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Conteúdo

Teoria Geral do Direito Penal ............................................................................... Pág. 8

Teoria Geral do Crime .......................................................................................... Pág. 21

Ilicitude (ou Antijuridicidade) ................................................................................ Pág. 32

Culpabilidade ....................................................................................................... Pág. 36

Concurso de Pessoas .......................................................................................... Pág. 41

Concurso de Crimes............................................................................................. Pág. 45

Penas ................................................................................................................... Pág. 47

Medida de Segurança .......................................................................................... Pág. 59

Suspensão Condicional da Pena – Sursis ........................................................... Pág. 60

Livramento Condicional ........................................................................................ Pág. 62

Efeitos da Condenação ........................................................................................ Pág. 63

Reabilitação ......................................................................................................... Pág. 64

Crimes em Espécie .............................................................................................. Pág. 71

Crimes contra a Pessoa ....................................................................................... Pág. 71

Crimes contra o Patrimônio .................................................................................. Pág. 81

Crimes contra a Propriedade Imaterial ................................................................. Pág. 93

Crimes contra a Organização do Trabalho........................................................... Pág. 94

Crimes contra o Sentimento Religioso e contra o Respeito aos Mortos .............. Pág. 95

Crimes contra a Dignidade Sexual ....................................................................... Pág. 96

Crimes contra a Família ....................................................................................... Pág. 102

Crimes contra a Incolumidade Pública ................................................................. Pág. 105

Crimes contra a Paz Pública ................................................................................ Pág. 113

Crimes contra a Administração Pública................................................................ Pág. 118

Lei de Contravenções Penais .............................................................................. Pág. 130

Lei de crimes contra a Economia Popular ............................................................ Pág. 131

Lei de crimes Hediondos ...................................................................................... Pág. 134

Lei sobre a Tortura ............................................................................................... Pág. 135

Código de Trânsito Brasileiro ............................................................................... Pág. 136

Lei de Drogas ....................................................................................................... Pág. 139

Lei Maria da Penha .............................................................................................. Pág. 143

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1. Teoria geral do Direito Penal O direito penal é ramo do direito público. Sua finalidade é tutelar os mais relevantes bens da sociedade. Por meio de suas normas veda-se a prática de condutas tendentes a lesionar a vida, as integridades física, psicológica e sexual, o patrimônio, a Administração Pública (em sentido amplo), entre tantos outros. O direito penal elenca as condutas consideradas penalmente reprováveis no convívio humano e fixa as penalidades pertinentes para cada uma. Diversos são os crimes, uns de maior, outros de menor potencial ofensivo. Outros, ainda, são sequer chamados de crimes, mas como não são irrelevantes, são passíveis de punição sob o título de contravenções. O direito penal é um dos ramos mais antigos do direito e evoluiu juntamente com a sociedade. As penalidades, hoje, mais que apenas remediar o ilícito, destinam-se à reinserção do ofensor ao convívio social. A pena não deve apenas ter o objetivo punitivo, mas também o educativo. 1.1 Fontes do direito penal As fontes do direito penal dividem-se em:

a) materiais; e

b) formais.

Fontes materiais são aquelas que criam a norma penal, ou seja, aquelas donde emanam as leis (em sentido amplo) penais. No Brasil, a fonte material do direito penal é, exclusivamente, o Estado. Conforme dispõe o artigo 22, inciso I, da Constituição Federal de 1988:

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:

I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;

[…]

Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo.

Dessa forma, a competência para legislar sobre direito penal é privativa da União, isto é, a União, privativamente, figura como fonte material do direito penal brasileiro. Entretanto, o parágrafo único do citado dispositivo constitucional deixa claro que a União, mediante lei complementar, pode conferir autorização para que os Estados legislem sobre questões específicas de direito penal. São dois, portanto, os pontos de atenção em relação à possibilidade dos Estados legislarem sobre direito penal:

a) autorização expressa em lei complementar; e

b) estipulação de pontos específicos sobre direito penal, vedada a autorização genérica para legislar.

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Já as fontes formais do direito penal subdividem-se em:

a) diretas; e

b) indiretas.

Só há uma fonte direta para o direito penal, e essa fonte é a lei, em atenção ao princípio da reserva legal, de prisma constitucional (art. 5º, XXXIX) e legal (art. 1º, do Código Penal). Já as fontes indiretas do direito penal são os princípios gerais de direito e os costumes, a teor da disposição contida no artigo 4º, da Lei de Introdução ao Código Civil. No entanto, veja-se a redação do mencionado artigo:

Art. 4º - Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.

Desta forma, o que dizer acerca da analogia? Conforme ensina Julio Fabbrini Mirabete, a analogia não é fonte do direito penal, mas sim forma de auto-integração da legislação penal. Quanto à analogia, há que se frisar, ainda, que sua utilização jamais pode resultar na instituição de crimes ou de sanções criminais, pois tal competência é exclusivamente legal. Nada impede, porém, a utilização da analogia em benefício do réu, desde que presente uma lacuna legal, naquilo que a doutrina chama de analogia in bonam partem. Quanto à equidade, também não configura fonte indireta do direito penal, mas apenas método interpretativo da legislação, por meio do qual se obtém a adequação de determinada norma em face de uma específica situação concreta. Por derradeiro, aos princípios gerais de direito e aos costumes deve-se juntar, como fonte indireta do direito penal, o ato administrativo. Explica-se através de um exemplo concreto. A Lei de Drogas (Lei n.º 11.343/06), embora tipifique o tráfico de drogas, não elenca quais substâncias reputam-se ilícitas, aptas, portanto, a ensejar a prática do ilícito que descreve. Nesse caso, o legislador deixou a cargo do Poder Executivo (Ministério da Saúde), por meio de ato administrativo (Portaria n.º 344/98), a integração do conteúdo legal. O exemplo em tela expõe, nitidamente, como o ato administrativo reveste-se do caráter de fonte indireta do direito penal quando integra uma norma penal em branco. 1.2 Lei penal A lei, como salientado, é a única fonte direta do direito penal. A expressão “lei” pode ser usada em sentido estrito, caso em que se está a tratar da norma penal incriminadora, isto é, dos tipos penais em si, mas também pode ser usada em sentido amplo, caso em que se está a tratar da norma penal não incriminadora, isto é, das normas que destinam-se a explicar ou permitir algo. A analogia, como salientado no tópico anterior, é forma de integração da lei penal. Portanto, não há que se falar no emprego de analogia em

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relação às normas penais incriminadoras, o que não ocorre em relação às normais penais não incriminadoras que apresentam alguma espécie de lacuna, situação em que pode ser utilizada a analogia in bonam partem. A lei penal incriminadora é caracteristicamente composta por dois elementos:

a) o preceito primário; e

b) o preceito secundário.

O preceito primário descreve a conduta criminosa em si, enquanto o preceito secundário descreve a pena aplicável a esta conduta. Veja-se o exemplo:

PRECEITO PRIMÁRIO:

Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:

PRECEITO SECUNDÁRIO:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Por derradeiro, cumpre frisar que são características da lei:

a) a generalidade, isto é, a aplicabilidade indistinta a todas as pessoas;

b) a imperatividade, isto é, a obrigatoriedade de sua observância, sob pena de sujeição às sanções nela descritas;

c) a impessoalidade, isto é, a não-vinculação a determinadas pessoas;

d) a exclusividade, ante a vigência do princípio da reserva legal; e

e) a anterioridade, isto é, a impossibilidade de aplicação da lei penal para fatos ocorridos em momento anterior ao início de sua vigência, salvo se para benefício do réu. 1.3 Norma penal em branco Via de regra, as normas penais são completas, isto é, não dependem de nenhuma outra para serem imediatamente aplicadas. Há normas, no entanto, que são incompletas, isto é, que dependem de outras para só então serem aplicadas. A norma penal que depende de outra para estar completa é chamada de norma penal em branco. Essas normas existem diante da impossibilidade de previsão imediata, pelo Poder Legislativo, de todas as situações passíveis de configuração do ilícito. Sempre que se fala em norma penal em branco, se está a falar de uma norma principal e de uma norma complementadora. Enquanto a norma principal a de estar prevista, obrigatoriamente, em lei, a norma complementadora pode estar prevista em lei, assim como pode estar prevista num decreto, portaria, regulamento etc. Ademais, a norma complementadora incide sobre o preceito primário da norma principal, e não sobre seu preceito secundário. O legislador pode

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deixar a cargo de outra instância legislativa ou administrativa o estabelecimento de critérios objetivos de complementação da norma, mas não pode deixar de fixar as penas para o delito (preceito secundário). Se o legislador deixasse para a instância administrativa a possibilidade de fixação das penas, estar-se-ia ferindo o princípio da reserva legal, pois há que se lembrar que não há crime sem lei anterior que o defina, assim como não há pena sem prévia cominação legal. Veja-se a ilustração: ___________________|_____________________|____________________ Norma penal em branco Norma complementadora Sanção Art. 33, Lei n.º 11.343/06 Portaria n.º 344/98 MS Art. 33, Lei n.º 11.343/06 PRECEITO PRIMÁRIO PRECEITO SECUNDÁRIO

Como se vê, a norma penal em branco está no preceito primário da norma penal, e é integrada pela norma complementadora. O preceito secundário mantém-se inalterado. Isso ocorre, pois o legislador deve prever o fato típico, e, como no caso da Lei de Drogas, faltando-lhe o conhecimento técnico necessário, ele descreve a conduta com uma expressão genérica e entrega à autoridade administrativa competente a incumbência de integrar (complementar) a expressão, dando-lhe aplicabilidade. Veja-se o artigo 33, da Lei n.º 33.343/06, onde a expressão “drogas” representa o “espaço em branco” dessa norma penal:

PRECEITO PRIMÁRIO:

Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer

consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com

determinação legal ou regulamentar:

PRECEITO SECUNDÁRIO:

Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.

1.4 Aplicação da lei penal 1.4.1 Lei penal no tempo Via de regra, a lei vigente à época da prática do fato é a sua lei de regência, em consagração ao princípio tempus regit actum. No entanto, há casos expressamente autorizados de retroação e de ultratividade da lei. A Constituição Federal veda a punição por crime sem anterior previsão legal, mas autoriza a retroação da lei para benefício do réu. O Código Penal, por sua vez, dispõe sobre regras de ultratividade das leis temporária e excepcional.

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Diante de situações em que, aparentemente, incidem duas ou mais leis sobre um mesmo fato, utilizam-se os seguintes instrumentos para afastar o conflito entre normas:

a) novatio legis incriminadora;

b) abolitio criminis;

c) novatio legis in pejus; e

d) novatio legis in mellius.

Verifica-se a novatio legis incriminadora quando há a criação de um tipo penal. Se fosse instituída uma lei que criminalizasse o aborto no caso de estupro, se estaria diante de uma inovação legal incriminadora. Essa nova lei, que criminaliza uma conduta que antes não era considerada delituosa, não retroage, em atenção ao princípio da irretroatividade e anterioridade da lei, segundo o qual: não há crime sem lei anterior que o defina. Em sentido contrário, a abolitio criminis configura uma exclusão de um tipo penal. Essa exclusão opera-se mediante a revogação, por meio de lei, de um tipo penal vigente. Por exemplo, se uma lei revogar os artigos 124 e 126 do Código Penal, haverá uma abolição de conduta criminosa, donde quem praticar o aborto não incorrerá mais em um fato típico. Nos casos de abolitio criminis, a lei tem aplicação retroativa para beneficiar o réu que esteja sendo processado ou que esteja cumprindo pena em razão dessa conduta delituosa, pois segundo o artigo 2º, do Código Penal, ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar como criminoso, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. A abolitio criminis aplica-se, inclusive, aos casos que tenham sido decididos por sentença condenatória transitada em julgado. A novatio legis in pejus é uma inovação legal que trás prejuízo ao réu, pois agrava uma conduta criminosa em vigência. Quando há aumento de pena para um determinado delito, por exemplo, há uma novatio legis in pejus. A inovação legal que agrava a conduta delituosa aplica-se, tão somente, aos fatos ocorridos após o início de sua vigência, sendo irretroativa, portanto. Em sentido oposto, a novatio legis in mellius é uma inovação legal que trás benefício ao réu, pois torna menos grave uma conduta criminosa em vigência. Quando há diminuição ou abrandamento do regime de cumprimento de pena, por exemplo, há uma novatio legis in mellius. A inovação legal que reduz a gravidade da conduta delituosa aplica-se retroativamente, inclusive em relação aos casos já definitivamente julgados. É mandamento constitucional, albergado no artigo 5º, inciso XL, que “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”. Outra situação que não pode deixar de ser mencionada é a possibilidade de ultratividade da lei benéfica ao réu. Como se viu, a lei penal só pode retroagir quando tiver por objetivo beneficiar o réu, e, nesse sentido, também pode a lei penal ser aplicada depois de sua revogação, pelo mesmo objetivo. A ultratividade é, pois, a aplicação da lei penal em momento posterior à sua revogação, o que se permite apenas quando ela for beneficiar o réu. Por exemplo, se o réu comete um crime que, à época, era apenado com detenção, e, posteriormente (durante o trâmite processual) é

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publicada nova lei (novatio legis in pejus), que pune com reclusão a mesma conduta, a ele deverá ser aplicada a lei da época dos fatos (lei revogada), por lhe traduzir um benefício penal. Conduto, note-se, a ultratividade e a retroatividade em benefício do réu vigem apenas na seara penal, mas não na processual penal. As regras de direito material tendem sempre a beneficiar o réu, o que não ocorre com as normas processuais, que são aplicáveis imediatamente, tão logo se tornem vigentes. Para o processo penal impera o princípio tempus regit actum, e, portanto, iniciada a vigência de uma lei processual durante o trâmite de um processo, essa lei tem aplicação imediata, traga benefícios ou prejuízos ao réu. 1.4.2 Leis temporárias e excepcionais A lei penal pode ser ordinária, isto é, vigente em qualquer circunstância, mas também pode ser excepcional ou temporária. Tanto a lei excepcional como a temporária são auto-revogáveis, isto é, findo o motivo ou o prazo motivo para o qual foram instituídas, elas são automaticamente revogadas. Lei temporária é aquela com prazo de vigência previamente estipulado, ou seja, é uma lei por prazo determinado, o qual, uma vez transcorrido, gera, automaticamente, a revogação da mesma. Lei excepcional é aquela com vigência durante específicas e determinadas situações emergenciais. Finda a situação de emergência, revogada estará a lei excepcional. No entanto, é importante estar atento para o fato de que tanto as leis temporárias como as excepcionais são dotadas de ultratividade, isto é, elas surtem efeitos mesmo depois de revogadas. Por exemplo, imagine-se uma crise nacional no abastecimento de água, onde seja publicada uma lei excepcional que tipifique a conduta de todos os que forem flagrados desperdiçando água. Nesse caso, superada a situação emergencial, a lei será automaticamente revogada, porém quem praticou aquela conduta que ela descrevia como crime, na época de sua vigência, suportará os efeitos do processo e da condenação criminal mesmo depois de sua revogação. A revogação da lei excepcional, assim como da temporária, não gera uma abolitio criminis para os que cometeram o ilícito quando elas eram vigentes, o que evita que as pessoas, cientes dessa circunstância, descumpram intencionalmente seus mandamentos à época de sua vigência. 1.5 Tempo do crime Três são as teorias apontadas pela doutrina para identificar o momento em que se considera praticada uma infração penal:

a) teoria da atividade;

b) teoria do resultado; e

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c) teoria da ubiquidade.

Segundo a teoria da atividade, considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão delituosa. Segundo a teoria do resultado, considera-se praticado o crime no momento da consumação do crime, sendo irrelevante o momento em que foi praticada a ação ou omissão delituosa. Por fim, segundo a teoria da ubiquidade, considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão delituosa ou no momento da consumação do crime, ou seja, considera-se como tempo do crime tanto o momento da conduta como aquele em que ocorre o resultado. O Código Penal brasileiro adotou, pois, a teoria da atividade, conforme disposição do seu artigo 4º:

Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.

Por isso, nos crimes permanentes e nos continuados, caso sobrevenha legislação mais grave para o ofensor (novatio legis in pejus), ela será perfeitamente aplicável, não havendo que se falar em ultratividade da lei mais benéfica. Tanto o crime permanente como o crime continuado tem sua execução prolongada no tempo, ou seja, o momento da ação ou omissão não é único, mas diferido, e, sobrevindo legislação durante o período em que o crime (permanente ou continuado) está em atividade, a ele se aplica a nova legislação, seja ela mais benéfica ou gravosa. Por derradeiro, quanto à prescrição, é importante mencionar que o Código Penal não adotou a teoria da atividade, mas sim a do resultado. Portanto, quando se tratar de prescrição, esta tem início a partir da consumação do crime, e não a partir da data em que o mesmo foi praticado, haja visto expressa ressalva legal:

Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr:

I - do dia em que o crime se consumou;

II - no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade criminosa;

III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência;

IV - nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de assentamento do registro civil, da data em que o fato se tornou conhecido.

1.6 Lei penal no espaço 1.6.1 Territorialidade O Código Penal aplica-se ao território brasileiro. A afirmação óbvia carece de esclarecimento para que se identifique, com exatidão, o que pode ser considerado como território brasileiro.

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Além do solo, considera-se território brasileiro:

a) o subsolo;

b) o espaço aéreo;

c) o mar territorial (faixa de 12 milhas, contadas da baixa maré);

d) as ilhas fluviais ou lacustres (ilhas de lagos ou rios nas faixas de fronteiras);

e) as ilhas oceânicas (afastadas do continente, como a ilha de Fernando de Noronha);

f) os navios e aeronaves de caráter público, onde quer que se encontrem;

g) os navios e aeronaves brasileiros, mercantes ou particulares que estejam em águas ou no espaço aéreo internacional;

h) as embaixadas, consulados ou representações diplomáticas brasileiras; e

i) a estação brasileira no continente antártico.

Em qualquer destes locais, cometida uma infração penal, esta se sujeita às leis brasileiras, leis que também são aplicáveis para os crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, desde que elas estejam em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil (parágrafo segundo, do art. 5º, Código Penal). Caso o Brasil tivesse admitido, com exclusividade, a aplicação da lei penal brasileira para o crime cometido em qualquer dos locais considerados como território brasileiro, estar-se-ia diante da adoção do critério da territorialidade. No entanto, o caput do artigo 5º do Código Penal é claro ao dispor que “aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional”. Ao admitir a aplicação da lei estrangeira no país, em algumas situações, o Brasil adotou o critério da territorialidade temperada. 1.6.2 Lugar do crime Assim como ocorre quanto ao tempo, também quanto ao lugar do crime a doutrina apresenta 3 (três) teorias para identificar o local em que se considera praticada uma infração penal:

a) teoria da atividade;

b) teoria do resultado; e

c) teoria da ubiquidade.

Segundo a teoria da atividade, considera-se praticado o crime no local em que ocorre a ação ou omissão delituosa. Segundo a teoria do resultado, considera-se praticado o crime no local em que ocorre a consumação do crime.

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Por fim, segundo a teoria da ubiquidade, considera-se praticado o crime no local em que ocorre a ação ou omissão, ou, alternativamente, no local em que ocorre a consumação. Em outras palavras, considera-se como local do crime tanto o local da atividade como o do resultado do crime. O Código Penal brasileiro adotou a teoria da ubiquidade, conforme se extrai de seu artigo 6º:

Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.

Essa regra, no entanto, comporta exceções. Tanto a Lei dos Juizados Especiais (Lei n.º 9.099/95) como o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n.º 8.069/90) adotam a teoria da atividade para determinação da competência. O Código de Processo Penal, por sua vez, para determinação da competência, adota a teoria do resultado, isto é, a persecução penal deve tramitar perante o foro do local em que se consumar a infração (racione loci). 1.6.3 Extraterritorialidade A extraterritorialidade é hipótese excepcional, que se subdivide em:

a) condicionada; e

b) incondicionada.

A extraterritorialidade condicionada se verifica naquelas situações em que o Brasil se obrigou a reprimir, por Tratado ou Convenção, os crimes praticados por brasileiros e os praticados em aeronaves ou navios brasileiros, mercantes ou privados, quando estiverem em território estrangeiro e ali não forem julgados. Contudo, para aplicação da lei brasileira nos casos de extraterritorialidade condicionada é necessário o preenchimento das seguintes condições:

a) entrar o agente no território nacional;

b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;

c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição;

d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;

e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.

Já a extraterritorialidade incondicionada se verifica quando forem cometidos crimes contra a vida ou a liberdade do Presidente da República, contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público, à Administração

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Pública, por quem está a seu serviço, ou de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil. Em qualquer dos casos de extraterritorialidade incondicionada, a punição segundo a lei brasileira será efetivada ainda que o agente seja absolvido ou condenado no estrangeiro. Por derradeiro, a teor do artigo 7º, parágrafo terceiro, do Código Penal, também se aplica a lei brasileira ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil se, reunidas as condições de aplicabilidade da lei brasileira nos casos de extraterritorialidade condicionada:

a) não foi pedida ou foi negada a extradição;

b) houve requisição do Ministro da Justiça.

Portanto, para finalizar:

EXTRATERRITORIALIDADE Crimes cometidos no estrangeiro, mas sujeitos à lei brasileira

CONDICIONADA Exige o preenchimento de

determinadas condições (art. 7º, §2º, do CP)

INCONDICIONADA A aplicação da lei brasileira ocorre

independentemente da absolvição ou condenação no estrangeiro

1) Crimes que por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;

1) Crime contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;

2) Crimes praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.

2) Crime o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público;

3) Crimes praticados por brasileiro; 3) Crime contra a administração pública, por quem está a seu serviço;

4) Crimes praticados por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se reunidas as condições (art. 7º, §2º, do CP): a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve requisição do Ministro da Justiça.

4) Crime de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil.

1.6.4 Pena cumprida no estrangeiro Quando houver o cumprimento de pena no estrangeiro, ela será considerada pelo Poder Judiciário brasileiro, desde que relativa ao mesmo crime. Se as penas forem diversas (reclusão e penalidade pecuniária), a pena aplicada no estrangeiro atenuará a pena a ser cumprida no Brasil. E se

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as penas forem idênticas (reclusão e reclusão), a pena aplicada no estrangeiro será computada na pena a ser cumprida no Brasil. Com isso, evita-se o bis in idem, ou seja, a aplicação da mesma punição, pelo mesmo crime, por mais de uma vez. 1.6.5 Eficácia da sentença estrangeira A sentença estrangeira só passa a produzir efeitos no Brasil após sua homologação, pelo Superior Tribunal de Justiça (art. 105, I, “i”, da CRFB/88). Dispõe o artigo 9º do Código Penal, que a sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produzir na espécie as mesmas consequências, pode ser homologada no Brasil para:

a) obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis;

b) sujeitá-lo a medida de segurança.

E, essa homologação depende:

a) para obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e outros efeitos civis, de pedido da parte interessada;

b) para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de cuja autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro da Justiça. 1.7 Princípios do direito penal 1.7.1 Princípio da intervenção mínima O princípio da intervenção mínima é elementar e regente do Direito Penal. Segundo ele, o Estado, através do Direito Penal, só deve se preocupar com os bens mais relevantes para a sociedade, deixando de limitar as atividades que não o sejam. A evolução social mostra que condutas anteriormente consideradas como penalmente relevantes, podem deixar de ser com o passar dos tempos, como no caso do adultério, antes considerado crime e hoje não mais. É duplo, portanto, o sentido do princípio em análise, pois ao mesmo tempo que dirige ao legislador o dever de selecionar quais bens jurídicos possuem relevância penal, também dirige a ele o dever de retirar a punibilidade daqueles bens que deixaram de ser considerados como relevantes. 1.7.2 Princípio da lesividade O princípio da lesividade complementa o princípio da intervenção mínima. Enquanto o último estabelece quais bens são relevantes para o

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Direito Penal, o primeiro determina qual o nível de lesão a esses bens deve ser passível de punição. É por isso que condutas que não excedem o âmbito do próprio autor, sem lesão a bens de terceiros, não são passíveis de punição. Portanto, se a conduta não possuir certa dose de lesividade, ela não deve atrair a atenção do Direito Penal. 1.7.3 Princípio da fragmentariedade Inobstante a divisão do Direito em ramos, como o Civil, o Administrativo e o Tributário, cada um deles se subdivide, se fragmenta. A fragmentariedade é indicativa das diferentes parcelas de bens que o Direito Penal cuida. Segundo a doutrina de Rogério Greco, a fragmentariedade é “uma consequência da adoção dos princípios da intervenção mínima, da lesividade e da adequação social, que serviram para orientar o legislador no processo de criação dos tipos penais. Depois da escolha das condutas que serão reprimidas, a fim de proteger os bens mais importantes e necessários ao convívio em sociedade, uma vez criado o tipo penal, aquele bem por ele protegido passará a fazer parte do pequeno mundo do Direito Penal”. 1.7.4 Princípio da insignificância Determinadas condutas, tamanha a irrelevância para o Direito Penal, devem ser consideradas insignificantes, não sendo passíveis de punição. O princípio da insignificância, também conhecido como princípio da bagatela, alinha-se ao princípio da intervenção mínima, e socorre aqueles que cometeram lesão a determinado bem juridicamente tutelado pelo ordenamento penal, mas que em razão da pequenez, não merece mover a máquina estatal punitiva. 1.7.5 Princípio da legalidade O princípio da legalidade está constitucional e legalmente resguardado. Segundo ele, “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei” (art. 5º, inciso II, da CRFB/88), e “não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal” (art. 5º, XXXIX, da CRFB e art. 1º, do CP). Em matéria penal, é reserva da lei a tipificação de condutas e determinação das penas, portanto. 1.7.6 Princípio da retroatividade da lei mais benéfica Em matéria penal, vige o princípio da irretroatividade, mas há expressa ressalva quanto a lei mais benéfica ao réu. Nesse caso, admite-se

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a retroatividade da lei, conforme expressa autorização do artigo 5º, inciso XL, da CRFB/88. Também o Código Penal, no caput de seu artigo 2º dispõe que “ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória”, e no parágrafo primeiro que “a lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado”. 1.7.7 Princípio da presunção de inocência Até condenação proferida em sentença transitada em julgada, todos devem ser considerados inocentes. A determinação constitucional do artigo 5º, inciso LVII, dispõe: “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. É com base nessa garantia que confere-se ao condenado em primeira instância o direito de recorrer em liberdade, por exemplo. 1.7.8 Princípio da personalização da pena Apenas aquele que incorreu no fato típico legalmente descrito pode suportar as punições dele decorrentes. A Constituição da República de 1988 foi clara ao estipular que “nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido” (art. 5º, XLV, da CRFB/88). Note-se que a obrigação de reparar o dano e pena de perdimento de bens alcança, exclusivamente, os bens que eram do próprio condenado, sem o que se haveria lesão ao princípio constitucional da personalização da pena. 1.7.9 Princípio da individualização da pena O condenado tem o direito de ter sua pena individualizadamente determinada. Conforme estipulação do artigo 5º, inciso XLVI da Constituição da República de 1988, “ a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:

a) privação ou restrição da liberdade;

b) perda de bens;

c) multa;

d) prestação social alternativa;

e) suspensão ou interdição de direitos.”

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Ademais, consoante inciso XLVII do dispositivo constitucional em análise, ficam expressamente vedadas as penas:

a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX (guerra declarada);

b) de caráter perpétuo;

c) de trabalhos forçados;

d) de banimento;

e) cruéis; 1.7.10 Princípio do devido processo legal Dispõe o artigo 5º, inciso LIV, da Constituição da República de 1988, que “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. A garantia em análise confere aos acusados o direito de serem processados segundo as regras vigentes, sem a possibilidade de serem submetidos à regras ou tribunais de exceção. A observância do devido processo legal confere ao acusado a certeza de respeito de seus direitos e exercício das faculdades legais disponibilizadas à demonstração de sua participação na atividade criminosa para a qual foi acusado. Intimamente ligado ao princípio do devido processo legal estão os princípios do contraditório e da ampla defesa. Conforme artigo 5º, inciso LV, da Constituição da República, “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”. O respeito dessas garantias confere ao acusado o direito de se defender plenamente e consagram comandos básicos de um Estado Democrático de Direito. 2. Teoria geral do crime Crime é a conduta humana que fere a legislação penal. Praticado o fato considerado típico pela lei penal, seu agente incorre nas sanções por ele descritas. Via de regra, apenas o ser humano pode ser sujeito ativo de uma conduta criminosa, embora a pessoa jurídica também o passa em algumas situações. Nem toda a conduta humana que fira a legislação penal, no entanto, configura um crime. Dessa forma, a conduta também pode traduzir a prática de uma contravenção penal. Enquanto crime é uma conduta mais grave, contravenção é a conduta de menor potencial ofensivo, conhecida também como “crime-anão”. Segundo o artigo 1º da Lei de Introdução ao Código Penal, considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa, e, contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente,

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pena de prisão simples ou de multa, ou ambas. alternativa ou cumulativamente. Em sentido formal, crime é a violação da lei penal. Em sentido material, crime é todo fato humano que fere ou expõe a perigo bens que são penalmente tutelados. Por fim, em sentido analítico, crime é um fato típico e antijurídico, donde a culpabilidade é pressuposto da aplicação da pena, ao passo que a periculosidade é pressuposto da aplicação da medida de segurança. Para a conceituação de crime existem duas teorias:

a) bipartida; e

b) tripartida.

Pela teoria tripartida, crime é toda ação ou omissão humana:

a) típica;

b) antijurídica; e

c) culpável.

Já a teoria bipartida considera que crime é toda ação ou omissão humana:

a) típica; e

b) antijurídica.

Para essa teoria, a culpabilidade não é elemento autônomo do crime, mas mero pressuposto da aplicação da pena. Em todo caso, conduta típica é aquela ação ou omissão humana que se enquadra à classificação estipulada em lei como criminosa. Antijuridicidade é a contrariedade de uma conduta humana com o ordenamento jurídico, conduta que causa dano ou perigo de dano a um bem jurídico tutelado. Já a culpabilidade é o juízo de reprovabilidade da conduta em relação ao fato típico praticado. 2.1 Classificação dos crimes Acerca dos crimes, várias classificações são apresentadas, dentre as quais merece destaque:

a) Crimes comuns, próprios e de mão-própria

a.1) crime comum: é aquele que pode ser cometido por qualquer pessoa;

a.2) crime próprio: é aquele que só pode ser cometido pela pessoa que ostente uma condição especial, isto é, exige-se um sujeito ativo específico, como o funcionário público em relação ao peculato, por exemplo;

a.3) crime de mão-própria: é aquele que só pode ser cometido mediante atuação pessoal do sujeito ativo, como o crime de falso testemunho, por exemplo.

b) Crimes principais e acessórios

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b.1) crime principal é aquele que independe da prática de qualquer delito anterior; e

b.2) crime acessório é aquele pressupõe a existência de um crime anterior, como o delito de receptação, que depende de um furto ou roubo anteriormente realizado, por exemplo.

c) Crimes instantâneos, permanentes e instantâneos de efeitos permanentes

c.1) crime instantâneo é aquele encerra-se de imediato, isto é, aquele em que a consumação ocorre de plano, sem prolongamentos;

c.2) crime permanente é aquele que se consuma através de prolongação no tempo, como no sequestro, por exemplo;

c.3) crime instantâneo de efeito permanente é aquele que, embora consumado instantaneamente, seus efeitos permanecem independentemente da vontade do sujeito ativo, como no caso de bigamia, por exemplo.

d) Crimes comissivos, omissivos puros e omissivos impróprios

d.1) crime comissivo é aquele que depende de uma ação do sujeito ativo, isto é, de uma conduta positiva destinada à prática do crime;

d.2) crime omissivo (ou omissivo puro) é aquele que depende de uma omissão do sujeito ativo, isto é, de uma conduta negativa daquele que, diante da verificação concreta de uma situação descrita em lei, que lhe dava a incumbência de atuar, deixa de fazê-lo voluntariamente, como no caso de omissão de socorro, por exemplo;

d.3) crime omissivo impróprio (ou comissivo por omissão) é aquele que depende de uma omissão diante de uma situação que impõe ao sujeito ativo o dever jurídico de impedir o resultado, como um médico que não administra o medicamente necessário ao paciente, deixando com que o mesmo morra.

e) Crimes transeuntes e não-transeuntes

e.1) crime transeunte é aquele que não deixa vestígios, como os crimes contra a honra, por exemplo;

e.2) crime não-transeunte, em sentido oposto, é aquele que deixa vestígios, caso em que deve ser realizado o exame de corpo de delito, como no caso de lesão corporal, por exemplo.

f) Crimes unissubjetivos e plurissubjetivos

f.1) crime unissubjetivo é aquele que pode ser praticado por apenas uma pessoa, embora nada impeça que seja praticado por duas ou mais;

f.2) crime plurissubjetivo é aquele que exige duas ou mais pessoas, só com o que se poderá falar na específica prática criminosa, como na quadrilha ou bando, ou na rixa, por exemplo.

g) Crimes unissubsistentes e plurissubsistentes

g.1) crime unissubsistente é aquele que só exige um ato executório para que possa ocorrer a consumação do crime;

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g.2) crime plurissubsistente é aquele que depende de dois ou mais atos executórios, só com o que poderá ocorrer a consumação do crime.

h) Crimes simples, qualificados e privilegiados

h.1) crime simples ocorre quando o tipo penal é simples, básico, sem qualquer causa que majore ou reduza sua gravidade, como furto simples ou homicídio simples, por exemplo;

h.2) crime qualificado ocorre quando ao tipo penal básico é agregada circunstância que majora a gravidade e, consequentemente, a pena do crime, como o homicídio cometido por motivo fútil, por exemplo;

h.3) crime privilegiado ocorre quando ao tipo penal básico é agregada circunstância que reduz a gravidade e, consequentemente, a pena do crime, como o homicídio por motivo de relevante valor social, por exemplo.

i) Crime habitual

i.1) crime habitual é aquele que se consuma mediante a reiteração de atos, que isoladamente, via de regra, não tem relevância penal. Por exemplo, a prostituição, isoladamente, não tem relevância penal. No entanto, comete crime habitual (rufianismo) aquele que tira proveito da prostituição alheia, fazendo-se sustentar por quem a exerça.

j) Crime profissional

j.1) crime profissional é aquele praticado por alguém que exerce uma profissão lícita, e dela se vale para cometer um delito, como no caso do médico que realiza um aborto, por exemplo.

k) Crime exaurido

k.1) crime exaurido ocorre quando, após preenchidas as circunstâncias verificadoras do tipo penal, o sujeito ativo o leva a consequências mais graves.

l) Crimes materiais, formais e de mera conduta

l.1) crime material é aquele que exige um resultado externo em relação a ação, como a morte, no caso do homicídio, por exemplo.

l.2) crime formal é aquele em que não se exige a realização daquilo que era pretendido pelo sujeito ativo, como no caso da ameaça, em que o delito se consuma com sua simples feitura, independentemente de sua concretização.

l.3) crime de mera conduta é aquele que se consuma mediante mera ação ou omissão do sujeito passivo, sendo irrelevante a produção de qualquer resultado naturalístico, como a violação de domicílio ou a omissão (pelo médico) de denúncia à autoridade pública sobre doença cuja notificação é compulsória, por exemplo.

m) Crimes de dano e de perigo

m.1) crime de dano é aquele que exige a efetiva lesão de um bem jurídico, só com o que se pode falar em consumação;

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m.2) crime de perigo é aquele que se consuma mediante a simples criação de uma situação de perigo em relação ao bem juridicamente tutelado, donde extrai-se a seguinte subdivisão:

m.2.1) crime de perigo concreto, que exige a criação de uma efetiva situação de perigo, como no caso de expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria (art. 134, do CP); e

m.2.2) crime de perigo abstrato, que não exige a criação de uma situação concreta de perigo, bastando que esta situação seja presumível (presunção absoluta), como no crime de quadrilha ou bando (art. 288, do CP).

n) Crimes complexos

n.1) crime complexo, em sentido estrito, é aquele que agrupa, em um único tipo legal, duas ou mais condutas que, isoladamente, são consideradas delituosas, como o roubo, que é a soma do crime de furto e ameaça (ou lesão corporal); e

n.2) crime complexo, em sentido amplo, quando um tipo legal abrange um tipo simples acrescido de circunstâncias que, isoladamente, não são típicas, como o constrangimento ilegal, que é a soma do crime de ameaça com a mera obrigatoriedade do sujeito passivo fazer algo que não deseja.

o) Crimes vagos

o.1) crime vago é aquele em que o sujeito passivo é uma coletividade, como ocorre em relação ao crime de falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins medicinais ou terapêuticos (art. 273, do CP).

Além destas, existem outras classificações atribuídas aos crimes, mas conforme o contexto do exame da Ordem dos Advogados do Brasil, estas são as que tem sido objeto de maior indagação dos candidatos. 2.2 Objeto do crime O objeto do crime pode ser tanto jurídico como material. Não há como se falar em crime sem se falar em objeto. Objeto jurídico é aquele resguardado pela lei penal, como a honra, a fé pública, a vida etc. Objeto material, por sua vez, é a pessoa ou coisa sobre a qual se manifesta a conduta delituosa, como a pessoa lesionada ou o bem furtado. 2.3 Sujeitos crime O sujeito ativo do crime é aquele que pratica a conduta delituosa, ao passo que o sujeito passivo é aquele contra quem essa conduta é praticada. O sujeito ativo é o ofensor, ao passo que o sujeito passivo é o ofendido. O sujeito passivo pode ser uma pessoa, física ou jurídica, mas não pode ser um animal, nem uma pessoa morta. Nesse último caso, o sujeito

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passivo do crime pode ser a família do de cujus, mas não ele que deixou de ser sujeito de direitos. Sempre que ocorre um crime, o Estado é sujeito passivo dele, pois é dele que emana a legislação violada. O Estado, por ser sempre sujeito passivo do crime, é chamado de sujeito passivo constante, ou formal. Já aquele que sofre pontualmente a lesão a um bem jurídico é chamado de sujeito passivo eventual ou material, como a pessoa que tem um veículo furtado, por exemplo. 2.4 Fato típico Um fato é típico quando a conduta do homem preenche com perfeição uma descrição legalmente proibitiva. Quando alguém mata outrem, incorre na proibição constante do artigo 121 do Código Penal, ou seja, pratica um fato típico. O fato típico é elemento do crime, ao lado da ilicitude e da antijuridicidade. A culpabilidade mostra-se, pois, como mero pressuposto para aplicação da pena. Para que se fale em fato típico, há que se falar em:

a) conduta;

b) resultado;

c) relação causal; e

d) tipicidade.

Esses elementos são necessários quando o sujeito pratica crimes materiais, assim como quando pratica crimes omissivos impróprios, pois no caso dos crimes formais, de mera conduta e omissivos próprios, basta a presença da conduta e da tipicidade, sendo irrelevante a presença do resultado e do nexo de causalidade. 2.4.1 Conduta Penalmente, conduta é a ação ou omissão criminosa, praticada de forma culposa ou dolosa, tendente a causar lesão a algum bem juridicamente tutelado. Acerca da conduta, a doutrina apresenta três teorias:

a) teoria causalista;

b) teoria finalista; e

c) teoria social.

Segundo a teoria causalista, considera-se conduta qualquer ação ou omissão humana que produza efeitos exteriores, sendo irrelevante que ela tenha sido culposa ou dolosa. Por essa teoria o dolo e culpa devem ser alocados como integrantes da culpabilidade. Segundo a teoria finalista, considera-se conduta a ação ou omissão humana que seja consciente e voluntariamente praticada, com a finalidade

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de produzir determinado resultado. Portanto, só há que se falar em fato típico quando presente o elemento subjetivo do injusto, isto é, a livre vontade de praticar o fato criminoso. Essa teoria liga o dolo e a culpa à conduta, diferentemente da teoria causalista. Já para a teoria social, considera-se conduta apenas a ação ou omissão que tenha relevância social e que seja dominada pela vontade humana. Em razão da vagueza na expressão “relevância social”, a teoria não encontrou maior espaço de difusão. A conduta criminosa, ademais, pode ser comissiva ou omissiva. É comissiva a conduta que traduz um agir do agente, enquanto é omissiva a conduta que traduz um deixar de agir quando há o prévio dever jurídico para tanto (crimes omissivos impróprios) ou quando não há esse prévio dever (crimes omissivos próprios), como na omissão de socorro. E há, ainda, os crimes comissivos por omissão, isto é, o agente deixa de praticar uma conduta para garantir um resultado criminoso, como por exemplo, quando o empregado deixa de trancar a caixa registradora para que outrem, em conluio com ele, pratique um furto. 2.4.2 Resultado O resultado do crime pode ser:

a) normativo; ou

b) naturalístico.

Resultado normativo é o dano ou perigo de dano ao bem juridicamente tutelado pela norma penal. Praticado um delito, qualquer que seja sua natureza, verifica-se o resultado normativo, portanto. Já o resultado naturalístico é o dano causado no mundo dos fatos, como ocorrência direta da conduta criminosa. Nem todos os delitos produzem resultados naturalísticos, pois há crimes que independem deles, tal como os crimes formais e os de mera conduta. 2.4.3 Relação de causalidade A relação de causalidade é o vínculo que une a conduta ao resultado. O Código Penal brasileiro adotou como regra, a teoria da conditio sine qua non, segundo a qual considera-se como causa todo fato que tenha concorrido para a produção do resultado criminoso, desde que o agente responsável por essa causa tenha atuado volitivamente em relação à produção desse resultado criminoso. Excepcionalmente, no entanto, o Código Penal adotou a teoria da causalidade adequada, conforme redação do parágrafo primeiro, do artigo 13, que dispõe que “a superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou”. Portanto, no caso de causa relativamente independente, que seja superveniente, o agente não será responsabilizado pelo resultado, mas apenas pela tentativa. No entanto,

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se a causa relativamente independente for preexistente, o resultado será imputado a quem o tenha praticado. Em qualquer caso, quando se tratar de causa absolutamente independente, o agente só será responsabilizado pelos atos até então praticados. 2.5 Crime culposo e doloso Para que se fale em crime culposo, há que se falar em:

a) negligência;

b) imprudência; ou

c) imperícia.

A negligência é o não agir, ou o agir de maneira sabida ou presumivelmente insuficiente. A imprudência é a o agir além do padrão recomendado. E a imperícia é o agir sem a capacitação técnica ou profissional suficiente para prática do ato. O crime culposo é resultado de uma conduta voluntária, ao menos inicialmente, que produz um resultado involuntário em razão da imprudência, da negligência ou da imperícia. Para que se fale em punição do crime culposo, há que se falar, obrigatoriamente, em previsibilidade do resultado, em ausência de previsão pelo agente, e, em tipicidade da conduta culposa, pois segundo o parágrafo único do artigo 18 do Código Penal, salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. Segundo classificação doutrinária, a culpa pode ser:

a) consciente; ou

b) inconsciente.

Verifica-se a culpa consciente quando o agente prevê que o resultado lesivo pode ocorrer, mas espera, sinceramente, que ele não aconteça. Já a culpa inconsciente verifica-se quando o agente não prevê o resultado que era objetivamente previsível. A diferença básica entre culpa consciente e dolo eventual é que, enquanto na primeira o agente não espera o acontecimento do resultado lesivo, no segundo ele age indiferente em relação a produção ou não do mesmo. Em ambos os casos há previsibilidade por parte do agente, falando-se em dolo quando ele age com indiferença em relação a lesão ao bem juridicamente tutelado, e em culpa quando ele acredita, sinceramente, que não causará lesão a esse bem. A conduta dolosa, por sua vez, é aquela intencionalmente dirigida à prática de um ilícito. O dolo pode ser classificado em:

a) direto (ou propriamente dito);

b) indireto;

c) genérico; e

d) específico.

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Dolo direito é aquele livremente direcionado à prática de um crime tipificado na lei penal. Aquele que deseja furtar um veículo e o faz, age com dolo direto em relação ao artigo 155 do Código Penal. Dolo indireto é aquele que não se mostra clara e prontamente identificável. O dolo indireto se subdivide em alternativo e eventual. Dolo alternativo é aquele em que o agente pratica sua conduta ciente de que ela pode causar resultados diversos, sendo que sua pretensão se dirige à realização de qualquer deles. Já o dolo eventual é aquele em que o agente prevê a possibilidade de um determinado resultado e, embora não o deseje diretamente, assume o risco de produzi-lo. Dolo genérico é a mera intenção de lesionar a norma penal, incorrendo em uma conduta típica nela descrita. Dolo específico é a somatória de, além de lesionar a norma penal, obter uma vantagem excedente ou praticar um fim especial. Por derradeiro, há o crime preterdoloso quando o agente pratica uma ação ou omissão dolosa, mas produz um resultado mais grave do que aquele que havia sido previsto em decorrência de um conduta excedente, que é culposa. No crime preterdoloso, a conduta culposa (posterior) supera a dolosa (primária). 2.6 Erro de tipo Conforme redação do caput do artigo 20 do Código Penal, o erro sobre elemento constitutivo do tipo legal exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. Como mencionado, o dolo é elemento essencial do tipo penal. Verificado, no entanto, que o agente praticou sua conduta pautada por erro sobre elemento constitutivo do tipo penal, excluir-se-á o dolo. O erro de tipo pode ser essencial, quando recair sobre as elementares ou circunstâncias do crime, e pode ser acidental, quando recair sobre dados acessórios do mesmo. Quando o erro de tipo é essencial, o agente que pratica a conduta não sabe que está incorrendo em um fato típico. Esse desconhecimento, dentre outras causas, pode decorrer de simples ignorância. Quando o erro de tipo essencial for invencível, não só o dolo, mas também a culpa será excluída, com o que se considerará atípico o fato praticado. No entanto, se o erro de tipo essencial for vencível, haverá mera exclusão do dolo, sendo o agente responsabilizado pela conduta culposa, se houver previsão legal. Quando o erro de tipo é acidental, em qualquer hipótese haverá responsabilização do agente, pois ele possui ciência de estar praticando um tipo penal, manifestando erro apenas em relação a elementos acessórios da conduta, como o modo de execução, a causalidade ou o próprio objeto material. Se “A”, pretendendo matar “B”, o confunde, atira e mata “C”, responde como se tivesse praticado o crime contra “B”, tendo incorrido em um erro de tipo acidental, erro que recaiu sobre o objeto material do crime. Para casos como o do exemplo, dispõe o parágrafo terceiro do artigo 20 do Código Penal, que o erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena, e, neste caso, não se consideram as condições ou

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qualidades da vítima, mas sim as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime. O erro sobre o modo de execução do crime pode se manifestar mediante erro na execução (aberratio ictus), ou na produção de resultado diverso do pretendido (aberratio criminis). Quando se tratar de erro na execução (aberratio ictus), o agente responderá como se tivesse praticado corretamente o delito, contra o objeto material que pretendia ofender. Contudo, quando se tratar da produção de resultado diverso do pretendido (aberratio criminis), o agente responderá apenas de forma culposa, se houver previsão legal, pelo resultado efetivamente praticado. O erro sobre a relação de causalidade, conhecido como aberratio causae, ocorre quando o agente consegue praticar o resultado que pretendia, mas não da forma como havia planejado. 2.7 Crime tentado e consumado Basicamente, o crime se divide entre os momentos preparatórios e os executórios. Os momentos preparatórios compreendem a mera e a efetiva cogitação, e a preparação material, com a reunião dos instrumentos necessários à prática delituosa. Os atos preparatórios não são passíveis de punição, salvo se constituírem, autonomamente, infração penal, como em relação ao porte ilegal de arma de fogo, por exemplo. Os atos executórios são aqueles de efetiva prática criminosa. Uma vez iniciada a prática dos atos executórios, o agente incorre na conduta penalmente descrita. Se os atos executórios desenrolarem-se até o final, o delito reputar-se-á consumado. No entanto, se por circunstâncias alheias à vontade do agente, o delito não se consumar, reputar-se-á como tentado o crime. A tentativa é punível com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), conforme redação legal do parágrafo único, do artigo 14, do Código Penal. A tentativa pode ser classificada em:

a) perfeita; ou

b) imperfeita.

É perfeita a tentativa quando o agente pratica todos os atos executórios e o crime não se consuma por circunstâncias alheias à sua vontade. Em contrapartida, é imperfeita a tentativa quando o agente, também por circunstâncias alheias à sua vontade, não consegue executar todos os atos necessários à consumação. Seja perfeita ou imperfeita, a punição da tentativa não varia. Por derradeiro, frise-se que não há punição por tentativa em crimes culposos, assim como não é punível a tentativa em relação às contravenções penais (art. 4º, da Lei das Contravenções Penais).

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2.8 Desistência voluntária e arrependimento eficaz O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados (art. 15, do CP). O Código Penal brasileiro cuidou de possibilitar ao agente várias fórmulas de desestímulo à prática criminosa. Todo aquele que desiste de prosseguir nos atos executórios que já tenha dado início (desistência voluntária), só será responsabilizado pelo atos já praticados, assim como aquele que, embora praticado todos os atos executórios, impeça a produção do resultado criminoso (arrependimento eficaz). Note-se que o que a lei penal exige é a voluntariedade da conduta, mas não a espontaneidade. Portanto, não há qualquer óbice na aplicação dos institutos mencionados se o agente deixa de praticar os atos de execução ou impede o resultado após acolher o conselho de alguém. Por exemplo, se “A” danifica os freios do carro de “B” para que ele colida com outrem, mas antes de “B” sair com o carro, “A” confessa (espontaneamente ou seguindo o conselho de “C”, por exemplo) o que fez e impede o resultado, ele será responsável apenas pelo dano que causou nos freios do veículo de “B”, não respondendo por qualquer outro delito, consumado ou tentado. 2.9 Arrependimento posterior Situação diversa é o arrependimento posterior, tratado no artigo 16 do Código Penal. Segundo aludido dispositivo, nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços). Preenchidos os requisitos exigidos pelo artigo 16, há causa obrigatória de redução de pena, causa esta que beneficia co-autores e partícipes. 2.10 Crime impossível O crime impossível é aquele que não é passível de punição, seja por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto. Se “A”, supondo que “B” (de cujus) está vivo, atira contra ele pretendendo matá-lo, incorre em um crime impossível. Como não há tipicidade, não há que se falar em responsabilidade penal. O crime impossível ocorre também nos casos de flagrante preparado (ou provocado), hipótese em que a polícia torna impossível a consumação do delito, conforme orientação do Supremo Tribunal Federal.

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3. Ilicitude (ou antijuridicidade) O conceito de ilicitude (ou antijuridicidade) se divide em:

a) formal; e

b) material.

Segundo o conceito formal, ilicitude é a contrariedade entre a conduta e o ordenamento jurídico positivo. Segundo o conceito material, ilicitude é a contrariedade da conduta em relação a um bem jurídico tutelado. Portanto, agregando os conceitos, conclui-se que ilicitude é a relação de antagonismo entre uma conduta humana e o ordenamento positivo, causando lesão ou expondo a perigo de lesão um bem jurídico tutelado (DOTTI, p. 334, 2006). Acerca da conduta humana, outras duas teorias devem ser apresentadas, por meio das quais se avalia o caráter da ilicitude:

a) teoria subjetiva; e

b) teoria objetiva.

Segundo a teoria subjetiva, o fato típico só pode ser considerado antijurídico se o agente possuir capacidade para entender e avaliar o caráter criminoso de sua conduta. Segundo a teoria subjetiva, os inimputáveis, portanto, não praticam crimes. E segundo a teoria objetiva, o fato típico é antijurídico independentemente de o sujeito ativo ser dotado de capacidade de avaliar o critério criminoso de sua conduta. Portanto, pela teoria objetiva os inimputáveis praticam crime, embora lhes seja ausente a culpabilidade. Quanto às causas de exclusão da ilicitude, existem algumas de ordem legal e outras de ordem supralegal. Presente alguma delas, não que se falar em crime, pois elas excluem um de seus elementos fundamentais, que é a ilicitude da conduta. São causas legais de exclusão da ilicitude:

a) o estado de necessidade;

b) a legítima defesa;

c) o estrito cumprimento do dever legal;

d) o exercício regular de direito;

e) outras, previstas na Parte Especial do Código Penal, como o aborto praticado pelo médico para salvar a vida da gestante ou no caso de estupro.

Já as causas supralegais de exclusão da ilicitude decorrem, basicamente, do mandamento constante do artigo 4º, da Lei de Introdução ao Código Civil, que dispõe que em caso de omissão da lei, o juiz deve decidir segundo a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. Nesse contexto, a doutrina apresenta como causas supralegais de exclusão da ilicitude:

Art. 23, do CP

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a) ação socialmente adequada, isto é, aquela realizada dentro de um âmbito de normalidade, como o corte de cabelo de calouros nos trotes universitários, por exemplo;

b) princípio da insignificância, pois o direito penal deve se preocupar apenas com condutas que sejam efetivamente relevantes;

c) consentimento do ofendido, quando o crime praticado estiver relacionada à bens disponíveis. 3.1 Estado de necessidade Em determinadas situações, o Estado não tem condições de tutelar as pessoas de maneira imediata, motivo pelo qual transfere a elas o poder de se auto-protegerem, desde que tenham sua atuação pautada pela razoabilidade e pela proporcionalidade. O artigo 24 do Código Penal dispõe que, considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. O estado de necessidade não pode ser alegado por aquele que tenha o dever legal de enfrentar o perigo (art. 24, §1º, do CP). O Código Penal brasileiro trata de duas espécies de estado de necessidade (classificação quanto ao bem sacrificado):

a) o justificante; e

b) o exculpante.

O estado de necessidade justificante é a regra, situação por meio do qual se sacrifica um bem de menor valor para salvaguardar outro, de maior, ou, ao menos, de igual valor. Já o estado de necessidade exculpante é a exceção, situação por meio do qual se sacrifica um bem de maior valor para salvaguardar outro, de valor inferior, caso em que a justificativa pode advir da inexigibilidade de conduta diversa e, nesse caso, excluir a culpabilidade, ou, em caso negativo, ensejar apenas a redução da pena a ser aplicada. O parágrafo segundo do artigo 24 do Código Penal, dispõe que embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena pode ser reduzida de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços). Segundo ao terceiro que sofre a ofensa, o estado de necessidade pode ser classificado como:

a) defensivo; ou

b) agressivo.

O estado de necessidade defensivo ocorre quando o ato necessário à salvaguarda do bem jurídico ameaçado é praticado em detrimento de um bem jurídico pertencente ao responsável pela causação da situação de perigo. Já o estado de necessidade agressivo ocorre quando o ato necessário à salvaguarda do bem jurídico ameaçado é praticado em

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detrimento de um bem jurídico pertencente a terceiro inocente, hipótese em que surge o dever de indenizar, na esfera cível. Caso o agente cometa excesso em sua conduta e extrapole os meios necessários no estado necessidade, responderá pelo ilícito, tenha ele agido culposa ou dolosamente. Por derradeiro, caso o agente suponha, erroneamente, estar em situação de perigo, pode se verificar o estado de necessidade putativo. No entanto, a suposição errônea feita pelo agente deve ser perfeitamente justificável, caso em que ele se valerá da hipótese excludente de ilicitude em estudo. E, ainda, caso a suposição feita pelo agente não seja justificável, pode ele deixar de responder pelo crime praticado em razão de ausência de culpabilidade, em decorrência do erro de proibição (MIRABETE, 2006, p. 177). 3.2 Legítima defesa A legítima defesa é uma faculdade conferida pelo Estado para que o particular que esteja sofrendo agressão injusta, atual ou iminente, possa repeli-la através do uso moderado dos meios necessários. Similar ao que ocorre no estado de necessidade, o Estado delega ao particular a incumbência de defender seus próprios interesses, em razão dele não poder fazê-lo de maneira imediata. O artigo 25 do Código Penal dispõe que, entende-se por legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. Enquanto o estado de necessidade pode ser dirigido em face de terceiro, a legítima defesa só pode ser dirigida em face do agressor, e desde que essa agressão seja injusta. Para o estado de necessidade é indiferente se a agressão é justa ou injusta. Cometido o excesso, ou seja, caso o agente extrapole o uso dos meios necessários para repelir a injusta agressão, ele responderá pelo ilícito, tenha atuado culposa ou dolosamente. Ademais, quando há excesso no uso dos meios necessários surge para o agredido (antes agressor) o direito de repelir tais excessos agressivos, naquilo que a doutrina chama de legítima defesa sucessiva. Assim como ocorre no estado de necessidade, no âmbito da legítima defesa pode o agente, erroneamente, supor que está sendo agredido e repelir essa suposta agressão. Nesse caso, estar-se-á diante da hipótese de legítima defesa putativa. No entanto, não há exclusão da ilicitude nessa hipótese, pois ausente um dos requisitos previstos no artigo 25 do Código Penal, que é a agressão real, atual ou iminente, embora haja exclusão da culpabilidade (MIRABETE, 2006, p. 183). Por derradeiro, há que se frisar que inexiste a figura da legítima defesa recíproca, isto é, não há que se alegar legítima defesa quando duas pessoas entram em duelo, tendo uma provocado e a outra aceitado o desafio.

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3.3 Estrito cumprimento do dever legal Todo aquele que está a desempenhar um dever legar não comete crime quando atuar dentro dos limites legais que lhe são impostos no exercício do seu dever. O artigo 23, inciso III, do Código Penal, dispõe que não há crime quando o agente pratica o fato em estrito cumprimento do dever legal. Os agentes públicos, como os policiais, gozam dessa excludente de ilicitude, com o que se viabiliza seu exercício profissional. Mas não apenas, já que também os pais atuam no estrito cumprimento do dever legal quando impõe limites ordinários aos filhos. Não há que se falar em estrito cumprimento do dever legal em relação aos crimes culposos, posto que lei nenhuma obriga ao cometimento de ato negligente, imprudente ou imperito (MIRABETE, 2006, p. 185). Assim como ocorre com o estado de necessidade e com a legítima defesa, pode haver o estrito cumprimento do dever legal putativo, que se verifica quando o agente acredita na existência de um dever legal inexistente. Nesse caso, haverá um erro de proibição. 3.4 Exercício regular de direito Conforme disposição do artigo 23, inciso III, do Código Penal, não há que se falar em crime quando a conduta é pratica em exercício regular de direito. Quando um particular realiza a prisão em flagrante de um criminoso estar-se-á diante de uma nítida hipótese de exercício regular de direito. Caso haja excesso no exercício regular do direito, de modo a torná-lo irregular, o agente responsabiliza-se pelo excesso. O artigo 187 do Código Civil estipula que comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. A principal diferença entre o estrito cumprimento do dever legal e o exercício regular de direito é que no primeiro caso o agente age impelido por um dever, enquanto que no segundo há uma faculdade, um direito. 3.5 Ofendículos Ofendículos são objetos criados pelo homem para evitar atuações criminosas. Esses objetos devem ser instalados de maneira proporcional, sem excessos, sob pena do agente responder pelo delito culposo ou doloso a que der causa. Parte da doutrina entende que o ofendículo é maneira de legítima defesa preordenada, enquanto outra parte entende tratar-se de exercício regular de direito.

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3.6 Excesso punível Quando o agente intensifica sem necessidade sua conduta lícita, ele a converte em ilícita, e por ela se responsabiliza. Nesse caso, autoriza-se que a parte contrária se defenda em relação ao excesso, naquilo que a doutrina chama de legítima defesa sucessiva. O excesso punível apresenta-se mediante as seguintes modalidades:

a) excesso doloso: ocorre quando o sujeito ativo pretende um resultado além do necessário. Nesse caso, ele responde pela prática de crime doloso;

b) excesso culposo: ocorre quando o sujeito ativo quebra um dever objetivo de cuidado mediante conduta negligente, imprudente ou imperita e dá causa a um resultado não desejado. Nesse caso, ele responde por crime culposo (quanto ao excesso), desde que essa conduta seja prevista como crime culposo.

c) excesso exculpante: ocorre quando a intensificação desnecessária resulta da alteração de ânimo pela surpresa ou pelo medo (DOTTI, p. 400, 2006). Nesse caso, o agente deverá ser absolvido por ausência de culpabilidade em razão de inexigibilidade de conduta diversa.

E, ainda:

a) excesso intensivo: ocorre quando o sujeito atacado intensifica a conduta, de forma dolosa ou culposa, pelo uso imoderado dos meios necessários.

b) excesso extensivo: ocorre quando não há mais agressão atual e o sujeito atacado pratica nova conduta contra o autor da agressão. Nesse caso, essa nova conduta é considerada como crime autônomo, cuja responsabilização também será autônoma. 4. Culpabilidade A culpabilidade é o juízo de reprovabilidade da conduta praticada pelo autor de um crime, isto é, pelo autor de um fato típico e antijurídico. No direito penal vige a teoria subjetiva, por meio da qual é fundamental que se verifique a existência de culpa do agente, sem o que não há que se falar na possibilidade de sua punição. Se adotada a teoria tripartida, ausente a culpabilidade não há que se falar em crime, pois para esta, crime é a conduta típica, antijurídica e culpável. Em contrapartida, se adotada a teoria bipartida, para a qual crime é uma conduta típica e antijurídica, a ausência de culpabilidade não excluirá o crime, mais sim a punibilidade do mesmo. Para esta teoria, a culpabilidade é mero pressuposto para aplicação da pena. São 3 (três) as teorias sobre a culpabilidade:

a) teoria psicológica;

b) teoria psicológico-normativa; e

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c) teoria normativa pura (adotada pelo Código Penal brasileiro).

Segundo a teoria psicológica, a culpabilidade é a ligação entre o agente e o fato criminoso, ligação esta de ordem psíquica que pode decorrer da intenção (dolo) ou da previsibilidade (culpa stricto sensu) do fato. No entanto, a teoria psicológica foi criticada por não distinguir a simples culpabilidade, ou seja, a vontade ou previsibilidade de qualquer conduta humana, da específica culpabilidade penal, que só se verifica quando há lesão a bens penalmente tutelados (MIRABETE, 2006, p. 192). Consequentemente, entendeu-se que somente a culpa e o dolo não bastavam à descrição da culpabilidade, com o que surgiu a teoria psicológico-normativa. Segundo essa teoria, a culpa e o dolo, como elementos de ligação entre o agente e a conduta, devem receber uma valoração normativa, considerando a reprovabilidade da conduta, que só pode ser reputada existente quando demonstrar-se que o agente possuía consciência da sua ilicitude, ou que ao menos possuía condições para obter esse conhecimento (MIRABETE, 2006, p. 192). A teoria psicológico-normativa foi questionada, contudo, por considerar que a culpa e o dolo não poderiam ser reputados como elementos da culpabilidade, mas sim como elementos integrantes da conduta do agente, com o que se criou a teoria normativa pura, teoria esta adotada pelo Código Penal brasileiro. Segundo essa teoria, para que se fale em culpabilidade, que é a reprovabilidade que liga o autor ao fato, exige-se a imputabilidade, a potencial consciência da ilicitude e a exigibilidade de conduta diversa. 4.1 Elementos da culpabilidade Segundo a teoria adotada pelo Código Penal brasileiro (teoria normativa pura), são elementos da culpabilidade:

a) a imputabilidade;

b) a potencial consciência da ilicitude; e

c) a exigibilidade de conduta diversa. 4.1.1 Imputabilidade Só há que se falar em culpabilidade se o agente possuir capacidade para entender o caráter ilícito de sua conduta. A imputabilidade penal decorre da sanidade mental do agente, e reflete sua capacidade de se auto-determinar. Em sentido oposto, inimputável é aquele que não possui consciência para se determinar. O artigo 26 do Código Penal dispõe que, é isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado era, ao tempo da ação ou omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de se determinar de acordo com esse entendimento.

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E há, ainda, os semi-imputáveis, que são aqueles dotados de parcial consciência para se auto-determinar. Nesse caso, a pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude da perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de se determinar de acordo com esse entendimento (art. 26, parágrafo único, do CP). Dentre os critérios existentes para determinação da imputabilidade, destacam-se:

a) o sistema biológico (adotado como exceção pelo Código Penal brasileiro);

b) o sistema psicológico; e

c) o sistema biopsicológico (adotado como regra pelo Código Penal brasileiro).

Segundo o sistema biológico, considera-se inimputável aquele que apresenta alguma anomalia psíquica, tenha ela influenciado ou não a vontade do agente no momento da ação ou omissão (MIRABETE, 2006, p. 207). O Código Penal brasileiro adota esse critério apenas em relação aos menores de 18 anos, por sobre os quais pesa uma presunção absoluta de inimputabilidade. Pelo critério psicológico, basta a verificação da consciência sobre a ilicitude no momento da ação ou omissão (o que gera uma grande dificuldade prática), sendo indiferente se o agente possui ou não alguma anomalia mental. Já o critério biopsicológico é uma combinação dos critérios anteriormente apresentados e é o critério adotado pelo Código Penal brasileiro. Segundo ele:

1º) deve-se verificar se o agente possui alguma anomalia mental:

a) se não possuir, não será considerado inimputável; mas

b) se possuir, deve-se prosseguir na averiguação.

2º) possuindo anomalia mental, deve-se verificar se o agente possuía capacidade para entender o caráter ilícito do fato:

a) se possuir (capacidade para entender o caráter ilícito do fato), não será considerado inimputável; mas

b) se não possuir (capacidade para entender o caráter ilícito do fato) deve-se prosseguir na averiguação.

3º) possuindo anomalia mental e não possuindo capacidade para entender o caráter ilícito do fato, deve-se verificar se o agente era capaz de se auto-determinar:

a) se era, não será considerado inimputável; mas

b) se não era, será considerado inimputável.

Segundo o Código Penal, portanto, adota-se como regra o critério biopsicológico para determinação da inimputabilidade penal, e como exceção o critério biológico, pois seu artigo 27 estipula que os menores de

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18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, sujeitando-se às normas previstas em legislação especial. Segundo o artigo 28 do Código Penal, não excluem a imputabilidade penal:

a) a emoção ou a paixão; e

b) a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos.

Note-se que em relação à embriaguez, o Código Penal menciona que se ela for voluntária ou culposa não tem o condão de excluir a imputabilidade. No entanto, o parágrafo primeiro do mesmo dispositivo estipula que, se a embriaguez for completa e proveniente de caso fortuito ou força maior, fazendo com o agente não fosse, ao tempo da ação ou omissão, plenamente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de se determinar de acordo com esse entendimento, ele será isento de pena. Sobre a embriaguez, ela pode ser:

a) acidental, isto é, decorrente de caso fortuito ou de força maior;

b) não-acidental, isto é, causada pelo próprio agente de forma intencional (dolo) ou em razão de imprudência (culpa);

c) preordenada, isto é, causada pelo próprio agente, que tem o propósito de cometer um crime na sequência; ou

d) patológica, isto é, quando a embriaguez gera efeitos análogos à uma doença mental.

Diferentemente do que ocorre quando se verifica a embriaguez acidental, que tem o condão de excluir a imputabilidade penal, quando se verifica a embriaguez não-acidental não há se falar em exclusão da imputabilidade. Ademais, conforme dispõe o parágrafo segundo do artigo 28 do Código Penal, se a embriaguez proveniente de caso fortuito ou de força maior não for completa, de modo que o agente apresente, ainda que parcialmente, ao tempo da ação ou omissão, capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de se determinar segundo esse entendimento, não será isento de pena, tendo apenas uma redução de um a dois terços em relação a ela. 4.1.2 Potencial consciência da ilicitude Presente a imputabilidade, antes que se fale em culpabilidade há que se falar em potencial consciência da ilicitude. Para que uma pessoa possa ser penalmente punida, deve-se constatar se ela possuía, ao tempo da ação ou omissão, consciência da ilicitude de sua conduta. Sem a consciência da ilicitude, a aplicação da pena perde seu efeito, pois o agente não terá consciência do motivo determinante à punição. Se o agente não sabe ou está impossibilitado de saber que sua conduta é ilícita, ele está diante de um erro de proibição. Se diz erro de proibição pois o agente acredita que está agindo licitamente, ou seja,

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acredita que sua conduta não seja proibida pela lei, com o que incide em erro. A primeira parte do artigo 21 do Código Penal, que dispõe que “o desconhecimento da lei é inescusável” coloca-se em consonância com o artigo 3º, da Lei de Introdução do Código Civil, que dispõe que “ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece”. De fato, o erro sobre a ilicitude do fato não exclui o crime, porém, se inevitável, isenta de pena, e, se evitável, pode diminuí-la de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço). Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência (art. 21, parágrafo único, do Código Penal). Portanto, o erro de proibição inevitável exclui a culpabilidade, o que não ocorre com o erro de proibição evitável, que apenas gera uma redução de pena. 4.1.3 Exigibilidade de conduta diversa Comprovada a imputabilidade do agente, e que este possuía potencial consciência da ilicitude sobre o fato praticado, é indispensável que se demonstre a exigibilidade de conduta diversa, só com o que se poderá falar em culpabilidade. O agente só pode ser penalmente punido se ficar provado que, ao tempo dos fatos, lhe era exigível adotar outra conduta, que não a ilícita. No entanto, se não houver tal possibilidade, não há que se falar em culpabilidade. Dessa forma, são causas de inexigibilidade de conduta diversa:

a) a coação moral irresistível; e

b) a obediência hierárquica à ordem não manifestamente ilegal.

Há coação moral irresistível quando o agente não pode adotar outra conduta que não àquela que lhe é determinada pelo agente coator. Por exemplo, quando o coator manda que o coagido coloque veneno na comida de um terceiro, sob ameaça de matar um familiar caso ele não faça o que lhe foi exigido. O perigo, no entanto, deve ser comprovadamente sério, pois se não for, a coação não será considerada irresistível, e, consequentemente, não excluirá a culpabilidade de coagido. Mediante coação moral resistível configura-se a culpabilidade do coagido, que poderia ter adotado conduta diversa, caso em que ele será beneficiado apenas pela atenuante do artigo 65, inciso III, alínea “c”, do Código Penal. Já quanto a coação física, ela tem o condão de excluir a voluntariedade do agente, e, consequentemente, a conduta, que configura elemento do crime. Sem conduta, não há crime, ao menos não em relação ao coagido. Portanto, quando se fala em coação moral irresistível, se fala em exclusão da culpabilidade, ao passo que quando se fala em coação física irresistível, se fala em exclusão do crime, em relação ao coagido.

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Já no que tange à obediência hierárquica à ordem não manifestamente ilegal, há que se estar atento aos requisitos da modalidade. Primeiramente, obediência hierárquica abrange, tão somente, os atos de Direito Administrativo, estando excluídos os atos de caráter privado, como às ordens entre empregados e empregadores (privados) ou entre familiares. Ademais, exige-se que a ordem repute-se à pática de um ato (aparentemente) legal. Se a ordem do superior hierárquico for para a prática de um ato manifestamente ilegal, o agente não deve praticá-lo, evidentemente, e, se o fizer, responderá pelo crime, gozando apenas da atenuante prevista no artigo 65, inciso III, alínea “c”, do Código Penal. Quando o agente pratica um ato em obediência à ordem hierárquica que não seja manifestamente ilegal, lhe será excluída a culpabilidade, pois não lhe era exigível adotar conduta diversa. Por derradeiro, caso o agente dê cumprimento a ordem ilegal, supondo que esta seja legal, desde que perante entendimento razoável, ele terá incorrido em um erro de proibição evitável, o que lhe reduzirá a pena de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço). 5. Concurso de pessoas Há concurso de pessoas (ou de agentes) sempre que um crime for praticado por mais de uma pessoa. A seguir serão analisadas as relações que podem ligar esses agentes, assim como a consequência jurídica para esses casos. Conforme dispõe o artigo 29 do Código Penal, quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. Com essa redação, o Código Penal brasileiro demonstra que adotou a teoria da conditio sine qua non, segundo a qual todos que concorram para a prática criminosa, em maior ou menor intensidade, serão chamados a por ele responder. Para que se possa falar em concurso de pessoas (ou de agentes) há que estarem presentes os requisitos (MIRABETE, 2006, p. 227):

a) pluralidade de condutas;

b) relevância causal de cada uma das ações;

c) liame subjetivo entre os agentes; e

d) identidade de fato.

À relevância causal da conduta, como mencionado, aplica-se a teoria da conditio sine qua non, só havendo que se falar em concurso em relação às ações dos agentes que tenham relevância para as ações criminosas. Por exemplo, não se pode pretender à punição do proprietário da indústria armamentista, que produziu a arma utilizada no crime. Outro requisito essencial ao concurso de pessoas é a presença de liame subjetivo entre eles, isto é, os agentes devem agir em unidade de desígnios, em co-autoria própria. No entanto, caso duas ou mais pessoas atuem sem liame subjetivo, objetivando a mesma prática delituosa,

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haverá co-autoria imprópria, ou autorial colateral, não havendo que se falar em concurso de agentes. Nesse caso, cada agente responderá, individualmente, pelos atos que tiver praticado. 5.1 Autoria Autor é aquele que pratica o verbo descrito no tipo penal. Por exemplo, no caso do artigo 121 do Código Penal, que tipifica: “matar alguém”; será considerado autor aquele que praticar o verbo: matar. Sobre o conceito de quem seja o autor do crime, 3 (três) são as principais teorias apresentadas pela doutrina:

a) teoria material-objetiva (ou extensiva);

b) teoria formal-objetiva (ou restritiva); e

c) teoria normativa-objetiva (ou teoria do domínio do fato).

Segundo a teoria material-objetiva, autor do crime não é só quem realiza o verbo do tipo penal, mas também quem concorre com qualquer causa para a produção do resultado. Assim, não há que se distinguir entre autor e partícipe. Segundo a teoria formal-objetiva, autor do crime é apenas aquele que realiza o verbo do tipo penal. No entanto, esse conceito não abrange aquele que comete o crime por intermédio de outrem que não atue com culpabilidade, confundindo-se as figuras de autor mediato com partícipe (MIRABETE, 2006, p. 228). Já segundo a teoria normativa-objetiva, autor é aquele que possui o domínio final do crime, possuindo poderes, em alguns casos, para interromper sua execução, inclusive. Para essa teoria, autor é aquele que pode decidir sobre o verbo do tipo penal, enquanto partícipe é apenas um colaborador, sem poderes para decisão finalística em relação ao crime. Conforme orientação da doutrina pátria, a teoria normativa-objetiva deve ser adotada em complemento à teoria formal-objetiva, tendo esta sido acolhida pelo Código Penal e sendo com àquela compatível. 5.2 Co-autoria Co-autor é todo aquele que executa, juntamente com outras pessoas, o verbo descrito no tipo penal. Quando duas ou mais pessoas agridem outra, elas estão praticando o delito de lesões corporais, em co-autoria. Nesse caso, verifica-se a co-autoria se todos os autores praticarem as agressões, assim como se apenas um agredir e os demais segurarem a vítima, de modo a imobilizá-la. A co-autoria é chamada de própria quando os co-autores atuam com unidade de desígnios, mediante um liame subjetivo de intenções. Em contrapartida, chama-se co-autoria imprópria aquela verificada em situações que não consagram a existência de um liame subjetivo entre os autores. Se “A” e “B”, sem unidade de desígnios, atirarem contra “C”, atuarão em co-

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autoria imprópria, o que lhes traduzirá responsabilização isolada em relação ao delito. 5.3 Participação Partícipe é todo aquele que exerce uma atividade acessória em relação à prática, pelo autor, do verbo descrito no tipo penal. Sem o início da prática dos atos de execução, a participação é irrelevante (MIRABETE, 2006, p. 231). A instigação e a cumplicidade são condutas típicas do partícipe. Instigação é o incentivo à prática criminosa, seja para criar a intenção de sua prática, seja para aguçar uma intenção preexistente. Já a cumplicidade é o efetivo auxílio ao autor do crime, mediante a entrega de uma arma para realização do homicídio, por exemplo. 5.4 Autoria mediata Autor mediato é aquele que não pratica, diretamente, o verbo descrito no tipo penal. Para essa prática, ele se vale de uma pessoa que atue sem culpabilidade, como um inimputável, por exemplo. A doutrina aponta como hipóteses nas quais pode se verificar a autoria mediata:

a) a coação moral irresistível;

b) a obediência à ordem hierárquica não manifestamente ilegal;

c) a utilização de instrumento despido de capacidade penal, como no uso de animais, por exemplo; e

d) a provocação de erro de tipo escusável.

Em relação à autoria mediata, ela não se manifesta perante os crimes próprios, tão menos em relação aos de mão-própria. Ademais, também não há que se falar em autoria mediata em relação aos crimes culposos. 5.5 Natureza jurídica do concurso de pessoas Praticado o crime mediante o concurso de pessoas, três teorias são apresentadas pela doutrina para identificação da natureza do crime:

a) teoria unitária (adotada como regra pelo Código Penal);

b) teoria dualística; e

c) teoria pluralística (adotada como exceção pelo Código Penal).

Segundo a teoria unitária, praticados vários crimes por várias pessoas, considera-se existente apenas um delito. A teoria unitária, também chamada de monista, foi adotada como regra pelo Código Penal. Segundo o artigo 29 do mencionado Códex, quem, de qualquer modo, concorre para o crime, incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.

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Portanto, o crime é único, sendo que cada co-autor ou partícipe será responsabilizado na medida de sua culpabilidade. Quando a participação for de menor importância, a pena será reduzida de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço), conforme estipulação do parágrafo primeiro, do artigo 29, do Código Penal. Ademais, se algum dos partícipes quis participar de crime menos grave do que o cometido pelos concorrentes, deve ser-lhe aplicada a pena deste. No entanto, essa pena será aumentada até a metade caso tenha sido previsível o resultado mais grave (art. 29, §2º, do CP). Segundo a teoria dualística, há dois crimes: um para os co-autores e outro para os partícipes, teoria que não é adotada pelo Código Penal brasileiro em nenhuma hipótese. Por derradeiro, segundo a teoria pluralística, cada agente deve ser responsabilizado de maneira individualizada, ainda que suas condutas estejam vinculadas por liame causal. Essa teoria é hipótese excepcional, adotada pelo Código Penal em casos pontuais, como nos seus artigos 124 e 126, que tratam do aborto praticado com o consentimento da gestante. 5.6 Concurso e circunstâncias do crime Conforme disposição do artigo 30 do Código Penal, não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. As elementares integram a estrutura do crime, e caso sejam excluídas ou alteradas provocam a extinção ou alteração do crime. As elementares informam a qualidade do crime, assim como o seu título, cuja descrição encontra-se no caput do tipo penal. Alterada uma situação elementar do crime, esta aproveitará a todos os concorrentes. As circunstâncias, por sua vez, integram dados acessórios e acidentais do crime, cujo condão não é o de excluir o crime, mas apenas o de agravar ou atenuar a pena. Enquanto a descrição das elementares situa-se no caput do tipo penal, a descrição das circunstâncias consta dos parágrafos dos mesmos. As circunstâncias do crime dividem-se em:

a) circunstâncias pessoais (ou subjetivas); e

b) circunstâncias reais (ou objetivas, ou materiais).

Circunstâncias reais são aquelas relacionadas ao fato criminoso, objetivamente considerado, como o tempo, o lugar, os meios de execução e às condições da vítima (MIRABETE, 2006, p. 239). As circunstâncias reais, desde que conhecidas pelos co-autores, a eles de comunicam, assim como se comunicam as elementares. Já as circunstâncias pessoais são aquelas relacionadas ao agente, englobando as relações deste com a vítima e com os co-autores, além de sua própria relação com a vida exterior, como a menoridade, o estado civil etc. As circunstâncias pessoais, diferentemente das reais, não se comunicam, em hipótese alguma. Quando um menor de 21 anos comete uma infração, essa circunstância pessoal não se comunica em benefício dos co-autores e partícipes, por exemplo.

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6. Concurso de crimes Verifica-se o concurso de crimes quando há a prática de dois ou mais crimes, mediante uma ou mais ações ou omissões. Em relação ao tema, são apresentados pela doutrina os seguintes sistemas:

a) do cúmulo material;

b) da absorção; e

c) da exasperação.

Pelo sistema do cúmulo material, deve haver a somatória das penas entre cada crime praticado. O Código Penal adotou o sistema do cúmulo material para o concurso material (art. 69), para o concurso formal imperfeito (art. 70) e para o concurso em relação as penas de multa (art. 72). Pelo sistema da absorção, cometidos dois ou mais crimes, deve-se aplicar somente a pena do mais grave, pois as demais presumem-se absorvidas por esta. A Lei de Falência (Lei n.º 11.101/05) adota esse sistema em relação aos crimes cometidos pelo falido. Já pelo sistema da exasperação, cometidos dois ou mais crimes, deve-se aplicar a pena do mais grave aumentada proporcionalmente, desde que não iguale a quantidade de pena que seria obtida no caso do concurso material. O Código Penal adotou o sistema da exasperação em relação ao concurso formal perfeito (art. 70) e ao crime continuado (art. 71). Sobre as espécies mencionadas, passa-se a discorrer sucintamente sobre elas. 6.1 Concurso material Verifica-se o concurso material quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não. Nesse caso, ser-lhe-á aplicada cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja incorrido (art. 69, do CP). Na hipótese de concorrência de penas de reclusão e detenção, executa-se primeiro a de reclusão, conforme determinação do artigo 69, caput, do Código Penal. Portanto, para que se fale em concurso material, há que se falar em pluralidade de condutas (mais de uma ação ou omissão) e pluralidade de crimes (dois ou mais). Se os crimes praticados forem idênticos, estar-se-á diante de um concurso material homogêneo. Em contrapartida, se os crimes praticados forem diversos, estar-se-á diante de um concurso material heterogêneo. Conforme disposição do parágrafo primeiro, do artigo 69 do Código Penal, nada impede seja fixada pena privativa de liberdade em cumulação à pena restritiva de direitos, desde que tenha havido a suspensão condicional da primeira. No entanto, se à pena privativa de liberdade não houver sido aplicado o sursis, não haverá como cumulá-la com a pena restritiva de direitos.

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Quando ao condenado forem aplicadas apenas penas restritivas de direitos, ele deverá cumprir simultaneamente as que forem compatíveis entre si, e sucessivamente as demais (art. 69, §2º, do CP). 6.2 Concurso formal Verifica-se o concurso formal quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não. Nesse caso, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de 1/6 (um sexto) até a metade. No entanto, as penas aplicam-se, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, conforme disposição atinente ao concurso material. Portanto, para que se fale em concurso formal, há que se falar em unidade de conduta (uma só ou omissão) e pluralidade de crimes (dois ou mais crimes). Se os crimes forem idênticos, estar-se-á diante de um concurso formal homogêneo, caso em que a pena a ser aplicada será a de qualquer dos crimes, acrescida de 1/6 (um sexto) até a metade. Em contrapartida, se os crimes praticados forem diversos, estar-se-á diante de um concurso formal heterogêneo, caso em que a pena a ser aplicada deverá ser a do crime mais grave, acrescida de 1/6 (um sexto) até a metade. Nesses casos, se está a abordar o concurso formal perfeito, que é o descrito na primeira parte do caput do artigo 70 do Código Penal. Já a segunda parte do mencionado dispositivo, apresenta o concurso formal imperfeito, que é aquele que se verifica diante de uma ação ou omissão que possui pluralidade de desígnios. Nesse caso, embora o agente pratique apenas uma conduta, ele tem intenção (dolo) de causar dois ou mais resultados criminosos, o que motiva ser-lhe aplicada a pena somada dos mesmos, assim como ocorre no concurso material. Enquanto no concurso formal perfeito há unidade de desígnios, no concurso formal imperfeito há pluralidade deles, o que impede a aplicação do sistema da exasperação, pertinente apenas para aquele que tenha atuado com unidade de desígnios. Em qualquer caso, a pena aplicada mediante o concurso formal não pode extrapolar aquele que seria cabível caso fossem aplicadas as regras do concurso material (art. 70, parágrafo único, do CP). 6.3 Crime continuado Verifica-se o crime continuado quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro. Nesse caso, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços), conforme redação legal do caput do artigo 71, do Código Penal.

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Portanto, para que se fale em crime continuado, há que se falar em pluralidade de condutas (mais de uma ação ou omissão) e pluralidade de crimes (dois ou mais crimes), embora estes devam ser sempre da mesma espécie, considerando-se também que em razão das condições de tempo, lugar e maneira de execução, os subsequentes devem ser reputados como continuação do primeiro. Reputa-se que os crimes subsequentes sejam continuação do primeiro quando cometidos no intervalo médio de 30 (trinta) dias entre um e outro, quando praticados na mesma cidade ou em cidades próximas, quando o agente se beneficia da condição criada pelo primeiro para prática dos subsequentes etc. Nos crimes dolosos, praticados contra vítimas diferentes, com violência ou grave ameaça à pessoa, o juiz pode, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, assim como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do concurso material e o limite das penas, que não pode ser superior a 30 (trinta) anos (art. 71, parágrafo único, do CP). Caso a aplicação das regras do concurso material se mostre mais benéfico ao réu do que a aplicação das regras da continuidade delitiva, autoriza-se a aplicação do primeiro, o denominado concurso material benéfico. Enquanto o caput do artigo 71 do Código Penal apresenta a hipótese de crime continuado comum, isto é, aqueles praticados sem violência ou grave ameaça à pessoa, o parágrafo único do mesmo dispositivo apresenta a hipótese de crime continuado específico, verificável mediante a prática dolosa de crimes com emprego de violência ou grave ameaça em relação a vítimas diferentes. 7. Penas Por meio das penas atinge-se uma das finalidades do direito penal, que é repressão ao ilícito, período no qual o agente suportará a privação da liberdade ou a restrição de direitos. O caráter repressivo da pena incide sobre o agente, assim como o caráter ressocializador da mesma, que deve propiciar ao condenado meios de retorno ao convívio social, de forma harmônica. Há, ainda, outro efeito decorrente da aplicação da pena, este dirigido à sociedade em geral, que é o efeito preventivo. Quando uma pessoa sofre a punição pelo ilícito, todas as demais que cogitavam incorrer na mesma prática serão forçadas a repensar sua conduta, sob pena de sujeitarem-se à mesma punição. Praticado o crime, a pena torna-se sua principal consequência. Mas a pena é apenas uma espécie de sanção criminal, já que também o é a medida de segurança, abordada em capítulo próprio.

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7.1 Princípios A doutrina aponta como princípios regentes da disciplina legal das penas:

a) princípio da legalidade e anterioridade, segundo o qual somente a lei pode criar as penas, as quais devem estar previstas em momento anterior à prática do crime;

b) princípio da humanização, segundo o qual a pena não pode violar direitos humanos básicos do preso, como suas integridades física e moral;

c) princípio do ne bis in idem, segundo o qual nenhuma pessoa pode ser punida duas vezes pela mesma infração criminosa;

d) princípio da pessoalidade, segundo o qual nenhuma pena passará da pessoa do condenado, embora a obrigação de reparar o dano possa ser transferida aos herdeiros, desde que respeitado o limite do patrimônio do de cujus;

e) princípio da proporcionalidade, segundo o qual deve-se aplicar a pena proporcional à gravidade do crime praticado, do bem jurídico violado e da personalidade do agente; e

f) princípio da inevitabilidade, segundo o qual não se pode evitar a punição estatal após a condenação penal, salvo as exceções legalmente permitidas, como o perdão judicial, o sursis, o livramento condicional, a anistia, o indulto etc. 7.2 Classificação das penas A doutrina costuma apontar como espécies de penas:

a) as corporais;

b) as privativas de liberdade;

c) as restritivas de direitos;

d) as pecuniárias.

As penas corporais são aquelas dirigidas à integridade física do preso, como mutilações, agressões etc (MIRABETE, 2006, p. 247). A pena de morte também se inclui entre as penas corporais. No Brasil, há expressa vedação constitucional à imposição de penas corporais que tenham natureza cruel, assim como a pena de morte, salvo em caso de guerra declarada. As penas privativas de liberdade constituem, atualmente, a principal sanção a ser aplicada aos condenados pela justiça penal. A pena privativa de liberdade retira do preso a liberdade de locomoção, um dos direitos fundamentais da pessoa humana. Contudo, essa privação não pode ser perpétua, pois no Brasil há vedação de qualquer penalidade com esse caráter. As penas restritivas de direitos, como é sugestiva a expressão, restringem determinados direitos do condenado. Dentre as penas restritivas de direitos mais comuns, pode-se citar a proibição de frequentar determinados lugares, a obrigação de se reportar mensalmente ao juízo

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sobre suas ocupações profissionais e a prestação de serviços à comunidade. As penas pecuniárias consistem na redução do patrimônio do condenado em prol do Estado, por meio da pena de multa ou do confisco. Enquanto a pena de multa traduz a necessidade do pagamento de determinada quantia ao Estado, o confisco reflete a entrega de bens a este. Em relação as penas pecuniárias, diferentemente do que ocorre com as penas privativas de liberdade, pode haver transferência do encargo aos sucessores, respeitado o limite do patrimônio do de cujus, naturalmente. No Brasil, segundo o artigo 32 do Código Penal, as penas são:

a) privativas de liberdade;

b) restritivas de direitos;

c) de multa. 7.2.1 Penas privativas de liberdade Como mencionado, as penas privativas de liberdade são as que possuem maior caráter de intimidação, de prevenção em relação à prática do ilícito, já que priva o condenado de um de seus principais direitos: a liberdade de locomoção. Em relação à pena privativa de liberdade vige o princípio da pessoalidade, isto é, em hipótese alguma há que se falar no cumprimento dessa pena por pessoa que não seja o próprio condenado. A pena privativa de liberdade pode ser:

a) de reclusão;

b) de detenção; ou

c) de prisão simples.

A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. Já a pena de detenção deve ser cumprida em regime semi-aberto ou aberto, salvo necessidade de transferência para o regime fechado (art. 33, do CP). Conforme disposição do parágrafo primeiro, do artigo 33 do Código Penal, considera-se:

a) regime fechado: a execução da pena em estabelecimento de segurança máxima ou média; b) regime semi-aberto: a execução da pena em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar; c) regime aberto: a execução da pena em casa de albergado ou estabelecimento adequado.

As penas privativas de liberdade devem ser executadas em forma progressiva, isto é, quanto maior o tempo de cumprimento da pena, menor o rigor do regime aplicado. Para essa progressão, deve-se considerar o mérito do condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses em que se faça necessário a transferência a regime mais rigoroso:

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a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado;

b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito), poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semi-aberto;

c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto.

Iniciado o cumprimento da pena privativa de liberdade em regime fechado, o condenado pode obter a progressão para o regime semi-aberto após o cumprimento de 1/6 (um sexto) da pena, salvo se relacionado a crime hediondo, caso em que só poderá haver progressão de regime após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o condenado for primário, ou 3/5 (três quintos), se for reincidente. No Brasil, não se admite a chamada progressão em saltos, que seria a progressão do regime fechado diretamente para o regime aberto, conforme orientação dos tribunais pátrios. Em sentido oposto, nada impede a regressão em saltos, que é a transferência de um regime menos rigoroso para um mais rigoroso. Portanto, nada impede que um condenado que esteja cumprindo pena em regime aberto seja transferido imediatamente ao regime fechado, caso adote alguma conduta que exija tal postura do Estado. A progressão de regime é direito do condenado, razão pela qual se declarou inconstitucional disposição da Lei dos Crimes Hediondos que determinava o cumprimento das penas em regime integralmente fechado. A expressão “integralmente” foi substituída por “inicialmente”. Em se tratando de pena privativa de liberdade, é vedada a condenação perpétua, sendo que no Brasil o limite máximo para privação da liberdade de uma pessoa é de 30 (trinta) anos. Quando o preso está cumprindo sua pena privativa de liberdade, ele pode exercer atividade laborativa, recordando-se que ele não pode ser impelido à trabalhos forçados, degradantes, desumanos ou cruéis. O trabalho que o preso pode realizar é a ocupação laborativa comum a qualquer pessoa, o que lhe concede o benefício de ter sua pena reduzida na medida de 1 (um) dia de pena por 3 (três) de trabalho, por meio do instituto nominado remição. Exercendo atividade laborativa, o preso tem direito à remuneração e caso sofra um acidente de trabalho, continuará a ser beneficiado pela remição durante o período de seu afastamento. Por derradeiro, cumpre salientar que caso o preso tenha cumprido pena no estrangeiro, ou mesmo no Brasil, em caráter provisório, este período de cumprimento será abatido do período que lhe seja fixado após a condenação, por meio do instituto denominado detração. 7.2.1.1 Regime disciplinar diferenciado (RDD) O regime disciplinar diferenciado (RDD) é um regime mais severo de privação da liberdade. Segundo o artigo 52, da Lei de Execução Penal (Lei n.º 7.210/84), durante a execução da pena, aquele que praticar fato previsto como crime doloso incorre em falta grave e, quando ocasionar subversão da

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ordem ou disciplina interna, sujeita o preso provisório, ou condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado (RDD), que possui as seguintes características:

a) duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta grave de mesma espécie, até o limite de um sexto da pena aplicada;

b) recolhimento em cela individual;

c) visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração de duas horas;

d) o preso terá direito à saída da cela por 2 (duas) horas diárias para banho de sol.

O regime disciplinar diferenciado também pode abrigar presos provisórios ou condenados, nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da sociedade (art. 52, §1º, da LEP). Também sujeita-se ao regime disciplinar diferenciado o preso provisório ou o condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou de participação, a qualquer título, em organizações criminosas, quadrilha ou bando (art. 52, §2º, da LEP). 7.2.2 Penas restritivas de direitos A pena privativa de liberdade deve ser a última alternativa para o condenado, pois é a mais severa. Sempre que possível, deve-se aplicar ao condenado as penas mais adequadas e suficientemente aptas a lhe punir e regenerar. Desse modo, sempre que possível, deve-se substituir a pena privativa de liberdade pela pena restritiva de direitos, especialmente nos dias atuais, em que se conhece a realidade do sistema prisional, que mais corrompe que recupera. Contudo, para que possa haver essa substituição, há que estarem preenchidos determinados requisitos, quais sejam:

a) que a pena privativa de liberdade aplicada não seja superior a 4 (quatro) anos, se o crime for doloso, pois se for culposo a substituição é sempre possível;

b) que e o crime não tenha sido cometido com violência ou grave ameaça à pessoa;

c) que o réu não seja reincidente específico em crime doloso (se a reincidência for genérica, admite-se a substituição das penas se forem favoráveis as circunstâncias descritas abaixo);

d) que a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indiquem que essa substituição é suficiente.

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As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade. Essas penas podem ser:

a) de prestação pecuniária;

b) de perda de bens e valores;

c) de prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas;

d) de interdição temporária de direitos;

e) de limitação de fim de semana.

A prestação pecuniária consiste no pagamento, em dinheiro, à vítima, a seus dependentes ou a entidade pública ou privada com destinação social, de importância fixada pelo juiz, não inferior a 1 (um) salário mínimo nem superior a 360 (trezentos e sessenta) salários mínimos. O valor pago será deduzido do montante de eventual condenação em ação de reparação civil, se coincidentes os beneficiários (art. 45, §1º, do CP). Ademais, a prestação pecuniária pode consistir em prestação de outra natureza, desde que haja aceitação do beneficiário (art. 45, §2º, do CP). A perda de bens e valores do condenado dar-se-á, em benefício do Fundo Penitenciário Nacional, e seu valor terá como teto, o montante do prejuízo causado ou do provento obtido pelo agente ou por terceiro, em consequência da prática do crime, salvo disposição em sentido diverso em legislação especial (art. 45, §3º, do CP). A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas só é aplicável às condenações que sejam superiores a 6 (seis) meses de privação de liberdade (art. 46, caput, do CP). Pela prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas o condenado não receberá qualquer valor pecuniário. Essa prestação de serviços dar-se-á em entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos e outros estabelecimentos congêneres, em programas comunitários ou estatais (art. 46, §2º, do CP). A determinação das tarefas do condenado devem observar as aptidões do mesmo, devendo-se cumprir à razão de uma hora de tarefa por dia de condenação, fixadas de modo que não prejudique a jornada normal de trabalho. Na hipótese da pena substituída ser superior a 1 (um) ano, é facultado ao condenado cumprir a pena substitutiva em menor tempo (art. 55), através da compensação em horas, desde nunca inferior a metade da pena privativa de liberdade fixada. Conforme disposição do artigo 47 do Código Penal, as penas de interdição temporária de direitos são:

a) proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de mandato eletivo;

b) proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação especial, de licença ou autorização do poder público;

c) suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo.

d) proibição de frequentar determinados lugares.

A limitação de fim de semana consiste na obrigação de permanecer, aos sábados e domingos, por 5 (cinco) horas diárias, em casa de albergado

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ou outro estabelecimento adequado (art. 48, caput, do CP). Durante essa permanência, poderão ser ministrados aos condenados cursos e palestras ou atribuídas atividades educativas (art. 48, parágrafo único, do CP). Quando a condenação for igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por multa ou por uma pena restritiva de direitos. Se a condenação for superior a um ano, a pena privativa de liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de direitos e multa ou por duas restritivas de direitos (art. 44, §2º, do CP). Conforme disposição do parágrafo quarto, do artigo 44 do Código Penal, a pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento injustificado da restrição imposta. Nesse caso, ao se realizar o cálculo da pena privativa de liberdade a executar, deve-se deduzir o tempo cumprido da pena restritiva de direitos, respeitado-se o saldo mínimo de trinta dias de detenção ou reclusão. E sobrevindo condenação a pena privativa de liberdade, por outro crime, durante o cumprimento de pena restritiva de direitos, o juiz da execução penal deverá decidir sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for possível ao condenado cumprir a pena substitutiva anterior. 7.2.3 Pena de multa A pena de multa pode ser fixada de maneira isolada, cumulativa ou alternativa, a depender da hipótese concreta de condenação. Essa pena consiste no pagamento, ao fundo penitenciário, de quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. A pena de multa deve respeitar os limites mínimo de 10 (dez), e máximo de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa. O valor do dia-multa deve ser fixado pelo juiz e não poderá ser inferior a um trigésimo do salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a 5 (cinco) vezes esse salário (art. 49, §1º, do CP). Transitada em julgado a sentença, a multa deve ser paga dentro de 10 (dez) dias, pagamento que pode ser parcelado a requerimento da parte e deferimento do juiz. Admite-se que a a cobrança da pena de multa seja realizada mediante desconto no vencimento ou salário do condenado quando:

a) aplicada isoladamente;

b) aplicada cumulativamente com pena restritiva de direitos; ou

c) concedida a suspensão condicional da pena.

Contudo, os descontos não podem privar o condenado e seus familiares dos recursos indispensáveis à subsistência. Atualmente, caso a pena de multa não seja paga, não se pode convertê-la em pena privativa de liberdade, diante da revogação do dispositivo legal que trazia tal permissivo. Não sem razão, pois para a cobrança da pena de multa deve-se adotar os meios executivos próprios, e não a privação de liberdade. Se a pena de multa não for paga, ela será inscrita perante a Dívida Ativa da Fazenda Pública, e seguirá o seu rito ordinário de execução,

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inclusive no que se refere às causas suspensivas e interruptivas da prescrição, conforme orientação do artigo 51 do Código Penal. Por derradeiro, conforme dispõe o artigo 52 do Código Penal, se sobrevier doença mental ao acusado deverá ser suspensa a execução da pena de multa. 7.3 Aplicação da pena Para aplicação da pena, o juiz deve atender à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, assim como ao comportamento da vítima, estabelecendo, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime:

a) as penas aplicáveis dentre as cominadas;

b) a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;

c) o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade;

d) a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível.

Observadas as orientações acima mencionadas, dadas pelo artigo 59 do Código Penal, tem-se a fixação da pena-base do condenado, como reflexo da primeira fase de aplicação da pena. Sobre essas fases existem, basicamente, dois métodos:

a) o bifásico; e

b) o trifásico (adotado pelo Código Penal brasileiro).

Pelo sistema bifásico, a primeira fase de aplicação da pena serve para fixação da pena-base e para a verificação das circunstâncias atenuantes e agravantes, enquanto a segunda fase serve para aplicação das causas de aumento e de diminuição da pena. Já pelo sistema trifásico, adotado pelo Código Penal brasileiro:

1) a primeira fase destina-se à fixação da pena base;

2) a segunda fase destina-se à verificação das circunstâncias atenuantes e agravantes; e

3) a terceira fase destina-se à verificação das causas de aumento e diminuição da pena.

Se afirma que no Brasil foi adotado a teoria trifásica em análise do texto legal do artigo 68 do Código Penal, que dispõe que “a pena-base será fixada atendendo-se ao critério do art. 59 deste Código; em seguida serão consideradas as circunstâncias atenuantes e agravantes; por último, as causas de diminuição e de aumento”.

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7.3.1 Primeira fase: circunstâncias judiciais A primeira fase de aplicação da pena tem a finalidade de fixar a pena-base do condenado. Para tanto, consideram-se as circunstâncias descritas no artigo 59 do Código Penal, as quais devem ser fixadas a partir de atividade discricionária do juiz. Essas circunstâncias, conforme orientação do artigo 59 do Código Penal são:

a) a culpabilidade (do agente);

b) os antecedentes (do agente);

c) a conduta social (do agente);

d) a personalidade (do agente);

e) os motivos (do crime);

f) as circunstâncias (do crime);

g) as consequências (do crime); e

h) o comportamento da vítima.

Embora haja um juízo discricionário do juiz quanto à fixação da pena-base a partir das circunstâncias acima mencionadas, a decisão em que ocorrer essa fixação deve ser sempre fundamentada, conforme determinação constitucional. Ademais, essa fixação não pode ser inferior ao mínimo legalmente determinado para o tipo penal praticado, tão menos superar o máximo da pena abstratamente prevista. 7.3.2 Segunda fase: circunstâncias atenuantes e agravantes As circunstâncias atenuantes e agravantes do delito não se resumem às previstas na Parte Geral do Código Penal, podendo estar previstas também em legislação especial. O artigo 61 do Código Penal dispõe que são circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime:

I - a reincidência;

II - ter o agente cometido o crime:

a) por motivo fútil ou torpe;

b) para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime;

c) à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa do ofendido;

d) com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que podia resultar perigo comum;

e) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge;

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f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou com violência contra a mulher na forma da lei específica;

g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério ou profissão;

h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida;

i) quando o ofendido estava sob a imediata proteção da autoridade;

j) em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou qualquer calamidade pública, ou de desgraça particular do ofendido;

l) em estado de embriaguez preordenada.

Já o artigo 62 do Código Penal estipula circunstâncias agravantes no caso de concurso de pessoas. Segundo aludido dispositivo, a pena será ainda agravada em relação ao agente que:

I - promove, ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos demais agentes;

II - coage ou induz outrem à execução material do crime;

III - instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade ou não-punível em virtude de condição ou qualidade pessoal;

IV - executa o crime, ou nele participa, mediante paga ou promessa de recompensa.

Na hipótese de uma agravante genérica constituir também uma qualificadora do crime, esta prevalece sobre àquela, não podendo ambas serem aplicadas, sob pena de bis in idem. Em contrapartida, segundo disposição do artigo 65 do Código Penal, são circunstâncias que sempre atenuam a pena:

I - ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70 (setenta) anos, na data da sentença;

II - o desconhecimento da lei;

III - ter o agente:

a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral;

b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as consequências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano;

c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima;

d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime;

e) cometido o crime sob a influência de multidão em tumulto, se não o provocou.

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E, consoante orientação do artigo 66 do Código Penal, a pena poderá ainda ser atenuada em razão de circunstância relevante, anterior ou posterior ao crime, embora não prevista expressamente em lei. Por derradeiro, no caso de concurso entre agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias que forem preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos motivos determinantes do crime, da personalidade do agente e da reincidência. 7.3.2.1 Reincidência Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no país ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior (art. 63, do CP). A reincidência é a primeira circunstância agravante do crime, e divide-se em:

a) genérica; e

b) específica.

Reincidência genérica é a nova prática, após condenação anterior transitada em julgado, de qualquer outro crime que não seja idêntico ao que motivou a condenação anterior. Por exemplo, se após o trânsito em julgado da decisão que condena o agente por homicídio, ele praticar um furto, será reincidente genérico. Já a reincidência específica é a nova prática, após a condenação anterior transitada em julgado, do mesmo crime que motivou a condenação anterior. Por exemplo, se após o trânsito em julgado da decisão que condena o agente por homicídio, ele praticar outro homicídio, será reincidente específico. A reincidência específica é mais grave e impede, por exemplo, a substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos, conforme determinação do artigo 44, parágrafo terceiro, do Código Penal. Cumpre expor, que a doutrina ainda classifica a reincidência em real ou ficta. Considera-se reincidente real aquele que tenha praticado nova infração criminal após o cumprimento da pena pela prática anterior, e, considera-se reincidente ficto aquele que tenha praticado nova infração criminal antes do cumprimento da pena pela prática criminosa anterior. Conforme dispõe o artigo 64, inciso I, do Código Penal, para efeito de reincidência, não prevalece a condenação anterior, se entre a data do cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior tiver decorrido período de tempo superior a 5 (cinco) anos, computado o período de prova da suspensão ou do livramento condicional, desde que não ocorrido sua revogação. Ademais, para efeito da reincidência também não se consideram os crimes militares próprios, nem os políticos (art. 64, II, do CP). Por derradeiro, é importante frisar que também não induzem reincidência: as contravenções penais, a realização de transação penal nos moldes dos Juizados Especiais Criminais, a aplicação do perdão judicial para infração anterior e o crime praticado antes e consumado depois do trânsito em julgado da infração penal anterior.

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7.3.3 Terceira fase: causas de aumento e de diminuição As causas de aumento e de diminuição da penas são os últimos elementos a serem considerados antes da efetiva fixação da pena. Enquanto as circunstâncias agravantes e atenuantes influenciam genericamente à fixação da pena, já que essa fixação depende da discricionariedade jurisdicional, as causas de aumento e de diminuição de pena sempre são apresentadas em frações, previamente determinadas. As causas de aumento e de diminuição da pena estão previstas na Parte Geral e também na Parte Especial do Código Penal. Por exemplo, o artigo 14, parágrafo único, na Parte Geral do Código Penal, dispõe que a tentativa deve ser punida com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços). Já o artigo 121, parágrafo quarto, na Parte Especial do Código Penal, dispõe que no homicídio culposo, a pena deve ser aumentada de 1/3 (um terço), se o crime for resultado de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou quando o agente deixar de prestar imediato socorro à vítima, não procurar diminuir as consequências do seu ato, ou fugir para evitar prisão em flagrante. No concurso de causas de aumento e de diminuição de pena previstas na Parte Especial do Código Penal, o juiz pode limitar-se a um só aumento ou a uma só diminuição, prevalecendo, no entanto, a causa que mais a aumente ou diminua, conforme expressa orientação do parágrafo único, do artigo 68 do Código Penal. 7.4 Direitos e deveres dos presos Finda as fases de aplicação da pena, o condenado será sentenciado e lhe será fixado o regime para cumprimento de sua pena. Recolhido em estabelecimento prisional, o preso tem como direitos (art. 41, da LEP):

a) alimentação suficiente e vestuário;

b) atribuição de trabalho e sua remuneração;

c) Previdência Social;

d) constituição de pecúlio;

e) proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a recreação;

f) exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas anteriores, desde que compatíveis com a execução da pena;

g) assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa;

h) proteção contra qualquer forma de sensacionalismo;

i) entrevista pessoal e reservada com o advogado;

j) visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados;

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k) chamamento nominal;

l) igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da individualização da pena;

m) audiência especial com o diretor do estabelecimento;

n) representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito;

o) contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros meios de informação que não comprometam a moral e os bons costumes.

p) atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da responsabilidade da autoridade judiciária competente.

Em contrapartida, são deveres do preso (art. 39, da LEP):

a) comportamento disciplinado e cumprimento fiel da sentença;

b) obediência ao servidor e respeito a qualquer pessoa com quem deva relacionar-se;

c) urbanidade e respeito no trato com os demais condenados;

d) conduta oposta aos movimentos individuais ou coletivos de fuga ou de subversão à ordem ou à disciplina;

e) execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas;

f) submissão à sanção disciplinar imposta;

g) indenização à vitima ou aos seus sucessores;

h) indenização ao Estado, quando possível, das despesas realizadas com a sua manutenção, mediante desconto proporcional da remuneração do trabalho;

i) higiene pessoal e asseio da cela ou alojamento;

j) conservação dos objetos de uso pessoal. 8. Medida de segurança Enquanto as penas são aplicáveis ao imputáveis, as medidas de segurança aplicam-se ao inimputáveis. Quanto aos semi-imputáveis, eles podem sofrer a aplicação de uma pena reduzida ou podem sujeitar-se à medida de segurança, a depender da situação concreta. Para aplicação da medida de segurança, o Código Penal brasileiro adota o sistema vicariante, segundo o qual não se pode adotar, cumulativamente, pena privativa de liberdade e medida de segurança para os inimputáveis e para os semi-imputáveis. É em razão do sistema vicariante que os inimputáveis estão sujeitos, apenas, a medida de segurança, enquanto que os semi-imputáveis estão sujeitos a penas privativas de liberdade de menor duração ou medida de segurança. A pena prevista para o crime praticado pelo agente sujeito à medida de segurança é determinante para saber se esta será detentiva ou restritiva. Medida de segurança detentiva é aquela aplicada para o condenado por crime apenado com pena de reclusão, hipótese em que ele ficará

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internado em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta deste, em outro estabelecimento adequado (art. 96, I, do CP). Já a medida de segurança restritiva é aquela aplicada para o condenado por crime apenado com pena de detenção, hipótese em que ele se sujeitará apenas a tratamento ambulatorial, sendo desnecessária a internação (art. 96, II, do CP). Se for extinta a punibilidade, não se impõe a medida de segurança, tão pouco subsiste a que tenha sido imposta. A duração da medida de segurança é absolutamente variável, a depender da reabilitação do condenado. A internação ou o tratamento ambulatorial deve ser fixado por tempo indeterminado, perdurando enquanto não for averiguada, mediante perícia médica, a cessação da periculosidade. Contudo, deve ser fixado um prazo mínimo para a medida de segurança, que deve ser de 1 (um) a 3 (três) anos. A perícia médica deve ser realizada com o término do prazo mínimo fixado, e deve ser repetida de ano em ano, ou a qualquer momento, se o determinar o juiz da execução (art. 97, §2º, do CP). A desinternação, ou a liberação, deve ser sempre condicional, e deve ser restabelecida a situação anterior se o agente, antes do decurso de 1 (um) ano, praticar qualquer fato indicativo da persistência de sua periculosidade, nos termos do parágrafo terceiro, do artigo 97, do Código Penal. Se durante o período de simples tratamento ambulatorial o juiz constatar a necessidade de internação do agente, deve determiná-la imediatamente, desde que com objetivos curativos (art. 97, §4º, do CP). Por derradeiro, para que se fale em medida de segurança, há que se falar em fato típico, pois não há como se aplicar medida de segurança em relação a uma contravenção penal, por exemplo. E deve haver também periculosidade, que pode ser presumida quando se tratar de inimputáveis, ou real quando se tratar de semi-imputáveis. 9. Suspensão condicional da pena – sursis A suspensão condicional da pena (ou sursis), como é indutiva a expressão, permite ao condenado ver suspensa a execução de sua pena privativa de liberdade. Conforme disposição do artigo 77 do Código Penal, a execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá ser suspensa, por período de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que:

a) o condenado não seja reincidente em crime doloso;

b) a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do benefício;

c) não seja indicada ou cabível a substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos.

Sobre a suspensão condicional da pena, existem 3 (três) modelos:

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a) o anglo-americano;

b) o do probation of first offenders act (adotado pela Lei n.º 9.099/95); e

c) o franco-belga (adotado pelo Código Penal brasileiro).

Pelo sistema anglo americano, ainda que o juiz reconheça a culpabilidade do agente, pode suspender o processo. Pelo sistema do probation of first offenders act, o juiz só pode suspender o processo em momento que ainda não conheça a culpabilidade do agente. Esse sistema é adotado pela Lei n.º 9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais). E pelo sistema franco-belga, adotado pelo Código penal pátrio, o juiz deve proferir sentença condenatória, fixar a pena e somente então, se constatar o preenchimento dos requisitos legais, suspender condicionalmente a pena do agente. Não impede a concessão do sursis a condenação em crime doloso e depois em culposo, nem a condenação em crime culposo e depois em doloso, pois o texto legal é claro ao vedar apenas a concessão para o réu que seja reincidente em crime doloso. Nesse sentido, também não impede a concessão do sursis a condenação anterior por contravenção, crime militar próprio ou crime político. Outras situações que, uma vez concedidas em relação ao crime anterior, não impedem a concessão do sursis são: o perdão judicial, a anistia, a abolitio criminis, ou qualquer causa extintiva da punibilidade. Ademais, conforme orientação do parágrafo primeiro, do artigo 77 do Código Penal, a condenação anterior à pena de multa não impede a concessão do sursis. A execução da pena privativa de liberdade, quando não superior a 4 (quatro) anos, poderá ser suspensa, por 4 (quatro) a 6 (seis) anos, desde que o condenado seja maior de 70 (setenta) anos de idade, ou razões de saúde justifiquem a suspensão (art. 77, §2º, do CP). São 4 (quatro) as espécies de sursis:

a) o simples;

b) o especial;

c) o etário; e

d) o humanitário.

O sursis simples é aquele que obriga o condenado a prestar serviços à comunidade ou que lhe restringe os finais de semana (art. 78, §1º, do CP). O sursis especial é aquele em que, ao invés de determinar ao condenado a prestação de serviços à comunidade ou limitar-lhe o final de semana, lhe são aplicadas as seguintes atividades (art. 78, §2º, do CP):

a) proibição de frequentar determinados lugares;

b) proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do juiz;

c) comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades.

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O sursis etário é aquele concedido aos que, na data da sentença, possuam mais de 70 (setenta) anos de idade e que tenha sido condenados à pena privativa de liberdade não superior a 4 (quatro) anos. Já o sursis humanitário (ou profilático) é o concedido ao condenado que esteja em grave situação de saúde, desde que a pena não supere 4 (quatro) anos. Para concessão do benefício da suspensão condicional da pena, o condenado deve preencher os requisitos legais, e durante seu período, chamado de período de prova, ele deve pautar sua conduta conforme os mandamentos legais, ou legais e judiciais, sob pena de revogação do benefício. Conforme redação do artigo 81 do Código Penal, é causa obrigatória de revogação da suspensão condicional da pena:

a) a condenação, em sentença irrecorrível, por crime doloso;

b) a frustração, embora solvente, da execução da pena de multa ou a não efetuação, sem motivo justificado, da reparação do dano; e

c) o descumprimento da prestação de serviços à comunidade ou limitação do final de semana.

Em contrapartida, conforme redação do parágrafo primeiro do artigo 81, do Código Penal, é causa facultativa de revogação do sursis, o descumprimento, pelo condenado, de qualquer condição imposta, ou a condenação irrecorrível por crime culposo ou contravenção, a pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos. Nesse caso, o juiz pode optar pela revogação do benefício, ou pode prorrogá-lo até o máximo possível. Se após concedido, o sursis for revogado, o condenado deverá cumprir integralmente a pena a que foi condenado. No entanto, se expirado o prazo sem que tenha havido revogação, considera-se extinta a pena privativa de liberdade (art. 82, do CP). 10. Livramento condicional O livramento condicional não deve ser confundido com a suspensão condicional da pena. Enquanto esta pressupõe apenas a condenação, sem o início do cumprimento da pena, aquele pressupõe a condenação, mais o cumprimento de determinada quantia de pena. São requisitos para concessão do livramento condicional:

a) cumprir mais de 1/3 (um terço) da pena se o condenado não for reincidente em crime doloso e tiver bons antecedentes;

b) cumprir mais da metade da pena se o condenado for reincidente em crime doloso;

c) comprovar comportamento satisfatório durante a execução da pena, bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído e aptidão para prover à própria subsistência mediante trabalho honesto;

d) ter reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano causado pela infração;

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e) cumprir mais de 2/3 (dois terços) da pena, nos casos de condenação por crime hediondo, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, e terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes dessa natureza.

E no caso de condenação por crime doloso, cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, a concessão do livramento fica também condicionada à constatação de condições pessoais que façam presumir que o liberado não voltará a delinquir (art. 83, parágrafo único, do CP). Concedido o livramento condicional, o condenado permanecerá nessa condição até o término do período de sua pena, desde que não cometa nenhum fato que gere a revogação do benefício. Negado o benefício, é cabível o recurso de agravo. Conforme artigo 86 do Código Penal, revoga-se o livramento condicional:

a) se o liberado for condenado a pena privativa de liberdade, em sentença irrecorrível, por crime cometido durante a vigência do benefício;

b) se o liberado for condenado a pena privativa de liberdade, em sentença irrecorrível, por crime anterior a vigência do benefício;

c) se o liberado não cumprir as condições fixadas pelo juiz na sentença de livramento;

d) se o liberado for condenado, em sentença irrecorrível, por crime ou contravenção, ainda que a pena não seja privativa de liberdade.

Nas duas últimas situações, é facultado ao juiz revogar o benefício, podendo deixar de fazê-lo se julgar oportuno, o que não ocorre quando constatada alguma das duas primeiras situações. Uma vez revogado o livramento condicional, ele não poderá ser novamente concedido, e, salvo quando a revogação resulta de condenação por outro crime anterior àquele benefício, não se desconta na pena o tempo em que esteve solto o condenado (art. 88, do CP). Ademais, não pode o juiz declarar extinta a pena, enquanto não transitar em julgado a sentença de processo a que responde o liberado, por crime cometido na vigência do livramento (art. 89, do CP). Não sendo revogado até seu término, considera-se extinta a pena privativa de liberdade, conforme disposição do artigo 90 do Código Penal. 11. Efeitos da condenação Além da fixação da pena, outros efeitos decorrem da condenação penal. O artigo 91 do Código Penal estipula os efeitos genéricos da condenação:

I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime;

II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé:

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a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito;

b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso.

Já o artigo 92, também do Código Penal, estipula efeitos específicos em relação à condenação penal:

I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:

a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública;

b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos.

II - a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, nos crimes dolosos, sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou curatelado; (

III - a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso.

No caso dos efeitos específicos, eles não são automáticos, devendo ser expressa e motivadamente declarados em sentença (art. 92, parágrafo único, do CP). 12. Reabilitação A reabilitação alcança quaisquer penas aplicadas em sentença definitiva, e assegura ao condenado o sigilo dos registros sobre seu processo e condenação (art. 93, caput, do CP). E a reabilitação pode não se limitar aos efeitos genéricos da condenação, alcançando também os efeitos específicos, embora estando vedada a reintegração na situação anterior nos casos de:

a) perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:

a.1) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública;

a.2) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos.

b) incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, nos crimes dolosos, sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou curatelado.

Pode-se requerer a reabilitação após o decurso de 2 (dois) anos do dia em que for extinta, por qualquer modo, a pena ou terminar sua execução, computando-se o período de prova da suspensão e o do livramento

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condicional, desde que não sobrevenha revogação, e desde que o condenado:

a) tenha tido domicílio no País no prazo acima referido;

b) tenha dado, durante esse tempo, demonstração efetiva e constante de bom comportamento público e privado;

c) tenha ressarcido o dano causado pelo crime ou demonstre a absoluta impossibilidade de o fazer, até o dia do pedido, ou exiba documento que comprove a renúncia da vítima ou novação da dívida.

Quando for negada a reabilitação, ela poderá ser novamente requerida, a qualquer tempo, desde que o pedido seja instruído com novos elementos comprobatórios dos requisitos necessários (art. 94, parágrafo único, do CP). A reabilitação pode ser revogada, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, se o reabilitado for condenado, como reincidente, por decisão definitiva, a pena que não seja de multa (art. 95, do CP). 13. Extinção da punibilidade A punibilidade é a consequência do delito praticado. Por isso, ainda que extinta a punibilidade, isto não implica dizer que também o delito está extinto, salvo nas hipóteses de abolitio criminis e anistia, como será analisado. Conforme redação do artigo 107 do Código penal, extingue-se a punibilidade:

a) pela morte do agente;

b) pela anistia, graça ou indulto;

c) pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso;

d) pela prescrição, decadência ou perempção;

e) pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada;

f) pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite;

g) pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.

É importante destacar a disposição do artigo 108 do Código Penal, segundo o qual a extinção da punibilidade de crime que seja pressuposto, elemento constitutivo ou circunstância agravante de outro a ele não se estende. Nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de um deles não impede, quanto aos outros, a agravação da pena resultante da conexão. Portanto, como afirmado, a punibilidade é mera consequência do crime praticado, sendo que sua extinção não altera a substância deste. No caso da morte do agente, que é caráter personalíssimo de extinção da punibilidade, não há comunicação em relação aos co-autores nem aos partícipes.

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A anistia é a exclusão do crime e, consequentemente, de suas consequências penais, cuja atribuição para concessão é exclusiva do Congresso Nacional, por meio de lei ordinária dotada de efeitos retroativos e irrevogáveis. A graça, diferentemente da anistia, não tem efeitos gerais, mas individuais, passível de concessão mediante ato do Presidente da República, e não exclui o crime, mas apenas a punibilidade. O indulto, por sua vez, é um benefício de caráter coletivo, concedido mediante ato do Presidente da República (decreto), e também não exclui o crime, mas apenas a punibilidade. A retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso é a abolitio criminis, hipótese que exclui não apenas a punibilidade, mas o próprio crime. As hipóteses de prescrição, isto é, da perda do direito de punir do Estado, serão autonomamente apresentadas. Já a decadência se verifica mediante a inércia do ofendido, o que lhe retira o direito de ajuizar uma ação penal privada. Para esses casos, há prazo decadencial de 6 (seis) meses, contados a partir da data do descobrimento da autoria delituosa, pelo ofendido, para que seja ajuizada a ação penal privada, sob pena decadência. Mas não apenas, já que a decadência também pode se manifestar nos casos de ação penal pública condicionada a representação e nos casos de ação penal privada subsidiária da pública. A perempção, por sua vez, é a perda do direito do ofendido prosseguir na ação, também em razão da manifestação de inércia durante seu trâmite. Diferentemente da decadência, passível de verificação na ação penal privada, na ação penal pública condicionada à representação e na ação penal privada subsidiária da pública, a perempção só pode ser verificada nas ações exclusivamente privadas. Conforme o artigo 60 do Código de Processo Penal, considera-se perempta a ação:

a) quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos;

b) quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36;

c) quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais;

d) quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor.

A renúncia ao direito de queixa, nos casos de ação penal privada, também é causa de extinção da punibilidade, ato que só pode ser manifestado antes do ajuizamento da mesma, naturalmente. Após o ajuizamento, o que pode haver é o perdão do ofendido ao agressor, caso em que esse perdão deve ser aceito, só com o que restará extinta a punibilidade.

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A retratação do agente, naqueles casos autorizados por lei, também pode extinguir a punibilidade. Verifica-se a retratação quando o agressor confessa, retratando-se do que havia afirmado anteriormente. Essa retratação não depende da aceitação do ofendido e deve ser feita antes da prolação da sentença. O típico exemplo de retratação como ato extintivo da punibilidade é o falso testemunho ou falsa perícia, no qual o fato deixa de ser punível se, antes antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade. O perdão judicial, diferentemente do perdão do ofendido, não depende de aceitação do réu. Ele deve ser concedido pelo juiz assim que se verifique o preenchimento das condições determinadas por lei, constituindo verdadeiro direito subjetivo do réu. É caso de perdão judicial, por exemplo, a subtração de incapazes de que se tenha a guarda, desde que o incapaz seja devolvido sem ter sofrido maus-tratos ou privações, conforme dispõe o artigo 249, parágrafo segundo, do Código Penal. 13.1 Prescrição A prescrição é a perda do direito de punir, ou de executar a pena, por parte do Estado, em razão da inércia. O instituto da prescrição impede que haja punição após o decurso de certo lapso temporal, pois a aplicação da pena já não atingirá a finalidade que motivara sua cominação. Via de regra, todos os crimes estão sujeitos à prescrição, salvo o racismo e a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático. A prescrição pode se manifestar em relação ao direito de punir (prescrição da pretensão punitiva), e em relação ao direito de executar a pena (prescrição da pretensão executória). 13.1.1 Prescrição antes do transito em julgado da sentença condenatória A prescrição antes do trânsito em julgado da sentença condenatória regula-se pela pena máxima abstratamente prevista para o crime, verificando-se:

a) em 20 (vinte) anos, se o máximo da pena é superior a 12 (doze);

b) em 16 (dezesseis) anos, se o máximo da pena é superior a 8 (oito) anos e não excede a 12 (doze);

c) em 12 (doze) anos, se o máximo da pena é superior a 4 (quatro) anos e não excede a 8 (oito);

d) em 8 (oito) anos, se o máximo da pena é superior a 2 (dois) anos e não excede a 4 (quatro);

e) em 4 (quatro) anos, se o máximo da pena é igual a 1 (um) ano ou, sendo superior, não excede a 2 (dois);

f) em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um) ano.

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Quando se considera a pena abstratamente prevista para o crime, para o fim de calcular o prazo prescricional, se está diante da prescrição da pretensão punitiva propriamente dita. Os prazos mencionados também se prestam ao cálculo da prescrição em relação a pena que já tenha sido aplicada em sentença condenatória. E para o cômputo prescricional das penas restritivas de direitos aplicam-se os mesmo prazos utilizados para as penas privativas de liberdade (art. 109, parágrafo único, do CP). 13.1.2 Prescrição depois do transito em julgado da sentença condenatória A prescrição depois de transitar em julgado a sentença condenatória regula-se pela pena aplicada e verifica-se nos prazos fixados no artigo 109, os quais se aumentam de 1/3 (um terço) se o condenado for reincidente, conforme determina o caput do artigo 110 do Código Penal. Se já tiver sido proferida sentença condenatória, sem trânsito em julgado, é possível a ocorrência da prescrição da pretensão punitiva intercorrente (ou superveniente). Essa modalidade visa evitar a utilização de recursos protelatórios por parte do réu e só tem início após o trânsito em julgado da sentença em relação ao Ministério Público, ou o julgamento pela improcedência do seu recurso. Conforme atual redação do parágrafo primeiro do artigo 110, do Código Penal, a prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa. O termo inicial da prescrição da pretensão punitiva intercorrente é o dia da publicação da sentença condenatória com trânsito em julgado para o Ministério Público ou para o querelante, e o termo final é a data da sessão do julgamento do recurso pelo tribunal. Já a prescrição retroativa, que é aquela que se conta para trás, antes prevista no artigo 110, parágrafo segundo, do Código Penal, foi revogada pela Lei n.º 12.234/2010. No entanto, conforme tem-se apontado, ela apenas foi extinta em relação à data do fato e a data do recebimento da denúncia ou queixa, mas subsiste em relação à data do recebimento da denúncia ou queixa e a data da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação. 13.1.3 Termo inicial da prescrição antes de transitar em julgado a sentença condenatória O termo inicial da contagem do prazo prescricional começa a correr:

a) do dia em que o crime se consumou;

b) no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade criminosa;

c) nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência;

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d) nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de assentamento do registro civil, da data em que o fato se tornou conhecido. 13.1.4 Termo inicial da prescrição depois de transitar em julgado a sentença condenatória Após a sentença condenatória, a prescrição começa a correr:

a) do dia em que transita em julgado a sentença condenatória, para a acusação, ou a que revoga a suspensão condicional da pena ou o livramento condicional;

b) do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o tempo da interrupção deva computar-se na pena.

Nesse caso, se está diante da hipótese de prescrição da pretensão executória, e seus prazos observam as regras do artigo 109 do Código Penal. E conforme determina o artigo 113 do Código Penal, no caso de evadir-se o condenado ou de revogar-se o livramento condicional, a prescrição deve ser regulada pelo tempo que resta da pena. 13.1.5 Prescrição da multa Ocorre a prescrição da pena de multa:

a) em 2 (dois) anos, quando a multa for a única cominada ou aplicada;

b) no mesmo prazo estabelecido para prescrição da pena privativa de liberdade, quando a multa for alternativa ou cumulativamente cominada ou cumulativamente aplicada. 13.1.6 Redução dos prazos de prescrição Conforme determinação legal do artigo 115 do Código Penal, são reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença, maior de 70 (setenta) anos. 13.1.7 Suspensão e interrupção da prescrição Em se tratando de prescrição, o curso de seu prazo pode ser suspenso:

a) enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o reconhecimento da existência do crime;

b) enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro;

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c) durante o tempo em que o condenado permanecer preso por outro motivo.

Consabido, a suspensão motiva a paralisação da contagem do prazo, o qual tem seu prosseguimento tão logo cesse o motivo que determinou sua estagnação. Em contrapartida, a interrupção gera o reinício da contagem completa do prazo prescricional. Segundo o artigo 117 do Código Penal, o curso da prescrição interrompe-se:

a) pelo recebimento da denúncia ou da queixa;

b) pela pronúncia;

c) pela decisão confirmatória da pronúncia;

d) pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis;

e) pelo início ou continuação do cumprimento da pena;

f) pela reincidência.

Com exceção do marco interruptivo pelo início ou continuação do cumprimento da pena, ou pela reincidência, os demais casos produzem efeitos em relação a todos os autores do crime. Nos crimes conexos, que sejam objeto do mesmo processo, estende-se aos demais a interrupção relativa a qualquer deles (art. 117, §1º, do CP). Conforme determinação do artigo 118 do Código Penal, as penas mais leves prescrevem com as mais graves. E havendo concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um isoladamente (art. 119, do CP). Assim, no concurso de crimes, o prazo prescricional deve ser contado isoladamente, não sendo computado pela soma ou pelo acréscimo decorrente do concurso.

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1. Crimes em espécie Na Parte Especial, o Código Penal aborda os crimes em espécie, divididos didaticamente em relação aos bens juridicamente tutelados. Na Parte Especial, o legislador dividiu o Código Penal em 11 (onze) Títulos, quais sejam:

a) crimes contra a pessoa;

b) crimes contra o patrimônio;

c) crimes contra a propriedade imaterial;

d) crimes contra a organização do trabalho;

e) crimes contra o sentimento religioso e contra o respeito aos mortos;

f) crime contra os costumes;

g) crimes contra a família;

h) crimes contra a incolumidade pública;

i) crimes contra a paz pública;

j) crimes contra a fé pública; e

k) crimes contra a administração pública.

O conteúdo de cada título será sucintamente exposto na sequência. 2. Crimes contra a pessoa Dentre os crimes que podem ser praticados contra a pessoa, o Código Penal os dividiu em:

a) crimes contra a vida;

b) lesões corporais;

c) periclitação da vida e da saúde;

d) rixa;

e) crimes contra a honra; e

f) crimes contra a liberdade individual. 2.1 Crimes contra a vida 2.1.1 Homicídio (art. 121, do CP) O primeiro dos crimes contra a vida é o homicídio. O bem juridicamente tutelado é o de maior relevância: a vida humana. Todo aquele que retira a vida de outrem incorre no tipo penal do artigo 121 do Código Penal. O homicídio pode ser simples, como no caso do caput do citado artigo, cuja pena é de 6 (seis) a 20 (vinte) anos. Já o parágrafo primeiro do artigo 121, do Código Penal, apresenta uma hipótese de homicídio privilegiado, caso em que há diminuição de pena. Esse homicídio é aquele cometido mediante motivo de relevante valor social

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ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, caso em que o juiz pode reduzir a pena de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço). Note-se que há possibilidade do juiz reduzir a pena, o que só poderá ser efetivamente realizado se as circunstâncias concretas do crime autorizarem. O homicídio qualificado, com pena variável entre 12 (doze) a 30 (trinta) anos de reclusão, está previsto no parágrafo segundo do dispositivo em estudo, e se configura quando é cometido:

a) mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;

b) por motivo fútil;

c) com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;

d) à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;

e) para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime.

Mas não há que se falar apenas em homicídio doloso. Quando alguém mata outrem em razão de atitude negligente, imprudente ou imperita, incorre na condutá típica do parágrafo terceiro do artigo 121 do Código Penal: o homicídio culposo. Para esse homicídio, a pena é de detenção, variável entre 1 (um) a 3 (três) anos. Em se tratando de homicídio culposo, ao avaliar as consequências da infração e constatar que elas atingem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se mostra desnecessária, o juiz pode deixar de aplicar-lhe a pena, concedendo-lhe o perdão judicial. No entanto, no caso de homicídio culposo, pode haver aumento de 1/3 (um terço) da pena, se o crime resultar de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixar de prestar imediato socorro à vítima, não procurar diminuir as consequências do seu ato, ou fugir para evitar a prisão em flagrante. Em contrapartida, se a hipótese for de homicídio doloso, a pena será aumentada de 1/3 (um terço) se o crime for praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. 2.1.2 Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio (art. 122) Todo aquele que induz ou instiga alguém a cometer suicídio, ou que presta-lhe auxílio para que o faça, incorre no tipo penal do artigo 122 do Código Penal, e sujeita-se à pena de reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, se o suicídio se consumar, ou de reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, se da tentativa de suicídio resultar lesão corporal de natureza grave. No caso do delito em estudo, a pena é duplicada:

a) se o crime é praticado por motivo egoístico; ou

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b) se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.

Para esclarecer:

a) induzir é contribuir para a criação da intenção suicida na vítima, dando-lhe a séria impressão de que o suicídio deve ser praticado;

b) instigar é aguçar uma vontade que já era manifestada pela vítima; e

c) auxiliar é prestar ajuda material à vítima, como entregando-lhe o veneno, por exemplo. 2.1.3 Infanticídio (art. 123, do CP) O infanticídio ocorre quando a mãe (crime próprio), sob o estado puerperal, mata o próprio filho, durante ou logo após o parto. O estado puerperal é elementar do crime de infanticídio, e verifica-se desde o momento em que ocorre a expulsão da placenta até o retorno do organismo materno às suas condições anteriores. Em alguns casos, durante o estado puerperal, o organismo materno sofre alterações dos níveis hormonais, alterações bioquímicas e no sistema nervoso, o que altera o estado emocional da mãe e pode levá-la a atentar em face da vida do próprio filho. É importante frisar, estado puerperal não tem relação com a depressão pós-parto. Portanto, qualquer questão que busque relacionar os dois deve ser interpretada com parcimônia. 2.1.4 Aborto (arts. 124 a 128, do CP) O aborto é a eliminação da vida humana em estágio intrauterino. Se a criança estiver nascendo ou já tiver nascido, não há mais que se falar em aborto. Se o aborto for praticado pela própria gestante ou se ela consentir que outrem lho provoque, incorrerá no tipo penal do artigo 124 do Código Penal, sujeitando-se à pena de detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos. Quem provoca o aborto, sem o consentimento da gestante, incorre no tipo penal do artigo 125 do Código Penal, sujeitando-se à pena de reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos. E quem provoca o aborto, com o consentimento da gestante, incorre na conduta descrita no artigo 127 do Código Penal, cuja pena é de reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. Contudo, ainda que o aborto seja praticado com o consentimento da gestante, o terceiro incorrerá nas penas do artigo 126 (aborto praticado sem o consentimento da gestante) quando:

a) a gestante não for maior de 14 (quatorze) anos;

b) a gestante for alienada ou débil mental; ou

c) o consentimento for obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência.

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Em ambos os casos de aborto praticado por terceiro, com ou sem o consentimento da gestante, as respectivas penas serão aumentadas de 1/3 (um terço) se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a agestante sofre lesão corporal de natureza grave, e serão duplicadas se, por qualquer dessa causas, sobrevier a morte à gestante (art. 127, do CP). Por derradeiro, o artigo 128 do Código Penal dispõe que não se pune o aborto praticado por médico:

a) se não há outro meio de salvar a vida da gestante (aborto necessário); ou b) se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. 2.2 Lesões corporais Lesão corporal é a agressão à integridade corporal ou a saúde humana. Para que se fale nesse delito, no entanto, há que se comprovar que a conduta estava direcionada a essa intenção, devendo-se estar atento para não confundir esta com a forma tentada de outros crimes. Quando alguém atira contra outra pessoa, com intenção de matá-la, e apenas a fere, não haverá que se falar em lesão corporal, mas sim em homicídio tentado. A pena base para a lesão corporal (simples) é punível mediante pena de detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. Considera-se de natureza grave a lesão corporal, quando dela resulta:

a) incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;

b) perigo de vida;

c) debilidade permanente de membro, sentido ou função;

d) aceleração de parto.

Nestes casos, a pena é de reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos. Considera-se de natureza gravíssima a lesão corporal, quando dela resulta:

a) incapacidade permanente para o trabalho;

b) enfermidade incurável;

c) perda ou inutilização do membro, sentido ou função;

d) deformidade permanente;

e) aborto.

Para estes, a pena aplicável é de reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos. No caso de lesão corporal leve, ela somente se procede mediante queixa. Quando da lesão corporal resultar morte, desde que as circunstâncias evidenciem que o agente não quis tal resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo, sujeitar-se-á a pena de reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. No entanto, se o crime foi cometido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a

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injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço). Se a lesão corporal foi culposa, o juiz pode deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingiram o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se mostre desnecessária, aplicando-lhe então o perdão judicial. Contudo, constitui causa de aumento de pena, em 1/3 (um terço), a constatação de que a lesão corporal culposa decorreu de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou de que o agente deixou de prestar imediato socorro à vítima, não procurou diminuir as consequências do seu ato, ou fugiu para evitar prisão em flagrante. Caso a lesão tenha sido praticada conta ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ser-lhe-á aplicada pena de detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. E se dessa violência doméstica decorrer lesão corporal de natureza grave, gravíssima, ou morte, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço), conforme disposição do parágrafo décimo, do artigo 129 do Código Penal. Também aplica-se o aumento de 1/3 (um terço) da pena quando a violência doméstica for cometida em detrimento de pessoa portadora de deficiência, consoante parágrafo onze do dispositivo em estudo. 2.3 Periclitação da vida e da saúde Periclitar é criar uma situação de perigo. A periclitação da vida e da saúde são, pois, condutas que expõe a perigo esses bens juridicamente tutelados. Nesses crimes, o dolo está direcionado, exatamente, para criação dessas situações de perigo, e não em relação a uma vítima específica. São condutas que traduzem a periclitação da vida e da saúde:

a) o perigo de contágio venéreo (art. 130, do CP), verificável quando se expõe alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado;

b) o perigo de contágio de moléstia grave (art. 131, do CP), verificável quando se pratica ato capaz de produzir o contágio, para transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado;

c) abandono de incapaz (art. 133, do CP), que se verifica quando o agente abandona pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono. Será majorada a pena, se do abandono resultar lesão corporal grave (pena de reclusão, de 1 a 5 anos), ou morte (pena de reclusão, de 4 a 12 anos). E as penas cominadas ao delito de abandono serão aumentadas de 1/3 (um terço): i) se o abandono ocorrer em local ermo; ii) se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima; ou iii) se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos;

d) exposição ou abandono de recém-nascido (art. 134, do CP), que se verifica quando o agente expõe ou abandona recém-nascido com a

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finalidade de ocultar desonra própria. Nesse caso, se a exposição ou abandono resultar lesão corporal de natureza grave, a pena será de detenção, de 1 a 3 anos, e se resultar morte, será de detenção, de 2 a 6 anos.

e) omissão de socorro (art. 135, do CP), que consiste em deixar de prestar assistência, quando for possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública. Nesses casos, a pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta morte.

f) maus-tratos (art. 136, do CP), que consiste em expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a da alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando dos meios de correção ou disciplina. Nesses casos, se do fato resultar lesão corporal de natureza grave, a pena será de reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e se resultar morte, será de reclusão de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. Em qualquer caso, a pena aumenta-se de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra menor de 14 (quatorze) anos. 2.4 Rixa Verifica-se o crime de rixa quando há conflito entre dois grupos indeterminados de pessoas. Não há que se falar em rixa se não houver, ao menos, 3 (três) pessoas, portanto. Quanto ao delito de rixa não há que se falar em legítima defesa, tão menos em legítima defesa sucessiva, posto que o tipo penal em estudo caracteriza-se, exatamente, pelo conflito intencional de grupos rivais. Aquele que participa de rixa para separar os contendores não incorre no crime, conforme redação do caput do artigo 137 do Código Penal. A pena para o delito de rixa é de 15 (quinze) dias a 2 (dois) meses, ou multa. Se ocorrer morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato de participação na rixa, a pena de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. 2.5 Crimes contra a honra São crimes contra a honra, a calúnia, a difamação e a injúria. É fundamental o estudo conjunto desses tipos penais, pois os questionamentos em concursos públicos são frequentemente comparativos. A calúnia (art. 138, do CP) é a imputação falsa a alguém, de fato definido como crime. Na mesma pena incorre quem, sabendo ser falsa a imputação, a propala ou divulga (art. 138, §1º, do CP). Por exemplo, quando “A” diz que “B” furtou determinado objeto, sabendo que ele não o fez, pratica

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uma declaração caluniosa. E se “C”, sabendo que “B” nada furtou, divulgar o boato criado por “A”, incorrerá na mesma pena que este. A calúnia se consuma quando o fato chega ao conhecimento de terceiros. Nesse crime, atinge-se a honra objetiva da vítima, isto é, aquilo que ela representa para a sociedade. A difamação (art. 139, do CP) é a imputação de fato ofensivo à reputação da vítima, fato este que não constitui crime. Por exemplo, se “A” diz que “B” costuma trabalhar bêbado, sabendo ser falsa tal imputação, pratica uma declaração difamatória. A difamação se consuma quando o fato chega ao conhecimento de terceiros. Nesse crime, assim como na calúnia, atinge-se a honra objetiva da vítima, isto é, aquilo que ela representa para a sociedade. A injúria (art. 140, do CP), por sua vez, é a ofensa da dignidade ou do decoro da vítima. Por exemplo, quando “A” utiliza expressões ofensivas, de caráter pessoal, contra “B”, pratica uma declaração injuriosa. O parágrafo primeiro do artigo 139 do Código Penal autoriza que o juiz deixe de aplicar a pena:

a) quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;

b) no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.

Se a injúria consistir em violência ou vias de fato, que, por sua natureza, ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes, além da pena correspondente à violência, será aplicada ao ofensor pena de detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. Nesse caso, estar-se-á diante da hipótese chamada pela doutrina de injúria real. Diferentemente do que ocorre com a calúnia e com a difamação, que se consumam quando as declarações caluniosas ou difamatórias chegam ao conhecimento de terceiros, a injúria se consuma quando a declaração chega ao conhecimento do ofendido. E, diferentemente das duas espécies abordadas anteriormente, o crime de injúria atinge a honra subjetiva da vítima, isto é, o próprio íntimo da mesma, sua dignidade e decoro. Se proferida a injúria, a vítima imediatamente responder ao ofensor com outra injúria (retorsão imediata), é conferido ao juiz a faculdade de deixar de aplicar de a pena. Tanto a calúnia como a difamação trazem a possibilidade da exceção da verdade, diferentemente da injúria. No caso da calúnia, admite-se a prova da verdade, salvo:

a) se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível;

b) se o fato é imputado ao Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro;

c) se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível.

Já no caso da difamação, só há que se falar em exceção da verdade quando o ofendido for funcionário público e a ofensa for relativa ao exercício de suas funções.

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Conforme disposição do artigo 141 do Código Penal, as penas da calúnia, difamação e injúria aumentam-se de 1/3 (um terço), se qualquer dos crimes é cometido:

a) contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro;

b) contra funcionário público, em razão de suas funções;

c) na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria.

d) contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no caso de injúria.

E se o crime for cometido mediante paga ou promessa de recompensa, ser-lhe-á aplicada a pena em dobro. Não constituem injúria ou difamação punível (art. 142, do CP):

a) a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador;

b) a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar;

c) o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste no cumprimento de dever do ofício.

No primeiro e no último caso, responde pela injúria ou pela difamação quem lhe dá publicidade (art. 142, parágrafo único, do CP). Não são puníveis a injúria e a difamação cometidos em juízo, de forma não excessiva, pela parte ou por seu advogado, assim como a opinião e a crítica literária que não apresentem intenção de injuriar ou difamar. Via de regra, os crimes contra a honra processam-se mediante ação penal privada. Assim, o querelado que, antes da sentença, se retratar cabalmente da calúnia ou da difamação, ficará isento de pena. 2.6 Crimes contra a liberdade individual Os crimes praticados contra a liberdade individual são divididos em:

a) contra a liberdade pessoal;

b) contra inviolabilidade de domicílio;

c) contra a inviolabilidade de correspondência; e

d) contra a inviolabilidade dos segredos. 2.6.1 Crimes contra a liberdade pessoal 2.6.1.1 Constrangimento ilegal O primeiro dos crimes contra a liberdade pessoal é o constrangimento ilegal (art. 146, do CP), tipo penal que se configura através do constrangimento de alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois

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de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda. Nesse caso, as penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do crime, se reúnem mais de 3 (três) pessoas, ou quando há emprego de arma. 2.6.1.2 Ameaça O delito de ameaça, que somente se procede mediante representação, consiste em ameaçar alguém, por palavra, escrito, gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de modo a causar-lhe mal injusto e grave. O crime em estudo se consuma independentemente de se concretizar a conduta sobre a qual recaiu a ameaça. Por isso ele é um delito formal, de mera conduta. 2.6.1.3 Sequestro e cárcere privado Tanto o sequestro como o cárcere privado incidem sobre o direito de liberdade da vítima. No segundo caso, a restrição é mais intensa que no primeiro, pois enquanto o sequestro apenas priva da liberdade, o cárcere tende a também imobilizar a vítima. A pena para o crime de sequestro e cárcere privado é de reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. No entanto, será de reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos:

a) se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos;

b) se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital;

c) se a privação da liberdade dura mais de 15 (quinze) dias.

d) se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos;

e) se o crime é praticado com fins libidinosos.

Se do sequestro ou cárcere privado resultar à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral, a pena será de reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos. 2.6.1.4 Redução a condição análoga à de escravo Conforme disposição do artigo 149 do Código Penal, aquele reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto, incorre em pena de reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa, além da pena correspondente à violência. E nas mesmas penas incorre quem:

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a) cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho;

b) mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.

A pena deve ser aumentada até a metade, se o crime é cometido:

a) contra criança ou adolescente; ou

b) por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem. 2.6.2 Crimes contra inviolabilidade de domicílio A violação de domicílio é um crime formal, isto é, um crime que independe da produção de resultado naturalístico. A conduta típica descrita no caput do artigo 150 do Código Penal é entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em sua dependências. A expressão casa compreende:

a) qualquer compartimento habitado;

b) aposento ocupado de habitação coletiva;

c) compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade.

E, em sentido oposto, não se compreendem na expressão casa:

a) hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do parágrafo quarto, inciso II (aposento ocupado de habitação coletiva);

b) taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.

Haverá qualificadora se a violação for cometida durante a noite, ou em lugar ermo, ou com o emprego de violência ou de arma, ou por duas ou mais pessoas (art. 150, §1º, do CP). Haverá aumento de pena, em 1/3 (um terço), se a violação for cometida por funcionário público, fora dos casos legais, ou com inobservância das formalidades estabelecidas em lei, ou com abuso de poder (art. 150, §2º, do CP). Por derradeiro, conforme estipulação do parágrafo terceiro do tipo penal em estudo, não constitui crime a entrada ou permanência em casa alheia ou em suas dependências:

a) durante o dia, com observância das formalidades legais, para efetuar prisão ou outra diligência;

b) a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime está sendo ali praticado ou na iminência de o ser.

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2.6.3 Crimes contra a inviolabilidade de correspondência Segundo o artigo 151 do Código Penal, constitui crime de violação de correspondência: devassar indevidamente o conteúdo de correspondência fechada, dirigida a outrem. E na mesma pena incorre:

a) quem se apossa indevidamente de correspondência alheia, embora não fechada e, no todo ou em parte, a sonega ou destrói;

b) quem indevidamente divulga, transmite a outrem ou utiliza abusivamente comunicação telegráfica ou radioelétrica dirigida a terceiro, ou conversação telefônica entre outras pessoas;

c) quem impede a comunicação ou a conversação referidas no número anterior;

d) quem instala ou utiliza estação ou aparelho radioelétrico, sem observância de disposição legal.

Para a violação de correspondência comercial há tipo penal específico (art. 152), que tipifica a conduta de quem abusar da condição de sócio ou empregado de estabelecimento comercial ou industrial para, no todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou suprimir correspondência, ou revelar a estranho seu conteúdo. Esse delito no entanto, só se procede mediante representação. 2.6.4 Crimes contra a inviolabilidade dos segredos Constitui crime divulgar alguém, sem justa causa, conteúdo de documento particular ou de correspondência confidencial, de que é destinatário ou detentor, e cuja divulgação possa produzir dano a outrem (art. 153, do CP). E também constitui crime revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem. Nesse caso, estar-se-á diante do crime de violação do segredo profissional, tipificado no artigo 154 do Código Penal, crime que somente se procede mediante representação. 3. Crimes contra o patrimônio Os crimes contra o patrimônio estão divididos em sete capítulos, quais sejam:

a) furto;

b) roubo e extorsão;

c) usurpação;

d) dano;

e) apropriação indébita;

f) estelionato e outras fraudes; e

g) receptação.

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3.1 Furto O delito de furto é descrito no artigo 155 do Código Penal, cuja conduta é subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel. A pena para o delito de furto deve ser aumentada de 1/3 (um terço) quando ele for cometido durante o repouso noturno (art. 155, §1º, do CP). Se o criminoso for primário, e a coisa furtada for de pequeno valor, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa (art. 155, §2º, do CP – furto privilegiado). Por força do parágrafo terceiro do dispositivo em estudo, a energia elétrica, assim como qualquer outra que tenha valor econômico é equiparada à coisa móvel. Já o parágrafo quarto do artigo 155 apresenta as hipóteses de furto qualificado. Considera-se como tal o furto praticado:

a) com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;

b) com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;

c) com emprego de chave falsa;

d) mediante concurso de duas ou mais pessoas.

E por força do parágrafo quinto do mesmo dispositivo, a pena para o furto será de 3 (três) a 8 (oito) anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. Ainda no que tange ao furto, algumas expressões são fundamentais para concursos públicos, dentre as quais destaca-se:

a) furto de uso, isto é, aquele em que o agente devolve a coisa alheia móvel à vítima sem quaisquer danos e antes que ela tenha constatado a subtração;

b) furto de bagatela, isto é, aquele de coisa alheia móvel cujo valor é insignificante para fins penais, como o furto de uma maça na feira, por exemplo;

c) furto de coisa própria, que, em verdade, não constitui furto, já que haverá erro de tipo e, consequentemente, de dolo do agente; e

d) furto famélico, isto é, aquele destinado à satisfação da fome, realizado em estado de necessidade.

Por fim, conforme disposição do artigo 156 do Código Penal, constitui furto de coisa comum, subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, de quem legitimamente detém a coisa comum. O furto de coisa comum somente se procede mediante representação, e não é punível quando a subtração for de coisa comum fungível, cujo valor não exceder a quota a que tiver direito o agente.

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3.2 Roubo O roubo é um crime complexo, pois alberga a somatória do delito de furto e da grave ameaça ou violência a pessoa. O caput do artigo 157 do Código Penal dispõe acerca do roubo próprio, que se configura mediante a subtração de coisa alheia móvel, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência. Nesse caso, a pena para o crime em estudo é de reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa. Já o parágrafo primeiro do artigo 157 dispõe que na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência ou grave ameaça contra a pessoa, com a finalidade de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro. Essa hipótese configura o chamado roubo impróprio. Em qualquer caso, a pena aumenta-se de 1/3 até a metade:

a) se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;

b) se há o concurso de duas ou mais pessoas;

c) se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.

d) se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior;

e) se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.

Consoante disposição do parágrafo terceiro do artigo 157, se da violência resultar lesão corporal grave, a pena será de reclusão, de 7 (sete) a 15 (quinze) anos, além da multa. E se resultar morte, a pena será de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, sem prejuízo da multa. Nesse último caso, em que a lesão corporal resulta morte, estar-se-á diante do crime de latrocínio, crime este considerado hediondo. 3.3 Extorsão A extorsão consiste em constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si o upara outrem vantagem econômica indevida, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa. A pena para o crime em estudo é de reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa. O caput do artigo 158 do Código Penal apresenta a hipótese de extorsão simples. Já o parágrafo segundo do tipo penal em estudo apresenta a extorsão qualificada, assim considerada aquela cometida por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, hipótese em que a pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até a metade. Outra hipótese de extorsão qualificada consta do parágrafo terceiro do dispositivo em estudo, aplicável ao “sequestro relâmpago”, verificável quando o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, quando essa condição é necessária para a obtenção da vantagem

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econômica, hipótese em que a pena cominada é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, e multa. No entanto, se houver lesão corporal grave à vítima, a pena cominada será de reclusão, 16 (dezesseis) a 24 (vinte e quatro) anos. E se houver morte, a pena será de reclusão, de 24 (vinte e quatro) a 30 (trinta) anos. O artigo 159 do Código Penal tipifica a conduta de extorsão mediante sequestro, que consiste no sequestro da vítima com a finalidade de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate. Note-se que essa hipótese é diversa do artigo 158, parágrafo terceiro, que tipifica o chamado “sequestro relâmpago”, pois no caso do artigo 159 a conduta é mais grave, mais traumática e mais duradoura. A pena para o crime de sequestro é de reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos, mas se o sequestro durar mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o sequestrado for menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por quadrilha ou bando, a pena cominada é de reclusão de 12 (doze) a 20 (vinte) anos. Se do sequestro resultar lesão corporal grave, aplica-se a pena de reclusão, de 16 (dezesseis) a 24 (vinte e quatro) anos. E se houver morte, a pena será de reclusão, de 24 (vinte e quatro) a 30 (trinta) anos. Ainda, conforme disposição do parágrafo quarto, do artigo 159 do Código Penal, o legislador instituiu a delação premiada, ou seja, um prêmio para aquele que delatar os demais concorrentes no crime de sequestro. Se o sequestro for cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços). Por derradeiro, o artigo 160 do Código Penal trata da extorsão indireta, que se configura mediante a exigência ou o recebimento, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, de documento que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro. Nesse caso, há “chantagem” por parte de quem está na posse do documento que, se apresentado à autoridade policial, pode dar causa à instauração de uma ação penal contra a vítima, conduta punível com pena de reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. 3.4 Usurpação As condutas de usurpação são descritas nos artigos 161 e 162 do Código Penal. O caput do artigo 161 trata da alteração de limites, conduta que se verifica mediante a supressão ou o deslocamento de tapume, marco, ou qualquer outro sinal indiciativo de linha divisória, para apropriar-se, no todo ou em parte, do coisa imóvel alheia. Já o inciso I do dispositivo em estudo tipifica a conduta de usurpação de águas, estipulando que incorre na mesma pena do caput aquele que desviar ou represar, em proveito próprio ou de outrem, águas alheias. E o inciso II do mesmo artigo, tipifica a conduta do esbulho possessório, cometida por aquele que invade, com violência a pessoa ou grave ameaça,

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ou mediante concurso de mais de duas pessoas, terreno ou edifício alheio, para o fim de esbulho possessório. Utilizada violência pelo agente, ele também incorre na pena a esta cominada (art. 161, §2º, do CP). Se qualquer ato de usurpação for praticado em propriedade particular, e não houver emprego de violência, só há que se falar em ação penal privada, conforme determinação do parágrafo terceiro do artigo 161, do Código Penal. E o artigo 162 tipifica a conduta de supressão ou alteração da marca em animais. Segundo o mencionado dispositivo, a conduta típica é suprimir ou alterar, indevidamente, em gado ou rebanho alheio, marca ou sinal indicativo de propriedade, cuja pena é de detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa. 3.5 Crimes de dano 3.5.1 Dano (propriamente dito) O crime de dano simples se consuma mediante a destruição, inutilização ou deterioração de coisa alheia, conforme redação do caput do artigo 163 do Código Penal. Considera-se qualificado o crime de dano quando cometido:

a) com violência à pessoa ou grave ameaça;

b) com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave

c) contra o patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia mista;

d) por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima.

É importante frisar, que não se fala em crime de dano culposo, mas apenas sob a forma dolosa. O crime de dano simples, assim como aquele cometido sob a qualificadora de motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima, somente se procede mediante queixa, isto é, são crimes de ação penal privada. 3.5.2 Introdução ou abandono de animais em propriedade alheia A conduta tipificada no artigo 164 é a de introduzir ou deixar animais em propriedade alheia, sem consentimento de quem de direito, desde que o fato resulte prejuízo. Essa hipótese penal também se procede apenas mediante queixa, isto é, só há que se falar em ação penal privada.

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3.5.3 Dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou histórico O artigo 165 do Código Penal descreve como criminosa as condutas de destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tombada pela autoridade competente em virtude de valor artístico, arqueológico ou histórico. Nesses casos, o processo será realizado mediante ação penal pública incondicionada, e sujeita o ofensor às penas de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. No entanto, é importante mencionar que segundo a doutrina de Julio Frabbrini Mirabete, o artigo 165 do Código Penal foi tacitamente revogado pelo artigo 62 da Lei de Crimes Ambientais (Lei n.º 9.065/98), que dispõe:

Art. 62. Destruir, inutilizar ou deteriorar: I - bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial; II - arquivo, registro, museu, biblioteca, pinacoteca, instalação científica ou similar protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial:

Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena é de seis meses a um ano de detenção, sem prejuízo da multa.

3.5.4 Alteração de local especialmente protegido O último tipo penal relacionado às condutas de dano é o artigo 166. Segundo ele, constitui crime: alterar, sem licença da autoridade competente, o aspecto de local especialmente protegido por lei, cuja pena aplicável é de detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou multa. No entanto, é importante mencionar que segundo a doutrina de Julio Frabbrini Mirabete, o artigo 166 do Código Penal foi tacitamente revogado pelos artigos 63 e 64 da Lei de Crimes Ambientais (Lei n.º 9.065/98), que dispõem:

Art. 63. Alterar o aspecto ou estrutura de edificação ou local especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial, em razão de seu valor paisagístico, ecológico, turístico, artístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental, sem autorização da autoridade competente ou em desacordo com a concedida:

Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

Art. 64. Promover construção em solo não edificável, ou no seu entorno, assim considerado em razão de seu valor paisagístico, ecológico, artístico, turístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental, sem autorização da autoridade competente ou em desacordo com a concedida:

Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.

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3.6 Apropriação indébita 3.6.1 Apropriação indébita propriamente dita É típica a conduta daquele que, tendo a posse ou detenção de coisa alheia móvel, dela se apropria indevidamente. E a pena cominada para essa conduta deve ser aumentada de 1/3 (um terço), quando o agente recebeu a coisa:

a) em depósito necessário;

b) na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário judicial;

c) em razão de ofício, emprego ou profissão. 3.6.2 Apropriação indébita previdenciária O artigo 168-A do Código Penal, incluído pela Lei n.º 9.983/2000, tipificou uma conduta específica, nela incidente aquele que deixar de repassar à Previdência Social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional. Consabido, o empregador responde pelas contribuições previdenciárias em duas situações: como contribuinte e como responsável tributário. O artigo 168-A incide sobre a conduta dele como responsável tributário. Assim, se ele retém de seus empregados o percentual que deveria ser repassado à Previdência Social e não o faz, se apropria indevidamente de valores que a ela deveriam ser destinados. Nas mesmas penas incorre quem deixar de:

a) recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à previdência social que tenha sido descontada de pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do público;

b) recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado despesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à prestação de serviços;

c) pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores já tiverem sido reembolsados à empresa pela previdência social.

Quanto ao delito em estudo, será extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declarar, confessar e efetuar o pagamento das contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal (art. 168-A, §2º, do CP). Ademais, faculta-se ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa quando o agente for primário e bons antecedentes, desde que:

a) tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia, o pagamento da contribuição social previdenciária, inclusive acessórios; ou

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b) o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais. 3.6.3 Apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou força da natureza Também é criminosa a conduta daquele que se apropria de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da natureza, conforme redação legal do artigo 169 do Código Penal. E na mesma pena incorre:

a) quem acha tesouro em prédio alheio e se apropria, no todo ou em parte, da quota a que tem direito o proprietário do prédio (apropriação de tesouro); e

b) quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro no prazo de 15 (quinze) dias (apropriação de coisa achada).

Para todos os crimes de apropriação indébita, se o criminoso for primário, e for de pequeno valor a coisa ou quantia apropriada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), ou aplicar somente a pena de multa, conforme autorização do artigo 170 do Código Penal. 3.7 Estelionato e outras fraudes 3.7.1 Estelionato O estelionato consiste na utilização de meio artificioso, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento para induzir ou manter alguém em erro e, consequentemente, dele obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita. A pena para o crime de estelionato é de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa. Se o criminoso for primário, e for de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), ou aplicar somente a pena de multa, conforme autorização do parágrafo primeiro, do artigo 171 do Código Penal. Nas mesmas penas do caput do artigo 171 incorre quem:

a) vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia como própria (disposição de coisa alheia como própria);

b) vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em prestações, silenciando sobre qualquer dessas circunstâncias (alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria);

c) defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro modo, a garantia pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado (defraudação de penhor);

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d) defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a alguém (fraude na entrega de coisa);

e) destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava as consequências da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou valor de seguro (fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro);

f) emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento (fraude no pagamento por meio de cheque).

Quando a conduta estelionatária for cometida em detrimento de entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência, a pena aumenta-se de 1/3 (um terço). 3.7.2 Duplicata simulada A conduta típica, conhecida como duplicata simulada, consiste na emissão de fatura, duplicata ou nota de venda que não corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado. Nas mesmas penas incorre aquele que falsificar ou adulterar a escrituração do Livro de Registro de Duplicatas. 3.7.3 Abuso de incapazes O artigo 173 do Código Penal descreve como criminosa a conduta de abusar, em proveito próprio ou alheio, de necessidade, paixão ou inexperiência de menor, ou da alienação ou debilidade mental de outrem, induzindo qualquer deles à prática de ato suscetível de produzir efeito jurídico, em prejuízo próprio ou de terceiro, cuja pena cominada é de reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. 3.7.4 Induzimento à especulação Comete o crime de induzimento à especulação todo aquele que abusar, em proveito próprio ou alheio, da inexperiência, da simplicidade ou da inferioridade mental de outrem, induzindo-o à prática de jogo ou aposta, ou à especulação com títulos ou mercadorias, sabendo ou devendo saber que a operação é ruinosa. A pena para o delito em análise é de reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. 3.7.5 Fraude no comércio São condutas que configuram o delito de fraude no comércio, conforme redação do artigo 175 do Código Penal, enganar, no exercício de atividade comercial, o adquirente ou consumidor:

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a) vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria falsificada ou deteriorada;

b) entregando uma mercadoria por outra:

Também incorre nesse delito, com pena majorada, todo aquele que alterar em obra que lhe for encomendada, a qualidade ou o peso de metal ou substituir, no mesmo caso, pedra verdadeira por falsa ou por outra de menor valor, assim como aquele que vender pedra falsa por verdadeira, ou aquele que vender, como precioso, metal de ou outra qualidade. Nesses casos, no entanto, se o criminoso for primário, e for de pequeno valor a coisa ou quantia objeto da fraude, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), ou aplicar somente a pena de multa, conforme autorização do parágrafo segundo, do artigo 175 do Código Penal. 3.7.6 Outras fraudes Também comete crime aquele que toma refeição em restaurante, aloja-se em hotel ou utiliza-se de meio de transporte sem dispor de recursos para efetuar o pagamento, incorrendo na pena de detenção, de 15 (quinze) dias a 2 (dois) meses, ou multa. Nesses casos, para que se fale em ação penal, há que se falar em representação do ofendido, e o juiz pode, conforme as circunstâncias, deixar de aplicar a pena. 3.7.7 Fraudes e abusos na fundação ou administração de sociedade por ações É típica a conduta daquele que promover a fundação de sociedade por ações, fazendo, em prospecto ou em comunicação ao público ou à assembléia, afirmação falsa sobre a constituição da sociedade, ou ocultando fraudulentamente fato a ela relativo, crime que, se não configurar crime contra a economia popular, sujeitará o infrator a pena de reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Desde que o fato não configure crime contra a economia popular, também incorrem na mesma pena:

I - o diretor, o gerente ou o fiscal de sociedade por ações, que, em prospecto, relatório, parecer, balanço ou comunicação ao público ou à assembléia, faz afirmação falsa sobre as condições econômicas da sociedade, ou oculta fraudulentamente, no todo ou em parte, fato a elas relativo;

II - o diretor, o gerente ou o fiscal que promove, por qualquer artifício, falsa cotação das ações ou de outros títulos da sociedade;

III - o diretor ou o gerente que toma empréstimo à sociedade ou usa, em proveito próprio ou de terceiro, dos bens ou haveres sociais, sem prévia autorização da assembléia geral;

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IV - o diretor ou o gerente que compra ou vende, por conta da sociedade, ações por ela emitidas, salvo quando a lei o permite;

V - o diretor ou o gerente que, como garantia de crédito social, aceita em penhor ou em caução ações da própria sociedade;

VI - o diretor ou o gerente que, na falta de balanço, em desacordo com este, ou mediante balanço falso, distribui lucros ou dividendos fictícios;

VII - o diretor, o gerente ou o fiscal que, por interposta pessoa, ou conluiado com acionista, consegue a aprovação de conta ou parecer;

VIII - o liquidante, nos casos dos incisos I, II, III, IV, V e VII;

IX - o representante da sociedade anônima estrangeira, autorizada a funcionar no País, que pratica os atos mencionados nos incisos I e II, ou dá falsa informação ao Governo.

Por derradeiro, conforme redação do parágrafo segundo do dispositivo em estudo, incorre na pena de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, o acionista que, a fim de obter vantagem para si ou para outrem, negocia o voto nas deliberações de assembléia geral. 3.7.8 Emissão irregular de conhecimento de depósito ou warrant Aquele que emite conhecimento de depósito ou warrant, em desacordo com disposição legal, incorre no tipo penal do artigo 178 do Código Penal. Esse delito independe da ocorrência de prejuízo à vítima para que se consume, bastando a circulação dos títulos em questão. 3.7.9 Fraude à execução Considera-se fraude à execução a prática dos atos de alienação, desvio, destruição ou danificação de bens, ou simulação de dívidas, durante o trâmite de uma ação civil de natureza executiva. O crime de fraude à execução se procede apenas mediante ação penal privada, e só se consuma se após o ato fraudulento, o patrimônio do devedor deixar de ser suficiente à satisfação da dívida. 3.8 Receptação Incorre no crime de receptação todo aquele que adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte. Essa é a forma de receptação simples, prevista no caput do artigo 180 do Código Penal. O parágrafo primeiro do dispositivo em estudo prevê, no entanto, a receptação qualificada, que consiste em adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser

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produto de crime. E conforme redação do parágrafo segundo do artigo 180, equipara-se à atividade comercial, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercício em residência. Também é forma de receptação qualificada a conduta de adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso. A relação entre a receptação e o crime antecessor, do qual proveio a coisa, não é de dependência, isto é, a receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime de que proveio a coisa. Nesse caso, no entanto, desde que o receptador seja primário, pode o juiz, tendo em consideração as circunstâncias, deixar de aplicar a pena. Já no caso de receptação dolosa, se o criminoso for primário, e for de pequeno valor a coisa ou quantia objeto da receptação, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), ou aplicar somente a pena de multa, conforme autorização do parágrafo quinto, do artigo 180 do Código Penal. Por derradeiro, caso o objeto da receptação seja integrante do patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia mista, a pena da receptação simples deve ser aplicada em dobro. 3.9 Disposições gerais para os crimes contra o patrimônio Conforme redação do artigo 181 do Código Penal, é isento de pena quem comete qualquer dos crimes contra o patrimônio, em prejuízo:

a) do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;

b) de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.

Em outros casos, os crimes contra o patrimônio somente se procedem mediante representação, ou seja, mediante ação penal pública condicionada. Consoante artigo 182 do Código Penal, somente se procede mediante representação, se o crime contra o patrimônio for cometido em prejuízo:

a) do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;

b) de irmão, legítimo ou ilegítimo;

c) de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.

No entanto, não se aplica o disposto no artigo 181 (casos de isenção de pena), nem no artigo 182 (casos que exigem representação para instauração da ação penal):

a) se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça ou violência à pessoa;

b) ao estranho que participa do crime.

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c) se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. 4. Crimes contra a propriedade imaterial Atualmente, dois artigos compõem o Título que trata dos crimes contra a propriedade imaterial: o artigo 184, que trata da violação de direito autoral, e o artigo 186, que apresenta disposições a ele referentes. Conforme redação do caput do artigo 184 do Código Penal, comete crime todo aquele que violar direito de autor, assim como os que lhe forem conexos. A pena para a conduta descrita no caput do mencionado artigo é de detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa. Nesse caso, somente se procede mediante queixa, isto é, mediante ação penal privada. Mas, se a violação consistir em reprodução total ou parcial, com intuito de lucro direto ou indireto, por qualquer meio ou processo, de obra intelectual, interpretação, execução ou fonograma, sem autorização expressa do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor, conforme o caso, ou de quem os represente, a pena aplicável será de reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, conforme dispõe o parágrafo segundo, do artigo 184 do Código Penal. Nesse caso, se procede mediante ação penal pública incondicionada. Nas mesmas penas previstas para o mencionado parágrafo segundo, incorre todo aquele que, com o intuito de lucro direto ou indireto, distribuir, vender, expor à venda, alugar, introduzir no País, adquirir, ocultar, manter em depósito, original ou cópia de obra intelectual ou fonograma reproduzido com violação do direito de autor, do direito de artista intérprete ou executante ou do direito do produtor de fonograma, ou, ainda, alugar original ou cópia de obra intelectual ou fonograma, sem a expressa autorização dos titulares dos direitos ou de quem os represente. Nesses casos, também se procede mediante ação penal pública incondicionada. Quando a violação consistir no oferecimento ao público, diante cabo, fibra ótica, satélite, ondas ou qualquer outro sistema que permita ao usuário realizar a seleção da obra ou produção para recebê-la em um tempo e lugar previamente determinados por quem formula a demanda, com intuito de lucro, direto ou indireto, sem autorização expressa, conforme o caso, do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor de fonograma, ou de quem os represente, o ofensor sujeitar-se-á a pena de reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa (art. 184, §3º, do CP). Nesse caso, se procede apenas mediante representação, isto é, mediante ação penal pública condicionada. É importante frisar, conforme expressa menção do parágrafo quarto, do artigo 184 do Código Penal, que não há crime de violação de direito autorial, quando se tratar de exceção ou limitação do direito de autor ou dos que lhe são conexos, em conformidade com o previsto na Lei nº 9.610/98, nem quando há cópia de obra intelectual ou fonograma, em um só exemplar, para uso privado do copista, sem intuito de lucro direto ou indireto. Por derradeiro, há que se salientar que, em qualquer caso, se o crime de violação de direito autoral for cometido em desfavor de entidades de

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direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou fundação instituída pelo Poder Público, proceder-se-á mediante ação penal pública incondicionada (art. 186, III, do CP). 5. Crimes contra a organização do trabalho Os artigos 197 a 207 do Código Penal tipificam condutas contrárias à organização do trabalho. A primeira delas consiste em constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça:

a) a exercer ou não exercer arte, ofício, profissão ou indústria, ou a trabalhar ou não trabalhar durante certo período ou em determinados dias (art. 197, I, do CP);

b) a abrir ou fechar o seu estabelecimento de trabalho, ou a participar de parede ou paralisação de atividade econômica (art. 197, II, do CP).

Praticar qualquer dos atos acima mencionados é atentar contra a liberdade de trabalho, e sujeita às penas de detenção e multa, além da pena correspondente à violência. O artigo 198 do Código Penal dispõe sobre o atentado contra a liberdade de contrato de trabalho e boicotagem violenta, que consiste na conduta típica de constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a celebrar contrato de trabalho, ou a não fornecer a outrem ou não adquirir de outrem matéria-prima ou produto industrial ou agrícola. A prática desse crime também sujeita o infrator às penas de detenção e multa, além da pena correspondente à violência. É típica também a conduta de participar de suspensão ou abandono coletivo de trabalho, praticando violência contra pessoa ou contra coisa, conforme redação legal do artigo 200 do Código Penal. No entanto, só há que se falar em abandono coletivo do trabalho se houver o concurso de, pelo menos, 3 (três) empregados. Nesse caso, os empregados infratores sujeitam-se às penas de detenção e multa, além da pena correspondente à violência. Conduta mais grave que a do artigo 200 é prevista no artigo 201 do Código Penal, desde que não considerado o aspecto da violência. Segundo ele, participar de suspensão ou abandono coletivo de trabalho, provocando a interrupção de obra pública ou serviço de interesse coletivo, é conduta típica que sujeita os infratores às penas de detenção e multa. O crime de invasão de estabelecimento industrial, comercial ou agrícola e de sabotagem está previsto no artigo 202 do Código Penal, e se consuma mediante a invasão ou ocupação de estabelecimento industrial, comercial ou agrícola, com o intuito de impedir ou embaraçar o curso normal do trabalho, ou com o mesmo fim danificar o estabelecimento ou as coisas nele existentes. O artigo 203 do Código Penal estipula como criminosa a conduta daquele que frusta, mediante fraude ou violência, direito assegurado pela legislação do trabalho. É típico exemplo de frustração de direitos assegurados pela lei do trabalho a conduta de manter funcionário sem o

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devido registro em carteira, com o que o empregador incide neste tipo penal. Conforme artigo 203, parágrafo primeiro, na mesma pena incorre quem:

a) obriga ou coage alguém a usar mercadorias de determinado estabelecimento, para impossibilitar o desligamento do serviço em virtude de dívida;

b) impede alguém de se desligar de serviços de qualquer natureza, mediante coação ou por meio da retenção de seus documentos pessoais ou contratuais.

Em qualquer caso, aumenta-se a pena de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço) se a vítima for menor de dezoito anos, idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou mental (art. 203, §2º, do CP). Também constitui crime, consoante artigo 204 do Código Penal, frustrar, mediante fraude ou violência, obrigação legal relativa à nacionalização do trabalho. Os artigo 203 e 204, constituem normais penais em branco, já que necessitam de legislação integradora que disponha sobre direito trabalhista. Comete crime contra a organização do trabalho, aquele que exercer atividade, de que está impedido por decisão administrativa, conforme artigo 205 do Código Penal, caso em que se sujeita as penas de detenção e multa. Os artigos 206 e 207, ambos do Código Penal, tipificam condutas de aliciamento de trabalhadores. Se houver o recrutamento de trabalhadores, mediante fraude, para levá-los para território estrangeiro, o infrator sujeita-se às penas de detenção e multa (art. 206, do CP), penas que também sujeitam aquele que aliciar trabalhadores, com o fim de levá-los de uma para outra localidade do território nacional (art. 207, caput, do CP). Na mesma pena incorre quem recrutar trabalhadores fora da localidade de execução do trabalho, dentro do território nacional, mediante fraude ou cobrança de qualquer quantia do trabalhador, ou, ainda, não assegurar condições do seu retorno ao local de origem (art. 207, §1º, do CP). Nesse caso, as penas serão aumentada de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço) se a vítima for menor de 18 (dezoito) anos, idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou mental (art. 207, §2º, do CP) 6. Crimes contra o sentimento religioso e contra o respeito aos mortos 6.1 Crimes contra o sentimento religioso A liberdade religiosa é uma garantia constitucional, um direito fundamental a todos pertencente. E a proteção a esse direito encontra respaldo também no Código Penal, que estipula em seu artigo 208 ser criminosa a conduta de escárnio (zombaria, desprezo) público a alguém, por motivo de crença ou função religiosa, assim como a conduta de impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso, ou ainda, de vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso. Se houver o emprego de violência, haverá aumente de pena, em 1/3 (um terço), sem prejuízo da correspondente à violência (art. 208, parágrafo único, do CP).

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6.2 Crimes contra o respeito aos mortos Quatro são as condutas típicas relativas ao respeito aos mortos:

a) impedimento ou perturbação de cerimônia funerária (art. 209, do CP);

b) violação de sepultura (art. 210, do CP);

c) destruição, subtração ou ocultação de cadáver (art. 211, do CP);

d) vilipêndio a cadáver (art. 212, do CP).

No caso de impedimento ou perturbação de cerimônia funerária, caso haja o emprego de violência, a pena será aumentada de 1/3 (um terço), sem prejuízo da correspondente à violência (art. 209, parágrafo único, do CP). A violação de sepultara engloba, além da conduta de violar, também a de profanar (desonrar) a sepultura ou a urna funerária. Por derradeiro, vilipendiar é o mesmo que desprezar o cadáver ou suas cinzas, conduta que sujeita o infrator às penas de detenção e multa. 7. Crimes contra a dignidade sexual Diante das recentes alterações, é necessário dispensar atenção especial aos crimes contra a dignidade sexual, especificamente em relação ao estupro, atentado violento ao pudor, violação sexual mediante fraude a atentado ao pudor mediante fraude, cuja alteração foi significativa. A Lei n.º 12.015/09 alterou a sistemática dos crimes contra a dignidade sexual, e substitui o antigo título “Dos Crimes Contra os Costumes” por “Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual”. O estupro, que antes só tinha a mulher como sujeito passivo, hoje pode ter o homem também. Houve revogação do artigo 214, que dispunha sobre o atentado violento ao pudor, e o artigo 215 (antiga “posse sexual mediante fraude”), que também só tinha a mulher como sujeito passivo, foi alterado (para “violência sexual mediante fraude”), admitindo que também o homem seja dele sujeito passivo. Além dessas outras alterações podem ser observadas abaixo. 7.1 Crimes contra a liberdade sexual 7.1.1 Estupro O estupro consiste em constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso. A pena para o crime de estupro é de reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. Note-se que não se fala mais em mulher, apenas, pois o homem também pode ser estuprado, nos termos da recente alteração do Código Penal. Se do estupro resultar lesão corporal de natureza grave ou se a vítima for menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (quatorze) anos, a pena será de reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.

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E se do estupro resultar morte, a pena será de reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. 7.1.2 Violação sexual mediante fraude Configura o crime de violência sexual mediante fraude o ato de ter conjunção carnal ou de praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima (art. 215, do CP). A pena para o delito em estudo é de reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e se o crime for cometido com a finalidade de obter vantagem econômica, aplicar-se-á, também, a pena de multa. 7.1.3 Assédio sexual O assédio sexual se verifica mediante o constrangimento de alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente de sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função. A pena para o crime de assédio sexual será aumentada de até um 1/3 (um terço) quando a vítima for menor de 18 (dezoito) anos. 7.2 Crimes sexuais contra vulnerável 7.2.1 Estupro de vulnerável O artigo 217-A, incluído pela Lei n.º 12.015/09, criou tipo penal específico para aquele que tiver conjunção carnal ou praticar ato libidinoso com menor de 14 (quatorze) anos, sujeitando-o a pena de reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. Na mesma pena incorre quem tem conjunção carnal ou pratica ato libidinoso com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência (art. 217-A, §1º, do CP). Em qualquer caso, se da conduta resultar lesão corporal de natureza grave, a pena aplicável será de reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos, e, se resultar morte, será de reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. 7.2.2 Corrupção de menores Outra relevante alteração operada pela Lei n.º 12.015/09 foi a separação das condutas típicas contidas no antigo artigo 218 do Código Penal. Para o artigo 218 do Código Penal ficou restrita a conduta daquele que induz alguém menor de 14 (quatorze) anos a satisfazer a lascívia (comportamento desregrado em relação ao sexo) de outrem. A pena para quem corrompe menores é de reclusão, de de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.

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7.2.3 Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente Antes integrante das condutas típicas contidas no antigo artigo 218 do Código Penal, o artigo 218-A foi editado para albergar a específica conduta daquele que pratica, na presença de alguém menor de 14 (quatorze) anos, ou o induz a presenciar, conjunção carnal ou outro ato libidinoso, com a finalidade de satisfazer lascívia própria ou de outrem. 7.2.4 Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual de vulnerável Outra criação da Lei n.º 12.015/09 foi o artigo 218-B do Código Penal, que em seu caput tipifica as condutas de: submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone. Para essas condutas, há previsão de pena reclusiva, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos. Se o crime do artigo 218-B for praticado com a finalidade de obtenção de vantagem econômica, aplica-se também a pena de multa (art. 218-B, §1º, do CP). E nas mesmas penas incorre:

a) quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na situação descrita no caput do artigo 218-B;

b) o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as práticas referidas no caput do artigo 218-B. Nesse caso, é efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de localização e de funcionamento do estabelecimento (art. 218-B, §3º, do CP). 7.2.5 Disposições gerais Em relação a todos os crimes praticados contra a dignidade sexual, procede-se mediante ação penal pública condicionada à representação. Caso a vítima seja menor de 18 (dezoito) anos ou seja pessoa vulnerável, no entanto, procede-se mediante ação penal pública incondicionada. Em qualquer caso, aumenta-se a pena:

a) de ¼ (quarta parte), se o crime é cometido com o concurso de 2 (duas) ou mais pessoas;

b) de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade sobre ela.

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7.3 Lenocínio e do tráfico de pessoa para fim de prostituição ou outra forma de exploração sexual 7.3.1 Mediação para servir a lascívia de outrem Quando o agente induz alguém a satisfazer a lascívia de outrem, incorre no delito descrito no caput do artigo 227 do Código Penal, e sujeita-se à pena de reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. Se a vítima for maior de 14 (quatorze) e menor de 18 (dezoito) anos, ou se o agente for seu ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou curador ou pessoa a quem esteja confiada para fins de educação, de tratamento ou de guarda, a pena será de reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos (art. 227, §1º, do CP). Quando o delito for cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude, a pena aplicável será de reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, além da pena correspondente à violência (art. 227, §2º, do CP). E se o crime for cometido com a finalidade de lucro, além da pena reclusiva aplica-se a pena de multa (art. 227, §3º, do CP). 7.3.2 Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual Também alterado pela Lei n.º 12.015/09, o artigo 228 teve seu objeto ampliado, e passou a considerar delituoso não só o ato de induzir ou atrair alguém à prostituição, mas também à qualquer outra forma de exploração sexual, assim como os atos de facilitar, impedir ou dificultar que alguém a abandone. O parágrafo primeiro do artigo 228 do Código Penal, apresenta uma qualificadora para o delito em estudo, verificável quando o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou quando assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância em relação à mesma. Em qualquer caso, se o crime for cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude, a pena aplicável será de reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, além da pena correspondente à violência (art. 228, §2º, do CP). Se o crime for cometido com o intuito de lucro, deve-se aplicar também a pena de multa (art. 228, §3º, do CP). 7.3.3 Casa de prostituição O artigo 229 do Código Penal também foi alterado pela Lei n.º 12.015/09. A nova redação substituiu a expressão “casa” por “estabelecimento”. A conduta típica é manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente, cuja pena é de reclusão, de dois a cinco anos, e multa.

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7.3.4 Rufianismo Rufião é aquele que tira proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça. O crime assume a forma qualificada quando a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (quatorze) anos ou se o crime é cometido por ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou por quem tenha assumido, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância. Quando o crime for cometido mediante violência, grave ameaça, fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação da vontade da vítima, a pena será de reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, sem prejuízo da pena correspondente à violência. 7.3.5 Tráfico internacional de pessoa para fim de exploração sexual O tráfico internacional de pessoa com a finalidade de exploração sexual ocorre quando o agente promove ou facilita a entrada, no território nacional, de alguém que nele venha a exercer a prostituição ou outra forma de exploração sexual, ou a saída de alguém que vá exercê-la no estrangeiro (art. 231, caput, do CP). A pena prevista para o delito em estudo é de reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos. Na mesma pena incorre quem agenciar, aliciar ou comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la. E a pena aumenta-se da metade se:

a) a vítima é menor de 18 (dezoito) anos;

b) a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato;

c) se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; ou

d) há emprego de violência, grave ameaça ou fraude.

Caso o crime seja cometido com a finalidade de obter vantagem econômica, aplica-se também a pena de multa (art. 231, §3º, do CP). 7.3.6 Tráfico interno de pessoa para fim de exploração sexual O artigo 231-A do Código Penal foi totalmente alterado pela Lei n.º 12.015/09. Segundo o dispositivo, incorre no delito em estudo quem promover ou facilitar o deslocamento de alguém dentro do território nacional

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para o exercício da prostituição ou outra forma de exploração sexual. A pena prevista para o delito é de reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. Na mesma pena incorre quem agenciar, aliciar, vender ou comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la. E a pena aumenta-se da metade se:

a) a vítima é menor de 18 (dezoito) anos;

b) a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato;

c) se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; ou

d) há emprego de violência, grave ameaça ou fraude.

Caso o crime seja cometido com a finalidade de obter vantagem econômica, aplica-se também a pena de multa (art. 231-A, §3º, do CP). 7.4 Do ultraje ao pudor 7.4.1 Ato obsceno É obsceno o ato que lesiona o pudor, nesse caso, o pudor público. Conforme redação do artigo 233 do Código Penal, é criminosa a conduta de praticar ato obsceno em lugar público, aberto ou exposto ao público. A pena prevista para o crime é de detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa. 7.4.2 Escrito ou objeto obsceno Enquanto o artigo 233 cuida da tipificação de quem pratica ato obsceno em local público, o caput do artigo 234 do Código Penal tipifica as condutas de fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob sua guarda, para fim de comércio, de distribuição ou de exposição pública, escrito, desenho, pintura, estampa ou qualquer objeto obsceno. Nas mesmas penas do caput incorre quem:

a) vende, distribui ou expõe à venda ou ao público qualquer dos objetos referidos neste artigo;

b) realiza, em lugar público ou acessível ao público, representação teatral, ou exibição cinematográfica de caráter obsceno, ou qualquer outro espetáculo, que tenha o mesmo caráter;

c) realiza, em lugar público ou acessível ao público, ou pelo rádio, audição ou recitação de caráter obsceno.

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8. Crimes contra a família 8.1 Crimes contra o casamento 8.1.1 Bigamia O primeiro dos crimes contra o casamento é a bigamia. Bigamia é o ato de contrair novo casamento, já sendo casado. Também incorre em crime aquele que, não sendo casado, contrai casamento com pessoa casada, desde que conheça essa circunstância, conforme determina o parágrafo primeiro, do artigo 235 do Código Penal. A consequência da bigamia, além da punição penal, é a nulidade do segundo casamento. No entanto, há que se estar atento, pois a anulação do primeiro casamento, independentemente do motivo, ou do segundo, desde que por motivo que não seja a bigamia, gera a inexistência do crime. 8.1.2 Induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento Como se sabe, vários são os impedimentos em relação ao casamento, conforme estudado no módulo de Direito Civil. Pois, é criminosa a conduta de contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior (caso em que haverá bigamia). Nesse caso, a ação penal para processamento do crime é privada, e não pode ser intentada antes do trânsito em julgado da sentença que, por motivo de erro ou impedimento, tenha anulado o casamento (art. 236, parágrafo único, do CP). Esse é o único exemplo vigente, no Código Penal, de ação penal privada de caráter personalíssimo. 8.1.3 Conhecimento prévio de impedimento E também é típica a conduta daquele que contrai casamento, ciente da existência de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta, conforme dispõe o artigo 237 do Código Penal, conduta que sujeita o agente à pena de detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. 8.1.4 Simulação de autoridade para celebração de casamento Aquele que simular ser autoridade apta à celebração de casamento, comete o crime descrito no artigo 238 do Código Penal, e sujeita-se à pena de detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, se o fato concreto não configurar crime mais grave.

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8.1.5 Simulação de casamento Sujeitar-se-á a pena de detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos (se o fato não constituir elemento de crime mais grave), aquele que simular casamento mediante engano de outra pessoa, conforme dispõe o artigo 239 do Código Penal, artigo que encerra o capítulo dos crimes contra o casamento, já que o adultério foi revogado pela Lei n.º 11.106/05. 8.2 Crimes contra o estado de filiação São crimes contra o estado de filiação:

a) o registro de nascimento inexistente (art. 241, do CP);

b) o parto suposto, ou a supressão ou alteração de direito inerente ao estado civil de recém-nascido (art. 242, do CP);

c) a sonegação de estado de filiação (art. 243, do CP).

O primeiro dos delitos contra o estado de filiação se consuma com a promoção no registro civil, de inscrição de nascimento inexistente. O segundo, mediante a conduta de dar parto alheio como próprio, de registrar seu o filho de outrem, ou de ocultar recém-nascido ou substituí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil. Nesse caso, se o crime for praticado por motivo de reconhecida pobreza, o juiz pode deixar de aplicar a pena. Por fim, também comete crime aquele que deixa em asilo de exposto ou outra instituição de assistência filho próprio ou alheio, ocultando-lhe a filiação ou atribuindo-lhe outra, com a finalidade de prejudicar direito inerente ao estado civil. 8.3 Crimes contra a assistência familiar 8.3.1 Abandono material Comete abandono material aquele que deixa, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada, assim como aquele que deixa, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo (art. 244, caput, do CP). Nas mesmas penas incide quem, sendo solvente, frustra ou ilide, de qualquer modo, inclusive por abandono injustificado de emprego ou função, o pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada (art. 244, parágrafo único, do CP).

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8.3.2 Entrega de filho menor a pessoa inidônea Todo aquele que entregar filho menor de 18 (dezoito) anos a pessoa em cuja companhia saiba ou deva saber que o menor fica moral ou materialmente em perigo, comete o crime descrito no caput do artigo 245 do Código Penal, e se sujeita à pena de detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos. No entanto, essa pena será de 1 (um) a 4 (quatro) anos de reclusão, se o agente praticar o delito para obter lucro, ou se o menor for enviado para o exterior. Nessa pena também incorre quem, embora excluído o perigo moral ou material, auxilia a efetivação de ato destinado ao envio de menor para o exterior, com a finalidade de obter lucro. 8.3.3 Abandono intelectual A conduta típica do artigo 246 do Código Penal é um instituto que tem a finalidade de assegurar às crianças o direito à educação. Segundo ela, constitui crime de abandono intelectual, deixar, sem justa causa, de prover à instituição primária de filho em idade escolar. Também é conduta de abandono intelectual, conforme redação do artigo 247 do Código Penal, permitir que menor de 18 (dezoito) anos, sujeito a seu poder ou confiado à sua guarda ou vigilância:

a) frequente casa de jogo ou mal-afamada, ou conviva com pessoa viciosa ou de má vida;

b) frequente espetáculo capaz de pervertê-lo ou de ofender-lhe o pudor, ou participe de representação de igual natureza;

c) resida ou trabalhe em casa de prostituição;

d) mendigue ou sirva a mendigo para excitar a comiseração pública.

O crime de abandono intelectual é, pois, um crime omissivo próprio, vez que só pode ser cometido por aquele que tem o dever de prestar à criança o direito à educação. 8.4 Crimes contra o pátrio poder, tutela e curatela Duas são as condutas que podem constituir crime contra o pátrio poder, a tutela e a curatela:

a) o induzimento a fuga, entrega arbitrária ou sonegação de incapazes (art. 248, do CP); e

b) a subtração de incapazes (art. 249, do CP).

A primeira delas está descrita no artigo 248 do Código Penal, e se configura mediante o induzimento de menor de 18 (dezoito) anos, ou interdito, a fugir do local em que acha por determinação de quem sobre ele exerce autoridade, em virtude de lei ou ordem judicial, ou a confiar a outrem sem ordem do pai, do tutor ou do curador algum menor de 18 (dezoito) anos

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ou interdito, ou deixar, sem justa causa, de entregá-lo a quem legitimamente o reclame. Já a subtração de menor de 18 (dezoito) anos ou interdito, de quem tenha o poder de sua guarda em virtude de lei ou ordem judicial sujeita o agente à pena de detenção, de 2 (dois) meses a 2 (dois) anos, isso se o fato não constituir elemento de outro crime (art. 249, caput, do CP). Se o agente for pai ou tutor do menor ou curador do interdito, ele não se eximirá da pena, caso esteja destituído ou temporariamente privado do pátrio poder, tutela, curatela ou guarda (art. 249, §1º, do CP). Contudo, o juiz pode deixar de aplicar a pena quando houver a restituição do menor, desde que este não tenha sofrido maus-tratos ou privações. 9. Crimes contra a incolumidade pública 9.1 Crimes de perigo comum Os crimes de perigo comum, como é sugestiva a expressão, traduzem uma situação de risco de dano à coletividade. Segundo o Código Penal, são condutas que configuram crime perigo comum:

a) incêndio;

b) explosão;

c) uso de gás tóxico ou asfixiante;

d) fabrica, fornecimento, aquisição posse ou transporte de explosivos ou gás tóxico, ou asfixiante;

e) inundação;

f) perigo de inundação;

g) desabamento ou desmoronamento;

h) subtração, ocultação ou inutilização de material de salvamento;

i) difusão de doença ou praga. 9.1.1 Incêndio O tipo penal simples do crime de incêndio ocorre quando alguém causa incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem. Mas, conforme parágrafo primeiro do artigo 250, haverá aumento de pena de 1/3 (um terço):

I - se o crime é cometido com intuito de obter vantagem pecuniária em proveito próprio ou alheio;

II - se o incêndio é: a) em casa habitada ou destinada a habitação; b) em edifício público ou destinado a uso público ou a obra de assistência social ou de cultura; c) em embarcação, aeronave, comboio ou veículo de transporte coletivo; d) em estação ferroviária ou aeródromo; e) em estaleiro, fábrica ou oficina; f) em depósito de explosivo, combustível ou inflamável; g) em poço petrolífero ou galeria de mineração; h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta.

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Admite-se a prática do crime de incêndio culposo, conforme expressa previsão do parágrafo segundo do artigo 250, do Código Penal. 9.1.2 Explosão O caput do artigo 251 do Código Penal tipifica a conduta de quem expõe a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, mediante explosão, arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos. Caso a substância utilizada não seja dinamite ou explosivo de efeitos análogos, haverá aplicação de pena menor. No entanto, as penas serão aumentadas de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipótese previstas no parágrafo primeiro, inciso I, do artigo 250, ou se for objetivada ou atingida qualquer das coisas enumeradas no inciso II do mesmo artigo, conforme citação apresentada no tópico anterior. Admite-se a ocorrência de explosão culposa, e, nesse caso, se a explosão é de dinamite ou substância de efeitos análogos, a pena será de de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, enquanto que, nos demais casos, será de detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. 9.1.3 Uso de gás tóxico ou asfixiante Incorre em crime quem expõe a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, usando gás tóxico ou asfixiante. Conforme parágrafo único do artigo 252 do Código Penal, admite-se a modalidade culposa do delito em estudo. 9.1.4 Fabrica, fornecimento, aquisição posse ou transporte de explosivos ou gás tóxico, ou asfixiante Não é criminosa apenas a conduta de usar explosivos, gás tóxico ou asfixiante, mas também a de fabricar, fornecer, adquirir, possuir ou transportar, sem licença da autoridade, substância ou engenho explosivo, gás tóxico ou asfixiante, ou material destinado à sua fabricação. 9.1.5 Inundação Quem der causa à inundação, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, sujeita-se à pena de reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa, no caso de dolo, ou detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, no caso de culpa (art. 254, do CP).

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9.1.6 Perigo de inundação É típica também a conduta de remover, destruir ou inutilizar, em prédio próprio ou alheio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, obstáculo natural ou obra destinada a impedir inundação, conforme previsão legal do artigo 255 do Código Penal. 9.1.7 Desabamento ou desmoronamento Aquele que, intencionalmente, causar desabamento ou desmoronamento, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, incorre na conduta típica descrita no caput do artigo 256 do Código Penal. Entretanto, se não houve intenção, mas apenas negligência, imprudência ou imperícia, o agente incorre na conduta descrita no parágrafo único do mencionado dispositivo, e sujeita-se a pena pelo delito culposo. 9.1.8 Subtração, ocultação ou inutilização de material de salvamento É crime apenado com reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa, conforme artigo 257 do Código Penal: subtrair, ocultar ou inutilizar, por ocasião de incêndio, inundação, naufrágio, ou outro desastre ou calamidade, aparelho, material ou qualquer meio destinado a serviço de combate ao perigo, de socorro ou salvamento, bem como impedir ou dificultar serviço de tal natureza. 9.1.9 Difusão de doença ou praga Também é típica a conduta de difundir doença ou praga que seja apta a gerar dano à floresta, plantação ou animais de utilidade econômica, conforme redação do caput do artigo 259 do Código Penal. Há possibilidade de crime culposo em se tratando do delito em estudo, pois há expressa previsão nesse sentido (art. 259, parágrafo único, do CP). 9.1.10 Formas qualificadas de crime de perigo comum Em se tratando dos crimes de perigo comum, se de sua prática dolosa resultar lesão corporal de natureza grave, a pena privativa de liberdade deverá ser aumentada de metade, e, se resultar morte, deverá ser aplicada em dobro. Em relação aos mesmos crimes, se de sua prática culposa resultar lesão corporal, a pena deve ser aumentada da metade, e, se resultar morte, deverá ser aplicada a pena cominada ao homicídio culposo (art. 121, §3º, do CP), aumentada de 1/3 (um terço).

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9.2 Crimes contra a segurança dos meios de comunicação e transporte e outros serviços públicos 9.2.1 Perigo de desastre ferroviário Comete crime quem impede ou perturba serviço de estrada de ferro:

a) destruindo, danificando ou desarranjando, total ou parcialmente, linha férrea, material rodante ou de tração, obra-de-arte ou instalação;

b) colocando obstáculo na linha;

c) transmitindo falso aviso acerca do movimento dos veículos ou interrompendo ou embaraçando o funcionamento de telégrafo, telefone ou radiotelegrafia;

d) praticando outro ato de que possa resultar desastre.

Para todos esse casos, a pena prevista é de reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. Mas, se do fato resultar desastre, a pena aplicável será de reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos e multa. No caso de crime culposo, ocorrendo desastre, a pena será de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. No caso de desastre, se de sua prática dolosa resultar lesão corporal de natureza grave, a pena privativa de liberdade deverá ser aumentada de metade, e, se resultar morte, deverá ser aplicada em dobro. Nas mesmas circunstâncias, se de sua prática culposa resultar lesão corporal, a pena deve ser aumentada da metade, e, se resultar morte, deverá ser aplicada a pena cominada ao homicídio culposo (art. 121, §3º, do CP), aumentada de 1/3 (um terço). 9.2.2 Atentado contra a segurança de transporte marítimo, fluvial ou aéreo Aquele que expor a perigo embarcação ou aeronave, própria ou alheia, ou praticar qualquer ato tendente a impedir ou dificultar navegação marítima, fluvial ou aérea, comete crime, e sujeita-se à pena de reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos (art. 261, caput, do CP). Se do fato resultar naufrágio, submersão ou encalhe da embarcação ou a queda ou destruição de aeronave, a pena aplicável será de reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. E se o crime tiver sido praticado com a finalidade de lucro, aplicar-se-á também a pena de multa. Admite-se a prática culposa do crime em análise, conforme autorização do parágrafo terceiro, do artigo 261 do Código Penal. No caso de sinistro, se de sua prática dolosa resultar lesão corporal de natureza grave, a pena privativa de liberdade deverá ser aumentada de metade, e, se resultar morte, deverá ser aplicada em dobro. Nas mesmas circunstâncias, se de sua prática culposa resultar lesão corporal, a pena deve ser aumentada da metade, e, se resultar morte, deverá ser aplicada a pena cominada ao homicídio culposo (art. 121, §3º, do CP), aumentada de 1/3 (um terço).

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9.2.3 Atentado contra a segurança de outro meio de transporte O artigo 262 do Código Penal dispõe que é típica a conduta de expor a perigo qualquer outro meio de transporte público, impedindo-lhe ou dificultando-lhe o funcionamento, conduta que também admite a modalidade culposa. No caso de desastre, se de sua prática dolosa resultar lesão corporal de natureza grave, a pena privativa de liberdade deverá ser aumentada de metade, e, se resultar morte, deverá ser aplicada em dobro. Nas mesmas circunstâncias, se de sua prática culposa resultar lesão corporal, a pena deve ser aumentada da metade, e, se resultar morte, deverá ser aplicada a pena cominada ao homicídio culposo (art. 121, §3º, do CP), aumentada de 1/3 (um terço). 9.2.4 Arremesso de projétil O artigo 264 do Código Penal dispõe que é punível a conduta daquele que arremessar projétil contra veículo em movimento, destinado ao transporte público por terra, por água ou pelo ar. E se do fato resultar lesão corporal, a pena aplicável será de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e, se resulta morte, a pena será a mesma do homicídio culposo, aumentada de 1/3 (um terço). 9.2.5 Atentado contra a segurança de serviço de utilidade pública Esse crime ocorre mediante a conduta daquele que pratica qualquer ato destinado a violar a segurança ou o funcionamento de serviço de água, luz, força ou calor, ou qualquer outro dotado de utilidade pública (art. 265, caput, do CP). Nesse caso, aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) até a metade, se o dano ocorrer em virtude da subtração de material essencial ao funcionamento dos serviços (art. 265, parágrafo único, do CP). 9.2.6 Interrupção ou perturbação de serviço telegráfico ou telefônico É também criminosa a conduta daquele que interrompe ou perturba serviço telegráfico, radiotelegráfico ou telefônico, assim como daquele que impede ou dificulta seu restabelecimento (art. 266, caput, do CP). As penas cominadas ao crime em estudo aplicam-se em dobro, se ele for cometido por ocasião de calamidade pública (art. 266, parágrafo único, do CP). 9.3 Crimes contra a saúde pública 9.3.1 Epidemia A epidemia é causada mediante a propagação de germes patogênicos. Aquele que adotar essa conduta incorre no delito descrito no

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caput do artigo 267 do Código Penal. Ser-lhe-á aplicada em dobro a pena, caso alguma morte resulte da epidemia. É possível o cometimento de crime culposo, conforme expressa previsão do parágrafo segundo, do artigo 267 do Código Penal. 9.3.2 Infração de medida sanitária preventiva O artigo 268 tipifica a conduta daquele que, inobstante determinação do poder público, tendente a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa, a infringe. Se o agente for funcionário da saúde pública ou exercer a profissão de médico, farmacêutico, dentista ou enfermeiro, terá a pena aumentada em 1/3 (um terço). 9.3.3 Omissão de notificação de doença Determinadas doenças devem ser imediatamente notificadas ao poder público, tão logo sejam constatadas. Quando o médico deixa de fazer essa notificação, comete o crime descrito no artigo 269 do Código Penal. A norma em análise é uma norma penal em branco, pois depende de atividade complementadora, que estipule quais doenças são de notificação compulsória. 9.3.4 Envenenamento de água potável ou de substância alimentícia ou medicinal É crime sujeito à reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, envenenar água potável, de uso comum ou particular, ou substância alimentícia ou medicinal destinada a consumo (art. 270, caput, do CP). Na mesma pena está sujeito aquele que entrega para consumo ou tem em depósito, para o fim de ser distribuída, a água ou substância envenenada. Esse crime admite a modalidade culposa, conforme disposição do parágrafo segundo, do artigo 270 do Código Penal. 9.3.5 Corrupção ou poluição de água potável Também é criminosa a conduta de corromper ou poluir aguá potável, de uso comum ou particular, de modo a torná-la imprópria para o consumo ou nociva à saúde. Modalidade que, assim como a anterior, admite a forma culposa. 9.3.6 Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de substância ou produtos alimentícios Corromper, adulterar, falsificar ou alterar substância ou produto alimentício destinado a consumo, tornando-o nocivo à saúde ou reduzindo-

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lhe o valor nutritivo é crime descrito no caput do artigo 272 do Código Penal. E nas mesmas penas incorre quem fabrica, vende, expõe à venda, importa, tem em depósito para vender ou, de qualquer forma, distribui ou entrega a consumo a substância alimentícia ou o produto falsificado, corrompido ou adulterado. Penas que também sujeitam àquele que praticar qualquer das ações anteriormente descritas, em relação a bebidas, com ou sem teor alcoólico. O crime em análise admite a forma culposa (art. 272, §2º, do CP). 9.3.7 Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais O crime em questão é extremamente mais grave que o descrito anteriormente. Neste, sujeita-se à pena de reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e multa, aquele que falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput, do CP). E nas mesmas penas incorre quem importa, vende, expõe à venda, tem em depósito para vender ou, de qualquer forma, distribui ou entrega a consumo o produto falsificado, corrompido, adulterado ou alterado (art. 273, §1º, do CP). Entre os produtos a que se refere o artigo em estudo, incluem-se os medicamentos, as matérias-primas, os insumos farmacêuticos, os cosméticos, os saneantes e os de uso em diagnóstico. Admite-se a modalidade culposa, nos termos do parágrafo segundo do mencionado artigo. 9.3.8 Emprego de processo proibido ou de substância não permitida É proibido empregar, no fabrico de produto destinado a consumo, revestimento, gaseificação artificial, matéria corante, substância aromática, antisséptica, conservadora ou qualquer outra não expressamente permitida pela legislação sanitária, sob pena de incorrer na conduta descrita no artigo 274 do Código Penal. Nas mesmas penas incorre aquele que vender, expor à venda, ter em depósito para vender ou, de qualquer forma, entregar a consumo produto nas condições mencionadas. 9.3.9 Invólucro ou recipiente com falsa indicação Também proibido é inculcar, em invólucro ou recipiente de produtos alimentícios, terapêuticos ou medicinais, a existência de substância que não se encontra em seu conteúdo ou que nele existe em quantidade menor que a mencionada, sob pena de cometimento do crime descrito no artigo 275 do Código Penal.

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Nas mesmas penas incorre aquele que vender, expor à venda, ter em depósito para vender ou, de qualquer forma, entregar a consumo produto nas condições mencionadas. 9.3.10 Substância destinada à falsificação É vedado vender, expor à venda, ter em depósito ou ceder substância destinada à falsificação de produtos alimentícios, terapêuticos ou medicinais, sob pena de cometimento do crime tipificado no artigo 277 do Código Penal. 9.3.11 Outras substâncias nocivas à saúde pública O artigo 278 do Código Penal foi editado para albergar a vedação à fabricação, venda, exposição à venda, manutenção em depósito para venda, ou a qualquer outra forma de entrega a consumo de coisa ou substância nociva à saúde, ainda que não destinada a alimentação ou a fim medicinal. Admite a modalidade culposa, conforme redação do parágrafo único do dispositivo em estudo. 9.3.12 Medicamento em desacordo com receita médica Se há fornecimento doloso de substância medicinal em desacordo com receita médica, o agente sujeita-se à pena de detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, ou multa. Mas se o fornecimento for culposo, a pena aplicável será de detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano. 9.3.13 Exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farmacêutica Quem exercer, ainda que a título gratuito, a profissão de médico, dentista ou farmacêutico, sem autorização legal ou excedendo-lhe os limites, comete o crime descrito no artigo 282 do Código Penal, sem que se possa falar em modalidade culposa. Caso o crime tenha se praticado com a finalidade de lucro, além da pena privativa de liberdade, aplica-se também a de multa. 9.3.14 Charlatanismo O charlatanismo é o ato de inculcar (propor) ou anunciar cura por meio secreto ou infalível, conduta descrita como criminosa pelo artigo 283 do Código Penal.

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9.3.15 Curandeirismo Prescreve o artigo 284 do Código Penal que é típica a conduta de exercer o curandeirismo:

a) prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitualmente, qualquer substância;

b) usando gestos, palavras ou qualquer outro meio;

c) fazendo diagnósticos.

Em qualquer dos casos, a pena prevista é de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e, se o crime é praticado mediante remuneração, o agente fica também sujeito à multa. 10. Crimes contra a paz pública São apenas 3 (três) as condutas típicas descritas pelo Código Penal no Título que dispõe sobre os crimes contra a paz pública. A primeira delas é a incitação ao crime, conforme redação do artigo 286 do Código Penal. Publicar em jornal matéria incitando à prática do aborto, por exemplo, configura a conduta descrita nesse tipo penal. A segunda, presente no artigo 287 do Código Penal, tipifica a conduta de fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime. Apologia é o discurso em defesa de algo, nesse caso, a “propaganda” em relação a determinado crime ou autor de crime. Por fim, também configura crime contra a paz pública a associação de mais de 3 (três) pessoas, em quadrilha ou bando, com a finalidade de cometer crimes (art. 288, caput, do CP). Note-se, mais de 3 (três) pessoas, ou seja, exige-se que ao menos 4 (quatro) pessoas estejam associadas com a finalidade de cometer crimes, só com o que se poderá falar em quadrilha ou bando. Comprovada essa finalidade, a conduta é punível independentemente da prática efetiva de algum crime, e a pena será aplicada em dobro se a quadrilha ou bando for armada (art. 288, parágrafo único, do CP). 11. Crimes contra a fé pública 11.1 Moeda falsa São quatro os tipos penais descritos no Capítulo destinado à moeda falsa, pelo Código Penal. O primeiro deles dispõe acerca da moeda falsa, tipificando a conduta de quem falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica ou papel-moeda de curso legal no país ou no estrangeiro (art. 289, caput, do CP). E nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia, importa ou exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda ou introduz na circulação moeda falsa (art. 289, §1º, do CP).

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Aquele que recebe de boa-fé, como verdadeira, meda falsa ou alterada, e restitui à circulação, depois de conhecer a falsidade, também pratica conduta típica (art. 289, §2º, do CP). Também incorre em crime o funcionário público ou diretor, gerente ou fiscal de banco de emissão oficial que fabrica, emite ou autoriza a fabricação ou emissão: a) de moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei; b) de papel-moeda em quantidade superior à autorizada. E nas mesmas penas incorre quem desvia e faz circular moeda, cuja circulação não estava ainda autorizada (art. 289, §4º, do CP). O artigo 290 do Código Penal apresenta a tipificação em relação a crimes assemelhados ao de moeda falsa. Segundo aludido dispositivo, é punível a conduta daquele que formar cédula, nota ou bilhete representativo de moeda com fragmentos de cédulas, notas ou bilhetes verdadeiros, ou suprimir, em nota, cédula ou bilhete recolhidos, para o fim de restituí-los à circulação, sinal indicativo de sua inutilização, ou, ainda, restituir à circulação cédula, nota ou bilhete em tais condições, ou já recolhidos para o fim de inutilização. Também é criminosa a conduta daquele que fabrica, adquire, fornece, a título oneroso ou gratuito, possui ou guarda maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto especialmente destinado à falsificação de moeda, conforme artigo 291 do Código Penal (petrechos para falsificação de moeda). Por fim, o artigo 292 do Código Penal dispõe como típica a conduta de quem emite título (nota, bilhete, ficha, vale ou título que contenha promessa de pagamento em dinheiro ao portador) ao portador sem permissão legal, assim como a conduta de quem recebe ou utiliza como dinheiro qualquer dos títulos mencionados. 11.2 Falsidade de títulos e outros papéis públicos Dispõe o artigo 293 acerca da falsificação de papéis públicos. Segundo mencionado dispositivo, é vedada a falsificação, fabricação ou alteração de: a) selo destinado a controle tributário, papel selado ou qualquer papel de emissão legal destinado à arrecadação de tributo; b) papel de crédito público que não seja moeda de curso legal; c) vale postal; d) cautela de penhor, caderneta de depósito de caixa econômica ou de outro estabelecimento mantido por entidade de direito público; e) talão, recibo, guia, alvará ou qualquer outro documento relativo a arrecadação de rendas públicas ou a depósito ou caução por que o poder público seja responsável; ou f) bilhete, passe ou conhecimento de empresa de transporte administrada pela União, por Estado ou por Município. Nas mesmas penas incorre quem:

I - usa, guarda, possui ou detém qualquer dos papéis falsificados acima mencionados;

II - importa, exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda, fornece ou restitui à circulação selo falsificado destinado a controle tributário;

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III - importa, exporta, adquire, vende, expõe à venda, mantém em depósito, guarda, troca, cede, empresta, fornece, porta ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, produto ou mercadoria:

a) em que tenha sido aplicado selo que se destine a controle tributário, falsificado;

b) sem selo oficial, nos casos em que a legislação tributária determina a obrigatoriedade de sua aplicação.

Considera-se atividade comercial, conforme redação do parágrafo quinto do artigo 293, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em vias, praças ou outros logradouros públicos e em residências. Assim como ocorre em relação ao delito de moeda falsa, também em relação à falsificação de documentos públicos são puníveis os petrechos de falsificação. Segundo o artigo 294 do Código Penal, é punível a conduta de todo aquele que fabricar adquirir, fornecer, possuir ou guardar objeto especialmente destinado à falsificação de qualquer dos papéis anteriormente mencionados. Se o agente for funcionário público e tiver cometido o crime prevalecendo-se do cargo, sofrerá aumento de pena de 1/6 (um sexto), conforme estipula o artigo 295 do Código Penal. 11.3 Falsidade documental O artigo 296 veda que sejam falsificados, mediante fabricação ou alteração:

a) o selo público destinado a autenticar atos oficiais da União, de Estado ou de Município; e

b) o selo ou sinal atribuído por lei a entidade de direito público, ou a autoridade, ou sinal público de tabelião.

E nas mesmas penas incorre quem:

a) faz uso do selo ou sinal falsificado;

b) utiliza indevidamente o selo ou sinal verdadeiro em prejuízo de outrem ou em proveito próprio ou alheio.

c) altera, falsifica ou faz uso indevido de marcas, logotipos, siglas ou quaisquer outros símbolos utilizados ou identificadores de órgãos ou entidades da Administração Pública.

Se o agente for funcionário público e cometer o crime valendo-se do cargo, aumenta-se a pena de 1/6 (um sexto). Enquanto o artigo 297 trata da falsificação de documento público, o artigo 298 trata da falsificação de documento particular. No primeiro caso, comete crime aquele que falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro. Se o agente for funcionário público e cometer o crime valendo-se do cargo,

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aumenta-se a pena de 1/6 (um sexto). Para fins penais, equiparam-se a documento público o emanado de entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular (art. 297, §2º, do CP). Nas mesmas penas previstas para o caput do artigo 297, incorre quem insere ou faz inserir: a) na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado a fazer prova perante a previdência social, pessoa que não possua a qualidade de segurado obrigatório; b) na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento que deva produzir efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita; c) em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as obrigações da empresa perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter constado. Também incorre nas mesmas penas, conforme salienta o parágrafo quarto do artigo 297, quem omite, nos documentos acima mencionados, nome do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de prestação de serviços. Já o segundo caso, que trata da falsificação de documento particular, dispõe como típica a conduta daquele que falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar documento particular verdadeiro. O artigo 299, por sua vez, aborda o delito de falsidade ideológica. Comete esse crime quem omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante. A pena para o crime de falsidade ideológica é de reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa, se o documento é particular. Se o agente que comete a falsidade ideológica é funcionário público, e se vale do cargo para cometê-lo, ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil, aumenta-se a pena em 1/6 (um sexto). Também é criminosa a conduta de quem reconhece, como verdadeira, no exercício de função pública, firma ou letra que o não seja (art. 300, do CP). Conforme tipifica o caput artigo 301 do Código Penal, pratica um fato típico aquele que atestar ou certificar falsamente, em razão de função pública, fato ou circunstância que habilite alguém a obter cargo público, isenção de ônus ou de serviço de caráter público, ou qualquer outra vantagem (certidão ou atestado ideologicamente falso). Consoante parágrafo primeiro do artigo em estudo, também comete crime quem falsifica, no todo ou em parte, atestado ou certidão, ou altera o teor de certidão ou de atestado verdadeiro, para prova de fato ou circunstância que habilite alguém a obter cargo público, isenção de ônus ou de serviço de caráter público, ou qualquer outra vantagem (crime de falsidade material de atestado ou certidão). Em qualquer caso, se o crime for praticado com intuito de lucro, aplica-se, além da pena privativa de liberdade, a de multa. O artigo 302 do Código Penal tipifica a conduta de falsificação de atestado médico. Segundo o dispositivo em análise, comete crime o médico

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que, no exercício de sua profissão, dá atestado falso. Se o crime for praticado com intuito de lucro, aplica-se também a pena de multa. Quem faz uso de qualquer dos documentos falsificados ou alterados, dos artigo 297 a 302, comete o crime de uso de documento falso, previsto no artigo 304 do Código Penal, e sujeita-se a pena cominada para à falsificação ou à alteração respectiva. É vedado pelo artigo 303 do Código Penal, reproduzir ou alterar selo ou peça filatélica que tenha valor para coleção, salvo quando a reprodução ou a alteração está visivelmente anotada na face ou no verso do selo ou peça. Por fim, o artigo 305 do Código Penal dispõe acerca do crime de supressão de documento, tipificando a conduta daquele que destrói, suprime ou oculta, em benefício próprio ou de outrem, ou em prejuízo alheio, documento público ou particular verdadeiro, de que não podia dispor. 11.4 Outras falsidades O primeiro artigo que abre o último capítulo dos crimes contra a fé pública, tipifica a conduta de falsificação do sinal empregado no contraste de metal precioso ou na fiscalização alfandegária. Segundo o artigo 306 do Código Penal, incorre em crime aquele que falsificar, fabricando-o ou alterando-o, marca ou sinal empregado pelo poder público no contraste de metal precioso ou na fiscalização alfandegária, ou usar marca ou sinal dessa natureza, falsificado por outrem. Já os artigos 307 e 308 do Código Penal tratam da falsa identidade. Segundo o artigo 307, é vedado atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem. O artigo 308, por sua vez, veda o uso, como próprio, de passaporte, título de eleitor, caderneta de reservista ou qualquer documento de identidade alheia, assim como o ato de ceder a outrem, para que dele se utilize, documento dessa natureza, próprio ou de terceiro. O artigo 309 do Código Penal dispõe como crime a conduta do estrangeiro que, para entrar ou permanecer no território nacional, utilizar nome que não é o seu. Também é criminosa a conduta daquele que preste-se a figurar como proprietário ou possuidor de ação, título ou valor pertencente a estrangeiro, nos casos em que a este é vedada por lei a propriedade ou a posse de tais bens (art. 310, do CP). Por fim, o artigo 311 do Código Penal dispõe como crime a conduta de quem adulterar ou remarcar número de chassi ou qualquer sinal identificador de seu veículo automotor, de seu componente ou equipamento. Se o agente que comete esse crime está no exercício da função pública ou em razão dela, terá sua pena aumentada de 1/3 (um terço). Nas mesmas penas incorre o funcionário público que contribui para o licenciamento ou registro do veículo remarcado ou adulterado, fornecendo indevidamente material ou informação oficial (art. 311, §2º, do CP).

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12. Crimes contra a administração pública 12.1 Crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral Funcionário público, para fins penais, é aquele que embora sem remuneração e de forma transitória, exerce cargo, emprego ou função pública. Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. Verifica-se que o conceito de funcionário público para fins penais é extremamente mais amplo que o conceito utilizado pelo Direito Administrativo. É importante frisar que quando particulares exercerem condutas típicas juntamente com funcionários públicos, cientes de que estes ostentam essa condição, incorrerão nas mesmas penas, pois há que se lembrar a comunicabilidade, entre co-autores e partícipes, das circunstâncias elementares dos crimes. 12.1.1 Peculato O caput do artigo 312 do Código Penal tipifica a conduta do peculato apropriação (ou desvio), verificável quando o funcionário público se apropria de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou o desvia, em proveito próprio ou alheio. O parágrafo primeiro do dispositivo em estudo tipifica a conduta do peculato furto, verificável quando o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. Já o parágrafo segundo do mesmo artigo apresenta a figura do peculato culposo, que ocorre quando o funcionário público concorre culposamente para o crime de outrem. Nesse caso, se ocorrer a reparação do dano, antes da sentença irrecorrível, haverá extinção da punibilidade, e se ocorrer depois, haverá redução de metade da pena imposta. O artigo 313 do Código Penal tipifica a conduta do peculato mediante erro de outrem, dispondo que nele incorre quem se apropria de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem. 12.1.2 Inserção de dados falsos em sistema de informações O artigo 313-A do Código Penal tipifica a conduta do funcionário autorizado que inserir ou facilitar a inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano.

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12.1.3 Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações Enquanto o artigo 313-A trata da inserção de dados falsos, o artigo 313-B do Código Penal tipifica as condutas de modificação e alteração não autorizada, por funcionário público, de sistema de informação ou programa de informática sem autorização ou solicitação de autoridade competente. Nesse caso, haverá aumento de pena de 1/3 (um terço) até a metade se da modificação ou alteração resultar dano para a Administração Pública ou para o administrado. 12.1.4 Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento É crime previsto no artigo 314 do Código Penal, extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão do cargo, assim como sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente. 12.1.5 Emprego irregular de verbas ou rendas públicas Empregar irregularmente verbas ou rendas públicas, dando-lhe aplicação diversa da estabelecida em lei é crime, e sujeita o infrator à pena de detenção de 1 (um) a 3 (três) meses, ou multa. 12.1.6 Concussão Verifica-se a concussão quando o funcionário público exige, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, conforme estipulação contida no caput do artigo 316 do Código Penal. No parágrafo primeiro do aludido dispositivo, encontra-se a figura do excesso de exação, verificável quando o funcionário público exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza. 12.1.7 Corrupção passiva Verifica-se a corrupção passiva quando o funcionário público solicita ou recebe, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou quando aceita promessa de tal vantagem, conforme redação do caput do artigo 317 do Código Penal. A pena da corrupção passiva aumenta-se de 1/3 (um terço) se, em consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional (art. 317, §1º, do CP).

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Também configura corrupção passiva a conduta de funcionário público que pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração do dever funcional, cedente a pedido ou influência de outrem. 12.1.8 Facilitação de contrabando ou descaminho Se houver infração do dever funcional, para facilitação da prática de contrabando ou descaminho, incorrerá o agente no fato típico do artigo 318 do Código Penal, e estará sujeito à pena de reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa 12.1.9 Prevaricação A prevaricação é o crime que se consuma mediante a conduta de retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou de praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal (art. 319, do CP). Recente inclusão no Código Penal foi o artigo 319-A, que tipificou a conduta do Diretor de Penitenciária e/ou agente público que deixar de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo. 12.1.10 Condescendência criminosa A condescendência criminosa ocorre quando o funcionário público deixa, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente. 12.1.11 Advocacia administrativa É também criminosa a conduta do funcionário público que patrocina, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se de sua qualidade, caso em que se sujeita à pena de detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou multa. No entanto, se o interesse patrocinado for ilegítimo, a pena aplicável será de detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, além da multa. 12.1.12 Violência arbitrária O funcionário que praticar violência, no exercício de função ou a pretexto de exercê-la, incorre na conduta típica do artigo 322 do Código

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Penal, e se sujeita à pena de detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, além da pena correspondente à violência. 12.1.13 Abandono de função É típica a conduta daquele que abandona o cargo público, fora das hipóteses legalmente permitidas (art. 323, caput, do CP). E agrava-se a conduta se do fato resultar prejuízo público (art. 323, §1º, do CP), assim como se o fato ocorrer em lugar compreendido na faixa de fronteira (art. 323, §2º, do CP). 12.1.14 Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado O artigo 324 do Código Penal dispõe que comete crime aquele que entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as exigências legais, ou continuar a exercê-la, sem autorização, depois de saber oficialmente que foi exonerado, removido, substituído ou suspenso. 12.1.15 Violação de sigilo funcional Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação, é crime previsto no caput do artigo 325 do Código Penal. E nas mesmas penas incorre quem:

a) permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e empréstimo de senha ou qualquer outra forma, o acesso de pessoas não autorizadas a sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública;

b) se utiliza, indevidamente, do acesso restrito. 12.1.16 Violação do sigilo de proposta de concorrência A conduta de quem devassa o sigilo de proposta de concorrência pública, ou proporciona a terceiro o ensejo de devassá-lo, descrita pelo artigo 326 do Código Penal, foi revogada tacitamente pelo artigo 94 da Lei de Licitações (Lei n.º 8.666/93). 12.2 Crimes praticados por particular contra a administração em geral 12.2.1 Usurpação de função pública Usurpar a função pública é assumi-la indevidamente através de algum meio fraudulento. A mera usurpação, por si só, configura o crime descrito no caput do artigo 328 do Código Penal, mas se do fato o agente auferir vantagem, sujeitar-se-á a aplicação de pena mais gravosa, conforme estipula o parágrafo único do mencionado artigo.

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12.2.2 Resistência O crime de resistência ocorre quando alguém opõe-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio. Nesse caso, o agente se sujeitará a pena de detenção, de 2 (dois) meses a 2 (dois) anos. Mas se o ato, em razão da resistência, não se executar, a pena aplicável será de reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. As penas pela prática do crime de resistência aplicam-se sem prejuízo das correspondentes à violência. 12.2.3 Desobediência Se alguém desobedecer a ordem legal de funcionário público, pratica do crime de desobediência, e sujeita-se à pena de detenção, de 15 (quinze) dias a 6 (seis) meses, e multa. 12.2.4 Desacato Desacatar é desrespeitar, desprezar o funcionário público que esteja no exercício de sua função ou em razão dela, caso em que a pena prevista é de detenção, 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa. 12.2.5 Tráfico de Influência Ocorre o tráfico de influência quando alguém solicita, exige, cobra ou obtém, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função. Nesse caso, a pena será aumentada da metade, se o agente alega ou insinua que a vantagem é também destinada ao funcionário. 12.2.6 Corrupção ativa Verifica-se a corrupção ativa quando alguém oferece ou promete vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício (art. 333, caput, do CP). Nesse caso, a pena será aumentada de 1/3 (um terço) se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional. 12.2.7 Contrabando ou descaminho Contrabando é a importação ou exportação de mercadoria proibida no território nacional. Já o descaminho é a importação ou exportação de

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mercadoria lícita, porém, sem o devido recolhimento, total ou parcial, do imposto devido pela sua entrada ou saída. Na mesma pena de quem importa ou exporta produto, mediante ato de contrabando ou descaminho, incorre quem:

a) pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei;

b) pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando ou descaminho;

c) vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira que introduziu clandestinamente no País ou importou fraudulentamente ou que sabe ser produto de introdução clandestina no território nacional ou de importação fraudulenta por parte de outrem;

d) adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de documentação legal, ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos.

Equipara-se à atividade comercial, para fins de contrabando ou descaminho, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências (art. 334, §2º, do CP). Se o contrabando ou descaminho for praticado em transporte aéreo, a pena deve ser aplicada em dobro (art. 334, §3º, do CP). 12.2.8 Impedimento, perturbação ou fraude de concorrência São típicas as condutas de impedir, perturbar ou fraudar concorrência pública ou venda em hasta pública, promovida pela administração federal, estadual ou municipal, ou por entidade paraestatal, assim como afastar ou procurar afastar concorrente ou licitante, por meio de violência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem (art. 335, do CP). Na mesma pena incorre quem se abstém de concorrer ou licitar, em razão da vantagem oferecida. 12.2.9 Inutilização de edital ou de sinal Aquele que rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar ou conspurcar edital afixado por ordem de funcionário público, ou que violar ou inutilizar selo ou sinal empregado, por determinação legal ou por ordem de funcionário público, para identificar ou cerrar qualquer objeto, comete crime, conforme redação legal do artigo 336 do Código Penal.

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12.2.10 Subtração ou inutilização de livro ou documento Também é típica a conduta de subtração, ou inutilização, total ou parcial, de livro oficial, processo ou documento confiado à custódia de funcionário público, em razão de ofício, ou de particular em serviço público. 12.2.11 Sonegação de contribuição previdenciária O delito descrito no artigo 337-A foi incluído no Código Penal pela Lei n.º 9.983/2000, e tipificou as condutas daquele que suprime ou reduz contribuição social previdenciária e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas:

a) omitir de folha de pagamento da empresa ou de documento de informações previsto pela legislação previdenciária segurados empregado, empresário, trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a este equiparado que lhe prestem serviços;

b) deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da contabilidade da empresa as quantias descontadas dos segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo tomador de serviços;

c) omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos, remunerações pagas ou creditadas e demais fatos geradores de contribuições sociais previdenciárias.

Para este crime, será extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declarar e confessar as contribuições, importâncias ou valores e prestar as informações devidas à Previdência Social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal (art. 337-A, §1º, do C). Faculta-se ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais. Quando o empregador não for pessoa jurídica e sua folha de pagamento mensal não ultrapassar R$ 1.510,00 (mil quinhentos e dez reais), o juiz pode reduzir a pena de 1/3 (um terço) até a metade ou aplicar apenas a de multa (art. 337-A, §3º, do CP). 12.3 Crimes praticados por particular contra a administração pública estrangeira Considera-se funcionário público estrangeiro, para os efeitos penais, quem, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública em entidades estatais ou em representações diplomáticas de país estrangeiro. E equipara-se a funcionário público estrangeiro quem exerce cargo, emprego ou função em empresas controladas, diretamente ou indiretamente,

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pelo Poder Público de país estrangeiro ou em organizações públicas internacionais. 12.3.1 Corrupção ativa em transação comercial internacional Comete essa específica hipótese de corrupção ativa, aquele que prometer, oferecer ou dar, direta ou indiretamente, vantagem indevida a funcionário público estrangeiro, ou a terceira pessoa, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício relacionado à transação comercial internacional. A pena para o crime em análise será aumentada de 1/3 (um terço), se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário público estrangeiro retarda ou omite o ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional. 12.3.2 Tráfico de influência em transação comercial internacional O tráfico de influência em transação comercial internacional ocorre quando há solicitação de exigência, cobrança ou obtenção, para si ou para outrem, de forma direta ou indireta, de vantagem ou promessa de vantagem a pretexto do exercício de influência em ato a ser praticado por funcionário público estrangeiro no exercício de suas funções, relacionado a transação comercial internacional. A pena será aumentada da metade, quando o agente alegar ou insinuar que a vantagem também será destinada ao funcionário estrangeiro. 12.4 Crimes contra a administração da justiça 12.4.1 Reingresso de estrangeiro expulso O primeiro dos crimes contra a administração da Justiça é o reingresso de estrangeiro expulso, que se verifica quando há o reingresso no território nacional do estrangeiro que dele tenha sido expulso. Nesse caso, além da pena privativa de liberdade, o estrangeiro estará sujeito a nova expulsão após o cumprimento da mesma. 12.4.2 Denunciação caluniosa Denunciação caluniosa é dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente. A pena para a denunciação caluniosa deve ser aumentada da sexta parte, quando o agente se servir do anonimato ou de nome suposto. E deve ser diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção.

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12.4.3 Comunicação falsa de crime ou de contravenção Quem provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado, comete o crime descrito no artigo 340 do Código Penal, e se sujeita à pena de detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa. 12.4.4 Auto-acusação falsa Também é criminosa a conduta de acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente ou praticado por outrem, conforme dispõe o artigo 341 do Código Penal. 12.4.5 Falso testemunho ou falsa perícia Comete o crime de falso testemunho ou falsa perícia aquele que fizer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral. O crime de falso testemunho ou falsa perícia é crime de mão própria, isto é, só pode ser cometido pela própria testemunha ou perito, não sendo possível cometê-lo por intermédio de outrem. Esse crime não admite co-autoria, embora admita participação. Um exemplo típico de partícipe no crime de falso testemunho é o do advogado, que incentiva a realização da falsa afirmação por parte da testemunha. As penas para o crime de falso testemunho ou falsa perícia aumentam-se de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço), se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta (ar. 342, §1º, do CP). O crime de falso testemunho ou falsa perícia possui uma peculiaridade, que é a possibilidade de retratação ou declaração da verdade, que quando feita antes de ser prolatada a sentença no processo em que ocorreu o ilícito, faz com que o fato deixe de ser punível (art. 342, §2º, do CP). É também criminosa, conforme redação do artigo 343 do Código Penal, a conduta de dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra vantagem a testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade em depoimento, perícia, cálculos, tradução ou interpretação. Nessa hipótese, as penas aumentam-se de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço), se o crime é cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta.

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12.4.6 Coação no curso do processo Ocorre a coação no curso do processo quando alguém usa de violência ou grave ameaça, com a finalidade de favorecer interesse próprio ou alheio, contra autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa que funcione ou seja chamada a intervir em processo judicial, policial ou administrativo, ou em juízo arbitral. 12.4.7 Exercício arbitrário das próprias razões Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite é crime tipificado pelo caput do artigo 345 do Código Penal. Em relação a essa conduta, se não houver o emprego de violência, somente se procede mediante queixa. 12.4.8 Fraude processual Verifica-se a fraude processual mediante a inovação artificiosa, na pendência de processo civil ou administrativo, do estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com a finalidade de induzir a erro o juiz ou o perito (art. 347, caput, do CP). Se a inovação tiver como objetivo a produção de efeito em processo penal, ainda que não iniciado, as penas devem ser aplicadas em dobro. 12.4.9 Favorecimento pessoal O artigo 348 do Código Penal dispõe como favorecimento pessoal a conduta daquele que auxiliar a subtrair-se (esconder-se) à ação de autoridade pública autor de crime a que é cominada pena de reclusão, caso em que o agente estará sujeito a pena de detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, e multa. Se ao crime não é cominada pena de reclusão, o agente estará sujeito a pena de detenção, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, e multa. Há isenção de pena se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso. 12.4.10 Favorecimento real O favorecimento real ocorre mediante a conduta daquele que presta a criminoso, fora dos casos de co-autoria ou de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito do crime, conforme redação do artigo 349 do Código Penal. E após a Lei n.º 12.012/09, também se considera como crime de favorecimento real a conduta de quem ingressa, promove, intermedeia,

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auxilia ou facilita a entrada de aparelho telefônico de comunicação móvel, de rádio ou similar, sem autorização legal, em estabelecimento prisional. 12.4.11 Exercício arbitrário ou abuso de poder Comete exercício arbitrário do poder aquele que ordenar ou executar medida privativa de liberdade individual, sem as formalidades legais ou com abuso de poder. E na mesma pena incorre o funcionário que:

a) ilegalmente recebe e recolhe alguém a prisão, ou a estabelecimento destinado a execução de pena privativa de liberdade ou de medida de segurança;

b) prolonga a execução de pena ou de medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou de executar imediatamente a ordem de liberdade;

c) submete pessoa que está sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não autorizado em lei;

d) efetua, com abuso de poder, qualquer diligência. 12.4.12 Fuga de pessoa presa ou submetida a medida de segurança Promover ou facilitar a fuga de pessoa legalmente presa ou submetida a medida de segurança detentiva é crime, e sujeita o agente à pena de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. 12.4.13 Evasão mediante violência contra a pessoa Também há crime quando ocorre a evasão ou tentativa de evasão pelo preso ou indivíduo submetido a medida de segurança detentiva, fazendo uso de violência contra a pessoa, conforme tipifica o artigo 352 do Código Penal. 12.4.14 Arrebatamento de preso A conduta descrita no artigo 353 do Código Penal tipifica a conduta daquele que arrebatar (arrancar, tirar com violência) preso, a fim de maltratá-lo, do poder de quem o tenha sob custódia ou guarda. 12.4.15 Motim de presos Se os presos se amotinarem, perturbando a ordem ou a disciplina prisão, incorrem no crime descrito no artigo 354 do Código Penal, e sujeitam-se a pena de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, além da pena correspondente à violência.

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12.4.16 Patrocínio infiel O artigo 354 do Código Penal dispõe como crime, trair, na qualidade de advogado ou procurador, o dever profissional, prejudicando interesse, cujo patrocínio, em juízo, lhe foi confiado. Nas mesmas penas incorre o advogado ou procurador judicial que defende na mesma causa, simultânea ou sucessivamente, partes contrárias, delito conhecido como patrocínio simultâneo ou tergiversação. 12.4.17 Sonegação de papel ou objeto de valor probatório É típica a conduta de inutilizar, total ou parcialmente, ou deixar de restituir autos, documento ou objeto de valor probatório, que recebeu na qualidade de advogado ou procurador, conduta que sujeita o agente à pena de detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa. 12.4.18 Exploração de prestígio Também típica é a conduta de solicitar ou receber dinheiro ou qualquer outra utilidade, a pretexto de influir em juiz, jurado, órgão do Ministério Público, funcionário de justiça, perito, tradutor, intérprete ou testemunha (art. 357, do CP). As penas desse delito aumentam-se de 1/3 (um terço), se o agente alega ou insinua que o dinheiro ou utilidade também se destina a qualquer das pessoas referidas pelo artigo. 12.4.19 Violência ou fraude em arrematação judicial O crime de violência ou fraude em arrematação judicial ocorre quando há o impedimento, perturbação ou fraude à arrematação judicial, assim como quando há o afastamento ou a tentativa de afastar concorrente ou licitante por meio de violência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem (art. 358, do CP). 12.4.20 Desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito O artigo 359 do Código Penal dispõe ser criminosa a conduta daquele que exercer função, atividade, direito, autoridade ou múnus, de que foi suspenso ou privado por decisão judicial, conduta que sujeita o agente à pena de detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, ou multa.

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1. LEI DE CONTRAVENÇÕES PENAIS A lei de contravenções penais, Decreto-lei n.º 3.688/41, estipula delitos conhecidos como “crimes-anão”. O artigo 2º da lei em estudo, estipula que a lei brasileira só é aplicável à contravenção praticada no território nacional, isto significa que, em se tratando de contravenções, não há que se falar em territorialidade temperada, tão menos em extraterritorialidade. Portanto, quanto às contravenções vige o princípio da territorialidade de forma pura e absoluta. Para que se fale em contravenção, basta a ação ou omissão voluntária, levando-se em conta o dolo ou a culpa quando a lei fizer depender, de um ou de outro, qualquer efeito jurídico (art. 3º, da LCP). Não se punem as tentativas de contravenção, conforme expressa disposição do artigo 4º da Lei de Contravenções Penais. São as penas principais em sede das contravenções:

a) prisão simples;

b) multa.

Em se tratando da pena de prisão simples, ela deve ser cumprida em estabelecimento especial ou seção especial de prisão comum, em regime semi-aberto ou aberto, não havendo que se falar em regime fechado (art. 6º, da LCP). O condenado por prisão simples deve ficar separado dos condenados às penas de reclusão ou detenção (art. 6º, §1º, da LCP). A pena de prisão simples não pode nunca ser superior a 5 (cinco) anos. No âmbito das contravenções, verifica-se a reincidência quando o agente praticar uma contravenção depois de transitada em julgado uma sentença que o tenha condenado:

a) no Brasil ou no estrangeiro, por crime; ou

b) no Brasil por motivo de contravenção.

Dentre outras, são contravenções penais:

a) referentes a pessoa:

a.1) anunciar processo, substância ou objeto destinado a provocar aborto;

a.2) praticar vias de fato contra alguém.

b) referentes ao patrimônio:

b.1) abrir alguém, no exercício de profissão de serralheiro ou oficio análogo, a pedido ou por incumbência de pessoa de cuja legitimidade não se tenha certificado previamente, fechadura ou qualquer outro aparelho destinado à defesa de lugar ou objeto.

c) referentes à incolumidade pública:

c.1) deixar em liberdade, confiar à guarda de pessoa inexperiente, ou não guardar com a devida cautela animal perigoso.

d) referentes à paz pública:

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d.1) provocar tumulto ou portar-se de modo inconveniente ou desrespeitoso, em solenidade ou ato oficial, em assembléia ou espetáculo público, se o fato não constitui infração penal mais grave.

e) referentes à fé pública:

e.1) recusar-se a receber, pelo seu valor, moeda de curso legal no país.

f) referente à organização do trabalho:

f.1) exercer profissão ou atividade econômica ou anunciar que a exerce, sem preencher as condições a que por lei está subordinado o seu exercício.

g) referente à polícia de costumes:

g.1) estabelecer ou explorar jogo de azar em lugar público ou acessível ao público, mediante o pagamento de entrada ou sem ele.

h) referente à Administração Pública:

h.1) inumar ou exumar cadáver, com infração das disposições legais. 2. LEI DE CRIMES CONTRA A ECONOMIA POPULAR A lei de crimes contra a economia popular, Lei n.º 1.521/51, estipula logo em seu artigo 2º quais são as condutas que caracterizam tais crimes:

a) recusar individualmente em estabelecimento comercial a prestação de serviços essenciais à subsistência; sonegar mercadoria ou recusar vendê-la a quem esteja em condições de comprar a pronto pagamento;

b) favorecer ou preferir comprador ou freguês em detrimento de outro, ressalvados os sistemas de entrega ao consumo por intermédio de distribuidores ou revendedores;

c) expor à venda ou vender mercadoria ou produto alimentício, cujo fabrico haja desatendido a determinações oficiais, quanto ao peso e composição;

d) negar ou deixar o fornecedor de serviços essenciais de entregar ao freguês a nota relativa à prestação de serviço, desde que a importância exceda de quinze cruzeiros, e com a indicação do preço, do nome e endereço do estabelecimento, do nome da firma ou responsável, da data e local da transação e do nome e residência do freguês;

e) misturar gêneros e mercadorias de espécies diferentes, expô-los à venda ou vendê-los, como puros; misturar gêneros e mercadorias de qualidades desiguais para expô-los à venda ou vendê-los por preço marcado para os de mais alto custo;

f) transgredir tabelas oficiais de gêneros e mercadorias, ou de serviços essenciais, bem como expor à venda ou oferecer ao público ou vender tais gêneros, mercadorias ou serviços, por preço superior ao tabelado, assim como não manter afixadas, em lugar visível e de fácil leitura, as tabelas de preços aprovadas pelos órgãos competentes;

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g) negar ou deixar o vendedor de fornecer nota ou caderno de venda de gêneros de primeira necessidade, seja à vista ou a prazo, e cuja importância exceda de dez cruzeiros, ou de especificar na nota ou caderno - que serão isentos de selo - o preço da mercadoria vendida, o nome e o endereço do estabelecimento, a firma ou o responsável, a data e local da transação e o nome e residência do freguês;

h) celebrar ajuste para impor determinado preço de revenda ou exigir do comprador que não compre de outro vendedor;

i) obter ou tentar obter ganhos ilícitos em detrimento do povo ou de número indeterminado de pessoas mediante especulações ou processos fraudulentos ("bola de neve", "cadeias", "pichardismo" e quaisquer outros equivalentes);

j) violar contrato de venda a prestações, fraudando sorteios ou deixando de entregar a coisa vendida, sem devolução das prestações pagas, ou descontar destas, nas vendas com reserva de domínio, quando o contrato for rescindido por culpa do comprador, quantia maior do que a correspondente à depreciação do objeto.

k) fraudar pesos ou medidas padronizados em lei ou regulamentos; possuí-los ou detê-los, para efeitos de comércio, sabendo estarem fraudados.

Para configuração de qualquer crime contra a economia popular, consideram-se como gêneros de primeira necessidade aqueles indispensáveis à subsistência humana, como alimentos, itens de vestuário, iluminação, terapêuticos, sanitários, combustível, habitação e materiais de construção. E o artigo 3º da lei em estudo prossegue estipulando que são crimes da mesma natureza:

a) destruir ou inutilizar, intencionalmente e sem autorização legal, com o fim de determinar alta de preços, em proveito próprio ou de terceiro, matérias-primas ou produtos necessários ao consumo do povo;

b) abandonar ou fazer abandonar lavoura ou plantações, suspender ou fazer suspender a atividade de fábricas, usinas ou quaisquer estabelecimentos de produção, ou meios de transporte, mediante indenização paga pela desistência da competição;

c) promover ou participar de consórcio, convênio, ajuste, aliança ou fusão de capitais, com o fim de impedir ou dificultar, para o efeito de aumento arbitrário de lucros, a concorrência em matéria de produção, transportes ou comércio;

d) reter ou açambarcar matérias-primas, meios de produção ou produtos necessários ao consumo do povo, com o fim de dominar o mercado em qualquer ponto do País e provocar a alta dos preços;

e) vender mercadorias abaixo do preço de custo com o fim de impedir a concorrência.

f) provocar a alta ou baixa de preços de mercadorias, títulos públicos, valores ou salários por meio de notícias falsas, operações fictícias ou qualquer outro artifício;

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g) dar indicações ou fazer afirmações falsas em prospectos ou anúncios, para fim de substituição, compra ou venda de títulos, ações ou quotas;

h) exercer funções de direção, administração ou gerência de mais de uma empresa ou sociedade do mesmo ramo de indústria ou comércio com o fim de impedir ou dificultar a concorrência;

i) gerir fraudulenta ou temerariamente bancos ou estabelecimentos bancários, ou de capitalização; sociedades de seguros, pecúlios ou pensões vitalícias; sociedades para empréstimos ou financiamento de construções e de vendas e imóveis a prestações, com ou sem sorteio ou preferência por meio de pontos ou quotas; caixas econômicas; caixas Raiffeisen; caixas mútuas, de beneficência, socorros ou empréstimos; caixas de pecúlios, pensão e aposentadoria; caixas construtoras; cooperativas; sociedades de economia coletiva, levando-as à falência ou à insolvência, ou não cumprindo qualquer das cláusulas contratuais com prejuízo dos interessados;

j) fraudar de qualquer modo escriturações, lançamentos, registros, relatórios, pareceres e outras informações devidas a sócios de sociedades civis ou comerciais, em que o capital seja fracionado em ações ou quotas de valor nominativo igual ou inferior a um mil cruzeiros com o fim de sonegar lucros, dividendos, percentagens, rateios ou bonificações, ou de desfalcar ou de desviar fundos de reserva ou reservas técnicas.

E a lei de crimes contra a economia popular ainda tipifica como crime de mesma natureza a usura pecuniária ou real, assim se considerando a conduta de:

a) cobrar juros, comissões ou descontos percentuais, sobre dívidas em dinheiro superiores à taxa permitida por lei; cobrar ágio superior à taxa oficial de câmbio, sobre quantia permutada por moeda estrangeira; ou, ainda, emprestar sob penhor que seja privativo de instituição oficial de crédito;

b) obter, ou estipular, em qualquer contrato, abusando da premente necessidade, inexperiência ou leviandade de outra parte, lucro patrimonial que exceda o quinto do valor corrente ou justo da prestação feita ou prometida.

O delito de usura atinge a toda a sociedade, e sua pena é de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Nas mesmas penas incorrem os procuradores, mandatários ou mediadores que intervierem na operação usurária, bem como os cessionários de crédito usurário que, cientes de sua natureza ilícita, o fizerem valer em sucessiva transmissão ou execução judicial. Por derradeiro, conforme dispõe o parágrafo segundo, do artigo 4º, da Lei de Crimes Contra a Economia Popular, são circunstâncias agravantes do crime de usura:

I - ser cometido em época de grave crise econômica;

II - ocasionar grave dano individual;

III - dissimular-se a natureza usurária do contrato;

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IV - quando cometido: a) por militar, funcionário público, ministro de culto religioso; por

pessoa cuja condição econômico-social seja manifestamente superior à da vítima;

b) em detrimento de operário ou de agricultor; de menor de 18 (dezoito) anos ou de deficiente mental, interditado ou não.

3. LEI DE CRIMES HEDIONDOS A Constituição Federal de 1988 dispõe em seu artigo 5º, inciso XLIII, que “a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem”. Nesse contexto, a lei n.º 8.072/90 dispôs sobre as condutas consideradas hediondas. Segundo o artigo 1º, de mencionada lei, são considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Código Penal, consumados ou tentados:

a) homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, §2º, I, II, III, IV e V);

b) latrocínio (art. 157, §3º, in fine);

c) extorsão qualificada pela morte (art. 158, §2º);

d) extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ 1º, 2º e 3º);

e) estupro (art. 213, caput e §§ 1º e 2º);

f) estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1º, 2º, 3º e 4º);

g) epidemia com resultado morte (art. 267, §1º);

h) falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e §1º, §1º-A e §1º-B, com a redação dada pela Lei nº 9.677/98).

E conforme disposição do parágrafo único do artigo 1º, da Lei de Crimes Hediondos, também considera-se hediondo o crime de genocídio previsto nos artigos 1º, 2º e 3º da Lei n.º 2.889/56, tentado ou consumado. Atendendo ao mandamento constitucional, o artigo 2º da lei em estudo dispõe que os crimes hediondos são insuscetíveis de fiança, anistia, graça, e acrescenta que eles também são insuscetíveis de indulto. Em se tratando de crimes hediondos, a pena tem de ser cumprida inicialmente em regime fechado. No caso desses crimes, a progressão de regime dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente. Segundo da Lei n.º 7.960/89, o prazo da prisão temporária é de 5 (cinco) dias, prorrogáveis por mais 5 (cinco). No entanto, em se tratando de crimes hediondos, o prazo para a prisão temporária é de 30 (trinta) dias,

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prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade (art. 2º, §4º, da Lei dos Crimes Hediondos). 4. LEI SOBRE A TORTURA A lei que define o os crimes de tortura, Lei n.º 9.455/97, estipula logo em seu artigo 1º, que constitui crime de tortura:

I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental:

a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa;

b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;

c) em razão de discriminação racial ou religiosa;

II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.

A pena para o crime de tortura é de 2 (dois) a 8 (oito) anos. Na mesma pena incorre quem submete outra pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal (art. 1º §1º, da Lei de Tortura). Nesse contexto, todo aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de 1 (um) a 4 (quatro) anos (art. 1º §2º, da Lei de Tortura). Se da tortura resultar:

a) lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos;

b) morte, a pena é de reclusão de 8 (oito) a 16 (dezesseis) anos.

Aumenta-se a pena de 1/6 (um sexto) até 1/3 (um terço):

a) se o crime é cometido por agente público;

b) se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos; ou

c) se o crime é cometido mediante sequestro.

A condenação pelo crime de tortura acarreta a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada (art. 1º §5º, da Lei de Tortura). Recorde-se que o crime de tortura, conforme mandamento constitucional e previsão legal, é insuscetível de fiança, graça e anistia. Mas enquanto a Lei dos Crimes Hediondos (Lei n.º 8.072/90) prevê que a tortura é também insuscetível de indulto, a Lei de Tortura (Lei n.º 9.455/97) silenciou sobre o assunto, mantendo apenas a redação constitucional, que trata da inafiançabilidade, da graça e da anistia.

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Acerca do assunto, duas são as posições. A primeira reputa que o silêncio da Lei de Tortura, que é posterior à Lei dos Crimes Hediondos, trouxe um permissivo para aplicação do indulto. Já a segunda e prevalecente, reputa que o indulto está contido na expressão graça, já que ele nada mais é do que uma espécie de graça concedida coletivamente. O condenado por crime de tortura inicia o cumprimento da pena em regime fechado. Por derradeiro, a teor da disposição contida no artigo 2º, da Lei de Tortura, o conteúdo desta lei aplica-se ainda que o crime não tenha sido cometido em território nacional, desde que a vítima seja brasileira ou o agente encontre-se em local sob jurisdição brasileira. 5. CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO O Código de Trânsito Brasileiro, lei n.º 9.503/97, aborda vasta disciplina sobre o tráfego de veículos automotores, das quais interessa ao presente curso o Capítulo XIX, que dispõe sobre os crimes de trânsito. Para os crimes previstos no Código de Trânsito Brasileiro se aplicam as disposições gerais dos Códigos Penal e de Processo Penal, desde que não haja estipulação específica, que prefere às normais gerais em alguns casos, como nas hipóteses de lesão corporal culposa em crimes de trânsito. No entanto, só se aplicam as disposições atinentes à composição dos danos civis, ou à aplicação imediata de pena restritiva de direitos aos crimes de lesão corporal culposa, desde que estes não tenham sido cometidos:

a) sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que determine dependência;

b) mediante participação, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística, de exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente;

c) transitando em velocidade superior à máxima permitida para a via em 50 km/h (cinquenta quilômetros por hora).

Nos crimes de trânsito, a suspensão ou a proibição de se obter permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor pode ser imposta como penalidade principal, isolada ou cumulativamente com outras penalidades (art. 292, do CTB). Conforme disposição do artigo 294 do Código de Trânsito Brasileiro, em qualquer fase da investigação ou da ação penal, havendo necessidade para a garantia da ordem pública, poderá o juiz, como medida cautelar, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público ou ainda mediante representação da autoridade policial, decretar, em decisão motivada, a suspensão da permissão ou da habilitação para dirigir veículo automotor, ou a proibição de sua obtenção. Nesse caso, da decisão que decretar a suspensão ou a medida cautelar, assim como da que indeferir o requerimento do Ministério Público, cabe recurso em sentido estrito, sem efeito suspensivo (art. 294, parágrafo único, do CTB). São circunstâncias que sempre agravam as penalidades dos crimes de trânsito, ter o condutor cometido a infração (art. 298, do CTB):

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a) com dano potencial para duas ou mais pessoas ou com grande risco de grave dano patrimonial a terceiros;

b) utilizando o veículo sem placas, com placas falsas ou adulteradas;

c) sem possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;

d) com Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação de categoria diferente da do veículo;

e) quando a sua profissão ou atividade exigir cuidados especiais com o transporte de passageiros ou de carga;

f) utilizando veículo em que tenham sido adulterados equipamentos ou características que afetem a sua segurança ou o seu funcionamento de acordo com os limites de velocidade prescritos nas especificações do fabricante;

g) sobre faixa de trânsito temporária ou permanentemente destinada a pedestres.

Ponto importante do Código de Trânsito Brasileiro consta de seu artigo 301, segundo o qual, ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de trânsito que resulte vítima, não será imposta a prisão em flagrante, nem será exigida fiança, se for prestado pronto e integral socorro àquela. E quando não seja possível ao condutor, por motivo de segurança, prestar socorro à vítima, desaparece o dever de agir, mas não o de solicitar auxílio da autoridade pública. 5.1 Crimes em espécie São as principais condutas típicas descritas pelo Código de Trânsito Brasileiro:

a) Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:

Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

Parágrafo único. No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a pena é aumentada de um terço à metade, se o agente:

I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação; II - praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada; III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco

pessoal, à vítima do acidente; IV - no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo

veículo de transporte de passageiros.

b) Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor:

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Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

Parágrafo único. Aumenta-se a pena de um terço à metade, se ocorrer qualquer das hipóteses do parágrafo único do artigo anterior.

c) Art. 304. Deixar o condutor do veículo, na ocasião do acidente, de prestar imediato socorro à vítima, ou, não podendo fazê-lo diretamente, por justa causa, deixar de solicitar auxílio da autoridade pública:

Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa, se o fato não constituir elemento de crime mais grave.

Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do veículo, ainda que a sua omissão seja suprida por terceiros ou que se trate de vítima com morte instantânea ou com ferimentos leves.

d) Art. 305. Afastar-se o condutor do veículo do local do acidente, para fugir à responsabilidade penal ou civil que lhe possa ser atribuída:

Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

e) Art. 306. Conduzir veículo automotor, na via pública, estando com concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas, ou sob a influência de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência:

Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

Parágrafo único. O Poder Executivo federal estipulará a equivalência entre distintos testes de alcoolemia, para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo.

f) Art. 307. Violar a suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor imposta com fundamento neste Código:

Penas - detenção, de seis meses a um ano e multa, com nova imposição adicional de idêntico prazo de suspensão ou de proibição.

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre o condenado que deixa de entregar, no prazo estabelecido no §1º do art. 293, a Permissão para Dirigir ou a Carteira de Habilitação.

g) Art. 308 Participar, na direção de veículo automotor, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística não autorizada pela autoridade competente, desde que resulte dano potencial à incolumidade pública ou privada:

Penas - detenção, de seis meses a dois anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

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h) Art. 309. Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida Permissão para Dirigir ou Habilitação ou, ainda, se cassado o direito de dirigir, gerando perigo de dano:

Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

i) Art. 310. Permitir, confiar ou entregar a direção de veículo automotor a pessoa não habilitada, com habilitação cassada ou com o direito de dirigir suspenso, ou, ainda, a quem, por seu estado de saúde, física ou mental, ou por embriaguez, não esteja em condições de conduzi-lo com segurança:

Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

j) Art. 311. Trafegar em velocidade incompatível com a segurança nas proximidades de escolas, hospitais, estações de embarque e desembarque de passageiros, logradouros estreitos, ou onde haja grande movimentação ou concentração de pessoas, gerando perigo de dano:

Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

k) Art. 312. Inovar artificiosamente, em caso de acidente automobilístico com vítima, na pendência do respectivo procedimento policial preparatório, inquérito policial ou processo penal, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, a fim de induzir a erro o agente policial, o perito, ou juiz:

Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

Parágrafo único. Aplica-se o disposto neste artigo, ainda que não iniciados, quando da inovação, o procedimento preparatório, o inquérito ou o processo aos quais se refere.

6. LEI DE DROGAS A Lei de Drogas, Lei n.º 11.343/06 substituiu as leis n.º 6.368/76 e 10.409/02, que disciplinavam o assunto. Conforme estipulação do artigo 27 da Lei de Drogas, as penas nela previstas podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como substituídas a qualquer tempo, ouvidos o Ministério Público e o defensor. O artigo 28 trata da conduta do usuário de drogas, e dispõe que:

Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:

I - advertência sobre os efeitos das drogas;

II - prestação de serviços à comunidade;

III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

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§1º Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica.

§2º Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente.

§3º As penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 5 (cinco) meses.

§4º Em caso de reincidência, as penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 10 (dez) meses.

§5º A prestação de serviços à comunidade será cumprida em programas comunitários, entidades educacionais ou assistenciais, hospitais, estabelecimentos congêneres, públicos ou privados sem fins lucrativos, que se ocupem, preferencialmente, da prevenção do consumo ou da recuperação de usuários e dependentes de drogas.

§6º Para garantia do cumprimento das medidas educativas a que se refere o caput, nos incisos I, II e III, a que injustificadamente se recuse o agente, poderá o juiz submetê-lo, sucessivamente a:

I - admoestação verbal;

II - multa.

§7º O juiz determinará ao Poder Público que coloque à disposição do infrator, gratuitamente, estabelecimento de saúde, preferencialmente ambulatorial, para tratamento especializado.

Por exemplo, o agente que, para consumo pessoal, semeia plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância capaz de causar dependência psíquica pode ser submetido à medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo, portanto. Já o artigo 31 da lei em estudo, abrindo o Título que trata do tráfico ilícito de drogas, dispõe que é indispensável a licença prévia da autoridade competente para produzir, extrair, fabricar, transformar, preparar, possuir, manter em depósito, importar, exportar, reexportar, remeter, transportar, expor, oferecer, vender, comprar, trocar, ceder ou adquirir, para qualquer fim, drogas ou matéria-prima destinada à sua preparação, observadas as demais exigências legais. As plantações ilícitas devem ser imediatamente destruídas pela autoridades de polícia judiciária, que devem recolher quantidade suficiente para feitura de exame pericial, de tudo lavrando auto de levantamento das condições encontradas, com a delimitação do local, asseguradas as

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medidas necessárias para preservação da prova (art. 32, caput, da Lei n.º 11.343/06). O artigo 33 da Lei de Drogas tipifica o tráfico, dentre outras condutas, nos seguintes termos:

Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.

§1º Nas mesmas penas incorre quem:

I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas;

II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas;

III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.

§2º Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga:

Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezentos) dias-multa.

§3º Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28.

§4º Nos delitos definidos no caput e no §1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.

Já o artigo 34 da lei em estudo, tipifica a conduta de fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, vender, distribuir, entregar a qualquer título, possuir, guardar ou fornecer, ainda que gratuitamente, maquinário, aparelho,

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instrumento ou qualquer objeto destinado à fabricação, preparação, produção ou transformação de drogas, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar. O artigo 35 da Lei de Drogas tipifica a conduta de associação para o tráfico, que exige duas ou mais pessoas (crime plurissubjetivo), cuja pena é de 3 (três) a 10 (dez) anos, além do pagamento de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa. As penas previstas nos artigos 33 a 37 da Lei de Drogas são aumentadas de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços), se (art. 40, da Lei n. 11.343/06):

a) a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade do delito;

b) o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no desempenho de missão de educação, poder familiar, guarda ou vigilância;

c) a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades militares ou policiais ou em transportes públicos;

d) o crime tiver sido praticado com violência, grave ameaça, emprego de arma de fogo, ou qualquer processo de intimidação difusa ou coletiva;

e) caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito Federal;

f) sua prática envolver ou visar a atingir criança ou adolescente ou a quem tenha, por qualquer motivo, diminuída ou suprimida a capacidade de entendimento e determinação;

g) o agente financiar ou custear a prática do crime.

O indiciado ou acusado que colaborar de forma voluntária com a investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais co-autores ou partícipes do crime e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), conforme estipula o artigo 41, da Lei de Drogas. O tráfico de drogas (art. 33, caput e §1º), e as condutas descritas nos artigos 34 a 37 da lei em estudo são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória, vedada a conversão de suas penas em restritivas de direitos (art. 44, da Lei de Drogas). E no caso de livramento condicional, ele só poderá ser concedido após o cumprimento de 2/3 (dois terços) da pena, vedada sua concessão ao reincidente específico, ou seja, àquele que cometeu exatamente o mesmo delito pelo qual fora anteriormente condenado. Consoante artigo 45 da lei em estudo, é isento de pena o agente que, em razão da dependência, ou sob o efeito, proveniente de caso fortuito ou força maior, de droga, era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que tenha sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

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Nesse caso, reconhecendo a mencionada circunstância, o juiz deve encaminhar o agente para tratamento médico. No entanto, caso o agente que, em razão da dependência, ou sob o efeito proveniente de caso fortuito ou força maior, de droga, não era, ao tempo da ação ou omissão, inteiramente incapaz, mas não estava em sua plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, o juiz pode reduzir-lhe as penas de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços). 7. LEI MARIA DA PENHA A lei Maria da Penha, lei n.º 11.340/06, deixa claro que toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social (art. 2º). A lei Maria da Penha é uma verdadeira ação afirmativa, por meio da qual se discrimina positivamente a mulher, posta em histórica posição de fragilidade física em relação ao homem. A necessidade da especial proteção para a mulher, por meio da lei em estudo, é necessária diante dos séculos em que esta permaneceu sob as ordens maritais, cujos resquícios ainda estão presentes na atualidade. A Constituição Federal de 1988 aboliu o poder marital e instituiu o poder familiar. O Código Civil de 2002 acompanhou o sentido e assim também a Lei Maria da Penha, que veio com o objetivo de conferir eficácia substancial ao Texto Maior. Consabido, ainda que vigente medidas inclusivas, tal como a Lei Maria da Penha, está distante o dia em que as mulheres deixarão de sofrer violências domésticas em razão de seu desfavorecimento físico. Ao lado das leis, medidas concretas devem ser adotadas pelo Poder Público, sobre tudo medidas educacionais, melhor método de se criar um sociedade consciente do respeito de gênero. Não sem razão o caput do artigo 3º da Lei Maria da Penha dispõe que, serão asseguradas às mulheres as condições para o exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. Para que esses direitos sejam realmente alcançados, deixando o plano meramente formal e ingressando no plano material, cabe à família, à sociedade e ao Poder público criar as condições necessárias para viabilização da efetivação desses direitos. A interpretação da Lei Maria da Penha, conforme orientação do seu artigo 4º, deve considerar os fins sociais a que ela se destina e, especialmente, as condições peculiares das mulheres em situação de violência doméstica e familiar. Para os efeitos da lei em estudo, configura violência doméstica e familiar contra a mulher, qualquer ação ou omissão baseada no gênero que

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lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial (art. 5º):

a) no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;

b) no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;

c) em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.

Portanto, para que se fale na aplicação da Lei Maria da Penha, não há necessidade que o agressor coabite ou tenha coabitado com a vítima, bastando que se comprove a relação íntima de afeto entre eles. E conforme orientação do artigo 6º da lei em referência, a violência doméstica e familiar contra a mulher configura uma das formas de violação de direitos humanos. Entre outras, são formas de violência doméstica e familiar contra a mulher:

a) oral;

b) a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;

c) a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;

d) a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;

e) a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.

Por derradeiro, outro ponto importante da Lei Maria da Penha consta de seu artigo 41, que estipulou que aos crimes praticados com violência

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doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei n.º 9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais). 7.1 Assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar A assistência à mulher que esteja em situação de violência doméstica e familiar deve ser prestada de forma articulada e conforme os princípios previsto na Lei Orgânica de Assistência Social, no Sistema Único de Saúde, no Sistema Único de Segurança Pública, entre outras normas e políticas de proteção, e emergencialmente quando for o caso (art. 9º, da Lei Maria da Penha). O juiz deve assegurar à mulher em situação de violência doméstica e familiar, para preservar sua integridade física e psicológica:

a) acesso prioritário à remoção quando servidora pública, integrante da administração direta ou indireta;

b) manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o afastamento do local de trabalho, por até 6 (seis) meses.

A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar deve compreender o acesso aos benefícios decorrentes do desenvolvimento científico e tecnológico, incluindo os serviços de contracepção de emergência, a profilaxia das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), além de outros procedimentos médicos necessários e cabíveis nos casos de violência sexual (art. 9º, §3º, da Lei Maria da Penha). 7.2 Atendimento pela autoridade policial Na hipótese de iminência ou da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, a autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência deve adotar, imediatamente, as providência legais cabíveis, conforme orientação do artigo 10, da Lei Maria da Penha. No atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, a autoridade policial deve, entre outras providências (art. 11, da Lei Maria da Penha):

a) garantir proteção policial, quando necessário, comunicando de imediato ao Ministério Público e ao Poder Judiciário;

b) encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao Instituto Médico Legal;

c) fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro, quando houver risco de vida;

d) se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a retirada de seus pertences do local da ocorrência ou do domicílio familiar;

e) informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os serviços disponíveis.

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Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, feito o registro da ocorrência, deve a autoridade policial adotar, de plano, os seguintes procedimentos, sem prejuízo dos previstos no Código de Processo Penal:

a) ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a representação a termo, se apresentada;

b) colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e de suas circunstâncias;

c)remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para a concessão de medidas protetivas de urgência;

d) determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da ofendida e requisitar outros exames periciais necessários;

e) ouvir o agressor e as testemunhas;

f) ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes criminais, indicando a existência de mandado de prisão ou registro de outras ocorrências policiais contra ele;

g) remeter, no prazo legal, os autos do inquérito policial ao juiz e ao Ministério Público.

O processo penal em matéria de violência doméstica ou familiar contra a mulher é condicionado, isto é, exige a feitura da representação pela ofendida, sob pena de seu não-processamento. Apresentado o pedido, este deve ser tomado a termo pela autoridade policial, pedido este que deverá conter:

a) a qualificação da ofendida e do agressor;

b) o nome e idade dos dependentes; e

c) a descrição sucinta do fato e das medidas protetivas solicitadas pela ofendida. 7.3 Medidas protetivas de urgência Tão logo seja recebido o pedido da ofendida, deve o juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas:

a) conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas protetivas de urgência;

b) determinar o encaminhamento da ofendida ao órgão de assistência judiciária, quando for o caso;

c) comunicar ao Ministério Público para que adote as providências cabíveis.

As medidas protetivas de urgência podem ser concedidas pelo juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida (art. 19, da Lei Maria da Penha). Também há possibilidade das medidas urgentes serem concedidas de imediato, independentemente da audiência das partes e da

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manifestação do Ministério Público, caso em que este deve ser prontamente comunicado, conforme disposição do parágrafo primeiro do artigo 19, da Lei Maria da Penha. A prisão preventiva do agressor pode ser decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público, ou mediante representação da autoridade policial, independentemente da fase em que esteja o inquérito policial ou a instrução criminal (art. 20, da Lei Maria da Penha). É imperioso que se notifique a ofendida de todos os atos processuais relativos ao seu agressor, especialmente em relação àqueles pertinentes ao ingresso e à saída da prisão, sem prejuízo da intimação do advogado constituído ou do defensor público (art. 21, da Lei Maria da Penha). Por derradeiro, a teor do parágrafo único do artigo 21 da lei em estudo, não se admite que a ofendida possa entregar qualquer intimação ou notificação ao seu agressor. 7.4 Medidas protetivas de urgência que obrigam o agressor Tão logo seja constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, o juiz pode aplicar, imediatamente, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência:

I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003;

II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;

III - proibição de determinadas condutas, entre as quais: a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das

testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor;

b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação;

c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida;

IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar;

V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.

As medidas acima expostas integram um rol meramente exemplificativo, nos termos do artigo 22 da Lei Maria da Penha. Para efetivação de qualquer dessas medidas, a todo momento é dado ao juiz requerer auxílio de força policial. 7.5 Medidas protetivas de urgência à ofendida O artigo 23 da Lei Maria da Penha apresenta, em rol exemplificativo, que é facultado ao juiz, quando necessário:

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I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de proteção ou de atendimento;

II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo domicílio, após afastamento do agressor;

III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos;

IV - determinar a separação de corpos.

Já para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou daqueles de propriedade particular da mulher, o juiz pode determinar, liminarmente, as seguintes medidas, dentre outras:

I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida;

II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda e locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial;

III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor;

IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida.