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Cuidados no Transporte de AlimentosSonja Helena de Macedo
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Introdução
No Brasil, os alimentos são transportados das zonas rurais até os centros urbanos. E as mercadorias
produzidas nas grandes cidades são levadas até o campo, em geral percorrendo grandes distâncias.
Todos os alimentos podem ser contaminados por diversos agentes, muitas vezes imperceptíveis e de alto
grau de nocividade para a saúde humana. Essa contaminação resulta, normalmente, em doenças de
origem alimentar e pode acontecer por via biológica, física e química. Para a preservação do alimento as
ações devem se resumir à prevenção ou ao retardamento de deterioração da sua composição nutricional.
O transporte de alimentos é uma etapa essencial da cadeia logística que requer o cumprimento de regras
estabelecidas pelos órgãos sanitários, com a finalidade de assegurar a manutenção da qualidade do
alimento e de suas propriedades nutricionais até a entrega ao destino final. As boas práticas de
transportes consistem em um conjunto de ações que visa cumprir os requisitos de higiene e de
conservação dos alimentos tendo como base as regras para a segurança alimentar, sendo assim, os
veículos deverão ser dotados de equipamentos que atendam as condições mínimas de higiene e de
conservação.
Basicamente os alimentos classificam-se nas seguintes apresentações:
• Fresco ou in natura;
• Industrializado;
• Em forma farmacêutica como cápsulas, comprimidos etc.
Ao se efetuar o transporte de alimentos de diferentes categorias deve-se atentar para as suas
características e especificidades de conservação, além de se evitar o contato direto entre as diferentes
formas de apresentação para que não ocorra contaminação cruzada.
Os principais fatores de risco no transporte inadequado de alimentos são:
• Presença de objetos estranhos no veículo e/ou nas caixas de embalagens para o transporte;
• Tempo/temperatura inadequados à conservação do alimento;
• Transporte com produtos incompatíveis;
• Veículos em mau estado de conservação;
• Paletes e outros equipamentos em mau estado de conservação.
Legislação sanitária
As normas sanitárias para o transporte de alimentos estão inseridas no contexto geral das normas de
higiene e de segurança de alimentos. Por ser uma atividade fiscalizada pelas Vigilâncias Sanitárias
Municipais e Estaduais, cada Município ou Estado possui normas aplicadas ao controle sanitário dos
alimentos, o que muitas vezes representa a criação de normas específicas, dependendo da complexidade
de conservação das várias categorias dos alimentos.
No âmbito federal há as seguintes normas:
- Portaria nº 326/1997 do Serviço de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde (SVS/MS) que aprova o
regulamento técnico das condições higiênicos-sanitárias e de Boas Práticas de Fabricação (BPF) para
estabelecimentos produtores/industrializadores de alimentos.
- Portaria nº 1.428/1993 do SVS/MS que aprova o regulamento técnico para inspeção sanitária de
alimentos, as diretrizes para o estabelecimento de Boas Práticas de Produção (BPP) e de prestação de
serviços na área de alimentos e o regulamento técnico para o estabelecimento de padrão de identidade e
qualidade (PIQ’s) para serviços e produtos na área de alimentos.
- RDC nº 275/2002 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) que dispõe sobre o
regulamento técnico de procedimentos operacionais padronizados aplicados aos estabelecimentos
produtores/industrializadores de alimentos e a lista de verificação das BPF em estabelecimentos
produtores/industrializadores de alimentos.
No Município de São Paulo/SP há a norma:
- Portaria n°1210/2006 da Secretaria Municipal de Saúde (SMS-G) que aprova o regulamento técnico de
Boas Práticas, que estabelece os critérios e parâmetros para a produção/fabricação, importação,
manipulação, fracionamento, armazenamento, distribuição, venda para o consumo final e transporte de
alimentos e bebidas.
Modais de transporte
Para o transporte de alimentos pode-se utilizar diversos modais, dentre os quais predominam-se nas
regiões do Brasil o modal rodoviário, o modal aéreo e, principalmente a multi ou intermodalidade, que
consiste basicamente na utilização de mais de um modal, apenas diferenciando-se pela utilização de um
ou de mais documentos de transporte emitidos até a entrega ao destino final.
A atividade de transporte de carga, inclusive de alimentos, abrange as seguintes operações, em geral:
• Transporte de âmbito internacional - Utilização de modal aéreo, fluvial e rodoviário;
• Transporte de âmbito nacional - Utilização de modal aéreo, rodoviário e cabotagem;
• Transporte local e regional - Utilização de transporte terrestre em caminhões, carros de pequeno e
grande porte, motocicletas etc. No Brasil ainda há a cabotagem, como a navegação realizada entre portos
interiores do País pelo litoral ou por vias fluviais. Devido à extensão geográfica do País, esta prática é
também utilizada com outros modais, o que torna o controle para conservação dos alimentos no âmbito
nacional ainda mais complexo.
Independente do modal utilizado é importante observar as devidas formas de acondicionamento do
alimento em todos os níveis de embalagens, desde a primária até a terciária ou quaternária, além das
especificações de conservação. Neste caso, é importante verificar os prazos de entrega até o destino, ou
seja, o modal escolhido deve considerar a conservação ideal do alimento naquele prazo determinado e a
efetiva entrega do alimento em segurança.
É recomendável a utilização de veículos isotérmicos e exclusivos para o transporte de alimentos, porém
caso isso não seja possível, deve-se utilizar equipamentos compatíveis com a carga alimentícia. A
utilização de produtos de natureza química e saneantes domissanitários é vetada pelos órgãos
fiscalizadores.
Procedimentos adequados para os equipamentos dos veículos
Os baús dos veículos, isotérmicos ou não, devem:
• Assegurar condições de temperatura e de umidade adequadas aos alimentos transportados;
• Dispor de alarme ou de outros dispositivos de segurança do lacre do baú;
• Possuir medidores de temperatura e de umidade, e nesse caso de preferência utilizar os tipos loggers,
que permitem o registro e a memória dos dados em todo o trajeto de transporte;
• Realizar manutenção periódica com a finalidade de checar a funcionalidade de todos os equipamentos
em pelo menos três momentos: antes da utilização do equipamento, periodicamente (anual) ou conforme
as exigências da Vigilância Sanitária;
• Os baús refrigerados deverão ser qualificados para garantir a manutenção da faixa ideal de conservação
dos produtos durante todo o trajeto de transporte.
Procedimentos de limpeza dos veículos
A limpeza dos veículos deve seguir os procedimentos:
• Estabelecer rotinas de limpeza e de dedetização perióriodica, com prestador de serviço de
dedetização devidamente credenciado no órgão sanitário local;
• A parede interior do baú do veículo, incluindo teto e frestas devem ser revestidas com material
resistente à corrosão, impermeáveis e fáceis de limpeza e desinfecção;
• Os compartimentos internos do veículo devem possuir sistema de escoamento de água;
• Os materiais utilizados na limpeza devem ser neutros e não transmitir substâncias tóxicas, cheiros, cor
ou sabor;
• Os paletes, as gaiolas e os demais equipamentos devem ser facilmente laváveis e devem permitir
adequada circulação de ar, entre uma carga unitizada e outra, se carregadas no veículo;
• Sempre que necessário, para o transporte de peças de carne, deve-se utilizar dispositivos de
suspensão (barras, ganchos etc.) e suportes que sejam fáceis de lavar e desinfetar;
• As embalagens de acondicionamento como isopor e caixas isotérmicas devem ser de cor clara com
avisos devidamente apropriados ao atendimento das condições de higiene e conservação os alimentos.
Embalagens e unitização
Para a preservação dos produtos deve-se considerar a embalagem (envoltório
para acondicionamento do produto) desde a fase de desenvolvimento do produto, de produção, de
armazenagem e de transporte até o Ponto de Venda (PDV), considerando-se as funções para cada etapa:
• Primária - Contém o produto, é a unidade de comercialização no varejo;
• Secundária – Acondicionamento (bandeja, filme etc.) das embalagens primárias, normalmente utilizada
para disposição no PDV;
• Terciária - Contentores resistentes (papelão, plástico, madeira etc.), para unitizar as embalagens
secundárias para movimentação manual e transporte, normalmente é a unidade de atacado;
• Quaternária - Unitização das embalagens terciárias (palete) para estocagem e transporte;
• Quinto nível - Para preservação ou transporte especial (caminhões ou contêineres).
Alimentos perecíveis ou termosensíveis
A necessidade atual de grandes quantidades de produtos alimentares frescos ou congelados nos grandes
centros destaca a refrigeração e conseqüentemente o frio como o único meio de conservação no seu
estado fresco original. Em 2002 a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) estabeleceu
requisitos para o transporte de alimentos refrigerados. A NBR nº 1614701 regulamenta o transporte de
produtos alimentícios refrigerados com o objetivo de definir a temperatura adequada ao longo de toda a
cadeia de abastecimento, desde os armazéns frigorificados do produtor até a entrega ao varejo, e
abrange também: embalagem, unitização, movimentação, utilização de registradores de temperatura nos
estoques e nos transportes, entre outros.
O sistema APPCC
Importante destacar como um instrumento para o controle da segurança dos alimentos na etapa de
transporte o sistema Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) ou Hazard Analysis and
Critical Control Points (HACCP). O APPCC é recomendado por organismos internacionais como a
Organização Mundial do Comércio (OMC), a Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura (FAO), Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) e
é exigido pela Comunidade Européia e pelos Estados
Unidos da América (EUA).
No Brasil, o Ministério da Saúde (MS) e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)
possuem ações com objetivo de adoção do sistema APPCC pelas indústrias alimentícias. Segundo o
manual da Associação da Restauração e Similares de Portugal (ARESP) o sistema APPCC éum sistema
pró-ativo que se baseia na prevenção de problemas relativos à segurança e à salubridade dos alimentos
produzidos. Em resumo, pode-se afirmar que o sistema APPCC identifica os perigos específicos no
decorrer de todas as etapas de produção, transformação e distribuição, desde a matéria-prima até a
obtenção do produto final, define as medidas preventivas para minimizar a ocorrência dos mesmos e
estabelece medidas efetivas para esse controle. É um sistema de caráter preventivo porque permite
detectar potenciais problemas de segurança alimentar antes da sua ocorrência ou no momento em que
ocorrem, aplicando medidas corretivas imediatas e evitando, assim, que seja afetada a segurança do
produto final e a saúde do consumidor. Sendo o sistema APPCC uma referência em nível internacional, a
sua aplicação permite uma harmonização das condutas de segurança alimentar, contribuindo para o
aumento na segurança e na confiança do consumidor.
Referências Bibliográficas
Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Disponível emwww.anvisa.gov.br
Gaspar PD, Pitarma RA. Avaliação das condições de transporte e exposição de produtos alimentares
perecíveis conservados em frio. Covilhã, PT, s.d.
Portugal. Associação da Restauração e Similares de Portugal. Código de boas práticas para o transporte
de alimentos. s.l.
Publicado na revista Nutrição Profissional 30 (Julho/Agosto/Setembro 2010)