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A prática da transdisciplinaridade no ensino superior TRANSFORMAÇÃO 21463 MIOLO REVISTA_CIENTIFICA_BELEM.indd 11 21/05/2012 13:59:54 DA TEORIA E DA PRÁTICA DE “O SABER LOCAL” DE CLIFFORD GEERTZ À FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DO DIREITO Eliana Franco Teixeira 1 RESUMO O artigo aborda os conhecimentos principais do ‘saber local’ de Clifford Geertz, as sentenças de 28/12/2007 e 12/08/2008, dispositivos legais que se referem à educação, em nível constitucional e infraconstitucional, principalmente no que diz respeito às Diretrizes Curriculares Nacionais de 2004. O presente texto relaciona a teoria e a prática, por meio dos principais verbetes de ‘O saber local’, com a aplicação da teoria nas sentenças Saramaka que justifica e explica a inclusão da disciplina Antropologia nos currículos dos cursos de bacharelado em Direito no Brasil. PALAVRAS-CHAVE: Saber Local. Direito. Teoria e Prática. Ensino Jurídico Contextualizado. Formação do Profissional do Direito. ABSTRACT The article covers the key knowledge of “local knowledge” of Clifford Geertz, the judgments of 28/12/2007 and 12/08/2008, the provisions relating to education and infra-constitutional level, particularly with regarding the National Curriculum Guidelines of 2004. In this work relates to the theory and practice, through the main entrances of “local knowledge” to the application of theory in the judgment of Saramaka and explains and justifies the inclusion 1 Doutoranda vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal do Pará. Docente da Faculdade de Belém e integrante do Núcleo Docente Estruturante (NDE). 11

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DA TEORIA E DA PRÁTICA DE “O SABER LOCAL” DE

CLIFFORD GEERTZ À FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL

DO DIREITO

Eliana Franco Teixeira1

RESUMO

O artigo aborda os conhecimentos principais do ‘saber local’

de Clifford Geertz, as sentenças de 28/12/2007 e 12/08/2008,

dispositivos legais que se referem à educação, em nível constitucional

e infraconstitucional, principalmente no que diz respeito às Diretrizes

Curriculares Nacionais de 2004. O presente texto relaciona a teoria

e a prática, por meio dos principais verbetes de ‘O saber local’, com

a aplicação da teoria nas sentenças Saramaka que justifica e explica

a inclusão da disciplina Antropologia nos currículos dos cursos de

bacharelado em Direito no Brasil.

PALAVRAS-CHAVE: Saber Local. Direito. Teoria e Prática. Ensino

Jurídico Contextualizado. Formação do Profissional do Direito.

ABSTRACT

The article covers the key knowledge of “local knowledge”

of Clifford Geertz, the judgments of 28/12/2007 and 12/08/2008,

the provisions relating to education and infra-constitutional level,

particularly with regarding the National Curriculum Guidelines of

2004. In this work relates to the theory and practice, through the

main entrances of “local knowledge” to the application of theory in

the judgment of Saramaka and explains and justifies the inclusion

1 Doutoranda vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal

do Pará. Docente da Faculdade de Belém e integrante do Núcleo Docente Estruturante (NDE).

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of the course Anthropology in the curriculum Bachelor of Law in

Brazil.

KEYWORDS: Local knowledge; Local Law, Theory and Practice,

legal education in the context, the Vocational Training for Law.

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo trata da diversidade das ‘sensibilidades

jurídicas’ e do conhecimento desse importante tema para a formação

dos profissionais de Direito, a fim de que atuem de forma eficaz e

razoável juridicamente, observando os efeitos para as sociedades

envolvidas.

A propósito do trabalho desenvolvido pelo profissional do

Direito, é preciso destacar que, de forma geral, cabe a ele interpretar

os fatos e as normas jurídicas para exercer sua função de forma

coerente. Nessa esteira de ideias, esse profissional irá se defrontar com

situações corriqueiras em uma ‘sensibilidade jurídica determinada.

Entretanto, com o aumento das trocas culturais, e com a voracidade

dos Estados em se manterem soberanos nas relações internas e

internacionais, é necessário preparar esse profissional de forma mais

abrangente. Para tanto, é relevante oferecer-lhe oportunidade de

dominar o conhecimento local e internacional, sempre com os olhos

voltados para o ‘saber local’ e para toda a relação que existe entre os

Estados e seus compromissos assumidos com povos diversos e com os

tratados por eles reconhecidos.

O primeiro item trata da obra “O saber local” e de seu autor

Clifford Geertz; o segundo, refere-se aos verbetes da referida obra;

o terceiro, aplica esses conhecimentos às sentenças Saramaka; o

quarto, trata da importância dos conhecimentos antropológicos para

a formação dos profissionais do Direito; e o quinto, observa as normas

que tratam da educação e do ensino jurídico no Brasil.

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2 DA OBRA E DO AUTOR

Clifford Geertz, filósofo e antropólogo americano, nasceu em

São Francisco, em 1926, e faleceu em 2006, na Filadélfia.

Geertz tem grande importância na Antropologia porque funda

a ‘Antropologia Interpretativa’, com o objetivo de compreender

os significados dos sistemas culturais e revelar as diversas

‘sensibilidades jurídicas’. Para ele, a Antropologia é a resposta ao

pensamento moderno, que é pluralista e menos provinciano, porque

é ‘contextualizada, antiformalista e relativista’. Apesar de ele dispor

da Antropologia como resposta ao pensamento moderno, é preciso

observar que as características por ele descritas se coadunam com

a pós-modernidade descrita pelo Prof. Dr. Jayme Benvenuto Lima

Júnior, em suas aulas no Programa de Pós-Graduação em Direito da

Universidade Federal do Pará, no período de 15 a 17 de dezembro

de 2010.

A equação ‘antropologia interpretativa-pensamento moderno’

permite a Geertz reunir num mesmo livro artigos sobre temas um

pouco diferentes no lapso temporal de 1974-1982. Nessa perspectiva,

são esses os temas de sua obra “O saber local”:

1. os rumos recentes da teoria social;

2. a relação entre antropologia e crítica literária;

3. as dificuldades práticas envolvidas no empreendimento

antropológico;

4. o senso comum;

5. a arte;

6. o poder político;

7. a vida intelectual moderna;

8. a relação entre fato e lei.

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É importante observar que o que une os capítulos

é o método hermenêutico que o autor utiliza para

interpretação. O foco deste artigo é o capítulo 8, ‘A

relação entre fato e lei’. Nesse capítulo, Geertz utiliza

“casos sociais” para, na prática comprovar suas ideias

e mostrar aos demais estudiosos que a diversidade não

é só ritual de linguagem, mas, principalmente, de

‘sensibilidade jurídica’, ou seja, de sistema jurídico

e de sentido de justiça. Em seus ‘casos sociais’, ele

descobre que, como a ciência, a religião, a arte e a

antropologia, o Direito também é um ‘conhecimento

local’, é uma ‘construção local’, a ser pensada por

profissionais de todas as áreas e, especialmente, pelos

profissionais do Direito que estarão, vez por outra,

diante de situações no âmbito administrativo ou

judicial e também diante de sensibilidades jurídicas

distintas e não poderão agir como meros positivistas

abstraídos de qualquer percepção da diversidade,

não só cultural, mas também jurídica existente no

caso em tela. Essa coexistência de ‘sensibilidades

jurídicas’ é denominada por Geertz (1998, p. 331)

“pluralismo jurídico”.

3 DA TEORIA DE “O SABER LOCAL”

Geertz escolhe locais e palavras e atribui significados aos

sistemas jurídicos, utilizando-se da ‘hermenêutica interpretativa’.

Ele tem o objetivo de ‘compreender as compreensões diversas da nossa

compreensão’. Nesse sentido, assim como a navegação, a jardinagem

e a poesia, o direito e a etnografia, também são artesanatos locais:

funcionam à luz do saber local.

Dentre as semelhanças entre o Direito e a Antropologia, pode-

se observar a linguagem erudita, uma aura de fantasia e o fato de

ambos realizarem a tarefa artesanal de descobrir princípios gerais

em fatos paroquianos. E, nesse sentido, ele escolheu os locais e as

palavras para ter um recorte das sensibilidades jurídicas dos contextos

escolhidos. Para o desenvolvimento adequado do profissional do

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Direito, é preciso considerar que essa diversidade de sensibilidades

deve provocar nesse profissional uma abertura de mente, no sentido

de percepção, respeito e olhar no lugar do outro, para solucionar

questões que envolvem ‘sensibilidades jurídicas’, como as descritas da

teoria de Geertz. Assim, Direito e Antropologia estão intimamente

relacionados e, em tempos pós-modernos e de grande pluralismo

social e jurídico, não há como apartar essas ciências, sob pena de as

relações sociais retrocederem ao separatismo e à discriminação.

Apesar de o Direito e os profissionais do Direito já terem avançado bastante no quesito ‘relacionamento com outras áreas do

saber’, a verdade é que existe ainda, uma obstrução na relação do

Direito com questões culturais. Para minimizar, ou mesmo resolver

esse impasse, Geertz propõe sua ‘hermenêutica interpretativa’,

olhando primeiro em uma direção, depois em outra, a fim de

formular questões morais, políticas, intelectuais e jurídicas que são

importantes, tanto para esse profissional como para o antropólogo.

O profissional do Direito (PD) depara-se com uma explosão de

fatos, tendo que utilizar a ‘hermenêutica jurídica’ para solucioná-la.

Num diálogo entre Dworkin e Geertz, é possível relacioná-los para

oferecer alternativas ao PD, mostrando que, em questões difíceis, o juiz deve decidir, buscando sua convicção baseado nos melhores

argumentos para a situação e para o contexto e filtrando suas melhores

ideias e convicções para dar resposta à sociedade, demonstrando que o

Direito é uma construção.

Geertz apresenta uma constatação: a simplificação dos fatos,

a redução às capacidades genéricas dos guardiões da lei, são por si

mesmas, um processo inevitável e necessário. A preocupação que se

apresenta entre advogados e acusados não é a verdade dos fatos, a

história real, é a verdade a partir da lente de quem os interpreta.

Dessa forma, o que ocorre é uma representação, porém o problema é

que não se sabe ainda como essa representação deve acontecer, para ser

considerada adequada. O que se observa é que a linguagem ocidental

do processo judicial é, na verdade, uma tradução da linguagem da

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imaginação do que aconteceu. Com essa mudança de linguagem

não se deve mais buscar juntar leis e fatos, mas deve-se saber como

diferenciá-los.

O primeiro caso analisado por Geertz, ocorrido na ilha de Bali,

será resumido a seguir. Um balinês chamado Regreg pede providên-

cias do Conselho de sua aldeia, para que encontrem sua mulher que

fugiu com outro homem de outra aldeia, ou foi seqüestrada por ele.

Os conselheiros da aldeia decidiram que nada poderiam fazer, porque

assuntos de casamento, adultério e divórcio não são problemas da

aldeia, visto que o problema estava fora da jurisdição do Conselho e

que Regreg já deveria saber disso. A solução do problema estava nas

mãos dos grupos de parentes, os quais, em Bali, normalmente são

ciosos de suas prerrogativas. A família de Regreg não tinha poder

e tinha baixo status, de forma que não pôde ajudá-lo, a não ser com

conselhos. Regreg não se conformou com a situação e, cerca de oito

meses depois, quando chegou sua vez, não quis assumir um lugar no

Conselho da aldeia.

Na aldeia de Bali existe um sistema rotativo de composição do

Conselho, que é automático, em que os conselheiros tinham o man-

dato de três anos. A recusa de Regreg lhe traria graves consequên-

cias, porque os conselheiros tinham que inscrever os acontecimentos

nas folhas de bananeiras e os efeitos para ele seriam equivalentes a

pedir demissão, não só da aldeia, mas da própria raça humana. Ele

perderia a casa, os direitos políticos, o direito de se locomover na

aldeia e de usar os serviços da aldeia, além do direito sucessório e do

direito de convivência social.

No caso de Regreg, a punição não foi de pronto aplicada, por-

que os conselheiros se reuniram várias vezes, no sentido de impedi-lo

de tomar aquela medida, mas não conseguiram. Ele foi expulso e

também foi banido pelos familiares para evitar que eles mesmos fos-

sem banidos. Ele foi tratado como os cachorros, recebendo algumas

migalhas de comida.

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É preciso destacar que ninguém procurou saber os motivos que

levaram Regreg a tomar tal decisão.

O rei de Bali decidiu intervir a favor de Regreg. O rei é, para

os balineses, um semideus, que tem o poder para o bem e para o mal.

O rei era chefe regional do novo governo republicano e, na reunião do

Conselho, disse aos conselheiros que eles todos estavam numa nova

era e que não cabia mais aquele tipo de punição aplicada a Regreg.

Apesar da interferência real, na resposta local os conselheiros lembra-

ram ao soberano que o caso era assunto da aldeia e não do rei ou do

governo. No fim, Regreg continuou segregado e ficou perambulando

pela cidade.

Destacando a mudança do problema da transformação da lin-

guagem do imaginário para a interpretação, o caso de Regreg não

foi realmente avaliado pelos fatos, pelos motivos que ele teve para

não aceitar o cargo de conselheiro da aldeia. Os conselheiros não

queriam saber dos fatos, apenas que ele não queria aceitar o cargo de

conselheiro.

A visão do antropólogo cultural se concentra no significado, ou

seja, como os balineses fazem aquilo que fazem – de forma prática,

moral, jurídica - colocando seus atos em estruturas mais amplas

em seu lugar, organizando suas ações em seus termos. Já na visão

do profissional do Direito, sem preparo para uma visão holística de

aceitação da diversidade jurídica, essa decisão local seria questionada

pela não observação dos motivos e dos fatos que levaram Regreg

da indignação ao banimento, o que demonstraria não só uma falta

de noção de mundo, mas um desrespeito para com a sensibilidade

jurídica local.

Para Geertz, a Antropologia hermenêutica é uma ciência à

procura do significado do emaranhado de teias em que o homem

está preso. Para ele, o Direito é uma forma de ver o mundo e

vem acompanhado de um conjunto de atitudes práticas sobre o

gerenciamento de disputas que essa própria forma de ver o mundo

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impõe aos que a ela se apegam. A partir da mudança de foco, na

perspectiva do Direito, o autor analisa a relação entre fato e

julgamento a partir da dialética entre a linguagem de coerência

coletiva e a conseqüência específica.

Local

Contexto

Palavra

Significado Sensibilidade Jurídica

Justiça baseada em Mundo Islâmico Marrocos Haqq Verdade Depoimentos Mundo Índico Bali Dharma Dever Veredictos do Rei

Mundo da Malásia Polinésia

Java

Adat Consenso

social

Consenso social

Nos ‘casos sociais’ escolhidos, Geertz observa as ‘sensibilidades

jurídicas’, ou seja, os ‘sentidos de justiça’, nos mundos islâmico,

índico e malaio.

Ao realizar essas análises, Geertz se preocupa em esclarecer que

toma por base palavras que escolherá e, pela sua observação local,

dará significado a elas. Assim, ele opta por três palavras: haqq - do

árabe, que significa verdade, realidade, validade; dharma - de origem

sânscrita, que significa dever, obrigação, mérito; adat - de origem

árabe, significa consenso social.

Essas expressões guardam relação com as noções de Direito e de

Lei. Outra preocupação dele está em atribuir significados múltiplos

às expressões selecionadas em situações diferentes. Ele se preocupa,

também, com as dimensões históricas e regionais e a simplificação

desses termos deve ser constante no tempo, no espaço e em

popularidade. Ele delimitou ainda mais os mundos pesquisados, em

contextos e em locais específicos, como na tabela acima mencionada,

ou seja: quando fala de ‘Islã’, está se referindo ao Marrocos; quando

fala do ‘Mundo Índico’, está falando de Bali; quando fala de ‘Malásia’

está falando de Java.

Dentre as palavras escolhidas, de acordo com o local, a palavra

Haqq, com o significado de realidade, que pode ser utilizada para

dizer ‘você tem razão’, ‘você tem direito a isso’. Para o mundo

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islâmico, os fatos e normas não são percebidos a partir da conexão

de uma situação empírica e um princípio jurídico – que, para os

profissionais ocidentais do Direito, significa conexão entre o autor e o

fator e a junção com a norma. Para Geertz, a principal característica

da ‘sensibilidade jurídica islâmica’ está no ‘testemunho normativo’,

ou seja, um testemunho que não é dos fatos, mas da conduta do

implicado. Esse testemunho é caracterizado por ser oral. Nesse

sentido, Lawrence Rosen apud Geertz (1998, p. 252), que afirma,

sobre as práticas contemporâneas no Marrocos, que: “Não é o

documento que torna o homem confiável e sim o homem que dá

autenticidade ao documento.”

No mundo islâmico, existem os especialistas que são ‘peritos’,

‘experts’ que prestam testemunho nos tribunais como autoridades em

determinado assunto. Eles têm também os repórteres investigativos,

que buscam a verdade real dos fatos.

Geertz opta pela palavra dharma, que, no mundo índico, signi-

fica em palavras compostas com ela, o código de justiça mais adequa-

do para cada classe social.

É importante observar que a posição do Direito no Código de

Manu é uma posição do ‘direito natural’, ou seja, o direito não é

construído, ele simplesmente está na natureza e nós o encontramos.

No mundo índico, a falta de clareza e justiça nas decisões do

monarca possibilitou o surgimento dos Tribunais à moda do ocidente.

Geertz encontrou, em todas as culturas pesquisadas, o prin-

cípio da responsabilidade que deveria ser justificado pelos homens

cultos. As decisões eram tomadas da seguinte forma: ‘somos conde-

nados pelos juízes e punidos pelo rei, segundo o dharma’. A essência

da justiça era concretizada com decisões baseadas nos depoimentos.

Geertz conta ainda mais dois ‘casos sociais’. O primeiro, do

homem rico e polígamo (do mundo índico), que pode ser comparado

à história do rei Salomão, apresenta o julgamento de duas mulheres

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acerca do assassinato do filho de uma delas. A mais feia era a mãe

desprezada pelo marido. No final, a mãe foi condenada por ter

matado seu filho, porque o ‘juiz’ testou as duas acusadas, fazendo-as

andar pela sala, despidas. A mulher linda disse que preferia morrer a

abrir mão de seu dharma, enquanto a feia e invejosa andou despida,

levando o juiz à conclusão de que uma mulher que abria mão de seu

dharma seria capaz de matar uma criança. O segundo caso demonstra

ainda mais fortementemente a existência do dharma. É o caso de ‘Um

homem de força extraordinária’, que abandona a mulher e, quando

retorna, encontra um deus travestido de homem em seu lugar e

procura um juiz para decidir seu caso. O juiz, para saber quem era o

verdadeiro marido, indica que os dois deveriam carregar uma pedra.

O deus carregou a pedra com a maior facilidade e o homem, apesar de

forte, carregou a pedra com muita dificuldade, devido ao peso dela.

O juiz conclui que o verdadeiro marido era o que teve dificuldade

em carregar a pedra, visto que só um deus teria tanta facilidade em

carregar uma pedra tão pesada quanto aquela.

Com a vinda de indianos para estudar no ocidente, surge uma

fusão de procedimentos entre o ocidente e os hindus, aparecendo,

assim, o direito anglo-indiano. Ainda que experimentado com o

padrão da codificação ocidental, o Direito, para eles, não perdeu o

relacionamento com a vida local.

No direito malásio, a expressão escolhida é Adat, um sistema

de normas costumeiras, em que a justiça pressupõe uma harmonia

espiritual e o julgamento baseado no consenso, na unanimidade.

A tarefa do direito, nesse contexto, é buscar, ao mesmo tempo,

tranquilizar e persuadir. Nesse sentido, a busca da verdade para eles

(malaios), é uma tarefa retórica, uma aproximação dos pontos de vista

do uso persuasivo das palavras.

Geertz, para realizar a comparação entre as culturas, confronta

as estruturas de poder, destaca que a visão do direito não é autônoma

e que não serve apenas para o gerenciamento de conflitos de poder.

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4 DA PRÁTICA DE “O SABER LOCAL”

O caso do povo Saarmaka vs. Suriname trata da solicitação

da Associação de Autoridades Saramaka (AAS) e doze capitães

Saramaka demandando em nome próprio e em nome do povo, diante

da Corte Interamericana de Direitos Humanos, com o objetivo de

pedir a delimitação de suas terras, em conformidade com o direito

consuetudinário, o reconhecimento jurídico de povo diante do Estado

do Suriname, para que, todas as vezes que fossem realizadas concessões

para exploração da terra, o povo Saramaka fosse consultado acerca das

concessões e que fosse beneficiado com as concessões de exploração.

Nas duas sentenças, o Estado utilizou algumas estratégias para

evitar sua exposição diante do Tribunal Internacional e, com isso,

dificultou o acesso daquele povo à justiça.

O entrosamento que existe entre os verbetes de Clifford

Geertz é evidente, uma vez que a Sentença, embora não se refira

expressamente à utilização de seus conhecimentos, refere-se ao ‘saber

local’, quando indica a participação dos Saramaka na avaliação do

que se refere à autorização de utilização das terras daquele povo. O

Estado, embora soberano sobre seu território, não pode determinar

uma intromissão nas terras daquele povo, que possui do poder de

autodeterminação. Existe aí um conflito que, na Teoria Realista das

Relações Internacionais com reflexos nacionais, se refere ao poder de

soberania e reconhecimento jurídico apenas do Estado, com exclusão

de representação daquele povo, conforme as aulas do Professor Jayme

Benvenuto Lima Júnior.

O ‘saber local’ imperou na decisão da Suprema Corte,

confirmando não só o conhecimento do autor Clifford Geertz,

mas os ensinamentos da professora Doutora Jane Felipe Beltrão,

principalmente no esclarecimento aos alunos do programa da

argumentação explicativa a perguntas que, com olhar ainda míope,

seria pouco provável responder de forma convincente: Como os

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Saramaka, nesse caso, ainda podem ser considerados um povo

com sensibilidades jurídicas diversas se já têm contato com os não

Saramaka? A resposta da professora é numa analogia com o contexto

da sala que se referia aos índios: O índio não deixa de ser índio se

ele dirige carro ou utilizada arma, assim como os japoneses e outros

povos também não deixam de corresponder às suas realidades sociais

porque utilizam de algum tipo de tecnologia que os norte-americanos

utilizam, por exemplo. É preciso esclarecer que essa resposta não é

ipsis litteris, a da Professora, por já se tratar da representação da autora

do presente artigo.

5 A IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO DO ‘SABER LOCAL’ PARA A FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DO DIREITO

O profissional que teve a oportunidade de perceber um mundo

além da sua lente observou que culturas diferentes tratam de forma

diferente a solução de seus litígios e, essa análise se desenvolve

pela prática da interdisciplinaridade, ou seja, envolvendo-se

conhecimentos das sensibilidades jurídicas das sociedades em apreço

e a forma de se relacionar as diversas sociedades que convivem no

mesmo espaço territorial que se encontra sob a tutela do mesmo

Estado, como é o caso prático do ‘saber local’ do povo Saramaka, que

foi prejudicado, diante da legislação interna do Estado do Suriname,

pela estratégia utilizada por este e pela falta de formação profissional

com percepção da diversidade das sensibilidades jurídicas dos juízes

que atuaram internamente.

O objetivo da inclusão da antropologia e de seu conteúdo

é voltado para a proposta do ‘saber local’ não em si mesmo para

a formação dos profissionais do direito, mas para que estes atuem

adequadamente no capo administrativo e judicial, de forma a garantir

a realização de justiça não apenas com olhar em um sistema jurídico,

mas considerando os sistemas jurídicos imbricados na situação.

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Decisões como a de Regreg, do homem rico e polígamo,

do homem forte, são semelhantes a partir da hermenêutica

interpretativa de Geertz, à situação do povo Saramaka com situações

dos povos indígenas da Amazônia. Nessa região, não há como formar

positivistas, sob pena de realizarem verdadeiras atrocidades e serem

desrespeitosos com os povos indígenas.

O profissional do Direito pós-moderno deve estar preparado para

se permitir ver o mundo para além da lente do Direito, observando,

assim, os conteúdos dos tratados ratificados pelo Brasil que, embora

normas positivadas, se expressam em um conteúdo amplo e flexível

às realidades estatais participantes de um modo geral, porque, de

alguma forma observam os direitos humanos não na perspectiva do

pós-segunda guerra, como universalidade sem qualquer localidade,

mas compreendendo que existem compreensões diversas. Assim, o

olhar hermenêutico deve ser o proposto por Geertz, ou seja, para a

frente e para trás, para os lados, mudando sempre a direção, com a

utilização do relativismo, como um movimento de comparar nossa

visão de visão do mundo com outra visão, partindo da alteridade,

colocando-se no lugar do outro e vendo o mundo com seus olhos.

6 DA INCLUSÃO NA LEGISLAÇÃO DE DISCIPLINAS PROPEDÊUTICAS PARA FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DO DIREITO

Diante de tantas constatações, da posição de estudiosos entre a

modernidade e a pós-modernidade e da necessidade de se estabelecer o

diálogo entre sensibilidades jurídicas distintas, a legislação brasileira

inclui capítulo próprio na Constituição de 1988 para a Educação e

destaca em seu artigo 205 que a Educação deve ser realizada para

promover a formação profissional, para qualificação para o trabalho.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, nº 9.394, de 20 de dezembro

de 1996, regula a educação no Brasil, no formato infraconstitucional,

cumprindo de forma pormenorizada as premissas constitucionais.

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Em 29 de setembro de 2004, o Conselho Nacional de Educação

cria a Resolução nº 9, que expressa a necessidade de se organizar

o Curso de Bacharelado em Direito em três eixos: fundamental,

profissional e prático. No Eixo Fundamental, constam conteúdos

que estabelecem relação com outras áreas do saber, abrangendo

Antropologia, Ciência Política, Economia, Ética, Filosofia, História,

Psicologia e Sociologia. Nesse sentido estão conhecimentos da

Antropologia, como os propostos por Geertz, de que o ‘o direito é

um saber construído localmente’. Sem os conteúdos estabelecidos no

Eixo Fundamental haveria um retrocesso na formação do profissional

do Direito, tendo em vista que um advogado, juiz, promotor,

defensor, entre outras atividades que esse profissional possa exercer,

ele deverá estar preparado para agir com uma visão pós–moderna,

aceitando as realidades tal qual elas se apresentam e percebendo que

não se pode impor a legislação de uma sociedade a outra. Ainda de

acordo com a Resolução, em seu artigo 2º, § 1º, incisos IV e V, a

interdisciplinaridade e a integração entre a teoria e a prática também

se apresentam com a inserção de conhecimentos da Antropologia, em

especial com os conhecimentos da obra apreciada neste artigo.

Todas essas indicações de legislações inclusivas de disciplinas

propedêuticas, como a Antropologia, no rol de conhecimento dos

profissionais do Direito, só demonstram que é possível construir

uma realidade jurídica melhor e compreender que não existe uma

uniformização, mas um reconhecimento de que existem contextos

culturais diferentes que devem se relacionar de forma respeitosa.

Mais uma vez o direito positivo, perde para a transformação

social pela condição de ser produto da sociedade e das construções

sociais. Nesse sentido, as Diretrizes Curriculares vêm em socorro

dessa atual percepção de mundo abrindo as mentes dos futuros

bacharéis em Direito.

A necessidade do saber local para a formação do profissional do

Direito está em ‘aprender a aprender’, para que como empreendedor

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social, possa bem atuar e ajudar na construção de um Direito melhor,

mais respeitador das diferenças. Com olhos voltados aos cursos de

bacharelado em Direito no Brasil, ressalte-se, no que diz respeito à

justiça, o sentido atribuído pelo então Presidente da Ordem dos Ad-

vogados do Brasil, em 2006, Busato (2006, p. 7): “Justiça no sentido

mais amplo do termo, que indica inclusão social de amplas camadas

da população; e justiça no sentido estrito, institucional, que diz res-

peito à qualidade da prestação jurisdicional em nosso país”.

O significado da inclusão da disciplina Antropologia visa não

rotular experiências para separá-las em caixas, mas indentificá-las e

compreender seus significados. Na relação com o Direito, esse pro-

cesso inter e transdisciplinar se constrói na perspectiva de formar o

profissional em todas as suas dimensões, superando o individualismo,

a desesperança, os desajustamentos, enfim, problemas existenciais,

oriundos de uma formação fragmentadora, proporcionado uma inte-

gração política, jurídica e social desse profissional em seu meio e com

olhar aberto para outras sensibilidades jurídicas.

7 CONCLUSÃO

A importância da inclusão da Antropologia está clara, porque

mostrará o mundo sob ópticas diferentes, evitando decisões injustas

e abordagens inadequadas dos profissionais do Direito.

Os trechos mais importantes da obra ‘O saber local’ destacam:

a importância da Antropologia como disciplina que colabora com

o Direito, no que se refere às diversidades culturais e realidades

jurídicas distintas; o método hermenêutico, como ir e vir, propondo

uma visão sob diversos ângulos do Direito; os casos mencionados

como demonstração de que os procedimentos comprobatórios são

diferenciados de uma sociedade para outra; e a influência ocidental

em alguns tribunais orientais (Marrocos, Bali e Java) atualmente.

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As expressões escolhidas por Geertz, o haqq, o dharma e o adat

podem ser chamadas de ‘Direito’? Caso o profissional do Direito não

tivesse à sua disposição uma formação como a descrita nas diretrizes

curriculares nº 09, provavelmente ele seria um técnico, um positivis-

ta, com visão apequenada de que não se trata de direito, porque não

se expressam o positivismo, mas com essa nova estrutura curricular,

os profissionais que se formaram e se formarão têm a oportunidade

de tirar a viseira positivista e perceber que o Direito não é só o que o

ocidente estabelece, mas é produto do saber da cada local.

Geertz menciona dois casos sociais e, tanto no primeiro caso

(do homem rico polígamo), como no segundo (do homem forte), é

preciso observar que, para o profissional do Direito no Brasil, essas

deduções, a partir de tarefas aplicadas pelo juiz, dificilmente aconte-

ceriam das formas mencionadas. Portanto, cabe aos profissionais do

Direito em questões de sensibilidades jurídicas, não dos casos apre-

sentados por Geertz, mas de nossa realidade local, como de situações

ocorridas com indígenas e com não indígenas, analisar o caso nos

moldes da interpretação desse autor.

Assim como o método utilizado por Geertz é a hermenêutica,

para Dworkin não é diferente, também será a hermenêutica o método

de interpretação do juiz. Há, portanto, relação direta entre autores de

áreas diversas que devem ser observadas pelos operadores a fim de se

entregarem devidamente à sua tarefa principal, que é a decolaborar

para a realização da justiça e para a harmonização das relações sociais.

O caso do povo Saramaka é outra prova concreta de que existem

realidades diferentes, sensibilidades jurídicas diferentes e que devem

ser observadas pelas sociedades, pelo Estado e pelo Direito. Não

pode o Direito se curvar à vontade do Estado, numa relação de

superioridade em relação àquele povo. Ainda há muita dificuldade

e falta de interesse político que circundam situações como essa, mas

é possível perceber o início de uma construção de melhores relações

entre os povos e os Estados e entre as diversas sensibilidades jurídicas.

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A necessidade de ampliar a visão de mundo dos profissionais do

Direito, além de incontestável, está prevista nas legislações brasileiras

implícita e explicitamente, em especial nas Diretrizes Curriculares nº

09/ 2004.

Espera-se que, como processo de construção, a Antropologia

e o Direito possam conviver com a proposta de satisfazer um dos

princípios básicos do Direito: a Justiça.

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REFERÊNCIAS

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outubro de 1988.

. Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 996. Rio de Janeiro:

Edições Consultor, 1996.

. Ministério da Educação. Resolução CNE nº 09, de 29 de

setembro de 2004. Brasília: Diário Oficial, 01/10/2004, nº 190, seção 1.

BUSATO, R. A.. OAB Ensino Jurídico – O futuro da universidade e os

cursos de direito: novos caminhos para formação profissional. Brasília,

DF: OAB, Conselho Federal, 2006, p. 7.

CORTE INTERAMERICANA DE DERECHOS HUMANOS.

Caso del Pueblo Saramaka vs. Surinam. Sentencia del 28 de noviembro de

2007 (Excepciones Preliminares, Fondo, Reparaciones y Costas): p. 1-67

(Manuscrito e em meio digital)

CORTE INTERAMERICANA DE DERECHOS HUMANOS.

Caso del Pueblo Saramaka vs. Surinam. Sentencia del 12 de agosto de

2008 (Interpretación de La sentencia de excepciones preliminares, fondo,

reparaciones y costas): p. 1-18 (Manuscrito e em meio digital)

DWORKIN, R.. O império do direito. São Paulo: Martins Fontes,

2007.

GEERTZ, C.. O saber local. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.

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