividida em quatro períodos: a Assembléia
Constituinte, a Assembléia Legislativa, a Convenção e o Diretório.
O período da Assembleia Constituinte decorre de 9 de Julho de 1789 a 30 de
Setembro de 1791. As primeiras ações dos revolucionários deram-se quando,
em 17 de Junho, a reunião do Terceiro Estado se proclamou "Assembléia
Nacional" e, pouco depois, "Assembléia Nacional Constituinte". Em 12 de
Julho, começam os motins em Paris, culminando em 14 de Julho com a
tomada da prisão da Bastilha, símbolo do poder real e depósito de armas. Sob
proposta de dois aristocratas, o visconde de Noailles e do duque de Aiguillon, a
Assembleia suprime todos os privilégios das comunidades e das pessoas, as
imunidades provinciais e municipais, as banalidades, e os direitos feudais.
Pouco depois, aprovava-se a solene "Declaração dos direitos do Homem e do
Cidadão". O lema dos revolucionários era "Liberdade, Igualdade e
Fraternidade", mas logo em 14 de Junho de 1791, se aprovou a Lei de Le
Chapelier que proibia os sindicatos de trabalhadores e as greves, com penas
que podiam ir até à pena de morte. Em 19 de Abril de 1791, o Estado
nacionaliza e passa a administrar todos os bens da Igreja Católica, sendo
aprovada em Julho a Constituição Civil do Clero, por intermédio da qual os
padres católicos passam a ser funcionários públicos.
O período da Assembléia Legislativa decorre de 8 de Outubro de 1791, quando
se dá a primeira reunião da Assembléia Legislativa, até aos massacres de 2 a
7 de Setembro do ano seguinte. Sucedem-se os motins de Paris provocados
pela fome; a França declara guerra à Áustria; dá-se o ataque ao Palácio das
Tulherias; a família real é presa, e começam as revoltas monárquicas na
Bretanha, Vendeia e Delfinado.
Entra o período da Convenção Nacional, de 20 de Setembro de 1792 até 26 de
Outubro de 1795. A Convenção vem a ficar dominada pelos jacobinos (partido
da pequena e média burguesia, liderado por Robespierre), criando-se o Comitê
de Salvação Pública e o Comitê de Segurança Geral iniciando-se o reino
do Terror. A monarquia é abolida e muitos nobres abandonam o país, vindo a
família de Luís XVI a ser guilhotinada em 1793.
Vai seguir-se o período do Diretório até 1799, também conhecido como o
período da "Reação Termidoriana". Um golpe de Estado armado
desencadeado pela alta burguesia financeira marca o fim de qualquer
participação popular no movimento revolucionário. Foi um período autoritário
assente no exército (então restabelecido após vitórias realizadas em
campanhas externas). Elaborou-se uma nova Constituição, com o propósito de
manter a alta burguesia (girondinos) livre de duas grandes ameaças:
o jacobinismo e o ancien régime.
O golpe do 18 de Brumário em 9 de Novembro de 1799 põe fim ao Diretório,
iniciando-se a Era Napoleônica sob a forma do Consulado, a que se segue a
Ditadura e o Império.
A Revolução Francesa semeou uma nova ideologia na Europa, conduziu
a guerras, acabando por ser derrotada pela instalação do Império e, depois da
derrota de Napoleão Bonaparte, pelo retorno a uma Monarquia na qual o
rei Luís XVIII vai outorgar uma Carta Constitucional.
Causas da Revolução
As causas da revolução francesa são remotas e imediatas. Entre as do
primeiro grupo, há de considerar que a França passava por um período de
crise financeira. A participação francesa na Guerra da Independência dos
Estados Unidos da América, a participação (e derrota) na Guerra dos Sete
Anos, os elevados custos da Corte de Luís XVI, tinham deixado as finanças do
país em mau estado.
Os votos eram atribuídos por ordem (1- clero, 2- nobreza, 3- Terceiro Estado) e
não por cabeça. Havia grandes injustiças entre as antigas ordens e ficava
sempre o Terceiro Estado prejudicado com a aprovação das leis.
Os chamados Privilegiados estavam isentos de impostos, e apenas uma ordem
sustentava o país, deixando obviamente a balança comercial negativa ante os
elevados custos das sucessivas guerras, altos encargos públicos e os
supérfluos gastos da corte do rei Luís XVI.
O rei Luís XVI acaba por convidar o Conde Turgot para gerir os destinos do
país como ministro e implementar profundas reformas sociais e econômicas.
Sociais
A sociedade francesa da segunda metade do século XVIII possuía dois grupos
muito privilegiados:
- o Clero ou Primeiro Estado, composto pelo Alto Clero, que representava 0,5%
da população francesa, era identificado com a nobreza e negava reformas, e
pelo Baixo Clero, identificado com o povo, e que as reclamava;
- a Nobreza, ou Segundo Estado, composta por uma camada palaciana ou
cortesã, que sobrevivia à custa do Estado, por uma camada provincial, que se
mantinha com as rendas dos feudos, e uma camada chamada Nobreza
Togada, em que alguns juízes e altos funcionários burgueses adquiriram os
seus títulos e cargos, transmissíveis aos herdeiros. Aproximava-se de 1,5%
dos habitantes.
Esses dois grupos (ou Estados) oprimiam e exploravam o Terceiro Estado,
constituído por burgueses, camponeses sem terra e os "sans-culottes", uma
camada heterogênea composta por artesãos, aprendizes e proletários, que
tinham este nome graças às calças simples que usavam, diferentes dos tecidos
caros utilizados pelos nobres. Os impostos e contribuições para o Estado, o
clero e a nobreza incidiam sobre o Terceiro Estado, uma vez que os dois
últimos não só tinham isenção tributária como ainda usufruíam do tesouro real
por meio de pensões e cargos públicos.
A França ainda tinha grandes características feudais: 80% de sua economia
era agrícola. Quando uma grande escassez de alimentos ocorreu devido a uma
onda de frio na região, a população foi obrigada a mudar-se para as cidades e
lá, nas fábricas, era constantemente explorada e a cada ano tornava-se mais
miserável. Vivia à base de pão preto e em casas de péssimas condições, sem
saneamento básico e vulneráveis a muitas doenças.
A reavaliação das bases jurídicas do Antigo Regime foi montada à luz do
pensamento Iluminista, representado por Voltaire,Diderot, Montesquieu, John
Locke, Immanuel Kant etc. Eles forneceram pensamentos para criticar as
estruturas políticas e sociais absolutistas e sugeriram a idéia de uma maneira
de conduzir liberal burguesa.
Econômicas
A causa mais forte de Revolução foi a econômica, já que as causas sociais,
como de costume, não conseguem ser ouvidas por si sós. Os historiadores
sugerem o ano de 1789 como o início da Revolução Francesa. Mas esta, por
uma das "ironias" da história, começou dois anos antes, com uma reação dos
notáveis franceses - clérigos e nobres - contra o absolutismo, que se pretendia
reformar e para isso buscava limitar seus privilégios. Luís XVI convocou a
nobreza e o clero para contribuírem no pagamento de impostos, na altamente
aristocrática Assembleia dos Notáveis (1787).
No meio do caos econômico e do descontentamento geral, Luís XVI da
França não conseguiu promover reformas tributárias, impedido pela nobreza e
pelo clero, que não "queriam dar os anéis para salvar os dedos". Não
percebendo que seus privilégios dependiam do Absolutismo, os notáveis
pediram ajuda à burguesia para lutar contra o poder real - era a Revolta da
Aristocracia ou dos Notáveis (1787-1789). Eles iniciaram a revolta ao exigir a
convocação dos Estados Gerais para votar o projeto de reformas..
Por sugestão do Ministro judeu-suiço de origem prussiana Jacques Necker, o
rei Luís XVI convocou a Assembléia dos Estados Gerais, instituição que não
era reunida desde 1614. Os Estados Gerais reuniram-se em maio
de 1789 no Palácio de Versalhes, com o objetivo de acalmar uma revolução de
que já falava a burguesia.
As causas econômicas também eram estruturais. As riquezas eram mal
distribuídas; a crise produtiva manufatureira estava ligada ao sistema
corporativo, que fixava quantidade e condições de produtividade. Isso
descontentou a burguesia.
Outro fator econômico foi a crise agrícola, que ocorreu graças ao aumento
populacional. Entre 1715 e 1789, a população francesa cresceu
consideravelmente, entre 8 e 9 milhões de habitantes. Como a quantidade de
alimentos produzida era insuficiente e as geadas abatiam a produção
alimentícia, o fantasma da fome pairou sobre os franceses.
Política
Em Fevereiro de 1787, o ministro das finanças, Loménie de Brienne, submeteu
a uma Assembleia de Notáveis, escolhidos de entre a nobreza, clero, burguesia
e burocracia, um projeto que incluía o lançamento de um novo imposto sobre a
propriedade da nobreza e do clero. Esta Assembleia não aprovou o novo
imposto, pedindo que o rei Luís XVI convocasse os Estados-Gerais. Em 8 de
Agosto, o rei concordou, convocando os Estados Gerais para Maio de 1789.
Fazendo parte dos trabalhos preparatórios da reunião dos Estados Gerais,
começaram a ser escritos os tradicionais cahiers de doléances, onde se
registraram as queixas das três ordens. O Parlamento de Paris proclama então
que os Estados Gerais se deveriam reunir de acordo com as regras
observadas na sua última reunião, em 1614. Aproveitando a lembrança, oClube
dos Trinta começa imediatamente a lançar panfletos defendendo o voto
individual inorgânico - "um homem, um voto" - e a duplicação dos
representantes do Terceiro Estado. Várias reuniões de Assembleias
provinciais, como em Grenoble, já o haviam feito. Jacques Necker, de novo
ministro das finanças, manifesta a sua concordância com a duplicação dos
representantes do Terceiro Estado, deixando para as reuniões dos Estados a
decisão quanto ao modo de votação – orgânico (pelas ordens) ou inorgânico
(por cabeça). Serão eleitos 291 deputados para a reunião do Primeiro Estado
(Clero), 270 para a do Segundo Estado (Nobreza), e 578 deputados para a
reunião do Terceiro Estado (burguesia e pequenos proprietários). Entretanto,
multiplicam-se os panfletos, surgindo nobres como o conde d'Antraigues, e
clérigos como o bispo Sieyès, a defender que o Terceiro estado era todo o
Estado. Escrevia o bispo Sieyès, em Janeiro de 1779: “O que é o terceiro
estado? Tudo. O que é que tem sido até agora na ordem política? Nada. O que
é que pede? Tornar-se alguma coisa”. A reunião dos Estados Gerais, como
previsto, vai iniciar-se em Versalhes no dia 5 de Maio de 1789... certamente
isso causou um grande estrago.
A Assembleia Constituinte
Sessão inaugural dos Estados Gerais, em Versalhes (1789).
Os deputados dos três estados eram unânimes em um ponto: desejavam
limitar o poder real, à semelhança do que se passava na vizinha Inglaterra e
que igualmente tinha sido assegurado pelos norte-americanos nas suas
constituições. No dia 5 de maio, o rei mandou abrir a sessão inaugural dos
Estados Gerais e, em seu discurso, advertiu que não se deveria tratar de
política, isto é, da limitação do poder real, mas apenas da
reorganizaçãofinanceira do reino e do sistema tributário.
O clero e a nobreza tentaram diversas manobras para conter o ímpeto
reformista do Terceiro Estado, cujos representantes comparecem à Assembléia
apresentando as reclamações do povo (materializadas nos "Cahiers de
Doléances"). Os deputados da nobreza e do clero queriam que as eleições
fossem por estado (clero, um voto; nobreza, um voto; povo, um voto), pois
assim, já que clero e a nobreza comungavam os mesmos interesses,
garantiriam seus privilégios.
O terceiro estado queria que a votação fosse individual, por deputado, porque,
contando com votos do baixo clero e da nobreza liberal, conseguiria reformar o
sistema tributário do reino. Ante a impossibilidade de conciliar tais interesses,
Luís XVI tentou dissolver os Estados Gerais, impedindo a entrada dos
deputados na sala das sessões. Os representantes do Terceiro Estado
rebelaram-se e invadiram a sala do jogo da péla (espécie de tênis em quadra
coberta), em 15 de junho de 1789, e transformaram-se na Assembléia
Nacional, jurando só se separar após a votação de uma constituição para a
França (Juramento da Sala do Jogo da Péla). Em 9 de julho de 1789,
juntamente com muitos deputados do baixo clero, os Estados Gerais
autoproclamaram-se Assembleia Nacional Constituinte.
Essa decisão levou o rei a tomar medidas mais drásticas, entre as quais a
demissão do ministro Jacques Necker, conhecido por suas posições
reformistas. Em razão disso, a população de Paris se mobilizou e tomou as
ruas da cidade. Os ânimos mais exaltados conclamavam todos a tomar
as armas.
O rei decidiu reagir fechando a Assembléia, mas foi impedido por uma
sublevação popular em Paris, reproduzida a seguir em outras cidades e no
campo.
O Conde de Artois (futuro Carlos X) e outros dirigentes reacionários,
defrontados a tais ameaças, fugiram do país, transformando-se no grupo
dos émigrés. A burguesia parisiense, temendo que a população da cidade
aproveitasse a queda do antigo sistema de governo para recorrer à ação direta,
apressou-se a estabelecer um governo provisório local, a Comuna. Este
governo popular, em 13 de julho, organizou a Guarda Nacional, uma milícia
burguesa para resistir tanto a um possível retorno do rei, quanto a uma
eventual mais violenta da população civil, cujo comando coube ao deputado da
Assembléia e herói daindependência dos Estados Unidos, Marie Joseph
Motier, o Marquês de La Fayette.
A bandeira dos Bourbons foi substituída por uma tricolor
(azul, branca e vermelha), que passou a ser a bandeira nacional. E, em toda a
França, foram constituídas unidades da milícia e governos provisórios
Enquanto isso, os acontecimentos precipitaram-se e a agitação tomou conta
das ruas: em 13 de julho constituíram-se as Milícias de Paris, organizações
militares-populares. No dia 14 de julho, populares armados invadiram o Arsenal
dos Inválidos, à procura de munições e, em seguida, invadiram a Bastilha, uma
fortaleza que fora transformada em prisão política, mas que já não era a terrível
prisão de outros tempos. Dentro da prisão, estavam apenas sete condenados:
quatro por roubo, dois nobres por comportamento imoral, e um por assassinato.
A intenção inicial dos rebeldes ao tomar a Bastilha era se apoderar
da pólvora lá armazenada. Caiu assim um dos símbolos do Absolutismo. A
Queda da Bastilha causou profunda emoção nas províncias e acelerou a queda
dos intendentes. Organizaram-se novas municipalidades e guardas nacionais.
A partir de então, a revolução estendeu-se ao campo, com maior violência: os
camponeses saquearam as propriedades feudais, invadiram e queimaram os
castelos e cartórios, para destruir os títulos de propriedade das terras (fase
do Grande Medo ). Temendo o radicalismo, na noite de 4 de agosto, a
Assembléia Nacional Constituinte aprovou a abolição dos direitos feudais,
gradualmente e mediante amortização, além de as terras da Igreja haverem
sido confiscadas. Daí por diante, a igualdade jurídica seria a regra.
A Elaboração de uma Constituição
A Assembléia Nacional Constituinte aprovou a legislação, pela qual era abolido
o regime feudal e senhorial e suprimido o dízimo. Outras leis proibiram a venda
de cargos públicos e a isenção tributária das camadas privilegiadas. E, para
dar continuidade ao trabalho, decidiu pela elaboração de uma Constituição. Na
introdução, que seria denominada Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão (Déclaration des Droits de l'Homme et du Citoyen), os delegados
formularam os ideais da Revolução, sintetizados em três princípios: "Liberdade,
Igualdade, Fraternidade " (Liberté,Egalité, Fraternité). Inspirada na Declaração
de Independência dos Estados Unidos e divulgada em26 de agosto, a primeira
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (a que não terá sido estranha
a ação do então embaixador dos EUA em Paris, Thomas Jefferson) foi síntese
do pensamento iluminista liberal e burguês. Nesse documento, em que se pode
ver claramente a influência da Revolução Americana, defendia-se o direito de
todos à liberdade, à propriedade, àigualdade - igualdade jurídica, e não social
nem econômica - e de resistência à opressão. A desigualdade social e de
riqueza continuavam existindo.
O nascimento, a tradição e o sangue já não podiam continuar a ser os únicos
critérios utilizados para distinguir socialmente os homens. Na prática, tais
critérios foram substituídos pelo dinheiro e pela propriedade, que, a partir daí,
passam a garantir a seus detentores prestígio social.
Pressionado pela opinião pública, Luís XVI deixou Versalhes, estabelecendo-se
no Palácio das Tulherias, em Paris (outubro de 1789). Ali, o monarca era mais
acessível às massas parisienses.
Fervilhavam os clubes: a imprensa tinha papel cada vez maior nos
acontecimentos políticos. Jean-Paul Marat e Hébert escreviam artigos
incendiários.
A nobreza conservadora e o alto clero abandonaram a França, refugiando-se
nos países ainda absolutistas, de onde conspiravam contra a revolução. Numa
reação contra os privilégios do clero e buscando recursos para sanar
o déficit público, o governo desapropriou os bens da Igreja, colocou-os à venda
e, com o produto, emitiu bônus do tesouro, os assignats, que valeram como
papel-moeda, logo depreciado. As propriedades da Igreja passaram
majoritariamente às mãos da burguesia, restando aos camponeses as
propriedades menores, que puderam ser adquiridas mediante facilitações.
Em agosto de 1790, foi votada a Constituição Civil do Clero,
separando Igreja e Estado e transformando os clérigos em assalariados do
governo, a quem deviam obediência. Determinava também que
os bispos e padres de paróquiaseriam eleitos por todos os eleitores,
independentemente de filiação religiosa. O papa opôs-se a isso. Os clérigos
deveriam jurar a nova Constituição. Os que o fizeram ficaram conhecidos
como juramentados; os que se recusaram passaram a ser chamados
de refratários e engrossaram o campo da contra-revolução.
Procurando frear o movimento popular, a Assembleia Nacional Constituinte,
pela Lei de Le Chapelier, proibiu associações e coalizões profissionais
(sindicatos), sob pena de morte.
No palácio real, conspirava-se abertamente. O rei, a rainha, seus conselheiros,
os embaixadores da Áustria e da Prússia eram os principais nomes de tal
conspiração. A Áustria e a Prússia, países absolutistas, invadiram a França,
que foi derrotada porque oficiais ligados à nobreza permitiram o malogro do
exército francês. Denunciou-se a traição na Assembléia. Em junho de 1791 a
família real tentou fugir para a Áustria. O rei foi descoberto na fronteira,
emVarennes, e obrigado a voltar. A assembléia Nacional, contudo, acabou por
absolver Luís XVI, mantendo a monarquia. Para justificar essa decisão, alegou
que o rei, ao invés de fugir, fora seqüestrado. A Guarda Nacional, comandada
por La Fayette, reprimiu violentamente a multidão que queria a deposição do
rei.
A Constituição de 1791
Em setembro de 1791, foi promulgada a primeira Constituição da França que
resumia as realizações da Revolução.
Foi implantada uma monarquia constitucional, isto é, o rei perdeu seus poderes
absolutos e criou-se uma efetiva separação entre os poderes Legislativo,
Executivo e Judiciário. Além disso, foram concedidos direitos civis completos
aos cidadãos.
A população foi dividida em cidadãos ativos e passivos. Somente os cidadãos
ativos, que pagavam impostos e possuíam dinheiro ou propriedades,
participavam da vida política. Era o voto censitário. Os passivos eram os não-
votantes, como mulheres, trabalhadores desempregados e outros.
Apesar de ter limitado os poderes do rei, este tinha ainda o direito de designar
seus ministros.
De mais, a constituição aboliu o feudalismo, nacionalizava os bens
eclesiásticos e reconhecia a igualdade civil e jurídica entre os cidadãos.
Em síntese, a Constituição de 1791 estabeleceu na França as linhas gerais
para o surgimento de uma sociedade burguesa ecapitalista em lugar da
anterior, feudal e aristocrática.
Apesar disso, este projeto não teve muita sustentação. Alguns setores urbanos
queriam continuar com o processo revolucionário, enquanto nobres fugiam e se
refugiavam no exterior, planejando à distância organizar violentamente uma
revanche armada. Os emigrados tinham apoio de Estados Absolutistas
como Áustria e Prússia, que viam o resultado do movimento revolucionário
francês como perigoso para os seus domínios.
Em agosto de 1791, após a tentativa frustrada de fuga da família real para a
Áustria, os países que até então apoiavam a França lançaram a Declaração de
Pillnitz, que afirmava (e apoiava) a restauração da monarquia francesa como
um projeto de interesse comum a todos os Estados europeus. A população
francesa ficou enfurecida, pois enxergava esta ação como uma intromissão
direta aos assuntos do país.
A Assembléia Legislativa (1791-1792)
Em 1791, iniciou-se a fase denominada Monarquia Constitucional. Nas eleições
de outubro de 1791, as cadeiras da Assembléia Legislativa foram ocupadas
predominantemente por elementos da burguesia. A Assembléia Legislativa,
que iniciou suas sessões em 1º de outubro, era formada por 750 membros,
sem experiência política.
Embora a burguesia tivesse de enfrentar, dentro da Assembléia, a oposição da
aristocracia, cujos deputados ocupavam o lado direito de quem entrava no
recinto de reuniões, e também dos democratas, que ocupavam o
lado esquerdo, as maiores dificuldades estavam fora da Assembléia.
À extrema direita, o rei e a aristocracia se recusavam a aceitar qualquer
compromisso. À extrema esquerda, a pequena e média burguesia sentiam-se
lesadas e enganadas.
Os camponeses, desesperados, porque tinham de pagar pela extinção dos
direitos feudais, retomaram a violência.
O confisco dos bens da Igreja e a Constituição do Clero, que faziam com que
os religiosos rompessem com o papado, levaram a maior parte do clero para o
campo da Contra-Revolução.
Apesar de todas as dificuldades, a alta burguesia se mantinha no poder.
A Queda da Monarquia
Os emigrados buscavam apoio externo para restaurar o Estado absoluto. As
vizinhas potências absolutistas apoiavam esses movimentos, pois temiam a
irradiação das idéias revolucionárias francesas para seus países. Os
emigrados e as monarquias absolutistas formaram uma aliança destinada a
restaurar, na França, os poderes absolutos de Luís XVI. Alegando a
necessidade de se restaurar a dignidade real da França, na Declaração de
Pillnitz (1791) esses países ameaçaram a França de uma intervenção.
Em 1792, a Assembléia Legislativa aprovou uma declaração de guerra contra a
Áustria. É interessante salientar que a burguesia e a aristocracia queriam a
guerra por motivos diferentes. Enquanto para a burguesia a guerra seria breve
e vitoriosa, para o rei e a aristocracia seria a esperança de retorno ao velho
regime. Palavras de Luís XVI: "Em lugar de uma guerra civil, esta será uma
guerra política" e da rainha Maria Antonieta: "Os imbecis [referia-se a
burguesia]! Não vêem que nos servem". Portanto, o rei e a aristocracia não
vacilaram em trair a França revolucionária.
Diante da aproximação dos exércitos coligados estrangeiros, formaram-se por
toda a França batalhões de voluntários.
Luís XVI e Maria Antonieta foram presos, acusados de traição ao país por
colaborarem com os invasores.
Verdun, última defesa de Paris, foi sitiada pelos prussianos. O povo, chamado
a defender a revolução, saiu às ruas e massacrou muitos partidários do Antigo
Regime. Sob o comando de Danton, Robespierre e Marat, foram distribuídas
armas ao povo e foi organizada aComuna Insurrecional de Paris. As palavras
de Danton ressoaram de forma marcante nos corações dos revolucionários.
Disse ele: "Para vencer os inimigos, necessitamos de audácia, cada vez mais
audácia, e então a França estará salva".
O povo, entre o pânico e o rancor, responsabiliza os inimigos internos pela
situação. Entre 2 e 6 de Setembro de 1792, são massacrados os padres
refratários, os suspeitos de atividades contra-revolucionárias e os presos de
delito comum das prisões de Paris. A matança dura vários dias sem que as
autoridades administrativas ousem intervir. Os chamados “massacres de
Setembro”, que chocam a opinião pública, marcam uma página importante da
Revolução.
Em 20 de Setembro aconteceu aquilo que parecia impossível: as tropas
revolucionárias, famintas, mal vestidas, mas alimentadas por seus ideais,
derrotaram, ao som da Marselhesa (o hino da revolução), a coligação
antifrancesa na Batalha de Valmy.
A Convenção (1792-1795)
Após o término das deliberações da Assembléia Constituinte em 1791, a
burguesia passou a uma posição conservadora, por entender que as principais
mudanças já haviam sido implementadas na sociedade francesa. A situação do
povo mais pobre, porém, pouco tinha mudado. Os camponeses continuavam
sem terra e nas cidades a situação tornava-se cada vez mais desesperadora.
Em agosto de 1792, uma intensa mobilização popular destronou o rei, e depois
de elaborar a Carta Magna francesa, a Assembléia Nacional Constituinte
dissolveu-se. A Assembléia Legislativa substituiu a Constituinte. Ameaça de
intervenção externa, crise econômica e inflação. Abril de 1792: Declaração de
guerra à Áustria e à Prússia; exércitos inimigos chegam a ameaçar a cidade de
Paris; ala radical proclama a “pátria em perigo” e distribui armas à população
parisiense.Comuna de Paris assume o poder e exige da Assembléia o
afastamento do rei. 10 de agosto de 1792: Parisienses atacam o palácio real,
detêm o soberano e exigem que o Legislativo suspenda-o de suas
funções.Esvaziada de seu poder, a Assembléia convoca a eleição de uma
Convenção Nacional. A revolução entrou numa fase radical. As primeiras
medidas tomadas pela Convenção foram a Proclamação da República e a
promulgação de uma nova Constituição (21 de setembro de 1792). Eleita sem
a divisão dos eleitores em passivos e ativos, a alta burguesia monarquista foi
derrotada. A Convenção contava com o predomínio dos representantes da
burguesia.
Entre os revolucionários de 1789, houve divisão. A grande burguesia não
queria aprofundar a revolução, temendo o radicalismo popular. Aliada aos
setores da nobreza liberal e do baixo clero, formou o Clube dos Girondinos. O
nome "girondino" (do francês girondin) deve-se ao fato de Brissot, principal
líder dessa facção, representar o departamento da Gironda e de seus principais
líderes serem provenientes de lá. Eles ocupavam os bancos inferiores no salão
das sessões. Os jacobinos (do francês jacobin) — assim chamados porque se
reuniam no convento de Saint Jacques — queriam aprofundar a revolução,
aumentando os direitos do povo; eram liderados pela pequena burguesia e
apoiados pelos sans-culottes, as massas populares de Paris. Ocupavam os
assentos superiores no salão das sessões, recebendo o nome de montanha.
Seus principais líderes foram Danton, Marat eRobespierre. Sua facção mais
radical era representada pelos raivosos, liderados por Jacques Hébert, que
queriam o povo no poder. Havia ainda um grupo de deputados sem opiniões
muito firmes, que votavam na proposta que tinha mais chances de vencer.
Eram chamados deplanície ou pântano. Havia ainda os cordeliers (camadas
mais baixas) e os feuillants (a burguesia financeira).
As modernas designações políticas de direita, centro e esquerda surgem neste
momento: com relação à mesa da presidência identificavam-se à direita os
girondinos, que desejavam consolidar as conquistas burguesas, estancar a
revolução e evitar a radicalização; ao centro, a Planície ou Pântano, grupo de
burgueses sem posição política definida; e à esquerda, a Montanha, composta
pela pequena burguesia jacobina que liderava os sans-culottes, e que defendia
o aprofundamento da revolução.
Dirigida inicialmente pelos girondinos, a convenção realizava uma política
contraditória: era revolucionária na política externa — ao combater os países
absolutistas — mas conservadora na interna — ao procurar se acomodar com
a nobreza, tentar salvar a vida do rei e combater os revolucionários mais
radicais. Nesse primeiro período, foram descobertos documentos secretos
de Luís XVI, no Palácio das Tulherias, que provaram o seu comprometimento
com o rei da Áustria. O fato acelerou as pressões para que o rei fosse julgado
como traidor. Na Convenção, a Gironda dividiu-se: alguns optaram por um
indulto, outros pela pena de morte. Os jacobinos, reforçados pelas
manifestações populares, exigiam a execução do rei, indicando o fim da
supremacia girondina na Revolução.
República Jacobina
Os jacobinos, com apoio dos sans-culottes e da Comuna de Paris (designação
que foi dada ao novo governo local da cidade), assumiram o poder no
momento crítico da Revolução.
A Convenção reconheceu a existência do Ser Supremo e da imortalidade
da alma. A virtude seria o elemento essencial da República.
Em 21 de janeiro de 1793, Luís XVI e Maria Antonieta , sua esposa foram
executados na guilhotina na praça da Revolução. Vários países europeus,
como a Áustria, Prússia, Holanda, Espanha e Inglaterra, indignados e temendo
que o exemplo francês se refletisse em seus territórios, formaram a Primeira
Coligação contra a França. Encabeçando a Coligação, a Inglaterra financiava
os grandes exércitos continentais para conter a ascensão burguesa da França,
seu potencial concorrente nos negócios europeus.
No departamento de Vendéia, no oeste da França, camponeses contra-
revolucionários, instigados pela Igreja, pela nobreza e pelos ingleses, tomaram
o poder. Os girondinos tentaram frear a proposta de mobilização geral do povo
francês, temendo a perda do poder e a radicalização da revolução, que
ameaçaria suas propriedades e bens. Em resposta, em 2 de Junho de 1793, a
população de Paris, agitada pelos partidários de Hébert, cercou o prédio da
convenção, pedindo a prisão dos deputados girondinos. Os membros da
Gironda foram expulsos da convenção deixando uma triste herança: inflação,
carestia e avanço da contra-revolução, tudo isso agravado pela guerra no plano
externo. Marat, Hébert, Danton, Saint-Just e Robespierre assumiram o poder,
dando início ao período da Convenção Montanhesa.
A Contra-Revolução Camponesa da Vendéia e a ameaça externa colocavam a
revolução à beira do abismo. Para combater essa situação, os jacobinos
organizaram os comitês, cujos objetivos eram controlar o governo, combater os
contra-revolucionários e mobilizar a França para uma guerra total em defesa da
revolução.
Devido ao predomínio da atuação popular, esse período caracterizou-se por
ser o mais radical de toda a Revolução. O governo jacobino dirigia o país por
meio do Comitê de Salvação Pública, responsável pela administração e defesa
externa do país, de início comandado por Danton, seu criador. Abaixo, vinha
o Comité de Segurança Geral, que cuidava da segurança interna, e a seguir
oTribunal Revolucionário, que julgava os opositores da revolução em
julgamentos sumários.
Decretada a mobilização geral, criou-se uma economia de guerra, com o
racionamento das mercadorias e o combate aos especuladores, que,
aproveitando-se da situação, escondiam os produtos para aumentar os preços.
Os jornais populares utilizavam-se de linguagem grosseira para caracterizar os
aristocratas e inimigos da revolução. Ao mesmo tempo em que pediam que
fossem punidos, pregavam as virtudes revolucionárias, o patriotismo e a defesa
intransigente da revolução. O mais importante desses jornais era O amigo do
povo (L'Ami du Peuple), dirigido pelo jacobino Marat.
Quando, em julho, Marat foi assassinado pela jovem Charlotte Corday, os
ânimos se exaltaram. Considerado excessivamente moderado, Danton foi
substituído por Robespierre e expulso do partido. O Comitê de Salvação
Pública, liderado por Robespierre, assumiu plenos poderes. Tinha início
o Grande Terror, Terror Jacobino ou, simplesmente, Terror. Milhares de
pessoas — a ex-rainha Maria Antonieta, o químicoAntoine
Lavoisier (considerado o criador da Química moderna), aristocratas, clérigos,
girondinos, especuladores, inimigos reais ou presumidos da revolução — foram
detidas, julgadas sumariamente e guilhotinadas. Os direitos individuais foram
suspensos e, diariamente, realizavam-se, sob aplausos populares, execuções
públicas e em massa. O líder jacobino Robespierre, sancionando as execuções
sumárias, anunciara que a França não necessitava de juízes, mas de mais
guilhotinas. O resultado foi a condenação à morte de 35 mil a 40 mil pessoas. A
Insurreição camponesa da Vendéia foi esmagada. O exército francês começou
a ganhar terreno nos campos de batalha em 1794 e a coalizão antifrancesa foi
derrotada.
Cansada do terror, execuções, congelamento de preços e dos excessos
revolucionários, a burguesia queria paz para seus negócios. Essa posição era
defendida pelos jacobinos liderados por Danton. Os sans-culottes — que eram
a plebe urbana — pretendiam radicalizar mais a revolução, posição defendida
pelos raivosos. A falta de habilidade política de Robespierre ficou evidente
quando, declarando a "pátria em perigo", tomou uma série de medidas
impopulares para evitar as radicalizações — os partidários e políticos mais
radicais, como a ala esquerda, dos partidários de Hébert, e da ala direita, que
tinha como líder Danton, foram executados. A facção de centro, liderada por
Robespierre e Saint-Just, triunfou, porém ficou isolada.
Reação Termidoriana
Muitos girondinos que sobreviveram ao Terror, aliados aos deputados da
planície, articularam um golpe. Em 27 de Julho (9 Termidor, de acordo com
o calendário revolucionário francês) a Convenção, numa rápida manobra,
derrubou Robespierre e seus partidários. Robespierre apelou para que as
massas populares saíssem em sua defesa. Mas os que podiam mobilizá-las —
como os raivosos — estavam mortos, e os sans-culottes não atenderam ao
chamado. Robespierre e os dirigentes jacobinos foram guilhotinados
sumariamente. A Comuna de Paris e o partido jacobino deixaram de existir. Era
o golpe de 9 Termidor, que marcou a queda da pequena burguesia jacobina e a
volta da grande burguesia girondina ao poder. O movimento popular entrou em
franca decadência.
A Convenção Termidoriana (1794-1795) foi curta, mas permitiu a reativação do
projeto político burguês com a anulação de várias decisões montanhesas,
como a Lei do Preço Máximo (congelamento da economia) e o encerramento
da supremacia da Junta de Salvação Pública. Foram extintas as prisões
arbitrárias e os julgamentos sumários. Todos os clubes políticos foram
dissolvidos e os jacobinos passaram a ser perseguidos.
Em 1795, a Convenção elaborou uma nova constituição - a Constituição do
Ano III -, suprimindo o sufrágio universal e resgatando o voto censitário para as
eleições legislativas, marginalizando, assim, grande parcela da população. A
carta reservava o poder à burguesia. No final de 1795, de acordo com a nova
Constituição, a Convenção cedeu lugar ao Diretório, formado por cinco
membros eleitos pelos deputados. Iniciou-se, assim, a República do Diretório.
O Diretório (1795-1799)
O Diretório (1794 a 1799) foi uma fase conservadora, marcada pelo retorno da
Alta Burguesia ao poder e pelo aumento do prestígio do Exército apoiado nas
vitórias obtidas nas Campanhas externas.
Uma nova constituição entregou o Poder Executivo ao Diretório, uma comissão
constituída de cinco diretores eleitos por cinco anos. Esta carta previa o direito
de voto masculino aos alfabetizados. O poder legislativo era exercido por duas
câmaras, o Conselho dos Anciãos e oConselho dos Quinhentos.
Era a república dos proprietários que enfrentavam uma grave crise financeira.
Registra-se uma oposição interna ao governo devido à crise econômica e à
anulação das conquistas sociais jacobinas. Tentativas de golpe à direita
(monarquistas ou realistas) e à esquerda (jacobinos) ocorreram neste período.
As ações contra o novo governo se sucediam. Em 1795, um golpe realista foi
abortado em Paris. Aproveitando o descontentamento dos sans-culottes, os
remanescentes jacobinos tentaram organizar em 1796 a
chamada Conjuração ou Conspiração dos Iguais, liderada por François Noël
Babeuf (mais conhecido como Graco Babeuf). Os seguidores desse movimento
popular, com algumas pinceladas socialistas, desejavam não apenas
igualdades de direitos (igualdade perante a lei), mas também igualdade nas
condições de vida. Babeuf achava que a única maneira de alcançar a
igualdade era com a abolição da propriedade privada. A insurreição foi
denunciada antes mesmo de se iniciar e seus líderes, Graco Babeuf
e Buonarroti, foram condenados à guilhotina. As idéias de Babeuf, entretanto,
serviram de base para a luta da classe operária no século XIX.
Externamente, entretanto, o exército acumulava vitórias contra as forças
absolutistas de Espanha, Holanda, Prússia e reinos da Itália, que, em 1799,
formaram a Segunda Coligação contra a França revolucionária.
Napoleão Bonaparte no Poder
O governo não era respeitado pelas outras camadas sociais. Os burgueses
mais lúcidos e influentes perceberam que com o Diretório não teriam condição
de resistir aos inimigos externos e internos e manter o poder. Eles acreditavam
na necessidade de uma ditadura militar, uma espada salvadora, para manter a
ordem, a paz, o poder e os lucros.
A figura que sobressai no fim do período é a de Napoleão Bonaparte. Ele era o
general francês mais popular e famoso da época. Quando estourou a
revolução, era apenas um simples tenente e, como os oficiais oriundos da
nobreza abandonaram o exército revolucionário ou dele foram demitidos, fez
uma carreira rápida. Aos 24 anos já era general de brigada. Após um breve
período de entusiasmo pelos jacobinos, chegando até mesmo a ser amigo dos
familiares de Robespierre, afastou-se deles quando estavam sendo depostos.
Lutou na Revolução contra os países absolutistas que invadiram a França e foi
responsável pelo sufocamento do golpe de 1795.
Enviado ao Egito para tentar interferir nos negócios do império inglês, o
exército de Napoleão foi cercado pela marinha britânica nesse país, então
sobre tutela inglesa. Napoleão abandonou seus soldados e, com alguns
generais fiéis, retornou à França, onde, com apoio de dois diretores e de toda a
grande burguesia, suprimiu o Diretório e instaurou o Consulado, dando início
ao período napoleônico em 18 de brumário(10 de Novembro de 1799).
O Consulado era representado por três elementos: Napoleão,
o abade Sieyès e Roger Ducos. Na realidade o poder concentrou-se nas mãos
de Napoleão, que ajudou a consolidar as conquistas burguesas da Revolução.
Datas e Fatos Essenciais
1789: Revolta do Terceiro Estado; 14 de julho: Tomada da Bastilha; 26 de
agosto: Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
1790: Confisco dos bens do Clero.
1791: Constituição que estabeleceu a Monarquia Constitucional.
1791: Tentativa de fuga e prisão do rei Luís XVI.
1792: Invasão da França pela Áustria e Prússia.
1793: Oficialização da República e morte do Rei Luís XVI; 2ª Constituição.
1793: Terror contra os inimigos da revolução.
1794: Deposição de Robespierre.
1795: Regime do Diretório — 3ª Constituição.
1799: Golpe do 18 de brumário (9 de novembro) de Napoleão.
As Revoltas Anticoloniais
Dificuldades econômicas o Brasil havia sentido, porém não concomitante com Portugal, colônia e metrópole estavam comprometidas financeiramente. A colonização trazia benefícios para a nação lusa, incluindo o luxo da nobreza. Aumentar os impostos e as taxas seria uma possibilidade de manutenção de ostentação. A revolta foi um passo a mais da conscientização.
Os pensamentos de liberdade estavam presentes em idéias de estudantes universitários que voltaram para o Brasil e em livros contrabandeados. A insatisfação aumentava na medida em que espalhavam as novas ideologias, os encontros secretos cresciam e alguns transformaram em movimentos importantes na história.
A diminuição da extração de ouro preocupava a colônia, tendo em vista que acumulavam dívidas com a metrópole e a derrama[2]poderia ser uma
realidade. A elite conspirava silenciosamente contra o dominador, dentre esses ricos conspiradores, estava o pobre Tiradentes que nem tinha muitos motivos para conspirar. Os débitos eram dos ricos e quem os pagou com a vida foram os menos favorecidos.
Além da exploração colonial e do endividamento, a corrupção fazia parte do governo. A independência era uma das possíveis soluções. Projetos eram feitos em relação a manufaturas de tecidos e de metais. Uma elite colonial inteira se preocupava com o dia da derrama e tentava conseguir ajuda da população.
A traição de alguns em busca de perdão das dívidas e a fuga de Tiradentes para o Rio de Janeiro manteve o clima de revolta sob controle na espera da ordem de castigo[3] vinda de Lisboa. O exemplo para todos seria a morte de um, para que a “plebe” se situasse, tendo em vista que a Bahia manifestava o desejo pela liberdade. Castigos em toda a parte, com a finalidade de cobrar obediência. Em Salvador, violência nas repreensões.
A participação popular foi maior na Conjuração Baiana que na revolta mineira. Acredita-se que muitos inconfidentes mineiros eram maçons e que houve a participação da loja maçônica Cavaleiros da Luz[4] na Conjuração Baiana. Abaixo uma comparação das conspirações do final do século XVIII, época de crise do Antigo Sistema Colonial:
Inconfidência Mineira:
Influenciado pelas idéias Iluministas
Admiradores da vitória dos Estados Unidos contra a Inglaterra
Revoltados com exploração colonial
Queriam conquistar a independência
Ajuda da maçonaria
Conspiradores estavam presos no período da Revolução Francesa
Decadência do ouro e os impostos absurdos
Livrar-se de Portugal pela dominação da metrópole
Elite Colonial
Propostas políticas menos democráticas
Conjuração Baiana:Influenciado pelas idéias IluministasAdmiradores da vitória dos Estados Unidos contra a InglaterraRevoltados com exploração colonialQueriam conquistar a independênciaAjuda da maçonariaInfluenciada pela Revolução Francesa
Escassez de comida pelo aumento da plantação de cana-de-açúcar, pois os preços internacionais do açúcar subiramLivrar-se de Portugal para que houvesse menos misériaClasse média e de homens livres e pobresPropostas políticas mais democráticas
A “República” escolheu a Inconfidência Mineira como “representante” dos movimentos que clamavam por liberdade, pois o medo dos “exageros revolucionários” comandado pelos menos providos de dinheiro era um fator a ser analisado tendo em vista que também poderia desagradar essa classe social durante a estada no governo. Não queria um incentivo para manifestações. Dessa forma, teria de propor um mártir, que apareceria em programas oficiais de educação, nos livros didáticos, nas praças e deveria ter uma data para comemoração e para as homenagens públicas, então, Tiradentes foi o eleito.
Conjuração Baiana, anteriormente denominada Conjuração dos Alfaiates e Inconfidência Mineira. Cobrança dos impostos atrasados. Anos a mais de cadeia, exílio permanente em Angola e morte a Tiradentes, em Minas Gerais. Em Salvador, prisão, exílio na África, açoitamento em público e condenação à morte por enforcamento. A luz faz menção ao Iluminismo.