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1 Curso de Extensão: Governança Metropolitana Colaborativa. PUC-Minas; Universidade de British Columbia CHS/UBC – Canadá Arranjos Institucionais na Região Metropolitana de Belo Horizonte José Moreira de Souza Reflexões de trajeto Estava a caminho quando me lembrei da referência que Henri Lefebvre faz à obra Bouvard e Pecouchet – dois patetas iluminados, de Gustave Flaubert. Nessa obra, Flaubert narra as peripécias de dois personagens que vivem na França no século XIX e que assistem a momentos cruciais da vida sem se dar conta de sua importância. Diria que são consumidores de ideologias em conflito. Revoltas e revoluções, inovações técnicas, padrões de consumo, cientificismo e espiritismo kardecista, tudo isso perpassa a vida desses dois patetas. Pensando a questão metropolitana, me dei conta de eu ter sido um desses patetas. Introdução Começo minha exposição fixando os seguintes momentos. 1970 – Governo do estado – Israel Pinheiro - contrata estudo técnico para delimitação da Região Metropolitana de Belo Horizonte. 1971 – 14 municípios assinam um convênio que dá origem ao PLAMBEL – Plano Metropolitano de Belo Horizonte. A instituição que vinha sendo pensada desde os movimentos pela Reforma Urbana no período pré-sessenta e quatro e que encontrou acolhida na Secretaria de Estado do Trabalho e Cultura Popular – Governo Magalhães Pinto – torna-se uma diretoria na Fundação João Pinheiro. 1993 – Em obediência à criação da Assembléia Metropolitana – AMBEL - reúnem-se os conselheiros no auditório Idamar Siqueira da Cruz Gouveia, no PLAMBEL O Diretor de Planejamento submete à apreciação do novo colegiado uma proposta de elaboração do Plano Diretor da RMBH como previa a Constituição do Estado de Minas Gerais. Um conselheiro, vereador pelo município de Belo Horizonte, declara a intempestividade da proposta proveniente “de um órgão autoritário” que serviu à ditadura. 1995 – O governo Azeredo decide extinguir o PLAMBEL. A mesa diretora da AMBEL solicita a essa autarquia a elaboração do Plano Diretor Metropolitano e argui o representante do Governo do Estado sobre o sentido dessa medida, tendo em vista a importância do PLAMBEL para os municípios metropolitanos.

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Curso de Extensão: Governança Metropolitana Colaborativa. PUC-Minas; Universidade de British Columbia CHS/UBC – Canadá Arranjos Institucionais na Região Metropolitana de Belo Horizonte José Moreira de Souza

Reflexões de trajeto

Estava a caminho quando me lembrei da referência que Henri Lefebvre faz à

obra Bouvard e Pecouchet – dois patetas iluminados, de Gustave Flaubert.

Nessa obra, Flaubert narra as peripécias de dois personagens que vivem na

França no século XIX e que assistem a momentos cruciais da vida sem se dar

conta de sua importância. Diria que são consumidores de ideologias em conflito.

Revoltas e revoluções, inovações técnicas, padrões de consumo, cientificismo e

espiritismo kardecista, tudo isso perpassa a vida desses dois patetas. Pensando a

questão metropolitana, me dei conta de eu ter sido um desses patetas.

Introdução

Começo minha exposição fixando os seguintes momentos.

1970 – Governo do estado – Israel Pinheiro - contrata estudo técnico para delimitação

da Região Metropolitana de Belo Horizonte.

1971 – 14 municípios assinam um convênio que dá origem ao PLAMBEL – Plano

Metropolitano de Belo Horizonte. A instituição que vinha sendo pensada desde os

movimentos pela Reforma Urbana no período pré-sessenta e quatro e que encontrou

acolhida na Secretaria de Estado do Trabalho e Cultura Popular – Governo Magalhães

Pinto – torna-se uma diretoria na Fundação João Pinheiro.

1993 – Em obediência à criação da Assembléia Metropolitana – AMBEL - reúnem-se

os conselheiros no auditório Idamar Siqueira da Cruz Gouveia, no PLAMBEL O

Diretor de Planejamento submete à apreciação do novo colegiado uma proposta de

elaboração do Plano Diretor da RMBH como previa a Constituição do Estado de Minas

Gerais. Um conselheiro, vereador pelo município de Belo Horizonte, declara a

intempestividade da proposta proveniente “de um órgão autoritário” que serviu à

ditadura.

1995 – O governo Azeredo decide extinguir o PLAMBEL. A mesa diretora da AMBEL

solicita a essa autarquia a elaboração do Plano Diretor Metropolitano e argui o

representante do Governo do Estado sobre o sentido dessa medida, tendo em vista a

importância do PLAMBEL para os municípios metropolitanos.

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1999 (?) – Um grupo de técnicos cria o Instituto Horizontes que batalha pela criação de

um Plano Estratégico para a RMBH.

2007 – 20 e 21 de agosto. Realiza-se a 1ª Conferência Metropolitana da Região

Metropolitana de Belo Horizonte. O encontro se encerra com Lançamento da Frente

Parlamentar Mineira em prol da RMBH; Posse do Conselho Deliberativo de

Desenvolvimento Metropolitano; Assinatura do decreto de regulamentação do Fundo

Metropolitano; e entrega do projeto de lei de criação da Agência Metropolitana.

Divido o trabalho em três partes. Na primeira, abordo rapidamente a formação das elites

mineiras e a instituição de Belo Horizonte como cidade síntese das Minas Gerais. Nesta

parte, argumento que, em Belo Horizonte, a ação do governo do estado se faz sempre

presente, como município metropolitano desde a sua concepção. O poder local deverá

sempre interpretar essa intenção.

Na segunda parte, chamo a atenção para os momentos da conurbação e os conflitos que

enseja na coordenação da ordem local. Argumento em favor da discussão pela

necessidade do planejamento e gestão metropolitana e insisto no privilégio de inclusão

no diálogo de alguns agentes, em detrimento de outros. Esta é a parte central deste

trabalho.

A terceira e última parte, discorre sobre os pressupostos de fundação de uma

“Consciência Metropolitana”. Aqui a atenção principal é dedicada à questão dos

discursos que institucionalizam ou validam o exercício do poder. Para tornar

operacional esta exposição examino a formação da Região Metropolitana legal sob o

aspecto das formas de comprometimento com o processo de metropolização.

Pretendo concluir argumentando que os arranjos de gestão metropolitana falham quando

enfatizam uma ou mais esferas do poder político sem atenção para os conflitos

institucionais latentes na ordem normativa e quando não incluem os segmentos da

sociedade civil. Fundamento minha exposição baseado na hipótese de que uma gestão

não conjuntural de uma região metropolitana exige a presença de uma “Consciência

Metropolitana”.

1. Belo Horizonte: cidade síntese das Minas Gerais.

No ano de 1956, a, então, Universidade de Minas Gerais promoveu o Segundo

Seminário de Estudos Mineiros. Três aspectos abordados nesse seminário chamam a

atenção para nosso tema. O primeiro é a fala do ex-governador do Estado, Milton

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Soares Campos que discorreu sobre o “Papel de Minas no Brasil”; o segundo é o

discurso de Washington Peluso Albino de Souza, que tratou das “Perspectivas atuais da

Economia Mineira”; e o terceiro é a palestra de Cid Rebelo Horta, sobre “Famílias

governamentais de Minas Gerais”.

Fico apenas com essa última palestra. Esse autor examina as famílias dominantes em

Minas Gerais e enfatiza:

Os principais hoje em Minas são, via de regra, descendentes dos

“homens bons” da Colônia. A persistência da estrutura econômica de

uma mesma classe dominante, apenas acrescida no tempo pela

contribuição reduzida de elementos novos que nela se absorveram pelos

laços de parentesco, decorre da continuidade da estrutura econômica,

toda ela ligada ao senhorio da terra, seja no tempo da mineração, seja

no ciclo de nossa economia rural.

A essa persistência na estrutura econômica deve acrescentar-se o

sistema eleitoral e político que vigorou desde a Independência, todo ele

feito para garantir a concentração do poder local nas mãos do senhorio

rural. P. 59.

Adentramos o século XXI e já quase vencemos a primeira década. Cabe a pergunta, o

que mudou?

Minas Gerais se tornou mais urbanizada. Quando Cid proferiu sua palestra, a população

de toda a RMBH atual registrada pelo Censo de 1950 não havia alcançado 500 mil

habitantes. O segundo município mais populoso era o de Nova Lima, com 22.000

habitantes, Contagem tinha pouco mais de 6 mil moradores e Betim algo como 11.500.

Isso quer dizer que os efeitos das levas migratórias com exceção de Belo Horizonte,

ainda não haviam afetado em nada a composição das elites locais.

À parte a elevada taxa de crescimento da capital na década de quarenta – 6% ao ano,

que se manterá quase constante até os anos setenta, como capital, Belo Horizonte teria

que ser dirigida por elites que interpretassem essa cidade como síntese das Minas. O

compromisso com a cidade planejada, sempre em atualização deveria compor a agenda

dos dirigentes, encomendando estudos pautados pelos resultados das “Reuniões

Regionais das Classes Produtoras Mineiras1”, no bojo do Plano de Recuperação

Econômica do Estado de Minas Gerais. Nada de Novo. Os anos 40 repetem o

1 ALBINO DE SOUZA, Washington Peluso. “Perspectivas atuais da Economia Mineira” in Segundo Seminário de estudos Mineiros. P.96.

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Congresso Agrícola, Industrial e Comercial, coordenado por João Pinheiro em 1903, os

congressos das municipalidades mineiras, concebidos por esse mesmo personagem

quando presidente do estado. Ouvir ou obter a aprovação das classes produtoras é um

expediente velho conhecido das elites.

A força do poder local, já se mostrara nos anos iniciais da república oportunidade em

que os municípios deliberaram Constituições Municipais, criaram conselhos distritais

com orçamento próprio e determinaram uma reunião anual da Assembléia Municipal, a

qual deveria aprovar as contas do chefe do executivo2.

Retomando o discurso de Cid Horta, vale fixar que o padrão “Coronelismo, enxada e

voto”3 que orienta o palestrante e explicita o que se chamou também de “mandonismo

local na vida política brasileira4”tem sua expressão nos arranjos políticos de Minas

Gerais. Desses trabalhos há que fixar um ponto que se mostra no discurso recente da

Reforma do Estado – a Gramática Política do Brasil – o patrimonialismo e seu poder de

estruturação da ordem política. Como se formam as elites políticas, que programas

defendem, a quem representam, a quem se reportam diretamente e a que estão dispostas

a transigir deparadas com situações que exigem mudança? São questões fundamentais

para se entender as ondas modernizantes atentas a núcleos programáticos

conservadores5.

Desse rápido percurso, vale fixar: em primeiro lugar, as elites dirigentes que vêm ter à

capital sabem interpretar a “Voz de Minas”; zelam para que a capital seja um

laboratório de avaliação constante dos destinos de Minas; dialogam frequentemente com

seus pares e com as correntes diversas cuidando de traduzir os discursos e reduzi-los aos

interesses que incorporam. Disso resulta que os arranjos institucionais característicos de

determinados momentos são apenas epifenômeno das interpretações possíveis à

manutenção dessa forma de exercício do poder.

Uma decorrência do que se afirma está no fato de que as elites dirigentes do município

de Belo Horizonte não podem estar em desacordo com os planos do governo do estado.

2 Conferir Souza, José Moreira de. Cidade momentos e processos. Serro e Diamantina na formação do Norte Mineiro no século XIX. São Paulo: ANPOCS/Marco Zero, 1993, p. 192 e também. RESENDE, Maria Efigênia Lage. Formação da estrutura de dominação em Minas Gerais: o novo PRM – 1889-1906. Belo Horizonte: UFMG, 1982, p. 85. 3 A obra de Victor Nunes Leal, também mineiro, havia sido publicada em 1949 e ainda não empolgara os meios acadêmicos. 4 Refiro à obra de uma paulista Maria Isaura Pereira Queiroz que estuda a amplitude do mandonismo local como uma vigência de fazer política no Brasil. Os “Donos do Poder” de Raimundo Faoro exploram essa mesma senda. 5 Uma obra importante que sintetiza o percurso das elites mineiras é a de Otávio Soares Dulci, Política e recuperação econômica em Minas Gerais. Belo Horizonte: UFMG, 1999.

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Sob esse ponto de vista, Belo Horizonte contraria o modelo de gestão da Grande

Londres, segundo interpretação de Edésio Fernandes6. As elites entendem corretamente,

diferentemente de Brasília e do Rio de Janeiro que Belo Horizonte é uma “metrópole

estadual”. Essa compreensão traz como segunda decorrência que as funções da

metrópole podem ou devem se reproduzir em outras áreas próximas ou distantes.

Assim se pode entender que a Penitenciária Agrícola de Neves concebida na década de

vinte do século passado, a Cidade Industrial de Contagem, ensaiada no final dos anos

trinta, implantada nos anos 40 e consolidada nos 50, a CEASA localizada em

Contagem, o Sistema Bela Fama construído nos anos 60, o aeroporto internacional de

Confins, inaugurado nos anos 80, são projeções da metrópole estadual, muito mais do

que expansão do município.

Outra é a questão quando se trata da conurbação entendida apenas como extensão dos

assentamentos residenciais para além dos limites municipais. Essa expansão, tanto pode

acontecer diante das projeções das funções metropolitanas, quanto da interpretação dos

agentes imobiliários do espaço possível para reproduzir especificamente esse capital.

No primeiro caso, a expansão é decorrência natural e suas conseqüências podem ser

antecipadas pelos próprios decisores. É o caso da necessidade de uma cidade operária

como apoio às atividades da indústria, no caso da implantação da Cidade Industrial7.

No segundo caso, exibe-se o conflito entre expansão da sede da metrópole e o

despreparo das elites locais para zelarem pelo seu peculiar interesse, ou a existência de

interesses subalternos contrariados. O modelo de expansão periférica que se inaugura

nos anos cinqüenta, e atinge Contagem, Betim, Ibirité, Ribeirão das Neves, Santa Luzia,

Vespasiano, Sabará e Nova Lima são exemplos conspícuos.

A expansão metropolitana aparece como um problema somente quando a expansão das

funções da metrópole é também acompanhada pelos assentamentos com fins

residenciais. Isso acontece porque os agentes do mercado imobiliário desconhecem a

face da demanda, ou a dimensionam segundo os interesses de reprodução do capital

investido e não da reprodução da força de trabalho8.

6 Ver desse autor “Gestão Metropolitana” in Caderno Escola do Legislativo. Belo Horizonte, v. 7, n. 12. p.75. 7 Benedito Valadares, em suas memórias, insiste nesse ponto. Ver Tempos idos e vividos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966. 8 Sobre esse assunto consultar PLAMBEL. Plano de uso e ocupação do solo do Aglomerado Metropolitano de Belo Horizonte. Belo Horizonte, 1976.

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Do ponto de vista do imigrante, seu propósito é vir morar em Belo Horizonte e o

resultado é assentar-se em Contagem, Ibirité, Ribeirão das Neves, Sabará, ou Santa

Luzia e até mesmo em Juatuba ou Esmeraldas9.

Aparentemente essa realidade deveria reforçar o que insisto em chamar Consciência

Metropolitana, entretanto o resultado é a afirmação de um modo de existência frustrado.

O morador de Neves ou de Ibirité enquanto migrante não fez essa opção. A duras penas

dirige-se à prefeitura local para cumprir seus deveres cívicos. No caso de Contagem, o

morador da Cidade Industrial, até os anos 70, apenas se identificava com a sede do

município pela existência do cemitério. Ir para Contagem significava encontrar o

destino final do ser humano, os sete palmos.

A conurbação, sob esse aspecto é sinônimo de perda de interlocução com a ordem local.

2. Área Metropolitana: Planejamento e Gestão.

Como foi lembrado na introdução a este artigo, o ano de 1970 e o de 1971 são pontos

importantes de um momento da discussão do espaço metropolitano como um problema.

Entretanto, o ápice dos momentos sempre tem precedentes. No caso da RMBH devem-

se ressaltar os estudos feitos pela SAGMACS para o plano municipal no final da década

de 50 por encomenda do prefeito Celso Melo Azevedo; os que formaram a consciência

de urbanistas a partir do Seminário da Quitandinha que pautou a luta pela Reforma

Urbana; o estabelecimento de pesquisas e linhas de estudo sobre a habitação popular,

realizados no interior da Secretaria de Estado do Trabalho e da Cultura Popular –

Governo Magalhães Pinto -; os efeitos da reforma fiscal e do SEFHAU pelo regime

militar de que resultou a criação do Escritório de Planejamento Urbano de Contagem –

EPUC –; o consórcio Betim-Contagem que deu origem à represa Vargem das Flores, a

necessidade de um diagnóstico para obter financiamento para instalação da CEASA.

A presença do movimento Economia e Humanismo do padre Lebret no Brasil se mostra

presente na SAGMACS que realizou estudos em São Paulo, no Nordeste, no Rio de

Janeiro e na Bacia Paraná Uruguai. Quanto a Belo Horizonte, o efeito duradouro do

estudo, se mostrou na distinção entre a área metropolitana de Belo Horizonte – great

9 Sobre esse assunto, ver: MORENO, Bruno et. al. Os limites de Belo Horizonte e os limites da luz. Belo Horizonte, 2008.

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Belo Horizonte – ou a Grande BH como se firmou na consciência coletiva e a região

metropolitana de Belo Horizonte – greatter Belo Horizonte10.

O Seminário da Quitandinha assume importância por pautar a luta nacional pela

Reforma Urbana, da qual os arquitetos entendendo-se como urbanistas se propuseram a

explicitar a necessidade de ordenamento territorial, com destaque para a questão do

déficit habitacional e da expansão descontrolada das metrópoles11.

Entre os estudos desenvolvidos na Secretaria de Estado do Trabalho e da Cultura

Popular, merece destaque o Levantamento da População Favelada de Belo Horizonte,

obra publicada em 1966, apesar das resistências do momento e os artigos WERNECK,

Nei Pereira Furquim; WATABABE, Hiroshi; CASTELO BRANCO, Alípio Pires; e

NOGUEIRA, Haroldo Alves. Expansão Urbana na estrutura subdesenvolvida. Belo

Horizonte: Departamento da Habitação Popular – Secretaria de Estado do Trabalho,

novembro de 1965. Contribuições para análise do problema habitacional e da

organização territorial. Belo Horizonte: Departamento da Habitação Popular –

Secretaria de Estado do Trabalho, novembro de 1965. Esses estudos são oportunidade

de aprofundamento do problema metropolitano e de formação de técnicos que terão

substantiva importância na formação do PLAMBEL.

A criação do EPUC em Contagem no ano de 1967 é o novo componente desse

momento. Naquele município, as elites se conscientizam do isolamento da sede

municipal em relação a duas áreas polarizadas por Belo Horizonte. A Cidade Industrial

de um lado e a Ressaca, de outro. As elites também se dão conta de que, como

município industrial por vontade do governo do estado, sua tendência de crescimento

superaria em muito os modestos seis mil habitantes aferidos pelo Censo Demográfico

de 1950. Entre 1950 e 1960, Contagem já acusava uma taxa geométrica de crescimento

de 6% ao ano, e na década seguinte saltaria para 17%. Decisões como criar fontes de

abastecimento de água, pela construção da represa Vargem das Flores e assumir como

iniciativa municipal a vocação industrial foram duas iniciativas que, de um lado,

inauguram um consórcio entre municípios, no caso Betim e Contagem, e, de outro,

convocam o estado para incentivar o desenvolvimento local. Nesse segundo caso, a

10 Ver LEME, Maria Cristina da Silva (coord.) Urbanismo no Brasil – 1895-1965. São Paulo: Studio Nobel, 1999. e também DIAS, Fernando Correia. Imagem de Minas. Belo Horizonte: imprensa Oficial, 1971. 11 PLAMBEL – Ano 15: O resultado de um convênio. Belo Horizonte, jul. 1986

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prefeitura desenvolveu estudos técnicos juntamente com agências de fomento do estado

visando ao financiamento das instalações do CINCO – Centro Industrial de Contagem12.

Outro aspecto desse momento é o da decisão pela localização da CEASA – Central de

Abastecimento da área metropolitana. Segundo depoimento do arquiteto Nei Pereira

Furquim Werneck, a equipe de planejamento conseguiu, desta vez com sucesso,

convencer o governador Israel Pinheiro da necessidade de um estudo sobre a Área

Metropolitana para fundamentar a decisão. Argumentou-se ser exigência das fontes de

financiamento do Governo Federal. Dessa decisão resultou também a criação de uma

equipe do estado, pondo de lado os estudos terceirizados. Surgia o PLAMBEL. O

grande desafio, a partir desse momento seria convencer o Estado de que diagnóstico e

diretrizes devem ser examinados, discutidos e viabilizados em sua implantação.

Desse modo, o órgão de planejamento que surge na RMBH em 1971 – o PLAMBEL – é

resultado de um convênio entre as prefeituras e o governo do estado. Para tanto,

convergiram forças importantes que conseguiram convencer o governador Israel

Pinheiro da importância da coordenação das ações na área metropolitana que se

configurava como expansão de Belo Horizonte.

Na elaboração da agenda metropolitana priorizou-se a necessidade de um diagnóstico

amplo da região com destaque para a área conurbada. Mesmo priorizando a síntese de

ordenação territorial os estudos favoreceram pesquisas como Origem e Destino, Uso do

Solo, Sócio-econômica e contrariando os modelos clássicos de diagnóstico para um

plano duas pesquisas articuladas: a de Vida Associativa e a de Lideranças comunitárias,

reunidas num conjunto de Pesquisas sócio-políticas.

Fico aqui com as Pesquisas Sócio Políticas. Se o PLAMBEL tivesse surgido por efeito

da Lei Complementar 14/73, talvez uma pesquisa desse tipo não tivesse sido realizada.

Como resultado de um Convênio, sua duração dependia não apenas de anuência;

12 Este autor conta com a vantagem de ter participado das pesquisas para o Plano de Desenvolvimento Integrado de Contagem no ano de 1968. O papel do governador Israel Pinheiro foi de fundamental importância para a aprovação do financiamento do CINCO. O Estudo de Viabilidade entregue ao prefeito concluía no Sumário Executivo. O CINCO é inviável, considerando-se que as áreas dinâmicas do estado eram o Sul de Minas devido à desconcentração industrial de São Paulo e a zona mineira da Sudene com destaque para Montes Claros. O CINCO se consolidaria principalmente como espaço de transferência de indústrias localizadas em Belo Horizonte, prejudicando o desenvolvimento da Capital. Inconformado com a conclusão, o prefeito, Francisco Firmo de Matos Filho, correu até o governador, o qual convocou o chefe da equipe que elaborou o diagnóstico de viabilidade, no caso, de inviabilidade, e perguntou: “O que é que vocês concluíram?” O Técnico ponderou, “o CINCO é inviável por tais e tais razões...” Israel: “Volta e conclui que é viável”. Essa é uma das lições mais importantes para nosso assunto. A competência técnica quase nunca se dá conta de todas as razões. Pode-se perguntar a METROBEL foi extinta e substituída pela TRANSMETRO por inviabilidade técnica? Brasília foi construída em ração de sua racionalidade técnica?

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necessitava de aprovação. Para isso se fez a pesquisa de vida associativa, onde se

mapearam as lideranças locais, municipais, supramunicipais com as respectivas

representações e interesses. Pretendia-se, com isso, fazer com que os estudos e diretrizes

técnicas chegassem a toda a população, condição essencial para que os termos do

convênio se tornassem efetivos e necessários para as lideranças em suas diferentes

instâncias.

O pequeno aproveitamento dos resultados desses estudos resulta da criação da autarquia

em 1974, em decorrência da Lei Complementar que instituiu no nível federal a RMBH,

juntamente com as demais. Entretanto, a necessidade de não apenas estudar o cotidiano

dos moradores, mas de estudar as propostas com eles, mesmo que fosse para cooptá-los,

esteve presente na cultura do órgão de planejamento e se mostrou quando da

apresentação da Lei de Uso e Ocupação do Solo do município de Belo Horizonte –

1975. A necessidade de compreender o cotidiano dos moradores ainda teve

continuidade com a Pesquisa dos Processos de Morar, realizada no ano de 1977, a do

Mercado da Terra na RMBH publicada nesse mesmo ano, a de Alocação dos Recursos

Públicos, entre outras.

O próprio modelo de criação da METROBEL é obediente à compreensão de que o

interesse dos municípios deve se manifestar no empreendimento, suprindo as

deficiências do modelo autoritário presente na composição dos Conselhos Deliberativo

e Consultivo.

Em avaliação do desempenho do PLAMBEL no início dos anos 80 perguntou-se aos

prefeitos sobre a importância desse órgão. O de Pedro Leopoldo afirmou que se o

PLAMBEL acabasse não faria a menor diferença para o município, já o de Contagem

registrou que sua ausência seria muito sentida. Nesse mesmo Seminário de Avaliação,

um dos técnicos chamou a atenção para os problemas de legitimidade do órgão pela

ausência de um diálogo mais constante, não apenas com os prefeitos, mas

principalmente com a sociedade civil organizada. Os efeitos dessa falta de diálogo se

apresentaram com nitidez quando da implantação do PACE – Projeto da Área Central –

as obras dos corredores Paraná e Santos Dumont foram logo questionadas pelos

usuários conduzidos pela insatisfação dos empresários localizados nessas vias.

Se há algo a destacar dessas considerações é que o diálogo estado municípios teve três

momentos, no primeiro deles – 1971 a 1974 – era dado como absolutamente necessário

para a existência do planejamento, tornando-se muito importante alcançar a sociedade

civil organizada formal ou informalmente; no segundo, o diálogo torna-se apenas

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ocasional, posto que a Lei garantia a participação coercitiva; e no terceiro, com a

abertura política, o diálogo passa a se fazer apenas com os titulares dos municípios –

prefeitos – obediente ao acordo de que o Conselho Consultivo era de fato a referência

para o que seria apreciado e deliberado no Conselho Deliberativo.

Há, contudo, que sublinhar que, ao longo de todo o período de existência da agência

metropolitana, onde se reuniam os conselhos, em nenhuma oportunidade se presenciou

qualquer manifestação dos movimentos da sociedade civil organizada ou não. Esse é o

grande desafio que gerou um seminário com o nome de “Consciência Metropolitana”.

Reduzido a diagnósticos e propostas técnicas, o planejamento pairava numa esfera tão

abstrata que nenhum movimento social se interessava em contrariá-lo ou tomá-lo como

aliado de seus interesses.

A criação da Assembléia Metropolitana aponta para um outro momento, aquele em que

o PLAMBEL se mostra como persona non grata, na fala de um vereador. Seguramente,

o referido vereador, do mesmo modo que os quase setenta membros que passaram a

compor a referida Assembléia, desconhecia que o desenho institucional estabelecido na

Constituição do Estado de Minas Gerais, havia sido longamente examinado e proposto

pelo PLAMBEL diante do impasse – Municipão; mini-estado ou federação de

municípios – o condutor desses debates foi o jurista professor Paulo Neves de Carvalho.

Na data da primeira sessão ordinária da referida Assembléia a convite da GRANBEL,

um outro estudioso do direito urbano, discorreu sobre o vazio jurídico em que se

instalava o colegiado. Havia somente três instâncias, segundo a Constituição de 1988.

União, Estados e Municípios. O município era finalmente uma entidade da Federação.

Onde ficava essa entidade chamada de Região Metropolitana? Instituída como instância

de poder, concluía, era inconstitucional.

O palestrante cuidava de interpretar o que determinava a Lei Complementar nº 026 de

14 de janeiro de 1993. O silêncio que se seguiu à exposição encomendada pela

GRANBEL, foi finalmente interrompido por um dos membros da mesa diretora.

“Enfim, a Assembléia está criada. Vamos trabalhar.” Não se falou mais em

constitucionalidade nem no lugar adequado desse modelo de planejamento e gestão.

No entanto, quando da apresentação da proposta de Plano Diretor, uma exigência da

Constituição Mineira, como já se viu, um vereador aparteou não pela

inconstitucionalidade do PLAMBEL, mas pela sua herança do período autoritário.

Contudo, a mesma Lei Complementar dispõe na Seção V “Da Autarquia Estadual de

Planejamento Metropolitano”:

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Art. 19 – A autarquia estadual de planejamento metropolitano tem por

finalidade o assessoramento para o planejamento, a organização, a

coordenação e o controle das atividades setoriais a cargo do Estado, relativas

às funções públicas de interesse comum da região metropolitana.

Art. 20 – Para a consecução de seus objetivos, compete à autarquia

Planejamento da Região Metropolitana de Belo Horizonte – PLAMBEL – no

que concerne ao Estado: (...)

Como se vê, são duas dificuldades, uma depende da leitura da Lei e de sua interpretação

e a outra da vontade de zerar a história, acusando a agência de planejamento como

herdeira do período autoritário.

Nessa oportunidade, não posso me furtar à lembrança da obra de Arthur Shopenhauer:

Como vencer um debate sem precisar ter razão13. Quero com essa lembrança,

argumentar que no campo do poder não é a racionalidade orientada pela idéia

reguladora de verdade que conta é a Vontade de Poder.

Há ainda um trecho pouco lido e menos ainda comentado dos parágrafos citados. A

autarquia de planejamento é estadual e suas atribuições dizem respeito ao que concerne

ao Estado. Se interpreto corretamente o que determina a Lei, mesmo sem os

municípios, o Estado tem ações na Região Metropolitana e essas atividades são

“setoriais”. Agir setorialmente pode ter como efeito a falta de controle e coordenação

das atividades. Desse modo, há que interpretar o sentido do momento que se configura

no ano de 1995, oportunidade em que o Governo Azeredo decide pela extinção do

PLAMBEL, inicialmente de maneira equivocada por uma lei ordinária, até que, após a

extinção de fato, sanciona a Lei Complementar Nº 53/96 que decreta “fica revogado o

artigo 20 da Lei Complementar 26, de 14 de janeiro de 1993.”

Esse momento me traz inúmeras perguntas: a primeira diz respeito à extinção de uma

agência, exatamente quando os membros da Assembléia Metropolitana explicitam sua

importância e estão dispostos a delegar-lhe a incumbência de realizar os estudos

preceituados pela Constituição do Estado de Minas; a segunda, é por que a Assembléia

Legislativa do Estado representando “o povo do Estado de Minas Gerais” aprovou sem

reparos a minuta encaminhada pelo Executivo, sem audiência pública, sem nada. A

terceira é a de que a revogação expressa do artigo 20 leva ao reconhecimento de que as

13 Rio de Janeiro: Topbooks, 1997. Shopenhauer sabia muito bem do que dizia, por sua tese fora O mundo como vontade e como representação e sua indignação pelo modo como os alunos adoravam Hegel sem examinar suas propostas – dele Shopenhauer – o deixava profundamente incomodado.

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ações setoriais do estado na região metropolitana não necessitam de coordenação nem

controle. E a última é da fragilidade de uma Lei. As leis servem apenas para serem

mudadas conforme os interesses de um determinado governo, ou as leis devem ser

mudadas quando a sociedade organizada manifesta a necessidade dessa mudança?

Nesse momento, retorno ao artigo de Edésio Fernandes, onde esse autor, após lembrar

o desafio de encontrar um modelo jurídico institucional que reflita a natureza dos

processos socioeconômicos e urbano-territorias criadores das RM, afirma: “É um

modelo que, de maneira perfeita, ainda não foi criado em lugar nenhum do mundo. (...)

É importante frisar que esse modelo não pode ser criado por lei ou decreto, tem que ser

construído nas práticas sociopolíticas de gestão” p. 73

O vazio institucional criado pela extinção do PLAMBEL não foi preenchido em

nenhum momento, apesar de a referida Lei distribuir suas funções pela Secretaria de

Estado do Planejamento e da Fundação João Pinheiro.

Em entrevista realizada com o Diretor do CEME e também com o técnico da SEPLAN

incumbidos para preencher as funções, essas questões vieram à baila. Perguntado sobre

o novo papel da SEPLAN, o diretor do CEME respondeu sobre o da Fundação:

Não. Ela assume muito em cima de quem? De uma pessoa. Assim como a

Fundação assume na hora que ela é provocada, ela não nega fogo, ela assiste,

ajuda, apóia, mas em nome de pessoas. A instituição Fundação não sabe o que é

planejamento metropolitano. Não fala; em discurso nenhum da casa você ouve

essa palavra14.

Do ponto de vista da SEPLAN um (único) assessor ficou responsável pelas funções de

coordenação e controle. Aqui se destaca apenas uma ponderação:

Do ponto de vista legal a SEPLAN ficou com a competência da coordenação do

planejamento e a secretaria executiva da AMBEL. São as duas funções mais

importantes. Teria ainda aquele apêndice da anuência prévia que a gente vê

como um negócio instrumental. Aquilo não faz sentido senão dentro de uma

política mais ampla de ordenação do espaço da Região Metropolitana. Atuar

naquilo como se atua hoje, quer dizer, como uma superprefeitura, sem uma

política urbana por trás, sem uma política metropolitana por trás, fica muito

difícil. Mas, de qualquer forma, resumindo, nós temos estas três competências

aí: coordenação do planejamento, secretaria executiva da AMBEL e este

14 Entrevista concedida em 29/10/98 a Virgínia Reno dos Mares Guia e José Moreira de Souza

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instrumento de intervenção no parcelamento... não de intervenção, mas de

orientação do processo de parcelamento do solo15.

Ao findar o século XX, um grupo de técnicos afeitos à área de planejamento urbano,

visualizou a oportunidade de propor ao estado a necessidade de um Plano Estratégico

para a RMBH. Criou-se o Instituto Horizontes, com apoio de ONGS, grandes empresas

e outros segmentos da sociedade civil. Esse empreendimento sinalizava para o vazio

existente no estado no cumprimento de suas atribuições e denunciava que o assim

chamado Mercado não se orienta apenas pela “mão invisível”. Necessita de diretrizes

que favoreçam a diminuição dos riscos. Cria-se novo âmbito de interlocutores.

Esse é momento importante por sinalizar o salto das burocracias do Estado, as quais são

obrigadas a fazer apenas o que a Lei determina. O surgimento do Instituto desperta para

os inúmeros estudos acadêmicos desenvolvidos como teses, dissertações, diagnósticos e

propostas para planos diretores municipais e orientação para ações de empresas de

grande porte necessitadas de análise de informações para construírem seus cenários.

Apesar disso, ficou ainda a dificuldade de uma construção ampla de uma consciência

metropolitana que ampliasse as práticas sociopolíticas de gestão desejadas por Edésio e

estudas nas Pesquisas Sociopolíticas do PLAMBEL. Como reconhecem diferentes

autores – essa é uma questão que precisa merecer nossa atenção, uma das características

dos movimentos urbanos é a busca por resultado que respondam às necessidades do

cotidiano. Dessa forma, mobilizam-se e se desmobilizam rapidamente. Há até mesmo

que se perguntar como um movimento que reuniu milhões de pessoas por todo o Brasil

– o das Diretas Já – pôde ser desmobilizado tão rapidamente, sem deixar qualquer rastro

no dia seguinte, como se fosse apenas naufrágio de uma embarcação em alto mar.

No caso dos arranjos metropolitanos, a reunião e mobilização de grupos de elite embora

necessária não é suficiente. Contudo, uma nova realidade se configura com a maior

freqüência dos Fóruns e Conferências Urbanas, principalmente a partir da aprovação da

Lei 10.257 /2001 mais conhecida como Estatuto da Cidade.

Desse modo, o momento que se inaugura solenemente em 20 e 21 de agosto de 2007 é a

culminância de um conjunto de conferências municipais, metropolitanas e estaduais

para se consolidar o Sistema de Gestão Metropolitana.

15 Entrevista concedida no dia 12 de novembro de 1997 a Virgínia Reno dos Mares Guia e José Moreira de Souza.

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3. Agentes, Participação e comprometimento com o processo de

metropolização.

Um dos maiores feitos, senão o maior do atual governo estadual, foi o de criar o grupo

de Governança Metropolitano para articular as ações das diversas secretarias. Com

efeito, o desafio maior é exatamente a falta de coordenação e controle das agências

setoriais. Quando o PLAMBEL tinha maior reconhecimento, foi criada uma Comissão

de Compatibilização de Obras na RMBH, entretanto, apesar de todos os esforços isso

nunca se realizou plenamente. Apenas um exemplo: assistiu-se, logo no início dos anos

80, à implantação do PACOTT – Projeto de Ampliação da Capacidade Operacional do

Transporte e do Trânsito - Amazonas, seguido do da Pedro II, Silviano Brandão, entre

outros. Tão logo a avenida Amazonas recebeu novo capeamento asfáltico, escavadeiras

romperam os asfalto para enterrarem os tubos de encanamento do Sistema Serra Azul da

COPASA, os passeios foram novamente escavados para receberem a rede subterrânea

da TELEMIG. Na Área Central, o PACE foi atropelado por tudo isso e mais a rede

subterrânea da CEMIG.

Esse descompasso era devido à dificuldade de acerto de cronogramas de obras. Todas

elas com financiamento internacional atrelados a diferentes contratos e multas

vinculadas ao cumprimento de prazos. Isso determinava um regime do “salve-se quem

puder”. O desperdício de gastos públicos decorrente da falta de articulação entre os

órgãos setoriais do próprio estado traz efeitos perversíssimos na alocação de recursos

públicos.

Considerando-se que o maior investidor numa região metropolitana é o próprio estado, a

desarticulação entre os seus órgãos setoriais implica desperdícios prejudicando não

apenas a população metropolitana, mas todo o território. Não seria, portanto, apenas

uma Comissão de Compatibilização que daria conta de normalizar essa situação. Exige

vontade política de governo. A constituição do grupo de governança é um grande feito.

Já disse que se, de acordo com a Lei complementar 026/93, o PLAMBEL tivesse

cumprido apenas essa função ele teria garantido também a articulação com os

municípios. Há que lembrar, porém, que a constituição de um grupo, embora difícil, é

mais fácil do que fazê-lo funcionar. Note-se que a dificuldade começa na elaboração do

orçamento e termina no cumprimento de acordos políticos necessários à assim chamada

“governabilidade”, podendo inverter-se a ordem. Há ainda outra dificuldade: a

existência do grupo de governança tem que ser levada ao conhecimento de outros

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agentes interessados em seus efeitos benéficos. No caso, os poderes municipais, os

órgãos de representação de classe, os movimentos sociais. Suas atribuições precisam ser

levadas ao conhecimento de todos e constantemente avaliadas com Fóruns,

Conferências e Conselhos, ou seja, promover e garantir comprometimentos..

Esse é um dos pontos importantes dos arranjos institucionais, a dificuldade de torná-los

efetivos, práticos, não deve fazer-nos recuar. Pode exigir muitos anos para tal, mas não

se pode desistir. Esse é um dos grandes desafios na execução de políticas públicas. Os

modelos priorizam a gestão e desprezam o planejamento. Uma boa gestão pode ser

muito eficiente, mas muito pouco eficaz ou efetiva. É eficiente ao cumprir metas.

Cumpre à gestão fazer as coisas certas do que lhe é atribuído. Quanto ao planejamento,

seus objetivos são mais ambiciosos, ele persegue metas de longo prazo. Para tal, não é

suficiente fazer bem feito o que tem que ser feito, é preciso auscultar no presente, as

fontes de conflito, levar a sério todas as críticas, procurá-las insistentemente,

aprofundar-se nelas. O planejamento não pode ser feito por um grupo iluminado de

tecnocratas, ele tem que ser feito com a sociedade civil e para a sociedade civil.

Recordo um pensamento do padre Antônio Vieira cujo quarto centenário de nascimento

se comemorou em fevereiro de 2008. Sua afirmação mereceria estar em todos os órgãos

que se propõem a trabalhar com planos. Eis o pensamento:

Se quereis profetizar os futuros, consultai as entranhas dos homens

sacrificados; consultem-se as entranhas dos que se sacrificaram e dos que se

sacrificam; e o que elas disserem, isto se tenha por profecia. Porém, consultar

de quem não se sacrificou nem se sacrifica, nem se há de sacrificar é não querer

profecias verdadeiras; é querer cegar o presente, e não acertar o futuro.

Vamos por parte. Planejamento não visa ao hoje, mas ao depois de amanhã. Entretanto

o planejamento não é um exercício de adivinhação, é a decifração das carências,

defeitos, falhas, lacunas, insuficiências e injustiças que insistem em se manter no

cotidiano. Essas carências, insuficiências, defeitos e injustiças insistem em se perpetuar

se não forem examinadas em suas entranhas. Não são as soluções de hoje que as

eliminam, mas a atenção para as causas profundas que as fazem se reproduzir.

Planejar exige ações ousadas que contrariem o presente. A ousadia não significa dar

soluções apressadas, mas em auscultar profundamente as maiorias silenciosas, os

sacrificados, aqueles que a Lei condena agindo na contra-mão dos imperativos da

Justiça, os mortos em suas entranhas, fazer necropsias. Inverter as perguntas comumente

aceitas. Diferentemente de perguntar: Por que as pessoas roubam, por que a violência

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aumenta, por que cresceu a taxa de mortalidade por causas externas – acidentes,

assassínios, suicídio -, interrogar: por que as pessoas com as mesmas características não

roubam, contêm o impulso à violência; se controlam evitando acidentes, agressões

violentas? A pergunta por que as pessoas infringem as leis do trânsito, deve ser

invertida, por que as pessoas obedecem a essas leis; a que pergunta por que as crianças e

adolescentes de baixa renda abandonam a escola a partir dos dez anos, deve ser feita de

outra maneira: por que 60% delas ainda permanecem concluindo os oito – agora nove–

anos do antigo primeiro grau? Não é, portanto a transgressão que importa como foco de

atenção para o planejamento, mas a submissão a uma ordem que aponta exatamente em

direção à transgressão. Quem transgride responde apressadamente ao hoje e quem

obedece se sacrifica fazendo acreditar que uma ordem injusta é a mais adequada ao

amanhã.

As entranhas dos homens sacrificados devem ser o objeto principal da prática de

planejamento. Remeto-me a um Relatório da Comissão Mundial de Cultura e

Desenvolvimento intitulado Nossa diversidade criadora. Nele o coordenador, Javier

Perez de Cuéllar – que já foi Secretário Geral da ONU – insiste no conceito de

desenvolvimento humano, sublinhando que Desenvolvimento Humano é “O processo

de ampliação de opções oferecidas a um povo”16.

Entendo que planejar é estar atento às limitações que dificultam o acesso a essas opções.

Edésio nos lembra que a cidade real é ilegal. Disso há de decorrer que as leis que

regulam a ocupação e uso do solo são injustas. Há que se perguntar com vista ao

planejamento orientado por uma concepção de Justiça: o que seria um programa de

regularização fundiária? Como esse programa foi proposto? Como ele auscultou as

entranhas dos homens sacrificados que favelaram a cidade? O que ouviu?

Neste instante o governo federal anunciou um amplo programa visando à diminuição do

déficit habitacional. Com 1 milhão de casas entende-se que se diminui o déficit em

14%. No programa da TV Minas “Brasil das Gerais” esse assunto foi debatido no dia 28

de abril. Um dos participantes, perguntou: essas casas, no caso, apartamentos que serão

construídos, levam em consideração a ascensão social das famílias moradoras? Pensa

que se elas progredirem buscarão outro abrigo com maiores comodidades e, no final,

essas áreas criarão espaços deteriorados na cidade? (Não sei se foi bem assim que a

pergunta foi formulada.) O senhor secretário municipal da Habitação de Belo Horizonte,

16 CUÉLLAR, Javier Pérez de (org). Nossa diversidade criadora. Campinas: Papirus; Brasília: UNESCO, 1997.

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respondeu com o exemplo das unidades já construídas pelo OPH – Orçamento

Participativo da Habitação –; o representante da CEF – Caixa Econômica Federal -

recordou que quase nada se fez no país para as famílias com renda até 3 salários até

então. As respostas são cabíveis e procedentes; mas a pergunta necessária ao

planejamento não foi compreendida. Uma resposta para o hoje precisa pensar no

amanhã.

Essa prática de planejamento calcada em estudo de carências sem atenção para as forças

que as reproduzem tem sido verificada nas avaliações após percurso. Exemplo é a

concepção do PACE no Esquema Metropolitano de Estruturas em 1974 e sua avaliação

dez anos depois.

Transcrevo aqui considerações apresentadas em outra oportunidade17:

Ao avaliar a região metropolitana num percurso de 10 anos após a implantação

do PACE, estudo realizado pelo PLAMBEL detecta que o Núcleo Central

continuou perdendo população. Tão ou mais importante, constata também que a

Lei de Uso e Ocupação do Solo, “ao estabelecer um Zoneamento concebido

segundo as tendências observadas à época de sua elaboração, consagra e

reforça a organização territorial vigente. A segregação e a estratificação dos

espaços residenciais são amplamente estimuladas pelo Zoneamento, ao

estabelecer zonas residenciais diferenciadas18”.

O citado estudo “denuncia” um ponto da maior importância na estruturação da

metrópole belohorizontina, que consiste na promulgação de leis obedientes a

tendências verificadas quando de sua formulação e proposição. Além disso,

para o que importa à temática do artigo, a Lei de Uso do Solo é denunciada por

não contrariar minimamente a situação vigente, colocando a centralidade

metropolitana como um problema não apenas de deseconomia, mas de

interesses de classes em conflito.

A avaliação do PACE mostra que as modificações introduzidas pelo poder

público não surtiram os efeitos esperados. Os conflitos gerados pela

inadequação do centro metropolitano transbordaram para seu entorno, com a

saturação dos corredores de trânsito, “induzindo altos investimentos para

remanejamentos ou mesmo exigindo a abertura de vias complementares de 17 CARNEIRO, Ricardo e SOUZA, José Moreira de. Sustentabilidade das periferias nas metrópoles brasileiras. Caxambu, 32º Encontro Anual da ANPOCS, 2008. 18 PLAMBEL, Processos gerais de formação da aglomeração metropolitana. Belo Horizonte, 1985 [texto para discussão interna ]

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maior capacidade (...), os quais virão realimentar a mesma estrutura, sem lhe

corrigir as distorções” (PLAMBEL, ibid).

São conhecidos os programas voltados para o mímimo. Mínimo de conforto, mínimo de

educação, mínimo de saúde, mínimo de condições de deslocamento. Mínimo de renda.

O programa Bolsa Família tem recebido críticas, não pelo mínimo que assegura, mas,

alegam alguns grupos, por ser um desestímulo ao trabalho. Uma questão cabível para os

que planejam precisaria perguntar pela imposição de sacrifício vinculada a esse mínimo.

Voltarei a esse assunto mais à frente para tratar melhor dos índices de desenvolvimento

humano. Passo agora a um outro aspecto dos arranjos institucionais.

Quando da extinção do PLAMBEL, a assessoria para assuntos metropolitanos,

posicionada na SEPLAN, logo se deparou com a impossibilidade de se contar com uma

gestão metropolitana efetiva, uma vez mantido o modelo de representação vigente na

Assembléia Metropolitana. A presença de apenas um representante do Estado, de um da

Assembléia Legislativa e de prefeitos e vereadores de todos os municípios sem levar em

consideração o peso metropolitano, trazia distorções muito sérias. As câmaras setoriais

existentes eram formadas por esse grupo que se atribuía a exclusividade na análise e

apreciação das propostas. Fez-se, então, esforço para que as câmaras técnicas incluíssem

representantes de órgãos setoriais do Estado com direito a voz e poder de

convencimento. Com efeito, prefeitos e vereadores poderiam perfeitamente externar

com conhecimento de causa as demandas da população de seus respectivos municípios

nas áreas “de interesse comum”, mas faltava-lhes a convivência com informações

técnicas e estudos que fundamentassem diagnósticos. Essa tentativa não vingou. Apesar

disso, a Assembléia Metropolitana adquiriu a triste fama de ser um órgão que aprovava

anualmente as tarifas dos transportes públicos. Como essas tarifas eram aprovadas? Os

técnicos apresentavam as planilhas de custo, argumentavam e a câmara setorial não

tinha como refutar. Dizia sempre “sim”.

Esse é um dos maiores desafios às caricaturas de planejamento. Não há como planejar

se não houver diversidade, se o discurso não for construído pelo diálogo. Esse é também

o desafio à moda do Planejamento Participativo. Na França se tornou comum a glosa à

participação: “Eu participo, tu participa, nós participamos e eles decidem”. Podemos

chamar a isso de Planejamento Cooptativo.

Em certo momento de empolgação pela Reforma do Estado, juntamente com a

introdução de um neologismo quase arcaico na língua portuguesa – governança –

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travestido de tradução do inglês, circulou também, sem tradução o termo accountability.

Dizia que o termo não tinha correspondência em português, ou seja nossas práticas

políticas desconheciam absolutamente algo que se introduzia por essa prática.

Estranhamente, os tradutores para o espanhol não encontraram qualquer dificuldade em

fazer o termo inglês ser equivalente a “transparência na prestação de contas”. Eu

pergunto: será que nós desconhecemos o que é ser transparente? Ou a introdução do

termo visa exatamente à não transparência das intenções?

Prestar contas não nos é estranho, contudo, exigir transparência nessa prestação é algo

pouco comum. A bandeira por uma contabilidade pública transparente pede uma

reflexão sobre as formas de comunicação.

Não posso resistir a comentar a impressão que me ficou quando li a Mandrágora de

Maquiavel. Essa peça teatral, como é sabido, é uma comédia do século XVI. Nela o

autor mostra como as fraudes são bem sucedidas na ordem do cotidiano no espaço

doméstico. Na minha interpretação, o tema pode coincidir com um mito que se

construía nessa mesma época, o do Doutor Fausto. Fazer passar-se por douto e grande

sábio é dominar língua estranha abordando assuntos triviais. Calímaco que partiu jovem

da Itália e viveu vinte anos em Paris, quer ter argumento para responder a uma disputa

sobre a beleza das italianas em comparação com a das francesas. A migração em tenra

idade não lhe permite avaliar, posto que só conhece as francesas. Seu retorno à Itália é

oportunidade para se lembrar e por à prova a disputa acontecida em Paris. Segundo o

propositor da disputatio , concedendo que todas as francesas fossem belas e todas as

italianas bruxas horrendas, seria suficiente a beleza de uma única, a esposa de Messer

Nícia. Para chegar até a esposa e sua beleza, Calímaco tem que se fazer passar por

médico. Seu saber é comprovado quando prescreve um exame de urina. O diálogo entre

Calímaco e Messer Nícia é saboroso.

Calímaco – Da cá. Oh! Esta urina denota fraqueza dos rins.

Messer Nícia – Realmente, parece-me um pouco turva. Contudo, é fresquíssima:

fê-la agora.

Calímaco – Não há de que admirar-se. Nam mulieris urinae sunt semper

maiores grossitie et albedinis, et minoris puchritudinis, quam virorum. Huius

autem, in caetera, causa est amplitudo canalium, mixtio eorum quae ex matrice

exeunt cum urina.

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Messer Nícia – Oh! Uh! Cona de São Púcio! Encheu-me as medidas, sim,

senhor! Como raciocina bem destas coisas!19

Eis, o charlatão impõe seu saber ao dizer trivialidades do senso comum em latim e

conquista de uma vez por todas a confiança do cuidadoso e possessivo marido. “Fale

livremente, pois estou pronto para obedecer-vos em tudo e acreditar mais em vós do que

no meu próprio confessor”. Alcança-se neste instante a confiança no que Giddens

chama de sistemas peritos. – obedecer e acreditar.

Um planejamento participativo que queira de fato defrontar-se com esses recursos de

charlatanismo tem, necessariamente, de usar a prestação de contas como oportunidade

de avaliação. Para isso um dos pontos fundamentais é a constituição do sistema de

contabilidade pública.

O núcleo estratégico de um sistema de planejamento, - talvez o nome mais adequado

seja rede de planejamento – tem a concepção de contabilidade pública como a mais

importante. Orientado pelo conceito de Desenvolvimento Humano essa contabilidade

deve considerar as redes das relações sociais e sua expressão nas relações espaciais. É a

elas que se deve referir.

Numa certa reunião da AMBEL argüido sobre a importância que o governo do estado

dava à RMBH o governador enumerou inúmeras ações vinculadas a programas e

projetos. Os conselheiros se calaram. Minha tradução foi semelhante à de Maquiavel.

Desde a inauguração da Capital, nenhum governo deixou de alocar expressivos recursos

visando ao seu desenvolvimento, o que se exigia era que a alocação desses recursos se

desse de forma planejada, e mais, que esse planejamento comprometesse os

interlocutores que legalmente representavam o interesse da RMBH. Alcançar a

obediência pronta é tudo que não interessa ao processo de planejar.

A facilidade de burlar os representantes aponta para uma dificuldade que se pretende

ocultar. Os representantes não têm consciência do que representam. Falta-lhes

“consciência metropolitana”.

Essa dificuldade foi percebida desde o Convênio de 1971, como já foi lembrado, e foi

objeto de um seminário com esse nome em 1989. Atualmente a SEDRU vem traduzindo

esse esforço com a criação de um termo muito feliz cidadão metropolitano. Esse

cidadão tem demandas que não se resolvem no nível do poder local, na instância do

município. Pelo contrário, constrange-o. O morador de baixa renda de Belo Horizonte,

19 MAQUIAVEL, Niccolo. A mandrágora. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1959.

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quando cobra oportunidade de uma política habitacional, constrange a prefeitura a se

articular metropolitanamente em favor de uma política de habitação metropolitana. O

morador de Ribeirão das Neves, ao pressionar a prefeitura por um melhor atendimento

na rede de saúde, coage o município a se articular por um programa metropolitano de

saúde. E assim por diante, emprego, educação.

Essa consciência para ser efetiva deve permear todos os agentes. Eu tenho dito para os

prefeitos que a solução local de um problema metropolitano traz como conseqüência a

criação de um outro problema maior ou de igual magnitude. Alguns se resolvem para

amanhã com o expediente de consórcios, outros para hoje ou amanhã com parcerias,

mas um olhar para depois de amanhã pede que consórcios e parcerias sejam avaliados

com o rigor da consciência metropolitana.

Aprofundando um pouco mais a questão da contabilidade pública quero defender a

importância da disseminação do IDH, dos IQVU e todas as medidas que têm o objetivo

de favorecer uma participação dialogada.

Regra geral, os indicadores e índices produzidos têm servido mais para justificar

negações do que possibilidades. O orçamento participativo não foge à regra. Produzir

índices e indicadores é mais do que empregar um conjunto de técnicos para exibir como

dizia Ortega e Gasset “o bíceps de seu tecnicismo como Hércules de feira”. É

comunicar situações e resultados como pauta para o diálogo.

Pensando nessas dificuldades, o PLAMBEL, no início dos anos 80 percorreu toda a

região metropolitana de então, com 14 municípios, examinou cada área e conversou

com os moradores, sem privilegiar lideranças. Desse esforço, resultou a construção de

um Sistema de Unidades Espaciais que considera pelo menos três realidades. Existe a

Região Metropolitana no contexto da divisão nacional e internacional do trabalho. A

compreensão dessa realidade exige suprir os representantes do estado, dos trabalhadores

e dos capitalistas de informações agregadas que lhes favoreçam discutir políticas,

estratégias, programas de alocação de recursos, de atendimento às necessidades dos

cidadãos e de investimentos de capital. A comunicação desse nível de agregação

interessa às federações e confederações, assembléias legislativas, ministérios, órgãos

estaduais, nacionais e internacionais de fomento.

Um outro nível da realidade é o estado e os municípios como entes da federação. Nesse

caso a RMBH é vista como um conjunto de municípios. Cumpre frisar aqui duas coisas,

em primeiro lugar o município é uma unidade territorial. Em segundo, o município é

uma instância de poder. Como unidade territorial os municípios se distinguem uns dos

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outros, como unidades de poder reivindicam isonomia no tratamento do estado. Em

terceiro, há uma Região Metropolitana Legal e uma Área Metropolitana Real. Edésio se

refere a isso com muita propriedade no artigo que já citei no início. Mas, a configuração

espacial da Área Metropolitana não é homogênea. Como já disse, alguns espaços se

caracterizaram como metropolitanos pela presença de equipamentos de porte

metropolitano, outros pela expansão dos assentamentos humanos que não encontraram

oportunidade de se localizarem no território do município metropolitano. O resultado

dessa terceira realidade é que os municípios, - o poder municipal -, se depara com uma

nova realidade; as forças metropolitanas penetram em seu território e desfiguram a sua

marca de unidade de poder. Algumas coisas podem ser resolvidas em nível local, outras

apenas na visão “na mesa de negócios” e confrontações do que é metropolitano. A

forma de comprometimento com o metropolitano precisa assumir o centro da

elaboração das contabilidades públicas.

O Sistema de Unidades Espaciais elaborado ao longo de três anos e revisto a cada

década tem como objetivo expor essas três realidades. Uma metrópole só o é no

contexto de uma rede de cidades, estadual, regional, nacional e internacional. No estudo

dessas redes explicitam-se as forças de metropolização característica da RMBH.

É uma Metrópole Global? Então onde estão as sedes, sucursais, ou filiais dos bancos,

onde as sedes das grandes empresas globalizadas; quais decisões de porte nacional e

internacionais são examinadas e discutidas nessa metrópole; com que freqüência

acontecem encontros – fóruns, congressos – nacionais e internacionais nessa metrópole.

Como seu espaço está configurado para esses acontecimentos?

É uma metrópole regional? Como compete com as metrópoles que polarizam seu

território? São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro, Vitória e Salvador? Como o porto de

Vitória, as sedes de empresas localizadas em São Paulo e no Rio determinam programas

de expansão ou retração de investimentos? Qual o grau de autonomia na condução de

programas de formação e reprodução da força de trabalho?

Cada resposta se mostra na configuração espacial. Um exemplo. Porque o aeroporto

metropolitano se localizou em Lagoa Santa próximo ao povoado de Confins e não em

Betim, no Eixo Industrial já consolidado?

A materialização dessas forças no espaço se mostra presente no território do município

sem atenção à realidade do poder local. O caso mais trivial é o do sistema viário.

Quando as ferrovias se estenderam por Minas Gerais, Betim, Contagem, Brumadinho,

Vespasiano, Pedro Leopoldo, Matozinhos eram apenas pequenos povoados. Do mesmo

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modo as rodovias. O território dos municípios são lugares de passagem, com efeitos

benéficos ou maléficos. O poder do município de interferir nessas redes é mínimo, pode

indicar os trajetos com efeitos menos desestruturantes, mas não podem impedir a

passagem. Desse modo, o Sistema de Unidades ao retratar o maior ou menor

comprometimento com a metropolização tem o objetivo de diagnosticar a realidade do

município como território e unidade de poder, de um lado, e as coações sofridas pela

sua inserção no espaço metropolitano.

Convencer da importância desse sistema de contabilidade social tem sido um grande

desafio. Para os prefeitos traz o incômodo de desnudar a fragilidade do município como

unidade de poder, para o estado surge o inconveniente de ter suas ações e omissões

expostas a debate mais amplo; para a academia, a obrigação de romper com inércia de

trabalhar com os relatórios estatísticos que exibem desagregações por municípios,

distritos e sub-distritos. Tem também o inconveniente de exigir levantamentos

complementares com amostras que retratem as formas de comprometimento e

favoreçam a análise de processos.

São dificuldades. Quando da elaboração do primeiro IDH metropolitano, a Fundação

João Pinheiro se convenceu da importância de apresentar os índices por macro-

unidades, aquelas em que os grandes processos de metropolização configuram espaços

específicos de acordo com a divisão social do trabalho; as unidades chamadas de

Complexos Diferenciados de Campos, nas quais as forças da metropolização podem ser

examinadas segundo a sua forma de configurar espaços específicos e um terceiro nível

de agregação denominado Sub-complexos Diferenciados de Campos, onde se visualiza

melhor a relação entre forças da metropolização e o cotidiano dos moradores.

Na segunda edição, essas distinções não obedeceram mais ao mesmo critério. Alegou-se

que a atenção para o município não podia ser abandonada. Dá-se, porém o caso de que

já existe um IDH por município, a novidade está em tornar os autores presentes no

diálogo mais conscientes da diversidade dos processos que atravessam o município

enquanto unidade de poder.

Antes de concluir quero chamar a atenção para uma obra que pode pautar o diálogo

sobre os arranjos metropolitanos, a partir dos esforços do município de Belo Horizonte

para institucionalizar a gestão participativa. Trata-se da obra recentemente publicada

com o título Democracia Participativa, a experiência de Belo Horizonte20.

20 AZEVEDO, Sérgio de e NABUCO, Ana Luiza. Democracia Participativa. Belo Horizonte: Leitura: Prefeitura de Belo Horizonte, 2009.

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A leitura de toda a obra deve ser feita em grupos de discussão e, para nosso caso,

especialmente o capítulo final “O papel de Belo Horizonte na construção das novas

bases para a gestão metropolitana” no qual Sérgio de Azevedo, Virgínia Rennó dos

Mares Guia e Gustavo Gomes Machado dão o melhor de si para incluírem o leitor nessa

roda de conversação.

Minha conclusão pode se resumir numa única afirmação. Uma gestão metropolitana

deve ser orientada pela intenção de planejamento. O arranjo de gestão aponta para o

campo de visão do hoje, do amanhã e do depois de amanhã. A atenção para os silêncios

e os silenciados permite avaliar esse alcance.

Após a Constituição de 1988, os estados ficaram incumbidos de criar regiões

metropolitanas. Ser componente de região metropolitana deixou de ser algo que tenha a

ver com planejamento e gestão compartilhada para se tornar título de nobreza. Em

Minas proliferaram na Assembléia Legislativa projetos de regiões metropolitanas por

todo o estado. Em Santa Catarina, multiplicaram-se regiões metropolitanas.

Essa festa não é exclusiva, outros exemplos podem ser encontrados, por exemplo, com a

questão de políticas culturais, como a que se dedica à questão étnica. Quilombos se

multiplicaram forçando interpretações dos preceitos da Constituição.

No caso da RMBH, há sérias dificuldades em entender como metropolitanos os

municípios de Itaguara, Itatiaiuçu, Florestal,Nova União, Taquaraçu de Minas, Baldim

ou Jaboticatubas. Seu baixíssimo comprometimento com a metropolização exige o

exercício de obedecer à lei mais do que aos processos que os configuram. Só isso já

deixa evidente como se podem gerar conflitos com arranjos institucionais. Se a lei inclui

territórios de baixo comprometimento, como esses municípios participarão das

deliberações? Lembre-se da unidade de poder.

Em certa oportunidade tivemos que buscar informações da malha censitária do IBGE de

municípios metropolitanos nas cidades de Itauna, Pará de Minas, Sete Lagoas e Itabira e

ouvimos das pessoas desses municípios a pergunta: Por que eles e não nós?

Essa forma de configuração legal teve claros reflexos na Assembléia Metropolitana e no

fracasso dos arranjos institucionais. Os municípios com maior comprometimento com a

metropolização sempre foram derrotados em suas propostas e o estado se recusou, ao

longo de anos, a implantar o Fundo Metropolitano determinado pela Constituição de

1989.

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Há ainda o desafio de comparecimento da sociedade civil. Sua representação somente

tem sentido quando se dedica ao debate de uma questão metropolitana. Os movimentos

sociais, regra geral têm marcas locais, excetuados os das “classes produtoras”, parceiras

históricas das burocracias públicas. Entretanto, com a freqüência maior de conferências

estaduais e regionais de saúde, assistência social, educação, cultura e de cidades, as

reivindicações dos movimentos sociais têm apontado para soluções que ultrapassam o

nível local. Tome-se como exemplo a Primeira Conferência da RMBH. Dois problemas

ocuparam lugar de destaque: Transportes e Habitação. A presença de representantes

desses movimentos nas mesas de deliberação não pode ser esquecida.

Exercitar o diálogo e lutar por ele é, no meu entender, o maior objetivo para

consolidação de arranjos institucionais duradouros. Isso pede uma base de acordo: estar

pronto para conviver com situações de conflito, sem interpretá-las como fonte do

fracasso.

Termino com um pensamento de Castoriadis que me tocou profundamente em minha

prática:

Minha liberdade começa onde começa a liberdade dos outros.

Estamos tão acostumados a defender apenas a nossa liberdade que parece um erro de

transcrição. Todas as vezes que me aproprio desse pensamento, logo alguém me corrige:

“não é começa, não, professor, é termina”.

Um abraço para todos.

Belo Horizonte, 1 de maio de 2009 – dia do trabalhador

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Anexo – Sistema de Unidades Espaciais da RMBH

Núcleo CentralÁrea PericentralPampulhaEixo IndustrialPeriferiasFranjaÁrea de Expansão Metrop.Área de Compromet. Mínimo

MACROUNIDADES 2002 RMBH

Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João Pinheiro

21

1514

168

22

9

1310

12 20

24

23

18

5 17

3

4 671

211

25

19

Vespasiano

Santa Luzia

São José da Lapa

Ribeirão das Neves

Belo HorizonteContagem

Ibirité

Lagoa Santa

Nova Lima

Betim

Sabará

Brumadinho

COMPLEXOS DE CAMPOS 2002 RMBH (1)COMPLEXOS DE CAMPOS 2002 RMBH (1)COMPLEXOS DE CAMPOS 2002 RMBH (1)COMPLEXOS DE CAMPOS 2002 RMBH (1)COMPLEXOS DE CAMPOS 2002 RMBH (1)COMPLEXOS DE CAMPOS 2002 RMBH (1)COMPLEXOS DE CAMPOS 2002 RMBH (1)COMPLEXOS DE CAMPOS 2002 RMBH (1)COMPLEXOS DE CAMPOS 2002 RMBH (1)

Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João Pinheiro

Classificação por MacrounidadesNúcleo Central

Área Pericentral

Pampulha

Eixo Industrial

Periferias

Franja

Área de Expansão Metrop.

19

20

20

9

18 21

2121

14 - Venda Nova/ Justinópolis/ Norte14 - Venda Nova/ Justinópolis/ Norte14 - Venda Nova/ Justinópolis/ Norte14 - Venda Nova/ Justinópolis/ Norte14 - Venda Nova/ Justinópolis/ Norte14 - Venda Nova/ Justinópolis/ Norte14 - Venda Nova/ Justinópolis/ Norte14 - Venda Nova/ Justinópolis/ Norte14 - Venda Nova/ Justinópolis/ Norte15 - São Benedito15 - São Benedito15 - São Benedito15 - São Benedito15 - São Benedito15 - São Benedito15 - São Benedito15 - São Benedito15 - São Benedito16 - Aarão Reis16 - Aarão Reis16 - Aarão Reis16 - Aarão Reis16 - Aarão Reis16 - Aarão Reis16 - Aarão Reis16 - Aarão Reis16 - Aarão Reis17 - General Carneiro17 - General Carneiro17 - General Carneiro17 - General Carneiro17 - General Carneiro17 - General Carneiro17 - General Carneiro17 - General Carneiro17 - General Carneiro18 - Ribeirão das Neves18 - Ribeirão das Neves18 - Ribeirão das Neves18 - Ribeirão das Neves18 - Ribeirão das Neves18 - Ribeirão das Neves18 - Ribeirão das Neves18 - Ribeirão das Neves18 - Ribeirão das Neves19 - Franja Sul19 - Franja Sul19 - Franja Sul19 - Franja Sul19 - Franja Sul19 - Franja Sul19 - Franja Sul19 - Franja Sul19 - Franja Sul20 - Franja Oeste20 - Franja Oeste20 - Franja Oeste20 - Franja Oeste20 - Franja Oeste20 - Franja Oeste20 - Franja Oeste20 - Franja Oeste20 - Franja Oeste21 - Entorno Periferia21 - Entorno Periferia21 - Entorno Periferia21 - Entorno Periferia21 - Entorno Periferia21 - Entorno Periferia21 - Entorno Periferia21 - Entorno Periferia21 - Entorno Periferia22 - Vespasiano 22 - Vespasiano 22 - Vespasiano 22 - Vespasiano 22 - Vespasiano 22 - Vespasiano 22 - Vespasiano 22 - Vespasiano 22 - Vespasiano 23 - Lagoa Santa23 - Lagoa Santa23 - Lagoa Santa23 - Lagoa Santa23 - Lagoa Santa23 - Lagoa Santa23 - Lagoa Santa23 - Lagoa Santa23 - Lagoa Santa24 - Santa Luzia24 - Santa Luzia24 - Santa Luzia24 - Santa Luzia24 - Santa Luzia24 - Santa Luzia24 - Santa Luzia24 - Santa Luzia24 - Santa Luzia25 - Ravena25 - Ravena25 - Ravena25 - Ravena25 - Ravena25 - Ravena25 - Ravena25 - Ravena25 - Ravena

1 - Área Central1 - Área Central1 - Área Central1 - Área Central1 - Área Central1 - Área Central1 - Área Central1 - Área Central1 - Área Central2 - Zona Sul2 - Zona Sul2 - Zona Sul2 - Zona Sul2 - Zona Sul2 - Zona Sul2 - Zona Sul2 - Zona Sul2 - Zona Sul3 - Calafate/ Gameleira3 - Calafate/ Gameleira3 - Calafate/ Gameleira3 - Calafate/ Gameleira3 - Calafate/ Gameleira3 - Calafate/ Gameleira3 - Calafate/ Gameleira3 - Calafate/ Gameleira3 - Calafate/ Gameleira4 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio4 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio4 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio4 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio4 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio4 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio4 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio4 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio4 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio5 - Lagoinha/ Cachoeirinha5 - Lagoinha/ Cachoeirinha5 - Lagoinha/ Cachoeirinha5 - Lagoinha/ Cachoeirinha5 - Lagoinha/ Cachoeirinha5 - Lagoinha/ Cachoeirinha5 - Lagoinha/ Cachoeirinha5 - Lagoinha/ Cachoeirinha5 - Lagoinha/ Cachoeirinha6 - Floresta/ Horto/ Renascença6 - Floresta/ Horto/ Renascença6 - Floresta/ Horto/ Renascença6 - Floresta/ Horto/ Renascença6 - Floresta/ Horto/ Renascença6 - Floresta/ Horto/ Renascença6 - Floresta/ Horto/ Renascença6 - Floresta/ Horto/ Renascença6 - Floresta/ Horto/ Renascença7 - Sta. Efigênia7 - Sta. Efigênia7 - Sta. Efigênia7 - Sta. Efigênia7 - Sta. Efigênia7 - Sta. Efigênia7 - Sta. Efigênia7 - Sta. Efigênia7 - Sta. Efigênia8 - Pampulha8 - Pampulha8 - Pampulha8 - Pampulha8 - Pampulha8 - Pampulha8 - Pampulha8 - Pampulha8 - Pampulha9 - Cidade Industrial9 - Cidade Industrial9 - Cidade Industrial9 - Cidade Industrial9 - Cidade Industrial9 - Cidade Industrial9 - Cidade Industrial9 - Cidade Industrial9 - Cidade Industrial10 - Contagem10 - Contagem10 - Contagem10 - Contagem10 - Contagem10 - Contagem10 - Contagem10 - Contagem10 - Contagem11 - Betim11 - Betim11 - Betim11 - Betim11 - Betim11 - Betim11 - Betim11 - Betim11 - Betim12 - Ibirité12 - Ibirité12 - Ibirité12 - Ibirité12 - Ibirité12 - Ibirité12 - Ibirité12 - Ibirité12 - Ibirité13 - Ressaca13 - Ressaca13 - Ressaca13 - Ressaca13 - Ressaca13 - Ressaca13 - Ressaca13 - Ressaca13 - Ressaca

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4446

37

43 30

34

29

41

42

26

27

31

36

3249

35 52

28

53

39

5033

51

38

48

Brumadinho

Betim

Mateus Leme

Nova Lima

Sabará

Raposos

EsmeraldasPedro Leopoldo

Capim Branco

Lagoa Santa

Confins

Taquaraçu de Minas

Rio Acima

Rio Manso

Itatiaiuçu

Florestal

Matozinhos

Caeté

Itaguara

Nova União

Baldim

Jabuticatubas

40

Complexos de Campos 2002 RMBH (2)Complexos de Campos 2002 RMBH (2)Complexos de Campos 2002 RMBH (2)Complexos de Campos 2002 RMBH (2)Complexos de Campos 2002 RMBH (2)Complexos de Campos 2002 RMBH (2)Complexos de Campos 2002 RMBH (2)Complexos de Campos 2002 RMBH (2)Complexos de Campos 2002 RMBH (2)

Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João Pinheiro

Classificação por MacrounidadesNúcleo Central

Área PericentralPampulha

Eixo IndustrialPeriferias

FranjaÁrea de Expansão Metrop.

Área de Compromet. Mínimo

40 - Esmeraldas/ BR-04041 - Mateus Leme42 - Serra Azul43 - Juatuba44 - Citrolândia45 - Igarapé/ Bicas46 - Rural de Igarapé47 - Rural de Bicas48 - Vetor da Serra do Cipó49 - Matozinhos/ Capim Branco50 - Florestal51 - Itaguara/ Itatiaiuçu

26 - Sabará27 - Nova Lima/ Raposos28 - Rio Acima29 - Sarzedo30 - Vianópolis31 - Vera Cruz32 - Urubu33 - Fidalgo34 - Caeté35 - Vargem das Flores36 - Aeroporto Internacional37 - Brumadinho38 - Leste de Brumadinho39 - Esmeraldas

52 - Nova União/ Taquaraçu de Minas52 - Nova União/ Taquaraçu de Minas52 - Nova União/ Taquaraçu de Minas52 - Nova União/ Taquaraçu de Minas52 - Nova União/ Taquaraçu de Minas52 - Nova União/ Taquaraçu de Minas52 - Nova União/ Taquaraçu de Minas52 - Nova União/ Taquaraçu de Minas52 - Nova União/ Taquaraçu de Minas53 - Rio Manso53 - Rio Manso53 - Rio Manso53 - Rio Manso53 - Rio Manso53 - Rio Manso53 - Rio Manso53 - Rio Manso53 - Rio Manso

49

27

52

48

51

29

12

4

6 15

3

2

22

15

16

17

14

23

18

13

10

11

9

87

20

19

21

Ibirité

Contagem

Belo Horizonte

Betim

Classificação por MacrounidadesNúcleo Central

Área Pericentral

Pampulha

Eixo Industrial

Periferias

Sub-complexos de campos 2002 RMBH (1)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (1)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (1)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (1)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (1)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (1)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (1)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (1)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (1)

1 - Área Central1 - Área Central1 - Área Central1 - Área Central1 - Área Central1 - Área Central1 - Área Central1 - Área Central1 - Área Central2 - Mangabeiras2 - Mangabeiras2 - Mangabeiras2 - Mangabeiras2 - Mangabeiras2 - Mangabeiras2 - Mangabeiras2 - Mangabeiras2 - Mangabeiras3 - Santo Antônio/ São Bento3 - Santo Antônio/ São Bento3 - Santo Antônio/ São Bento3 - Santo Antônio/ São Bento3 - Santo Antônio/ São Bento3 - Santo Antônio/ São Bento3 - Santo Antônio/ São Bento3 - Santo Antônio/ São Bento3 - Santo Antônio/ São Bento4 - Betânia4 - Betânia4 - Betânia4 - Betânia4 - Betânia4 - Betânia4 - Betânia4 - Betânia4 - Betânia5 - Calafate/ Barroca5 - Calafate/ Barroca5 - Calafate/ Barroca5 - Calafate/ Barroca5 - Calafate/ Barroca5 - Calafate/ Barroca5 - Calafate/ Barroca5 - Calafate/ Barroca5 - Calafate/ Barroca6 - Gameleira6 - Gameleira6 - Gameleira6 - Gameleira6 - Gameleira6 - Gameleira6 - Gameleira6 - Gameleira6 - Gameleira7 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio7 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio7 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio7 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio7 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio7 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio7 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio7 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio7 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio8 - Lagoinha8 - Lagoinha8 - Lagoinha8 - Lagoinha8 - Lagoinha8 - Lagoinha8 - Lagoinha8 - Lagoinha8 - Lagoinha9 - Cachoeirinha9 - Cachoeirinha9 - Cachoeirinha9 - Cachoeirinha9 - Cachoeirinha9 - Cachoeirinha9 - Cachoeirinha9 - Cachoeirinha9 - Cachoeirinha10 - Renascença10 - Renascença10 - Renascença10 - Renascença10 - Renascença10 - Renascença10 - Renascença10 - Renascença10 - Renascença11 - Floresta/ Horto11 - Floresta/ Horto11 - Floresta/ Horto11 - Floresta/ Horto11 - Floresta/ Horto11 - Floresta/ Horto11 - Floresta/ Horto11 - Floresta/ Horto11 - Floresta/ Horto12 - Santa Efigênia12 - Santa Efigênia12 - Santa Efigênia12 - Santa Efigênia12 - Santa Efigênia12 - Santa Efigênia12 - Santa Efigênia12 - Santa Efigênia12 - Santa Efigênia13 - Pampulha13 - Pampulha13 - Pampulha13 - Pampulha13 - Pampulha13 - Pampulha13 - Pampulha13 - Pampulha13 - Pampulha

14 - Barreiro14 - Barreiro14 - Barreiro14 - Barreiro14 - Barreiro14 - Barreiro14 - Barreiro14 - Barreiro14 - Barreiro15 - Cidade Industrial15 - Cidade Industrial15 - Cidade Industrial15 - Cidade Industrial15 - Cidade Industrial15 - Cidade Industrial15 - Cidade Industrial15 - Cidade Industrial15 - Cidade Industrial16 - Durval de Barros16 - Durval de Barros16 - Durval de Barros16 - Durval de Barros16 - Durval de Barros16 - Durval de Barros16 - Durval de Barros16 - Durval de Barros16 - Durval de Barros17 - Riacho17 - Riacho17 - Riacho17 - Riacho17 - Riacho17 - Riacho17 - Riacho17 - Riacho17 - Riacho18 - Eldorado18 - Eldorado18 - Eldorado18 - Eldorado18 - Eldorado18 - Eldorado18 - Eldorado18 - Eldorado18 - Eldorado19 - Contagem19 - Contagem19 - Contagem19 - Contagem19 - Contagem19 - Contagem19 - Contagem19 - Contagem19 - Contagem20 - Imbiruçu20 - Imbiruçu20 - Imbiruçu20 - Imbiruçu20 - Imbiruçu20 - Imbiruçu20 - Imbiruçu20 - Imbiruçu20 - Imbiruçu21 - Betim21 - Betim21 - Betim21 - Betim21 - Betim21 - Betim21 - Betim21 - Betim21 - Betim22 - Ibirité22 - Ibirité22 - Ibirité22 - Ibirité22 - Ibirité22 - Ibirité22 - Ibirité22 - Ibirité22 - Ibirité23 - Ressaca23 - Ressaca23 - Ressaca23 - Ressaca23 - Ressaca23 - Ressaca23 - Ressaca23 - Ressaca23 - Ressaca

Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João Pinheiro

2320

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39Betim

Belo Horizonte

Ibirité

Contagem

VespasianoSão José da Lapa

Santa Luzia

Ribeirão das Neves

Sabará

Nova Lima

35

31

Classificaçao por MacrounidadesNúcleo Central

Área Pericentral

Pampulha

Eixo Industrial

PeriferiasFranja

Área de Expansão Metrop.

Sub-complexos de campos 2002 RMBH (2)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (2)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (2)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (2)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (2)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (2)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (2)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (2)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (2)

24 - Nacional24 - Nacional24 - Nacional24 - Nacional24 - Nacional24 - Nacional24 - Nacional24 - Nacional24 - Nacional25 - Justinópolis25 - Justinópolis25 - Justinópolis25 - Justinópolis25 - Justinópolis25 - Justinópolis25 - Justinópolis25 - Justinópolis25 - Justinópolis26 - Venda Nova26 - Venda Nova26 - Venda Nova26 - Venda Nova26 - Venda Nova26 - Venda Nova26 - Venda Nova26 - Venda Nova26 - Venda Nova27 - Boleira/ Via Norte27 - Boleira/ Via Norte27 - Boleira/ Via Norte27 - Boleira/ Via Norte27 - Boleira/ Via Norte27 - Boleira/ Via Norte27 - Boleira/ Via Norte27 - Boleira/ Via Norte27 - Boleira/ Via Norte28 - São Benedito28 - São Benedito28 - São Benedito28 - São Benedito28 - São Benedito28 - São Benedito28 - São Benedito28 - São Benedito28 - São Benedito29 - Aarão Reis 29 - Aarão Reis 29 - Aarão Reis 29 - Aarão Reis 29 - Aarão Reis 29 - Aarão Reis 29 - Aarão Reis 29 - Aarão Reis 29 - Aarão Reis 30 - General Carneiro30 - General Carneiro30 - General Carneiro30 - General Carneiro30 - General Carneiro30 - General Carneiro30 - General Carneiro30 - General Carneiro30 - General Carneiro31 - Vetor 04031 - Vetor 04031 - Vetor 04031 - Vetor 04031 - Vetor 04031 - Vetor 04031 - Vetor 04031 - Vetor 04031 - Vetor 04032 - Ribeirão das Neves32 - Ribeirão das Neves32 - Ribeirão das Neves32 - Ribeirão das Neves32 - Ribeirão das Neves32 - Ribeirão das Neves32 - Ribeirão das Neves32 - Ribeirão das Neves32 - Ribeirão das Neves33 - S. Seb. Águas Claras33 - S. Seb. Águas Claras33 - S. Seb. Águas Claras33 - S. Seb. Águas Claras33 - S. Seb. Águas Claras33 - S. Seb. Águas Claras33 - S. Seb. Águas Claras33 - S. Seb. Águas Claras33 - S. Seb. Águas Claras34 - BR 040/ Sul34 - BR 040/ Sul34 - BR 040/ Sul34 - BR 040/ Sul34 - BR 040/ Sul34 - BR 040/ Sul34 - BR 040/ Sul34 - BR 040/ Sul34 - BR 040/ Sul35 - Sul do Barreiro35 - Sul do Barreiro35 - Sul do Barreiro35 - Sul do Barreiro35 - Sul do Barreiro35 - Sul do Barreiro35 - Sul do Barreiro35 - Sul do Barreiro35 - Sul do Barreiro36 -Fundos da REGAP36 -Fundos da REGAP36 -Fundos da REGAP36 -Fundos da REGAP36 -Fundos da REGAP36 -Fundos da REGAP36 -Fundos da REGAP36 -Fundos da REGAP36 -Fundos da REGAP

37 - Citrolândia37 - Citrolândia37 - Citrolândia37 - Citrolândia37 - Citrolândia37 - Citrolândia37 - Citrolândia37 - Citrolândia37 - Citrolândia39 - Vianópolis39 - Vianópolis39 - Vianópolis39 - Vianópolis39 - Vianópolis39 - Vianópolis39 - Vianópolis39 - Vianópolis39 - Vianópolis40 - Noroeste Aglomerado40 - Noroeste Aglomerado40 - Noroeste Aglomerado40 - Noroeste Aglomerado40 - Noroeste Aglomerado40 - Noroeste Aglomerado40 - Noroeste Aglomerado40 - Noroeste Aglomerado40 - Noroeste Aglomerado41 - Norte Aglomerado41 - Norte Aglomerado41 - Norte Aglomerado41 - Norte Aglomerado41 - Norte Aglomerado41 - Norte Aglomerado41 - Norte Aglomerado41 - Norte Aglomerado41 - Norte Aglomerado42 - Nordeste Aglomerado42 - Nordeste Aglomerado42 - Nordeste Aglomerado42 - Nordeste Aglomerado42 - Nordeste Aglomerado42 - Nordeste Aglomerado42 - Nordeste Aglomerado42 - Nordeste Aglomerado42 - Nordeste Aglomerado43 - Leste Aglomerado43 - Leste Aglomerado43 - Leste Aglomerado43 - Leste Aglomerado43 - Leste Aglomerado43 - Leste Aglomerado43 - Leste Aglomerado43 - Leste Aglomerado43 - Leste Aglomerado44 - Vespasiano44 - Vespasiano44 - Vespasiano44 - Vespasiano44 - Vespasiano44 - Vespasiano44 - Vespasiano44 - Vespasiano44 - Vespasiano45 - São José da Lapa45 - São José da Lapa45 - São José da Lapa45 - São José da Lapa45 - São José da Lapa45 - São José da Lapa45 - São José da Lapa45 - São José da Lapa45 - São José da Lapa46 - Inácia de Carvalho46 - Inácia de Carvalho46 - Inácia de Carvalho46 - Inácia de Carvalho46 - Inácia de Carvalho46 - Inácia de Carvalho46 - Inácia de Carvalho46 - Inácia de Carvalho46 - Inácia de Carvalho

Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João Pinheiro

88 - Itaguara89 - Nova União 90 - Rio Manso91 - Taquaraçu de Minas92 - Itatiaiuçu

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Sabará

Santa Luzia

Brumadinho

Pedro Leopoldo

Confins

Caeté

Lagoa Santa

Raposos

Betim

Nova LimaSarzedoIgarapéSão Joaquim de Bicas

Mario CamposRio Acima

47 - Lagoa Santa47 - Lagoa Santa47 - Lagoa Santa47 - Lagoa Santa47 - Lagoa Santa47 - Lagoa Santa47 - Lagoa Santa47 - Lagoa Santa47 - Lagoa Santa48 - Rio das Velhas48 - Rio das Velhas48 - Rio das Velhas48 - Rio das Velhas48 - Rio das Velhas48 - Rio das Velhas48 - Rio das Velhas48 - Rio das Velhas48 - Rio das Velhas49 - Pinhões49 - Pinhões49 - Pinhões49 - Pinhões49 - Pinhões49 - Pinhões49 - Pinhões49 - Pinhões49 - Pinhões50 - Santa Luzia50 - Santa Luzia50 - Santa Luzia50 - Santa Luzia50 - Santa Luzia50 - Santa Luzia50 - Santa Luzia50 - Santa Luzia50 - Santa Luzia51 - BR-26251 - BR-26251 - BR-26251 - BR-26251 - BR-26251 - BR-26251 - BR-26251 - BR-26251 - BR-26252 - Ravena52 - Ravena52 - Ravena52 - Ravena52 - Ravena52 - Ravena52 - Ravena52 - Ravena52 - Ravena53 - Sabará53 - Sabará53 - Sabará53 - Sabará53 - Sabará53 - Sabará53 - Sabará53 - Sabará53 - Sabará54 - Sabará Sul54 - Sabará Sul54 - Sabará Sul54 - Sabará Sul54 - Sabará Sul54 - Sabará Sul54 - Sabará Sul54 - Sabará Sul54 - Sabará Sul55 - Nova Lima55 - Nova Lima55 - Nova Lima55 - Nova Lima55 - Nova Lima55 - Nova Lima55 - Nova Lima55 - Nova Lima55 - Nova Lima56 - Raposos56 - Raposos56 - Raposos56 - Raposos56 - Raposos56 - Raposos56 - Raposos56 - Raposos56 - Raposos57 - Brumadinho57 - Brumadinho57 - Brumadinho57 - Brumadinho57 - Brumadinho57 - Brumadinho57 - Brumadinho57 - Brumadinho57 - Brumadinho58 - Rio Acima58 - Rio Acima58 - Rio Acima58 - Rio Acima58 - Rio Acima58 - Rio Acima58 - Rio Acima58 - Rio Acima58 - Rio Acima59 - Piedade Paraopeba./ C. Branca59 - Piedade Paraopeba./ C. Branca59 - Piedade Paraopeba./ C. Branca59 - Piedade Paraopeba./ C. Branca59 - Piedade Paraopeba./ C. Branca59 - Piedade Paraopeba./ C. Branca59 - Piedade Paraopeba./ C. Branca59 - Piedade Paraopeba./ C. Branca59 - Piedade Paraopeba./ C. Branca60 - Sarzedo60 - Sarzedo60 - Sarzedo60 - Sarzedo60 - Sarzedo60 - Sarzedo60 - Sarzedo60 - Sarzedo60 - Sarzedo61 - Vargem das Flores61 - Vargem das Flores61 - Vargem das Flores61 - Vargem das Flores61 - Vargem das Flores61 - Vargem das Flores61 - Vargem das Flores61 - Vargem das Flores61 - Vargem das Flores

Classificação por MacrounidadesNúcleo Central

Área Pericentral

Pampulha

Eixo Industrial

Periferias

Franja

Área de Expansão Metrop.

Área de Compromet. Mínimo

Sub-complexos de campos 2002 RMBH (3)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (3)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (3)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (3)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (3)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (3)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (3)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (3)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (3)

62 - Vera Cruz62 - Vera Cruz62 - Vera Cruz62 - Vera Cruz62 - Vera Cruz62 - Vera Cruz62 - Vera Cruz62 - Vera Cruz62 - Vera Cruz63 - Aranha/ S. José do Paraopeba63 - Aranha/ S. José do Paraopeba63 - Aranha/ S. José do Paraopeba63 - Aranha/ S. José do Paraopeba63 - Aranha/ S. José do Paraopeba63 - Aranha/ S. José do Paraopeba63 - Aranha/ S. José do Paraopeba63 - Aranha/ S. José do Paraopeba63 - Aranha/ S. José do Paraopeba64 - Pedro Leopoldo64 - Pedro Leopoldo64 - Pedro Leopoldo64 - Pedro Leopoldo64 - Pedro Leopoldo64 - Pedro Leopoldo64 - Pedro Leopoldo64 - Pedro Leopoldo64 - Pedro Leopoldo65 - Confins65 - Confins65 - Confins65 - Confins65 - Confins65 - Confins65 - Confins65 - Confins65 - Confins66 - Fidalgo66 - Fidalgo66 - Fidalgo66 - Fidalgo66 - Fidalgo66 - Fidalgo66 - Fidalgo66 - Fidalgo66 - Fidalgo67 - Roças Novas67 - Roças Novas67 - Roças Novas67 - Roças Novas67 - Roças Novas67 - Roças Novas67 - Roças Novas67 - Roças Novas67 - Roças Novas68 - Antônio dos Santos68 - Antônio dos Santos68 - Antônio dos Santos68 - Antônio dos Santos68 - Antônio dos Santos68 - Antônio dos Santos68 - Antônio dos Santos68 - Antônio dos Santos68 - Antônio dos Santos69 - Caeté69 - Caeté69 - Caeté69 - Caeté69 - Caeté69 - Caeté69 - Caeté69 - Caeté69 - Caeté70 - Morro Vermelho70 - Morro Vermelho70 - Morro Vermelho70 - Morro Vermelho70 - Morro Vermelho70 - Morro Vermelho70 - Morro Vermelho70 - Morro Vermelho70 - Morro Vermelho79 - Igarapé/ Bicas79 - Igarapé/ Bicas79 - Igarapé/ Bicas79 - Igarapé/ Bicas79 - Igarapé/ Bicas79 - Igarapé/ Bicas79 - Igarapé/ Bicas79 - Igarapé/ Bicas79 - Igarapé/ Bicas80 - Rural de Igarapé80 - Rural de Igarapé80 - Rural de Igarapé80 - Rural de Igarapé80 - Rural de Igarapé80 - Rural de Igarapé80 - Rural de Igarapé80 - Rural de Igarapé80 - Rural de Igarapé81 - Rural de Bicas81 - Rural de Bicas81 - Rural de Bicas81 - Rural de Bicas81 - Rural de Bicas81 - Rural de Bicas81 - Rural de Bicas81 - Rural de Bicas81 - Rural de BicasFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João Pinheiro

6079

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Rio Manso

Itatiaiuçu

Nova União

Taquaraçu de Minas

Baldim

Matozinhos Jabuticatubas

Juatuba

Florestal

Mateus Leme

Itaguara

Esmeraldas

Capim Branco

71 - Esmeraldas- Sede71 - Esmeraldas- Sede71 - Esmeraldas- Sede71 - Esmeraldas- Sede71 - Esmeraldas- Sede71 - Esmeraldas- Sede71 - Esmeraldas- Sede71 - Esmeraldas- Sede71 - Esmeraldas- Sede72 - Rural de Esmeraldas72 - Rural de Esmeraldas72 - Rural de Esmeraldas72 - Rural de Esmeraldas72 - Rural de Esmeraldas72 - Rural de Esmeraldas72 - Rural de Esmeraldas72 - Rural de Esmeraldas72 - Rural de Esmeraldas73 - Andiroba73 - Andiroba73 - Andiroba73 - Andiroba73 - Andiroba73 - Andiroba73 - Andiroba73 - Andiroba73 - Andiroba74 - Melô Viana/ Ipê Amarelo74 - Melô Viana/ Ipê Amarelo74 - Melô Viana/ Ipê Amarelo74 - Melô Viana/ Ipê Amarelo74 - Melô Viana/ Ipê Amarelo74 - Melô Viana/ Ipê Amarelo74 - Melô Viana/ Ipê Amarelo74 - Melô Viana/ Ipê Amarelo74 - Melô Viana/ Ipê Amarelo75 - Mateus Leme75 - Mateus Leme75 - Mateus Leme75 - Mateus Leme75 - Mateus Leme75 - Mateus Leme75 - Mateus Leme75 - Mateus Leme75 - Mateus Leme76 - Serra Azul/ Azurita76 - Serra Azul/ Azurita76 - Serra Azul/ Azurita76 - Serra Azul/ Azurita76 - Serra Azul/ Azurita76 - Serra Azul/ Azurita76 - Serra Azul/ Azurita76 - Serra Azul/ Azurita76 - Serra Azul/ Azurita77 - Juatuba77 - Juatuba77 - Juatuba77 - Juatuba77 - Juatuba77 - Juatuba77 - Juatuba77 - Juatuba77 - Juatuba82 - Jaboticatubas82 - Jaboticatubas82 - Jaboticatubas82 - Jaboticatubas82 - Jaboticatubas82 - Jaboticatubas82 - Jaboticatubas82 - Jaboticatubas82 - Jaboticatubas83 - Matozinhos83 - Matozinhos83 - Matozinhos83 - Matozinhos83 - Matozinhos83 - Matozinhos83 - Matozinhos83 - Matozinhos83 - Matozinhos84 - Baldim84 - Baldim84 - Baldim84 - Baldim84 - Baldim84 - Baldim84 - Baldim84 - Baldim84 - Baldim85 - Vila Amanda85 - Vila Amanda85 - Vila Amanda85 - Vila Amanda85 - Vila Amanda85 - Vila Amanda85 - Vila Amanda85 - Vila Amanda85 - Vila Amanda86 - Capim Branco86 - Capim Branco86 - Capim Branco86 - Capim Branco86 - Capim Branco86 - Capim Branco86 - Capim Branco86 - Capim Branco86 - Capim Branco87 - Florestal87 - Florestal87 - Florestal87 - Florestal87 - Florestal87 - Florestal87 - Florestal87 - Florestal87 - Florestal

Classificação por MacrounidadesNúcleo Central

Área Pericentral

Pampulha

Eixo Industrial

Periferias

Franja

Área de Expansão Metrop.

Área de Compromet. Mínimo

Sub-complexos de campos 2002 RMBH (4)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (4)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (4)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (4)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (4)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (4)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (4)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (4)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (4)

escondidoescondidoescondidoescondidoescondidoescondidoescondidoescondidoescondido

Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João Pinheiro

88 - Itaguara89 - Nova União 90 - Rio Manso91 - Taquaraçu de Minas92 - Itatiaiuçu

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Campos

São Vicente e entorno

Parque Nacional da Serra da Cipó

Vila Amanda

Almeida

Capim Branco Centro e EntornoMatozinhos Centro e Entorno

Distrito de Andiróba

São José da Serra

Rio Acima

Vetor Rio Acima

Morro Vermelho

Vetor 040/Vale do Sol/ SkolItatiaiuçu Centro e EntornoTejuco/Brumadinho

Rio Manso Centro e EntornoS.José Paraopeba

Florestal Centro e Entorno

Novo Retiro/Serra Negra

AzuritaCentro/Entorno

Serra Azul

Itaguara Centro e Entorno

Nova União/Centro e Entorno

Taquaraçu Centro e Entorno

Antônio dos Santos

Rural de Esmeraldas

Baldim Centro e Entorno

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Áreas Homogêneas

RMBH – Municípios

44°30'

19°12' 19°12'

43°30'

20°12'43°30'

Ibirité

SarzedoIgarapé

São Joaquim de BicasMario Campos

Mateus Leme

Brumadinho

Betim

Pedro Leopoldo

Santa Luzia

São José da Lapa

Ribeirão das Neves

Vespasiano

Confins Taquaraçu de MinasLagoa Santa

Capim Branco

Matozinhos

Baldim

Esmeraldas

ContagemBelo Horizonte

Juatuba

Florestal

Rio Manso

Itatiaiuçu

Itaguara

Rio Acima

Nova Lima

Raposos

Sabará

Nova União

Caeté

Jabuticatubas

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Curso de Extensão: Governança Metropolitana Colaborativa. PUC-Minas; Universidade de British Columbia CHS/UBC – Canadá Arranjos Institucionais na Região Metropolitana de Belo Horizonte Diálogo com os vereadores.

José Moreira de Souza

Entre todas as instituições que historicamente formam o quadro político brasileiro, as

câmaras municipais são as mais duradouras e, também, as mais antigas. São, portanto,

as que guardam as vantagens e os vícios de nossa vida política.

Desde que se formaram vilas e cidades no interior da colonização ibérica, as câmaras se

constituíram como o espaço de representação da elite dominante no termo da vila ou dos

municípios. Compostas pelos “homens bons”, as câmaras realizavam “vereança” por

todo o território, levando os moradores a tomarem consciência da presença de um poder

que se sobrepunha ao cotidiano da ordem local e cuidando, ao mesmo tempo, de afirmá-

la contra um Estado distante. A ação das vereanças, às vezes, causava indignação dos

moradores, outras exigia a censura dos poderes superiores dos governadores de

capitania ou até mesmo dos poderes reais.

Apesar dessa longevidade, as câmaras passaram por diversas mudanças sem, contudo,

alterar o seu papel de zelar pela ordem local, municipal. No início da República, a

câmara se resumia num triunvirato enfeixando o legislativo e o executivo. No Império,

um vereador era eleito pelos pares como chefe do executivo, cuidando das finanças. A

figura do prefeito municipal separado do legislativo é nova, data de 1930. A presença

das câmaras com as características atuais, excetuada a remuneração dos vereadores data

de 1945, com o fim da ditadura Vargas.

As câmaras de vereadores e o poder municipal

Em traços rápidos, este é o contexto geral das câmaras municipais no Brasil. Merece

fixar deste percursos algumas características herdadas da civilização ibérica:

• Os vereadores por tradição representam o poder local. Espera-se, portanto, que

sejam mediadores entre o que Henri Lefebvre chama de ordem distante e ordem

próxima. É seu dever interpretar a ordem normativa do Estado e traduzi-la para

os moradores locais. É seu dever, também, compreender o que há de específico

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na ordem local e cumprir a missão de mediar conflitos entre uma ordem e outra.

Essa representação no âmbito do poder local gerou e pode gerar conflitos na

confrontação com a ordem do Estado. Isto é percebido em diferentes momentos

de nossa história. No nosso caso, ainda no período colonial, quando são criadas

as primeiras vilas em 1710, o Governo da Capitania se opõe à criação de outras,

ponderando ao rei: “Por nenhum modo convém ao real serviço de Vossa

Majestade o criar mais vilas de novo”21. Como lembrei, no início da República,

as câmaras propriamente ditas foram substituídas pelo Conselho da Intendência.

Ocorre, porém, uma descentralização da administração municipal, com a criação

dos Conselhos Distritais e a Assembléia Municipal. Desse modo, os distritos

passam a ter representantes que zelam pelo seu peculiar interesse, sem poder

legislativo e a Assembléia Municipal, reunida uma vez por ano, examina e

aprova as contas do Conselho da Intendência. O que se entende hoje como

vereador se dilui nos conselhos e na assembléia. Esse momento foi esquecido

pela bibliografia, mas antecipa os esforços de descentralização e de participação

característicos das disposições da Constituição de 1988 e dos movimentos em

favor do orçamento participativo. Antes disso, as câmaras passaram por

momentos de recessão e de expansão. A criação da figura do prefeito, até 1945

esmaeceu significativamente a representação local a encargo dos vereadores,

mas, após 1945, eles retornam à cena política, mesmo sem ter o seu cargo

remunerado. A remuneração universal dos vereadores passa a vigorar a partir de

1977. Independentemente do tamanho da cidade e da área do município todos os

vereadores têm seus cargos remunerados. Recentemente isso foi objeto de

discussão pelo jornal Estado de Minas. Remunerar ou não os vereadores é fonte

de debates. A tradição de não remuneração foi responsável pelo comparecimento

exclusivo na representação do povo pelos “homens bons” – nome dado aos

“gentis homens” no período colonial, os cidadãos ativos – designação do século

XIX – ou pelas elites privilegiadas como as entendemos nos dias atuais. A

introdução da remuneração universal trouxe uma outra distorção a perda da

“política como vocação” em favor do emprego. Além disso, para a maioria dos

municípios, os recursos próprios não cobrem nem mesmo os gastos com a

21 Tratei desse assunto em Cidade, momentos e processos p. 32 e seguintes. A fonte citada é uma carta de Dom Lourenço Almeida, publicada na Revista do Arquivo Público Mineiro. Vol XXXI p. 113-114.

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máquina burocrática, havendo aqueles que arrecadam um décimo ou menos das

despesas correntes.

• Os vereadores como representantes do poder local herdaram e afirmam a

tradição de superar suas funções legislativas e competem com o executivo nas

negociações da ordem normativa. A migração do Palácio da Câmara em algumas

cidades é um dos indicadores materiais dessa competição. Vale começar com o

caso de Belo Horizonte. A Câmara migrou do edifício localizado na confluência

da avenida Augusto de Lima com rua da Bahia, para o que foi sede da

Assembléia Legislativa, localizado na rua dos Tamoios, próximo à igreja de São

José, até encontrar um local “definitivo” que era abrigo de bondes e

posteriormente sede administrativa da SMT – Superintendência Municipal de

Transportes, no Santa Efigênia. Em Contagem, nos anos 70 foi construído um

edifício especial para a Câmara, a qual migrou posteriormente para o que foi

sede da prefeitura, junto à igreja de São Gonçalo. A prefeitura abandonou o

centro histórico indo se refugiar nas instalações do seminário dos frades

carmelitas. Em Betim, recentemente, a câmara passou a ocupar o prédio da

prefeitura, a qual por sua vez, migrou para área tradicionalmente industrial.

Disse que se trata de indicador material da competição. Existem outros dos quais

a migração dos palácios é apenas decorrência. As câmaras são herdeiras do

velho coronelismo, ou das políticas clientelistas. Isso quer dizer que elas não

abandonaram a tradição dos “homens bons”. O clientelismo, ao contrário do que

afirma uma ampla bibliografia interessada em modernização político

administrativa22 detém também um amplo poder de mobilização social, sendo

até mesmo mais mobilizador do que os expedientes modernos de participação. A

censura maior que merece o clientelismo não está em seu poder de mobilização,

mas nos critérios de seleção dos favorecidos e nisso a bibliografia é enfática.

Dessa herança resulta que o papel do vereador se resume em obter do executivo

vantagens para a clientela. Cito dois exemplos divulgados pelos meios de

comunicação ou pelo que se convencionou chamar de “rádio pião”: Em

Contagem, nos anos 70, os vereadores chegaram a discutir a promulgação de 22 Consultar como exemplo NUNES, Edson. A gramática política do Brasil: clientelismo e insulamento burocrático. Rio de Janeiro: Jorge Zahar / Brasília: ENAP, 1997. GRAHAN, Richard. Clientelismo e política no Brasil do século XIX. Rio de Janeiro: UFRJ, 1997. Além dos clássicos Os donos do poder de Raimundo Faoro e Coronelismo, enxada e voto de Victor Nunes Leal.

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uma lei que proibisse o prefeito de receber em audiência qualquer morador, ou

representante de associações de bairro sem estarem acompanhados de um

vereador. Em Betim, a prefeitura se deparou com o desafio de ter a câmara

municipal como prefeitura paralela, em razão do elevado orçamento do

legislativo. Os efeitos disso foram detectados em pesquisa que tive a

oportunidade de coordenar sobre Atenção às Pessoas com Deficiência. Alguns

vereadores mantinham uma frota de veículos para transporte de pessoas aos

postos de saúde e hospitais.

Se estas forem as marcas dos vereadores, o grande, o maior desafio, sem dúvida é de

ser um vereador num município metropolitano. O desafio torna-se maior ainda

quando os arranjos institucionais metropolitanos passam a incluir vereadores em

órgãos representativos da gestão metropolitana. Há que se perguntar, como despertar

os vereadores para participarem, discutirem e defenderem seus pontos de vista tendo

presente uma ordem distante?

É desse assunto que trato na próxima seção.

As Câmaras de Vereadores como componentes dos Arranjos Institucionais Metropolitanos. – A pesquisa de Vida Associativa e os movimentos sociais. Vou desdobrar esta seção em três subseções. Na primeira apresento rapidamente a

percepção dos agentes do planejamento metropolitano para as dificuldades de sua

institucionalização. Para tal, vou comentar sucintamente o relatório da Pesquisa Sócio

Política elaborada pelo PLAMBEL no ano de 1972 e que me parece ainda muito atual.

A segunda subseção é dedicada ao exame e discussão da relação entre os arranjos

institucionais nos municípios tais como determinados pelas Leis Orgânicas, os

Regimentos das Câmaras e a questão dos movimentos pelo que se chama de

Democracia Direta. Reservo a última subseção à apresentação das questões que

visualizo da participação dos vereadores na Assembléia Metropolitana.

Vida Associativa e lideranças municipais.

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Conforme foi registrado na parte central deste artigo, a percepção de uma realidade

metropolitana como problema urbano surgiu em Minas Gerais na segunda metade dos

anos cincoenta do século passado e cresceu com os movimentos em favor da Reforma

Urbana acontecidos nos primeiros anos da década de sessenta. Esses movimentos

empolgaram especialmente o grupo de urbanistas e estudantes empenhados nas

Reformas de Base que tiveram seu ápice no governo João Goulart e justificaram o golpe

militar de 1964.

A criação do BNH e do SERFHAU pelo governo militar foi resposta a esses

movimentos sem, contudo, institucionalizar plenamente o encaminhamento das

questões urbanas. Será exatamente a falta de institucionalização que favorecerá a

presença de pautas dos movimentos no interior do regime autoritário.

Convém lembrar que o período de vigência do regime é permeado por inúmeras

contradições. O exemplo mais visível foi o programa de agrovilas implantado como um

de impactos do governo Médici, considerado os “anos de chumbo” da ditadura militar.

Pois bem, o programa de agrovilas teve sua origem no governo Kubitschek e era

inspirado em programas de colonização do tipo kibuts ou sovkhoses, nitidamente

socialistas. O governo deu ao programa a maior divulgação como se fosse uma grande

descoberta, até que alguém, no núcleo de comando se deu conta do equívoco e

transformou o sistema de parceria em empresa. Um dos efeitos visíveis até hoje foi a

transformação da SUVALE, Superintendência do Vale do São Francisco em

CODEVASF, Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco.

Essas contradições se mostrarão também presentes na luta pela reforma urbana. Reitero

o que mencionei anteriormente. A necessidade de planejamento da Região

Metropolitana de Belo Horizonte foi sentida, percebida e defendida por um grupo

herdeiro dos movimentos em favor da reforma urbana e, exatamente por isso, buscou

legitimidade junto aos movimentos sociais, antes de o governo militar editar a Lei

Complementar 14.

O Município que serviu de primeiro laboratório para os estudos de planejamento e de

elaboração de um sistema de informação para o planejamento foi o de Contagem, entre

os anos de 1967 e 1968. Criado o PLAMBEL, uma das primeiras iniciativas foi o de

prover o órgão de informações, tais como a Pesquisa Sócio-econômica, Pesquisa de Uso

do Solo, a Pesquisa Origem e Destino e, a que será objeto de comentário conhecida

como Pesquisas Sócio-políticas.

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O problema central abordado pelas pesquisas sócio-políticas era o que possibilitava o

estudo da “Viabilidade política do plano”. Isso quer dizer que nesse momento o Plambel

não se acreditava institucionalizado e se percebia obrigado a obter aprovação junto às

diferentes instâncias envolvidas no jogo do poder.

Os autores explicitavam com todas as letras a necessidade de aprovação do plano pelos

agentes políticos:

Um dos problemas mais complexos que qualquer processo de planejamento

enfrenta é o da factibilidade ou viabilidade dos planos. O aspecto mais óbvio do

problema é a viabilidade financeira (...). Outro aspecto consiste na

“factibilidade política”, com relação à qual, também, é de crer que os

planejadores de melhor quilate estejam alertados. Sua definição, porém, é mais

árdua e os meios de controlá-la, certamente, mais voláteis do que a econômica.

(...)

A viabilidade política depende da aceitação do plano e do comprometimento

diuturno com a execução do que nele se propõe, por parte de forças políticas

dominantes na estrutura de poder de uma dada coletividade23.

Para captar a viabilidade política do planejamento metropolitano, os estudiosos

abordaram cinco grandes categorias: as lideranças municipais, as funções dos

municípios na região metropolitana, as alternativas de consolidação de uma rede de

centros, o comprometimento dos agentes econômicos – empresários – com os processos

de desenvolvimento metropolitano e, por último, as associações de defesa dos interesses

dos moradores.

Fundavam-se, nesse momento, pelo menos, duas linhas importantes de pesquisa; a do

estudo das lideranças municipais e a da vida associativa. Para estudar as lideranças,

foram entrevistados os presidentes das câmaras municipais e os presidentes locais dos

dois partidos existentes Arena e MDB. Cada um desses entrevistados indicava dez

outros líderes locais que seriam também entrevistados. Acreditava-se, com isso,

apreender as redes locais de poder e suas marcas formais e informais.

A pesquisa de Vida Associativa foi realizada apenas em Belo Horizonte, porém

inaugurou os estudos sobre movimentos sociais que se tornaram mais freqüentes no

23 PLAMBEL, Relatório do Estudo de Lideranças Municipais na Região Metropolitana de Belo Horizonte. (Pesquisa de Opinião) Vol. I. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, SD {1972] p. 1. Embora os estudos de liderança parecessem originais, uma outra pesquisa realizada entre 1966 e 1968 sob o título de Projeto Difusão empregava as mesmas técnicas de entrevista dos líderes formais para chegar até os líderes informais.

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final dos anos 70, prolongando-se pela década seguinte. Segundo os autores: “Sua

função foi a de levantar, numa primeira exploração, a existência e a possível vitalidade

de associações de defesa de interesse, dentro da cidade. Uma das idéias recorrentes

entre os planejadores urbanos, de inspiração mais democrática, é o papel das

associações como canalizadoras de demandas e fulcro de participação popular na

implementação do plano24”. Vale mencionar que, já no ano de 1967, os técnicos do

EPUC – Escritório de Planejamento Urbano de Contagem se preocupavam com a escuta

e atenção às associações de bairro que se multiplicaram pela cidade. Ciente de sua

importância no processo eleitoral, a prefeitura se propôs a consolidar uma federação de

associações. A primeira reunião desse conjunto de associações foi realizada no Colégio

Dom Bosco no Bairro Industrial.

Visualisava-se nesse momento a estreita relação entre associações de bairro e

representação política. O que importa, quanto ao que vem sendo exposto, é que, nesse

momento, a busca por legitimação do planejamento é feita junto às representações

políticas formais e aos movimentos sociais. Levar em consideração as lideranças

municipais, além do prefeito, ter presentes os vereadores e líderes locais de movimentos

sociais era um expediente importante para um plano alcançar legitimidade25. Como direi

mais à frente, a retomada do planejamento metropolitano não pode prescindir da

atuação dos vereadores. Sua participação deverá inserir as demandas locais atentas ao

cotidiano num plano superior das estruturações metropolitanas.

As câmaras de vereadores e os arranjos institucionais no município – Democracia direta e democracia representativa. Afirmei a ligação constitutiva do vereador com a comunidade de vizinhança. Esse

vínculo conferido pela tradição não é o mesmo para municípios como Contagem

(625.396 habitantes, segundo o IBGE em 1 de junho de 2009), Betim (441.748),

Ribeirão das Neves (349.307), ou Belo Horizonte (2.452.617) de um lado ou Confins

(6.072), Baldim (8.582), Taquaraçu de Minas (3.950), Capim Branco (9.276), Florestal

(6.199) ou Nova União (5.653). Nos municípios maiores, o vereador não pode se 24 Ibidem p. 4. 25 A preocupação com estudos nessa área é retomada nos anos 90 quando a Frente Popular assume o governo municipal em Belo Horizonte., mas como se pode ver alguns autores t~em suas raízes fincadas em estudos iniciados nos anos 70. Consultar DULCI, Otavio Soares (org.) Belo Horizonte: poder, política e movimentos sociais. Belo Horizonte: C/Arte; FAFICH, 1996. As Pesquisas Sócio-políticas do Plambel foram coordenadas pelo Departamento de Ciência Política da FAFICH. Autores de alguns artigos inseridos nessa publicação participaram ou tiveram conhecimento dessa pesquisa, coordenada pelo professor Antônio Otávio Cintra.

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encontrar com toda a população que lhe dá sustentação, o expediente é de apoiar

associações de bairro, associações de classe, associações beneficientes, clubes

recreativos, times de futebol, centros sociais. Já, nos municípios menores, o vereador é

reconhecido pessoalmente pelos eleitores e percebe a demanda de cada um deles. A

diferença de porte do município define também o processo de recrutamento dos

vereadores. Na região metropolitana de Belo Horizonte, dois municípios sofreram

precocemente a influência do crescimento com efeitos sobre a representação local. O

primeiro deles foi Sabará, ligado estreitamente a Belo Horizonte desde a construção da

Capital. O aumento da população no distrito de Carvalho de Brito – General Carneiro –

a partir dos bairros Alvorada, Nova Vista, trouxeram uma população nada identificada

com a vida política de Sabará. O mesmo aconteceu com Contagem de uma forma muito

mais intensa com a criação da Cidade Industrial Juventino Dias e a expansão do efeito

Pampulha na região da Ressaca. No caso da Cidade Industrial, a demanda da população

por melhorias desconhecia completamente a existência do núcleo histórico do

município, ensejando a eleição de cabos eleitorais improvisados. Trabalhadores em

indústrias, donos de armazéns e professores de ginásio, como já foi lembrado. Uma das

conseqüências disso é que muitas vezes os vereadores não sabiam o que representavam,

tinham apenas consciência de terem sido eleitos pelo “povo”.

Cito um exemplo. Certa vez fui visitar um vereador, residente na região da Cidade

Industrial. Havia chovido intensamente. O vereador vestido de calção, descalço, com

uma enxada, tentava desviar a enxurrada que invadia o quintal dos vizinhos.

- Que está fazendo? Perguntei.

- Não posso suportar que a enxurrada invada as casas do bairro. Agora sou

vereador e tenho obrigação de zelar pelo povo.

- Ora, essa!. Vereador não é para isso. Você tem que lutar na câmara para definir

no orçamento anual a pauta de obras necessárias que evitem danos aos

moradores. De que lhe vale cercar a enxurrada nesta rua? - Disse eu.

O papel do vereador é determinado pela Constituição da República e do Estado. Para

favorecer a interpretação das atribuições, o Senado Federal editou um Manual do

vereador pelo qual se podem entender os pontos comuns dos arranjos institucionais no

âmbito do município e o papel das câmaras municipais. Mas, se existem aspectos

comuns, a diferença de porte e território dos municípios bem como sua formação

histórica definem características específicas para cada um.

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Nova Lima ou Raposos, como cidades totalmente submissas à indústria extrativa,

Sabará, Caeté ou Santa Luzia, vinculadas às mais antigas tradições da formação das

Minas Gerais, diferem muito de Vespasiano, Lagoa Santa ou Pedro Leopoldo, que

atraíram novas elites com profunda repercussão na política local.

Tomo o exemplo de Vespasiano. Município emancipado no ano de 1948, Vespasiano

tinha sua elite local enraizada na agricultura. O Alface Futebol Clube é apenas um nome

para recordar esse tipo de vínculo. Em dado momento da história, chegam migrantes

que empolgam o comércio local. Estabelecem salas de cinema, depósito de material de

construção, lojas de eletrodoméstico, central telefônica local, hospital, colégio. Enfim,

modernizam a cidade. Cria-se uma nova rua da Direita e outra da Esquerda. A

radicalização se materializa em dois clubes: O Vespasiano e o Funil. Nem é preciso

interpretar a escolha dos nomes. O primeiro se destinava às elites “estabelecidas”, o

segundo aos “outsiders”, também das elites. Havia ainda um terceiro clube que era do

povão. Todos três localizados no centro comercial, Rua Doutor Ari Teixeira. O Funil,

como o nome indica, se declara altamente seletivo. O clube do povão funcionava

praticamente apenas no carnaval. A festa de absoluto congraçamento. Esses clubes

retratavam os arranjos políticos locais. A nova elite, dona dos serviços urbanos, se

tornou também dona da política local para exasperação da elite histórica.

As mudanças mais significativas foram acontecer com a invasão das periferias

metropolitanas no território do município. Ao abrigar os flagelados das enchentes no

Conjunto Morro Alto, as elites históricas buscaram aliados externos que favoreceram

nova composição. A conseqüência foi a mudança no quadro de representação.

Com as devidas marcas específicas, algo semelhante aconteceu no município de Betim.

A Frente Popular venceu em Betim empolgada pelas forças das periferias

metropolitanas. Nos arranjos locais, se notava uma nítida divisão entre os moradores do

Centro Histórico e sua área de expansão – Filadélfia, Brasiléia, Angola – e as periferias

metropolitanas – Imbiruçu, Teresópolis, Laranjeiras, Nova Badem. Enquanto as elites

tradicionais não passaram a prestar atenção – leia-se fenômeno Pinduca – à necessidade

de atenção das periferias, a Frente Popular não foi derrotada.

À parte essas peculiaridades que dão cor e sabor aos arranjos locais, cada município é

regido pela Lei Orgânica votada pela câmara municipal. Essa Lei determina as

atribuições do poder municipal bem como a conduta do legislativo. Entretanto, fico com

a pergunta: os vereadores conhecem e estudam a Lei Orgânica? Internalizam como

componente da cultura legislativa o Regimento Interno?

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Suspeito que a resposta é “talvez não”. Em todas as leis orgânicas, há Títulos ou

Capítulos dedicados à política urbana. Neles a elaboração de Planos Diretores é

determinada. Entretanto, com muita freqüência, a política urbana é deixada em último

plano e as câmaras se dedicam a votar leis que dão nome de rua a chefes de clientelas,

ou determinar dias de comemoração desse ou daquele grupo profissional, ou dessa ou

daquela crença.

Os arranjos institucionais se mostram também característicos pelo exame dos

orçamentos do legislativo. Pode-se criar um índice de despesas municipais com base no

que se destina aos gastos com o legislativo. Esse índice aponta para o peso do

legislativo na administração municipal e o tipo de negociação que será imposto ao

executivo na administração de conflitos.

Se o índice de participação do legislativo na despesa municipal é um indicador, ele pode

desvendar uma outra frente de conflito. Talvez, a maior delas seja a que diz respeito à

representação e à democracia direta. As diretrizes atuais valorizam a participação da

sociedade civil organizada em conferências e fóruns. O Orçamento Participativo foi o

primeiro programa de ensaio desse expediente. As câmaras nem sempre viram com

bons olhos esse recurso, até que, vencidas pelo cansaço resolveram aderir. Tal adesão

não é propriamente da Câmara enquanto instituição, mas dos vereadores enquanto

representantes. O crescimento e diversificação dos movimentos sociais e dos grupos

organizados da sociedade civil convocaram as câmaras a se depararem com uma nova

realidade: as audiências públicas de vários tipos. As comissões específicas determinadas

pelas Leis Orgânicas e Regimentos Internos também são recursos para avaliação da

forma de as Câmaras fixarem o âmbito das opções de acolherem as reclamações da

sociedade civil.

Cumpre lembrar finalmente que a questão democracia direta e representação diz

respeito à forma como o executivo busca legitimidade de suas ações junto á sociedade

civil. A querela de considerar ou não considerar legítimas as demandas e deliberações

das câmaras é um dos aspectos importantes do processo.

As câmaras de vereadores na Assembléia Metropolitana

No meu entender, as Câmaras Municipais foram contempladas em três momentos dos

processos de planejamento metropolitano. O primeiro deles, quando seus presidentes

foram consultados em 1972, como parceiros necessários da legitimação da gestão

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metropolitana. Foi um instante meteórico. O Plano Metropolitano se encontrava em

elaboração e não havia ainda propostas concretas para incluí-las no debate. Sem dúvida

as câmaras ainda tiveram alguma participação, ajudadas pela Coordenação de

Assistência aos Municípios, vinculada à Diretoria de Planejamento ou de Operações do

PLAMBEL. No caso de Belo Horizonte, seu papel foi fundamental para a aprovação da

Lei de Uso do Solo de 1975-1976. Contudo, as câmaras não foram interlocutoras

privilegiadas até a Constituição Mineira de 1989.

O Segundo momento é, portanto, demarcado pela Constituição do Estado que criou a

Assembléia Metropolitana e determinou sua composição. A instalação da Assembléia

trouxe os vereadores para as reuniões plenárias e as Comissões Técnicas. O louvável da

iniciativa foi seguido pelo esvaziamento da Gestão Metropolitana. A AMBEL

transformou-se em órgão decorativo de representação da RMBH até sua transformação

recente.

O terceiro momento tem um instante bem determinado, embora venha sendo ensaiado

pelas Conferências Metropolitanas, a primeira delas, no ano de 2004 na cidade de Rio

Acima. Sua data inaugural se deu no dia 21 de agosto de 2007, no encerramento do que

se intitulou “Primeira Conferência Metropolitana da Região Metropolitana de Belo

Horizonte” – de fato era a segunda – em nome do senhor governador a Assembléia

Legislativa do Estado de Minas Gerais deu posse ao novo Conselho Deliberativo da

RMBH. Esse arranjo institucional tinha uma característica importante, excluía os

vereadores da participação nessa instância maior propiciando a emergência de um

quarto momento.

A marca desse quarto momento é a instituição do“fórum permanente da RMBH e do

Colar Metropolitano” por iniciativa da Câmara Municipal de Belo Horizonte.

Aparentemente, a Câmara se antecipa à medida governamental, pois com data de 8 de

agosto de 2007 a presidência da Câmara informou:

“O Fórum Metropolitano é um espaço permanente, que sob, a coordenação da

Câmara Municipal de Belo Horizonte, objetiva fomentar o diálogo a respeito

das questões metropolitanas e possibilitar a criação de alternativas para a

resolução dos problemas existentes na Região”.

A proposta do Fórum é promover encontros entre os municípios da Região

Metropolitana de BH e do Colar Metropolitano de BH e implementar uma rede

permanente de comunicação intermunicipal.”

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Entretanto, o Seminário de Abertura ocorreu em outubro do mesmo ano, oportunidade

em que se aprovou a Carta do Fórum Permanente. A partir dessa data o Fórum realizou

diversas reuniões temáticas em diferentes municípios da RMBH; o primeiro deles, em

fevereiro de 2008 na cidade de Itaguara, seguido pelo de Santa Luzia, Ribeirão das

Neves e Betim.

Esse movimento das Câmaras configura uma nova realidade aos arranjos

metropolitanos, posto que os vereadores convocam a si mesmos e aos movimentos

sociais, par imporem sua presença não mais na ordem local, mas na visão metropolitana

que coage o cotidiano dos moradores. A pauta dos Encontros Temáticos se torna um

bom indicador dos pontos que as câmaras definem como importantes para o debate em

nível metropolitano. Transporte, Saneamento, Meio Ambiente, Saúde, Habitação.

Por este rápido percurso, vemos que as câmaras municipais da RMBH vêm passando

por mudança que vão além da representação local em pedaços. O processo, porém, está

apenas iniciado. A iniciativa do Fórum Permanente foi da Câmara de Belo Horizonte, e

a realização de Encontros Temáticos em diferentes municípios pouco tem contribuído

para que os vereadores se expressem. Com freqüência o discurso é dominado por

técnicos do estado ou dos municípios e dos movimentos sociais de porte metropolitano.

Os representantes da ordem local se percebem intimidados quando se trata de explicitar

suas demandas e avaliações. O passo, porém, está dado, mesmo que se interprete que a

criação do Fórum Permanente tenha apenas a marca de protesto..

Belo Horizonte, 1 de setembro de 2009

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É possível imaginar o que existe no buraco negro definido pelo limite?