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Todos os direitos reservados ao Master Juris. www.masterjuris.com.br Página1 Curso/Disciplina: Direito Penal Militar Aula: Extinção de punibilidade. Professor (a): Marcelo Uzêda Monitor (a): Lívia Cardoso Leite Aula 30 CAUSAS DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE - Morte : A morte extingue a punibilidade tanto na esfera comum como na esfera militar por conta do princípio da intranscendência da pena. A pena não passa da pessoa do condenado. Com a morte cessa a pretensão punitiva do Estado. É extinta a punibilidade, uma vez que não se pode ultrapassar a pessoa do falecido e atingir a família e seus parentes vivos. Pelo princípio da intranscendência da pena, previsto na Constituição, no art. 5º, XLV, a pena não passará da pessoa do condenado. CF, art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido ; Há ressalva quanto à reparação do dano. A reparação do dano pode alcançar os sucessores no limite do patrimônio transferido, das forças da herança, proporcionalmente a ela, no limite do que foi transferido para o sucessor. Este terá, até esse limite, obrigação de reparar o dano pelo delito praticado pelo falecido. Há também o confisco. Reparação do dano e confisco figuram como efeitos da condenação. Obs: no Direito Penal Militar não há muita dificuldade em relação a isso porque estas 2 figuras, reparação do dano e confisco, não são penas. São efeitos da condenação. Como efeitos da condenação transcendem, passam da pessoa, atingindo o sucessor dentro do limite, das forças da herança, dos limites do patrimônio transferido. Questão interessante e polêmica que é tema recorrente em prova: quando extinta a punibilidade pela morte e constata-se algum tempo depois que a certidão era falsa. A constatação posterior da falsidade da certidão tem que consequência? Os Tribunais Superiores têm afirmado que nesse caso

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Curso/Disciplina: Direito Penal Militar

Aula: Extinção de punibilidade.

Professor (a): Marcelo Uzêda

Monitor (a): Lívia Cardoso Leite

Aula 30

CAUSAS DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE

- Morte:

A morte extingue a punibilidade tanto na esfera comum como na esfera militar por conta do

princípio da intranscendência da pena. A pena não passa da pessoa do condenado. Com a morte cessa a

pretensão punitiva do Estado. É extinta a punibilidade, uma vez que não se pode ultrapassar a pessoa do

falecido e atingir a família e seus parentes vivos. Pelo princípio da intranscendência da pena, previsto na

Constituição, no art. 5º, XLV, a pena não passará da pessoa do condenado.

CF, art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos

brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à

segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a

decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o

limite do valor do patrimônio transferido;

Há ressalva quanto à reparação do dano. A reparação do dano pode alcançar os sucessores no

limite do patrimônio transferido, das forças da herança, proporcionalmente a ela, no limite do que foi

transferido para o sucessor. Este terá, até esse limite, obrigação de reparar o dano pelo delito praticado

pelo falecido.

Há também o confisco. Reparação do dano e confisco figuram como efeitos da condenação.

Obs: no Direito Penal Militar não há muita dificuldade em relação a isso porque estas 2 figuras,

reparação do dano e confisco, não são penas. São efeitos da condenação. Como efeitos da condenação

transcendem, passam da pessoa, atingindo o sucessor dentro do limite, das forças da herança, dos limites do

patrimônio transferido.

Questão interessante e polêmica que é tema recorrente em prova: quando extinta a

punibilidade pela morte e constata-se algum tempo depois que a certidão era falsa. A constatação posterior

da falsidade da certidão tem que consequência? Os Tribunais Superiores têm afirmado que nesse caso

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revoga-se o despacho ou a decisão que declarou extinta a punibilidade. Esta não produz efeitos, uma vez

que foi lastreada em fato inexistente, em documento falso. O Supremo Tribunal Federal e o STJ têm

afirmado que essa decisão não faz coisa julgada e é revogada, não produzindo efeitos, tendo o processo,

portanto, seguimento. O processo que havia sido encerrado com a extinção da punibilidade pela morte, uma

vez constatada a falsidade da certidão de óbito, tem retomada a persecução criminal. Não há coisa julgada

nesse caso, na opinião dos Tribunais.

Há entendimento doutrinário minoritário de que isso seria uma revisão contra o réu,

inadmissível no sistema, no ordenamento brasileiro. A posição prevalente nos Tribunais é de que não faz

coisa julgada porque o elemento, o evento morte, não aconteceu. O agente teria sido beneficiado por um

fato inexistente lastreado em documento falso. O agente deve responder pelo fato se não houve prescrição

nesse ínterim. Volta o processo. Seu curso, seu andamento, é retomado, sem prejuízo da apuração da

responsabilidade pelo uso do documento falso, que no caso é de competência da Justiça Federal.

Perante a JMU, portanto, em nível federal, o sujeito, a família ou o advogado apresentam uma

certidão falsa dolosamente, induzindo a erro o juiz. O MP se manifesta e é extinta a punibilidade. O processo

original retomará o seu curso se não tiver ocorrido a prescrição ou outra causa extintiva de punibilidade. Em

relação ao falso, quem usou o documento falso irá responder. Como o crime foi praticado em detrimento da

Justiça Militar da União, que faz parte do Poder Judiciário Federal, a competência é da Justiça Federal. Pode-

se fazer um paralelo em relação ao documento falso usado na Justiça do Trabalho. Assim como o falso

testemunho, o uso de documento falso perante a Justiça do Trabalho, em processo trabalhista, é de

competência federal. Paralelamente, na esfera da JMU, a competência é da Justiça Federal para a apuração

do falso, do uso de documento falso no caso.

Na esfera estadual a competência é da Justiça Comum. O crime militar retoma o seu curso e o

documento falso empregado será encaminhado à esfera comum, pois não houve um crime militar. Foi

empregado o documento perante a Justiça, que não é um órgão militar, e sim um órgão do Poder Judiciário.

- Anistia ou indulto:

A graça não está no rol. Ao ver do professor, a graça deve ser utilizada. O indulto é previsto no

Decreto Presidencial. Todo ano, na época do Natal, o Presidente da República edita o Decreto de indulto. Há

o indulto que extingue a punibilidade. Na verdade, ele extingue a pena, a pretensão executória, porque o

indulto pressupõe o trânsito em julgado. Ele extingue a pena. A execução é extinta pela indulgência

soberana, do Estado. O indulto é uma medida estatal de renúncia ao direito de punir. A pretensão

executória é extinta com essa postura do Estado, com o Decreto do Presidente da República que concede

indulto.

Muitas vezes, equivocadamente, é veiculado na imprensa como perdão. Não é perdão. O

indulto é uma manifestação da clemência soberana do Presidente da República. É ele que tem competência

para conceder o indulto, através de Decreto, para os condenados que cumpram os requisitos do Decreto. Os

condenados que se adéquam aos requisitos legais têm direito ao indulto.

Obs: é necessário que o Decreto se refira aos crimes militares. O Decreto estabelece os critérios

para a benesse. Por isso, tem de se referir também aos crimes militares. Os crimes militares podem ser alvo

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de indulto, mas têm de estar mencionados no Decreto ou pelo menos não pode haver nenhuma ressalva no

Decreto quanto à não aplicação aos crimes militares.

Comutação é causa extintiva de punibilidade? Não. A comutação é um desconto na pena.

Equivale a um indulto parcial, um desconto na pena. Sempre na 2ª parte do Decreto de indulto há

comutação. Aqueles que não foram beneficiados com indulto podem ser beneficiados com desconto da

pena, que é a comutação. A comutação, o benefício da comutação, dependendo do caso, se o que falta a

cumprir de pena é exatamente o desconto, quando ela é computada já ao final, pode gerar a extinção da

pena. Porém, ela não é causa extintiva de punibilidade. É um desconto da pena. Equivale a um indulto

parcial. Essas são as considerações. Vale aqui o estudo, o conhecimento da LEP. Nesse caso ela pode ser

aplicada na esfera militar, até porque o indulto presidencial pode se referir também aos crimes militares.

Anistia: é um esquecimento jurídico, uma amnésia. O Congresso Nacional edita uma lei,

havendo uma decisão política que concede anistia para determinado ou determinados crimes. A anistia

recai sobre fatos e não sobre pessoas. A anistia é sobre fatos, é o esquecimento jurídico de crimes.

Normalmente a anistia é concedida para crimes políticos, eleitorais e militares. Crimes militares podem ser

objeto de anistia, assim como os crimes comuns.

Questão em alta recentemente: motins e revoltas praticados por policiais militares em alguns

Estados. O caso mais chamativo foi o do Espírito Santo. A segurança pública ficou um caos por conta da

paralisação dos policiais militares. As esposas foram para as portas dos batalhões, mas isso não era um

impedimento para os militares saírem. Objetivamente houve revolta. Segundo o noticiário da época,

estavam indiciando 700 policiais militares por crime de revolta. Revolta é o motim com armas. Seria possível

a concessão de anistia? Esta é uma decisão política do Congresso Nacional. O tema tem de ser discutido e

tem de haver a edição de uma lei concedendo a anistia. Sendo a decisão política mais acertada, se o

Congresso chegar a essa conclusão, é publicada lei concedendo a anistia. A anistia recai sobre fatos, e não

sobre pessoas. Quem cometeu o crime, o sujeito ativo, será beneficiado pela extinção da punibilidade.

Existe anistia própria e imprópria.

- Própria: é concedida antes do trânsito em julgado. Ela é mais interessante porque sequer vai

permitir a formação do título executivo. Nada impede, como no caso da Comissão da Verdade, que seja

apurado se a vítima de determinado delito, praticado até por agentes do Estado, deve ser indenizada. A

anistia própria afasta o trânsito, a formação do título, e a execução direta de indenização. Deve ser aberto

um processo para a discussão de eventual indenização.

- Imprópria: depois do trânsito em julgado. Respeita os efeitos extrapenais. Afasta os efeitos

penais, a pena, e até a reincidência, mas os efeitos extrapenais se mantêm. Ela respeita os efeitos

extrapenais porque o título já foi consolidado. A vítima do crime pode buscar sua indenização diretamente

com a sentença, apesar de o fato ter sido alvo de anistia.

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A anistia pode abranger todos os crimes, principais e secundários, relacionados ao fato

principal. Pode atingir também todas as pessoas que praticaram determinado crime ou só algumas delas. Ex:

concede-se anistia para os não reincidentes. Esse pode ser um critério. Há anistia geral e anistia parcial, esta

quando só determinadas pessoas são beneficiadas.

Anistia irrestrita – todos os fatos, principais e secundários, são alcançados.

Anistia restrita – só determinados crimes, fatos, são alcançados. Ex: anistia para motim, e não

para os crimes praticados contra a pessoa pelos amotinados. Nesses delitos militares, sobretudo no caso do

motim, que é tema mais atual no que tange à polêmica envolvendo anistia, muitas vezes os amotinados, os

revoltosos, praticam crimes contra a pessoa, contra o patrimônio etc. Há uma pluralidade de fatos. A anistia

pode ser restrita aos crimes militares principais, ao fato principal, ao crime militar próprio, por exemplo o de

revolta ou o de motim, se o legislador optar por não anistiar os demais fatos. O agente responderá pelos

demais fatos, no caso de a anistia ser restrita. Essas são as considerações quanto à anistia.

- Abolitio criminis:

Dispensa comentários. O tema já foi visto no início, na aplicação da lei penal. É a lei nova que

descriminaliza determinado comportamento. O fato deixa de ser típico. Quem praticou o fato antes –

historicamente ele está registrado. Não há anistia. Abolitio não é anistia. – tem a punibilidade extinta com a

retroação da abolitio. Hoje o fato passa a ser não mais crime. Ninguém pode ser punido por fato que a lei

posterior deixa de considerar crime. A abolitio criminis é causa extintiva de punibilidade. Se hoje o fato não é

mais considerado como crime, não pode ser punido quem ontem o praticou. Essa é a lógica da abolitio

criminis. O tema já foi enfrentado, estudado, na 1ª parte do estudo, no início da aplicação da lei penal.

- Prescrição:

Será falado depois, em outro bloco.

- Reabilitação:

Esse é um tema diferente. O Código Penal Militar prevê a reabilitação como causa extintiva de

punibilidade. A reabilitação na esfera militar é causa extintiva de punibilidade.

CPM, art. 134 – Reabilitação

A reabilitação alcança quaisquer penas impostas por sentença definitiva.

§1º A reabilitação poderá ser requerida decorridos cinco anos do dia em que for extinta, de qualquer

modo, a pena principal ou terminar a execução desta ou da medida de segurança aplicada em substituição (art. 113),

ou do dia em que terminar o prazo da suspensão condicional da pena ou do livramento condicional, desde que o

condenado:

a) tenha tido domicílio no País, no prazo acima referido;

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b) tenha dado, durante esse tempo, demonstração efetiva e constante de bom comportamento público

e privado;

c) tenha ressarcido o dano causado pelo crime ou demonstre absoluta impossibilidade de o fazer até o

dia do pedido, ou exiba documento que comprove a renúncia da vítima ou novação da dívida.

§2º A reabilitação não pode ser concedida:

a) em favor dos que foram reconhecidos perigosos, salvo prova cabal em contrário;

b) em relação aos atingidos pelas penas acessórias do art. 98, inciso VII, se o crime for de natureza

sexual em detrimento de filho, tutelado ou curatelado.

Prazo para renovação do pedido

§3º Negada a reabilitação, não pode ser novamente requerida senão após o decurso de dois anos.

§4º Os prazos para o pedido de reabilitação serão contados em dobro no caso de criminoso habitual ou

por tendência.

Revogação

§5º A reabilitação será revogada de ofício, ou a requerimento do Ministério Público, se a pessoa

reabilitada for condenada, por decisão definitiva, ao cumprimento de pena privativa da liberdade.

A reabilitação no sistema militar não tem a mesma ideia, a mesma natureza da reabilitação do

Direito Penal Comum. A reabilitação do Direito Penal Comum assegura tão somente o sigilo das informações

criminais, salvo para o próprio juízo criminal. No Direito Penal Comum, a reabilitação não extingue a

punibilidade, não extingue pena alguma. Ela permite seja assegurado o sigilo da informação criminal.

Outro detalhe é que na esfera comum, além de não ser causa extintiva de punibilidade, a

reabilitação pode ser pedida após 2 anos do cumprimento da pena. Cumprida a pena, 2 anos depois,

obedecidos os requisitos legais, há direito à reabilitação. Isso consta dos arts. 93 e seguintes do Código Penal

Comum. Reabilitação garante o sigilo das informações, salvo para a esfera criminal, e exige 2 anos para o

pedido, residência no país, bom comportamento etc. Cumpridos esses requisitos pode haver a reabilitação.

Com a reabilitação pode ser feito concurso público. O Código Penal Comum diz que a reabilitação não

restaura a situação anterior. Se o cargo foi perdido, não é recuperado. Mas a reabilitação permite que se

concorra, que se ocupe novo cargo. Porém, não restabelece o status quo ante.

Na esfera militar, de acordo com o art. 134 do Código Penal Militar, a reabilitação extingue a

punibilidade. Ela alcança quaisquer penas impostas na sentença definitiva. Como ela é aplicada? O dito no

art. 134 do CPM é verdade e mentira ao mesmo tempo. É verdade porque realmente, se houve a

reabilitação, as penas que foram aplicadas, as condenações anteriores, serão sigilosas. Porém, ela não atinge

quaisquer penas. A reabilitação não extingue a punibilidade da pena de reclusão. Não existe isso. Na

verdade, filtrando o art. 134 do CPM, o que acontece é que a reabilitação extingue a pena de inabilitação.

Traduzindo o art. 134 do CPM, ele é verdade e mentira porque ele fala em quaisquer penas impostas. A

reabilitação garante o sigilo em relação às condenações anteriores qualquer que seja a pena. Isso é verdade.

Mas ela não extingue a pena, a punibilidade, do total da pena de inabilitação. A inabilitação é uma pena

acessória aplicável de 2 a 20 anos. O agente pode ser inabilitado para o exercício de cargo, de posto, de

graduação, por 2 a 20 anos. Para o pedido de reabilitação na esfera militar tem de se esperar 5 anos após o

cumprimento da pena principal. A pena de inabilitação é cumprida quando terminada a pena privativa de

liberdade. Isso já foi visto quando do estudo da pena de inabilitação. Imagine-se que o agente tenha sido

condenado e a pena acessória de inabilitação é de 10 anos. Ele está inabilitado por 10 anos. Uma vez que ele

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cumpre 5 anos de inabilitação após o cumprimento da pena principal, ele pode pedir a reabilitação. Se esta é

deferida, o agente ganhou 5 anos porque tinha de ficar 10 anos inabilitado. Assim, ele se reabilita antes,

cumprido o prazo de 5 anos após o cumprimento da pena principal. É o período de depuração. O agente

pede a reabilitação, que extingue a pena de inabilitação. Na verdade ela extingue a pena de inabilitação.

Quanto a alcançar quaisquer penas, é no tocante ao sigilo das informações. Então, o agente

estava inabilitado por 10 anos e cumpre 5 anos de inabilitação após a extinção da pena privativa de

liberdade, a pena principal. 5 anos é o período de depuração para a reabilitação. Cumpriu 5 anos e as

condições impostas, os requisitos legais, é concedida a reabilitação, ou seja, é extinta a pena de

inabilitação. No fundo é isso. Na verdade essa é a razão para a reabilitação funcionar como causa extintiva

de punibilidade.

O prazo exigido pelo CPM para a reabilitação, para o requerimento de reabilitação, é de 5 anos

contados do dia em que for extinta de qualquer modo a pena principal ou terminar a execução desta ou

da medida de segurança aplicada em substituição. O condenado deve ser domiciliado no país durante esse

período, demonstrando efetivo e constante bom comportamento público e privado. Essas são as exigências

que a lei estipula para a reabilitação. O agente tem de esperar 5 anos.

Essa questão dos 5 anos é a mais cobrada em provas de concurso. No Direito Penal Comum são

2 anos a exigência para a reabilitação. Porém, neste a reabilitação não extingue a punibilidade. Na esfera

militar são 5 anos. Faz sentido. Se a pena de inabilitação dura de 2 a 20 anos, se a exigência fosse só de 2

anos de cumprimento de inabilitação, seria apenas do mínimo. Com 2 anos poderia haver reabilitação. Daria

no mesmo. O legislador estabeleceu a inabilitação de 2 a 20 anos. Têm de ser cumpridos 5 anos para a

reabilitação. Cumprida a pena principal ou extinta a pena principal, fica-se 5 anos no período de depuração

para a reabilitação, o que extingue, na verdade, a pena de inabilitação. Essa é a regra do Código Penal

Militar. É tema muito recorrente em prova, muito cobrado, principalmente a questão dos 5 anos. A

reabilitação funciona como causa extintiva de punibilidade, o que é estranho à esfera comum.

- Reparação do dano no peculato culposo:

É causa extintiva de punibilidade também. Está no rol do art. 123 do CPM.

CPM, art. 123 - Causas extintivas

Extingue-se a punibilidade:

I - pela morte do agente;

II - pela anistia ou indulto;

III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso;

IV - pela prescrição;

V - pela reabilitação;

VI - pelo ressarcimento do dano, no peculato culposo (art. 303, § 4º).

Parágrafo único. A extinção da punibilidade de crime, que é pressuposto, elemento constitutivo ou

circunstância agravante de outro, não se estende a este. Nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de um deles

não impede, quanto aos outros, a agravação da pena resultante da conexão.

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No caso do peculato culposo, nenhuma novidade. No Direito Penal Comum também há essa

previsão. Na esfera militar, está no art. 303, §4º do CPM.

CPM, art. 303, §4º - Extinção ou minoração da pena

No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede a sentença irrecorrível, extingue a

punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta.

Como funciona? O tema também é recorrente. Caiu na prova da DPU/2010. É um tema que vem

sempre se repetindo em questões de prova. No peculato culposo, art. 303, §4º, do CPM (no Código Penal

Comum está no art. 312, §3º), a reparação do dano, se precede a sentença irrecorrível, extingue a

punibilidade.

CP, art. 312, §3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença

irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta.

A reparação do dano no peculato culposo tem de ser antes do trânsito em julgado da sentença

condenatória. Se depois do trânsito, não extingue a punibilidade, mas reduz a pena pela metade. Se a

reparação do dano no peculato culposo ocorre após o trânsito em julgado há mera causa de redução de

pena pela metade. Reduz-se a pena pela metade. Nada de novo. Essa disposição já é conhecida do Direito

Penal Comum. Cai bastante em prova.

DPU/2010 – No peculato culposo, a reparação do dano antes da sentença irrecorrível acarreta

extinção da punibilidade do agente tanto no CP quanto no CPM.

Essa questão é da prova objetiva, 1ª fase. Está correta. A reparação do dano é causa extintiva da

punibilidade no peculato culposo nas 2 esferas, desde que antes do trânsito em julgado, se preceder a

sentença irrecorrível. Depois há mera redução de pena.

- Perdão judicial:

O perdão judicial não é previsto no rol da parte geral do Código Penal Militar. No Código Penal

Comum ele é previsto, no art. 107, IX – perdão nos casos previstos em lei.

CP, art. 107 - Extinção da punibilidade

Extingue-se a punibilidade:

IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.

O Direito Penal Comum possui diversas hipóteses de perdão judicial. Existe um rol no Código

Penal e nas leis especiais. Ex: Lei de Organização Criminosa. Tem perdão na colaboração premiada. Lei de

Lavagem de Capitais. Tem perdão, também na colaboração premiada. Homicídio culposo e lesão corporal

culposa. Há perdão no caso de injúrias e crimes contra a honra. É possível a aplicação do perdão também no

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caso de reciprocidade. Adoção à brasileira por motivo nobre tem perdão judicial. Está no Código Penal. Tem

perdão em crimes tributários e em diversas figuras típicas da lei penal comum.

O Direito Penal Militar optou por restringir a hipótese de perdão judicial ao art. 255, parágrafo

único do CPM.

CPM, art. 255 - Receptação culposa

Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela manifesta desproporção entre o valor e o

preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso:

Pena - detenção, até um ano.

Parágrafo único. Se o agente é primário e o valor da coisa não é superior a um décimo do salário

mínimo, o juiz pode deixar de aplicar a pena.

Na parte especial só há esse caso – receptação culposa. Sendo a receptação culposa, o juiz pode

deixar de aplicar a pena, se o agente é primário e o valor da coisa não é superior a 1/10 do salário mínimo.

Considera-se o valor do objeto da receptação culposa. O juiz pode deixar de aplicar a pena. Até 1/10 do

salário mínimo tem de ser o valor do objeto e o sujeito tem de ser primário. Nada de novo porque na esfera

comum há essa hipótese. Mas nesta fala-se em pequeno valor da coisa. Considerando-se as circunstâncias, o

juiz pode deixar de aplicar a pena.

No Direito Penal Militar a lei estabelece que pela receptação culposa pode haver perdão judicial

se o réu for primário e a coisa não passe, sua avaliação não passe, de 1/10 do salário mínimo.

Questão debatida no Supremo: não existem outras hipóteses de perdão e não pode haver

analogia. Essa é a posição que o Supremo tem adotado.

HC 116254/SP – 1ª Turma – Min. Rosa Weber – Julgamento em 25.06.2013. Informativo 712 do

Supremo.

EMENTA HABEAS CORPUS. PENAL MILITAR. HOMICÍDIO CULPOSO. PERDÃO JUDICIAL PREVISTO NO

CÓDIGO PENAL. ANALOGIA. INAPLICABILIDADE. LACUNA LEGAL INEXISTENTE. 1. A analogia, ainda que in bonan

partem, pressupõe lacuna, omissão na lei, o que não se verifica na hipótese, em que é evidente no Código Penal

Militar a vontade do legislador de excluir o perdão judicial do rol de causas de extinção da punibilidade. 2. Ainda que

fosse o caso de aplicação da analogia, necessário seria o exame do conjunto fático-probatório para perquirir a

gravidade ou não das consequências do crime para o paciente, o que é inviável na via estreita do writ. 3. Ordem

denegada.

O art. 123 do CPM não contempla a hipótese de perdão judicial como causa de extinção da

punibilidade, e, ainda que in bonam partem, não se aplica por analogia o art. 121, §5º, do Código Penal

Comum. Embora o perdão seja previsto no art. 255, parágrafo único, do CPM, no Direito Penal Militar, que

cuida da receptação culposa, a analogia pressupõe lacuna, omissão na lei. Na situação trata-se de silêncio

eloquente. O legislador fez previsão de perdão judicial na receptação culposa. Por que não fez no homicídio

culposo? Não fez porque não quis, porque não quer dar a benesse. Essa é a interpretação do Supremo

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Tribunal Federal. É evidente que o CPM, que a vontade do legislador foi excluir o perdão judicial do rol de

causas de extinção da punibilidade. Essa é a posição do Supremo Tribunal Federal.

O professor lamenta porque o Código de Trânsito Brasileiro também não tem perdão judicial.

Crítica: no CTB, Código de Trânsito Brasileiro, o art. 300 foi vetado. Esse art. previa o perdão. O presidente

Fernando Henrique Cardoso, na época, vetou o art. 300 com o argumento de que o tema é tratado de forma

mais abrangente no Código Penal Comum. O Presidente vetou o perdão. Hoje é tranquilo o entendimento

nos Tribunais Superiores de que é aplicável o perdão judicial nos crimes culposos de trânsito, tanto no

homicídio quanto na lesão corporal culposa, ocorridos no trânsito. Qual a explicação? Há voto do Min.

Gilmar Mendes se referindo ao perdão no trânsito dizendo que quando o tipo penal é remetido, como é o

caso do art. 302 do CTB – praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor -, que é um tipo

remetido, pois homicídio culposo está no Código Penal, mas o art. é especial porque o crime se dá na

direção de veículo automotor, ele é impregnado de todas as características do tipo ao qual ele se remete. Se

o homicídio culposo tem perdão no Código Penal Comum e o homicídio culposo na direção de veículo

automotor é remetido, pode usar das características, inclusive do perdão. Esse é o argumento que o

Supremo aplica no homicídio culposo e na lesão culposa na direção de veículo automotor, em que pese não

haver previsão e o veto ao art. 300 do CTB.

CTB, art. 302 - Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:

Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a

habilitação para dirigir veículo automotor.

§1º No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a pena é aumentada de 1/3 (um

terço) à metade, se o agente:

I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;

II - praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada;

III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do acidente;

IV - no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de transporte de

passageiros.

Parece ao professor, indo contra a tese do Supremo, que poderia ser aplicado o perdão na

esfera militar, uma vez que a ideia é a mesma. Imagine-se que 2 irmãos são militares, irmãos de sangue e de

armas. Durante um treinamento, acidentalmente, um irmão dispara a arma e acaba vitimando o outro. Um

irmão acidentalmente mata o outro. Ambos são militares. A situação era de treinamento. Não era área

comum, da esfera comum. Se fosse uma questão particular seria crime comum. São 2 militares em

treinamento e que são irmãos. Um acaba vitimando o outro. Não seria aplicável o perdão judicial nesse

caso? Ele é atingido de forma tão grave pelo fato que a pena é desnecessária.

O Supremo Tribunal Federal não aceita perdão judicial no homicídio e na lesão corporal porque

o Código não quis prever. Essa é a interpretação do Supremo. O professor discorda porque quando a pena é

desnecessária o juiz tem de deixar de aplicá-la, mesmo que não haja previsão expressa. No exemplo, o

sujeito é atingido de forma muito grave. É possível que aconteça. Se um sinistro dessa natureza ocorre, um

acidente, uma falta de cuidado, qual a justificativa, qual a fundamentação da pena? A pena é desnecessária.

Page 10: Curso/Disciplina: Direito Penal Militar · Ao ver do professor, a graça deve ser utilizada. O indulto é previsto no Decreto Presidencial. Todo ano, na época do Natal, o Presidente

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Nesse caso, o juiz tem de deixar de aplicar a pena, por conta da sua desnecessidade. Lamentável o

entendimento do Supremo. O Supremo não vem aplicando o perdão.