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10 1. INTRODUÇÃO A dança afro chegou ao Brasil no período Colonial, trazida pelos africanos que retirados a força do seu país, adentraram aqui trazendo só o que podiam carregar, sua forma de viver e sua cultura. Esse estilo de dança foi primeiramente registrado, nas manifestações religiosas africanas, ao se instalar aqui essa cultura não ficou imóvel, o que é normal, sofreu várias mutações até se tornar esse misto contemporâneo. Revoltados pela forma como foram arrancados de seu país de origem e com o descaso que eram tratados pelos senhores de engenho no Brasil, os negros nunca aceitaram passivamente a escravidão, se rebelavam como podiam, planejavam estratégias de fuga, a desobediência programada, a sabotagem na plantação, a demora no cumprimento dos afazeres. A capoeira, por exemplo, muitas vezes ficou escondida, por iniciar como uma luta disfarçada em dança, ela se camuflou inicialmente através da cultura, como naquela época ninguém tinha interesse sobre a cultura negra, a não ser o próprio negro ninguém notava que aquela simples dança, brincadeira e ritual era na verdade a luta marcial dos escravos, que se ocultava para poder permanecer ativa, esta também era uma aspecto da insubordinação. Foi no ímpeto das revoltas e das fugas que surgiram os quilombos, locais que se organizavam e viviam os negros fugidos. Sozinhos ou em grupos, sempre haviam tentativas de fugas dos negros, que ao escapar procuravam um lugar escondido, onde pudessem viver em liberdade e praticar livremente a sua cultura. A cultura se sobressaia fortemente nas tribos quilombolas, já que não existiam senhores de escravo para proibir seus feitos, eles se expressavam livremente com danças, rituais religiosos, com a capoeira, cantos e oferendas. Esclarecidos os conceitos de dança, cultura e quilombo e fazendo a junção das três vertentes para chegar a um denominador comum. O trabalho intitulado Dança Afro nos Quilombos de Alagoinhas: identificação da existência de uma herança cultural objetiva verificar a existência da cultura e da dança afro nos quilombos do Catuzinho e Buri na cidade de Alagoinhas e quais os vestígios da herança deixada pelos quilombolas. Indaga o seguinte problema: Qual a herança

DANÇA AFRO NOS QUILOMBOS DE ALAGOINHAS: IDENTIFICAÇÃO DA EXISTÊNCIA DE UMA HERANÇA CULTURAL

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SILVANA MARIA DE SOUZA

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1. INTRODUÇÃO

A dança afro chegou ao Brasil no período Colonial, trazida pelos africanos

que retirados a força do seu país, adentraram aqui trazendo só o que podiam

carregar, sua forma de viver e sua cultura. Esse estilo de dança foi primeiramente

registrado, nas manifestações religiosas africanas, ao se instalar aqui essa cultura

não ficou imóvel, o que é normal, sofreu várias mutações até se tornar esse misto

contemporâneo.

Revoltados pela forma como foram arrancados de seu país de origem e com

o descaso que eram tratados pelos senhores de engenho no Brasil, os negros nunca

aceitaram passivamente a escravidão, se rebelavam como podiam, planejavam

estratégias de fuga, a desobediência programada, a sabotagem na plantação, a

demora no cumprimento dos afazeres. A capoeira, por exemplo, muitas vezes ficou

escondida, por iniciar como uma luta disfarçada em dança, ela se camuflou

inicialmente através da cultura, como naquela época ninguém tinha interesse sobre

a cultura negra, a não ser o próprio negro ninguém notava que aquela simples

dança, brincadeira e ritual era na verdade a luta marcial dos escravos, que se

ocultava para poder permanecer ativa, esta também era uma aspecto da

insubordinação.

Foi no ímpeto das revoltas e das fugas que surgiram os quilombos, locais que

se organizavam e viviam os negros fugidos. Sozinhos ou em grupos, sempre haviam

tentativas de fugas dos negros, que ao escapar procuravam um lugar escondido,

onde pudessem viver em liberdade e praticar livremente a sua cultura. A cultura se

sobressaia fortemente nas tribos quilombolas, já que não existiam senhores de

escravo para proibir seus feitos, eles se expressavam livremente com danças, rituais

religiosos, com a capoeira, cantos e oferendas.

Esclarecidos os conceitos de dança, cultura e quilombo e fazendo a junção

das três vertentes para chegar a um denominador comum. O trabalho intitulado

Dança Afro nos Quilombos de Alagoinhas: identificação da existência de uma

herança cultural objetiva verificar a existência da cultura e da dança afro nos

quilombos do Catuzinho e Buri na cidade de Alagoinhas e quais os vestígios da

herança deixada pelos quilombolas. Indaga o seguinte problema: Qual a herança

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histórico-cultural da dança afro existente nos quilombos Catuzinho e Buri na cidade

de Alagoinhas?

Diante dos fatos a pesquisa deseja averiguar a permanência e o

desenvolvimento desta cultura nos quilombos do Catuzinho e Buri na cidade de

Alagoinhas. O universo escolhido para a realização da pesquisa, como já falado,

foram os remanescentes de quilombos Catuzinho e Buri, que ficam localizados na

zona rural do município de Alagoinhas.

O interesse pelo objeto de estudo surgiu a partir de uma conversação na

mesa redonda realizada na disciplina de Corpo e Cultura, disciplina do componente

curricular do curso de Licenciatura em Educação Física, através dessa atividade

ampliou-se o conhecimento sobre a cultura e por estar trabalhando com o conteúdo

dança no momento, resolvi fazer a junção das duas vertentes, chegando assim ao

meu tema.

A pesquisa contribui veemente para a desmistificação dos modelos e padrões

vinculados ao fenômeno dança. Através disso, expõe um maior conhecimento sobre

as possibilidades do dançar, aguçando a vontade de todos que queiram usufruir

dessa cultura corporal. Esse tema promove a sociabilidade e a transformação dos

conceitos tradicionais contidos na dança afro, oportunizando todos a conhecer mais

sobre a cultura, os costumes e as praticas corporais e populares da região.

O Estudo acompanhou os grupos de dança do Catuzinho e Buri, em suas

atividades corriqueiras, apresentações, ensaios, criando assim um vínculo com o

ambiente estudado, o que possibilitou a observação não-participante. Na sua

formação o trabalho teve caráter qualitativo. Como complemento na coleta de dados

utilizou a entrevista semi-estruturada que foi realizada somente com os

coordenadores dos grupos de dança. Ao fim do processo de observação foi feita a

análise de conteúdo onde os dados foram interpretados, juntamente com os

recursos bibliográficos.

Após a introdução no capítulo seguinte foi feita uma explanação referente aos

Quilombos, iniciamos falando do que seria o quilombo na visão do negro e na dos

senhores, depois foi feita uma síntese desses conceitos, relatando assim a visão do

negro que vivenciou aquela realidade, e a dos Senhores que impôs a sua autoridade

naquele ambiente. Ao final o capítulo encerra com o decreto responsável pela

regulamentação legal dos remanescentes de quilombos e as suas cláusulas.

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No terceiro capítulo faz-se uma trajetória histórica da dança, iniciando dos

primórdios até os dias atuais e perpassando por várias civilizações. Falando da sua

relevância e seu sentido em cada ambiente e época. Ao final do capítulo se faz um

breve apanhado da importância da dança como componente da Cultura Corporal na

Educação Física.

O quarto capítulo aborda a relação do tradicional e o contemporâneo na

cultura. Fala referente a sobreposições das culturas, das culturas de minoria e as de

maioria. Das representações culturais na atualidade. E no encerramento do capítulo

discorre sobre a “folclorização” da dança e cultura popular, enfatizando a priorização

da mesma no ambiente escolar.

Dando continuidade ao trabalho, os capítulos conseqüentes descrevem os

procedimentos metodológicos, relatam as observações feitas em campo e sinalizam

as considerações finais.

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2. QUILOMBOS: ASPECTOS CONCEITUAIS

O que vem a ser um Quilombo? Essa é a pergunta que várias pessoas fazem

ainda nos dias atuais, e a reposta desencadeia vários conceitos. Por não existir um

único ponto de vista, em geral, tentamos nesse estudo distinguir o que seria o

quilombo para o negro que viveu naquele ambiente e para o “Senhor” que o

observou pela sua visão e seus interesses. Em seguida, discorreremos sobre o que

se intitula quilombo e como se dá seu reconhecimento nos dias atuais.

A resposta dada abaixo retrata como eram vistos os quilombos naquela época:

Quilombo era "toda habitação de negros fugidos que passem de cinco, em parte despovoada, ainda que não tenham ranchos levantados nem se achem pilões neles", segundo resposta do Rei de Portugal a consulta do Conselho Ultramarino datada de dois de dezembro de 1740 (MOURA 1987, p.16).

A afirmação acima mostra que para os reis e senhores esses núcleos eram

ajuntamentos em sua maioria de negros fugidos, que escapavam dos cativeiros. Na

visão dos mesmos, os negros tinham que os servir e por obrigação trabalhar para

garantir o que comer. Eles achavam que isso era o suficiente para sua sobrevivência

e quando acontecia o caso de um dos negros fugir, eram encarados como ingratos.

Para o negro a visão de um Quilombo era diferente, eles que conheciam as

privações, o sofrimento e as punições que recebiam, algumas vezes somente pelo

fato de vivenciar sua cultura através da dança, dos cantos, ou da capoeira. Viam

aquele lugar como um paraíso, onde tinham o direito de exercer sua liberdade em

paz, um lugar onde poderiam trabalhar para si mesmo e viver do seu sustendo.

Já que os brancos definiam o Quilombo como esconderijo dos escravos que

conseguiam fugir dos Senhores. Para os negros era um local de difícil acesso, onde

poderiam se beneficiar da mata para viver, da terra para plantar e colher. E onde

podiam regressar a seus costumes e origens africanas: dançar, cantar, cultuar

religião, orixás, sem serem perseguidos.

Hoje podemos dizer que a cultura dos negros é um dos nossos maiores

legados, muito do que carregamos não só na herança genética, mas generalizando

nos costumes, crenças e culinária, herdamos dessa cultura, sabendo da

abrangência da história e do legado negro e tendo em vista a carência de registros

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literários nessa área é importante que sejam feitos mais estudos nesse âmbito, a fim

de evidenciar essa cultura por vezes escondida. Não temos noção, na grande

maioria dos casos, da importância do reconhecimento dessa cultura para

distinguirmos melhor nossas origens. “O quilombo é uma constante histórica e a sua

importância social é muito maior do que já foi computada pelos nossos historiadores

e sociólogos” (MOURA apud MENDONÇA, 1987 p.17).

Pode-se dizer que o quilombo tinha existência provisória, pois se descobertos,

os quilombolas tinham que fugir para outro esconderijo, sem deixar vestígios, se

eram pegos sofriam fortes torturas, com chibatadas, mutilação de membros ou

podiam pagar até com a própria vida, tendo por muitas vezes seus corpos expostos

em praça pública para intimidar os que desejavam vivenciar o sonho de uma

comunidade quilombola.

Se o quilombo ainda permitia alguma convivência, embora incômoda e perigosa com o sistema, as revoltas significavam ruptura absoluta e quase sempre trágica para os escravos nelas envolvidos (REIS e SILVA, 1989, p.9).

A cultura é algo tão forte que mesmo sem querer ou sem sentir, ela está

inerente ao ser humano, sendo carregada no seu íntimo para onde quer que vá,

mesmo que ao longo dos tempos os costumes não permaneçam imunes as

mudanças. Mesmos distantes da terra de origem, os negros carregavam consigo as

tradições e costumes. Pois sempre existe, uma cultura que persistir e prevalecer

dentro de nós. O trecho abaixo explica um pouco da interação do ser humano com

cultura:

Mais tarde, nas Américas, demonstrou-se até que ponto estas concepções estavam bem enraizadas no pensamento africano. Aí, sempre que algum grande grupo de africano conseguia escapar à escravatura e reconstruir a sua vida em liberdade, procurava imediatamente orientação na sua própria cultura. No Brasil, os antigos escravos quilombos, e ainda mais as famosas república de Palmarés do século dezassete, apoiavam-se em leis e costumes retirados principalmente dos povos bantos do Oeste. As associações candomble de certas cidades brasileiras eram, e até certo ponto ainda são profundamente africanas no conteúdo embora exóticas na forma (DAVIDSON, 1969, p.55).

Mesmo com todas as perseguições e humilhações sofridas pelos escravos,

algumas comunidades remanescentes de quilombos conseguiram manter-se viva

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em seus costumes e seu território. Os locais que hoje se intitulam remanescentes de

quilombos, estabeleceram a sua permanência de várias formas, através de

heranças, doações, ocupações de territórios despovoados, inclusive compra. Hoje

esses ambientes perduram com uma ambigüidade de sentidos, o de garantir sua

sobrevivência, e o de fortalecer e preservar a sua cultura, o que não é simples. Nos

dias atuais os quilombos querem ser respeitados e reconhecidos socialmente, não

como uma comunidade afastada e remota, e sim como parte constituinte da

sociedade que estão inseridos.

Para se definir uma comunidade como Quilombola é necessário uma certidão

de auto-reconhecimento, que é possível conseguir com o cumprimento das

cláusulas do decreto 4.887/03, que trata de regulamentar e reconhecer terras

remanescentes de quilombos através de alguns critérios pré-estabelecidos. Veremos

o seu desenvolvimento abaixo.

O decreto 4.887/03 regulamenta titulação de terras quilombolas, publicação

no Diário Oficial nº 227, de 21/11/2003.

O Presidente da República decreta, em uso de suas atribuições, contidas no

art. 84 da Constituição e em ação conjunta com o presente no art. 68 do Ato das

Disposições Constitucionais Transitórias, que:

A partir do decreto 68, disposto acima, serão ditados os procedimentos para

a titulação dos ambientes povoados pelos remanescentes das comunidades dos

quilombos, que se encarregarão de definir, reconhecer e demarcar esses territórios,

devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos.

Para os descendentes dos quilombolas serem reconhecidos legalmente é

necessário considerar as clausulas do decreto que alegam: os grupos étnico-raciais

devem se auto-atribuir um passado histórico, cobertos de relações territoriais

características, com certeza de ter uma herança negra enraizada em um histórico de

sofrimento e exploração.

Os órgãos responsáveis por encontrar, reconhecer, demarcar e titular terras

povoadas por descendentes de quilombos são, o Ministério do Desenvolvimento

Agrário (MDA), com o auxilio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

(INCRA).

A garantia dos direitos territoriais e a regularização de posse das terras dos

remanescentes dos quilombos são reconhecidas pela Secretária Especial de

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Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), da Presidência da República,

assessorada pelo MDA e o INCRA que age nos limites de sua autoridade legal.

Para certificar os direitos de regularização territoriais é necessário ainda que

seja assegurada a preservação da herança cultural encontrada nas comunidades

quilombolas, cabe ao Ministério da Cultura mediante a Fundação Cultural dos

Palmares atuar em parceria e auxiliando o MDA e o INCRA, assim como para

auxiliar as tarefas processuais, caso haja contestação ao método de assimilação e

reconhecimento contidos no decreto.

O decreto assegura também, que durante todo o processo de

reconhecimento, pode e deve ter um representante dos remanescentes da

comunidade quilombola, para participar de todas etapas juntamente com a gestão

administrativa.

Sem definição preestabelecida de acordo com a cultura popular dos

Quilombos um ambiente repleto de manifestações culturais e sociais refletidas na

influência africana. Partindo para a vertente da cultura corporal os costumes e a

garra do povo africano, se habituavam a comemorar todos seus acontecimentos

com a dança em plena diversidade de ritmos, sons e movimentos, a transmissão da

cultura é passada para os dias atuais e a dança como forma de expressão é trazida

nessa cultura de modo predominante, se destacando em rituais de todos os tipos.

Sendo assim, no próximo capítulo discutiremos a trajetória histórica e cultural da

dança até os dias atuais.

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3. A DANÇA E SUA HERANÇA CULTURAL

Através do movimento corpóreo realizamos vários atos, possuímos

habilidades corporais que podem passar despercebidas, pelo fato de não

explorarmos mais os fenômenos motores. Dentre as diversas culturas corporais está

à dança, que por ser uma manifestação instintiva do ser humano, não se sabe ao

certo qual a sua origem. Porém, expressamo-nos corporalmente desde o

nascimento, daí a associar a expressão corpórea com os sinais sonoros leva pouco

tempo, na verdade cada indivíduo executa isso ao seu tempo, mas ainda na

infância. Ao fazer essa associação o individuo passa a conhecer a dança. Há relatos

que nos primórdios as pessoas dançavam para se aquecer, outros dizem que

dançavam para conquistar o sexo oposto, diz-se também sobre a dança em rituais,

para cultuar religiões e espíritos ancestrais, enfim são muitas as considerações

lançadas em prol desta vertente, mas o que não se pode contestar é que, desde a

existência humana existe dança, por isso é considerada uma das mais antigas

formas de arte.

A dança fazia parte de todos os acontecimentos importantes da sociedade, como nos nascimentos e funerais, nas colheitas e nas homenagens de caráter místico (religioso) que se prestavam aos elementos da natureza, o Sol, o Fogo, a Chuva e a Terra, consideradas seres supremos. Esses momentos eram celebrados com intensa participação corporal, em que o corpo era pintado ou tatuado e cheio de emoção, expressava, nos movimentos de dança, seus sentimentos (BREGOLATO, 2000, p.67).

A dança é introduzida no contexto histórico civilizacional como uma das

manifestações mais antigas. No período paleolítico ela já existia, época em que o

homem agia instintivamente, já havia sinais da dança executada naquele ambiente

que se mostrava através das pinturas que existiam nas paredes e nas rochas.

A respeito do histórico da dança diz Silva (2005) que a dança manifestou-se

inicialmente na era primitiva, sendo utilizada em rituais de oferendas, invocações,

celebração, atração do sexo oposto, assim como era retratado nas pinturas das

cavernas pré-históricas.

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Segundo a autora o homem paleolítico, desenhava acreditando que aquela

pintura podia se profetizar, que aquela realidade fosse acontecer, nesse intuito ele

desejava exercer domínio sobre a natureza. A dedução de dança que se tem,

relacionada a esses poucos desenhos é que eles traziam uma pratica simples, com

poucos movimentos, na maioria das vezes repetidos, com imitações, que

aconteciam geralmente em círculos.

Nas organizações civilizacionais egípcias, a dança segundo Silva (2005)

possuía traços religiosos, era representada por mulheres, em épocas de colheitas e

cheias do rio Nilo e em festejos que venerassem os deuses Ísis e Osíris. Já na

Grécia a dança estava atrelada a representações cênicas, aliada com a poesia,

assim originou-se à tragédia. Que Homero dizia ser danças realizadas em

casamentos, em sua origem eram circulares, só homens dançavam e intitulavam-se

como choreia. Em Esparta, aconteciam nos festejos de Dionisus, uma variedade de

dança nomeada de Emméleia, essas danças eram em veneração aos Deuses.

Nelas reproduzia-se o movimento das guerras, de combate e proteção. As mulheres

consideradas virgens, só podiam se apresentar em cerimônias mais simples, sem

platéia.

Ainda segundo Silva (2005), em Roma a dança tinha uma valorização menor

que na Grécia, por isso as representações eram poucas, também estavam mais

ligadas a religião, com rituais de purificação das terras e por uma colheita ou em

reverencia ao deus Marte, eram feitas dança de soldado.

Até o inicio da Idade Media, Silva (2005) afirmava que os camponeses ainda

dançavam em rituais, em colheitas, nascimento, em reverências. A partir do século

XI, as danças populares assumiram uma postura de mudança, principalmente nas

camponesas. Em certos funerais as pessoas entoavam cantos que culminavam em

danças, era uma dança que desencadeava um êxtase que era contagioso, em

questão de minuto as pessoas estavam em procissões, cantando, dançando e se

jogando pelo chão. Houve esse fato na Inglaterra, Alemanha e Itália, espalhando-se

mais tarde por quase toda Europa. Eram conhecidas como danças macabras, ou

dança da morte. Ao mesmo momento a dança dos camponeses perseveravam em

sua prática no século XV, essa dança desenvolvia-se em duplas, em movimentos

circulares e lineares, em quadrilhas, agitadas e eufóricas, praticadas em ocasiões de

comemoração.

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De acorde com Silva (2005) as danças acabaram chegando aos castelos

feudais na França e na Itália, em meados do séc. XV e XVI e assumiram alguns

formatos que por tempos ficou inerente a ela, como os palhaços ou bobos da corte

que misturavam danças e acrobacias em números engraçados. Quando ela foi

trazida para os castelos como entretenimento dos nobres no séc. XV na França e

Itália, ela passou a ter um sentido de espetáculo. O termo “ballet” passou a ser

pronunciado (do Italiano, que significar bailar, dançar) e depois daí foi sofrendo

mudanças até se transformar no que é nos dias atuais.

Pode-se perceber que a cultura usada como referência nas citações dos

parágrafos passados tem influência européia, pois no seu discurso histórico da

dança em nenhum momento pronunciou a dança afro ou folclórica. A única dança

tida como popular pronunciada nesse discurso foi a camponesa, é como se para

algumas camadas sociais e trajetórias históricas, essas danças de caráter popular

não existissem, muitas vezes pelo fato de não serem conhecidas ou negligenciadas

existencialmente.

Apesar de várias referências sobre a importância da dança na sociedade, poucos foram os estudos que se dedicaram a compreender a dança com elementos afro-brasileiros e seu simbolismo, assim como também escrever sobre profissionais que contribuíram e contribuem para a valorização desta arte (OLIVEIRA, 2006, p.81).

Oliveira (1991) apresenta uma visão ampla da cultura e da dança oriunda do

povo negro, em seu discurso ela a discorre com grande propriedade. Ela explica que

nos festejos em meio a era do escravismo a dança no Brasil exibia características

místicas ou lúdicas. Os negros escravizados de várias etnias interagiam a partir das

manifestações culturais, através de cantos, danças religião, dentre essas

manifestações a religião que prevalecia era o candomblé.

Segundo a autora ainda nos dias atuais há quem queira justificar a dança afro

como dança dos Orixás, Voduns e Inkises. Entretanto essa fala decorre da

ignorância ou amnésia das pessoas referente a existência das danças criadas por

negros católicos (Moçambique), por negro e índio (caboclinhos), por negro escravo

(capoeira), também como por negro e branco.

Ela afirma que o poder do movimento da dança afro provém de três pontos

energéticos, sendo eles: cabeça, tronco e pés. A Dança afro geralmente é exercida

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com os pés diretamente ao chão, sem sapatos, o povo africano acreditava que a

isenção desse contato bloqueava a energia vinda da terra. Nessa dança a mudança

dos ritmos é ministrada pelos aparelhos de percussão, estimulando o corpo a

expressar-se diversamente em formas.

Alguns princípios dos passos e características da Dança Afro são:

- Pés paralelos e descalços (quando fora do chão ficam dobrados). - Coluna ereta (sem rigidez) inclinada para a frente ou lados. - Quadris relaxados para trás. - Movimentos requebrados, soltos e independentes. - Ritmo variado, rico, percutido em contratempo com os pés no chão. - Pouquíssimas mudanças de níveis (OLIVEIRA, 1991, p. 20).

Ainda com Oliveira (1991), dizia no seu discurso que no ocidente a concepção

que se tinha de Balé era o de ser uma dança com um desenvolvimento coreográfico

original, criada pelo homem que tinha um querer interminável de novas formas de se

expressar. Porém fazendo uma relação com as danças afro brasileiras, da mesma

forma, requer e retém bastante criatividade coreográfica e as formas de movimentos

de expressão corporais são amplas e criadas pelo homem, sendo assim as danças

afro brasileiras, podem se comparar ao Balé.

Se no ocidente a dança tem como objetivo a graça, a beleza e a autêntica estética, assim como uma grande criação coreográfica, partindo de uma simples idéia, na comunidade religiosa do Candomblé, aprende-se ainda mais a cantar e a dançar, como se aprende a falar. Nesta religião cada passo evoca um ritmo, e cada canção está relacionada com a estória e com a evolução coreográfica tal e qual nas comunidades rurais africanas (OLIVEIRA, 1991, p.22).

Assim Oliveira (1991) contava que o negro se educou ao longo dos anos,

entendendo que seu corpo era impróprio para as danças clássicas, que seus quadris

eram avantajados, seus pés chatos. Foi assim que o negro se aproximou ainda mais

das danças folclóricas ao longo dos anos, como: samba (proveniente da palavra

africana semba, que significa umbigada), maculelê e capoeira.De acordo com ela,

nas décadas de 60 e 70 a dança afro já existia na Bahia, porém sem o exibicionismo

e sem apelação turística dos dias atuais, mais voltada a sua prática cultural.

Em meio à década de 80, Oliveira (1991) expõe que começam a aparecer

escolas em Salvador, oferecendo cursos de dança afro ao público, fazendo-se

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pensar que existe uma técnica para sua realização, em alguns lugares existem até

módulos para esses cursos. Antes disto, a dança do negro se encontrava nas

periferias, nos terreiros nos locais remanescentes de quilombos, onde eram

desenvolvidas as culturas populares. A sua visibilidade social começou através de

Mercedes Baptista. Numa de suas apresentações Mercedes Baptista, foi vista pela

antropóloga, dançarina e coreógrafa norte-americana, Katherine Dunham, que após

o espetáculo ofereceu uma bolsa de estudos a Mercedes em New York em sua

academia onde era professora de dança. Depois de estudar nos Estados Unidos,

Mercedes resolveu voltar e desenvolver as danças folclóricas e de origem negras

nas academias. Ela resolveu utilizar a dança afro em espetáculos, e dessa forma

nasceu Balé Afro brasileiro, e ficou conhecida historicamente como a “Mãe do Balé

Afro”.

Ainda seguindo o pensamento de Oliveira (1991) vários movimentos

aconteceram ao mesmo tempo na Bahia na década de 60, em Salvador foram

criados os grupos folclóricos, Viva Bahia e Olodum. Grupos estes, que desenvolviam

e demonstravam a cultura e a expressividade através da dança com influencia

africana.

O Candomblé, a Puxada de Rede, o Maculelê, a Capoeira, o Samba de Roda, entre outras danças, eram, e ainda hoje são, as manifestações mais exploradas pelos grupos que se dedicam à atividade (OLIVEIRA, 1991, p.33).

Contanto, segundo Oliveira (1991) pode-se dizer que o grupo Viva Bahia foi

responsável pela disseminação da Dança Afro. Para o desenvolvimento coreográfico

do espetáculo eram chamadas as pessoais da própria comunidade, mais velhas ou

experientes, que carregavam a tradição cultural da dança, aprendida com seus

antepassados. Então surgiram outros grupos folclóricos na Bahia, dando

continuidade aos trabalhos e modernização as indumentárias, dando novas cores ao

balanço e nova cara a nossa cultura, mas sem perder a essência.

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3.1 A Cultura Corporal da Dança no Âmbito da Educação Física

Antigamente dançava-se por vários motivos, dependendo da cultura e da

civilização a qual se pertencia, vários rituais, cerimônias, manifestações envolviam

dança. Porém, como diz a citação abaixo, a dança vem passando por diversas

modificações, na contemporaneidade ela possui um sentido diferente, o ser humano

encontrou o contentamento, o prazer, a entrega e os benefícios inerentes a dança e

agora a pratica mais por uma satisfação pessoal. É importante que essa

manifestação continue sendo difundida, nesse sentido, para que todos, sem

distinções, tenham acesso a essa cultura corporal e passem por essa experiência ao

longo de sua formação ao menos uma vez, e assim possam decidir praticá-la ou

não.

A dança vem sofrendo profundas e significativas transformações: a técnica, os conteúdos e a pesquisa do movimento corporal assumem novas perspectivas e estão sendo redimensionados para participarem efetivamente da formação histórico-cultural da criança, do adolescente e de todo ser humano (FERREIRA, 2008, p. 100/101).

Segundo Soares (1992) e outros:

Na perspectiva da reflexão sobre a cultura corporal, a dinâmica curricular no âmbito da Educação Física, tem características bem diferenciadas das da técnica anterior. Busca desenvolver uma reflexão pedagógica sobre o acervo de formas de representação do mundo que o homem tem produzido no decorrer da história, exteriorizadas pela expressão corporal: jogos, danças, lutas, exercícios ginásticos, esporte malabarismo, contorcionismo, mímica e outros, que podem ser identificados como forma de representação simbólica de realidades vividas pelo homem, historicamente criadas e culturalmente desenvolvidas (SOARES e outros p.38).

Vemos hoje a necessidade de incluir novos paradigmas a Educação Física e

romper com velhos conceitos, as culturas corporais expostas acima pelos autores,

são formas criativas e estimulantes de trabalhar o conteúdo da Educação Física.

Entre elas está a dança, essa cultura corporal é pouco explorada, principalmente no

ambiente escolar. Porém é inegável a necessária importância da dança nesse

campo, haja visto que ela trabalha o conteúdo da Educação Física numa perspectiva

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mais descontraída e inovadora, estimulando assim o desenvolvimento e a

participação dos alunos nas atividades.

Faz-se necessário o resgate da cultura brasileira no mundo da dança através da tematização das origens culturais, sejam do índio, do branco ou do negro, como forma de despertar a identidade social do aluno no projeto de construção da cidadania (SOARES e outros 1992,p.83).

Por se encontrar como a uma das maiores expressão cultural que se tem, a

dança demonstra um amplo destaque no que diz respeito ao social, tornando-a

assim um ato popular que desencadeia naturalmente o envolvimento dos praticantes

nessa cultura corporal. A linguagem corporal que é passada através da dança tem

valor substancial na aprendizagem do indivíduo, por conta de tocar o íntimo da

pessoa, aguçando assim a sua sensibilidade. Essa cultura deve ser introduzida no

desenvolvimento humano desde a infância, pois ela esta e sempre esteve envolvida

em várias vertentes sociais.

Considera-se a dança uma expressão representativa de diversos aspectos da vida do homem. Pode ser considerada como linguagem social que permite a transmissão de sentimentos, emoções da afetividade vivida nas esferas da religiosidade, do trabalho, dos costumes, hábitos, da saúde, da guerra etc.(SOARES e outros 1992, p.82).

Não esquecendo que a dança é uma das manifestações corporais que mais

evidencia a cultura, no próximo capítulo decorreremos sobre a cultura e suas

transformações ao longo dos tempos.

Page 15: DANÇA AFRO NOS QUILOMBOS DE ALAGOINHAS: IDENTIFICAÇÃO DA EXISTÊNCIA DE UMA HERANÇA CULTURAL

24

4 CULTURA: O TRADICIONAL E O CONTEMPORÂNEO

Recentemente, tem sido amplo o debate sobre o tema cultura, na busca pelo

sentido desta palavra nos vem vários questionamentos. Como ela é compreendida?

Como ela se modifica? Como esse conhecimento perpassa pelas gerações? Ao

longo deste capítulo discutiremos a relação que tem o tradicional e o

contemporâneo, dentro disto, tentaremos explanar esses questionamentos.

Quando discutimos o termo Cultura, vem a mente inúmeras situações,

pensamos nos muitos caminhos que nos conduziram até aqui, as mutações que

houveram no sentido das coisas até chegarem ao que são, os diferente tipos de

organizações que já existiram na sociedade, a significância e a amplitude que tem

nesse universo são indescritíveis, como diz esse trecho:

A riqueza de formas das culturas e suas relações falam bem perto a cada um de nós, já que convidam a que nos vejamos como seres sociais, nos fazem pensar na natureza dos todos sociais e que fazemos parte, nos fazem indagar das razões da realidade social de que partilhamos e das forças que as mantêm e as transformam (SANTOS, 1994, p.9).

Apesar da pluralidade cultural existente em nosso país, há culturas que

prevalecem em relação a outras, sendo seguidas por toda uma civilização, que crê e

respeita esses preceitos culturais e os defende de todas as formas cabíveis. De fato

as culturas não devem ser imortalizadas, no entanto deve-se ter o conhecimento

dessa cultura para o ser humano poder identificar sua origem. As culturas de

minoria, chamadas culturas populares, são em grande parte sobreposta, pelo fato da

categoria de classe favorecer a maioria, as que obtêm mais poder, mais organizadas

politicamente e mais fundamentadas no capitalismo.

As tradições e as leis são culturais, são criadas por grupos, que possuem mais poder e prestígio para fazer valer sua vontade. Esses interesses particulares são colocados como leis para todos os outros (GUARESCHI, 2007, p.96).

Dentro dessa perspectiva, surge a necessidade de evidenciar cada vez mais

a cultura popular, pois ela nos remete a nossa acanhada origem, aquela que se

esconde nas muitas facetas da sociedade contemporânea. Reconhecer e difundir

Page 16: DANÇA AFRO NOS QUILOMBOS DE ALAGOINHAS: IDENTIFICAÇÃO DA EXISTÊNCIA DE UMA HERANÇA CULTURAL

25

essa cultura esse legado é de suma importância para as gerações futuras, para que

tenham oportunidade de conhecer o que foi e em que se transformou nossa

sociedade. Entretanto não cabe a nós eternizar as culturas de minoria,

principalmente as que procederam da indigência ou da exploração, pois pela lei

natural das coisas, nada fica imutável ao tempo, as coisas vão se transformando, e

assim deve ser, porém essa cultura faz parte da construção histórica de uma

civilização e deve ser lembrada como tal, essa diversidade cultural não pode passar

despercebida no episódio histórico-social.

Assim, tanto no estudo de culturas de sociedades diferentes quando das formas culturais no interior de uma sociedade, mostrar que a diversidade existe não implica concluir que tudo é relativo, apenas entender as realidades culturais no contexto da história de cada sociedade, das relações sociais dentro de cada qual e das relações entre elas. Nem tudo que é diverso o é da mesma forma. Não há razão para querer imortalizar as facetas culturais da miséria e da opressão. Afinal, as culturas movem-se não apenas pelo que existe, mas também pelas possibilidades e projetos do que pode vir a existir (SANTOS, 1994, p.20).

De acordo com Santos (1994) a sociedade coexiste culturalmente através de

aspectos desiguais. As influências estrangeiras demonstram que a disparidade de

poder acaba estabelecendo influência em todos os setores, os quais acabam

categorizando a sociedade. Estes aspectos são típicos da contemporaneidade não

se pode cogitar a hipótese de explanar a cultura, sem remeter-se as

dessemelhanças encontradas. Cabe-se somente evidenciar os problemas e procura

soluções para os mesmos

Mesmo com a cultura de maioria contrapondo alguns preceitos da cultura

popular, podemos dizer que não existe cultura melhor ou pior que outra, existe sim,

demonstrações culturais mais socializadas e também atos históricos e reais que

desencadearam situações de imposição cultural.

[...] Não há superioridade ou inferioridade de culturas ou traços culturais de modo absoluto, não há nenhuma lei natural que diga que as características de uma cultura a façam superior a outras [...] (SANTOS, 1994, p.16/17).

Na concepção de Santos (1994) muitos acreditam que a cultura somente

refere-se às representações artísticas, a dança, o canto, artes cênicas. Em outros

Page 17: DANÇA AFRO NOS QUILOMBOS DE ALAGOINHAS: IDENTIFICAÇÃO DA EXISTÊNCIA DE UMA HERANÇA CULTURAL

26

momentos, ao questionar a cultura contemporânea ele se remete aos meios de

comunicação de massa. Isso quando não está ligado aos mitos e crendices, aos

cultos, aos cultos e religiões, ao vestuário ou comidas, a linguagem.

Porém ele se remete a cultura de uma forma mais abrangente, focando os

aspectos que caracterizam o ser humano ou a humanidade. A amplitude de sentidos

não deve afetar o foco real, devemos nos importar com o que desencadeou essa

amplitude e localizar as teorias onde essa variedade se apóia. Através disso ele

coloca que deve fechar as lacunas e procurar o real significado da concepção

cultural, como se deu seu desenvolvimento, só assim, entendemos o verdadeiro

sentido da cultura.

Sendo assim ele acredita que a cultura é a generalização de fatos que

distinguem a forma de existir de uma sociedade, grupos ou povoações, tudo que se

relacionam com o cotidiano de uma sociedade é cultura.

Dentro da vertente existencial da sociedade, podemos dizer que os

conhecimentos culturais são passados de gerações para outras de forma relativa,

dada a importância que essa cultura exerce no local em que ela está inserida, assim

como os traços tradicionais e contemporâneos se fundem ao longo dos tempos.

Uma cultura pode ser conservada ao longo dos tempos, porém, ao viver essa cultura

nos dias atuais sempre vamos incorporar a ela traços o qual convivemos no

presente. Assim a cultura tradicional e a contemporânea sempre vão carregar algo

uma da outra, por que vivemos em dinamicidade e sendo assim podem se modificar

a qualquer instante.

[...] se a cultura não mudasse, não haveria o que fazer senão aceitar como naturais as suas características e estariam justificadas assim as suas relações de poder (SANTOS, 1994, p.83).

A diversidade cultural da sociedade é incalculável, porém, dentro de nosso

país também são estabelecidas de várias divisões. No interior de nossa sociedade

existem diversas formas culturais distintas / desconhecidas pelas pessoas que a

povoam, elas são vistas como culturas equívocas, fora do comum, isso acontece

com as comunidades que ficam mais afastadas dos centros urbanos, como grupos

indígenas, comunidades rurais, quilombos, grupos religiosos isolados, ciganos,

ripes.

Page 18: DANÇA AFRO NOS QUILOMBOS DE ALAGOINHAS: IDENTIFICAÇÃO DA EXISTÊNCIA DE UMA HERANÇA CULTURAL

27

Essas culturas são incomuns as da maioria levando em consideração que

essa multiplicidade cultural fez-nos o que somos, devemos respeitar as culturas

internas, pois ela nos ajudará a entender o sentido da diversidade existente em

nosso país. Estas culturas são muitas vezes remotas, até escondidas, mas se

encontram dentro de um país ativo, em constantes transformações, atualizações.

O reconhecimento da cultura popular como patrimônio histórico de nossa

sociedade é absolutamente necessário, porém esse sentimento e esse

reconhecimento deve ser internalizado naturalmente no indivíduo ao longo da sua

formação através do conhecimento. A escola tem um papel importantíssimo na

disseminação dessa cultura, pois é um lugar onde se viabiliza o saber, sabemos que

as instituições de ensino são em grande parte responsáveis pelo conhecimento que

carregamos conosco, nada mais justo que a cultura popular venha ter seu espaço no

ambiente escolar.

Referente a este assunto, o Presidente da República, Luís Inácio Lula da

Silva, em uso de suas atribuições sancionou a lei 10.639 em 9 de janeiro de 2003,

alterando a lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional, afim de incluir obrigatoriamente o ensino da temática História e

Cultura Afro-Brasileira nos currículos escolares em todo Brasil. Este acontecimento

gerou a necessidade de verbalização dessa cultura no espaço escolar, a fim de

facilitar o processo de ensino-aprendizagem do aluno em relação as culturas

populares.

Segundo Abib (2004), a cultura popular não se encontra atrelada ao processo

de educação formal, acabam se distanciando destes procedimentos, por conta disto

não acontecem com tempo regular, com conteúdo programado, não tem um

cronograma de atividades nesse âmbito, porém, não se deve esquecer sua

relevância, pois essa cultura introduz o sujeito em uma realidade diferente da que é

oferecida na formal e possibilitar uma maior flexibilidade na sua execução.

As culturas populares são caracterizadas como não-formais, e por isso muitas

vezes acabam sendo descriminados pelos responsáveis em validar os processos

formais, por ser uma cultura de minoria oriunda de comunidades, não sendo

implantadas com freqüência e instabilidade nas intuições de ensino.

Abib (2004), diz ainda, que nunca houve uma legitimação da cultura popular

no currículo da educação formal. Segundo ele, as manifestações populares são

demonstradas de forma folclóricas, em festejos que acontecem uma ou duas vezes

Page 19: DANÇA AFRO NOS QUILOMBOS DE ALAGOINHAS: IDENTIFICAÇÃO DA EXISTÊNCIA DE UMA HERANÇA CULTURAL

28

no ano. Esse fato denota o preconceito com que essa cultua é tratada, pois nas suas

palavras essa é a “herança de uma racionalidade eurocêntrica”, que ainda exercem

influência sobre os processos formais pedagógicos, ainda que haja ambientes que

estejam sendo beneficiados com programas de incentivo a essa vertente.

Page 20: DANÇA AFRO NOS QUILOMBOS DE ALAGOINHAS: IDENTIFICAÇÃO DA EXISTÊNCIA DE UMA HERANÇA CULTURAL

29

5 METODOLOGIA

O presente trabalho tem como objeto a análise da dança afro nos quilombos

de Alagoinhas, trata-se de um estudo de cunho qualitativo, por lidar com relações

humanas, esse conteúdo não pode ser quantificado, pois não se encaixa com o

sentido social da pesquisa, que se volta para a natureza dos sentidos, atos e

realizações do comportamento humano.

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis (MINAYO, 1994, p.21).

Essa pesquisa foi desenvolvida a partir de um Estudo Comparativo de Caso,

possui caráter descritivo. Este tipo de estudo tende analisar não só um caso, mas

dois ou mais fazendo uma relação comparativa entre os mesmos. O Estudo de caso

se propõe a observar e entender determinados fenômenos. E a partir desse

entendimento, avaliar uma dada realidade em um determinado local, não

generalizando o estudo, ele se apega a uma delimitada porção ou um caso particular

do ambiente, visando propiciar uma dimensão ampla de um problema ou mostrar

indícios de acontecimentos que impactam em uma realidade. No parecer

comparativo a análise deve abranger os casos definidos na pesquisa, este tipo de

estudo permiti evidenciar diferentes situações em múltiplos ambientes.

Um aspecto interessante do Estudo de Caso é o de existir a possibilidade de estabelecer comparações entre dois ou mais enfoques específicos, o que dá origem aos Estudos Comparativos de Caso. O enfoque comparativo enriquece a pesquisa qualitativa, especialmente se ele se realiza na perspectiva histórico-estrutural (TRIVIÑOS, 1928, p. 136).

Por este estudo ser de cunho social a abordagem foi feita com base na

Sociologia Compreensiva, pois trata-se de uma analise das representações culturais

no ambiente do quilombo, ao qual pertence os determinados grupos de dança com

Page 21: DANÇA AFRO NOS QUILOMBOS DE ALAGOINHAS: IDENTIFICAÇÃO DA EXISTÊNCIA DE UMA HERANÇA CULTURAL

30

descendência africana. Essa corrente frisa a analise das relações e ações humanas

através da realidade social em que os indivíduos estão inseridos.

De acordo com Minayo (1994) os autores que trabalham com essa vertente

não estão interessados em quantificar, eles desejam identificar, entender e explanar

a manifestações sociais que são dispostas através de tradições e costumes, saberes

relacionados ao acúmulo de conhecimento absorvidos com o tempo, realidades de

ambientes a partir da influência humana, ele acredita que não se pode separar o

social do natural, haja visto que no seu entendimento um completa o outro.

Num embate frontal com o Positivismo, a Sociologia Compreensiva propõe a subjetividade como o fundamento do sentido da vida social e defende-a como constitutiva do social e inerente à construção da objetividade nas ciências sociais (MINAYO, 1994, p.24).

Referente ao espaço e sujeitos da pesquisa, o estudo foi realizado no

ambiente do Catuzinho e Buri, distritos do Município de Alagoinhas. Afastados da

urbanização da cidade, ficam localizados na zona rural.

Reconhecido como remanescente de quilombo no ano de 2004, pela

Fundação Cultural dos Palmares (FCP), o Catuzinho tem uma população que vive

basicamente da produção rural e principalmente da agricultura familiar ou de

subsistência. Nessa comunidade os registros que se tem de danças com

descendência africana é o Samba de Roda. A partir do Samba surgiu o Grupo de

Samba Estrela do Catuzinho, contendo cerca de 30 componentes, alguns fixos

outros simpatizantes, nesse grupo são encontrados criança, jovens e idosos, não

existe uma faixa etária definida. Existia lá também a dança afro, porém o grupo

formados por jovens meninas não teve continuidade por falta de incentivo.

Segundo a Coordenadora de Reparação Social da (Secretaria Municipal de

Assistência Social) SEMAS, Marizélia Soares dos Santos, a comunidade do Buri se

encontra nos dias atuais em processo de reconhecimento de remanescente de

quilombos. Seus habitantes, em sua maioria, ainda nos dias atuais subsistem

através da agricultura, da culinária por meio de iguarias como Beiju, pé de moleque,

bolacha de goma, farinha de mandioca e outras. Nessa comunidade o registro de

dança que se tem também é o Samba de Roda, o grupo que pratica essa cultura

corporal é conhecido como Samba de Roda do Buri, é composto por jovens e

adultos, porém prevalecem os jovens, tem cerca de 20 componentes.

Page 22: DANÇA AFRO NOS QUILOMBOS DE ALAGOINHAS: IDENTIFICAÇÃO DA EXISTÊNCIA DE UMA HERANÇA CULTURAL

31

As comunidades quilombolas referidas acima são afastadas da região central

do município de Alagoinhas, bem característicos de quilombo, suas particularidades

são a sobrevivência das raízes culturais destacados pelo tradicionalismo, as

manifestações sociais, essas comunidades vem mostrando a dança como um

patrimônio cultural. Além disso, mantém no seu cotidiano características não muito

diferente dos seus primórdios. Articulam-se como podem em grupos que são

formados no intuito de melhorar a qualidade de vida da comunidade, a participação

maciça nas causas sociais, o interesse na divulgação dos diversos produtos

confeccionados pela população local, demonstra a união e a solidariedade contida

entre as pessoas nesses ambientes.

O que fica claro dentro destes quilombos, é a capacidade que o quilombola

tem em nutrir a essência de sua raiz africana revelada pela culinária, pelas histórias,

pelo saudosismo e pelas manifestações culturais completadas no batuque dos

tambores, nas palmas, no canto e na alegria do povo que dança com amor em

respeito aos seus ancestrais e com grande preocupação em mostrar através da

dança que ainda reside em alagoinhas à cultura afro-brasileira com costumes

tradicionais típicos dos quilombos.

Na coleta de dados utilizou-se a observação não participante visando um

comportamento humano natural, relacionado ao cotidiano da comunidade, nesse

intuito não foram feitas intervenções, para que o individuo continuasse vivenciando

comodamente as suas atividades rotineiras. Este tipo de observação possibilita a

analise do ambiente, grupo ou pessoa sem alterar a natureza dos fatos neles

existentes, avaliando assim a legítima situação local, social, histórica e cultural sem

deformações na realidade encontrada.

[...] o observador é não participante: aparece como um elemento que “vê de fora”, um estranho, uma pessoa que não está envolvida na situação, como, por exemplo, um professor interessado em conhecer o comportamento dos alunos na hora do recreio e que os observa de

uma janela (RUDIO, 2009, p.43).

Na análise dos dados a pesquisa foi dividida em dois momentos, o primeiro se

refere observação que foi feita aos grupos, a partir dos ensaios e apresentações dos

mesmos que foram acompanhados. As observações aconteceram com o

seguimento das atividades rotineiras dos grupos, no Buri foram realizados três

Page 23: DANÇA AFRO NOS QUILOMBOS DE ALAGOINHAS: IDENTIFICAÇÃO DA EXISTÊNCIA DE UMA HERANÇA CULTURAL

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encontros formais, estes foram registrados por meio de filmagens e fotografias e no

Catuzinho foram realizados quatro encontros formais, também registrados da

mesma forma, não esquecendo os encontros informais que aconteceram de forma

espontânea ao longo da pesquisa nos dois espaços. O que foi observado nos

encontros foi registrado no diário de campo.

A entrevista semi-estruturada foi utilizada como complemento na coleta, ela

possibilita uma maior liberdade ao indivíduo na sua execução, e permiti uma ampla

flexibilidade aos novos questionamentos que surgem ao decorrer da mesma.

Transformando o ambiente propício a uma conversação mais aberta no sentido das

formalidades, obtendo assim de forma espontânea uma liberdade no discurso do

entrevistado. A partir disso pode-se ter um conteúdo maior nas informações contidas

na conversação, que poderiam passar despercebidas pelo pesquisador se às

questões fossem pré-estabelecidas sem flexibilidade. Essa liberdade que o autor

relata abaixo consiste na essência dessa técnica, pois, existe a possibilidade de

serem acrescentados novos contextos, dependendo do entrevistado, podem ser

levantadas questões complementares ao assunto discorrido.

Entrevista semi-estruturada: fica entre os dois extremos discutidos. O entrevistador pergunta algumas questões em uma ordem pré-determinada, mas dentro de cada questão é relativamente grande a liberdade do entrevistado (MOREIRA, 2002, p.55).

A entrevista semi-estruturada foi analisada em quatro categorias sendo essas:

Identificação do Entrevistado, Envolvimento com a Dança, Desenvolvimento da

Dança na Comunidade e a Relação do Tradicional e o Contemporâneo. As mesmas

foram aplicadas a cinco sujeitos, sendo três do Catuzinho e dois do Buri. A fim de

manter sigilo em relação aos nomes dos sujeitos, os mesmos ficaram identificados

como: (ES), (MC), (GN), (MI), (AC), disponíveis nessa ordem, todos os indivíduos

responderam as perguntas de espontânea vontade, contendo a assinatura dos

mesmos no termo de consentimento livre esclarecido.

A análise dos dados da pesquisa foi feita a partir da análise de conteúdo.

Seguindo o pensamento de Minayo (1994), na análise de conteúdo temos a

capacidade de resolucionar questionamentos dispostos no estudo e nos certificar de

conceitos preestabelecidos antes mesmo da pesquisa de campo. Podemos também

depois da análise fazer a comparação real do que foi dito no discurso e descobrir

Page 24: DANÇA AFRO NOS QUILOMBOS DE ALAGOINHAS: IDENTIFICAÇÃO DA EXISTÊNCIA DE UMA HERANÇA CULTURAL

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alguma contradição que poder ser abordada. Sendo assim a análise de conteúdo e a

investigação são complementos unidos um ao outro nesse sentido. Essa análise

pode se dá de várias formas indo da avaliação de uma grande obra até um simples

depoimento e acolhe tanto o método qualitativo quanto o quantitativo. Ainda para a

autora a análise de conteúdo permite analisar as entrelinhas do que foi dito. Por isso

é uma das técnicas que mais se utiliza em pesquisas qualitativas.

[...] através da analise de conteúdo, podemos encontrar respostas para questões formuladas e também podemos confirmar ou não as afirmações estabelecidas antes do trabalho de investigação (hipótese). A outra função diz respeito à descoberta do que está por trás dos conteúdos manifestos, indo além das aparências do que está sendo comunicado (MINAYO, 1994, p.74).

A análise dos dados se deu de forma sistemática depois dos primeiros

passos, contidos acima se desenvolveu a análise de conteúdo que foi feita a partir

da categorização do discurso contido nas entrevistas realizadas com os

coordenadores dos grupos de dança, foram emitidos sentidos as respostas contidas

na entrevista sendo priorizada sempre a fala que mais se repetia. No segundo

momento com a observação, foi gerado um capitulo, sendo ele: O que foi visto nas

Comunidades, a fim de destacar e esclarecer as observações feitas no campo de

pesquisa.

A categorização consiste na organização dos dados de forma que o pesquisador consiga tomar decisões e tirar conclusões a partir deles. Isso requer a construção de um conjunto de categorias descritivas [...] (GIL, 2002, p.134).

Para manter sigilo referente aos sujeitos da pesquisa, os mesmos, foram

identificados como: AS, MC, GN, MI e AC. A entrevista foi realizada com os

coordenadores dos grupos de dança e a observação se deu com acompanhamento

das atividades rotineiras dos grupos, no Buri foram realizados três encontros

formais, estes foram registrados por meio de filmagens e fotografias e no Catuzinho

foram realizados quatro encontros formais não esquecendo os encontros informais

que encontros de forma espontânea ao longo da pesquisa.

Na primeira categoria referente a Identificação do Entrevistado, notou-se que

a maior parte dos coordenadores, sendo três em sua totalidade tem formação no

magistério, tendo os dois restante segundo grau completo. Na segunda categoria

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que é o envolvimento com a dança quando os entrevistados foram questionados

sobre com se deu o seu envolvimento com a dança a maioria disse que se deu

desde a infância sendo esses três sujeitos ES, MG e GN os outros dois disseram

que foi quando começaram a freqüentar a comunidade, no segundo questionamento

onde se questionou o tipo da dança que é trabalhada na comunidade os cinco

sujeitos; ES, MC, GM, MI e AC responderam unanimidade que era o Samba de

Roda sendo que três desses: GN, MI e AC cogitaram a presença que houve a

presença da dança afro, mas que esse grupo não teve continuidade. Ainda na

mesma categoria perguntou-se a quanto tempo os entrevistados trabalhavam com a

dança três deles responderam, entre cinco á sete anos ES, GN e AC.

Na categoria, Desenvolvimento da Dança na Comunidade o primeiro

questionamento; como surgiu o grupo; três pessoas acreditam que foi como resgate

cultural MC, MI e AC, sendo que os outros dois acreditam que surgiu como uma

proposta de lazer; ao perguntar quem fundou o grupo três pessoas, MI, MC e AC

responderam que foi a comunidade em conjunto, os outros dois citaram nomes de

parentes, no último questionamento desta categoria foi perguntado, em quem eles

se inspiraram, a resposta foi unânime, os cinco ES, MC, GN, MI e AC, afirmaram ter

sido nos ancestrais.

Em a Relação do Tradicional e o Contemporâneo, essa categoria

desencadeou quatro perguntas uma delas foi qual a diferença da dança de hoje com

a de antigamente, os sujeitos tiveram respostam diferentes, porem só um deles (MI)

respondeu referente a dança, os outros fugiram do tema, quando questionados se

tinha figurino e se ele era baseado no tradicional ou no contemporâneo, os três

responderam no contemporâneo e dois disseram ser no tradicional porém os dois

últimos disseram ter traço contemporâneo na dança afro quando era realizado lá ao

se perguntar o que mudou na dança de antigamente para os dias atuais três

pessoas disseram ser mudou a maneira de vestir, a ginga e instrumentos GN, MI e

AC e quando questionou-se o que prevaleceu no grupo que não pode ser alterado a

resposta homogênea foi a manutenção da cultura e do tradicionalismo não pode ser

alterados onde AS, MC, GN, MI e AC responderam da mesma forma.

Essa ultima categoria não foi planejada, porém surgiu ao longo das

discussões chama-se Auxilio Governamental tinha como questionamento qual o

apoio político que eles recebiam para o desenvolvimento das atividades, todos

responderam que não recebia nenhum tipo de incentivo financeiro.

Page 26: DANÇA AFRO NOS QUILOMBOS DE ALAGOINHAS: IDENTIFICAÇÃO DA EXISTÊNCIA DE UMA HERANÇA CULTURAL

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Os dados coletados os dados para pós-entrevista foram interpretados,

juntamente com o auxílio dos recursos bibliográficos. Esse instrumento contribuiu

para a análise do grupo e das vertentes culturais.

Page 27: DANÇA AFRO NOS QUILOMBOS DE ALAGOINHAS: IDENTIFICAÇÃO DA EXISTÊNCIA DE UMA HERANÇA CULTURAL

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6 O QUE FOI VISTO NO CAMPO

Neste capítulo será disposta a relação dos elementos presentes no campo de

pesquisa através da observação. Nele tentaremos mostrar não só o ambiente dos

quilombos como também todos os espaços e situações que a pesquisa nos levou.

Iniciaremos descrevendo os encontros com os grupos de Samba de Roda e os

locais onde os mesmos aconteceram.

O primeiro encontro com o grupo de samba de roda do Buri, se deu durante a

Semana de Arte: Encontro de todas as linguagens do Agreste ao Litoral Norte, que

aconteceu entre os dias 21 e 28 de maio, foi um encontro a fim de juntar e

evidenciar as várias linguagens artísticas da cidade, oportunizando a população o

acesso a cultura com preços populares. Esse encontro aconteceu no Centro de

Cultura de Alagoinhas, no dia 21 de maio de 2010, sendo que o grupo fez a abertura

das apresentações.

Figura 1 - Grupo de Samba de Roda do Buri no Centro de Cultura.

Figura 2 - Tocadores do Buri, acompanhando o Samba com palmas.

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O segundo acompanhamento ao grupo foi feito no dia 25.05.2010, Durante o

evento Africae, que foi preparado a fim de receber e homenagear o Embaixador e o

Ministro do Congo aqui em Alagoinhas, esse evento foi organizado pela Prefeitura,

juntamente com a SECEL (Secretaria de Cultura Esporte e Lazer) e a SEMAS

(Secretaria Municipal de Assistência Social), no intuito de formar uma aliança do

Congo com Alagoinhas, abordando a troca de saberes econômicos e culturais.

Nessa noite apresentaram-se no Horto Neandertal, o Samba de Roda do Buri, como

também os grupos Filhos do Congo e a Capoeira Filhos de Maré.

Figura 3 - Samba de Roda do Buri no Horto Neanderthal.

Figura 4 - Homenageados da noite no Horto, (da esquerda para direita) Ministro do Congo, Prefeito de Alagoinhas e Embaixador do Congo.

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O terceiro acompanhamento ao grupo de samba de roda do buri aconteceu

no dia 29 de agosto de 2011, Alagoinhas participou da XI Caminhada do Folclore de

Feira de Santana, com uma comissão de 70 pessoas, membros de grupos de

capoeira, o Samba de Roda do Buri e outras entidades da região.

Figura 5 – Caminhada do Folclore em Feira, Baianas à frente Grupo do Buri atrás.

Figura 6 - Uma das Cantadoras do Samba do Catuzinho, na própria Comunidade

O primeiro encontro com o grupo de Samba Estrela do Catuzinho aconteceu

no dia 16.10.10, na própria comunidade do Catuzinho, O Samba foi programado pra

acontecer a noite em um espaço chamado Bar de Alex. Além da participação do

grupo também contou com a presença das pessoas da comunidade e de outros

remanescentes de quilombos.

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Figura 7 - Crianças na Roda de Samba da Comunidade Catuzinho.

O segundo encontro foi no dia 23.10.10, à noite, em um Terreiro de

Candomblé na Cidade de Alagoinhas, no Bairro de Alagoinhas velha, onde o Grupo

de Samba Estrela do Catuzinho, juntamente com os freqüentadores do terreiro,

praticaram a cultura através de canto, dança e religião.

Figura 8 - Mãe de Santo do Terreiro na Roda de Samba.

Page 31: DANÇA AFRO NOS QUILOMBOS DE ALAGOINHAS: IDENTIFICAÇÃO DA EXISTÊNCIA DE UMA HERANÇA CULTURAL

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Figura 9 - Altar dos Santos no Terreiro de Candomblé

O terceiro acompanhamento ao Grupo de Samba Estrela do Catuzinho,

aconteceu no km 12, Ba 110, a Caminho de Inhambupe, conhecido como “Os 12” ,o

local também é visto pela comunidade como remanescente de quilombo, porém não

é regulamentado ainda. Este samba aconteceu no Espaço Bernadino, no dia

13.11.10, ele fica localizado a beira da estrada, o Grupo foi convidado pra sambar na

comemoração de um aniversário.

Figura 10 - Tocadores do Estrela do Catuzinho no Km 12.

Quarto acompanhamento se deu no dia 12.12.2010, ao grupo foi no próprio

Catuzinho, onde o grupo A Estrela do Catuzinho, se reuni a cada 2º domingo do mês

onde as seguintes questões foram abordadas: as futuras apresentações, as

despesas com transporte, lugares onde serão realizadas as apresentações,

retrospectivas do ano de 2010, pontos a serem mudados no grupo, ensaio das

cantigas e a busca pelo samba de raiz. Ficaram marcados três Sambas, nas

comunidades do Cangula, Tombador, e Rio Branco. Na reunião encontra-se em

massa as pessoas mais velhas do grupo.

Page 32: DANÇA AFRO NOS QUILOMBOS DE ALAGOINHAS: IDENTIFICAÇÃO DA EXISTÊNCIA DE UMA HERANÇA CULTURAL

41

Figura 11 - Reunião do Grupo na Comunidade do Catuzinho.

Figura 12 - Grupo do Catuzinho na gravação do DVD.

Pude perceber que no samba de roda do Catuzinho existem alguns costumes

inerentes a dança, sendo utilizados três tipos de samba. Que são: o Chula, o

Santamarense e o Batuque. No Chula e no Santamarense, quando o cantor esta

em ação, o grupo não pode entrar na roda pra sambar, pode somente acompanhar

com palmas, assim que terminam as cantorias trios ou duplas de mulheres podem

entrar pra sambar ao ritmo dos instrumentos, os homens dançam depois, também

em trios ou duplas. O Batuque é o ritmo mais agitado, onde os tocadores animam o

povo, o cantor canta e a platéia responde, nesse momento todos podem entrar na

roda sambando, porém cada sexo por vez, mulheres primeiro e depois homens. Já

no Buri foi encontrado um samba mais solto e descontraído em relação ao

tradicionalismo, onde a qualquer momento podiam entrar pessoas na roda, de

ambos os sexos, sem estipular quantidade eles não fazem a separação dos ritmos

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do samba e tocam a qualquer momento os vários ritmos existentes, as pessoas que

geralmente iam observar as apresentações acabavam entrando na roda também

Em relação ao ambiente das apresentações, foi visto que no Catuzinho, o

grupo costuma se apresentar em Comunidade quilombolas e muitas vezes na

própria comunidade, em vários acontecimentos, aniversários, rezas, ou festejos sem

motivos específicos, nessa vertente a dança estava mais voltada para o lazer. Já no

Buri no período da pesquisa tiveram uma apresentação na Comunidade, sendo que

todas as outras aconteceram no centro da cidade em épocas festivas ou abertura de

eventos, nessa vertente o Grupo trabalha mais com a divulgação da cultura através

da dança espetáculo.

O samba de roda ocorre em todo o Estado da Bahia. Apresenta inúmeras variações que parecem estar relacionadas com aspectos ecológicos, históricos e socioeconômicos das diferentes regiões do Estado (LIMA e outros, 2004, p.17).

Sobre o figurino pôde-se observar que o figurino do Catuzinho é mais voltado

para o tradicional, as saias rodadas ainda vão até o pé, porém essa vestimenta não

é usada com freqüência pelo grupo, eles preferem ir para o samba com ropas

normais da atualidade, somente usando o figurino em apresentações de maior

vizibilidade social, como na gravação do DVD. O grupo do Buri costuma sempre se

apresentar com seu figurino, porém ele é mais voltado para o contemporâneo, as

saias são rodadas mais já se encontram no joelho e as blusa são personalizada e

rentes ao corpo.

A religião, sobre ela o grupo do catuzinho afirma ter uma relação indireta com

a mesma, hoje seus componentes são de religiões variadas, e eles não estabelecem

rituais durante suas apresentações, porem como esperam convite para levar o

samba para os locais, geralmente são chamados para Terreiros de Candomblé, e a

religião nunca foi empecilho para que deixassem de sambar. No buri os

coordenadores afirmam que nos dias atuais na há envolvimento com a religião,

houve sim antigamente, que toda reza terminava em samba, ou todo samba

terminava em reza.

O samba também acontece depois de festas de candomblés de rito nagô ou angola, em alguns casos, já como tradição institucionalizada e, em outros casos, como algo espontâneo que

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pode acontecer ou não a depender do ânimo das pessoas (LIMA e outros, 2004, p.19).

Em relação à faixa etária dos participantes foi visto que no Catuzinho, há

participação de todas as classes, porém, destaca-se a presença de anciãos e

crianças. Interessante é que geralmente os sambas do Catuzinho costumam

começar a noite e terminar pela manhã e todos, sem distinções, acompanham o

samba até terminar. No buri isso muda, existem no grupo adultos, jovens e anciãos,

porém a prevalência maior das sambadeiras é de jovens, sobressai nesse aspecto o

sexo feminino, sendo que os homens se encarregam de tocar, geralmente o tempo

das apresentações é mais curto, durando o tempo necessário para sua

apresentação.

É significante a ligação que o samba consegue entre todas as faixas etárias e entre os sexos, como também o fato de que formas de samba são ligadas, de uma ou outra maneira [...] (LIMA e outros, 2004, p.21).

Os dois grupos afirmaram cada um do seu jeito, que a inspiração para o

samba veio dos seus antepassados e descendentes, que o samba está no sangue,

e na sua execução se encontram em estado de euforia total, sem cansaço, sem

dores, sem problemas, frase dita por uma componente do Samba de Roda do Buri,

Nathy: “eu sambo com pé no chão até o dia amanhecer, na hora eu não sinto nada”.

Visto o reflexo da sobrevivência de uma cultura afro brasileira, grupos

organizados em prol de um objetivo em comum, pois toda comunidade quilombola

sabe sua história de luta pra sobreviver e manter a sua cultura, sobretudo o grande

valor sociocultural que as manifestações dessa uma origem têm e o quanto se faz

necessário demonstrar e disseminar a competências dessas comunidades.

Naturalmente encontra-se nos quilombos o empirismo a flor da pele a partir

das experienciais vividas, que valem mais do que dados, nesse sentido, são

utilizados dentro do ambiente dos quilombos plantas medicinais que servem de

remédio, como também uma invejável culinária típica dos remanescentes dos

quilombos, a forte ligação com os dogmas e preceitos religiosos com maior força o

catolicismo que se aproxima através da dança como o samba de roda que

antigamente acontecia nas rezas, pois os ritmos e os movimentos eram em

reverência a Santos, isso revela que os ancestrais quilombolas tinham respeito e

existe um tradicionalismo por parte dos moradores condizendo com a sua realidade.

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Não se pode dizer que a cultura seja algo independente da vida social, algo que nada tem a ver com a realidade onde existe. Entendida dessa forma, cultura diz respeito a todos os aspectos da vida social [...] (SANTOS, 1994, p.44).

Relatos evidenciaram a presença da cultura na comunidade quilombola desde

a infância, eles carregam o Samba de Roda e o tradicionalismo preservando-os nos

quilombos. As gerações se envolvem de modo geral tanto senhores idosos como

crianças e jovem de diversas faixas etária que é grande maioria, disseminam a

cultura local para que se tenha o devido reconhecimento social e seus valores

seculares.

Nos dias atuais a cultura do samba de roda é desenvolvida na comunidade

como método de lazer entre os jovens que revelam gostar da dança e entre outros é

uma forma de demonstrar os valores culturais da comunidade com interesse de

promoção da igualdade racial entre os projetos sociais que envolvem a comunidade

quilombola, ou seja, vêem o samba como um produto de resgate cultural na

comunidade.

Há uma preocupação no sentido de fazer manter essa cultura de geração

para geração, então a comunidade quilombola também troca experiências entre as

diversas comunidades de mesma matriz, com promoção de eventos e encontro

dentro da comunidade para apresentação do grupo de samba de roda, pois existe a

necessidade de manutenção da tradição e acreditam que se deixarem de praticar

essa cultura morrerá e o processo de disseminação deve ser de berço de pais para

filhos, por isso, nesses encontros desenvolvem figurinos ligados ao contemporâneo

sem perder tradicionalismo das cores vivas e chamativas, para atrair o publico mais

jovem assim como os cantos e instrumentos são misturados em modernos e

arcaicos, o que já denota a preocupação vigente em dar seguimento a tradição

cultural.

Estas comunidades possuem líderes que fazem toda a organização no

sentido de planejar, elaborar de projetos e eventos, representação comunitária,

desenvolvimento de figurinos, dentre outras necessidades do grupo, pois querem ser

vistos como um grupo organizado e antes, segundo alguns relatos, não eram ou não

se caracterizavam como tal e acabava gerando descrédito tanto dentro da

comunidade como fora, hoje eles se encontram cientes da necessidade dessa

organização.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A trajetória histórica da dança é repleta de sentidos e significados dentro das

civilizações humanas. Ela se transforma a cada época e cultura. O registro da dança

no contexto geral, na maioria das vezes está baseada na visão européia, porém,

resta-nos a pergunta: Como ficam os registros e a história da danças e da cultura

populares?

Geralmente quando se fala na história da dança, não se encontra inclusa as

populares, e quando se acha um material ou registro dessa cultura corporal, é em

um livro específico dessa temática. Resumindo a dança tida como popular sempre

se encontrou marginalizada e discriminada na sociedade por conta de suas origens.

Porém, não são vistos incentivos nesse âmbito. Nas escolas, a cultura e a dança

popular ou com descendência africana só são vistas em épocas folclóricas. Se a

cultura existencial do indivíduo não é cultivada e nem internalizada dentro dele, ao

longo de sua formação, ela não vai se destacar na vida do sujeito.

Nessa perspectiva foi encontrado nos ambientes remanescentes de

quilombos pesquisados a cultura e a dança afro, de modo predominante na

comunidade. E as heranças deixadas permanecem bem conservadas, nos diálogos

dos quilombolas, nas lembranças deles, na vivência da cultura, em tudo que é visto

naquele ambiente, sempre são encontrados, vestígios de uma comunidade

quilombola que mantêm um tradicionalismo em seu costumes. O empirismo ainda é

forte, mas aliado aos saberes contemporâneos e a mídia, sofrem uma dada

influência, mas que não abrange a todas as pessoas das comunidades.

O desenvolvimento e a disseminação da dança na comunidade acontecem,

de forma aliada uma a outra, as duas vertentes acontecem ao mesmo tempo nas

comunidades, as pessoas costumam aprender e respeitar essa cultura corporal

desde a infância. O colégio existente na comunidade do Catuzinho, por já serem

reconhecidos remanescentes de quilombos, recebe um material diferenciado,

através de periódicos que abordam a herança cultural negra e sua intervenção na

formação da comunidade. No buri também encontram-se periódicos nesse sentido,

porém em menor quantidade e menos detalhados.

No âmbito da educação física, essa cultura corporal ainda se encontra, pouco

difundida e cabe a nós profissionais e/ou professores de Educação Física,

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trabalharem essa possibilidade em nossos conteúdos, já que é uma pratica

agradável e satisfatória em seus resultados, pois qualquer atividade que envolva a

dança, no ambiente escolar ou nos vários ambientes que a mesma pode ser

praticada, gera uma compreensão corporal, desencadeia a expressividade e a

criatividade do movimento, aflora estímulos desconhecidos nos sujeitos, mexe com o

íntimo e a sensibilidade e provoca a aprendizagem de forma lúdica e espontânea.

A pesquisa colabora fortemente com a quebra dos paradigmas vinculados ao

elemento dança, seja ele em qualquer vertente. A partir disso, demonstra um amplo

conhecimento sobre as possibilidades do dançar, envolvendo a todos que desejem

desfrutar dessa cultura corporal. Esse também promove a sociabilização dos

conceitos culturais e tradicionais contidos na dança afro, desenvolvendo uma

aproximação histórica com a mesma.

Movidos também pela necessidade de abordar a cultura regional

alagoinhense através da dança, a fim de favorecer o conhecimento desse legado a

comunidade com o auxílio da pesquisa, essa pesquisa contribui com essa produção

literária para a cidade de Alagoinhas, instigando a construção de novas obras nesse

âmbito, por acreditar que existe uma certa carência de estudos acadêmicos nesta

área. Além disso pesquisa quis aproximar a comunidade acadêmica da comunidade

rural, visando sociabilizar ambas para que futuramente, sejam realizados mais

estudos, projetos e pesquisa nesse âmbito, enriquecendo assim os dois ambientes.

E em fim aflorando o desejo das pessoas de conhecer mais e praticar a dança afro,

para que desfrutarem do contentamento e dos atributos inerentes a mesma.

É preciso construir uma ação de permanência e disseminação dessa cultura,

para tanto são colocadas as seguintes sugestões: que através desse estudo a

comunidade acadêmica se aproxime da comunidade rural a fim de interagir nesse

rico e extenso campo; a partir da evidência dada, os governantes devem se dedicar

mais a questão da subsistência e da preservação cultural quilombola; trabalhar mais

as danças populares, a fim de demonstra e incorporar aos sujeitos sociais parte de

sua origem cultural; que se realizem mais pesquisas nesse âmbito para socializar

mais produções no contexto social.

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REFERÊNCIAS

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Duque de Ávila, 69, r/c. Esq.- Lisboa. Edições 70, 1969. Título original: The Africans. Na Entry to Cultural History. Todos direitos para a Língua Portuguesa reservados por Edições 70, Lisboa, Portugal. Tradução de Fernanda Maria Tomé da Silva.

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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10. 639.htm. Acesso em 31/01/2011. DIÁRIO OFICIAL. Decreto 4.887/03, que regulamenta titulação de terras

quilombolas. Disponível em: <http://www.midiaindependente.org/eo/red/2003/11/ 268702.shtml>. Acesso em: 30 de mai. 2010.

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48

MOURA, Clóvis. Os quilombos e a rebelião negra. 3ª ed., São Paulo, editora Brasillense, 1987. (Coleção tudo é história) OLIVEIRA, Nadir Nóbrega. AGÔ ALAFIJU, ODARA! A presença de Clyde Wesley

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OLIVEIRA, Nadir Nóbrega. Dança Afro: sincretismo de movimentos. Editora Santa Maria, Salvador: UFBA, 1991.

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TRIVIÑOS, Augusto Nivaldo Silva. Introdução à Pesquisa em Ciências Sociais: a pesquisa qualitativa em educação. 1ª ed. São Paulo, editora Atlas, 1928.

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APÊNDICE A

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO - CAMPUS II

CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu, Silvana Maria de Souza, estudante do curso de Licenciatura em Educação Física

da Universidade do Estado da Bahia- UNEB, Campus ll, estou em processo de construção

da minha monografia de conclusão de curso. O meu estudo será sobre a dança afro nos

quilombos de Alagoinhas: identificação da existência de uma herança cultural. Para tanto,

devo acompanhar e observar as atividades dos grupos de dança e realizar entrevistas com

os coordenadores dos mesmos, nos quilombos do Catuzinho e Buri em Alagoinhas.

Comprometo-me com o sigilo em relação aos nomes do(s) sujeito(s).

( ) Aceito participar da pesquisa.

( ) Não aceito participar da pesquisa.

_______________________________________

Assinatura do (a) participante da pesquisa

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APÊNDICE B

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO- CAMPUS II

CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

1. IDENTIFICAÇÃO DO ENTREVISTADO:

1.1. Nome?

1.2. Idade?

1.3. Formação?

1.4. Atuação?

2. ENVOLVIMENTO COM A DANÇA:

2.1. Como se deu seu envolvimento com dança?

2.2. Que tipo de dança é trabalhada na comunidade?

2.3. A quanto tempo você trabalha com a dança?

3. DESENVOLVIMENTO DA DANÇA NA COMUNIDADE:

3.1. Como surgiu o grupo?

3.2. Quem fundou?

3.3. Em quem vocês se inspiraram?

4. A RELAÇÃO DO TRADICIONAL E O CONTEMPORÂNEO:

4.1. Qual a diferença da dança de hoje com a de antigamente?

4.2. Vocês usam figurino? Ele é baseado no tradicional ou no contemporâneo?

4.3. O que mudou na dança de antigamente para os dias atuais?

4.4. O que prevalece ou prevaleceu no grupo que não pôde ser alterado?

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APÊNDICE C

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TABELA DE CATEGORIAS

CATEGORIA NÚCLEO DE SENTIDOS QUANTIDADE

Identificação do

Entrevistado

Formação Magistério

3

Envolvimento Com a

Dança

Desde a infância 3

Se trabalhada na comunidade o Samba de Roda 4

Contato com a dança entre 5 e 7 anos 3

Tem envolvimento com a religião 3

Desenvolvimento da

Dança na Comunidade

Como um resgate cultural 3

Fundação dos Grupos por todos da Comunidade 3

Inspiração vinda de descendentes e ancestrais 5

A Relação do

Tradicional e o

Contemporâneo

A dança se encontra mais solta e aberta, sem

censuras.

1

Figurino mais voltado pro contemporâneo 3

Mudou a maneira de vestir, a ginga e

instrumentos

3

A manutenção da cultura e do tradicionalismo

não pode ser alterados

5

Auxílio Governamental

Sem incentivo econômico financeiro

5

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ANEXOS

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