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CRÍTICA JORNALÍSTICA LITERÁRIA: Um estudo sobre a influência dos releases de editoras na crítica jornalística literária diária

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Carolina Anglada de Rezende

CRÍTICA JORNALÍSTICA LITERÁRIA

Um estudo sobre a influência dos releases de editoras na crítica jornalística

literária diária.

Belo Horizonte

Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH)

2012

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Carolina Anglada de Rezende

CRÍTICA JORNALÍSTICA LITERÁRIA:

Um estudo sobre a influência dos releases de editoras na crítica jornalística literária

diária.

Monografia apresentada ao curso de Jornalismo do Centro Universitáriode Belo Horizonte (UniBH) como requisito parcial para obtenção do graude Bacharel em Jornalismo.

Orientador: Prof. Dr. Leonardo Cunha.

Belo Horizonte

Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH)

2012 

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Agradecimentos

À minha mãe, amor fundamental: pelas tentativas ainda que errantes, masextraordinariamente carinhosas.

Ao meu pai: pela paciência de Jó e pelos valores.

À família Anglada e agregados: pelo amor que não se contém.

Ao professor Leonardo Cunha: pela dedicação e compartilhamento desaberes ao me orientar.

Ao professor Maurício Guilherme: por todas as trocas e conversas, aindaque nos corredores.

À professora Sabrina Sedlmayer: por acreditar e me guiar na busca pelaescrita.

A todos os professores e funcionários do Departamento de Comunicaçãodo UniBH que contribuíram, de alguma forma, para este ciclo que agorase encerra.

Aos amigos e colegas: a vida há de ser tão generosa quanto vocês.

À Cristina: por me ensinar o verdadeiro sentido das palavras e dossentimentos.

À Mariella: por todos os dias e sempre.

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“ Agora o poema é um instrumento, mas não das disciplinasda cultura. É uma ferramenta para acordar as vísceras  –  um empurrão em todas as partes ao mesmo tempo. Bemmais forte que uma boa dose de LSD. Age no córtexcerebral, caímos em percepções novas, tudo se torna físico.Compreendemos em sentido revulsivo. As tripas digerem ouniverso.” H.H.

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Resumo 

ANGLADA, Carolina. Crítica jornalística literária: um estudo sobre a influência dos releases

na crítica jornalística literária diária. Prof. Orientador: Leonardo Cunha; Monografia deconclusão de curso, f. Belo Horizonte: UniBH, 2012.

A presente pesquisa tem por objetivo geral perceber em que medida se dá a influência do release

na construção da crítica jornalística literária diária. Utilizando pesquisa bibliográfica de diversos

autores das áreas de assessoria de imprensa, jornalismo cultural, jornalismo opinativo e

literatura, foi possível analisar como tem sido realizada a crítica de livros, a priori, em relação ao

texto do release e, posteriormente, delineando um possível panorama da práxis crítica dos jornais

Estado de Minas, O Globo e Folha de S. Paulo.

Palavras-chave: Crítica jornalística; Crítica literária; Releases; Releasemania.

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Abstract 

ANGLADA, Carolina. Crítica jornalística literária: um estudo sobre a influência dos releasesna crítica jornalística literária diária. Prof. Orientador: Leonardo Cunha; Monografia deconclusão de curso, f. Belo Horizonte: UniBH, 2012.

This research aims to understand how the releases influence the construction of literature

criticism on the daily newspaper. By using literature review of several authors of the fields of 

media relations, press office, arts and culture journalism, opinionative journalism and literature

could have been possible to analyze how is being practiced the book reviews, a priori, in relation

to the text of the release and then, outlining a possible scenario of critical praxis of the Estado de Minas newspaper, O Globo and Folha de S. Paulo. 

Keywords: Journalism criticism; Literature criticism;  Releases; Releasemania.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 08

2 O JORNALISMO CULTURAL CONTEMPORÂNEO ................................................ 11

2.1 Perspectivas do jornalismo cultural contemporâneo ......................................................... 11

2.2 Dilemas do jornalismo cultural contemporâneo ............................................................... 14

2.3 Jornalismo e Assessoria de Imprensa: um caso que vai além dos releases .......................17

3 CRÍTICA LITERÁRIA: O ENLACE PELA PALAVRA .............................................. 23

3.1 Questões iniciais ............................................................................................................... 233.2 Métodos da crítica literária: rigor e ciência ....................................................................... 23

3.3 Por um espaço diário ......................................................................................................... 27

3.3.1 À imagem do autor ......................................................................................................... 31 

3.4 Crítica literária jornalística X crítica literária acadêmica ..................................................34

3.4.1 Em busca do elo perdido e a importância do contemporâneo .......................................37 

3.4.2 A amplitude midiática e a construção do cânone literário ............................................41

4 INFLUÊNCIA DOS RELEASES NAS MATÉRIAS JORNALíSTICAS.........................45 

4.1 Universo de análise............................................................................................................. 45

4.2 Metodologia ....................................................................................................................... .47

4.3 Análise ............................................................................................................................... 48

4.3.1 Cosac Naify e os jornais Estado de Minas, Folha de S. Paulo e O Globo.......................48 

4.3.2 Companhia das Letras e jornais Estado de Minas, Folha de S. Paulo e O Globo ..........57 

4.3.3 L&PM e os jornais Estado de Minas, Folha de S. Paulo e O Globo ..............................59

5 CONCLUSÃO .................................................................................................................... 62

REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 65

ANEXOS ................................................................................................................................ 66

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1 INTRODUÇÃO

O tema e o objeto do presente trabalho mostram-se relevantes para a compreensão de

como o jornalismo opinativo tem sido praticado, em especial, no tocante a crítica,

observando como os  press-releases enviados pelas editoras se fazem presentes nas

críticas literárias exercidas pelo jornalismo diário. Para tal, foram escolhidas as

editoras Cosac Naify, Companhia das Letras e  L&PM . Embora se diferenciem nos

títulos, formato e público, aproximam-se por serem editoras de grande distribuição de

acordo com seus próprios objetivos editoriais. Os jornais, por sua vez, serão os de

maior porte em cada um dos estados que compõem a maior parte da produção e

consumo de livros, no caso, Folha de S . Paulo em São Paulo , O Globo no Rio e

Estado de Minas em Minas Gerais.

Desde a modernização da imprensa e o acelerado avanço tecnológico, a partir do

século XIX, percebe-se, concomitantemente à aceleração dos próprios prazos de

produção, a limitação analítica e o espaço dedicado aos livros no jornalismo diário.

Esses tópicos inerentes à discussão da prática jornalística moderna e contemporânea

estão presentes no primeiro capítulo, bem como os dilemas específicos da editoria de

cultura. Nesse sentido, foram utilizadas como referência obras de Rivera (2003),Cunha; Ferreira; Magalhães (2002), Piza (2004), Sussekind (1993), entre outros.

Santiago (2004) considera a crítica literária em jornais dividida em dois pólos cada

vez mais isolados um do outro: a exercida especialmente para os suplementos

literários e cadernos especializados e a dos cadernos culturais diários. Enquanto uma

se dedica a textos repletos de jargões e termos técnicos, inapreensíveis pela maioria

dos leitores, a outra recai no estilo de comentário, perdendo o rigor e a profundidademínima para a construção de uma crítica que tem a literatura como objeto. Sussekind

(1993) é outra autora utilizada como referência para desenhar os dois lados deste

quadro da crítica contemporânea.

Soma-se à discussão da perda de embasamento e profundidade das críticas literárias

 jornalísticas a questão das assessorias de imprensa e, especialmente, do press-release.

Lima (1985) aponta para a transformação do release, antes utilizado como ponto de

partida para a construção da matéria jornalística e atualmente como produto final.

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Essa transformação tem na aceleração da rotina de produção e na pressão exercida

pelos prazos, fatores influentes e/ou determinantes para a consolidação da influência

dos releases.

Na área da influência e/ou cópia dos releases pela matéria jornalística, acrescenta-se o

valor da ética, defendida por Bucci (2000) como fator que deve ser inerente às

práticas do jornalista, seja ele assessor de imprensa ou repórter.

No tocante à crítica, propriamente dita, priorizaram-se as questões das formas com

que o texto e o conteúdo crítico podem se apropriar, as dificuldades de abordagem e

análise de produções contemporâneas, além do aprofundamento na separação litigiosa

entre a crítica jornalística e a crítica acadêmica. Para tanto, foi usado como referência

o pensamento de Imbert (1986), para classificar modos da crítica, o de Santiago

(2002) e Sussekind (1993) para tratar da separação entre os polos críticos atuantes

hoje, o de Souza (2002), Pompeu (2008) e Nina (2007) para traçar os desafios e

problemas da crítica literária, além de outros.

Tendo em vista a importância da literatura e, ao mesmo tempo, da capacidade de

formação de opinião e educação por parte dos jornais, o presente trabalho objetiva

analisar o espaço e as diversas abordagens da obra literária nas páginas diárias. Como

aparato teórico foi utilizado trabalho de Nina (2007), que, conforme seu trabalho no

 jornal O Globo, realizou panorama das abordagens do material literário no jornal.

Os objetos escolhidos, portanto, são analisados primordialmente em termos textuais e,

quando possível, em termos imagéticos. A metodologia se baseia numa comparação

entre os conteúdos disponíveis nos  press-releases enviados pelas editoras aos jornaise se este conteúdo foi incorporado à matéria jornalística ou crítica. Da mesma forma,

é feita uma comparação entre as imagens e diversos outros materiais que podem

porventura compor o press-kit.

A partir de então, é possível realizar um panorama ainda que limitado, das práticas

 jornalísticas relacionadas à crítica literária em cada veículo, de acordo com as

editoras. A análise do material empírico, no terceiro capítulo, aborda particularidadesda prática jornalística e crítica de cada jornal, como tendências a certos estilos

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textuais, predominância de enfoques (na obra ou no autor, por exemplo), tamanho,

profundidade e tempo de resposta aos lançamentos.

Por limitações de tempo, espaço e material restrito, não foi possível abordar questões

como motivos para a escolha de determinados livros e exclusão de outros, bem como

possíveis preferências de um jornal por certa editora. Entretanto, caso a condição

desta pesquisa fosse outra, questões intrínsecas ao próprio cotidiano e procedimento

dos jornais e das editoras seriam fundamentais para que outros objetivos fossem

traçados com base na mesma pesquisa.

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2 O JORNALISMO CULTURAL CONTEMPORÂNEO

2.1 Perspectivas do jornalismo cultural contemporâneo

Piza (2004), para definir o jornalismo cultural, o insere em uma perspectiva histórica,

evidenciando que o campo tem se transformado desde o seu surgimento. Rivera

(2003) concorda, ao afirmar que a produção jornalística cultural se “expandiu e

diferenciou-se no mundo inteiro (...) desatada pela imprensa de Gutenberg em meados

do século XV” (RIVERA, 2003, p. 41). Para este autor, a transformação da prática

 jornalística cultural culmina em duas noções distintas do que seja a própria cultura.

A concepção ilustrada que restringia o campo das produções seletivas das„belas letras‟ e as „belas artes‟ e a que –  principalmente a partir da

expansão das perspectivas da antropologia cultural  –  a ampliou atéconvertê-la em uma amostra mais abarcadora e integradora (RIVERA,2003, p. 15).

Desta forma, o propósito do jornalismo cultural, bem como suas especificidades,

temas e estilo, dependerá da própria noção de cultura escolhida para nortear a

 publicação. Nesse caso, a publicação “limitará ou expandirá consideravelmente seu

campo de interesses, e consequentemente as possibilidades de eleição temática de

seus colaboradores”, segundo Rivera (2003, p. 28).

Outro fator que interfere e até determina a forma e o conteúdo da publicação dentro

do campo do jornalismo cultural é o que Rivera (2003, p. 29) denomina de “decisão

do tipo econômica” que o grupo editorial irá fazer. Esta decisão, juntamente à noção

de cultura escolhida, irá definir a variedade e a profundidade dos objetos da

publicação.

Cunha; Ferreira; Magalhães (2002, p. 4 e 5) salientam que esta “decisão do tipo

econômica” é maximizada em termos de consequências para o jornalismo cultural.

Principalmente, na prática, a partir da formação dos conglomerados comunicacionais 

 pela “concentração monopolista da propriedade de empresas jornalísticas, de

entretenimento e de publicidade”.

Rivera (2003) pontua que todo jornalismo, por si só, já é fenômeno cultural, mas tem

se tentado delimitar o campo que seria próprio ao “jornalismo cultural”, 

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por suas origens, objetivos e procedimentos (...), a uma zona muitocomplexa e heterogênea que aborda com propósitos criativos, críticos,reprodutivos ou de divulgação os terrenos das „belas artes‟, das „belasletras‟, das correntes de pensamento, das ciências sociais e humanas, a

chamada cultura popular e muitos outros aspectos que têm a ver com aprodução, circulação e consumo de bens simbólicos, sem se importar coma origem ou destinação estamental. (RIVERA, 2003, p. 19)

Assim, é possível situar o jornalismo cultural em um campo múltiplo de facetas,

procedimentos, estilo e objetivos, que dificultam a sua identificação e categorização,

principalmente a partir da proliferação de meios e propostas culturais. Neste mesmo

sentido, Rivera (2003) ressalta a diversidade do próprio público, que pode ser amplo

ou restrito, especializado ou profano, de acordo com o intuito da publicação. Portanto,

a essência do jornalismo cultural já seria dicotômica por abrigar noções que o autor

aponta:

“elite/ massa cultura especializada/ cultura geraltradição/ modernidadepalavra/imagemerudito/vulgarhomogeneidade/ heterogeneidade, etc.” (RIVERA, 2003, p. 21)

As diferentes combinações possíveis entre estas noções convergem em dois grandes

grupos predominantes no jornalismo cultural contemporâneo, segundo Rivera (2003).

O primeiro seria aquele que trata da cultura por um viés essencialmente especializado,

que deságua em um público restrito, o que se chama de cultura de elite. O outro

abarcaria a heterogeneidade, incluindo o saber popular.

Em termos gerais, o primeiro, de acordo com o autor, prioriza a crítica e o ensaio,

enquanto o segundo está mais preocupado com a divulgação de “patrimônios culturais

organizados e consumidos em mosaico” (RIVERA, 2003, p. 22).

O vão entre o primeiro tipo e o segundo instiga críticas desde o início de suas práticas.

Segundo Rivera (2003, p. 23), desde o Renascimento e o Iluminismo, em que as

ideias de intelectual foram reforçadas, tem se enfrentado os detentores do saber

exclusivista  restrito às universidades e museus com os consumidores de “jornais,

folhetins, obras de divulgação, oleografias e teatro de feiras” (RIVERA, 2003, p. 24),

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principalmente a partir da democratização do acesso às artes, processo crescente a

partir do século XVIII.

O arcabouço de opções artístico-culturais efervescentes no século XX apoiado pelos

novos métodos e gêneros de serem divulgadas, auxiliou no processo de surgimento e

proliferação das revistas e tabloides semanais ou quinzenais. Assim, o próprio

desempenho do crítico, que havia assumido, até então, a postura de sacerdote do

conhecimento, se transformou. “O crítico que surge na efervescência modernista dos

inícios do século XX, na profusão de revistas e jornais, é mais incisivo e informativo,

menos moralista e mediativo” (PIZA, 2004, p. 20).

O ensaio, portanto, junto à nota, seria um ponto de equilíbrio na prática do jornalismo

cultural, entre as duas posições divergentes. Segundo Rivera (2003, p. 38), o ensaio

tende ao analítico, interpretativo ou crítico de acordo com o autor, podendo ser breve

ou longo, objetivo ou subjetivo, e tem sido uma vertente em relação ao caráter

informativo e descritivo da imprensa em geral. Outra particularidade, que não se

restringe ao ensaio mas pode expandir-se em outros gêneros do jornalismo cultural, é

o que Rivera (2003, p. 37) denomina de tono. O tono seria o estilo sugestivo,

semelhante à prosa, da expressão no jornalismo tipicamente cultural. O que não

elimina a necessidade dos atributos essenciais ao jornalismo em geral, que são a

clareza e a concisão mas extrapolam estas noções pela particularidade de tentar se

aproximar da essência e da complexidade do objeto tratado no texto.

Em relação ao conteúdo do jornalismo cultural contemporâneo, Rivera (2003, p. 33)

afirma que a notícia, dentro do campo em questão, trabalha constantemente com a

“atualização, o novo e o experimental”, sendo ainda frequentes “a recapitulação e a

volta ao que já é conhecido”. Portanto, o que instiga a notícia na imprensa geral é

semelhante ao que instiga uma notícia no jornalismo cultural. O que é comum na

prática do jornalismo cultural é que, sendo várias as opções no leque da noção de

“cultural”, a publicação diária tende a contemplar o máximo tanto aspectos e objetos

em voga quanto revitalizar temáticas e assuntos, principalmente em se tratando de

tempos fragmentados e controversos, como afirma Rivera (2003, p. 34).

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Outro aspecto que deve ser contemplado dentro da análise do jornalismo cultural

contemporâneo é a sua capacidade de captar e gerar tendências, segundo Rivera

(2003, p. 35), dependendo do porte da publicação.

Os grandes meios parecem ser os mais eficazes nos processos de geraçãode tendências destinados a amplos setores de consumo ou similares a eles.Os pequenos meios, diferentemente, são mais eficientes na seleção eaprofundamento de campos e fenômenos (...) (RIVERA, 2003, p. 35)

Este aspecto do jornalismo cultural se relaciona diretamente ao conceito de “moda”,

daquilo que está em vigor como tendência no campo da cultura e das artes. Rivera

(2003, p. 36) afirma que as publicações se diferenciam essencialmente pela maneira

como lidam com esta noção, aceitando questões e objetos em voga ou recusando os

mesmos.

Ainda com relação à linha editorial das publicações jornalísticas culturais estão as

estratégias que Rivera (2003, p. 39) considera como necessárias para atrair e manter

o público. Tais estratégias teriam a ver, estruturalmente, com vários dos pontos aqui

 já mencionados, desde a decisão do tipo econômica até a noção de cultura escolhida e

permeiam o conteúdo a ser publicado.

O diário, o suplemento ou a revista de interesse cultural deve apenas parasuas próprias ferramentas, entre elas a imposição de padrões de prestígio,serviço e eficácia que os legitimem no círculo de seus leitores (RIVERA,2003. p. 39)

A escolha destas ferramentas é fundamental, inclusive, para determinar o tipo de

atuação que a publicação deseja a partir das tendências do grupo editorial.

Considerando o jornalismo uma prática social e inserida no mercado, toda publicação

deseja propagar aquilo que concorda com seus próprios horizontes.

2.2 Dilemas do Jornalismo Cultural contemporâneo

Piza (2004, p. 43) enxerga crise de identidade na prática do jornalismo cultural, desde

a segunda metade do século XX. Parte dela se deve à formação da “indústria

cultural”, caracterizada pela Escola de Frankfurt como o setor de produção em massa

do entretenimento. O jornalismo, de maneira geral, não estaria conseguindo, portanto,

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dar conta da seleção e edição destes produtos culturais, que cada vez são mais

numerosos, diversificados e economicamente relevantes.

É preciso ter em mente que o cidadão, especialmente nas grandes cidades, é bombardeado com “ofertas culturais”. Ele certamente não tem tempo suficientepara ler, ver e ouvir tudo o que ocorre - para não falar de que está preocupado emsuas suas horas de folga também para estar com a família, praticar exercícios etc.Precisa selecionar. O filtro jornalístico, porém, tem falhado em método e eficácia.(PIZA, 2004, p. 48)

Cunha; Ferreira; Magalhães (2002, p. 2) explicam que a Indústria Cultural, segundo

as concepções de Adorno e Horkheimer, é responsável por introduzir a produção de

bens culturais nos mesmos métodos de produção capitalista de bens não culturais,

nivelando as manifestações artísticas com mercadorias, minando sua potencialidadede emancipação. O Jornalismo Cultural, segundo os autores, também sofre os

impactos desta industrialização e, consequentemente, da mercantilização.

Apesar desta classificação ter sido amplamente criticada, posteriormente, por teóricos

da Comunicação, como Morin, Thompson e Sodré, principalmente em relação à

complexidade inerente aos aspectos relativos à Indústria Cultural como público e

meios de comunicação, o inegável e alarmante é a inevitável comercialização etransformação da obra de arte em entretenimento.

Os aspectos que mais nos interessam neste conceito são a tendência detransformação da obra de arte em entretenimento e evento de consumo, ocaráter repetitivo e a pobreza simbólica de suas produções mais típicas, anão democratização da possibilidade de criação e veiculação de produtosculturais, a concentração do poder de decisão, a banalização e diluição demovimentos inovadores ou contestadores (CUNHA; FERREIRA;MAGALHÃES, 2002, p. 3).

 A posteriori, é possível ainda identificar pontos de convergência e dependência entre

a produção do próprio artista e a veiculação e divulgação de sua obra pela mídia, o

que em termos de ocorrência prolongada, pode acabar circunscrevendo a elaboração

da obra de arte no tempo e o modo desejado pelo jornalismo e pelo ciclo de mercado,

priorizando os efeitos da propaganda em detrimento do valor autêntico.

No entanto, é inegável que o artista passou a viver um novo dilema quanto

à colocação ou não da sua obra no mercado - o que aponta claramentetambém para uma dimensão ética do problema, quando, por exemplo, o

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artista orienta seu trabalho em função do mercado (CUNHA; FERREIRA;MAGALHÃES, 2002, p. 5).

Nestes termos, é evidente, ainda, que artistas, eventos e produções que não se

subordinam às leis do mercado e/ou que estão além do eixo Rio-São Paulo ficam defora, inclusive, da cobertura e divulgação pela mídia. Esta prática pode ser pensada

ainda mundialmente, pois produções artísticas de regiões ditas periféricas não têm

grande enfoque nos cadernos diários, mesmo dos grandes jornais. Este dilema entre o

local e o mundial põe em xeque a essência social da cultura e da arte que não

consegue ser vista em comparação a outros movimentos, pelos leitores.

Outro fato que contribui para a perda dos valores e rigores críticos do jornalismo

cultural é a sua submissão ao cronograma dos eventos. Segundo Piza (2004, p. 51), as

matérias e/ou ensaios costumam sair no momento de divulgação do produto cultural e,

portanto, raramente há continuidade de abordagem sobre o mesmo. O

prosseguimento, que seria capaz de dar uma perspectiva ampla e não apenas recortada

do objeto artístico, fica em débito devido às preferências do momento. Cunha;

Ferreira; Magalhães (2002, p. 10 e 11) salientam a tendência de se cobrir as agendas e

roteiros culturais de eventos e/ou lançamentos, em que o enfoque dos processos e

suas diversas relações com outras manifestações artísticas, pensamentos e reflexões

fica em detrimento em relação aos produtos culturais.

É mais difícil encontrar, nos cadernos de cultura, uma cobertura adequada,abran- gente, investigativa e/ou reflexiva, das políticas culturais, domarketing cultural (salvo em época de inscrição nas leis de incentivo), daatuação do poder público, da economia envolvida com a cultura (salvocomo curiosidades do tipo “fulano assina contrato de tantos milhões dedólares”, ou “empresa X compra a empresa Y por tanto”), do patrimônio

cultural (edificado ou não-edificado), ou seja, dos processos que estão portrás dos produtos lançados no mercado (CUNHA; FERREIRA;MAGALHÃES, 2002, p. 10).

Cunha; Ferreira; Magalhães (2002, p. 8) chegam a classificar a atual tendência como

facilitadora de pautas e textos, confortando e satisfazendo o leitor em sua posição de

entretenimento e passividade. Segundo os autores, esta é uma realidade de mão dupla:

enquanto os jornais simplificam o conteúdo, homogeneizando-o, a Indústria Cultural

se mantém à vontade para disseminar os mesmos valores éticos e estéticos,

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priorizando a reprodução de bens culturais vendáveis, em série, e ignorando diversas

propostas alternativas.

Esta passividade é, via de regra, crescente e não só por parte do público, e sim dos

autores e jornalistas, inclusive por causa do cotidiano das próprias redações.

O ritmo acelerado, agravado pelo cronograma industrial e pela infinita lista de eventos

a serem cobertos pela agenda cultural dos jornais diários, prejudica o desempenho dos

 jornalistas em desenvolver pautas e matérias que criem referências entre valores,

fatos, tendências e conceitos.

2.3 Jornalismo e Assessoria de Imprensa: um caso que vai além dos releases 

Um dos dilemas atuais do jornalismo cultural, que mais suscita discussão, é o que se

refere à relação conflituosa entre jornais e assessorias de imprensa. Entretanto, é

válido salientar que, em pelo menos um ponto ambos convergem: nasceram também

da vontade de defender interesses econômicos, embora não só.

Enquanto os jornais surgiram com a formação da burguesia, já no século XV, em

decorrência dos novos modos de produção e mercantilização na Europa, as

assessorias de imprensa, embora tenham surgido mais recentemente, no fim do século

XIX, nos Estados Unidos, também se configuram, desde então, como uma estratégia

econômica, no caso, empresarial e até política.

Bucci (2000, p. 80) salienta, entretanto, que, embora ambos se graduem como

 jornalistas, são duas atividades diferentes e, por diversas vezes, até opostas.

Chamam-se jornalistas não apenas os repórteres, os editores, os diretoresde redação mas os assessores de imprensa de grupos políticos, econômicosou de personalidades públicas. Rigorosamente, porém, os assessores nãopraticam jornalismo. O assessor de imprensa se encarrega de intermediaras relações de seu cliente (ou patrão) com repórteres em geral, e suaeficiência é medida pela quantidade de reportagens favoráveis que saempublicadas – e pelas informações negativas que são omitidas. O assessorde imprensa é um artífice e ao mesmo tempo um divulgador da boa

imagem daquele que o contrata. Na prática, não é jornalista. Jornalista éestritamente o profissional encarregado de levar notícias ao público, num

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serviço que atende, no fim da linha, o titular do direito à informação emais ninguém (BUCCI, 2000, p. 80).

Não é objetivo deste trabalho questionar se a prática do assessor de imprensa é ou não

 jornalística, mas o inverso. Se o jornalista que trabalha para um veículo deinformação, com grande amplitude, baseia-se no release da editora ou o extrapola.

No caso das assessorias de imprensa, o press-release é o principal mecanismo. Duarte

(2002) define o press-release em uma lista de produtos e serviços das assessorias de

imprensa.

É o instrumento mais usual e tradicional em uma assessoria de imprensa eobjetiva informar ou chamar a atenção do jornalista para um assunto quepossa tornar-se notícia(DUARTE, 2002, p. 252).

Duarte (2002, p. 292) aponta que a qualidade do release depende de objetividade,

direcionamento e personalização. Sua construção deve ser pensada enquanto forma

 jornalística, com título, lide e informações que obedeçam ao formato da pirâmide

invertida. O autor ainda enumera os critérios para o aproveitamento dos releases: (1) 

interesse público (e interesse por parte do veículo), (2) ser novidade (não tendo sido

esgotado pela imprensa ainda), (2) disponibilidade (número adequado de

informações), (3) exclusividade (no caso de ter preferência por certa publicação) e (4)

adequação (no que concerne à proposta do veículo).

Outras características apontadas por Duarte (2002, p. 295) são concisão (sendo o

release limitado, normalmente, a uma lauda com, no máximo, 30 linhas), indicação de

um autor responsável e padrão estético para caracterizar uma identidade visual da

assessoria.

Para compor o release, muitas vezes a assessoria opta pelo  press-kit. Esse é um

conjunto material que pode conter além do texto, fotos, serviços, e frequentemente,

brindes. O  press-kit  é utilizado em larga escala por empresas de maior porte

econômico, que sejam capazes de sustentar a produção e a distribuição dos mesmos e

acreditam atrair interesse maior.

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Apesar destas indicações, Duarte (2002) concorda com Melo (1985, p. 15) que o

release acaba por se tornar o “prato feito da notícia”. Ele tem se tornado “mais uma

fonte de informação para a coleta de dados, além de servir  – e isso sim é lastimável –  

como produto final, ou seja, a matéria estampada dos jornais”, completa Lima (1985,

p. 18). Nilson Lage (2001, p. 95) comprova a ideia a partir de uma pesquisa baseada

em estatísticas americanas em que foi comprovado que 60% do que é publicado em

veículos de informação têm origem em releases institucionais. Se, por um lado, isto

reflete a organização e o desenvolvimento das assessorias de imprensa de um tempo

para cá, por outro, alimenta o comodismo das redações dos jornais.

O trabalho das assessorias de imprensa, responsáveis pela elaboração dos releases,

pressupõe certo rigor com relação à informação dada nos materiais a serem enviados

para a Imprensa mas a veracidade deve ser garantida pelo jornalista. É este o dever

que o jornalista tem para com o veículo que trabalha e com o público. Principalmente,

porque as assessorias têm, além do dever para com a verdade, outro

comprometimento que é com o seu produto e interesse específico da empresa que

trabalha. As assessorias de imprensa nasceram como maneira de formalizar e

organizar as estratégias de uma empresa e, portanto, estão intrinsecamente voltadas

para a boa divulgação, a inserção no mercado e o lucro.

Esta é uma realidade que flerta com a crescente mudança no mundo das organizações.

Curvello (2002, p. 123 e 125) salienta que a preocupação com o setor da comunicação

é praticamente recente e se deve ao processo de globalização, que altera as maneiras

de se comunicar, a velocidade, os fluxos, as tecnologias e os processos de qualidade

das empresas. Da mesma forma que o retorno e a análise de resultados são

perceptíveis e perpassam sua presença positiva na mídia.

Monteiro (2002, p. 147) afirma que a globalização inflingiu às empresas  a

necessidade de estar na mídia de maneira estratégica e bem sucedida. Em meio a

grande competitividade, tem se tornado necessário envolver-se com a mídia para

atingir o público alvo e incentivar opiniões favoráveis.

Conclui-se, portanto, que um dos efeitos pretendidos (talvez o maisimportante) pelas instituições (quaisquer que sejam elas), com a presence

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na mídia, é a conquista do apoio da opinião pública e, em consequência, asobrevivência no Mercado. Nesse snentido, a notítica institucional, semabondonar as suas características informativas, assume caráter politico,passando a ser utilizada estrategicamente nos segmentos sociais que detêmo poder de decisão ou o pode de influenciar decisões que possambeneficiar a instituição que a originou. A maioria das instituições agedessa forma, embora nem sempre isso esteja explícito em suas políticas decomunicação ou nas normas que orientam sua relação com a mídia(MONTEIRO, 2002., p. 148 e 149).

Estas questões que perpassam o debate sobre a relação entre assessor de imprensa e

 jornalista são imprescindíveis para delinear a crítica ao releasemania, termo

utilizado/proposto por Lima para caracterizar a época da dependência pelos  press-

releases por parte dos jornais. O termo define o momento pelo engessamento da

matéria jornalística bem como pela falta de rigor crítico em relação às informaçõesrecebidas, reportando, constantemente, informações parciais, distorcidas e

publicitárias, apenas.

Lima (1985, p. 22) responsabiliza o desenvolvimento tecnológico e o sistema

autoritário dos grandes grupos econômicos que detêm o poder das redações, e servem

à Comunicação de Massa, pela  proliferação dos  press-releases. As matérias têm

cedido seu espaço para os “interesses econômicos e políticos da empresa, em geralum grande grupo monopolista”, aponta Lima (1985, p. 23).

No tocante ao jornalismo cultural, esta prática agrava-se, pois se esperaria crítica,

opinião, interpretação ou uma reflexão daquilo que é o produto cultural e/ou artístico

e não uma informação meramente publicitária, que define, muitas vezes, os releases

de bens simbólicos.

Bahiana (2004) norteia os motivos propulsores desta prática em relação ao cotidiano

dos jornais diários, não para justificá-la, mas para poder enxergar que há uma

estrutura que a impulsiona.

É claro que sabemos a causa deste triste fenômeno - as redaçõesmagérrimas, a sobrecarga, os prazos cada vez mais apertados. Num quadrodesses, a bem da verdade, análise da produção cultural, raciocínio sobretendências e propostas, a crítica, enfim, não seria honestamente possível. E,

portanto, deveria ser abolida. Mas como não é, e a natureza odeia um vácuo,em seu lugar temos o release-como-comentário.

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A autora acredita que não é necessário extinguir os releases por estes serem auxiliares

no processo da elaboração da pauta e da própria matéria. Entretanto, o que Bahiana

(2004) defende não ser construtivo é que o release, de subsídio, passe a ser substituto

da produção que caberia ao autor/ jornalista.

Lima (1985, p.37) afirma que o assessor de imprensa se coloca na posição de filtro

entre a notícia e o público, e “pode poupar do repórter muito trabalho, apresentando-

lhe um quadro claro da situação que esse, de outro modo, talvez nem chegasse a

entender”. Por isso, revela-se útil o trabalho das assessorias de imprensa.

Outro ponto indispensável à discussão entre a relação dos jornais com as assessorias

de imprensa é a restrição a que ficam submetidas as matérias jornalísticas. Com a

crescente dependência dos jornais em relação aos releases, pouco se publica que não

seja de grandes empresas que contam com assessorias eficientes, o que acaba

enquadrando e viciando o jornalismo cultural, mesmo diante da existência cada vez

mais numerosa de bens culturais.

Um fato que contribui para esse vício e enquadramento, limitando consideravelmente

as opções do jornalista ou do crítico, é a sua dependência ou vínculo com

determinadas empresas.

Embora a maioria das empresas de comunicação se digam independentes

editorialmente, este trabalho visa confirmar tal afirmação.

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3 A CRÍTICA LITERÁRIA: O ENLACE PELA PALAVRA

3.1 Questões iniciais

Literatura e crítica são duas formas de expressão que se dão a partir de objetos e

intuitos diferentes. A literatura exprime-se artisticamente a cerca de uma visão do

mundo. A crítica, por sua vez, é o exame intelectual dessa expressão. Tanto é que

podemos recorrer a diversos casos em que o escritor é também crítico e, no crítico, há

um escritor.

Em todo o poeta há um crítico escondido, que o ajuda a cuidar da estrutura

do seu poema; e, por sua vez, em todo o crítico há um poeta que, dointerior, o ensina a simpatizar com o que lê (IMBERT, 1984, p. 7).

A partir do século XIX, sendo consideravelmente nítida no século XX até os dias de

hoje, a história de romancistas e poetas misturou-se à participação dos mesmos nos

 jornais. Foi o caso de Machado de Assis, Clarice Lispector, Luis Fernando Verissimo

e Moacyr Scliar, por exemplo. Tomando como cenário este mesmo momento, é

possível afirmar que as linguagens de literatura e jornalismo não se diferenciavam

muito, situação que teve seu fim a partir da regulamentação da profissão jornalística,que deu lugar, paulatinamente, a um processo cada vez mais abismal entre os livros e

os jornais.

Estudar a crítica literária significa imbricar nos meandros do papel da cultura para a

compreensão dos diversos aspectos da própria sociedade, no caso, brasileira. É

imprescindível, portanto, dialogar com os quadros econômicos, de poder e sociais

para conseguir entendê-la como fruto e, muitas vezes, reflexo, do sistema em que estáinserida.

Hoje, a crítica literária presente nos jornais é alvo de contestações por muitos autores

e leitores e, constantemente, é resumida em duas vertentes: a crítica jornalística, feita

por não especializados, e a acadêmica, de caráter teórico-metodológico.

3.2 Métodos da crítica literária: rigor e ciência

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A crítica, em geral, parte da análise de um objeto para lançar um juízo de valor. A

análise, por si só, constitui-se como um processo intelectual e rigoroso de

conhecimento de um dado objeto a partir da decomposição e decodificação de suas

partes fundamentais. A segunda etapa, portanto, refere-se à crítica propriamente dita,

que emitirá valor sobre o objeto.

Todo o processo de análise, que determinará o valor  do objeto literário, recorre

atualmente a outras disciplinas que realizam empréstimos ao estudo. Como afirma

Imbert (1986, p. 16), algumas destas disciplinas consideram a literatura como

instrumento (estudos utilitários), como problema (estudos filosóficos), como parte da

vida social (estudos culturais) e como valor (estudo propriamente crítico). Esta

categorização não impede, no entanto, que, na prática, o texto crítico recorra a uma ou

mais disciplinas, concomitantemente e de maneira muito peculiar, para explicar

aquilo que não está intrinsecamente respondido ou claro na obra.

De maneira geral, toda análise trabalha com elementos extrínsecos, elementos formais

e elementos intrínsecos, segundo Moisés (1977, p. 33). Os primeiros têm a ver com os

aspectos exteriores da obra, como a biografia do autor, as relações do texto com a

Política, a História, etc. Os elementos formais seriam aqueles que dizem respeito à

obra em si, como a ironia, o ritmo, a métrica. Os elementos intrínsecos, por sua vez,

remontam aos aspectos situados “dentro” da malha expressiva e corresponde ao que

se chama de “conteúdo”, propr iamente dito.

Entretanto, Imbert (1984) alega que o labor crítico deve focar o objeto em si. De todas

estas disciplinas e fatores extratextuais que surgem no momento da análise, como no

momento da própria criação artística, o que deve prevalecer são os materiais que vêma “cristalizar -se na obra. Seja este, pois, o foco da atenção crítica” (IMBER T, 1984, p.

102). E completa: “Se uma ciência da literatura é possível, terá que cimentar -se no

estudo sistemático da obra” (IMBERT, 1984, p. 102 e 103).

Sobre o contexto em relação ao texto, Moisés (1977, p. 17) explica que o contexto é,

muitas vezes, uma ferramenta necessária, mas é imprescindível manter o foco no

próprio texto.

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Por outras palavras: o desmembramento de um texto põe a descobertoproblemas e dúvidas que ele próprio nem sempre consegue resolver,simplesmente porque o texto (qualquer texto) recomenta a uma ou maistábuas de referencia, cujo conhecimento se torna imperioso quando sepretende chegar aos sentidos ocultos na malha expressiva. Um escritoconstitui sempre um ser vivo, empregando regras (ainda que somentesintáticas), aberto aos influxos de fora, da cultura em que foi produzido, daLíngua em que foi elaborado, da sociedade que o motivou, dos valores emvigência no tempo, etc. Se a tudo isso que o envolve, que lhe enforma acircunstância originária, se atribuir o nome do contexto, é imediatodepreender que, efetivamente, toda análise textual acaba sendo contextual.Entenda-se que a tônica continua a recair no texto, mas é evidente que seamplia desmesuradamente o campo da perquirição dos conteúdos textuaisquando se lhes conhecem as relações com o meio exterior em que foramgerados. Quer dizer que não é o contexto que importa, é o texto, mas este,sem aquele, corre o risco de permanecer impermeável às sondas analíticas.(MOISÉS, 1977, p. 17).

Imbert (1984)  situa a crítica literária enquanto pertencente a uma possível ciência

literária. Assim, justifica o rigor necessário para a análise do objeto em questão, de

forma coerente com o exemplo das outras ciências, naturais, por exemplo.

A crítica literária, para Imbert (1984, p. 105), deve se manter, portanto, no mundo

lúdico que os símbolos, raciocínios e impressões que as palavras são capazes de

indicar na própria obra. Este modelo de crítica interna, por sua vez, também pode ser

separado em correntes e tendências.

O modelo temático, segundo Imbert (1984, p. 106), reduz a literatura a um “inventário

de tópicos”. A narrativa, neste caso, resume-se a uma tipificação de temas, é

comparada com outros temas ou o mesmo tema em outros autores.

É recorrente, em críticas temáticas, que o autor tenha encontrado um argumento

central à obra e que discorra a partir de relações intrínsecas com outros tópicos.

O método formalista ou estruturalista, por sua vez, é decorrente da linha que se

especializa na estrutura formal da obra. Isto é, reconhece que o todo da obra se

apresenta na forma, na organização, na sua estrutura, negando os componentes.

A análise (formalista, grifo nosso) não considera a obra como um

documento psicológico ou biográfico de algo vivido pelo seu autor; muitomenos como documento da sua língua ou como documento de uma

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literatura nacional, mas, pura e simplesmente, como um complicado objetoverbal, fechado e auto-suficiente, pleno de significações que irradiam deum núcleo intencional até uma periferia de palavras, para retornar daperiferia para o núcleo e assim em seguida, em círculos esclarecedores(IMBERT, 1984, p. 113).

Nesse sentido, é possível afirmar que as críticas formalistas se aproximam geralmente

de obras que exploram enigmas e símbolos obscuros e não se aprofundam em análises

psicológicas ou estéticas, por exemplo, que são da ordem do conteúdo.

A crítica estilística se debruça sobre a maneira com que o escritor se posiciona a partir

da língua e seus ideias de expressão. O estilo, portanto, é fruto de uma consciência, de

um estado de espírito, de uma interioridade. Assim, abrange os aspectos extratextuais

que possam influenciar o estilo, bem como o ambiente, a educação do escritor e as

suas ideias.

Há, ainda, vários métodos, como os dogmáticos, impressionistas e revisionistas, que

nascem da interpretação que o leitor faz da literatura. Enquanto o primeiro constrói o

 julgamento com base em critérios estabelecidos, consagrados se inflexíveis, próprios

de uma determinada ordem legitimadora, a impressionista concebe a obra literária

como experiência de um leitor. Desta forma, concebe a subjetividade de quem está

lendo para interpretar a obra. O método revisionista, por sua vez, se dedica a rever os

valores literários, iluminando-os à luz do presente.

Embora a gama de possibilidades metodológicas para a construção da crítica se abra

como um horizonte para o crítico, Imbert (1986) atenta para os problemas de cada

uma das tendências aqui explicitadas, entre outras. Enquanto o método temático pode

estar fadado ao reducionismo da obra em tópicos, ou mesmo à sua dissimulação a

partir da divisão de seu conteúdo, o método formalista se perde na racionalização e

especialização interna e simbólica do objeto literário.

O que acontece, sobretudo no Brasil, conforme explicitado por Santos (2008), é a

preferência por tendências estrangeiras que acaba posicionando contrários e a favores

em situação de embate, criando ilhas sem conexões e diálogos de conceitos, o que tem

a ver com a história da própria literatura brasileira e impede uma evolução frutífera e

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polifônica. Esta situação é que culmina na polarização entre as duas críticas mais

praticadas, mais à frente.

O que Imbert (1984) salienta é que os métodos são apenas caminhos que os críticos

muitas vezes se atém a um ou mais trajetos para comprovar a sua leitura da obra.

Afinal, Wolfgang Iser, em O leitor implícito (1972) e O ato de ler  (1976), já

evidenciou as lacunas que toda obra literária deixa, vem a ser preenchida com certa

liberdade pelo leitor. É o leitor quem dá o sentido não-explícito da obra.

Esta inclusão da subjetividade do leitor na interpretação e análise da obra somada às

novas possibilidades de se fazer crítica em ambientes digitais/ virtuais, aumenta o que

Santos (2008) caracteriza de “individualidade” e “alheamento”. A leitura, que já se

consolidou como um ato individual, que carece de concentração e sossego,

transbordou sua práxis para a crítica que hoje, cada vez mais, também se isola e isola

o seu agente, rareando os exercícios coletivos de escrita, debate, aprendizado etc.

3.3 Por um espaço diário

Os jornais sempre foram um aparato importante para a profusão de ideias e saberes

que as críticas de livros continham, segundo Rivera (2003). A história da própria

literatura se encontra muitas vezes respaldada pela sua relação com os jornais, tendo

tido, muitas vezes, o mesmo como um aliado e em outras, como um inimigo.

Santiago (2004), inclusive, levanta a hipótese de a história da imprensa, na sociedade

burguesa, ser a história de sua desliteraturização. Para o autor, a literatura vem

perdendo espaço, importância, função e poder na imprensa diária e semanal desde oinício do século XIX.

Para explicar a hipótese da desliteraturização, Santiago (2004) levanta quatro

possíveis argumentos. O primeiro teria a ver com a formação das cidades

cosmopolitas e modernas, que desviaria o possível interesse pela literatura.

As grandes questões abordadas pelo folhetim crítico e literário eramsonhos e quimeras, quando não água com açúcar, diante do impacto de

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sucessivos e inesperados acontecimentos sociais que precipitam jogos deinteresse econômico e conflitos bélicos entre nações (SANTIAGO, 2004,p. 159).

O segundo argumento é baseado nas novas tecnologias ,que, ao aproximarem fatos elugares antes longínquos, maximizariam os interesses dos leitores por assuntos

exóticos e até então inimagináveis.

A tecnologia está inerente ao outro argumento de Santiago (2004), que parte das

novas formas artísticas, como o cinema e a televisão, para entender o decrescente

prestígio pela arte da leitura, muito mais trabalhosa e exigente.

O quarto e último ponto levantado pelo autor para explicar a hipótese da

desliteratulização da imprensa diz da mercantilização e democratização do objeto

livro.

(...) lembre-se que o jornal passou a abrigar menos literatura porque oobjeto livro, desde o século 18, foi-se tornando mercadoria acessível à bolsa do público burguês e, por isso, cada vez mais banal. Hoje, umescritor pode se lançar pelo livro. Não precisa passar antes pelo jornal para

se fazer conhecido dos editores e do público. Até há bem pouco tempo eraimpensável que um grupo de intelectuais não se formasse numa redaçãode jornal (SANTIAGO, 2004, p. 160).

Todos estes quatro pontos são trabalhados por Santiago (2004) para delinear o

processo crescente de divórcio entre escritores e jornal que decorreu no século XX.

Um dos pontos defendidos por Santiago (2004) é o da concorrência com as artes

tecnológicas. Este ponto pode ser entendido pelo viés da cultura de massa e pela era

que Walter Benjamin caracterizou como a era da “reprodutibilidade técnica”, que se

tornou evidente com o surgimento do cinema.

Para Benjamin (1980), o cinema, entre outras artes, passaram a seguir uma ordem: “A

obra de arte reproduzida é cada vez mais a reprodução de uma obra de arte criada para

ser reproduzida”. Sem o “autêntico”, passou a ser valorizada a exposição. E assim,

entre tantas opções artísticas que dialogam de maneira direta com o público e que não

exigem muita dedicação, o livro pode ter ficado em um plano mais distante para agrande massa.

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Santiago (2004), ao comentar as ideias de Benjamin, atenta, justamente, para esta

dificuldade da literatura em se manter no mesmo patamar de atração de um filme ou

espetáculo, por exemplo.

“Tendo passado pela experiência do cinema enquanto arte, tendo

reconhecido a sua atualidade e função política, tendo percebido osexageros e inconveniências da indústria cinematográfica para a arte docinema, tendo compreendido as transformações que ele, juntamente comoutras artes que se produzem e se reproduzem tecnicamente, gerou no seioda discussão estética no século 20, por que alguém ainda decide serescritor? Por que solitária e artesanalmente decide trabalhar com palavrasvistas a um livro, livro que se torna mais e mais um objeto obsoleto naépoca da cultura de massa?” (SANTIAGO, 2004, p. 118).

Pompeu (2008) credita à figura do crítico a salvação para esta diminuição da presença

e do alcance da literatura através do jornal.

Se não há contribuição na formação do gosto e nos critérios de avaliação,o surgimento dos objetos novos não vai além do traço distintivo em meioao conjunto opaco da produção contemporânea (...) Isso quer dizer que, sea crítica não se posiciona no presente, a indústria cultural ganha cada vezmais espaço na formação do gosto e na dinâmica de valoração dos objetos

(...) (POMPEU, 2008, p. 67).

Entretanto, Santiago (2004) pontua que, na história da literatura, mesmo antes do

cinema e das artes de reprodutibilidade técnica, os grandes clássicos sempre foram

invisíveis aos olhos dos leitores contemporâneos. Estaria nesta condição, portanto, o

valor da grande obra. Para comprovar esta afirmação, Santiago (2004) cita o exemplo

de Nietzsche e Sthendal. Enquanto o cinema responderia de imediato às questões

contemporâneas, a literatura, para o autor, recorreria a “uma outra e alterativa

compreensão da atualidade, buscando formas de conhecimento que escapam aocampo epistemológico comum aos seus contemporâneos” (SANTIAGO, 2004, p.

121).

No caso do Brasil, um agravante se dá através da realidade subdesenvolvida do país.

A grande quantidade de analfabetos, tanto fonéticos quanto artístico-culturais, é

incapaz de absorver o produto literário – o livro – de maneira profunda e verdadeira.

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Santiago (2004), corroborando as ideias do crítico Antonio Candido, afirma que

mesmo se houvesse um processo de alfabetização em massa da população brasileira, o

profundo abismo sociocultural sob a “danosa interferência da comunicação de

massa”, impediria a formação de cidadãos interessados pelos valores de culto.

Candido, como bom pensador modernista, via (1) os meios decomunicação de massa como o grande inimigo a ser combatido peloseducadores e intelectuais e (2) os valores tradicionais impostos pela arte ea literatura eruditas como os únicos a serem preservados, apesar de ascondições econômicas, sociais e políticas do mundo e do país indicaremum caminho outro e mais ricamente pavimentado. Cabia, pois, aosdefensores da arte e da literatura eruditas uma tarefa inglória: resistir  à invasão milionária e alienante dos meios de comunicação de massa(SANTIAGO, 2004, p. 128).

Perante a crítica impiedosa dos autores, é possível delinear a práxis esperada do jornal

em relação à sua responsabilidade social a partir do tratamento de livros. No caso,

imbuir de significados claros mas profundo,s os produtos culturais a fim de atrair

novos leitores, mesmo que mais ou menos alfabetizados, para que os mesmos sejam

capazes de, paulatinamente, definir novos padrões de excelência e abrir o debate do

cenário artístico-cultural.

Pompeu (2008), com base na obra do crítico Pierre Bourdieu, aponta que o crítico é o

responsável por separar o joio do trigo, no caso, os produtos meramente comerciais,

frutos da indústria de massa, daqueles que são essencialmente artísticos.

Assim, nas formas de produção, circulação e consumo é o crítico, oumelhor, o resultado textual de seu posicionamento, que se ajusta comovetor na valoração dos objetos (POMPEU, 2008, p. 6).

O espaço da crítica nos jornais, hoje, é dividido entre os segundos cadernos e os

suplementos  literários. No próximo item, a formação destes dois espaços será

discutida. Entretanto, é válido introduzir as diferenças e singularidades que os

caracterizam.

Segundo Santiago (2004), para compensar a especialização exigida para a

compreensão e o diálogo com a temática dos suplementos literários, os jornais

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criaram o segundo caderno. Nele, o autor transformou-se, a exemplo do ator de

cinema e do cantor, em ícone pop.

A literatura passa a fazer parte do que se chama de variedades,enriquecendo a galeria das estrelas contemporâneas, depois chamadas depersonalidades e, hoje, de celebridades (SANTIAGO, 2004, p. 163).

Desta forma, soma-se a todos os empecilhos e concorrências contemporâneas, de

mercado e logísticas, o fato de a literatura estar inserida em um recorte que prioriza o

aspecto vendável e espetacular da obra.

Da noite para o dia, o escritor transforma-se em intelectual de plantão.

Alcança o público que o seu livro não tem. O maior drama doanalfabetismo no Brasil é o de ter ele servido de adubo para a mídiaeletrônica do entretenimento, com o consequente desenraizamento culturalda imprensa escrita. O brasileiro aprendeu a escutar rádio e a ver televisão;poucos sabem ou querem ler (SANTIAGO, 2004 p. 64).

O exercício da crítica e da reflexão, que sempre foram as abordagens mais frutíferas a

partir da literatura, segundo o autor, foram culminando em um esvaziamento das

questões centrais e se direcionamento para a divulgação e a informação, amparadas

pela noção de entretenimento.

Diante deste cenário pouco promissora em termos de fidelidade aos preceitos

artísticos e, inclusive, sociais essenciais às artes, a crítica literária deve se posicionar,

fazendo reluzir as obras puramente artísticas, mesmo que estas incomodem.

A razão da crítica literária, do jornalismo abalizado e opinativo, é a de nãodeixar que passem em silêncio as obras culturais dissidentes. Abrir-lhes

um lugar de inconveniência no dia-a-dia conformista (SANTIAGO, 2004,p. 180).

3.3.1 À imagem do autor

Um dos temas recorrentes à discussão da crítica literária a superexposição do autor

pela mídia. Santiago (2004, p. 65) atenta para o recurso mais utilizado, atualmente,

pela mídia, para dar visibilidade ao autor da obra, em detrimento do ato de leitura: a

entrevista.

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Concedida aos pares da mídia televisiva, a entrevista serve muitas vezesao escritor de trampolim para discussões públicas sobre ideias implícitas na obra literária. O livro é raramente apreciado pela leitura. Consome-se aimagem do intelectual, assimilam-se suas ideias, por mais complexas quesejam (SANTIAGO, 2004, p. 65).

Pela formação política de Silviano Santiago, é possível perceber que o autor ilumina

esta situação como forma de denegrir a posição passiva e alienada do brasileiro,

generalizado na figura do telespectador, que se ausenta do debate e dos problemas

nacionais. O autor ainda chama a atenção para o possível deslumbramento que esta

exposição pode gerar para o escritor.

Há, por outro lado, um perigoso culto da personalidade a rondar o

aprendiz de escritor. Muitos jovens se sentem tão contentes com a imagempública de intelectual, que logo se descuidam do artesanato literário, ou oabandonam de vez (SANTIAGO, 2004, p. 65).

Esta discussão em Santiago (2004, p. 65) se dá através do questionamento do papel do

escritor que, frequentemente, está perdido de sua responsabilidade de intelectual. O

escritor que se vale da estratégia da entrevista, portanto, com o intuito de atingir um

maior público, seria um “doublé de intelectual”.

No artigo Outubro retalhado (Entre Estocolmo e Frankfurt), do mesmo livro,

Santiago (2004) define melhor os agentes envolvidos neste cenário.

Em miúdos, temos três entidades no tabuleiro literário do novo milênio: oromancista de qualidade, o autor recordista e a intelectual participante.Arte, indústria cultural e política se dissociam no momento doreconhecimento universal. O romancista tem valor literário e não tempúblico. O recordista vende e não aspira à arte. A intelectual é corajosa etem voz limitada na sua amplitude (SANTIAGO, 2004, p.77).

O romancista tende à sua torre de marfim, descuidando-se do diálogo franco com o

leitor. O recordista se satisfaz com a sua imagem e os frutos dela na sua conta no

banco. A intelectual se basta na sua performance crítica. Sobra o leitor, que há muito

endureceu sua sensibilidade e afinidade artística. Está traçada, assim, a realidade

segundo Santiago (2004) que faz do Brasil um país de poucos letrados, população

alienada politicamente e um grande culto às personalidades.

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Este culto, Santiago (2004, p. 163) atribui também ao momento histórico e explicitado

no próximo item, da criação dos suplementos literários. Para compensar o excesso de

especialização desses, a literatura (bem como a arte em geral) passou a ser

responsabilidade do segundo caderno. Neste, recursos como a entrevista, foram

utilizados na tentativa de popularizar e tornar a arte um entretenimento.

Ali, a literatura deixa de ser análise de obra e passa a se confundir com afigura singular do escritor, à semelhança do que já ocorria com o músico,o ator de cinema, teatro e televisão etc. O escritor vira ícone  pop. Aliteratura passa a fazer parte do que se chama de variedades, enriquecendoa galeria das estrelas contemporâneas, depois chamadas de personalidadese, hoje, de celebridade (SANTIAGO, 2004, p. 163).

Santiago (2004, p.174) trata ainda da questão do autor pela perspectiva da

autobiografia, que, embora não seja o assunto deste trabalho, contribui para a

compreensão do que representa esta figura.

O autor cita o sucesso do gênero autobiográfico como um respaldo da necessidade do

homem em solucionar a fragmentação contemporânea, explícita não só em obras

artísticas como na própria vida cotidiana. A autobiografia, portanto, teria o seu

sucesso garantido pela insegurança do homem pós-moderno. Em certo sentido, esta

construção da imagem do autor, pelo viés da entrevista, pode ser similar à tentativa da

construção de unicidade através do gênero autobiográfico, além de se configurar

como um processo de facilitação do entendimento de questões complexas que

demandariam leitura atenta e profunda.

Há ainda outra perspectiva relacionada ao foco no escritor, por parte da crítica. Esta

se chama crítica biográfica. Assim como a entrevista, a crítica biográfica desloca ofoco do objeto literário para documentos próprios à biografia do escritor, tais como

correspondência, depoimentos, ensaios e crítica.

A proliferação de práticas discursivas consideradas „extrínsecas‟ à

literatura, como a cultura de massa, as biografias, os acontecimentos docotidiano, além da imposição de leis regidas pelo mercado representamuma das marcas da pós-modernidade, que traz para o interior da discussãoatual, a democratização dos discursos e a quebra dos limites entre a

chamada alta literatura e a cultura de massa (SOUZA, 2002, p. 112).

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Souza (2002, p. 112) defende que este tipo de crítica constrói o que ela denomina de

“construção canônica do escritor”. Isto é, ao invés de um cânone tradicional pós -

moderno, tem-se caminhado para a consagração da  persona. São responsáveis por

esta situação, na visão da autora, os rituais de inserção e divulgação da sua imagem na

mídia e nos eventos culturais literários de sua época, bem como a publicação e

repercussão de sua obra. Para a autora, a figura do autor foi substituída pela do

escritor, “a partir do momento que ele assume uma identidade mitológica,

fantasmática e midiática”(SOUZA, 2002, p. 116) .

Esta perspectiva altera, inclusive, a questão do cânone, que se influencia agora por

questões íntimas do autor. Para Souza (2002, p. 118), o escritor estabelece laços de

amizade literária, a partir de influências, afinidades e interesses em comum, que são

capazes de aproximar as respectivas obras e colocar seus escritores em uma mesma

confraria.

Não se deve abandonar, contudo, o grau de desconstrução dos cânonesoficiais proporcionado pela construção teórico-ficcional de encontrosimaginários entre escritores que, na vida real, nunca se viram  –  seja porempecilhos de ordem temporal ou por falta de oportunidade  –  o queresulta no estabelecimento de novas linhagens literárias que ampliam oconceito restrito de família (SOUZA, 2002, p. 118).

3.4 Crítica literária jornalística X crítica literária acadêmica

A imprensa do século XIX ainda não era codificada em Manuais de Redação e em

regras pragmáticas próprias. Isto explica a quantidade de escritores de ficção que

tiveram suas obras mescladas com suas participações em jornais, como foi citado no

tópico anterior.

Literatura e jornalismo se confundiam tanto que, basta lembrar, váriasobras clássicas nasceram nos jornais, na forma dos folhetins, como foi ocaso da produção de José de Alencar (NINA, 2007, p. 19).

O espaço destinado à  literatura era, portanto, muito mais do que o que é comumente

dedicado hoje, depois do processo de desliteraturização do jornal.

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A partir do século XX, a crítica propriamente dita, que era feita até então incluindo

gostos e influências pessoais, passou a ser classificada como “crítica de rodapé”.

Especialmente nas décadas de 40 e 50, quando se deu o seu apogeu, a crítica feita nos

 jornais era marcada por três características bem nítidas.

a oscilação entre a crônica e o noticiário puro e simples, o cultivo deeloquência, já que se tratava de convencer rápido leitores e antagonistas, ea adaptação às  exigências (entretenimento, redundância e leitura fácil)(SUSSEKIND, 1993, p. 15).

Embora estes três pilares pareçam desmerecer o padrão crítico de até então, muito se

influenciou e até se refletiu sobre a leitura das obras. Críticos como Sérgio Buarque

de Holanda, Ronald de Carvalho e Sérgio Millet foram responsáveis, inclusive, poranunciar nomes promissores da literatura brasileira em suas críticas impressionistas –  

estilo a ser explicado por Nina (2007).

A palavra impressionista surgiu quase simultaneamente às artes plásticas epassou a ser sinônimo de diletantismo, ou seja, da prática de uma arte ouofício de forma amadora, sem levar em conta normas de ordem intelectual.Nessa caso, refere-se a textos que apenas justificam um gosto, sempreocupações teóricas. Não se pode, entretanto, desprezar esse tipo decrítica e considerá-la inválida só pelo fato de não ser acadêmica (NINA,2007, p. 24 e 25).

Ao longo destas décadas, com a formação das primeiras turmas de Filosofia das

Universidades, passou a entrar em campo um outro tipo de profissional que deseja

outro futuro para a crítica feita nos jornais: o crítico scholar . Estes olhavam torto para

os “homens de letras” que predominavam nas páginas dos cadernos culturais e, pouco

a pouco, foram minando as suas participações nos jornais a partir de uma nova

concepção de crítica.

mas sobretudo as normas que passam a regular o exercício do comentárioliterário e a qualificar ou desqualificar os que se dedicam a ele, agorasegundo critérios de „competência‟ e „especialização‟ originários da

universidade (SUSSEKIND, 1993, p. 18).

Dentro deste grupo, havia também controvérsias em relação ao porquê da necessidade

de se realizar a crítica de maneira diferente e por quem ela deveria ser feita. Afrânio

Coutinho defendia a formação acadêmica como essencial ao exercício da críticaelaborada e ampla. Assim, era definido quem tinha o direito de falar sobre literatura,

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mesmo que na imprensa. Entretanto, Antonio Candido acredita que a transformação

da crítica era uma etapa natural do processo de mudança da própria cultura, que vai

enriquecendo. Para ele, segundo Sussekind (1993), a crítica exigia novos métodos e

novos olhares pela própria especialização e diferenciação da cultura nos novos

tempos.

Santiago (2004, p. 164) responsabiliza o próprio professor da Faculdade de Letras, no

momento histórico da inclusão da disciplina de Teoria da Literatura, pela expulsão da

literatura dos espaços jornalísticos. A campanha liderada por Afrânio Coutinho contra

os críticos de rodapé, que não eram especializados, esvaziou e desorientou a boa

relação entre literatura e jornal, que, embora não se baseasse realmente em críticas

fundamentadas nas teorias e metodologias do século XX, eram de boa qualidade.

Sussekind (1993) sintetiza o embate que se travou entre os dois grandes grupos de

críticos, como a vontade de “substituir o rodapé pela cátedra” (2003, p. 20). De um

lado, os grandes nomes da crítica impressionista. Do outro, os recém formados ou

recém especializados. Ao mesmo tempo, formalizou-se a profissão de jornalista,

criando-se uma série de regras e códigos que acabavam por distanciar a literatura dos

 jornais.

A autora caracteriza as décadas de 60 e 70, no entanto, com uma reclusão das críticas

acadêmicas. Por motivo inclusive político (vide ditadura militar), os críticos scholars

se refugiaram nos ambientes das universidades enquanto o espaço jornalístico foi

assolado pela retomada da crítica de rodapé. Embora os acadêmicos tenham acelerado

e aprofundado os estudos literários, estes não conseguiram ultrapassar os muros do

campus nem em forma de livros, quanto menos nos jornais.

Conforme ressaltou Antônio Cândido, em depoimento a MarleneWeinhardt (cf.  Leia, out. 84), o „descaso‟ pela colaboração universitáriaseria incentivado por parte do próprio meio jornalístico: nem os proprietários de jornal teriam atentado para sua importância, nem „osquadros internos do jornal nunca aceitaram o suplemento (talvez porqueperturbasse a mediocridade do repertório generalizado) e o hostilizaramsistematicamente, a ponto de induzirem seu desaparecimento(SUSSEKIND, 1993, P. 27 E 28).

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Um dos resultados do que Santiago (2004) denomina de “separação litigiosa” entre os

críticos com formação nas teorias e metodologias do século XX e os de rodapé, foi a

criação dos suplementos literários, geralmente entre as décadas de 40 e 50. O autor

atenta, no entanto, para a própria noção que carrega o nome destes cadernos.

Vale a pena deter-se um momento na lógica do „suplemento‟.Complemento é a parte de um todo, o todo estará incompleto se faltar ocomplemento. Suplemento é algo que se acrescenta a um todo. Portanto,sem o suplemento o todo continua completo (SANTIAGO, 2004, p. 161).

Partindo desta lógica, o conteúdo literário e das artes, em geral, passaram a ser

tratadas nos fins de semana como algo que não era necessário. Necessário mesmo

teria a ver com matérias que flertam com a lógica do capital, excluindo a reflexão, aimaginação e a crítica.

Embora esta lógica seja nociva à importância e ao fulgor da literatura e das artes,

muito se produziu neste espaço suplementar , segundo Santiago (2004). Nomes

exponentes desta época e espaço são Sérgio Millet, Álvaro Lins, Otto Maria

Carpeaux, Lúcia Miguel Pereira e Brito Broca, que continuaram fomentando o

diálogo entre o pensamento crítico e o público. Os suplementos harmonizavam, ainda,com participações de escritores como Mário de Andrade, Oswald de Andrade e

Graciliano Ramos, que se arriscavam em ensaios.

A esse movimento, junta-se a tendência cada vez mais forte do crítico acadêmico de

enclausurar seus saberes e suas pesquisas para o ambiente acadêmico. Assim que o

 jornal fechou as portas para a sua participação, o mesmo se viu confortável em

investir nos jargões científicos e na linguagem codificada, fazendo circular sua

produção apenas entre os seus pares. Enquanto o jornal passou a ser considerado, cada

vez mais, como “páginas de classificados anunciando os últimos lançamentos das

grandes editoras” (POMPEU, 2008, p. 57). 

Em meados da década de 1980, surge uma terceira figura: o crítico-teórico, que tem

em Haroldo de Campos e Luiz Costa Lima dois exemplos. Sussekind (1993, p.31)

completa: “Porque mesmo nesses „anos universitários‟, muitos críticos-„especialistas‟

buscaram textos de intervenção mais imediata na vida cultural”. A arma do crítico -

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teórico seria o ensaio, “texto sempre em suspenso, em contínua reflexão sobre quem o

escreve, sobre a própria forma, sobre seus objetos, argumentação e pressupostos”

(1993, p.33).

Sobre o ensaio, Souza (2002, p. 114) defende ser este o método e a forma mais

condizente com a própria fragmentação pós-moderna.

A forma ensaística, ao inscrever-se sob o signo do precário e doinacabado, ajusta-se à reflexão narrativa que joga com os intervalos e oslapsos do saber, permitindo o gesto de apagar e de rasurar textos que sesuperpõe (SOUZA, 2002, p. 114).

Concomitantemente, data das décadas de 1970 e 1980, a organização das assessoriasde imprensa e a formulação do release como estratégia de marketing e inserção nos

 jornais. Para o bem ou para o mal, acabam sendo introduzidos no ambiente da crítica.

Deles, surgem, além dos ensaios, as resenhas. Diferentes em termos de tamanho e

profundidade, as resenhas acabam servindo mais evidentemente à lógica do mercado.

É na resenha, que ainda hoje vem ampliando seu espaço nos jornais degrande circulação e nas revistas literárias, que o crítico, distante do debate,

parece materializar a promoção de um produto  junto ao consumidor a queele se destina, tornando o jornal uma espécie de catálogo de vendas dosprodutos literários (POMPEU, 2008, p. 59).

Santiago (2004) inicia o artigo “A crítica literária no jornal”, utilizado neste trabalho,

revelando seu desejo de um bom relacionamento entre as partes.

Nosso interesse é o de estender ao escritor literário e o professoruniversitário de Letras o convite para participarem de maneira sistemática

 –  em benefício da literatura, da universidade, da imprensa, do público eaté em benefício próprio  – das páginas dos grandes jornais e revistas decirculação nacional e internacional (SANTIAGO, 2004, p. 156).

O autor cita, ainda, o caso de países hegemônicos, em que esse diálogo entre saber

especializado e suportes de longo alcance é fluido e benéfico para a sociedade.

O mesmo artigo de Santiago (2004) finaliza com a proposta para a formação de novos

“intelectuais em ação”,o que foi o caso do crítico de rodapé Sérgio Millet. O ideal

seria portanto, que, embora o agente do diálogo entre as artes e o público não seja

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especializado, tenha em sua escrita o que Candido denomina de “ato crítico”: uma

personalidade capaz de penetrar nos textos do momento e traduzi-lo como significado

para o homem contemporâneo, empenhada na vida e sobrevivência cotidiana da arte.

3.4.1 Em busca do elo perdido e a importância do contemporâneo

Se, por um lado, a forma das críticas divergem sobretudo de acordo com o local em

que ela será publicada, os objetos tendem a ser semelhantes em uma característica, ao

menos: o receio em se aprofundar no novo.

Pompeu (2008), ao se debruçar sobre resenhas publicadas pelo extinto  Jornal de

 Resenhas, veiculado pela Folha de S. Paulo, levantou uma série de conclusões acercadas tendências da produção crítica.

Com a dificuldade da crítica brasileira em lidar com produtoscontemporâneos e ao mesmo tempo se livrar dos paradigmas consagradosda modernidade, enquanto ao público não especializado a críticapredominante hoje no Brasil pouco interessa, aos criadores ela soaantiquada e pouco contribui no apontamento de caminhos para a criaçãoliterária (POMPEU, 2008, p. 64).

O autor, portanto, assunta sobre a possível dificuldade de a crítica brasileira arriscar-

se em terrenos ainda pouco explorados e na consequência desta situação que pode

levar ao desinteresse do público não especializado e à ausência de diálogo íntimo e

construtivo para os próprios autores. Isto se dá, em parte, pela ausência de conceitos

com que se basear a crítica e pela fragmentação e transformações com o crítico tem

que lidar em obras contemporâneas.

Nina (2007, p 36) ressalta a importância de se olhar a produção contemporânea com

olhos contemporâneos: “não se pode analisar o trabalho de um autor contemporâneo,

que implode a linearidade da narrativa, por exemplo, com base em um instrumental

clássico”. 

A essas quebras de linearidade e do modelo clássico de narrativa é que a produção

contemporânea dialoga. Portanto, o crítico deve estar preparado para compreender e

não lançar mão de um julgamento construído em cima de ruínas do passado.

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Moisés (1977, p. 20) é categórica ao afirmar que cada obra necessita de um olhar

atento, para que seja possível encontrar a melhor maneira de abarcá-la, “(...) pois cada

gênero, espécie ou forma literária impõe um comportamento analítico especial.” 

Primeiro que tudo, há que não perder de vista que nenhum processoanalítico, por mais aperfeiçoado que seja, pode servir de panaceia paratodas as obras literárias. Em segundo lugar, e muito mais importante, é aprópria obra que decreta o procedimento a adotar: o caminho a percorrerinicia-se na obra e termina no método, não o contrário, ou seja, evidenciafalta de consciência crítica ou má consciência ideológica aplicar mecânicae aprioristicamente o método a qualquer obra, sem consultar-lhe antes anatureza. Conhecida esta, depreende-se o método a perfilhar (MOISÉS,1977, p. 21).

A esse movimento, Candido (1997) dá o nome de “crítica viva”, que se valeria do

risco, mas, em compensação, daria luz às produções fortuitas, capazes de fomentar o

diálogo artístico e cultural.

Toda crítica viva- isto é, que empenha a personalidade do crítico eintervém na sensibilidade do leitor – parte de uma impressão para chegar aum juízo. [...] Em face do texto, surgem no nosso espírito certos estados deprazer, tristeza, constatação, serenidade, reprovação, simples interesse.Estas impressões são preliminares importantes; o crítico tem deexperimentá-las e deve manifestá-las, pois elas representam a dosenecessária de arbítrio, que define a sua visão pessoal. [...] Por isso, acrítica viva usa largamente a intuição, aceitando e procurando exprimir assugestões trazidas pela leitura (CANDIDO, 1997, p. 31).

Além de conceber a possibilidade da arbitrariedade a partir da percepção individual,

Antonio Candido foi importante ao pensamento da crítica, pois legitimou produções

que eram invisíveis aos olhos da crítica formal, como Clarice Lispector, Guimarães

Rosa etc., com profundidade, mas de maneira clara.

É com esse espírito que o resenhista deve dizer claramente se gostou ounão do livro, mas sem usar o tom de quem está obrigando o leitor a ler ouproibindo a leitura, como se fosse um juiz todo-poderoso detentor daverdade literária - que não existe, diga-se de passagem  –  querendoimpingi-la ao leitor (NINA, 2007, p. 35).

Nesta atitude intelectual, que excede a escrita intelectual, é onde estaria o futuro

harmonioso e frutífero entre produção contemporânea, consumo cultural e crítica.

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Como já foi tratado neste capítulo, é papel do crítico apontar caminhos para o leitor

de obras de arte. Do contrário, a Indústria Cultural, apoiada pela letargia do público

de massa, continuará oferecendo produtos culturais puramente mercadológicos e

vendáveis, assim como acontece com a lei do mercado de maneira geral.

Isso quer dizer que, se a crítica não se posiciona no presente, a indústriacultural ganha cada vez mais espaço na formação do gosto e na dinâmicade valoração dos objetos, instituição que obedece basicamente a assunçãode que o discurso crítico pode ser tomado como dado objetivo nacirculação de produtos, por meio de um presente indiferente e vazio(POMPEU, 2008, p. 67).

3.4.2 A amplitude midiática e a construção do cânone literário

Diversos fatores já enumerados nos tópicos anteriores a este contribuíram para o

início de uma descentralização de quem fala e do que fala. A democratização do

acesso às tecnologias, a proliferação de universidades, a crise das ideologias e da

representação e o aumento do incentivo à pesquisa são índices que se somam à quebra

do discurso etnocêntrico e da hierarquização sistemática e piramidal entre as

produções, no que culmina em um estado de descentralização. Esta descentralização,por sua vez, é responsável por valorizar textos marginalizados pela cultura oficial de

até então.

Principalmente a partir da década de 1990, em que houve o declínio das correntes

teórico-metodológicas da crítica, sobretudo no ambiente acadêmico, o processo de

revalorização da história e de produções interdisciplinares e culturais intensificou-se.

Para Souza (2002, p. 20), todo este momento foi beneficiado externamente pelosmeios de comunicação de massa.

Muda-se, portanto o enfoque: se antes a crítica de rodapé cedia lugar àuniversitária, criando-se um abismo entre a academia e a mídia, hoje odiscurso crítico se nutre dos meios de comunicação de massa, através daapropriação dos procedimentos e da dicção enunciativa. A elitizaçãocultural não mais se sustenta diante do apelo democrático dos discursos,razão pela qual a literatura deixa de ser impor como texto autônomo eindependente  –  se é que algum dia ela assim pôde ser vista (SOUZA,

2002, p. 2).

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Apesar de Souza (2002) considerar positiva a participação dos meios de comunicação

de massa do fim do século passado e início do século XXI, na divulgação, debate e

proliferação da crítica e da própria literatura, a autora percebe no que culminou este

momento: num“fast food televisivo”, que padroniza os consumidores de cultura.

Para a autora, a literatura passa a ser um objeto de estudo para outras disciplinas do

momento, como o pluralismo, o multiculturalismo, o pós-colonialismo. Em face do

detrimento de um enfoque estrito à discussão do literário, o texto passa a ser visto

como voz de um contexto submetido, principalmente, às nuances historiográficas, por

exemplo. A esse movimento é possível relacionar à visibilidade dada atualmente ao

discurso homossexual, do negro, do Oriente Médio, dos índios, entre outras diversas

minorias.

Estas disciplinas e palavras de ordem que imperam na produção e divulgação das

mesmas se pautam não pela subordinação mas pela coordenação entre as diferentes

práticas discursivas, possibilitando a contínua contaminação entre saberes.

A mídia, portanto, seria um veículo de profusão desses saberes, que têm na literatura

um componente ativo na rede interdisciplinar.

Em virtude das mudanças de costumes propiciadas pela modernizaçãocrescente nos países periféricos, a literatura, discurso que até entãoconcedia status e importância aquela a ela se dedicava – principalmente nacondição de escritor- vê-se inserida no rol heterogêneo e pouco nobre damultiplicidade discursiva, destacando-se aí a presença da mídia (SOUZA,2002, p. 82).

O esforço pela autonomia da literatura, em relação à heterogeneidade doscomponentes das redes interdisciplinares e multiculturais se dá na tentativa de

formulação de novos critérios de qualidade aplicáveis além dos discursos das

minorias e das transformações verificadas no plano da estética e do valor literário.

Se este discurso crítico abandonasse o sentimento de perda e reelaborasseo luto de maneira a aceitar a presença, embora faltosa, da literatura nosistema cultural da atualidade, poder-se-ia atenuar o valor de propriedadeexigido para os diferentes tipos de discurso (SOUZA, 2002. P. 86)/ 

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Tanto a falta da literatura, apontada por Souza (2002), quanto a falta de categorias e

de uma literatura que não se propõe a ser a voz de uma minoria, por exemplo,

colocam em xeque a noção de cânone na modernidade e na pós-modernidade. Os

conceitos que antes a delimitavam, por um lado, a colocavam em posição intocável,

mas pelo menos não a perdiam de vista e legitimavam a literatura.

A autora responsabiliza justamente os acadêmicos, por derrubarem os conceitos e

critérios que pertenciam ao cânone. Portanto, somado à consolidação da importância

da mídia, do mercado ou da própria internet, o ponto de referência para a formação do

gosto ou do valor estético descentralizou-se e aproximou-se da população.

Se a instituição agisse em comum acordo com o mercado, haveria umaboa oportunidade de diálogo entre a literatura e a mídia, a academia e osmeios de divulgação cultural. O mercado, inclusive, tem o poder de criaruma mitologia literária que não corresponde às preferências acadêmicas,as quais se insurgem contra a rapidez e a inconsequência das opiniões eresenhas semanais (SOUZA, 2002, p. 92).

Este gosto popular foi o responsável, inclusive, por legitimar a quantidade de

produções de minorias, como já explicitado aqui. As posições separatistas de cultura

letrada, de massa e popular se iniciaram no início do século XX, especialmente em

decorrência da Semana de Arte Moderna e tem os seus ecos perpetuados, em certa

medida, até os dias de hoje.

As estéticas da ruptura, trazidas à tona com o modernismo brasileiro dos anos 1920,

se desdobraram na década de 1940, reverberando no concretismo e neoconcretismo de

1950, tendo respaldos até o tropicalismo de 1960 e 1980, também foram responsáveis

por tornar claras a dialética e as contradições inerentes à discussão sobre modernidadee modernização, valorização do nacional e dependência do estrangeiro etc., em países

periféricos como o Brasil.

A metáfora da antropofagia teve, e ainda tem, importância para se pensar a ruptura e a

tradição, a utopia e o progresso, a dependência cultural e a noção implícita da

inserção da cultura brasileira no contexto internacional. Como dizia Silviano Santiago

(2004): “apesar de dependente, universal”.

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Este movimento teve êxito ao recuperar autores e manifestações artísticas

“marginalizados” até então, descentralizando os valores e voltando-se para o que seria

próprio do Brasil, mas seus preceitos ideológicos ainda podem ser debatidos hoje,

tendo em vista a produção literária brasileira e a relação com a crítica.

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4 Influência dos releases nas matérias jornalísticas, por editora

4.1 Universo de análise

O presente trabalho tem como objetivo verificar a influência do press-release enviado

pelas editoras na construção da crítica literária no jornalismo diário. Para isso, foram

escolhidos três jornais representativos da região Sudeste e releases de três editoras

com linhas editoriais e amplitudes diferentes.

As três editoras a serem analisadas são as seguintes: Cosac Naify, Companhia das

 Letras e L&PM . Embora se diferenciem nos títulos, formato e público, aproximam-se

por terem relativamente o mesmo tempo de produção no mercado e o número de

títulos sob responsabilidade de seus selos e serem editoras de grande distribuição, de

acordo com seus próprios objetivos editoriais.

A Cosac Naify foi criada em 1997 por Charles Cosac e Michael Naify, dedicando-se

primeiramente a edições de livros de arte, que requerem papéis diferenciados e uma

preocupação estética e material peculiar, esta, uma das marcas da editora que

perduram até hoje. Atualmente, seguindo à risca o rigor das encadernações de luxo e

edições especiais de livros, a Cosac Naify tem um repertório de obras de literatura -

clássicos, infantis e lançamentos - livros de críticas e ensaísticos, entre outros gêneros.

Por priorizar edições mais primorosas, a Cosac Naify é conhecida por seus preços

acima da média.

A L&PM Pocket surgiu como alternativa à possível falência da  L&PM Editores, que

desde o seu surgimento, em 1974, se dedicou a editar obras e autores de carátercrítico. A Coleção  L&PM Pocket foi pensada, portanto, com base em quatro pilares:

textos integrais, alta qualidade editorial e industrial, preços baixos e distribuição

“total”, atingindo ao máximo a população do Brasil. O seu formato, que se enquadra

na categoria chamada po pularmente de “de bolso”, foi capaz de se aproximar mais

democraticamente das camadas mais baixas da população e se tornou uma opção

diferenciada no mercado nacional de livros. Por responsabilidade do selo L&PM

Pocket, estão cerca de mil títulos, de autores consagrados da literatura mundial, tantoclássicos como modernos. Fazem parte biografias, ensaios, quadrinhos, Balzac,

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Shakespeare, Agatha Christie, Fernando Pessoa, Pablo Neruda, Georges Simenon,

Jack Kerouac e Bukowski, por exemplo.

A Companhia das Letras, por sua vez, situa-se em uma faixa editorial intermediária.

Foi criada em 1986 e possui uma lista de cerca de 3000 títulos editados até hoje,

incluindo as edições de outros selos, como Companhia das Letrinhas, Cia. das Letras,

Companhia de Bolso, Penguin Companhia. Apesar destes outros selos que possuem

todos seus próprios objetivos próprios, o escolhido foi o que tem o mesmo nome da

editora e que se destina a publicar livros de peso literário, com destaque para ficção

nacional e estrangeira. Entretanto, via de regra, a editora não prioriza o aspecto

estético como a Cosac Naify e, portanto, apresenta-se com preços mais acessíveis.

Os releases selecionados como material empírico foram os que tiveram mais

repercussão nos jornais a serem analisados. Quando possível, escolhia-se releases que

geraram matérias nos três jornais.

Os jornais escolhidos para ter suas críticas literárias analisadas sob o ponto de vista

dos  press-releases são o Estado de Minas, O Globo e Folha de S. Paulo. Os três

configuram-se como os de superdistribuição nos estados de origem, isto é, Minas

Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Assim, será possível analisar a influência dos

releases em representantes da região Sudeste do Brasil, responsável por grande parte

do volume de produção crítica e literária do país.

O Estado de Minas foi fundado em 1928, sendo um dos jornais mais antigos do pais

ainda em funcionamento e um dos principais no estado de Minas Gerais. Circula

diariamente com seus cadernos fixos: Política, Opinião, Nacional, Internacional,

Economia, Gerais, Economia e EM Cultura, que será o objeto de análise deste

trabalho.

A Folha de S. Paulo iniciou sua história em momento próximo ao Estado de Minas.

Em 19 de fevereiro, Olival Costa e Pedro Cunha fundaram o jornal "Folha da Noite".

Em julho de 1925, é criada a "Folha da Manhã", edição matutina da "Folha da Noite".

A "Folha da Tarde" é fundada 24 anos depois. Apenas no dia 1° de janeiro de 1960,os três títulos da empresa ("Folha da Manhã", "Folha da Tarde" e "Folha da Noite") se

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fundem originando o jornal Folha de S. Paulo. Hoje, é o jornal de maior circulação no

país, com cerca de 306 mil exemplares por dia. O caderno diário de cultura é

denominado Ilustrada e será o segundo objeto de estudo da presente pesquisa.

O Globo surgiu no ano de 1925 e, desde sua origem, esteve orientado para o público

da grande área metropolitana do Rio de Janeiro, extrapolando inclusive os limites do

estado, bem como os outros jornais que serão objetos de análise da presente pesquisa.

Hoje, O Globo é o terceiro jornal de maior circulação no território brasileiro, com

uma tiragem de cerca de 264 mil exemplares diários. O caderno a ser analisado será o

de nome Segundo Caderno.

4.2 Metodologia

Como assunto dos cadernos de cultura, a literatura tem despertado interesse,

prioritariamente, do público letrado. Por outro lado, o jornal tem amplo potencial

transformador na realidade brasileira, intercalando sugestão com análise profunda e

sensível dos objetos a serem criticados em suas páginas. Os jornais escolhidos como

material empírico, principalmente, por sua ampla distribuição e alcance no território

brasileiro, configuram-se como essenciais à transmissão e divulgação do teor literário

dos produtos do mercado editorial.

A partir de uma observação empírica do aparato textual das críticas literárias

 jornalísticas esta análise visa a investigar até que ponto o discurso presente nestes

textos é mera reprodução da informação prestada pelas assessorias de imprensa das

editoras através dos releases, ou “leituras compartilhadas” a partir da interpretação do

crítico.

Contudo, por meio do trabalho, poder-se-á fazer uma análise em geral das críticas

presentes nos cadernos culturais diários dos jornais em questão, evidenciando os

espaços destinados às mesmas, o perfil dos livros e escritores escolhidos e a forma

como se dá a construção das críticas.

O método utilizado é o da análise de conteúdo, aplicado aos releases enviados pelaseditoras Cosac Naify,  L&PM Pocket  e Companhia das Letras e às críticas

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 jornalísticas literárias veiculadas nos jornais Estado de Minas, O Globo e Folha de S.

Paulo.

Para melhor organização, a pesquisa será realizada em duas etapas ou categorias:

comparação entre release e crítica e tipologia das críticas literárias jornalísticas.

Em relação à comparação entre os releases enviados pelas editoras e as respectivas

críticas, será analisada a influência do release com base no material textual e

imagético, desde o título até possíveis notas de rodapé.

Na categoria de tipologia da crítica literária jornalística, os pontos que servirão de

referência para a análise serão:

●  Caracterização das críticas a partir dos jornais em que são veiculadas.

●  Espaço dedicado às críticas literárias jornalísticas.

●  Gênero utilizado (ensaio, resenha etc)

●  Preferência por foco na obra ou no autor.

●  Indicação dos lugares-comuns da crítica.

●  Panorama das tendências críticas.

●  Escolha dos livros a serem criticados e sua importância para a construção do

cânone literário.

4.3 Análise

4.3.1 Cosac Naify e os jornais Estado de Minas, Folha de S. Paulo e O Globo

Alguns detalhes que surgiram durante o processo inicial da pesquisa e que não eram

objetivo a priori do trabalho, mostram-se relevantes para a análise propriamente dita.

É o caso do site da editora Cosac Naify, que disponibiliza um espaço de livre acesso,

“Sala de Imprensa”, que conta com os releases dos lançamentos da editora bem como

o download para o press-kit. Esta estratégia, por si só, demonstra a preocupação com

a facilidade de acesso aos materiais institucionais e de divulgação, garantindo um

diferencial em relação às outras editoras.

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Outra estratégia organizacional percebida é o link direto com as matérias que saíram a

respeito do livro da editora. Na página principal de cada livro há um menu à direta,

que, entre outras opções, dá acesso ao que foi publicado na imprensa sobre aquele

livro. Este mecanismo facilita não apenas a função de jornalistas que podem se

inteirar das discussões acerca do livro como do próprio possível comprador ou

interessado. De qualquer maneira, contribui para a sua imagem pública a partir de

conteúdos diferenciados e organizados.

Quanto ao formato dos releases e práxis da editora, é possível dizer que segue a

tendência de ser responsabilidade normalmente de jornalistas e/ou escritores, quando

não vêm apenas com a rubrica dos assessores de imprensa. Acompanham quase

sempre a foto do livro e uma do escritor no press-kit . Ao final do texto, acrescenta-se

uma pequena biografia do escritor com outros títulos do mesmo, caso eles tenham

sido editados pela Cosac Naify.

Em relação aos releases propriamente ditos, foram escolhidos três a partir dos

critérios já explicitados: os relativos aos livros  Dublinesca e  História abreviada da

literatura portátil, ambos de Enrique Vila-Matas e Museu do Romance da Eterna, de

Macedonio Fernández.

A começar por Dublinesca- que gerou um release nomeado por Um editor entre Joyce

e Beckett   – refere-se a obra do catalão Enrique Vila-Matas, lançado em maio de 2011.

O release foi enviado à imprensa no início de maio, com texto informal,

essencialmente opinativo e qualitativo, que recorre frequentemente a trechos do

livrospara endossar a opinião do jornalista e escritor Ronaldo Bressane. O  press-kit,

além do texto, conta com duas imagens, uma do escritor com os braços cruzados eoutra do livro.

A repercussão no jornal Estado de Minas resume-se a uma nota do dia 07 de maio do

mesmo ano, no caderno Pensar, que coloca a mesma foto do escritor acrescida de um

texto breve sobre o livro, anunciando seu lançamento. A nota, por sua vez, se

constitui do resumo da obra, mencionando elementos centrais, como a crise da meia-

idade de Riba, personagem principal, seu desejo por Nova York, e seu refúgio em

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Dublin, terra de James Joyce. Apesar de breve e de evocar alguns lugares-comuns da

obra, cita Nova York que não é sequer mencionada no release, mas que está na obra.

No dia 13 de maio, o jornal O Globo publicou uma matéria sobre a vinda do escritor

Enrique Vila-Matas e aproveitou para anunciar o lançamento do livro Dublinesca. 

O título da matéria, “Vila-Matas, de escritor a personagem”, é comparável ao título do

release, que evoca o diálogo entre dois polos, por assim dizer, na obra em questão. No

caso da matéria, entretanto, o enfoque se dá sob a questão de Vila-Matas escritor e

Vila-Matas personagem, muitas vezes misturado e difundido em suas obras e em

obras de outros autores, que colocam o escritor como personagem de suas histórias,

como é o caso do citado “Se um de nós dois morrer”, de Paulo Roberto Pires. Como

credibilidade, a matéria é intercalada com frases do autor para completar e comentar o

sentido do enunciado.

Outro recurso utilizado nesta matéria do jornal O Globo foi aproveitar o lançamento

para anunciar as duas palestras que Vila-Matas daria em São Paulo. Esta abordagem

permite que o leitor não apenas possa se interessar pela obra como participar das

palestras (uma delas, inclusive, tratada com mais profundidade ao fim da matéria), ou,

ao menos, saber que é um autor que participa dos eventos culturais brasileiros.

Quanto ao resumo da obra, também presente na matéria “Vila-Matas, de escritor a

 personagem”,  mas apenas mais ao fim, é constituído de três parágrafos sendo mais

dois de comentários do próprio autor sobre as questões tratadas (o que dá leveza à

leitura). Menciona-se, portanto, Samuel Riba, o personagem principal, e sua crise e

falência. Entretanto, diferente da nota do Estado de Minas, a matéria de O Globo seaprofunda mais nas intertextualidades presentes na obra e marca de Vila-Matas, e para

isso, não só exemplifica fazendo menção ao Google, à obra Ulisses e Esperando

Godot e ao Bloomsday, como usa uma citação do escritor argentino Ricardo Piglia

(não presente na obra) mas que alarga a compreensão do leitor sobre o universo das

referências e enriquece o texto.

No dia 07 do mês de maio, o jornal Folha de S. Paulo publicou uma matéria nocaderno  Ilustrada, com um título semelhante ao release e à matéria do O Globo:

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“Vila-Matas relaciona Gutenberg com Google”.  Entretanto, se no jornal carioca o

tratamento da obra se deu sob a luz da intertextualidade, a matéria do jornal paulista

foi construída inteiramente sob esta questão: as referências. Tanto referências usadas

no próprio livro quanto referências ao próprio livro, como é o caso do uso de trechos

para melhor exemplificar o enredo descrito e destrinchado na matéria.

Como a matéria se debruça sob o enredo, há menção a vários pilares da obra, também

utilizados no release. Entretanto, de maneira bem menos palavrosa.

Ao final, como é de praxe do jornal, há um quadro com as informações, autor, editora,

tradução, preço e uma avaliação que, no caso, foi “bom”. “Bom”, segundo a jornalista

Eleonora de Lucena pois o leitor “pode tropeçar e cair no cipoal de citações de

escritores, poetas, dramaturgos, críticos”.

Em relação à obra  História abreviada da literatura portátil, lançada em março de

2011, também do escritor Enrique Vila-Matas, a editora Cosac Naify deu a

responsabilidade do release para o escritor, Reiners Terron. Da mesma forma que o

release anterior, este se caracteriza por uma opinião acerca do livro, embora bem

menos enfática e floreada como da obra anterior. Nesse sentido, o release  Big-Bang

 portátil de Vila-Matas debruça-se primordialmente sobre o enredo da obra,

mencionando momentos cruciais e referências, como já era esperado por se tratar do

estilo do objeto tratado.

No jornal Estado de Minas, não foi encontrada nenhuma crítica, apenas a menção do

lançamento em uma coluna no caderno semanal, Pensar , no dia 02 de abril. Nesta, há

informações básicas tais como autor, editora responsável, número de páginas, preço,um resumo e a menção a outros livros do autor editados no Brasil.

 N‟O Globo, por sua vez, não foi encontrada nenhuma referência ao livro.

Já na Folha de S. Paulo, uma matéria do dia 12/03, do colaborador Daniel Benevides,

se divide entre o resumo da história com comentários sobre o método vilamatense.

Alguns pontos, entretanto, se mostram singulares, como o trecho em que Daniel

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explicita a contextualização da obra pelo período entre-guerras e a presença de figuras

e metáforas explicadas por este contexto, o que não é tratado no próprio release.

Ao final da matéria Enrique Vila-Matas cria intrigante exercício de irreverência, o

colaborador da Folha arrisca uma caracterização da obra vilamatense sob a retranca

“Do nada para o nada”. Na avaliação de Daniel, o livro é “ótimo”. Não há foto.

O press-kit do livro  Museu do Romance da Eterna, do escritor argentino Macedonio

Fernández, é composto por três fotos (duas do autor e uma do livro) mais o release,

escrito sob a assinatura dos assessores de imprensa, João Perassolo e Rafaela Cêra.

Trata-se da publicação de uma obra escrita há mais de cinquenta anos pela Coleção

Particular, um selo da editora que se dedica a obras escusas de escritores já

renomados em um projeto gráfico diferenciado.

O release, que desta vez não foi encomendado a nenhum escritor, se divide em três

partes mais significativas: uma maior sobre a obra, outra sobre o escritor e a terceira

sobre a edição e o projeto gráfico.

Em relação à obra, menciona-se, principalmente, a relação dela com o contexto

literário da Argentina (citando Borges, Júlio Cortázar e Ricardo Piglia), a forma e

estilo e temas centrais de Macedonio. Sobre o autor, informa-se a data de nascimento,

morte e gêneros de obras publicadas, bem como algumas de suas outras áreas de

atuação em um parágrafo conciso. A terceira parte, referente ao projeto gráfico,

explica como se deu a elaboração desta edição especial, de acordo com características

próprias da obra e da intenção do autor.

No Arquivo Premium do jornal O Globo foi encontrada uma referência para o

lançamento da edição em português brasileiro, publicada no dia 30 de dezembro de

2011. Trata-se da lista dos melhores livros lançados no ano, escolhidos por Guilherme

Freitas, José Castello e Mànya Millen. 

O texto que resume aspectos da obra e de seu lançamento coincide com o texto do

release ao apresentar a noção de “livro que nunca chegou a concluir”, feito de

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“fragmentos e digressões” e de “prólogos, trechos avulsos, cartas abertas a críticos e

leitores”.

No jornal Folha de S. Paulo, o livro ganhou duas críticas elogiosas no dia 19 de

 janeiro. Para introduzir, Paulo Werneck, editor do caderno  Ilustríssima e autor da

matéria, situa Macedonio na produção argentina, fazendo referência a sua história

com Borges. Ainda que no release tenha-se mencionado esse, o jornal vai além,

contando um caso específico, que é o da amizade entre Macedonio e o pai de Jorge

Luis Borges, e depois outro, que seria o romance coletivo de Borges.

Já no segundo parágrafo, Werneck cita o ficcionista e crítico Damian Tabarovsky,

como no release, o que indica possível referência. Há outras citações, como a do

escritor argentino Ricardo Piglia (uma não usada no release) e do escritor carioca

Sérgio Sant‟Anna, ausente no release. Neste mesmo parágrafo, o tipo de edição

produzida pela Cosac é explicitada na matéria, inclusive, com o nome da designer

responsável, Elaine Ramos, que não consta no release. Nenhuma das fotos usadas na

matérias são as enviadas no  press-kit . Preferiu-se, no caso, recorrer ao Arquivo do

 jornal argentino Clarín.

Na outra crítica, produzida pelo escritor Joca Reiners Terron (autor do release do

primeiro livro analisado aqui), foca-se na temática e na concepção de modernidade

que Macedonio implica à produção literária. O que foi tratado em quatro parágrafos

no release é destrinchado na matéria, com uso de várias citações e referências a outras

obras e escritores para exemplificar e ampliar os horizontes de compreensão e

interpretação do leitor. O livro, no quatro final típico da Folha recebe a avaliação

“ótimo”.

O livro repercutiu em uma matéria no caderno Pensar, do jornal Estado de Minas,

escrita pelo jornalista João Paulo. Como não é objetivo desta pesquisa analisar os

cadernos semanais e suplementos, não haverá análise desta matéria. Entretanto, é

possível desenhar algumas suposições sobre a ausência de conteúdos jornalísticos

destinados à obra no caderno diário, por exemplo, por se tratar de uma produção

literária que dialoga criticamente e de maneira inextricável com a tradição e o cânone,

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propondo uma leitura que saiba lidar com o fragmentário, o processual e labiríntico,

exigindo o máximo de dedicação do leitor.

4.3.2 Companhia das Letras e jornais Estado de Minas, Folha de S. Paulo e O Globo

Para análise dos releases da editora Companhia das Letras, foi solicitado, via e-mail,

o envio de alguns, à escolha da Assessoria de Imprensa. Dentre os 11 recebidos,

foram escolhidos três, a partir de suas repercussões nos jornais em questão.

Analisando a relação das editoras com a disposição dos seus materiais para a

imprensa, percebe-se nítida diferença em relação à Cosac Naify. Não há espaço online

a que o jornalista possa recorrer por materiais institucionais e/ ou de divulgação,

como no caso da Cosac. Todos os livros têm um domínio específico, que dispõe

apenas de resumo, com informações básicas como preço, espaço para leitores

deixarem sua opinião etc.

Com relação ao release do livro Alex Bellos no país dos números, lançado em abril de

2011, este traz as informações básicas logo após a marca d‟água da editora, seguidas

por um bigode, uma frase de elogio ao livro publicada no jornal inglês The Guardian,

o texto do release, propriamente dito, e uma pequena biografia do autor ao fim.

Trata-se de um estilo de release objetivo, conciso e “simples”. Não há floreios de

linguagem, inúmeras referências, contextualização da obra ou citações, como

percebido nos releases da Cosac Naify. Não há assinatura, pressupondo a autoria por

parte dos assessores de imprensa.

No jornal O Globo, foram publicadas duas matérias no dia 08 de abril sobre o livro,

uma mais formal, escrita por Isabel Butcher e outra, mais intimista e pessoal, por

Leonardo Pimentel. A primeira aborda aspectos da enunciação da obra, como a

repercussão do livro na Inglaterra (uma vez que o autor é inglês), sua tradução para

diversas línguas e a maratona de viagens que o autor/personagem teve que fazer para

decifrar o mundo dos números.

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Como foi observado na matéria sobre o livro Dublinesca, o jornal O Globo faz uso de

falas do autor sobre o processo da escrita do livro para exemplificar trechos e temas

da obra, bem como para tornar a matéria mais leve. No caso da matéria “Sem

qualquer medo de calcular”, Isabel Butcher intercala texto corrido com travessões do

autor.

Já na crítica de Leonardo Pimentel, a forma usada é parecida com a de uma crônica,

assaltada frequentemente por devaneios e opiniões pessoais.

No jornal Estado de Minas, a matéria de capa do dia 26 de abril do Em Cultura, foi

sobre o livro de Alex Bellos, escrita por João Paulo. A abordagem se dá sobre as

diversas culturas que permeiam o tema dos números e que o autor aprofunda nos 12

ensaios que compõem o livro. Com linguagem simples, mas comprometida com a

intenção da obra, João Paulo tenta captar a atenção não apenas de

crianças/adolescentes, como de adultos, interessados por ciência, arte e história.

A retranca “Crochê hiperbólico” retoma alguns dos ensaios já mencionados na

primeira parte da matéria para destrinchá-los e se aprofundar, como em “A vida de

 pi”, “A hora do recreio” e “Algo sobre nada”.

Há ainda uma entrevista com o autor, Alex Bellos, para finalizar a matéria, já na outra

página. Para ilustrar, há foto central de uma criança interagindo com um grande “cubo

mágico” e a foto do livro Alex Bellos no país dos números.

Ainda no Estado de Minas, é possível encontrar uma nota do dia 14 de abril no

caderno Pensar, resumindo o livro e suas informações principais.

No jornal Folha de S. Paulo, não foi encontrada nenhuma reportagem ou nota sobre o

livro.

O livro inédito Poemas, da polonesa e prêmio Nobel de 1996, Wislawa Szymborska,

foi lançado em setembro de 2011 pela Companhia das Letras. O release prioriza

questões referentes à vida da autora, como o fato de ela morar a vida inteira em umacidade às margens do Vístula, no sul da Polônia, ser tímida e ter uma vida reclusa.

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No jornal Estado de Minas, não foi encontrada nenhuma matéria relativa ao

lançamento do livro Poemas, no caderno EM Cultura. Entretanto, há alguns materiais

significativos publicados no jornal referentes à autora.

No caderno Pensar, em novembro de 2011, foi publicada uma matéria sobre as

proximidades literárias a partir da tradução e da poesia entre a escritora polonesa e

Carlos Drummond de Andrade. Por ocasião desta matéria, escrita por Eduardo Jorge,

mestrando em teoria da literatura, há a menção ao livro, Poemas, como a primeira

obra da escritora traduzida para a língua portuguesa brasileira.

Ainda no Estado de Minas, há duas outras menções significativas a partir da busca

 pelo nome “Wislawa Szymborska”. Uma é referente à nota de falecimento, publicada

dia 02 de fevereiro, no caderno Internacional. A outra diz respeito à crônica de Maria

Esther Maciel, publicada no dia 12 de fevereiro e dedicada a tornar conhecida a poeta,

sua obra e suas temáticas, embora por ocasião, justamente, de seu falecimento.

Tais ocorrências reafirmam o lugar muitas vezes descentralizado que a literatura tem

ocupado na vida cotidiana, principalmente a partir do advento do escritor, como

 persona pública e midiática. Na nota de falecimento, por exemplo, afirma-se que a

poeta era a mais famosa de seu país e que depois do Nobel teria ganhado

reconhecimento internacional, embora não tenha sido encontrada nenhuma referência

de matéria publicada no caderno diário do jornal em questão. Esta hipótese é

incentivada ainda pelo teor da crônica de Maria Esther Maciel, que se propõe

apresentar, aos leitores do jornal, a obra de Szymborska, no próprio caderno EM 

Cultura.

O jornal Folha de S. Paulo, por sua vez, imprimiu duas matérias no período de

lançamento do livro Poemas. A primeira, no mesmo mês do lançamento, tem sua

abordagem voltada, justamente, para a edição da obra traduzida pela primeira vez

para o português brasileiro. Escrita por Flávia Foreque, de Brasília, a matéria também

aborda questões da vida da escritora, como seu isolamento (presente no release) e se

caracteriza por referências, como é o caso de citações de Woody Allen e UmbertoEco, mencionados no “bigode” da matéria como exemplos de admiradores de sua

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obra e busca por “fontes oficiais”, no caso, professores e doutores especializados para

tratar da obra. O título da matéria “ Nobel polonesa ganha edição no Brasil” , por sua

vez, elucida a importância dos prêmios para a valoração da obra literária em questão.

Como de costume da Folha, há o box ao final da matéria com as informações básicas

do livro. Entretanto, não há “avaliação”.

Em dezembro do mesmo ano, a Folha publicou outra matéria, ainda sobre a edição do

livro Poemas, desta vez, com mais estilo de crítica. Escrita por colaboração de Naomi

Jaffe, a matéria realiza uma espécie de “mergulho” na obra, analisando versos e

estrofes e os principais topos da obra.

Em relação às imagens utilizadas por ambas, no caso, de momentos diferentes do

recebimento do Nobel, é possível reforçar a questão do enfoque no prêmio.

No jornal O Globo, a repercussão foi reduzida em relação aos outros jornais. Há

apenas a aparição do livro na lista dos melhores de 2011, divulgada em 30 de

dezembro de 2011 no Segundo Caderno.

Como em todas as outras aparições de Szymborska nas mídias em questão, há a

menção ao Prêmio Nobel, neste caso, introduzindo a nota referente ao livro.

Esta situação elucida a “aura” que recobre os títulos e prêmios ofici ais, explicitada

nas recorrências totais de menção, embora, por outro lado, seja possível recorrer a um

quadro de certa defasagem da crítica em abarcar meandros pouco explorados, como as

produções ainda não traduzidas.

Como a poeta polonesa Wislawa Szymborska teve sua edição em português do Brasil

publicada numa época próxima ao seu falecimento, percebe-se pela quantidade de

matérias relativas ao lançamento de seu livro e referentes à sua morte, um espaço de

tempo curto e uma resistência ao aprofundamento em suas produções, embora o

prêmio Nobel tenha sido dado em 1996. Caso não houvesse a edição traduzida de sua

obra, é possível especular uma ausência de tratamento, divulgação e abordagem dasproduções da polonesa.

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O terceiro lançamento escolhido como objeto desta pesquisa é o “Liberdade”, de

Jonathan Franzen, publicado em maio de 2011. O release deste livro, assim como os

dois outros já analisados, colocam no “bigode” em itálico um resumo da obra em

questão. Neste caso, como no da obra “Alex Bellos no país dos números”, segue-se

com frases de críticas positivas de outros veículos ao livro. Entretanto, neste, há sete

frases de jornais como The Guardian, Vanity Fair , The New York Times e da revista

Esquire.

O texto, propriamente dito, do release, se debruça sobre o enredo da obra,

relacionando personagens, trama e argumentos. Seu início e fechamento se dão com

referências a elogios, títulos e motivos de consagração do livro, primeiramente

agregando valor por títulos oficiais e canônicos pelo National Book Award e

finalizando com o Oprah‟s Book Club.

As duas matérias publicadas no jornal O Globo no Segundo Caderno por motivo do

lançamento do livro, isto é, no período de maio, são em tom elogioso, como em

relação aos outros livros analisados aqui. Uma, elaborada pelo jornalista e escritor

Marcelo Moutinho começa citando a maioria dos prêmios e títulos recebidos por

 Liberdade e descritos no release. Haja vista que o livro participou do Oprah‟s Book 

Club, foi elogiado pelo The Guardian e lido e elogiado por Obama, a matéria usa

estes fatos como artifício para capturar a atenção e interesse do leitor.

Entretanto, após anunciar o livro pelas provas de seu reconhecimento, Marcelo

Moutinho adentra a trama do livro, apresentando personagem e enredo de maneira

que extrapola o resumo exposto no relase.

A segunda matéria, publicada também no dia 27 de maio no Segundo Caderno, mas

escrita por Guilherme Freitas, utiliza outra abordagem: o escritor. Como foi

mencionado no capítulo anterior, o foco na persona é prática recorrente e aparece na

matéria também nas frases, depoimentos e confissões de Franzen.

Como já foi apontado nesta análise, a Folha mantém-se em dia com o calendário dos

lançamentos. No mesmo mês do lançamento de  Liberdade, o jornal publicou umaentrevista com o escritor Jonathan Franzen, abordando questões referentes ao livro, à

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sua participação na FLIP (Festa Literária de Paraty) e à sua relação com o contexto

político norte-americano.

A matéria torna-se, portanto, ponto de partida para o levantamento de questões

abordadas nos capítulos anteriores deste trabalho. A primeira diz respeito à figura do

intelectual, respaldada na figura do escritor. Isto se exemplifica na matéria da Folha,

ao se questionar questões extratextuais e, ainda, contextuais, a Franzen. Esta

abordagem pode ser entendida como a apropriação da tradição, que enxergou,

principalmente no século XIX, o papel político-ideológico do escritor como ator na

sociedade em que ele está inserido. Além disso, transfere-se momentaneamente o foco

na obra para as diversas nuances da persona Jonathan Franzen.

Outro ponto pertinente que a matéria traz à tona é a questão dos festivais. A FLIP é

hoje um dos maiores eventos nacionais de divulgação e discussão da literatura feita no

Brasil e no mundo. Portanto, percebe-se certo prestígio ao situar o escritor com a

referência de sua participação na Festa.

4.3.3 L&PM e os jornais Estado de Minas, Folha de S. Paulo e O Globo

No caso da editora L&PM, foi solicitado, via e-mail, o envio de cerca de 10 releases

de livros editados nos últimos dois anos, como no caso da Companhia das Letras. A

busca, no entanto, seguiu o critério de repercussão, priorizando aqueles releases que

mais gerassem matérias e conteúdos jornalísticos. Entretanto, não foram localizadas

nem no jornal O Globo nem na Folha de S. Paulo matérias e reportagens sobre

lançamentos da editora L&PM, embora seja recorrente a menção nas colunas de livros

mais vendidos.

Este fato, por si só, já representa um índice de análise a ser destrinchado, uma vez que

a presença de produtos da editora se dá em um espaço jornalístico considerado de

grande importância, que indica os livros mais vendidos do mercado editorial, mas não

em reportagens contemplativas ou de divulgação. A  L&PM  é conhecida,

principalmente, por suas edições de bolso, produzidas com baixo custo e em amplas

tiragens, como o próprio Institucional da empresa afirma.

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Baseado num moderno projeto executado dos moldes das grandescoleções europeias, a Coleção L&PM Pocket foi construída com base emquatro pilares fundamentais: textos integrais, alta qualidade editorial eindustrial, preços baixos e distribuição "total", atingindo todo o Brasil.

Se a editora objetiva ter seus livros distribuídos pelo país, foi possível perceber quesua divulgação não passa pelo crivo dos críticos e jornalistas de cultura, embora esteja

presente, como já foi citado aqui, nas colunas de mais vendidos.

No arquivo digital do jornal Estado de Minas foi encontrada uma matéria que aborda,

 justamente, a questão da ampla distribuição e venda dos livros de bolso,

principalmente em relação à editora  L&PM. A matéria de capa do caderno EM 

Cultura intitulada “Pequeno notável” utiliza uma ilustração com a foto de capa dolançamento do ano de 2012 da editora, a obra  Diários de Andy Warhol (não lançada

até o momento do pedido de envio de releases para esta pesquisa).

Segundo a matéria, a editora possui exatamente mil volumes nesse formato e tem

média de 2 milhões de livros vendidos por ano. Os últimos dados da pesquisa

 Retratos da Leitura no Brasil, realizada no ano de 2011 pelo Instituto Pró-Livro,

indicam que o Brasil tem 88, 02 milhões de leitores, sendo esta quantia relativa a 50%

da população brasileira. Uma vez que a exemplo da L&PM, outras editoras como

 Record , Objetiva,  Zahar  e, inclusive, Companhia das Letras lançaram selos de

edições  pockets e hoje dividem esse mercado, é possível perceber que o número de

vendas daquela configura-se como significativo.

Por ocasião do lançamento de dois livros de Charles Bukowski,  Mulheres e Cartas na

rua, o jornal Estado de Minas publicou matéria escrita por João Renato Faria, no dia

02 de outubro de 2011, no caderno EM Cultura. Com o título de “Retorno do velho

safado”, a matéria se debruça sobre os meandros do processo de edição das obras do

escritor beatnik por parte da editora gaúcha e revela casos inéditos que permearam,

desde a vontade de completar a obra com títulos há mais de 30 anos fora das

prateleiras, até trâmites internacionais necessários ao direito de publicação. Para

credibilizar a matéria, foram utilizados trechos de uma entrevista com o editor da

 L&PM . Dados sobre o escritor localizam-se em um box central na página, sob o título

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“Sexo, birita e literatura”. A imagem é de uma exposição nos Estados Unidos com

alguns itens pessoais de Bukowski.

Antes, em julho de 2011, foi publicada nota no caderno EM Cultura sobre o

lançamento do livro Mulheres, resumindo o enredo e características da obra.

Sobre “Medo e delírio em Las Vegas”, título cujo release foi enviado para esta

pesquisa, foi encontrada matéria publicada no caderno Pensar, do jornal Estado de

 Minas no dia 11 de agosto de 2007. O motivo era o relançamento, pela editora

 Record, da obra. Sobre o relançamento pelo título da  L&PM, não foi encontrado

registro.

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5 CONCLUSÃO

Desta análise, além das observações já feitas nos subitens anteriores, serão descritas,

neste espaço, detalhes percebidos em relação à práxis dos jornais e das editoras.

A editora Cosac Naify pode ser considerada, em relação às estratégias analisadas de

comunicação organizacional, a que mais facilita o acesso, distribui e organiza as

informações virtuais de seus produtos. No próprio site, como já foi explicitado

anteriormente, há links para “Sala de Imprensa”, “Saiu na Imprensa” e download de

 press-kits.

Sobre sua inserção nos jornais, é possível afirmar que ela é consideravelmente

presente nos três jornais analisados. No Estado de Minas, ela se restringe ao caderno

Pensar, tendo aparecido em forma de nota por motivo de lançamento ou em matérias

e críticas aprofundadas apenas nesse. No jornal O Globo, por sua vez, quando

encontrada matéria relativa a alguma das edições pesquisadas, esta mostrava-se

menos pontual do que no Estado de Minas, chegando a fazer referências a outras

obras do mesmo autor e intercalando com opiniões de outros escritores ou do próprio

autor, para “iluminar” a obra. Já na Folha, foi encontrado registro sobre todas as obras

escolhidas para objetos desta pesquisa. O estilo utilizado pelo jornal é o que mais se

assemelha da crítica, propriamente dita, através de resenhas e ensaios, sendo

recorrentes inclusive, críticas negativas, como foi o caso do livro  Dublinesca. O box

 próprio das matérias sobre livros, que inclui informações básicas e a “avaliação”,

indica a pertinência do jornal com a atividade crítica. Ainda em relação à Folha, foi

possível encontrar casos em que um livro gera mais de uma matéria, de autores e

abordagens diferentes, às vezes até no mesmo dia, como por ocasião do lançamentode Museu do Romance da Eterna.

No tocante à editora Companhia das Letras, foi possível perceber, pela pesquisa,

maior inserção e repercussão nos jornais analisados do que a Cosac Naify. Embora

tenha sido delimitado o número de três releases para cada uma, o momento anterior,

de escolhê-los, revelou-se mais fácil justamente por essa maior quantidade de

matérias relativas a lançamentos da Companhia, sendo comum o registro em dois ou

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mais jornais ou a presença de produtos da editora em crônicas, lista de melhores do

ano etc.

Nas matérias relativas ao livro Alex Bellos no país dos números, que encontrou ampla

repercussão tanto no Estado de Minas quanto no O Globo (ambos com mais de um

material correspondente), é possível traçar suspeitas para a ocorrência. Trata-se de um

livro leve, ainda que com conteúdos multiculturais, como já foi explicitado aqui.

Talvez sejam estas características (leveza e conteúdo multicultural) que, somados aos

prêmios em outros países, ao fato do autor ser estrangeiro e de o público ser amplo e

diverso que favoreceram para a inserção do livro e a abordagem dos jornais, neste

caso. Contrapondo à opção da Folha por publicar duas matérias em um mesmo dia

sobre  Museu do Romance da Eterna, livro muito mais intricado e exigente, e que

optou por se ausentar na divulgação e discussão sobre o livro de Alex Bellos, surge a

hipótese da preferência deste jornal por objetos literários mais clássicos, que, de uma

forma ou de outra, dialogam com o cânone.

Neste sentido, ressalta-se a discussão proposta no primeiro capítulo desde trabalho

sobre a escolha que a publicação faz ao abordar ou ignorar determinado produto

cultural, tomando como determinante a diversidade do seu público, que pode ser

amplo ou restrito, especializado ou profano. Evidencia-se, portanto, a essência do

 jornalismo cultural que já seria dicotômica, por abrigar noções como elite/massa,

tradição/modernidade, cultura especializada/cultura geral, de acordo com a noção de

cultura escolhida para nortear os conteúdos publicados.

As diferentes combinações possíveis entre estas noções convergem em dois grandes

grupos predominantes no jornalismo cultural contemporâneo. O primeiro seria aquele

que trata da cultura por um viés essencialmente especializado, que deságua em um

público restrito, o que se chama de cultura de elite, mais próximo do jornalismo

exercido pela Folha. O outro abarcaria a heterogeneidade, incluindo o saber popular,

próximo da prática jornalística do jornal O Globo, ao fazer uso de entrevistas, e do

Estado de Minas, na escolha por objetos que dialogam com o mundo infantil, com

saberes multiculturais e com públicos dos interesses mais diversos.

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Em relação à editora L&PM, que, como já observado, chegou a gerar uma matéria de

capa sobre o mercado dos  pockets, algumas suposições surgiram a partir dos

resultados da pesquisa. Ainda que essa esteja presente nas listas dos mais vendidos da

Folha, por exemplo, não foi encontrada nenhuma matéria sobre lançamentos da

editora. Este fato retoma a discussão proposta no segundo capítulo deste trabalho

sobre a manutenção do status quo, a preferência por edições mais trabalhadas, ainda

que o conteúdo seja o mesmo (como pode ser percebido em uma matéria de página

inteira no Pensar sobre o lançamento da Record, em 2007, de Medo e delírio em Las

Vegas e a ausência de abordagem da reedição da obra pela L&PM em 2011).

Ainda que seja impossível afirmar, com certeza, todas as hipóteses levantadas com

base nos registros recolhidos, tais sugerem e ilustram os dilemas enfrentados pelo

 jornalismo diário frente às produções editoriais e suas estratégias comunicacionais

que não foram, de maneira alguma, exauridas em sua complexidade e numerosidade

neste trabalho.

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SOUZA, Eneida Maria de. Crítica cult . Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.

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SUSSEKIND, Flora. “Rodapés, tratados e ensaios”. In: Papéis colados. Rio deJaneiro: Editora da UFRJ, 1993.

ANEXOS:

COSAC NAIFY

RELEASE “ DUBLINESCA”.

01/05/2011 UM EDITOR ENTRE JOYCE E BECKETT

Começo tentando definir Dublinesca, novo romance de Enrique Vila-Matas, como umacombinação de  A viagem vertical , Bartleby e companhia e O mal de Montano, romancesanteriores do autor nascido em Barcelona em 1955.

Mas não. Isso não é o mais correto: o novo livro de Vila-Matas combina temas de algunsde seus romances, sim, mas também de outros livros, filmes, poemas, canções, obras dearte. Trata-se de uma combinação de combinações.

Por todo o romance, Vila-Matas faz o que, em linguagem de DJ, se convencionou chamarde mash-up: uma mistura entre duas canções, usando uma melodia ou batida das músicascomo "ponte", criando uma terceira canção.

A astúcia matadora do espanhol não está somente em, como fazia William S. Burroughs,fazer cut-ups de pedaços e trechos de textos e agregá-los aleatoriamente: o diabólicoem Vila-Matas esconde-se justamente no amálgama entre tantas citações; suainimitável classe – a cadência elegante, leve e ao mesmo tempo sombria, do fraseado quepasseia por tantos livros, filmes, poemas, canções, obras de arte.

Embora se tenha falado aqui em música, o enredo de Dublinesca é essencialmenteliterário. Um renomado editor barcelonês, Samuel Riba, completa 59 anos imerso

numa crise existencial, sentimental e, de certo modo, histórica. 

Seu casamento não vai bem – a esposa se interessa mais pelo recém-descoberto budismodo que por seus achaques pré-sexagenários. Sua editora, que só publicou autoresprestigiosos e experimentais, mas nada de best-sellers, foi fechada há dois anos, antes defalir, e Riba se recrimina por jamais ter revelado um escritor genial, ―um jovem que fossemuito melhor que os outros, um escritor capaz de estruturar o mundo de maneiradiferente‖. Abstêmio há dois anos, Riba trocou o alcoolismo por dias e noites em frente aocomputador. Depois de sua aposentadoria, ressente-se da falta dos amigos, dos jantaresborbulhantes em que festejava o grande mundo intelectual. Para piorar, não para dechover em Barcelona e tudo o que Riba deseja é gozar da efervescência cosmopolita deNova York, a cidade que mais ama, a cidade de seu amigo Paul Auster (amigo de Vila-Matas na "vida real"). Contudo, seu incontornável provincianismo o faz buscar refúgio emoutra cidade pródiga em escritores, um lugar de onde eles partem para não mais voltar:Dublin, Irlanda.

Imaginando-se, além de todas as suas crises, testemunha do grande nó cultural doséculo, assistindo o livro impresso ser atropelado pelo livro eletrônico, vendo o riverrundo romance em papel ser estilhaçado pelo dilúvio de informações fragmentadas dainternet, Riba planeja ir a Dublin comemorar o bloomsday com um funeral: ali, velará apassagem da era de Gutenberg para a era do Google.

Antes da viagem, porém – e o tema da viagem para interromper uma depressão érecorrente em Vila-Matas, como em A Viagem Vertical –, o narrador na terceira pessoalança Riba em uma série de digressões tipicamente vilamatasiana, como se opreparativo à viagem constituísse uma odisseia em si mesma.

Guiada pela ideia do literário como em O mal de Montano, esta jornada é feitaprincipalmente de encontros com a literatura. O primeiro nome a surgir é o do surrealistafrancês Julien Gracq, autor de O Litoral das Sirtes. Este livro, que trata mais das

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preliminares de uma viagem que da própria (escrito sob influência confessa de Os Sertões,de Euclides da Cunha), o instiga a criar uma teoria do romance que tem cinco elementos:"Intertextualidade; conexões com a alta poesia; consciência de uma paisagem moral emruínas; superioridade do estilo sobre a trama; a escrita vivida como um relógio queavança". Claro que o próprio Dublinesca se assenta sobre esses cinco pilares. Cerebral eautoconsciente, a escrita de Vila-Matas nunca brincou tanto com os limites entre as figuras

do observador e do observado. Em uma entrevista, Gracq tentou explicar seu livro como"a necessidade de ser ao mesmo tempo ator e espectador, de se distanciarconstantemente daquilo que se faz, não deixando de fazê-lo. Pois o homem que vai partirlança um olhar novo sobre aquilo que o cerca. Ele ainda está lá e não está mais". Umadefinição perfeita para Dublinesca, que vai, sem ter partido, e que quando chega, lá já nãoestá.

A eterna digressão de Vila-Matas faz com que Riba, que se vê como um hikikomori (osnerds japoneses que jamais saem de casa, confinados na internet), espelhe-se nopersonagem Spider, o esquizofrênico do filme de David Cronenberg, cuja letra o fazlembrar a caligrafia do escritor suíço Robert Walser – aquele que passou a escrever comuma letra cada vez menor, até morrer, solitário, nas nevadas imediações do hospício ondehavia sido internado por esquizofrenia.

No delírio autoconsciente de Riba, uma lembrança de vida leva a uma lembrança de arte,como se a biografia, na verdade, não passasse de um catálogo de livros, oumelhor, do ensaio de um catálogo de livros – e aqui a palavra ensaio encontraressonância como significado de aproximação. O leitor se aproxima do fugidio Riba, masele sempre escapa por trás de uma nova citação, de um novo universo literário queparalisa sua vida – assim como os bloqueios criativos dos personagens de Bartleby e Cia.A tensão narrativa se sustenta nesse permanente diálogo com fantasmas, como se a cadanova citação se reafirmasse, paradoxalmente, a morte da literatura. A leitura, para Riba, é"não só uma prática inseparável de seu ofício de editor, mas também uma forma de estarno mundo: um instrumento para interpretar de forma literária, sequência após sequência,o diário de sua vida".

Mesmo cambaleante entre essa realidade fracassada e seus sonhos literários, Ribaconvence três amigos a compartilhar em Dublin de seu réquiem pela literatura. Osenlaces entre vida real e vida escrita se evidenciam quando se sabe que ospartícipes do misterioso funeral são membros de uma certa Ordem do Finnegans– da qual, na "vida real", fazem parte o próprio Vila-Matas e escritores comoEduardo Lago; os Cavalheiros vão a Dublin todo 16 de junho para ler trechos doUlysses e depois, convenientemente, embriagar-se num pub chamadoFinnegans.

Mas, quando a viagem de Riba estreita-se com a efusão do aniversário de Bloom, umoutro espectro irlandês resolve participar da jornada: Samuel Beckett. Entre a escritaonívora de um e o texto descarnado do outro, entre a "busca da leveza na arte" e o "pesode viver", na expressão do poeta Mark Strand, Samuel Riba vai levando uma existênciaatônita e apatetada, em que o desespero intelectual a todo momento é assustado pelafalta de jeito ao lidar com a vida, o que redunda em momentos de comicidade – como

quando um personagem é esnobado por Tom Waits ou outro se apaixona por uma moçabanguela comendo batata.

Entre tombos, delírios e dezenas de citações, o livro conta a odisseia de um homem ocoem busca de sua identidade: um oco que só se preenche com o que lhe é alheio. Essadinâmica de multiplicidade e unidade, gravidade e leveza, biografia e invenção, ficção eensaio só conseguiria mesmo encontrar equilíbrio numa escrita musical como a desse DJde livros chamado Enrique Vila-Matas.

* Ronaldo Bressane é jornalista e escritor, autor de Céu de Lúcifer, entre outros.

SOBRE O AUTOREnrique Vila-Matas (Barcelona, 1948) estreou na ficção em 1973 e desde então teve 31livros publicados em cerca de trinta países. Em 2001, quando  A viagem vertical ganhou o

prêmio Rómulo Gallegos, foi alçado ao primeiro time dos escritores contemporâneos.Premiado não só na Espanha, mas também na França, Vila-Matas é considerado hoje um

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autor cult, escritor de escritores. Desde 2004, a Cosac Naify vem publicando seusprincipais livros,  A viagem vertical  (2004), Bartleby e companhia (2004), O mal deMontano (2005), Paris não tem fim (2007), Suicídios exemplares (2009), Doutor Pasavento (2010) e História abreviada da literatura portátil (2011).FOLHA DE S. PAULO:

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ESTADO DE MINAS:

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O GLOBO:

Data: 05/13/2011Vila-Matas, de escritor a personagem

O autor catalão participa de conferências e lança romance no Brasil, onde éprotagonista de dois novos livros

ENRIQUE VILA-MATAS fará duas conferências em São Paulo na próxima semanae lançará no país seu romancemais recente, “Dublinesca” 

Guilherme Freitas

Os livros de Enrique Vila-Matas estão cheios de escritores: os que desistiram daliteratura, os tão obcecados por ela que veem a própria vida em termosliterários, os que ele admira e outros tantos que inventou. É quase umaconsequência lógica, portanto, que o próprio Vila-Matas tenha viradopersonagem, com participações mais ou menos discretas em obras recentes deautores como Paul Auster e Alberto Manguel. No Brasil, ele aparece em doisnovos livros: o romance “Se um de nós dois morrer”, de Paulo Roberto Pires, quegira em torno de um protagonista fascinado pelo autor catalão e será lançadomês que vem pela Alfaguara, e “Conversas apócrifas com Enrique Vila-Matas”

(Editora Modelo de Nuvem), de Kelvin Falcão Klein, um ensaio em forma dediálogo imaginário. Às vésperas de desembarcar no país para uma conferênciano 3º Congresso de Jornalismo Cultural, promovido pela revista “Cult” napróxima semana em São Paulo, Vila-Matas se diverte com a coincidência:

— É um castigo, estão fazendo comigo o que fiz com tantos escritores — brinca oautor, em entrevista ao GLOBO por telefone, de sua casa, em Barcelona.

Além dessa conferência, na terça-feira, às 19h, no Sesc Vila Mariana, o escritorfará outra no Instituto Cervantes de São Paulo, no dia seguinte, às 19h30m(ambas mediadas por Paulo Roberto Pires). Na passagem pelo país, lançará oromance “Dublinesca” (Cosac Naify, traduç~o de José Rubens Siqueira), no qualvolta a se apropriar da obra de autores clássicos — desta vez os irlandeses JamesJoyce e Samuel Beckett — para criar uma narrativa original.

O protagonista de “Dublinesca” é Samuel Riba, um editor falido de Barcelona que,desencantado com a decadência do mundo das letras (“A passagem da gal|xiaGutenberg para a gal|xia Google”, costuma dizer), viaja { capital irlandesa,acompanhado de um grupo de amigos escritores, para celebrar “o funeral daliteratura”. A data n~o poderia ser mais significativa: 16 de junho, o Bloomsday,quando leitores do mundo tudo homenageiam o dia em que se passa a obra-

prima de Joyce, “Ulysses”. 

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Com um protagonista que “apresenta uma not|vel tendência a ler sua vida comoum texto liter|rio”, é natural que “Dublinesca” esteja repleto de trechos deoutros livros, alguns evidentes (um capítulo de “Ulysses” tem funç~o importantena trama), outros cifrados e muitos inventados (como os do fictício romancistatcheco Vilém Vok). Um autor para quem as citações s~o “vozes e fantasmas que

entram e saem sigilosamente dos livros”, como diz o arge ntino Ricardo Piglia naorelha da edição brasileira, Vila-Matas fez da assimilação de textos alheios ummétodo de escrita, como se pode ver em livros como “História abreviada daliteratura port|til”, “Bartlebly & cia.” e outros. 

— Para mim, a intertextualidade é uma máquina de narrar. Se chego a um becosem saída, vou à biblioteca, abro um livro e, quando encontro uma frase que eusublinharia, incluo-a na narrativa, mas transformada, de modo que ela já nãopertence a seu autor — explica.

Em “Dublinesca”, Joyce e Beckett são as principais fontes para as reflexões deVila-Matas sobre a história da literatura do século XX, que ele vê como umpercurso que vai da “vitalidade” do autor de obras ambiciosas como “Ulysses” e“Finnegans Wake” ao “esgotamento” do escritor que, na peça “Esperando Godot”,concebeu um texto em que “nada acontece, duas vezes”, como j| afirmou umcrítico. Mas se o próprio Beckett criava a partir dos impasses que o angustiavam—  paradoxo resumido na última frase de seu romance “O inomin|vel”: “N~oposso continuar, vou continuar” —, então o esgotamento da literatura tambémtem potencial criativo, aponta Vila-Matas.

— Uma forma de manter a literatura viva é colocá-la sempre em questão. Aolongo da História, o que os escritores têm feito é revitalizá-la colocando-a emcrise, do contr|rio ela cairia fulminada, morta. “Dublinesca” é uma paródia dofuneral da literatura. Assim, o livro vira uma grande festa, como naquela cançãoespanhola que fala de um morto que sai para farrear.

A cultura e a imprensa

Enrique Vila-Matas é um dos muitos grandes nomes do 3º Congresso deJornalismo Cultural promovido pela revista “Cult”. Entre os próximos dias 17 e20, passarão pelo Sesc Vila Mariana, em São Paulo, o cineasta alemão WernerHerzog, o jornalista americano Jon Lee Anderson, o escritor cubano Pedro JuanGutiérrez, o filósofo esloveno Slavoj Zizek e outros convidados brasieiros eestrangeiros que debaterão o jornalismo e a produção cultural contemporânea(programação no site http://bit.ly/fcq6b2>).

Jornal: O GLOBO / Autor:Editoria: Segundo Caderno / Tamanho: 793 palavrasEdição: 1 / Página: 3Coluna: / Seção:Caderno: Segundo Caderno

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RELEASE “HISTÓRIA DA LITERATURA PORTÁTIL”: 

01/03/2011 O BIG-BANG PORTÁTIL DE VILA MATAS

ASSESSORIA DE IMPRENSA

Rafaela Cêra 55 11 3218-1466 [email protected] 

João Perassolo 55 11 3218-1466 

 [email protected] 

A novela História abreviada da literatura portátil corresponde ao Big Bangna obra de Enrique Vila-Matas. Publicada originalmente em 1985, marca aadoção de certo método (que pode perfeitamente ser confundido comestilo): a exploração de biografias — verdadeiras ou imaginárias — depersonagens escritores. A partir da conflagração dos ―portáteis‖, o autorcatalão publicaria seus livros mais premiados, Bartleby e companhia, Omal de Montano e Doutor Pasavento, ciclo batizado pelo editor JorgeHerralde de ―A Catedral Metaliterária‖. Desde o princípio Vila-Matas

demonstrou predileção pelo apócrifo e pelas falsificações, e sua Históriaabreviada representa o pontapé inicial desse jogo literário.

Trata-se da história de um grupo de intelectuais, pintores e escritores(reais e imaginários) que, de 1924 a 1927, formaram uma sociedade, asociedade portátil, ou sociedade secreta shandy . O termo shandy remeteao Tristram Shandy, antecipador romance de Laurence Sterne e, deacordo com o narrador desta História abreviada, vem de uma expressãodialetal de Yorkshire, cidade inglesa habitada pelo irlandês durante partede sua vida, e significa ao mesmo tempo ―indistintamente alegre, volúvele louco‖. Shandy , continua o narrador, é também um drinque refrescante,

mistura de cerveja com limonada (alguns dizem panachê). Ou seja: apalavra parece ideal para dar nome aos transgressores literários, que noinício do século XX formaram a sociedade secreta cuja história é contadano livro.

Como em todo clube (e o narrador diz que a conspiração portátil foi tãofechada e obscura que até hoje é difícil dizer quem participou ou nãodela), neste também havia certas regras: os integrantes deveriam reunirentre seus ideais o amor à escrita como diversão, a insolência, o espíritoinovador e a autoria de obras que pudessem caber facilmente em umamaleta. Deveriam estar sempre prontos para o deslocamento e por isso

fazia-se necessária uma obra portátil, que pudesse ser levada por aí. Mas,aqui, ―obra abreviada‖ tem também o caráter de uma ―obra leve‖, que

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não tenha o peso de uma obra que se pretenda Literatura (com ―L‖ maiúsculo).

No livro, tudo conspira contra a solenidade: a frase-símbolo da sociedade,tirada do Tristam Shandy, diz: ―a seriedade é uma misteriosa postura do

corpo para ocultar os defeitos da mente‖. E o emblema do grupo é acaixa-valise de Marcel Duchamp, artefato no qual o artista carregavaminiaturas de suas obras. Adaptado por Jacques Rigaut, tal símbolorepresentaria ―a apoteose dos pesos leves na história da literatura‖. 

Enquanto durou (a sociedade foi fundada na África em 1924, sendodissolvida três anos depois, em Sevilha, por artimanhas do mago AleisterCrowley, a besta do Apocalipse himself), a hoste shandy promoveu turnêsensandecidas por ―cidades sagradas‖ como Palermo, Viena, Praga, Trieste,Paris e Nova York, engrossada por Duchamp e pelo teórico dominiaturismo e do colecionismo Walter Benjamin (cujas idéias nortearam

a loucura do grupo), reunindo desde a femme fatale Pola Negri aoinclassificável Alberto Savinio, irmão filósofo do pintor Giorgio De Chirico,de Crowley aos provocadores estéticos Tristan Tzara e Henri Michaux, deFrancis Picabia e Paul Morand ao vagabundo imaginário Blaise Cendrars eseu amigo brasileiro, o Negro Virgílio, entre outros.

Nessa mistura de mundanidade boêmia com safáris intelectuais, os bravosshandys penetraram o labirinto existencial imbuídos de uma fúriaderivativa que pode muito bem relacioná-los aos situacionistas. Malucosradicais, ―embriagados de tanto café e tabaco, livres delirantes e heróisdessa batalha perdida que é a vida‖, Picabia, Duchamp, Ferenc Szalay,

Morand e Rigaut partem do vilarejo africano de Port Actif (trocadilho com ―port atif‖, portátil em francês) para incorporar novos membros àsociedade. Talvez contrariados graças ao pré-requisito de serem todosmáquinas celibatárias (afinal, a carga de esposas e filhos não costumacaracterizar a vida portátil), admitiram Georgia O’Keefe, primeira mulherfatal do grupo. Tal fatalidade parece ter sido decisiva para a gêneseshandy.

Guiados (ou desnorteados) pela elucidadora citação de Sterne, adotada àguisa de slogan para a vida, os episódios da mitologia shandy se sucedemaos trancos e barrancos. Festas mal sucedidas (uma delas em Viena éencerrada de modo marcante por Negro Virgílio, o shandy brasileiro — com disparos para o alto) e traições à causa (como sói ser em sociedadessecretas que se prezem) conduzem os artistas rebeldes ao inevitávelfracasso. Como no conhecido poema de Elizabeth Bishop (certamente umashandy tardia) ―a arte de perder não é nenhum mistério;/ tantas coisascontêm em si o acidente/ de perdê-las, que perder não é nada sério.‖ Assim, os portáteis perdem tudo enquanto se perdem a cada dia.

Ao homenagear seus autores prediletos com uma variação alternativa eparafrásica da história das vanguardas do início do século 20, EnriqueVila-Matas privilegia os parâmetros essenciais de um período deinigualável explosão imaginativa, e que podem ser traduzidos naquilo queApollinaire chamou de ―batalha permanente entre tradição e invenção,entre ordem e aventura‖. Se Paris não tem fim retrata a efervescência

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cultural dos anos 60 e seus personagens, História abreviada da literatura portátil se fixa na volatilidade delirante do entreguerras e, por meio donomadismo da seita dos portáteis, recupera a volúpia transformadora damodernidade. De fato, as vidas desses personagens parecem obter maiorvalidade artística — ainda mais ao considerar criadores tão descabelados

como Tzara — do que as próprias obras. Nessas vidas e no modo de vivê-las — e de perdê-las — reside, aponta Vila-Matas, a arte verdadeira.

*Joca Reiners Terron é escritor, autor de Do fundo do poço se vê a lua,Sonho interrompido por guilhotina, Curva de rio sujo entre outros

SOBRE O AUTOR  

Enrique Vila-Matas (Barcelona, 1948) estreou na ficção em 1973 e desdeentão teve 31 livros publicados em cerca de trinta países. Em 2001,quando A viagem vertical ganhou o prêmio Rómulo Gallegos, foi alçado ao

primeiro time dos escritores contemporâneos. Premiado não só naEspanha, mas também na França, Vila-Matas é considerado hoje um autorcult, escritor de escritores. Desde 2004, a Cosac Naify vem publicandoseus principais livros,  A viagem vertical  (2004), Bartleby e companhia (2004), O mal de Montano (2005), Paris não tem fim (2007), Suicídiosexemplares (2009) e Doutor Pasavento (2010). Depois de Históriaabreviada da literatura portátil , a editora prepara o lançamento deDublinesca.

VILA-MATAS NA COSAC NAIFY

Paris não tem fimA viagem verticalBartleby e companhiaSuicídios exemplaresDoutor PesaventoO mal de Montano

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FOLHA DE S. PAULO:

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ESTADO DE MINAS:

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RELEASE “MUSEU DO ROMANCE DA ETERNA”: 

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FOLHA DE S. PAULO

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ESTADO DE MINAS:

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COMPANHIA DAS LETRAS

 RELEASE DE “ALEX BELLOS NO PAÍS DOS NÚMEROS”: 

LançamentosAbril de 2011

 ALEX NO PAÍS DOS NÚMEROSUma viagem ao mundo maravilhoso da matemática

Alex Bellos

MatemáticaTradução: Claudio Carina e Berilo VargasCapa: Mateus Valadares e Kiko Farkas/ Máquina Estúdio496 pp. + 16 pp. de caderno de fotos16 x 23 cmTiragem: 8000 ex.R$ 44,00Previsão de lançamento: 08/03/2011ISBN e código de barras: 978-85-359-1838-0

 Alex no País dos Números narra as peripécias do autor no universo dos números por meio de uma linguagem ao mesmo tempo rigorosa e agradável. Para Bellos,

a matemática, se encarada sem preconceitos, pode se transformar numa fonteinesgotável de entretenimento

“Uma jornada a um universo espantoso e fascinante que est| por toda parte masque poucos realmente conhecem.” — The Guardian 

Responda rápido: quanto é 3958728 × 9614923? Aritmética não é seu forte?Entretenha-se, então, brincando com um cubo mágico — e tentando concluir oproblema em menos de vinte movimentos. Quando se cansar, que tal ir aocassino e apostar todo o seu dinheiro num único número da roleta, enquanto elagira e você calcula, por análise combinatória, suas remotas chances definalmente ficar rico?

Tortura? Pois saiba que há pessoas que conseguem, em questão de segundos ecom espantosa facilidade, realizar mentalmente cálculos ainda mais complexos.

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Alex Bellos empreende uma viagem exploratória pelo país da matemática parademonstrar que o estudo dos números e de suas mútuas — e, às vezes, estranhas— relações não precisa passar pelo tormento enfadonho do ensino tradicional.Dotado de profunda empatia com o mundo dos números, Bellos conduz o leitorpor um roteiro de personagens tão interessantes quanto as singularidades

iferentes línguas e culturas, o autorinvestiga as fascinantes propriedades do jogo de Sudoku com seus inventores;conversa com um pesquisador francês especializado no raciocínio quantitativode tribos indígenas da Amazônia; venera um guru indiano responsável pelolegado do mítico criador do zero; visita a escola japonesa em que professores ealunos fazem cálculos extraordinários imaginando o funcionamento de umábaco; na companhia de um estatístico, aventura-se num cassino de Nevada paratentar prever os acasos da fortuna; consulta um famoso numerólogo sobre onome profissional que deve usar.O livro narra as andanças inusitadas de Bellos pelo território dos números com

uma linguagem ao mesmo tempo acessível, divertida e precisa. Com uma misturade curiosidade e rigor intelectual, o autor passa em revista os desenvolvimentosmais recentes de campos de vanguarda, como a teoria dos grandes números e ainformática, sem negligenciar aspectos cotidianos, engraçados e surpreendentesda matemática. Ricamente ilustrado, o livro oferece a leigos e especialistas umentretenimento intelectual de primeira categoria.

 Alex Bellos nasceu em Oxford, Reino Unido, em 1969. Jornalista e escritor, égraduado em matemática e filosofia. Foi correspondente do jornal The Guardianno Rio de Janeiro entre 1998 e 2003. É autor de Futebol: O Brasil em campo(Jorge Zahar, 2002).

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O GLOBO:

Produto: O Globo 

Data de Publicação: Sexta-Feira 8 Abril 2011

Página: 7 

Edição: 1

Editoria: Segundo Caderno 

Caderno: Segundo Caderno 

Coluna/Seção:

Fonte: Local 

Crédito: Isabel Butcher 

Tipo de matéria: Reportagem 

Chamada:

Série: textos~383991194

Sem qualquer medo de calcular 

O jornalista e escritor inglês Alex Bellos lança livro sobre matemática para leigos e experts

Isabel Butcher

Durante o período em que esteve no Brasil como correspondente do jornal britânico "The

Guardian", entre 1998 e 2003, Alex Bellos estranhava toda vez que um amigo brasileiro

sacava uma máquina de calcular na mesa de um restaurante para dividir a conta. O espanto,

que poderia passar despercebido, representava uma grande diferença cultural para Bellos.

— Na Inglaterra, a maioria das pessoas não se interessa por matemática, tem dificuldades, e

ninguém gosta de contar. E, pior, eles falam com orgulho que não sabem — diz.

Calculando contra a corrente britânica, o jornalista e autor lança no Brasil o livro "Alex no país

dos números" pela Companhia das Letras. Sucesso na Inglaterra, o livro vendeu 40 mil cópias,

uma façanha para um tema tão árido, e ficou por quatro meses na lista dos dez mais vendidos

do jornal britânico "Sunday Times".

Traduzido em várias línguas

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"Alex no país dos números" foi lançado há um ano no Reino Unido pela editora Bloomsbury — 

famosa pela edição da saga Harry Potter. O livro já está no mercado norte-americano e foi

traduzido para o holandês, o espanhol, o italiano e outras línguas, totalizando 18 direitos de

tradução. Na Inglaterra, ele foi indicado a dois prêmios: o Galaxy National Book Awards 2010,

de livros de não ficção, e o "BBC Samuel Johnson Prize 2010" sem distinção de categoria. Para

quem concorria com biografias ou livros de história, Bellos conseguiu um feito e tanto.

O autor levou dois anos para escrever o livro — que será lançado no dia 14, na Livraria da

Travessa do Leblon. No primeiro, viajou para apurar as histórias. E viajou um bocado. Nos

Estados Unidos conheceu Anthony Baerlocher, diretor de projetos de jogos da International

Game Tehcnology, a empresa de caça-níqueis mais importante do mundo. No capítulo em que

fala da maquininha, Bellos explica a probabilidade e o acaso e dá uma aula de História sobre o

assunto.

Na Índia, ele foi visitar o líder espiritual e matemático Shankaracharya e, lá, descobre algumas

diferenças do inglês indiano em relação ao que se fala na Grã-Bretanha, como, por exemplo, o

fato de que na Índia não é usada a palavra "milhão".

Na França, o amigo e linguista Pierre Pica explica a Bellos que os índios mundurucus, habitantes

da Amazônia, têm um raciocínio quantitativo apurado, mas não sabem contar até dez. Eles

contam até cinco. No Japão, descobriu um chimpanzé que decorava sequências numéricas de

maneira mais rápida que um ser humano. Ainda por lá, visitou uma escola onde as crianças

fazem cálculos com o ábaco.

— Lá o jeito de aprender a tabela é muito diferente. Na Inglaterra, tem uma lista de números

que você tem que decorar. Mas no Japão existe a poesia dos números. Eles cantam uma

musiquinha e acabam memorizando a música e o resultado da conta — explica.

Bellos coloca objetos do cotidiano e bens culturais para explicar a matemática. O autor investiga

o Sudoku e seus inventores. O futebol é usado para explicar probabilidade e a loteria serve para

mostrar como a estatística funciona, por exemplo.

Com todas essas viagens, literais e não literais, Bellos — que passou o segundo ano do processo

redigindo de fato o livro — ajuda o leitor a desvendar os mistérios da matemática, tornando-a

mais simples e acessível.

— Explico a matemática de maneira que aqueles que têm medo dela vão se interessar e os que

 já dominam vão expandir seus conhecimentos, porque, geralmente, nesse mundo, as pessoas

se especializam muito rapidamente. Aí, a pessoa que conhece bem geometria pode não dominar

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probabilidade, por exemplo. Além disso, mostro que ela está em todos os lugares. Entender a

matemática significa entender o mundo de uma forma melhor — diz o autor.

Leve e simples, o texto lembra artigos de jornais.

— Escrevi esse livro como se fosse um correspondente internacional no mundo da matemática,

e cada capítulo tem um aspecto particular, como a geografia de um lugar, uma história

interessante ou personagens. Ao contrário dos outros livros sobre o assunto, em que os autores

simplesmente explicam as ideias, queria explicar o contexto histórico — explica Bellos.

O exemplo dos índios mundurucus, dos japoneses, indianos e tantas outras nacionalidades

fazem de "Alex no país dos números" um livro com um olhar antropológico, mostrando

diferenças culturais na visão dos números.

— A matemática é universal, mas a abordagem é muito particular em cada cultura. É uma

forma de entender que as coisas são diferentes e aceitar essas diferenças. O jeito de contar, de

ensinar as ideias sobre a matemática, as palavras usadas, os diferentes sistemas... .

Boa repercussão na Inglaterra

O jornal inglês "The Independent" foi só elogios ao livro, de 416 páginas. "O entusiasmo de

Bellos é contagiante. Ele não protege seus leitores. Mesmo aqueles que sofrem de fobia de

matemática irão encontrar um livro revelador e perspicaz", escreveu.

O Financial Times foi sucinto: "Alex Bellos oferece razões para que amemos a matemática".

O autor inglês também escreveu "Futebol: o Brasil em campo", em 2002, editado pela Jorge

Zahar.

Produto: O Globo 

Data de Publicação: Sexta-Feira 8 Abril 2011

Página: 7 

Edição: 1

Editoria: Segundo Caderno 

Caderno: Segundo Caderno 

Coluna/Seção:

Fonte: Local 

Crédito: Leonardo Lichote 

Tipo de matéria: Reportagem 

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Chamada:

Série: textos~383990869

Um ótimo guia para trilhar a assustadora floresta de números 

Leonardo Pimentel

Quando o assunto é matemática, confesso que minha única certeza é o fato de a palavra ser

proparoxítona. A afirmação, é claro, vem com uma dose generosa de exagero, mas reflete o

horror com que boa parte das pessoas encara o ato prosaico de fazer contas. Um horror

contraproducente, uma vez que a matemática é, provavelmente, a ciência mais presente em

nossas vidas. O indivíduo pode passar um dia inteiro sem botar em prática o que aprendeu nas

aulas de física, química, história ou geografia, mas dificilmente deixará de aplicar

conscientemente algum conhecimento matemático.

A explicação está em "Alex no país dos números". Com um texto leve, o autor nos mostra que

a habilidade de contar, pelo menos até três, é universal — pior, que a capacidade de

estabelecer relações matemáticas, como proporções, sequer é exclusividade humana. Não

importa o quão pouco desenvolvida uma sociedade seja, ela tem uma linguagem e uma forma

de se relacionar com os números.

Ora, se contar é tão natural quanto falar, como é possível que tantas pessoas tenhamproblemas para fazer cálculos mais complexos? Segundo Bellos, a questão é que associamos a

matemática à aritmética, o ramo que lida com os números e as operações entre eles, e ela não

é tão natural assim.

Logo no primeiro capítulo somos apresentados aos mundurucus, uma tribo amazônica que sabe

contar até cinco. Em testes, tanto os mundurucus quanto crianças europeias em idade pré-

escolar mostraram ótima noção de proporções, mas dificuldade aritmética. Por exemplo, ao

distribuir números (indicados por quantidades de pequenos objetos) numa reta, acreditavam

que os valores acima de cinco estavam mais próximos uns dos outros que os mais baixos. O

motivo é o nosso sentido da visão: quando vemos de frente uma linha de postes a intervalos

regulares, por exemplo, a perspectiva nos "mostra" que, o primeiro poste está a uma distância

do segundo maior que a do segundo para o terceiro, e assim por diante. Nossos sentidos,

explica Bellos, são logarítmicos, não aritméticos. Já é um certo alívio.

Estabelecida essa ressalva, ele nos mostra a triste realidade: a menos que a pessoa seja um

mundurucu ou aborígene do gênero, vai ter, sim, que aprender a fazer contas, pois a

matemática aritmética é resultado já das primeiras evoluções da sociedade humana,indispensável, por exemplo, para saber quantos carneiros há no rebanho.

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A antiguidade da matemática é outro aspecto fascinante do livro. Ao contrário de quase todas

as outras ciências, nas quais uma descoberta recente tende a tornar obsoleto o conhecimento

anterior, ela tem uma capacidade de permanência impressionante. Os algarismos indo-arábicos

estão em uso pelo menos desde o século IV, tendo como única polêmica o risquinho no sete.

Bellos pode não curar de todo a fobia com os cálculos, mas cumpre com louvor a função de guia

no meio da floresta de números, proporções e conceitos. Se nem o livro dele servir para que a

pessoa veja com melhores olhos o monstro chamado matemática, não há motivo para

desespero. Sempre se pode usar a desculpa de ser um portador da discalculia, desordem

neurológica que prejudica a capacidade de compreender e manipular números e, segundo Bellos,

atinge 7% dos seres humanos. Ou seriam 8%? Droga, onde está a calculadora?

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ESTADO DE MINAS:

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RELEASE DE “POEMAS”: 

LançamentosSetembro de 2011

POEMASWisława Szymborska

PoesiaTradução: Regina PrzybycienCapa: Victor Burton168 pp. (estimadas)14 x 21 cmPeso (estimado): 0,220 kgLombada (estimada): 1,0 cmTiragem: 3000 ex.R$ 39,50Previsão de lançamento: 19/09/2011

ISBN e código de barras:978-85-359-1957-8

Este livro da maior poeta polonesa viva, ganhadora do Nobel e inédita no Brasil, inaugura, ao lado de Omeros,

a reedição da coleção de poesia traduzida da Companhiadas Letras, com novas capas e projeto gráfico

Aos 88 anos, Wisława Szymborska vive desde menina em Cracóvia, cidade

situada às margens do Vístula, no sul da Polônia. O fato de ter permanecido avida inteira no mesmo lugar diz muito sobre essa poeta conhecida por suareserva e extrema timidez. Contudo, embora os fatos de sua vida tenhampermanecido privados, quase secretos, seus poemas viajam pelo mundo. Não sãotantos: sua obra inteira consiste em cerca de 250 poemas cuja função, comodeclarou a poeta no discurso de Oslo, é perguntar, buscar o sentido das coisas.Com sua poesia indagadora, Szymborska foi chamada “poeta filosófica”, ou“poeta da consciência do ser”. No Brasil, teve poemas esparsos publicados emjornais e revistas ao longo dos anos, mas esta edição da Companhia das Letras,com seleção, introdução e tradução de Regina Przybycien, é a primeiraoportunidade que tem o leitor brasileiro de lê-la em português. A coletânea de 44

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poemas é uma belíssima apresentação à obra dessa importante poetacontemporânea.

Wisława Szymborska nasceu em 1923 em Bnin, na Polônia. Em 1931 mudou-se com a família para Cracóvia, onde vive até hoje. Estudou literatura e sociologia

na universidade de Cracóvia. A partir de 1953 e por quase trinta anos trabalhouna revista literária Zycie Literackie. Recebeu oprêmio Nobel de literatura em1996. Ao longo da vida, publicou doze pequenas coletâneas de poemas.

Rua Bandeira Paulista, 702 c.32 04532-002 São Paulo SP Telefone: (11) 3707-3500 Fax: (11) 3707-3501e-mail: [email protected]

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O GLOBO:

Produto: O Globo 

Data de Publicação: Sexta-Feira 30 Dezembro 2011Página: 1 

Edição: 1

Editoria: Segundo Caderno 

Caderno: Segundo Caderno 

Coluna/Seção:

Fonte: Local 

Crédito: Guilherme Freitas, José Castello, Mànya Millen 

Tipo de matéria: Reportagem 

Chamada:

Série: textos~484260833

OS•MELHORES• LIVROS •DE•2011 "POESIA COMPLETA": Mais lembrado

por romances como "Crônica da casa assassinada" (1959) e "Maleita"

(1937), o mineiro Lúcio Cardoso (1912-1968) tem sua faceta de poeta

revelada nesta antologia, organizada pelo escritor e pesquisador ÉsioMacedo Ribeiro e publicada pela Edusp. Com 1.112 páginas, incluindo

notas críticas e fac-símiles, o livro oferece uma interpretação nova da

obra de Cardoso — cujo centenário de nascimento será comemorado em

2012 —, sugerindo que a poesia foi sua primeira forma de expressão

literária. 

"MUSEU DO ROMANCE DA ETERNA": Mentor literário de Jorge Luis Borges, o argentino

Macedonio Fernández (1874-1952) passou a vida anunciando — em prólogos, trechos avulsos,

cartas abertas a críticos e leitores — um livro que nunca chegou a concluir. Publicado 15 anos

após sua morte e só lançado em 2011 no Brasil (pela Cosac Naify, em tradução de Gênese

Andrade), "Museu do romance da eterna" é uma obra-prima feita de fragmentos e digressões,

que faz da inconclusão um procedimento estético radical.

"O REMORSO DE BALTAZAR SERAPIÃO" e "A MÁQUINA DE FAZER ESPANHÓIS": O português

valter hugo mãe desembarcou no país em julho, para a Festa Literária Internacional de Paraty

(Flip), como um autor praticamente desconhecido entre nós. Saiu do evento consagrado, depois

de uma apresentação divertida e comovente (na qual levou a plateia às lágrimas ao falar de suarelação com o Brasil) e de uma sessão de autógrafos que durou horas. O sucesso de público foi

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ancorado no lançamento de dois romances: "o remorso de baltazar serapião" (Editora 34),

estudo da opressão ambientado na Idade Média, e "a máquina de fazer espanhóis" (Cosac

Naify), uma reflexão sobre a velhice. Ambos exibem a prosa inventiva que Saramago definiu

como "um novo parto da língua portuguesa".

"DIÁRIO DA QUEDA": No quinto romance do gaúcho Michel Laub, publicado pela Companhia das

Letras, o narrador tenta compreender e se libertar da influência do avô, um sobrevivente de

Auschwitz que cria uma versão idealizada da própria vida, e do pai, um homem obcecado pelo

antissemitismo e convencido da "inviabilidade da experiência humana". Ao mesmo tempo

tributário e crítico da tradição da "literatura do Holocausto", o livro discute a natureza da

memória, a formação de identidades individuais e coletivas e a transmissão de experiências

entre gerações.

"O SENHOR DO LADO ESQUERDO": "O que define uma cidade é a história de seus crimes", diz o

narrador-investigador logo no início do sexto livro do carioca Alberto Mussa, publicado pela

Record. A frase é a chave para as muitas leituras possíveis do romance, que parte de uma

trama policial (um assassinato num bordel de luxo do Rio de Janeiro do início do século XX)

para uma investigação mais ampla sobre a história e as mitologias da cidade, a sexualidade

humana, a imaginação e a busca pela verdade.

"GEOGRAFIA HISTÓRICA DO RIO DE JANEIRO": Morto em junho, aos 62 anos, o geógrafo

carioca Mauricio de Almeida Abreu se dedicou por 15 anos a pesquisar, em arquivos de Brasil,

Portugal, França e Vaticano, as feições do Rio de Janeiro entre 1502 e 1700. O resultado está

no estudo monumental publicado no início do ano pela editora Andrea Jakobsson com a

prefeitura do Rio. Em 912 páginas fartamente ilustradas, o livro oferece um painel inédito em

seus detalhes e abrangência da infância da cidade e seu entorno, examinando seu

desenvolvimento, divisão de terras, economia e articulação com as rotas comerciais da época.

"O MAL RONDA A TERRA": Com o subtítulo "Um tratado sobre as insatisfações do presente", o

último livro publicado em vida pelo britânico Tony Judt, morto em 2010, é o testamentointelectual de um historiador que jamais abriu mão de intervir nos grandes debates

contemporâneos. No livro, publicado no Brasil pela Objetiva, Judt discute os efeitos da crescente

desigualdade nas sociedades desenvolvidas e faz uma defesa candente da social-democracia e

do papel dos homens de letras na vida pública.

"POEMAS": Vencedora do Prêmio Nobel em 1996, a polonesa Wislawa Szymborska, de 88 anos,

teve um livro publicado no Brasil pela primeira vez neste ano, em edição bilíngue, pela

Companhia das Letras. A coletânea de 44 poemas, com organização e tradução de Regina

Przybycien, traz uma amostra significativa de cinco décadas de obra. Em versos irônicos e

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filosóficos, Szymborska fala de vidas divididas entre o cotidiano e o devaneio, e do tipo muito

particular de utopia (ora sublime, ora risível) oferecida pela poesia.

"LITERATURA E AFRODESCENDÊNCIA NO BRASIL": Reunindo dezenas de pesquisadores de

universidades brasileiras e estrangeiras, a antologia crítica organizada por Eduardo de Assis

Duarte, professor da UFMG, é uma contribuição significativa para a formulação de um conceito

de "literatura afrobrasileira". Os quatro volumes, publicados pela editora da UFMG, propõem um

percurso histórico pela obra de cem autores, de clássicos a contemporâneos, passando por

nomes importantes esquecidos.

"MANO, A NOITE ESTÁ VELHA": Publicado postumamente pela editora Planeta, um ano depois

do brutal assassinato de seu autor, o romance é um marco na obra do paranaense Wilson

Bueno (1949-2010), conhecido pelo experimentalismo de livros como "Mar paraguayo" (1992),que mesclava o português e o guarani. Numa narrativa de fortes tintas autobiográficas, mas

também carregada de referências intertextuais a escritores como Hilda Hilst e Roberto Bolaño, o

livro é construído como um diálogo imaginário entre o protagonista e seu irmão morto, com

reflexões pungentes sobre a solidão, a violência e as relações familiares.

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FOLHA DE S. PAULO:

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ESTADO DE MINAS:

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RELEASE DE “LIBERDADE”: 

LançamentosMaio de 2011

LIBERDADEJonathan Franzen

RomanceSérgio FlaksmanElisa v. Randon

620 pp. (estimadas)16 x 23 cmTiragem: 15000 ex.R$ 46,50Lançamento: 26/05ISBN e código de barras: 978-85-359-1867-0

Walter e Patty Berglund estão às voltas com uma família problemática, escândalosecológicos, um casamento em crise e a presença ambígua de um velho amigo

roqueiro em suas vidas. Do mesmo autor de As correções, Liberdade é um painel comovente dos dilemas sociais e privados da vida contemporânea 

“O romance mais comovente de Franzen — um livro que se revela ao mesmotempo uma envolvente biografia de uma família problemática e um retratoincisivo do nosso tempo.” — Michiko Kakutani, The New York Times

“N~o é { toa que Liberdade menciona Guerra e Paz em todas as letras. Ele pedeespaço na prateleira ao lado do tipo de livro que as grandes feras escreviam.Livros que eram chamados de importantes. Que eram chamados de os grandes.”— Benjamin Alsup, Esquire

“O livro do ano, e do século.” — The Guardian

“Assim como As correções, Liberdade é uma obra-prima da ficção americana.Liberdade é um livro ainda mais rico e profundo — menos reluzente nasuperfície, porém mais seguro em seu método. Como todos os grandes romances,Liberdade não conta apenas uma história cativante. Ele ilumina, pela profundainteligência moral do autor, um mundo que julgávamos conhecer.” — SamTanenhaus, The New York Times Book Review

“[Liberdade] é um trabalho de gênio: um lembrete do porquê todos seempolgaram com Franzen em primeiro lugar, e da inegável magia — mesmohoje, nesses tempos digitais — do grande romance literário. Poucos escritores secomparam a Franzen naquela habilidade primária de criar vida, de nos fazer

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acreditar que uma série de padrões neuronais em texto, um evento puramenteabstrato, seja de fato um ser humano tangível, que podemos amar, ter pena,odiar, admirar e, possivelmente, encontrar no mercado. Seus personagens sãotão densamente construídos — suas vidas mentais anotadas até o menor grãocognitivo — que chegam a romper a barreira entre arte e realidade: eles nos

tocam da mesma maneira que amigos, vizinhos, colegas de classe e amantes. Éisso que faz dos livros de Franzen um acontecimento t~o especial.” — SamAnderson, New York Magazine

“Épico.” — Vanity Fair

“Um trabalho extraordin|rio. N~o h| equivalente na ficç~o contempor}nea.” — Guardian 

Liberdade, quarto romance do norte-americano Jonathan Franzen, foi um dos

mais festejados lançamentos literários de 2010. Publicado nove anos após As

correções (vencedor do National Book Award), o livro foi saudado como umpainel amplo e profundo da sociedade americana contemporânea e um triunfoda prosa refinada que já fazia a fama do autor.A história de Liberdade gira ao redor de um trio de protagonistas. Walter e PattyBerglund formam, junto com os filhos adolescentes Joey e Jessica, uma típicafamília norte-americana liberal de classe média. Richard Katz é um roqueirodescolado que tenta fugir da fama que tanto buscava no passado. Os três seconhecem no final dos anos 1970, na Universidade de Minnesota, e a partir daísuas vidas se entrelaçam numa complexa relação de amizade, paixão, lealdade etraições que culminará com uma série de conflitos decisivos na primeira década

do novo milênio, época em que o conceito de liberdade parece tão onipresentequanto fugidio.Como em  As correções, Franzen mergulha numa tragédia familiar para dissecar,com incrível detalhe e personagens tão reconhecíveis quanto surpreendentes, apsique e os sonhos da classe média norte-americana, explorando temas como ochoque entre as políticas liberais e conservadoras no contexto social e privado,os males da superpopulação e das ameaças ecológicas, a crise do politicamentecorreto e os dilemas afetivos de uma geração cada vez mais conectada,individualista e globalizada.Aclamado pela crítica, Liberdade também foi um fenômeno de mídia. Aapresentadora Oprah Winfrey o selecionou para o seu popular círculo do livro, oOprah’s Book Club, e a revista Time estampou sua capa com o romance, algo quenão acontecia desde o ano 2000, quando Stephen King figurou no mesmo espaço.

Nascido no estado de Illinois, Estados Unidos, em 1959, Jonathan Franzen viveatualmente em Nova York e na Califórnia. É autor de outros três romances e doislivros de ensaios. Dele, a Companhia das Letras publicou também o romance  Ascorreções, vencedor do National Book Award em 2001, e a coletânea de ensaios A zona do desconforto.

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O GLOBO:

Produto: O Globo 

Data de Publicação: Sexta-Feira 27 Maio 2011Página: 1 

Edição: 1

Editoria: Segundo Caderno 

Caderno: Segundo Caderno 

Coluna/Seção:

Fonte:

Crédito: Marcelo Moutinho 

Tipo de matéria: Artigo Assinado 

Chamada:

Série: textos~39192115

Frisson justificado ou mera fumaça midiática? 

Marcelo Moutinho*

O jornal "The Guardian" classificou-o como "o livro do século". A apresentadora Oprah Winfrey

incluiu a obra em seu prestigioso Oprah's Book Club. O próprio presidente Obama devorou as

mais de 600 páginas durante as férias. Além disso, o autor figurou na capa da revista "Time",

cuja chamada proclamava que Jonathan Franzen "nos mostra o modo como vivemos hoje".

Diante de tanto confete, uma pergunta se impõe: "Liberdade" justifica o frisson ou é mera

fumaça midiática?

Descontada a profecia hiperbólica do "Guardian", a resposta ganha feição positiva. O livro, ao

qual o escritor se dedicou por nove anos, traz uma daquelas histórias com as quais nos

enredamos a ponto de querer adiar o fim. Franzen evoca os chamados romances panorâmicos,

que buscam descortinar o espírito de um tempo sob a perspectiva de um grupo de indivíduos.

No caso de "Liberdade", os Berglund.

A saga familiar atravessa quatro gerações e é esboçada em prosa realista, não linear. Walter e

Pathy são um casal liberal de classe média e têm dois filhos, Joey e Jessica. Há um terceiro

vetor: Richard Katz, músico com quem Pathy flertou rapidamente antes de se unir ao marido.

Katz aparece como um dos elementos desestabilizadores da aparente harmonia dos Berglund. O

outro é Joey, cuja declarada simpatia pelo Partido Republicano ativa no pai, democrata até o

último fio do cabelo, os instintos mais primitivos. "Ele tem o ar superior de quem frequenta Wall

Street", diz Walter.

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A conjuntura pós 11 de Setembro está no centro do romance, embora a descrição se estenda

por décadas. Conjugando os dramas pessoais de seus personagens com a pauta política,

Franzen aborda temas como o conflito entre Israel e Palestina, o aquecimento global, a invasão

do Afeganistão e a ofensiva contra o Iraque "para tomar as armas de destruição em massa de

Saddam Hussein", que recebe inflamada defesa de Joey.

Bem urdida, a trama se estrutura a partir do desenho de perfis que serão aos poucos

desconstruídos. Walter, o ambientalista que faz questão de ir de bicicleta para o trabalho,

envolve-se com mineradoras de carvão. Pathy, a mãe zelosa, expõe um inusitado talento para a

perversidade. Katz, antagonista na contenda amorosa por ela, revela a intensidade de seu amor

— um amor fraterno — por Walter.

Um dos méritos de Franzen é a densidade que dá aos personagens, tornando-os quasepalpáveis, capazes de provocar dó, empatia, repulsa e mesmo fúria — estados que se revezam

no sentimento do leitor. Na intenção de fazer o inventário social de uma época, o autor capta

também a perplexidade de quem testemunha a mudança dos ventos, sintetizada por Walter

quando se vê sozinho em um concerto de rock para jovens: "Era mais uma espécie de

desespero diante do esfacelamento do mundo. Os EUA estavam travando duas guerras

terrestres e feias em dois países, o planeta estava se aquecendo como um forno elétrico, e ali

no 9:30, ao seu redor, havia centenas de meninos e meninas (...) com suas suaves aspirações,

sua ideia inocente de que tinham direito — a quê? À emoção."

A narrativa transita com leveza da melancolia ao humor, e a plausibilidade dos diálogos garante

ótimos momentos, como aquele em que Walter, já na meia-idade e ao lado de sua sedutora

assistente, toma a primeira cerveja da vida. Ou, ainda, a longa "DR" na qual Katz e Pathy

tentam compreender afetos guardados em banho-maria, subitamente reaquecidos.

A destreza literária de Franzen, já atestada no anterior "As correções", não impede, contudo,

que recaia num erro primário. Sob o pretexto de uma recomendação do terapeuta para que

anotasse as próprias memórias, em alguns capítulos Pathy assume a condução do relato. Oregistro formal, no entanto, é idêntico ao do narrador onisciente — exceto pelo fato de ela, com

intimidade, chamar Katz de Richard. Pouco para uma alteração tão brusca.

Capital na cultura americana, o conceito de liberdade a que alude o título do livro se desdobra

para além do viés político. Pairando sobre todo o romance em frases, placas, slogans, refere-se

igualmente à esfera privada, e nem sempre como sinônimo de ventura. "A personalidade

suscetível ao sonho da liberdade ilimitada também tende, quando o sonho desanda, à

misantropia e à ira", salienta o narrador ao comentar as diabruras do avô de Walter, que, na

direção de um automóvel, desrespeita os demais motoristas. A indireta, com jeitão de

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autocrítica, é uma piscadela ao leitor. Como se Franzen sugerisse: assim como o velho Einar,

certas nações às vezes abusam ao volante.

* Marcelo Moutinho é escritor e jornalista

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Produto: O Globo 

Data de Publicação: Sexta-Feira 27 Maio 2011

Página: 1 

Edição: 1

Editoria: Segundo Caderno 

Caderno: Segundo Caderno 

Coluna/Seção:

Fonte: Local 

Crédito: Guilherme Freitas 

Tipo de matéria: Reportagem 

Chamada: 1 Página:PP:Primeira Página

Série: textos~391920750

O último romântico 

Autor de 'Liberdade', que foi saudado como o livro do século e chega agora ao Brasil, o

americano Jonathan Franzen fala da ambição de levar a literatura às massas

Guilherme Freitas

ouve um momento na carreira de Jonathan Franzen em que ele teve o pressentimento, raro

para a maioria dos escritores contemporâneos, de que sua obra estava prestes a alcançar

aquela entidade insondável que se costuma chamar de "o grande público". Após escrever

narrativas experimentais nos anos 1980 e 1990, ele trabalhava no romance "As correções",

uma saga familiar que, ao ser lançada, em 2001, recebeu atenção surpreendente para uma

época em que se costuma decretar a decadência da literatura como gênero de massas. A

princípio, Franzen pareceu desconfortável: naquele ano, rejeitou um convite para o clube de

leitura da apresentadora de TV Oprah Winfrey, guardiã do gosto médio americano, por receio de

vulgarizar sua obra.

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Uma década depois, porém, o autor está mais à vontade no papel. Nos últimos meses, sentou

no antes temido sofá de Oprah, concedeu centenas de entrevistas e posou para a capa da

revista "Time", com ar sisudo e olhar pensativo, ao lado do título de "Grande Romancista

Americano". Tudo para promover seu novo livro, "Liberdade" (que chega agora ao Brasil pela

Companhia das Letras, em tradução de Sergio Flaksman) e, ao mesmo tempo, defender junto

ao grande público sua maior causa: a relevância da literatura na cultura contemporânea.

— Enquanto eu escrevia "As correções", me dei conta de que aquele era um livro ao qual as

pessoas poderiam realmente prestar atenção. Foi um momento assustador, porque você tem

que refletir se está disposto a isso, e a tudo de negativo que pode trazer. Mas, além do óbvio

prazer de ser lido, vejo isso como um serviço. Acredito que, para sobreviver como gênero, o

romance precisa receber atenção significativa da cultura mainstream. Caso contrário, o grande

público pode simplesmente se esquecer dele — diz Franzen em entrevista ao GLOBO, portelefone, de Nova York.

Dilemas individuais e coletivos

Assim como em "As correções", a trama de "Liberdade" se concentra num pequeno núcleo — no

primeiro caso a família Lambert, agora a família Berglund — no qual se condensam experiências

coletivas da sociedade americana (leia resenha ao lado). Mais do que apresentar um painel

sociopolítico de seu país em forma de ficção, a ambição de Franzen é provar que há algo de

específico na literatura que a torna um meio ideal para promover a reflexão pessoal sobre

dilemas individuais e coletivos de nosso tempo. Essa ambição, como foi notado pelos críticos,

aproxima Franzen dos escritores realistas do século XIX, como Tolstói e Dickens, que

acreditavam no romance como espaço de discussão sobre a sociedade. Ao mesmo tempo em

que encoraja a comparação (Tolstói chega a ser citado em "Liberdade"), o autor tenta matizá-la.

— Escritores como Dickens faziam relatórios sobre a sociedade, e não é isso que tenho em

mente. O que um romance pode fazer é criar um diálogo entre o mundo como um todo e uma

consciência individual. Não há outra forma capaz de fazer isso como o romance. É algointrínseco à experiência da leitura, ao ato de decodificar marcas numa página e criar um mundo

a partir da palavra impressa.

Continua na página 2

Legenda da foto: FRANZEN: seu romance sobre uma saga familiar que atravessa quatro

gerações gerou comparações com o clássico "Guerra e paz" e o levou à capa da revista "Time"

Produto: O Globo Data de Publicação: Sexta-Feira 27 Maio 2011

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Página: 2 

Edição: 1

Editoria: Segundo Caderno 

Caderno: Segundo Caderno 

Coluna/Seção:

Fonte: Local 

Crédito: Guilherme Freitas 

Tipo de matéria: Reportagem 

Chamada: 1 Página:PP:Primeira Página

Série: textos~391926588

O último romântico 

O último romântico • Continuação da página 1

Apesar de dizer que não tentou fazer, em "Liberdade", um "relatório social" à moda de Dickens,

Franzen tem sido saudado nos Estados Unidos, desde o lançamento do livro, pela capacidade de

criar "um retrato incisivo do nosso tempo", como resumiu o jornal "The New York Times". Para o

escritor, essa é uma reação ao fato de o romance — não só o dele, mas todo o gênero — 

processar a experiência coletiva de uma forma diferente daquela à qual o público estáacostumado no dia a dia.

— Estamos afogados em relatórios e notícias sobre nós mesmos. Com os canais de jornalismo

24 horas e a internet, não precisamos de ainda mais informação sobre nossa sociedade. Mas o

romance, por existir num tempo mais lento do que o jornalismo, é capaz de isolar todo esse

ruído e dar atenção às coisas que realmente importam, aquelas que não estão sendo noticiadas

— diz o escritor.

A dificuldade de comunicação numa sociedade saturada de informação sobre si mesma é um

dos temas de "Liberdade", que investiga as cisões políticas e sociais vividas pelos Estados

Unidos durante o governo de George W. Bush. Franzen enxerga no presidente Barack Obama,

fã confesso de seu livro, alguém que tem se esforçado para superar a "gritaria polarizada" que

tomou conta da política nacional nos últimos anos.

— Penso que Obama sente que, ao se comportar assim, os políticos e jornalistas americanos

estão cometendo uma violência contra a verdade. Porque a verdade é complicada, mas o que

vemos na TV e na internet é uma versão simplificada de tudo, com essas pessoas gritando suasopiniões sem se preocupar em ouvir os outros.

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Franzen diz escrever em busca de leitores que não se satisfazem com verdades simplificadas.

Um autor que procura conservar espaço para a literatura nas estantes de best-seller, ele

descreve o leitor ideal como alguém que "anda por aí sentindo que todo mundo parece saber o

que fazer, menos ele, que todos estão seguros enquanto ele está cheio de conflitos, e que

ninguém parece incomodado com as coisas que o incomodam".

— É encorajador acreditar que ainda há lugar no mundo para o romance, porque bons livros

continuam a ser um espaço onde o mundo pode ser discutido em sua complexidade real, com

ambiguidade, incerteza e humildade.

Colaborou Fernanda Godoy, de Nova York

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FOLHA DE S. PAULO:

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RELEASES E RESPECTIVAS MATÉRIAS A CERCA DA L&PM:

Lançamento – Romance 

Mulheres

Charles BukowskiTradução de Reinaldo Moraes 

Vol. 950 da Coleção L&PM POCKET  – 320 páginas – R$ 17  ISBN 978.85.254.2313-9 Código de Barras 9788525423139 

Muito cara legal foi parar de baixo da ponte por causa de umamulher.

Henry Chinaski (protagonista de Mulheres)

Esgotado no Brasil desde 1984, Mulheres, o terceiro romance deCharles Bukowski, volta às livrarias com incrível tradução doescritor Reinaldo Moraes, através da Coleção L&PM Pocket.Em Mulheres, Hanry Chinaski é Hank: escritor menor, amante damúsica clássica, bêbado, tarado, personagem principal de Mulheres ealter ego de Bukowski. Após quatro anos de jejum sexual semdesejar mulher alguma, Hank conhece Lydia – e April, Lilly, Dee Dee,Mindy, Hilda, Cassie, Sara, Valerie, não importa o nome que ela tenha.

Hank entra na vida dessas mulheres, bagunça suas almas, rompeseus corações, as enlouquece, as faz sofrer. E no fim elas ainda oconsideram um bom sujeito.

Publicado em 1978, Mulheres é a essência da literatura de Bukowski: com o velhoChinaski, ele sintetiza a alma de todos aqueles que se sentem à margem. Escrevendo emprosa, Bukowski poetisa a dureza da vida e nos d| uma pista: “ficç~o é a vidamelhorada”. 

Charles Bukowski nasceu em Andernach, na Alemanha, em 1920, e se mudou com seuspais para a Califórnia aos três anos. Apesar de ter cursado por dois anos a Los AngelesCity College, Bukowski foi basicamente um autodidata na literatura. Na juventude,

passava a maior parte do tempo na Biblioteca Pública de Los Angeles, onde conheceualguns dos escritores cujas obras acabariam por influenciá-lo: Dostoiévski, Turguêniev,

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Nietzsche e D.H. Lawrence. Foi um prolífico autor de poesia e prosa, publicando mais decinquenta volumes. Charles Bukowski morreu em San Pedro, na Califórnia, em 1994. AL&PM Editores publica Pulp, Numa fria, O capitão saiu para o almoço e os marinheirostomaram conta do navio, Hollywood, Misto-quente, Ao sul de lugar nenhum, O amor é umcão dos diabos, Crônicas de um amor louco, Notas de um velho safado, Fabulário geral do

delírio cotidiano, Bukowski–

textos autobiográficos, Delírios cotidianos e Pedaços de umcaderno manchado de vinho.

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Carolina Marquis

Assessoria de imprensa

Tel: 55+51+3225-5777

Cel: 55+51+9707-9799

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Lançamento – Romance

Cartas na rua Charles Bukowski

Tradução de Henrique Guerra

Vol. 976 da Coleção L&PM POCKET  – 190 páginas – R$ 17  ISBN 978.85.254.2449-5 Código de Barras 9788525424495 

O primeiro romance de Charles Bukowski [Bukowski] é um desses escritores que cada novo leitor descobre

com uma emoção transgressora.The New Yorker

Com Cartas na rua, a L&PM Editores tem em sua coleçãotodos os romances do escritor norte-americano Charles Bukowski.“Tudo começou como um erro”, anuncia Bukowski na primeira

linha de Cartas na rua, agora de volta às livrarias em novatradução de Pedro Gonzaga. O “erro” do escritor conhecido pelosporres homéricos e humor ferino foi se candidatar à vaga decarteiro temporário no início dos anos 50. Quando viu, estava emseu segundo emprego nos Correios, como auxiliar, e já somavacatorze anos em uma rotina maçante – ainda mais para um homemde meia-idade sempre de ressaca. Mas tinha em mãos, enfim, amatéria-prima para seu primeiro romance, que já nasceu umclássico: pela voz de Henry Chinaski, seu alter ego, Bukowskinarra suas memórias em tom hilário e melancólico. Lançado em1971, Cartas na rua é um marco na obra de um dos mais cultuados – e imitados – autores norte-americanos.

Charles Bukowski nasceu em Andernach, na Alemanha, em 1920, e se mudou com seuspais para a Califórnia aos três anos. Apesar de ter cursado por dois anos a Los AngelesCity College, Bukowski foi basicamente um autodidata na literatura. Na juventude,passava a maior parte do tempo na Biblioteca Pública de Los Angeles, onde conheceualguns dos escritores cujas obras acabariam por influenciá-lo: Dostoiévski, Turguêniev,Nietzsche e D.H. Lawrence. Foi um prolífico autor de poesia e prosa, publicando mais decinquenta volumes. Charles Bukowski morreu em San Pedro, na Califórnia, em 1994. AL&PM Editores publica Pulp, Numa fria, O capitão saiu para o almoço e os marinheirostomaram conta do navio, Hollywood, Misto-quente, Ao sul de lugar nenhum, O amor é umcão dos diabos, Crônicas de um amor louco, Notas de um velho safado, Fabulário geral dodelírio cotidiano, Bukowski – textos autobiográficos, Delírios cotidianos e Pedaços de um

caderno manchado de vinho......................................

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ESTADO DE MINAS:

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