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CRONOLOGIA DOS PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS ( I REPÚBLICA ) INÍCIO DO SÉCULO XX O Barreiro é uma terra progressiva, na margem do Tejo calmo e rico, frente à capital do império, interface ferroviária com o Sul desde 1861, com mais de uma dezena de importantes fábricas de cortiça, contando a partir de 1907 com o complexo químico da Companhia União Fabril. 1909 Regista-se o primeiro movimento grevista no Barreiro, na fábrica de cortiça Herold, propriedade de alemães, contra a exportação de cortiça em bruto. Nos princípios de Dezembro é publicado o primeiro número do jornal Avante!, editado pelo 3º Centro Socialista do Barreiro, fundado em Maio desse ano por Ladislau Batalha e sua mulher, Ernestina Costa. No dia 10 de Dezembro, realiza-se um comício de propaganda republicana, no Centro Dr. Estevão de Vasconcelos. Participam Cupertino Ribeiro e António José de Almeida. 1910 Em Setembro, realiza-se uma greve de corticeiros a nível nacional, contra a exportação da cortiça não transformada, com grande adesão a nível local e o apoio solidário dos descarregadores, dos ferroviários e dos operários da CUF, no que terá sido o seu primeiro movimento grevista.

Cronologia da 1ª Republica no Barreiro

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CRONOLOGIA DOS PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS ( I REPÚBLICA ) INÍCIO DO SÉCULO XX O Barreiro é uma terra progressiva, na margem do Tejo calmo e rico, frente à capital do império, interface ferroviária com o Sul desde 1861, com mais de uma dezena de importantes fábricas de cortiça, contando a partir de 1907 com o complexo químico da Companhia União Fabril.

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Page 1: Cronologia  da 1ª Republica  no Barreiro

CRONOLOGIA DOS PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS

( I REPÚBLICA )

INÍCIO DO SÉCULO XX

O Barreiro é uma terra progressiva, na margem do Tejo calmo

e rico, frente à capital do império, interface ferroviária com o

Sul desde 1861, com mais de uma dezena de importantes

fábricas de cortiça, contando a partir de 1907 com o complexo

químico da Companhia União Fabril.

1909

Regista-se o primeiro movimento grevista no Barreiro, na

fábrica de cortiça Herold, propriedade de alemães, contra a

exportação de cortiça em bruto.

Nos princípios de Dezembro é publicado o primeiro número

do jornal Avante!, editado pelo 3º Centro Socialista do Barreiro,

fundado em Maio desse ano por Ladislau Batalha e sua mulher,

Ernestina Costa.

No dia 10 de Dezembro, realiza-se um comício de propaganda

republicana, no Centro Dr. Estevão de Vasconcelos. Participam

Cupertino Ribeiro e António José de Almeida.

1910

Em Setembro, realiza-se uma greve de corticeiros a nível

nacional, contra a exportação da cortiça não transformada, com

grande adesão a nível local e o apoio solidário dos

descarregadores, dos ferroviários e dos operários da CUF, no que

terá sido o seu primeiro movimento grevista.

Page 2: Cronologia  da 1ª Republica  no Barreiro

Na madrugada do dia 4 de Outubro foi hasteada a bandeira

bicolor republicana nos paços do Concelho, sendo constituída a

Junta Revolucionária do Barreiro, em antecipação aos

acontecimentos históricos do dia seguinte em Lisboa.

No dia 5 paralisa a circulação ferroviária e fluvial, param as

fábricas e oficinas, o povo está na rua entre vivas e foguetes. Viva

a República!

Publicaram-se 25 números do Avante!, até Novembro de 1910,

sempre com o ideário socialista, num período de grande euforia

republicana e de forte adesão ao Partido Republicano Português.

1911

Na fábrica Herold, onde chegam a trabalhar mais de 700

pessoas, os corticeiros fazem greve por melhores salários durante

onze dias e saem vitoriosos. Esta é verdadeiramente a primeira

grande luta de carácter reivindicativo no Barreiro.

Os ferroviários, uma classe muito «republicanizada»,

desenvolvem uma greve nacional durante seis dias, por melhores

retribuições e condições sociais. Os comboios paralisam em quase

todo o país, com forte adesão na região Sul, e os trabalhadores

conseguem obter a maioria das reivindicações.

A primeira greve reivindicativa na CUF, é por melhores

remunerações e contra as más condições de trabalho (têm

jornadas duríssimas de 12e 14 horas, ambientes de gasearias

medonhas). Ao fim de alguns dias de luta as exigências são

parcialmente satisfeitas.

Page 3: Cronologia  da 1ª Republica  no Barreiro

1912

Apesar do esforço de desenvolvimento e descentralização da Instrução Primária, feito pelo Governo da República, a situação manteve-se muito deficitária na falta de salas de aula, devido ao fluxo migratório e à elevada taxa de natalidade. Ainda assim existe um índice de analfabetismo abaixo da média.

1914

Criada em Novembro a Associação de Classe dos Ferroviários do Sul Sueste, por extinção da Associação dos Metalúrgicos fundada em 1903.Denotando uma crescente influência anarcosindicalista (havia três correntes políticas operárias: republicanos, socialistas e sindicalistas libertários ), a Associação orientará a participação dos homens das ferro vias do Sul, nas greves rijas de 1914, que serão duramente reprimidas em Lisboa pelo poder republicano.

1915

Publicado o primeiro jornal ferroviário barreirense, O Rail, fundado por Jerónimo de Paiva, que teve existência efémera. Aquele animador do sindicalismo paralelo, estará ligado em 1919 ao Grémio Ferroviário do Sul e Sueste (amarelo), e acabará como dirigente do Sindicato Corporativo no tempo da ditadura do «Estado Novo».

1917

Acentua-se a corrente sindicalista revolucionária na Associação dos Ferroviários, dirigida por Miguel Correia e António José Piloto. Em 1919, irá promover a edição do «Sul e Sueste», o seu órgão de imprensa, «…sem pretensões literárias, um jornal de combate e de solidariedade operária, um jornal das grandes lutas de classe».Publicar-se-á ininterruptamente até à proibição salazarista em 1933.

Page 4: Cronologia  da 1ª Republica  no Barreiro

1918

Nova greve dos ferroviários de âmbito nacional, contra a carestia de vida e por melhores vencimentos, com grande apoio nos Caminhos de Ferro do Sul, devido à acção dinâmica dos dirigentes sindicais que percorrem toda a linha em acções de mobilização. O governo republicano manda uma vez mais reprimir violentamente com o Batalhão de Sapadores e o célebre «vagão fantasma»,efectuando dezenas de prisões e despedimentos.

1919

Novamente os ferroviários em greve, pelos mesmos motivos nunca equacionados devidamente pela República (salários, condições de trabalho », mas também pela readmissão das dezenas de despedidos no ano anterior. Mais intimidações e pressões governamentais, mas uma vitória ao fim de 12 dias.

Em Julho é desencadeado uma grande greve na CUF, de protesto contra despedimentos arbitrários e pela aplicação da lei das 8 horas de trabalho diário, decretada pela República em 1917, e que Alfredo da Silva não quer aplicar. O grande patrão impõe o «lock-out» (que a chamada «lei burla», também permitia ) e manda avançar a repressão armada que faz dois mortos e muitos feridos.Com o apoio da sua Associação de Classe formada em Abril desse ano, os trabalhadores aguentam e evitam mais despedimentos, mas não conseguem as 8 horas!

1920

Greve nacional de protesto contra o aumento do pão, com forte adesão de corticeiros e ferroviários. A nível local, as mulheres e os jovens corticeiros lutam contra a discriminação salarial e saem parcialmente vitoriosos.

Os ferroviários voltam à luta rija e fazem greve durante 70 dias! Pela desmilitarização da empresa estatal, sujeita à sanha do coronel Raul Esteves (futuro golpista no 28 de Maio ), sempre que recorrem à paralisação. A luta acabará numa grande derrota que marcará profundamente os trabalhadores e a sua orientação radical.

O 5º Centro Socialista, último a ser fundado no Barreiro, integrando todos os que se encontravam desiludidos com a governação republicana, esteve na base da espantosa vitória, a primeira no País, dos socialistas nas eleições municipais para a Câmara Municipal do Barreiro (1920-1922 ).

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1921

O « Sul e Sueste », informa que dois sindicalistas, Leopoldo Calapez e Manuel D. Júnior, foram presos por possuírem exemplares do »Bandeira Vermelha », órgão da Federação Maximalista Portuguesa - uma das raízes da fundação nesse ano do Partido Comunista Português. Os ventos da Revolução Russa de 1917 chegavam a Portugal e os trabalhadores barreirenses compreendiam a mensagem. No número 46 do «Sul e Sueste», de 1/8/1921, escreve-se: «Em dez meses, em pleno regime republicano, tem havido mais opressão e tirania do que em dezenas de anos de monarquia». Tal era o estado de ânimo da classe ferroviária e dos seus dirigentes.

1922

Em Junho, os trabalhadores dos caminhos de ferro do Estado estão em festa com a inauguração da Casa dos Ferroviário, local de instrução e convívio das famílias ferroviárias. Passa a ser a sede do Sindicato do Pessoal dos Caminhos de Ferro do Sul e Sueste, criado no ano transacto na continuação da Associação respectiva, sobrevivendo durante a longa tirania corporativa, até ser demolida, sem pena e com agravo, no início deste ano. A atenção dada pelos sindicalistas libertários às questões da solidariedade e da educação e instrução, materializou-se sobretudo pela criação de escolas nos sindicatos, mas também pela difusão do Esperanto, a língua da fraternidade universal. O «Sul e Sueste» comunica em Outubro, que o Grupo Ferroviário de Educação Social, decidiu fundar na sua sede uma escola de Esperanto.

1923

A última greve dos ferroviários do Sul antes do golpe militar reaccionário, teve lugar no ano de 1923, durante três dias e novamente com violência repressiva e acções de sabotagem como resposta por parte doa trabalhadores. Mais uma vez foi detido o telegrafista Miguel Correia, dirigente do Sindicato e da CGT anarquista, e …«o maior agitador ferroviário que houve em Portugal». Em plena República, a deficiente formação dos recursos humanos, continuava a constituir um dos obstáculos à industrialização do País. Agravada pela persistência de elevadas taxas de analfabetismo -cerca de 70% em 1910 -e pelo baixo nível do poder de compra da população, que permanecia maioritariamente rural e analfabeta.

1925

Os corticeiros travam uma poderosa batalha por melhores salários, durante42 dias, sem êxito! Como refere um cronista coevo, imagine-se os trabalhadores grevistas, depois de tantas privações,…«obrigados a vergar e a entrarem ao portão de cabeça baixa». Na Companhia União Fabril são anos de grande expansão, proporcionada pela fusão do capital industrial de Alfredo da Silva ( entretanto exilado em Espanha, depois do apoio a Sidónio Pais em 1919) com o capital financeiro da Casa Bancária José Rodrigues Totta. Cumpre-se assim a lei da concentração capitalista, com o beneplácito do regime republicano.

Page 6: Cronologia  da 1ª Republica  no Barreiro

1926

Quando surge o golpe militar reaccionário de 28 de Maio de 1926, o líder dos ferroviários do Sul negoceia um compromisso com os rebelados, prometendo-lhes a paralisação do tráfego normal e todas as facilidades para o transporte das tropas revoltosas. Terão os sindicalistas libertários pensado que a situação política republicana era tão má que para pior já não era possível mudar?

A CGT anarquista como a CIS de influência comunista (tal como o PCP a realizar o seu segundo congresso ), apressaram-se a condenar o golpe. Esperanças vãs, desilusão amarga, terão sido os sentimentos dos

ferroviários do Barreiro em relação à ditadura militar, quando o

«Sul e Sueste» ficou sujeito a censura prévia (como todos os jornais

sindicais ) e Miguel Correia foi novamente preso em Setembro de

1926 e deportado para Moçambique, donde não mais voltaria.

Textos: Armando Sousa Teixeira

Montagem e selecção fotográfica:

José Encarnação

Arquivo de Imagens

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