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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2008 Versão On-line ISBN 978-85-8015-039-1 Cadernos PDE VOLUME I

DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE O PROFESSOR PDE E … · depois do parto - perca peso enquanto amamenta”, “Sol, mar e muita malhação - corpo perfeito, alma lavada”, “Venci

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 20

08

Versão On-line ISBN 978-85-8015-039-1Cadernos PDE

VOLU

ME I

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - SEED

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO - SUED

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE

TÍTULO:

IMPACTO DA SOCIEDADE DE CONSUMO NA REPRESENTAÇÃO DO CORPO

Jacarezinho- 2009

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IMPACTO DA SOCIEDADE DE CONSUMO NA REPRESENTAÇÃO DO CORPO

Idê Néia Acorsi1

Prof. Alfredo Moreira da Silva Júnior2

Resumo: O presente artigo tem por objetivo investigar o impacto da sociedade de consumo na representação do corpo e suas implicações, na vida dos alunos da Escola Estadual “Cecília Meireles” - Bandeirantes –PR, com idade entre 13 e 16 anos, bem como com alguns professores/funcionários. Partindo da premissa de que a mídia é hoje o principal veículo de divulgação de padrões estéticos, e nisto auxilia a criar no imaginário das pessoas, que a idéia nos apresentada do corpo magro malhado, esquálido, mulheres lindas, homens musculosos, é o ideal de beleza a ser seguido. Essa busca, às vezes insana pela perfeição corporal muitas vezes é confundida com felicidade, realização, gerando grandes frustrações. Os padrões de beleza veiculados pela mídia em geral levam jovens, adolescentes e até adultos menos informados a estado enfermidade em busca do enquadramento social, e para conseguir vale tudo. Este trabalho busca conscientizar os jovens da importância de se abordar esse tema em ambiente escolar e, também como alerta quanto a se prevenir diante da insistente abordagem dos meios de comunicação, sobre beleza e seus procedimentos para alcançar os padrões por eles estabelecidos.

Palavras - chave: mídia – corpo – beleza

Abstract : The article has the objective to investigate the impact of society’s consumption in the representation of the body and its implications in the student’s life with age between 13 and 16 years old and some teachers at Escola Estadual Cecília Meireles in Bandeirantes- PR. Based in the premise that media is today the main vehicle of spreading aesthetic standards, and this assists to create in the imaginary of people that the idea presented of thin and athletic body, squalid, pretty women, athletic men, search of the healthful body, pretty and perfect, ideal beauty, is the ideal beauty to be followed. Searching the insane corporal perfection sometimes is confused with happiness, achievement, giving great frustrations for the person. The standards of beauty in media generally take the teenagers, adults and even non informed adults about this illness, searching a social status that worth everything to get it. This article wants to aware teenagers about the importance of approaching this theme at school and, also as an alert to prevent people of approaching this theme by the means of communication that insistently talk about this subject, on beauty and its ways to reach the standard established by the society.

Keywords: media - body - beauty

1 Professora QPM e aluna do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, Universidade Estadual do Norte do Paraná - e-mail: [email protected]

2 Professor orientador do Programa de Desenvolvimento Educacional, UENP- Campus de Jacarezinho, Doutorando em Ciência da Religião pela PUC/SP, Mestre em História pela UNESP/Assis

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1. Introdução

“Dieta da Banana, a dieta derrete 3 kg em 10 dias”, “Que pernão”, “Beleza

construída”, “Magra sem sair de casa”, “Caminhada seca-barriga”, “Corpo em dia

depois do parto - perca peso enquanto amamenta”, “Sol, mar e muita malhação -

corpo perfeito, alma lavada”, “Venci a luta contra a balança e eliminei 34 quilos”;

“Fique em forma naturalmente”. Como podemos observar os títulos das reportagens

de revista são muito atrativos, os citados acima são alguns selecionados de uma

única revista de veiculação mensal que tem como objetivo tratar somente de beleza:

assim com também programas de TV como “Dez anos mais jovem”, “A verdadeira

idade”, “Esquadrão da moda”, prometem e induzem as pessoas a valorizarem cada

vez mais as formas físicas.

A mídia é hoje o principal veículo de divulgação de padrões estéticos, e

nisto auxilia a criar no imaginário das pessoas a idéia que nos foi apresentada.

O mundo consumista que nos cerca exerce uma influência muito grande

em nossas vidas, as crianças e jovens são mais receptivos às mensagens

veiculadas na mídia, considerado o principal veículo de divulgação dos padrões

estéticos, e nisto auxilia criar a idéia apresentada do corpo esquálido, esguio,

“malhado”, “sarado”, mulheres lindas, saudáveis, homens musculosos, etc. E essa

busca incansável sugere o alcance da almejada, sonhada, e querida felicidade;

partindo desse pressuposto, surge uma indagação sobre a atitude do jovem em

meio a esse bombardeio de propagandas de TV, revistas, outdoors, jornais e muitas

delas com mensagens diretas sobre a beleza. Os jovens e adolescentes de hoje

estão preparados para filtrar, absorver somente o que é necessário, e não o que é

colocado como objeto de consumo?

A partir desta reflexão surgiu da idéia de desenvolver um trabalho

direcionado a esse público carente de informação calcada na formação de uma

identidade autêntica, real, verdadeira e não a copiada, imaginada e tão sonhada

perfeição; da busca constante em ser ou parecer igual à determinado artista

(cantores, atrizes, atores, apresentadores, etc.). Segundo Uitdewilligen (2008), “o

modelo almejado, que ganha cada vez mais espaço através da mídia, é baseado em

atletas de grande destaque, nos galãs de novela, nos manequins e modelos

famosos, onde estão em evidencia os corpos musculosos, sem excessos de

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gordura, com pele dourada.” Isto induz as pessoas à imitação, levando muitos à

obsessão ao embelezamento do corpo, assim perseguem o tão sonhado “corpo

perfeito”.

2. O conceito de Beleza e suas Implicações

2.1 Conceitos de Beleza ao Longo da História

Desde a Pré-História o homem representa a si próprio, e essa

representação constitui-se numa maneira dele contar sua história, seus costumes,

sua cultura. A arte é um dos elementos mais ricos da produção humana. Através das

obras dos grandes artistas, podemos compreender a própria história da

humanidade. A representação da figura humana, é tão antiga quanto a própria

história do homem, varia de acordo com a visão de mundo das diferentes culturas,

assim também o conceito de beleza vem se modificando através dos séculos.

Estudos têm demonstrado a forma como o corpo se configura em símbolo de uma

cultura, esses símbolos ajudam-nos a compreender melhor o mundo que envolve

determinados povos, pelos seus vestuários, pinturas corporais, ornamentos, se

projetam como códigos de identidade. O culto ao corpo sempre esteve presente na

humanidade, antigamente era mais presente nas elites, Como nos diz Derdyk

(1990), “O corpo transmuta. É transparente a passagem do corpo no tempo pela

transformação visível de sua matéria. O corpo é testemunha de nossa existência,

documento vivo”.

Na Pré-História a figura humana era representada exaltando as partes

mais valorizadas pela cultura. Segundo Proença (2001) “predominam as figuras

femininas, com a cabeça surgindo como prolongamento do pescoço, seios

volumosos, ventre saltado e grandes nádegas”. Era a representação do que mais os

impressionava e interessava. A mulher foi um modelo constante na Arte, através dos

tempos.

Para os egípcios a representação do corpo era submetida a lei da

frontalidade, configurava uma realidade eterna e imutável em que refletia o método

construtivo rigoroso. Derdyk (1990) mostra que para eles a representação das

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figuras era proporcional de acordo com a posição hierárquica. Existe uma grande

indagação quanto à cor da pele dos egípcios, devido a localização do Egito ficar na

África. Os egípcios, pelo menos em sua maioria, não eram negros, mas brancos de

pele morena. No entanto, vale lembrar que houve miscigenação entre egípcios e

núbios. Núbia se localizava em parte do território dos atuais Egito e Sudão Os reis

núbios que então governaram o país são conhecidos como "faraós negros".

Para os gregos a representação da figura humana era expressão máxima

da perfeição da beleza e do equilíbrio (cânones). O homem era a criatura mais

importante. Na cidade de Esparta os homens eram mais preocupados com a beleza

física e o preparo dos soldados, endeusavam os corpos fortes, musculosos.

Preocupavam com a beleza, mas não eram escravizados por ela, como acontece

hoje em dia. Atenas preocupava com a beleza intelectual e com a democracia. A

mulher bonita era aquela que fosse gorda e com quadril largo, pois para eles

simbolizava a fertilidade e saúde; conceito bem diferente dos atuais. Para

Hipocrátes o homem, nem nenhuma outra coisa deve ultrapassar os limites

estabelecidos grande estudioso da medicina, considerado pai da medicina dizia:

“Nem a sociedade, nem pela natureza.

Grandes filósofos, pensadores também teorizaram sobre o beleza, “o

belo”, para Platão (427 – 348 a.C.), sua preocupação é com a beleza ideal, não com

a beleza que se encontra nas coisas, “afirma que a beleza que percebemos no

mundo material participa de um Belo ideal” (Kaminski, p. 271, 2007), para Sócrates

(469-399 a.C), "toda beleza é difícil”, associa o belo ao útil, “assim todo objeto que

se adapta e cumpre com sua função, é belo.” (idem, p. 271), para Aristóteles outro

importante filósofo grego “a beleza é própria da criação humana e resulta do perfeito

equilíbrio de uma série de elementos”.

Na Idade Média a figura humana é representada de forma esquemática e

desvinculada da observação anatômica, pois nesse período todo o conhecimento

era centralizado em Deus. A valorização do corpo vinha via espírito que só era

valorizado por ser a morada de Deus, persistindo a visão dual (corpo e alma). O

corpo era tratado com respeito e moderação, com discrição dentro da ética e da

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moral3, devendo seguir as leis de Deus, renunciando aos prazeres, por ser uma

ameaça à vida (pecado).

Já no Renascimento há uma grande concentração nos estudos e no

conhecimento do homem, houve grandes mudanças culturais e ao mesmo tempo

em que a arte clássica (greco-romana) era subitamente revivida era também

superada (tomado apenas como fonte de inspiração) por esse momento histórico

rico em novidades. A figura humana retoma suas dimensões ideais, há uma

valorização do homem e da natureza, em oposição ao divino e ao sobrenatural. Foi

acentuada a importância do estudo da natureza e da ciência. O homem passa ser o

centro de tudo, a criatura mais importante do universo (ideal humanista), ou seja, a

partir do Renascimento, o ser humano passou a ser o grande foco das

preocupações da vida e do imaginário dos artistas. O retrato, por exemplo, tornou-se

um dos gêneros mais populares da pintura, utilizado, na ausência da fotografia, para

o registro de pessoas e famílias nobres e burguesas. A beleza do corpo antes vista

como pecaminosa, volta a ser explorada. Leonardo Da Vinci realiza estudos sobre o

corpo, pesquisa sua anatomia,o que influência sua criação artística.

Na Idade Moderna rompe-se com o modo renascentista de representação

da figura, inaugura-se um período de inovação e liberdade, multiplicam-se as

tendências os estilos e concepções estéticas. Há representações de mulheres

gordas, pele branca, passando para mulheres magras, de cintura marcada, seios

volumosos, rostos finos, quase angelicais. Neste período algumas mulheres da alta

sociedade (elite) tomavam vinagre para ficarem com aspecto de palidez, chegavam

a desmaiar em festas em nome do conceito de beleza vigente na época.

Na era Contemporânea mudam-se completamente os códigos de

representações, do figurativo ao abstrato. A partir dessas mudanças e com o

advento das tecnologias o homem passa a “conviver com uma representação quase

que diária de sua própria imagem, oferecida pelos extensos meios de comunicação”,

como nos diz Derdyk (1990, p.36),). O homem passa a ser a figura central, marcada

3 Por ética entendemos ser uma regra que dentro de um grupo, determina ou define um ato individual como sendo feito

em detrimento desse grupo e vice-versa. O ato ético recebe aprovação de todos quando se afere nos limites de um grupo

onde não hpa relação de força e dominação. Concluindo ética se refere sempre a atos responsáveis.

Quanto a moral é o conjunto de regras reveladas que visa, dentro de um determinado grupo, manter uma relação estável de poder entre estado e sociedade.

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pela instantaneidade da imagem oferecida pela mídia. A mídia é a grande vitrine da

exposição física, o cinema foi o primeiro veículo a abrir as portas para esse novo

conceito de beleza, as atrizes de Hollywood sempre belas, com corpos esbelto,

esguio, usando maquiagem, principalmente o batom, contribuíram para a expansão

das indústrias de cosméticos e da moda, e na formulação de um novo ideal físico.

Os anos 20 são o marco histórico do ideal de magreza, quando ocorre o

aparecimento das dietas, onde o homem toma para si a responsabilidade de

desenhar seu próprio corpo, como uma forma de definir (afirmar) sua identidade

individual, maior capacidade de sociabilidade, nesse período a corporeidade ganha

cada vez mais evidência.

Após a Segunda Guerra há uma grande mudança de comportamento

fundamental através da propagação de hábitos de higiene, associado ao cuidado do

corpo, e também pela democratização da moda, que passa a ser popularizada pela

revistas femininas, como nos diz Lipovetsky (1999 apud Castro 2001):

“Após a Segunda Guerra Mundial, o desejo de moda expandiu-se com força, tornou-se um fenômeno geral, que diz respeito a todas as camadas da sociedade [...] os signos efêmeros e estéticos da moda deixaram de aparecer, nas classes populares como um fenômeno inacessível reservado aos outros: tornaram-se uma exigência de massa, um cenário de vida decorrente de uma sociedade que sacraliza a mudança, o prazer, as novidades”. (1999:p.115 apud Castro 2001:p.25).

Aqui podemos constatar como os meios de comunicação massificam os

indivíduos fazendo com que suas regras sejam assimiladas como verdades, como

aquilo que é certo, e é impregnada na sociedade, até como um objetivo social, um

status.

Para Uitdewilligen (2008) “os corpos contemporâneos carregam o peso de

grandes expectativas e muitas ansiedades, estão rodeados de regras e

constrangimentos no que se refere à sua estética, formato, virilidade, potência,

desempenho físico”.

Sempre em todo o tempo e em toda a cultura, a beleza do corpo foi e

sempre será exaltada por pintores, escultores, compositores musicais e poetas,

como o nosso poeta maior Vinícius de Moraes, em Receita de Mulher:

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[...] As muito feias que me perdoem Mas beleza é fundamental [...]

[...] É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas, e as pontas pélvicas

No enlaçar de uma cintura semovente. Gravíssimo é, porém, o problema das saboneteiras: uma mulher sem [saboneteiras ]

É como um rio sem pontes. Indispensável Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida

A mulher se alteie em cálice, e que seus seios Sejam uma expressão greco-romana, mais que gótica ou barroca

E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de 5 velas. Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebral Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal!

Os membros que terminem como hastes, mas bem haja um certo volume de [coxas E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima [penugem]

No entanto, sensível à carícia em sentido contrário. É aconselhável na axila uma doce relva com aroma próprio Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!)

Preferíveis sem dúvida os pescoços longos De forma que a cabeça dê por vezes a impressão

De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos

Discretos. A pele deve ser fresca nas mãos, nos braços, no dorso e na face.”

O texto acima, nos remete a um conceito considerado atrativo sexual,

presente desde o início da vida, e que tem na beleza corporal um considerável peso.

O autor relata minuciosamente o que para ele seria a mulher ideal. Ao analisarmos

as credenciais que ele atribui à beleza corporal da mulher, podemos notar que são

os mesmos dos dias atuais. Tanto as artes plásticas, como a poesia, a literatura, a

música tratam a beleza estética como algo com toque de divino, porém utópico. A

beleza como a única coisa que se tem para oferecer, como já comentamos no início

deste texto.

2.2 Afinal Beleza é Fundamental?

As mídias fazem e continuarão a fazer parte de nossa civilização. Porém

as mídias, principalmente a TV não são de todo ruins, se observados por um ângulo

otimistas, onde os jovens atualmente por meio delas são mais informados sobre

vários assuntos, formulam opiniões, e aumentam sua socialização. Entretanto nosso

objeto de estudo é a educação da linguagem midiatista, explicando a esse público

que se trata de um mundo simbólico, construído por outras pessoas, um mundo

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totalmente inventado, imaginário, pois uma mensagem televisiva nem sempre

expressa a realidade. Como nos diz Pelegrini (2005):

A mídia contemporânea vincula somente corpos que se encaixam em um

padrão estético “aceitável”, mediado pelos interesses da indústria de consumo.

Modelos corporais são evidenciados como indicativo de beleza, em todos os

formatos de mídia, num jogo de sedução e imagens. Trata-se de vincular à

representação da beleza estética ideais de saúde, magreza e “atitude”.

Configurando-se como objeto de desejo um corpo bonito, jovem, “malhado”, com

idéias de vencedor e rodeado pelo consumo. Esse conjunto de fatores acabou por

criar no imaginário social uma associação entre “corpo ideal” e sucesso.

Com o avanço da tecnologia e da ciência, conquistamos saúde,

longevidade e mais qualidade e vida e, com essas conquistas surgem novas

gerações dedicadas à técnicas de culto ao corpo, em busca do ideal de perfeição,

tornam seus corpos espelhos dos padrões de beleza vendidos como ideais,

perfeitos, que são expostos nos meios de comunicação de massa. Esses padrões

hoje ditados pelos meios de comunicação são absorvidos pelos adolescentes e, por

vezes acabam por influenciar de maneira negativa na vida desses jovens, e também

uma grande maioria de adultos.

Os efeitos da TV, e de outros meios de comunicação, são influenciados

pela emoção, pelo desejo, e, principalmente são inconscientes, despercebidos. Em

se tratando especificamente da TV, ela transforma em consumidores, em potencia,

crianças da mais tenra idade. Enquanto as escolas, os professores se esforçam ao

máximo formar cidadãos, ela fabrica consumidores; pois os meios de comunicação

têm uma visão capitalista e muitas vezes irresponsável. A televisão nossa de cada

dia acaba por criar ilusões de novos estilos de vida, transforma nossas fantasias

douradas em razão de vida, nos vende uma realidade que a própria realidade nega,

e acaba por decidir a nossa vida, não apenas como consumidor, mas infelizmente

decide também como cidadão. Decidir não ser influenciado pelos meios de

comunicação é muito difícil, é preciso ter conhecimento e uma educação em (re)

conhecer as tentativas enganosas de nos ludibriar.

Diante dessa constatação surgiu o interesse em investigar o impacto da

sociedade consumo na representação do corpo e suas implicações, na vida dos

alunos da Escola Estadual “Cecília Meireles” - Bandeirantes –Pr. com idade entre 13

e 16 anos, bem como com professores e funcionários.

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A discussão a respeito da excessiva valorização do corpo é um tema

sempre atual. Evidente que esse tema não se constitui como nenhuma novidade, o

culto ao corpo sempre esteve presente em diversas culturas e épocas ditando

padrões de beleza. Estamos vivendo uma era de culto ao corpo, no Brasil teve início

a partir dos anos 90. Porém, os padrões de beleza vêm se transformando, se

atualizando. Diante dessa realidade é oportuno fazer um trabalho voltado à questão

do resgate da identidade e da auto-estima, investigar qual o papel da TV no

cotidiano dos jovens alunos, os perigos do culto ao corpo, alertando, discutindo,

também, sobre os distúrbios alimentares. Cumpre-se assim o papel social da escola,

primando pelo bem estar, pela qualidade de vida, saúde física de seus alunos e

comunidade escolar. Em um mundo que, a cada instante, apresenta mudanças

significativas, o processo de identificação do adolescente faz-se mais desafiador, em

razão das diferenças de padrões éticos e comportamentais. Temos percebido que o

ideal de uma imensa parte da população, tem sido a busca incessante pela

aparência física. O ter ocupou o lugar do ser.

Outras questões que também causam inquietação como: qual o ideal de

beleza buscado pelos adolescentes, jovens e adultos na contemporaneidade? Quais

outros problemas são gerados na cabeça dos adolescentes em função do dilema do

“corpo que se tem e o corpo que se quer”? Como lidar e quais instrumentos utilizar

para recuperar a auto-estima dos adolescentes? Esses questionamentos vão muito

além da beleza, da estética tão desejada, entramos também nas questões de saúde

e no lado inverso dos problemas de anorexia e bulimia.

3. Distúrbios Comportamentais

3.1 Anorexia Nervosa

A preocupação com o peso e a forma corporal leva o adolescente a iniciar

uma dieta progressivamente mais seletiva, evitando ao máximo alimento de alto teor

calórico. Aparecem outras estratégias para perda de peso como: exercícios físicos

excessivos, vômitos, jejum absoluto, etc. Segundo alguns especialistas, esta perda

de peso provoca alterações químicas no cérebro, levando a pessoa a ver gordura

onde ela não existe. A anorexia por tempo prolongado pode levar a graves

problemas de saúde, como a osteoporose e dano aos rins. A pessoa segue se

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sentindo gorda apesar de estar extremamente magra, acabando por se tornar

escrava das calorias e de rituais em relação à comida. Isola-se da família e dos

amigos, ficando cada vez mais triste, irritada e ansiosa. Dificilmente a pessoa admite

ter problemas e não aceita ajuda de forma alguma. A família às vezes demora muito

tempo para perceber que algo está errado. Assim, as pessoas com anorexia nervosa

podem não receber tratamento médico até que se tornem muito magras e

desnutridas.

3.2 Causas da Anorexia Nervosa

Não existe uma única causa para explicar o desenvolvimento da anorexia

nervosa. Essa síndrome é considerada multi- determinada por uma mescla de

fatores biológicos, psicológicos, familiares e culturais. Alguns estudos chamam

atenção que a extrema valorização da magreza e o preconceito com a gordura nas

sociedades ocidentais estariam fortemente associados à ocorrência desses quadros.

Uma diminuição da pressão cultural e familiar com relação à valorização

de aspectos físicos, forma corporal e beleza pode eventualmente reduzir a

incidência desses quadros. É fundamental fornecer informações a respeito dos

riscos dos regimes rigorosos para obtenção de uma silhueta "ideal", pois eles têm

um papel decisivo no desencadeamento dos transtornos.

3.3 Bulimia Nervosa

A bulimia nervosa é uma doença relacionada à alimentação (um

"transtorno alimentar", no vocabulário dos médicos). Na bulimia, a pessoa come

muito (parece que está com muita fome). Depois, ela se sente culpada porque acha

que com toda essa comida, ganhou peso. Então, ela provoca o vômito, toma

laxativos ou diuréticos (remédios que soltam o intestino e que aumentam a produção

de xixi), tudo para tentar se "livrar" do aumento de peso. Uma pessoa bulímica pode

também fazer exercícios físicos exageradamente, com o mesmo objetivo. Esse

comportamento de comer muito e depois vomitar não acontece todos os dias da vida

do bulímico e, sim, de duas a três vezes por semana, mais ou menos. Em geral, o

doente come escondido dos outros ou guarda comida em baixo da cama. Como o

bulímico fica sempre nesse processo de comer e “por para fora”, ela não perde

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peso. Por isso, tanto a família quanto os médicos têm mais dificuldade em descobrir

a doença.

Em geral, os bulímicos são pessoas depressivas, que se sentem

inferiores aos outros. Muitas vezes, a pessoa com bulimia sabe que tem um

problema, mas não consegue controlar a doença e a esconde, com vergonha. A vida

de um bulímico gira em torno de um ciclo vicioso, pois ele faz uma dieta rigorosa e

um pouco depois inicia a compulsão de comer. As causas são a ênfase para a

predisposição genética, pressão familiar, valorização do corpo magro como ideal de

beleza (cultura da magreza), que leva alguns jovens a imaginarem que para ter

beleza é necessário ser magra e isso, leva-as a lutar para ter um corpo ideal,

chegando a extremos. A ajuda deve vir do apoio dos familiares, tratamentos

psicológicos, de internamentos para reposição de nutrientes e evitar as recidivas.

3.4 Vigorexia ou Síndrome de Adônis

É um transtorno obsessivo-compulsivo em que o indivíduo torna-se

dependente por atividades físicas, onde a malhação é tudo na vida, com uma

valorização praticamente religiosa (fanatismo) ou a tal ponto de exigir

constantemente seu corpo sem importar com eventuais conseqüências ou contra-

indicações, mesmo medicamente orientadas,

A Vigorexia também é conhecida por "overtrainning" (em inglês),

"Síndrome de Adônis" ou Transtorno Dismórfico Muscular. Tal transtorno acomete

principalmente homens, mas também pode ocorrer em mulheres.

Portadores da Vigorexia são pessoas que só buscam a imagem corporal

perfeita, influenciadas por uma sociedade consumista, e por modelos culturais

atuais, onde o culto a imagem acaba adquirindo primordial importância, exigindo

insensatamente de seu organismo até sua meta ser alcançada. O abuso de

atividades físicas pode acarretar em muitos problemas físicos, como lesões

musculares, insônia, desinteresse sexual, irritação, fraqueza, má alimentação, entre

outros. Apesar de tais prejuízos orgânicos, os vigoréxicos também podem

apresentar outros sinais como: baixa auto-estima, timidez, desmotivação, depressão

entre outros.

13

Por se tratar de um transtorno descoberto recentemente os critérios de

diagnóstico para a Vigorexia ainda não estão claramente estabelecidos. O sintoma

central parece ser uma distorção na percepção do próprio corpo e deste sintoma

decorrem os demais, como por exemplo, a obsessão pelos exercícios e dietas

especiais, onde buscam eliminar completamente alimentos que contenham gorduras

e consomem exageradamente proteínas. A situação de um vigoréxico pode se

agravar se buscar em anabolizantes o aumento da massa corpórea, pois esses

podem provocar problemas cardiovasculares, câncer de próstata, diminuição dos

testículos, etc.

Esse tipo de sintoma básico (percepção distorcida do próprio corpo)

também é o sintoma principal dos transtornos alimentares.

A psiquiatria e a psicoterapia cognitivo-comportamental juntas, tem obtido

resultados eficazes em seu tratamento, onde o profissional e familiares podem fazer

com que o individuo se conscientize que a preocupação com o corpo é bem vinda,

mas a demasia é prejudicial.

Em cada época o homem busca sua identidade, sua auto-afirmação

sempre a procura de um corpo perfeito, ideal, para muitas vezes ser aceito na

sociedade, essa passou a ser uma preocupação cada vez mais presente na vida das

pessoas, uma obsessão. Como podemos constatar no desabafo do cantor e

compositor Hebert Viana:

“'Cirurgia de lipoaspiração?'

Pelo amor de Deus, eu não quero usar nada nem ninguém, nem falar do que não sei, nem procurar culpados,

nem acusar ou apontar pessoas, mas ninguém está percebendo que toda essa busca insana pela estética ideal é muito menos lipo-as e muito mais piração?

Uma coisa é saúde outra é obsessão. O mundo pirou, enlouqueceu.”

[...]. “A sociedade consumidora, a que tem dinheiro, a que produz, não pensa em mais nada além da imagem, imagem, imagem.

Imagem, estética, medidas, beleza. [...]Ok, eu também quero me sentir bem, quero caber nas roupas,

quero ficar legal, quero caminhar, correr, viver muito, ter uma aparência legal mas... Uma sociedade de adolescentes anoréxicas e bulímicas,

de jovens lipoaspirados, turbinados, aos vinte anos não é natural. “

Essa realidade que se apresenta diante de nós é conseqüência da

avalanche de imagens e representação do corpo expressa na atualidade através da

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mídia, sempre buscando nos apresentar um padrão de beleza existente no meio

social e o excesso de valorização atribuída a ele, o endeusamento da beleza e

repercute de forma considerável na vida das pessoas e principalmente das

mulheres. Os homens não estão imunes a essa cultura de beleza, nos últimos anos

se percebem mudanças nesse sentido. Eles têm investido em sua aparência,

buscando tratamento de beleza, freqüentando cada vez mais academias, para

conquistar um corpo “malhado”, “sarado”; e para isso muitos recorrem ao uso (e

abuso) de hormônios e anabolizantes. Segundo Kehl (FOLHA, 2002) para milhares

de brasileiros, incentivados pela publicidade e pela indústria cultural, o sentido da

vida reduziu-se a produção de um corpo [...] a cultura do corpo não é a cultura da

saúde, como quer parecer. As pessoas se espelham nesses conceitos achando que

é bom, há um barateamento da vida, atitudes que só poderão se mudadas com a

compreensão da sociedade, o entendimento da máquina que veicula esse tipo de

produção, necessidade de esclarecimento e resistência; os jovens são levados pela

onda. Os efeitos da TV (de outros meios de comunicação) são influenciados pela

emoção, pelo desejo, e principalmente são inconscientes, despercebidos.

Os conceitos de beleza que atualmente veiculam nas mídias trazem

certos danos à saúde das pessoas, em detrimento de intervenções, tais como:

dietas, cirurgias plásticas e bariátricas, aplicações de botox, exercícios físicos, uso

de anabolizantes, silicone, etc. As propagandas de cosméticos, produtos de

emagrecimento veiculados na TV, são elaboradas com o objetivo de persuadir o

telespectador (muitas vezes a mulher) a um padrão de beleza pré-estabelecido.

Entretanto a mídia tem grande responsabilidade na definição e constituição de

modelos corporais. Assim como diz Berger (2006, p.119) “vemos mulheres lindas na

mídia o tempo todo, recebemos via publicidade virtual ou convencional, inúmeras

mensagens imagéticas que sugerem que emagrecer, e ser bonito é um passaporte

para a felicidade”. Também segundo Bordieu (1997, p.17) “[...] a tela de televisão se

tornou hoje uma espécie de espelho de Narciso, um lugar de exibição narcísica.”;

essa é uma característica das sociedades de consumo.

A busca pela perfeição corporal muitas vezes é confundida com felicidade

e realização, gerando grandes frustrações. A obsessão pela aparência pode causar

estresse, ansiedade, tornando deprimidas e infelizes pessoas saudáveis que não

atingem o padrão de beleza que a sociedade exige. Quem acaba por lucrar com

essas situações de inversão de prioridade são as indústrias de cosméticos. Nessa

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era de consumismo exacerbado pode-se dizer que belo é tudo aquilo que se vende.

Portanto, beleza vira mercadoria que através de diferentes técnicas, mais do que

tudo é desejada, e torna-se passível de ser compradas, comercializadas. Como

afirma em uma frase o cantor e compositor, Beto Alves: “Se passamos a consumir

tudo e todos, passamos também a ser consumidos por tudo e por todos”.

4. Metodologia

Para a coleta de dados da pesquisa lançamos mão de três instrumentos;

observação dos indivíduos pesquisados, aplicação de questionário para alunos e

professores (professor/aluno; professor/professor), utilizando a escala de Likert,

(MATTAR, apud Brandalise, 2005) os resultados serão apresentados ao final deste

artigo; antes da aplicação do questionário e durante todo o processo investigativo e

de implementação do projeto fez-se a aplicação da Produção Didática (neste caso

uma Unidade Temática) para estudo e realização das atividades propostas, como

parte do conteúdo curricular; bem como análise reflexiva de pesquisa feita pelos

alunos em revistas, sites de internet, atividade realizada em grupos sobre,

Procedimentos Estéticos Invasivos e não Invasivos. Distúrbios Alimentares e

Conceitos de Beleza na Contemporaneidade, tais trabalhos foram apresentados à

sala e amplamente debatidos. Posteriormente fez-se o estudo de um recorte do

artigo de Thiago Pellegrini “Mídia e o Mercado dos Corpos”, como informação e

reflexão. Para complementação da implementação foi assistido dois vídeos, o

primeiro, “Beleza” (veiculado no Youtube), que traz de forma impactante e reflexiva

como os programas de computação modificam a imagem, transformando e

divulgando como beleza ideal, mostrando como a mídia pode iludir quanto ao

protótipo de beleza por ela veiculado. O segundo, documentário Super Size-me – a

Dieta do Palhaço, que aborda as conseqüências e os perigos de uma alimentação

de má qualidade em exagero, onde o personagem se propõe a uma dieta, durante

um mês, só se alimentar de sanduíches, comidas de fast-foods, sem se submeter a

nenhum exercício físico e ao final resultando na perda de sua saúde. Tais atividades

foram pensadas com o objetivo de conscientizar os jovens, da importância de se

abordar esse tema em ambiente escolar e, também como alerta quanto a se

prevenir diante da insistente abordagem dos meios de comunicação, sobre beleza e

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seus procedimentos para alcançar os padrões por eles estabelecidos. A mídia trata

hoje a beleza estética, corporal como a única coisa que se tem a oferecer.

Durante o desenvolvimento do Programa de Desenvolvimento (PDE) uma

das atividades propostas foi o Grupo de Trabalho em Rede (GTR), realizado no

segundo semestre de 2008, onde contamos apenas com 04 professores da rede

participantes, dos quais somente 03 concluíram o curso.

No decorrer do curso foi colocado para análise e apreciação dos

participantes, o Projeto de Implementação, o material de Produção Didática (neste

caso uma Unidade Temática), por orientação da monitoria do curso; e também o

artigo científico de autoria de Thiago Pellegrini “Imagens do Corpo, Reflexões sobre

as Acepções Construídas pelas Sociedades Ocidentais”, por tratar de forma crítica

uma reflexão sobre a necessidade de modificação e acepção de corpo

contemporâneo que tem sido cada vez mais massificado por segmentos midiáticos

nossa sociedade, e ainda aborda os mecanismos utilizados para a construção dos

modelos estéticos e os interesses mercadológicos envolvidos na sua propagação.

Quanto à participação dos cursistas não foi muito satisfatória, pois mesmo

com insistentes pedidos de complementação das atividades, não houve o feedback

esperado, não dando nenhum subsídio consistente para a elaboração deste artigo.

5. Resultados

A intenção deste trabalho visou investigar e discutir, os efeitos da mídia

em relação “cultura do culto ao corpo e suas implicações nos jovens, alunos das 8ª

séries da Escola Estadual “Cecília Meireles”- Ensino Fundamental, da cidade de

Bandeirantes –Pr., totalizando 44 alunos participantes, de classe baixa, com média

salarial de dois salários mínimos por família) e, professores/funcionários, num total

de 38, somente 10 participaram do projeto, percebe-se faltou interesse e espírito

colaborativo em participar da pesquisa e assim contribuir para a melhoria da

educação; mesmo entregando o questionário, estes não retornaram.

Nota-se a falta de consciência de alguns profissionais de que o foco está

na necessidade do aluno, necessitando proporcionar orientação num processo

contínuo, coerente e consistente em relação à busca de uma melhor qualidade de

vida. Entretanto pelos resultados obtidos, pode-se considerar que a grande maioria

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dos professores/funcionários já estão influenciados (dominados) pelo mundo

consumista, contribuindo para o culto à “beleza”. Os professores/funcionários

participantes são de classe média, com média salarial de 03 a 08 salários mínimos

por família, aqui a diferença de nível sócio-econômico demonstra grande relevância

no comportamento das pessoas. Quanto aos jovens mesmo sendo constado que

ficam mais tempo assistindo a TV, baseado em dados coletados através de

questionário e estudos de textos, constatamos que os alunos não estão sendo

influenciado em relação a métodos invasivos tais como: cirurgias plásticas,

lipoaspiração, aplicação de silicone, cirurgia bariátrica (redução do estômago).

Os dados aqui apresentados foram calculados em percentual das

questões em relação ao número de participantes. Apenas 0,5% apresentaram

preocupação com o cuidado exagerado ao corpo, desenvolvendo a bulimia

acompanhada de depressão, atualmente encontra-se em tratamento; 95% nunca

pensaram em recorrer a tais recursos, e 4,5% quem sabe futuramente, se tiver

condição financeira fariam lipoaspiração abdominal. Entretanto são influenciados na

questão da moda, cuidados com cabelos e cosméticos, desses 100% das meninas;

e os meninos também 100% em relação a tênis e bonés de marca; “Viu né, melhora

o visual”, frase de um aluno. O trabalho com estudos de textos auxiliou nos

esclarecimentos e prevenção da influência da mídia em nossos comportamentos,

hábitos e costumes. Querer ser bonitos como muitos artistas, modelos, atrizes, creio

que todos gostaríamos de ser, porém a preocupação exagerada pode levar os

jovens, a um verdadeiro abismo, pois cada um é de um jeito e, muitas vezes aqueles

que se acham o “patinho feio” se isolam, causando sérios problemas emocionais.

Temos que cuidar para não cair na tentação de querermos ter corpos esculturais, e

ficar com a cabeça vazia, porque se a pessoa fica obstinada pela beleza exterior,

corre um sério risco de perder o que é mais precioso no ser humano, amor-próprio, o

entusiasmo, dignidade, confiança, a Vida.

Entre os professores participantes 50% já se submeteram a algum tipo de

correção estética, como cirurgia plástica, bariátrica, prevenção contra o

envelhecimento (com laser), dessas 30% alegaram ter recorrido a tratamentos

invasivos por correr riscos com a saúde, e 20% por cuidados com a aparência,

“vaidade feminina”. Os outros 50% ainda não tem necessidade de tais

procedimentos, pois são jovens, estão “com tudo em cima”. Aqui constamos que o

nível sócio-econômico dá condições e estimula a vontade de recorrer a métodos

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mais invasivos; onde a renda familiar atinge o teto de três a oito salários mínimos em

média.

Após o término da implementação do projeto, as mudanças notadas no

comportamento dos alunos foi muito sutil, porém por pequena e insignificante que

seja a mudança de atitude, o importante é a auto-percepção daquilo que estão por

passar; pois o tempo destinado ao desenvolvimento do mesmo foi muito curto,

sendo necessário mais tempo para pesquisa, discussão e debate do assunto, para a

formação de jovens conscientes e críticos da sua realidade, agindo como cidadãos

responsáveis detentores da ética e da moral.

6. Considerações finais .

No mundo de hoje a imagem tomou uma importância exacerbada no

mundo contemporâneo. Segundo Pellegrini (2005), “A mídia contemporânea veicula

somente corpos que se encaixam em um padrão estético aceitável, mediado pelos

interesses da indústria de consumo”. A busca incessante para se “encaixar” a um

modelo corporal estabelecido como ideal, pode desencadear problemas de saúde,

psicossociais e muitas vezes conduzir a morte.

Diante dos dados obtidos na presente pesquisa, permite fazer algumas

considerações e reflexões no âmbito escolar, bem como os valores associados aos

profissionais da área da educação.

Enquanto constata-se que o nível sócio-econômico e cultural, tem grande

influência no comportamento das pessoas, como dito anteriormente, felizmente

pode-se afirmar que os alunos pesquisados, ainda não são totalmente influenciados

pelos meios de comunicação. Considerando que são menores, “imaturos”, e não

podem tomar certos tipos de decisões, eles tendem a preocupar por hora somente

com o “look” (roupa da moda, tênis de marca, tintura e corte de cabelo da moda,

entre outros), sem recorrerem a métodos invasivos.

Todavia, seria interessante um acompanhamento desses jovens durante

sua vida escolar na rede pública de ensino retomando o projeto; suas implicações,

trabalhando a auto-estima, influência negativa de pessoas próximas, retomando as

reflexões de como veiculam conceitos de beleza nas mídias e proporcionar aos

mesmos a capacidade de filtrar o que realmente é importante e pertinente para a

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vida; pois acreditamos que futuramente, quando forem “independentes”, talvez e

pela insistente apelação da mídia muitos poderão mudar de idéia, de

comportamento e atitude, requerendo assim um respaldo da escola atualizando

informações, primando por uma qualidade vida cada vez melhor para os jovens.

Cabe aqui mais uma vez a escola cumprir seu papel social, buscando cada vez mais

informar, conscientizar os jovens quanto á importância de uma qualidade de vida

saudável. Acreditamos que uma estrutura familiar bem solidificada colabora para

prevenir que distúrbios, desvios de comportamentos não venham a acontecer, pois a

família é base de tudo e é ela quem dá força, apoio para que jovens e adolescentes

passem ilesos por essa tão conturbada fase. Entretanto compete a nós educadores

auxiliarmos a combater acirradamente os estereótipos criados pelos meios de

comunicação, principalmente o publicitário, de um ideário corporal por eles

veiculado. Mostrar que ser “belo” é ter belos ideais, que deixam marcas profundas

no mundo.

7. REFERÊNCIAS

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LAZAR, Judith Mídia e Aprendizagem Série de Estudos/ Educação a Distância Mediatamente! Televisão, Cultura e Educação Ministério da Educação – Secretaria de Educação à Distância/MEC Brasilia 1999. LIPOVETSKY, Gilles. O Império do efêmero . São Paulo, Cia das Letras, 2002. MATTAR, Fauze Nagib. Pesquisa de Marketing Ed compacta. 3 ed. São Paulo – Atlas 2001. OSTROWER, F. A sensibilidade do intelecto. Rio de Janeiro: Elsevier, 1998. PROENÇA, G. História da arte . São Paulo – SP: Ed. Ática , 2001. ODÁLIA, Nilo O que é violência São Paulo - SP Brasiliense 1983. PELEGRINI, Thiago Imagens do Corpo : reflexões sobre as acepções corporais construídas pelas sociedades ocidentais. Revista Urutágua - revista acadêmica multidisciplinar. Maringá 2005. www.urutagua.uem.br/ acesso em 30/08/2008. UITDEWILLIGEN, Franciela. O culto ao Corpo www.annex.com.br/artigos acesso em 06 de agosto de 2008. Sites:

www.uol.com.br/alimentar/vigorexia.html, acesso em 30/11/2009.