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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
CIRANDA, CIRANDINHA... FAZENDO MÚSICA NA ESCOLA
Rosilene Candido de Azevedo1
Vania Malagutti Fialho2
RESUMO
Este artigo tem como objetivo apresentar o desenvolvimento e os resultados da implementação pedagógica de estratégias para práticas musicais no quarto ano do curso de Formação de Docentes do Colégio Estadual Santo Inácio de Loyola, na cidade de Fênix, Paraná. Discutiu-se acerca do ensino de música sendo implementado pelos alunos da Formação de Docentes em suas práticas de estágios nas séries iniciais do Ensino Fundamental da Escola Municipal Tancredo de Almeida Neves. Propôs-se uma intervenção pedagógica a partir do trabalho com canções infantis e atividades: dos elementos do som, cantigas de roda, jogos musicais, levantamento de repertório musical do aluno, desenvolvimento de portifólio. Os resultados apresentados foram bastante positivos, pois os alunos do curso de Formação de Docentes tiveram acesso a uma metodologia que pôde ajudá-los a desenvolver um trabalho pedagógico com música, o qual procurou suprir certa carência com referência ao trabalho com música observada nas séries iniciais do Ensino Fundamental.
Palavras-chaves: Arte; música na escola; práticas de ensino
1 INTRODUÇÃO
Este texto trata de um trabalho de intervenção pedagógica com os alunos da 4ª
série do Curso de Formação de Docentes da Educação Infantil e Anos Iniciais do
Ensino Fundamental, em Nível Médio, na Modalidade Normal do Colégio Estadual
Santo Inácio de Loyola- EFMN, na cidade de Fênix, sobre as possibilidades de se
ensinar música nas séries iniciais do Ensino Fundamental.
O objetivo deste artigo é apresentar o resultado do trabalho realizado, bem como
abordar os procedimentos metodológicos utilizados, que permitiram descrever e
1 Professora da Rede Estadual de Educação do Estado do Paraná 2 Mestre e doutoranda em Educação Musical pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professora do Departamento de Música da Universidade Estadual de Maringá.
2
analisar sobre o processo de iniciação musical com os alunos do Curso de Formação
de Docentes.
A proposta foi implementada em duas etapas: a primeira foi desenvolvida com os
alunos em formação e na sequência, a implementação foi realizada por eles em seu
local de estágio. Esta intervenção procurou enfatizar a importância de oportunizar às
crianças uma iniciação musical buscando dar uma formação mais global e ampla,
fazendo cumprir também a lei 11.769/2008, que obrigada o ensino da música na
educação básica. Nesse sentido, buscou-se oferecer um embasamento teórico-
metodológico aos alunos do Curso de Formação Docente que conduzisse a uma
reflexão das práticas educacionais empregadas no trabalho educacional com a música,
junto ás crianças.
O interesse acerca deste assunto surgiu a partir das dificuldades que os
professores de primeira a quarta série da Escola Municipal Tancredo de Almeida
Neves- Ensino Fundamental encontravam neste tipo de trabalho, havendo mesmo uma
defasagem nesta área, o que prejudicava a formação do educando.
Partindo desta perspectiva o desenvolvimento da proposta veio ao encontro de
uma necessidade educacional da escola na medida em que se voltou para a formação
dos futuros professores, os quais tiveram acesso a uma metodologia que pôde ajudá-
los a desenvolver um trabalho pedagógico com música, o qual procurou suprir esta
carência observada nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Isso foi possível na
medida em que os alunos colocaram em prática as novas estratégias aprendidas no
estágio supervisionado que desenvolveram no quarto ano.
É necessário, porém, compreender que as atividades musicais que foram
realizadas na escola não tiveram como objetivo a formação de músicos, mas
proporcionar que os educandos pudessem vivenciar e compreender a linguagem
musical em um ambiente mais alegre e favorável à aprendizagem. Esse intuito encontra
respaldo em Jeandot (2008), que afirma:
Uma aprendizagem voltada apenas para os aspectos técnicos da música é inútil e até prejudicial, se ela não despertar o senso musical, não desenvolver a sensibilidade. Tem que formar na criança o musicista, que talvez não disponha de uma bagagem técnica ampla, mas será capaz de sentir, viver e apreciar a música (JEANDOT, 2008, p.21).
3
Além disso, a música é também uma oportunidade de se lidar com o lúdico,
estimulando a imaginação, cooperação e a criatividade da criança. De acordo com
Maffioletti (2001, p. 131):
As crianças desenvolvem formas de trabalhar com os sons que permitirão organizar suas ações e realizar atividades expressivas com esses materiais. Agindo assim, as crianças aprendem a fazer parcerias, criam e reproduzem pequenas combinações, que são esboços das regras que regem os sons de suas culturas (MAFFIOLETTI, 2001, p. 131).
Assim a música foi vista como elemento chave para o desenvolvimento da
criança, considerada, portanto, fundamental em sua educação escolar. Dessa forma,
para foi desenvolvido um trabalho com os alunos em formação do Curso de Docentes,
focando metodologias pedagógico-musicais na área de música e sua utilização prática,
para que eles pudessem implementar a iniciação musical em suas práticas de estágio
em sala de aula das séries iniciais do Ensino Fundamental. Vale ressaltar, conforme já
mencionado, que essa ação veio contribuir com o ensino de música na educação
básica, buscando a efetivação da Lei 11 769/2008.
Essa Lei foi sancionada no dia 18 de agosto de 2008 pelo presidente Luiz Inácio
Lula da Silva e passou a valer para a Educação Básica brasileiras. Essa lei altera a
LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) que determina o aprendizado de arte,
mas não especifica o conteúdo (LDB, 9394, 1996). A partir da nova Lei, a música passa
a ser o único conteúdo obrigatório nas escolas públicas e particulares mas não
exclusivo. Ou seja, o planejamento pedagógico deve contemplar as demais áreas
artísticas. O objetivo da música na escola não deverá ser o de formar músicos, mas
oferecer uma formação integral para as crianças e a juventude. As escolas terão
também até agosto de 2011 para se adaptar à nova lei, ou seja, para incluir o ensino de
música em sua grade curricular, comprar materiais (instrumentos musicais, CDs etc.) e
verificar se possuem professores capazes de ministrar as aulas de música.
Nesse texto trago inicialmente informações sobre o local onde foi implementada
a proposta, contextualizando o lócus de atuação. Na sequência abordo considerações
sobre o tema do trabalho e em seguida apresento os resultados da implementação.
4
2 LOCAL DE ATUAÇÃO / IMPLEMENTAÇÃO
Essa escola está localizada no município de Fênix, à avenida São Vicente de
Paula, nº 10. O município possui uma população estimada em aproximadamente 4.290
habitantes, tendo como base de sua economia a agricultura, está localizado na
Mesorregião Centro Ocidental Paranaense e na Microrregião de Campo Mourão. Foi
fundada pelo Engenheiro Dr. Joaquim Vicente de Castro em 1949, trezentos e vinte e
um anos depois que os bandeirantes destruíram e queimaram o reduto indígena que
existia, onde hoje está situado o Parque Estadual Vila Rica do Espírito Santo. Fênix,
segundo a mitologia, era uma ave que durava muitos séculos e queimada, renascia das
próprias cinzas. Por isto Fênix recebeu este nome.
A Escola está organizada de modo a atender a sua comunidade escolar,
composta de alunos da Zona Rural e Urbana, oferta as seguintes Modalidades de
Ensino: Ensino Fundamental 5ª à 8ª séries, Ensino Médio, Formação de Docentes e
Educação Especial (Sala de Recursos). Possui 18 turmas, sendo 08 turmas de Ensino
Fundamental, 09 turmas de Ensino Médio e 02 de Ensino Normal, com um total de 540
alunos. Dispõem de 27 professores, 03 professores-pedagogos e 12 funcionários. Os
turnos de funcionamento são: manhã, tarde e noite. A escola possui os seguintes
Ambientes Pedagógicos: Sala de Recursos, Sala de Apoio Pedagógico, Laboratório de
Ciências Físicas e Biológicas, Laboratórios de Informática e Biblioteca.
5
2.1 AMBIENTE FÍSICO ESCOLAR
Sala para preparação à Prática de Estágio (arquivo pessoal)
Biblioteca (arquivo pessoal)
Autora: Rosilene Candido de Azevedo
Autora: Rosilene Candido de Azevedo
6
Os alunos do Curso de Formação de Docentes irão trabalhar os conteúdos
aprendidos no estágio supervisionado na Escola Municipal Tancredo de Almeida Neves
Ensino Fundamental. A escola foi criada em 6 de julho de 1992 sob Decreto Municipal
Laboratório de Informática (arquivo pessoal)
Secretaria (arquivo pessoal)
Autora: Rosilene Candido de Azevedo
Autora: Rosilene Candido de Azevedo
7
nº. 023/92 com Resolução de Funcionamento nº 2.822/92 D.O.E. de 20/08/92. Recebeu
este nome em homenagem ao presidente eleito Tancredo de Almeida Neves que
faleceu antes de tomar posse. Inicialmente funcionou na Escola Vila Rica do Espírito
Santo, Ensino Fundamental e após a municipalização que ocorreu no ano de 1988
passou a funcionar em dualidade administrativa com o Colégio Estadual Santo Inácio
de Loyola EFMN na Avenida São Vicente de Paula, nº 10.
Atualmente a escola desenvolve suas atividades nos horários de 8:00 às 12:00,
das 13:00 às 17:00 e das 19:00 às 22:30.
3 APORTE TEÓRICO
3.1 PELOS CAMINHOS DAS CANÇÕES POPULARES INFANTIS
A linguagem musical pode nos possibilitar um conjunto de conhecimentos e
experiências admiráveis, pois permite a melhoria da memorização, do raciocínio, da
inteligência, da linguagem, da expressão corporal, além de convidar a sentir emoções.
O Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (1998) esclarece que
muitas escolas têm dificuldades para desenvolver o trabalho com a música e que isto
necessita ser repensado. Também as Diretrizes Curriculares para o ensino de Arte do
Estado do Paraná (2008) prioriza a Educação Musical.
É interessante observar o que diz o grande educador PAULO FREIRE:
A existência, porque humana, não pode ser muda, silenciosa, nem tampouco pode nutrir-se de falsas palavras, mas de palavras verdadeiras, com que os homens transformam o mundo. Existir, humanamente, é ‘pronunciar’ o mundo, é modificá-lo. O mundo ‘pronunciado’, por sua vez, se volta problematizado aos sujeitos ‘pronunciantes’, a exigir deles novo ‘pronunciar’. Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão (FREIRE, 1987, p.78).
Se for necessário “pronunciar” o mundo para poder modificá-lo consideramos
que é preciso buscar uma melhor compreensão acerca da música na Educação Infantil
como instrumento de transformação. Entre tantas formas as cantigas populares são
muito interessantes e despertam o interesse dos educandos. Com isso poderemos
8
realçar a propensão natural que a criança tem para a música. Também devido a sua
importância histórico-cultural, pois o homem é o resultado do meio em que vive.
A recomendação do MEC é para que sejam proporcionados aos alunos noções
básicas de música, dos cantos cívicos nacionais e dos sons de instrumentos de
orquestra, como também cantos, ritmos, danças e sons de instrumentos regionais e
folclóricos para, assim terem a oportunidade de, conhecer a diversidade cultural do
Brasil.
Para se trabalhar com canções em sala de aula a metodologia utilizada deve
partir da convicção de que a música é valiosa e relevante para a formação do ser
humano e que, através dela, podemos ver, ouvir e sentir o mundo. As cantigas de roda,
ilustração, jogos e dramatização de músicas, cantigas com gestos, danças, dublagens,
levantamento de repertório musical do aluno, tudo contribui para a melhoria da
aprendizagem e desenvolvimento da expressão e expressividade dos sentimentos.
Com isso podemos afirmar com LINO
Nesse contexto, a tônica do trabalho pedagógico é possibilitar um ambiente de descoberta e revelação dos imaginários infantis, buscando a organização da forma e a conquista de outros possíveis, a partir do fazer musical – forma que, inerente à linguagem musical, deve ser estruturada no dia-a-dia da sala de aula em sua totalidade, na direção dos ilimitados infantis (LINO, 2005, p. 68).
A mesma autora chama a atenção para a necessidade do professor “viver a
experiência sonora” devendo estar sempre atento a forma de sua expressão musical.
Também é preciso um planejamento, que não deve ser feito de qualquer forma, pois
não sendo assim o trabalho poderá se perder. É preciso, portanto, planejar e estruturar
a aula de música. Cabe assim considerar as questões levantadas por CUNHA (2005):
Quando você planeja uma aula de música, como estrutura essa atividade? Ensina os cantos que aprendeu quando era criança? Aqueles que brincou e lhe deram muito prazer? Os que seu filho canta em casa? Os que aprendeu com a vizinha? Como você seleciona o conteúdo para trabalhar em música? Canta todos os dias e ensina coreografia para estes cantinhos? Qual a seqüência que você organiza na construção do conhecimento musical de seus alunos? (CUNHA, 2005, p.7).
Para HENTSCHEKE, DEL BEN, CUNHA e KRÜGER (2006) todos os tipos de
música têm como característica determinados elementos, e a combinação destes é o
9
que diferencia uma música da outra. Assim toda e qualquer música apresenta certos
elementos ou qualidades que são: expressão, matéria-prima e estrutura. Desta forma
para que uma pessoa entenda a razão de se emocionar com uma música deve prestar
atenção a esses três elementos para que possa ter “uma audição mais profunda e
detalhada, ampliando a forma de “ouvir música” (HENTSCHEKE, DEL BEN, CUNHA e
KRÜGER, 2006, p. 12-13).
É importante, portanto, que no curso de Formação de Docentes os alunos
tenham a oportunidade de conhecer opções metodológicas para o ensino de música
que possam ser utilizadas nas séries iniciais do Ensino Fundamental, área para a qual
estão se preparando profissionalmente.
A formação musical dos alunos do curso de Formação de Docentes deve,
portanto, estar inserida no contexto atual de reflexões e propostas para a formação de
professores/as, inicial e continuada ou permanente. Como afirma PENNA (2001): “Faz-
se necessário [...] buscar meios para capacitar o professor das primeiras séries para o
trabalho musical em suas turmas [...]” (PENNA, 2001, p.4).
Consideramos necessário que os alunos deste curso devem, em primeiro lugar,
aprender a se encantar com as músicas do universo infantil, para que possam ter
condições de desenvolver um trabalho pedagógico que também encante as crianças.
Isto porque a associação da música, enquanto atividade lúdica, com os outros
recursos dos quais dispõem o educador, facilita o processo de ensino-aprendizagem,
pois incentiva a criatividade do educando através do amplo leque de possibilidades que
a música disponibiliza.
Aliar a música à educação também obriga o professor a assumir uma postura
mais dinâmica e interativa junto ao aluno. Assim, o processo de aprendizagem se torna
mais fácil quando a tarefa escolar atender aos impulsos deste último para a exploração
e descoberta, quando o tédio e a monotonia se tornarem ausentes das escolas, quando
o professor, além das aulas expositivas e centralizadoras, possa propiciar experiências
diversas com seus alunos, facilitando assim a aprendizagem.
Portanto, o que concede significado à linguagem musical é a integração entre os
aspectos sensíveis, afetivos, estéticos e cognitivos, assim como a promoção de
integração e comunicação social. Além disso, a música uma das mais importantes
10
formas de expressão humana, o que por si só justifica sua presença no contexto da
educação de um modo geral e, principalmente, na educação de crianças,
particularmente. Dessa forma ela deve constituir-se como um saber escolar necessário
e importante para a cidadania, enriquecendo as experiências individuais e coletivas,
tornando-se essencial para a realização plena do ser humano (PARANÁ, 1990).
Pode-se considerar que musicalizar é ensinar a ouvir o universo sonoro através
do estudo do som como matéria prima a ser organizada. Essa organização se faz a
partir dos seus elementos caracterizadores que são: altura, timbre, intensidade,
duração e altura. Para ouvir e expressar musicalmente o universo sonoro usa-se o
ouvido, a voz e instrumentos sonoros. O trabalho com estes sentidos deve estar
vinculado ao movimento corporal e com a dança (PARANÁ, 1990).
Portanto, é preciso trabalhar com o aluno, com vistas ao conhecimento do som,
enquanto um objeto a ser estudado e compreendido não somente através de seus
elementos caracterizadores, mas, também através do sentido social do som. O estudo
do som, do seu significado histórico, do modo de composição sonora e da
intencionalidade, levará o aluno a compreender a estrutura da música, percebendo que
apresenta certas qualidades porque foi produzia em um determinado contexto histórico
(PARANÁ, 1990).
Sendo o som uma linguagem, portanto, deve-se seguir o mesmo processo de
desenvolvimento adotado quanto à linguagem falada, ou seja, deve-se expor o aluno à
linguagem sonora e dialogar com ele sobre a mesma.
O conteúdo na música é muito diversificado e_ característica que distingue a música das demais artes _ é um conteúdo esquivo, notavelmente escorregadio. Mas justamente porque é assim, o desenvolvimento vindouro da música será determinado pelo grau em que ela expressar uma nova atitude, um novo sentido de vida, uma nova inteligência de uma nova comunidade: a atitude, o sentido de vida e a inteligência da comunidade que a classe operária está construindo (FISCHER, 2002, p. 222).
O objetivo do trabalho inicial como o som é desenvolver a discriminação auditiva
e também permitir que a criança se expresse. A fim de que possa desenvolver sua
expressão musical, a criança deve ter oportunidade de aprimorar sua acuidade auditiva.
Sendo o som a sensação que o ouvido percebe quando atingido pelas vibrações
dos corpos sonoros é fundamental o trabalho com os seus parâmetros: timbre, duração,
11
intensidade, Altura. O timbre diferencia a fonte sonora permitindo o reconhecimento do
som. A vibração de um corpo sonoro produz ondas sonoras percebidas pelo ouvido
como sons. A altura é a qualidade que permite classificar os sons em graves e agudos
e está relacionada com as vibrações do corpo sonoro (QUELUZ, apud ROSA, 1984).
O objetivo básico do ensino de música deve ser a criação de condições, de
oportunidades de experiência e de expressão rítmica. Portanto não se deve dar ênfase
sobre a perfeição nas realizações musicais da criança, mas na alegria e nas
possibilidades de comunicação que oportuniza.
A música é essencialmente uma arte auditiva, que existe somente no tempo:
portanto a arte de escutar exige uma atenção, sustentada e concentrada, “é preciso que
a criança aprenda a ouvir, para poder sentir, cabe a ela recriar novamente ao repetir [...]
é preciso que os que a ouvem saibam que assistem a um ato de criação” (QUELUZ,
apud ROSA, 1984, p.64-65).
3.2 ESTÁGIO SUPERVISIONADO
O Estágio Supervisionado no curso de Formação de Docentes é um momento
propício para que o aluno possa iniciar o seu aprendizado como futuro professor e cabe
ao educador responsável por supervisionar esta fase auxiliar os alunos apresentando a
eles metodologias que venham colaborar para o ensino e aprendizagem musical
voltado para as séries iniciais do Ensino Fundamental, pois como coloca TOURINHO
(1995)
A idéia, compreensível e justificável, era - e é - a de que, através do estágio,o professor tenha condições de iniciar seu aprendizado sobre as realidades das salas de aula,formando sua atitude profissional e adquirindo habilidades para atuar no contexto institucionalizado do ensino (TOURINHO,1995, p. 4).
A mesma autora considera que os estágios devem ser realizados em escolas
públicas, pois são nestas instituições que se encontra a grande maioria dos educandos.
Também são nesses locais onde há as menores oportunidades educacionais, como
12
também uma carência enorme de materiais de apoio. Além disso, há pouco acesso a
outras atividades que são importantes na formação cultural dos alunos.
A prática de ensino é um período fundamental para a formação do aluno-
estagiário, no entanto não se pode desperdiçá-lo, sendo necessário que o professor
supervisor esteja atento na orientação metodológica e no acompanhamento, pois se
trata de uma das partes integrantes e essenciais à formação, e necessita ser repensado
enquanto prática profissional, uma vez que as novas resoluções atribuem ao estágio
curricular supervisionado novas perspectivas.
Na LDB o estágio supervisionado recebe o nome de Prática de Ensino sendo o
único componente curricular definido em lei (Lei 9394/96 art. 65): “a formação docente,
exceto para a educação superior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, 300 horas”.
Conforme coloca BURIOLLA (2001) o estágio supervisionado é:
...o lócus apropriado onde o aluno estagiário treina o seu papel profissional, devendo caracterizar-se, portanto, numa dimensão de ensino-aprendizagem operacional (...) o estágio é o lócus onde a identidade profissional do aluno é gerada, construída e referida; volta-se para o desenvolvimento de uma ação vivenciada, reflexiva e crítica e, por isso, deve ser planejado gradativa e sistematicamente (BURIOLLA, 2001, p.11- 13).
Assim, o período de Prática de Ensino deverá ser visto como um espaço para se
refletir acerca da prática pedagógica dentro de uma formação contínua tanto para os
estagiários como para o professor supervisor que deverá, “Refletir com seus alunos
sobre as experiências que já trazem e projetar um novo conhecimento que ressignifique
que suas práticas, considerando as condições objetivas, a história e as relações de
trabalho vividas”. (PIMENTA e LIMA, 2004, p.127).
E no que se refere ao trabalho pedagógico voltado para a música BELLOCHIO (2001) esclarece:
é preciso que a teoria sobre como agir em educação, especialmente em educação musical, possa ser guiada pela prática educativa real e seus desafios, produzindo saberes mais conscientes frente as incertezas e realidades sócio-educacionais (BELLOCHIO, 2001, p. 41).
É necessário que nas aulas de metodologia da música se coloque os alunos em
contato com a enorme riqueza de elementos presentes, especificamente, no caso desta
13
proposta de intervenção, nos estilos das cantigas de roda e músicas populares infantis.
Assim não se pode ensinar o conceito de timbre, por exemplo, sem vivenciá-lo de forma
expressiva, sem entoar uma canção, sem ouvir uma melodia, para melhor aprender
diferenciá-lo, sem se envolver com a música e expressar as emoções, sem usar o
parâmetro timbre de uma forma musical ou artística.
Assim, cabe ao educador musical ter o compromisso de possibilitar ao aluno a
descoberta de um universo de significados intersubjetivos que só o contato com a
música permite. E para que a ação educativa se cumpra, é necessário que os
professores revisem constantemente os planejamentos e as avaliações para, acima de
tudo, auxiliar o aluno no seu processo de desenvolvimento musical (HENTSCHKE e
DEL BEN, 2003).
HENTSCHKE e DEL BEN (2003) ao tratar sobre o planejamento para a aula de
música consideram –no como tendo um papel primordial pois “planejar e avaliar, em
qualquer área do conhecimento escolar, são condições sine qua non para a efetivação
do ensino” (HENTSCHKE e DEL BEN, 2003, p.176).
A importância do planejamento está justamente no fato de ele ser uma projeção
daquilo que se quer, daquilo que se pretende em relação ao ensino e de como ele
poderá ser realizado em sala de aula. Mas é preciso ter em mente que, embora o plano
oriente a ação de ensinar, isso não significa que essa ação possa ser determinada
previamente em todos os detalhes. Assim
Ao educador musical “não é permitido” permanecer imóvel e inerte diante das inúmeras possibilidades de acesso ao conhecimento. Há a preocupação de não se perder num emaranhado de procedimentos que podem, ao invés de avançar na compreensão dos elementos constitutivos da linguagem musical, levar ao caos no momento da organização das experiências musicais (LOUREIRO, 2008, P. 196).
Pode- se dizer que quanto mais se oportunizar à criança o acesso a este bem
cultural, maior será a sua capacidade para aprender a música, e mais eficaz será o
trabalho educativo.
14
4 IMPLEMENTAÇÃO DA PROPOSTA NA ESCOLA
A proposta de intervenção pedagógica “Ciranda, Cirandinha...Fazendo Música na
Escola”, foi desenvolvida, como já mencionado no segundo semestre de 2010 com a
turma de 4º série do Curso de Formação de Docentes, do Colégio Estadual Santo
Inácio de Loyola, na cidade de Fênix, período noturno e vespertino, horário em que
foram realizadas práticas de estágio sendo 27 alunos com idades entre 18 e 40 anos. A
implementação ocorreu no primeiro momento com o objetivo de desenvolver um
trabalho teórico-prático com os alunos estagiários, acerca do ensino de música, para
ser implementado por eles, nas séries iniciais do ensino fundamental, bem como
mostrar aos mesmos como poderiam inserir os elementos sonoros para as crianças,
através de atividades com materiais diversos de forma prática e concreta, utilizando
dinâmicas variadas.
Após a realização das oficinas com os alunos do curso de Formação de
Docentes, os mesmos empregaram o que aprenderam com os alunos das séries iniciais
do Ensino Fundamental da Escola Municipal Tancredo de Almeida Neves, do município
de Fênix, que funciona em dualidade com o Colégio já citado acima no qual estudam os
alunos estagiários. A Prática de Ensino ocorreu em quatro turmas de 3ª e quatro de 2ª
séries do Ensino Fundamental. As aulas foram em um total de 32 horas-aula sendo 16
com os alunos do curso de Formação de Docentes, 02 aulas à tarde e duas a noite, nas
terças-feiras e 16 aplicadas no Ensino Fundamental.
4.1 SÍNTESE DAS AULAS DOS ALUNOS DO CURSO DE FORMAÇÃO DE
DOCENTES
A proposta se efetivou a partir de estudos teóricos sobre a importância da música
na escola e na formação do professor e dos conteúdos musicais dos elementos do
som. Foram utilizadas cantigas de rodas e canções populares do folclore brasileiro e
produção de portfólio. Também foi realizada uma atividade visando analisar com os
alunos do Curso de Formação de Docentes o conhecimento musical de canções
15
populares dos mesmos. Esta atividade foi aplicada com os alunos das séries iniciais do
Ensino Fundamental. O início da implementação ocorreu com a apresentação da
proposta para os professores, supervisores, direção, alunos e comunidade escolar,
explicando os objetivos e a proposta que consistia em proporcionar um embasamento
teórico- metodológico a fim de conduzir a uma reflexão crítica das práticas educacionais
empregadas no trabalho educacional com a música. Para esta apresentação foram
utilizados a TV Multimídia/Pendrive e material impresso.
Para iniciar a intervenção pedagógica considerou-se importante verificar o
conhecimento dos alunos do Curso de Formação de Docentes acerca de canções
populares, sendo assim foi realizada uma atividade de pesquisa. Depois de um diálogo
com os alunos refletindo acerca da importância da música foi mostrado a eles um CD
do Selo Palavra Cantada “Cantigas de Roda”. Após ouvirem as músicas foi feita uma
reflexão sobre a voz que canta no CD e o som dos instrumentos, isto é, qual era mais
grave ou agudo, se percebiam que um era mais curto ou mais longo, forte ou fraco. Em
seguida eles desenharam um CD escreveram seus nomes e a data na folha e depois
escreveram os nomes das canções populares que conheciam, fazendo uma listagem.
A partir dos dados obtidos sobre o conhecimento dos alunos a respeito das
canções populares foi possível realizar uma atividade de pesquisa em sites da Internet
e no acervo da Biblioteca do Colégio sobre as canções populares, fazendo-se um
resgate das mesmas. Isto ampliou o repertório musical dos alunos sobre canções
populares. As canções mais citadas foram: “Ciranda, Cirandinha”; “O Cravo e a Rosa”;
“Sapo Cururu”; “A Barata Mentirosa”; “Fui ao Tororó” e “Marcha Soldado”.
Após a pesquisa foi selecionada uma canção. Isto aconteceu por votação. A
canção escolhida foi “A Barata Mentirosa” a qual, depois de ser baixada da internet e
gravada em um CD foi ouvida pelos alunos tendo como finalidade de saber que
elementos sonoros os mesmos conseguiam perceber. Aproveitando as informações foi
inserido os elementos sonoros: duração, altura, intensidade e timbre. Para exemplificar
de maneira concreta o tempo sonoro, foram construídas cartelas3 com os alunos do
3 As atividades com cartelas são utilizadas nos cursos de Formação de Docentes dos Projetos Música na Escola e Educação Musical, Escola e Comunidade do Departamento de Música da UEM, vinculados ao Programa de Extensão Universitária “Universidade sem Fronteiras” da SETI/PR, coordenados pela Profª Vania Malagutti Fialho.
16
Curso de Formação de Docentes para serem posteriormente trabalhadas no Estágio
Supervisionado nas séries iniciais do Ensino Fundamental com faixa etária entre 08 e
09 anos. As cartelas foram confeccionadas da seguinte maneira: doze cartelas de
forma retangular sendo que 04 são brancas, 04 vermelhas e 04 azuis. Veja o exemplo:
Em outro momento as cartelas brancas já construídas foram subdivididas em
dimensões variadas para representar o tempo sonoro (a duração), as mesmas foram
subdivididas para que as crianças entendessem o que é um som grande, médio ou
pequeno. Veja o exemplo:
Cartelas construídas para exemplificar o tempo sonoro de maneira concreta.
17
Utilizando ainda as cartelas, mas agora todas cores já citadas, foi inserido um
número para indicar a intensidade: a cor branca (1) foi utilizada para indicar (som fraco),
a cor vermelha (2) (som médio), a cor azul (3) (som forte). Veja o exemplo:
Cartelas construídas para exemplificar o tempo sonoro de maneira concreta.
Cartelas construídas para exemplificar a intensidade de maneira concreta.
18
As cartelas também foram colocadas numa disposição de forma vertical e
horizontal, com tamanhos e cores variadas, para que os alunos percebessem a altura.
Veja o exemplo:
Para que os alunos percebessem o timbre, foram colocadas figuras ou
onomatopéias em cartelas. Veja o exemplo:
Cartelas construídas para exemplificar a altura de maneira concreta.
Cartelas construídas para exemplificar o timbre de maneira concreta.
19
Os trabalhos realizados obtiveram resultados positivos, pois oportunizou fazer
um trabalho com canções populares, ampliando o repertório musical dos alunos, bem
como o reconhecimento dos elementos sonoros.
Considerando os resultados das atividades, constatou-se que os alunos estavam
preparados para se iniciar um estudo mais específico acerca dos elementos sonoros, os
quais foram desenvolvidos das seguintes formas:
DURAÇÃO
Para trabalhar a duração foi importante retomar as aulas anteriores, com o intuito
de lembrar os alunos que podemos identificar de onde vem o som, bem como ele pode
ser curto ou longo. Sendo assim, para que os mesmos percebessem como ocorre a
duração foram utilizadas cartelas de cor branca e tamanhos variados para representar o
tamanho sonoro, levando o aluno a perceber a duração de cada som. Além das cartelas
foram realizadas experiências com flautas, latas e outros materiais para que os alunos
pudessem perceber que a duração do som de uma lata é quase instantânea e que
através do som do instrumento de sopro, é possível ouvir o som prolongando-se no ar
por algum tempo.
Utilizando-se ainda das canções populares (“A Loja do Mestre André”), pode-se
desenvolver um trabalho buscando reconhecer nas músicas ouvidas a duração do som.
Os alunos participaram de modo entusiasmado e em seguida trabalharam esta ação
nas turmas de primeira a quarta série, onde o objetivo de reconhecimento da duração
do som foi alcançado.
INTENSIDADE
Nesta ação em que se propôs trabalhar a intensidade através das canções
populares e jogos, pode-se considerar que tais estratégias foram de suma importância
para que os alunos pudessem reconhecer e identificar os sons. Foram utilizados
20
instrumentos alternativos, bem como encaminhamentos que levassem os alunos a
comparar os sons fortes ou fracos e principalmente de desenvolver a capacidade de
memória auditiva, observação, discriminação e reconhecimento dos sons. A atividade
proposta teve um desempenho relevante, pois os alunos sentiram-se motivados e
demonstraram-se participativos.
ALTURA
Com o intuito de identificar os elementos que compõem o som: altura
(grave/agudo) através de canções populares foram utilizados os seguintes materiais:
CD, aparelho de som, flauta.
O desenvolvimento desta aula iniciou-se com atividades de combinações
simples, seguindo uma ordem crescente de complexidade para que através das
mesmas o aluno pudesse identificar a altura (grave/agudo) nas canções populares
apresentadas.
Outra forma de registro da atividade realizada foram através de gráficos,
cartelas, trabalhos em grupo, interpretação, escritas musicais não convencionais e
repetição de palavras.
O trabalho realizado foi importante para que os alunos pudessem identificar a
altura e desta forma desenvolver a discriminação auditiva e também permitir que o
aluno se expresse. Portanto, vale ressaltar que a ação oportunizou a criação de
condições, de experiências que levaram os alunos a desenvolver o gosto musical pelas
canções populares, bem como adquirir conhecimento sobre os elementos sonoros
(altura).
FONTE SONORA: TIMBRE
A fim de se identificar a fonte sonora timbre, sonorização e escrita gráfica dos
sons, destacou-se a necessidade de colocar os alunos em contato com a enorme
riqueza de elementos presentes nas aulas anteriores, especificamente nos estilos das
cantigas de roda e músicas populares infantis. Assim foi importante ensinar o conceito
de timbre, de forma expressiva, entoando uma canção, ouvindo uma melodia, até
21
mesmo através de confecção de cartelas para ilustrar a fonte sonora, enfim para melhor
aprender e diferenciá-lo. Assim, o trabalho realizado teve o compromisso de possibilitar
ao aluno a descoberta de um universo de significados intersubjetivos que só o contato
com a música permite. Pôde-se constatar que a atividade foi realizada com sucesso,
pois observou-se que a mesma levou os alunos à apropriação do conteúdo.
4.2 SÍNTESE DAS ATIVIDADES APLICADAS COM OS ALUNOS DAS SÉRIES
INICIAIS
Os alunos do curso de Formação de Docentes aplicaram algumas atividades
realizadas com eles nas aulas de Metodologia da Arte com os alunos das séries iniciais
do Ensino Fundamental.
Para exemplificar de maneira concreta o tempo sonoro, foram utilizadas as
cartelas de tamanhos e cores diferentes usadas em jogos para aprendizagem dos
elementos sonoros (já apresentadas no item anterior). Utilizaram-se doze cartelas de
forma retangular sendo: 04 cartelas brancas, 04 cartelas vermelhas e 04 cartelas
pretas, as mesmas serão numeradas de acordo com o seu tamanho. As cartelas
brancas tinham dimensões variadas para representar o tempo sonoro (a duração), as
mesmas foram subdivididas para que as crianças entendessem o que é um som
grande, médio ou pequeno. Esta atividade despertou a atenção e curiosidade das
crianças. Após alguns minutos percebiam pela cor a intensidade, pelas figuras o timbre
e pela posição a altura, perguntando uns aos outros, em uma brincadeira, para ver
quem sabia responder mais rápido.
Utilizando as mesmas cartelas foi realizada outra atividade em que as crianças
foram distribuídas em equipes, as quais criaram seqüências sonoras, que foram
interpretadas por outro grupo e representadas com os recursos escolhidos por eles:
palma, estralar dedos, utilizar a carteira, como também colocavam elementos surpresa
como: estralar a língua, bater o pé, bater colher, soprar na flauta, bater o lápis no chão,
usar folhas de papel. As crianças se entusiasmaram com a brincadeira e por isso
criaram vários elementos surpresa.
Foram propostas também outras experiências:
22
- bater numa lata, e perceber a duração do som, isto é, se foi longo ou curto;
- soprar numa flauta e ficar atento ao prolongamento do som.
As crianças percebiam que a duração do som da lata é quase instantânea e que
através do som do instrumento de sopro, é possível ouvir o som prolongando-se no ar
por algum tempo.
A escuta atenta dos sons do ambiente também foi realizada com as crianças e o
resultado superou as expectativas. Os alunos conseguiram imitar os sons dos objetos e
de tudo que ouviram de forma criativa e com entusiasmo, contagiando uns aos outros.
A atividade com a música “Foi na Loja do Mestre André” desenvolveu-se da
seguinte forma: Pediu-se a cada um que cantasse um trecho que quisessem da música.
Os outros, sem olhar para o aluno, deviam reconhecer quem estava cantando e se o
instrumento escolhido do trecho da música teria o som mais longo ou curto. Em seguida
os alunos formaram dois grupos: um grupo utilizava tamborzinhos de brinquedo e o
outro sininhos. As crianças formaram um único círculo.Os alunos formaram uma roda e
cantaram a música. Formaram dois grupos: um com instrumento musical com som de
ressonância curta (tamborzinho) e outro um instrumento musical com som longo
(sininho). Conforme iam cantando a música ora cantavam “sininho”, ora “tamborzinho”.
Em seguida é pedido a cada um que cante um trecho que quiserem da música. Os
outros, sem olhar para o aluno, tinham que reconhecer quem está cantando e se o
instrumento que foi escolhido do trecho da música tem o som longo ou curto.
Aproveitando as equipes feitas anteriormente, as mesmas escolheram um trecho
da música “Na Loja do Mestre André”, e cada grupo escolheu um símbolo para criar sua
sequência sonora, sendo linhas retas, linhas curvas ou linhas onduladas, utilizaram
mais que um elemento e dimensões variadas. As linhas maiores representavam (som
longo), linhas médias (som médio), linhas pequenas (som curto). De acordo com a
elaboração da sequência sonora de cada equipe, os alunos cantavam a música. No
início as crianças encontraram um pouco de dificuldades, misturando um pouco. Às
vezes colocavam o mesmo tamanho de linha representando sons longos e médios. Mas
após algumas tentativas compreenderam como fazer e demonstram interesse na
atividade.
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Outra ação desenvolvida pelos alunos do curso de Formação de Docentes com
as crianças foi a identificação dos elementos que compõem o som: altura (grave/agudo)
através de canções populares. Foi pedido a eles que soprassem flautas livremente e
depois tapassem todos os orifícios com pedacinhos de jornal e voltassem a soprar as
flautas. Eles perceberam que fechando os orifícios, o som era mais grave do que se
deixassem livres alguns deles. Isto porque, fechando-se todas as aberturas, o ar
percorre um caminho mais longo, no tubo da flauta, do que se houver alguma
passagem aberta. A fim de explorar a altura, os alunos estagiários pediram para que as
crianças repetissem o que eles dissessem, por exemplo: Falavam “Bom dia!” (agudo ou
grave), explorando jeitos diferentes de emitir a mesma palavra. Em seguida distribuíram
os alunos em círculo e a turma escolheu um maestro, o mesmo escolhia uma frase ou
palavra e quando o mesmo levantava a mão todos falavam em voz alta (fino/agudo),
quando abaixava a mão todos falavam em voz baixa (grosso/grave). O maestro
brincava fazendo os gestos, ora rápido, ora devagar. Houve rotatividade na escolha do
maestro.
Quando as crianças já conseguiam perceber a diferença de agudo e grave com
facilidade, os grupos dos sons foram substituídos, para isto foram utilizadas as cartelas
a fim de que os alunos visualizassem e criassem formas e alturas. Esse material
concreto ajudou o estagiário a apresentar os sons graves e agudos aos alunos, que,
através de jogos, puderam diferenciá-los, não só visual, mas auditivamente.
A atividade foi iniciada com combinações simples, seguindo uma ordem
crescente de complexidade.
Em seguida os estagiários pegaram só o grupo dos sons que os alunos
classificaram como graves e fizeram uma nova classificação em graves e agudos,
fizeram o mesmo com o grupo dos sons agudos, fazendo com que eles percebessem
que um som só pode ser classificado se comparado com outro som. Depois pediram
para que as crianças construíssem uma escala musical, do som mais agudo para o som
mais grave, ou vice versa, começando com três sons, quatro... usando as cartelas.
Outra forma de registro da atividade realizada ocorreu através de gráficos em
que os estagiários em transparências, desenharam gráficos representando escritas
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musicais não convencionais, para que as crianças interpretassem esses sons. A
interpretação foi vocal, instrumental e com percussão corporal.
Inicialmente cada criança fez a sua interpretação, da forma que achava melhor.
Após a interpretação os estagiários questionavam-na sobre sua interpretação.
Começaram com gráficos simples, com uma única figura, e foram acrescentando
variações.
Os alunos escreveram a música “Atirei o Pau no Gato” seguindo o movimento da
melodia. Explicou-se às crianças que quando se canta uma canção qualquer, "Atirei o
Pau no Gato", por exemplo, na verdade, se está cantando sons sucessivos, uns mais
agudos, outros mais graves, alguns com duração mais longa, outros com duração mais
curta. Isto é, se canta uma melodia, parte muito importante da música. Melodia é, pois,
uma sucessão organizada de sons que formam uma idéia musical. Do mesmo modo
como se formula uma frase, cria-se uma idéia musical que pode ser longa ou curta, mas
com ritmo, fluência, princípio, meio e fim.
Os estagiários fizeram no quadro um exemplo:
Em seguida as crianças fizeram suas próprias composições e as interpretaram.
Os alunos das séries iniciais demonstraram excelente compreensão e não tiveram
dificuldade em realizar a atividade.
Após os alunos estagiários aplicarem suas aulas práticas nas séries iniciais do
Ensino Fundamental, realizou-se ainda um estudo teórico acerca da importância da
25
música na escola e na formação do professor através de seminário com pesquisa,
discussão e debates, distribuídos da seguinte forma:
1- Preparação: distribuição de temas, organização do calendário das
apresentações, pesquisa e desenvolvimento dos temas: Observação, reflexão e
análise de práticas de educação musical. Compreensão dos significados da
música na sociedade, na escola e para os alunos. Investigação científica da
realidade cotidiana da prática educativa. Conhecimento e análise do
desenvolvimento musical dos alunos. Teorias da Educação Musical;
2- Apresentação dos temas e debates: uso de data show, distribuição de um texto
roteiro e discussão do tema;
3- Relatórios: trabalhos escritos em forma de resumos, onde cada participante
apresentou ideias e conclusões, baseadas na preparação e reformuladas pela
discussão.
Ao término da implementação os alunos organizaram um portifólio com todas as
atividades realizadas, anexando fotos, gravações e CDs com áudio, os quais servirão
de subsídio para a prática pedagógica em música.
4.3 CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO
A avaliação da ação educativa foi pautada na observação e conseqüente
documentação do processo e da qualidade dos contextos criados. A partir dos estudos
e trabalhos realizados os alunos tiveram condições de: refletir acerca das práticas
educacionais empregadas no trabalho educacional com a música; conhecer
metodologias pedagógico-musicais na área de música e utilizá-las na prática; e utilizar
os elementos teórico-metodológicos da área de música na prática de estágio.
Os instrumentos de avaliação foram: apresentação de relatórios, apresentação
das canções trabalhadas para a comunidade escolar, debates, seminário, portfólio,
apresentação de trabalhos realizados em sala de aula, observação da confecção e
manuseio de materiais didáticos feitos pelos alunos do curso de Formação de
Docentes, observação do Estágio Supervisionado, participação em sala de aula,
entrega do Portfólio. Para recuperação foram analisadas as manifestações dos alunos
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observando-se o que foi, realmente aprendido, e foram tomadas ações para reorientar a
aprendizagem dos conteúdos, os quais foram essenciais para a formação dos mesmos.
5 ANÁLISE DAS AÇÕES DESENVOLVIDAS, À GUISA DE CONC LUSÃO
Considera-se que as aulas assim conduzidas atingiram os objetivos propostos.
Foi possível introduzir o trabalho com os conteúdos da música de uma forma
descontraída e alegre. Os alunos do curso de formação de docentes, inicialmente,
demonstraram muito interesse no trabalho, sobretudo gostaram muito de ouvir as
músicas do CD Palavra Cantada, confeccionar o CD pesquisar sobre músicas, ouvir os
sons do ambiente, porém a receptividade não foi a mesma quando se utilizou as
cartelas para identificar de onde vem o som, e como ocorre a sua duração se é curta
ou longa. No entanto quando esta mesma atividade foi aplicada por eles com as
crianças o resultado foi diferente. Elas demonstraram interesse e entusiasmo na
identificação dos sons com este material.
Um ponto altamente positivo foi o envolvimento dos alunos das séries iniciais no
momento em que foi solicitado que cada um, na sua vez, cantasse um trecho que
quisessem da música “Foi na Loja do Mestre André”. Os outros, sem olhar para o aluno,
deveriam reconhecer quem estava cantando e se o instrumento que fora escolhido do
trecho da música tinha o som mais longo ou curto. A interação entre todos foi muito
positiva, incluindo os estagiários que se envolveram com muita alegria na atividade.
Com isso podemos afirmar com LINO (2005, p. 68) o qual coloca que o trabalho
pedagógico deve “possibilitar um ambiente de descoberta e revelação dos imaginários
infantis, buscando a organização da forma e a conquista de outros possíveis, a partir do
fazer musical”.
Não houve dificuldades com relação à preparação do material didático pelos
alunos do curso de Formação de Docentes, porém eles levantaram muitas dúvidas com
relação à adequação do material. SNYDERS (1990, p.79), afirma que “a tarefa do
professor é fazer progredir a comunicação em música até que ela se situe no nível da
arte”. Isso foi um desafio para os estagiários, pois enquanto preparavam o Material
Didático eles questionaram como seria possível trabalhar música com cartelas. Mesmo
27
questionando, eles consideraram que era necessária esta preparação e o planejamento
das aulas sendo que alguns afirmaram mesmo que para eles, aulas de música deviam
ocorrer apenas ouvindo música ou cantando. Após a implementação eles
demonstraram mudança de opinião sobre o assunto, passando a considerar a
necessidade de se aprender o conteúdo da música e não apenas utilizá-la como
pretexto para ensinar outros assuntos.
Observa-se com isso que o estágio realizado foi essencial para a formação dos
alunos, pois segundo o autor:
O estágio (...) é considerado como um espaço que possibilita ao estudante, futuro professor, observar, analisar, atuar e refletir sobre as tarefas características de sua profissão. Essas ações estão inseridas, assim, no que denominamos de prática de ensino, uma vez que o estágio é o ponto de partida da experiência de campo e em campo que permitirá ao licenciado experimentar a prática de ensinar e se comprometer com a profissão de ser professor (TOURINHO, 1995, p.17).
Com relação às dificuldades na implementação, tanto com os alunos do curso de
Formação de Docentes quanto da implementação com as crianças, trata-se da forma
de registro através de gráficos em que em transparências, foram desenhados gráficos
representando escritas musicais não convencionais, para que os alunos interpretassem
esses sons vocais. A dificuldade ocorreu porque mesmo explicando e dando exemplos
os alunos pareciam não acreditar que estavam fazendo a atividade corretamente e
também duvidavam do que o colega fazia. Só após várias propostas diferentes de
elaboração houve uma melhor compreensão.
Começou-se com gráficos simples, com uma única figura, e foi-se acrescentando
variações. Com isso pode se afirmar que “Educar musicalmente é propiciar à criança
uma compreensão progressiva da linguagem musical, através de experimentos e
convivência orientada” (MARTINS, 1985, p.47).
Os resultados positivos obtidos com esta implementação contribuíram para
incentivar os professores das séries iniciais do Ensino Fundamental a trabalharem com
música em suas turmas, e o mesmo trabalho foi realizado em todas as classes sob a
orientação dos alunos do Estágio Supervisionado, que realizaram com isto um trabalho
extra. O trabalho com música envolveu toda a escola, de modo que houve demanda por
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parte dos professores da escola, que foram em busca para aprender como trabalhar
com os seus alunos. Assim, a direção da Escola Municipal Tancredo de Almeida Neves
EF, solicitou que a metodologia fosse repassada aos professores. No dia 24 de
novembro de 2010 todos os alunos da escola foram dispensados e os professores
tiveram um curso sobre como ensinar música na escola, ministrado pelos alunos do
curso de Formação de Docentes.
Finalizando, este artigo objetivou contribuir para um embasamento teórico -
metodológico que conduzisse a uma reflexão crítica das práticas educacionais
empregadas no trabalho educacional com a música. Pôde-se evidenciar que, apesar de
sempre haver um entendimento sobre a importância da música na escola, trabalho com
a mesma não levava em conta o conteúdo musical. A música, enquanto matéria de
estudo, por tudo que foi observado, não estava adequada ao contexto curricular.
Assim foi possível compreender, por meio da realização desta proposta de
intervenção pedagógica que a utilização da música não deve ficar atrelada somente as
datas comemorativas, higiene, memorização de conteúdos, transmissão de conceitos
ou apenas como lazer, pois a sua importância está em fazer, apreciar e refletir sobre a
música.
As atividades musicais realizadas na escola permitiram uma melhor
compreensão da linguagem musical, embora não tenham como objetivo a formação de
músicos, e sim, através da vivência e compreensão da linguagem musical, propiciar a
abertura de canais sensoriais, facilitando a expressão de emoções, ampliando a cultura
geral e contribuindo para a formação integral do ser.
Com certeza haveria necessidade de um período maior com este trabalho para
que o ensino de música torne-se uma prática consistente na escola, mas o alicerce foi
lançado e poderá contribuir para a reintrodução efetiva da música na escola.
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