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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009€¦ · de alimentos fazia com os nômades tivessem que se deslocar constantemente em busca de local um mais adequado a sua sobrevivência, deslocando

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

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O CONSUMO E A PRODUÇÃO DE LIXO NO ESPAÇO ESCOLAR: ações para

repensar a prática e a cidadania

Autora: Aparecida Delorenci Nogueira Sacani1

Orientadora: Profª. Ms. Yolanda Shizue Aoki2

Resumo

Este artigo tem como objetivo apresentar os resultados do trabalho

desenvolvido na intervenção pedagógica na escola, atividade que consta no Plano

de desenvolvimento educacional (PDE) e visa propor ações que contribuam para

desenvolver a Educação Ambiental escolar a partir de atividades que favoreçam a

relação teoria e prática. O bairro Vila Morangueira, nosso objeto de estudo,

forneceu-nos subsídios para as discussões em sala de aula. O uso de diversos

instrumentos de ensino proporcionou atividades práticas que auxiliaram no

desenvolvimento de hábitos e atitudes com vistas a desenvolver a mudança de

atitudes que visam melhorar a relação homem natureza, principalmente no que se

refere aos resíduos sólidos urbanos e aos problemas deles oriundos, partindo do

local para o regional e global.

Palavras chaves: educação ambiental; resíduos sólidos; prática; ensino.

1 Especialização em Ensino de Geografia Universidade Estadual de Londrina, Graduação em Geografia pela FaFIPA, Professora do Colégio Estadual João de Faria Pioli – EFM.

² Mestre em Geografia pela Universidade Estadual de Maringá – UEM, Professora do Departamento

de Geografia da Universidade Estadual de Maringá, Orientadora do Programa PDE.

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ABSTRACT

This article presents the results of educational intervention work in schools. It anaims

to propose actions that will help to develop environmental education from school

activities to promote the theory and practice. The district Vila Morangueira, activity,

which appears in the educational development plan (EDP) our object of study, has

provided subsidies for the discussions in the classroom. The use of various teaching

tools provided practical activities that helped in developing attitudes and habits in

order to enhance a change in attitudes to improve the human nature, particularly with

regard to solid waste and problems with them, related to local and global levels.

Keywords: environmental education; solid waste; education; practice.

1. INTRODUÇÃO

A ideia de desenvolver o presente trabalho surgiu da necessidade de buscar

alternativas para o desenvolvimento, em sala de aula, de temas contemporâneos

como o caso dos resíduos sólidos urbanos que diariamente causa problemas, tanto

a saúde humana, quanto ao meio ambiente.

Nesta perspectiva, as Diretrizes Curriculares para o Ensino de Geografia,

propõe um trabalho através de conteúdos estruturantes, que devem ser tratados

pedagogicamente a partir das categorias de análise – relações Espaço – Temporais

e relações Sociedade – Natureza e do quadro conceitual de referencia. Nesse

sentido, pretende-se que o aluno compreenda os conceitos geográficos e o objeto

de estudo da Geografia em suas amplas e complexas relações. No presente

trabalho procuramos dar ênfase à dimensão socioambiental do espaço geográfico

inter-relacionado aos demais conteúdos estruturantes.

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O ensino de Geografia se preocupa com diversas áreas do espaço

geográfico, e isto fica bem claro quando nas Diretrizes Curriculares para o ensino de

Geografia ( 2008 p.69 ) propõe-se que este seja realizado seguindo quatro grandes

dimensões que são elas: A dimensão socioambiental do espaço geográfico, a

dimensão econômica do espaço geográfico, a dimensão política do espaço

geográfico, a dimensão cultural e demográfica do espaço geográfico.

Para atender a proposta das diretrizes, procurou-se utilizar metodologias que

possibilitem ao aluno a compreensão da produção do espaço geográfico e as

transformações sofridas pelo mesmo por meio da ação do homem. Dessa forma, o

aluno deve ser capaz de analisar criticamente as interferências provocadas pelo

homem ao longo do processo histórico, iniciando pelo local partindo para o regional

e global.

Nesse contexto, cabe ao professor conduzir o processo de aprendizagem,

permitindo ao aluno a participação através de questionamentos, de atividades oral e

escrita, proporcionando a formação de um cidadão capaz de interferir na realidade

de maneira consciente e crítica, que é o objetivo maior do ensino de geografia.

A escolha da 7ª série do ensino fundamental foi possível, pois, dentro dos

conteúdos específicos a serem desenvolvidos pela disciplina nesta série, é

trabalhado a Geografia do Paraná, que proporcionará o estudo da cidade de

Maringá, mais precisamente o bairro Vila Morangueira, nosso objeto de estudo.

O ponto de partida para a realização deste trabalho foi a produção de um

material didático que pudesse facilitar as ações a serem desenvolvidas em sala de

aula, tornando o assunto abordado, não apenas, mais um projeto, e sim uma

proposta que pudesse contribuir para melhorar a atitudes de nossos alunos no que

se refere aos objetivos propostos para este trabalho.

Tendo em vista que os problemas ambientais decorrentes do acúmulo de

resíduos sólidos têm aumentado, lançando um grande desafio aos setores de

administração pública. O que fazer com todo esse material produzido diariamente?

Propostas estão sendo lançadas com o intuito de resolver o problema, porém, a

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cada dia a quantidade maior de resíduos sólidos é produzida sem ter um destino

viável.

No espaço escolar esse problema também se apresenta, visto que nossos

alunos são frutos de uma sociedade consumista e “deseducada” em relação às

questões que se referem à preservação ambiental. Observamos que o Colégio

Estadual João de Faria Pioli, assim como outros nos quais já trabalhamos,

desenvolvem projetos de conscientização ambiental, contudo, percebemos que

estamos longe de atingir os objetivos esperados, ou seja, a mudança de atitude de

nossos alunos quanto aos resíduos produzidos e seu destino, não só no espaço

escolar como também no seu cotidiano. E isso se constata pelo fato de que nossos

alunos são, em sua maioria, oriundos do bairro Vila Morangueira, local onde o

colégio está situado.

A partir da constatação de que esse bairro é um dos três de Maringá que

apresentam maiores índices de casos de Dengue, e que entre os principais

criadouros do mosquito Aedes Aegypti, estão às embalagens de produtos

descartáveis que são acomodadas em terrenos baldios e até mesmo nos quintais e

ruas do bairro.

Com o objetivo de promover atividades práticas que favoreçam aos alunos a

percepção de que as transformações no meio são reflexos das atividades humanas

e desenvolver o senso de responsabilidade dos mesmos perante os problemas

enfrentados. Com estudos partindo do local para o global, buscamos a mudança de

atitudes diante da situação vivenciada por eles no espaço escolar e seu entorno,

bem como no enfrentamento das situações cotidianas.

Com esse objetivo, elaboramos um material didático com o título “Resíduos

Sólidos”, este material apresenta uma metodologia voltada a aproximar a teoria e

prática, através de instrumentos de ensino que proporcionem atividades que

viabilizem a interação entre o saber sistematizado, metódico e científico e as

experiências vivenciadas pelos alunos e pelo professor.

Nossa proposta foi mostrar alternativas do que fazer com esses resíduos,

evitando assim o seu descarte sem a preocupação ambiental, como também

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fornecer subsídios teóricos aos alunos para que estes possam mudar de atitude

agindo de modo a criar um ambiente ecologicamente desejável.

Assim, por meio do uso de diversos instrumentos de ensino almejamos a

maior participação dos alunos no processo ensino/aprendizagem bem como

proporcionar maior reflexão acerca do conteúdo estudado. Dessa forma, ao atingir

os objetivos para cada atividade desenvolvida esperamos ter contribuído para a

mudança de atitude e que os alunos possam ser capazes de realizar a prática.

2. RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: UM ANTIGO PROBLEMA

Para Rodrigues (1988, p.125), “a produção de resíduos é tão antiga

quanto o processo de ocupação da terra pelo homem. Acompanha o processo de

apropriação e produção do homem em sociedade”.

A produção de lixo pela humanidade vem de um período bem

longínquo da História, quando o homem era apenas coletor e caçador de alimentos,

os resíduos por eles produzidos eram normalmente restos de alimentos que se

acumulavam ao redor de suas casas, provocando mau cheiro. Além disso, extinção

de alimentos fazia com os nômades tivessem que se deslocar constantemente em

busca de local um mais adequado a sua sobrevivência, deslocando o problema da

produção de lixo e da degradação ambiental.

Mas, com o passar do tempo, por volta de 1750, com a chamada Revolução

Industrial, o uso de tecnologias mais modernas, a produção de bens de consumo

aumentou vertiginosamente. Tudo isso aliado ao capitalismo, sistema econômico

que têm por objetivo o lucro, e o aumento da população mundial proporcionou um

avanço crescente ao consumo. Para tornar esses produtos mais atrativos ao

consumidor, as indústrias passaram a embalá-los em diferentes materiais, como o

papel, plástico, isopor entre outros. Ainda a propaganda através dos meios de

comunicação também teve um papel importante nesse processo.

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Assim, uma grande quantidade de resíduos passou a ser produzida

diariamente pela população ao que pejorativamente chamamos de lixo. Mas o que é

lixo afinal?

“O lixo é formado por tudo aquilo que consideramos inútil, velho, sujo ou

indesejável, ou seja, aquele material que, por razões diversas, acaba sendo jogado

fora ou descartado”. (MATTOS & GRANATO 2006, p.07).

Com a produção crescente de resíduos, surge uma questão: O que fazer

com os resíduos produzidos diariamente? O destino imediato é os aterros sanitários

ou nos lixões. As prefeituras municipais são responsáveis pela coleta e o destino

final dos resíduos produzidos nas cidades. Para isso, a população paga seus

impostos. Muitas prefeituras terceirizam o serviço de coleta e transporte do lixo.

Com relação aos resíduos domésticos ou regulares, estes são normalmente

transportados em caminhões comuns, fechados ou com compactadores. Em

algumas cidades a coleta acontece todos os dias ou em dias alternados. Em cada

cidade os depósitos destes resíduos são em lixões a céu aberto ou em aterros

sanitários, fato este que acaba contribuindo para proliferação de animais e

disseminação de doenças.

Uma proposta para diminuir a quantidade de resíduos a serem aterradas é a

reciclagem. Segundo Grippi, (2006, p.35), “reciclagem é o resultado de uma série de

atividades através das quais materiais que se tornariam lixo, ou estão no lixo, são

desviados, sendo coletados, separados e processados para serem usados como

matéria-prima virgem”. A reciclagem é um meio para diminuir a quantidade de lixo

que vai ser depositada nos lixões e aterros sanitários. Apesar de esta oferecer

diversos benefícios não pode ser considerado a solução para o problema do lixo.

Já Rodrigues (1988) discute a questão da coleta seletiva e compreende que

esta é uma questão de sobrevivência para algumas famílias que vêem nesta

atividade uma oportunidade de melhorar as condições de vida e para as empresas

torna-se uma forma de obter a preço mais baixo, o material reciclável do que a

própria matéria-prima. Assim, todos saem lucrando, as famílias, as empresas e o

meio ambiente. Neste sentido, ela complementa:

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Uma atividade antiga, a coleta (de porta em porta) de materiais, é fonte de sobrevivência. Trata-se dos coletores e catadores de rua, que vivem do dinheiro obtido na venda resultante da coleta destes resíduos. Trata-se, também, da sobrevivência dos trabalhadores da coleta de lixo que vendem sua força de trabalho para as empresas encarregadas da coleta do lixo (reciclável ou não). Porém, para os proprietários das empresas que (re) transformam estes materiais , e para os que „(re) coletam „o material e o revendem , é fonte de lucro, pois o „preço‟ de compra dos resíduos é menor do que a compra de matérias primas. (RODRIGUES,1988, p.191).

Para realizar a coleta seletiva, existe uma padronização internacional para

recipientes destinado à coleta seletiva de materiais secos recicláveis, esta

identificação é feita por cores, nos recipientes coletores (VERDE para vidro, AZUL

para papel, AMARELO para metal, VERMELHO para plástico e BRANCO para lixo

não reciclável).

Então, quais seriam as vantagens da reciclagem? Segundo, Grippi (2006 p.

35-36) seriam:

Diminuição da quantidade de lixo a ser desnecessariamente aterrado;

Preservação dos recursos naturais;

Economia proporcional de energia;

Diminuição da poluição ambiental;

Geração de empregos, diretos e indiretos.

Sabemos também que separar os resíduos sem um destino adequado,

significa apenas enterrar em separado.

3. EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA PROPOSTA PRÁTICA

Percebemos que a Educação Ambiental não é um corolário que pode

resolver imediatamente os problemas relacionados a questões de degradação

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ambiental gerados pelo consumismo da sociedade. Contudo, sabemos que se não

trabalharmos, tendo em vista essa concepção de educação, os problemas

apontados quanto aos resíduos sólidos no espaço escolar e seu entorno, estarão

longe de serem solucionados, pois, nossos alunos sendo frutos de uma sociedade

consumista e “deseducada” precisam ser estimulados a pensar criticamente sobre

suas ações e as conseqüências que as mesmas impõem ao meio ambiente e ao

próprio homem.

Durante as discussões propostas nas unidades três e quatro do Grupo de

Trabalho em Rede (GTR), que tratavam respectivamente do Projeto de Intervenção

Pedagógica e do Material Didático, alguns aspectos relevantes foram destacados,

como por exemplo, que o desenvolvimento econômico deva levar em conta os

aspectos sociais e ambientais, para que desta forma o crescimento econômico

possa ser realmente chamado de desenvolvimento.

Outro aspecto que merece destaque é a importância da Educação Ambiental

para a implementação do desenvolvimento sustentável. Ela deve ter como objetivo

formar e sensibilizar as pessoas sobre os problemas e possíveis soluções

existentes na comunidade, transformando as pessoas em cidadãos críticos que

participam das tomadas de decisões indispensáveis ao processo de

desenvolvimento sustentável. Para Leff (2008, p.237), “a educação converte-se num

processo estratégico com o propósito de formar os valores, habilidades e

capacidades para orientar a transição para a sustentabilidade”.

Guimarães citando Garcia ressalta a importância da concepção de educação

que norteará a prática educativa estabelecida pelos professores, nesse sentido

afirma que:

A Educação ambiental deve ser uma concepção totalizadora de Educação e que é possível quando resulta de um projeto político-pedagógico orgânico, construído coletivamente na interação escola comunidade, e articulado com os movimentos populares organizados comprometidos com a preservação da vida em seu sentido mais profundo. Não há educação ambiental sem a participação política. Numa sociedade com pouca tradição democrática como a nossa, a educação ambiental deveria contribuir para o exercício da cidadania, no sentido da transformação social. Além de aprofundar conhecimentos sobre as questões ambientais, criar espaços participativos e

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desenvolver valores éticos que recuperem a humanidade dos homens. (GUIMARÃES, 2000, p.68)

Dessa maneira, observamos que nas escolas, de modo geral, as questões

ambientais fazem parte de sua pauta de discussões e que projetos voltados aos

problemas ambientais e, neles inclusos os resíduos sólidos também estão inseridos

no Projeto Político Pedagógico.

As atividades desenvolvidas em sala de aula e fora dela são as mais

diversificadas, utilizando os diversos instrumentos de ensino, proporcionando a

melhor compreensão do conteúdo abordado. A prática da coleta seletiva e

reciclagem fazem parte do cotidiano de algumas escolas.

Pretende-se chegar à aprendizagem, não só através do ensino teórico, mas também fundamentalmente, por meio de atividades práticas, com vistas à melhoria da percepção do indivíduo com relação a si mesmo, com relação ao ambiente e à percepção dele no ambiente. E, então, somente a partir daí – de seu “perceber-se na ação” - é que se poderá construir e conquistar a cidadania. (BRANCO, 2003, p.34)

A Geografia, enquanto disciplina, por meio de seu objeto de estudo, deve

analisar as questões sociais, ambientais, econômicas, políticas e culturais de um

determinado espaço geográfico, não se esquecendo de seus conceitos

fundamentais: paisagem, região, lugar, território, natureza e sociedade.

Nesse sentido, a Geografia vem desempenhando seu papel na busca de

formar cidadãos críticos, conscientes de seus deveres, capazes de transformar a

realidade que ora se apresenta.

Para que nossas ações não se tornem “apenas” mais um projeto isolado,

através do qual a prática dos alunos se limite a separar os resíduos na hora de

descartá-los, é preciso que haja uma mudança de mentalidade, fruto de um trabalho

continuo de reflexão, pois se queremos um mundo ecologicamente equilibrado para

vivermos é preciso que nosso trabalho reflita o desejo de mudança não só da

comunidade escolar, mas também de toda a comunidade local.

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Segundo Vasconcellos (1997), a presença, em todas as práticas educativas,

da reflexão sobre as relações dos seres entre si, do ser humano com ele mesmo e

do ser humano com seus semelhantes é condição imprescindível para que a

Educação Ambiental ocorra.

4. AS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELOS ALUNOS DO COLÉGIO

ESTADUAL JOÃO DE FARIA PIOLI, VILA MORANGUEIRA EM MARINGÁ-

PR

Nas escolas há um grande problema a ser enfrentado com relação à

produção de “lixo”, que em alguns casos a própria cantina escolar oferece produtos

com embalagens plásticas, de papel ou metal, que acabam por serem depositadas

sem a devida separação. Outro grande problema é a falta de conscientização dos

alunos com relação ao uso adequado de seu material escolar. É comum

observarmos ao final de um dia letivo o excesso de papel no interior das salas de

aula, grande parte dele proveniente de folhas de caderno que os próprios alunos

destroem.

Um grande passo a ser dado é investir na Educação Ambiental e na

conscientização, permitir que esses alunos possam compreender a importância do

uso correto de cada material, bem como o valor impresso em cada produto.

Segundo Sato (2003), citada por Mansano (2010, p.24), “Educação Ambiental é um

processo de reconhecimento de valores e clarificação de conceitos, objetivando o

desenvolvimento das habilidades e modificando as atitudes em relação ao meio,

para entender e apreciar as inter-relações entre os seres humanos, suas culturas e

seus meios biofísicos”.

Assim, uma alternativa é favorecer a reciclagem do papel de maneira

artesanal que além de ser uma atividade lúdica permite a reflexão sobre a

importância de realizar a coleta seletiva e reciclagem dos materiais, bem como

pensar sobre as questões:

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Somos capazes de produzir menos lixo?

Podemos usar mais vezes as coisas antes de descartá-

las no lixo?

O material que jogamos no lixo pode ser reutilizado?

Não se trata aqui de valorizar a reciclagem como uma forma de incentivar o

consumo, e sim, de incentivar a mudança de atitude de nossos alunos quanto ao

consumo e produção de resíduos sólidos, favorecendo assim seu crescimento

enquanto cidadão em formação. Podemos agir de acordo com a regra dos 3rs:

Reduzir, reutilizar, reciclar e agora incluir o item repensar.

É o momento para repensarmos se realmente o que consumimos é

necessário ou se apenas o fazemos em função de modismos, facilidades e

conveniências. Por exemplo, as mercadorias que compramos em embalagens de

papel plástico e metal, precisam ser necessariamente embaladas desta forma ou

podemos levar ao supermercado uma sacola retornável e evitar o uso dessas

embalagens.

4.1 Apresentação do projeto para a comunidade escolar.

A intervenção pedagógica na escola foi realizada de acordo com as

seguintes atividades: A apresentação do projeto a professores e alunos; Atividade

de observação; Reflexão a partir do uso de filme; Pesquisa sobre a coleta de

resíduos no município e apresentação do resultado dos trabalhos realizados pelos

alunos.

As Diretrizes Curriculares para Escola Pública do Paraná quando trata da

metodologia para o ensino da disciplina de Geografia menciona que algumas

práticas pedagógicas devem estar atreladas aos fundamentos teóricos para que

estes se tornem importantes instrumentos para a compreensão do espaço

geográfico, dos conceitos e das relações socioespaciais nas diversas escalas

geográficas. Moran aponta as tecnologias como uma possibilidade a mais para

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aprimorar a metodologia e a prática do professor em sala de aula, quando afirma

que:

As tecnologias são pontes que abrem a sala de aula para o mundo, que representam, medeiam o nosso conhecimento do mundo. São diferentes formas de representação da realidade, de forma mais abstrata ou concreta, mais estática ou dinâmica, mais linear ou paralela, mas todas elas, combinadas, integradas, possibilitam uma melhor apreensão da realidade e o desenvolvimento de todas as potencialidades do educando, dos diferentes tipos de inteligência, habilidades e atitudes. (MORAN, 2007, p.164).

Assim, propomos diversas atividades que possam valorizar os diferentes

tipos de inteligências, hábitos e atitudes de nossos alunos, que através do uso de

vídeo, elaboração de textos, paródias, jornais, uso de mapas, construção de tabelas,

pesquisa bibliográfica ou uso da internet. Com essas atividades, os alunos puderam

relacionar os conteúdos aprendidos as atividades cotidianas, como afirma

Castrogiovani citado por Mansano ( 2010, p.10 ), quando esta trata da pesquisa na

educação básica: “Existe ainda pouca aproximação da escola com a vida, com o

cotidiano dos alunos. É urgente teorizar a vida, para que o aluno possa compreendê-

la e representá-la melhor e, portanto, viver em busca de seus interesses”. Ainda,

Demo (1998, p.2) acrescenta: “É por meio da pesquisa que o professor, juntamente

com seus alunos, poderá problematizar a realidade a partir da análise do espaço

construído”.

Moran, complementa que:

A escola precisa exercitar as novas linguagens que sensibilizam e motivam os alunos, e também combinar pesquisas escritas com trabalhos de dramatização, de entrevista gravada, propondo formatos atuais como um programa de rádio uma reportagem para um jornal, um vídeo, onde for possível. A motivação dos alunos aumenta significativamente quando realizam pesquisas, onde se possam expressar em formato e códigos mais próximos da sua sensibilidade. Mesmo uma pesquisa escrita, se o aluno puder utilizar o computador, adquire uma nova dimensão e, fundamentalmente, não muda a proposta inicial. (MORAN, 2007, p.164).

Dessa maneira, a implementação do nosso projeto na escola pautou

pelas mais diversas atividades, com objetivo de atender ao uso das diferentes

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linguagens nos conteúdos geográficos, como apresentamos a seguir alguns

resultados de nosso trabalho.

A apresentação do projeto para os professores, funcionários e equipe

pedagógica ocorreu durante a semana pedagógica, onde procurei mostrar o

objetivo, a justificativa e todo processo para a realização do projeto, como também,

pedir aos professores da turma onde o projeto será desenvolvido apoio e, se

possível, sua colaboração. Neste momento, pude perceber que a escola já

desenvolve vários projetos na área ambiental e que, tanto os professores bem como

a equipe pedagógica e a direção da escola demonstraram bastante interesse pelo

desenvolvimento do projeto, inclusive colocando-se à disposição para ajudar no que

for preciso.

Aos alunos da 7ª série A, o projeto foi apresentado no retorno das férias de

julho, por meio de uma apresentação mais detalhada da proposta de trabalho para

a turma. A turma demonstrou bastante interesse em participar, inclusive dando

sugestões para as atividades que iríamos desenvolver no decorrer da aplicação do

mesmo. Alguns alunos já haviam participado de outros projetos desenvolvidos pela

escola, fato que facilitou a compreensão da importância de sua participação no

projeto, inclusive, motivando os demais a cumprirem as ações propostas para cada

momento.

4.2 Atividades desenvolvidas

4.2.1- Resíduos da produção a seleção e o destino final

Ao iniciarmos as atividades, a primeira proposta foi a observação da

quantidade de resíduos sólidos produzidos pelos alunos em suas residências e, se

possível, quantificá-los através da pesagem, além de classificar os diferente tipos de

resíduos. Eles levaram para suas casas uma lista que constava o nome dos

resíduos produzidos nas residências, como plástico, papel ou papelão, alumínio,

resíduos orgânicos entre outros. Os alunos deveriam observar, durante uma

semana, a produção dos resíduos em sua residência, se possível, pesar e classificar

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os diferentes materiais, anotar os resultados. Elaborar uma tabela, mostrando o

resultado obtido pela turma, discutir formas de diminuir a produção de resíduos,

registrar em forma de texto.

O objetivo desta atividade foi que os alunos, ao separar os resíduos,

pudessem perceber a quantidade e a qualidade de resíduos que produziam por

semana. E a partir da elaboração da tabela dos resultados da turma, perceber a

quantidade de resíduos produzida pela turma e comparar os tipos de resíduos

descartados. Ao analisar esses resultados, os alunos deveriam discutir e propor

ações para diminuir a quantidade de resíduos produzidos nas residências e,

principalmente, incentivar a coleta seletiva.

No que se refere à pesagem dos materiais, esta atividade deixou a desejar,

pois, a minoria dos alunos conseguiu realizá-la com exatidão. A maioria trouxe um

resultado aproximado. No entanto, os alunos puderam refletir sobre a importância

refletir sobre o consumo consciente, sobre o que descartar e o que separar bem

como dar um destino ecologicamente correto aos resíduos.

A participação e o empenho dos alunos em realizar as tarefas pré-

estabelecidas foram satisfatórios e as discussões geradas a partir das tabelas

construídas pelos alunos também proporcionaram a reflexão acerca da quantidade

de resíduos produzida nas residências.

Alguns alunos comentaram que nunca tinham se dado conta da quantidade

de resíduos que produziam, e demonstraram certo espanto quando o resultado foi

multiplicado pelo número de alunos da sala e, posteriormente, pelo número de

habitantes da cidade.

Foi possível perceber que os alunos ficaram preocupados com as ações

realizadas por suas famílias quanto ao descarte dos resíduos sólidos sem a devida

separação. Também demonstraram preocupação com relação à destinação desse

material produzido pela população.

Assim, a atividade proposta propiciou a reflexão e a proposta de mudança

de atitude dos alunos, em relação ao descarte dos resíduos. Esperamos que a

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proposta se transforme em ações que contribuam para a diminuição do material

descartado.

4.2.2- Mural da cidadania

Outra proposta foi refletir sobre os aspectos econômicos, sociais e

ambientais apresentados no filme “Ilha das Flores”. Após a discussão, foi proposto

aos alunos realizar uma pesquisa a respeito do destino dado ao lixo na cidade, no

bairro e organizar um mural com os resultados da pesquisa, apresentá-lo a

comunidade escolar.

Nesta atividade utilizamos o filme “Ilha das Flores”, com a intenção de

sensibilizar nossos alunos, não só para o problema do acúmulo de lixo, como

também para a situação social daqueles que encontram no “lixo” uma alternativa de

vida. Durante a apresentação do filme alguns alunos fizeram comentários a respeito

das cenas que eram apresentadas, como por exemplo: por que os porcos tinham o

direito de se alimentar com os restos de material orgânico antes das pessoas? O

que leva os seres humanos a necessitarem de se alimentar das sobras do lixo? Se

os humanos são seres racionais, e uns possuem muito enquanto outros não têm

nada, por que não promovem uma distribuição igualitária dos bens, favorecendo

igual condição de vida? Questionaram também o título do filme, pois, as cenas

apresentadas eram chocantes e não tinham nada a ver com flores.

Os alunos anotaram suas discussões a respeito do filme e realizaram uma

pesquisa sobre o destino dado aos resíduos sólidos em nossa cidade. O resultado

de suas pesquisas mostrou que na cidade de Maringá a coleta seletiva é feita de

modo irregular, pois, não contempla cem por cento dos domicílios e que muitas

famílias sobrevivem da renda produzida a partir dos materiais recicláveis, ou seja, o

mínimo necessário para sua sobrevivência. Eles apontaram que seria necessário

fazer um trabalho maior de conscientização com as famílias para que estas possam

melhorar a separação dos materiais em suas residências, bem como também,

dentro do possível, diminuir a quantidade dos produtos descartados.

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4.2.3 Pesquisa sobre os serviços de coleta seletiva no bairro e o “lixo” uma

alternativa de inserção social

Os alunos observaram a coleta seletiva no bairro e concluíram que esta vem

sendo realizada parcialmente por um caminhão da prefeitura que recolhe o material

reciclável uma vez por semana, mas este não atinge cem por cento dos domicílios.

Quanto ao caminhão que faz a coleta de materiais recicláveis, ficou uma indagação,

pois, separamos os resíduos por que na hora da coleta os catadores reúnem tudo no

mesmo espaço no caminhão?

Existem sete cooperativas de reciclagem, que fazem coleta seletiva. Dessas,

quatro são coordenadas pela prefeitura: a Coopercanção, a Coopernorte, a

Coopermaringá, a Cooperpalmeiras. E as demais são cadastradas na prefeitura: a

Coopercicle, a Cooperportal e a Coopervidros e possuem coordenação próprias.

Todo lucro obtido com a produção é igualmente distribuído entre seus cooperados.

Uma sugestão que foi apontada seria uma maior divulgação referente à

separação e entrega dos materiais recicláveis para as unidades coletoras, bem

como, maior interesse dos órgãos governamentais em propiciar um local onde esses

materiais, caso do isopor, pudessem ser acomodados até que alguma empresa faça

a reciclagem. Foi observado também que para a reciclagem de alguns materiais

seriam necessários altos investimentos, o que dificulta o interesse em reciclá-los.

Mas também não foi descartada, pelos alunos, a idéia de que se cada cidadão

cumprir com as suas responsabilidades o problema pode ser minimizado e que a

reciclagem não resolve o problema, ajuda, então é necessário que haja um consumo

consciente.

Existem também os catadores que passam coletando nas casas, mas estes

também não conseguem atingir os cem por cento dos domicílios. Concluindo, então,

que ainda há muito que fazer em relação à coleta seletiva no bairro e,

principalmente, que existe uma parcela significativa da população que sobrevive da

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coleta de materiais recicláveis. Perceberam também que, apesar de existir uma

quantidade razoável de cooperativas de materiais recicláveis em Maringá, alguns

produtos que descartamos não podem ser utilizados para reciclagem, pois, não

existe nenhuma entidade que se responsabilize pelo aproveitamento desses

materiais, como é o caso, por exemplo, do isopor.

4.2.4 Leitura e reflexão sobre o texto: Territórios desejáveis e indesejáveis

Foi proposto discutir o texto “Territórios desejáveis e indesejáveis” retirado

de Rodrigues (1988 Produção e Consumo do e no espaço: problemática ambiental

urbana), comparar o mapa da dengue elaborado pela secretaria de saúde do

município e responder as questões sobre o acúmulo de lixo e a dengue.

O texto foi utilizado a fim de possibilitar uma discussão a respeito dos

territórios desejáveis e indesejáveis que produzimos e os efeitos que isso causa, não

só ao nosso olhar, mas também como objeto de consumo da sociedade.

O trabalho foi realizado em pequenos grupos (três ou quatro integrantes), o

que facilitou as discussões. Os alunos percorreram algumas ruas do bairro,

indicando os espaços que eles consideravam desejáveis e indesejáveis, neste

momento, fotografaram esses espaços para que no final do trabalho pudessem

produzir um mapa do lixo do bairro. Ao final, os alunos fizeram um relato da

discussão dos grupos e a atividade foi concluída com o mapa do lixo do bairro,

realizaram também a comparação com o mapa da dengue produzido pela Secretaria

de Saúde do município e perceberam que as áreas mais afetadas pelo mosquito

correspondem aquelas em que eles identificaram como espaços indesejáveis.

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Foto 1. Mapa da Vila Morangueira Maringá/ Áreas com acúmulo de resíduos Fonte: Sacani, 2010

Fonte: Prefeitura Municipal de Maringá – Pr / Mapa da Dengue

Comparando o mapa da Vila Morangueira onde os alunos destacaram áreas

com acúmulo de resíduos sólidos ao mapa da dengue, produzido pela Prefeitura

Municipal de Maringá, percebemos que entre as áreas onde se concentra os mais

elevados índices de infestação, está a Vila Morangueira. Como complemento ao

trabalho desenvolvido, alguns grupos entrevistaram pessoas que já haviam

contraído a dengue, onde fizeram as seguintes perguntas:

Quais sintomas a pessoa apresentou?

Necessitou de atendimento médico?

Se a pessoa conhece as medidas preventivas de combate ao

mosquito Aedes Aygypti?

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Utilizava as medidas preventivas em sua residência?

E agora, após ter contraído a doença, o que está fazendo como

meio de prevenção?

O que a população local, em conjunto, poderia fazer para diminuir o

problema no bairro?

A entrevista demonstrou que a maioria das pessoas que já

contraíram a doença conhece os métodos de prevenção e até procuram colocá-los

em prática em suas residências, mas apontaram que, na maioria das vezes, a

população não se une para combater o mosquito transmissor e que seria necessária

uma ação conjunta onde todos se empenhassem, realizando as medidas

preventivas, pois, se uns cuidam e outros não o mosquito vai encontrar ambientes

para procriar e o problema continua.

Importante acrescentar que durante esta atividade os alunos destacaram a

região considerada como território indesejável as proximidades do Ribeirão

Morangueiro que vem sendo objeto de estudos da escola devido aos problemas

ambientais encontrados neste local. Perceberam também que no local, existem

placas que proíbem o descarte de materiais, no entanto, próximo as placas estão

montes de lixo, que vai desde sobras da construção civil até pedaços de móveis,

utensílios domésticos, plásticos, papéis e partes de automóveis, demonstrando o

desrespeito da população para com um espaço que deveria ser destinado ao lazer.

4.2.5 Produção dos alunos

Para apresentar o resultado do trabalho desenvolvido em sala, utilizando

diferentes recursos como: vídeos, paródias, quadrinhos, poesias, panfletos entre

outros, a turma foi dividida em grupos. Foi feito um sorteio para a escolha da forma

de apresentação do resultado dos trabalhos, sendo que cada grupo ficaria

responsável pela elaboração do material a ser apresentado e não poderiam fugir dos

temas abordados durante o desenvolvimento do projeto.

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A apresentação dos trabalhos realizados pelos alunos foi feita em sala de

aula, nesta ocasião, eles tiveram a oportunidade de expor à turma o resultado de

sua pesquisa e produção, utilizando diversos recursos como filmes, vídeos

produzidos no “movie maker”, apresentação de jornal falado, paródias entre outros.

Foi uma atividade gratificante, pois, alguns alunos que não participavam oralmente

das aulas deram um espetáculo ao apresentar seu trabalho. Eles demonstraram

empenho, criatividade e responsabilidade para a conclusão do mesmo.

1- Relato da aluna A. F. da 7ª série A sobre o trabalho desenvolvido pelo

seu grupo.

“O projeto foi desenvolvido pela professora Aparecida Delorenci Nogueira

Sacani, na disciplina de Geografia, que explicou muito bem o trabalho, assim,

pudemos entender o conteúdo e os objetivos propostos.

Eu e meu grupo participamos de todas as fases do trabalho, nós

apresentamos um jornal abordando a situação do córrego morangueiro, as doenças

causadas pelo acumulo de lixo, dando destaque a dengue, falamos sobre a criação

do Parque Alfredo Nyffler e entrevistamos algumas pessoas que já contraíram a

dengue, para que pudessem relatar o que sentiram, os sintomas, a preocupação

com o destino dos resíduos sólidos para evitar a proliferação da doença.

Fomos ao Ribeirão Morangueiro para tirar algumas fotos e percebemos que

o local (Vila Morangueira) encontra-se bastante poluído com acúmulo de resíduos

em vários pontos e o nível da água está bem baixo. Fomos também a outra parte do

Ribeirão e percebemos que, nesta parte, quase não há lixo jogado, a água se

encontra pouco suja e o ribeirão é mais profundo. Diante disso, concluímos que a

população da Vila Morangueira não estão conscientizados do problem causado pelo

acúmulo de lixo e que moradores de outros locais da cidade também depositam

resíduos (entulhos) neste local.

Fizemos uma pesquisa sobre a produção de lixo no Brasil e em Maringá e

percebemos que o índice de produção de resíduos vem aumentando ano após ano e

cabe a população diminuir o consumo de produtos descartáveis e procurar reutilizar

aqueles que possam ser reutilizados ou reciclados.

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Percebemos também, o descaso que algumas pessoas tem para com o lixo.

Precisamos tomar providencias rápido antes que seja tarde demais, e então, temos

esperança de que este projeto possa continuar e que outras pessoas possam se

conscientizar, assim como nós e tomar importantes providencias para que as futuras

gerações possam ter um ambiente ecologicamente equilibrado.

“Vamos ajudar o meio ambiente, vamos nos ajudar”. “

2- Texto produzido por uma aluna da 7ª série A sobre os resultados do

projeto. (T.A.G.C)

“O projeto contribuiu para que a gente possa ver o que estamos fazendo

com a natureza, e mudar nossas atitudes antes que seja tarde demais.

Eu participei de todos os momentos desde a leitura e reflexão dos textos,

músicas e apresentação. Na minha opinião, o projeto deve continuar, pois,

aprendemos muito com ele e temos ainda muito o que aprender sobre resíduos

sólidos e meio ambiente, para que possamos melhorar.

O que mais nos chamou a atenção é que muitas pessoas não separam os

resíduos em suas residencias e também que os materiais recicláveis não são

recolhidos em todos os bairros de nossa cidade, pois o caminhão não passa em

todas as ruas para esse fim.

Acredito que devemos cuidar melhor de nosso planeta, pois, se

continuarmos poluindo e degradando o nosso futuro e das futuras gerações, será

incerto.

Com esse projeto não atingimos cem por cento, mas, acredito que lançamos

a semente e no futuro, podemos melhorar ainda mais enquanto cidadãos.”

3- Texto produzido pelas alunas I.C.M. e L.L.M.R. da 7ª Série A a partir da

leitura e discussão do texto de Arlete Moysés Rodrigues, Territórios

Desejáveis e Indesejáveis.

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“Vivemos num mundo em que as pessoas são valorizadas, não pelo ser mas

pelo ter, e nessas condições a cada dia mais nos preocupamos em possuir bens

para sermos aceitos na sociedade, fato este que contribui para que o consumo de

bens e produtos aumente. Assim, geramos diariamente um quantidade de resíduos

que são depositados em locais muitas vezes, irregulares, sendo portanto,

transformados em territórios indesejáveis.

No nosso trabalho, procuramos na Vila Morangueira, territórios que

consideramos desejáveis (aquilo que para nós fosse considerado aconchegante,

bonito, que fizesse bem aos nossos olhos) e indesejáveis (locais que nos produzisse

medo, desagradável aos nossos olhos, feio, onde não nos sentíssemos bem),

fotografamos e montamos um cartaz, onde explicamos para a turma que os locais

que consideramos indesejáveis eram exatamente aqueles onde havia poluição

visual, acúmulo de resíduos e terrenos baldios, o próprio lixo que produz mal cheiro.

Já os que consideramos desejáveis, foram as áreas de lazer bem

conservadas, como por exemplo, uma parte do Parque Alfredo Nyffler, as casas bem

cuidadas, os jardins da nossa escola entre outros.

A partir deste trabalho, pudemos concluir que a natureza nos oferece tudo

de bom e que os seres humanos através da ganância, do consumo desmedido

acaba comprometendo o meio ambiente, o próprio homem e as futuras gerações.

Cabe a nós darmos continuidade ao que aprendemos, procurando nos conscientizar

de que o futuro depende de nós e se cada um fizer a sua parte, teremos um futuro

melhor e um ambiente mais saudável.”

Foto 2. Imagem do que os alunos consideraram indesejável.

Fonte: SACANI, 2010.

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Foto 3. Imagem que os alunos consideraram desejável. Fonte: Aluna A. F. 2010

4- Relato do aluno K. F. de S.S.7ª série A sobre a produção de um vídeo

elaborado pelo seu grupo a partir das discussões efetivadas em sala de

aula e a observação das atitudes de moradores do bairro Vila

Morangueira – Maringá PR.

“O meu grupo produziu um vídeo mostrando como vem sendo feito o

descarte dos resíduos pelas pessoas do bairro, sem a preocupação ambiental, não

realizando a seleção dos materiais e os riscos que isso pode trazer a população,

como as doenças transmitidas pelo acúmulo do lixo.

Depois fizemos uma cena onde as pessoas agiam do modo correto com a

preocupação de separar os resíduos e colocá-los na rua nos dias em que o

caminhão da coleta seletiva passa no bairro ou entregá-los aos catadores que levam

os resíduos para as cooperativas.

Percebemos que quando agimos corretamente a quantidade de lixo diminui

e podemos ajudar na complementação da renda de pessoas que coletam esses

materiais. Chegamos a conclusão que a maioria das pessoas sabem como separar

os resíduos, mas não o fazem por descaso.

Acreditamos que deveria haver maior conscientização da comunidade e até

mesmo dos alunos do colégio, pois muitas vezes, vemos os resíduos jogados no

ambiente escolar, como na sala de aula e nos jardins sem nenhuma preocupação,

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lembrando que a escola possui os recipientes para a seleção de materiais e muitos

alunos ainda não os usam adequadamente, apesar de todo o trabalho já realizado.”

5- Paródia da música Tô dentro, Tô fora (Exaltasamba, composição

Waguinho), elaborada pelos alunos da 7ª série A

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Educação Ambiental propõe uma prática de reflexão das relações dos

seres humanos com eles próprios e deles com o meio ambiente, assim o trabalho

proposto no material didático utilizado mostra-nos ações práticas que auxiliam no

Reciclar o lixo,

Tô dentro.

Sem coleta seletiva,

Tô fora.

O lixo é todo separado,

Tô dentro.

Mas o lixão tá lotado,

Tô fora.

O caminhão recolhe o lixo,

Tô dentro.

Mas não deu para

terminar a obra,

Tô fora.

Tem coleta o ano inteiro,

Tô dentro.

Mas o solo

está contaminado,

Tô fora.

Se for queimado no quintal,

Tô fora.

Se a cidade está limpinha,

Tô dentro.

Mas o rio está poluído,

Tô fora.

Se o lixo é tratado,

Tô dentro.

Mas se nem é separado,

Tô fora.

Se o rio está limpinho,

Tô dentro.

Se o lixo é recolhido,

Tô dentro.

Mas se o lixão está

fedendo,

Tô fora.

Se joga o lixo na lixeira,

Tô dentro.

Mas no terreno do vizinho,

Tô fora

Se o rio está limpinho,

Tô dentro.

Mas se o bueiro está entupido,

Tô fora.

E se fizeram um aterro,

Tô dentro.

Mas se o governo segura a

verba,

Tô fora.

Se der uma liberadinha,

Tô dentro.

Mas não deu para terminar a

obra,

Tô fora.

Um aterro bem tratado,

Tô dentro.

Mas o rio contaminado,

Tô fora.

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desenvolvimento de uma consciência ambiental, que tem por objetivo final a

mudança de atitudes de nossos alunos.

Percebemos, no decorrer do trabalho, a evolução crítica de nossos alunos a

respeito do tema abordado, bem como o envolvimento dos mesmos para realizar as

ações propostas, assim, entendemos que a geografia tem um papel fundamental na

formação do cidadão consciente e participativo nos problemas ambientais que

afligem nossa sociedade. E esse processo de formação deve ser contínuo,

iniciando-se pelas séries iniciais até as séries finais do ensino fundamental.

O uso de diversos instrumentos de ensino motivou a reflexão bem como a

pesquisa, a leitura, a produção de textos estimulou a participação e a criatividade

percebidas nos trabalhos apresentados pelos alunos.

A relação teoria e prática foram privilegiadas, pois, tivemos oportunidade de

relacionar o conhecimento científico e historicamente produzido com o trabalho de

campo, onde os alunos buscaram, no seu espaço de vivência, através do uso de

imagens, produção de filmes, jornal, paródias, textos, entrevistas, entre outros,

recursos para fundamentarem os trabalhos apresentados em sala de aula.

Assim, a experiência vivenciada pelos nossos alunos da 7ª série, sobre o

consumo a produção e o destino final dos resíduos sólidos, bem como os problemas

a ele relacionados promoveu um novo olhar a sobre as consequências de nossas

atitudes cotidianas diante dos problemas relacionados aos resíduos sólidos, não

apenas no espaço escolar, como também em seu entorno.

O trabalho realizado motivou os alunos a querer dar continuidade ao projeto

na escola. No ano de 2011 já realizamos diversas atividades com o objetivo de

discutir os problemas ambientais na escola e seu entorno, como por exemplo, um

dia sem limpeza, cujo objetivo foi mostrar a quantidade de resíduos produzidos em

apenas um dia pelos alunos da escola, nos três períodos.

De acordo com a Secretaria de Saúde do município de Maringá Paraná, a

Vila Morangueira, nosso objeto de estudo não se encontra mais em estado de alerta

diante dos altos índices de infestação do mosquito aedes aegypti por domicílio,

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assim, concluímos que o trabalho de conscientização realizado pela escola está

sendo positivo, pois, está contribuindo com as ações da Secretaria de saúde, que é

erradicar a dengue no município.

Mudar hábitos e atitudes requer tempo e constante sensibilização, nesse

sentido, observamos que temos ainda muito trabalho a realizar, pois, a

responsabilidade com o meio ambiente é tarefa de todos e para garantir a nossa

sobrevivência é necessário que tenhamos um ambiente equilibrado.

6. REFERÊNCIAS

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