27
Cuidados com o corpo e a doença na compra e transporte de escravos Seminário de Pesquisa CORPO E SAÚDE NUMA PERSPECTIVA ANTROPOLÓGICA E INTER-DISCIPLINAR VINICIUS LINS GESTEIRA PPGA/UFBA 10 DEZEMBRO DE 2013

Cuidados com o corpo e a doença na compra e transporte de escravos.ppt

Embed Size (px)

Citation preview

Cuidados com o corpo e a doençana compra e transporte de

escravos

Seminário de Pesquisa CORPO E SAÚDE NUMA PERSPECTIVA

ANTROPOLÓGICA E INTER-DISCIPLINAR

VINICIUS LINS GESTEIRAPPGA/UFBA – 10 DEZEMBRO DE 2013

OBJETIVOS

• Geral: Discutir as visões europeias sobrecorpo e a saúde dos africanos no tráfico deescravos e a questão das suas técnicassanitárias, tendo como foco a Costa da Minae o relato do viajante Thomas Phillips.

• Específicos: contextualizar o tema histórica eantropologicamente; propor a hipótese daintermedicalidade euro-africana no tráficoatlântico.

PREÂMBULO

• Havia cuidado com a saúde dos escravosnos tumbeiros?

• Na hipótese afirmativa: por quê?

• Qual a origem das técnicas sanitáriasempregadas?

ETAPAS DESTA APRESENTAÇÃO

1) Breve revisão bibliográfica;

2) Métodos empregados;

3) Visões e intervenções europeiassobre os corpos africanos;

4) Aspectos da Intermedicalidade notráfico de escravos;

5) Considerações finais e discussões.

1) BREVE REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1) BREVE REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

• Origem e razão dotráfico de escravoseuropeu de escravos(MENARD;SCHWARTZ, 1996.p.12).

• A Costa da Minacomo um dos portosmais importantes deembarque.

Imagem disponível em: http://africanhistory.about.com/od/slaveryimages/ig/Slavery-Images-Gallery/SlaveShipBrookes.htm. Acesso: 08 dez 2013.

Escravos embarcados 10,147,907

Escravos desembarcados 8,752,593

Porcentagem de escravos

mortos na “Middle Passage”12.1%

Duração da “Middle

Passage” (em dias)60.2

Escravos do sexo masculino 64.6%

Crianças 20.9%

Extraído de: http://www.slavevoyages.org/tast/database/search.faces. Acesso: 08 dez 2013.

TRÁFICO ATLÂNTICO EM NÚMEROS

COSTA DA MINA

Mapa1. A África Ocidental, com enfoque na Costada Mina e suas divisões, entre osfinais do século XVII e início do século XVIII. In: BARBOT, Jean; HAIR, Paul; JONES,Adam; LAW, Robin. Barbot on Guinea: the writings of Jean Barbot on West Africa1678-1712. Londres: Ashgate Pub Co, 1999. [adaptado e com legendas traduzidas porNicolau Parés. Disponível no site:<http://www.costadamina.ufba.br/index.php?/conteudo/exibir/11>. Acesso: 15 set2013.

1) BREVE REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

• Historiadores debruçados sobre o tema:Alencastro (2000), Curtin (1982), Thornton(1998) e Maria Cristina Wissenbach (2009).

• Aporte da antropologia histórica: Sahlins(1980).

• Reflexão transdisciplinar sobre o corpo e asaúde: Canguilhem (1979) e Foucault (1968).

2) MÉTODOS EMPREGADOS

2) MÉTODOS EMPREGADOS

• Revisão bibliográfica;

• Pesquisa histórica de documentosimpressos e manuscritos, publicados oudigitalizados por bibliotecas europeias.

• Crítica documental e “decompilação”.

• Análise qualitativa dos documentos à luzda antropologia histórica.

3) VISÕES E INTERVENÇÕES EUROPEIAS SOBRE

OS CORPOS AFRICANOS

3) VISÕES E INTERVENÇÕES EUROPEIAS SOBRE

OS CORPOS AFRICANOS

• Recorrente descrições do corpo africanonos escritos cronistas: o corpo é umtopos frequente.

• Costa da Mina: clima e doenças.

• Presença dos europeus nos fortes:mestiçagem étnica e cultural.

4) ASPECTOS DA INTERMEDICALIDADE NO

TRÁFICO DE ESCRAVOS

4) ASPECTOS DA INTERMEDICALIDADE NO

TRÁFICO DE ESCRAVOS

• Enfoque da bibliografia: intermedicalidadeno tráfco entre os povos europeus.

• Viajante Pieter De Marees (1605):desacreditado da medicina africana.

• Viajante Williem Bosman (1705): fascinadopela farmacopeia, mas crítico voraz dosmédicos-sacerdotes.

• Viajante Thomas Phillips: discutiremosadiante.

4) ASPECTOS DA INTERMEDICALIDADE NO

TRÁFICO DE ESCRAVOS

• O caso do relato de Thomas Phillips:– Conduz 700 escravos, 480 homens e 220

mulheres, da Costa da Mina para a Ilha deBarbados no Caribe.

– Preocupado em detalhar os traços físicos edetalhes dos negros.

– Manifesta-se horrorizado com as danças dosafricanos.

– Reitera o combate aos médicos sacerdotes, masagradece quando eles afastam a chuva.

4) ASPECTOS DA INTERMEDICALIDADE NO

TRÁFICO DE ESCRAVOS

“[…] porém nosso maior cuidado de todos é ode não comprar nenhum [escravo] queestivesse infectado pela varíola, a fim de queeles não infectassem o resto a bordo a partirdas feridas e bulbos para prevenir querelas ebrigas entre eles, [...] então nosso cirurgião éforçado a examinar suas partes íntimas tantode homens quanto de mulheres, com o maisdetalhado exame, o que é muito vexatório,mas não pode ser omitido [.] ” (PHILLIPS, 1732,p.218).

4) ASPECTOS DA INTERMEDICALIDADE NO

TRÁFICO DE ESCRAVOS

“Os negros são tão indispostos e enfadados de deixar asua terra, que eles geralmente pulam para fora dascanoas e dos navios para dentro do mar[...] por elesterem a mais terrível apreensão de Barbados que nóstemos do inferno, embora na realidade eles vivammuito melhor lá [em Barbados] do que em seu própriopaís [...] Nós tivemos cerca de 12 negros que lançaram-se por conta própria e outros que privaram-se dealimentos até morrerem; pois isso é uma crença de quequando eles morrem retornam para seu próprio país eamigos de novo.” (PHILLIPS, 1732, p.219, livretradução).

4) ASPECTOS DA INTERMEDICALIDADE NO

TRÁFICO DE ESCRAVOS

“Nós geralmente no mar durante as tardes[,]fazíamos os escravos vir para tomar banho desol, e dar saltos e dançar durante uma hora ouduas com nossas gaitas-de-fole, harpa e[...], pelo que exercitam-se para preservá-losem saúde; porém apesar de todo o nossoesforço, eu tive meu maior fracasso por havergrandes enfermidades e mortalidades entreeles.” (PHILLIPS, 1732, p.224, livre tradução).

5) CONSIDERAÇÕES FINAIS E DISCUSSÕES

5) CONSIDERAÇÕES FINAIS E DISCUSSÕES

• A experiência do tráfico atlântico como“fronteira aberta” de estudosinterdisciplinares.

• Papel nevrálgico da saúde no tráficoatlântico;

• Rumos ambivalentes das visões europeiassobre os corpos africanos;

• Indícios de intermedicalidade deconhecimentos africanos para a manutençãodo tráfico.

CONTATO COM O CONFERENCISTA

• Vinicius Lins Gesteira

[email protected]

• Esta apresentação está disponível em: <http://pt.slideshare.net/viniciuslins5621/cuidados-com-o-corpo-e-a-doena-na-compra-e-transporte-de-escravosppt>.

• Site contendo fontes históricas sobre práticas religiosas na Costa da Mina: <www.costadamina.ufba.br>

FONTES HISTÓRICAS CITADAS

• BOSMAN, Williem. A new and accurate description of the coast ofGuinea, divided into the Gold, the Slave, and the Ivory Coasts. Londres:Knpaton, 1705.

• DE MAREES, Pieter. Description et récit historial du riche royaume d'or deGuinea, aultrement nommé la Coste d'or de Mina, gisante en certainendroict d'Africque... Amsterdam: C. Claesson, 1605.

• PHILLIPS, Thomas. “A journal of a voyage made in ... 1693, 1694 ... toAfrica.” In: VÁRIOS. A Collection of voyages and travels some now firstprinted from original manuscripts, others now first published in English :in six volumes with a general preface giving an account of the progress ofnavigation from its first beginning. vol 6. Londres: Churchill andChurchill, 1735. p.173-239.

REFERÊNCIAS (1/2)

• CANGUILHEM, Georges. Le normal et le pathologique. Paris: PressesUniversitaires de France, coleção “Galien” , 1979.

• CURTIN, Philip. Death by Migration: Europe’s Encounter with the Tropical World in the Nineteenth Century. Cambridge: Cambridge UniversityPress, 1989.

• ELTIS, David. The Volume and Structure of the Transatlantic Slave Trade: A Reassessment. In: The William and Mary Quarterly, Third Series, Vol. 58, No. 1, New Perspectives onthe Transatlantic Slave Trade (Jan., 2001), p. 17-46. Disponível em: <http://www.jstor.org/stable/2674417>. Acesso: 15 jan 2011.

• FOUCAULT, Michel. Naissance de la clinique. Paris: Presses Universitaires de France, 1963.

REFERÊNCIAS (2/2)

• GRUZINSKI, Serge. The mestizo mind. The intellectual dynamics ofcolonization and globalization. Tradução Deke Dusinberre. Londres:Routledge, 2002 [1999].

• MENARD, Russel; SCHWARTZ, Stuart B. “Por que a escravidão africana?”In: SZMRECSÁNYI, Tamás (org.). História econômica do período colonial.São Paulo: FAPESP, HUCITEC, 1996. p.3-19.

• THORNTON, John. Africa and Africans in the Making of the AtlanticWorld, 1400–1800 Cambridge University Press, 1998.3

• SAHLINS, Marshall. Islands of History. Chicago: University of ChicagoPress, 1985.

• WIESSENBACH, Maria Cristina Cortez. Cirurgiões e mercadores nasdinâmicas do comércio atlântico de escravos (séculos XVIII e XIX) In:SOUZA, Laura de Mello e; FURTADO, Júnia Ferreira; BICALHO, MariaFernanda (orgs.). O governo dos povos. São Paulo: Alameda, 2009. p.281-300.

MUITO OBRIGADO A TODAS E A TODOS.