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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Produção Didático-Pedagógica
Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
Colégio Estadual Profª Ubedulha C. de Oliveira NRE: Londrina
Autor: Mariângela de Oliveira e-mail: [email protected]
Nível de Ensino: Médio – 3º ano
Título: Perspectivas de um olhar: o seu
Disciplina: Arte
Conteúdo Estruturante: Composição nas Artes Visuais
Conteúdo Específico: Leitura de Imagem bidimensional e sua Forma de expressão
Relação interdisciplinar 1: Língua Portuguesa/ Literatura
Relação interdisciplinar 2: Biologia
Problematização
O seu olho, o que vê, o que percebe? Você é uma pessoa de visão?
Enxerga o mundo a sua volta? Para que servem seus olhos?
O Olho é uma espécie de globo,
é um pequeno planeta com pinturas
do lado de fora.
[...] Mas por dentro há outras
pinturas, que não se vêem:
umas são imagens
do mundo, outras são inventadas.
(Cecília Meireles)
(Fonte: http://olhardamariangela.blogspot.com)
É bem provável que você já tenha ouvido a expressão: “os olhos são
a janela da alma”. Nela, a voz do povo quis sintetizar a ideia de que, assim como
sugerido na imagem e no trecho de poema da abertura desta conversa, os olhos
tanto captam o mundo exterior quanto refletem o mundo interior.
O olhar deseja sempre mais do que lhe é dado a ver.
(Adauto Novaes)
Vamos testar sua habilidade de olhar e de reproduzir o “olhado”.
Para isso, faça essa proposta de desenho, em dupla, em uma folha de papel
sulfite A3, que visa a observação do natural: produza um retrato a partir da
observação do modelo, no caso, seu colega de sala. Você tem 20 minutos para
concluir esta etapa.
Em seguida, vamos compor um desenho cego. Na mesma dupla,
faça novamente o retrato, em uma nova folha, olhando apenas para o modelo,
sem olhar a superfície do papel. Seu tempo agora é de, no máximo, 10 minutos.
O terceiro passo consiste em desenhar em uma nova folha, com a
mão inversa (destro desenha com a esquerda e vice-versa), o mesmo retrato do
primeiro passo, em até 10 minutos.
Feitos os três desenhos, vamos à interpretação de sua produção:
observe atentamente e analise as linhas, os tipos de traços, efeitos de luz e
sombra, o tipo de representação, a utilização do espaço e outros elementos que
estejam presentes na sua composição.
Ela reflete o seu olhar sobre o colega ou estritamente reproduz as
formas e o contorno humano dele, sem interferência da sua impressão a respeito
dele? Discuta com a classe sobre isso.
Ainda que sejam expressões equivalentes, para a Arte, ver e olhar
são iguais? Significam a mesma coisa? Com o auxílio de um dicionário, defina as
semelhanças e diferenças semânticas que há entre esses vocábulos.
Não se esqueça: anote todas as considerações que julgar
necessárias, seja algo que você pensou ou o que foi dito por um
colega durante a socialização dos resultados da busca. Ou ainda,
opiniões com as quais não concorde, informações dadas pela
professora, enfim, tudo que lhe chamar a atenção.
Leia o trecho abaixo para ajudá-lo a construir o conceito:
(...) Só podemos ver quando aprendemos que algo não está à mostra e podemos sabê-lo. Portanto, para ver olhar, é preciso pensar. Ver está implicado ao sentido físico da visão. Costumamos, todavia, usar a expressão olhar para afirmar uma outra complexidade do ver. Quando chamo alguém para olhar algo espero dele uma atenção estética, demorada e contemplativa, enquanto ao esperar que alguém veja algo, a expectativa se dirige à visualização, ainda que curiosa, sem que se espere dele o aspecto contemplativo. Ver é reto, olhar é sinuoso. Ver é sintético, olhar é analítico. Ver é imediato, olhar é mediado. (Márcia Tiburi, “Aprender a pensar é descobrir o olhar”, <http://www.artenaescola.org.br/pesquise_artigos_texto.php?id_m=26>)
Você já tinha pensado sobre isso antes? Ver é um ato cotidiano
corriqueiro e, por isso mesmo, passa despercebido da maioria das pessoas, a não
ser quando essa capacidade nos falta ou fica comprometida. Vamos conhecer um
pouco mais esse incrível órgão de nosso corpo.
Pesquise em seu livro didático de Biologia o capítulo que trata sobre
a estrutura do olho humano e sua complexidade. Compare as informações obtidas
com outras referências, consultando outros títulos e também a internet.
Fonte: http://www.afh.bio.br/sentidos/sentidos1.asp
Na imagem anterior, encontramos as partes externas do olho
humano. Você sabia que este é o único órgão de nosso corpo em contato direto
com o mundo exterior e com o cérebro ao mesmo tempo? Fantástico, não é
mesmo?
Busque em suas anotações de pesquisa uma imagem do olho que
mostre as partes internas que o compõem (são elas: córnea, cristalino, esclera,
pupila, retina, vítreo e coróide).
Uma comparação didática bastante difundida é a do olho com um
ovo, onde a esclera seria a casca do ovo, a retina seria a fina membrana que
recobre o interior dessa casca e o vítreo seria a clara, que preenche o espaço
interno. É importante saber sobre isso, pois o funcionamento da visão permite-nos
estabelecer relações conceituais, atitudinais e comportamentais a partir das
imagens captadas pelo olho – e vice-versa.
Cabe ressaltar que, na ausência da visão, tais relações também se
estabelecem, porém de acordo com outros padrões (sensoriais e sinestésicos,
especialmente).
Um exemplo bastante interessante é o filme À Primeira Vista, cujo
título original é At First Sight, lançado em 1999, com direção de Irwin Winkler e
tendo como par romântico os atores Val Kilmer e Mira Sorvino. Nele, há “a curiosa
tentativa de tentar mostrar como um cego sente o mundo exterior, inclusive
visualmente”, como salienta o crítico de cinema Rubens Ewald Filho.
Na imagem a seguir, é possível visualizar os campos cerebrais que
se ativam durante o uso dos órgãos do sentido.
Imagem: BARROS, Carlos; PAULINO, Wilson R. O Corpo Humano. São Paulo, Ed. Ática, 2000.
O olho que conta histórias
Na literatura, a sinestesia é uma figura de linguagem que relaciona
planos sensoriais diferentes, como gosto com cheiro, ou visão com olfato, por
exemplo. O cérebro, através de conexões e processos neurológicos (sinapses)
provoca o fenômeno e suscita comparações e/ ou novas situações ao utilizar
áreas diversas para processar essas informações.
Tão longe estamos do mundo que não tarda que comecemos a não saber quem somos, nem nos lembramos sequer de dizer-nos como nos chamamos, e para quê, para que iriam servir-nos os nomes, nenhum cão reconhece outro cão, ou se lhe dá a conhecer, pelos nomes que lhes foram postos, é pelo cheiro que identifica e se dá a identificar, nós aqui somos como uma outra raça de cães, conhecemo-nos pelo ladrar, pelo falar, o resto, feições, cor dos olhos, da pele, do cabelo, não conta, é como se não existisse, eu ainda vejo, mas até quando.
(SARAMAGO, José. Ensaio sobre a cegueira. Data, local....)
Ao ver o mundo, como você interpreta as imagens captadas por seus
olhos? Você pára para pensar sobre elas? Emociona-se, sente raiva, fica triste,
eufórico? Por que isso ocorre?
Discuta com seus colegas de sala e juntos
construam cinco perguntas de múltipla escolha que irão
para a enquete que a turma fará com a comunidade escolar
e seus núcleos familiares. A principal questão proposta é:
por quê e para quê se lê uma imagem? Organizem a
enquete coletivamente, apliquem-na e tabulem os
resultados obtidos, refletindo sobre as respostas
encontradas. Escolham dois ou três representantes para
apresentar o parecer da sala para a professora.
Paralelamente, e de modo individual, proceda ao levantamento das
profissões que fazem uso da imagem como matéria-prima na atualidade. Quem é
o profissional que a exerce? Qual a sua formação e salário? Que tipo de trabalho
ele realiza? Cruze os dados obtidos e compare-os. Não se esqueça de que todas
as informações devem ser selecionadas e anotadas, para posterior organização.
O que os olhos não veem...
O que aconteceria se você, de repente, parasse de enxergar?
(concentre-se, pense, vivencie esse momento – qual seria sua reação?)
Metaforicamente, essa é a discussão proposta pelo Nobel de
Literatura, escritor português consagrado e polêmico, José Saramago em seu
Ensaio sobre a cegueira, romance traduzido para o cinema em 2008, com direção
do brasileiro Fernando Meirelles. Você conhece o filme, já o assistiu?
Em caso, negativo, não perca mais tempo! Vá a vídeo-locadora mais
próxima e alugue-o. Depois, chame os colegas de sala para assisti-lo e faça uma
discussão prévia sobre o filme. Individualmente, comente suas impressões no blog
da unidade (http://olhardamariangela.blogspot.com). Lá estão disponíveis mais
detalhes sobre a obra, seu autor, a sinopse do filme etc.
Arte: provocando olhares
O olhar humano, o olhar do observador, altera a própria dinâmica do
ambiente. Ou seja, todo olhar muda em nós o significado do mundo – desde que
seja um olhar consciente. Os olhos do pensamento, os olhos da interpretação, do
sentimento. Olhos pelos quais se mede, julga ou deixa de julgar. O olhar como
compreensão do processo (captação e significação).
O olhar de cada um está impregnado com experiências anteriores, associações, lembranças, fantasias, interpretações, etc. O que se vê não é o dado real, mas aquilo que se consegue captar e interpretar acerca do visto, o que nos é significativo. (...) Uma leitura se torna significativa quando estabelecemos relações entre o objeto de leitura e nossas experiências de leitor. (PILAR, 2009, p.13-
15)
A título de revisão de conceitos e “ajuste” do olhar, indico que você
acesse o blog e leia a Aula Inaugural na qual analiso a obra Moça em pé na
janela, de Salvador Dali. Nesse texto há etapas de trabalho bem delimitadas, a
saber: descrição, análise, dados de identificação, interpretação e julgamento da
obra de arte – partes que construí a partir do roteiro de trabalho que disponibilizo
abaixo:
Roteiro para a Leitura de Obra1
DESCRIÇÃO
1. Descreva o que você vê na imagem? 2. Ela é figurativa ou abstrata? 3. Qual o estilo e qual a técnica da obra? 4. A obra é bidimensional ou tridimensional? 5. A obra é simétrica ou assimétrica? Justifique. 6. Qual a linha que predomina na obra e em quais posições? 7. Quais cores você vê na obra? 8. Como podemos classificar estas cores? 9. Esta obra é monocromática ou policromática? Justifique. 10. Há efeitos de luz e sombra? 11. Que textura consegue identificar? 12. Quantos planos há na obra, e como é o fundo? 13. Que efeitos o artista consegue?
ANÁLISE
1. Existem recursos de repetição de determinados elementos? Com qual função ou intenção? 2. Você identifica movimento na obra? Justifique 3. Podemos perceber ritmo visual? Justifique 4. Há uma figura ou elemento central? Qual? 5. Há equilíbrio? Qual? 6. Há algum elemento em desequilíbrio proposital? Justifique 7. Como é a cor em relação á forma e o espaço? Há unidade entre eles?
1 Roteiro adaptado a partir de texto clássico de Edmund Feldman, no qual ele discute técnicas para aprimorar
o modo de olhar a arte, de educandos e de educadores. São ideias para exercitar a atenção.
8. Existem elementos simbólicos: sociais, políticos, religiosos ou pictóricos...
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
1. Qual o nome da obra, do artista, dimensão, data e do país?
INTERPRETAÇÃO
1. O que o artista lhe sugere? 2. Que tipo de personalidade ela aparenta ter? 3. A posição da figura retratada na janela dá a entender que tipo de
comportamento? 4. Existe alguma associação com a sua vida? Explique. 5. Que sentimentos a obra provocou? 6. A realidade que passa na obra é mesma de hoje? Explique. 7. Quais as semelhanças e diferenças possíveis de identificar entre hoje e
a época retratada? 8. Se o artista vivesse hoje pintaria o mesmo tema? Justifique. 9. Avaliando a questão 5 e 6 o que poderíamos fazer para mudar a
situação atual? 10. A Arte hoje pode ajudar? (definição de arte: ë a capacidade que tem o
homem de colocar em prática uma idéia valendo-se da faculdade de dominar a matéria).
11. Quais fatos marcaram a época em que a obra foi pintada?
JULGAMENTO
1. Você acha essa obra importante? Por quê? 2. Por que o artista pintou essa obra? 3. Por que as pessoas querem ter uma obra ou querem ver uma obra? 4. Que obras ou objetos você conhece, que tem semelhança com a obra
em questão?
Agora é a sua vez
Com base no roteiro apresentado, e ainda em relação à Moça em pé
na janela, de Dali, faça a leitura proposta pela professora e de acordo com seu
repertório cultural responda, individualmente, no blog: que obras artísticas você
conhece, que tem semelhança com a obra em questão? Sempre que possível,
indique referências completas para que os colegas e a professora possam
localizar a informação dada por você.
Ainda em relação ao blog, observe atentamente as vinte obras de
arte do século XX selecionadas e apresentadas lá. Contemple-as, dialogue com
elas, sinta a obra. Em seguida, anote todas as suas impressões, boas ou ruins,
acerca de cada tela. Qual chamou mais a sua atenção? Por quê?
Em sala, vamos compartilhar as anotações entre os colegas,
perceber os vários olhares sobre as mesmas obras e continuar anotando tudo.
Com a intervenção da professora, dividam-se agora em duplas e escolham
apenas uma das vinte obras. É importante que não haja repetições.
Cada dupla, a partir do roteiro sugerido e das pesquisas e anotações
realizadas até aqui, vai elaborar um texto interpretativo da obra de arte escolhida.
Novamente, haverá socialização dos textos em sala e, depois, a exibição do vídeo
com o poema Anatomia do olho, de Cecília Meireles e a música É isso aí, de Ana
Carolina (disponível também no blog) – observem como a literatura, a música e as
ilustrações mesclam-se e constroem novos significados.
O foco nesse momento é a expressão do olhar. De que ponto você
está olhando? E o que percebe desse ângulo, dessa perspectiva? O mesmo que
os demais colegas de sala? Ou não?
De olho no século XX e seus artistas
Todos os acontecimentos bons e ruins do século XX, com suas
invenções geniais – desde o avanço industrial, assim como as pesquisas
científicas na medicina, o enfrentamento de duas grandes
guerras mundiais e o capitalismo, por exemplo – influenciaram
diretamente o olhar e o pensar dos artistas sobre o mundo e a
arte, sobretudo na pintura.
Na Alemanha, surge o Modernismo, com influência das vanguardas
européias, uma nova tendência da linguagem artística neste início de século. Esse
movimento veio romper com valores e tradições da cultura ocidental e propor uma
linguagem da autonomia, da liberdade de expressão, pois o que antes era ideia +
técnica agora é ideia + liberdade (possibilidades).
Neste contexto de modernidade, ainda na Alemanha, nasce a arte
abstrata (1911-1914), tendo como precursores os artistas Vassíli Kandinsky, Fanz
Marc e Paul Klee ( Abstracionismo I: “Der blaue Reiter” ou o Cavaleiro azul)
recebendo influências dos expressionistas e cubistas.
Em suas obras, Kandinsky evidencia com pinceladas rápidas e
elementos puros (formas e cores) transmitindo a sensibilidade e a emoção do
artista; sua arte não depende do mundo visível. Logo, não tem compromisso com
a representatividade, nem com o tema.
No Brasil, a arte abstrata ganhou espaço a partir da I Bienal de São
Paulo (1951). Podemos destacar os seguintes representantes do abstracionismo
brasileiro: Antônio Bandeira, Cícero Dias e Sheila Branningan, Flávio Shiró,
Manabu Mabe, Yolanda Mohalyi, Wega Nery, Iberê Camargo, Antoni Babinski,
Ivan Serpa e Valdemar Cordeiro (pioneiros e representantes do abstracionismo
informal); Iberê, Maria Bonomi e Mário Gruber (geração de gravuristas abstratos);
Tomie Ohtake, Fayga Ostrower, Arcângelo Ianelli, Samson Flexor, Lígia Clarck e
Hélio Oiticica (abstracionismo geométrico, concretismo e neoconcretismo).
Podemos ainda encontrar outras manifestações do movimento
abstracionista como: Suprematismo (Kasimir Malevitch), o Neoplasticismo (Piet
Mondrian), o Action Painting (Jackson Pollock ) e O Grupo Cobra (Christian
Dotremont, Asger Oluf Jorn, Joseph Noiret, Karel Appel, Constant e Corneille
Guillaume Beverloo).
Na escultura, os artistas mundo afora, buscaram as possibilidades da
tridimensionalidade do objeto, explorando o volume e a textura.
Gradualmente o movimento foi dando origem a outras manifestações
também abstratas indo do sensível, das intuições (subjetivo ou informal) a
intelectualidade (objetivo ou geométrico) dos artistas Piet Mondrian e Malevitch.
Do abstracionismo geométrico ou formal decorrem: o construtivismo,
o concretismo e, a pouco, o minimalismo. Seja qual for o abstracionismo, ele
recorre ao campo das ideias, do lirismo ou ao rigor técnico (a autonomia da forma)
sobre este o mundo e não para a mera representatividade do mesmo enquanto
forma.
Com isto o espectador acostumado com padrões estéticos perde a
referência do que é arte por não compreender os novos valores estéticos, pois as
composições tornaram-se irreconhecíveis e tiraram o espectador de sua zona de
conforto. Para alguns o abstracionismo foi considerado feio e sem valor estético.
Na verdade o espectador também ganha com a liberdade expressiva
do abstracionismo, pois com ele é possível a leitura de uma obra por vários
ângulos diferentes, com olhares diferentes buscando assim esgotar as
possibilidades, tanto em sensações quanto em interpretações.
Reflita: as vinte obras selecionadas para análise possuem
esses componentes, seguem os padrões modernistas? Como? Em quê
medida? Anote suas considerações e compartilhe-a com os colegas no
blog da unidade.
Você já percebeu que com a arte Moderna e Contemporânea
abriram-se possibilidades quanto a conceitos, formas e sensações numa
linguagem onde tudo é valido, podendo transitar da delicadeza ao exótico, com ou
sem o desejo de incomodar ou chocar, constranger causando reações diversas no
espectador (encantamento ou estranhamento)?
A arte Pós-Moderna irá mais longe ainda, mantendo um diálogo mais
direto e superficial com o espectador, além de absorver a estética de massa.
Parte da culpa de tudo isso é de Sigmund Freud e suas teses
psicanalíticas. Você se recorda dele? Suas ideias tem influência significativa no
movimento surrealista, enfatizando o papel do inconsciente na atividade criativa.
Para Freud, o homem deve libertar sua mente da lógica e das imposições dos
padrões comportamentais e morais determinados pela sociedade e liberar aos
sonhos e mensagens/imagens do inconsciente.
O Surrealismo tem início com a literatura francesa quando em 1924,
André Breton, poeta e psiquiatra, precedente do Dadaísmo, lança o Manifesto do
Surrealismo e propôs a expressão o pensamento livre, espontâneo e irracional,
exteriorizando a vida interior que há em nós, sem a manipulação consciente sobre
ele, sobretudo no que diz respeito a estética ou a moral buscando uma realidade
superior.
Os artistas ligados ao surrealismo aderem a este pensamento
rejeitando valores condicionados pela cultura como a pátria e a família. Criam
obras com muito humor, sonhos, fantasias, os mitos, as visões, as alucinações
que produzem as drogas e tudo mais que for oposto ao controle da razão, com
imagens do subconsciente buscando na profundeza da alma e do espírito a
realidade objetiva.
São considerados os precursores do Surrealismo nas artes: Giorgio
De Chirico e Marc Chagall.
Com técnica realista De Chirico e sua pintura metafísica ambiental,
representa em suas obras um mundo de cenas alucinatórias, de solidão e
amargura. As figuras são manequins, que sugerem um homem sem de alma em
um mundo estático e cruel.
A decomposição e justaposição alucinatórias de imagens e técnica
realista são características das obras de Salvador Dalí criando o conceito de
“paranóia critica”. Com a expulsão do movimento manteve à mesma sistemática
intima porém com outra nomenclatura ("misticismo").
"Todo mundo tem dois olhos para ver, que coisa estranha. É preciso ver
a realidade que se esconde além, onde a vista não alcança" (F. Sabino)
Joan Miró representa obras de forma amistosa, inventando signos
biomórficos semelhantes a objetos da natureza com formas curvas, linhas
fluidas/nítidas e cores, mas nem por isso de fácil compreensão. Sua abstração
tem uma narrativa aberta (criada pelas linhas que interligam formas abstratas).
René Magritte, adepto do surrealismo realista “realismo
mágico” (real – irreal) foi influenciado pela pintura de Chirico. Suas
obras, metáforas de símbolos recorrentes com elementos do dia a
dia e ilusão num conflito entre a normalidade e o atípico. Imagens
que solicitam quase uma interatividade como numa brincadeira de leitura
semiótica, que cobra inteligência do leitor e onde possivelmente existam várias
respostas ou soluções para o enigma.
Você percebeu que nos quadros de Magritte há um mundo de ilusões
e possibilidades através das imagens das formas e tintas expõe seu próprio
mundo? Ele criou uma arte reflexiva, que nos faz revelar o corpo e a sexualidade,
que transcende ao tempo, valorizando o conhecimento e a elaboração plástica.
Para pensar: na tentativa de alcançar e exteriorizar o mundo
subconsciente, os artistas lançam mão de diferentes técnicas como: o
automatismo (maneira de criar sem o controle consciente), as
associações livres, a hipnoses, a colagem aumentando assim a
capacidade imaginativa e criativa, buscam encontrar a percepção
sensitiva e as possibilidades de expressão.
Outros nomes como: Max Ernst, Willian Blakem, Odilon Redon,
Hieronymos Bosch, André Masson, Paul Delvaux, Yves Tanguy, Alberto
Giacometti, Antonin Artaud, Luis Buñuel e Paul Éluard, Louis Aragon e Jacques
Prévert estiveram envolvidos com o movimento explorando diferentes formas de
expressar o surreal. Vladimir Kush é um artista contemporâneo que mantém o
estilo surrealista.
No Brasil, entre as décadas de 20 e 30, o Modernismo com Ismael
Nery, Tarsila do Amaral, Cícero Dias e Maria Martins acolhem as idéias
surrealistas.
Portfólio: o olhar que descobre
Chegou a hora de sistematizar as discussões que tivemos ao longo
dessa unidade didática. Para tanto, o formato escolhido foi o de um portfólio. Você
conhece esse tipo de trabalho? Já fez algum antes? No nosso caso, trata-se de
uma produção artística que irá reunir todos os registros de trabalho em um
formato e de tal forma que qualquer pessoa, ao vê-lo, consiga entender e
conhecer mais sobre o assunto de que ele trata.
Confeccioná-lo é a construção de uma ideia que ganha forma, e
compreende, entre tantos outros materiais possíveis de compô-lo:
- os textos pesquisados, recolhidos e selecionados;
- as anotações pessoais;
- imagens significativas (recorte, desenho, impressa, foto);
- textos verbais (literários, jornalísticos, publicitários, documentais);
- materiais plásticos;
- materiais em formato digital (JPEG, GIF, MPEG, MP3).
Cada portfólio é único e definido como uma coleção de itens que
revela o seu conhecimento pessoal, seu entendimento, enfim, seu olhar sobre
aquele assunto. Não é um amontoado de coisas, um baú de guardados
desconexos. Durante a pesquisa e seleção dos dados você deve estabelecer que
forma terá seu portfólio, pois ela é responsável também por fazer ver aos outros o
viés de suas anotações e seu ponto de vista acerca do tema.
Lembre-se: seu trabalho em si, como um todo,
comunica-se com o leitor, trazendo as marcas pessoais de quem o
construiu e informações e dados sobre o tema abordado.
Faça um pré-projeto de trabalho, determine uma agenda
(cronograma) com datas e tarefas definidas, teste antes da data final estipulada
para que não haja imprevistos ou falhas que atrapalhem a execução e/ou a
entrega do mesmo.
Aproveite cada momento de interação com a professora para sanar
suas dúvidas, ou mesmo para buscar ideias, ou certificar-se de suas intenções.
Seja como for, planejamento, organização e responsabilidade são fundamentais.
Entram aí, também, a criatividade e a originalidade como critérios avaliativos, além
do próprio conteúdo, as questões linguísticas, os elementos pré-textuais (agenda)
e a autoavaliação.
Autoavaliação
As atividades propostas foram pensadas de forma a
possibilitar a você a oportunidade de conhecer, ler e interpretar diferentes imagens
contemporâneas que retratassem formas diferentes de olhar o mundo,
propiciando-lhe um novo olhar sobre as mesmas.
Sempre partindo da realidade com a qual convive, você foi convidado
a ver, a olhar, a analisar e repensar as imagens trazidas pela professora e as
criadas por você, indo além do horizonte de expectativas inicial através de obras
de arte previamente escolhidas. Essa caminhada teve por embasamento a teoria
da reflexão-pesquisa-ação.
Agora, o convite é para que você reflita sobre o seu percurso e
avalie-o, percebendo erros e acertos do processo. Preencha a Ficha de
Autoavaliação para ter parâmetros de como seu trabalho se deu, confira os
pontos destacados e organize seu pensamento em forma de um texto opinativo
coerente e conciso que expresse seu ponto de vista acerca do processo
desenvolvido – lembre-se de entregá-lo à professora assim que ele estiver pronto.
Por hora é só. Foi muito bom tê-lo como companhia nesse trajeto!
Ficha para autoavaliação S/
N O B R RR
Quanto às atividades
Você realizou todas?
Houve qualidade em suas ações?
Elas foram criativas e adequadas?
Quanto às imagens
Os dados sobre elas e seus pintores estão completos?
Empregou termos específicos da análise de imagens?
O texto verbal apóia adequadamente a imagem e vice-versa?
Quanto ao conteúdo
A linguagem e o conteúdo estão adequados à situação e aos seus interlocutores?
Seus comentários foram significativos e persuasivos, além de adequados ao público leitor/ ouvinte?
Seu texto demonstrou uma visão pessoal do assunto escolhido e promoveu uma reflexão sobre o mesmo?
Você se posicionou claramente ao falar ou escrever sobre o tema
A ideia principal defendida por você é fundamentada em argumentos consistentes e variados?
Seleção do conteúdo
Quanto ao portfólio
A ideia inicial de trabalho foi mantida?
Houve empecilhos durante a construção dele?
Houve mudança de planos durante a execução do trabalho?
O formato escolhido foi o mais criativo e original possível?
Seu trabalho está plasticamente coerente com o tema/ conteúdo estudado?
Quanto à apresentação
Aspecto geral do material
Atratividade
Originalidade
Escolha do material plástico
Legenda: S/N – sim ou não; O – ótimo; B – bom; R – regular; RR – ruim
Referências ARGAN, Carlo Giulio. A arte moderna. São Paulo: Cia. das Letras, 1998.
BARBOSA, Ana Mae Tavares Bastos. A imagem no ensino da arte: anos oitenta
e novos tempos. São Paulo: Perspectiva, 1991. ________________ Teoria e prática da Educação Artística. São Paulo: Cultrix, 1975. BARROS, Carlos; PAULINO, Wilson R. O Corpo Humano. São Paulo, Ed. Ática,
2000. BUORO, Anamelia Bueno. Olhos que pintam, a leitura da imagem e o ensino da arte. São Paulo: Educ/ Fapesp/ Cortez, 2002. BECKETT, Wendy. WRIGHT, (Cons.). História da pintura. São Paulo: ÁTICA,
1997. CAMARGO, Isaac Antonio. “Imagem, mídia e interatividade relações e sentido”. In: Curso de Arte II, UEL, 2008. CAMARGO, Isaac Antonio. “Imagem e Arte: constituição e sentidos no contexto do ensino”. In: Curso desenvolvido para o Programa de Desenvolvimento Educacional SETI/SEED/PR. Departamento de Arte Visual. UEL, 2008. COLI, Jorge. O que é arte. São Paulo: Brasiliense, 1990.
ECO, Umberto. A obra aberta. São Paulo: Perspectiva, 2001.
HAUSER, Arnold. História social da arte e da literatura. São Paulo: Martins
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MANGUEL, Alberto. Lendo imagens: uma história de amor e ódio. São Paulo:
Companhia das Letras, 2001. MEIRELES, Cecília. Anatomia do olho. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=RZFkkKDYrTM, acesso em maio/ 2010. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de Arte para a Educação Básica. Curitiba: SEED, 2008.
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* Fonte das ilustrações: clip-art do Office