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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · A crônica é um gênero híbrido que oscila entre a literatura e o jornalismo, resultado da visão pessoal, particular, subjetiva do cronista

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

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Caderno Pedagógico

AMPLIAÇÃO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS ATRAVÉS DOS CONTOS

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LEITURA

Caderno Pedagógico

AMPLIAÇÃO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS ATRAVÉS DOS CONTOS

Sebastiana Sirlene Rodrigues Fabrin Professora – PDE

Prof. Dr. Vladimir Moreira

Orientador

Bela Vista do Paraíso2010

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SUMÁRIO I - FORMAR BONS LEITORES: PREOCUPAÇÃO DE MUITOS PROFESSORES …3

II - DESPERTAR O GOSTO PELA LEITURA: UM GRANDE DESAFIO...................4

III - OBJETIVO GERAL...............................................................................................4

IV - OBJETIVOS ESPECÍFICOS.............................................................................. .5

V - CONHECENDO UM POUCO SOBRE O CONTO...............................................5

VI - OFICINAS …...................................................................................................... 8

Oficina1 …........................................................................................................... 8

O homem nu – 1960............................................................................................ .9

Oficina 2 …......................................................................................................... 12

Conto de verão nº2: Bandeira Branca – 1999.....................................................13

Oficina 3 …......................................................................................................... 18

Pai contra Mãe – 1906.........................................................................................20

Oficina 4 ….......................................................................................................... 24

O homem que sabia javanês – 1911 …............................................................... 25

VII – REFERÊNCIAS…............................................................................................ 36

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I - FORMAR BONS LEITORES: PREOCUPAÇÃO DE MUITOS PROFESSORES

Aprender a ler é um processo que implica a diferenciação entre as formas de

registros, sejam eles escritos ou não. “Todas as tentativas que o sujeito faz para

atribuir sentido a um texto são leituras”.

Há muito conhecimento de leitura que não se restringem ao domínio do

código alfabético, como por exemplo, a capacidade de identificar diferentes gêneros

textuais presentes em diversos suportes. Conhecimento que perpassa desde os

“gêneros primários” presentes no cotidiano: piadas, bilhete, chat … aos

“secundários” pertencentes a comunicação cultural mais elaborada: esfera religiosa,

jornalística, jurídica, e outras esferas da sociedade. Ler é mais do que decodificar

palavras, é atribuir sentido ao texto: “o leitor experiente percebe as palavras

globalmente e adivinha muitas outras, guiado por seu conhecimento prévio e por

suas hipóteses de leitura”. (Ângela Kleiman,1989)

O interacionismo sócio-discursivo não descarta as condições externas ligadas

ao momento da produção textual: lugar de produção, emissor e receptor e isso vai

permitir uma análise descritiva de determinada época, tendo por base um gênero

textual, como as ações e linguagens se tornam mediadoras do meio social, por isso

o professor pode promover atividades que levem os seus alunos a uma percepção

da realidade em que o texto foi escrito, mas, para promover o interacionismo sócio-

discursivo, textos de apoio são necessários.

Um outro aspecto interessante no trabalho com a literatura, em relação

a leitura e interpretação, é a estética da recepção, onde cada leitor pode perceber o

texto de forma diferente, e esta percepção, ainda , pode sofrer variação com o

decorrer do tempo, porém sem perder seu poder de ação, pois o que vai determinar

sua importância é “a percepção suscitada por ela no presente e sendo a recepção

um fato social, a literatura exerce uma função formadora:” a literatura pré-forma a

compreensão de mundo do leitor, influenciando em seu comportamento social

e, para isto, o texto literário não deve confirmar aquilo que se conhece e sim

contrariar suas expectativas de forma que atue no terreno sensorial para perceber

o valor estético, trazer para o presente questões éticas enquanto “exortação à

reflexão moral” e assim, agindo sempre sobre o leitor porque convida-o a participar

de um horizonte que difere do seu.

Para a estética da recepção, o que importa é recuperar a forma de

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transferência de realidade em ficção, pois a compreensão desse processo traz uma

definição de como o artista direcionava seu trabalho aos interesses de seu

público e, ao retornar às expectativas e 'nível de experiências', o leitor pode

aceitá-las, modificá-las, desejar novas atitudes, posicionar-se diante de ideias ou

fatos e até esclarecer suas opções sejam elas submissas ou revolucionárias.

II - DESPERTAR O GOSTO PELA LEITURA: UM GRANDE DESAFIO.

O número de leitores de literatura, sempre foi um problema e está ligado a

questões históricas, e em 1971, com a criação da Lei nº 5692 podemos verificar o

reforço entre trabalho manual e intelectual. E, com a democracia, uma nova clientela

chega à escola, por isso alteram-se programas e metodologia e, para atender a

interesses políticos quanto a formação deste novo público, as formas literárias

consagradas para a formação de homens cultos foi fragmentada para ser assimilada

por alunos de um país capitalista de Terceiro Mundo, sendo assim “a leitura de

literatura precisa se adequar ao gosto “pobre” e “fácil” da nova clientela que a escola

viu-se “obrigada” a educar.”

A sociedade contemporânea percebe os problemas relativos à leitura e

exige respostas urgentes por parte dos educadores, mas não são questões de fácil

solução porque os problemas ligados à leitura necessitam de soluções

abrangentes.

Uma preocupação maior com estas questões são: encontros,

seminários, congressos, e etc promovidos por diversos setores da sociedade que

vem demonstrando interesse em repensar o papel político da leitura e literatura.

III - OBJETIVO GERAL

Possibilitar a leitura e análise de alguns contos para que o aluno

tenha a oportunidade de refletir sobre a importância do ato de ler e perceber a

leitura como instrumento de compreensão dos diferentes universos no qual uma

pessoa possa inserir-se.

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IV - OBJETIVOS ESPECÍFICOS

* Oferecer ao aluno contos de diferentes épocas e diferentes estilos para que

perceba a modificação dos hábitos e costumes, crenças e valores nas diferentes

épocas;

* Analisar contos de diferentes estilos para que o aluno compreenda que ler

é mais do que decifrar palavras, é refletir diante de uma mensagem;

* Orientar o aluno a proceder um dialogo com o texto de forma crítica, sem

necessariamente, concordar com tudo ou rejeitar tudo;

* Estabelecer relações intertextuais entre um conto, uma imagem (quadro),

poema, e entre os próprios contos previstos para estudos nas estratégias de ação;

* Propiciar aos alunos momentos em que o ato de ler aconteça por

um estado de exaltação da alma; para levar, cada um, à reflexão; formação de

opinião e ampliação do conhecimento.

V - CONHECENDO UM POUCO SOBRE O CONTO

Neste caderno pedagógico, vamos conhecer o Gênero textual: o conto, e ,

saber um pouco sobre essas estórias ficcionais.

Gêneros textuais são textos presentes no nosso cotidiano, por

exemplo: a crônica, é um gênero textual, a charge é outro. Dizemos que cada um

destes textos é um gênero porque cada um possui características próprias. O

conto e a crônica são muito parecidos.

Para começar

Você sabe o que é um conto?

Conto é um texto narrativo curto, o qual apresenta uma só trama com

poucos personagens, sendo um só principal e é em torno desse personagem que

giram todos os acontecimentos. Possui os mesmos elementos do romance, mas

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diferencia-se deste pelo tamanho e também por ter característica estrutural própria.

Ainda em consequência das unidades que governam a estrutura do conto, as

personagens tendem a ser estáticas, porque as surpreende no instante climático de

sua existência. O contista as imobiliza no tempo, no espaço e na personalidade

(apenas uma faceta de seu caráter). No conto, a personagem é analisada e/ou

caracterizada pela densidade dramática presente no conflito e resolvido em

desfecho.

Você sabe que a cônica é muito parecida com o conto?

A crônica é um gênero híbrido que oscila entre a literatura e o jornalismo,

resultado da visão pessoal, particular, subjetiva do cronista ante um fato

qualquer, colhido no noticiário do jornal ou no cotidiano. É uma produção

curta, apressada (geralmente o cronista escreve para o jornal alguns dias da

semana, ou tem uma coluna diária), redigida numa linguagem descompromissada,

coloquial, muito próxima do leitor. Quase sempre explora a humor; mas às vezes

diz coisas sérias por meio de uma aparente “conversa fiada”. Noutras,

despretensiosamente faz poesia da coisa mais banal e insignificante. A crônica é

o relato de um flash, de um breve momento do cotidiano de uma ou mais

personagens. O que diferencia a crônica do conto é o tempo, a

apresentação da personagem e o desfecho. O que não se dá na crônica, que

procura captar um lance curioso, um momento interessante, triste ou alegre.

Na crônica, geralmente não há desfecho, esse fica para o leitor imaginar e,

depois, tirar suas conclusões. Uma das finalidades da crônica é justamente

apresentar o fato, nu, seco e rápido, mas não concluí-lo. A possível tese fica a

meio caminho, sugerida, insinuada, para que o leitor reflita e chegue a ela por

seus próprios meios.

Como o conto é o gênero textual que vai nortear nosso estudo, vamos

conhecer um pouco dos elementos presentes em um conto: narrador, personagens,

enredo, espaço e tempo.

NarradorÉ a voz que conta a estória, alguém que pode ou não fazer parte da

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estória, porque o narrador pode ser personagem ou apenas observador, isto é,

observa os fatos e nos conta.

Personagens São as pessoas que estão envolvidas na estória; os seres que realizam ou

sofrem as ações narradas. Cada personagem tem sua função na estória, o

personagem principal ou protagonista é aquele que mais se destaca, pois é com ele

que, geralmente, acontece o incidente. Coadjuvante é o personagem que ajuda o

principal e as personagens secundárias que aparecem apenas para agravar a

situação da personagem principal.

O enredo É a sequência de eventos, em geral, o que dá o movimento, o que precipita o

enredo é o rompimento com estado normal da realidade. Um fato que muda o rumo

dos acontecimentos. Instaurando o problema, o leitor fica á espera da solução que

nada mais é do que o desfecho da situação.

O espaço Toda estória se dá num certo cenário, isto é, as ações se desdobram num certo

espaço. Por isso o espaço faz parte da construção da estória. Ao ambientar o

enredo, o narrador pode valorizar mais alguns espaços: praia deserta; casa no

campo; rua de uma cidade grande e etc e há ainda o espaço psicológico ( a ação

ocorre na consciência da personagem).

O tempo Toda narrativa tem uma duração, ocorre num certo segmento de tempo e

envolve várias dimensões: os acontecimentos podem ser narrados de forma mais

ou menos rápida; em diferentes ordens temporais; cobrindo períodos longos ou

curtos de tempo localizados em diferentes épocas.

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VI - Oficinas

Oficina 1

A criação de Adão. Michelangelo. 1508 (afresco)

www.wikipedia.org

O Teto da Capela Sistina é um monumental afresco de Michelangelo realizado entre os anos de 1508 e 1512 (Capela Sistina no Vaticano). (...) Michelangelo teria feito contrariado este trabalho convencido que era mais um escultor que um pintor Encarregado pelo Papa Júlio II, sobrinho do Papa Sisto IV, de pintar o teto da capela, julgou ser um conluio de seus rivais para desviá-lo da obra para a qual havia sido chamado a Roma: o mausoléu do Papa. Mas, dedicou-se a tarefa e fez com tanta mestria que praticamente ofuscou as obras primas de seus antecessores na empresa. Os afrescos no teto da Capela Sistina são, de fato, um dos maiores tesouros artísticos da humanidade. É difícil acreditar que tenha sido obra de um só homem, e que o mesmo ainda encontraria forças para retornar ao local, duas décadas depois, e pintar na parede do altar (…)

www.wikipedia.org

• Pesquisar na internet o nu retratado na obra de Michelangelo. Fazer

anotações sobre algumas obras encontradas.

• Em círculo cada aluno lerá suas anotações.

• A hora da sacola de texto – Colocar na sacola textos recortados e colados em

papel firme para facilitar a identificação dos textos. Cada aluno deverá identificar a

tipologia textual, apenas para ampliar o conhecimento. Porém o objetivo dessa

atividade é a identificação do conto.

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Depois de identificar os textos, selecionar o texto a seguir para análise.

O Homem Nu Fernando Sabino

Ao acordar, disse para a mulher:

— Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o sujeito com a conta, na certa. Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum.

— Explique isso ao homem — ponderou a mulher.

— Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém. Deixa ele bater até cansar — amanhã eu pago.

(...)

Aterrorizado, precipitou-se até a campainha e, depois de tocá-la, ficou à espera, olhando ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro interromper-se de súbito, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que já era o sujeito da televisão. Bateu com o nó dos dedos:

— Maria! Abre aí, Maria. Sou eu — chamou, em voz baixa. (…)

Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro.

Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro subir lentamente os andares... Desta vez, era o homem da televisão!

Não era. Refugiado no lanço da escada entre os andares, esperou que o elevador passasse, e voltou para a porta de seu apartamento, sempre a segurar nas mãos nervosas o embrulho de pão:

— Maria, por favor! Sou eu!

(...)

Mas eis que a porta interna do elevador se fecha e ele começa a descer.

— Ah, isso é que não! — fez o homem nu, sobressaltado.

E agora? Alguém lá embaixo abriria a porta do elevador e daria com ele ali, em pêlo, podia mesmo ser algum vizinho conhecido... Percebeu, desorientado, que estava sendo levado cada vez para mais longe de seu apartamento, começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais autêntico e desvairado Regime do Terror!

— Isso é que não — repetiu, furioso.

(...)

— Maria! Abre esta porta! — gritava, desta vez esmurrando a porta, já sem nenhuma cautela. Ouviu que outra porta se abria atrás de si.Voltou-se, acuado, apoiando o traseiro no

batente e tentando inutilmente cobrir-se com o embrulho de pão. Era a velha do apartamento vizinho:

— Bom dia, minha senhora — disse ele, confuso. — Imagine que eu... A velha, estarrecida, atirou os braços para cima, soltou um grito:

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— Valha-me Deus! O padeiro está nu!

E correu ao telefone para chamar a radiopatrulha:

— Tem um homem pelado aqui na porta!

Outros vizinhos, ouvindo a gritaria, vieram ver o que se passava:

— É um tarado!

— Olha, que horror!

— Não olha não! Já pra dentro, minha filha!

Maria, a esposa do infeliz, abriu finalmente a porta para ver o que era (...) . Poucos minutos depois, restabelecida a calma lá fora, bateram na porta.

— Deve ser a polícia — disse ele, ainda ofegante, indo abrir.

Não era: era o cobrador da televisão.

Disponível em: http://www.releituras.com/fsabinohomemnu.asp Acesso em: 02 junho 2010

* Fazer a leitura silenciosa do texto

* Fazer leitura dramatizada

* Atividades de reflexão e escrita

a) Como o narrador aparece neste texto?

…...................................................................................................................................

b) Listar e caracterizar as personagens:

principal:.........................................................................................................................

coadjuvante:...................................................................................................................

secundárias:...................................................................................................................

c) Fale sobre o incidente que move o texto.

…...................................................................................................................................

d) Comente sobre o tempo de duração e espaços em que se dão os eventos.

…...................................................................................................................................

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e) O tema do texto é:

(A) a decepção por encontrar-se nu.

(B) a insistência diante da porta fechada.

(C) o uso do famoso “jeitinho brasileiro” resultou numa situação embaraçosa.

(D) a falta de compreensão do vizinho.

f) O trecho “começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka” sustenta a ideia de que:

(A) o não pagamento das dívidas pode causar sérios problemas.

(B) é uma comparação entre o problema vivido pelo personagem com as ideias de um escritor famoso.

(C) a tentativa de enganar outras pessoas pode trazer consequências graves.

(D) a situação era comparada a um verdadeiro pesadelo.

g) Se Deus criou o homem sem roupas, por que a nudez causou constrangimento?

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Debate

1. Abrir uma discussão sobre a honestidade, os valores, a honra dos compromissos,

fazendo comparação com a atualidade.

2. Após a discussão, o grupo deve escolher um aluno para ir registrando no quadro.

Os alunos vão elencar os valores importantes para a vida em sociedade. Ao final

cada um fará seu próprio registro.

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Pesquisar sobre Franz Kafka

http://www.spectrumgothic.com.br/literatura/autores/kafka.htm

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Trabalho interdisciplinar - Professor de Artes :

Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni ( vida e obra)

Oficina 2 – Ao som da música Bandeira Branca (Dalva de Oliveira), os alunos vão

dançar com máscaras confeccionadas por eles mesmos, um aluno e uma aluna

serão escolhidos para ficarem à frente e serão príncipe e princesa, quando a

música parar, aquele que receber proteção ( um objeto qualquer) terá poder para

eliminar alguém, e assim segue a brincadeira até que fique apenas um casal, o qual

receberá as coroas. ( Premiação opcional e o sasal deverá fazer a leitura oral do

conto a seguir logo após leitura silenciosa)

Conto: Conto de verão nº 2: Bandeira Branca, Luís Fernando Veríssimo (1999)

*Leitura silenciosa do conto, observando a linguagem e o estilo do autor.

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Literatura – Conto

Conto de verão nº 2: Bandeira BrancaLuís Fernando Veríssimo

Ele: tirolês. Ela: odalisca . Eram de culturas muito diferentes, não podia dar certo. Mas tinham só quatro anos e se entenderam.(...) Encontraram-se de novo no baile infantil do clube, no ano seguinte. Ele com o mesmo tirolês, agora apertado nos fundilhos, ela de egípcia. Tentaram recomeçar o montinho, mas dessa vez as mães reagiram e os dois foram obrigados a dançar, pular e entrar no cordão, sob ameaça de levarem uns tapas. Passaram o tempo todo de mãos dadas. Só no terceiro Carnaval se falaram.

— Como é teu nome?— Janice. E o teu?— Píndaro.— O quê?!— Píndaro.— Que nome! Ele de legionário romano, ela de índia americana.

***

Só no sétimo baile (pirata, chinesa) desvendaram o mistério de só se encontrarem no Carnaval e nunca se encontrarem no clube, no resto do ano. Ela morava no interior, vinha visitar uma tia no Carnaval, a tia é que era sócia.

— Ah.(...)

No baile do ano em que fizeram 13 anos, pela primeira vez as fantasias dos dois combinaram. Toureiro e bailarina espanhola. Formavam um casal! Beijaram-se muito, quando as mães não estavam olhando. Até na boca. Na hora da despedida, ele pediu:

— Me dá alguma coisa.— O quê?— Qualquer coisa.— O leque.— O leque da bailarina. (...)

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***No ano seguinte, ela não apareceu no baile. Ele ficou o tempo todo à procura,

um havaiano desconsolado. (...) (...)

Mas, no ano seguinte, ele foi ao baile dos adultos no clube — e lá estava ela! Quinze anos. Uma moça. Peitos, tudo. Uma fantasia indefinida.

— Sei lá. Bávara tropical — disse ela, rindo.Estava diferente. Não era só o corpo. Menos tímida, o riso mais alto. Contou

que faltara no ano anterior porque a avó morrera, logo no Carnaval.— E aquela bailarina espanhola? — Nem me fala. E o toureiro? — Aposentado. A fantasia dele era de nada. Camisa florida, bermuda, finalmente um

brasileiro. Ela estava com um grupo. Primos, amigos dos primos. Todos vagamente bávaros. Quando ela o apresentou ao grupo, alguém disse “Píndaro?!” e todos caíram na risada. Ele viu que ela estava rindo também. Deu uma desculpa e afastou-se. Foi procurar o Marcelão. O Marcelão anunciara que levaria várias garrafas presas nas pernas, escondidas sob as calças da fantasia de sultão. O Marcelão tinha o que ele precisava para encher o buraco deixado pela alma. Quinze anos, pensou ele, e já estou perdendo todas as ilusões da vida, começando pelo Carnaval. Não devo chegar aos 30, pelo menos não inteiro. Passou todo o baile encostado numa coluna adornada, bebendo o guaraná clandestino do Marcelão, (...). Mas, quando a banda começou a tocar Bandeira Branca e ele se dirigiu para a saída, tonto e amargurado, sentiu que alguém o pegava pela mão, virou-se e era ela. Era ela, meu Deus, puxando-o para o salão. Ela enlaçando-o com os dois braços para dançarem assim, ela dizendo “não vale, você cresceu mais do que eu” e encostando a cabeça no seu ombro. Ela encostando a cabeça no seu ombro.

***Encontraram-se de novo 15 anos depois. (...)

Disponível em: http://eupodiatamatando.com/sobre/silveira/conto-de-verao-n%C2%BA-2-bandeira-branca/

Acesso em: 18 jun.2010

*Comente suas expectativas geradas pelo título e parágrafos iniciais .

…...................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

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*Construa outro desfecho para o conto.

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* Leitura dos desfechos produzidos e original, fazendo reflexão sobre o porquê das

diferenças.

…...................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

Poema:

www.blogspot.com

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Balada do Amor através das Idades

Eu te gosto, você me gosta desde tempos imemoriais. Eu era grego, você troiana, troiana mas não Helena. Saí do cavalo de pau para matar seu irmão. Matei, brigamos, morremos.

Virei soldado romano, perseguidor de cristãos. Na porta da catacumba encontrei-te novamente. Mas quando vi você nua caída na areia do circo e o leão que vinha vindo, dei um pulo desesperado e o leão comeu nós dois.

Depois fui pirata mouro, flagelo da Tripolitânia. Toquei fogo na fragata onde você se escondia da fúria de meu bergantim. Mas quando ia te pegar e te fazer minha escrava, você fez o sinal-da-cruz e rasgou o peito a punhal... Me suicidei também.

(...)

Carlos Drummond de Andrade, in 'Alguma Poesia' 1930

Disponível em: http://www.citador.pt/poemas.php?op=10&refid=200809120218 Acesso em: 17 jun. 2010

Vocabulário

bergatim: antiga embarcação à vela e remo, esguia e veloz

fragata: embarcação menor que bergatim

boxo: vem do verbo boxar, que é uma variação do verbo boxear, ou seja, lutar boxe. Então “eu boxo” é o mesmo que “eu luto boxe”.

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balada : pode ser um tipo de música épica ou um tipo de poema em estrofes que pode ser acompanhado de música ou não.

As épocas são:1ª estrofe – Grecia antiga2ª estrofe – Império Romano3ª estrofe – Cruzadas4ª estrofe – França da Idade Moderna (antes da Revolução Francesa)5ª estrofe – Tempos atuais

(Fazer trabalho interdisciplinar com o professor de História ).

Atividades

01 – Marque F (falso) ou V (verdadeiro) de acordo com as seguintes informações relacionadas ao texto e assinale a sequência correta.( ) A compreensão do texto e possibilidades de leitura podem ficar comprometida para o leitor que não tenha conhecimentos sobre os fatos históricos citados..( ) A passagem do poeta pelas épocas para falar do amor, mostra que tal sentimento nunca se encaixa nos momentos históricos em que se inserem.( ) O poeta faz referência a épocas e diferentes lugares apenas para ilustrar o poema porque o seu objetivo é falar do amor.( ) O amor contextualizado em diferentes épocas e lugares foi importante para a construção do poema.

a) F, F, V, V b) F, F,V, F c) V, F, V, F d) V, V, F, V

02 - Considere as possíveis interpretações e assinale a alternativa correta.

I - Em todas as estrofes aparecem de forma precisa o papel do homem, valente e corajoso, e o da mulher, sensível e frágil.II - Não há um caso particular de amor, mas cada estrofe mostra um modo de se viver o amor em épocas distintas.III - A última estrofe corresponde ao amor contemporâneo, prosaico, marcado pela rotina das ações do dia a dia.

Está correto o que se afirma em:

a) II e III b) II c) I, II e III d) I e III

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1803 Em relação ao texto assinale a alternativa incorreta.

a) O poema exige do leitor um bom conhecimento de mundo e da história para que ele entenda a poesia, pois nela é citado, de certa forma, a Guerra de Tróia, os costumes romanos e etc.b) O poema também expõe o nome de um dos mais poderosos estúdios de Hoolywood, dando referência aos finais felizes dos filmes.

c) Como o poema é composto de pequenas narrativas acaba abrindo espaço para diferentesinterpretações. Uma vez que apresenta caráter plurissignificativo.

d) O poema apresenta características absurdas; cada narrativa traz um final trágico, as personagens renascem na estrofe seguinte e isto compromete a possibilidade de se estabelecer um sentido coerente e lógico ao texto.

04 -Podemos estabelecer uma relação entre o filme GHOST e o poema de Drummond.

…..................................................................................................................................................

Oficina 3

* Construir um mural com pessoas de pele escura que se destacaram no

século XX. (No Brasil e no mundo)

* Brincadeira ( dinâmica de leitura de palavras), leitura do conto.

Vamos brincar

Todos em círculo, ao som de uma música, passa-se uma caixa de mão em

mão, quando a música para, o aluno que estiver com a caixa na mão, abre-a e

pega um papelzinho lá de dentro. Lê ( em silêncio) a palavra e também seu

significado, depois escolher alguém do grupo para saber se conhece o significado

da palavra lida. O aluno que acertar o significado da palavra, troca de lugar com o

aluno do centro e assim a brincadeira segue até que todas as palavras sejam

reveladas. O significado de cada palavra será reforçado ao final da brincadeira.

Penhora: apreensão judicial de bens.

Onça: peso antigo equivalente a quase 30 gramas.

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Regalo: vida tranquila.

Preservar: proteger.

Retorquir: responder.

Comoção: emoção forte abalo.

Assentou: prometeu.

Açoutes: chicotadas.

Credor: indivíduo a quem se deve dinheiro

Inquilino: indivíduo residente em casa que tomou de aluguel, locatário.

Ferrolho: tranqueta corrediça de ferro, com a qual se fecham portar e janelas.

Empenho: ato de empenhar bens de valor

Obséquio: favor, benefício.

Roda: caixa giratória, instalada na portaria de certos conventos e etc.

Derradeiro: último.

Robusto: vigoroso, potente, forte.

Arquejando: ofegante.

Jazia: imóvel.

Urgia: sem demora, urgente.

*Leitura silenciosa do conto, observando a linguagem e o estilo de Machado de

Assis.

*Leitura oral por um aluno.

Conto: Pai contra Mãe, Machado de Assis (1906)

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PAI CONTRA MÃE

(...) A ternura dos dois foi interrompida por alguém que batia à porta da rua. — Quem é? perguntou o marido.

— Sou eu. Era o dono da casa, credor de três meses de aluguel, que vinha em

pessoa ameaçar o inquilino. Este quis que ele entrasse. — Não é preciso... — Faça favor.

O credor entrou e recusou sentar-se; deitou os olhos à mobília para ver se daria algo à penhora; achou que pouco. Vinha receber os aluguéis vencidos, não podia esperar mais; se dentro de cinco dias não fosse pago, pô-lo-ia na rua. Não havia trabalhado para regalo dos outros. Ao vê-lo, ninguém diria que era proprietário; mas a palavra supria o que faltava ao gesto, e o pobre Cândido Neves preferiu calar a retorquir. Fez uma inclinação de promessa e súplica ao mesmo tempo. O dono da casa não cedeu mais. — Cinco dias ou rua! repetiu, metendo a mão no ferrolho da porta e saindo. Candinho saiu por outro lado. Nesses lances não chegava nunca ao desespero, contava com algum empréstimo, não sabia como nem onde, mas contava. Demais, recorreu aos anúncios. Achou vários, alguns já velhos, mas em vão os buscava desde muito. Gastou algumas horas sem proveito, e tornou para casa. Ao fim de quatro dias, não achou recursos; lançou mão de empenhos, foi a pessoas amigas do proprietário, não alcançando mais que a ordem de mudança. A situação era aguda. Não achavam casa, nem contavam com pessoa que lhes emprestasse alguma; era ir para a rua. Não contavam com a tia. Tia Mônica teve arte de alcançar aposento para os três em casa de uma senhora velha e rica, que lhe prometeu emprestar os quartos baixos da casa, ao fundo da cocheira, para os lados de um pátio. Teve ainda a arte maior de não dizer nada aos dois, para que Cândido Neves, no desespero da crise, começasse por enjeitar o filho e acabasse alcançando algum meio seguro e regular de obter dinheiro; emendar a vida, em suma. Ouvia as queixas de Clara, sem as repetir, é certo, mas sem as consolar. No dia em que fossem obrigados a deixar a casa, fá-los-ia espantar com a notícia do obséquio e iriam dormir melhor do que cuidassem. Assim sucedeu. Postos fora da casa, passaram ao aposento de favor, e dois dias depois nasceu a criança. A alegria do pai foi enorme, e a tristeza também. Tia Mônica insistiu em dar a criança à Roda. “Se você não a quer levar, deixe isso comigo; eu vou à Rua dos Barbonos.” Cândido Neves pediu

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que não, que esperasse, que ele mesmo a levaria. Notai que era um menino, e que ambos os pais desejavam justamente este sexo. Mal lhe deram algum leite; mas, como chovesse à noite, assentou o pai levá-lo à Roda na noite seguinte. Naquela reviu todas as suas notas de escravos fugidos. As gratificações pela maior parte eram promessas; algumas traziam a soma escrita e escassa. Uma, porém, subia a cem mil-réis. Tratava-se de uma mulata; vinham indicações de gesto e de vestido. Cândido Neves andara a pesquisá-la sem melhor fortuna, e abrira mão do negócio; imaginou que algum amante da escrava a houvesse recolhido. Agora, porém, a vista nova da quantia e a necessidade dela animaram Cândido Neves a fazer um grande esforço derradeiro. Saiu de manhã a ver e indagar pela Rua e Largo da Carioca, Rua do Parto e da Ajuda, onde ela parecia andar, segundo o anúncio. Não a achou; apenas um farmacêutico da Rua da Ajuda se lembrava de ter vendido uma onça de qualquer droga, três dias antes, à pessoa que tinha os sinais indicados. Cândido Neves parecia falar como dono da escrava, e agradeceu cortesmente a notícia. Não foi mais feliz com outros fugidos de gratificação incerta ou barata. Voltou para a triste casa que lhe haviam emprestado. Tia Mônica arranjara de si mesma a dieta para a recente mãe, e tinha já o menino para ser levado à Roda. O pai, não obstante o acordo feito, mal pôde esconder a dor do espetáculo. Não quis comer o que tia Mônica lhe guardara; não tinha fome, disse, e era verdade. Cogitou mil modos de ficar com o filho; nenhum prestava. Não podia esquecer o próprio albergue em que vivia. Consultou a mulher, que se mostrou resignada. Tia Mônica pintara-lhe a criação do menino; seria maior a miséria, podendo suceder que o filho achasse a morte sem recurso. Cândido Neves foi obrigado a cumprir a promessa; pediu à mulher que desse ao filho o resto do leite que ele beberia da mãe. Assim se fez; o pequeno adormeceu, o pai pegou dele, e saiu na direção da Rua dos Barbonos. Que pensasse mais de uma vez em voltar para casa com ele, é certo; não menos certo é que o agasalhava muito, que o beijava, que lhe cobria o rosto para preservá-lo do sereno. Ao entrar na Rua da Guarda Velha, Cândido Neves começou a afrouxar o passo. — Hei de entregá-lo o mais tarde que puder, murmurou ele. Mas não sendo a rua infinita ou sequer longa, viria a acabá-la; foi então que lhe ocorreu entrar por um dos becos que ligavam aquela à Rua da Ajuda. Chegou ao fim do beco e, indo a dobrar à direita, na direção do Largo da Ajuda, viu do lado oposto um vulto de mulher; era a mulata fugida. Não dou aqui a comoção de Cândido Neves por não podê-lo fazer com a intensidade real. Um adjetivo basta; digamos enorme. Descendo a mulher, desceu ele também; a poucos passos estava a farmácia onde obtivera a informação, que referi acima. Entrou, achou o farmacêutico, pediu-lhe a fineza de guardar a criança por um instante; viria buscá-la sem falta.

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— Mas... Cândido Neves não lhe deu tempo de dizer nada; saiu rápido, atravessou a rua, até ao ponto em que pudesse pegar a mulher sem dar alarma. No extremo da rua, quando ela ia a descer a de S. José, Cândido Neves aproximou-se dela. Era a mesma, era a mulata fujona. — Arminda! bradou, conforme a nomeava o anúncio. Arminda voltou-se sem cuidar malícia. Foi só quando ele, tendo tirado o pedaço de corda da algibeira, pegou dos braços da escrava, que ela compreendeu e quis fugir. Era já impossível. Cândido Neves, com as mãos robustas, atava-lhe os pulsos e dizia que andasse. A escrava quis gritar, parece que chegou a soltar alguma voz mais alta que de costume, mas entendeu logo que ninguém viria libertá-la, ao contrário. Pediu então que a soltasse pelo amor de Deus. — Estou grávida, meu senhor! exclamou. Se Vossa Senhoria tem algum filho, peço-lhe por amor dele que me solte; eu serei tua escrava, vou servi-lo pelo tempo que quiser. Me solte, meu senhor moço! — Siga! repetiu Cândido Neves. — Me solte! — Não quero demoras; siga! Houve aqui luta, porque a escrava, gemendo, arrastava-se a si e ao filho. Quem passava ou estava à porta de uma loja, compreendia o que era e naturalmente não acudia. Arminda ia alegando que o senhor era muito mau, e provavelmente a castigaria com açoites, — coisa que, no estado em que ela estava, seria pior de sentir. Com certeza, ele lhe mandaria dar açoites. — Você é que tem culpa. Quem lhe manda fazer filhos e fugir depois? perguntou Cândido Neves. Não estava em maré de riso, por causa do filho que lá ficara na farmácia, à espera dele. Também é certo que não costumava dizer grandes coisas. Foi arrastando a escrava pela Rua dos Ourives, em direção à da Alfândega, onde residia o senhor. Na esquina desta a luta cresceu; a escrava pôs os pés à parede, recuou com grande esforço, inutilmente. O que alcançou foi, apesar de ser a casa próxima, gastar mais tempo em lá chegar do que devera. Chegou, enfim, arrastada, desesperada, arquejando. Ainda ali ajoelhou-se, mas em vão. O senhor estava em casa, acudiu ao chamado e ao rumor. — Aqui está a fujona, disse Cândido Neves. — É ela mesma. — Meu senhor! — Anda, entra...

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23 Arminda caiu no corredor. Ali mesmo o senhor da escrava abriu a carteira e tirou os cem mil-réis de gratificação. Cândido Neves guardou as duas notas de cinqüenta mil-réis, enquanto o senhor novamente dizia à escrava que entrasse. No chão, onde jazia, levada do medo e da dor, e após algum tempo de luta a escrava abortou. O fruto de algum tempo entrou sem vida neste mundo, entre os gemidos da mãe e os gestos de desespero do dono. Cândido Neves viu todo esse espetáculo. Não sabia que horas eram. Quaisquer que fossem, urgia correr à Rua da Ajuda, e foi o que ele fez sem querer conhecer as conseqüências do desastre. Quando lá chegou, viu o farmacêutico sozinho, sem o filho que lhe entregara. Quis esganá-lo. Felizmente, o farmacêutico explicou tudo a tempo; o menino estava lá dentro com a família, e ambos entraram. O pai recebeu o filho com a mesma fúria com que pegara a escrava fujona de há pouco, fúria diversa, naturalmente, fúria de amor. Agradeceu depressa e mal, e saiu às carreiras, não para a Roda dos enjeitados, mas para a casa de empréstimo com o filho e os cem mil-réis de gratificação. Tia Mônica, ouvida a explicação, perdoou a volta do pequeno, uma vez que trazia os cem mil-réis. Disse, é verdade, algumas palavras duras contra a escrava, por causa do aborto, além da fuga. Cândido Neves, beijando o filho, entre lágrimas, verdadeiras, abençoava a fuga e não se lhe dava do aborto.

— Nem todas as crianças vingam, bateu-lhe o coração.

Disponível em http:// dominiopublico Acesso em 04/05/2010

*Comentário sobre o conto quanto ao enredo, às personagens, cenário e a vida e o

modo de viver no início do século XX.

* Fazer, coletivamente e no quadro de giz, um paralelo, do comportamento de

Cândido Neves e escrava. Cada aluno registrará no seu material ao final da

atividade.

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* Refletir sobre os fatos ocorridos no conto e listar alguns sentimentos ocorridos

durante a leitura.

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Julgamento de Cândido Neves

*Trazer o fato pata a realidade. ( Se for possível conhecer a sala de julgamento no Fórum da cidade)

* Pesquisar sobre a constituição de um julgamento.

* Marcar o dia, lembrar da organização da sala para o julgamento.

* Realização do julgamento. ( Registrar com fotografias)

Ler notícias sobre julgamento para estabelecer relações intertextuais. (Notícia atual)

Oficina 4

Dinâmica para conhecer as palavras – Levar para a sala balões e em cada

balão uma palavra do conto, cada aluno pegará um balão e um de cada vez deverá

estourar o balão, pegar a papel e falar o significado da palavra, se este não souber

outro aluno poderá responder. O professor vai anotando no quadro: nome do aluno

e número de acertos. O aluno que acertar mais será o vencedor. ( As palavras são

as mesmas do exercício após a leitura)

* Leitura silenciosa do conto, observando a linguagem e o estilo de Lima Barreto.

Conto: O homem que sabia javanês, Lima Barreto (1911)

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O Homem Que Sabia JavanêsLima Barreto

Em confeitaria, certa vez, ao meu amigo Castro, contava eu as partidas que havia pregado às convicções e às respeitabilidades, para poder viver. Houve mesmo, uma dada ocasião, quando estive em Manaus, em que fui obrigado a esconder a minha qualidade de bacharel, para mais confiança obter

dos clientes, que afluíam ao meu escritório de feiticeiro e adivinho. Contava eu isso. O meu amigo ouvia-me calado, embevecido, gostando daquele meu Gil Blas vivido, até que, em uma pausa da conversa, ao esgotarmos os copos, observou a esmo: — Tens levado uma vida bem engraçada, Castelo! — Só assim se pode viver... Isto de uma ocupação única: sair de casa a certas horas, voltar a outras, aborrece, não achas? Não sei como me tenho agüentado lá, no consulado! — Cansa-se; mas, não é disso que me admiro. O que me admira, é que tenhas corrido tantas aventuras aqui, neste Brasil imbecil e burocrático. — Qual! Aqui mesmo, meu caro Castro, se podem arranjar belas páginas de vida. Imagina tu que eu já fui professor de javanês! — Quando? Aqui, depois que voltaste do consulado? — Não; antes. E, por sinal, fui nomeado cônsul por isso. — Conta lá como foi. Bebes mais cerveja? — Bebo. Mandamos buscar mais outra garrafa, enchemos os copos, e continuei: — Eu tinha chegado havia pouco ao Rio estava literalmente na miséria. Vivia fugido de casa de pensão em casa de pensão, sem saber onde e como ganhar dinheiro, quando li no Jornal do Comércio o anuncio seguinte: "Precisa-se de um professor de língua javanesa. Cartas, etc." Ora, disse cá comigo, está ali uma colocação que não terá muitos

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concorrentes; se eu capiscasse quatro palavras, ia apresentar-me. Saí do café e andei pelas ruas, sempre a imaginar-me professor de javanês, ganhando dinheiro, andando de bonde e sem encontros desagradáveis com os "cadáveres". Insensivelmente dirigi-me à Biblioteca Nacional. Não sabia bem que livro iria pedir; mas, entrei, entreguei o chapéu ao porteiro, recebi a senha e subi. Na escada, acudiu-me pedir a Grande Encyclopédie, letra J, a fim de consultar o artigo relativo a Java e a língua javanesa. Dito e feito. Fiquei sabendo, ao fim de alguns minutos, que Java era uma grande ilha do arquipélago de Sonda, colônia holandesa, e o javanês, língua aglutinante do grupo maleo-polinésico, possuía uma literatura digna de nota e escrita em caracteres derivados do velho alfabeto hindu. A Encyclopédie dava-me indicação de trabalhos sobre a tal língua malaia e não tive dúvidas em consultar um deles. Copiei o alfabeto, a sua pronunciação figurada e saí. Andei pelas ruas, perambulando e mastigando letras. Na minha cabeça dançavam hieróglifos; de quando em quando consultava as minhas notas; entrava nos jardins e escrevia estes calungas na areia para guardá-los bem na memória e habituar a mão a escrevê-los. À noite, quando pude entrar em casa sem ser visto, para evitar indiscretas perguntas do encarregado, ainda continuei no quarto a engolir o meu "a-b-c" malaio, e, com tanto afinco levei o propósito que, de manhã, o sabia perfeitamente. Convenci-me que aquela era a língua mais fácil do mundo e saí; mas não tão cedo que não me encontrasse com o encarregado dos aluguéis dos cômodos: — Senhor Castelo, quando salda a sua conta? Respondi-lhe então eu, com a mais encantadora esperança: — Breve... Espere um pouco... Tenha paciência... Vou ser nomeado professor de javanês, e... Por aí o homem interrompeu-me: — Que diabo vem a ser isso, Senhor Castelo? Gostei da diversão e ataquei o patriotismo do homem: — É uma língua que se fala lá pelas bandas do Timor. Sabe onde é? Oh! alma ingênua! O homem esqueceu-se da minha dívida e disse-me com aquele falar forte dos portugueses: — Eu cá por mim, não sei bem; mas ouvi dizer que são umas terras que temos lá para os lados de Macau. E o senhor sabe isso, Senhor Castelo? Animado com esta saída feliz que me deu o javanês, voltei a procurar o anúncio. Lá estava ele. Resolvi animosamente propor-me ao professorado do idioma oceânico. Redigi a resposta, passei pelo Jornal e lá deixei a carta. Em seguida, voltei à biblioteca e continuei os meus estudos de javanês. Não fiz

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grandes progressos nesse dia, não sei se por julgar o alfabeto javanês o únicosaber necessário a um professor de língua malaia ou se por ter me empenhado mais na bibliografia e história literária do idioma que ia ensinar. Ao cabo de dois dias, recebia eu uma carta para ir falar ao doutor Manuel Feliciano Soares Albernaz, Barão de Jacuecanga, à Rua Conde de Bonfim, não me recordo bem que numero. E preciso não te esqueceres que entrementes continuei estudando o meu malaio, isto é, o tal javanês. Além do alfabeto, fiquei sabendo o nome de alguns autores, também perguntar e responder "como está o senhor?" - e duas ou três regras de gramática, lastrado todo esse saber com vinte palavras do léxico. Não imaginas as grandes dificuldades com que lutei, para arranjar os quatrocentos réis da viagem! É mais fácil — podes ficar certo — aprender o javanês... Fui a pé. Cheguei suadíssimo; e, Com maternal carinho, as anosas mangueiras, que se perfilavam em alameda diante da casa do titular, me receberam, me acolheram e me reconfortaram. Em toda a minha vida, foi o único momento em que cheguei a sentir a simpatia da natureza... Era uma casa enorme que parecia estar deserta; estava mal tratada, mas não sei porque me veio pensar que nesse mau tratamento havia mais desleixo e cansaço de viver que mesmo pobreza. Devia haver anos que não era pintada. As paredes descascavam e os beirais do telhado, daquelas telhas vidradas de outros tempos, estavam desguarnecidos aqui e ali, como dentaduras decadentes ou mal cuidadas. Olhei um pouco o jardim e vi a pujança vingativa com que a tiririca e o carrapicho tinham expulsado os tinhorões e as begônias. Os crótons continuavam, porém, a viver com a sua folhagem de cores mortiças. Bati. Custaram-me a abrir. Veio, por fim, um antigo preto africano, cujas barbas e cabelo de algodão davam à sua fisionomia uma aguda impressão de velhice, doçura e sofrimento. Na sala, havia uma galeria de retratos: arrogantes senhores de barba em colar se perfilavam enquadrados em imensas molduras douradas, e doces perfis de senhoras, em bandós, com grandes leques, pareciam querer subir aos ares, enfunadas pelos redondos vestidos à balão; mas, daquelas velhas coisas, sobre as quais a poeira punha mais antiguidade e respeito, a que gostei mais de ver foi um belo jarrão de porcelana da China ou da Índia, como se diz. Aquela pureza da louça, a sua fragilidade, a ingenuidade do desenho e aquele seu fosco brilho de luar, diziam-me a mim que aquele objeto tinha sido feito por mãos de criança, a sonhar, para encanto dos olhos fatigados dos velhos desiludidos... Esperei um instante o dono da casa. Tardou um pouco. Um tanto trôpego, com o lenço de alcobaça na mão, tomando veneravelmente o simonte de antanho, foi cheio de respeito que o vi chegar. Tive vontade de ir-me embora.

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Mesmo se não fosse ele o discípulo, era sempre um crime mistificar aquele ancião, cuja velhice trazia à tona do meu pensamento alguma coisa de augusto, de sagrado. Hesitei, mas fiquei. — Eu sou, avancei, o professor de javanês, que o senhor disse precisar. — Sente-se, respondeu-me o velho. O senhor é daqui, do Rio? — Não, sou de Canavieiras. — Como? fez ele. Fale um pouco alto, que sou surdo, — Sou de Canavieiras, na Bahia, insisti eu. — Onde fez os seus estudos? — Em São Salvador. — Em onde aprendeu o javanês? indagou ele, com aquela teimosia peculiar aos velhos. Não contava com essa pergunta, mas imediatamente arquitetei uma mentira. Contei-lhe que meu pai era javanês. Tripulante de um navio mercante, viera ter à Bahia, estabelecera-se nas proximidades de Canavieiras como pescador, casara, prosperara e fora com ele que aprendi javanês. E ele acreditou? E o físico? perguntou meu amigo, que até então me ouvira calado. — Não sou, objetei, lá muito diferente de um javanês. Estes meus cabelos corridos, duros e grossos e a minha pele basané podem dar-me muito bem o aspecto de um mestiço de malaio...Tu sabes bem que, entre nós, há de tudo: índios, malaios, taitianos, malgaches, guanches, até godos. É uma comparsaria de raças e tipos de fazer inveja ao mundo inteiro. — Bem, fez o meu amigo, continua. — O velho, emendei eu, ouviu-me atentamente, considerou demoradamente o meu físico, pareceu que me julgava de fato filho de malaio e perguntou-me com doçura: — Então está disposto a ensinar-me javanês? — A resposta saiu-me sem querer: - Pois não. — O senhor há de ficar admirado, aduziu o Barão de Jacuecanga, que eu, nesta idade, ainda queira aprender qualquer coisa, mas... — Não tenho que admirar. Têm-se visto exemplos e exemplos muito fecundos... ? . — O que eu quero, meu caro senhor... — Castelo, adiantei eu.

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— O que eu quero, meu caro Senhor Castelo, é cumprir um juramento de família. Não sei se o senhor sabe que eu sou neto do Conselheiro Albernaz, aquele que acompanhou Pedro I, quando abdicou. Voltando de Londres, trouxe para aqui um livro em língua esquisita, a que tinha grande estimação. Fora um hindu ou siamês que lho dera, em Londres, em agradecimento a não sei que serviço prestado por meu avô. Ao morrer meu avô, chamou meu pai e lhe disse: "Filho, tenho este livro aqui, escrito em javanês. Disse-me quem mo deu que ele evita desgraças e traz felicidades para quem o tem. Eu não sei nada ao certo. Em todo o caso, guarda-o; mas, se queres que o fado que me deitou o sábio oriental se cumpra, faze com que teu filho o entenda, para que sempre a nossa raça seja feliz”.Meu pai, continuou o velho barão, não acreditou muito na história; contudo, guardou o livro. Às portas da morte, ele mo deu e disse-me o que prometera ao pai. Em começo, pouco caso fiz da história do livro. Deitei-o a um canto e fabriquei minha vida. Cheguei até a esquecer-me dele; mas, de uns tempos a esta parte, tenho passado por tanto desgosto, tantas desgraças têm caído sobre a minha velhice que me 1embrei do talismã da família. Tenho que o ler, que o compreender, se não quero que os meus últimos dias anunciem o desastre da minha posteridade; e, para entendê-lo, é claro, que preciso entender o javanês. Eis aí. Calou-se e notei que os olhos do velho se tinham orvalhado. Enxugou discretamente os olhos e perguntou-me se queria ver o tal livro. Respondi-lhe que sim. Chamou o criado, deu-lhe as instruções e explicou-me que perdera todos os filhos, sobrinhos, só lhe restando uma filha casada, cuja prole, porém, estava reduzida a um filho, débil de corpo e de saúde frágil e oscilante. Veio o livro. Era um velho calhamaço, um in-quarto antigo, encadernado em couro, impresso em grandes letras, em um papel amarelado e grosso. Faltava a folha do rosto e por isso não se podia ler a data da impressão. Tinha ainda umas páginas de prefácio, escritas em inglês, onde li que se tratava das histórias do príncipe Kulanga, escritor javanês de muito mérito. Logo informei disso o velho barão que, não percebendo que eu tinha chegado aí pelo inglês, ficou tendo em alta consideração o meu saber malaio. Estive ainda folheando o cartapácio, à laia de quem sabe magistralmente aquela espécie de vasconço, até que afinal contratamos as condições de preço e de hora, comprometendo-me a fazer com que ele lesse o tal alfarrábio antes de um ano. Dentro em pouco, dava a minha primeira lição, mas o velho não foi tão diligente quanto eu. Não conseguia aprender a distinguir e a escrever nem sequer quatro letras. Enfim, com metade do alfabeto levamos um mês e o

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Senhor Barão de Jacuecanga não ficou lá muito senhor da matéria: aprendia e desaprendia. A filha e o genro (penso que até aí nada sabiam da história do livro) vierama ter notícias do estudo do velho; não se incomodaram. Acharam graça e julgaram a coisa boa para distraí-lo. Mas com o que tu vais ficar assombrado, meu caro Castro, é com a admiração que o genro ficou tendo pelo professor de javanês. Que coisa Única! Ele não se cansava de repetir: "É um assombro! Tão moço! Se eu soubesse isso, ah! onde estava!” O marido de Dona Maria da Glória (assim se chamava a filha do barão), era desembargador, homem relacionado e poderoso; mas não se pejava em mostrar diante de todo o mundo a sua admiração pelo meu javanês. Por outro lado, o barão estava contentíssimo. Ao fim de dois meses, desistira da aprendizagem e pedira-me que lhe traduzisse, um dia sim outro não, um trecho do livro encantado. Bastava entendê-lo, disse-me ele; nada se opunha que outrem o traduzisse e ele ouvisse. Assim evitava a fadiga do estudo e cumpria o encargo. Sabes bem que até hoje nada sei de javanês, mas compus umas histórias bem tolas e impingi-as ao velhote como sendo do crônicon. Como ele ouvia aquelas bobagens!... Ficava extático, como se estivesse a ouvir palavras de um anjo. E eu crescia aos seus olhos! Fez-me morar em sua casa, enchia-me de presentes, aumentava-me o ordenado. Passava, enfim, uma vida regalada. Contribuiu muito para isso o fato de vir ele a receber uma herança de um seu parente esquecido que vivia em Portugal. O bom velho atribuiu a cousa ao meu javanês; e eu estive quase a crê-lo também. Fui perdendo os remorsos; mas, em todo o caso, sempre tive medo que me aparecesse pela frente alguém que soubesse o tal patuá malaio. E esse meu temor foi grande, quando o doce barão me mandou com uma carta ao Visconde de Caruru, para que me fizesse entrar na diplomacia. Fiz-lhe todas as objeções: a minha fealdade, a falta de elegância, o meu aspecto tagalo. — "Qual! retrucava ele. Vá, menino; você sabe javanês!" Fui. Mandou-me o visconde para a Secretaria dos Estrangeiros com diversas recomendações. Foi um sucesso. O diretor chamou os chefes de secção: "Vejam só, um homem que sabe javanês - que portento!" Os chefes de secção levaram-me aos oficiais e amanuenses e houve um destes que me olhou mais com ódio do que com inveja ou admiração. E todos diziam: "Então sabe javanês? É difícil? Não há quem o saiba aqui!" O tal amanuense, que me olhou com ódio, acudiu então: "É verdade, mas eu sei canaque. O senhor sabe?" Disse-lhe que não e fui à presença do ministro.

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A alta autoridade levantou-se, pôs as mãos às cadeiras, concertou o pince-nez no nariz e perguntou: "Então, sabe javanês?" Respondi-lhe que sim; e, à sua pergunta onde o tinha aprendido, contei-lhe a história do tal pai javanês. "Bem, disse-me o ministro, o senhor não deve ir para a diplomacia; o seu físico não se presta... O bom seria um consulado na Ásia ou Oceania. Por ora, não há vaga, mas vou fazer uma reforma e o senhor entrará. De hoje em diante, porém, fica adido ao meu ministério e quero que, para o ano, parta para Bâle, onde vai representar o Brasil no Congresso de Lingüística. Estude, leia o Hovelacque, o Max Müller, e outros!" Imagina tu que eu até aí nada sabia de javanês, mas estava empregado e iria representar o Brasil em um congresso de sábios. O velho barão veio a morrer, passou o livro ao genro para que o fizesse chegar ao neto, quando tivesse a idade conveniente e fez-me uma deixa no testamento. Pus-me com afã no estudo das línguas maleo-polinésicas; mas não havia meio! Bem jantado, bem vestido, bem dormido, não tinha energia necessária para fazer entrar na cachola aquelas coisas esquisitas. Comprei livros, assinei revistas: Revue Anthropologique et Linguistique, Proceedings of the English-Oceanic Association, Archivo Glottologico Italiano, o diabo, mas nada! E a minha fama crescia. Na rua, os informados apontavam-me, dizendo aos outros: "Lá vai o sujeito que sabe javanês”.Nas livrarias, os gramáticos consultavam-me sobre a colocação dos pronomes no tal jargão das ilhas de Sonda. Recebia cartas dos eruditos do interior, os jornais citavam o meu saber e recusei aceitar uma turma de alunos sequiosos de entenderem o tal javanês. A convite da redação, escrevi, no Jornal do Comércio um artigo de quatro colunas sobre a literatura javanesa antiga e moderna... — Como, se tu nada sabias? interrompeu-me o atento Castro. — Muito simplesmente: primeiramente, descrevi a ilha de Java, com o auxílio de dicionários e umas poucas de geografias, e depois citei a mais não poder. — E nunca duvidaram? perguntou-me ainda o meu amigo. — Nunca. Isto é, uma vez quase fico perdido. A polícia prendeu um sujeito, um marujo, um tipo bronzeado que só falava uma língua esquisita. Chamaram diversos intérpretes, ninguém o entendia. Fui também chamado, com todos os respeitos que a minha sabedoria merecia, naturalmente. Demorei-me em ir, mas fui afinal. O homem já estava solto, graças à intervenção do cônsul holandês, a quem ele se fez compreender com meia dúzia de palavras

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holandesas. E o tal marujo era javanês - uf! Chegou, enfim, a época do congresso, e lá fui para a Europa. Que delícia!Assisti à inauguração e às sessões preparatórias. Inscreveram-me na secção do tupi-guarani e eu abalei para Paris. Antes, porém, fiz publicar no Mensageiro de Bâle o meu retrato, notas biográficas e bibliográficas. Quando voltei, o presidente pediu-me desculpas por me ter dado aquela secção; não conhecia os meus trabalhos e julgara que, por ser eu americano brasileiro, me estava naturalmente indicada a secção do tupi-guarani. Aceitei as explicações e até hoje ainda não pude escrever as minhas obras sobre o javanês, para lhe mandar, conforme prometi. Acabado o congresso, fiz publicar extratos do artigo do Mensageiro de Bâle, em Berlim, em Turim e Paris, onde os leitores de minhas obras me ofereceram um banquete, presidido pelo Senador Gorot. Custou-me toda essa brincadeira, inclusive o banquete que me foi oferecido, cerca de dez mil francos, quase toda a herança do crédulo e bom Barão de Jacuecanga. Não perdi meu tempo nem meu dinheiro. Passei a ser uma glória nacional e, ao saltar no cais Pharoux, recebi uma ovação de todas as classes sociais e o presidente da república, dias depois, convidava-me para almoçar em sua companhia. Dentro de seis meses fui despachado cônsul em Havana, onde estive seis anos e para onde voltarei, a fim de aperfeiçoar os meus estudos das línguas da Malaia, Melanésia e Polinésia. — É fantástico, observou Castro, agarrando o copo de cerveja. — Olha: se não fosse estar contente, sabes que ia ser? — Que? — Bacteriologista eminente. Vamos? — Vamos.

Gazeta da tarde – 1911

Disponível em http:// dominiopublico.gov.br Acesso em 05/07/2010

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* Pesquise o significado das seguintes palavras e indique o significado apresentado

pelo texto.

partidas embevecido esmo capiscasse hieróglifos

calungas adido pejava alameda

animosamente anosas desguarnecidos pujança

enfunadas bandós basané aduziu cartapácio

alfarrábio vasconço tagalo amanuenses

* Leitura oral do texto, observando o uso das palavras pesquisadas.

* Estimular os alunos a pensar e escrever sobre os seguintes aspectos do conto:

I Personagens_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ II enredo

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ III Espaço

_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

VI Linguagem

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01 – Marque F (falso) ou V (verdadeiro) de acordo com as seguintes interpretações que podemos fazer após a leitura texto e assinale a sequência correta.

( ) O conto mostra um triste retrato do Brasil e do brasileiro evidenciando a nossa inclinação para o oportunismo e para a improvisação e denuncia um país em desordem onde as aparências escondem e protegem os mais variados “Castelos” do cenário nacional.

( ) A ordem social é minada pela desordem pelas trocas de favores, pelos títulos importantes que protegem e garantem status. O conhecimento nem sempre é o mais valorizado. Porque para se ter ascensão na sociedade com rapidez, as relações com pessoas influentes é o que importa, estar próximo ao poder e construir uma imagem positiva são mais importantes que o verdadeiro saber.

( ) O personagem “Castelo” sabe que a tal desordem está camuflada pela aparente ordem e que ambas convivem como as leis, as normas e a burocracia. E pela malandragem, sabe minar o campo da ordem para tirar proveito. Como ele mesmo diz: é num “Brasil burocrático e imbecil” que se acham as oportunidades para “as belas páginas da vida.”

( ) O tema do conto, felizmente, não faz parte de nossa realidade, pois não nos deixamos, mais, impressionar pelas palavras complicadas do médico, pelas bonitas palavras dos políticos e nem pela linguagem complicada dos economistas sobre os problemas econômicos. Porque, hoje, temos certeza de que as pessoas alcançam lugar de destaque pela cultura e pelo conhecimento e não mais pela malandragem e pelo oportunismo.

a) F, F, V, V b) F, F,V, F c) V, F, V, F d) V, V,V, F e) V, V, F, V

* Estimular os alunos a relembrar o assunto de cada conto e verificar o que há em

comum entre os contos.

1. O homem nu – 1960

2. Conto de verão nº2: Bandeira Branca – 1999

3. Pai contra Mãe – 1906

4. O homem que sabia javanês – 1911

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35 Surpresa: sessão pipoca. Assistir pequenos filmes (contos transformado em filme)

(preparar pipoca e suco para a classe)

*Fazer comparação entre texto e filme, dando oportunidades para que expressem

suas opiniões.

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VII - REFERÊNCIAS

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Martins Fontes. São Paulo, 1972.

BATTELLA, Nádia. Toria do conto. Ática. 5ª ed. São Paulo, 1990.

BRONCKART, Jean-Paul. Atividades de linguagens, texto e discurso. Por um

interacionismo sócio-discursivo. Trad. Anna Raquel Machado e Péricles Cunha. São

Paulo: Educ, 1997/1999.

KAUFMAN, Ana Maria; Rodrigues, Maria Helena. Escola, leitura e produção de

textos. Porto Alegre: Artmed, 1995.

LAJOLO, Marisa. O texto em sala de aula. In Zilberman, Regina (org). Leitura em

crise na escola. Porto Alegre: Mercado Aberto,1982.

MAGNANI, Maria do rosário M. Leitura, literatura e escola: sobre a formação do

gosto. São Paulo: Martins Fontes, 1989;

MORICONI, Ítalo (org). Os cem melhores contos brasileiros do século. Rio de

Janeiro: Objetiva, 2001;

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Currículo básico para a escola

pública do Estado do Paraná. 2 ed. Curitiba: SEED, 1992.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes curriculares da rede pública

de educação básica do Estado do Paraná – Língua portuguesa. Curitiba: SEED,

2008.

ZILBERMAN, Regina. Estética da recepção e história da literatura. São Paulo: Ática,

2009.