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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Produção Didático-Pedagógica
Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
Foto: Acervo particular
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA – UEL
AUTORA: ISABEL CRISTINA DE OLIVEIRA AZEVEDO
PDE- LÍNGUA PORTUGUESA NRE- APUCARANA
ORIENTADOR: Prof. Dr. SERGIO PAULO ADOLFO
LONDRINA 2009/2010
Ibeji no Brasil
Fonte:
https://p2j2oq.bay.livefilestore.com/y1m11gd8T0s3RG5oQPPjGwU_SW9FAECrddSIH6sE9wGb5LfkAQOGOvrouN2ElULBaYD_fLtLOJ9D45XwrVKeHEULXivnmR4DEyvlf4SaClSltV6ttCQK8aRm39eRnlNXElEQNRBvpqWbxKLmYx
n_2R1dQ/Ardeche,%20paris,%20135.jpg acesso em 20/07/2010.
IBEJI
Existiam num reino dois pequenos príncipes gêmeos que traziam sorte a todos.
Os problemas mais difíceis eram resolvidos por eles; em troca, pediam doces
balas e brinquedos.
Esses meninos faziam muitas traquinagens e, um dia, brincando próximos a uma
cachoeira, um deles caiu no rio e morreu afogado. Todos do reino ficaram muito tristes
pela morte do príncipe.
O gêmeo que sobreviveu não tinha mais vontade de comer e vivia chorando de
saudades do seu irmão, pedia sempre a Orumilá que o levasse para perto do irmão.
Sensibilizado pelo pedido, Orumilá resolveu levá-lo para se encontrar com o irmão no
céu, deixando na terra duas imagens de barro.
Desde então, todos que precisam de ajuda deixam oferendas aos pés dessas
imagens para ter seus pedidos atendidos.
Fonte: http://www.africanasraizes.com.br/oriconti.html acesso em 20/07/2010.
APRESENTAÇÃO
Professor(a):
O presente caderno pedagógico se constitui enquanto produção didático-
metodológica do projeto de intervenção intitulado “Multiculturalismo e Literatura:
Lendas e Contos Africanos no universo cultural dos estudantes da Educação
Básica”, que busca responder aos seguintes questionamentos: Qual a importância
de se trabalhar a literatura na Educação Básica, incentivando a leitura numa
perspectiva multicultural e pluriétnica através do método recepcional, fazendo com
que o(a) aluno(a) tenha atitude participativa quando em contato com diferentes
textos? De que modo podemos incluir a Cultura Afro-Brasileira e Africana,
positivamente, no trabalho com a literatura para que a mesma seja um instrumento a
mais de construção da identidade do(a) aluno(a) negro(a) e um meio de
reconhecimento da contribuição da Literatura Africana para a humanidade? Que
contribuições trarão a inclusão de lendas e contos africanos no universo de leituras
dos(as) alunos(as)?
Incentivar a leitura através do trabalho com a literatura numa perspectiva
multicultural, dando ênfase à questão da diversidade étnico-racial, a história do
negro e a africanidade do povo brasileiro, dialogando com todos os outros campos,
significa dar oportunidades aos/às estudantes de conhecer e interagir com o
desconhecido para construir sua identidade e desconstruir estereótipos.
As DCEs - Diretrizes Curriculares Estaduais de Língua Portuguesa do Estado
do Paraná (2008, p.39) abordam que a “Literatura, como produção humana que está
intrinsecamente ligada à vida social”. Destacam ainda, “que o entendimento do que
seja o produto literário está sujeito a modificações históricas e deve-se levar em
conta suas relações dialógicas com outros textos e sua articulação com outros
campos: o contexto de produção, a crítica literária, a linguagem, a cultura, a história,
a economia, entre outros”. A literatura é vista como arte que transforma, humaniza o
homem e a sociedade.
Portanto, acreditamos que trabalhar a literatura na escola, com alunos(as) da
Educação Básica, valorizando a cultura africana, constitui-se num modode resgatar
a identidade e o sentimento de pertencimento da população negra e
afrodescendente na sociedade e no mundo e ao mesmo tempo dar oportunidade
para os(as) alunos(as) não negros de conhecer e aprender a respeitar a diversidade
cultural. Oliveira (2006, p.15) diz, “Quanto mais acirra-se o sistema de exclusão
social no planeta, mais torna-se urgente encontrar outros caminhos para a
organização da vida e da produção, os quais garantam o bem viver de todos e de
cada um.[...]”
Trabalhar com questões multiculturais, no caso, Lendas e Contos Africanos,
pode ser um caminho para a contribuição na formação da identidade cultural dos(as)
estudantes, além de caminhar para a implementação da Lei Nº 10.639/2003 em
busca da luta contra a desigualdade racial no Brasil.
Diante do exposto, o caderno pedagógico foi organizado em cinco unidades,
fundamentadas na Teoria da Estética da Recepção e na Teoria do Efeito, Bordini e
Aguiar (1993, p.86), a partir das etapas do método recepcional que são: 1-
Determinação do horizonte de expectativas; 2- Atendimento do horizonte de
expectativas; 3- Ruptura do horizonte de expectativas; 4- Questionamento do
horizonte de expectativas e 5- Ampliação do horizonte de expectativas.
O estudo dessas unidades visa o trabalho com a leitura compreensiva e
crítica, enfatizando a pluralidade étnico-racial para a construção de sujeitos
humanizados, menos preconceituosos e menos racistas, que sejam capazes de
pensar, de refletir, de participar e de dialogar com os textos buscando sua identidade
e pertencimento étnico-social para a elevação de sua auto-estima e o respeito à
diversidade.
A Autora.
Caro(a) estudante:
Este caderno está organizado em cinco unidades, com textos; imagens;
exercícios e pesquisas, nas quais você vai encontrar muito sobre a Cultura Africana
e Brasileira.
Através da leitura das Lendas e Contos Africanos você pode viajar por um
mundo talvez pouco ou nada conhecido, mas que faz parte da nossa cultura, das
nossas raízes.
Aqui você vai ter a oportunidade de aprender sobre culturas diferentes,
aguçar a curiosidade para pesquisar novas histórias e mergulhar numa diversidade
maravilhosa.
As Lendas, os Mitos, as Fábulas e Contos Africanos são tão fascinantes e
originais quanto quaisquer outras histórias de outros povos.
Com certeza depois que conhecer todo o conteúdo deste caderno vai
entender um pouco mais sobre a cultura afro-brasileira e sobre o preconceito racial,
também.
Então vamos lá, participe! Leia, pesquise, interaja com seus amigos(as) e
com o(a) professor(a) assim poderá adquirir conhecimento, se divertir, entender e
respeitar a diversidade cultural da sua família, da sua escola, da sua comunidade,
do seu país e do mundo.
Um grande Axé!
A Autora.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................08
UNIDADE 1: DETERMINAÇÃO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA S.................12
UNIDADE 2: ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS ....................20
UNIDADE 3: RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS .............................37
UNIDADE 4: QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATI VAS............59
UNIDADE 5: AMPLIAÇÃO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS .........................72
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 75
8
INTRODUÇÃO
O presente trabalho foi pautado na busca de estratégias capazes de
introduzir, com eficácia, o multiculturalismo no trabalho com a literatura na Educação
Básica, através de Lendas e Contos Africanos. É importante salientar que buscamos
o sentido amplo de multiculturalismo para não cairmos na superficialidade do tema.
Segundo Gonçalves; Silva (2001, p.111), “não basta trabalhar com a idéia
multicultural educação e diversidade, há de se entender seu papel político e seu
contexto”.
Pensamos que ao trabalhar com a literatura no sentido multicultural é muito
mais que apresentarmos aos alunos e alunas uma literatura eurocentrada ou
etnocentrada, temos sim que desvendar a infinidade de culturas através da arte
literária. Segundo Gonçalves; Silva (2003, p. 111),
O multiculturalismo é o jogo das diferenças, cujas regras são definidas nas lutas sociais por atores que, por uma razão ou outra, experimentam o gosto amargo da discriminação e do preconceito no interior das sociedades em que vivem (...). Isto significa dizer que é muito difícil, se não impossível, compreender as regras desse jogo sem explicitar os contextos sócio-históricos nos quais os sujeitos agem, no sentido de interferir na política de significados em torno da qual dão inteligibilidade a suas próprias experiências, construindo-se enquanto atores.
Trabalhar a literatura na Educação Básica num sentido multicultural é trazer
para o currículo a diversidade cultural. De acordo com Gomes (2008, p. 28), “... Ao
discutir a diversidade cultural, não podemos nos esquecer de pontuar que ela se dá
lado a lado com a construção de processos identitários.”
A construção da identidade na adolescência se faz através da sua história,
suas raízes, ou seja, seus antepassados. Se negamos ou desconhecemos de onde
viemos, não será possível nos aceitarmos e sabermos em qual direção seguir. Para
Erikson (apud SCHOEN-FERREIRA, AZNAR-FARIAS e MATTOS SILVARES (2002,
p.107), “construir uma identidade, implica em definir quem a pessoa é, quais são
seus valores e quais as direções que deseja seguir pela vida. O autor entende que
9
identidade é uma concepção de si mesmo, composta de valores, crenças e metas
com os quais o indivíduo está solidamente comprometido”.
Kimmel e Weiner (apud SCHOEN-FERREIRA, AZNAR-FARIAS e MATTOS
SILVARES, 2002, p.107) afirmam que, “quanto mais desenvolvido o sentimento de
identidade, mais o indivíduo valoriza o modo em que é parecido ou diferente dos
demais e mais claramente reconhece suas limitações e habilidades. Quanto menos
desenvolvida está a identidade, mais o indivíduo necessita do apoio de opiniões
externas para avaliar-se e compreende menos as pessoas como distintas”.
Nesse sentido, a introdução de Lendas e Contos Africanos no universo
cultural dos (das) estudantes da Educação Básica poderá trazer um grande
benefício para o trabalho com a diversidade, a valorização da cultura africana e a
construção da identidade dos(as) alunos(as) negros(as) e não negros(as). De
acordo com Henrique Cunha JR (2006 p.88), “a presença de africanos e
afrodescendentes na cultura e na história do Brasil não se dá de forma completa e
satisfatória como seria simples e natural de se esperar. Esta ausência se dá devido
ao não reconhecimento da contribuição da África ao conhecimento da humanidade”.
Para Gomes (2008, p.22-23),
...Trabalhar com a diversidade na escola não é um apelo romântico do final do século XX e início do século XXI. Na realidade, a cobrança hoje feita em relação à forma como a escola lida com a diversidade no seu cotidiano, no seu currículo, nas suas práticas faz parte de uma história mais ampla. Tem a ver com as estratégias por meio das quais os grupos humanos considerados diferentes passaram cada vez mais a se destacar politicamente as suas singularidades, cobrando que as mesmas sejam tratadas de forma justa e igualitária, desmistificando a idéia de inferioridade que paira sobre algumas dessas diferenças socialmente construídas e exigindo que o elogio à diversidade seja mais que um discurso sobre variedade do gênero humano.
LEITURA E LITERATURA
Segundo Lajolo (2006, p.7), “ninguém nasce sabendo ler: aprende-se à
medida que se vive... Lê-se para entender o mundo para viver melhor...”. A prática
discursiva da leitura é um conteúdo básico, dentro das Diretrizes Curriculares
Estaduais de Língua Portuguesa, em todas as esferas da Educação Básica. No
entanto, para Leite (2004, p.17-25), “a escola trabalha basicamente com três
10
significações da literatura: como instituição nacional e patrimônio cultural, como
sistemas de obras, autores e público e como disciplina escolar que se confunde com
a história literária, assim sendo, a literatura fica somente na reprodução didática dos
valores dominantes.”
Retomando Lajolo (2006, p.7), “se aprendemos a ler à medida que vivemos e
lemos para entender o mundo”, fica evidente que crianças e adolescentes,
negros(as) ou afrodescendentes, que somente entraram em contato com a literatura
de forma didática e reprodutora dos pensamentos elitistas não tiveram o prazer de
vê-la como arte, cultura e herança do seu povo. Ao mesmo tempo, foi também
negado aos não negros(as) o direito ao conhecimento e a diversidade cultural do
povo brasileiro, deixando assim, uma visão unilateral e reforçando estereótipos
sobre o que tem valor ou não para a sociedade. Portanto, propor um trabalho de
leitura significativa numa perspectiva multicultural representa atender, ao mesmo
tempo, a necessidade e o direito do ser humano de apreender e conhecer as suas
raízes e o mundo.
Para Rojo (2004, p.1-2),
...uma parcela significativa da população brasileira, mesmo estudando, não
lê. A escolarização brasileira não forma leitores e produtores de textos e por
vezes chega a impedi-los. Ainda hoje, ler é para a elite. Isso acontece
porque a escola brasileira trabalha com práticas de mera repetição e
memorização para cumprimento do currículo. Lê-se para literalmente
responder questionários. No entanto, para ser cidadão e cidadã letrado(a) é
necessário fazer a interpretação e relacionar com outros textos e discursos
dentro da prática social; é preciso saber discutir e refletir sobre posições e
ideologias; é trazer o texto para a vida e em relação com ela. Práticas de
leitura são muitas, diversas e dependentes de contextos e capacidades
individuais.
Partindo do pressuposto de que com a literatura, pode-se incentivar a leitura
num sentido multicultural, nos basearemos na Teoria da Estética da Recepção e na
Teoria do Efeito (Bordini e Aguiar, 1993, p.86) buscando “efetuar leituras
compreensivas e críticas; ser receptivo a novos textos e a leitura de outrem;
questionar as leituras efetuadas em relação ao seu próprio horizonte cultural;
transformar os próprios horizontes de expectativas, bem como os dos(as)
professores(as), da escola, da comunidade familiar e social.”
11
Assim esperamos por meio da leitura dos textos literários, Lendas e Contos
Africanos, aprofundar a capacidade de pensamento crítico e a sensibilidade estética,
permitindo a expansão lúdica da leitura. Além é claro, enfatizar a pluralidade étnico-
racial para a construção de sujeitos humanizados, menos preconceituosos e menos
racistas e que sejam capazes de pensar, de refletir, de participar e de dialogar com
os textos buscando sua identidade e pertencimento étnico-social para a elevação de
sua auto-estima e o respeito à diversidade.
12
Objetivos: Colher dados sobre o conceito de cultura e manifestações culturais
dos(as) estudantes; levar os(as) alunos(as) à reflexão sobre a cultura a qual
pertencem e determinar o horizonte de expectativas da turma para prever
estratégias de trabalho com a leitura de Lendas e Contos Africanos.
Pedir para a turma definir ou dar um exemplo de cultura.
Ouvir as colocações dos(as) alunos(as), instigar para que falem o que sabem
sobre cultura, para depois mostrar outras definições.
Mostrar slides com significados e exemplos de cultura para que a turma possa
visualizar e comparar suas idéias sobre a palavra cultura.
CULTURA
São práticas e ações sociais que seguem um padrão determinado no espaço.
Refere-se a crenças, comportamentos, valores, instituições, regras morais que
permeiam e identificam uma sociedade.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura acesso em 26/04/2010.
O SIGNIFICADO de CULTURA por Phil Bartle traduzido por Inês Rato.
A definição mais simples de cultura é que é composta de tudo o que simbólico, que
aprendemos. Toda a cultura é aprendida, mas nem tudo o que é aprendido é cultura.
Inclui todas as nossas ações e crenças que não são transmitidas pelos genes, mas
são transmitidas (e armazenadas) por símbolos.
13
Símbolos não têm sentido por eles próprios (intrinsecamente) a não ser que lhes
sejam dados significados pelos seres humanos.
Fonte: http://www.scn.org/mpfc/modules/per-culp.htm acesso em 26/04/2010.
Cultura é o conjunto de manifestações artísticas, sociais, linguísticas e
comportamentais de um povo ou civilização. Portanto, fazem parte da cultura de um
povo as seguintes atividades e manifestações: música, teatro, rituais religiosos,
língua falada e escrita, mitos, hábitos alimentares, danças, arquitetura, invenções,
pensamentos, formas de organização social, etc.
Cultura afro-brasileira é o resultado do desenvolvimento da cultura africana
no Brasil, incluindo as influências recebidas das culturas portuguesa e indígena.
Fonte: http://www.dicionarioinformal.com.br/buscar.php?palavra=cultura acesso em 26/04/2010.
Por Tiago Dantas
É comum dizermos que uma pessoa não possui cultura quando ela não tem contato com a leitura, artes, história, música, etc. Se compararmos um professor universitário com um indivíduo que não sabe ler nem escrever, a maior parte das pessoas chegaria à conclusão de que o professor é “cheio de cultura” e o outro, desprovido dela. Mas, afinal, o que é cultura? Para o senso comum, cultura possui um sentido de erudição, uma instrução vasta e variada adquirida por meio de diversos mecanismos, principalmente o estudo. Quantas vezes já ouvimos os jargões “O povo não tem cultura”, “O povo não sabe o que é boa música”, “O povo não tem educação”, etc.? De fato, esta é uma concepção arbitrária e equivocada a respeito do que realmente significa o termo “cultura”. Não podemos dizer que um índio que não tem contato com livros, nem com música clássica, por exemplo, não possui cultura. Onde ficam seus costumes, tradições, sua língua? O conceito de cultura é bastante complexo. Em uma visão antropológica, podemos o definir como a rede de significados que dão sentido ao mundo que cerca um indivíduo, ou seja, a sociedade. Essa rede engloba um conjunto de diversos aspectos, como crenças, valores, costumes, leis, moral, línguas, etc. Nesse sentido, podemos chegar à conclusão de que é impossível que um indivíduo não tenha cultura, afinal, ninguém nasce e permanece fora de um contexto social, seja ele qual for. Também podemos dizer que considerar uma determinada cultura (a cultura ocidental, por exemplo) como um modelo a ser seguido por todos é uma visão extremamente etnocêntrica.
Fonte: http://www.alunosonline.com.br/filosofia/o-que-e-cu ltura/ acesso em 19/04/10.
14
Mostrar as imagens e comentá-las fazendo questionamentos sobre o que a turma conhece, já ouviu falar e assistiu na TV. Discutir com a turma sobre as manifestações do seu país, de seu Estado, de sua cidade e sua comunidade. Instigá-los(as) a relacionar as manifestações que fazem parte do seu cotidiano.
Inserir, oralmente, outras manifestações não relacionadas, mas que fazem parte da cultura brasileira. Por exemplo: as danças típicas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, a cultura polonesa e ucraniana, a capoeira, as comidas típicas brasileiras, a música, o carnaval brasileiro, as obras de arte, as lendas e contos, as tradições familiares, etc.
Frevo - Recife – Pernambuco
Fonte: www.ufrpe.br/arquivos/upload/frevo3.JPG acesso em 26/04/2010.
Fonte:http://ricardo-pereira.zip.net/images/mapa.gif acesso em 26/04/2010.
Fonte: http://independenciasulamericana.com.br/wp-content/uploads/2009/12/bumbameuboirt8.jpg acesso em 26/04/2010.
15
Celebração Indígena - Festival de Parintins - C ongada – Artesanato indígena - Região Norte
Fonte: http://www.brasilescola.com/brasil/aspectos- culturais-regiao-norte.htm acesso em 26/04/2010.
16
Cultura Japonesa
Companhia de Dança Tradicional Japonesa, Kikunokai
Fonte: http://www.fjsp.org.br/agenda/08_09_kiku.html acesso em 26/04/2010.
Dança da Cerejeira, Apucarana. Foto Edson Denoli
http://www.prdagente.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=328 acesso em 05/07/2010.
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Religiosidade e Literatura
Fonte: http://religiaoafro.ning.com acesso em 26/04/2010.
Fonte: http://images.quebarato.com.br/photos/big/B/8/431BB8_2.jp acesso em 26/04/2010.
Fonte: http://singrandohorizontes.files.wordpress.com/2008/09/literatura-de-cordel-foto.jpg acesso em 26/04/2010.
Fonte: http://www.ead.pucrs.br/biblioteca/bibliotecadigital/literatura.gif acesso em 26/04/2010.
18
Foto: acervo particular - biblioteca NEAA – UEL
Kirikou e a Feiticeira - Lenda da África Ocidental
Fonte: http://ograndeursopanda.blogspot.com/2008/10/kirikou-e-feiticeira-1998.html acesso em 05/07/2010.
19
Observar o envolvimento e o interesse da turma em relação ao diálogo sobre cultura;
Organizar a classe em grupos e pedir para que, no caderno, listem exemplos de tradições culturais que fazem parte da cultura de seus familiares: religiosidade, festas, crenças, culinária, roupas, histórias contadas pelos mais velhos, músicas, arte e outras.
Cada grupo deve ter um(a) relator(a) para apresentar a sua listagem.
O objetivo dessa atividade é a valorização da cultura local e da família, ou seja,
nossas raízes.
Em conjunto com as disciplinas de Arte e História, organizar uma exposição
com objetos, fotos, histórias contadas (lendas e outras), artesanato, músicas que
representam a cultura da família ou a cultura da comunidade local.
20
Objetivos: Apresentar Lendas e Contos Africanos e atender aos horizontes de expectativas dos(as) estudantes; discutir com a turma o tema abordado; explorar o vocabulário e a compreensão dos textos.
Ampliamos um pouquinho o nosso conceito sobre cultura e manifestações culturais, agora, vamos trabalhar com Lendas e Contos. Mas, antes vamos aprender os seus significados e a diferença entre Mitos e Fábulas.
Mito (do grego antigo µυθος, translit. "mithós") é uma narrativa de caráter simbólico,
relacionada a uma dada cultura. O mito procura explicar a realidade, os principais
acontecimentos da vida, os fenômenos naturais, as origens do Mundo e do Homem
por meio de deuses, semi-deuses e heróis.
Ao mito está associado o Rito . O Rito é o modo de se pôr em ação o mito na vida
do Homem - em cerimônias, danças, orações e sacrifícios.
O termo "mito" é, por vezes, utilizado de forma pejorativa para se referir às crenças
21
comuns (consideradas sem fundamento objetivo ou científico, e vistas apenas como
histórias de um universo puramente maravilhoso) de diversas comunidades. No
entanto, até acontecimentos históricos se podem transformar em mitos, se
adquirem uma determinada carga simbólica para uma dada cultura. Na maioria das
vezes, o termo refere-se especificamente aos relatos das civilizações antigas que,
organizados, constituem uma mitologia - por exemplo, a Mitologia Grega , a
Mitologia Romana e a Mitologia Africana.
Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Mito acesso em 06/07/2010.
Lenda é uma narrativa fantasiosa transmitida pela tradição oral através dos tempos.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Lenda acesso em 26/04/2010.
Conto é um texto literário, que reproduz seu objetivo na exemplaridade de um
instante da condição humana, caracteriza-se pela presença de elementos internos
(narrador/narratário), agindo em um contexto universal, de situações significativas
que despertam interesse e sensações no leitor, por meio de um conflito ficcional,
não linear, que se estabelece em sua trama.
Fonte: http://recantodasletras.uol.com.br/teorialiteraria/1425228 acesso em 26/04/2010.
Fábula é uma história narrativa que surgiu no Oriente, mas foi particularmente
desenvolvido por um escravo chamado Esopo, que viveu no século 6º. a.C., na
Grécia antiga. Esopo inventava histórias em que os animais eram os personagens.
Por meio dos diálogos entre os bichos e das situações que os envolviam, ele
procurava transmitir sabedoria de carácter moral ao homem. Assim, os animais, nas
fábulas, tornam-se exemplos para o ser humano. Cada bicho simboliza algum
aspecto ou qualidade do homem como, por exemplo, o leão representa a força; a
raposa, a astúcia; a formiga, o trabalho etc. É uma narrativa inverossímil, com fundo
didático. Quando os personagens são seres inanimados, objetos, a fábula recebe o
nome de apólogo. A temática é variada e contempla tópicos como a vitória da
fraqueza sobre a força, da bondade sobre a astúcia e a derrota de preguiçosos.
Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%A1bula acesso em 06/07/2010.
22
A literatura oral ou escrita faz parte da cultura dos povos.
Explorar com a classe sobre Lendas ou Contos que já ouviram ou conhecem.
Com certeza surgirão exemplos de Lendas das mais diversas, principalmente
as lendas urbanas exploradas pela televisão.
Perguntar para a turma se conhece alguma Lenda ou Conto Africano.
As histórias africanas são tipicamente orais, passadas de geração em
geração, o que caracteriza a predominância da linguagem coloquial (falada).
Questionar o que há em comum entre a nossa cultura e a africana. Comentar
sobre os cinco países do continente africano que falam o português (Angola, Cabo
Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe). Além do português
falam também outras línguas e dialetos (variante regional de uma língua). Segundo
Rita Chaves, professora de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa da
Universidade de São Paulo (USP), a África permanece desconhecida entre nós,
ainda que todos os dias algo venha nos lembrar dos laços que nos unem, no caso
desses cinco países, passam especialmente pela língua portuguesa que é a mesma
e tão diversa, por isso encontramos particularidades na língua falada nesses países
com a que falamos aqui no Brasil.
23
Literatura Africana
� Literatura Tradicional - velhos tempos (Angola, Cabo-Verde e Moçambique eram ágrafas)
Segundo o missionário suíço Héli Chatelain, que chegou a Angola em 1885 e se dedicou a recolher e estudar a literatura oral de outros povos africanos, a literatura oral angolana se apresentava em seis categorias.
Histórias de ficção: mi-soso em quimbundo, histórias que pendem para o maravilhoso, o fantástico, o excepcional. As fábulas aí também caberiam.
Histórias verdadeiras: maka, tanto eram de finalidade útil para instruir e prevenir, como lúdica para lazer ou prazer.
Ma-lunda (ou mi-sendu), nas quais os feitos da nação ou da tribo eram transmitidos entre velhos e anciões de geração a geração.
Provérbios: síntese de uma história (ji-sabu), filosofia da nação ou tribo, no que toca a seus costumes e tradições.
Poesia e música (canções mi-embu) com vários estilos, desde o épico até o dramático.
Adivinhas (ji-nongongo), tanto para entreter como para incitar a inteligência e a memória.
� Literatura Colonial (outros tempos)
O desenvolvimento cultural no interior das colônias africanas demorou
para receber os influxos de fora.
� Literatura Nacional (tempos novos)
A virada do século já é marcada pelos movimentos da “Negritude” e as
questões africanas alcançaram o estágio de polêmica em foros internacionais.
Maria Aparecida Santilli Estórias Africanas: História e Antologia (1985, p. 7-11), Editora Ática.
24
Mito
Fonte: http://merafantasia.blogspot.com/2008/05/anansi.html acessado em 26/04/2010
Anansi ou Ananse é um herói da cultura Ashanti, povo de Ghana, também chamado "O Aranha".
É o intermediário do deus do Céu Nyame, seu pai, que comanda Anansi para
levar chuva para apagar o fogo em florestas e determina os lugares que Anansi deve
"fazer" barreiras em oceanos e rios, em grandes inundações.
Estas funções de Anansi se aproximam com as do camaleão, alguns dizem
que o camaleão roubou as funções de Anansi. Sua mãe, Asase Ya, é considerada,
por vezes, a criadora do Sol, da Lua e das Estrelas, bem como aquela que instituiu a
sucessão do dia e da noite. Diz-se que Asase Ya também criou o primeiro homem e
que Nyame deu o sopro de vida.
Anansi é astucioso e matreiro. Ensinou a humanidade como semear grãos e
como usar a pá nos campos. Anansi é o mito africano mais popular.
Hoje, a figura de Anansi tornou-se muito conhecida entre as crianças e
jovens, por ter tido sua performance caricaturada a uma aranha infantil, que conta
histórias, mitos e fábulas dos diversos lugares, civilizações e culturas africana.
Texto de Rovena
Fonte: http://www.kwecejaneji.org/getFrames.asp?md=2&id=41acesso em 26/04/2010.
25
Lenda 1 Conta um caso interessante, no qual no mundo antigo não havia histórias e por isso
viver aqui era muito triste.
Houve um tempo em que na Terra não havia histórias para se contar, pois
todas pertenciam a Nyame, o Deus do Céu. Kwaku Ananse, o Homem Aranha,
queria comprar as histórias de Nyame, o Deus do Céu, para contar ao povo de sua
aldeia, então por isso um dia, ele teceu uma imensa teia de prata que ia do céu até o
chão e por ela subiu.
Quando Nyame ouviu Ananse dizer que queria comprar as suas histórias, ele
riu muito e falou: - O preço de minhas histórias, Ananse, é que você me traga
Osebo, o leopardo de dentes terríveis; Mmboro os marimbondos que picam como
fogo e Moatia a fada que nenhum homem viu.
Ele pensava que com isso, faria Ananse desistir da idéia, mas ele apenas
respondeu: - Pagarei seu preço com prazer, ainda lhe trago Ianysiá, minha velha
mãe, sexta filha de minha avó.
Novamente o Deus do Céu riu muito e falou: - Ora Ananse, como pode um
velho fraco como você, tão pequeno, tão pequeno, pagar o meu preço?
Mas Ananse nada respondeu, apenas desceu por sua teia de prata que ia do
Céu até o chão para pegar as coisas que Deus exigia. Ele correu por toda a selva
até que encontrou Osebo, leopardo de dentes terríveis. - Aha, Ananse! Você chegou
na hora certa para ser o meu almoço. - O que tiver de ser será - disse Ananse - Mas
primeiro vamos brincar do jogo de amarrar? O leopardo que adorava jogos, logo se
interessou: - Como se joga este jogo? - Com cipós, eu amarro você pelo pé com o
cipó, depois desamarro, aí, é a sua vez de me amarrar. Ganha quem amarrar e
desamarrar mais depressa. - disse Ananse. - Muito bem, rosnou o leopardo que
planejava devorar o Homem Aranha assim que o amarrasse.
Ananse, então, amarrou Osebo pelo pé, pelo pé e pelo pé, e quando ele
estava bem preso, pendurou-o amarrado a uma árvore dizendo: - Agora Osebo,
você está pronto para encontrar Nyame o Deus do Céu.
Aí, Ananse cortou uma folha de bananeira, encheu uma cabaça com água e
atravessou o mato alto até a casa de Mmboro. Lá chegando, colocou a folha de
26
bananeira sobre sua cabeça, derramou um pouco de água sobre si, e o resto sobre
a casa de Mmboro dizendo: - Está chovendo, chovendo, chovendo, vocês não
gostariam de entrar na minha cabaça para que a chuva não estrague suas asas? -
Muito obrigado, Muito obrigado!, zumbiram os marimbondos entrando para dentro da
cabaça que Ananse tampou rapidamente.
O Homem Aranha, então, pendurou a cabaça na árvore junto a Osebo
dizendo: - Agora Mmboro, você está pronto para encontrar Nyame, o Deus do Céu.
Depois, ele esculpiu uma boneca de madeira, cobriu-a de cola da cabeça aos
pés, e colocou-a aos pés de um flamboyant onde as fadas costumam dançar. À sua
frente, colocou uma tigela de inhame assado, amarrou a ponta de um cipó em sua
cabeça, e foi se esconder atrás de um arbusto próximo, segurando a outra ponta do
cipó e esperou. Minutos depois chegou Moatia, a fada que nenhum homem viu. Ela
veio dançando, dançando, dançando, como só as fadas africanas sabem dançar, até
aos pés do flamboyant. Lá, ela avistou a boneca e a tigela de inhame. - Bebê de
borracha. Estou com tanta fome, poderia dar-me um pouco de seu inhame?
Ananse puxou a sua ponta do cipó para que parecesse que a boneca dizia
sim com a cabeça, a fada, então, comeu tudo, depois agradeceu: - Muito obrigada
bebê de borracha.
Mas a boneca nada respondeu, a fada, então, ameaçou: - Bebê de borracha,
se você não me responde, eu vou te bater.
E como a boneca continuasse parada, deu-lhe um tapa ficando com sua mão
presa na sua bochecha cheia de cola. Mais irritada ainda, a fada ameaçou de novo: -
Bebê de borracha, se você não me responde, eu vou lhe dar outro tapa.
E como a boneca continuasse parada, deu-lhe um tapa ficando agora, com as
duas mãos presas. Mais irritada ainda, a fada tentou livrar-se com os pés, mas eles
também ficaram presos. Ananse então, saiu de trás do arbusto, carregou a fada até
a árvore onde estavam Osebo e Mmboro dizendo: - Agora Moatia, você está pronta
para encontrar Nyame o Deus do Céu.
Aí, ele foi a casa de Ianysiá sua velha mãe, sexta filha de sua avó e disse: -
Ianysiá venha comigo vou dá-la a Nyame em troca de suas histórias.
Depois, ele teceu uma imensa teia de prata em volta do leopardo, dos
marimbondos e da fada, e uma outra que ia do chão até o Céu e por ela subiu
27
carregando seus tesouros até os pés do trono de Nyame. - Ave Nyame! - disse ele -
Aqui está o preço que você pede por suas histórias: Osebo, o leopardo de dentes
terríveis, Mmboro, os marimbondos que picam como fogo e Moatia a fada que
nenhum homem viu. Ainda lhe trouxe Ianysiá minha velha mãe, sexta filha de minha
avó.
Nyame ficou maravilhado, e chamou todos de sua corte dizendo: - O pequeno
Ananse, trouxe o preço que peço por minhas histórias, de hoje em diante, e para
sempre, elas pertencem a Ananse e serão chamadas de histórias do Homem
Aranha! Cantem em seu louvor!
Ananse, maravilhado, desceu por sua teia de prata levando consigo o baú das
histórias até o povo de sua aldeia, e quando ele abriu o baú, as histórias se
espalharam pelos quatro cantos do mundo vindo chegar até aqui.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ananse acesso em 26/04/2010.
Lenda 2
Rogério Andrade Barbosa
Esta história é do tempo em que o porco morava com o dentuço do seu tio, o
javali, lá no meio da mata africana.
Os dois passavam as manhãs, alegres e despreocupados, fuçando o chão em
busca de frutas e raízes. À tardinha, depois de ficarem horas e horas se banhando e
chafurdando nas águas dos inumeráveis rios que cortam a profundeza da selva,
regressam à casa, situada no oco de uma árvore muito velha, para tirarem uma
longa soneca.
O javali adorava a vida ao ar livre. Graças aos seus pontiagudos e afiados
dentes, não era incomodado, nem mesmo pelo poderoso rei da selva: o leão, que o
tratava com todo respeito.
Mas o porco, muito do preguiçoso, vivia reclamando de tudo. Um dia, ele
chegou perto do tio e anunciou:
- Eu quero morar na aldeia dos homens.
28
- O quê? – respondeu o surpreso javali. – As pessoas que moram naquelas
estranhas cabanas cobertas de palha não gostam de bichos. Vão te prender –
avisou.
- Estou cansado de comer frutas e raízes todos os dias – protestou o porco.
- Não faça isso, sobrinho - pediu o javali. – Aqui nós vivemos em liberdade e
junto à natureza – aconselhou o mais velho.
O porco, que vivia sonhando poder saborear as guloseimas dos caldeirões
fumegantes das mulheres, não deu ouvidos às advertências do tio e partiu no dia
seguinte.
A viagem até a aldeia dos homens foi longa, penosa e cheia de perigos. Mas
o guloso, farejando a comida no ar, acabou chegando a um grande povoado.
As crianças do vilarejo, assim que avistaram o animal, foram correndo chamar
os adultos. Os homens, armados de paus e porretes, pegaram o pobre do porco e o
colocaram dentro de um cercado.
Desde esse dia ele vive preso no chiqueiro comendo restos de comida e,
lamentando a sua sorte, choraminga dia e noite:
- Bem que meu tio disse para eu não vir para a aldeia dos homens.
In: Histórias africanas para contar e recontar (200 1, p.15), Editora do Brasil.
Lenda 3
Rogério Andrade Barbosa
O cachorro, que todos dizem ser o melhor amigo do homem, vivia
antigamente no meio do mato com seus primos, o chacal e o lobo.
Os três brincavam de correr pelas campinas sem fim, matavam a sede nos
riachos e caçavam sempre juntos.
Mas, todos os anos, antes da estação das chuvas, os primos tinham
dificuldades para encontrar o que comer. A vegetação e os rios secavam, fazendo
com que os animais da floresta fugissem em busca de outras paragens.
29
Um dia, famintos e ofegantes, os três com as línguas de fora por causa do
forte calor, sentaram-se à sombra de uma árvore para tomarem uma decisão.
- Precisamos mandar alguém à aldeia dos homens para apanhar um pouco
de fogo – disse o lobo.
- Fogo? – perguntou o cachorro.
- Para queimar o capim e comer gafanhotos assados – respondeu o chacal
com água na boca.
- E quem vai buscar o fogo? – tornou a perguntar o cachorro
- Você! – responderam o lobo e o chacal, ao mesmo tempo, apontando para o
cão.
De acordo com a tradição africana, o cão, que era mais novo, não teve outro
jeito, pois não podia desobedecer a uma ordem dos mais velhos. Ele ia ter que fazer
a cansativa jornada até a aldeia, enquanto o lobo e o chacal ficavam dormindo numa
boa.
O cachorro correu e correu até alcançar o cercado de espinhos e paus
pontudos que protegia a aldeia dos ataques dos leões. Anoitecia, e das cabanas
saía um cheiro gostoso. O cachorro entrou numa delas e viu uma mulher dando de
comer a uma criança. Cansado, resolveu sentar e esperar a mulher se distrair para
pegar um tição.
Uma panela de mingau de milho fumegava sobre uma fogueira. Dali, a
mulher, sem se importar com a presença do cão, tirava pequenas porções e as
passava para uma tigela de barro.
Quando terminou de alimentar o filho, ela raspou o vasilhame e jogou o resto
do mingau para o cão. O bicho, esfomeado, devorou tudo e adorou. Enquanto
comia, a criança se aproximou e acariciou o seu pêlo. Então, o cão disse para si
mesmo:
- Eu é que não volto mais para a floresta. O lobo e o chacal vivem me dando
ordens. Aqui não falta comida e as pessoas gostam de mim. De hoje em diante.
Vou morar com os homens e ajudá-los a tomar conta de suas casas.
E foi assim que o cachorro passou a viver junto aos homens. E é por causa
disso que o lobo e o chacal ficam uivando na floresta, chamando pelo primo fujão.
In: Histórias africanas para contar e recontar (200 1, p.25), Editora do Brasil.
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Fábula
Afonso Soares Lopes
Na grande Reserva de Amboseli, no Quênia, muito perto do monte
Quilimanjaro, onde existe uma enorme variedade de animais selvagens,
vivia um grande elefante solitário. Era um animal imponente que possuía
duas presas de tamanho invulgar. Todos os outros animais o temiam.
Quando ele se aproximava de um bebedouro para beber e para se
espojar, emitia dois bramidos avisadores e todos os animais que ali
estivessem abandonavam de imediato o local. De tanto o temerem este
elefante começou a tornar-se vaidoso e arrogante.
A partir daí, os confrontos com outros elefantes do Parque, eram
quase diários. Normalmente saia sempre vitorioso de todos os combates.
Proclamava então as suas vitórias com muito alarido para que todos os
outros animais o ouvissem. “Eu sou o animal mais forte da selva! A mim
ninguém me consegue vencer! Quem não estiver ainda convencido de que
eu é que sou o rei da selva que venha mostrar-me o contrário.”
Um Papagaio que estava empoleirado no alto de uma grande árvore,
começou a dar gargalhadas. O elefante olhou para todos os lados e não
viu bicho nenhum. Ficou muito intrigado. Quem seria o louco que ousava
rir-se dele de uma forma tão atrevida? Virou a cabeça para todos os
lados, mas nada conseguiu descortinar. Mas as gargalhadas continuavam.
— “Quem é o imprudente que se está a rir de mim e que não se
mostra? – perguntou o Elefante.”
— “Olha, Elefante, sou eu o Papagaio cinzento. Eu não estou
escondido. Estou aqui no alto desta acácia! Tenho estado a ouvir as tuas
bravatas e acho-te muito vaidoso e gabarolas. Eu não tenho nenhum medo
de ti apesar do teu tamanho. Felizmente não consegues voar e, por isso,
não me consegues fazer mal nenhum.”
31
— “Por que me chamas gabarolas, Papagaio? Conheces algum
bicho que me consiga vencer?”
— “Na verdade, assim de repente, não conheço, mas, sei lá, talvez
haja algum!”
—“Até hoje ainda não vi nenhum outro animal que tivesse a coragem
de me fazer frente e, certamente, nunca o verei.”
—“Olha Elefante, não digas disparates. És um fanfarrão e podes vir
a pagar pela língua.”
O Elefante estava com uma vontade enorme de castigar o Papagaio
pelo seu atrevimento, mas o Papagaio pressentindo as suas más
intenções levantou voo em direcção à montanha onde vivia.
Quis, então, o destino aplicar ao Elefante uma tremenda lição.
Um dia, depois de um lauto almoço, o Elefante sentiu um profundo
sono e deitou-se na relva à sombra de uma grande figueira brava.
Ficou ali espojado e regalado sem sequer se aperceber que, bem
perto dele, um batalhão de formigas guerreiras (Quissondes) se preparava
para abandonar o seu formigueiro e iniciar uma expedição guerreira.
Quando as formigas depararam com aquele animal gigantesco,
imóvel, atravessado no seu caminho, ficaram furiosas e começaram a
trepar por ele, dispostas a atacá-lo, sem ter qualquer respeito pelo seu
grande tamanho.
A pele do Elefante era tão dura, tão espessa e tão insensível que as
mordidelas que as formigas lhe aplicavam, nem sequer eram sentidas pelo
paquiderme. Mas tudo mudou de figura, quando algumas formigas
irromperam pela tromba do Elefante e se introduziram dentro dela.
Quando as formigas guerreiras, dotadas de grandes cabeças e
fortes tenazes, começaram a ferrar as mucosas sensíveis da grande
tromba do paquiderme, este levantou-se aflito, emitindo fortes bramidos
de dor e de raiva.
Para se tentar livrar das atrevidas intrusas, desatou a correr, a
soprar e a abanar a tromba. Precipitou-se logo para o bebedouro mais
próximo e enchendo e esvaziando a tromba rapidamente com água,
32
pensou que se poderia livrar das formigas. Mas, na verdade, a água
soprada com toda a força de pouco lhe valeu. As formigas estavam
firmemente fixadas no interior sensível da sua tromba e o elefante não
conseguia livrar-se delas.
Aflito com as fortes ferroadas que sentia, começou a bater
desesperadamente, com a tromba nas árvores e a soprar com quanta
força tinha. O barulho que fazia ecoava por toda a floresta e nenhum
bicho conseguia entender por que razão estaria o elefante a comportar-se
daquela forma. O barulho que fez conseguiu ouvir-se até no monte
Quilimanjaro e foi escutado na toca do Papagaio.
“Que será isto, todo este enorme alarido? – interrogava-se o
Papagaio ao tirar a sua cabeça para fora do ninho. Parecem-me os
bramidos do Elefante vaidoso. Quem mais poderia fazer tanto barulho a
esta hora? Deixa-me ver o que se está a passar!” Dizendo isto, o
Papagaio saltou para fora da sua toca e elevou-se nos ares, batendo
rapidamente as asas para poder tomar altura. Ainda não tinha voado cinco
minutos, quando avistou ao longe o Elefante num galope desenfreado pela
savana. “Mas que terá acontecido, para que o Elefante esteja a correr
desta forma? Nunca o vi fazer isto antes! Vou aproximar-me, para poder
saber o que se está a passar.” E assim, o nosso papagaio cinzento,
começou a baixar e a aproximar-se do Elefante. A aflição do Elefante não
tinha limites. Agora estava a bater com a tromba numa grande acácia,
como se a quisesse destruir. Quando o Papagaio se aproximou mais,
reparou que o elefante estava com a tromba a sangrar abundantemente,
com os olhos injectados de sangue e com uma respiração ofegante, que
denunciava um enorme cansaço físico.
O Papagaio voou então sobre a sua cabeça e com a voz mais alta
que conseguiu fazer, perguntou: – “Elefante, Elefante, porque estás nesse
imenso desespero? O que se passa? Será que eu te consigo ajudar?”
— “Ai Papagaio cinzento, estou desgraçado, já nada me pode
valer?”
—“Mas porquê elefante? Que foi que te aconteceu?”
33
— “Fui atacado pelos quissondes e a minha tromba está cheia
deles. Não aguento mais este sofrimento. Eu quero morrer.”
O Papagaio que conhecia muito bem os quissondes, por já uma vez
o terem mordido numa perna, compreendeu logo toda a extensão da
tragédia do Elefante. E, falando em voz baixa, para com os seus botões,
disse:
“Coitado está mesmo desgraçado”.
Na verdade, um dia depois, o Elefante morreu, com a tromba
rebentada de tantas pancadas que deu nas árvores para se livrar das
formigas, mas sem qualquer sucesso...
Moral: – Que ninguém se envaideça por ser grande e forte e se
proclame invencível. O destino pode castigá-lo cruelmente, utilizando
meios aparentemente insignificantes e difíceis de imaginar.
Fonte: http://www.joaodorio.com/Arquivo/2006/06,07/lendas.htm. acesso em 26/04/2010.
O quissonde é uma formiga muito semelhante, à terrí vel
marabunta. Vive em grandes formigueiros debaixo da terra. São
verdadeiras comunidades, formados por formigas obre iras, por
soldados e por formigas comandantes. Quando chegam as grandes
chuvas, saem da terra e iniciam as suas expedições guerreiras.
São duma ferocidade impressionante. A tacam todos os animais
que encontram no seu caminho, quer sejam insectos, aves, repteis ou
mamíferos. Os animais que são dominados por elas, s ão devorados
vivos.
Os invertebrados nem sequer deixam vestígios, mas o s
vertebrados são despojados de toda a sua carne e de todos os orgãos
internos, ficando apenas os seus esqueletos limpos, para provar do que
34
morreram.
“O autor deste conto, teve vários encontros com os quissondes e
foi mordido muitas vezes por eles. Estas formigas p rogridem
rapidamente no terreno, formando colunas, verdadeir os batalhões de
assalto. As colunas são defendidas pelos soldados q ue entrelaçam as
patas e as tenazes, e formam túneis, por onde se de slocam. As obreiras
são as que carregam os saques e os esquadrões que a s apoiam.
Quando o autor interrompia a marcha das formigas, d esfazendo-lhe os
túneis, tinha que sair de imediato do local, pois o s soldados fortemente
irritados disparavam em todas as direcções, para de scobrir e alcançar o
atacante”.
Os c amponeses africanos gostam que os quissondes
inspeccionem as suas cabanas, porque as libertam de todos os ratos,
insectos indesejáveis, cobras e parasitas. Uma inva são de formigas
guerreiras é uma verdadeira desparasitação natural a cem por cento.
A casa do autor foi, certa vez, atacada por uma gra nde invasão de
quissondes, que só a cinza quente e pneus velhos a arder conseguiu
ser derrotada. Mas as capoeiras que foram atacadas durante a noite,
ficaram sem galinhas, sem coelhos, sem patos e sem perus, que foram
literalmente devorados durante a noite por não term os conseguido
pressentir o ataque.
Nessa altura, atacaram também uma grande colmeia de abelhas,
que possuíamos, na horta, o que fez com que as abel has desesperadas
abandonassem a colmeia e furiosas começassem a mord er em toda a
gente.
Os comandantes guerreiros possuem umas cabeças tão
desenvolvidas e umas tenazes tão fortes, que quando mordem,
prendem-se à carne pelas tenazes. “Ao puxar-se pela s formigas, ficam-
nos os seus corpos nos dedos, mas as suas cabeças e tenazes
permanecem firmemente presas à nossa pele.”
Fonte: http://www.joaodorio.com/Arquivo/2006/06,07/lendas. htm acesso em 26/04/2010 .
.
35
Após a leitura, explorar com os(as) alunos(as) o conteúdo temático dos
textos, interlocutor, intencionalidade, informatividade, vozes sociais presentes no
texto, elementos composicionais do gênero, vocabulário, expressões, diferenças do
português do Brasil para o de Portugal, (no caso do texto de Afonso Soares Lopes),
argumentos, intertextualidade, discurso direto e indireto, marcas lingüísticas: coesão,
coerência, função das classes gramaticais no texto, recursos gráficos (como aspas,
travessão, negrito), figuras de linguagem e outros.
Formar grupos para trabalhar com as histórias. Cada grupo vai escolher uma
das atividades abaixo para a realização da tarefa: Recontar a história através de
desenho; Dramatizar; Parodiar ou mudar o final. Cada equipe vai trabalhar com a
história que mais gostou ou a que a maioria escolher. Trabalhos prontos! É hora de
apresentar para turma e/ou se possível para outras turmas da escola.
Avaliar a participação e interesse da turma. A interação e dedicação ao
realizar o trabalho em grupo.
Através do diálogo, observar se houve crescimento sobre a cultura em
questão e aprendizagem significativa.
Em parceria com as disciplinas de Geografia, História e Arte pesquisar o
mapa do continente africano para localizar os países que aparecem nos textos.
36
Pesquisar sobre sua população, economia, cultura e outras curiosidades. Montar um
painel para expor as pesquisas.
37
Objetivos: Romper as expectativas em relação às leituras anteriores; aguçar a curiosidade e apresentar novos temas e desafios para leitura, reflexão e questionamentos.
Antes de começarmos vamos saber sobre um instrumento que faz parte da cultura e religiosidade africana, vocês conhecem o tambor africano?
Fonte: http://raizculturablog.wordpress.com/2008/01/26/a-ancestralidade-o-tambor-e-uma-historia/ acesso em 06/05/2010.
38
Tambores são tão ancestrais quanto o próprio homem. Os primeiros foram
criados e manuseados ainda na Pré – História, com o objetivo de cultuar Deuses e
como forma de agradecer a comida conseguida por meio da caça aos animais.
Milênios se passaram e centenas de representações religiosas ou espirituais
foram criadas de acordo com a cultura e a cosmovisão de cada povo, de cada etnia,
principalmente de acordo com os padrões sócio – econômicos de cada época.
Imagens, cerimônias, mitologia, liturgias, símbolos, tambores, chocalhos e
atabaques, são expressões da arte na religiosidade e na espiritualidade.
O homem pré – histórico acreditava que a pele de sua caça esticada em
troncos de arvores reproduzia o choro do animal morto. E foi com esse sentimento
de gratidão que passou a consagrar a morte de sua caça. Pode – se dizer que esse
foi um dos princípios da manifestação religiosa do homem e a origem dos tambores.
O toque do tambor revela a arte de conectar – se com a Mãe Terra e com
nosso eu interior, sintonizando nosso coração ao coração dela, e de viajar ao
mundo do invisível, constatando nossa ancestralidade e todos os reinos da
Natureza. Os tambores são utilizados desde as mais remotas eras da humanidade.
Acredita – se que os primeiros tambores fossem troncos ocos de arvores tocados
com as mãos ou galhos.
Posteriormente, quando o homem aprendeu a caçar e as peles de animais
passaram a ser utilizadas na fabricação de roupas e outros objetos, percebeu – se
que ao esticar uma pele sobre o tronco, o som produzido era mais poderoso. Pela
simplicidade de construção e execução, tipos diferentes de tambores existem em
praticamente todas as civilizações conhecidas.
A variedade de formatos, tamanhos e elementos decorativos dependem dos
materiais encontrados em cada região e dizem muito sobre a cultura que os
produziu. São típicos nos cultos afro-brasileiros; na dança, nos pontos cantados, no
transe.
Nas sociedades africanas, a tradição oral é o método pelo qual histórias e
crenças religiosas são passadas de geração em geração, transmitindo elementos
39
de uma cultura. Uma parte integrante da tradição oral africana é, sem duvida, a
dança e o canto, e o mais importante instrumento musical africano é o tambor, em
diferentes tamanhos e formas e para diferentes fins.
O tambor é utilizado para enviar e receber mensagens espirituais, e é
essencial na preservação da tradição oral. Na religião africana de culto aos Orixás e
Ancestrais, é considerado sagrado, e seu tocador é classificado como um
comunicador oral. Aquele que toca o tambor é um orador e um comunicador de
mensagens sagradas. No ritual religioso, os tambores são o inicio de tudo, sempre
representaram papel muito importante na cultura africana. Existe um antigo
provérbio que diz: ”Quando os tambores são tocados, eles não mentem”.
O ‘ Djembe ‘ é possivelmente o mais influente e a base de todos os outros
tambores africanos, e remota há pelo menos 500 anos d.C. é um tambor sagrado
utilizado em cerimônias de cura, rituais de passagem, culto aos ancestrais e ainda
em danças e socialmente.
Fonte: Revista Espiritual de Umbanda http://estudoreligioso.wordpress.com/2008/10/16/a-utilizao-de-tambores-
em-rituais-religiosos/ acessado em 06/05/2010.
GUINÉ-BISSAU
Corre entre os Bijagós, da Guiné, a lenda de que fo i o Macaquinho de
nariz branco quem fez a primeira viagem à Lua.
A história começou assim:
Nas proximidades de uma aldeia, os macaquinhos de n ariz branco,
certo dia, de que se haviam de lembrar? De fazer um a viagem à Lua e trazê-la
para baixo, para a Terra.
Ora numa bela manhã, depois de terem em vão tentado encontrar um
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caminho por onde subir, um deles, por sinal o mais pequeno, teve uma ideia:
encavalitarem-se uns nos outros. Um agora, outro de pois, a fila foi-se
erguendo ao céu e um deles acabou por tocar na Lua.
Em baixo, porém, os macacos começaram a cansar-se e a impacientar-
se. O companheiro que tocou na Lua nunca mais conse guia entrar. As forças
faltaram-lhes, ouviu-se um grito, e a coluna desmor onou-se.
Um a um, todos foram arrastados na queda e caíram no chão. Apenas
um só, só um macaquito, por sinal o mais pequeno, f icou agarrado à Lua, que
o segurou pela mão e o ajudou a subir.
A Lua olhou-o com espanto e tão engraçadinho o acho u que lhe deu de
presente um tamborinho.
O Macaquinho começou a aprender a tocar no seu tamb orinho e por
longos dias deixou-se ficar por ali. Mas tanto ando u, tanto passeou, tanto no
tamborinho tocou, que os dias se passaram uns atrás dos outros e o
macaquinho de nariz branco começou a sentir profund as saudades da Terra e
das suas gentes. Então, foi pedir à Lua que o deixa sse voltar.
— Para que queres voltar?
— Tenho saudades da minha terra, das palmeiras, das mangueiras, das
acácias, dos coqueiros, das bananeiras.
A Lua mandou-o sentar no tamborinho, amarrou-o com uma corda e
disse-lhe:
— Macaquinho de nariz branco, vou-te fazer descer, mas toma tento no
que te digo. Não toques o tamborinho antes de chega res lá abaixo. E quando
puseres os pés na Terra, tocarás então com força pa ra eu ouvir e cortar a
corda. E assim ficarás liberto.
O Macaquinho, muito feliz da vida, foi descendo sen tado no tambor.
Mas a meio da viagem, oh!, Não resistiu à tentação. E vai de leve, levezinho,
de modo que a Lua não pudesse ouvir, pôs-se a tocar o tambor tamborinho.
Porém, o vento soltando brandos rumores fazia estre mecer levemente a
corda. Ouviu a Lua os sons compassados do tantã e p ensou: “O Macaquinho
chegou à Terra”. E logo mandou cortar a corda.
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E eis o Macaquinho atirado ao espaço, caindo desamp arado na ilha
natal. Ia pelo caminho diante uma rapariga cantando e meneando- se ao ritmo
de uma canção. De repente viu, com espanto, o infel iz estendido no chão. Mas
tinha os olhos muito abertos, despertos, duas brasa s produzindo luz. O
tamborinho estava junto dele. E ainda pôde dizer à rapariga que aquilo era um
tambor e o entregava aos homens do seu país.
A moça, ainda não refeita da surpresa, correu o mai s velozmente que
pôde a contar aos homens da sua raça o que acabava de acontecer.
Veio gente e mais gente. Espalhavam-se archotes. Ou viam-se canções.
E naquele recanto da terra africana fazia-se o prim eiro batuque ao som do
maravilhoso tambor.
Então os homens construíram muitos tambores e, dent ro em pouco,
não havia terra africana onde não houvesse esse que rido instrumento.
Com ele transmitiam notícias a longas distâncias e com ele festejavam
os grandes dias da sua vida e a sua raça.
O tambor tamborinho ficou tão querido e tão estreme cido do povo
africano que, em dias de tristeza ou em dias de ale gria, é ele quem melhor
exprime a grandeza da sua alma.
FERREIRA, Manuel. No tempo em que os animais falavam . v. 5, Colecção Novas Leituras Africanas de Língua Portuguesa, Bissau: Editorial d o Ministério da Educação, s/d. Fonte:
http://www.dsignos.com.br/newsletter_arquivos/Africa%20Guine%20Bissau%20Tambor%20Africano.pdf
acesso em 06/05/2010.
42
Mito
Agora observem as imagens abaixo.
Fonte:
http://umbandabrasileira.files.wordpress.com/2008/1 1/
yemanja_lidia_de_almeida.jpg acesso em 08/07/2010.
Fonte: http://afro-umbandista.ning.com/ acesso
em 08/07/2010.
Vocês conhecem essas imagens, quem são elas?
IEMANJÁ , a grande mãe, o oceano que origina tudo.
De seu ventre saíram todos os Orixás, dos seus seios correm os rios que
fertilizam a terra. Como toda matriarca, é benevolente e preocupada com o bem-
estar de todos, mas exerce uma autoridade mais pela astúcia que pela força.
Iemanjá é a imperatriz fecunda e resoluta totalmente aberta à criatividade.
Deusa da nação Egbá, nação Iorubá, onde existe o rio IEMANJÁ.
A umbanda por influência do sincretismo promoveu IEMANJÁ como nova
entidade, criação puramente brasileira. Moralizada como mãe de todos os orixás,
43
assimilando-a com Nossa Senhora, mãe de Deus. Nela ficam condensadas as
características das diversas entidades femininas.
Falar sobre os orixás da religiosidade de matriz africana, perguntar sobre o
que a turma conhece ou já ouviu falar sobre a religiosidade africana.
Apresentar aos alunos(as) alguns orixás e explicar sobre o grande
preconceito que há sobre religiosidade de matriz africana por causa da falta de
conhecimento e do respeito das pessoas para as culturas diferentes. Visitar os sites
abaixo:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Religi%C3%B5es_afro-brasileiras; http://iupe.webnode.com/religiosidade-
africana/ acesso em 21/06/2010.
As religiões de matriz africana são constantemente alvo de preconceito
porque tudo o que sabemos sobre elas são versões errôneas, passadas pela mídia
ou por outras pessoas sem o devido conhecimento e respeito por essa cultura.
Assim como qualquer outra manifestação religiosa a Umbanda e o Candomblé,
religiões de matriz africana mais conhecidas e praticadas no Brasil, merecem nosso
respeito e admiração.
DEFINIÇÃO DE ORIXÁ
Ori = Coroa; Xá = Luz.
A palavra Orixá quer dizer “Coroa Iluminada”; “Espírito de Luz”. O princípio mais
evoluído existente em nosso sistema, manifestado através das forças da
natureza. http://www.caboclopery.com.br/interest.htm acesso em 21/06/2010.
Exu: o mensageiro, o ponto de contato entre os Orixás e os seres humanos;
Oxalá: o senhor da força, o senhor do poder da vida.
Oxum: as águas doces;
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Iemanjá: a rainha dos peixes das águas salgadas;
Iansã: os ventos, chuvas fortes, os relâmpagos;
Xangô: a força do trovão e o fogo provocado pelos relâmpagos quando (diz uma
lenda que "sem Iansã, Xangô não faz fogo ... ") chegam à Terra;
Ogum ou Ogun: senhor dos caminhos; os desbravador dos caminhos; senhor do
ferro;
Oxossí: o Orixá Odé, o Orixá caçador, senhor da fartura à mesa, senhor da caça;
Ossãe: o Orixá das folhas e, sem folhas, nada é possível na Umbada ou no
Candomblé; o dono, preservador, das matas e florestas, das folhas medicinais, das
ervas de culto;
Obá: o guerreiro, a força da libertade;
Nanã: senhora do lodo, das águas lodosas da junção entre o rio e o mar, fonte de
vida, e também senhora da morte;
Obaluayê: "O dono da Terra, o Senhor da Terra"; o Orixá das doenças, senhor dos
mortos (pois conta uma lenda que Obaluayê foi o único Orixá que dominou a
morte, Iku); é aquele que tira a doença, mas também aquele que dá a doença.
Oxumaré: é o Orixá do arco-íris, um dos pontos de ligação entre o Aye (a Terra) e
o Orun (o Céu); também representa a fartura, o bem estar.
Fonte:http://www.umbanda.etc.br/orixas/orixas.html acesso em 21/06/2010.
Vamos conhecer agora outras Lendas e Contos Africanos, Indígenas e
Hinduístas envolvendo o imaginário religioso e outros temas.
Dividir a turma em grupos e pedir que cada equipe faça a leitura de um texto
diferente e apresente para a turma, assim todos conhecerão os diferentes textos.
Após a leitura discutir com a turma os temas de cada texto, suas diferenças e se-
melhanças.
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(Conto Iorubá da Nigéria e de outros países da África Ocidental)
Quando ainda não existia nada como conhecemos hoje, havia apenas uma
grande extensão de céu e uma enorme extensão de mar. Olorum era o rei e deus
do céu e Olocum era a rainha e deusa do mar. Os dois reinos estavam totalmente
separados e nunca houvera nenhum conflito entre essas duas divindades. Olorum
estava satisfeito com seu reino e quase nunca sabia de nada do que acontecia
abaixo do céu. Olocum também estava contente com seu reino, embora ali não
houvesse vegetação nem criaturas de espécie alguma.
Mas o jovem aprendiz de deus Obatalá, que não concordava muito com
essa divisão, olhou para baixo lá de cima do céu e disse a si mesmo:
_ O reino que temos abaixo de nós tem um aspecto deplorável. É preciso
fazer alguma coisa para melhorá-lo! Se pelo menos houvesse montanhas e
bosques para dar-lhe outro aspecto e um pouco mais de cor!
Foi assim que Obatalá decidiu ir ver seu rei Olorum para explicar-lhe sua idéia.
_ Preciso admitir que você tem razão. As montanhas e os vales que você
descreve seriam muito melhores que essa mancha cinza imensa que temos lá
embaixo. Mas quem vai criar esse novo mundo? E de que jeito? _ disse Olorum.
_ Se você deixar, eu mesmo vou tentar _ respondeu Obatalá, com voz
segura.
_ Está bem. Tem minha permissão. Mas antes você terá que ir ver meu filho
Orunmilá. Você sabe que ele tem poder de prever acontecimentos futuros e de
encontrar soluções.
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No dia seguinte, Obatalá foi ver o filho de Olorum. Depois de fazer seu ritual
de adivinhação, Orunmilá disse:
_ você precisa encontrar uma corrente de ouro tão comprida que lhe
permita descer do céu até as águas do reino que temos embaixo. Ao descer, tem
que levar junto um caracol cheio de areia, uma galinha branca, um gato preto e
uma tâmara. É tudo o que você necessita para conseguir seu intento.
Obatalá ouviu-o atentamente. A primeira coisa que fez foi ir ver um ferreiro
para encomendar-lhe a corrente de ouro. Mas acontece que ele não tinha ouro
suficiente. Assim, teve que visitar todos os deuses do reino de Olorum para pedir
que lhe dessem ouro para fabricar a corrente mais comprida possível. Quando a
corrente ficou pronta, Orunmilá deu um saco a Obatalá. Dentro dele havia tudo de
que ele precisava: o caracol cheio de areia, a galinha branca, o gato preto e a
tâmara. O jovem deus amarrou o saco nas costas e começou a descer pela
corrente até as águas. Descia e descia lentamente, sentindo a umidade que subia
das águas. Até que a corrente acabou..., mas ele ainda estava alto demais para
pular! De repente, ouviu a voz de Orunmilá, que lhe ditava o que devia fazer:
_ Pegue o caracol que você tem dentro do saco e jogue toda a areia na
água!
Obatalá fez o que dizia Orunmilá.
_ Agora jogue a galinha _ gritou Orunmilá.
Obatalá pegou a galinha do saco e a jogou nas águas. A galinha foi cair
onde havia caído antes a areia. Tentava caminhar por cima das águas para não se
afogar, e os grãos de areia iam se transformando em terra firme e seca. Os grãos
maiores se convertiam em montes e, entre os montes, apareciam vales. Obatalá
decidiu que já podia pular da corrente. Caiu sobre a terra e andou todo sorridente.
Agora havia terra em todas as direções. No lugar onde caiu ao saltar da corrente,
ou seja, no primeiro pedaço de terra que pisou, ele abriu um buraco com as mãos
e plantou a tâmara. Imediatamente a tâmara se transformou numa palmeira e um
pouco adiante apareceu outra, e mais uma... Com alguns troncos de palmeira
caídos e algumas folhas, Obatalá construiu uma cabana e ali viveu feliz em
companhia do gato preto.
A deusa Olocum estivera observando todo o processo de criação daquele
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novo reino entre o céu e o mar e achou que estava bom. E desde aquele instante
Obatalá se converteu no deus e rei da terra. E tudo começou a ser tal como
conhecemos hoje.
O príncipe medroso e outros contos africanos (2009, p. 93 - 95) Editora Schwarcz Ltda.
Existem várias versões, na mitologia africana, para a história da separação
do céu e da terra [...]
Dizem que houve um tempo no qual o céu e a terra eram uma coisa só.
Oxalá vivia com a deusa Odudua dentro de uma grande cabaça. (Não custa advertir
que Oxalá representa o céu e Odudua a terra.)
Por maior que fosse a cabaça, no entanto, seus dois habitantes tinham
motivos de sobra para queixar-se da falta de espaço. Na verdade, era tão estreita
que Oxalá vivia na parte superior e Odudua na inferior.
Uma casa bem exígua e desconfortável, esta. Um lugar, de fato, muito
incômodo para se viver. Na verdade – por que não dizer tudo? -, não passava de
um muquifo indigno. Pior, mil vezes pior, do que morar numa maloca ou numa
palafita. Porque – misericórdia! – não cabia mais nada ali dentro senão duas pobres
divindades. (E dizer-se que foi numa tal morada que, num tempo muito remoto, dois
dos deuses mais importantes do universo – o deus do céu e a deusa da terra –
tiveram de residir, sabe-se lá por que fados!)
Ambos, porém não tendo outro lugar para ir, continuaram a viver na cabaça
estreita por muito tempo.
Dito isso, é preciso saber agora que Oxalá e Odudua possuíam sete anéis.
E que sempre antes de dormir, colocavam nos dedos os tais anéis.
E que Oxalá, por dormir sempre em cima, ficava com quatro anéis.
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E que Odudua, por dormir sempre embaixo, ficava com apena três.
E que era assim toda santa noite.
Ora, tanto foi o negócio que um dia Odudua resolveu questionar o tal
arranjo.
- Oxalá, por que, além de ficar por cima, você fica de posse de quatro anéis
e eu de apenas três? – disse ela, altas horas da noite (se tal coisa existia).
Oxalá, mau-humorado – “além do aperto, recriminações agora!” – resolveu
ser lacônico.
É assim e está acabado. Dorme, Odudua, dorme.
Mas Odudua não queria mais dormir.
- Vamos, explica-se! – disse ela, querendo ir fundo na questão.
- Sossega, criatura! – disse Oxalá, virando abruptamente de lado.
Odudua, a quem aquelas virações de lado haviam já enchido as medidas
(não nos esqueçamos da estreiteza da cabaça e de que Oxalá estava sempre por
cima dela), não se deu por vencida.
- Vamos! Por que fico só com três? – gritou ela, sedenta já por um perequê
na madrugada.
- Inferno! – gritou o deus, afinal. – Porque só há sete, cabeça de porongo!
Alguém tem de ficar sempre com um a mais!
- E por que, Sr. Oxalá, este alguém tem de ser você?
Numa demonstração de extraordinário autocontrole, o deus preferiu guardar
silêncio absoluto.
Um silêncio absolutamente inútil.
- Vamos, passe-me um dos anéis! – recomeçou ela. – Esta noite eu dormirei
com quatro!
- Pelo amor de mim, não me aborreça!
- Ah, já entendi, quer bancar o superior, não é? O senhor dos anéis!
- Por que não vai dar uma voltinha lá fora, hein?
(Oxalá, como vemos, começava a tresvariar.)
- Aliás, está na hora, também, de discutirmos este negócio de você dormir
sempre por cima! – disse a deusa, disposta a uma verdadeira revolução.
- Como é que é? – disse o deus, lançando um olhar esgazeado para baixo.
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- É, é isto mesmo! Sempre por cima e carregado de anéis!
- Já se deu conta do que está propondo? – exclamou ele. – A total
subversão, eis o que é!
Odudua, porém, surda a tudo, prosseguiu impertubável.
- Desça já.
- O que disse?!
- Desça já e dê-me os seus anéis. A partir de hoje, noite sim, noite não,
dormirei em cima com quatro anéis. Vamos nos alternar dentro desta maldita
cabaça!
- Oh, parabéns! Blasfêmias agora?
- É, sim, o que é que tem? Maldita cabaça!
(Odudua, como vemos, também tresvariava)
Então, começou, de verdade, o vuvu. Odudua, num golpe tão feroz quanto
imprevisto, deu um puxão no manto branco do deus (Oxalá era também chamado
de Obatalá – que significa “Rei do Pano Branco”.).
- Louca! Quer rasgar meu manto sagrado?
- Oh, tadinho, o mantinho do rei! – disse ela, dando um novo puxão, que
rasgou-o de cima a baixo.
Aquilo foi demais. Oxalá, perdendo o resto da compostura, também desceu
literalmente a mão e acertou o que pôde da deusa.
- Miserável! – disse ela.
- Encrenqueira! – disse ele.
Não existe registro algum de quanto tempo tenha durado esta divina refrega.
Tudo quanto sabemos é que a certa altura a velha cabaça, por força da tremenda
batalha que se travou no seu interior, começou a rachar-se em duas. Como um ovo
que se parte, as duas partes do porongo se separam miseravelmente.
- Oxalá querido! – disse a pobre deusa, coberta de esquimoses, a estender
a mão para o deus que subia vertiginosamente dentro da sua meia-cabaça.
- Odudua querida! – disse o pobre deus, coberto de arranhões, a estender a
mão para a deusa, que caía vertiginosamente dentro da sua meia cabaça.
Em vão: Oxalá foi parar no mais alto firmamento, enquanto Odudua tombou
no mais profundo abismo.
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E foi assim que, por causa de alguns míseros anéis, Céu e Terra se
separaram para todo sempre.
As melhores Histórias da mitologia Africana (2009, p.25 - 27) Artes e Ofícios.
(Lenda da África Ocidental: Costa do Marfim, Gana e Togo)
Prepare uma colher para bater e uma panela para bater e ouçam esta lenda
antiga! O Sol e a Lua se apaixonaram e decidiram morar juntos. Durante um tempo
foram muito felizes e tiveram muitos filhos: as estrelas. Pouco depois, porém, a Lua
não conseguiu resistir à tentação de ter um amante. O Sol descobriu e não ficou
nada contente. Primeiro tentou falar com a Lua para lhe dizer que queria morar com
ela, só com ela. Mas a Lua insistia que queria ser livre e que não podia garantir que
iria viver com ele para sempre. O Sol não aceitou isso e pediu à Lua que fosse
embora de casa. Alguns de seus filhos decidiram ir embora com a sua mãe Lua, e
outros decidiram ficar com seu pai Sol. E continuamente brigavam entre si. Quando
isso acontecia, as estrelas do Sol provocavam grandes tempestades cheias de
trovões. E só quando a Lua ficava farta de tanta briga, chamava seu amigo Arco-Íris
para que estabelesse um pouco de calma e de paz. As estrelas sabiam que quando
viam o amigo da sua mãe vestido com aquelas cores tão vivas tinham que parar
com a briga.
Às vezes era a Lua que ficava zangada com o Sol porque este a espiava e
dizia o que ela tinha que fazer. E suas discussões eram tão fortes e eles ficavam
brigando tão perto um do outro que provocavam um eclipse.
Se algum dia vocês virem um eclipse, a melhor maneira de parar com as
brigas entre o Sol e a Lua é batendo panelas e tambores, o mais forte que puderem.
Porque se o Sol ficar zangado além da conta, ele pode desmanchar a Lua com seus
raios, e a gente ficaria sem ela para sempre!
O Príncipe Medroso e outros contos africanos (2009, p. 99 - 100) Editora Schwarcz Ltda.
51
Fonte: http://2.bp.blogspot.com/_dEMvDZ8eljA/SeyfcIVHQyI/AAAAAAAACuw/ReXIqLvZinE/s400/%25C3%258DNDIOS.jpg
acesso em 08/07/2010.
A necessidade do homem em explicar os mistérios da vida e da natureza que
o cerca, gera, através dos séculos, as mais belas lendas. Quanto mais rica a cultura
de um povo, maior o número de lendas inspiradoras que justificam os seus
costumes e tradições milenares.
O folclore dos índios brasileiros perdeu, com a civilização cristã impostas a
eles, muitos dos seus rituais e muitas das suas crenças, as suas lendas estão cada
vez mais difundidas e mescladas com as lendas catequizadoras trazidas pelos
homens brancos.
Fonte: http://jeocaz.wordpress.com/2009/01/17/lendas-indigenas-2/ acesso em 06/05/2010.
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Vamos ver duas lendas indígenas que abordam temas semelhantes aos dos
Contos e Lendas Africanas dessa unidade.
Os índios Carajás, no princípio do mundo, viviam dentro do furo das pedras.
Não conheciam a Terra. Eram felizes e tinham a eternidade, vivendo até avançada
velhice, só morrendo quando ficavam cansados de viver.
Um dia, os Carajás decidiram abandonar o furo das pedras, na esperança de
descobrir os mistérios da Terra. Apenas um deles, por ser muito gordo, não
conseguiu passar pelo furo da pedra, ficando nele entalado.
Na Terra, que trazia uma escuridão sem fim, os índios percorreram todos os
lugares. Descobriram frutos e comidas. Compadecidos do companheiro que ficara
entalado no furo da pedra, levaram-lhe os mais saborosos frutos e um galho seco.
Ao ver aquele galho seco, o índio entalado observou: “O lugar por onde vocês
andam não é bom. As coisas envelhecem e morrem. Vej a este galho,
envelheceu. Não quero ir para um lugar onde tudo en velhece. Vou
voltar. E vocês deviam fazer o mesmo! ” E o robusto carajá voltou para dentro
da pedra.
Os outros continuaram a percorrer a Terra, que se encontrava nas trevas.
Um menino carajá, junto com a amada, percorria a Terra em busca de alimentos.
Como não havia luz, a amada sangrou as mãos nos espinhos, quando colhia frutos.
O menino, na escuridão, comeu mandioca brava. Envenenado pela raiz, o menino
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carajá deitou-se de costas, a passar mal. Vários urubus começaram a andar em
volta do seu corpo. Um dos urubus disse: “Ele não está morto, ainda move o
corpo. Outro urubu replicou: “Não, ele está morto.”
Todos os urubus opinavam, uns achavam que o menino estava morto, outros
achavam que não. Para que a dúvida fosse esclarecida, foi chamado o urubu-rei,
com o seu bico vermelho e penugem rala na cabeça. Considerado o mais sábio dos
urubus, a ave imponente declarou: “Ele está morto .” E foi pousar na barriga do
menino. Inesperadamente, o menino carajá, que se fingia de morto, pegou o urubu-
rei pelas pernas e o prendeu nas mãos. A ave esperneou, debateu-se, mas não se
libertou das mãos do menino. “Quero os mais belos enfeites.” Disse o menino
ao urubu-rei. A ave, para ser libertada, trouxe as estrelas no céu como enfeites aos
olhos do menino. As estrelas eram belas, mas o mundo continuava escuro. “Quero
outro enfeite. ” O urubu-rei trouxe a lua. E a Terra continuava escura. “Ainda é
noite. Quero outro enfeite, este também não serve.”
Então o urubu-rei trouxe o sol. E o mundo ficou cheio de luz. O urubu-rei
ensinou ao pequeno índio a utilidade de todas as coisas do mundo. Feliz, o menino
soltou a sábia ave. Só então o carajá se lembrou de perguntar ao urubu-rei o
segredo da juventude eterna. No alto do céu, a ave contou-lhe aquele segredo, mas
voava tão alto, que todos ouviram a resposta, as árvores, os animais, menos o
menino. E por não ter ouvido o urubu-rei, todos os homens envelhecem e morrem.
Fonte: http://jeocaz.wordpress.com/2008/08/13/lendas-indigenas/ acesso em 04/05/2010.
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Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/classe-aves/imagens/beija-flor-3.jpg acesso em 08/07/2010.
Os índios do Amazonas acreditam que as almas dos mortos transformam-se
em borboletas. É por esse motivo que elas voam de flor em flor, alimentando-se e
fortalecendo-se com o mais puro néctar, para suportarem a longa viagem até o céu.
Coacyaba, uma bondosa índia, ficara viúva muito cedo, passando a viver
exclusivamente para fazer feliz sua filhinha Guanamby. Todos os dias passeava
com a menina pelas campinas de flores, entre pássaros e borboletas. Dessa forma
pretendia aliviar a falta que o esposo lhe fazia. Mesmo assim, angustiada, acabou
por falecer.
Guanamby ficou só e seu único consolo era visitar o túmulo da mãe,
implorando que esta também a levasse para o céu. De tanta tristeza e solidão, a
criança foi enfraquecendo cada vez mais e também morreu. Entretanto, sua alma
não se tornou borboleta, ficando aprisionada dentro de uma flor próxima à sepultura
da mãe, para assim permanecer ao seu lado.
Enquanto isso, Coacyaba, em forma de borboleta, voava entre as flores,
colhendo seu néctar. Ao aproximar-se da flor onde estava Guanamby, ouviu um
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choro triste, que logo reconheceu. Mas, como frágil borboleta, não teria forças para
libertar a filhinha. Pediu, então, ao Deus Tupã que fizesse dela um pássaro veloz e
ágil, que pudesse levar a filha para o céu. Tupã atendeu ao seu pedido,
transformando-a num beija-flor, podendo, assim, realizar o seu desejo.
Desde então, quando morre uma criança índia órfã de mãe, sua alma
permanece guardada dentro de uma flor, esperando que a mãe, em forma de beija-
flor, venha buscá-la, para juntas voarem para o céu, onde estarão eternamente.
Fonte: http://www.pucsp.br/pos/lael/lael-inf/teses/Maria_carmo.pdf acesso em 04/05/2010.
Na cultura Hinduísta também temos Mitos e Lendas sobre religiosidade.
Fonte: http://3.bp.blogspot.com/_v9k2DRplmLs/SSaLK-xLMoI/AAAAAAAABE4/KD9sIYU2ZeM/s400/brahma_vishnu_sh iva.jpg acesso em /08/07/2010.
No Panteão da Mitologia Hindu, podemos encontrar di versos deuses e
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deusas, deuses estes com diversos significados.
A tríade do hinduísmo são os deuses Brahma, Vishnú e Shiva.
BRAHMA
Brahma é considerado pelos hindus a representação d a força criadora ativa
no universo.
VISHNÚ
Na tríade do hinduísmo, Vishnu o deus responsável p ela manutenção do
universo, sendo conhecido como o Preservador do Uni verso.
SHIVA
Shiva é um deus hindu, o Destruidor, ou o Transform ador, participante da
Tríade do hinduísmo juntamente com Brahma, o Criado r, e Vishnu, o
Preservador. Na tradição hindu, Shiva é o destruido r. Na verdade ele destrói
para construir algo novo.
Fonte: http://www.navrattnayoga.com.br/blogs/aguaverde/arc hives/49 acesso em 08/07/2010.
Conta uma velha lenda hindu que outrora todos os homens eram deuses,
mas abusaram de tal modo da sua natureza divina que Brama, o Senhor dos
deuses, decidiu retirar-lhes esse poder divino e escondê-lo num lugar onde lhes
fosse impossível encontrá-lo.
O problema, contudo, era encontrar esse esconderijo. Brama convocou
todos os deuses menores a fim de resolver este problema. A sugestão que eles lhe
deram foi enterrar a divindade do homem bem no fundo da terra. Mas Brama
respondeu-lhes que isso não seria suficiente. O homem escavaria a terra e acabaria
por reencontrar a sua natureza divina.
Então os deuses sugeriram que se atirasse para o fundo do mar a natureza
divina do Homem. E de novo Brama respondeu- lhes que, mais tarde ou mais cedo,
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o homem exploraria as profundezas do mar e a recuperaria. Os deuses menores já
não sabiam que outros lugares poderiam existir, quer na terra quer no mar, onde o
homem não conseguisse chegar um dia. Então Brama disse: "Vamos fazer o
seguinte com a natureza divina do homem: vamos escondê-la bem no fundo de si
mesmo, pois será esse o único lugar onde o homem nunca a irá procurar."
E desde esse dia, segundo conta a lenda, o homem tem percorrido e
explorado o mundo, subido às montanhas mais altas e descido às grandes
profundezas da terra e do mar, sempre à procura do que está dentro de si próprio.
Fonte: Ohayo gozai-masu http://eradaessencia.blogspot.com/2009/02/lenda-hin du.html acesso em 04/05/2010.
Avaliar a participação e interesse da turma. A interação e dedicação ao
realizar a leitura em grupo.
Através da apresentação, observar se houve compreensão e interpretação do
texto lido. Caso seja necessário, retomar a leitura juntamente com o grupo.
Através de perguntas dirigidas, verificar se houve realmente a ruptura do
horizonte de expectativas. Vocês gostaram dos temas dos textos lidos? Já tinham
ouvido falar sobre a religiosidade de Matriz Africana? A religiosidade faz parte da
cultura das pessoas e cada um(a) tem o direito de ser respeitado(a) seja qual for a
sua crença ou mesmo que não tenha crença nenhuma, no entanto, há muito
preconceito na sociedade em relação a algumas religiões, é a chamada intolerância
religiosa, vocês já ouviram algo sobre esse assunto?
Que tal fazermos uma pesquisa sobre esse assunto e apresentar para a
turma?
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Pesquisar sobre outros povos e sua religiosidade e outras curiosidades sobre
as várias religiões no Brasil e no mundo. Montar um painel para apresentar para a
escola ou outras turmas. Aproveitar para expor também a pesquisa sobre
intolerância religiosa.
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Objetivo: Introduzir, através da leitura dos textos, a discussão sobre o racismo no Brasil para o questionamento do horizonte de expectativas; Trabalhar a compreensão e interpretação dos textos.
Apresentar aos/às alunos(as) outros textos da Literatura Africana de países
que falam a língua portuguesa
Os conflitos que marcaram a história de Moçambique deixaram cicatrizes
como minas terrestres e racismo, mas não conseguiram domar a força das
tradições culturais. Misturados na memória e no cotidiano da nação moçambicana,
a presença da guerra e a ameaça da morte encontram resistência no sonho por paz
e liberdade.
Para gostar de ler
Contos africanos dos países de língua portuguesa (2 009, p.11) Editora Ática.
A violência de uma sociedade em guerra pode ser exposta de maneira
escancarada. Mas também pode ser contada entre o real e o fantástico, deixando a
violência menos crua – mas não por isso menos veemente. O conto a seguir foi
originalmente publicado em 1986, quando Moçambique passava por uma guerra civil
que durou dezesseis anos. As histórias do pequeno pastor Azarias, do grande boi
malhado Mabata-bata e da ave do relâmpago, ndlati, mostram o lugar mágico e o
anseio pela mudança em uma época marcada pela brutalidade.
Para gostar de ler
Contos africanos dos países de língua portuguesa (2 009, p.13) Editora Ática.
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Conto 1
De repente, o boi explodiu. Rebentou sem um múúú. No capim em volta
choveram pedaços e fatias, grão e folhas de boi. A carne eram já borboletas
vermelhas. Os ossos eram moedas espalhadas. Os chifres ficaram num qualquer
ramo, balouçando a imitar a vida, no invisível do vento.
O espanto não cabia em Azarias, o pequeno pastor. Ainda há um instante
ele admirava o grande boi malhado, chamado de Mabata-bata. O bicho pastava
mais vagaroso que a preguiça. Era o maior da manada, régulo da chifraria, e
estava destinado como prenda de lobolo do tio Raul, dono da criação. Azarias
trabalhava para ele desde que era órfão. Despegava antes da luz para que os bois
comessem o cacimbo das primeiras horas.
Olhou a desgraça: o boi poeirado, eco de silêncio, sombra de nada.
“Deve ser foi um relâmpago”, pensou.
Mas relâmpago não podia. O céu estava liso, azul sem mancha. De onde
saíra o raio? Ou foi a terra que relampejou?
Interrogou o horizonte, por cima das árvores. Talvez o ndlati, a ave do
relâmpago, ainda rodasse os céus. Apontou os olhos na montanha em frente. A
morada do ndlati era ali, onde se juntos os todos rios para nascerem para
nascerem da mesma vontade da água. O ndlati vive nas suas quatro cores
escondidas e só se destapa quando as nuvens rugem na rouquidão do céu. É
então que o ndlati sobe aos céus, enlouquecido. Nas alturas se veste de chamas,
e lança seu vôo incendiado sobre os seres da terra. Às vezes atira-se no chão,
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buracando-o. Fica na cova e ali deita a sua urina.
Uma vez foi preciso chamar as ciências do velho feiticeiro para escovar
aquele ninho e retirar os ácidos depósitos. Talvez o Mabata-bata pisara uma réstia
maligna do ndlati. Mas quem podia acreditar? O tio, não. Havia de querer ver o boi
falecido, ao menos ser apresentado uma prova do desastre. Já conhecia bois
relampejados: ficavam corpos queimados, cinzas arrumadas a lembrar o corpo. O
fogo mastiga, não engole de uma só vez, conforme sucedeu-se.
Reparou em volta, os outros bois assustados, espalharam-se pelo mato. O
medo escorregou dos olhos do pequeno pastor.
-Não apareças sem um boi, Azarias. Só digo: é melhor nem apareceres.
A ameaça do tio soprava-lhe os ouvidos. Aquela angústia comia-lhe o ar
todo. Que podia fazer? Os pensamentos corriam-lhe como sombras mas não
encontravam saídas. Havia uma só solução: era fugir, tentar os caminhos onde
não sabia mais nada. Fugir é morrer de um lugar e ele, com os seus calções rotos,
um saco velho a tiracolo, que saudade deixava? Maus tratos, atrás dos bois. Os
filhos dos outros tinham direito da escola. Ele não, não era filho. O serviço
arrancava-o cedo da cama e devolvia-o ao sono quando dentro dele já não havia
resto de infância. Brincar era só com os animais: nadar o rio a boleia do rabo do
Mabata-bata, apostar na briga dos mais fortes. Em casa, o tio advinha-lhe o futuro:
-Este, da maneira que vive misturado com a criação há-de casar com uma
vaca.
E todos se riam, sem quererem saber da sua alma pequenina, dos seus
sonhos maltratados. Por isso, olhou sem pena para o campo que iria deixar.
Calculou o dentro do seu saco: uma fisga, frutos de djambalau, um canivete
enferrujado. Tão pouco não pode deixar saudade. Partiu na direcção do rio. Sentia
que não fugia: estava apenas a começar o seu caminho. Quando chegou ao rio,
atravessou a fronteira da água. Na outra margem parou à espera nem sabia de
quê.
Ao fim da tarde a avó Carolina esperava Raul à porta da casa. Quando
chegou ela disparou a aflição:
- Essas horas e o Azarias ainda não chegou com os bois.
- O quê? Esse malandro vai apanhar muito bem, quando chegar.
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- Não é que aconteceu uma coisa, Raul? Tenho medo, esses
bandidos…
- Aconteceu brincadeira dele, mais nada.
Sentaram na esteira e jantaram. Falaram das coisas do lobolo, preparação
do casamento. De repente, alguém bateu à porta. Raul levantou-se interrogando
os olhos da avó Carolina. Abriu a porta: eram os soldados, três.
- Boa noite, precisam alguma coisa?
- Boa noite, viemos comunicar o acontecimento: rebentou uma mina
esta tarde, foi um boi que pisou. Agora, esse boi pertencia daqui.
Outro soldado acrescentou:
- Queremos saber onde está o pastor dele.
- O pastor estamos à espera – respondeu Raul. E vociferou: – Malditos
bandos!
- Quando chegar queremos falar com ele, saber como foi sucedido. É
bom ninguém sair na parte da montanha. Os bandidos andaram espalhar
minas nesse lado.
Despediram. Raul ficou, rodando à volta das suas perguntas. Esses sacana
do Azarias onde foi? E os outros bois andariam espalhados por aí?
- Avó: eu não posso ficar assim. Tenho que ir ver onde está esse
malandro. Deve ser talvez deixou a manada fugentar-se. É preciso juntar os
bois enquanto é cedo.
- Não podes, Raul. Olha os soldados o que disseram. É perigoso.
Mas ele desouviu e meteu-se pela noite. Mato tem subúrbio? Tem: é onde
o Azarias conduzia os animais. Raul, rasgando-se nas micaias, aceitou a ciência
do miúdo. Ninguém competia com ele na sabedoria da terra. Calculou que o
pequeno pastor escolhera refugiar-se no vale.
Chegou ao rio e subiu às grandes pedras. A voz superior, ordenou:
- Azarias, volta. Azarias!
Só o rio respondia, desenterrando a sua voz corredeira. Nada em toda à
volta. Mas ele adivinhava a presença oculta do sobrinho.
- Apareças lá, não tenhas medo. Não vou-te bater, juro.
Jurava mentiras. Não ia bater: ia matar-lhe de porrada, quando acabasse de juntar
63
os bois. No enquanto escolheu sentar, estátua de escuro. Os olhos habituados à
penumbra desembarcaram na outra margem. De repente, escutou passos no
mato. Ficou alerta.
Azarias?
Não era. Chegou-lhe a voz de Carolina.
-Sou eu, Raul.
Maldita velha, que vinha ali fazer? Trapalhar só. Ainda pisava na mina,
rebentava-se e, pior, estoirava com ela também.
- Volta em casa, avó!
- O Azarias vai negar de ouvir quando chamares. A mim, há-de ouvir.
E aplicou sua confiança, chamando o pastor. Pro trás das sombras, uma
silhueta deu aparecimento.
- És tu, Azarias. Volta comigo, vamos pra casa.
- Não quero, vou fugir.
O Raul foi descendo, gatinhoso, pronto pra saltar e agarrar as goelas do
sobrinho.
- Vais fugir para onde, meu filho?
- Não tenho onde, avó.
- Esse gajo vai voltar nem que eu lhe chamboqueie até partir-se dos
bocados – precipitou-se a voz rasteira de Raul.
- Cala-te, Raul. Na tua vida nem sabes da miséria – E voltando-se para
o pastor: – Anda meu filho, só vens comigo. Não tens culpa do boi que
morreu. Anda ajudar o teu tio juntar os animais.
- Não é preciso. Os bois estão aqui, perto comigo.
- Raul ergueu-se, desconfiado. O coração batucava-lhe o peito.
- Como é? Os bois estão aí?
- Sim, estão.
Enroscou-se o silêncio. O tio não estava certo da verdade de Azarias.
- Sobrinho: fizeste mesmo? Juntaste os bois?
A avó sorria pensando no fim das brigas daqueles os dois. Prometeu um
prêmio e pediu ao miúdo que escolhesse.
- O teu tio está muito satisfeito. Escolhe. Há-de respeitar o teu
64
pedido.
Raul achou melhor concordar com tudo, naquele momento. Depois,
emendaria as ilusões do rapaz e voltariam ás obrigações do serviço das
pastagens.
- Fala lá o seu pedido.
- Tio: próximo ano posso ir na escola?
Já adivinhava. Nem pensar. Autorizar a escola era ficar sem guia para os
bois. Mas o momento pedia fingimento e ele falou de costas para o pensamento:
- Vais, vais.
- É verdade, tio?
- Quantas bocas tenho, afinal?
- Posso continuar ajudar nos bois. A escola só frequentamos da parte
de tarde.
- Está certo. Mas tudo isso falamos depois. Anda lá daqui.
O pequeno pastor saiu da sombra e correu o areal onde o rio dava
passagem. De súbito, deflagrou um clarão, parecia o meio-dia da noite. O
pequeno pastor engoliu aquele todo vermelho, era o grito do fogo estourando. Nas
migalhas da noite viu descer o ndlati, a ave do relâmpago. Quis gritar:
- Vens pousar quem, ndlati?
Mas nada não falou. Não era o rio que afundava suas palavras: era um
fruto vazando de ouvidos, dores e cores. Em volta tudo fechava, mesmo o rio
suicidava sua água, o mundo embrulhava o chão nos fumos brancos.
-Vens pousar a avó, coitada, tão boa? Ou preferes no tio, afinal
das contas, arrependido e prometente como o pai verdadeiro que morreu-
me?
E antes que a ave do fogo se decidisse Azarias correu e abraçou-a na
viagem de sua chama.
COUTO, Mia. Vozes anoitecidas . Lisboa: Editorial Caminho, SA, 1987.
Fonte: http://mscamp.wordpress.com/2008/10/10/o-dia-em-que -explodiu-mabata-bata-
%E2%80%93-mia-couto/ acesso 06/07/2010.
65
Fazer a leitura e explorar a diferenças do português do Brasil, o conteúdo
temático, interlocutor, intencionalidade, informatividade, vozes sociais presentes no
texto, elementos composicionais do gênero, vocabulário, expressões, argumentos,
intertextualidade, discurso direto e indireto, marcas lingüísticas: coesão, coerência,
função das classes gramaticais no texto, relação causa conseqüência, discurso
ideológico, temporalidade, recursos gráficos (como aspas, travessão, negrito),
figuras de linguagem e outros.
Discutir com a turma sobre o tema do conto fazendo a contextualização
histórica e sugerir que, em conjunto com a disciplina de História, pesquisem sobre a
guerra civil em Moçambique. Site para pesquisa:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_de_Mo%C3%A7ambique#A_Guerra_Civil acesso em
05/07/2010.
Apresentar a biografia do autor.
Fonte: http://www.orelhadolivro.com.br/wp-content/uploads/ 2009/01/mia-couto.jpg acesso em 06/07/2010.
Mia Couto nasceu em 1955, em Beira, Moçambique. António Emílio Leite Couto
ganhou o apelido “Mia” do irmão mais novo. Adotou-o por adorar gatos – quando
criança, ele acreditava ser um deles. Antes de ser escritor, Mia Couto cursou
medicina e jornalismo, formando-se em biologia. Participou ativamente do processo
de independência de Moçambique e foi um dos compositores do hino nacional de
seu país. Tem livros publicados no Brasil e em diversos países, dentre os quais
figuram os romances Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra, O último
vôo do flamingo, Terra sonâmbula e o livro de contos O fio das missangas.
Para gostar de ler
Contos africanos dos países de língua portuguesa (2 009, p.21) Editora Ática.
66
É sabido que as crianças têm grande poder contestador sobre tudo o que as
cerca – em especial sobre aquilo que as incomoda.
A dúvida do narrador do conto a seguir, escondida em uma pretensa
inocência infantil, é descobrir por que as palmas das mãos dos negros são brancas.
A questão, aos poucos, vai ganhando contornos mais sérios e evidenciando um
grave problema que toma a sociedade moçambicana: o racismo e a necessidade de
assumir uma identidade livre das imposições colonialistas.
Para gostar de ler
Contos africanos dos países de língua portuguesa (2 009, p.23) Editora Ática.
Conto 2
" Já nem sei a que propósito é que isso vinha, mas o Senhor Professor disse
um dia que as palmas das mãos dos pretos são mais claras do que o resto do corpo
porque ainda há poucos séculos os avós deles andavam com elas apoiadas ao
chão, como os bichos do mato, sem as exporem ao sol, que lhes ia escurecendo o
resto do corpo.
Lembrei-me disto quando o Senhor Padre, depois de dizer na catequese que
nós não prestávamos mesmo para nada e que até os pretos eram melhores do que
nós, voltou a falar nisso de as mãos deles serem mais claras, dizendo que isso era
assim porque eles, às escondidas, andavam sempre de mãos postas, a rezar.
Eu achei um piadão tal a essa coisa de as mãos dos pretos serem mais
claras que agora é ver-me a não largar seja quem for enquanto não me disser por
que é que eles têm as palmas das mãos tão claras. A Dona Dores, por exemplo,
disse-me que Deus fez-lhes as mãos assim mais claras para não sujarem a comida
que fazem para os seus patrões ou qualquer outra coisa que lhes mandem fazer e
que não deva ficar senão limpa.
67
O Senhor Antunes da Coca-Cola, que só aparece na vila de vez em quando,
quando as coca-colas das cantinas já tenham sido todas vendidas, disse-me que
tudo o que tinham contado era aldrabice¹. Claro que não sei se realmente era, mas
ele garantiu-me que era. Depois de eu lhe dizer que sim, que era aldrabice, ele
contou então o que sabia desta coisa das mãos dos pretos. Assim:
"Antigamente, há muitos anos, Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo, Virgem
Maria São Pedro, muitos outros santos, todos os anjos que nessa altura estavam no
céu e algumas pessoas que tinham morrido e ido para o céu, fizeram uma reunião e
decidiram fazer pretos. Sabes Como? Pegaram barro, enfiaram-no em moldes
usados e para cozer o barro das criaturas levaram-nas para os fornos celestes;
como tinham pressa e não houvesse lugar nenhum, ao pé do brasido, penduraram-
nas nas chaminés. Fumo, fumo, fumo e aí os tens escurinhos como carvões. E tu
agora queres saber por que é que as mãos deles ficaram brancas? Pois então se
eles tiveram de se agarrar enquanto o barro deles cozia?!"
Depois de contar isto o Senhor Antunes e os outros Senhores que estavam à
minha volta desataram a rir, todos satisfeitos.
Nesse mesmo dia, o Senhor Frias chamou-me, depois de o Senhor Antunes
se ter ido embora, e disse-me que tudo o que eu tinha estado ali a ouvir de boca
aberta era uma grandessíssima pêta². Coisa certa certinha sobre isso das mãos dos
pretos era o que ele sabia: que Deus acabava de fazer os homens e mandava-os
tomar banho num lago do céu. Depois do banho as pessoas estavam branquinhas.
Os pretos, como foram feitos de madrugada e à essa hora a água do lago estivesse
muito fria, só tinham molhado as palmas das mãos e as plantas dos pés, antes de
se vestirem e virem para o mundo.
Mas eu li num livro por acaso falava nisso, que os pretos têm as mãos assim
mais claras por viverem encurvados, sempre a apanhar algodão branco de Virgínia
e de mais não sei onde. Já se vê que a Dona Estefânia não concordou quando eu
lhe disse isso. Para ela é só por as mãos deles desbotarem à força de tão lavadas.
Bem, eu não sei o que vá pensar disso tudo, mas a verdade é que ainda que
calosas e gretadas, as mãos dum preto são sempre mais claras que todo o resto
dele. Essa é que é essa!
A minha mãe é a única que deve ter razão sobre essa questão de as mãos
68
de um preto serem mais claras do que o resto do corpo. No dia em que falámos
nisso, eu e ela, estava-lhe eu a contar o que sabia dessa questão e ela já estava
farta de se rir. O que achei esquisito foi que ela não me dissesse logo o que
pensava disso tudo, quando eu quis saber, e só tivesse respondido depois de se
fartar de ver que eu não me cansava de insistir sobre a coisa, e mesmo assim a
chorar, agarrada à barriga como quem não pode mais de tanto rir. O que ela me
disse foi mais ou menos isto:
"Deus fez os pretos porque tinha de os haver. Tinha de os haver, meu filho,
Ele pensou que realmente tinha de os haver... Depois arrependeu-se de ter os feito
porque os outros homens se riam deles e levavam-nos para as casas deles para os
pôr a servir como escravos ou pouco mais. Mas como Ele já não os pudesse fazer
ficar brancos porque os que já se tinham habituado a vê-los pretos reclamariam, fez
com que as palmas das mãos deles ficassem exatamente como as palmas das
mãos dos outros homens. E sabes porque é que foi? Claro que não sabes e não
admira porque muitos e muitos não sabem. Pois olha: foi para mostrar que o que os
homens fazem, é apenas obra dos homens... Que o que os homens fazem, é feito
por mãos iguais, mãos de pessoas que se tiverem juízo sabem que antes de serem
qualquer outra coisa são homens. Deve ter sido a pensar assim que Ele fez com
que as mãos dos pretos fossem iguais às mãos dos homens que dão graças a Deus
por não serem pretos".
Depois de dizer isso tudo, a minha mãe beijou-me as mãos.
Quando fugi para o quintal, para jogar à bola, ia a pensar que nunca tinha
visto uma pessoa a chorar tanto sem que ninguém lhe tivesse batido.
1- Trapaça.
2- Mentira.
Luís Bernardo Honwana
Para gostar de ler
Contos africanos dos países de língua portuguesa (2 009, p.25 - 28) Editora Ática.
69
Fazer a leitura, a contextualização histórica e exploração do texto
(vocabulário, expressões, diferenças do português do Brasil para o de Moçambique).
Após a leitura, explorar com os(as) alunos(as) o conteúdo temático, interlocutor,
intencionalidade, informatividade, vozes sociais presentes no texto, elementos
composicionais do gênero, vocabulário, expressões, argumentos, intertextualidade,
discurso direto e indireto, marcas lingüísticas: coesão, coerência, função das classes
gramaticais no texto, relação causa conseqüência, discurso ideológico,
temporalidade, informações explícitas e implícitas, recursos gráficos (como aspas,
travessão, negrito), figuras de linguagem e outros.
A exploração do conteúdo temático desse conto vai possibilitar a introdução
da discussão sobre o racismo.
Apresentar a biografia do autor.
Fonte: http://3.bp.blogspot.com/_3BWenpVbwLw/S6EgDLzLZfI/AAAAAAAADLA/UBQQpWpjm3c/s200/11.JPG acesso em
07/07/2010.
Luís Bernardo Honwana nasceu em 1942, em Lourenço Marques (hoje
Maputo), Moçambique. Já aos 22 anos, publicou Nós matamos o Cão Tinhoso,
livro de contos que o consagrou como um dos mais importantes escritores de seu
país. O engajamento na luta pela independência de Moçambique o levou à prisão
nos anos 1960. Quase trinta anos depois, 1990, então como ministro da cultura,
Honwana foi signatário do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
Para gostar de ler
Contos africanos dos países de língua portuguesa (2 009, p.28) Editora Ática.
70
Chegou o momento de aprofundarmos as discussões e as leituras para a
reflexão sobre o racismo.
O racismo nasce no Brasil associado à e scravidão, mas é
principalmente após a abolição que ele se estrutura como discurso, com
base nas teses de inferioridade biológica dos negro s, e se difunde no país
como matriz para a interpretação do desenvolvimento nacional. As teorias
racistas, então largamente difundidas na sociedade brasileira, e o projeto de
branqueamento vigoravam até os anos 30 do século XX , quando foram
substituídos pela chamada ideologia da democracia r acial. Nesse novo
contexto, entretanto, a valorização da miscigenação e do mulato continuaram
propiciando a disseminação de um ideal de branqueam ento como projeto
pessoal e social. Sua crítica só ganhou repercussão nas últimas décadas do
século XX, quando a denúncia da discriminação como prática social
sistemática, denunciada pelo Movimento Negro, somou -se às análises sobre
desigualdades raciais entendidas não como simples p roduto de históricos
acúmulos no campo da pobreza e da educação, mas com o reflexos dos
mecanismos discriminatórios.
Luciana Jaccoud
As políticas públicas e a desigualdade racial no Br asil 120 anos após a abolição (2008, p.45.) IPEA.
Discutir o texto acima: “O racismo não é algo natural ou divino, mas foi criado
pelos homens, que devem ser responsabilizados por ele. Não existe nada que faça
alguns seres humanos serem superiores a outros”. (Suplemento de leitura: Contos
africanos dos países de língua portuguesa ) Somos seres humanos com características e
cultura diferentes. Temos que ser respeitados. Temos direitos iguais.
O racismo é crime, mas podemos ver, na sociedade brasileira, várias
manifestações racistas e que na maioria das vezes acabam impunes ou não
entendidas como práticas racistas. O que você entende por prática racista? Você já
foi vítima de algum tipo de preconceito na escola ou em outro lugar, se foi, quais as
atitudes foram tomadas para resolver o problema?
71
Algumas expressões que usamos na Língua Portuguesa, em algumas
situações, podem ser entendidas como expressões racistas. Temos que ter cuidado
com as palavras. Vamos ver alguns exemplos: “Isso é serviço de preto”, “Ele(a) é
preto(a) mas tem alma branca”, “o dia hoje está negro” e tantas outras, assim como
as piadas e anedotas.
Devemos evitar fazer referências pejorativas às pessoas sejam elas negras,
brancas, indígenas, orientais, ciganas, com orientação sexual diferente da
estabelecida pela sociedade como “normal”, religiões e outras. Os seres humanos
são dignos de serem respeitados como pessoas que são.
Fonte: http://benpeterson.files.wordpress.com/2009/04/nels on-mandela.jpg acesso 07/07/2010.
Nelson Mandela disse:
“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, ou por sua origem, ou sua
religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se elas aprendem a odiar, podem
ser ensinadas a amar, pois o amor chega mais naturalmente ao coração humano do que o
seu oposto. A bondade humana é uma chama que pode ser oculta, jamais extinta”.
Fonte: http://www.pensador.info/frase/MzY0Nzkx/ acesso em 07/07/2010.
O melhor caminho para combater o preconceito racial é o conhecimento.
Através do conhecimento aprendemos a valorizar a cultura do outro.
72
Objetivos: Ampliar o horizonte de expectativas buscando novas leituras; Pesquisar,
ler e selecionar outras Lendas e Contos Africanos com temas variados; Posicionar-
se compreensiva e criticamente em relação aos textos escolhidos; Montar uma
coletânia de textos (Lendas, Contos, Mitos e Fábulas Africanas) para a biblioteca da
escola; Trabalhar juntamente com disciplina de Arte a ilustração dos textos.
Você já conhece o mapa do Continente Africano, já ouviu falar do chifre da
África?
Fonte: http://www2.mre.gov.br/deaf/deafgif/africa.gif acesso em 07/07/2010.
73
No leste da África localiza-se o chamado “chifre da África”. Dizem que
justamente essa região, onde ficam hoje Eritreia, Djibuti, Somália e uma parte do
Quênia e do Sudão, é o berço da humanidade, e que foi de lá que saíram os
primeiros humanos para dominar o mundo. Quem sabe se aqueles primeiros
homens e aquelas primeiras mulheres, como a célebre Lucy, velha de mais de três
milhões de anos, que então pintavam suas histórias com tintas nas pedras, já não
inventavam contos?
Nem todos sabem que na África existem também muitas histórias de
princesas e príncipes, como nos contos de várias outras culturas. E dizem que
essas histórias entraram no continente africano justamente pelo seu “chifre” e foram
influenciadas pelas histórias da Arábia das Mil e uma noites, que vinham do outro
lado do mar Vermelho e do golfo de Áden.
Ao cabo de séculos, porém, descobrimos que as histórias contadas no
“chifre” da África se parecem muito com as narradas em outros cantos do mundo.
Anna Soler-Pont
O príncipe medroso e outros contos africanos (2009, p.17) Editora Schwarcz.
Vimos algumas Lendas e Contos Africanos muito interessantes, mas há
muitos outros com variados temas.
Disponibilizar material de pesquisa e leitura para a turma (livros de Contos e,
Lendas Africanas, sites e outros)
Agora é a sua vez de pesquisar, ler e selecionar outras Histórias Africanas
para montarmos uma coletânia de textos para a biblioteca.
Vamos dividir a turma em equipes, mas cada um(a) vai pesquisar e ler pelo
menos um conto e uma lenda para trazer para o grupo.
74
Os textos pesquisados serão lidos para todos(as) do grupo. Juntos(as) vocês
selecionarão três textos para serem apresentados para a classe.
Após as apresentações iniciaremos a composição da coletânea, se houver
textos repetidos, poderemos trocar por outros que não foram selecionados pelo
grupo.
Os textos escolhidos para a coletânea serão ilustrados pela turma e
apresentado para a escola e a comunidade.
75
REFERÊNCIAS
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leitor: alternativas metodológicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993.
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Rita (Org.) Contos africanos dos países de língua portuguesa. São Paulo: Ática,
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