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26 BRASIL MINERAL - Edição Especial Mineração e Meio Ambiente - nº 228 - Junho de 2004 A atividade mineira tem sido vi- tal para o desenvolvimento da hu- manidade e do crescimento industrial e tecnológico. Os minerais e metais são a base essencial dos grandes inventos e estão presentes no dia-a-dia do ho- mem moderno. A necessidade da inter- ferência no meio ambiente, dado à pos- sibilidade de se conjugar as ações do homem ao meio em que vive, através da adoção de práti- cas ambientais que se adaptam de for- ma crescente, não deve ser obstáculo para o desenvolvi- mento da indústria mineira. Tal ativida- de deve consolidar- se no contexto do Desenvolvimento Sustentável, cres- cer com base no aproveitamento ra- cional dos recursos, procurando um equilíbrio sistemático entre o homem- recurso-território. O desenvolvimento sustentável é uma proposta de longo prazo na qual a boa administração dos recursos e o meio ambiente são componentes essen- ciais, os quais estão refletidos em prin- cípios fundamentais orientados aos aspectos sociais, econômicos e ambientais de toda atividade. A Com- panhia Vale do Rio Doce está compro- metida com esta proposta e considera a qualidade ambiental das atividades, dos produtos e dos serviços um fator fundamental para sua competitividade. E objetivando o controle e minimização do impacto causado pela mineração, a CVRD pratica constantemente a reabi- litação de áreas degradadas. Revisão Bibliográfica Um dos problemas centrais do desmatamento no Brasil é que ele re- sulta no estabelecimento de sistemas de uso da terra não sustentados, que dão origem à “áreas degradadas”, ca- racterizadas pelo alto nível de deterio- ração ambiental e pequena capacidade de suporte humano (FAO, 1985). A maior parte das áreas degradadas nos Neotrópicos é resultado de siste- mas inapropriados de uso da terra que geram ganhos econômicos em curto prazo, com um alto custo de degrada- ção ambiental e subdesenvolvimento socioeconômico em longo prazo. Exis- tem duas categorias principais de áre- as degradadas, dependendo da cober- tura de vegetação: florestas secundári- as e pastos abandonados. Além destes, destacam-se as áreas degradadas por atividade de mineração. Segundo Oldeman (1994), citado por Dias & Griffith (1998), os fatores de degradação de solo, em ordem decres- cente de participação relativa nas áre- as degradadas no mundo, são: 1. superpastejo da vegetação (34,5% das áreas mundiais degrada- das); 2. desmatamento ou remoção da vegetação natural para fins de agricul- tura, florestas comerciais, construção de estradas e urbanização (29,4%); 3. atividades agrícolas, incluindo ampla variedade de práticas agrícolas, como uso insuficiente ou excessivo de fertilizantes, uso de água de irrigação de baixa qualidade, uso inapropriado de máquinas agrí- colas e ausência de práticas conser- vacionistas de solo (28,1%); 4. exploração in- tensa da vegetação para fins domésti- cos, como combus- tível, cercas etc., expondo o solo à ação dos agentes de erosão (6,8%); e 5. atividades industriais ou bioindustriais que causam poluição do solo (1,2%). A conceituação de área degradada é bastante discutida nos meios técnicos e acadêmicos, admitindo-se várias de- finições de acordo com o enfoque dese- jado. Assim, poderíamos dizer que a degradação ocorre quando a vegetação Reabilitação de áreas e fechamento de minas Camilla P.M. Lott, Gustavo D. Bessa, Otoniel Vilela Resumo Na visão da Companhia Vale do Rio Doce, a reabilitação ambiental é a busca de uma condição ambiental estável, a ser obtida em conformidade com os valo- res estéticos e sociais da circunvizinhança. Esta atividade tem por objetivo dar um determinado uso para o sítio interferido, de acordo com o plano preestabelecido para o uso do solo, além de conferir a referida estabilidade ao meio ambiente. Programas de reabilitação requerem o planejamento e a execu- ção de trabalhos que envolvem geotecnia, processos biológicos (revegetação) e, em alguns casos, hidrogeologia. Este processo ainda inclui a manutenção e o monitoramento destas áreas, após a implantação dos projetos. O objetivo deste trabalho é demonstrar como a CVRD vem abordando o tema reabilitação de áreas degradadas e fechamento de minas, e apresentar como resultado alguns exemplos de minas e áreas já reabilitadas pela empresa. CVRD Imagens “antes (2000) e depois (2002)” da recuperação ambiental de uma grande voçoroca na mina de Piçarrão

CVRD - Reabilitação de Areas e Fechamento de Mina

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26 BRASIL MINERAL - Edição Especial Mineração e Meio Ambiente - nº 228 - Junho de 2004

Aatividade mineira tem sido vi-tal para o desenvolvimento da hu-

manidade e do crescimento industriale tecnológico. Os minerais e metais sãoa base essencial dos grandes inventose estão presentes no dia-a-dia do ho-mem moderno. A necessidade da inter-ferência no meio ambiente, dado à pos-sibilidade de se conjugar as ações dohomem ao meio em que vive, atravésda adoção de práti-cas ambientais quese adaptam de for-ma crescente, nãodeve ser obstáculopara o desenvolvi-mento da indústriamineira. Tal ativida-de deve consolidar-se no contexto doDesenvolvimentoSustentável, cres-cer com base noaproveitamento ra-cional dos recursos,procurando umequilíbrio sistemático entre o homem-recurso-território.

O desenvolvimento sustentável éuma proposta de longo prazo na qual aboa administração dos recursos e omeio ambiente são componentes essen-ciais, os quais estão refletidos em prin-cípios fundamentais orientados aosaspectos sociais, econômicos eambientais de toda atividade. A Com-panhia Vale do Rio Doce está compro-metida com esta proposta e consideraa qualidade ambiental das atividades,dos produtos e dos serviços um fatorfundamental para sua competitividade.E objetivando o controle e minimizaçãodo impacto causado pela mineração, aCVRD pratica constantemente a reabi-litação de áreas degradadas.

Revisão Bibliográfica

Um dos problemas centrais dodesmatamento no Brasil é que ele re-sulta no estabelecimento de sistemasde uso da terra não sustentados, quedão origem à “áreas degradadas”, ca-

racterizadas pelo alto nível de deterio-ração ambiental e pequena capacidadede suporte humano (FAO, 1985).

A maior parte das áreas degradadasnos Neotrópicos é resultado de siste-mas inapropriados de uso da terra quegeram ganhos econômicos em curtoprazo, com um alto custo de degrada-ção ambiental e subdesenvolvimentosocioeconômico em longo prazo. Exis-

tem duas categorias principais de áre-as degradadas, dependendo da cober-tura de vegetação: florestas secundári-as e pastos abandonados. Além destes,destacam-se as áreas degradadas poratividade de mineração.

Segundo Oldeman (1994), citado porDias & Griffith (1998), os fatores dedegradação de solo, em ordem decres-cente de participação relativa nas áre-as degradadas no mundo, são:

1. superpastejo da vegetação(34,5% das áreas mundiais degrada-das);

2. desmatamento ou remoção davegetação natural para fins de agricul-tura, florestas comerciais, construçãode estradas e urbanização (29,4%);

3. atividades agrícolas, incluindoampla variedade de práticas agrícolas,como uso insuficiente ou excessivo de

fertilizantes, uso deágua de irrigação debaixa qualidade,uso inapropriadode máquinas agrí-colas e ausência depráticas conser -vacionistas de solo(28,1%);

4. exploração in-tensa da vegetaçãopara fins domésti-cos, como combus-tível, cercas etc.,expondo o solo àação dos agentes

de erosão (6,8%); e5. atividades industriais ou

bioindustriais que causam poluição dosolo (1,2%).

A conceituação de área degradada ébastante discutida nos meios técnicose acadêmicos, admitindo-se várias de-finições de acordo com o enfoque dese-jado. Assim, poderíamos dizer que adegradação ocorre quando a vegetação

Reabilitação de árease fechamento de minas

Camilla P.M. Lott, Gustavo D. Bessa, Otoniel Vilela

Resumo

Na visão da Companhia Vale do Rio Doce, a reabilitação ambiental é a buscade uma condição ambiental estável, a ser obtida em conformidade com os valo-res estéticos e sociais da circunvizinhança. Esta atividade tem por objetivo darum determinado uso para o sítio interferido, de acordo com o planopreestabelecido para o uso do solo, além de conferir a referida estabilidade aomeio ambiente. Programas de reabilitação requerem o planejamento e a execu-ção de trabalhos que envolvem geotecnia, processos biológicos (revegetação)e, em alguns casos, hidrogeologia. Este processo ainda inclui a manutenção e omonitoramento destas áreas, após a implantação dos projetos. O objetivo destetrabalho é demonstrar como a CVRD vem abordando o tema reabilitação deáreas degradadas e fechamento de minas, e apresentar como resultado algunsexemplos de minas e áreas já reabilitadas pela empresa.

CVRD

Imagens “antes (2000) e depois (2002)” da recuperação ambiental de uma grande voçoroca na mina de Piçarrão

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e fauna originaissão destruídas,removidas ou ex-pulsas, a camadafértil do solo é per-dida, removida ouenterrada e a qua-lidade de vazão dosistema hídrico foralterada (Teixeira& Silva Jr., 1994).

Carpanezzi etal. (1990) apresen-tam uma definiçãomais precisa:ecossistema degra-dado é aquele que,após distúrbios, teve eliminado, junta-mente com a vegetação, os seus meiosde regeneração bióticos como o banco desementes, banco de plântulas, chuvas desementes e rebrota. Apresenta, portan-to, baixa resiliência, isto é, seu retornoao estado anterior pode não ocorrer ouser extremamente lento. Já o ecossistemaperturbado é aquele que sofreu distúrbi-os, mas manteve meios de regeneraçãobióticos. A ação humana não é obrigató-ria, mas auxilia na sua recuperação, poisa natureza pode se encarregar da tarefa.Nos degradados, a ação antrópica para a

recuperação é necessária, pois eles já nãodispõem daqueles eficientes mecanismosde regeneração.

Nas atividades de mineração, as prin-cipais fontes de degradação são: a de-posição de resíduos ou rejeitos decor-rente do processo de beneficiamento ea deposição do material estéril ou iner-te, não aproveitável, proveniente dodecapeamento superficial (Ibram, 1987).Além dessas fontes, outras que podemser citadas são: lançamento de lixo, deesgoto sanitário, vazamentos ou derra-mes de óleos, ácidos e outros produtos,

além da conta-minação por ele-mentos radioati-vos e a poluiçãovisual ou estéti-ca do local.

Os objetivosda recuperaçãode uma determi-nada área de-gradada devematender a requi-sitos individuaise o plano esta-belecido devedeixar claro,previamente, o

nível desejado de recuperação. Existemdiversos usos potenciais para os quaisas áreas degradadas podem ser desti-nadas, como o cultivo/pastagens, re-florestamento, área residencial ou ur-bana, parques e áreas de recreação, ousimplesmente, abandoná-las à suces-são vegetal (Griffith, 1980).

A vegetação pode ser um elemento deatuação e utilização nos programas derecuperação de áreas degradadas, assu-mindo diferentes funções, de acordo coma situação encontrada (Fonseca, 1989).Dentre as alternativas, o reflorestamen-

Imagens “antes (1997)” e “depois (2002)” da reconformação e revegetação no Lago de Rejeito de Maria Preta

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to para fins múlti-plos envolve ummaior número debenefícios, tantosociais como ecoló-gicos. Todavia, esempre de acordocom um plano es-tabelecido, o desti-no final da área de-verá ser objeto deuma análise con-junta dos compo-nentes sociais, eco-lógicos e econômi-cos envolvidos.

É preciso ter bem em mente qual éo objetivo inicial da recuperação, poisas áreas degradadas podem tanto ser“restauradas” como “reabilitadas”(Cairns, 1988; Viana, 1990). Restau-ração refere-se à série de tratamentosque buscam recuperar a forma origi-nal do ecossistema, isto é, sua estru-tura original, dinâmica e interações bi-ológicas. Ela é geralmente recomenda-da para ecossistemas raros e ameaça-dos, geralmente demanda mais tempoe resulta em maiores custos. Reabili-tação refere-se à série de tratamentosque buscam a recuperação de uma oumais funções do ecossistema. Essasfunções podem ser produção econômi-ca e/ou ambiental.

Geralmente, as principais justificati-vas para os reflorestamentos de prote-ção ambiental envolvem a recuperaçãoimediata, tanto quanto possível, dos be-nefícios ambientais. Essa questão mui-tas vezes não é analisada coerentemen-te, e a restauração da forma (composi-ção e diversidade de espécies, estruturatrófica, fisionomia, dinâmica, etc.), tor-na-se prioritária frente à recuperação dosserviços do ecossistema, ou seja, suafunção ambiental (Viana, 1990).

Vários autores procuraram sistema-tizar as técnicas de recuperação de áre-as degradadas (Willians, 1982; Griffith,1992; Silveira et al., 1992; Adeam,1990; Daniels, 1994; Pompéia, 1994;Jesus, 1994; Griffith et al., 1996), to-davia os sistemas devem ser específi-cos para cada situação, contemplando,entre outros fatores, a localização, cli-ma, topografia, estabilidade do terre-no, solo, vegetação e a natureza do(s)agente(s) causador(es) da degradação.É fato que, depois de planificado, o es-copo do sistema a ser adotado passapor alterações no decorrer da implan-tação das atividades previstas, assimcomo nas suas manutenções, dandouma dinâmica toda especial às técni-cas de recuperação.

As técnicas existentes para utiliza-ção da vegetação como um agenterecuperador de áreas degradadas sãorelativamente recentes e envolvem a re-generação natural, o plantio de espéci-es arbóreas e arbustivas e ahidrossemeadura (Silva, 1993).

Cada situação deve ser analisadapara escolha da técnica mais adequa-da e não raros são os exemplos emque todas elas são utilizadas na mes-ma área. Jesus (1994) ainda recomen-da, além da implantação propriamen-te dita, a necessidade indispensávelda manutenção, visando garantir o es-tabelecimento dos plantios realizadose que devem se estender, pelo menos,por dois anos.

Na recuperação de áreas degradadasao longo de ferrovias e reservatórios deágua, assim como na implantação decinturões verdes, são utilizados os pro-cedimentos de plantio de árvores pararesgate de biodiversidade, contenção deerosão, florestas de produção eamenização paisagística (FRDSA,1992;FRDSA, 1993; Jesus et al., 1984; Je-sus & Engel, 1989, Jesus, 1992).

Nestes trabalhos, os autores reco-mendam a recuperação através da im-plantação e manutenção dos plantiosrealizados, sendo que na implantaçãoestão incluídas as atividades de pre-paro do solo, controle das formigascortadeiras, coveamento, adubação eplantio. As manutenções são realiza-das visando garantir o estabelecimen-to dos plantios realizados e são reco-mendadas normalmente durante osdois ou três anos subseqüentes aoplantio. Neste período estão incluídasas atividades de roçada manual,coroamento, controle daquelas formi-gas e o replantio.

A reabilitação ambientalnas áreas da CVRD

Entende-se por reabilitação a buscade uma condição ambiental estável, aser obtida em conformidade com os va-lores estéticos e sociais da circun-vizinhança. Esta atividade tem por ob-jetivo dar um determinado uso para osítio interferido, de acordo com o planopreestabelecido para o uso do solo, alémde conferir a referida estabilidade aomeio ambiente. Programas de reabili-tação requerem o planejamento e a exe-cução de trabalhos que envolvemgeotecnia, processos biológicos (reve-getação) e, em alguns casos, hidro-geologia. Este processo ainda inclui a

manutenção e omonitoramentodestas áreas,após a implanta-ção dos projetos.

Conforme de-termina a legis-lação brasileira,em especial aConstituição Fe-deral, o empre-endedor tem aobrigação de re-abilitar as áreasdegradadas. NaCVRD, tal obri-

gação já vem sendo atendida, parci-almente, durante a fase de explora-ção da mina, através da aplicação derecursos (custeio) na contenção de ta-ludes e tratamento das áreas adjacen-tes (barragens e depósitos). Entretan-to, quando do encerramento da vidaútil de uma mina, ou frente de lavra,deve ser realizada a reabilitação defi-nitiva da área, que culmina com a suadevolução para o super ficiário(descomissionamento).

Um dos quesitos impostos ao mine-rador, para a obtenção da licençaambiental de operação, é a apresenta-ção do Plano de Recuperação de ÁreasDegradadas (PRAD), que estabelece, emlinhas gerais, os programas de recupe-ração a serem adotadas durante a la-vra e após a exaustão da jazida.

No entanto, para se dimensionar ovalor necessário à reabilitação final hánecessidade de formular os projetosde engenharia. Com este documento,poderão ser então adotadas as provi-dências precedentes à execução dasobras de encerramento e reabilitação,com destaque para a obtenção daaprovação do Plano de Reabilitação daÁrea Degradada (PRAD) que será defato implantado, concedida pelo ór-gão de licenciamento ambiental. Arevegetação é um dos elementos dosprogramas de recuperação de áreasdegradadas e pode conter diferentesrotas de ação, de acordo com a situa-ção encontrada.

Os estudos voltados para a obtençãode um sistema cada vez mais eficaz dereabilitação envolvem esforços internose externos à CVRD, com a participaçãode entidades de pesquisa, abrangendoos mais diversos temas (geotecnia,hidrogeologia, biologia etc.). A CVRD tra-balha com espécies vegetais que acele-ram o processo de “colonização vegetal”.Isto envolve até mesmo a aplicação debactérias especiais, que entram emsimbiose com estas plantas e são pro-motoras da sintetização do nitrogênio,essencial para o desenvolvimento davida (a fixação do nitrogênio é realizadano solo por bactérias de vida livre oupor bactérias simbiontes (Rhizobium eFrankia) associadas com as raízes dasplantas superiores).

Imagens “antes (2001) e depois (2003)” da reabilitação ambiental em taludes na mina de Caeté

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A recuperaçãoé alcançada pormeio de técnicasque ponderam ascondições de fer-tilidade e estrutu-ra dos substratospós-lavra, comotambém das dire-trizes de usos fu-turos, considera-das as determina-ções legais. Des-taca-se que aaplicação de sera-pilheira, de acor-do com a possibi-lidade local, sempre terá prioridade,pela destacada “eficiência ambiental”(só há limitações de disponibilidade edistância).

A meta dos trabalhos consiste eminstalar uma sucessão natural nas áre-as degradadas, de forma mais naturalpossível. Entende-se que a sucessãonatural é a forma mais coerente paraalcançar estágios serais maduros, au-tóctones e representativos regionalmen-te. Além das vantagens ecológicas des-te método, figura a vantagem da redu-ção de custos de revegetação, que per-mite, por outro lado, investimentosmaiores no manejo e monitoramentoposterior sobre as áreas em sucessão.

Sabe-se que a semente é o melhormeio de propagação das espéciesarbóreas, pois são mais econômicas,transmitem as características genéti-cas da árvore-mãe, seu transporte éfacilitado e a sanidade é mais contro-lável. Em função das propriedades doentorno da área em tela, é possíveltrabalhar com sementes de ciclo lon-go (normalmente composta por espé-cies autóctones) e/ou de explosão (es-tas podem ser exóticas, mas têm umpapel específico – de curto prazo, adesempenhar).

O sucesso de projetos de recupera-ção de áreas degradadas (RAD) reside,principalmente, na disponibilidade derecursos, no poder de resiliência daárea e na capacidade que a equipe téc-nica possui em adequar tais recursosàs estratégias de recuperação de cadaárea específica.

Um dos grandes entraves dessesprogramas de RAD é a disponibilida-de de sementes em quantidade e qua-lidade desejáveis (um problemalimitante é o fornecimento de semen-tes de boa qualidade fisiológica e ge-nética para garantir êxito nos planti-os) e esse problema se agrava aindamais quando se coloca em evidênciaas espécies nativas como agentes derecuperação dessas áreas.

A CVRD está optando pelo plantiodireto de sementes, ao invés do tradi-cional plantio de mudas, o que leva auma redução de custos com a instala-ção e manutenção de viveiro, mão-de-

obra, abertura de covas, transporte dasmudas, capinas, roçadas, combate àformiga, e outros custos envolvidos.

No caso específico da Floresta Na-cional (FLONA) de Carajás, sabendo-se do seu potencial florístico e da ca-rência de estudos científicos sobre afenologia, biologia reprodutiva (flores-cimento, frutificação), maturação edispersão de sementes de determina-das espécies ocorrentes em fisio-nomias específicas dessa Unidade deConservação, é que se decidiu pela im-plantação de um Plano de Coleta,Beneficiamento, Armazenamento ePesquisa de Sementes para a regiãoda FLONA. Esse plano, além de aten-der à demanda dos programas de

RAD, será agentede geração etransferência deconhecimento etecnologia no ma-nejo de espécies po-tenciais regionais.

Como o objeti-vo final do Pro-grama é gerarpropágulos de es-pécies nativas,para serem utili-zados nos proje-tos de recupera-ção de áreas de-gradadas da

CVRD, surgiu a idéia de agregar a elea pesquisa de germinação de estacase outros proágulos (não apenas se-mentes) para testes de germinação epropagação de espécies nativas es-peciais de herbáceas (cipós, porexemplo), arbustivas e arbóreas (dedifícil propagação ou que apresentembaixa disponibilidade de sementes),samambaias colonizadoras de talu-des de mineração e gramíneas.

Em outras regiões do Brasil, aCVRD também já vem realizando re-cuperações de áreas degradadas uti-lizando sementes. Dado a geração demassa verde e condicionamento desolo gerados a partir das sementes,proporciona-se condições para a “en-

Áreas em reabilitação (2002 e 2003) na mina de Riacho dos Machados

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trada” de espéci-es nativas prove-nientes de bancode sementes pró-ximos eresiliência local.

O Fechamentode Minas na

CVRD

A reabilitaçãoambiental pode nãoser encarada comouma atividade a serprojetada e execu-tada ao final dasatividades de umamina, mas sim como um processo contí-nuo, que ocorre desde o planejamento damineração até após o fechamento desta.Os custos das atividades de reabilitaçãoambiental podem ser reduzidos, caso asatividades de mineração sejam planeja-das prevendo-se, desde o início das ope-rações, o fechamento da mina.

O fechamento de uma mina é nor-malmente requerido no momento apartir do qual a operação deixa deser viável economicamente, quandoo fluxo de caixa se torna negativo equando o valor dos ativos está abai-xo das despesas requeridas para al-cançar os objetivos das exigênciasda regulamentação.

O objetivo do fechamento de mi-nas no âmbito da reabilitação é esta-bilizar as condições geoquímicas egeotécnicas de áreas mineradas*,com o intuito de proteger a saúde esegurança públicas, além de mini-mizar e prevenir qualquer degrada-ção ambiental em curso.

A CVRD otimiza as atividades dereabilitação ambiental executando-asconcomitantemente às operações, eainda, provisiona recursos para as ati-vidades necessárias quando do fecha-mento de suas minas. Assim, apre-sentam-se, em seguida, diversos ca-sos de sucesso e aprendizado contí-nuo como conclusão da filosofia e ati-tudes exercidas pela empresa.

PRAD da extinta minade ferro de Piçarrão

A Mina de Ferro de Piçarrão ope-rou no período de abril de 1976 a se-tembro de 1985. A partir de então,foram executados alguns pequenosserviços para a sua reabilitaçãoambiental e, portanto, houve neces-sidade de elaboração de um progra-ma integral de recuperação ambiental.

Este programa foi iniciado em se-tembro de 2000 e a sua implantaçãose encerra em 2003. Em seqüência,ter-se-á 3 anos de manutenção e cus-teio. A área em recuperação é de 160hae localiza-se no município de Nova Era,em Minas Gerais.

PRAD da extinta minade ouro de Maria Preta

A mina de Maria Preta iniciou suasatividades operacionais em 1990, comlavra a céu aberto e tratamento emuma usina CIP (carbon in pulp). Pos-teriormente, parte do minério passoua ser tratado através de lixiviação empilhas. Em setembro de 1996 a minafoi paralisada, tendo sido produzidos3.563 Kg de ouro.

A implantação do programa de re-abilitação ambiental iniciou-se em2000 e foi concluída em 2003. Emseguida, serão aproximadamente 5anos entre manutenção e custeio. Aárea em recuperação é de 81 ha loca-lizada no município de Santa Luz, noEstado da Bahia.

PRAD da extinta minade ouro de Caeté

A mina de Caeté operou de junho de1996 a 2001, em lavra a céu aberto,com o minério sendo tratado atravésde lixiviação em pilhas. Foram movi-mentadas 1.359.000 t de minério,10.700.882 t de estéril, com uma pro-dução de 2.110 Kg de ouro.

A Reabilitação da mina de Caeté foiiniciada em 2002, e a sua implanta-ção ainda se estendeu longo do anode 2003. Nos 5 anos subsequentesserão realizadas manutenções nos79 ha que foram reabilitados nosmunicípios de Caeté e Santa Bárba-ra, em Minas Gerais.

PRAD da extinta mina de ourode Riacho dos Machados

A mina de Riacho dos Machados ini-ciou suas atividades em 1989 e encer-rou em 1997, com lavra a céu aberto.O minério foi tratado por lixiviação empilhas (HL). Neste período, foram mo-vimentados 3.220.000 t de minério,6.878.739 t de estéril e produzidos4.825 Kg de ouro.

A implantação do PRAD se concen-trou no ano de 2002, e nos próximosanos serão realizadas manutenções.

Foram 60 ha recu-perados em Riachodos Machados, si-tuado no Estadode Minas Gerais.

PRAD da extintamina de ouro

de Almas

A mina de Al-mas, localizadano Município deAlmas, Estado doTocantins, iniciousuas atividadesoperacionais emjunho de 1996,

encerrando-as em março de 2001.Neste período foram produzidos 2.699Kg de ouro, tendo sido lavrados e pro-cessados 1.604.000 t de minério e3.335.000 t de estéril. A mina foi ex-plorada a céu aberto, sendo o miné-rio beneficiado através de lixiviaçãoem pilhas. A implantação do progra-ma de reabilitação foi iniciada em2001 e finalizada em 2002, comrevegetação de 42 ha.

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Imagens ANTES: (2001) Tanques de lixiviação, com a Planta em fase final de operação e DEPOIS:(2002) Área toda coberta com material das pilhas lixiviadas e com uma camada de 50 cm desolo para viabilizar a vegetação.

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*Entende-se por área minerada, deacordo com as Normas Reguladoras deMineração do DNPM - NRM 21, todaárea utilizada na atividade mineira,tais como a própria mina, os depósitosde estéril e de rejeitos, as áreasconstruídas, as vias de circulação edemais áreas de servidão.

Fase final da recuperação ambiental de voçoroca