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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

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ME I

I

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ

SUPERINTENDÊNCIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

DIRETORIA DE POLITICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

PROFESSOR ORIENTADOR: LUCIO TADEU MOTA

IDENTIFICAÇÃO: IVONE APARECIDA DOS SANTOS

ESTABELECIMENTO : COLÉGIO ESTADUAL VINÍCIUS DE MORAIS ENSINO

FUNDAMENTAL E MÉDIO

MUNICIPIO: MARINGÁ

N.R.E. MARINGÁ-PR

TEMA: CULTURA COMO ELEMENTO DE EMANCIPAÇÃO

TITULO: OS KAINGANG DO PARANÁ

PRODUÇÃO DIDÁTICA: folhas

CONTEÚDO ESTRUTURANTE: RELAÇÕES CULTURAIS

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UM CERTO OLHAR SOBRE A PESQUISA

Que alegria, diz a Eternidade, ver o filho de minha esperança apaixonar-se pela, pesquisa, pois em sua mente coloquei inúmeros de meus sonhos e gostaria tanto que se tornassem realidade. A pesquisa, começou a explicar a Eternidade, é, antes de qualquer coisa, o gesto do jovem camponês que se vai, revolvendo a pedra dos campos, descobrindo lesmas e gafanhotos, ou milhares de formigas atarefadas. A pesquisa, é a caminhada pelos bosques e pântanos para tentar explicar, vendo folas e flores, por que a vida apresenta tantos rostos. (Gérard-B. Martin. Au fil des évenement, 6 de dezembro de 1994. Jornal da Universidade Laval.)

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A CULTURA DOS KAINGANG DO PARANÁ: ELEMENTO DE EMANCIPAÇÃO

INTRODUÇÃO

Importa, primeiramente, responder à seguinte pergunta: por que cultura

indígena?

O interesse pelo estudo da cultura resulta da idéia que compartilhamos

com Eagleton de que estudar esse aspecto da produção humana ajuda na

aproximação entre os homens, e não no dissenso. Outro autor que contribui para

fundamentar nossa posição é Laraia, quando afirma que: “A cultura é um

processo acumulativo, resultante de toda a experiência histórica das gerações

anteriores. Este processo limita ou estimula a ação criativa do individuo” (LARAIA,

1986, p. 50). E, ainda, a idéia de que: “[...] a cultura é como uma lente através da

qual o homem vê o mundo. Homens de culturas diferentes usam lentes diversas

e, portanto, tem visões desencontradas das coisas (LARAIA, 1986, p.59).

No Brasil atual, interessar pela cultura indígena é condição obrigatória, em

função tanto da legislação educacional vigente, quanto das oportunidades de

crescimento humano e intelectual que tais conhecimentos nos proporcionam.

Portanto, estudar e aprender o máximo possível sobre a cultura dos kaingang do

Paraná, é uma oportunidade impar de levar informações sobre uma significativa

parcela da população paranaense para o interior dos estabelecimentos de ensino,

na expectativa de contribuir com a melhoria das relações humanas a partir do

ambiente escolar. Nesse sentido, a intenção é apresentar elementos que possam

contribuir para tornar mais consistente a tese levantada por Eagleton, de que a

cultura é um elemento de emancipação.

Neste sentido primeiramente apresentamos um breve histórico sobre os

direitos internacionais relativos à diversidade cultural. Num segundo momento,

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destacamos alguns artigos da legislação brasileira para que se tenha ciência de

como foi constituída a luta pela defesa dos direitos indígenas. No terceiro item,

trazemos a legislação escolar como um dos mecanismos de concretização de um

longo processo de combate a discriminação dos povos indígenas. Finalmente, no

quarto e último item apresentamos alguns aspectos culturais da população

Kaingang do Paraná, como um meio de demonstrar que a construção do

imaginário deste povo esta baseada em referenciais diferentes do “povo branco”.

1 DIVERSIDADE CULTURAL E DIREITOS INTERNACIONAIS

Quando falamos em diversidade cultural, de imediato temos a impressão de

que o tema parte da realidade populacional brasileira, formada por pessoas

oriundas de vários locais do globo terrestre. Mas, logo nos deparamos com um

quadro nada animador, pois se falamos em diversidade cultural atualmente,

estamos trilhando um caminho iniciado com a aprovação da Declaração Universal

dos Direitos Humanos pela Assembléia Geral da ONU, em 1948, e que somente:

E que ganhou visibilidade em 1966, quando a ONU:

[...] a partir de meados dos anos 1960, que a agenda internacional dos direitos humanos começou sistematicamente incluir questões relativas ao reconhecimento dos direitos culturais das minorias étnicas, dos povos indígenas e de outros grupos historicamente excluídos e discriminados’ (http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid S =0104-93132008 Unesco. Shelton H.Davis, consulta 29-03-2010-21,45 horas)

[...] a Subcomissão para a Prevenção da Discriminação e a Proteção das Minorias indicou um relator especial para que conduzisse um abrangente “Estudo sobre o problema da discriminação de povos indígenas”. Como resultado desse estudo, e devido ao Caráter especial de suas historias e de sua relação com as terras e territórios ancestrais, os povos indígenas começaram a ser reconhecidos como detentores de necessidades e direitos distintos daqueles de outras minorias étnicas. (http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-93132008 Unesco, Shelton H.Davis, consulta 29-03-2010-21,45 horas).

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E, poucos anos depois, em 1971:

2 DIVERSIDADE CULTURAL E A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

O Brasil acompanhando as legislações internacionais e reconhecendo

direitos das populações indígenas adotou na constituição de 1988 alguns artigos

versando especificadamente sobre os direitos dos índios. Por exemplo, Capítulo

VIII, Artigo 231:

E ainda, o artigo 210 com determinações sobre o processo de

escolarização,onde:

3 DIVERSIDADE CULTURAL E ESCOLARIZAÇÃO

São reconhecidos aos índios, sua organização social, costumes e línguas, crenças e tradições e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam. Competindo a União demarcá-las, proteger fazer respeitar todos os seus bens. (CONSTITUIÇÃO, p. 150)

Art.210. “Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais”. § 2. “O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem” (CONSTITUIÇÃO p. 139).

[...] adotou dois pactos internacionais: Um para os direitos econômicos, sociais e culturais; e outro para os diretos civis e políticos. Especificamente, a inclusão do artigo 27 no pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos abriu uma nova era em termos de reconhecimento internacional aos direitos das pessoas pertencentes a minorias étnicas, religiosas, lingüísticas e outras. Isso também acabou por levar a uma serie de novas declarações e convenções cujo propósito era não apenas reconhecer, mas também proteger legalmente os direitos – culturais ou outros – desses povos. (http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid S =0104-(93132008 Unesco, Shelton H.Davis, consulta 29-03-2010-21,45 horas).

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No plano educacional, a lei 9394/96 dá um grande passo ao incluir a

diversidade cultural no nível de proposta curricular. Fato este que naquele

contexto já indicava um avanço no ensino público brasileiro. Porém em março de

2008 foi sancionada a lei nº. 11.645/08 que:

Como ilustração assistir ao vídeo: EDUCAÇÃO DIGITAL NA TERRA KAINGANG. (sobre colocação de equipamento digital na escola indígena Cacique Gregório kaekchot, núcleo de Ivaiporã PR.-)

http://www.youtube.com/watch?v=zDTW4tXqnzQ&feature=player_embedded#! Acesso em 19 de julho de 2010.

AGORA É COM VOCÊ

4 ASPECTOS CULTURAIS DOS KAINGANG DO PARANÁ

A população kaingang compõe uma das maiores etnias indígenas do

estado e, segundo Mota:

Agora que você conhece algo da legislação que embas a esta temática:

A) Após reler as informações, faça em seu caderno, uma síntese dos

principais avanços em direção ao respeito aos povos discriminados;

B) Faça um texto e nele destaque os benefícios e os retrocessos deste

processo de inclusão dos povos indígenas, justificando suas escolhas;

Altera a lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei nº. 10.639, de 09 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. (PEREIRA, 2009, p 75)

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“são atualmente o mais populoso grupo indígena do sul do Brasil. No passado eles ocuparam diversos territórios do planalto meridional brasileiro desde o Estado de São Paulo até o Rio Grande do Sul e parte do território de Missiones na Argentina”. (MOTA, 2004.p.3)

Atualmente, neste estado, existem povos indígenas pertencentes a quatro

etnias diferentes: Kaingang, Guarani, Xokleng e xetá, ocupando terras indígenas

localizadas em vários pontos do mesmo, como podemos observar no mapa a

seguir, as quais constituem seus territórios, que segundo Tommasino: “Cada

sociedade elabora a sua concepção de tempo e de espaço conforme a sua visão

de mundo, a qual também orienta as suas práticas e relações sociais e simbólicas

com a natureza e entre si (TOMMASINO, 2000, p.192)”.

Portanto território para a população Kaingang pode ser definido:

Enquanto um espaço de subsistência, a unidade territorial de uma sociedade kaingang pode ser assim resumida: constitui-se de um espaço “físico __ composto por serras (krin),campos (rê) e florestas (nén) ___onde os grupos possam exercer suas atividades de caça, pesca, coleta e plantio de milho, abóbora, feijão e batata-doce. Esse vasto território constituía um espaço de contínuos deslocamentos dos grupos para desenvolverem suas atividades de subsistência material e reprodução social” (TOMMASINO, 2000, p. 193). [...] ”Os dados históricos e geográficos indicam que um território Kaingang tinha, necessariamente, de apresentar um ecossistema variado que lhes permitisse sua reprodução social e cultural.nas regiões de campo faziam suas aldeias fixas (emã). Faziam também acampamentos ou abrigos provisórios (wãre) nas florestas e margens dos rios, onde permaneciam nas semanas ou meses em que praticavam a caça ou a pesca. Os deslocamentos eram feitos por grupos de parentesco, de modo que sempre havia pessoas no emã e outras no wãre (TOMMASINO, 2000, p. 204).

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http://www.artenossa.pr.gov.br/arquivos/File/LIVRO_PROVOPAR_Kit_Indigena.pdf

O que demonstra que esta população antes do contato com o povo branco

já possuía conhecimento geográfico, e o aplicava a sua organização espacial e

social.

Muito do que se sabe sobre a população kaingang do Paraná, deve-se aos

registros feitos por Telêmaco Borba, pois este: ”ocupou vários cargos no norte da

província paranaense”. (Mota, 2004, p. 4)

Citamos alguns aspectos do cotidiano kaingang narrados por ele, onde

entendemos que os indígenas aplicavam o conhecimento prático de química nas

diversas maneiras de utilizar os vegetais seja como alimentos, medicamentos ou

bebidas, e o aproveitamento do mel como adoçante. E ainda, nas suas práticas

A) pesquise a idéia de território segundo os povos ditos civilizados e compare com a idéia descrita por Tommasino no texto acima. B) Faça um quadro comparativo destacando as principais características de territórios segundo os dois grupos humanos.

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medicinais bem como às estratégias por eles utilizadas para enterrar seus mortos.

Sendo que a prática da medicina estava arraigada nessas estratégias. Os textos a

seguir mostram um destes exemplos:

MODOS DE PREPARAR SUAS BEBIDAS FERMENTADAS Preparam duas qualidades de bebidas fermentadas, cujo fundo principal é o milho (nhára); aque é feita só de milho e agoa chamam—goifá---quando a esta adicionam mel de abelha chamam-n’a quiquy. Para preparar o goifá, soccam o milho, depozitam-o em grande quantidade de agoa morna, em grandes coches de madeira, collocados perto do fogo e todos os dias mechem-n’o;quando cessa a fermentação. Está prompto e principiam a bebel-o cantando e dançando de noite e de dia, até cahirem de bêbados e o goifá acabar-se. (...) O goifá é de gosto azedo, amargo e desagradável ao paladar. O quiquy, como atraz dissemos, é o goifá com addicionamento de mel de abelhas silvestres, é menos desagradável, porém mais embriagante (BORBA, 1908, P 15).

Fazem do milho uma outra bebida, espécie de mingao ralo, a que chamam---goiocupry---(agoa branca) o modo de prepara-a é: primeiro dando uma ligeira torrefacção ao milho, o que fazem pondo este em cestos misturados com brazas e agitando-o ao ar; trituram-no depois, e o depozitam em grandes vasos de barro, cocrun-bang, junto a um fogo grande; põem-lhe agoa até encher os vasos e assim os deixam por uma noite; ao outro dia sentam-se algumas mulheres velhas ao redor dos vasos , vão tirando o milho com as mãos , mastigando-o com muito vagar e tornando a deposita-lo nos mesmos; depois de vinte e quatro horas deste processo, bebem-o e dizem que é muito agradavel e substancial (BORBA, 1098 p 15).

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Ao contrário do que se pensa atualmente, no passado, segundo Oliveira: “O uso de bebidas fermentadas” entre os Kaingang é bastante antigo e restringia-se a cerimônias ritualizadas, nas quais a eles, nessa ocasião, “era permitido beber até cair”, Essas experiências aconteciam no âmbito sociocultural e não denotavam nenhum “mal” ao grupo, pois tinham permissão para fazê-lo e prazo estabelecido para finalizar a bebedeira, geralmente aos finais dos rituais. Ao contrário do alcoolismo, que tem efeito desagregador, a bebida nos rituais tinha funções de integração, reforçando os laços de reciprocidade social entre os diferentes grupos locais da sociedade (OLIVEIRA, 2004 P 323).

Com a entrada da cana de açúcar e os alambiques nas aldeias, assim

como um dos seus derivados, a aguardente, utilizados como mais uma das

alternativas de conquista pelos líderes brancos. A trajetória da população

MEDICINA E ENTERROS Quando algum adoece tratam-o por meio de fricções com summos de hervas e plantas delles conhecidas, e se teem alguma dôor local passam-lhe sobre a parte uma larga imbira a que apertam envolvendo a parte dolorida, o tratamento é feito sempre junto a um grande fogo, perto do qual conservam o doente. Se este peiora, reúnem-se junto delle todos os parentes principiam as mulheres a chorar, e os homens a dizer-lhe que não se vá ainda: que o hão de tratar muito bem e dar-lhe muito presente. Se percebem que não escapa da moléstia, promettem enterral-o com curús novos bonito arco e flecha, grande collar, ter cuidados com suas mulheres e filhos. Se morre, emmmediatamente o enterram, deitado, com seo arco flechas curú e machado, em uma cova superficial forrada e coberta com madeiras e terra por cima destas, fazem seos vinhos e convidam os visinhos para levantar a sepultura, carregando a terra em cestos deitando-a sobre esta até tomar a forma de uma pyramide cônica, de dous a quatro metros de altura e seis a oito de diâmetro na base, concluído este serviço, dirigem-se tos ao rancho de onde sahio o morto e principiam-se todos, sentados ao redor de um comprido fogo a beber os quiqui e cantar as acções do morto, depois de já um pouco quentes, levantam-se e cantando e dançando em passos compassados, ao som da maracá (xíí), vão dando volta ao grande fogo, e assim continuam, ora sentados, ora em pé, sempre cantando e sempre bebendo, até acabar o vinho; então, vão lavar-se ao rio e dormir. As mulheres, filhas mães e irmãs do morto choram-o ainda por muitos dias. Para as creanças não constroem essas pyramides; enterram-as em covas rasas e não fazem festa (BORBA, 1908, p 12 e 13).

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indígena passa por alterações significativas, pois, estes passam a ter acesso ao

álcool com mais freqüência, cuja ingestão desregrada foi aos poucos sendo

incorporada aos seus costumes de forma a alterar as rotinas e tradições. De

modo que a bebida não mais aparece com o sentido sagrado de antes e sim

como responsável pela degradação humana, uma vez que antes só era permitido

a eles beber alguma bebida com álcool durante a realização do Kiki.

REFERÊNCIAS

BORBA, Telêmaco, Actualidade Indígena. Coritiba Imprensa Paranaense, 1908.

BRASIL, Constituição (1988) Constituição: Republica Federativa do Brasil-Brasília: Senado Federal, Centro Gráfico, l988.

EAGLETON, Terry. A Idéia de Cultura. São Paulo: Editora UNESP, 2005.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura Um Conceito Antropológico. 5ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1986.

MOTA, Lucio Tadeu; NOELLI, Francisco Silva; TOMMASINO, Kimie org. Uri e Wãxi Estudos Interdisciplinares sobre os Kaingang. Londrina: Ed. UEL, 2000.

1. Enumere as informações trabalhadas neste texto que nos ajudam a refletir sobre possíveis mudanças de atitudes em relação aos povos indígenas.

2. Faça um quadro comparativo (visão dos povos indígenas e visão dos brancos) destacando os conhecimentos geográficos e químicos trabalhados no texto.

3. Em grupos de três alunos façam ilustrações que contemplem as diferenças culturais entre os dois grupos e ações que podem representar atitudes de respeito para com os mesmos.

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PEREIRA, Jacira Helena do Valle. Pluralidade Cultura e Escola. Campo Grande, MS: UFMS, 2009. OLIVEIRA, Marlene de. Alcoolismo entre os kaingang: do sagrado e lúdico à dependência. In: MOTA, Lucio Tadeu; NOELLI, Francisco Silva; TOMMASINO, Kimie. Novas Contribuições aos Estudos interdisciplinares dos kaingang. Londrina: Eduel, 2004. TOMMASINO, Kimie; MOTA, Lucio Tadeu; NOELLI, Francisco Silva, org. Novas Contribuições aos estudos interdisciplinares dos kaingang. Londrina: Eduel, 2004

SITES PESQUISADOS

http://biblio.etnolinguistica.org/borba_1908_actualidade

http://www.youtube.com/watch?v=zDTW4tXqnzQ (sobre educação digital)

http://anjoseguerreiros.blogspot.com/2009/08/0-x-da-educacao-cultura-indigena.html (dia 27 de 2gosto de 2009) http://home.londrina.pr.gov.br/assistenciasocial/kaingang/atividades_culturais.htm (sobre esportes e pesca no pari) http://www.artenossa.pr.gov.br/arquivos/File/LIVRO_PROVOPAR_Kit_Indigena.pdf

http://www.socioambiental.org/pib/epi/kaingang/loc.shtm (consulta em20de julho de 2010)

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