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Uma carta pode ser lida muito além de suas circunstâncias quando remetente e destinatário deixam de ser os únicos leitores e o que era intimidade ganha importância coletiva. mais que isso, o valor de uma correspondência pode transcender o testemunho e iluminar algo externo a ela — um fato, uma época, uma obra, assim por diante. Se é comum o gênero epistolar servir como ponto de partida para criações literárias, não é raro que seus textos possam valer por si mesmos. Qualidades atinentes à literatura parecem flagrantes então, ao mesmo tempo que a natureza não artística da escrita parece circunscrever a correspondência numa zona problemática, mas extremamente ágil, como a canção, a crônica, a entrevista, a polêmica ou as narrativas orais. Difícil de situar a partir de categorias estanques, a carta, em tempos de bilhetes eletrônicos, mantém seu fascínio aos olhos dos leitores — especializados ou curiosos. Neste curso, estarão em cena correspondências de naturezas diversas: a troca de carta
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remetente/
destinatário
conheça o site de correspondências do imswww.correioims.com.br
curso remetente/destinatário
13 maio a 24 junho 2015 quartas-feiras, 19 - 21 h sala de aula do ims-rjr$ 210 inteira r$ 105 meia r$ 40 encontro avulso (havendo disponibilidade de vagas)
inscrições na recepção do ims-rj45 vagas
entrega de certificado para os que participarem de todos os encontros
concepção eucanaã ferraz organização eucanaã ferraz, elizama almeida
instituto moreira salles - rj rua marquês de são vicente 476 22451-040 rio de janeiro rj tel (21) 3284 7400 / 3206 2500 ims.com.br
hans gunter flieg. escrevendo uma carta, 1939, alemanha. acervo instituto moreira salles
uma carta pode ser lida muito além de suas circunstâncias quando remetente e destinatário deixam de ser os únicos leitores e o que era intimidade ganha importância coletiva. mais que isso, o valor de uma correspondência pode transcender o testemunho e iluminar algo externo a ela — um fato, uma época, uma obra, assim por diante. se é comum o gênero epistolar servir como ponto de partida para criações literárias, não é raro que seus textos possam valer por si mesmos. qualidades atinentes à literatura parecem flagrantes então, ao mesmo tempo que a natureza não artística da escrita parece circunscrever a correspondência numa zona problemática, mas extremamente ágil, como a canção, a crônica, a entrevista, a polêmica ou as narrativas orais. difícil de situar a partir de categorias estanques, a carta, em tempos de bilhetes eletrônicos, mantém seu fascínio aos olhos dos leitores — especializados ou curiosos.
neste curso, estarão em cena correspondências de naturezas diversas: a troca de cartas (entre um único remetente e um ou vários destinatários), a mensagem nunca enviada (uma espécie de monólogo, então?) e a epístola como gênero literário.
eram palavras com destino certo. hoje são textos à procura de leitores.
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Cada vez mais, as correspondências têm sido objeto de estudo tanto pelo seu caráter testemunhal, que, por meio de confissões e impressões pessoais, reconstrói o perfil daquele que as escreve, quanto por delinear os bastidores da vida cultural, social e política de uma época. Pode ‑se encontrar nelas, ainda, desde a gênese de um projeto artístico, passando pelo processo de elaboração — por vezes compartilhado entre remetente e destinatário —, até sua recepção crítica. As cartas ocupam, assim, uma zona intermediária entre documento/ficção e literatura/história e podem ser entendidas como um gênero indispensável.
em muitos casos, (...) [os] documentos apresentam novos dados sobre o pensamento e a vida de personagens da história, servindo como uma espécie de nova peça em um quebra ‑cabeça biográfico. outras vezes, revelam facetas surpreendentes e inesperadas, exatamente por se tratar de documentos não destinados à divulgação pública, nos quais seus autores abordam temas e questões íntimas, quase sempre ausentes em suas obras.pedro corrêa do lago. memória. disponível em www.sescsp.org.br.
pedro corrêa do lago é um dos mais importantes bibliófilos e colecionadores brasileiros. À frente da editora Capivara, com sua mulher Bia, publicou diversos livros sobre história, arte e iconografia, dentre os quais Coleção Princesa Isabel — Fotografia brasileira no século XIX (2009), Vik Muniz — Obra completa (2009) e Debret e o Brasil — Obra completa (2013). Foi presidente da Fundação Biblioteca Nacional de março de 2003 a outubro de 2005.c
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O conjunto de dez cartas escritas entre 1903 e 1908 ao jovem Franz Xaver Kappus é um dos mais altos momentos da sensibilidade e do pensamento de Rainer Maria Rilke. Muito mais que um apanhado de conselhos literários, as cartas expõem a visão do remetente sobre aspectos da formação humana, dentre os quais figuram Deus, o amor e a solidão.
antonio cicero é autor de livros sobre filosofia, literatura e artes, dentre os quais Finalidades sem fim (2005) e Poesia e filosofia (2012). Importante poeta do cenário brasileiro contemporâneo, publicou, entre outros, o livro Porventura (2012), ganhador do Prêmio ABL de Poesia. É também um dos mais reconhecidos letristas da música popular brasileira.
o amor, antes de tudo, não é o que se chama entregar ‑se, confundir ‑se, unir ‑se a outra pessoa. que sentido teria, com efeito, a união com algo não esclarecido, inacabado, dependente? o amor é uma ocasião sublime para o indivíduo amadurecer, tornar ‑se algo em si mesmo, tornar ‑se um mundo para si, por causa de um outro ser; é uma grande e ilimitada exigência que se lhe faz, uma escolha e um chamado para longe.cartas a um jovem poeta. tradução de paulo rónai. rio de janeiro: globo, 1953, p. 55.c
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A extensa correspondência amorosa entre Fernando Pessoa e Ofélia Queiroz compõe‑‑se de mais de 300 cartas, postais, bilhetes, telegramas, datados de 1919 a 1935. No conjunto, flagra ‑se a presença de alguns heterônimos do poeta, e Álvaro de Campos chega mesmo a assinar uma das cartas. A biografia, a intimidade e a obra do autor dos famosos versos “Todas as cartas de amor são/ ridículas/ Não seriam cartas de amor se não fossem/ridículas” ganham, à luz desta correspondência — publicada integralmente pela primeira vez em 2013 — novos contornos.
gilda santos é professora de literatura portuguesa na UFRJ, vice ‑presidente do Centro de Estudos do Real Gabinete Português de Leitura, coordenadora ‑geral do Polo de Pesquisa sobre Relações Luso‑‑Brasileiras (PPRLB) e do projeto “O Real em Revista”, nesta mesma instituição. É autora e organizadora de publicações, dentre as quais Jorge de Sena em rotas entrecruzadas (1999), Jorge de Sena: ressonâncias e cinquenta poemas (2006) e Colóquio Fernando Pessoa, outra vez te revejo (2006). Foi condecorada em 1997 pelo então presidente da República Jorge Sampaio com a Ordem do Mérito de Portugal.
29.11.1920
ofelinha:
agradeço a sua carta. ela trouxe ‑me pena e alívio ao mesmo tempo. pena, porque estas coisas fazem sempre pena; alívio, porque, na verdade, a única solução é essa — o não prolongarmos mais uma situação que não tem já a justificação do amor, nem de uma parte nem de outra. da minha, ao menos, fica uma estima profunda, uma amizade inalterável. não me nega a ofelinha outro tanto, não é verdade?
nem a ofelinha, nem eu, temos culpa nisto. só o destino teria culpa, se o destino fosse gente, a quem culpas se atribuíssem.fernando pessoa & ofélia queiroz — correspondência amorosa completa (1919 ‑1935). organização de richard zenith. rio de janeiro: capivara, 2013, p. 199. fe
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Em apenas cinco cartas, deparamo ‑nos com um inigualável testemunho amoroso, marcado por arroubos apaixonados, ímpetos de autocomiseração e arrependimentos, seguidos de súplicas por respostas. Endereçada ao oficial francês Noël Bouton de Chamilly, a correspondência, considerada por Stendhal um modelo acabado do “amor ‑paixão”, foi publicada em francês sob o título Lettres portugaises em 1669, com autoria anônima. Em 1810, os textos foram atribuídos à sóror Mariana Alcoforado. No entanto, o problema da autoria persistiu, e há praticamente um consenso de que foram escritos por Gabriel Joseph de Lavergne, conde de Guilleragues, diplomata, jornalista e escritor francês.
samuel titan jr. é professor de teoria literária e literatura comparada da USP. Traduziu obras fundamentais, como A noiva de Messina, de Friedrich Schiller, A invenção de Morel, de Adolfo Bioy Casares, O círculo de giz caucasiano, de Bertolt Brecht, e as próprias Cartas portuguesas. É coordenador executivo do Instituto Moreira Salles e membro do conselho editorial das revistas serrote e ZUM.
ainda bem que me seduziste. a crueldade da tua ausência, talvez eterna, em nada diminuiu a exaltação do meu amor. quero que toda a gente o saiba, não faço disso nenhum segredo: estou encantada por ter feito tudo quanto fiz por ti, contra toda a espécie de conveniências. e já que comecei, a minha honra e a minha religião hão de consistir só em amar ‑te perdidamente toda a vida. cartas portuguesas atribuídas a mariana alcoforado. tradução de eugénio de andrade. porto: inova, 1969, p. 33.
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Tão extensa quanto indispensável para compreender a literatura brasileira moderna, a correspondência entre Mário de Andrade e Manuel Bandeira, datada de 1922 a 1944, dá testemunho da construção intelectual, política e cultural de uma época decisiva e, simultaneamente, revela os laços de amizade entre os dois grandes autores.
quando eu principio me estudando bem fundo, manu, palavra, não posso descobrir se sou bem mesmo, se sou bom só por orgulho, ou se ruim duma vez, só sei que sou maravilhoso. a vida minha... mas que maravilha de obra ‑prima é a minha vida, manu! que riqueza de manifestações, que chama sem se apagar! um fulano danado de cético, que tinha chegado a um negativismo absoluto, que num momento da vida só achou, como tantos! que a solução possível era mesmo acabar com esta m. de vida, que nem se lembra bem mesmo como foi possível reagir, e dum momento pra outro recobrou uma felicidade deslumbrante, felicidade de que foi rechaçada toda e qualquer conformidade, toda, mas completamente feita de aceitação e acomodação... correspondência mário de andrade & manuel bandeira. org. marcos antonio de moraes. são paulo: edusp: ieb, 2000, p. 385 ‑386
eduardo jardim de moraes é filósofo, professor da PUC ‑Rio e pesquisador da Fundação Biblioteca Nacional. É autor, entre outros, dos livros A duas vozes — Hannah Arendt e Octavio Paz (2007), Hannah Arendt — Pensadora da crise e de um novo início (2011) e Mário de Andrade: eu sou trezentos — Vida e obra (2015). Este último aborda a biografia de Mário de Andrade, articulando ‑a com suas iniciativas públicas, atuações na área cultural e processos de criação literária. m
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paulo henriques britto é poeta, tradutor e professor da PUC ‑Rio. Traduziu, entre muitas outras obras de prosa e poesia, Uma arte: as cartas de Elizabeth Bishop (1995) e Poemas escolhidos (2012), também de Bishop.
Elizabeth Bishop, além de reconhecida poeta, é considerada mestre na escrita de cartas. No Brasil, viveu cerca de 20 anos, e aqui escreveu grande parte de sua correspondência. Suas cartas revelam não só uma intrigante e preciosa biografia, marcada por viagens, paixões e deslocamentos, como, a partir do seu ponto de vista sutil e engenhoso, é exposto um Brasil — entre as décadas de 1950 a 1970 — não tão dourado assim.
o rio está mais louco do que nunca. falta água e o gás anda escasso; em cada edifício só um elevador funciona e há filas intermináveis, quarteirões inteiros para pegar os ônibus miúdos. enquanto isso o brasil está construindo uma capital novinha em folha, longe, no interior, onde sequer existia uma estrada um ano atrás. carta de elizabeth bishop a robert lowell em 1 de abril [de 1958]
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karl erik schollhammer é professor e diretor do Departamento de Letras da PUC ‑Rio, pesquisador e tradutor de importantes autores escandinavos para o estudo da literatura e filosofia, como Ibsen e Soren Kierkegaard. Teórico e crítico literário, publicou e organizou vários livros sobre a ficção brasileira contemporânea, dentre os quais Além do visível — O olhar da literatura (2007), Memórias do presente (2012), Cena do crime (2013) e Cenários contemporâneos da escrita (2014).
O autor de A metamorfose faz aqui um emocionante ajuste de contas com seu pai. A carta — nunca enviada — desdobra ‑se em 50 páginas, cujo denso conteúdo expõe a pungente e espinhosa relação entre pai e filho. A capacidade de análise e de argumentação é, como sempre, fascinante. Assim, o caráter circunstancial do texto converte ‑se numa obra perene e universal, como toda a correspondência de Kafka.
querido pai, você me perguntou recentemente por que eu afirmo ter medo de você. como de costume, não soube responder, em parte justamente por causa do medo que tenho de você, em parte porque na motivação desse medo intervêm tantos pormenores, que mal poderia reuni ‑los numa fala. e se aqui tento responder por escrito, será sem dúvida de um modo muito incompleto, porque, também ao escrever, o medo e suas consequências me inibem diante de você e porque a magnitude do tema ultrapassa de longe minha memória e meu entendimento.carta ao pai. tradução de modesto carone. são paulo: companhia das letras, 1997, p. 7.
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walther moreira salles (1912‑2001)fundador
diretoria executivajoão moreira sallespresidentegabriel jorge ferreiravice‑presidentemauro agonilharaul manuel alvesdiretores executivos
conselho de administraçãojoão moreira sallespresidentefernando roberto moreira sallesvice‑presidentegabriel jorge ferreirapedro moreira salleswalther moreira salles juniorconselheiros
administraçãoflávio pinheirosuperintendente executivolorenzo mammìcurador de programação e eventossamuel titan jr.jânio gomescoordenadores executivosodette j.c. vieiracoordenadora executiva de apoioelvia bezerracoordenadora / literaturaluiz fernando viannacoordenador / internetbia paes lemecoordenadora / músicasergio burgicoordenador / fotografiathyago nogueiracoordenador / fotografia contemporâneaheloisa espadacoordenadora / artesjulia kovenskycoordenadora / iconografiamarília scalzocoordenadora / comunicaçãoana luiza nobrecoordenadora / pesquisa e educaçãoelizabeth pessoaodette j.c. vieiravera regina magalhães castellanocoordenadoras / centros culturais