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269 Córtex Cerebral CAPÍTULO 11 Rechdi Ahdab CASO CLÍNICO Apresentação e Exame Físico Uma mulher de 74 anos, que sabidamente tem um câncer de cólon com metás- tase no fígado, apresentou-se no pronto-socorro por causa de dois episódios de movimentos involuntários do membro superior direito, com a duração de 5 min cada um. Ela relatou movimentos espasmódicos do membro superior direito que começaram no braço e se espalha- ram, progressivamente, até envolver todo o hemicorpo direito. Seu exame neurológico estava normal. Diagnóstico, Tratamento e Acompanhamento A ressonância nuclear magnética (RNM) do encéfalo revelou múltiplas lesões metastáticas (Fig. 11.1). Uma consulta de neurologia foi solicitada. Após entrevistar a paciente e reexaminar a RNM, o neurologista con- cluiu que provavelmente ela sofreu convulsões parciais secundárias à sua doença cerebral metastática; assim, ela foi iniciada em medicamento antiepiléptico. O neu- rologista identificou a lesão que estava causando as convulsões. Sua principal preocupação era que com outros crescimentos, a lesão causadora provocasse paralisia do membro superior direito da paciente. Ele recomendou o tratamento dessa lesão específica com radioterapia estereotática. Em sua opinião, a qual lesão o neurologista estava se referindo? Tente responder a essa pergunta depois de estudar este capítulo! 1 2 3 2 FIGURA 11.1 RNM axial do cérebro mostrando três lesões metastáticas. Fonte: Cortesia de Rechdi Ahdab, MD. Lebanese American University Medical Center.

Córtex Cerebral - Amazon Web Services€¦ · Korbinian Brodmann estudou exten-sivamente essas variações e foi capaz de identifi car 52 áreas diferentes ( Fig. 11.4 ). Embora

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Page 1: Córtex Cerebral - Amazon Web Services€¦ · Korbinian Brodmann estudou exten-sivamente essas variações e foi capaz de identifi car 52 áreas diferentes ( Fig. 11.4 ). Embora

269

Córtex Cerebral

CAPÍTULO 11

Rechdi Ahdab

CASO CLÍNICO

Apresentação e Exame Físico Uma mulher de 74 anos, que sabidamente tem um câncer de cólon com metás-tase no fígado, apresentou-se no pronto-socorro por causa de dois episódios de movimentos involuntários do membro superior direito, com a duração de 5 min cada um. Ela relatou movimentos espasmódicos do membro superior direito que começaram no braço e se espalha-ram, progressivamente, até envolver todo o hemicorpo direito. Seu exame neurológico estava normal. Diagnóstico, Tratamento e Acompanhamento A ressonância nuclear magnética (RNM) do encéfalo revelou múltiplas lesões metastáticas ( Fig. 11.1 ). Uma consulta de neurologia foi solicitada. Após entrevistar

a paciente e reexaminar a RNM, o neurologista con-cluiu que provavelmente ela sofreu convulsões parciais secundárias à sua doença cerebral metastática; assim, ela foi iniciada em medicamento antiepiléptico. O neu-rologista identifi cou a lesão que estava causando as convulsões. Sua principal preocupação era que com outros crescimentos, a lesão causadora provocasse paralisia do membro superior direito da paciente. Ele recomendou o tratamento dessa lesão específi ca com radioterapia estereotática.

Em sua opinião, a qual lesão o neurologista estava

se referindo? Tente responder a essa pergunta depois

de estudar este capítulo!

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FIGURA 11.1 RNM axial do cérebro mostrando três lesões metastáticas. Fonte: Cortesia de Rechdi Ahdab, MD. Lebanese American University Medical Center.

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CAPÍTULO 11: Córtex Cerebral 270

BREVE INTRODUÇÃO

O córtex cerebral é uma camada fi na (2 a 4 mm) de substância cinzenta que cobre a superfície externa do encéfalo.

� Ele recebe informações sensoriais do mundo interior e exterior, processa essas informações, planeja e, fi nalmente, gera uma reação específi ca.

� Em nível macroscópico, é organizado em sulcos e giros complexos. Essas dobras aumentam muito a superfície do córtex sem um aumento concomitante no volume, que permite ao encéfalo encaixar-se no espaço que lhe é reservado dentro do crânio.

� Mais de dois terços do córtex cerebral estão mergulhados dentro dos sulcos; estes últimos mostram certo grau de variabilidade entre os indivíduos. Contudo, alguns são relativamente compatíveis em todos os indivíduos e são usados como pontos de referência anatômica para identifi car regiões específi cas do córtex cerebral.

Funcionalmente, o córtex cerebral pode ser dividido em múltiplas áreas separadas. � Cada área está estrategicamente ligada a outras áreas corticais e realiza uma função

muito precisa. � Essas funções incluem percepção sensitiva, movimento, linguagem, pensamento,

memória, consciência e certos aspectos das emoções. � Algumas regiões corticais têm uma função relativamente simples e são conhecidas

como córtices primários . Isto inclui áreas que recebem diretamente dados sensitivos (como visão, audição e sensação somática) e regiões envolvidas na execução de um comando motor.

� Por outro lado, os córtices de associação auxiliam as funções mais complexas, que requerem o processamento de uma grande quantidade de dados.

� Embora os sulcos delineiem algumas das áreas funcionais do córtex, os limites de outras áreas funcionais não correspondem a qualquer ponto de referência cortical reconhecível.

CITOARQUITETURA

Os neurônios do córtex cerebral são organizados em camadas. As áreas corticais possuem seis camadas distintas ( Fig. 11.2 ); cada qual é caracterizada por forma, tamanho e densi-dade de neurônios residentes, assim como a organização das fi bras nervosas.

Os dois principais tipos celulares que ajudam a defi nir as camadas corticais são � Células piramidais ( Fig. 11.3 )

� São células excitatórias . � Utilizam glutamato e aspartato como neurotransmissores. � Possuem dendritos apicais:

- Direcionadas para a superfície do encéfalo. - Eles se ramifi cam profusamente na camada I.

� São responsáveis pela saída de informações do córtex cerebral. - Aqueles das camadas II-III projetam-se para outras áreas corticais . - Aqueles das camadas V-VI projetam-se para o tálamo e outras regiões

subcorticais .

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Citoarquitetura 271

� Células granulares ( Fig. 11.3 ) � Recebem dados do tálamo . � Possuem dendritos espinosos. � Conexões das saídas de dados são excitatórias . � Axônios não se projetam das camadas corticais.

I

II

III

IV

V

VI FIGURA 11.2 A estrutura de seis camadas do córtex cerebral. Fonte: Young, Barbara, BSc Med Sci (Hons), PhD, MB BChir, MRCP, FRCPA. Central nervous system. Wheater’s functional histology. p. 384-401, Chapter 20 .

Eferente Eferente Aferente

I

II

III

IV

V

VI

SUBSTÂNCIA BRANCA

Célulahorizontal

Célulafusiforme

Célulapiramidal

Célula deMartinotti

Célulapiramidal

Célula granular

Célula granular

Célula granular

Célula granular

FIGURA 11.3 Esquema mostrando os cinco tipos característicos de neurônios corticais. Fonte: Young, Barbara, BSc Med Sci (Hons), PhD, MB BChir, MRCP, FRCPA. Central nervous system. Wheater’s functional histology. p. 384–401, Chapter 20 .

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Page 4: Córtex Cerebral - Amazon Web Services€¦ · Korbinian Brodmann estudou exten-sivamente essas variações e foi capaz de identifi car 52 áreas diferentes ( Fig. 11.4 ). Embora

CAPÍTULO 11: Córtex Cerebral 272

� Outras células menos comuns também podem ser encontradas no córtex cerebral. Os exemplos incluem as células de Martinotti, células fusiformes e horizontais ( Fig. 11.3 ).

As camadas corticais incluem de superfi cial para profundo (substância branca) ( Figs. 11.2 e 11.3 ):

� Camada molecular (camada I) , que � É rica em sinapses e axônios que correm paralelos para a superfície. � Possui alguns corpos celulares (principalmente neurogliais e células não

piramidais). � Camada granular externa (camada II) , que é primariamente composta de

� Pequenas células piramidais. � Numerosas células granulares.

� Camada piramidal externa (camada III) � Que é relativamente espessa . � Contém células piramidais

- De tamanho médio. - Que aumentam progressivamente de tamanho na direção da parte mais

profunda da camada. - Que estão conectadas a outras regiões do córtex, incluindo o lado

contralateral do encéfalo. � Camada granular interna (camada IV)

� Contém pequenas células densamente acondicionadas: - Células granulares (em formato de estrela). - Células piramidais.

� Camada piramidal interna (ou ganglionar) (camada V) � Contém células piramidais de tamanhos médio e grande. � Na região do córtex motor, algumas são muito grandes e são conhecidas como

células de Betz . � Dá origem a um feixe de fi bras corticofugais (isto é, fi bras que saem do córtex

cerebral) que se projetam sobre os núcleos da base , tronco cerebral e medula espinal

� Camada multiforme (camada VI) � Composta por pequenos neurônios (granulares, piramidais e fusiforme). � Dá origem às fi bras corticofugais principalmente para o tálamo .

Algumas regiões corticais contêm menos de seis camadas (3 a 5 camadas). Os exemplos incluem o córtex olfatório e o hipocampo .

Em um nível mais funcional, as camadas corticais podem ser divididas em três partes: � Camadas supragranulares (camadas I-III)

� São a origem primária e término das conexões intracorticais . � Permite a comunicação entre as diferentes áreas corticais. � As conexões são:

1. Intracortical (áreas de conexões do mesmo hemisfério). 2. Comissural (áreas de conexões para o hemisfério oposto).

� Camada granular interna (camada IV) � Recebe conexões talamocorticais .

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Citoarquitetura 273

� É mais desenvolvida nos córtices sensitivos primários . � É mal desenvolvida ou até ausente em córtices motores (também chamados de

córtex agranular ). � Camadas infragranulares (camadas V e VI)

� Conectam primariamente o córtex cerebral com as regiões subcorticais . � São mais desenvolvidas no córtex motor .

Os neurônios corticais de seis camadas organizam-se, ainda, em colunas. � Colunas corticais são orientadas perpendicularmente à superfície cortical. � Acredita-se que essas colunas funcionem como módulos separados que processam

informações que chegam por meio de uma complexa cadeia de processamento interno e distribuem, de maneira adequada, as informações recém-processadas para as estruturas apropriadas do encéfalo.

Variação na Citoarquitetura Cortical Há variações regionais na citoarquitetura do córtex. Korbinian Brodmann estudou exten-sivamente essas variações e foi capaz de identifi car 52 áreas diferentes ( Fig. 11.4 ). Embora essas áreas tenham sido exclusivamente defi nidas com base na composição celular do córtex, o mapa de Brodmann correlaciona-se bem aos mapas funcionais do córtex.

De maneira mais simples, as áreas corticais podem ser subdivididas em dois grupos principais:

� Córtex agranular � Ausência relativa das camadas granulares II e IV . � Contém camadas piramidais III e V muito bem desenvolvidas . � Está associado, com mais frequência, às regiões motoras.

� Córtex granular � É uma camada granular muito bem desenvolvida, com numerosas células

granulares pequenas. � Está associado às regiões que recebem informações sensoriais provenientes do

tálamo.

Campos ocularesfrontais

Cognição

Emoção

Audição(giro temporal transversoanterior 41, córtex auditivo primário)

Visão(córtex visual primário 17)

Somatossensorial3 1 2

4 5

68

9

10 46 44

45

1138

21

20

2237

1817

41 4239

19

740

Motora

FIGURA 11.4 Áreas de Brodmann e suas funções nervosas associadas. Fonte: Shimizu, Yu. Neuronal response to Shepard’s tones. An auditory fMRI study using multifractal analysis. Brain Res 1186: 113–123.

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CAPÍTULO 11: Córtex Cerebral 274

ANATOMIA DO SULCO E DO GIRO

Os dois sulcos mais profundos do encéfalo são conhecidos como fi ssuras. � A fi ssura longitudinal do cérebro separa os hemisférios direito e esquerdo do

encéfalo. � A fi ssura transversa do cérebro separa os hemisférios cerebrais do cerebelo.

Os principais sulcos do encéfalo dividem os hemisférios cerebrais em lobos ( Fig. 11.5 ); os últimos são defi nidos pelos ossos cranianos sob os quais repousam e, desse modo, são conhecidos como lobos frontal, parietal, temporal e occipital. Os principais sulcos são os seguintes ( Fig. 11.5 ):

� Sulco central � Sulco parietoccipital

Giro pós-central

Giro pré-central

Giro angular

Sulco pós-centralSulco central

Sulcoparietoccipital

Sulco calcarino

Giro temporal inferior

Giro temporal médioGiro temporal

superior

Polo temporal

Lobo frontal

Loboparietal

Lobotemporal

Lobo occipital

Lobo insular

Sulco lateral

Sulco pré-central

Polooccipital

Lóbulo parietal superior

Lóbulo parietal inferiorGiro supramarginal

Polofrontal

FIGURA 11.5 Anatomia de superfície do córtex cerebral mostrando os quatro lobos visíveis na superfície do cérebro e um quinto ocultado na profundeza do sulco lateral. Fonte: Susan E., PhD. Organization and general functions of the nervous system. Mulroney, Netter’s essential physiology. p. 48–56, Chapter 4 .

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Anatomia do Sulco e do Giro 275

� Sulco lateral � Sulco calcarino

O sulco central ( Fig. 11.5 ) divide o lobo frontal anteriormente do lobo parietal posterior-mente. É de grande importância funcional, pois ele separa o córtex motor anteriormente do córtex somatossensorial posteriormente. O sulco central possui vários traços caracterís-ticos, que o tornam fácil de identifi car:

� Ele corre ininterruptamente do sulco lateral até a margem superior no hemisfério. � Sua parte inferior é separada, com mais frequência, do sulco lateral por uma

estreita ponte de córtex . � Sua parte superior indenta o ápice em cerca de 1 cm atrás do ponto médio . � Ele corre anteroinferior através da face superolateral do cérebro (convexa). � Está correlacionado anterior e posteriormente por dois sulcos paralelos, os sulcos

pré e pós-central.

VISÃO CLÍNICA

� O “Nó do Dedo” � O segmento médio do sulco central tem uma aparência bastante típica na RNM ( Fig. 11.6 ):

- Assemelha-se a um ômega invertido ou em maçaneta . - Esse segmento é conhecido como o “nó do dedo”, uma vez que corresponde à área cortical

que controla a função motora da mão . - Na origem desse aspecto, há interdigitação das paredes dos giros pré e pós-central. - O “nó do dedo” ajuda a identifi car o sulco central, que corresponde ao limite entre lobos

frontal e parietal.

Lobo forntal

Lobo parietal

FIGURA 11.6 Aparência do sulco central na RNM com a característica motora (círculo). Fonte: Cortesia de Rechdi Ahdab, MD. Lebanese American University Medical Center.

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CAPÍTULO 11: Córtex Cerebral 276

O sulco lateral (ou sulco de Sílvio) é uma fenda profunda no face superolateral do hemisfério.

� Sua curta haste surge na superfície inferior do hemisfério e divide-se em três ramos ( Figs. 11.5 e 11.7 ): � Ramo anterior � Ramo ascendente � Ramo posterior

� Uma ilha de córtex chamada de lobo insular situa-se profundamente ao sulco lateral. � O lobo insular não pode ser visto da superfície do cérebro, a não ser que os lábios

do sulco lateral estejam separados ( Fig. 11.5 ).

O sulco parietoccipital começa na margem superior do hemisfério a cerca de 5 cm anterior ao lobo occipital ( Figs. 11.5 e 11.8 ).

� Ele corre inferiormente na face medial cerebral. � Ele se fusiona com o sulco calcarino a cerca da meia extensão de seu comprimento.

O sulco calcarino é encontrado somente na face medial do hemisfério cerebral ( Figs. 11.5 e 11.8 ).

� Ele começa sob a extremidade posterior do corpo caloso. � Ele corre superior e posteriormente até encontrar o polo occipital, onde se

interrompe abruptamente. � Em alguns indivíduos, ele ainda pode continuar até a face superolateral do

hemisfério cerebral.

SSH

SSA

Sulco

front

al inf

erior

Sul

co c

entr

al

Sul

co p

ré-c

entr

al

SSP

FIGURA 11.7 Reconstrução tridimensional de RNM mostrando o sulco lateral (de Sílvio) e suas três divisões: ramo horizontal anterior (SSH), ramo ascendente anterior (SSA) e ramo posterior (SSP). Fonte: Cortesia de Rechdi Ahdab, MD. Lebanese American University Medical Center.

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Lobos dos Hemisférios Cerebrais 277

LOBOS DOS HEMISFÉRIOS CEREBRAIS

Os lobos do hemisfério cerebrais são fáceis de identifi car na face superolateral do hemis-fério cerebral, porém mais difícil de defi nir nas faces medial e inferior.

Face Superolateral do Hemisfério Cerebral

Lobo Frontal

O lobo frontal está limitado posteriormente pelo sulco central e inferiormente pelo sulco lateral. O lobo frontal divide-se em quatro giros por meio de três sulcos:

� Sulco pré-central � Sulco frontal superior � Sulco frontal inferior

Lobotemporal

Sulcolateral

A B

C D

Sulcolateral

Polooccipital

Occipitalpole

Lobotemporal

Polotemporal

BulboolfatórioBulbo

olfatório

Polofrontal

Lobofrontal

Lobofrontal

Lobolímbico

Loboparietal

Lobooccipital

Loboparietal

Sulcocentral

Sulcocentral Sulco

pós-centralSulco

intraparietal

Sulcosubparietal

Sulco docíngulo Sulco do

corpo caloso

Sulcocolateral

Sulcopré-central

Sulcos frontaissuperior e inferior

Sulcos temporaissuperior e inferior

Sulcocentral

SulcocalcarinoSulco

parietoccipital Sulcooccipitotemporal

FIGURA 11.8 Lobos e sulcos do hemisfério cerebral. (A) Os limites dos lobos frontal, parietal, occipital e temporal na face superolateral do hemisfério cerebral; (B) os limites dos lobos frontal, parietal, occipital, temporal e límbico na face medial do hemisfério cerebral; (C) principais sulcos na face superolateral do hemisfério cerebral; e (D) principais sulcos nas superfícies medial e inferior do hemisfério cerebral. Fonte: (Dissecção cortesia de Grant Dahmer, Department of Cell Biology and Anatomy, University of Arizona College of Medicine.) Vanderah, Todd W, PhD. Gross anatomy and general organization of the central nervous system. Nolte’s the human brain. p. 56–83, Chapter 3 .

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CAPÍTULO 11: Córtex Cerebral 278

O sulco pré-central corre paralelo ao sulco central e entre ambos os sulcos situa-se o giro pré-central . O sulco pré-central raramente é contínuo. Ele é tipicamente inter-rompido pelo sulco frontal inferior, que geralmente é contínuo posteriormente com o giro pré-central ( Fig. 11.9 ). Assim, didaticamente, o sulco pré-central é composto por dois sulcos separados:

� Sulco pré-central superior: � Corresponde a uma bifurcação posterior do sulco frontal superior. � Raramente alcança a fi ssura longitudinal do cérebro.

� Sulco pré-central inferior , que corresponde à bifurcação anterior do sulco frontal inferior

Os sulcos frontais superior e inferior dividem as áreas corticais, que são anteriores ao sulco pré-central em três giros ( Fig. 11.10 ).

� Giro frontal superior � Giro frontal médio � Giro frontal inferior

O sulco frontal superior ( Fig. 11.10 ): � Corre paralelo à fi ssura longitudinal do cérebro. � Posteriormente, fusiona-se com o sulco pré-central superior, formando uma

ramifi cação em formato de T.

O sulco frontal inferior ( Fig. 11.10 ): � Corre quase paralelo ao sulco lateral. � Fusiona-se posteriormente com o sulco pré-central inferior. � É frequentemente interrompido ao longo de seu curso.

Entre o sulco frontal inferior e o sulco pré-central inferior situa-se o giro frontal infe-rior , que apresenta uma segmentação particular. Os ramos anterior e ascendente do sulco lateral subdividem essa região cortical em três partes (de anterior para posterior) ( Fig. 11.11 ):

Sulco frontal superior

Sulco frontal inferior

SPCS

SPCI

Sul

co c

entra

l

FIGURA 11.9 Reconstrução tridimensional por RNM mostrando a anatomia do sulco pré-central. Este último tipicamente é interrompido e composto por um segmento posterior – o sulco pré-central superior (SPCS) – e um segmento anterior – o sulco pré-central inferior. Por conseguinte, o giro frontal médio geralmente está em comunicação com o giro pré-central (asterisco). SPCI, sulco pré-central inferior. Fonte: Cortesia de Rechdi Ahdab, MD. Lebanese American University Medical Center.

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Lobos dos Hemisférios Cerebrais 279

� Parte orbital � Parte triangular � Parte opercular

Lobo Parietal

O lobo parietal é defi nido por: � Sulco central anteriormente � Sulco parietoccipital posterior e inferiormente � Ramo posterior do sulco lateral inferiormente

Giro frontal superior

Giro frontal médio

Giro frontal inferior

Sul

co c

entra

l

SP

CI

SP

CSSFS

SFI

FIGURA 11.10 Reconstrução tridimensional por RNM mostrando os pontos de referência anatômicos do lobo frontal. Note que o sulco frontal inferior é frequentemente interrompido ao longo de seu curso (asterisco). SFI, sulco frontal inferior; SFS, sulco frontal superior; SPC, sulco pré-central. Fonte: Cortesia de Rechdi Ahdab, MD. Lebanese American University Medical Center.

SL

Sulco f

ronta

l infer

ior

Parte

orb

ital

Par

te tr

iang

ular

Par

te o

perc

ular S

PC

I

FIGURA 11.11 Reconstrução tridimensional por RNM mostrando a anatomia do giro frontal inferior. SL, sulco lateral; ramo anterior (vermelho), ramo ascendente (amarelo) e ramo posterior (branco). SPC, sulco pré-central. Fonte: Cortesia de Rechdi Ahdab, MD. Lebanese American University Medical Center.

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CAPÍTULO 11: Córtex Cerebral 280

A face superolateral do lobo parietal divide-se em três giros por meio de dois sulcos ( Fig. 11.12 ):

� Sulco pós-central: � Que corre paralelo ao sulco central. � Forma o limite posterior do giro pós-central.

� Sulco intraparietal: � Corre paralela à fi ssura longitudinal do cérebro. � Divide o córtex parietal que se situa posterior ao sulco pós-central em:

- Lóbulo parietal superior . - Lóbulo parietal inferior , que é composta, principalmente, por duas regiões

distintas: - Giro supramarginal , que se arqueia sobre a parte posterior do sulco

lateral, posterior à parte inferior do sulco pós-central. - Giro angular , que é posterior ao giro supramarginal.

Lobo Temporal

O lobo temporal situa-se inferior ao ramo posterior do sulco lateral. Na face superolateral do hemisfério cerebral é dividido por dois sulcos, que correm paralelos ao sulco lateral, em três giros ( Fig. 11.13 ):

� Giro temporal superior � Giro temporal médio � Giro temporal inferior

Lobo Occipital

O lobo occipital ocupa uma área restrita na face superolateral dos hemisférios, posterior-mente ao sulco parietoccipital ( Fig. 11.14 ).

Sulcosubparietal

Sulco do cíngulo(ramo marginal)

Ápice dosulco central

Lóbuloparacentral

Pré-cúneo

Sulcointraparietal

Lóbuloparietalsuperior

Sulco e giropós-centrais

Girosupramarginal

GiroangularA B

Sulcocalcarino

Sulcoparietoccipital

FIGURA 11.12 Faces lateral (A) e medial (B) do lobo parietal. Fonte: (Dissecção cortesia de Grant Dahmer, Department of Cell Biology and Anatomy, University of Arizona College of Medicine.) Vanderah, Todd W, PhD. Gross anatomy and general organization of the central nervous system. Nolte’s the human brain. p. 56–83, Chapter 3 .

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Lobos dos Hemisférios Cerebrais 281

Face Medial do Hemisfério Cerebral Vários sulcos e giros ( Fig. 11.15 ) marcam a face medial do hemisfério cerebral.

� Sulco do cíngulo � Sua parte anterior corre paralela ao corpo caloso. � Sua parte posterior, o ramo marginal do sulco do cíngulo , curva-se para cima

até a margem superior, posteriormente ao lóbulo paracentral. � Giro do cíngulo

� Começa sobre a extremidade anterior do corpo caloso. � Corre paralelo ao corpo caloso até alcançar seu polo posterior. � É separado do corpo caloso pelo sulco do corpo caloso .

Girostemporaissuperior,médio einferior

Sulcos temporaissuperior e inferior

A B

Girotemporalinferior

Girolingual

Sulcooccipitotemporal

Girooccipitotemporal

Sulcocolateral

Giro temporalsuperior

FIGURA 11.13 Face superolateral, medial e inferior do lobo occipital, vistas lateral (A) e medial e e inferior (B) . Fonte: (Dissecção cortesia de Grant Dahmer, Department of Cell Biology and Anatomy, University of Arizona College of Medicine.) Vanderah, Todd W, PhD. Gross anatomy and general organization of the central nervous system. Nolte’s the human brain. p. 56–83, Chapter 3 .

A BGiros

occipitais

Girolingual

Sulcocalcarino

Girooccipitotemporal

Cúneo

Sulcoparietoccipital

FIGURA 11.14 Faces superolateral, medial e inferior do lobo occipital, vistas lateral (A) e de medial e inferior (B) . Fonte: (Dissecção cortesia de Grant Dahmer, Department of Cell Biology and Anatomy, University of Arizona College of Medicine.) Vanderah, Todd W, PhD. Gross anatomy and general organization of the central nervous system. Nolte’s the human brain. p. 56–83, Chapter 3 .

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CAPÍTULO 11: Córtex Cerebral 282

� O lóbulo paracentral é a área do córtex cerebral que circunda a endentação do sulco central na margem superior. � Anteriormente é limitado pelo sulco pré-central . � Posteriormente é limitado pelo ramo marginal do sulco do cíngulo .

� O pré-cúneo é uma área do córtex limitada por: � Ramo marginal do sulco do cíngulo anteriormente. � Sulco parietoccipital posteriormente. � Sulco calcarino inferiormente.

� O cúneo é um a área triangular limitada por: � Sulco parietoccipital superiormente. � Sulco calcarino inferiormente.

Face Inferior do Hemisfério Cerebral Vários sulcos e giros ( Figs. 11.15 e 11.16 ) marcam a superfície inferior do encéfalo.

� O sulco colateral corre lateralmente ao sulco calcarino � Entre esses dois sulcos situa-se o giro occipitotemporal medial . � Anteriormente, o sulco colateral forma o limite lateral do giro para-hipocampal. � O giro para-hipocampal termina anteriormente como um gancho, chamado de

unco. � O giro occipitotemporal lateral estende-se do polo occipital ao polo temporal. Ele

é limitado por: � Sulcos colateral e rinal medialmente � Sulco occipitotemporal lateralmente

� Na face inferior do lobo frontal, o bulbo e o trato olfatórios estão subjacentes ao sulco chamado de sulco olfatório . O giro reto situa-se medial e uma série de giros orbitais situa-se lateral ao sulco olfatóri o.

Sulcooccipitotemporal

Sulcocolateral

Sulco docorpo caloso

Sulcodo cíngulo

SulcocentralSulco

subparietal

Sulcocalcarino

12

3

4

5 6

87

Sulcoparietoccipital

FIGURA 11.15 Principais sulcos e giros das faces medial e inferior do hemisfério cerebral. 1, giro do cíngulo; 2, giro paracentral; 3, pré-cúneo; 4, cúneo; 5, giro lingual; 6, giro para-hipocampal; 7, unco; 8, giro occipitotemporal medial. Fonte: (Dissecção cortesia de Grant Dahmer, Department of Cell Biology and Anatomy, University of Arizona College of Medicine.) Vanderah, Todd W, PhD. Gross anatomy and general organization of the central nervous system. Nolte’s the human brain. p. 56–83, Chapter 3 .

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Localização Funcional 283

LOCALIZAÇÃO FUNCIONAL

Localização funcional refere-se ao delineamento anatômico das áreas funcionais do córtex. Isto forma a base para a compreensão dos correlatos clínicos do dano a várias partes do encéfalo. Os mapas funcionais do córtex correlacionam-se bem às áreas citoarquitectônicas defi nidas por Brodmann (BA, área de Brodmann).

Sulcos e giros são importantes pontos de referência cortical e ajudam a localizar as áreas funcionais. Em alguns casos, há uma perfeita correlação entre um sulco e uma área funcional específi ca; isto aplica-se a todos os córtices primários. Por outro lado, a extensão exata dessas áreas corticais não podem ser determinadas com base na anatomia do sulco, mesmo ao lidar com os córtices primários. Seguem alguns exemplos:

� Embora o córtex motor primário seja sempre encontrado dentro do sulco central , sua margem anterior não corresponde ao sulco pré-central ou qualquer outro sulco.

� Similarmente, o córtex visual primário é sempre encontrado no sulco calcarino , mas suas margens externas não correspondem a um sulco.

� O córtex auditivo primário é sempre encontrado no giro temporal transverso anterior (de Hesch) , mas sua margem anterior também não pode ser defi nida por um ponto de referência anatômico.

A relação entre as áreas funcionais e os sulcos e os giros circundantes é defi nida até de maneira mais livre para a maioria dos córtices secundários e áreas de associação. Aqui, sulcos e giros são extremamente variáveis, e a exata localização dessas áreas não pode ser determinada confi avelmente com base em pontos de referência anatômicos.

Algumas funções corticais não são distribuídas igualmente entre os dois hemisférios, sendo um hemisfério dominante para essa função específi ca. Este é o caso da linguagem , por exemplo, que é uma função do hemisfério esquerdo na maioria das pessoas.

Girooccipitotemoral

Sulco colateral

Giropara-hipocampal

Unco

Sulco rinal

Mesencéfalo

Tálamo

Corpo caloso

Occ

FIGURA 11.16 Sulcos e giros da face inferior do hemisfério cerebral (anterior na direção do alto do diagrama). Occ, lobo occipital. Fonte: (Dissecção de Grant Dahmer, Department of Cell Biology and Anatomy, The University of Arizona College of Medicine.) Nolte, John, PhD. External anatomy of the brain. The human brain in photographs and diagrams. p. 1–21, Chapter 1 .

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CAPÍTULO 11: Córtex Cerebral 284

VISÃO CLÍNICA

� Localização do Córtex Motor Uma concepção errônea frequente é considerar o giro pré-central como o córtex motor primário. De fato, o volume do córtex motor primário está oculto dentro do sulco central, e a maior parte do giro pré-cen-tral exposto corresponde ao córtex motor secundário. Consequentemente, o dano restrito às partes mais anteriores do giro pré-central pode ter pouco impacto sobre o comando motor.

Cortex Sensorial O córtex sensorial está organizado de maneira hierárquica, e as informações que alcançam essa área são processadas em uma ordem muito precisa. As informações sensoriais que se originam nos receptores são transmitidas para o tálamo e deste chegam às diferentes partes do córtex sensorial na seguinte ordem:

� Área sensorial primária � Recebe dados provenientes do tálamo . � Especializada na detecção e na decodifi cação das propriedades básicas do

estímulo, tais como sua localização e intensidade. � Córtex sensoriais secundários analisam, ainda, o estímulo à luz de experiências

anteriores na tentativa de identifi car sua natureza precisa. � Áreas de associação sensorial

� Integram as informações das diferentes modalidades sensoriais. � Esse último estágio do processamento fornece a percepção consciente do

estímulo e ajuda a iniciar os planos para uma reação apropriada.

Córtex Somatossensorial Primário

O córtex somatossensorial primário (SI) analisa as informações sensoriais, como tato, pressão, posição articular, temperatura e vibração. Essa área:

� Localiza-se ao longo do giro pós-central do lobo parietal ( Fig. 11.17 ). � Corresponde a BA 1-3 . � Recebe dados dos núcleos talâmicos anterior posterolateral (VPL) e anterior

posteromedial (VPM) . � É organizado de uma maneira somatotópica precisa ( Fig. 11.18 ).

� A face e a cabeça são representadas posterolateralmente . � Os membros inferiores são representados medialmente . � Os membros superiores são representados em uma posição intermediária .

Muitas áreas sensitivas, como as mãos e a boca, têm representações desproporcionalmente grandes , que permitem uma discriminação sensitiva mais precisa.

Córtex Somatossensorial Secundário

O córtex somatossensorial secundário (SII) localiza-se na margem superior do sulco lateral , exatamente inferior ao sulco central. Essa área:

� Recebe informação sensorial de � SI . � Núcleos talâmicos menos específi cos.

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Localização Funcional 285

Córtexauditivoprimário

Área deWernicke Áreas de

associaçãovisual

Córtexvisual

primário

Áreas deassociaçãosensorial

Córtexsomatossensorialprimário

Sulcocentral

Córtexmotor

primárioCórtex

pré-motorÁreas de

associaçãopré-frontal

Área deBroca

FIGURA 11.17 Locais anatômicos clássicos das áreas corticais funcionais. Fonte: Mangrum, Wells I. Functional magnetic resonance imaging. Duke review of MRI principles: case review series. p. 265–278, Chapter 17 .

Sulcocentral

Faringe

LínguaGengivasDentes

Pés

Genitália

Dedosdo pé

LábiosLínguaLaringe

Tornozelo

Joelho

Lábios

Face

Nariz

Olhos

Dedos

Mão

Cotovelo C

otov

elo

Pun

ho

Dedos

da

mão

Polegar

Pescoço

Sobrancelha

Pálpebras

Narinas

Cabeça

Pescoço

Tronco

Tron

coO

mbr

oQuadril QuadrilPerna

Sensorial Motor

Perna

Mão

Face

FIGURA 11.18 Organização somatotópica dos córtices sensorial primário e motor. Fonte: Waldman, Steven D, MD, JD. The posterior column pathway. Pain review. p. 174–175. Chapter 100 .

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CAPÍTULO 11: Córtex Cerebral 286

� Responde aos estímulos bilaterais. � Tem precária organização somatotópica. � Serve como uma função integrativa .

Córtex de Associação Somatossensorial

O córtex de associação somatossensorial está localizado no córtex parietal posterior ( BA 5 e 7 ), diretamente posterior ao SI . Essa área:

� Recebe informação sintetizada de SI e SII . � Está envolvido em:

� Integração de alto nível de informações sensoriais. � Processo de aprendizagem . � Memória do ambiente tátil e espacial circundante.

VISÃO CLÍNICA

� Astereognosia Quando um objeto é colocado na mão, o córtex somatossensorial transforma os dados sensoriais em informações espaciais sobre o objeto. Um correlato clínico do dano a essa parte do córtex é a astereognosia , que é a incapacidade de discriminar o tamanho e a forma dos objetos. Foi este o caso de um homem de 52 anos com sangramento cortical no giro pós-central direito ( Fig. 11.19 ). O paciente era incapaz de reco-nhecer uma chave ou uma caneta pelo tato, quando postos em sua mão esquerda. Ele também descobriu que tem agrafestesia , que é a incapacidade de reconhecer a escrita feita na pele somente por meio da sensação de tato.

Córtex Visual O córtex visual primário (ou córtex estriado; BA 17 ) circunda o sulco calcarino na face medial dos lobos occipitais ( Fig. 11.20 ).

� Ele discerne intensidade , formato , tamanho e localização dos objetos no campo visual.

� Ele é organizado retinotopicamente. � O campo visual superior é representado inferiormente ao sulco calcarino. � O campo visual inferior é representado superiormente ao sulco calcarino. � A visão central é representada no polo posterior do lobo occipital .

� Uma quantidade desproporcionalmente grande de córtex é reservada para a visão central.

� Informação visual é, então, transferida para as áreas visuais secundárias ( córtex visual secundário e associativo ; BA 18 e 19) e para os giros temporal médio e inferior ( BA 20 e 21 ). � Essas regiões são importantes para a percepção de cor , movimento e

profundidade . � A informação visual fi nalmente alcança o córtex de associação somatossensorial :

� O lobo parietal (BA 5 e 7 ) para o processamento de características espaciais e movimento .

� Lobo temporal para reconhecimento de objeto .

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Localização Funcional 287

Córtex Auditivo O córtex auditivo primário (AI; BA 41) está localizado dentro do sulco lateral na parte superior do giro temporal superior ( Figs. 11.4 e 11.17 ).

� A área AI é encontrada no giro temporal transverso anterior . � Ele é organizado tonotopicamente:

� O córtex auditivo anterior recebe sons de alta frequência. � O córtex auditivo posterior recebe sons de baixa frequência.

� Sons unilaterais são representados em ambos os hemisférios.

O córtex de associação auditiva ( BA 22 e 42 ) está localizado ao longo da margem superior do giro temporal médio . Ele é especializado na classifi cação e na preservação da memória dos sons.

FIGURA 11.19 RNM axial mostrando um sangramento no córtex parietal direito (seta) no sulco pós-central. Os asteriscos marcam o sulco central e seu característico “nó do dedo”. Fonte: Cortesia de Rechdi Ahdab, MD. Lebanese American University Medical Center.

30 graus temporais

10 a 60 graus

10 graus centrais(maculares)

FIGURA 11.20 Organização retinotópica do córtex visual primário (corte no nível dos sulcos calcarinos, vistas inferiormente; a margem inferior do lobo occipital está cortada). Aproximadamente 55 a 60% da área de superfície do córtex visual primário, localizada posteriormente, é responsável pelos 10 graus de visão central. O córtex visual primário serve aos 30 graus temporais do campo visual do olho contralateral. Fonte: Liu, Grant T, MD. Retrochiasmal disorders. Neuro-ophthalmology: diagnosis and management. p. 293–337, Chapter 8 .

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CAPÍTULO 11: Córtex Cerebral 288

VISÃO CLÍNICA

� Área de Wernicke No hemisfério dominante, o córtex circundando SII está envolvido na compreensão da linguagem e é defi nido como área de Wernicke ( Fig. 11.17 ). O dano a essa área resulta na incapacidade de compreender a linguagem falada e escrita.

Córtex Motor A função motora é mediada por várias regiões do córtex frontal . Similar ao córtex somatos-sensorial, o córtex motor é subdividido em diferentes regiões, cada qual é especializada por um fator específi co na produção de movimento.

Córtex Motor Primário (BA 4)

O córtex motor primário (M1) ocupa a parede anterior do sulco central e somente uma parte limitada da superfície exposta do giro pré-central, especifi camente sua parte pos-teromedial ( Fig. 11.21 ).

� Anteriormente, M1 está ocultado na profundidade do sulco central. � M1 é a origem de uma grande proporção das fi bras corticoespinais . � Similar ao córtex somatossensorial

� M1 é somatotopicamente organizado com uma representação invertida do corpo ( Fig. 11.18 ).

� A mão e a boca têm áreas desproporcionalmente grandes. � Ele executa os movimentos voluntários .

Córtex Pré-motor

O córtex pré-motor (BA 6) situa-se anterior ao M1 no lobo frontal ( Fig. 11.21 ). Ele � Recebe informações do córtex de associação pré-frontal . � Envia dados para o tronco encefálico, núcleos da base e cerebelo, bem como para o

córtex motor primário.

Sul

co c

entra

l

Sulco lateral

FIGURA 11.21 Localização cortical do córtex motor primário (azul-escuro), córtex pré-motor (azul-claro) e área de Broca (vermelho). Fonte: Cortesia de Rechdi Ahdab, MD. Lebanese American University Medical Center.

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Localização Funcional 289

� É funcionalmente dividido em duas áreas, anterior e posterior . � Está envolvido na seleção de um movimento específi co ou uma sequência de

movimentos do repertório de possíveis movimentos.

Área Motora Suplementar

A área motora suplementar (BA 6 superior) situa-se na face medial do giro frontal superior , anterior à representação da perna dentro do M1. Ela

� Recebe dados do córtex de associação pré-frontal . � É especializada em:

� Planejamento de movimentos bimanuais complexos e sequenciais . � Coordenação de respostas motoras aos estímulos sensitivos.

VISÃO CLÍNICA

� Apraxia � O dano ao córtex pré-motor leva à apraxia , que é a incapacidade de realizar movimentos

aprendidos apesar da presença da sensação e da força motoras normais. A apraxia é o resultado da perda dos programas motores que instruem os neurônios motores sobre como executar um comando. Estas são algumas características apráxicas: - Como posicionar a mão e o braço de uma pessoa para interagir com uma ferramenta ou um

objeto - Como orientar o membro na direção do alvo - Como movimentar o membro no espaço - Como escolher a velocidade correta do movimento - Como ordenar uma série de atos levando a um objetivo - Com aproveitar as propriedades mecânicas dos instrumentos

� Alternativamente, a apraxia algumas vezes é o resultado de lesões que interrompem conexões entre o córtex de associação parietal e o córtex pré-motor

Áreas Funcionais Adicionais Outras áreas funcionais importantes incluem:

� Área de Broca (BA 44 e 45) � Corresponde às partes opercular e triangular do giro frontal inferior no

hemisfério dominante ( Figs. 11.4, 11.11 e 11.17 ). � É responsável pela programação motora da fala . � A lesão resulta em afasia expressiva (ou motora) , na qual os pacientes têm

difi culdade em produzir a linguagem escrita e falada. � Campo ocular frontal (BA 8)

� É localizado anterior à área pré-motora no córtex pré-frontal ( Fig. 11.4 ). � Controla os movimentos conjugados horizontais do olho no lado

contralateral .

Áreas de Associação Cortical As áreas de associação cortical são as partes do córtex cerebral que não pertencem às regiões primárias. Elas funcionam para produzir uma signifi cativa experiência perceptiva do mundo, permitindo-nos interagir efetivamente e apoiar o pensamento abstrato e a

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CAPÍTULO 11: Córtex Cerebral 290

DISCUSSÃO DE CASO CLÍNICO

O adequado conhecimento da anatomia dos sulcos e giros fornece a chave para compreender os correla-tos clínicos do dano ao cerebral. A paciente teve uma convulsão motora parcial que inicialmente envolveu a

mão, sugerindo que a lesão foi próxima a “motora do

membro superior” ( lesão 2 ). Espera-se que o cres-cimento adicional dessa lesão danifi que o córtex motor e cause paralisia do membro superior contralateral.

linguagem . As áreas de associação cortical integram e interpretam os estímulos sensitivos de todas as modalidades e planejam e executam comportamentos em resposta aos estímulos.

Área Pré-frontal

A área pré-frontal ( BA 9-12) é extremamente bem desenvolvida em humanos ( Figs. 11.4 e 11.17 ).

� Ela possui extensas conexões com os vários córtices sensoriais , sistema límbico e tálamo .

� É composta por duas porções principais: � O córtex pré-frontal posterolateral , que está primariamente envolvido em

funções executivas (planejamento e execução de um objetivo). � O córtex pré-frontal orbitofrontal , que está envolvido no controle de impulsos ,

personalidade e reatividade ao humor e ao entorno. � A região anterior do giro do cíngulo tem um importante papel no controle do

humor .

VISÃO CLÍNICA

� Lesão ao Córtex Pré-frontal Orbitofrontal O exemplo mais surpreendente da função do lobo frontal é proveniente de pacientes com dano do córtex pré-frontal orbitofrontal. Essa síndrome compreende um grande número de sintomas que incluem diminuição da atividade espontânea, perda de atenção, perda do pensamento abstrato e alterações no afeto, entre outros.

Área Parietal Posterior

A área parietal posterior ( BA 5 e 7 ) está localizada posterior ao giro pós-central e anterior ao córtex visual.

� Essa região está ligada a: � Áreas sensorial e cortical visual em um lado, � Áreas de associação pré-motora e pré-frontal do outro.

� Seu papel é processar informações sensoriais das múltiplas modalidades, diferentes e enviar essa visão integrada do ambiente para as áreas de associação pré-motora e pré-frontal para gerar uma resposta apropriada.

VISÃO CLÍNICA

� Agnosia Visual O dano ao córtex de associação visual na parte inferior dos lobos occipital e temporal causa agnosia visual , que é a incapacidade de reconhecer objetos pela visão apesar da percepção visual normal. O reconhecimento de objetos através de outras modalidades além da visão (por exemplo, tato) é tipicamente normal. Défi cits similares foram observados em pacientes com défi cits auditivos (agnosia auditiva) ou tátil (agnosia tátil).

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Youssef G. Comair, MD, FRCSCProfessor of Neurosurgery

Clemenceau Medical Center, Beirut, Lebanon

Fundamentos de Neuroanatomia:Um Guia Clínico