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Associação Brasileira de Formação e Desenvolvimento Social - ABRAFORDES www.CursosAbrafordes.com.br DICA: Tecle Ctrl+s para salvar este PDF no seu computador. Curso Tendências Pedagógicas Lição 01: Introdução 1. Introdução Apresentaremos, neste trabalho, as várias tendências pedagógicas que têm norteado a prática escolar no contexto da educação brasileira. A classificação na qual nos baseamos, feita por José Carlos Libâneo, em seu livro Democratização da escola pública: pedagogia crítico-social dos conteúdos, São Paulo, Loyola, 1985, possui apenas uma função didática, já que na realidade não existe esta ou aquela escola que realiza uma tendência pedagógica de forma pura; mais ainda em nossa realidade educacional, marcada pelo ecletismo ou falta de clareza teórica. Podemos, no entanto, afirmar que há escolas que seguem de forma predominante a “pedagogia liberal”, enquanto outras tendem para seguir a “progressista” (termo tomado de Snyders). Existe, pois, uma prática pedagógica que se alicerça numa filosofia da educação que serve para reproduzir os valores, idéias e visão de mundo da sociedade liberal capitalista; enquanto há a tentativa de uma outra prática pedagógica a qual se baseia numa filosofia da educação que pretende criar uma escola que sirva para transformar a citada sociedade, ou que busque pelo menos educar para a construção de um mundo mais solidário e seres humanos menos individualistas, uma sociedade menos injusta e mais igualitária, menos opressora e mais libertadora. Em suma, uma educação que colabore para a construção de um novo ser humano e de uma nova sociedade onde a dominação de uma classe sobre outra seja eliminada, ou pelo menos não seja defendida, acobertada ou disfarçada por práticas e teorias pedagógicas ideologizadas e alienantes. Para que possamos compreender os fundamentos teórico-metodológicos que fundamentam as pedagogias acima citadas, apresentaremos, desde o mundo grego, as duas grandes correntes filosóficas que se contrapõem na cultura ocidental e que irão fundamentar o que Suchodolski (1978) denomina pedagogia da essência e pedagogia da existência.E mais precisamente a partir da Idade Moderna, poderemos identificar três grandes referências filosóficas as quais marcam todo pensamento e toda prática político-pedagógica do mundo atual: a referência metafísica essencialista, a científica naturalista e a dialética histórico-crítica. E nessas concepções filosófica que as tendências das pedagogias “liberal” ou "progressista" irão fundamentar-se. Conhecê-las, identificar seus pressupostos, contrapô-las e tomar consciência de seu alcance só tem a ajudar os educadores numa prática pedagógica mais crítica, criativa e transformadora. Ingenuidade é achar que poderemos ter uma prática pedagógica neutra. Lição 02: Pedagogia da Essência e Pedagogia da Existência

CURSO TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS

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Texto interessante sobre novas tendências pedagógicas. Vale a pena conferir.

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  • Associao Brasileira de Formao e Desenvolvimento Social - ABRAFORDESwww.CursosAbrafordes.com.br

    DICA: Tecle Ctrl+s para salvar este PDF no seu computador.

    Curso Tendncias PedaggicasLio 01: Introduo

    1. Introduo

    Apresentaremos, neste trabalho, as vrias tendncias pedaggicas que tm norteado aprtica escolar no contexto da educao brasileira. A classificao na qual nos baseamos, feita porJos Carlos Libneo, em seu livro Democratizao da escola pblica: pedagogia crtico-social doscontedos, So Paulo, Loyola, 1985, possui apenas uma funo didtica, j que na realidade noexiste esta ou aquela escola que realiza uma tendncia pedaggica de forma pura; mais ainda emnossa realidade educacional, marcada pelo ecletismo ou falta de clareza terica.

    Podemos, no entanto, afirmar que h escolas que seguem de forma predominante apedagogia liberal, enquanto outras tendem para seguir a progressista (termo tomado deSnyders). Existe, pois, uma prtica pedaggica que se alicera numa filosofia da educao que servepara reproduzir os valores, idias e viso de mundo da sociedade liberal capitalista; enquanto h atentativa de uma outra prtica pedaggica a qual se baseia numa filosofia da educao que pretendecriar uma escola que sirva para transformar a citada sociedade, ou que busque pelo menos educarpara a construo de um mundo mais solidrio e seres humanos menos individualistas, umasociedade menos injusta e mais igualitria, menos opressora e mais libertadora. Em suma, umaeducao que colabore para a construo de um novo ser humano e de uma nova sociedade onde adominao de uma classe sobre outra seja eliminada, ou pelo menos no seja defendida, acobertadaou disfarada por prticas e teorias pedaggicas ideologizadas e alienantes.

    Para que possamos compreender os fundamentos terico-metodolgicos que fundamentam aspedagogias acima citadas, apresentaremos, desde o mundo grego, as duas grandes correntesfilosficas que se contrapem na cultura ocidental e que iro fundamentar o que Suchodolski (1978)denomina pedagogia da essncia e pedagogia da existncia.E mais precisamente a partir da IdadeModerna, poderemos identificar trs grandes referncias filosficas as quais marcam todopensamento e toda prtica poltico-pedaggica do mundo atual: a referncia metafsica essencialista,a cientfica naturalista e a dialtica histrico-crtica. E nessas concepes filosfica que astendncias das pedagogias liberal ou "progressista" iro fundamentar-se. Conhec-las, identificarseus pressupostos, contrap-las e tomar conscincia de seu alcance s tem a ajudar os educadoresnuma prtica pedaggica mais crtica, criativa e transformadora. Ingenuidade achar quepoderemos ter uma prtica pedaggica neutra.

    Lio 02: Pedagogia da Essncia e Pedagogia da Existncia

  • 2. Pedagogia da Essncia e Pedagogia da Existncia

    Ao nos referirmos educao, forosamente teremos que nos reportar filosofia,pois uma das perguntas centrais da pedagogia aquela sobre o significado do ser humano esua formao. Que Homem queremos formar ou construir , pois, uma das questes centraisda Filosofia da Educao, no que se refere antropologia, e da sua compreenso derivarotodas as outras.

    Dirigindo o nosso olhar para a histria das correntes filosficas e sua relao com aeducao, veremos que desde o incio, j com os pr-socrticos (sculo VI a.C.), duas visesantagnicas iro estabelecer o embate que perpassa a histria ocidental: o conflito entre apedagogia da essncia e a pedagogia da existncia, conforme nos mostra B. Suchodolski emsua obra A Pedagogia e as Grandes Correntes Filosficas (1978). De um lado,Parmnides, representante da corrente hegemnica, estabelece a unidade do Ser peloprincpio de no-contradio: O ser , o no-ser no ; do outro, Herclito, o primeiropensador dialtico (na concepo marxiana) da histria da filosofia que, pela metfora dofogo, estabelece o movimento e a mudana como motores da existncia. O rio que passapor debaixo da ponte nunca o mesmo. Mas esta viso ficar adormecida durante sculos,ressurgindo apenas com a crise moderna.

    Representando a pedagogia da essncia, teremos ento o filsofo grego Plato(sculo IV a.C.) com o seu mundo das idias perfeitas e imutveis, contrapondo-se ao mundoda opinio e das sombras projetadas na parede na sua Alegoria da Caverna; cabia aofilsofo, como papel pedaggico, tendo contemplado a idia do Bem, retornar ao meio doshomens e ensin-lo a verdadeira realidade, j que todos os seres possuem uma essnciaimutvel, perfeita e cognocvel.

    Mesmo Aristteles, no sendo um idealista como Plato, tambm se tornar um dosalicerces da pedagogia da essncia com sua concepo de matria e forma. Segundoele, a matria passiva, varivel, neutra; a forma ativa, duradoura e d um aspectoqualitativamente definido. A forma do homem a atividade, uma atividade especfica. No aque possui a semelhana de plantas e animais, mas a atividade pensante. Esta forma moldaa matria e cria o homem. H, portanto, uma forma para cada homem. A tarefa da educaoconsiste em atuar da mesma maneira em todos. No a partir da matria que convmavanar para a forma do homem; pelo contrrio, preciso moldar a matria com a energiado sentido contido na noo de forma humana. A orientao da ao educativa assimidntica de Plato, embora variem os seus motivos de justificao (Suchodolski, p. 21).

    Se pegarmos a pedagogia crist durante toda a Idade Mdia e tambm a educaojesutica a partir do final sculo XVI (publicao da Ratio Studiorum em 1599), com acristianizao das idias de Plato por Agostinho e de Aristteles por Toms de Aquino,todos os seus fundamentos se encontram na concepo essencialista do ser humano; cabe aeducao elevar o Homem perfeio divina, o Bem Supremo, como tambm colocar em atoas suas potencialidades essenciais e comuns a todos os filhos de Deus (Teoria da Potncia eAto).

  • Tambm a filosofia moderna, com o racionalismo cartesiano, permanecerpredominantemente dentro da viso essencialista do Homem, bem como o idealismoposterior de Kant, de Fichte e de Hegel. Somente nos sculos XVII e XVIII que iremosobservar o surgimento das primeiras sementes da pedagogia da existncia, sendo seusprincipais representantes, Rousseau, Pestalozzi e Froebel; No sculo XIX surgiro asprimeiras diferenciaes da pedagogia da existncia, com Kierkegaard, Stirner e Nietzsche,embora com vises muito diferentes sobre o que pensavam da educao. E com o adventodos movimentos socialistas e seu representante maior, Karl Marx, podemos dizer que seinstaura de vez, na histria, o confronto aberto entre a tradio metafsica e o idealismo deum lado, e a posio dita revolucionria do que veio a se chamar materialismo histrico ematerialismo dialtico, desenbocando depois nos filsofos existencialistas do sculo XX, osquais, como Gramsci, Sartre, entre outros, procuraro resgatar a figura do indivduodentro do processo histrico-social.

    Veremos, a seguir, que nos leitos desses dois grandes rios em que navega a culturaocidental, representados pelas filosofias da essncia e da existncia, podemos destacar trsgrandes referncias filosficas que aliceram toda viso do real, do homem, doconhecimento, da ao humana e da educao, que o que nos interessa neste trabalho. Como estamos tratando da questo pedaggica neste trabalho, iremos nos ater a esseaspecto.

    Lio 03: As Tendncias Pedaggicas

    3. As Trs Referncias Filosficas da Cultura Ocidental e suas Relaes com aEducao

    A cultura ocidental desenvolveu em sua histria trs referncias filosficas bsicas,conforme relaciona o professor Severino em seu livro Filosofia da Educao, p. 35 (1994).Temos a Referncia Metafsica na perspectiva Essencialista, a Referncia Cientfica naperspectiva Naturalista e a Referncia Dialtica na perspectiva Histrico-Social.

    Na perspectiva Essencisalista, o momento de afirmao da metafsica, afirmando aharmonia da relao sujeito/objeto sob a primazia do objeto. O real constitui o ser enquantoformado por essncias universais e comuns a todos os indivduos da mesma espcie; aperfeio de cada ente se avalia pela plenitude de realizao dessas potencialidadesintrnsecas. A educao concebida como processo de atualizao da potncia da essnciahumana, mediante o desenvolvimento das caractersticas especficas contidas em suasubstncia, visando sempre um estgio de plena perfeio e atualizao. nessa essnciaque se encontram inscritos os valores que presidem a ao humana e que definem os fins daeducao, cujos critrios so essencialmente ticos.

    Na perspectiva Naturalista, o momento de afirmao da cincia como negao dametafsica: a supremacia do sujeito racional e a construo do objeto. O real se esgota naordem natural do universo fsico, qual tudo se reduz includo o homem e a prpria razo,

  • que razo natural. O homem se constitui num organismo vivo, regido pelas leis danatureza, leis estas que determinam sua maneira de ser e de se desenvolver, tanto no planoindividual como no plano social. Nessa perspectiva, a educao concebida como processode desenvolvimento de um organismo vivo, cujas potencialidades fsico-biolgicas e sociaisj se encontram inscritas no homem, como ser natural que , sempre visando um aumentoindividual e social da vida. Fins e valores se encontram, pois, expressos na adequao s leisnaturais que regulam a vida, e os critrios de avaliao so fundamentalmente tcnicos.

    Na perspectiva Histrico-Social, o momento de afirmao da dialtica comonegao, resgate e superao da metafsica e da cincia, buscando a rearticulao darelao sujeito/objeto. O real se constitui da totalidade do universo e se realiza numprocesso histrico, seguindo leis que no se situam mais nem no plano da determinaometafsica, nem no plano da necessidade cientfica; o homem tambm entidade naturalhistrica, determinado pelas condies objetivas de sua existncia, ao mesmo tempo em queatua sobre elas por meio de sua prxis (ao individual e social, consciente etransformadora). Nessa perspectiva, a educao concebida como processo individual ecoletivo de constituio de uma nova conscincia social e de reconstituio da sociedadepela rearticulao de suas relaes polticas. Os fins e valores se definem pelo tipo derelao de poder que os homens estabelecem entre si, na sua prtica real, sendo os critriosde avaliao da ao e da educao eminentemente polticos.

    Portanto, so essas trs referncias filosficas que embasam as vrias concepes depedagogia, cujas tendncias passaremos a analisar.

    Lio 04: Pedagogia Liberal

    4.1. Pedagogia liberal

    O termo liberal est relacionado doutrina liberal que apareceu para justificar osistema capitalista, baseada na propriedade privada dos meios de produo, na promoodos interesses individuais e na sociedade de classes. A pedagogia liberal aparece, assim,como uma manifestao desse tipo de sociedade; no Brasil, essa tem sido a marca daeducao, que ora se expressa como pedagogia conservadora, ora como pedagogiarenovada, j que a nossa sociedade capitalista, com suas peculiaridades prprias, e ossistemas de ensino, no decorrer de nossa histria, tm refletido a mesma lgica. Comoafirma Libneo, A Pedagogia liberal sustenta a idia de que a escola tem por funopreparar os indivduos para o desempenho de papis sociais, de acordo com as aptidesindividuais; por isso os indivduos os indivduos precisam aprender a se adaptar aos valorese s normas vigentes na sociedade de classes atravs do desenvolvimento da culturaindividual (1985). Enquanto a verso conservadora valoriza o ensino humanstico, decultura geral, a verso liberal renovada ou escolanovista acentua o desenvolvimento dasaptides individuais, valorizando mais os contedos cientficos e tcnicos. Vejamos as vriasramificaes dessa tendncia, apresentado-as de acordo com o papel da escola, os

  • contedos de ensino, os mtodos, a relao professor-aluno, os pressupostos deaprendizagem e a manifestao na prtica escolar brasileira.

    Lio 05: Tendncia liberal tradicional

    a) Tendncia liberal tradicional:

    A escola tem como papel adaptar o aluno sociedade, a prepar-los moral eintelectualmente para assumirem sua posio na sociedade. O compromisso da escola basicamente com a cultura, sendo que os problemas sociais pertencem sociedade. Aescola, nesse caso, apenas reproduz a sociedade tal como , sem questiona-la ou modifica-laem suas estruturas, mas apenas redimindo-a pela formao individual. Quanto aoscontedos de ensino, visa a ensinar os conhecimentos e valores tradicionais acumuladospelas geraes passadas. Seu mtodo fundamentalmente expositivo e a relao professor-aluno centrada no professor e autoritria: o professor transmite o conhecimento e o alunoapenas o assimila passivamente. A capacidade de assimilao da criana igual a do adulto,somente menos desenvolvida; a reteno da matria se d pela repetio e a avaliao oral ou escrita (provas, exames). O reforo mais negativo do que positivo. Essa tendncia viva e atuante em nossas escolas tradicionais, religiosas ou leigas e que adotam umaorientao clssico-humanista (educao jesutica tradiconal) ou humano-cientfica, estaltima mais presente em nossa histria educacional.

    Lio 06: Tendncia renovada progressivista

    b) Tendncia renovada progressivista

    O papel da escola adequar as necessidades individuais ao meio social, procurando

    retratar o quanto possvel a vida e promover a integrao pela experincia e vivncia doseducandos. Os contedos so dados pelas experincias vivenciadas, por desafios e situaesproblemticas. Valoriza o aprender a aprender, ou seja, o processo de aquisio do saber mais importante que o prprio saber. O mtodo ativo (aprender fazendo)- eexperimental, de soluo de problemas, de projetos; valoriza o trabalho em grupos, apesquisa e o estudo do meio natural e social. A relao professor-aluno democrtica,sendo que o professor mais um facilitador, auxiliando no desenvolvimento do aluno, que,por sua vez, participa e respeita as regras do grupo. Tem como pressuspostos daaprendizagem que o aprender uma atividade de descoberta; respeita as disposiesinternas e os interesses dos alunos. O ambiente deve ser estimulador, provocando a auto-aprendizagem; a motivao interna e tambm externa. A avaliao expressa peloreconhecimento, pelo professor, dos esforos xitos dos alunos. Esta tendncia tem umamanifestao reduzida em nossa prtica escolar devido a forte presena da pedagogia

  • tradicional. Algumas escolas particulares adotam o mtodo de Montessori, Decroly, Deweyou o ensino baseado na psicologia gentica de Piaget, principalmente na educao pr-escolar. H tambm as escolas experimentais e comunitrias e a escola secundriamoderna, na verso de Lauro de Oliveira Lima.

    Lio 07: Tendncia renovada no-diretiva

    a) Tendncia renovada no-diretiva

    O objetivo formar atitudes, criando um clima favorvel ao autodesenvolvimento erealizao pessoal. Possui uma preocupao maior com problemas psicolgicos que comquestes pedaggicas ou sociais. Preocupa-se com o desenvolvimento das relaes e dascomunicaes. Promove a facilitao de meios para que os prprios alunos busquem osconhecimentos e pesquisem a partir de seus interesses. Esta tendncia tem um mtodoteraputico, de sensibilizao e processos para manter o relacionamento interpessoal. Arelao professor-aluno baseada nas relaes humanas e o professor, como facilitador,deve ausentar-se, j que a educao centrada no aluno. Aprender aqui modificar asprprias percepes, visando a valorizao do eu, a motivao interna. Pratica a auto-avaliao. As idias de Carl Rogers influenciaram muitos educadores, principalmenteorientadores educacionais e psiclogos escolares que se dedicam ao aconselhamento; aescola de Summerhil, do educador Neil, tambm teve influncia entre ns;

    Lio 08: Tendncia tecnicista

    d) Tendncia tecnicista

    A escola tem como papel modelar o comportamento humano e integrar os alunos no sistemasocial global, produzindo indivduos competentes para o mercado de trabalho. Os contedos deensino se traduzem em informaes, leis cientficas e princpios estabelecidos e ordenados numaseqncia lgica e psicolgica por especialistas; visa um saber fazer tcnico-cientfico. O mtodo tambm cientfico (Spencer) e tecnicista, com uma abordagem sistmica abrangente; emprega atecnologia educacional, com instruo programada, planejamento, audiovisuais, data-show, livrosdidticos, etc. A relao professor-aluno tcnica-diretiva, com relaes estruturadas, objetivas epapis definidos; o professor, gerente e administrador, um elo de ligao entre a verdadecientfica e o aluno; ambos so espectadores frente verdade objetiva, no entendimento dopositivismo. Aprender, no tecnicismo, modificar o desempenho em face de objetivospreestabelecidos; o ensino um processo de condicionamento atravs do reforo das respostas

  • desejveis e a motivao externa, com estmulos, reforo, conforme os tericos Skinner, Gagn,Bloom, Mager, entre outros. Os marcos da implantao e o modelo tecnicista so: a Lei 5.692/71,que fixou Diretrizes e Bases para o ensino de 1o e 2o Graus, mas sua influncia remonta ao ProgramaBrasileiro-Americano de Auxlio ao Ensino Elementar PABAEE (meados de 1950). Os professoresda escola pblica, apesar da legislao, no assimilaram a pedagogia tecnicista, pelo menos emtermos de iderio, ainda que tenham aplicado a sua metodologia. O nosso exerccio profissionalcontinua mais para uma postura ecltica, baseada nas pedagogias tradicional e renovada.

    Lio 09: Pedagogia Progressista

    4.2. Pedagogia progressista

    O termo progressista, empresado de Snyders, utilizado para denominar as tendncias que,partindo de uma anlise crtica das realidades sociais, sustentam as finalidades sociopolticas daeducao. Como vai na contra-mo dos valores e ideologia dominantes na sociedade capitalista, estapedagogia tem encontrado dificuldades para institucionalizar-se; todavia, tem servido deinstrumento de luta dos professores, principalmente das redes pblicas de ensino, ao lado de outrasprticas sociais. Vejamos suas verses:

    Lio 10: Tendncia libertadora

    a) Tendncia libertadora

    Atravs de uma atuao no-formal, professores e alunos, mediatizados pela realidade queaprendem e da qual extraem o contedo da aprendizagem, atingem um nvel de conscincia crtica afim de buscarem a transformao social; rejeita a educao bancria tradicional, com toda a seuverniz de erudio, desligada das prticas sociais, e tambm a educao renovada que, para osdefensores desta tendncia, oferecem apenas uma libertao psicolgica e individual, sendo ambasdomesticadoras. Os contedos de ensino baseiam-se nos temas geradores, extrados daproblematizao das prticas e da vida dos educandos e da realidade scio-poltica. Seu mtodo dialogal, valorizando os grupos de discusso. A relao professor-aluno baseada na no-diretividade, sendo que, tanto educadores como educando, so sujeitos do ato de conhecimento e daao transformadora; o professor um animador que caminha junto com seus alunos, num trabalhode aproximao de conscincia. Aprender um ato que se d na anlise da realidade concreta; ospassos da aprendizagem so: codificao-decodificao, problematizao da situao, aproximaocrtica da realidade do educando, chegando ao conhecimento pelo processo de compreenso,reflexo e anlise crtica das situaes-problema. O pai desta tendncia o educador brasileiroPaulo Freire, com trabalhos e projeo internacional nas ltimas dcadas, tem influenciadosindicatos e movimentos populares. Alguns grupos atuam no apenas em nvel da prtica popular,mas tambm por meio de publicaes independentes das idias originais da pedagogia libertadora.

  • Apesar de ter sido formulada para a educao de adultos ou a educao popular, muitos professoresvm tentando coloca-la em prtica em todos os graus do ensino formal.

    Lio 11: Tendncia Libertria

    Tendncia libertria

    A educao escolar tem como objetivo a transformao da personalidade dos alunos num sentidolibertrio e autogestionrio, procurando criar mecanismos institucionais de mudana que preparemos alunos para atuarem em instituies externas. Resiste burocracia que dificulta a autonomia daescola. Nesta tendncia no h contedos de ensino propriamente ditos ou predeterminados, masdependentes dos interesses dos alunos e das experincias vividas pelo grupo; procura estimular ecriar mecanismos de participao crtica, levando descoberta de respostas originais snecessidades e exigncias da vida social. Seu mtodo baseado na autogesto, na vivncia grupal enas experincias vividas; valoriza os contatos, as discusses, as assemblias, cooperativas e outrasformas de participao pela expresso da palavra, organizao e execuo de trabalhoscomunitrios. A relao professor-aluno tambm no-diretiva, como na libertadora, sendo oprofessor um orientador, um conselheiro e um catalizador, que se mistura ao grupo para uni-lo eanima-lo. O saber deve ter um uso prtico, dando-se a aprendizagem de maneira informal, via grupo,que serve de motivao para o crescimento pessoal e grupal. A pedagogia libertria abrange quasetodas as tendncias antiautoritrias em educao: a anarquista, a psicanaltica, a dos socilogos edos professores progressistas em geral. Entre outros, podemos citar os seguintes autores libertrios:Lobrot, Freinet, Vasques, Cury, Miguel Gonzalez Arroyo e Ferrer y Guardi; entre ns, temos oprofessor Maurcio Tragtemberg, apesar de ter um enfoque menos pedaggico e mais crtico dasinstituies, em favor de um projeto autogestionrio.

    Lio 12: Tendncia crtico-social

    a) Tendncia crtico-social dos contedos

    O papel da escola , fundamentalmente, apresentar contedos vivos, indissociveis dasrealidades sociais, servindo de instrumento institucional de apropriao do saber, a servio dosinteresses populares, sendo a educao uma atividade mediadora no seio da prtica social global(D. Saviani). A educao deve preparar o aluno par o mundo adulto e suas contradies, fornecendo-lhe o instrumental (contedos, mtodos e socializao) para uma participao ativa e crtica nademocratizao da sociedade. Os contedos de ensino so o conjunto de conhecimentosselecionados entre os bens culturais da humanidade (saber universal autnomo), reavaliados face srealidades sociais, com funes formativas e instrumentais. Esta tendncia visa garantir o acessodos alunos aos contedos socialmente construdos, ligando-os experincia concreta dos mesmos,

  • proporcionando, ao mesmo tempo, elementos de anlise crtica que ajudem o educando a ultrapassara experincia sensvel ou emprica, a ideologia dominante e os esteretipos do senso comum. Baseia-se em mtodos participativos, em relao direta com a experincia do aluno, que deve serconfrontada com o saber acumulado pela humanidade; vai-se de uma ao compreenso destaao, at a sntese, unindo teoria e prtica. A relao professor-aluno se d numa interao diretiva,onde o professor o mediador intervencionista; o aluno participa do processo, confrontandocriticamente a sua experincia com os contedos apresentados pelo professor, mas no de formaautoritria como se d na educao bancria tradicional. Os pressupostos de aprendizagem sebaseiam na prontido, em que todo conhecimento novo deve apoiar-se numa estrutura cognitiva jexistente (aprendizagem significativa). A avaliao diagnstica (Luckesi), ou seja, visa apenasdetectar o estgio onde se encontra o conhecimento apropriado pelo aluno para, da, avanar nadireo de um conhecimento cada vez mais abrangente e sistematizado.

    Inmeros professores da rede escolar, notadamente a pblica, tem avanado nessa direo e,mesmo sem ter conscincia, tm avanado na direo da democratizao do ensino para as camadaspopulares. Como representantes da tendncia crtico-social dos contedos, no Brasil temos oprofessor e filsofo, Demerval Saviani, que vem desenvolvendo investigaes relevantes no sentidode colocar a educao a servio da transformao das relaes de produo e da democratizao dasociedade brasileira, atendendo aos interesses das camadas populares e dos professores que lutampela democratizao e da escola pblica e pela qualidade do ensino em nosso pas. Citamos ainda aexperincia pioneira do educador russo Makarenko e, entre os autores atuais, lembramos B. Charlot,Suchodolski, Manacorda e, especialmente, G. Snyders.

    CONCLUSAO

    Conforme j dissemos, a classificao que acabamos de apresentar, feita por Libneo,tem

    apenas uma funo didtica. Dificilmente iremos encontrar, na prtica, uma escola que sigauma das tendncias pedaggicas com total pureza, havendo elementos de uma e de outraque se misturam, mesmo porque essa tem sido a tradio de nossos professores, quepraticam um certo sincretismo pedaggico. E no s em educao fazemos isso, o quemostra uma das marcas da prpria cultura brasileira. Vemos, por exemplo, que na esferareligiosa criamos a umbanda, produto genuinamente nacional e tambm um sincretismoreligioso perfeito.

    Todavia, se no h uma prtica pura de nenhuma das tendncias, poderamosafirmar, no de forma absoluta que pelo menos as duas grandes tendncias pedaggicas, aliberal e a progressista, possuem alguns princpios antagnicos os quais no podemconviver sem conflitos. Certamente um diretor de uma escola sendo liberal tradicional noiria ser aceito por um corpo com maioria progressista. Por exemplo, como conciliar a idia

  • de que transmitimos conhecimentos acabados e verdades absolutas com a idia de queconstrumos o conhecimento na relao com os outros e com o meio scio-cultural enatural? Como poderemos conciliar um professor autoritrio com outro que valoriza ainiciativa dos alunos e do grupo? E como conceber uma prtica educativa que visa atransformao da realidade com aquela que procura manter o status quo? O problema quemuitos professores, principalmente aqueles que fizeram cursos fracos , no magistrio ouna pedagogia, no tm a conscincia dos fundamentos tericos de toda prtica pedaggica eacham que podem educar de forma neutra, no se envolvendo em questes ideolgicas oupolticas. Sabemos que isso impossvel, pois toda e qualquer prtica possui uma baseterica, explcita ou no; quem se ilude com a tal neutralidade facilmente usado comomassa de manobra pelo sistema ou por grupos que dominam as mquinas e as verbas dasSecretarias da Educao dos municpios ou do Estado.

    Sendo a educao uma necessidade humana essencial e acreditando que podemos eprecisamos ensinar e aprender sempre, tendo como horizonte ltimo a humanizaocrescente do ser humano, que no nasce homem ou mulher, mas se faz no processohistrico, acreditamos que o maior conhecimento das teorias educativas s tem a colaborarcom uma prtica pedaggica cada vez mais consciente e realmente promotora da vida, daliberdade, dos valores humanos, da justia e da paz. A educao que no promove essesvalores no merece o nome de educao, ainda que muitos defendam prticas opostas emnome de nobres ideais. Como diz o velho ditado, o inferno est cheio de gente que tinhaboas intenes!

    Lio 13: Referncias Bibliogrficas

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ARANHA, Maria Lcia Arruda. Filosofia da educao. 2. ed. So Paulo: Moderna, 1996.

    LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da educao. So Paulo: Cortez, 1994. (Col.Magistrio 2o Grau).

    SAVIANI, Demerval. Educao: do senso comum conscincia filosfica. So Paulo:Cortez/Autores Associados, 1980.

    ________. Pedagogia histrico-crtica: primeiras aproximaes. So Paulo: Cortez/AutoresAssociados, 1991.

  • SEVERINO, Antnio J. Filosofia da educao. So Paulo: FTD, 1994.

    SUCHODOLSKI, B. A pedagogia e as grandes correntes filosficas: pedagogia daessncia e a pedagogia da existncia. Trad. Liliana Rombert Soeiro. 2. ed. Lisboa: LivrosHorizonte, 1978.

    VIANNA, Ilca de A. O. Metodologia do trabalho cientfico: um enfoque didtico daproduo cientfica. So Paulo: E.P.U., 2001.