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CRUZ E SOUSA: a expressão da desigualdade
Rosalina Maria Huffner Pardal 1
Keli C. Pacheco 2
RESUMO
O presente artigo refere-se à aplicação do trabalho pedagógico desenvolvido com os alunos da turma 3AX, do curso de Formação Docentes, sobre o tema “Cruz e Souza e a expressão da desigualdade”, como parte do trabalho realizado durante o período dedicado ao Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) 2010/2012. Este trabalho pretendeu efetuar um estudo crítico dos poemas “Escravocratas”, “Litania dos pobres”, “Crianças negras” e “Da senzala”, estabelecendo relação entre a época em que foram escritos e a atualidade. Procurou verificar como as situações retratadas pelo poeta (Cruz e Sousa) em relação às desigualdades sociorraciais são práticas presentes nos dias de hoje, bem como, possibilitar aos educandos um novo olhar sobre os poemas do Cisne Negro. Para tanto, o objetivo geral deste estudo é realizar a leitura e análise crítica dos poemas de Cruz e Souza, estabelecendo relações e comparações, no que tange à desigualdade social e racial, entre a época em que foram produzidos os textos e a realidade atual. Foi possível observar que quando se faz o uso de estratégias diversificadas e propõem-se atividades que desafiem os alunos, eles mantêm-se atentos e cooperativos. A leitura, a análise e a discussão dos textos foram importantes no sentido de motivá-los criando neles o desejo de expressar suas emoções e fazer a comunicação. Cabe ressaltar que o interesse pelos poemas expandiu-se para a literatura como um todo.
Palavras- chave: educação; Cruz e Sousa; desigualdade racial; preconceito.
1 INTRODUÇÃO
Este artigo tem por finalidade apresentar o desenvolvimento das atividades
realizadas durante o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), no período
de 2010/2012. A implementação das atividades foi realizada no município de
Clevelândia - PR, no Colégio Estadual João XXIII - EFMN, situado na Rua da
1 Graduada em Língua portuguesa e Literatura Portuguesa e Brasileira pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Palmas-PR. Pós-graduada em Linguística Aplicada ao Ensino de Línguas-opção Língua portuguesa pelo Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná - CEFET-PR. Professora do Colégio Estadual João XXIII-EFMN. 2 Doutora em Literatura pela UFSC. Foi professora do Departamento de Letras da UNICENTRO entre os anos de 2010 e 2012. Atualmente é professora adjunta, do Departamento de Letras, na UEPG – PR.
Liberdade, 417, pertencente ao Núcleo Regional de Educação (NRE) do município
de Pato Branco.
Com base nesta proposta didática, o presente trabalho propôs, inicialmente,
a análise de alguns poemas do poeta Cruz e Souza: poeta negro, filho de escravos,
nascido em Desterro (Santa Catarina), em 1861. O autor desenvolveu sua atividade
literária durante o processo da abolição da escravidão e após ele.
Por muito tempo, foi “crucificado” por alguns críticos, que afirmavam ser ele
um negro que não lutava pela causa negra, por não denunciar as injustiças que seus
pares sofriam no Brasil. Porém, quando se aprofunda o estudo da obra deste “Cisne
Negro”, percebe-se que, a seu modo, sem levantar bandeira, sem grandes
rompantes, ele lutou pela causa negra. Os quatro poemas “Escravocratas”, “Da
Senzala”, “Litania dos pobres”, “Crianças negras”, e muitos outros, desmistificam a
ideia construída de que Cruz e Sousa era um poeta indiferente à escravidão do
negro, derrubando o mito de que o poeta não havia se interessado pela questão
sociorracial.
Foi através de leituras a respeito do tema e da percepção da necessidade de
se estimular nos alunos o interesse pela leitura, de modo a se ir além do que as
críticas impõem, que foi despertado o interesse pelo tema proposto.
Por meio das obras referidas, pretendeu-se motivar os educandos a lerem
as obras do autor, no intuito de conscientizá-los criticamente a respeito de literatura
e de temáticas sociorraciais.
Ao longo dos estudos, deu-se ênfase aos poemas que mostram a revolta do
poeta contra a condição desumana dos negros, dos humilhados e dos miseráveis.
Ou seja, de uma parcela descriminada e dominada pela sociedade; a qual retrata
que, embora as conjunturas atuais sejam diferentes, muitos dos preconceitos
atualmente vigentes, são provenientes de relações desiguais de poder e de
dominação que, desde aquela época até hoje, permeiam a sociedade.
Assim, esta pesquisa tem como justificativa a necessidade de trabalhar com
os alunos a importância do respeito à diversidade e à tolerância; condenando
atitudes racistas e preconceituosas, construídas ao longo do tempo, através de
mitos e preconceitos sociais e culturais. Isso, com o intuito ainda maior de
possibilitar, de alguma maneira, que as desigualdades sejam reduzidas e que a
criticidade sejam desenvolvida pelos alunos nos mais diversos âmbitos. Tornando
viável a emancipação e autonomia, na atuação por uma sociedade mais justa.
Destaca-se que, o docente e a educação, enquanto formadores, não podem
ser indiferentes ao racismo, ao preconceito e à intolerância.
Quanto à caracterização da pesquisa, esta é de cunho qualitativo, pois como
enfatiza a citação a seguir:
Neste tipo de pesquisa, se busca descrever a complexidade de uma determinada hipótese ou problema, compreendendo e classificando processos experimentados por grupos sociais. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa. Não requer métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados (GIL, 1999, apud DAROLT, 2009, p. 2-3).
Procurou-se, então, analisar os poemas de Cruz e Sousa numa perspectiva
de quebra de paradigma, não se atendo apenas às características simbolistas, mas
enfatizando a questão social, o contexto social excludente em que ele (negro e
pobre) estava inserido.
Possibilitou-se aos educandos um novo olhar perante os poemas de Cruz e
Sousa, sensibilizando-os a respeito do valor da experiência vivida pelo poeta e sua
luta contra a escravidão, por meio de suas palavras.
Para tanto, trabalhou-se dentro do Método Recepcional, elaborado pelas
professoras Maria da Glória Bordini e Vera Teixeira de Aguiar, o qual é sugerido nas
DCEs (2008). Neste método, o leitor é visto como um sujeito ativo no processo de
leitura tendo voz em seu contexto, efetuando assim leituras compreensivas e
críticas, além de ser receptivo a novos textos e a leitura de outrem.
Espera-se que os educandos respeitem as diferenças, conscientes de seu
valor para a transformação da sociedade atual, e ainda busquem transformar a
sociedade em um lugar mais justo, igualitário e culto.
Utilizou-se da leitura literária, objetivando não só, despertar no aluno a
sensibilidade estética e o interesse para com os poemas do poeta, bem como a
percepção de como a realidade social e psicológica pode transformar-se em
estrutura literária.
Quanto ao público alvo a implementação destinou-se aos alunos do 3° AX
do curso de Formação Docentes. O trabalho foi desenvolvido no contraturno, no
espaço físico do Colégio Estadual João XXIII-EFMN, nas salas: de informática, de
aula e multimídia, salão nobre e biblioteca.
No decorrer dos estudos, os educandos fizeram uso de diversas fontes de
pesquisa (livros, textos impressos, recursos online e filmes). Também foram
ministradas quatro palestras objetivando preparar os alunos para uma melhor
compreensão das temáticas abordadas durante o andamento do projeto. No
percurso da implementação da unidade didática, ocorreram questionamentos e
reflexões que objetivaram comprometer os alunos com a proposta.
Dessa forma, ao preparar os conteúdos a serem desenvolvidos com os
alunos, buscou-se auxílio na DCEs (2008), utilizando a metodologia que oportuniza
a interdisciplinaridade, a discussão do problema, a contextualização e a
sensibilização. Essas estratégias visaram re-contextualizar e ampliar o
conhecimento a respeito da obra de Cruz e Sousa, bem como os poemas já citados.
O objetivo geral dessa pesquisa é realizar a leitura e análise crítica dos
poemas de Cruz e Souza, estabelecendo relações e comparações, no que tange à
desigualdade social e racial, entre a época em que foram produzidos os textos e a
realidade atual. Como objetivos específicos, destacam-se: efetuar um estudo crítico
dos poemas “Escravocratas”, “Litania dos Pobres”, “Crianças Negras” e “Da
senzala”; possibilitar aos educandos um novo olhar sobre os poemas de Cruz e
Sousa; sensibilizar os alunos a respeito do valor da experiência vivida pelo poeta;
contextualizar historicamente a vida e a obra de Cruz e Sousa, apresentando uma
visão crítica sobre a tese das raças, surgidas no cenário brasileiro por volta de 1870;
verificar como as situações retratadas pelo poeta em relação às desigualdades
sociorraciais são práticas presentes nos dias de hoje; estimular o espírito crítico do
educando, com a intenção de contribuir para formar uma geração de jovens mais
conscientes de seus direitos, deveres e responsabilidades.
Para avaliar as atividades desenvolvidas com os alunos, foram construídas
estratégias que demonstraram o que o aluno adquiriu de conhecimento com relação
aos conteúdos propostos, estas por meio de avaliação inicial, diagnóstica e
formativa.
Portanto, os resultados alcançados foram observados por meio da criticidade
e sensibilidade dos alunos ao contextualizarem as injustiças praticadas contra o
negro e a maneira que Cruz e Sousa usou para denunciá-las.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 DA LEITURA À LITERATURA – IMPORTANTES CONSIDERAÇÕES
Littera em latim significa “letra”, logo, literatura, é a arte que se expressa
através da escrita. A partir do século XVIII, passou a significar a arte de se expressar
livremente através da palavra. No entanto, em literatura, a matéria-prima do artista é
a escrita, com a qual ele trabalha de modo original, para atingir a beleza formal ou
expressar uma realidade sob seu ponto de vista. Independente de qual seja a
intenção, o artista unirá o real ao imaginário ao trabalhar com a linguagem a partir
das relações sugeridas pela sua percepção de realidade.
No texto “Aula”, Barthes (2007, p. 16) descreve:
[...] trapacear com a língua, trapacear a língua. Essa trapaça salutar, essa esquiva, esse logro magnífico que permite ouvir a língua fora do poder, no esplendor de uma revolução permanente da linguagem, eu a chamo, quanto a mim: literatura.
É importante frisar que, para apreciar leitura literária, é indispensável querer
lê-la, compreendê-la, porém, isto não é fácil de acontecer numa sociedade que está
deixando de lado o livro, numa sociedade em que gostar de ler não é considerado
tão natural como deveria. Então, o que se deve fazer é, primeiramente, incentivar a
leitura na escola.
Para tanto, o professor deve deixar o papel de apenas transmitir
informações, mas sim, convidar o aluno à reflexão, à participação e à ação. Levá-lo
a entender que a literatura é compreendida e interpretada por meio da leitura.
A leitura – que era de início, uma atividade que se prescrevia para enredar as pessoas nas malhas das palavras – converteu-se em gesto de afirmação de singularidade. Tornou-se um atalho, cada vez mais utilizado, para escapar do tempo e do lugar em que supostamente se deveria estar; escapar desse lugar predeterminado, dessa vida estática e do controle mútuo que uns exercem sobre os outros (PETIT, 2008, p. 27-28).
É necessário que o educando tenha seu emocional harmonizado à leitura,
como algo vinculado a seus anseios, aspirações, um meio de realizações de suas
possibilidades. Todos que trabalham com crianças, adolescentes e jovens são
responsáveis por fazê-los criarem laços firmes com a leitura. Ao tomar gosto por
diferentes leituras, diferentes assuntos, o indivíduo vai amadurecendo sua
personalidade, construindo seu eu.
“O tempo para ler, como o tempo para amar, dilata o tempo para viver... A
questão não é de saber se tenho tempo para ler ou não (tempo, aliás, ninguém me
dará), mas se me ofereço ou não à felicidade de ser leitor.” (PENNAC, 1993, p. 119).
Há urgência em desenvolver nos educandos o gosto, o prazer pela leitura. É
necessário que toda sociedade perceba esta necessidade, porém, cabe
principalmente aos profissionais da educação notar que:
O dever de educar consiste, no fundo, ensinar as crianças a ler, iniciando-as na literatura, fornecendo-lhes meios de julgar livremente se elas sentem ou não a “necessidade de livros”. Porque, se podemos admitir que um indivíduo rejeite a leitura, é intolerável que ele seja rejeitado por ela. É uma tristeza imensa, uma solidão dentro da solidão, ser excluído dos livros – inclusive daqueles que não nos interessam (PENNAC, 1993, p. 145).
Dentro desse aspecto sobre a leitura, acostumou-se a chamar de poesia
apenas obras em verso, isto é, o poema. Mas a poesia pode existir em qualquer
lugar: na prosa, no poema, na noite, no amor e na dor. Ela é sensibilidade, a
verdade de um momento, o acontecimento, a prova que não se vê apenas com e
através das palavras.
2.2 CRUZ E SOUSA: O POETA
Cruz e Sousa é considerado pela crítica com um dos maiores poetas da
escola simbolista brasileira.
Em relação à temática, a poesia de Cruz e Sousa apresenta uma dicotomia
cujos extremos são os poemas de denúncia das injustiças, de luta pelas liberdades
individuais e pela igualdade social que aparecem claramente nos poemas de sua
juventude, como “25 de março”, “Escravocratas”, “Sete de setembro”, “Auréola
Equatorial”, “Litania dos pobres”, “Da senzala”, entre outros.
A seguir, segue trecho do Litania dos Pobres, encontrado no livro Faróis.
“Litania dos pobres / Os miseráveis, os rotos / São as flores dos esgotos / São
espectros implacáveis / Os rotos, os miseráveis / [...] / Ó pobres! Soluções feitos /
Dos pecados imperfeitos!” (CRUZ E SOUZA, citado em TEIXEIRA, 2004, 111).
Expõe-se na sequência, trecho do poema “Da senzala”. “De dentro da
senzala escura e lamacenta / Aonde o infeliz / De lágrimas em fel, de ódio se
alimenta. / Tornando meretriz. / [...]”. (CRUZ E SOUZA, citado em ANDRADE, 1987,
p. 184)
Por outro lado, observa-se no poeta a busca do Absoluto, da conquista do
Ideal, como se vê no poema “Sorriso Interior”:
O ser que é ser e que jamais vacila / Nas guerras imortais entra sem susto, / Leva consigo este brasão augusto / De grande amor, da grande fé tranqüila / [...] O ser que é ser transforma tudo em flores... / E para ironizar as próprias dores / Canta por entre as águas do dilúvio! (CRUZ E SOUZA, ano, apud ANDRADE, 1987, p. 766).
2.3 CRUZ E SOUSA E A CAUSA DO NEGRO
Cruz e Sousa nasceu em Florianópolis, antiga Desterro – Santa Catarina e faleceu em 1898, em Minas Gerais, onde foi tentar curar-se da tuberculose. Negro, filho de escravos,foi educado pelo marechal de campo Guilherme Xavier de Sousa e sua esposa. Recebeu uma educação de branco. Negro sem mescla, filho de escravos, Cruz e Sousa teve, porém, uma educação aprimoradora das suas naturais aptidões artísticas. Cedo, no entanto, entra em contato com uma sociedade que o indiferencia, quando não o repele. Sente-se um acossado. Vê-se agredido por toda uma delimitação cromática sobrevivente e atuante. Delimitação que se levanta diante dele como um muro, como uma parede de impossível transposição. Que se apropria dele, que o imobiliza, que o transforma num ser demissionário: um emparedado. É da condição de emparedado, da dor do emparedado, nasce a substância trágica com que ele reagirá. Ainda há pouco chamei a atenção, no meu África: Colonos e Cúmplices, para o que me parecia ser a primeira manifestação poética da negritude de categoria universal. A negritude como projeção da alma negra em estado de revolta. Encontro em Cruz e Sousa o antecessor distante dos Lespold Sedar Senghor, dos Nicolas Guillén, dos Ame Cesaire. Um antecessor sem dúvida mais trágico. O emparedado empunha a sua arte como revida. E o faz de modo trágico. Convence-se de que o simbolismo poderá ser inclusive o instrumento de sua resposta ao septo social. Era o simbolismo, a possibilidade de ascensão. O caminho da Originalidade, da Iluminação. E realmente o foi. Por intermédio dele, de um instante poético dos mais altos de toda a nossa história literária, Cruz e Sousa se fez conquistador do Absoluto (COUTINHO, 1979, apud PORTELLA, 1961, p. 305-306).
Alguns críticos, como Fernando Góes, acreditavam que Cruz e Sousa era
alienado, e que não se preocupava com a causa negra. Outros, como Andrade
Muricy, pensavam de maneira diversa. Assim, pode-se ver os dois contrapontos: no
estudo introdutório que escreve em 1943, para uma nova edição da obra completa
de Cruz e Sousa, o crítico Fernando Góes comenta o fato de não haver na
bibliografia sobre o poeta, até aquela data, uma informação documentada sobre sua
participação efetiva no movimento de emancipação dos escravos. Achava curioso
que sendo voz geral em todos que escreveram sobre Cruz e Sousa, a afirmação de
que ele combateu pela extinção do cativeiro, nenhum crítico tinha documentado tão
importante fato.
[...] Ficou por muito tempo como um atestado de alienação do poeta, achando o crítico que no fundo ele era um masoquista, ‘que cultivou a dor, cultivou o sofrimento, que achava necessário ao artista, como mais uma vez escreveu’. Por fim conclui dizendo que Cruz e Sousa entocou-se na torre de marfim, ‘nela fechou-se a sete chaves, e esse foi o seu grande mal, porque o homem precisa do homem’. Quando em 1961 preparou a edição da obra completa de Cruz e Sousa, comemorativa ao centenário de nascimento, o crítico Andrade Muricy fez importante recolha de dispersos, entre eles algumas páginas abolicionistas (SOARES, 1988, p. 71-72).
Deve-se também acrescentar a série intitulada “Histórias Simples”. São oito
narrativas que abordam o tema do cativeiro. Segundo Soares (1988, p. 73), “[...] Na
prosa cruz-e-souseana é o texto de maior coesão, diferenciando-se dos demais pela
amplitude de assunto e intenção.”
Nessas narrativas, Cruz e Sousa, intencionalmente, mostra as três faces do
problema (negro – escravidão – abolição). De acordo com Soares (1988, p. 73):
A lição dessas ‘Histórias Simples’ mostra o autor tentando, de forma superior, conscientizar o público de um problema que crescia. E mostra, sobretudo, que a abolição não era só uma questão de uma minoria, mas que seu ideário sendo mais amplo precisava de solidariedade irrestrita. Para isso era indispensável o engajamento de todos.
Não se pode deixar de lembrar da sociedade carnavalesca “Diabo a Quatro”,
a qual contava entre seus componentes com o poeta Cruz e Sousa. Essa sociedade
liderava em Desterro, Santa Catarina, a campanha abolicionista, sob a liderança de
Manoel Joaquim Silveira Bittencourt, vulgo Artista Bittencourt. No ano de 1887,
iniciou um movimento em favor da emancipação dos cativos da capital catarinense.
Carlos Dante de Moraes, em seu texto “Variações sobre um Poeta Negro”,
defende a ideia de que Cruz e Sousa em alguns poemas sofreu a influência de sua
origem genuinamente africana.
Num Ensaio de Juventude, buscou-se uma vez o que haveria em Cruz e
Sousa de mais especificamente africano e verificou-se que a resposta nos era dada
por seus profundos instintos musicais (‘O Cisne Preto’, em ‘Viagens Interiores’). Nos
seus ritmos, há, às vezes, um frenesi histérico de dança, de sacudidas
compassadas, de bamboleio e rodopio. E também rascar de cordas, melodias
graves, notas agudas, síncopes, pausas e ondulações nervosas. Nos versos
quebrados de seis e 10 sílabas, depara-se com frequência um ritmo sacudido,
picado, em que o acento recai repetidamente nas sílabas com b e t, formando
assonâncias muito particulares e vogais surdas. ‘Ébrios e Cegos’ é um exemplo
característico.
Algumas estrofes, destacadas, denunciam essa particularidade:
Era tateante, vago / De ambos o andar, aquele andar tateante / De ondulação de lago, / Tardo, arrastado, trêmulo, oscilante. / E tardo, lento, tardo, / Mais tardo cada vez, mais vagaroso, / No torvo aspecto pardo / De tarde, mais o andar era brumoso. / Bamboleando no lodo, / Como que juntos resvalando aéreos, / Todo o mistério, todo / Se desvendava desses dois mistérios. / ............... / Ninguém diria nunca, / Ébrios e cegos, todos dois tateando, / A que atroz espelunca / Tinham, sem vista, ido beber, bambeando. / ................ / Lá iam juntas, bambas / - Acorrentadas convulsões atrozes – / Já meio alucinadas e ferozes (COUTINHO, 1979 apud MORAES, 1961 p. 287).
Uelinton Farias Alves em seu livro “Cruz e Sousa: Dante Negro do Brasil”,
defende muito bem como o artista Cruz e Sousa não renegou sua origem: [...] Não
houve até o momento uma compreensão plausível do fenômeno Cruz e Sousa no
seio da sociedade literária brasileira. Isto é: o que é o homem (negro, africano) e
onde se encontra o artista exímio, que difere em muito desse cataclísmico do
Emparedado.(...) ‘Broquéis são partes de um trabalho denso como a própria questão
econômica que se dividia da costa americana à africana. Ele, o livro, é o próprio
artista, porque é o retrato de um africano ‘maravilhado’ enquanto artista, porque
enquanto homem, Cruz e Sousa está sob a pressão de constante lembrança de sua
origem negra-escrava arrancada injustamente do seu reino, de suas terras, do seio
de sua gente. A angústia desses fatos transformou-o num ser deprimido por
natureza, como se em torno dele houvesse sempre ‘grilhões’, ‘porões’, ‘calabouços’,
etc. Isso é uma singeleza mal compreendida por quantos analisaram e discutiram a
sua obra e personalidade.
Tal singeleza é o que surpreende neste livro “Broquéis” e o que o coloca mais uma vez atingindo as dimensões a que realmente faz jus o poeta que cantou ‘Crianças Negras’, e ‘Consciência Tranqüila’. E eu falo, sem dúvida, sobre a sua condição de negro (ALVES, 1998, p. 88-89).
[...] Para cantar a angústia das crianças! Não das crianças de cor de ouro e rosa, Mas dessas que o vergel das esperanças Viram secar, na idade luminosa. Das crianças que vêm da negra noite, Dum leite de venenos e de treva Dentre os dantescos círculos de açoite, Filhas malditas da desgraça de Eva [...] (CRUZ E SOUZA, Crianças Negras, p.73.)
O tumulto interior em que viveu o poeta tem causas extensas e complexas
como: a pobreza em que vivia, a loucura de sua esposa Gavita, a morte de dois de
seus filhos, o preconceito racial e social, tudo vai refletir em sua obra.
Ivone Daré Rabello em “Um canto à Margem”, escreve:
(...) fica evidente que ataca o racismo real, em nome do qual se justificava a condição da fortuna e da cultura branca e se negava ao negro a possibilidade de ascender também no plano da inteligência criadora. Ataca-o, em imagens que em muito lembram o sarcasmo de Baudelaire, fazendo ver que o racismo se valia dos mitos bíblicos, a maldição de Cam, quanto ao novo mito cientificista. Numa lucidez extraordinária, faz ouvir a voz da ideologia que, sinistramente, nasce de dentro da própria subjetividade (RABELLO, 2006, p. 130-131).
Portanto, a análise da obra de Cruz e Souza, abre novos horizontes para a
leitura literária e possibilita a compreensão dos conceitos de escravidão, racismo e
preconceito presentes tanto naquela época de sua obra quanto hoje e como
conscientizar cada educando de que, pela Literatura, pode-se viajar por épocas e
locais importantes da história que marcou o país e o mundo.
3 IMPLEMENTAÇÃO PEDAGÓGICA: ATIVIDADES DESENVOLVIDA S
O trabalho organizou-se em oito etapas. Procurou-se estimular o trabalho
interdisciplinar.
3.1 PRIMEIRA ETAPA: MOTIVAÇÃO PARA O INÍCIO DO PROJETO
A primeira atividade teve a duração de cinco dias alternados. O objetivo foi
preparar os alunos para que houvesse um melhor aproveitamento durante o
desenvolvimento do projeto. Este período denominou-se “Semana do
Conhecimento”.
A princípio apresentou-se o projeto para os alunos do Curso de Formação
de Docentes e comunidade escolar. Nesse encontro, os professores de Biologia,
Filosofia, História e Artes dispuseram-se a participar do desenvolvimento da primeira
etapa do projeto.
A professora de História (PDE) proferiu uma palestra cujo tema foi “O
Contexto Histórico Brasileiro do final do século XIX e início do século XX”, época em
que nasceu, cresceu e morreu Cruz e Souza.
O professor de Filosofia abordou o tema “As teorias da superioridade
branca, do final do século XIX”, o que levou ao conhecimento dos educandos como
a sociedade brasileira da época procurava justificar a superioridade branca por meio
de teorias européias, não comprovadas cientificamente, que afirmavam ser o negro
inferior ao branco.
Por sua vez a professora de Biologia proferiu a palestra “África: Berço da
humanidade”, na qual explanou e exibiu slides sobre a pesquisa do cientista
Speencer Wells, que apresentou uma nova rota migratória da saída do homem da
África para outros continentes por meio da análise do DNA dos povos mais antigos
da Terra. Durante a palestra houve várias perguntas, como:
• Se a África foi o berço de nossos ancestrais, quem os colocou lá?
• Por que existem pessoas de várias cores?
A professora de Artes fez um breve relato sobre os movimentos
Impressionista e Expressionista, analisou o quadro de Edvard Munch: “O Grito”, para
que os alunos pudessem compará-lo com o poema “Escravocratas”, de Cruz e
Sousa.
A professora de Língua Portuguesa, e Literatura (PDE), fez uma revisão
sobre o movimento Simbolista, suas características, principais poetas, e panorama
social da época.
Por fim, os alunos foram convidados a assistir ao filme “Sociedade dos
Poetas Mortos”, de Peter Weir, para que ficassem mais interessados pela literatura
e, assim, entrassem na atmosfera literária do projeto.
3.2 SEGUNDA ETAPA: BIOGRAFIA DE CRUZ E SOUSA
Os alunos foram ao laboratório de informática, pesquisaram sobre a
biografia de Cruz e Sousa, os episódios da vida do poeta que mais chamaram a
atenção e fotografias do artista. Logo após, cada aluno escolheu um poema de Cruz
e Sousa, oito alunos pediram para ler em voz alta os poemas que escolheram e
foram prontamente atendidos. Logo a seguir, os alunos fizeram vários
questionamentos sobre a vida de Cruz e Sousa, como:
• Foram seus pais que pagaram seus estudos?
• Como era a convivência do poeta com seus amigos brancos?
• O jornal “O moleque” no qual Cruz e Sousa foi um dos fundadores, era
bem aceito na comunidade de Desterro?
3.3 TERCEIRA ETAPA: POEMA: “ESCRAVOCRATAS”
Nesta atividade, os alunos leram em silêncio o poema “Escravocratas”,
depois todos leram em voz alta observando a harmonia e musicalidade do poema.
Num segundo momento, os alunos formaram duplas e compartilharam com
o colega o sentimento que o poema causou em cada um. Aqui houve muitas dúvidas
sobre o significado de várias palavras que dificultavam a compreensão do texto.
Então, todos foram ao dicionário tirar suas dúvidas de palavras como:
� Escravocratas: lugar em que há escravidão, partidários dela;
� Trânsfugas: pessoa que deserta, passa para o inimigo;
� Vergasta: vara fina para açoitar;
� Rútilo: brilhar, resplandecer;
� Sacrário: lugar onde se guardam objetos sagrados;
� Adamastórico gigantesco (referem-se ao gigante Adamastor do épico
Os Lusíadas, de Luís Voz de Camões);
� Colossal: extraordinário;
� Estrépito: estrondo;
� Gongórico: gôngora (Barraco).
Observaram o significado desses vocábulos e o que significavam dentro do
contexto.
A polêmica maior foi com o verso “Eu rio-me de vós e cravo-vos as setas”.
Os alunos chegaram à conclusão que o eu poético ri por não suportar mais a
presença dos escravagistas, já que só havia liberdade para zombar e rir. Também
perceberam que, no poema, Cruz e Sousa não critica apenas os senhores de
escravos, mas também, as pessoas que eram a favor da escravidão. Em seguida,
observaram que o poema estava escrito na forma fixa de soneto italiano.
Depois, os alunos reuniram-se em duplas, produziram uma paráfrase atual
do poema “Escravocratas” e no final, apresentaram-na para a turma.
Percebeu-se, então, que os educandos compreenderam muito bem o poema
“Escravocratas”, observando que nele há críticas às pessoas que eram a favor da
escravidão.
3.4 QUARTA ETAPA: POEMA: “DA SENZALA”
O soneto “Da senzala” foi lido oralmente por todos, cada aluno expôs o
sentimento aguçado com a leitura e compreensão do poema. No final da leitura
questionou-se:
• Quais são as senzalas de hoje? Quem as habita?
Chegou-se à conclusão que as senzalas de hoje são as favelas, as
comunidades, e quem as habita são os trabalhadores que vivem do suor do seu
trabalho e não são reconhecidos.
Após, os alunos formaram grupos de três e fizeram a ilustração do poema,
cada grupo copiou o poema integralmente ou a estrofe mais significativa em seu
cartaz.
Esse foi o poema de mais fácil entendimento, segundo os alunos.
3.5 QUINTA ETAPA: POEMA: “CRIANÇAS NEGRAS”
Nesse poema, como nos anteriores, houve a leitura silenciosa dos alunos. A
seguir cada aluno ficou responsável por fazer a leitura oral de uma das estrofes.
Mesmo este, não sendo um trabalho sobre a forma estrutural do poema, os alunos
perceberam que todas as 19 estrofes possuíam quatro versos e que todas tinham
rimas alternadas (1° verso- 3° verso; 2° verso- 4°v erso), o que dava musicalidade ao
texto, uma característica simbolista. Também surgiram várias dúvidas sobre o
significado de palavras como:
� Flamejando: brilhar como chamas;
� Glaucas: verde azulada;
� Fulvor: de cor amarela escura;
� Cardo: Planta composta de folhas espinhosas, tida como praga da
lavoura;
� Panóplia: escudos;
� Vergel: jardim, pomar;
� Procela: tempestade marítima;
� Vergônteas: broto;
� Urzes: arbustos silvestres;
� Gargalheira: coleira de ferro que prendiam os escravos;
� Aguilhão: A ponta do ferro da agulhada, ferrão.
A maior dificuldade foi levar os alunos a contextualizarem as palavras no
texto, mas enfim, perceberam que a situação apresentada no texto não era
fantasiosa, era realidade. Ainda, entenderam que neste poema Cruz e Sousa faz
uma crítica direta, ou seja, expõe uma ferida social quando apresenta as crianças
negras na sua miséria.
Por fim, os educandos, em grupos com quatro componentes, reescrevam o
poema utilizando no lugar das palavras eruditas, sinônimos na linguagem informal e
procuraram usar palavras que não quebrassem o ritmo do poema. Esta foi uma
atividade que requereu mais tempo do que o previsto, mas foi satisfatória, pois cada
grupo fez a leitura oral de seu trabalho.
3.6 SEXTA ETAPA: POEMA: “LITANIA DOS POBRES”
No início dessa atividade, os educandos procuraram saber o significado do
vocábulo Litania (ladainha), alguns lembraram as ladainhas religiosas e iniciaram a
leitura oral do poema imitando uma ladainha. Ao lerem, perceberam que apesar de
ter 51 estrofes, todas possuíam dois versos que rimavam, por isso havia uma
musicalidade na leitura do poema. A segunda leitura foi silenciosa.
Percebeu-se que os personagens do poema eram as pessoas que viviam à
margem da sociedade. Observou-se, por meio da análise e dos comentários, que
ainda hoje há marginalizados (homossexuais, prostitutas, presidiários, sem-terra,
boias-frias,etc) que vivem em bairros periféricos sem saneamento básico, nas
prisões, embaixo de viadutos e marquises nas metrópoles.
Ao final da atividade, os educandos montaram uma dramatização do poema
“Litania dos pobres”, vestindo-se de acordo com os marginalizados atuais e cada
aluno ficou responsável por declamar duas estrofes. A música de fundo foi: “Proibido
Chorar” (com ao cubo), de André Valadão. Outro grupo de alunos preferiu musicar o
poema no ritmo de rap.
3.7 SÉTIMA ETAPA: FILME: CRUZ E SOUSA – O POETA DO DESTERRO
O filme do diretor Silvio Back, foi passado no salão nobre do colégio, o qual
é uma reinvenção da vida e obra do poeta catarinense. Através de 34 estrofes
visuais o filme rastreia as paixões do poeta em Florianópolis, até seu
emparedamento social, racial, intelectual e o trágico fim no Rio de Janeiro.
Após o filme, houve uma mesa redonda. As impressões dos alunos foram
que o filme era lento e um pouco confuso. Preferiam que o filme contasse a história
de maneira tradicional. O ponto positivo foi que todos conheceram uma nova
maneira de narrar histórias, neste caso, por meio do fragmento dos poemas de Cruz
e Souza. Comentaram, ainda, que entenderam com clareza a história do filme por já
terem conhecimento da biografia do poeta.
O momento que mais chamou atenção de todos foi quando viram e ouviram
o poema “Litania dos Pobres”, por ser conhecido de todos e já haver sido trabalhado
no projeto.
3.8 OITAVA ETAPA: ENCERRAMENTO DO PROJETO
O encerramento ocorreu no salão nobre do colégio. O espaço foi decorado
com cartazes produzidos pelos educandos, todos faziam referência ao poeta Cruz e
Souza e seus poemas. O evento iniciou com a síntese do projeto, apresentado pela
professora PDE. A seguir, a dramatização do poema “Litania dos Pobres”, depois os
alunos apresentaram o mesmo poema musicado no ritmo de rap. Finalmente o
recital de poesias.
Em todas as atividades, observou-se a interação dos alunos com os
conteúdos abordados, a compreensão, a capacidade de análise e criatividade na
produção dos textos ilustrações e paráfrases.
Em razão disso, espera-se que os trabalhos desenvolvidos possibilitem a
esses adolescentes tornarem-se cidadãos críticos, participativos e admiradores de
uma literatura transformadora.
4 DISCUSSÕES NO GRUPO DE TRABALHO EM REDE - GTR
Este trabalho teve início em 10/10/2011, por disciplina específica, com carga
horária de 60 horas, conforme instrução da SEED.
Num primeiro momento houve orientações de como trabalhar com a
plataforma Moodle, por meio de curso com a equipe de Coordenação Regional de
Tecnologia na Educação (CRTE) do Núcleo Regional de Pato Branco, o qual
explanou a organização do curso, os encaminhamentos para cada módulo e como
os professores PDE trabalhariam com os integrantes da rede.
O trabalho em rede foi uma experiência válida que possibilitou a partilha de
conhecimentos entre professores de todo o Estado.
Houve nove inscritos, destes, sete concluíram o curso, dois desistiram - um
professor de Matemática e outro de Língua Inglesa.
Os cursistas foram assíduos nas postagens dos trabalhos e as interações
mostraram entendimento das leituras, o que tornou as discussões mais consistentes.
Os professores apresentaram-se ansiosos por conhecer novas práticas
pedagógicas, que venham a auxiliar o educando a gostar de poesias e a entender a
importância da Literatura para a formação de um cidadão pleno.
Enfatizaram a importância de o professor efetuar leituras compreensivas e
críticas, e de estimular a sensibilidade estética de seus alunos.
Em síntese, o trabalho de tutoria oportunizou a socialização e auxiliou o
professor frente aos desafios e avanços enfrentados durante a fase da
Implementação Pedagógica na escola, pois suas análises traduziram maturidade
nas reflexões acerca das temáticas em discussão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo teve por objetivo oportunizar aos alunos um estudo sobre a
biografia, obra e vida de Cruz e Sousa, em particular os poemas que tivessem como
tema a denúncia das mazelas sociais vividas pelo negro, o preconceito e a
desvalorização do ser humano tendo por base apenas a cor da pele. Os poemas
selecionados para análise foram: “Escravocratas”, “Da senzala”, “Crianças Negras”,
e “Litania dos Pobres”.
Sabe-se que, quando os docentes trabalham o movimento simbolista, a
maioria enfatiza apenas o lado mais conhecido de Cruz e Sousa, um poeta do
espírito, do abstrato, do etéreo, por isso esse estudo analisou outro ângulo de sua
obra, mostrando que, embora sua maior idade como poeta tenha as características
acima, houve um outro lado, não tão estudado, no qual ele usou a palavra como
instrumento de luta da causa negra.
A implementação da Proposta Pedagógica transcorreu de maneira eficaz.
Os alunos do 3°AX do curso de Formação Docente envo lveram-se no trabalho e
participaram ativamente das atividades. Foi possível observar que quando se faz o
uso de estratégias diversificadas e propõem-se atividades que desafiem os alunos,
eles mantêm-se atentos e cooperativos.
Outro aspecto que chamou atenção foi que a leitura, a análise e a discussão
dos textos foram importantes no sentido de motivá-los criando neles o desejo de
expressar suas emoções e fazer a comunicação.
Perceberam que há vários caminhos para mostrar a compreensão de um
conteúdo.
Cabe aqui ressaltar que o interesse pelos poemas expandiu-se para a
Literatura como um todo.
No desenvolver deste trabalho, professor/aluno puderam verificar a
importância de analisar uma obra sob vários olhares, um só ponto de vista não
abarca toda a obra de um autor, neste caso específico - Cruz e Sousa.
Assim, foram levantadas discussões sobre o assunto, entretanto é possível
inferir outras considerações. Sabe-se que este tema (Cruz e Sousa - Poemas sobre
o negro escravo) não está esgotado.
Portanto, espera-se que este trabalho contribua para que os educandos se
tornem leitores competentes de literatura, apreciem a poesia, bem como propicie a
abertura de novos horizontes culturais e éticos, tornando-os cidadãos participativos
no meio em que vivem.
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