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Doutrina Social da Igreja
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Introdução
Elegi para este trabalho o tema número três, o qual tem como bases a Encíclia do
Papa Francisco, sobre o cuidado da casa comum, e o documento do CONCÍLIO VATICANO
II, Constituição Pastoral Guadium et spes sobre a Igreja no mundo actual.
Na Encíclica do Papa Francisco, vai ser tratada a definição de “casa comum”,
enquanto maternidade e lar de toda a nossa civilização, com todos os seus diversos
constituintes e a faceta autodestrutiva do Homem, na perspetiva de explorador desligado
das consequências dos seus atos.
No que diz respeito ao CONCÍLIO VATICANO II, será abordada a problemática das
desigualdades económico-sociais, como agentes potenciadores da imperfeição do bem
comum e os benefícios que o desenvolvimento económico sustentado trazem para o
Homem integral, isto é, tendo em conta a ordem de todas as suas necessidade materiais,
intelectuais, morais e espirituais.
Como cristã, reconhecedora da magnitude da obra do Criador, e cidadã consciente
sou sensível às necessidades que o bem e a casa comum atravessam. Por outro lado,
reconheço a importância da consciencialização de todos nós para a necessidade de se
preservar a homeostasia deste magno ecossistema que é o planeta Terra. Só assim será
possível garantir uma melhor estadia de cada geração neste nosso lar. Deste modo,
atendendo aos acontecimentos atuais, optei pela escolha do tema número três.
Doutrina Social da Igreja
O mundo, como o conhecemos, nem sempre foi assim. Deus , num simples ato de
vontade, criou o mundo a partir do nada e criou-o para ser a nossa casa, a casa comum,
onde todos nós (“Desde os panoramas mais amplos às formas de vida mais frágeis, a
natureza é um manancial incessante de encanto e reverância. Trata-se duma contínua
revelação do divino”[1]) viveríamos como uma única família.
Como cantava São Francisco de Assis, “Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa
irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa e produz variados frutos com flores
coloridas e verduras”[2]. São Francisco de Assis queria transmitir a ideia de que a terra, a
nossa casa comum, acompanha-nos durante toda a nossa existência, experiencia todas as
mudanças pelas quais passamos, tal como uma irmã que ajuda o mais novo da família a
fazer os trabalhos da escola e a andar de patins. É, simultaneamente, uma mãe que nos
acolhe nos braços e fornece todas as “ferramentas” para o nosso crescimento pleno.
O Homem, como ser racional, foi explorando as tais “ferramentas” e criando
novas, de modo a melhorar e facilitar a sua vivência na terra. Para que este
melhoramento/aperfeiçoamento seja sustentado, é crucial que os progressos científicos,
as invenções técnicas e o desenvolvimento ecómico estejam sempre interligados a um
progresso social e moral, para que tais avanços não se tornem inimigos do seu próprio
criador (o Homem).
O ser humano, nesta vontade de alcançar mais e melhor, tem vindo a esquecer-se
dos outros significados que o ambiente natural possui, privilegiando aqueles que saciam o
consumo imediato. Esta desunião entre a figura humana e o mundo coloca-nos na posição
do dominador, do consumidor ou de um mero explorador dos recursos desta casa
comum, inapto a pôr um limite aos seus interesses. Esta inépcia que se tem verificado ao
longo dos tempos contribui para inúmeras problemáticas como a poluição e mudanças
climáticas, esgotamento de recursos como a água, a perda de biodiversidade e a
deterioração da qualidade de vida humana e degradação social.
É imperiosa a necessidade de juntar toda a família humana, com o intuito de
encontrar uma solução para o desenvolvimento sustentável e integral (salvação para a
casa comum). Todos são indispensáveis neste processo, contribuindo cada um com a
cultura, capacidade, experiência e recursos de que dispõe (“são necessários os talentos e
o envolvimento de todos para reparar o dano causado pelos humanos sobre a criação de
Deus”[3]). Assim, a mudança é prefeitamente praticável e o “Criador não nos abandona,
nunca recua no seu projecto de amor, nem Se arrepende de nos ter criado”[4].
O bem comum é caracterizado como “o conjunto das condições da vida social que
permite, tanto aos grupos como a cada membro, alcançar mais plena e facilmente a
própria perfeição”[5]. Quer com isto dizer que o bem comum deriva dos interesses
públicos, estando sempre relacionado com o ideal de progresso, de onde brotem
melhores condições de vida, como a igualdade social e económica, que todas as
sociedades e nações pertendem alcançar.
O bem comum assenta em pilares como o respeito pela pessoa humana, bem-
estar e segurança social, desenvolvimento de grupos intermédios (onde a família
representa a “célula basilar da sociedade” [4]) e a paz social. É responsabilidade de todos,
tendo o Estado especial relevância na defesa e promoção do bem comum.
No mundo contemporâneo, coexistem realidades paradoxais: luxo e miséria. Existe
um pequeno número de homens que dispõem de elevado poder e riqueza, vivendo na
ostentação, como se de faraós se tratassem, enquanto muitos outros lutam pela
sobrevivência, privados de agir por própria iniciativa e responsabilidade e sujeitos a
condições de trabalho desumanas. Esta distância abismal entre grupos economicamente
mais desenvolvidos e menos desenvolvidos ( mesmo entre diferentes regiões do mesmo
pais) afigura-se cada vez mais grave e pode comprometer a própria paz mundial.
A finalidade de um desenvolvimento económico não se cinge apenas ao aumento
do produto, lucro ou do poder, mas ao serviço do Homem (singular ou colectivo, de
qualquer raça ou região do mundo), considerando a ordem das suas necessidades
materiais e toda a complexidade de exigências intelectuais, morais, espirituais e religiosas.
O desenvolvimento económico deve permanecer responsabilidade de todos e não
de apenas alguns indivíduos, como grupos economicamente mais fortes, comunidades
políticas ou nações de maior relevo (poderosas), pois ao atingir o ponto em que o
progresso da vida económica capacita a suavização das desigualdades sociais, não deixa
de ser possivel presenciar o agravamento das mesmas desigualdades e, até,
ocasionalmente, uma regressão dos socialmente débeis e rejeição dos pobres.
Frequentemente, a economia e a política não têm como objectivo primordial a
defesa dos interesses dos cidadãos, focando-se nos ganhos económicos sem atenderem a
princípios morais e éticos.
No respeitante à ação da Igreja, esta, através da sua ação evangélica, tem
protagonizado um papel de relevo na promoção dos princípios de justiça e equidade.
Espaço de Reflexão
Deus criou o Homem à sua imagem e semelhança e dotou-o de sapiência e
aptidões que lhe permitiram usufruir do seu lar (casa comum), conjuntamente com todos
os outros seres, zelando pelo bem comum. Lamentavelmente, o Homem, dando como
garantida a sua hegemonia na Terra, distanciou-se do criador e ficou inebriado por todos
os seus sucessos no âmbito técnico científico. Deste modo, colocou-se numa posição de
potencial vítima da sua própria tirania, colocando em risco a sobrevivência das gerações
vindouras.
Com o intuito de superar todas estas adversidades, o ser humano necessita de
reduzir o seu egoísmo, olhar à sua volta, respeitar a vida humana, desde a conceção, amar
o próximo, respeitando as diferenças de género, etnia, cultura e religião. A sua ação deve
incluir respeitar a completa diversidade dos seres vivos, procurando preservar as espécies
existentes nos diferentes ecossistemas; controlar a exploração desmedida dos recursos
naturais; utilizar os conhecimentos científicos em prol da humanidade; gerir o
desenvolvimento económico em função da atenuação das desigualdades sócio
económicas; utilizar as organizações locais, nacionais e internacionais para promover o
bem comum; incentivar as ações missionárias e de voluntariado; promover a paz e
procurar reduzir as actividades belicistas, incentivando ao diálogo entre as diferentes
fações.
Acresce referir que, no sentido da aproximação do Homem ao seu Criador, é
essencial o renascimento do sentido da espiritualidade que assiste a todo o ser humano.
Ser crente em Deus e ser mensageiro da Sua palavra não é tarefa fácil nesta era do
descartável e do apego ao que é material. Não podemos esquecer que, em nome da
palavra de Deus, se cometem atrocidades, fruto do fanatismo religioso. O atentado em
Paris, ocorrido recentemente, é um exemplo deste tipo de barbárie.
Considerando a alma a parte imaterial ou espiritual do Homem que sobrevive à
morte do corpo físico, é através desta última que se estabelece relação com Deus. Deste
modo, a vida humana ganha sentido muito além da experiência terrena.
O futuro começa hoje, pelo que as famílias têm um papel primordial na criação e
educação das crianças e jovens, no sentido de formar indivíduos com respeito por si
próprios e pelo próximo. A nível institucional, é indelével o papel da escola, desde o nível
mais básico até ao superior, no sentido da formção do cidadão.
As organizações de nível local/regional, nacional, internacional desempenham um
papel de grande relevância na promoção do bem comum. Refiro, a este propósito, a
importância dos grupos de voluntariado, as ONG (Organizações Não Governamentais) e os
grupos de missionários. O altruísmo e o amor pelo próximo instituem-se como palavras de
ordem por excelência destes grupos.
Outro grande passo para a garantia do bem comum é a capacidade de olhar para o
homem na sua essência, esquecendo a sua posição na sociedade. Carece aceitar como
filhos de Deus e nossos irmãos os mais pobres, os mais simples e os mais desafortunados.
Neste mundo atual que sobrevaloriza a estética, urge transpor este ideal para a
casa comum, isto é, não permitir que esta seja desfigurada pela ação nefasta do homem
(desflorestação, poluição da massa liquida terrestre, poluição atmosférica e
descaraterização da paisagem, etc.).
Em suma, o Homem necessita reconhecer que vive num mundo criado por Deus,
que partilha esta casa com outros seres e que, como ser racional, lhe compete a gestão de
todos os recursos e da relação entre este e o meio envolvente.
Referências Biográficas:
[1] ConferênciaEpsicopal do Canadá – Comissão para a Pastoral Social, You love all that
exists…All things are yours, God, Lover of Life (4 de Outubro de 2003), 1.
[2] Cantico delle creature: Fonti Francescana, 263.
[3] Conferência dos Bispos Católicos da África do Sul, Pastoral Statement on the
Enviornmental Crisis (5 de Setembro de 1999).
[4] Página Laudato si’ (24 de maio de 2015) | Francisco – La Santa Sede
[5] Conc. Ecum. Vatt. II, Const. Past. Sobre a Igreja no mundo contemporâneo Guadium et
spes, 26.