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CURSO DE DIREITO
“A EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA”
GUSTAVO NAGALLI GUEDES DE CAMARGO
RA: 4021947 TURMA: 3109 B
FONE: (011) 9268-9173 EMAIL: [email protected]
SÃO PAULO
2010
CURSO DE DIREITO
“A EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA”
GUSTAVO NAGALLI GUEDES DE CAMARGO RA: 4021947
TURMA: 3109 B
Professor Orientador: RODRIGO DA CUNHA LIMA FREIRE
Monografia apresentada à Banca
Examinadora do Centro Universitário
das Faculdades Metropolitanas
Unidas, como exigência parcial para
a obtenção do título de Bacharel em
Direito sob a orientação do Prof. Ms.
Rodrigo da Cunha Lima Freire.
SÃO PAULO
2010
Nota:...................(.......................................................)
BANCA EXAMINADORA:
________________________________________________
Professor Ms. Rodrigo da Cunha Lima Freire (Presidente)
________________________________________________
Professor Argüidor
________________________________________________
Professor Argüidor
Dedico o presente trabalho ao
Professor Rodrigo da Cunha Lima
Freire pelos brilhantes ensinamentos,
aos meus familiares e especialmente à
minha noiva e futura esposa Adriana
Cristina Mota, por todo amor, apoio e
carinho.
SINOPSE O presente trabalho tem a finalidade de demonstrar o procedimento de
execução por quantia certa em face da Fazenda Pública, através de pesquisa
doutrinária, legislativa e jurisprudencial. No primeiro capítulo faz-se um
panorama geral do procedimento executório no direito processual brasileiro,
abordando as diferentes espécies de execução e demonstrando o objetivo
principal da execução por quantia certa, contra o particular. Logo após, define-
se o significado do termo "Fazenda Pública" e explica-se o motivo do
procedimento de execução por quantia certa contra o Ente Público, se dar de
maneira diferenciada. No segundo capítulo são abordadas as prerrogativas
processuais do ente público e são demonstradas determinadas peculiaridades,
que se observam quando a Fazenda Pública se encontra no pólo passivo da
ação de conhecimento (que possibilita ao particular a obtenção do título
executivo judicial, dando ensejo à ação de execução). No terceiro capítulo
analisa-se o procedimento de execução por quantia certa contra a Fazenda
Pública, não deixando de estudar sua fase administrativa que se dá desde a
expedição do precatório, até o respectivo recebimento do crédito pelo
exeqüente devido pela Fazenda Pública. No quarto e último capítulo analisa-se
as inovações trazidas pela Emenda Constitucional 62/2009 e comenta-se sobre
suas possíveis violações a determinados princípios constitucionais.
Palavras-chave: Direito Processual Civil – execução por quantia certa –
Fazenda Pública – precatório.
ABSTRACT
This work aims to demonstrate the procedure for execution for right amount
against the Public Finance by doctrinal, legislative research and case law. The
first chapter is an overview of the procedure enforceable in Brazilian procedural
law, addressing the different species and demonstrating the main goal of
execution for right amount against the particular. Soon after, defines the
meaning of the term "Public Finance" and explain the reason why the procedure
of execution for right amount against the state goes in a different way. In the
second chapter, describes the procedural prerogatives of the “Public Finance”
and demonstrate certain peculiarities that observed when the “Public Finance”
is the defendant in the knowledge action (that enables the particular obtaining
the judicial executive title, giving opportunity to the execution action). In the third
chapter discussed the procedure of the execution for right amount against the
“Public Finance”, while studying its administrative phase that goes since the
expedition of precatório until the receipt of the claim, by claimer, due by the
“Public Finance”. The fourth and final chapter analyzes innovation brought by
the Constitutional Amendment 62/2009 and comments on your violations of
certain constitutional principles.
Keywords: Civil procedural law – execution for right amount – public finance –
precatório.
SUMÁRIO
Introdução ............................................................................................................. .........8
Capítulo I – Do Procedimento de Execução no Direito Processual Civil Brasileiro..............................................................................................................
..........10
1.1 Das espécies de execução e da execução por quantia certa contra o
devedor
solvente..................................................................................................................
.........10
1.2. Da definição de “Fazenda Pública” e da inalienabilidade dos bens públicos .. .......12
Capítulo II – A Fazenda Pública no Pólo Passivo da Ação de Conhecimento ...................................................................................................... ......15
2.1 Das prerrogativas processuais da Fazenda
Pública.......................................... .......15
2.1.1 Duplo grau de jurisdição obrigatório
......................................................................16
2.1.2 Prazos dilatados.................................................................................................... 16
2.1.3 Expedição de
precatório.........................................................................................17
2.1.4 Juízo
privativo.........................................................................................................17
2.1.5 Prazo prescricional.................................................................................................18
2.1.6 Pagamentos de custas judiciais.............................................................................19
2.2 Da citação e da
contestação.....................................................................................20
2.3 Do julgamento liminar de improcedência do
pedido..................................................21
2.4 Da sentença de mérito contra a Fazenda Pública e do reexame necessário...........22
Capítulo III – Da Execução por Quantia Certa Contra a Fazenda Pública ....... ......,26
3.1 Do título
executivo.....................................................................................................26
3.2 Da liquidação de
sentença........................................................................................30
3.2.1 Liquidação por arbitramento...................................................................................32
3.2.2 Liquidação por
artigos............................................................................................33
3.3 Do não cabimento do cumprimento de
sentença......................................................33
3.4 Dos embargos à
execução........................................................................................34
3.4.1 Da matéria a ser abordada pelos embargos à
execução.......................................40
3.5 Do não cabimento de execução provisória contra a Fazenda
Pública.....................41
3.6 Do
precatório.............................................................................................................4
5
3.6.1 Distinção entre os atos do juiz da execução e do Presidente do Tribunal.............47
3.6.2 Do crédito de natureza
alimentícia.........................................................................48
3.6.2.1 Do rol do parágrafo primeiro do artigo 100 da Constituição Federal e
dos honorários
advocatícios...................................................................................................50
3.6.3 Das requisições de pequeno
valor.........................................................................53
3.6.3.1 O ente público nos juizados especiais
cíveis......................................................57
3.6.4 Dos juros e da correção
monetária........................................................................59
3.6.5 Do cabimento de
seqüestro....................................................................................62
3.6.6 Da intervenção federal e
estadual..........................................................................67
3.7 Da extinção do processo
executivo...........................................................................71
Capítulo IV – Do Nono Artigo 100 da Constituição Federal e da Ação Direta de Inconstitucionalidade n°. 4357.....................................................................................73
4.1 Da emenda constitucional n° 62/2009 e do ajuizamento da ADI n°
4357.................73
4.2 Da violação do parágrafo segundo do artigo 100 da CF ao princípio da
igualdade e da dignidade da pessoa
humana....................................................................................74
4.3 Da violação do parágrafo nono do artigo 100 da CF ao princípio da livre
disposição dos bens e da razoável duração do
processo.................................................................75
4.4 Da violação do parágrafo décimo segundo do artigo 100 da CF ao princípio
da separação de poderes, da moralidade e da coisa
julgada..............................................77
4.5 Do artigo 97 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias - ADCT..............78
Conclusão..............................................................................................................
..........83
Bibliografia.............................................................................................................
..........86
INTRODUÇÃO
A Fazenda Pública, em juízo, se submete a determinados princípios
de direito público, como é o caso do princípio da legalidade, da presunção de
legitimidade dos atos administrativos e da supremacia do interesse público
sobre o privado.
Logo, deve-se adequar tais princípios à relação processual que
envolve o Ente Público, motivo pelo qual se explica o fato de a Fazenda
Pública possuir tratamento processual diferenciado, o qual é contestado por
inúmeros doutrinadores.
É sabido que o presente trabalho surge numa época em que, não
obstante o questionamento acerca da efetividade da tutela jurisdicional no
direito processual brasileiro, ainda se observa a demora do cumprimento dos
precatórios originários das condenações impostas pelo judiciário, nas ações
contra o Ente Público.
Logo, em virtude do quadro supra descrito, ressalta-se de início que
a intenção deste estudo não é a de propor soluções ou fazer críticas acerca
dos procedimentos processuais já instituídos pela lei uma vez que, em virtude
do princípio da supremacia do interesse público sobre o interesse privado, não
parece tão simples maldizermos este sistema, alegando que o Ente Público
estaria sendo privilegiado como parte do processo.
Por este motivo, o presente trabalho aborda, em quase sua
totalidade, os regramentos processuais que se observam quando a
Administração Pública encontra-se no pólo passivo da ação de execução.
Primeiro, analisa-se as peculiaridades que se observam quando o Ente Público
se encontra no pólo passivo da ação de conhecimento (que garante ao credor
o título executivo judicial que dará ensejo à ação de execução). Logo após,
trata-se do procedimento de execução por quantia certa contra a Fazenda
Pública e, finalmente, da fase administrativa que regulamenta a expedição do
precatório e seu respectivo pagamento.
Tal análise é feita por meio de leis, doutrina e interpretação
jurisprudencial as quais, algumas vezes, são divergentes acerca de
determinadas matérias, em virtude de se haver lacunas deixadas pela lei
nestes casos, conforme será demonstrado neste trabalho.
O procedimento de execução contra a Fazenda Pública se dá de
maneira diferenciada, em virtude da impenhorabilidade dos bens públicos, que
impossibilita os atos expropriatórios em face do Ente Público, condicionando o
pagamento ao credor à expedição de ofício requisitando a quitação.
Tal procedimento vem disciplinado nos artigos 730 e 731 do Código
de Processo Civil os quais, conforme se demonstrará ao logo deste trabalho,
deverão ser interpretados em consonância com o artigo 100 da Constituição
Federal, que traz todos os regramentos concernentes à expedição do
precatório.
O artigo 100, por sua vez, foi recentemente alterado pela Emenda
Constitucional 62/2009 publicada em 10 de dezembro de 2009 e trouxe
alterações significativas nos regramentos envolvendo os precatórios. Por este
motivo o presente trabalho, embora de modo prematuro, não poderia deixar de
levar em consideração seus novos institutos. Portanto, todos os dispositivos do
artigo em comento descritos neste estudo, se encontram de acordo com a nova
redação.
Ainda, realizou-se breve análise de alguns institutos trazidos pela
Emenda Constitucional 62/2009 que, em seu artigo primeiro, alterou o artigo
100 da Carta Magna e, em seu artigo segundo, acrescentou o artigo 97 do Ato
das Disposições Constitucionais Transitórias. Também foram traçadas
considerações acerca de suas supostas violações a alguns princípios
constitucionais.
Daí o presente trabalho abordar estas novas alterações sob o ponto
de vista da Ação Direita de Inconstitucionalidade 4357 ajuizada, dentre outros,
pelo Conselho Federal da OAB, ainda pendente de decisão, que atacou
diversos dispositivos desta Emenda Constitucional e requereu, não obstante a
declaração de inconstitucionalidade dos dispositivos impugnados, a concessão
de medida cautelar para suspender a eficácia destes até o julgamento do
mérito.
I – DO PROCEDIMENTO DE EXECUÇÃO 1.1 Das espécies de execução e da execução por quantia certa contra devedor solvente A vida em sociedade dá ensejo ao surgimento de vínculos
jurídicos diversos, que decorrem das relações obrigacionais entre as pessoas.
No campo das obrigações existe um dever que ligará os sujeitos sendo que,
incumbirá ao credor exigir do devedor, o cumprimento de determinada
prestação.
Uma vez que o pólo passivo da relação obrigacional não cumpriu o
dever que lhe cabia, dá-se ao credor a faculdade de pleitear o seu direito
inadimplido por outrem em juízo sendo que, para que se possa dar ensejo ao
procedimento de execução, faz-se necessário que sua pretensão venha
consagrada previamente num título executivo líquido, certo e exigível, seja este
judicial ou extrajudicial.
De acordo com o Código de Processo Civil é possível classificar a
execução no direito processual brasileiro a partir de três espécies: a execução
por quantia certa, a execução para a entrega de coisa (certa ou incerta) e a
execução das obrigações de fazer ou não fazer1.
O mesmo Diploma, ainda em seu artigo 646 ao tratar da execução
por quantia certa, dispõe sobre a principal característica deste procedimento.
Ora, sabe-se que o devedor pode não realizar, a prestação que lhe é cabível.
Neste caso, restará ao credor buscar o auxílio do Poder Judiciário que, por sua
vez, a partir do caráter expropriatório do processo de execução por quantia
certa, vai se valer de determinados procedimentos previstos em lei, com o
escopo de garantir a satisfação do crédito decorrente de determinada relação
entre credor e devedor2.
Desta maneira, uma vez não satisfeita a dívida inscrita no título
executivo, o devedor inadimplente devidamente citado terá seus bens
penhorados, quantos forem necessários, para a satisfação do crédito em
questão que se dá, mediante a adjudicação do bem em favor do exeqüente,
por meio de alienação particular, através de alienação em hasta pública ou do
usufruto.
Araken de Assis esclarece sobre o procedimento acima descrito,
destacando seu caráter diferenciado:
“Tem o ato executivo de peculiar, distinguindo-o, destarte,
dos demais atos do processo e dos que do juiz se
originam, a virtualidade de provocar alterações no mundo
natural. Objetiva a execução, através de atos deste jaez,
adequar o mundo físico ao projeto sentencial,
empregando a força do Estado (art. 579 do CPC). Essas
modificações fáticas requerem, por sua vez, a invasão da
esfera jurídica do executado, e não só do seu círculo
patrimonial, porque, no direito pátrio, os meios de coerção
1 BRASIL. Lei 5.869 de 11 de janeiro de 1973. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Congresso Nacional, 1973. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5869.htm>. Acesso em: 10/02/2010. 2 Art. 646 - A execução por quantia certa tem por objeto expropriar bens do devedor, a fim de satisfazer o direito do credor (art. 591).
se ostentam admissíveis. A medida do ato executivo é
seu conteúdo coercitivo” 3.
Deve-se lembrar que, se o titular do direito possuir crédito
representado em título executivo extrajudicial, deverá ajuizar ação autônoma
de execução dispensando, portanto, prévio procedimento cognitivo, o que não
ocorrerá com o credor desprovido do referido título executivo. Neste caso,
deverá obter-se a sentença condenatória oriunda do processo de
conhecimento.
Após seu trânsito em julgado, no entanto, decorrido o prazo legal
para o adimplemento da obrigação, será expedido o mandado de penhora e
avaliação mediante simples requerimento da parte interessada, dispensando o
procedimento autônomo da execução, até então exigido antes da lei 11.232 de
22 de dezembro de 2005.
Conclui-se então que, no regramento processual civil brasileiro,
restou excluída a necessidade de um processo autônomo de execução
fundada em título judicial, cabendo então distinguir três principais modos
possíveis deste procedimento: o cumprimento forçado das sentenças
condenatórias e outras a que a lei vai atribuir igual força (artigos 475-I e 475-
N); o processo de execução dos títulos executivos extrajudiciais (artigos 621 a
735) e a execução coletiva ou concursal fundada em título extrajudicial para os
casos de insolvência do devedor (artigos 748 a 782).
1.2 Da definição de “Fazenda Pública” e a inalienabilidade dos bens públicos
Pode se estabelecer, num primeiro momento, que a expressão
“Fazenda Pública” representa a atuação do Estado perante o órgão
jurisdicional abrangendo, neste caso, as pessoas jurídicas de direito público
litigando nas demandas judiciais. Contudo, encontra-se nos ensinamentos do
mestre Hely Lopes Meirelles, a definição que parece ser a mais adequada em
se tratando do presente trabalho:
3 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 12 ed. São Paulo: RT, 2009. p. 95.
“A Administração Pública, quando ingressa em juízo por
qualquer de suas entidades estatais, por suas autarquias,
por suas fundações públicas ou por seus órgãos que
possuam capacidade processual, recebe a designação
tradicional de Fazenda Pública, por que seu erário é que
suportará os encargos patrimoniais da demanda” 4.
A definição do termo “Erário” empregado no conceito supra descrito
traduz, de modo genérico, os recursos financeiros do Estado representados
pelos bens e direitos de valor econômico, que integram o patrimônio do Ente
Público. Ainda destaca-se que o Ilustre Doutrinador, na observação acima,
excluiu as empresas públicas e as sociedades de economia mista, visto que as
mesmas não gozam das prerrogativas processuais concedidas à Fazenda
Publica, por se tratarem de pessoas jurídicas de Direito Privado.
Portanto, a expressão Fazenda Pública abrangerá tanto os órgãos
da Administração Direta quais sejam a União, os Estados, o Distrito Federal e
os Municípios, bem como os da Administração Indireta como é o caso das
autarquias, das fundações públicas e das agências reguladoras que possuem
natureza jurídica de autarquias especiais.
O procedimento executório contra a Fazenda Pública contém
diversas peculiaridades, as quais serão demonstradas pelo presente trabalho,
podendo este ser realizado seja o título executivo que lhe deu ensejo, judicial
ou extrajudicial. Observa-se que, nas execuções contra a Administração
Pública, ensejar-se-á um procedimento específico, em virtude da
impenhorabilidade dos bens públicos.
Sabe-se que o artigo 100 do Código Civil de 20025 dispõe sobre a
inalienabilidade dos bens públicos. Portanto, daí se conclui a partir do inciso
um do artigo 649 do Código de Processo Civil que, sendo estes bens
inalienáveis, não haverá que se falar em penhora dos mesmos6.
4 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, 25 ed. São Paulo: RT, 2000. p. 663. 5Art. 100 - Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar.6 Art. 649 - São absolutamente impenhoráveis: I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução; (...)
Tal dispositivo impossibilita a Fazenda Pública de ser executada
pelo procedimento comum já abordado anteriormente. Assim, nas palavras de
Humberto Theodoro Júnior:
“Os bens públicos, isto é, os bens pertencentes à União,
Estado e Município, são legalmente impenhoráveis. Daí a
impossibilidade de execução nos moldes comuns, ou
seja, mediante penhora e expropriação” 7.
Nos casos de execução por quantia certa contra o Ente Público, tal
procedimento, que é o objeto do presente trabalho, vem descrito no artigo 730
do Código de Processo Civil e estabelece que o autor da ação que verse sobre
obrigação pecuniária contra a Fazenda Pública, deverá requerer a citação do
Ente Público para a oposição de embargos.
Se estes forem inexistentes ou julgados improcedentes, deverá a
Fazenda Pública executada incluir em sua receita orçamentária do ano
seguinte, a verba necessária ao pagamento do débito constante do precatório
requisitado pelo Presidente do Tribunal ao Ente Público competente, cujo
procedimento de inscrição se inicia por meio de ofício do próprio juiz da vara de
origem8.
7 JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. 44 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2009. Vol. 2. p. 371. 8Art. 730 - Na execução por quantia certa contra a Fazenda Pública, citar-se-á a devedora para opor embargos em 10 (dez) dias; se esta não os opuser, no prazo legal, observar-se-ão as seguintes regras: I - o juiz requisitará o pagamento por intermédio do presidente do tribunal competente; II - far-se-á o pagamento na ordem de apresentação do precatório e à conta do respectivo crédito.
II – A FAZENDA PÚBLICA NO PÓLO PASSIVO DA AÇÃO DE CONHECIMENTO 2.1 Das prerrogativas processuais da fazenda pública
Uma vez em atuação, o Ente Público tem seus atos norteados pelo
interesse público. Logo, estando em juízo, em razão da supremacia do
interesse público sobre o interesse privado, dispõe a Fazenda Pública de
determinadas prerrogativas dadas pela lei. Neste sentido, explica Leonardo
José Carneiro da Cunha:
“Exatamente por atuar no processo em virtude da
existência de interesse público, consulta ao próprio
interesse público viabilizar o exercício desta sua atividade
no processo da melhor e mais ampla maneira possível,
evitando-se condenações injustificáveis ou prejuízos
incalculáveis para o Erário e, de resto, para toda
coletividade que seria beneficiada com serviços
custeados com tais recursos” 9.
9 CUNHA, Leonardo José Carneiro. A Fazenda Pública em Juízo. 7 ed. São Paulo: Dialética, 2009. p. 34. .
Parte da doutrina defende que tais prerrogativas decorrentes da já
citada supremacia do interesse público sobre o interesse privado, acabam por
violar o princípio da isonomia. O presente trabalho ousará discordar desta
posição. Na verdade o princípio da isonomia, quando figurar o Ente Público no
pólo passivo, deverá ser analisado tendo-se por base a já citada supremacia do
interesse público sobre o interesse privado, ou seja, não se trata no caso em
tela de privilégios, mas sim, de prerrogativas, já que ambos não se confundem.
Neste sentido, ensina o Magistrado Mauro Spalding:
“Disso decorre que o denominado princípio da supremacia
do interesse público sobre o privado norteará o intérprete
na aplicação do princípio da isonomia nas relações
processuais ocupadas pelo Poder Público num dos pólos.
Em outras palavras, não há qualquer tensão ou conflito
entre esses dois princípios constitucionais (o da isonomia
e o da supremacia do interesse público sobre o privado)”
10.
2.1.1 Duplo grau de jurisdição obrigatório O Código de Processo Civil dispõe que a sentença de mérito
proferida contra a Fazenda Pública está sujeita ao duplo grau de jurisdição,
onde a decisão proferida pelo Tribunal possuirá o condão de ratificar a
sentença de primeiro grau dando-lhe eficácia, bem como a que julgar
procedentes os embargos à execução de dívida ativa do executado. Logo, esta
sentença somente produzirá efeitos após essa confirmação.
Trata-se, no caso em tela, do reexame necessário o qual será
analisado com mais detalhes em tópico próprio.
2.1.2 Prazos dilatados
10 SPALDING, Mauro. Execução Contra a Fazenda Pública Federal. Curitiba: Juruá, 2008. p. 84.
Dispõe o artigo 18811 do Código De Processo Civil que a Fazenda
Pública, bem como o Ministério Público, possui prazo em quádruplo para
contestar e em dobro para recorrer.
Em se tratando das contra-razões a determinado recurso, o prazo
será simples. Também será simples o prazo do artigo 526 do CPC, ou seja, de
três dias, quando a Administração Pública interpor agravo de instrumento,
ainda que neste caso possua prazo em dobro.
Ainda, a Lei 9.469 de 10 de julho de 1997, que regula os
pagamentos devidos pela Fazenda Pública decorridos de sentença judiciária,
estendeu igual prazo às autarquias e fundações públicas em seu artigo 1012. A
Medida Provisória 2.180-35, por sua vez, através do acréscimo do artigo 1 - B
à Lei 9.494 de 10 de setembro de 1997, acabou dilatando o prazo para
apresentação de embargos à execução contra a Fazenda Pública, passando a
ser de 30 dias.
2.1.3 Expedição de precatório A execução das decisões judiciais contra a Fazenda Pública é
processada por meio de expedição de precatórios, a serem pagos em ordem
cronológica, de acordo com a respectiva inscrição. Tal procedimento é previsto
no artigo 730 do Código de Processo Civil e regulado pelo artigo 100 da Carta
Magna, tendo este sido recentemente alterado pela Emenda Constitucional
62/200913.
Convém ressaltar que não se sujeitam ao sistema de precatórios os
pagamentos de obrigações definidas como de pequeno valor, conforme será
detalhadamente explanado pelo presente estudo, em momento posterior.
De acordo com esse dispositivo estabelecido na nossa Lei Maior,
haverá o pedido de reserva orçamentária pelo Presidente do Tribunal que
proferiu a decisão exeqüenda mediante a requisição de pagamento
devidamente protocolada no órgão competente, cabendo à entidade devedora
11 Art. 188 - Computar-se-á em quádruplo o prazo para contestar e em dobro para recorrer quando a parte for a Fazenda Pública ou o Ministério Público. 12 Art. 10 - Aplica-se às autarquias e fundações públicas o disposto nos arts. 188 e 475, caput, e no seu inciso II, do Código de Processo Civil.13 Art. 100 - Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim.
consignar a verba necessária ao pagamento dos débitos apresentados até
primeiro de julho, fazendo-se o pagamento até o final do exercício seguinte.
A violação do direito de preferência dos credores autoriza a
possibilidade de seqüestro da quantia necessária à satisfação do débito, nos
termos do artigo 731 do Código de Processo Civil14.
2.1.4 – Juízo privativo Configura-se, quando se trata da União, suas autarquias e
fundações de direito público, através da Justiça Federal, em duas instâncias e,
em se tratando dos Estados e dos Municípios, por meio das Varas da Fazenda
Pública, as quais dispõem, nas respectivas Unidades Federativas, sobre suas
leis de organização judiciária15.
Deste modo, várias comarcas das Justiças Estaduais são compostas
por varas especializadas da Fazenda Pública. Pode-se salientar que, quando
se tratar da União, entidade autárquica federal ou suas fundações federais de
direito público, a esfera de competência será da Justiça Federal.
Deve-se esclarecer que nem sempre se observará a existência de
Juízo privativo. Portanto, o Ente Público poderá integrar o pólo passivo de
determinada demanda seja na capital, no interior ou em qualquer Juízo,
quando não houver a Vara privativa.
2.1.5 Prazo prescricional Quaisquer dívidas dos entes públicos, bem como o pleito de
qualquer direito ou ação contra estes, prescreverão em cinco anos contados da
data do ato ou fato que derem ensejo aos mesmos. Portanto, uma vez surgida
determinada pretensão contra a Fazenda, estará esta sujeita ao prazo
14 Art. 731 - Se o credor for preterido no seu direito de preferência, o presidente do tribunal, que expediu a ordem, poderá, depois de ouvido o chefe do Ministério Público, ordenar o seqüestro da quantia necessária para satisfazer o débito. 15 PROCESSUAL CIVIL. COMPETENCIA. AÇÃO CONTRA ESTADO-MEMBRO. VARA DA FAZENDA PUBLICA. 1. O estado membro não tem foro privilegiado, mas juízo privativo (vara especializada) nas causas em que devam correr na Comarca da Capital, quando a Fazenda for Autora, Ré, ou Interveniente. Precedentes. (...) (AgRg no Ag 92717/PR, Rel. MIN. ANTONIO DE PADUA RIBEIRO, SEGUNDA TURMA, julgado em 13/12/1996, DJ 03/02/1997 p. 696).
prescricional de cinco anos, ressaltando-se que também se aplica esta regra às
autarquias e fundações públicas16.
A prescrição qüinqüenal não se aplica às empresas públicas e
sociedades de economia mista, sendo tais prazos regulados, no caso em tela,
pelo Código Civil de 2002.
Observa-se que o prazo prescricional contra a Fazenda poderá ser
suspenso ou interrompido.
Será suspenso em caso de demora da apuração de determinadas
dívidas da Administração Pública feita pelas repartições e ou funcionários
encarregados, sendo que esta suspensão configurar-se-á a partir do devido
ingresso com designação do dia, mês e ano pelo interessado, na respectiva
repartição pública competente17.
Será interrompido a partir do despacho do juiz que determinar a
citação, sendo que a interrupção do prazo prescricional só ocorre uma vez.
Cabe ressaltar que a referida interrupção retroage à data da propositura da
ação. De acordo com a regra esculpida na Súmula 383 do STF deve-se deduzir
que, configurada a interrupção na primeira metade, computar-se-á o tempo
restante de modo que se completem os cinco anos. Contudo, uma vez ocorrida
a interrupção na segunda metade, supondo-se aos quatro anos, deverá voltar a
16 ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. TERMO INICIAL DA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA. FUNDAMENTO DO ACÓRDÃO RECORRIDO NÃO INFIRMADO NAS RAZÕES DO APELO NOBRE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N.º 283 DO PRETÓRIO EXCELSO. (...) 2. O prazo prescricional para a propositura da ação executiva contra a Fazenda Pública é de cinco anos, contados a partir do trânsito em julgado da sentença condenatória. Incidência da Súmula n.º 150 do Supremo Tribunal Federal. 3. A prescrição somente poderá ser interrompida uma única vez, sendo certo que o prazo recomeçará a correr pela metade, resguardado o prazo mínimo de cinco anos, conforme o disposto na Súmula n.º 383 do Pretório Excelso. (...) (AgRg no REsp 1145323/RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 01/12/2009, DJe 01/02/2010). 17ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL. PENSÃO. PRESCRIÇÃO. REQUERIMENTO NA VIA ADMINISTRATIVA. SUSPENSÃO. PREQUESTIONAMENTO. (...) 2. Esta Corte firmou compreensão de que ocorre a suspensão do prazo prescricional durante o lapso temporal que, no estudo da dívida, tenha a autoridade competente levado para decidir o requerimento feito na esfera administrativa. 3. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no REsp 1125321/SE, Rel. Ministro HAROLDO RODRIGUES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/CE), SEXTA TURMA, julgado em 13/10/2009, DJe 23/11/2009).
correr o prazo prescricional a partir da interrupção por mais dois anos e meio
totalizando-se, neste caso, seis anos e meio do referido prazo18.
Conclui-se que, em se tratando do prazo prescricional, não haverá
período inferior a cinco anos podendo haver, neste caso, intervalo de tempo
superior, caso a prescrição seja interrompida após os dois anos e meio do
prazo prescricional.
A prescrição poderá ser conhecida de ofício pelo juiz, ou alegada
pelas partes, a qualquer tempo.
2.1.6 – Pagamentos das custas judiciais A Fazenda Pública está dispensada do pagamento de custas e
emolumentos, devendo-se salientar que a presente situação não se trata de
isenção, mas apenas de dispensa de prévio preparo ou depósito de custas e
emolumentos.
O Ente Público, portanto, só irá pagar custas e emolumentos dos
atos processuais que entender cabíveis ao final do processo, desde que reste
vencida na demanda, de acordo com o artigo 27 do Código de Processo Civil19.
Contudo, existem pessoas atuantes no processo que deverão ser
remuneradas pelos seus serviços prestados. Nestes casos, o Ente Público
litigante não estará desobrigado de arcar com determinadas despesas, como
se observa no caso das diligências do oficial de justiça em algumas situações,
dos honorários dos peritos20 e das postagens de comunicações processuais21.
2.2 Da citação e da contestação Nas demandas contra os entes públicos, a citação dos mesmos
deverá ser feita por oficial de justiça, na pessoa do representante legal destes.
Quando aquele que recebeu a citação não possui a condição de representante
18Súmula 383 STF - A prescrição em favor da Fazenda Pública recomeça a correr por dois anos e meio a partir do ato interruptivo, mas não fica reduzida aquém de cinco anos, embora o titular do direito a interrompa durante a primeira metade do prazo. 19 Art. 27 - As despesas dos atos processuais, efetuados a requerimento do Ministério Público ou da Fazenda Pública, serão pagas a final pelo vencido.20 PROCESSO CIVIL. HONORÁRIOS DO PERITO. ANTECIPAÇÃO PELA FAZENDA. OBRIGATORIEDADE. As despesas dos atos processuais devem ser antecipadas, inclusive pela Fazenda Pública e suas autarquias, não estando o perito obrigado a custear as despesas para realizar o trabalho. (REsp 182.201/SC, Rel. Ministro HÉLIO MOSIMANN, SEGUNDA TURMA, julgado em 04/03/1999, DJ 29/03/1999 p. 154). 21 Art. 33 - Cada parte pagará a remuneração do assistente técnico que houver indicado; a do perito será paga pela parte que houver requerido o exame, ou pelo autor, quando requerido por ambas as partes ou determinado de ofício pelo juiz.
legal da Fazenda Pública, a citação será nula, exceto nos casos de delegação
da competência do representante legal, desde que amparada por norma
expressa.
Em sua contestação, nos termos do artigo 302 do Código de
Processo Civil, recai sobre o réu a incumbência de concentrar toda a matéria a
ser alegada em sua defesa, sobre pena de preclusão, além dos fatos não
impugnados serem considerados verdadeiros por presunção, exceto nas
situações previstas nos incisos do referido dispositivo22.
Ora, não se admite a confissão por parte do Ente Público em razão
da indisponibilidade do seu direito e, não obstante, existe a presunção de
legitimidade dos atos administrativos, cabendo ao autor da demanda, o ônus
de provar em contrário. Logo, não se configura a presunção de veracidade dos
fatos alegados pelo autor, esculpida no caput do artigo 302, em se tratando das
demandas contra os órgãos da Administração Pública.
Do mesmo modo, se o Ente Público for revel, não haverá a
presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor de acordo com o que
estabelece o artigo 319 da Lei Adjetiva em questão23, em virtude da
indisponibilidade do direito da Fazenda Pública24 e do princípio da supremacia
do interesse público sobre o privado. Neste caso, deverá o magistrado
determinar a instrução para que o autor exerça a sua incumbência de provar a
autenticidade dos fatos.
2.3 Do julgamento liminar de improcedência do pedido De acordo com o artigo 285-A do Código de Processo Civil, há a
previsão de julgamento anterior à própria citação pelo juiz, quando se tratar de
matéria unicamente de direito, ou seja, quando se dispensar prova técnica,
22 Art. 302 - Cabe também ao réu manifestar-se precisamente sobre os fatos narrados na petição inicial. Presumem-se verdadeiros os fatos não impugnados, salvo: I - se não for admissível, a seu respeito, a confissão; II - se a petição inicial não estiver acompanhada do instrumento público que a lei considerar da substância do ato; III - se estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto. (...). 23Art. 319 - Se o réu não contestar a ação, reputar-se-ão verdadeiros os fatos afirmados pelo autor. 24 Art. 320 - A revelia não induz, contudo, o efeito mencionado no artigo antecedente: (...) II - se o litígio versar sobre direitos indisponíveis; (...)
pericial ou testemunhal e já houver sentenças em casos idênticos de total
improcedência, naquele juízo25.
Pode-se entender por casos idênticos, aqueles de iguais
fundamentações jurídicas. Neste sentido, tem-se por base o posicionamento de
Fernando da Fonseca Gajardoni:
"A expressão casos idênticos deve ser interpretada, por
isso, como sendo casos semelhantes, isto é, que tenham
os mesmos fundamentos de fato e de direito (causa de
pedir), ainda que o pedido seja diverso. Por exemplo,
nada impede a aplicação do dispositivo para julgar
improcedente de plano a pretensão que veicule tese
sobre a inconstitucionalidade de determinado tributo ou
contribuição (causa de pedir) para fins de repetição de
indébito (pedido da nova ação), quando idêntica tese
jurídica, com a invocação dos mesmos fundamentos, haja
sido rejeitada em ação com pedido de compensação
(pedido primitivo)” 26.
Portanto, tal dispositivo previne o acúmulo de demandas cujo
entendimento é o mesmo o que se verifica, com certa freqüência, nos litígios
envolvendo a Fazenda Pública uma vez que, não obstante o fato de muitas
ações ajuizadas contra o Ente Público versarem sobre o mesmo assunto, ainda
se observa que parcela considerável destas versa apenas sobre matéria de
direito dispensando, deste modo, a dilação probatória.
No caso em tela, poderá o juiz indeferir a petição inicial por meio de
sentença, desta cabendo apelação, podendo haver retratação do juízo “a quo”,
nos termos do artigo 296 do Diploma Adjetivo Civil27.
25Art. 285-A- Quando a matéria controvertida for unicamente de direito e no juízo já houver sido proferida sentença de total improcedência em outros casos idênticos, poderá ser dispensada a citação e proferida sentença reproduzindo-se o teor da anteriormente prolatada. 26 GAJARDONI, Fernando da Fonseca. O princípio Constitucional da Tutela Jurisdicional sem Dilações Indevidas e o Julgamento Antecipadíssimo da Lide. São Paulo: RT, n. 141, nov. 2006, p. 10. 27 Art. 296 - Indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar, facultado ao juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, reformar sua decisão. (Alterado pela L-008.952-1994).
Em não se havendo o juízo de retratação, deverá o réu ser citado
para que possa se defender em segunda instância, que será competente para
apreciar o mérito. Todavia, se a citação do réu não ocorreu e o Tribunal decidiu
pela manutenção da sentença proferida em primeiro grau, a sua falta não será
revestida de nulidade ou prejuízo.
2.4 Da sentença de mérito contra a Fazenda Pública e do reexame necessário
Quando o credor não dispõe de título executivo extrajudicial para
que se possa dar ensejo ao procedimento de execução, deverá ajuizar prévia
ação de conhecimento para que se possa obter o título executivo judicial.
Deve-se ressaltar que a sentença de conhecimento proferida contra a
Administração Pública, possui natureza condenatória podendo ser líquida ou
ilíquida.
Como já abordado resumidamente em tópico anterior, dispõem os
incisos primeiro e segundo do artigo 475 do Código de Processo Civil, dos
casos em que estará sujeita ao reexame necessário com algumas restrições, a
sentença de mérito contra a Fazenda Pública28.
É cediço que tal determinação abrange apenas as sentenças de
mérito contrárias ao Ente Público, havendo o entendimento majoritário de que
não se aplica tal regramento às decisões interlocutórias, tampouco às decisões
concessivas de tutela antecipada, proferidas contra a Fazenda Pública em
juízo29.
28Art. 475 - Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal, a sentença: I - proferida contra a União, o Estado, o Distrito Federal, o Município, e as respectivas autarquias e fundações de direito público; II - que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução de dívida ativa da Fazenda Pública. 29RECURSO ESPECIAL. PROCESSO CIVIL. ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA. REQUISITOS AUTORIZADORES. SÚMULA N. 7/STJ. REEXAME NECESSÁRIO. ART. 475 DO CPC. INAPLICABILIDADE.VERBA DE CARÁTER ALIMENTAR. EXCEÇÃO AO ART. 2°-B DA LEI N. 9.494/97. (...) 2. A decisão que antecipa os efeitos da tutela proferida no curso do processo tem natureza de interlocutória, não lhe cabendo aplicar o art. 475 do CPC, o qual se dirige a dar condição de eficácia às sentenças proferidas contra a Fazenda Pública, quando terminativas com apreciação do mérito (art. 269 do CPC). (...) (REsp 659200/DF, Rel. Ministro HÉLIO QUAGLIA BARBOSA, SEXTA TURMA, julgado em 21/09/2004, DJ 11/10/2004 p. 384).
Também não há que se falar em reexame necessário das sentenças
que extinguem o processo sem julgamento de mérito uma vez que, em se
tratando do presente trabalho, a Fazenda Pública se encontra no pólo passivo
da ação.
Neste diapasão, a súmula 325 do STJ ainda impõe que todas as
condenações proferidas por sentença contra o Ente Público devem se sujeitar
ao reexame necessário, ainda que versem apenas sobre os honorários de
sucumbência, desde que superior ao limite de sessenta salários mínimos,
conforme será explanado no final deste tópico30.
O inciso dois do artigo 475, que estabelece a sujeição ao reexame
necessário de sentença que julgar procedente os embargos à execução de
dívida ativa, gerou controvérsia acerca de sua aplicabilidade em se tratando
dos embargos à execução, julgados improcedentes quando a Fazenda Pública
fosse ré.
Houve corrente que defendeu a possibilidade da extensão deste
dispositivo para atingir também, os casos de improcedência dos embargos
opostos pelo Ente Público.
Contudo, de acordo com o posicionamento consolidado pelo STJ,
entende-se não estar sujeita ao reexame necessário, a sentença que julgar
improcedentes os embargos à execução opostos pela Fazenda Pública31.
Em se tratando de procedimento, de acordo com os regramentos
estabelecidos pelo parágrafo primeiro do artigo 475 do Código de Processo
Civil, é obrigatório ao juiz realizar a determinação da remessa dos autos para
posterior reapreciação do Tribunal. Caso não o faça, poderá determiná-la a
qualquer tempo, pois neste caso, não há que se falar em preclusão e, não
30Súmula 325 STJ - A remessa oficial devolve ao Tribunal o reexame de todas as parcelas da condenação suportadas pela Fazenda Pública, inclusive os honorários de advogado. 31PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. EMBARGOS DA EXECUTADA. SENTENÇA QUE OS REJEITA. REMESSA EX OFFICIO. DESCABIMENTO. ALCANCE DOS ARTS. 475, II E 520, V, DO CPC. I - A sentença que rejeita ou julga improcedentes os embargos à execução opostos pela Fazenda Pública não está sujeita ao reexame necessário (art. 475, II, do CPC). (...) (AgRg no REsp 1079310/SP, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 11/11/2008, DJe 17/11/2008).
obstante, é cabível ao próprio Presidente do Tribunal avocar os autos,
mediante provocação ou mesmo de ofício32.
Estão dispensados do reexame necessário, de acordo com o
parágrafo segundo do artigo 475, a condenação ou o direito controvertido que
não excedam 60 (sessenta) salários mínimos. Logo, não se admitirá esta regra
quando não se conhecer de antemão, o conteúdo econômico envolvido na
demanda33.
Do mesmo modo, não estão sujeitos ao duplo grau de jurisdição
obrigatório, as sentenças de mérito fundadas em jurisprudência do plenário do
Supremo Tribunal Federal, bem como aquelas fundadas em súmula deste
mesmo Tribunal ou do Tribunal Superior competente, nos termos do parágrafo
terceiro do artigo em questão34.
Portanto, pode-se considerar que as sentenças de mérito ilíquidas
proferidas contra a Fazenda Pública, as sentenças não enquadradas nas
situações do parágrafo supra e as que condenaram o Ente Público ao
pagamento de valores superiores a 60 (sessenta) salários mínimos, jamais
transitam em julgado ainda que não haja recurso das partes, visto que haverá
como condição de eficácia da sentença, a reapreciação da matéria pelo
tribunal, através do reexame necessário.
32§ 1o Nos casos previstos neste artigo, o juiz ordenará a remessa dos autos ao tribunal, haja ou não apelação; não o fazendo, deverá o presidente do tribunal avocá-los.33§ 2º Não se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenação, ou o direito controvertido, for de valor certo não excedente a 60 (sessenta) salários mínimos, bem como no caso de procedência dos embargos do devedor na execução de dívida ativa do mesmo valor.34§ 3 Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver fundada em jurisprudência do plenário do Supremo Tribunal Federal ou em súmula deste Tribunal ou do tribunal superior competente.
o
III – DA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA EM FACE DA FAZENDA PÚBLICA 3.1 Do título executivo
Conforme já descrito anteriormente, o rito coercitivo em questão
deverá ser fundamentado pelo título executivo, sendo que este deverá
preencher tanto seus pressupostos extrínsecos (requisitos formais), como os
seus pressupostos intrínsecos (conteúdo).
Sob o aspecto da forma, o título executivo deverá, dentre outras
características formais peculiares a cada espécie, apresentar a forma escrita
de modo que, se torne hábil a instruir o pedido inicial ou mesmo o requerimento
de execução.
Com relação ao seu conteúdo, é pacífico o entendimento de que os
títulos deverão preencher os requisitos da certeza (é o atestado de constituição
da obrigação podendo advir de um título de crédito, da confissão do devedor ou
mesmo de sentença judicial ou arbitral), da exigibilidade (possibilita o credor a
exigir o cumprimento da obrigação líquida e certa, se caracterizando pelo
interesse de agir) e da liquidez (se caracteriza pela individualização do objeto
ou na determinação do montante devido, sendo que um título ilíquido para que
se torne executivo, deverá ser objeto de prévia liquidação)35.
Ainda, podem ser os títulos executivos, judiciais ou extrajudiciais.
Em se tratando do presente trabalho, a redação dada pelo parágrafo
primeiro do artigo 100 da Constituição Federal limita os títulos com eficácia
executiva contra a Fazenda Pública, às sentenças judiciais transitadas em
julgado, possibilitando o entendimento de que a execução por quantia certa
contra o Ente Público não seria possível, em se tratando dos títulos
extrajudiciais 36.
A súmula 279 do STJ dirimiu qualquer dúvida acerca do dispositivo
estabelecido na Lei Maior, ao determinar o cabimento da execução por título
executivo extrajudicial, em face da Fazenda Pública37.
Não obstante, podem ser encontrados tanto na doutrina, quanto na
jurisprudência, vários posicionamentos com o escopo de esclarecer o motivo
de não haver que se falar em conflito com o dispositivo da Carta Magna.
O presente trabalho vai destacar dois destes uma vez que, embora
ambos defendam a admissibilidade da execução extrajudicial em face do Ente
Público, divergem acerca do seu procedimento.
O primeiro entendimento vem originariamente do STJ, afirmando
que o dispositivo constitucional deverá ser analisado de modo extensivo,
simplesmente por não haver qualquer distinção entre os títulos judicial e
extrajudicial, feita pelo artigo 730 do Código de Processo Civil38.
Ora, no que tange ao requisito para a expedição do precatório
disposto no artigo 100 da Constituição Federal, por se tratar de execução
contra o Ente Público, é sabido que não é a sentença de mérito que 35 Art. 586 - A execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em título de obrigação certa, líquida e exigível. 36§ 1º Os débitos de natureza alimentícia compreendem aqueles decorrentes de salários, vencimentos, proventos, pensões e suas complementações, benefícios previdenciários e indenizações por morte ou por invalidez, fundadas em responsabilidade civil, em virtude de sentença judicial transitada em julgado, e serão pagos com preferência sobre todos os demais débitos, exceto sobre aqueles referidos no § 2º deste artigo.37 Súmula 279 STJ – É cabível execução por título extrajudicial contra a Fazenda Pública. 38 PROCESSO CIVIL - EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA - TÍTULO EXTRAJUDICIAL. 1. É admissível, a execução contra a Fazenda, seja o título judicial ou extrajudicial, em interpretação extensiva do art. 730 do CPC. (...) (REsp 289421/SP, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 05/03/2002, DJ 08/04/2002 p. 177).
necessariamente transitaria em julgado, mas sim, o acórdão em virtude do
reexame necessário.
Portanto, seguindo este raciocínio, a expressão “sentença judicial”
contida no dispositivo em análise, não deve ser interpretada do modo restritivo,
uma vez que a Carta Magna se refere a esta de modo amplo instituindo que,
para que seja expedido, depende o precatório de um título executivo. De
acordo com tal entendimento, ensina Leonardo Carneiro da Cunha:
“Ao se referir a sentença judiciária, a norma constitucional
está, em verdade, estabelecendo que a expedição do
precatório depende de um título executivo, ou seja, de
qualquer título executivo, judicial ou extrajudicial, não
sendo possível, bem por isso, expedir-se precatório em
razão de um ato administrativo ou de determinação do
Poder Legislativo; sua expedição depende, sempre, de
determinação judicial” 39.
Contudo deve-se salientar que, de acordo com esta corrente, por se
tratar de execução de título extrajudicial, entende-se que ainda que não haja
embargos por parte da Administração Pública, não se deverá deixar de proferir
sentença, uma vez que os embargos neste caso terão mais propriamente
natureza de contestação.
Neste sentido, ressalta Humberto Theodoro Júnior ao citar o Ministro José
Augusto Delgado40:
“Como destaca o Ministro José Augusto Delgado,
continua consolidada na jurisprudência, embora não
39 CUNHA, 2009, p. 329, op. cit. 40 Começaremos com a controvérsia que, penso, já está consolidada na jurisprudência, embora não esteja na doutrina, de que o precatório deve ser emitido tanto com base em título judicial como em extrajudicial. Pelo menos a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ) está consolidada em que o precatório convive com as execuções judicial e extrajudicial. O único cuidado que se precisa ter é na execução extrajudicial e se seguir todo o formalismo, sem se esquecer da aplicação do artigo 730 do Código de Processo Civil. (DELGADO, José Augusto. Precatório Judicial e Evolução Histórica Advocacia Administrativa na Execução Contra a Fazenda Pública. Impenhorabilidade dos Bens Públicos. Continuidade do Serviço Público. In Série Cadernos do CEJ; v. 23, p. 133. Disponível em < http://www.cjf.jus.br/Publicacoes/Publicacoes.asp>. Acesso em 12/12/2009).
esteja na doutrina, a inteligência de que o precatório deve
ser emitido tanto com base em título judicial como
extrajudicial. O que – adverte o ilustre Ministro - se deve
ter é o cuidado de, na execução do título extrajudicial,
seguir todo o formalismo legal, sem se esquecer da
aplicação do art. 730 do Código de Processo Civil. Em
outras palavras, não se pode deixar de proferir sentença,
quer ocorra ou não a oposição de embargos, os quais, no
rito especial do art. 730 citado tem mais a natureza de
contestação do que a de embargos propriamente ditos” 41.
O segundo entendimento vem do STF afirmando que, nestes casos,
o artigo 730 do CPC deverá ser interpretado em consonância com o parágrafo
1º do artigo 100 da Carta Magna e, considerando ainda a sentença proferida
nos embargos à execução de título executivo extrajudicial em face da
Administração Pública, como sentença condenatória sujeita ao reexame
necessário.
Deste modo, o posicionamento não pacificado por esta Corte
Suprema aduz que, de acordo com procedimento deduzido a partir da
interpretação do artigo 730 do CPC, determina-se que os embargos cabíveis
contra o despacho que determina o pagamento ou o cumprimento da obrigação
contida no título extrajudicial, serão análogos à contestação e, neste caso,
ainda que não sejam os mesmos opostos, deverá se proferir uma sentença
sujeita ao duplo grau de jurisdição42.
41 JUNIOR, Humberto Theodoro. A Execução Contra a Fazenda Pública e os Crônicos Problemas do Precatório. In: VAZ, Orlando (Organizador). Precatórios: Problemas e Soluções. Belo Horizonte: Del Rey; Centro Jurídico Brasileiro, 2005. p. 48. 42EMENTA: CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA: TÍTULO EXTRAJUDICIAL. CF, art. 100, § 1º. CPC, art. 730. I. - O art. 730, CPC, deverá ser interpretado em harmonia com o art. 100, § 1º, da Constituição Federal (EC 30/2000), que estabelece que a execução contra a Fazenda Pública, mediante precatório, pressupõe, sempre, sentença condenatória passada em julgado. Dessa forma, o art. 730, CPC, há de ser interpretado assim: a) os embargos, ali mencionados, devem ser tidos como contestação, com incidência da regra do art. 188, CPC; b) se tais embargos não forem opostos, deverá o juiz proferir sentença, que estará sujeita ao duplo grau de jurisdição (CPC, art. 475, I); c) com o trânsito em julgado da sentença condenatória, o juiz requisitará o pagamento, por intermédio do Presidente do Tribunal, que providenciará o precatório. (...) (RE 421233 AgR, Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO, Segunda Turma, julgado em 15/06/2004, DJ 06-06-2004 PP-00056 EMENT VOL-02158-10 PP-01899).
Observa-se que os posicionamentos demonstrados defenderam
procedimentos distintos contra o Ente Público. Contudo, ambos os
entendimentos convergem no ponto de que uma sentença deverá ser proferida,
ainda que a Fazenda não embargue tal execução.
O presente trabalho ousará se posicionar em contrário a segunda
corrente demonstrada, oriunda de decisão da Corte Suprema, se baseando nos
ensinamentos de Humberto Theodoro Junior:
“Judicial ou extrajudicial, o título pouco importa, já que o
procedimento legal é um só. A solução correta é sem
dúvida a do STJ, que, aliás, tem a última palavra na
interpretação da lei federal ordinária: o prazo do art. 730
não se amplia a benefício da Fazenda executada pela
óbvia razão de que foi estabelecido pela lei exclusiva e
especificamente para a própria Fazenda Pública” 43.
Desta maneira, não haverá que se falar na aplicação do artigo 188
do CPC aos embargos44, tampouco no reexame necessário da sentença dos
mesmos uma vez que, como já supra mencionado, o reexame necessário do
inciso II do artigo 475 só se verifica nos casos de embargos julgados
procedentes, em se tratando de execução de dívida ativa45. Apenas deverá se
observar que, de acordo com o procedimento defendido por esta corrente, há
43 JUNIOR, Humberto Theodoro. A Execução Contra a Fazenda Pública e os Crônicos Problemas do Precatório. In: VAZ, Orlando (Organizador), 2005. p. 49. op. cit. 44PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS À EXECUÇÃO OPOSTOS PELA FAZENDA PÚBLICA. PRAZO. ART. 730 DO CPC. INAPLICABILIDADE DO ART. 188 DO CPC. DISSÍDIO PRETORIANO. SÚMULA N. 83/STJ. PRECEDENTES. 1. O STJ firmou o entendimento de que é de dez dias, nos termos da legislação processual então vigente (art. 730 do CPC), o prazo de que dispõe a Fazenda pública para opor embargos à execução. Inaplicabilidade do art. 188 do CPC. (...) (REsp 248.717/PB, Rel. Ministro OÃO OTÁVIO DE NORONHA, SEGUNDA TURMA, julgado em 11/10/2005, DJ 13/03/2006 p. 233). 45PROCESSUAL CIVIL. FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL. EMBARGOS À EXECUÇÃO REJEITADOS. REEXAME NECESSÁRIO. INAPLICABILIDADE. 1. O CPC, art. 475, ao tratar do reexame obrigatório em favor da Fazenda Pública, incluídas as Autarquias e Fundações Públicas, no tocante ao processo de execução, limitou o seu cabimento apenas à hipótese de procedência dos embargos opostos em execução de dívida ativa (inciso II). Não há, pois, que estendê-lo aos demais casos. (...) (EREsp 251841/SP, Rel. Ministro EDSON VIDIGAL, CORTE ESPECIAL, julgado em 25/03/2004, DJ 03/05/2004 p. 85).
de ser prolatada uma sentença, ainda que não ocorra a oposição de embargos
por parte da Administração Pública.
3.2 Da liquidação de sentença Uma vez transitada em julgado, a sentença proferida contra a
Fazenda Pública pode ser ilíquida, excetuada a regra prevista no parágrafo
terceiro do artigo 475-A, que obsta a sentença ilíquida nas hipóteses
reservadas pelo Código de Processo Civil ao procedimento sumário46.
Logo, em se tratando do título executivo judicial que não fixou o valor
da condenação, para que se possa dar ensejo à execução deste, dever-se-á
realizar, neste caso, prévio procedimento de liquidação. No caso em tela, deve
se seguir o sistema estabelecido a partir artigo 475-A até o artigo 475-H do
Código de Processo Civil.
Este se inicia a partir do requerimento da parte interessada devendo
então ser a Fazenda intimada na pessoa do seu procurador para resposta,
ressaltando-se que o procedimento de liquidação é limitado pela decisão
proferida que transitou em julgado ou que esteja pendente de recurso, devendo
seu objeto ser restrito ao quantum debeatur. Logo, não há que se falar em
rediscussão da lide neste caso, tampouco em modificação da decisão ilíquida
proferida, que deu ensejo a este procedimento.
Pode-se dizer que existem duas modalidades de liquidação, quais
sejam, a por arbitramento e a por artigos.
De acordo com o artigo 475-B, no caso de operação aritmética para
se determinar a quantia devida, deverá o próprio credor, quando do
requerimento da execução, apresentar a memória discriminada de cálculo
devidamente atualizada47, dispositivo que, como se vê, contribui sobremaneira
para a celeridade e economia processual. Neste sentido, explica o Magistrado
Mauro Spalding:
“Se naquelas situações (cumprimento de sentença pelo
devedor privado) a própria Lei continuou permitindo a 46 § 3o Nos processos sob procedimento comum sumário, referidos no art. 275, inciso II, alíneas ‘d’ e ‘e’ desta Lei, é defesa a sentença ilíquida, cumprindo ao juiz, se for o caso, fixar de plano, a seu prudente critério, o valor devido. 47 Art. 475-B - Quando a determinação do valor da condenação depender apenas de cálculo aritmético, o credor requererá o cumprimento da sentença, na forma do art. 475-J desta Lei, instruindo o pedido com a memória discriminada e atualizada do cálculo.
liquidação mediante cálculos aritméticos, com muito mais
razão nas execuções contra a Fazenda Pública que, a
exigir processo autônomo de execução, impõe uma maior
celeridade nas situações em que se está a exigir a
apuração do quantum debeatur” 48.
Uma vez necessário para que se viabilize a elaboração da memória
de cálculo, poderá a parte interessada requerer ao juiz que determine a entrega
de dados, que estejam em poder da parte contrária ou de terceiros, no prazo
de trinta dias sob pena de os cálculos apresentados pelo credor serem
reputados corretos, nos termos do parágrafo primeiro do artigo 475-B do
Código de Processo Civil49.
Ainda, poderá o juiz se valer do contador judicial nas hipóteses
ilustradas no parágrafo terceiro do artigo 475-B da Lei Adjetiva Civil, ou seja,
quando se tratar dos casos em que o credor é beneficiário de assistência
judiciária ou quando a memória de cálculo apresentada por este aparentar
exceder os limites da decisão exeqüenda50.
3.2.1 – Liquidação por arbitramento Dar-se-á a liquidação por arbitramento quando a sentença assim o
determinar, as partes transigirem ou a natureza do objeto da liquidação exigir
tal procedimento. Esse modo de liquidação será realizado quando a
determinação da quantia devida depender de apuração prévia de um perito51.
Neste caso, uma vez requerido pela parte, o juiz nomeará o perito
fixando prazo para que este entregue seu laudo. O devedor é intimado na 48 SPALDING. 2008. p. 84. op. cit. 49 § 1o Quando a elaboração da memória do cálculo depender de dados existentes em poder do devedor ou de terceiro, o juiz, a requerimento do credor, poderá requisitá-los, fixando prazo de até trinta dias para o cumprimento da diligência. 50 § 3o Poderá o juiz valer-se do contador do juízo, quando a memória apresentada pelo credor aparentemente exceder os limites da decisão exeqüenda e, ainda, nos casos de assistência judiciária.51 PROCESSUAL CIVIL – EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA – ILIQUIDEZ DO TÍTULO JUDICIAL – VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC – INEXISTÊNCIA – COISA JULGADA – LIQUIDAÇÃO POR ARBITRAMENTO E NÃO POR ARTIGOS – EXPURGOS INFLACIONÁRIOS – INCLUSÃO NA CONTA DE LIQUIDAÇÃO – POSSIBILIDADE. (...) 4. Hipótese dos autos que, pela natureza do objeto a ser liquidado, demanda a realização de perícia para apuração do quantum debeatur, o que atrai a incidência do inc. II do art. 475-C do CPC, que dispõe sobre a liquidação por arbitramento. (...) (REsp 1026109/DF, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 16/09/2008, DJe 14/10/2008).
pessoa do seu advogado para que acompanhe o procedimento liquidatório,
podendo indicar assistente técnico, bem como apresentar quesitos. Uma vez
apresentado o laudo, as partes poderão se manifestar no prazo de dez dias. O
juiz então irá proferir a decisão tornando líquida a condenação sendo que,
contra tal decisão, caberá agravo de instrumento.
3.2.2 – Liquidação por artigos Haverá a necessidade de se empregar esta modalidade de
liquidação quando, para que seja viável a determinação do valor da
condenação, surgir a necessidade de alegação e prova de fato novo, não
necessariamente superveniente a sentença, mas sim aquele fato que irá
repercutir no valor da condenação, que deixou de ser considerado na decisão
proferida. Este fato novo deverá estar diretamente relacionado com a
determinação da quantia devida.
Na liquidação por artigos o procedimento será o comum, podendo o
rito ser ordinário ou sumário, dependendo do valor da obrigação. O devedor
será intimado na pessoa do seu advogado a impugnar os fatos novos, sendo
admitida a dilação probatória e perícia, se necessário for. O juiz então irá
proferir decisão tornando líquida a obrigação desta, cabendo agravo de
instrumento.
3.3 Do não cabimento do cumprimento de sentença Conforme demonstrado anteriormente, percebe-se que as novas
regras da liquidação de sentença podem se aplicar à Fazenda Pública.
Todavia, o mesmo não ocorre com o cumprimento de sentença, quando o Ente
Público estiver no pólo passivo da ação.
Atualmente, a ação de execução de sentença condenatória a
prestação de quantia certa deu lugar ao “cumprimento de sentença”,
estabelecido pela lei 11.232 de 22 de dezembro de 2005, que se caracteriza
por um procedimento incidental que acontece nos próprios autos em que se
proferiu a condenação, sem a necessidade de instauração de um processo
autônomo, tampouco de nova citação do devedor sendo agora este, intimado
na pessoa de seu advogado. Em outras palavras, não mais se encontram
separados o procedimento cognitivo e o procedimento executivo.
Contudo, afirma-se que o sistema dualístico foi mantido para as
demandas que visam o adimplemento das obrigações pelo Poder Público.
Humberto Theodoro Júnior bem explica o caso em tela:
“Quer isto dizer que, em tais ações, a sentença de mérito
continua sendo o ato pelo qual o órgão judicial “cumpre e
acaba o ofício jurisdicional”, no processo de
conhecimento, tal como dispunha o art. 463 em sua
redação anterior à Lei nº 11.232/2005” 52.
Assim, uma vez publicada a decisão contrária ao Ente Público,
necessário será que o credor proponha uma nova demanda por meio de
petição inicial, requerendo a citação da Fazenda Pública para a oposição de
embargos à execução, nos termos do artigo 730 do Código de Processo Civil53.
Compete salientar que, nos termos do inciso dois do artigo 575 do
CPC, a ação de execução fundada em título judicial contra a Fazenda Pública
será processada pelo mesmo juízo que julgou a ação de conhecimento e deu
ensejo ao surgimento do título executivo54.
3.4 Dos embargos à execução Os embargos à execução constituem um meio de defesa do
executado em verdadeira ação incidental ao processo de execução, os quais
podem versar sobre condições da ação, sobre o mérito ou sobre matéria
processual.
52 JUNIOR, 2009, p. 374, op. cit. 53PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO DE TÍTULO JUDICIAL CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. EMBARGOS. EXCESSO DE EXECUÇÃO. NECESSIDADE DE INDICAÇÃO DO VALOR CORRETO. MEMÓRIA DE CÁLCULOS. 1. Não incidem as disposições concernentes ao "cumprimento de sentença" nas execuções por quantia certa contra a Fazenda Pública, dada a existência de rito próprio (art. 730 do CPC). (...) (REsp 1099897/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 24/03/2009, DJe 20/04/2009). 54 Art. 575 - A execução, fundada em título judicial, processar-se-á perante: (...) II - o juízo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição; (...).
O prazo para o Ente Público opor os embargos à execução é de 30
(trinta) dias, de acordo com o artigo 1 - B da Lei 9.494 de 10 de setembro de
97, com redação da Medida Provisória 2.180-35/200155.
Tal prazo é contado a partir da data da juntada do mandado de
citação, uma vez que o Ente Público é citado para opor tais embargos e não
para o pagamento, em virtude da impenhorabilidade dos bens públicos sendo
óbvio que, no caso em tela, não se aplicará multa de 10% (dez por cento)
prevista no artigo 475-J da Lei Adjetiva56.
Mencionamos novamente que não se aplica o cumprimento de
sentença contra a Administração Pública, já que a execução por quantia certa
em face desta, se dá através de procedimento autônomo ensejando citação,
bem como a oposição de embargos.
Nota-se que parte considerável da doutrina e da jurisprudência
defende o não cabimento do efeito suspensivo dos embargos opostos pela
Fazenda Pública, excetuada a previsão do parágrafo primeiro do artigo 739-A,
alegando que os regramentos do procedimento de execução em face do Ente
Público nada dispõem a respeito, valendo para esta situação, as normas
gerais57.
Contudo este trabalho pede vênia para discordar do
posicionamento acima. É que não se aplica ao procedimento de execução por
quantia certa contra a Fazenda Pública, o dispositivo do parágrafo primeiro do
artigo 739-A do Código de Processo Civil58.
Ora, é sabido que no procedimento executório contra a
Administração Pública não há a sujeição do Ente Público à penhora, a caução
e tampouco ao depósito, conforme dispõe o parágrafo supracitado. Não
obstante, a expedição do precatório ou requisição de pequeno valor, depende 55Art. 1 -B - o O prazo a que se refere o caput dos arts. 730 do Código de Processo Civil, e 884 da Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei n 5.452, de 1o o de maio de 1943, passa a ser de trinta dias56475-J - Caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada em liquidação, não o efetue no prazo de quinze dias, o montante da condenação será acrescido de multa no percentual de dez por cento e, a requerimento do credor e observado o disposto no art. 614, inciso II, desta Lei, expedir-se-á mandado de penhora e avaliação.57 NEGRÃO, Theotonio; GOUVEA, José Roberto Ferreira. Código de Processo Civil e Legislação Processual em Vigor. 41. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 949. 58§1º O juiz poderá, a requerimento do embargante, atribuir efeito suspensivo aos embargos quando, sendo relevantes seus fundamentos, o prosseguimento da execução manifestamente possa causar ao executado grave dano de difícil ou incerta reparação, e desde que a execução já esteja garantida por penhora, depósito ou caução suficientes.
de prévio trânsito em julgado de modo que, só poderá se determinar o
pagamento, quando nada mais houver a ser apurado com relação ao valor
executado, uma vez que já se encontra resolvido o processo de conhecimento
e o procedimento de liquidação (se houver).
Logo, é forçoso admitir que, em se havendo a oposição dos
embargos à execução, o trânsito em julgado a que se refere o parágrafo
primeiro do artigo 100 é o da sentença que julgar os embargos à execução ou,
mais precisamente, do acórdão que julgar a respectiva apelação, caso haja.
Neste sentido, colhe-se explanação oportuna de Leonardo Carneiro da Cunha:
“Em outras palavras, o precatório ou a requisição de
pequeno valor somente se expede depois de não mais
haver qualquer discussão quanto ao valor executado,
valendo dizer que tal expedição depende do trânsito em
julgado da sentença que julgar os embargos” 59.
Portanto, os embargos à execução contra o Ente Público devem ser
recebidos no efeito suspensivo, pois somente estando dirimida a controvérsia é
que será expedido o precatório ou a requisição de pequeno valor, mediante a
apresentação da certidão de trânsito em julgado da sentença que julgar os
embargos à execução.
No mesmo sentido, o Magistrado Mauro Spalding afirma que
“recebidos os embargos do devedor, o processo de execução deverá ser
suspenso, sendo este o principal efeito de sua oposição” 60.
Ainda, é cabível a aplicação do parágrafo terceiro do artigo 739-A do
CPC61, sendo que deste modo, prosseguirá a execução com relação à parte
que não foi embargada, ou seja, deverá ser expedido o precatório com relação
ao valor incontroverso62.
59 CUNHA, 2009. p. 272. op. cit. 60 SPALDING. 2008. p. 84. op. cit. 61§ 3º Quando o efeito suspensivo atribuído aos embargos disser respeito apenas a parte do objeto da execução, essa prosseguirá quanto à parte restante.62EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. PRECATÓRIO. PARTE INCONTROVERSA DOS VALORES DEVIDOS. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO. A jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal firmou-se no sentido de que, na execução contra a Fazenda Pública, a expedição de precatório referente à parte incontroversa dos valores devidos não afronta a Constituição da
Deve-se esclarecer que tal situação não se confunde com o
fracionamento do valor devido para que se viabilize seu recebimento pelo
exeqüente parte por precatório e parte por requisição de pequeno valor,
procedimento que, por sua vez, é expressamente vedado pelo parágrafo oitavo
do artigo 100 da Carta Magna63.
A petição inicial dos embargos à execução, sendo que estes são
distribuídos por dependência e autuados em apenso junto ao processo
principal, deverá atender aos dispositivos dos artigos 282 e 283 do CPC, além
de conter o valor da causa. Este, por sua vez, deverá ser mensurado a partir do
proveito econômico, de acordo com o que for impugnado pelo embargante64.
Se os embargos se voltam contra a totalidade do valor executado, o
valor da causa deverá se equivaler ao valor da execução já que, neste caso, o
proveito econômico significa deixar de adimplir o valor cobrado pelo
exeqüente65.
Por outro lado, se a alegação em matéria de defesa versar sobre o
excesso de execução, o valor da causa deverá corresponder à diferença entre
o que se exige o exeqüente e o que foi reconhecido pelo executado, em sede
de embargos66.
República. (RE 504128 AgR, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em 23/10/2007, DJe-157 DIVULG 06-12-2007 PUBLIC 07-12-2007 DJ 07-12-2007 PP-00055 EMENT VOL-02302-04 PP-00829).63§ 8º É vedada a expedição de precatórios complementares ou suplementares de valor pago, bem como o fracionamento, repartição ou quebra do valor da execução para fins de enquadramento de parcela do total ao que dispõe o § 3º deste artigo.64 PROCESSUAL CIVIL - EMBARGOS À EXECUÇÃO - FUNDAMENTADO EM EXCESSO DE EXECUÇÃO - IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA - VALOR CORRESPONDENTE AO PROVEITO ECONÔMICO. 1. Nos embargos à execução fundamentados em excesso do montante requerido, o valor da causa deve ser fixado com base no proveito econômico visado pelo embargado, correspondendo à diferença entre o valor da execução e o valor entendido como devido pelo embargante. (...) (AG 2004.01.00.016460-0/DF, Primeira Turma, Rel. Des. Federal José Amilcar Machado, DJ 16/08/2004, p.35). 65 PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. VALOR DA CAUSA. ART. 259, CPC. IMPUGNAÇÃO TOTAL. VALOR DA DÍVIDA EXEQÜENDA. RECURSO DESACOLHIDO. - O valor da causa nos embargos à execução deve ser o valor da dívida exeqüenda se o embargante ataca a execução pela integralidade dos valores cobrados. (REsp 119.815/RS, Rel. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA TURMA, julgado em 24/06/1998, DJ 21/09/1998 p. 173). 66RECURSO ESPECIAL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. VIOLAÇÃO DO ARTIGO 535 DO CPC. INOCORRÊNCIA. QUESTÃO APRECIADA. VALOR DA CAUSA. ALTERAÇÃO EX OFFICIO. EMBARGOS À EXECUÇÃO. (...)
Uma vez recebidos os embargos, o magistrado determina a
intimação do exeqüente para se manifestar no prazo de quinze dias.
Estes são julgados por sentença. A sentença que julga procedente
os embargos terá natureza constitutiva negativa (desconstitui o título
executivo)67. A sentença que julga improcedente os embargos é meramente
declaratória já que, no caso em tela, prosseguir-se-á com a execução.
O artigo 739 do CPC dispõe sobre os casos de rejeição liminar dos
embargos, que vão se configurar quando estes forem intempestivos, quando a
petição inicial for inepta ou quando os embargos forem manifestamente
protelatórios68.
Contudo, deve se observar o dispositivo do parágrafo quinto deste
artigo que também inclui na hipótese de rejeição liminar dos embargos, em se
tratando de excesso de execução, o não apontamento dos valores que o
embargado entende ser correto, mediante apresentação de memória de
cálculo69.
Uma vez proposta execução contra a Fazenda Pública fundada em
título judicial, também poderá se falar em rejeição liminar dos embargos,
quando versarem sobre situações não previstas no artigo 741 do CPC.
Conforme já anteriormente frisado, a sentença que julgar os embargos não
estará sujeita ao reexame necessário.
Sejam os embargos julgados improcedentes ou rejeitados
liminarmente, o recurso cabível será o de apelação devendo-se lembrar que,
4. A jurisprudência desta Corte é firme na compreensão de que, em sendo os embargos do devedor parciais, o valor da causa deve corresponder à diferença entre o total executado e o reconhecido como devido. 5. Recurso provido. (Acórdão unânime da 6ª Turma do STJ, REsp 753147, rel. Min. Hamilton Carvalhido, j. 03/10/2006, DJ de 05/02/2007, p. 412). 67 PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. CPC, ART. 20, § 4.º. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. NÃO OCORRÊNCIA. I - Os embargos à execução, julgados procedentes, têm natureza constitutiva, e não condenatória (...) (REsp 330295/CE, Rel. Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em 21/09/2004, DJ 22/11/2004 p. 330). 68 Art. 739 - O juiz rejeitará liminarmente os embargos: I - quando intempestivos; II - quando inepta a petição (art. 295); III - quando manifestamente protelatórios. 69 § 5o Quando o excesso de execução for fundamento dos embargos, o embargante deverá declarar na petição inicial o valor que entende correto, apresentando memória do cálculo, sob pena de rejeição liminar dos embargos ou de não conhecimento desse fundamento.
de acordo com a letra da lei do inciso cinco do artigo 520 do CPC, sendo estes
julgados improcedentes ou em caso de rejeição liminar, a apelação terá efeito
apenas devolutivo70.
Este dispositivo atualmente é cabível apenas no caso de embargos
à execução fundada em título extrajudicial entre particulares, não sendo mais
admissível em caso de título judicial, pois neste caso, dentro do cumprimento
de sentença, não há embargos, mas sim impugnação, cujo recurso oportuno
em caso de rejeição é o agravo.
Do mesmo modo, defende-se a não aplicabilidade deste dispositivo
às execuções por quantia certa em face da Fazenda Pública seja o título
judicial ou extrajudicial.
E o motivo, como já explanado anteriormente, é a necessidade
prevista em lei de se determinar o pagamento apenas quando não mais houver
controvérsia acerca do valor executado. De acordo com Leonardo Carneiro da
Cunha, o entendimento não é outro:
“O recebimento da apelação apenas no efeito devolutivo,
no caso de execução contra a fazenda pública, é
totalmente inoperante e ineficaz, visto que, enquanto não
confirmados ou estabelecidos, definitivamente, os valores
a serem inscritos em precatórios ou requisitados por RPV,
não se pode prosseguir na execução” 71.
Conforme visto, a norma constitucional apresenta um impedimento
ao curso da execução enquanto houver controvérsia pendente acerca do valor
devido pelo Ente Público, sendo necessário então que a apelação seja
recebida necessariamente no duplo efeito.
3.4.1 Da matéria a ser abordada pelos embargos à execução 70Art. 520 - A apelação será recebida em seu efeito devolutivo e suspensivo. Será, no entanto, recebida só no efeito devolutivo, quando interposta de sentença que: (...) V - rejeitar liminarmente embargos à execução ou julgá-los improcedentes; (...). 71 CUNHA, 2009. p. 276. op. cit.
O conteúdo dos embargos opostos pelo Ente Público receberá
tratamento diverso previsto pelo Diploma Adjetivo pátrio, uma vez sejam estes
incidentes à execução fundada em título judicial ou à execução fundada em
título extrajudicial.
Quando opostos contra demanda fundada em título judicial, deverão
os embargos dispor somente sobre a matéria prevista no rol taxativo do artigo
741 do Código de Processo Civil, que assim estabelece72:
“falta ou nulidade de citação se o processo correu à
revelia; inexigibilidade do título; ilegitimidade das partes;
cumulação indevida de execuções; excesso de execução;
qualquer causa modificativa, impeditiva ou extintiva da
obrigação, desde que superveniente à sentença;
incompetência do juízo da execução, bem como
suspeição ou impedimento do juiz; sentença fundada em
lei ou ato normativo reputado inconstitucional pelo
Supremo Tribunal Federal”
Neste caso, a Fazenda Pública poderá tratar apenas de matéria
superveniente à formação do título executivo, uma vez que as questões
anteriores se tornam imutáveis pela coisa julgada material. Esta regra não se
aplica, contudo, ao caso de falta ou nulidade de citação se o processo correu à
revelia, bem como em se tratando de sentença fundada em lei ou ato normativo
inconstitucional, conforme instituído no parágrafo único do artigo 741 do CPC.
Quando opostos em face de demanda fundada em título
extrajudicial, o mesmo não ocorre com a matéria a ser alegada em sede de
embargos. Esta não deve ser restrita apenas ao rol taxativo do artigo 741 do
CPC, sendo admissível que também possa o Ente Público abordar as
situações previstas no artigo 745 do CPC uma vez que não há que se falar
neste caso, de preclusão, tampouco sobre trânsito em julgado no que tange ao
72 BRASIL. Lei 5.869 de 11 de janeiro de 1973. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Congresso Nacional, 1973. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5869.htm>. Acesso em: 10/02/2010.
título executivo sendo cabível, portanto, que se abordem questões acerca da
relação jurídica que deu origem ao débito, quais sejam73:
“nulidade da execução, por não ser executivo o título
apresentado; penhora incorreta ou avaliação
errônea; excesso de execução ou cumulação indevida de
execuções; retenção por benfeitorias necessárias ou
úteis, nos casos de título para entrega de coisa certa (art.
621); qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como
defesa em processo de conhecimento”.
Conclui-se que, quando a execução contra o Ente Público se fundar
em título extrajudicial, poderá o executado em sede de embargos valer-se de
qualquer matéria alegável em contestação de um procedimento cognitivo, nos
termos do inciso V do artigo 745, não devendo haver limitação ou restrição.
No que tange aos honorários advocatícios, entende-se que serão
indevidos naquelas execuções em que a Fazenda Pública não embargou,
ressalva feita às obrigações de pequeno valor, de acordo com posicionamento
consolidado pelo STF74.
3.5 Do não cabimento de execução provisória contra a fazenda pública É inegável que, resta autorizada pela Lei Adjetiva do nosso país a
execução provisória tanto quando fundada em título judicial como quando
fundada em título extrajudicial.
Sobre a primeira hipótese, dispõe o parágrafo primeiro do artigo 475
– I do Código de Processo Civil, admitindo tal possibilidade quando houver
recurso pendente ao qual não foi atribuído efeito suspensivo75.
73 BRASIL. Lei 5.869 de 11 de janeiro de 1973. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Congresso Nacional, 1973. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5869.htm>. Acesso em: 10/02/2010. 74 EMENTA: EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. SENTENÇA ORIUNDA DE AÇÃO COLETIVA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. São indevidos honorários advocatícios quando a execução não tiver sido embargada. Exceção quanto às obrigações de pequeno valor. (...) (RE 435757 AgR, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Segunda Turma, julgado em 04/12/2009, DJe-022 DIVULG 04-02-2010 PUBLIC 05-02-2010 EMENT VOL-02388-03 PP-00504).75§ 1o É definitiva a execução da sentença transitada em julgado e provisória quando se tratar de sentença impugnada mediante recurso ao qual não foi atribuído efeito suspensivo.
Sobre a segunda hipótese, reza o artigo 587 do CPC que poderá ser
aplicado o procedimento da execução provisória no caso de recurso de
apelação pendente em face da sentença que julgou improcedente os
embargos, uma vez tendo sido estes recebidos no efeito suspensivo76.
Antes da Emenda Constitucional 30/2000, conforme entendimento
do próprio STF, não havia que se falar em não cabimento de execução
provisória contra a Administração Pública. Isto porque, foi esta Emenda que
passou a condicionar a expedição do precatório, ao trânsito em julgado da
sentença judiciária. Em outras palavras, até então, a expedição do precatório
não se condicionava à coisa julgada77.
Acompanhava este entendimento o Superior Tribunal de Justiça,
simplesmente por não haver dispositivo legal que se impedisse a execução
provisória em face do Ente Público78.
Em contrapartida, após o advento da Emenda 30/2000 e, em se
analisando o parágrafo primeiro do artigo 100 da Constituição Federal, com a
nova redação dada pela Emenda 62/2009, observa-se a exigência, como
condição para a expedição do precatório, do prévio trânsito em julgado da
sentença.
Este dispositivo impossibilita, de acordo com o STJ, a execução
provisória em face do Ente Público uma vez que, estando o precatório inscrito,
passa então a integrar o respectivo orçamento não devendo ter outra
destinação que não seja o pagamento ao credor79.
76 Art. 587 - É definitiva a execução fundada em título extrajudicial; é provisória enquanto pendente apelação da sentença de improcedência dos embargos do executado, quando recebidos com efeito suspensivo (art. 739).77 EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. EXECUÇÃO PROVISÓRIA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. PERÍODO ANTERIOR À EMENDA CONSTITUCIONAL N. 30/2000. AFRONTA AO ART. 100 DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. INOCORRÊNCIA. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO. (RE 480242 AgR, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em 31/05/2007, DJe-072 DIVULG 02-08-2007 PUBLIC 03-08-2007 DJ 03-08-2007 PP-00081 EMENT VOL-02283-06 PP-01257).78PROCESSUAL - EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PUBLICA - EXECUÇÃO PROVISORIA - POSSIBILIDADE - O ART. 730 DO CODIGO DE PROCESSO CIVIL NÃO IMPEDE A EXECUÇÃO PROVISORIA DE SENTENÇA CONTRA A FAZENDA PUBLICA. (REsp 56239/PR, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, PRIMEIRA TURMA, julgado em 15/03/1995, DJ 24/04/1995 p. 10388). 79PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO PROVISÓRIA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. EC 30/2000. IMPOSSIBILIDADE. 1.De acordo com o artigo 730 do CPC, e ante a alteração promovida no art. 100, § 1º, da CF pela EC 30/2000, é inviável a execução provisória contra a Fazenda Pública. Tal dispositivo determina que devem
Ora é sabido que, para a afetação do erário do Ente Público, faz-se
necessário que as dívidas advindas de condenações judiciais em face deste
sejam incluídas na Lei Orçamentária Anual (LOA) aprovada em exercício
anterior, nos termos do artigo 167 da Constituição Federal. Portanto não há
que se falar em “expedição provisória do precatório” sendo incabível, por este
motivo, a execução provisória contra a Fazenda Pública. Neste sentido,
argumenta José Otávio de Vianna Vaz:
“A Lei Orçamentária Anual da qual faz parte o orçamento
fiscal (aquele que concentra os pagamentos a serem
feitos pela União e seus órgãos por meio de precatórios),
prevê receitas e fixa despesas, isto é, a arrecadação é
estimada, mas a despesa é fixa”80.
Não obstante, ainda há o entendimento intermediário que afirma ser
possível, com determinadas restrições, o ajuizamento de execução provisória
contra a Fazenda Pública nas execuções por quantia certa fundadas em título
judicial.
Ocorre que, neste caso, haverá apenas o processamento da
demanda executiva em face do Ente Público, procedendo-se de imediato à
liquidação do julgado. Neste sentido, demonstra Humberto Theodoro Junior81
citando julgado do STJ:
“O Superior Tribunal de Justiça, todavia, tem interpretado
a vedação constitucional de maneira mais branda, ou
seja, a EC n° 30 não teria eliminado totalmente a
ser incluídos nos orçamentos anuais apenas os precatórios referentes a sentenças condenatórias transitadas em julgado. Precedentes do STF e do STJ. 2. Recurso Especial provido. (REsp 710220/RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 10/06/2008, DJe 04/03/2009). 80 VAZ, José Otávio de Vianna. O Pagamento de Tributos por Meio de Precatórios. Belo Horizonte: Del Rey, 2007. p.222. 81 JUNIOR, 2009, p. 376, op. cit.
execução provisória, a qual poderia ser processada, até a
fase dos embargos (...)”82.
Como a formação do precatório está condicionada à coisa julgada
material, uma vez estando encerrado o prévio processamento da execução em
face da Administração Pública, deverá se aguardar o trânsito em julgado da
sentença de conhecimento, para que se possa expedir o precatório.
Acompanha este entendimento, Leonardo Carneiro da Cunha:
“Significa então que é possível a execução provisória em
face da Fazenda Pública apenas para o processamento
da demanda executiva. A expedição do precatório é que
fica condicionada ao prévio trânsito em julgado da
sentença proferida no processo de conhecimento” 83.
Por isto resta claro que, de acordo com esta corrente, o objetivo é o
de buscar a celeridade do procedimento da execução por quantia certa em face
do Ente Público por meio de execução provisória, tornando desnecessário tal
processamento em momento posterior.
3.6 Do precatório Em caso de rejeição dos embargos, do decurso do prazo para sua
oposição ou mesmo com a concordância dos cálculos apresentados pelo autor
por parte do réu, o juiz da vara de origem determinará a expedição de ofício 82PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO PROVISÓRIA CONTRA FAZENDA PÚBLICA. AJUIZAMENTO ANTERIOR À EMENDA CONSTITUCIONAL N. 30/2000. POSSIBILIDADE. (...) 2. Há de se entender que, após a Emenda 30, limitou-se o âmbito dos atos executivos, mas não foi inteiramente extinta a execução provisória. Nada impede que se promova, na pendência de recurso com efeito apenas devolutivo, a liquidação da sentença, e que a execução (provisória) seja processada até a fase dos embargos (CPC, art. 730, primeira parte) ficando suspensa, daí em diante, até o trânsito em julgado do título executivo, se os embargos não forem opostos, ou forem rejeitados. (...) (MC 6489/SP, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado em 27/05/2003, DJ 16/06/2003 p. 261). 83 CUNHA, 2009. p. 327. op. cit.
requisitório, que deverá ser instruído com as peças necessárias dos autos
originários em duas vias (petição inicial; procuração(ões); mandado de citação
cumprido e data da juntada do mesmo; sentença; acórdão(s); certidão de
trânsito em julgado; petição de execução; memória de cálculo; mandado de
citação cumprido e data da juntada do mesmo; sentença dos embargos à
execução, se houver; acórdão dos embargos à execução, se necessário for;
trânsito em julgado, se houver ; concordância de cálculos, se houver ; certidão
de decurso do prazo para embargos, se houver e despacho determinando à
expedição do ofício requisitório )84 pelo autor e autuado pelo cartório. Cabe
ressaltar que as peças citadas poderão variar de acordo com o Regimento
Interno de cada Tribunal.
Tal ofício deverá ser encaminhado ao Presidente do respectivo
Tribunal que requisitará o pagamento à Administração Pública.
Em suma, o procedimento de comunicação à Fazenda Pública para
o pagamento poderá ser dividido em dois momentos. O primeiro, que se dá
através da formação e expedição do ofício requisitório pelo juiz da execução e
encaminhado ao Presidente do Tribunal. E o segundo, em que se observa a
expedição do precatório propriamente dito dirigido à Fazenda Pública pelo
Presidente do Tribunal competente, como por exemplo, o Tribunal de Justiça
(quando o réu for o município ou o Estado), ou o Tribunal Regional Federal
(quando o réu for a União) 85.
Precatório, portanto, significa a requisição judicial de pagamento à
Fazenda Pública por intermédio do Presidente do Tribunal competente,
representada pelo ofício requisitório expedido pelo juiz da vara de origem
endereçado a esta autoridade, em virtude de ter sido o Ente Público condenado
ao pagamento de determinada importância, decorrente de decisão transitada
em julgado86.
84 Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo de 04 de novembro de 2009. Presidente: Roberto Antonio Vallim Belocchi. Disponível em <http://gecon.tj.sp.gov.br/gcnPtl/downloadNormasVisualizar.do?cdSecaodownloadEdit=7&cdArquivodownEdit=31>. Acesso: 12/12/2009. 85 JUNIOR, Humberto Theodoro. A Execução Contra a Fazenda Pública e os Crônicos Problemas do Precatório. In: VAZ, Orlando (Organizador), 2005. p. 51. op. cit. 86 . JUNIOR, Humberto Theodoro. A Execução Contra a Fazenda Pública e os Crônicos Problemas do Precatório. In: VAZ, Orlando (Organizador), 2005. p. 57. op. cit.
Este haverá de ser protocolado no órgão competente até o dia
primeiro de julho para que seja efetuado seu pagamento no próximo exercício
financeiro, sendo que o valor do crédito deverá ser atualizado monetariamente.
Como exemplo, no âmbito do Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo e tendo-se como réu a Municipalidade de São Paulo, uma vez expedido
o ofício requisitório informando o valor devido e a natureza do crédito, o mesmo
será protocolado no órgão competente e posteriormente analisado pelo Serviço
Técnico de Processamento dos Precatórios do DEPRE (Departamento de
Precatórios). Neste caso, deverá se observar, para efeito de ordem
cronológica, a prenotação, ou seja, o protocolo do ofício requisitório no órgão
competente, de acordo com posicionamento do STJ87.
Estando as peças de acordo com o Regimento Interno do Tribunal
de Justiça do Estado de São Paulo, os autos formados pelas cópias extraídas
do processo que deu origem ao precatório receberão numeração do DEPRE e
o precatório expedido irá receber o número de ordem cronológica de
pagamento, além de ser inserido no orçamento do exercício financeiro
seguinte.
Uma vez devidamente processado, o Presidente do Tribunal de
Justiça requisitará que a entidade devedora tome as providências necessárias
para o pagamento, em nome do Juízo requisitante.
3.6.1 Distinção entre os atos do Juiz da Execução e do Presidente do Tribunal
87PROCESSO CIVIL E ADMINISTRATIVO - MANDADO DE SEGURANÇA - PAGAMENTO DE PRECATÓRIO - QUEBRA DA ORDEM CRONOLÓGICA - PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA INSUFICIENTE - AUSÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO. (...) 3. Somente será requisitado o pagamento dos precatórios devidamente processados e deferidos até 1º de julho de cada ano. Para determinar a ordem cronológica dos precatórios, o Presidente da Corte de Justiça obedece à prenotação (protocolo) recebida pelo requisitório na sua autuação. Em seguida, ele formula requisição de pagamento à entidade de direito público devedora. (...) (RMS 18286/PR, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 21/09/2004, DJ 29/11/2004 p. 270).
Conforme acima disposto, o Presidente do Tribunal, por meio de
função administrativa nos termos do enunciado 311 da Súmula do STJ, irá
promover em face do Ente Público, a entrega da quantia devida por este88.
Logo, as questões concernentes à execução em face da Fazenda
Pública serão resolvidas pelo juízo que julgou a causa em primeira instância,
ainda que estas se configurem após a expedição do precatório.
Nas palavras de Araken de Assis:
“o Presidente do Tribunal não tem competência para
alterar o valor da condenação imposta ao Estado, o que
remanesce com o juízo que decidiu a causa em primeiro
grau (art. 575, II). Com efeito, compete ao juízo que
decidiu a causa em primeiro grau (art. 575, I) resolver as
questões incidentes, pois a competência do Presidente do
Tribunal é administrativa, a exemplo da expedição do
precatório complementar ou declarar solvida a obrigação
(art. 794, I)” 89.
Assim, as atividades do juiz da execução no que tange à tramitação
dos precatórios, ficam reservadas a decidir as questões incidentais que
possam envolver alteração ou atualização da conta em que se baseou o
precatório expedido (excetuando-se a correção monetária até o pagamento,
dentro de exercício seguinte); apreciar o pedido de extinção da execução;
expedir o precatório complementar para fins de pagamento atualizado do valor
depositado a menor e retificar ou aditar a defeituosa formação do precatório,
quando se tratar de erro não material e decidir sobre a habilitação de
herdeiro90.
Já ao Presidente do Tribunal cabe realizar a atualização monetária
do valor do crédito quando do pagamento (a ocorrer até o final do exercício
seguinte ao precatório apresentado tempestivamente), corrigir eventuais erros
88Súmula 311 STJ - Os atos do presidente do tribunal que disponham sobre processamento e pagamento de precatório não têm caráter jurisdicional.89 ASSIS, Araken de. Comentários ao Código de Processo Civil. Vol. 9 . São Paulo: RT, 2000, p. 417. 90 NEGRÃO, Theotonio; GOUVEA, José Roberto Ferreira. Código de Processo Civil e Legislação Processual em Vigor. 41. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 932
materiais (não lhe cabendo alterar a sentença exeqüenda) e a expedição do
precatório em face da autoridade competente, cuidando de se observar a
ordem cronológica cabendo, inclusive, a determinação de seqüestro em caso
do desrespeito a esta91.
O artigo 268 do Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Estado
de São Paulo dispõe sobre outras atribuições do Presidente do Tribunal além
das supracitadas, como é o caso da determinação da publicação até o quinto
dia do mês de janeiro em órgão oficial, dos precatórios que não foram
cumpridos no exercício financeiro anterior e do recálculo da atualização
monetária, quando se tratar de alteração do indexador monetário92.
3.6.2 Do crédito de natureza alimentícia Ainda menciona-se que, as execuções por quantia certa em face da
Fazenda Pública deverão se submeter ao procedimento de acordo com as
regras esculpidas nos artigos 730 e 731 do CPC, interpretados em harmonia
com o artigo 100 (com a redação dada pela Emenda Constitucional 62/2009)
da Constituição Federal, seja qual for a natureza do crédito ou de quem figurar
como exeqüente.
Por isso, é cediço que os créditos de natureza alimentar não estão
excluídos do regime de execução por meio de precatório. Contudo, observa-se
que, nos termos da Súmula 144 do STJ:
“Os créditos de natureza alimentícia gozam de
preferência, desvinculados os precatórios da ordem
cronológica dos créditos de natureza diversa”.
No mesmo sentido, a súmula 655 do STF estabeleceu que:
91 NEGRÃO, Theotonio; GOUVEA, José Roberto Ferreira, 2009. p. 932. op. cit. 92Art. 268. Além do previsto na legislação, compete ao Presidente do Tribunal de Justiça: (...) V – resolver as questões relativas ao cumprimento dos precatórios, inclusive a determinação para que se refaça o cálculo da atualização monetária, se houver alteração de indexador monetário; (...) VIII – mandar publicar, no órgão oficial, até o décimo quinto dia do mês de janeiro, para ciência dos interessados, a relação dos precatórios não satisfeitos no exercício financeiro findo; (...).
“A exceção prevista no art. 100, caput, da Constituição,
em favor dos créditos de natureza alimentícia, não
dispensa a expedição de precatório, limitando-se a isentá-
los da observância da ordem cronológica dos precatórios
decorrentes de condenações de outra natureza”.
Neste caso, há que se falar em duas ordens cronológicas de acordo
com a apresentação dos precatórios a serem respeitadas: uma para os créditos
de natureza não alimentícia (como nos casos de desapropriação, por exemplo)
e outra para os créditos de natureza alimentar, conforme previsto no rol
taxativo do parágrafo primeiro do artigo 100 do Texto Constitucional93.
Conclui-se, portanto, que os créditos desta natureza dizem respeito
a toda prestação que vise assegurar a subsistência do credor, garantindo o
mínimo necessário para que este tenha uma vida digna no que tange ao seu
sustento, saúde, habitação e educação.
Chama-se atenção ao fato de que a nova redação do artigo 100, em
seu parágrafo segundo, estabeleceu a preferência na ordem de recebimento
dos créditos de natureza alimentar cujos titulares tenham idade igual ou
superior a 60 (sessenta) anos ou sejam portadores de moléstias graves.
Ressalta-se que o Texto Constitucional não se pronunciou acerca da
definição de moléstia grave, deixando esta matéria pendente de
regulamentação e não obstante, condicionou o recebimento do valor pelos
credores preferenciais desta nova ordem à limitação equivalente ao triplo da
quantia fixada em lei às obrigações de pequeno valor.
3.6.2.1 Do rol do parágrafo primeiro do artigo 100 da Constituição Federal e dos honorários advocatícios
Em se analisando o parágrafo primeiro do artigo 100 da Carta
Magna, observa-se que foram elencadas situações a partir das quais os
débitos do Ente Público deverão ser enquadrados como “débitos de natureza
alimentícia”.
93§1° Os débitos de natureza alimentícia compreendem aqueles decorrentes de salários vencimentos, proventos, pensões e suas complementações, benefícios previdenciários ou indenizações por morte ou invalidez, fundadas em responsabilidade civil, em virtude de sentença judicial transitada em julgado e serão pagos com preferência sobre todos os demais débitos (...).
Contudo, este dispositivo gerou controvérsia acerca da taxatividade
de suas hipóteses elencadas. De início, existiu entendimento que afirmou a
possibilidade de o rol em questão ser exemplificativo e não taxativo
justificando-se, neste caso, acrescer a tais hipóteses os honorários
advocatícios, conforme entendia o STJ94.
Já Humberto Theodoro Júnior analisou o caso em tela de modo
diverso:
“Convém aguardar que os Tribunais superiores se
manifestem, visto que o tema é realmente polêmico, e não
me parece fácil aceitar que a medida inovadora do novo §
1° adotada em âmbito constitucional tenha sido motivada
pelo propósito apenas exemplificativo” 95.
De acordo com o entendimento defendido pelo Ilustre Doutrinador,
deverá se admitir a taxatividade do rol estabelecido pelo dispositivo em análise
uma vez que, o próprio texto constitucional tratou de esclarecer as hipóteses de
ressalva à ordem cronológica, estabelecendo-se para este caso, outra ordem.
Por este motivo a interpretação do dispositivo deverá ser restritiva.
Neste sentido, o STJ passou a entender que não havia que se falar
em natureza alimentícia dos honorários advocatícios96.
De acordo com tal posicionamento, entende-se que os honorários
advocatícios contratados estarão relacionados ao crédito principal. Se este for
94 CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. PRECATÓRIO. DECISÃO DE PRESIDENTE DO TRIBUNAL. ATO ADMINISTRATIVO. VIABILIDADE DO EXAME EM SEDE DE MANDADO DE SEGURANÇA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. NATUREZA ALIMENTAR. PREFERÊNCIA NA ORDEM DOS PRECATÓRIOS. PRECEDENTES DO STJ E DO STF. (...) 2. Os honorários advocatícios, sejam eles contratuais ou sucumbenciais, possuem natureza alimentar. (...) (RMS 12.059/RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEGUNDA TURMA, julgado em 05/11/2002, DJ 09/12/2002 p. 317). 95 JUNIOR, Humberto Theodoro. A Execução Contra a Fazenda Pública e os Crônicos Problemas do Precatório. In: VAZ, Orlando (Organizador), 2005. p. 57. op. cit. 96 PROCESSO CIVIL E CONSTITUCIONAL. PRECATÓRIO. CRÉDITOS DECORRENTES DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. NATUREZA NÃO ALIMENTÍCIA. ART. 100, § 1º-A, DA CF/88. 1. A verba honorária decorrente da sucumbência não têm natureza alimentar, já que não contemplada no art. 100, § 1º-A da CF/88, dispositivo acrescentado pela EC n.º 30/2000. (...) (RMS 19258/DF, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 08/11/2005, DJ 21/11/2005 p. 173).
alimentar, os honorários deverão ser pagos em conjunto com o valor a ser
recebido pelo titular, se observando neste caso, a ordem de preferência que,
por sua vez, será dispensada se o crédito for ordinário, devendo os honorários
ser pagos, no caso, juntamente com este último.
Os advogados, por este motivo, possuem a incumbência de juntar
aos autos, antes da expedição do precatório, o contrato de prestação de
serviços de advocacia em que se fixam os correspondentes honorários
contratados, que serão deduzidos do valor da condenação e deverão ser pagos
diretamente ao advogado.
Uma vez juntado o contrato após a expedição de precatório, de
acordo com o STJ, não haverá que se falar em pagamento direto ao
advogado97.
Contudo deve-se observar que, em se tratando dos honorários de
sucumbência, nos termos do parágrafo quarto do artigo 20 do Código de
Processo Civil, o STJ pacificou o entendimento da não sujeição dos honorários
advocatícios às limitações de 10% (dez por cento) ou 20% (vinte por cento)
sobre o valor da condenação, devendo a verba advocatícia se submeter à
apreciação eqüitativa do juiz, tendo-se por base de cálculo o valor da causa, da
condenação ou valor certo98.
Já o STF passou a entender de maneira diversa do posicionamento
que defendeu o caráter não alimentar dos honorários advocatícios,
reconhecendo o caráter exemplificativo do parágrafo primeiro do artigo 100 da
97 AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. ADMINISTRATIVO E PROCESSO CIVIL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. LEI 8.906/94, ARTIGO 22, § 4º. JUNTADA DO CONTRATO DE HONORÁRIOS AOS AUTOS DEPOIS DA EXPEDIÇÃO DE PRECATÓRIO. PAGAMENTO DIREITO AOADVOGADO. IMPOSSIBILIDADE. 1. O Superior Tribunal de Justiça firmou sua jurisprudência no sentido de que é impossível a dedução dos honorários advocatícios da quantia a ser recebida pelo constituinte se o contrato não foi juntado antes da expedição do precatório. 2. Agravo regimental improvido. (Acórdão unânime da 6ª Turma do STJ, AgRg no Ag 744043/RS, rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 18/12/2007, DJ de 18/02/2008, p. 75). 98AGRAVO REGIMENTAL. PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. HONORÁRIOS. ARTIGO 20, § 4º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. APRECIAÇÃO EQÜITATIVA. 1. A verba honorária arbitrada em desfavor da Fazenda Pública, fixada, a teor do disposto no § 4º do artigo 20 do Código de Processo Civil, com base na apreciação eqüitativa do juiz, não está adstrita aos percentuais e tampouco à base de cálculo prevista no § 3º do aludido dispositivo. 2. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg nos EDcl no AgRg no REsp 1056423/RS, Rel. Ministro HAROLDO RODRIGUES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/CE), SEXTA TURMA, julgado em 06/08/2009, DJe 21/09/2009).
Magna Carta99. De acordo com a posição adotada pela Corte Suprema,
possuirão natureza alimentar não só os honorários contratados, mas também
os de sucumbência, nos termos dos artigos 22 e 23 da Lei 8.906 de 4 de julho
de 1994100.
A partir de então, nota-se que o STJ passou a adotar este
entendimento, aduzindo que os honorários advocatícios deverão estar incluídos
no rol do parágrafo primeiro do artigo 100 da Constituição Federal101.
3.6.3 Das requisições de pequeno valor Como já citado anteriormente, o parágrafo terceiro do artigo 100 do
Texto Constitucional dispõe sobre as denominadas “obrigações de pequeno
valor” e a sua dispensa do regime dos precatórios, bem como de ordem
cronológica para seu cumprimento102.
99 CRÉDITO DE NATUREZA ALIMENTÍCIA - ARTIGO 100 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. A definição contida no § 1-A do artigo 100 da Constituição Federal, de crédito de natureza alimentícia, não é exaustiva. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - NATUREZA - EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA. Conforme o disposto nos artigos 22 e 23 da Lei nº 8.906/94, os honorários advocatícios incluídos na condenação pertencem ao advogado, consubstanciando prestação alimentícia cuja satisfação pela Fazenda ocorre via precatório, observada ordem especial restrita aos créditos de natureza alimentícia (...) (RE 470407, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 09/05/2006, DJ 13-10-2006 PP-00051 EMENT VOL-02251-04 PP-00704 LEXSTF v. 28, n. 336, 2006, p. 253-264 RB v. 18, n. 517, 2006, p. 19-22).100Art. 22 - A prestação de serviço profissional assegura aos inscritos na OAB o direito aos honorários convencionados, aos fixados por arbitramento judicial e aos de sucumbência. (...) § 4º Se o advogado fizer juntar aos autos o seu contrato de honorários antes de expedir-se o mandado de levantamento ou precatório, o juiz deve determinar que lhe sejam pagos diretamente, por dedução da quantia a ser recebida pelo constituinte, salvo se este provar que já os pagou. (...)Art. 23 - Os honorários incluídos na condenação, por arbitramento ou sucumbência, pertencem ao advogado, tendo este direito autônomo para executar a sentença nesta parte, podendo requerer que o precatório, quando necessário, seja expedido em seu favor. 101 PROCESSUAL CIVIL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DECORRENTES DE SUCUMBÊNCIA. NATUREZA ALIMENTAR. ARTS. 23 DA LEI Nº 8.906/94 E 100, CAPUT, DA CF/1988. ENTENDIMENTO ADOTADO PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. PRECEDENTES. (...) 5. De tal maneira, há que ser revisto o entendimento que esta Corte Superior aplica à questão, adequando-se à novel exegese empregada pelo colendo STF, não obstante, inclusive, a existência de recente julgado da 1ª Seção em 02/10/2006, que considera alimentar apenas os honorários contratuais, mas não reconhece essa natureza às verbas honorárias decorrentes de sucumbência. 6. Recurso especial conhecido e provido, para o fim de reconhecer a natureza alimentar dos honorários advocatícios, inclusive os provenientes da sucumbência. (REsp 915.325/PR, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 27/03/2007, DJ 19/04/2007 p. 257). 102 § 3° O disposto no caput deste artigo relativamente à expedição de precatórios não se aplica aos pagamentos de obrigações definidas em lei como de pequeno valor que as Fazendas referidas devam fazer em virtude de sentença judicial transitada em julgado.
O enquadramento acerca do valor do crédito, para que possa ser
considerado como de pequeno valor, restou reservado ao texto
infraconstitucional. Tal dispositivo admite a atribuição de valores diversos, de
acordo com as respectivas capacidades econômicas, às entidades de direito
público, nos termos do § 4° do artigo 100 da Carta Magna, cuja nova redação
ainda dispôs sobre o limite mínimo do seu valor, que será igual ao valor do
maior benefício do Regime Geral da Previdência Social103.
Do mesmo modo, o artigo 87 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias, com a redação dada pela Emenda Constitucional 37/2002
determinou que, na ausência de lei federal, estadual ou municipal, serão
dispensados do regime dos precatórios os débitos ou obrigações de valor igual
ou inferior a 40 (quarenta) salários mínimos, quando se tratar dos Estados e do
Distrito Federal ou 30 (trinta) salários mínimos, quando se tratar dos
Municípios104.
No que tange à União, a Lei Federal 10.259 de 12 de julho de 2001
define como de pequeno valor, os débitos ou obrigações inferiores a 60
(sessenta) salários mínimos 105.
No Estado de São Paulo, a Lei Estadual 11.377 de 14 de abril de
2003 define, em seu artigo primeiro, que serão consideradas de pequeno valor
as obrigações iguais ou menores a 1.135,2885 UFESPs (unidades fiscais do
Estado de São Paulo)106.
No âmbito do Município de São Paulo, a Resolução 199/2005 dispõe
que, em se tratando do município, suas autarquias e fundações públicas, serão
103 § 4º Para os fins do disposto no § 3º, poderão ser fixados, por leis próprias, valores distintos às entidades de direito público, segundo as diferentes capacidades econômicas, sendo o mínimo igual ao valor do maior benefício do regime geral de previdência social.104 Art. 87 - Para efeito do que dispõem o § 3º do art. 100 da Constituição Federal e o art. 78 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias serão considerados de pequeno valor, até que se dê a publicação oficial das respectivas leis definidoras pelos entes da Federação, observado o disposto no § 4º do art. 100 da Constituição Federal, os débitos ou obrigações consignados em precatório judiciário, que tenham valor igual ou inferior a: I - quarenta salários-mínimos, perante a Fazenda dos Estados e do Distrito Federal; II - trinta salários-mínimos, perante a Fazenda dos Municípios. 105 BRASIL. Lei 10.259 de 12 de julho de 2001. Brasília, DF: Congresso Nacional, 2001. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil/Leis/LEIS_2001/L10259.htm>. Acesso em: 03/02/2010. 106 Artigo 1º - São consideradas de pequeno valor, para os fins do disposto no § 3º do artigo 100 da Constituição Federal, as obrigações que a Fazenda do Estado de São Paulo, Autarquias, Fundações e Universidades estaduais devam quitar em decorrência de decisão final, da qual não penda recurso ou defesa, inclusive da conta de liquidação, cujo valor seja igual ou inferior a 1.135,2885 Unidades Fiscais do Estado de São Paulo - UFESPs, independente da natureza do crédito.
de pequeno valor as obrigações iguais ou menores a 30 (trinta) salários
mínimos.107
As obrigações de pequeno valor deverão ser pagas em prazo fixado
de acordo com a lei. Se o réu for a União, o prazo para o pagamento será de
60 (sessenta) dias, nos termos da Lei 10.259 de 2001. No âmbito do Estado de
São Paulo, o prazo para o pagamento será de 90 dias, nos termos da Lei
Estadual 11.377 de 2003. Sendo ré a Municipalidade de São Paulo, o prazo
para o pagamento também será de 90 (noventa) dias, de acordo com a Lei
Municipal 13.179 de 2001108.
O crédito de pequeno valor é formado a partir do Ofício de
Requisição de Pagamento de Pequeno Valor expedido pelo juiz da vara de
origem, na qual estiver tramitando o processo sendo que, no âmbito do
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, de acordo com a Resolução
199/2005 do Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo109,
este é endereçado diretamente à autoridade competente do Poder Executivo,
desta vez sem a intermediação do Presidente do Tribunal, a despeito do que
diz o STJ110.
Com relação às Requisições de Pequeno Valor em âmbito federal,
observa-se que a Resolução 438 de 30 de maio de 2005 do Conselho de
Justiça Federal dispõe sobre a necessidade da requisição por intermédio do 107Art. 1º - Considera-se Requisição de Pequeno Valor (RPV), para os fins do § 3º do artigo 100 da Constituição Federal, aquela relativa a crédito cujo valor bruto originário, devidamente atualizado, por beneficiário, seja igual ou inferior a: (...)II - 30 salários mínimos quando o requisitado for Município, suas Autarquias e Fundações Públicas, ressalvada a existência de lei local estabelecendo valor diverso, a exemplo da Lei n. 13.179/01, do Município de São Paulo.108Art. 3º - O crédito de pequeno valor não estará sujeito ao regime de precatórios e deverá ser pago, mediante depósito judicial, no prazo de 90 (noventa) dias, contados da data em que for protocolada a requisição expedida pelo juízo da execução, observada a ordem de apresentação na Procuradoria Geral do Município.109Art. 5º - As requisições deverão ser expedidas em duas vias, conforme modelos. A primeira será entregue ao requisitado e a segunda deverá ser protocolada e devolvida para juntada aos autos.110 ADMINISTRATIVO – EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA – REQUISIÇÃO DE PEQUENO VALOR – ART. 730 DO CPC – ATO DE COMPETÊNCIA EXCLUSIVA DO PRESIDENTE DO TRIBUNAL – PRECEDENTES. 1. A requisição de pagamento das obrigações devidas pela Fazenda Pública é de competência exclusiva do Presidente do Tribunal a que está vinculado o juízo da execução, cabendo a este o cumprimento do disposto no artigo 730 do CPC, tanto nos pagamentos realizados por meio de precatórios como por requisições de pequeno valor. 2. Interpretação sistemática dos arts. 100, § 3.º, da Carta Magna e 730, I e II, do CPC. 3. Recurso especial provido. (REsp 1082310/MS, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 12/05/2009, DJe 25/05/2009).
Presidente do Tribunal, conforme decisão colhida do Tribunal Regional Federal
da terceira região111.
Ressalta-se que, a Resolução supracitada foi revogada pela
Resolução 559 de 26 de junho de 2007, que por sua vez foi revogada pela
Resolução 55 de 14 de maio de 2009.
Analisando-se as Resoluções acima, é possível notar que todas
convergiram no sentido da expedição de requisição de pagamento pelo juiz da
vara de origem, após o trânsito em julgado da sentença, ao Presidente do
Tribunal, que será competente para tomar as providências necessárias, nos
termos do parágrafo primeiro do artigo 2° da Resolução mais recente112.
Assim, como se dá com o precatório, o ofício de pequeno valor (ou
requisição de pequeno valor) deverá ser instruído com as mesmas peças
processuais que são utilizadas para a formação do precatório, dependendo do
Regimento Interno de cada Tribunal. Uma vez autuado pelo cartório, deverá ser
protocolado junto ao órgão competente, a partir do qual se inicia o prazo para o
pagamento a ser efetuado pela entidade administrativa.
Nos termos do parágrafo oitavo do artigo 100 da Constituição
Federal, o valor da condenação não poderá ser fracionado, tampouco poderá
se valer o credor de precatórios complementares, visando o enquadramento no
parágrafo terceiro do dispositivo supracitado113.
Contudo, em caso de litisconsórcio, uma vez estando os
litisconsortes dentro dos limites individuais previstos em lei para que se
viabilize a expedição de requisição de pequeno valor, admitir-se-á a cumulação
111PROCESSUAL CIVIL. CONSTITUCIONAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO. REQUISIÇÃO DE PEQUENO VALOR (RPV). ARTIGO 100, § 3º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. LEI Nº 10.259/01. RESOLUÇÕES Nº 258/02 E 438/05 DO CJF. PAGAMENTO DIRETAMENTE AO EXEQÜENTE. IMPOSSIBILIDADE. (...) 4. Do mesmo modo, a referida Resolução, que vigia à época em que o decisum aqui guerreado foi prolatado, preconiza em seu artigo 1º que "o pagamento de quantia certa a que for condenada a Fazenda Pública será requisitada ao Presidente do Tribunal". (...) (Acórdão unânime da 7ª Turma do TRF 3, Ag 174759, Rel. Desembargador Antonio Cedenho, j. 07/08/2006, DJ de 11/01/2007, p. 258). 112 § 1º Tratando-se de obrigação de pagar quantia certa de pequeno valor após o trânsito em julgado da sentença ou do acórdão, quando o devedor for a União, suas autarquias e fundações, o juiz expedirá requisição ao presidente do Tribunal Regional Federal, que tomará as providências estabelecidas no art. 7º da presente resolução e, no que couber, na lei que disciplina a matéria. 113§8º É vedada a expedição de precatórios complementares ou suplementares de valor pago, bem como o fracionamento, repartição ou quebra do valor da execução para fins de enquadramento de parcela do total ao que dispõe o § 3º deste artigo.
de pedidos, sendo viável a realização de várias ordens de pagamento ainda
que, no total, a condenação exceda o limite previsto como “obrigações de
pequeno valor” 114.
Nas palavras de Humberto Theodoro Junior:
“É que na cumulação de pedidos, cada um deles
corresponde a uma demanda ou uma causa. Logo, o
objeto de cada uma delas conserva suas características,
sem embargo da conexão com os demais. Daí a
possibilidade de tratar seu valor, para a execução
individual, com autonomia” 115.
Logo devemos admitir que, em caso de litisconsórcio, em se
havendo consortes que possuam crédito dentro do limite previsto, bem como
aqueles cujo valor a receber transponha a quantia que dispensaria o precatório,
deverá ser expedido requisições de pequeno valor para os enquadrados no
primeiro caso e submissão ao regime do precatório para a segunda situação.
Conforme já explicado anteriormente, o que a lei veda
expressamente é o fracionamento pelo credor do valor a receber
originariamente não identificado como de “pequeno valor”, a fim de se obstar a
sujeição à formalidade da expedição do precatório.
3.6.3.1 O Ente Público nos juizados especiais cíveis A Lei 9.099 de 26 de setembro 1995 dispôs sobre os Juizados
Especiais Cíveis e Criminais e conferiu aos Juizados Estaduais a competência
para julgar as causas de menor valor e complexidade. Esta norma não
englobou as lides envolvendo a Fazenda Pública, em razão da complexidade
114DIREITO ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. LITISCONSÓRCIO. REQUISIÇÃO DE PEQUENO VALOR. CRÉDITOS CONSIDERADOS INDIVIDUALMENTE. PRECEDENTE DO STJ. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E IMPROVIDO. 1. Tratando-se de execução de pequeno valor, promovida em regime de litisconsórcio ativo facultativo, a aferição da dívida, para os fins do art. 100, § 3º, da Constituição Federal, deverá levar em conta o crédito individual de cada exeqüente. Precedente do STJ. 2. Recurso especial conhecido e improvido. (REsp 909762/SP, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 19/06/2008, DJe 08/09/2008). 115JUNIOR, Humberto Theodoro. A Execução Contra a Fazenda Pública e os Crônicos Problemas do Precatório. In: VAZ, Orlando (Organizador), 2005. p. 60. op. cit.
destas concluindo-se que, ainda que fossem de pequeno valor, tais causas
envolvendo o Ente Público estadual ou municipal, não poderiam ser ajuizadas
perante o Juizado Especial Cível116.
Contudo, a Lei Federal 10.259 de 12 de julho de 2001, que criou os
Juizados Especiais Cíveis e Criminais em âmbito federal, dispôs sobre a
competência da justiça federal para julgar causas no valor de até 60 (sessenta)
salários mínimos onde a União, suas autarquias, fundações e empresas
públicas federais atuarem como rés. Portanto, é incabível a ação proposta pelo
Ente Público perante o Juizado Especial Federal, ainda que o valor envolvido
na lide seja inferior a 60 (sessenta) salários mínimos117.
Devemos frisar que as causas julgadas pelo Juizado Especial
Federal devem ser as de menor complexidade. Tanto é que, no parágrafo
primeiro do artigo 3° desta lei, observamos o afastamento de vários tipos de
ação da competência deste Juizado, como é o caso das ações de
desapropriação, das execuções fiscais, das ações de mandado de segurança,
das ações populares, dentre outras118.
Outro aspecto importante a ser ressaltado é que a competência com
relação ao valor da causa (em se tratando destes Juizados) é absoluta, não
havendo prorrogação. Logo, esta deve ser alegada em preliminar de
contestação e não por exceção de incompetência119. Portanto, qualquer causa
de competência da Justiça Federal envolvendo valor de até 60 (sessenta)
salários mínimos que não se enquadre nas hipóteses de exclusão do parágrafo
primeiro do artigo 3°, deverá ser proposta perante este Juizado, desde que no
foro haja a instalação da respectiva Vara.
Abordamos no início deste trabalho, como prerrogativa do Ente
Público, o juízo especializado destinado às causas envolvendo a Fazenda 116 BRASIL. Lei 9.099 de 26 de setembro de 1995. Brasília, DF: Congresso Nacional, 1995. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L9099.htm>. Acesso em: 10/02/2010. 117 BRASIL. Lei 10.259 de 12 de julho de 2001. Brasília, DF: Congresso Nacional, 2001. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil/Leis/LEIS_2001/L10259.htm>. Acesso em: 10/02/2010. 118 § 1o Não se incluem na competência do Juizado Especial Cível as causas: I - referidas no art. 109, incisos II, III e XI, da Constituição Federal, as ações de mandado de segurança, de desapropriação, de divisão e demarcação, populares, execuções fiscais e por improbidade administrativa e as demandas sobre direitos ou interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos; II - sobre bens imóveis da União, autarquias e fundações públicas federais; III - para a anulação ou cancelamento de ato administrativo federal, salvo o de natureza previdenciária e o de lançamento fiscal; (...). 119 CUNHA, 2009, p. 632, op. cit.
Pública. É exatamente o que se observa no caso de Juizados Especiais
Federais para causas previdenciárias, de acordo com o parágrafo único do
artigo dezenove desta Lei120.
Neste caso, a competência é definida não só pelo valor da causa,
conforme já mencionado, mas também pela matéria. Devemos lembrar neste
caso que, de acordo com a súmula 501 do STF, as causas que envolverem
acidente de trabalho, ainda que promovidas contra a União e demais entidades
públicas federais, deverão ser ajuizadas perante a justiça estadual121.
Em contrapartida, em se tratando de prerrogativas do Ente Público,
observamos que, neste Juizado, a Fazenda Pública não possui prazos
diferenciados (tanto para contestar, como para recorrer), em virtude da já
demonstrada “falta de complexidade” que envolve as causas do Juizado
Especial Federal.
Ainda, as sentenças proferidas contra a Administração Pública não
estarão sujeitas ao duplo grau de jurisdição obrigatório, em virtude dos feitos
processados perante tal juízo, não excederem o limite de 60 (sessenta) salários
mínimos122.
Já em se tratando dos representantes judiciais da Fazenda Pública,
nas causas de competência deste Juizado, estarão estes autorizados a
conciliar, desistir e transigir, nos termos do parágrafo único do artigo 10 desta
Lei123.
Deve-se mencionar que, se o valor da execução ultrapassar o limite
previsto de 60 salários mínimos, o pagamento será feito por meio de precatório,
sendo cabível ao credor abrir mão do excedente, para que seja dispensado seu
crédito deste regime124.
120 Parágrafo único - Na capital dos Estados, no Distrito Federal e em outras cidades onde for necessário, neste último caso, por decisão do Tribunal Regional Federal, serão instalados Juizados com competência exclusiva para ações previdenciárias.121 Súmula 501 STF - Compete a justiça ordinária estadual o processo e o julgamento, em ambas as instâncias, das causas de acidente do trabalho, ainda que promovidas contra a união, suas autarquias, empresas públicas ou sociedades de economia mista.122 Art. 13 - Nas causas de que trata esta Lei, não haverá reexame necessário.123Parágrafo único - Os representantes judiciais da União, autarquias, fundações e empresas públicas federais, bem como os indicados na forma do caput, ficam autorizados a conciliar, transigir ou desistir, nos processos da competência dos Juizados Especiais Federais.124§ 4o Se o valor da execução ultrapassar o estabelecido no § 1o, o pagamento far-se-á, sempre, por meio do precatório, sendo facultado à parte exeqüente a renúncia ao crédito do valor excedente, para que possa optar pelo pagamento do saldo sem o precatório, da forma lá prevista.
Finalmente observamos, conforme já explanado em tópico anterior,
que foi esta Lei responsável pela fixação do limite legal para as obrigações de
pequeno valor em âmbito federal, conforme se observa no parágrafo primeiro
do artigo 17 125.
3.6.4 Dos juros e da correção monetária Uma vez inscrito o precatório até o dia primeiro de julho, este deverá
ser pago até o final do exercício seguinte. O texto constitucional prevê no
parágrafo quinto do artigo 100, que o precatório deverá ser atualizado
monetariamente dentro do prazo previsto em Lei, ou seja, entre a inscrição do
precatório e o seu respectivo pagamento126.
A nova redação do artigo 100 estabeleceu em seu parágrafo décimo
segundo que, doravante, a atualização dos valores do precatório será feita pelo
índice de remuneração básica da caderneta de poupança127.
Este mesmo parágrafo inovou abordando os juros de mora em face
do Ente Público, até então omissos na redação pretérita deste artigo. Neste
caso, também se excluiu a incidência de juros compensatórios, passando-se a
incidir apenas os juros simples, no mesmo percentual de juros incidentes sobre
a caderneta de poupança lembrando-se que, de acordo com a Súmula 254 do
STF, tais juros deverão ser inclusos na liquidação, ainda que o pedido inicial se
omita a respeito ou a condenação não determine128.
Lembramos ainda que a Lei Federal 11.960 de 29 de junho de 2009,
dispondo sobre os juros moratórios nos termos do parágrafo décimo segundo
do artigo 100 da Carta Magna, acabou revogando o dispositivo previsto no
artigo 1-F da Lei 9.494 de 10 de setembro de 1997, introduzido pelo artigo 4°
da Medida Provisória 2.180-35 de 24 de agosto de 2001, que por sua vez
125 § 1o Para os efeitos do § 3o do art. 100 da Constituição Federal, as obrigações ali definidas como de pequeno valor, a serem pagas independentemente de precatório, terão como limite o mesmo valor estabelecido nesta Lei para a competência do Juizado Especial Federal Cível (art. 3o, caput).126 § 5º É obrigatória a inclusão, no orçamento das entidades de direito público, de verba necessária ao pagamento de seus débitos, oriundos de sentenças transitadas em julgado, constantes de precatórios judiciários apresentados até 1º de julho, fazendo-se o pagamento até o final do exercício seguinte, quando terão seus valores atualizados monetariamente.127§ 12 - A partir da promulgação desta Emenda Constitucional, a atualização de valores de requisitórios, após sua expedição, até o efetivo pagamento, independentemente de sua natureza, será feita pelo índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança, e, para fins de compensação da mora, incidirão juros simples no mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta de poupança, ficando excluída a incidência de juros compensatórios.128Súmula 254 STF- Incluem-se os juros moratórios na liquidação, embora omisso o pedido inicial ou a condenação.
previa a incidência de juros de mora no percentual não superior a 6% (seis por
cento) ao ano.
Deve-se mencionar que os juros simples, dispostos pelo texto
constitucional, deverão ser computados a partir da data da citação nos termos
do artigo 405 do Código Civil, até o momento da expedição do precatório.
Estes então haverão de ser incluídos ao valor total da condenação a ser paga
pelo Ente Público.
Uma vez expedido o precatório, durante o prazo para o pagamento
previsto pelo texto da Carta Magna (ou seja, do dia primeiro de julho ao final do
exercício seguinte), não há que se falar em incidência de juros, conforme já
determinou o entendimento consolidado pelo STF129.
Contudo, uma vez escoado o prazo para o pagamento, deverão
voltar a incidir os juros de mora a contar da data de encerramento do exercício
financeiro, dentro do qual, deveria ter se dado o adimplemento por parte da
Administração Pública130.
Neste caso, deverá ser expedido precatório complementar visto que,
nas palavras de Humberto Theodoro, “o caso é realmente de incidente de
natureza jurisdicional, e não simplesmente administrativa” 131. Ainda, como já
129 EMENTA: CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. PAGAMENTO DE PRECATÓRIO. INCIDÊNCIA DE JUROS DE MORA. PREQUESTIONAMENTO. PREENCHIMENTO. AGRAVO NÃO PROVIDO. I - A questão da incidência ou não dos juros de mora entre a data da expedição do precatório e a do efetivo pagamento foi abordada e julgada pela Justiça Trabalhista, preenchido o requisito do prequestionamento do artigo constitucional alegado violado (art. 100, § 1º, da Constituição). II - Não-incidência de juros de mora entre a expedição do precatório e seu efetivo pagamento, se respeitado o prazo constitucionalmente estabelecido. (...) (RE 548420 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em 19/05/2009, DJe-113 DIVULG 18-06-2009 PUBLIC 19-06-2009 EMENT VOL-02365-06 PP-01106 RT v. 98, n. 887, 2009, p. 162-164).130 RECURSO ESPECIAL. PROCESSO DE EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. CONTA DE LIQUIDAÇÃO. JUROS DE MORA. PRECATÓRIO COMPLEMENTAR. EXISTÊNCIA DE COISA JULGADA. RECURSO ESPECIAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. Pacificou-se neste E. STJ o entendimento de que, cumprido o prazo constitucional para o pagamento dos precatórios, consoante disposto no art. 100, § 1º, da CR/88, são indevidos os juros moratórios em precatório complementar. Todavia, uma interpretação dessa orientação a contrario sensu leva à seguinte conclusão: se a Fazenda não atende o prazo constitucional para o pagamento do precatório, configurar-se-á situação de mora, caso em que (a) são devidos juros de mora e (b) incidem sobre o período da mora, ou seja, a partir do dia seguinte ao do prazo constitucional do pagamento do precatório. (...) (REsp 641091/RS, Rel. Ministro CELSO LIMONGI (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP), SEXTA TURMA, julgado em 15/12/2009, DJe 01/02/2010). 131 JUNIOR, Humberto Theodoro. A Execução Contra a Fazenda Pública e os Crônicos Problemas do Precatório. In: VAZ, Orlando (Organizador), 2005. p. 66. op. cit.
sabido, não seria possível acrescentar valores a um precatório anteriormente
inscrito.
A expedição de precatório complementar dispensa o ajuizamento de
uma nova demanda, não havendo que se falar em nova citação ou em
oposição de embargos por parte do Ente Público. Ora, não há sentença de
extinção da execução se não ocorre o adimplemento total do devedor.
Trata-se, como já exposto, de verdadeiro “incidente” onde o
exeqüente apresentará os cálculos expondo o valor ainda não satisfeito pela
Fazenda. O Ente Público então é ouvido e o juiz decidirá por meio de decisão
interlocutória, sendo cabível agravo em face desta, de acordo com o que vem
estabelecendo o STJ132.
3.6.5 Do cabimento de seqüestro O artigo 731 do Código de Processo Civil estabelece que, em caso
de desrespeito ao direito de preferência garantido pela ordem de inscrição de
precatório, poderá o Presidente do Tribunal que expediu a ordem de
pagamento, ordenar o seqüestro do montante necessário para o adimplemento
da obrigação133.
De início, o presente trabalho (com o devido respeito), discordará
com parte da doutrina que defende a natureza cautelar deste procedimento,
entendendo que o seqüestro possui natureza executiva.
Tal controvérsia surge da própria denominação do instituto, motivo
pelo qual alguns concluem pelo seu caráter cautelar. Ocorre que esta
denominação, ao que parece, não é das mais precisas, como bem lembra
132RECURSO ESPECIAL. PRECATÓRIO COMPLEMENTAR. APRESENTAÇÃO DA CONTA PELO EXEQÜENTE. MEIO DE IMPUGNAÇÃO. EMBARGOS À EXECUÇÃO. INADMISSIBILIDADE. PROCESSO UNO. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. Os embargos à execução constituem meio de impugnação incabível contra a conta de atualização apresentada pelo exeqüente para a expedição de precatório complementar, sob pena de enxertar-se uma infinidade de processos de execução para um único processo de conhecimento, perpetuando-se, assim, a dívida da Fazenda Pública. A execução é um processo uno e foi há muito iniciada, momento em que, na forma do artigo 730 do Código de Processo Civil, foi a União citada para oferecer embargos, motivo pelo qual não é necessária uma nova citação para a oposição de novos embargos, basta que se intime a devedora para impugnar a conta. Recurso especial a que se nega provimento. (REsp 385413/MG, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, Rel. p/ Acórdão Ministro FRANCIULLI NETTO, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 27/05/2002, DJ 19/12/2002 p. 326). 133 Art. 731 - Se o credor for preterido no seu direito de preferência, o presidente do tribunal, que expediu a ordem, poderá, depois de ouvido o chefe do Ministério Público, ordenar o seqüestro da quantia necessária para satisfazer o débito.
Araken de Assis ao afirmar que “é altamente impróprio o emprego da palavra
seqüestro, no texto constitucional” 134.
Ademais, existem dois motivos que explicam perfeitamente o fato
desta medida constritiva determinada pelo Presidente do Tribunal não possuir
natureza cautelar.
Primeiro, o Presidente do Tribunal ao determinar o seqüestro, o faz
em virtude do preterimento do direito de preferência do credor ou da não
inclusão da despesa no próximo exercício financeiro (de acordo com a nova
redação, conforme será explicado a seguir). Diferente do seqüestro cautelar
que consiste, de acordo com Humberto Theodoro Junior, “na apreensão de
bem determinado, objeto do litígio, de modo a se assegurar a entrega”135.
Segundo, de acordo com Araken de Assis, “o ato executivo tutela o
descumprimento de obrigação pecuniária, caso em que, tivesse natureza
cautelar, se cuidaria do arresto”136. E ainda, “a medida promove a transferência
forçada de dinheiro para o patrimônio do exeqüente e portanto, exibe força
executiva”137.
Logo, observa-se que de acordo com este procedimento, foi aberta
uma exceção ao princípio da impenhorabilidade dos bens públicos. Neste
sentido, apresenta-se julgado do STJ, que também trata da não observância da
impenhorabilidade dos bens públicos apenas em casos especiais, previstos em
lei138.
Já nos casos de parcelamento previstos no artigo 78 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias, dispõe-se que será possível o
seqüestro dos recursos financeiros da Fazenda Pública (exceto nos casos dos
créditos de natureza alimentícia, de pequeno valor e dos créditos do artigo 33 134 ASSIS, 2009. p. 1048, op. cit. 135 JUNIOR, 2009, p. 564, op. cit. 136 ASSIS, 2009. p. 1049, op. cit. 137 Ibidem. p. 1049. 138PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. TRANSAÇÃO JUDICIAL. DESCUMPRIMENTO. BLOQUEIO DE VERBAS PÚBLICAS. INVIABILIDADE DA CONSTRIÇÃO. 1. A execução, contra a Fazenda Pública, de obrigação de pagar quantia está sujeita a rito próprio (CPC, art. 730 do CPC e CF, art.100 da CF), que não prevê, salvo excepcionalmente (v.g., desrespeito à ordem de pagamento dos precatórios judiciários), a possibilidade de expropriação mediante bloqueio ou seqüestro de dinheiro ou de qualquer outro bem público, que são impenhoráveis. (...) (REsp 890215/RS, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado em 15/02/2007, DJ 22/03/2007 p. 315).
deste Ato, que admitiu o parcelamento dos valores pendentes de quitação até a
data de 5 de outubro de 1988, no prazo de oito anos) nos casos de não
observância do direito de preferência, de omissão no orçamento do ano
seguinte e quando decorrer o prazo máximo de 10 (dez) anos, dado ao
pagamento das prestações, as quais serão pagas acrescidas de juros legais e
correção monetária.
Cabe lembrar que, aplica-se o regramento previsto no Preceito
Transitório em análise no caso dos precatórios expedidos (ressalvados os
créditos já depositados em juízo) até a data de 13 de setembro de 2000 (data
da promulgação da Emenda Constitucional 30/2000 que inseriu o presente
artigo) e no caso das demandas ajuizadas até a data de 31 de dezembro de
1999, a serem liquidadas pelo seu valor real, em moeda corrente.
Pode se entender então que, até antes do surgimento da Emenda
Constitucional 62/2009, excetuados os casos incluídos no Dispositivo
Transitório acima citado, de acordo com o artigo 100 da nossa Lei Maior, o
seqüestro de verbas se mostrava possível apenas e tão somente no caso de
preterimento do direito de preferência do credor, não obstante o artigo 731 da
Lei Adjetiva Civil também apenas instituir esta hipótese. Colhe-se para suportar
tal conclusão, trecho do voto do Ministro Carlos Ayres Brito em acórdão recente
do STF139.
Contudo há de se destacar que, dentre outros, o próprio Supremo
Tribunal Federal e o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo já vinham
determinando o seqüestro de rendas dos entes públicos, para se antecipar o
pagamento de credores acometidos por moléstias graves.
O Ilustre Desembargador Roberto Vallim Bellocchi, então Presidente
do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, em decisão liminar no
processo 156.751.0/2-01 em data de 14/05/2009, entendeu ser possível a
medida constritiva para se garantir o direito à dignidade do credor140.
139 (...) “Com relação aos precatórios originários de débitos alimentares e a outros não incluídos no preceito transitório (referia-se ao art. 78, do ADCT) a única hipótese de seqüestro constitucionalmente admissível continua sendo a pertinente à quebra de precedência” (...).(Acórdão unânime do Tribunal Pleno do STF 3, Ag na R 5433, rel. Min. Carlos Britto, j. 20/08/2009, DJ de 18/09/2009, p. 101). 140 “O grave estado de saúde exige imediata constrição da verba pública devida, para que lhe seja assegurado um "mínimo existencial", indispensável para continuidade da assistência médica, com
Neste mesmo sentido, transcreve-se trecho do voto do Ministro Eros
Grau141 no Agravo Regimental da Reclamação 3.034-2 – Paraíba, de Relatoria
do Eminente ex-ministro Sepúlveda Pertence, feita pelo Estado da Paraíba
contra o Presidente do Tribunal de Justiça do mesmo Estado, que deferiu o
seqüestro de valores do Estado da Paraíba em favor de pessoa portadora de
moléstia grave e incurável 142.
Desta maneira pode-se concluir que, de modo acertado (em termos,
como se verá mais adiante) após estas reiteradas decisões, a Emenda
Constitucional n° 62/2009 acrescentou que, a partir de então, no parágrafo
segundo do novo artigo 100, serão quitados preferencialmente os débitos dos
entes públicos de natureza alimentícia, cujos credores são portadores de
moléstias graves, ao lado dos credores com 60 (sessenta) anos ou mais, na
data da expedição do precatório.
Ainda, a nova redação do parágrafo sexto do artigo 100 da
Constituição Federal dada pela supracitada Emenda acrescenta que, não
obstante a hipótese de não observância à ordem cronológica, ainda caberá o
preponderância da dignidade da pessoa humana - valor de magnitude constitucional por tratar-se de direito fundamental - sobre outros regramentos processuais, incluindo os concernentes à constrição de rendas da Fazenda Pública do Estado de São Paulo - FESP”. (Acórdão unânime do Órgão Especial do TJ/SP, AgRg 1567510201, Rel. Roberto Vallim Bellocchi, j. 15/04/2009, DJ 14/05/2009). 141"(...) O Supremo entende, de modo uniforme, que cabe o seqüestro unicamente se houver preterição ao direito de preferência, o que não se verificou no caso destes autos. (...) Daí porque, até para ser coerente com o que tenho reiteradamente afirmado neste Plenário, eu haveria de votar no sentido de dar provimento ao agravo. Ocorre, no entanto, que a situação de fato de que nestes autos se cuida consubstancia uma exceção. (...) A esta Corte sempre que necessário, incumbe decidir regulando também essas situações de exceção. Ao fazê-lo, não se afasta do ordenamento, eis que aplica a norma à exceção desaplicando-a, isto é, retirando-a da exceção. (...) Assim, no quadro da exceção considerado, nego provimento ao agravo regimental e julgo improcedente a reclamação”. 142 EMENTA: Reclamação: seqüestro de valores do Estado da Paraíba: alegação de desrespeito do julgado do Supremo Tribunal na ADIn 1.662 (Pleno, Maurício Corrêa, DJ 19.9.03): improcedência. Os fundamentos do ato reclamado, que determinou o seqüestro de valores para pagamento de precatório oriundo de ação de cobrança ajuizada perante a Justiça comum estadual, não guardam identidade com o ato normativo invalidado pelo acórdão da ADIn 1662 (Instrução Normativa 11/97, aprovada pela Resolução 67/97, do Tribunal Superior do Trabalho), o que inviabiliza o exame da matéria na via estreita da reclamação.(Rcl 3034 AgR, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno, julgado em 21/09/2006, DJ 27-10-2006 PP-00031 EMENT VOL-02253-01 PP-00191 LEXSTF v. 29, n. 337, 2007, p. 193-201).
seqüestro quando, uma vez expedido o precatório, não estiver incluída a
despesa no orçamento para que se possa efetuar o pagamento ao credor143.
Portanto conclui-se que, atualmente, são duas as hipóteses que
darão ensejo ao seqüestro, de acordo com o artigo 100 do texto Constitucional.
O seqüestro de rendas do Ente Público poderá ser requerido por
qualquer credor preterido, em petição endereçada ao Presidente do Tribunal,
uma vez que o seqüestro não deverá ser determinado de ofício. Após a
apresentação do requerimento, primeiro será ouvido o chefe do Ministério
Público para só então, ordenar-se a medida executiva para a satisfação do
direito do credor.
Contudo, a controvérsia se instala com relação à legitimidade
passiva do seqüestro.
O primeiro posicionamento aduz que tal medida atingirá somente o
patrimônio do credor que foi adimplido antes do que deveria, em virtude da já
citada impenhorabilidade dos bens públicos144.
O segundo posicionamento defende que esta medida é cabível
apenas em face da Fazenda Pública recaindo, portanto o seqüestro, sobre as
rendas públicas e não à verba paga, em não se observando o direito de
preferência145.
Ainda, há uma terceira corrente que afirma ser possível o
litisconsórcio passivo, em caso de recebimento antecipado, podendo o
seqüestro recair tanto sobre o patrimônio público, como sobre o credor que
recebeu em desrespeito à ordem cronológica146.
De acordo com o STJ, é cabível a impetração de mandado de
segurança em face das decisões do pedido de seqüestro proferidas pelo
Presidente do Tribunal, por se tratar este de ato administrativo147. Com relação
143§ 6º As dotações orçamentárias e os créditos abertos serão consignados diretamente ao Poder Judiciário, cabendo ao Presidente do Tribunal que proferir a decisão exequenda determinar o pagamento integral e autorizar, a requerimento do credor e exclusivamente para os casos de preterimento de seu direito de precedência ou de não alocação orçamentária do valor necessário à satisfação do seu débito, o sequestro da quantia respectiva.144 CÂMARA, Alexandre Freitas, Lições de Direito Processual Civil. 7 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003. v. 2. p. 343. 145 SILVA, Ovídio A. Baptista da. Curso de Processo Civil. 3. ed. São Paulo: RT, 1998. v. 2. p. 116. 146 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 12 ed. São Paulo: RT, 2009. p. 1049. 147 PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. PRECATÓRIO PARCELADO NOS MOLDES DO ART. 78 DO ADCT. NÃO PAGAMENTO DE
à previsão de agravo regimental, esta dependerá do Regimento Interno de
cada Tribunal.
O Regimento Interno do Tribunal Regional Federal da Terceira
Região prevê, no parágrafo segundo do artigo 356, o cabimento de agravo
regimental das decisões proferidas pelo Presidente do Tribunal148.
Já no âmbito do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, de
acordo com o artigo 269 do seu Regimento Interno, entende-se que da decisão
do Presidente do Tribunal acerca do pedido de seqüestro, não caberá agravo
regimental149.
3.6.6 Da intervenção federal e estadual Uma vez inscrito o precatório até o primeiro dia de julho, seu
pagamento deverá se realizar no exercício financeiro seguinte. Não sendo o
mesmo consumado, configurar-se-á no caso em tela, o descumprimento de
decisão judicial.
Para tal situação, a Constituição Federal prevê em seus artigos 34 a
36, os dispositivos sobre a intervenção federal e estadual. De acordo com José
Afonso da Silva, “intervenção é ato político que consiste na incursão da
entidade interventora nos negócios da entidade que a suporta”150.
O artigo 34 dispõe sobre as hipóteses de intervenção da União nos
Estados ou no Distrito Federal151. O artigo 35 fala sobre as situações de
intervenção estadual nos Municípios e da União sobre os territórios federais.
Não há intervenção sobre a União, uma vez que somente esta é soberana. Já
o artigo 36 dispõe sobre o procedimento da intervenção.
PARCELAS NAS DATAS DE VENCIMENTO. PRETERIÇÃO DO PAGAMENTO. SEQUESTRO DE VERBAS PÚBLICAS. IMPETRAÇÃO DE WRIT OF MANDAMUS. DECADÊNCIA AFASTADA. 1. Os atos praticados no bojo de precatório pela Presidência ou pelo colegiado do Tribunal encerram caráter administrativo e, portanto, são impugnáveis via mandado de segurança, consoante súmula n. 311/STJ: "Os atos do presidente do tribunal que disponham sobre processamento e pagamento de precatório não têm caráter jurisdicional". (...) (RMS 29.576/SP, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 17/11/2009, DJe 01/12/2009). 148 § 2º - Da decisão do Presidente caberá agravo regimental. 149Art. 269 - Das decisões do Presidente do Tribunal, nos pedidos de sequestro, não caberá agravo regimental. 150 SILVA, José Afonso da Silva. Curso de Direito Constitucional Positivo. 29 ed. São Paulo: Malheiros, 2007. p. 484 151 Art. 34 - A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para: (...) VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial; (...)
Cabe lembrar que a aplicação dos dispositivos supra mencionados
se dão em casos excepcionais, que só poderão ocorrer mediante expressa
autorização da nossa Lei Maior, uma vez que é sabido que a regra é a
observância do princípio da autonomia do ente federado152.
Contudo, as ordens advindas do Poder Judiciário devem ser
cumpridas, uma vez que os três poderes destacados na Carta Constitucional
devem funcionar de maneira harmônica sendo, portanto, essencial que um
Poder respeite os provimentos advindos do outro153, justificando-se neste caso
a previsão de intervenção em caso de descumprimento de decisão judicial.
Por este motivo, o inciso IV do artigo 35 da Carta Magna dispõe
como exceção ao princípio da não intervenção, sobre situações em que pode o
Tribunal de Justiça dar provimento a representação, para prover a execução de
decisão judicial154.
Ora, o pagamento de precatórios judiciais é regulado com fulcro no
parágrafo quinto do artigo 100 da Constituição Federal que assim estabelece:
“Art. 100
(...)
§ 5º É obrigatória a inclusão, no orçamento das entidades
de direito público, de verba necessária ao pagamento de
seus débitos, oriundos de sentenças transitadas em
julgado, constantes de precatórios judiciários
apresentados até 1º de julho, fazendo-se o pagamento
até o final do exercício seguinte, quando terão seus
valores atualizados monetariamente.
(...)”
No caso em tela, portanto, uma vez caracterizado o inadimplemento
do Ente Público em claro desrespeito à decisão judicial, não restará ao credor 152 SILVA, 2007. p. 485. op. cit. 153 SILVA. 2007. P. 110. op. cit. 154 Art. 35 - O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos Municípios localizados em Território Federal, exceto quando (...) IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação para assegurar a observância de princípios indicados na Constituição Estadual, ou para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial. (...).
outra via senão o requerimento da intervenção, seja federal ou estadual, como
meio de satisfação do crédito pela Entidade Devedora.
A competência para a requisição da intervenção federal será do
STF, do STJ ou do TSE, dependendo da origem da ordem ou decisão judicial.
A competência para intervenção estadual será do Tribunal de Justiça do
respectivo estado.
Uma vez processado o pedido de intervenção, este seguirá o
regimento interno do respectivo Tribunal e posteriormente será encaminhado
ao Presidente da República ou Governador do Estado-membro, para que seja
elaborado o Decreto de Intervenção, onde se determinará a amplitude, o prazo
e as condições da mesma.
No âmbito do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, a
intervenção federal nesta unidade federativa, de acordo com o seu respectivo
regimento interno, será feita mediante requerimento ao STF pelo Presidente do
Tribunal, após resolução do órgão especial.
Já em se tratando de intervenção do Estado de São Paulo em
Município, o relator ao receber o requerimento determinará que a autoridade
indicada como a responsável preste informações no prazo de quinze dias. Uma
vez ouvido o Ministério Público, o processo será incluído na pauta de
julgamento onde poderão ser ouvidos o requerente, o Procurador do Município
e o representante do Ministério Público. Se o Tribunal deferir a intervenção, o
Presidente do Tribunal vai comunicar o Governador do Estado para a aplicação
do inciso IV do artigo 149 da Constituição do Estado de São Paulo155.
Para que esta seja julgada procedente, a recusa ao pagamento
deverá ser injustificada. O STF entendeu que, a alegação de falta de recursos
é justificativa aceitável para que se impeça o Decreto de Intervenção, com base
no princípio da proporcionalidade156.
155 Artigo 149 - O Estado não intervirá no Município, salvo quando: (...) IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação para a observância de princípios constantes nesta Constituição, ou para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial. (...).156 INTERVENÇÃO FEDERAL. 2. Precatórios judiciais. 3. Não configuração de atuação dolosa e deliberada do Estado de São Paulo com finalidade de não pagamento. 4. Estado sujeito a quadro de múltiplas obrigações de idêntica hierarquia. Necessidade de garantir eficácia a outras normas constitucionais, como, por exemplo, a continuidade de prestação de serviços públicos.
Em que pese o brilhantismo costumeiro das decisões proferidas por
esta Corte, o inadimplemento por escassez de recursos não parece ser escusa
plausível para o não cumprimento da obrigação.
Ora, é inegável que o Ente Público possa vir alegar com freqüência,
num país onde são muitas as exigências sociais, a insuficiência de recursos
para suprir todas estas. Por esta razão, esta posição pode contribuir para que a
Administração Pública deixe de cumprir com a determinação de adimplir a
obrigação pecuniária contida em sentença perante o particular, usando como
tese de defesa, a carência de recursos.
Colhe-se para sustentar tal posição, trecho do voto vencido do
Ministro Marco Aurélio do STF, em acórdão da intervenção federal n° 2.915-
5/SP:
“O Estado vê-se sempre em dificuldades de caixa, sendo
presumível, assim, a contumácia no descumprimento das
obrigações pecuniárias estampadas em sentença” 157.
Ainda neste mesmo voto, no entendimento do Ilustre Ministro,
deverá ser afastada a necessidade de comprovação de conduta dolosa quando
houver o descumprimento da ordem judicial, conforme esclarece:
“Prevalece o critério objetivo, ou seja, o não cumprimento
da ordem judicial, a inobservância do título judicial, pouco
importando saber a causa. Entendimento diverso implica,
diante de definições de políticas de gastos, ofensa ao
primado do Judiciário, á certeza da valia dos
julgamentos”158.
5. A intervenção, como medida extrema, deve atender à máxima da proporcionalidade. 6. Adoção da chamada relação de precedência condicionada entre princípios constitucionais concorrentes. 7. Pedido de intervenção indeferido. (Acórdão não unânime do Pleno do STF, IF 1317/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, j. 26/03/2003, DJ de 01/08/2003, p. 113). 157Acórdão não unânime do Pleno do STF, IF 2915/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, j. 03/02/2003, DJ de 28/11/2003, p. 152. 158 Acórdão não unânime do Pleno do STF, IF 2915/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, j. 03/02/2003, DJ de 28/11/2003, p. 152.
Da mesma forma, o egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo refutou os argumentos alegando falta de recursos utilizados pela
Municipalidade de São Paulo, que atualmente vem pagando seus precatórios
inscritos no exercício de 2001, deferindo diversos pedidos de intervenção no
Município de São Paulo159.
3.7 Da extinção do processo executivo Nos termos do inciso primeiro do artigo 794 do Código de Processo
Civil160 pode-se considerar que, com a Fazenda Pública cumprindo a
requisição de pagamento expedida nos autos, extinguir-se-á o processo
executivo. Deve-se lembrar que, para que se torne extinto o processo
executivo, dependerá este de sentença161.
Em âmbito federal, uma vez recebendo o Presidente do Tribunal os
recursos financeiros do Ente Público, logo após depositará tais valores em
conta bancária, remunerada em nome dos credores. Os saques
correspondentes aos créditos alimentares e de pequeno valor serão feitos
independente de expedição de alvará. O contrário ocorrerá com os créditos
ordinários. Então, deverá ser informado o juiz da execução, o qual caberá
informar as partes e proferir sentença extinguindo o processo executivo, nos
termos da Resolução 55 de 14 de abril de 2009162.
No âmbito do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, uma vez
sendo efetuado o depósito judicial nos autos, o juiz do setor de execuções
contra a Fazenda Pública irá, por meio de despacho, intimar o advogado a
159 (...) “Com efeito, a falta de recursos em matéria de dívida pública não tem o condão de servir de justificativa para o não pagamento. Veja-se que, aliás, já teve a Municipalidade tempo suficiente para programação de seu débito, uma vez que o precatório faz parte do período requisitorial de 02/07/96 a 01/07/97, para pagamento até o final do exercício de 1998. (...) (Acórdão unânime do Órgão Especial do TJ/SP, Intervenção Estadual, n° 064041.0/5, Rel. Des. Flávio Pinheiro, j. 5/09/2001, DJ de 23/10/2001). 160Art. 794 - Extingue-se a execução quando: I - o devedor satisfaz a obrigação; (...) 161Art. 795 - A extinção só produz efeito quando declarada por sentença.162 Art. 17 – Os valores destinados aos pagamentos de valores decorrentes de precatórios e requisições de pequeno valor serão depositados pelos Tribunais Regionais Federais em instituição bancária oficial, abrindo-se conta remunerada e individualizada para cada beneficiário. § 1º Os saques correspondentes a precatórios de natureza alimentícia e a RPVs serão feitos independentemente de alvará e reger-se-ão pelas normas aplicáveis aos depósitos bancários. § 2º Os depósitos relativos a precatórios de natureza comum serão liberados mediante alvará ou meio equivalente.
informar sobre a ocorrência das hipóteses de extinção de mandato previstas
nos incisos do artigo 682 do Código Civil, uma vez que houve lapso temporal
considerável entre a data da propositura da ação e do respectivo
pagamento163.
Caso se configure tal (ou tais) ocorrência(s), o advogado deverá
providenciar a regularização da representação processual relativa a(s) este(s)
autor(es), para que seja possível o levantamento do valor que lhe(s) cabe.
Deve-se mencionar que, os valores relativos aos autores carentes
de representação processual regularizada, permanecerão retidos nos autos. É
cabível ao advogado levantar os honorários advocatícios relativos aos autores
falecidos carentes de representação processual, por motivo de dificuldade ou
de impossibilidade de localização dos seus herdeiros, apresentando o contrato
de honorários previamente juntados aos autos, antes da expedição do
precatório.
Nos casos de não configuração das hipóteses de extinção do
mandato, deverá o exeqüente peticionar apresentando demonstrativo do valor
referente ao seu crédito, além de se manifestar sobre a extinção da
execução164.
Deste modo, conclui-se que a sentença de extinção da execução
possuirá natureza declaratória, ou seja, declara a existência de pagamento
bem como da extinção da obrigação, liberando-se desta, o devedor165.
163 Art. 682 - Cessa o mandato: I - pela revogação ou pela renúncia; II - pela morte ou interdição de uma das partes; III - pela mudança de estado que inabilite o mandante a conferir os poderes, ou o mandatário para os exercer; IV - pelo término do prazo ou pela conclusão do negócio. 164 BRASIL. Conselho Superior da Magistratura. Provimento CSM nº 894/2004: Cria o Setor de Execuções contra a Fazenda Pública, anexo às Varas da Fazenda Pública da Capital. TJ/SP. D.O.E – Poder Judiciário, Caderno I, Parte I, 11/11/2004. Disponível em <http://www2.oabsp.org.br/asp/clipping_jur/ClippingJurDetalhe.asp?id_noticias=16194&AnoMes=200411>. Acesso em : 09/11/2009. 165 (...) II- O simples fato da expedição do precatório e a inclusão no orçamento do crédito para o pagamento da obrigação não implica a extinção da execução, que só se perfaz com o efetivo pagamento ao exeqüente reconhecido por sentença declaratória do juiz. (EDcl nos EDcl no REsp 598.763/DF, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 16/03/2006, DJ 10/04/2006 p. 267).
4 – DO NOVO ARTIGO 100 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E DA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE N° 4357 4.1 – Da emenda constitucional 62/2009 e do ajuizamento da ADI 4357
A Emenda Constitucional 62/2009 se originou da Proposta de
Emenda Constitucional n° 351/09, a chamada “PEC do calote”. Foi publicada
no Diário Oficial da União em data de 10/12/2009 e trouxe diversas alterações
ao artigo 100 da Carta Política do nosso país, conforme se observou nos
capítulos e tópicos deste trabalho, além de ter acrescentado o artigo 97 do Ato
das Disposições Constitucionais Transitórias.
Em se tratando do tema abordado, não se poderia deixar de
comentar a alteração ocorrida no artigo 100 da Carta Magna. Contudo, em
virtude da recente promulgação desta nova Emenda, o escopo será o de
analisar, de modo singelo, as suas principais alterações dentro do regime de
pagamento dos precatórios, não obstante as já mencionadas ao longo deste
trabalho, visto que se mostra prematura a intenção de comentar sobre sua
aplicabilidade, uma vez que diversos institutos nela contidos dependem de
regulamentação legal.
O presente trabalho também abordará a possível violação a
determinados princípios constitucionais por alguns dos institutos contidos nesta
Emenda, como é o caso dos princípios da “dignidade humana”, da “igualdade”,
da “segurança jurídica” e da “coisa julgada”, motivo pelo qual serão apontadas
algumas questões levantadas pela ADI n° 4357.
Desta maneira, em virtude destas supostas violações, o Conselho
Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, a Associação dos Magistrados
Brasileiros, a Associação Nacional dos Membros do Ministério Público, dentre
outros, ajuizaram em face das mesas de ambas as Casas Legislativas, Ação
Direita de Inconstitucionalidade Com Pedido Cautelar (ADI n° 4357)166,
distribuída ao Ministro Carlos Aires Britto, ainda pendente de decisão, cujo teor
166 BRASIL. Supremo Tribunal Federal, ADI n. 4357, Requerentes: Conselho Federal da Ordem dos Advogados e Outros. Requeridos: Mesa da Câmara dos Deputados e Mesa do Senado Federal. Rel Min. Carlos Aires Britto. Data da Distribuição: 16/12/2009.
será comentado resumidamente a seguir, de acordo com alguns dos
dispositivos impugnados pela demanda em questão.
4.2 Da violação do parágrafo segundo do artigo 100 da CF ao princípio da igualdade e da dignidade da pessoa humana
A primeira alteração trazida pela Emenda que é digna de menção
está prevista no parágrafo segundo do artigo 100 da Constituição Federal167,
que instituiu a preferência dos créditos de natureza alimentar cujos titulares
tenham sessenta (60) anos ou mais, na data da expedição do precatório, ou
cujos titulares sejam portadores de moléstia grave, definidos na forma da lei.
Ou seja, em outras palavras, criaram-se mais duas hipóteses para o regime de
preferência no que tange ao recebimento do crédito a ser pago pela
Administração Pública.
Neste parágrafo, de acordo com a ADI n° 4357, o constituinte
derivado se omitiu acerca daqueles cidadãos que já preencheram o requisito
temporal exigido na lei atualmente em vigor e que aguardam o adimplemento
do seu crédito na fila estabelecida pela ordem cronológica disposta pela
legislação anterior, que não antevia o privilégio da nova Emenda.
Há neste caso, ofensa flagrante ao princípio da igualdade (artigo
quinto, caput, da Constituição Federal), uma vez que aqueles credores de
caráter alimentício com sessenta anos ou mais e que já possuíam o precatório
inscrito serão, de acordo com este dispositivo, impedidos de gozar da
preferência concedida àqueles que, com a mesma idade, venham a expedir o
precatório a partir desta Emenda.
Por esta razão, pediu a ADI a declaração de inconstitucionalidade do
trecho “na data de expedição do precatório”, pelas razões acima expostas.
Não obstante, ainda estabelece o regramento em análise que, tais
créditos preferenciais serão pagos sob o valor equivalente de até o triplo do
limite estabelecido para o pagamento dos créditos considerados como de
“pequeno valor”, admitido neste caso o fracionamento, sendo que o restante
devido será pago na ordem cronológica de apresentação do precatório.
167 § 2º Os débitos de natureza alimentícia cujos titulares tenham 60 (sessenta) anos de idade ou mais na data de expedição do precatório, ou sejam portadores de doença grave, definidos na forma da lei, serão pagos com preferência sobre todos os demais débitos, até o valor equivalente ao triplo do fixado em lei para os fins do disposto no § 3º deste artigo, admitido o fracionamento para essa finalidade, sendo que o restante será pago na ordem cronológica de apresentação do precatório.
Neste caso, observa a Ação em comento que houve violação ao
princípio da dignidade humana (inciso três do artigo primeiro da Carta Magna)
uma vez que de acordo com o dispositivo legal, o valor a ser concedido sob
preferência ao credor sofre uma limitação, impedindo-o de receber
integralmente o que lhe é devido, sem se subordinar ao fracionamento.
Ora, como já mencionado no presente trabalho, os créditos de
natureza alimentícia são destinados à subsistência do favorecido. E tal situação
se agrava quando os credores são os portadores de moléstia grave e os idosos
com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
Por isso, falar-se em fracionamento do valor a ser pago com
preferência àquele que se enquadra nas situações previstas na Emenda,
significa impedir que este possua condições mínimas para que possa viver com
a dignidade que lhe é garantida pela nossa Lei Maior.
Desta maneira, foi pedida a declaração de inconstitucionalidade com
redução de trecho do texto “até o valor equivalente ao triplo do fixado em lei
para os fins do disposto no § 3º deste artigo, admitido o fracionamento para
essa finalidade, sendo que o restante será pago na ordem cronológica de
apresentação do precatório”.
4.3 – Da violação do parágrafo nono do artigo 100 da CF ao princípio da livre disposição dos bens e da razoável duração do processo
Outra alteração trazida pela Emenda sob análise e atacada pela
Ação que é objeto deste capítulo se encontra no parágrafo nono introduzido ao
novo artigo 100 da Constituição Federal, que torna obrigatória a compensação
de precatórios com tributos, independentemente de regulamentação168.
Deve-se destacar que, no presente dispositivo, alega-se que há
flagrante desrespeito à autonomia da vontade (liberdade de disposição dos
bens garantida pelo artigo quinto da Carta Magna) visto que a compensação é
instituto que pressupõe acordo de vontades de ambas as partes desde que se
168 § 9º No momento da expedição dos precatórios, independentemente de regulamentação, deles deverá ser abatido, a título de compensação, valor correspondente aos débitos líquidos e certos, inscritos ou não em dívida ativa e constituídos contra o credor original pela Fazenda Pública devedora, incluídas parcelas vincendas de parcelamentos, ressalvados aqueles cuja execução esteja suspensa em virtude de contestação administrativa ou judicial.
exista, nos termos do artigo 369 do Código Civil, “dívidas líquidas, vencidas e
fungíveis” 169.
O mesmo parágrafo em questão, ao tratar da compensação, ainda
acrescenta que esta será admissível em se tratando de débitos tributários
“inscritos ou não em dívida ativa”. Logo, será possível que, uma vez expedido o
precatório em favor do credor, antes mesmo de levantar o valor que a decisão
transitada em julgado lhe garantiu, lhe seja descontado de antemão possíveis
débitos existentes.
Desta maneira, o parágrafo décimo do artigo 100 da Carta Magna
estabelece que o Tribunal solicitará informações acerca do débito tributário
inscrito ou não em dívida ativa à entidade pública devedora. Tal ato se dará
antes de ser expedido o precatório, sendo razoável a presunção de que deverá
ser concedido ao particular o direito de impugnar o valor que lhe é cobrado
indevidamente170.
Conforme se observa, além de se instituir a obrigatoriedade da
compensação, o legislador ainda vai compelir o credor do Ente Público a se
valer de diversos mecanismos de defesas processuais com o escopo de se
provar o não cabimento da cobrança do débito exigido pela Administração
Pública, como se dá no caso da prescrição da dívida, um caso comum e muito
bem lembrado pela ADI abordada.
Outra questão a ser levantada, ainda em se tratando da
competência do Tribunal para requisitar as informações a serem prestadas pela
Fazenda, diz respeito à função do Presidente do Tribunal. Ora, é forçoso o
entendimento de que tais discussões deverão ser apreciadas por este, que até
então possuía, quando da expedição do precatório, função unicamente
administrativa, conforme já defendido por este estudo.
Portanto, presume-se que, doravante, caberá ao Presidente do
Tribunal também decidir sobre as impugnações e o cabimento ou não de
compensação, em que pese o entendimento majoritário, tanto doutrinário como
169 Art. 369- A compensação efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis.170 § 10° Antes da expedição dos precatórios, o Tribunal solicitará à Fazenda Pública devedora, para resposta em até 30 (trinta) dias, sob pena de perda do direito de abatimento, informação sobre os débitos que preencham as condições estabelecidas no § 9º, para os fins nele previstos.
jurisprudencial, acerca do caráter exclusivamente administrativo das atividades
do Presidente do Tribunal em matéria de precatórios.
Desta feita, não obstante a longa duração dos processos em face da
Fazenda Pública, ainda serão estes submetidos a novos trâmites
desencadeados pela discussão acerca da incidência ou não de compensação
acerca dos valores envolvidos nesta demanda tratando-se de ofensa ao
princípio constitucional da razoável duração do processo.
Assim, requereu-se a inconstitucionalidade do parágrafo em análise
na sua integra.
4.4 – Da violação do parágrafo décimo segundo do artigo 100 da CF ao princípio da separação de poderes, da moralidade e da coisa julgada
Outro dispositivo atacado pela Ação Direta de Inconstitucionalidade
é o do parágrafo décimo segundo do novo artigo 100 da Carta Magna dispondo
sobre a atualização dos valores monetários dos precatórios, feita de acordo
com os índices da caderneta de poupança e sobre a incidência de juros
simples, sendo vedada a incidência de juros compensatórios, sendo que, de
acordo com este dispositivo, “incidirão juros simples no mesmo percentual de
juros incidentes sobre a caderneta de poupança” 171.
Embora seja digna de elogio a nova redação do artigo em comento
que tratou de mencionar a incidência de juros de mora, omissa na redação
anterior, a fixação do critério a ser utilizado tanto para a atualização monetária
como para a incidência de juros acabou, como aduziu a Demanda proposta
pelo Conselho da OAB, dentre outros, delimitando a atuação do juiz no que
tange à possibilidade de adoção de critério diferente do determinado
ofendendo, desta maneira, o princípio da separação dos poderes (artigo 2° da
Constituição Federal) e à coisa julgada.
Ainda, é sabido que o valor do crédito sofrerá considerável redução,
uma vez que o índice de correção incidente sobre a caderneta de poupança (a
Taxa Referencial) é inferior ao Índice de Preços ao Consumidor, que até então
era usado para a correção dos precatórios federais. No âmbito do Tribunal de
171 §12°- A partir da promulgação desta Emenda Constitucional, a atualização de valores de requisitórios, após sua expedição, até o efetivo pagamento, independentemente de sua natureza, será feita pelo índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança, e, para fins de compensação da mora, incidirão juros simples no mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta de poupança, ficando excluída a incidência de juros compensatórios.
Justiça do Estado de São Paulo, era até então usada a tabela prática de
índices de correção do próprio Tribunal.
A Ação Direta de Inconstitucionalidade em comento descreve muito
bem o provável prejuízo do credor, em face do Ente Público, na situação
descrita acima em possível ofensa ao princípio da moralidade (art. 37 da Carta
Magna)172:
“Com efeito, ao ter suas dívidas atualizadas por índice
inferior ao que atualiza seus créditos, o incentivo
econômico do Estado será o de prolongar indefinidamente
as discussões judiciais em que figura no pólo passivo,
pois estará ganhando mais para seus cofres”.
Logo, requereu a ADI em comento a declaração de
inconstitucionalidade do parágrafo décimo segundo, sendo que, em caso de
diferente entendimento, pediu-se que fosse atribuída interpretação ao texto
constitucional no sentido de a atualização da condenação judicial ser fixada
de acordo com critérios a serem estabelecidos na coisa julgada, sem a
interferência do constituinte derivado.
4.5 – Do artigo 97 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias - ADCT
O artigo 97 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
introduzido pelo artigo 2° da Emenda Constitucional 62/2009 foi duramente
atacado pela Ação Direta de Inconstitucionalidade em comento. E não era de
se estranhar, uma vez que, dentre outras disposições, o parágrafo primeiro do
artigo em análise dispôs sobre a instituição de um regime especial para o
pagamento dos precatórios, sendo inaplicável o artigo 100 da nossa Lei Maior,
exceto nos casos previstos no próprio artigo173.
172 BRASIL. Supremo Tribunal Federal, ADI n. 4357, Requerentes: Conselho Federal da Ordem dos Advogados e Outros. Requeridos: Mesa da Câmara dos Deputados e Mesa do Senado Federal. Rel Min. Carlos Aires Britto. Data da Distribuição: 16/12/2009. p.42. 173 "Art. 97 - Até que seja editada a lei complementar de que trata o § 15 do art. 100 da Constituição Federal, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios que, na data de publicação desta Emenda Constitucional, estejam em mora na quitação de precatórios vencidos, relativos às suas administrações direta e indireta, inclusive os emitidos durante o período de vigência do regime especial instituído por este artigo, farão esses pagamentos de acordo com as normas a seguir estabelecidas, sendo inaplicável o disposto no art. 100 desta Constituição Federal, exceto em seus §§ 2º, 3º, 9º, 10, 11, 12, 13 e 14, e sem
Desta maneira, facultou-se ao Ente Público optar por duas opções
deste regime especial.
A primeira opção se configura em depósito mensal em conta
especial no valor correspondente a 1/12 da sua receita corrente líquida,
destinado este ao pagamento dos precatórios 174.
A segunda opção apresentou a possibilidade de parcelamento do
precatório no prazo de quinze anos. Ora, não bastasse o já complexo
procedimento que se estabelece até a expedição do precatório, ainda deverá o
credor, esperar intermináveis quinze anos para que tenha recebido o que lhe é
devido.
Deste modo, aponta a Ação estudada por este trabalho que tal
dispositivo vai de encontro aos princípios do devido processo legal, do acesso
ao judiciário e do já citado princípio da duração razoável do processo.
Outros dispositivos dignos de menção decorrem de análise conjunta
dos parágrafos sexto ao oitavo do artigo 97, os quais determinam que, 50%
(cinqüenta por cento) dos recursos previamente estipulados de cada ente
federativo sob o regime especial serão destinados ao pagamento dos credores
em ordem cronológica e, em se havendo impossibilidade de se determinar qual
precatório foi inscrito antes, pagar-se-á aquele de menor valor.
Já o restante dos recursos será designado aos leilões, ao
pagamento por ordem crescente em se levando em conta o valor do precatório,
prejuízo dos acordos de juízos conciliatórios já formalizados na data de promulgação desta Emenda Constitucional. § 1º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios sujeitos ao regime especial de que trata este artigo optarão, por meio de ato do Poder Executivo: I - pelo depósito em conta especial do valor referido pelo § 2º deste artigo; ou II - pela adoção do regime especial pelo prazo de até 15 (quinze) anos, caso em que o percentual a ser depositado na conta especial a que se refere o § 2º deste artigo corresponderá, anualmente, ao saldo total dos precatórios devidos, acrescido do índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança e de juros simples no mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta de poupança para fins de compensação da mora, excluída a incidência de juros compensatórios, diminuído das amortizações e dividido pelo número de anos restantes no regime especial de pagamento. § 2º Para saldar os precatórios, vencidos e a vencer, pelo regime especial, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios devedores depositarão mensalmente, em conta especial criada para tal fim, 1/12 (um doze avos) do valor calculado percentualmente sobre as respectivas receitas correntes líquidas, apuradas no segundo mês anterior ao mês de pagamento (...). 174§ 3º Entende-se como receita corrente líquida, para os fins de que trata este artigo, o somatório das receitas tributárias, patrimoniais, industriais, agropecuárias, de contribuições e de serviços, transferências correntes e outras receitas correntes, incluindo as oriundas do § 1º do art. 20 da Constituição Federal, verificado no período compreendido pelo mês de referência e os 11 (onze) meses anteriores, excluídas as duplicidades (...).
ou ainda destinado aos acordos propostos por meio de lei a ser criada pela
própria entidade devedora175.
Ao que parece, com o devido respeito ao constituinte derivado,
restou ao credor escolher entre abrir mão de parte do que lhe é devido, ou a
continuar na fila, sendo parte de um ou de alguns dos milhares de processos
que se encontram “aguardando pagamento” e que lotam as prateleiras dos
cartórios do nosso país. Pede-se vênia para transcrever parte dos dizeres da
Ação objeto deste capítulo, que ilustram o entendimento acima demonstrado:
“Com todo respeito, é a instituição oficial da pechincha da
sentença judicial, em verdadeira banca de negociata e
absoluto amesquinhamento da autoridade do comando
judicial” 176.
Ora, a possibilidade de submissão ao pagamento, não por ordem
cronológica do recebimento, mas sim por ordem crescente do valor do
precatório parece violar o princípio da isonomia. Neste sentido, colhe-se
acórdão recente do STJ, que rejeitou a possibilidade de acordo entre o credor e
o Ente Público, exatamente para se preservar a ordem cronológica de inscrição
do precatório independente do valor devido ou de qualquer composição
extrajudicial177. Resta saber como se pronunciará o STF acerca desta matéria.
175§ 6º Pelo menos 50% (cinquenta por cento) dos recursos de que tratam os §§ 1º e 2º deste artigo serão utilizados para pagamento de precatórios em ordem cronológica de apresentação, respeitadas as preferências definidas no § 1º, para os requisitórios do mesmo ano e no § 2º do art. 100, para requisitórios de todos os anos. § 7º Nos casos em que não se possa estabelecer a precedência cronológica entre 2 (dois) precatórios, pagar-se-á primeiramente o precatório de menor valor. § 8º A aplicação dos recursos restantes dependerá de opção a ser exercida por Estados, Distrito Federal e Municípios devedores, por ato do Poder Executivo, obedecendo à seguinte forma, que poderá ser aplicada isoladamente ou simultaneamente: I - destinados ao pagamento dos precatórios por meio do leilão; II - destinados a pagamento a vista de precatórios não quitados na forma do § 6° e do inciso I, em ordem única e crescente de valor por precatório; III - destinados a pagamento por acordo direto com os credores, na forma estabelecida por lei própria da entidade devedora, que poderá prever criação e forma de funcionamento de câmara de conciliação. 176 BRASIL. Supremo Tribunal Federal, ADI n. 4357, Requerentes: Conselho Federal da Ordem dos Advogados e Outros. Requeridos:Mesa da Câmara dos Deputados e Mesa do Senado Federal. Rel Min. Carlos Aires Britto. Data da Distribuição: 16/12/2009. p.66. 177 PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ARTS. 129 E 730 DO CPC. EXECUÇÃO DE TÍTULO JUDICIAL. ORDEM DOS PRECATÓRIOS. PRINCÍPIOS DA EQUIDADE, MORALIDADE E IMPESSOALIDADE. ACORDO EXTRAJUDICIAL NÃO HOMOLOGADO. TRANSAÇÃO
Ainda, o parágrafo décimo quarto178 dispôs sobre a continuidade do
regime especial previsto no parágrafo primeiro do artigo em tela, enquanto o
valor da despesa dos precatórios for superior ao valor dos recursos vinculados,
abarcando as duas hipóteses de opção instituídas: a já citada moratória dos
quinze anos e o depósito de 1/12 das receitas, nos termos do parágrafo
segundo do artigo 97.
Nota-se que o legislador não impôs limite temporal ao regime
especial dos precatórios, sendo forçoso presumir que, enquanto os precatórios
não pagos representarem importância maior do que a dos recursos vinculados,
o que é muito provável que aconteça, a não observância do artigo 100 da
Constituição Federal irá durar por tempo indeterminado.
Finalmente, o parágrafo décimo quinto do artigo 97 do ADCT ainda
instituiu a inclusão dos precatórios pendentes de pagamento abarcados nas
moratórias estabelecidas pelos artigos 33 e 78 deste mesmo Ato, a este regime
especial, ou seja, não obstante a demora do adimplemento por parte do Ente
Público nestes casos, deverá se prolongar ainda mais a espera destes
credores que ainda não tiveram seu crédito integralmente adimplido pela
Fazenda Pública179.
Por estes motivos resumidamente expostos por este trabalho,
destaca-se que a ADI pediu a inconstitucionalidade na íntegra do artigo 97.
REVOGADA. PERDA DO OBJETO. VALOR DOS PARECERES DE JURISTAS E DE PROCURADORES DO ÓRGÃO PÚBLICO. (...) 8. É absurdo pretender que, quando o credor abre mão de parte ínfima de seu crédito, a Fazenda Pública saia favorecida. Trata-se de tese que, na essência, nega a aplicabilidade da isonomia e da impessoalidade ao universo de credores, já que alguns destes, se oferecido o mesmo benefício, em vez de aguardarem, respeitosa e pacientemente, sua vez na ordem cronológica, por certo prefeririam composição nas mesmas condições. (...) (AgRg no REsp 1090695/MS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 08/09/2009, DJe 04/11/2009). 178§ 14º O regime especial de pagamento de precatório previsto no inciso I do § 1º vigorará enquanto o valor dos precatórios devidos for superior ao valor dos recursos vinculados, nos termos do § 2º, ambos deste artigo, ou pelo prazo fixo de até 15 (quinze) anos, no caso da opção prevista no inciso II do § 1º.179 § 15° Os precatórios parcelados na forma do art. 33 ou do art. 78 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e ainda pendentes de pagamento ingressarão no regime especial com o valor atualizado das parcelas não pagas relativas a cada precatório, bem como o saldo dos acordos judiciais e extrajudiciais.
CONCLUSÃO Embora seja o regramento da execução por quantia certa em face
do Ente Público determinado pelos artigos 730 e 731 do Código de Processo
Civil, encontram-se, ao longo desta Lei Adjetiva, diversos dispositivos que vão
se enquadrar neste procedimento e que vão determinar as peculiaridades que
diferenciam a demanda em face do Ente Público da demanda ajuizada contra o
particular.
Não se pode negar que as ações ajuizadas em face do Ente Público
possuem sua duração estendida, em virtude das prerrogativas que a
Administração Pública possui quando está envolvida em determinado
processo. Contudo, o presente trabalho procurou explicar a razão da existência
de tais prerrogativas, deixando de analisar de modo mais profundo, se tais
prerrogativas processuais se tratam não de prerrogativas, mas sim de
privilégios, como afirmam alguns doutrinadores.
No que tange ao procedimento de execução por quantia certa contra
a Fazenda Pública, não há dúvida de que o pagamento da quantia devida,
salvo o limite estabelecido para as obrigações de pequeno valor, está
condicionado à expedição do precatório o qual, por sua vez, pressupõe uma
decisão transitada em julgado, já que a expressão “sentença” contida na lei
aparece de modo genérico, nada impedindo que seja o acórdão que transite
em julgado e não a sentença.
Ainda, esta decisão não necessita ser a condenatória proferida em
fase de conhecimento, visto que a sentença dos embargos à execução
transitada em julgado poderá ser o título que irá condicionar a expedição do
precatório. Isto porque, conforme se demonstrou, não há que se falar em
expedição provisória do mesmo, sendo forçoso concluir que este só será
expedido quando não mais houver controvérsia acerca do valor devido.
Já o artigo 100 da Constituição Federal dispõe sobre as regras
gerais da fase administrativa acerca da expedição do precatório até o seu
respectivo pagamento. Observou-se que não se considera em mora o Ente
Público que não pagou o precatório dentro do prazo previsto entre a sua
inscrição até o final do exercício seguinte a esta, conforme os ditames da Carta
Magna.
Conforme visto, também há diversos regramentos que regulam a
instrução, requisição e pagamento destes precatórios, bem como as
requisições de pequeno valor, que dependerão da disposição de normas
regimentais, de acordo com cada Tribunal.
Nos casos da violação da ordem cronológica estabelecida para o
pagamento dos precatórios, ou no caso de sua não inclusão no exercício
seguinte poderá o credor requerer o seqüestro das verbas do Ente Público, se
tratando, neste caso, de verdadeira medida expropriatória servindo como
exceção à impenhorabilidade dos bens públicos.
Quando se tratar de descumprimento da ordem judicial, poderá o
credor requerer, por intermédio do Presidente do Tribunal, a intervenção
federal ou estadual, cabendo-se ressaltar que, é aceita pelo STF a
argumentação de falta de verbas alegada pelo Ente Público.
Em se tratando da recente publicação da Emenda 62/2009 que
alterou consideravelmente o artigo 100 da nossa Lei Maior acerca dos
regramentos no que tange à expedição dos precatórios, destaca-se, destas
principais alterações, que foi criada uma nova ordem de preferência dentro dos
precatórios de natureza alimentar reservada aos credores com idade igual ou
superior a 60 (sessenta) anos e aos portadores de moléstias graves, a fixação
da atualização monetária aos índices da caderneta de poupança, a criação de
mais uma hipótese de cabimento de seqüestro (não inclusão do precatório no
exercício financeiro seguinte), a criação de um regime especial dentro do qual
não se observará, com determinadas exceções, o dispositivo no artigo 100 da
Constituição Federal, a submissão de parte das verbas destinadas ao
pagamento dos precatórios aos leilões e a compensação obrigatória de
precatórios com tributos.
Ainda se mostra demasiado prematuro analisar quais serão os
efeitos destas modificações trazidas pela Emenda em questão, por isso o
presente trabalho apenas demonstrou algumas destas modificações e, sob o
ponto de vista da Ação Direita de Inconstitucionalidade 4357, apontou
possíveis violações a determinados princípios estabelecidos na nossa
Constituição Federal. Resta saber se o Supremo Tribunal Federal irá ou não
acatar os pedidos de inconstitucionalidade dos dispositivos legais conforme
requeridos pela referida Ação.
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