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A questão das evocações nas reuniões mediúnicas, método utilizado aos tempos de Allan Kardec, surge de vez em quando nos encontros que realizamos para estudo da mediunidade. É do conhecimento geral, que o Codificador usava esse processo nas sessões da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, sendo também adotada fora dali pelos grupos que se formaram à época. Também é sabido que as comunicações eram, em sua grande maioria, psicográficas. Julgam alguns que por ser este o método utilizado por Allan Kardec, deveria ser também o das reuniões mediúnicas da atualidade. Alegam outros que aguardar que os Espíritos se comuniquem espontaneamente é uma atitude passiva e alienante, e que significa subordinação. Vejamos como Kardec trata do assunto em O Livro dos Médiuns. Ela dedica um extenso capítulo às evocações, o de número 25. Inicialmente diz que as manifestações dos Espíritos podem ser de duas maneiras, pela evocação ou espontaneamente. Fala então das vantagens e desvantagens dos dois processos. Nas comunicações espontâneas, esclarece, não chamar a nenhum Espírito em particular “é abrir a porta a todos os que queiram entrar”. O contrário acontece quando se faz a chamada direta de determinado Espírito, pois que isto “constitui um laço entre ele e nós.” (it.269) Ressalta, em seguida, que as comunicações espontâneas não apresentam inconveniente algum e que dessa maneira “se podem obter coisas admiráveis.” Nos casos de evocação, prossegue, “surpreende, não raro, a prontidão com que um Espírito evocado se apresenta, mesmo da primeira vez. Dir- se-ia que estava prevenido.” E de fato, aduz, havendo a preocupação antecipada em evocar determinado Espírito, este

Das Evocações Dos Espíritos Nas Reuniões Mediúnicas

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A questo das evocaes nas reunies medinicas, mtodo utilizado aos tempos de Allan Kardec, surge de vez em quando nos encontros que realizamos para estudo da mediunidade.

do conhecimento geral, que o Codificador usava esse processo nas sesses da Sociedade Parisiense de Estudos Espritas, sendo tambm adotada fora dali pelos grupos que se formaram poca. Tambm sabido que as comunicaes eram, em sua grande maioria, psicogrficas.

Julgam alguns que por ser este o mtodo utilizado por Allan Kardec, deveria ser tambm o das reunies medinicas da atualidade. Alegam outros que aguardar que os Espritos se comuniquem espontaneamente uma atitude passiva e alienante, e que significa subordinao.

Vejamos como Kardec trata do assunto em O Livro dos Mdiuns.

Ela dedica um extenso captulo s evocaes, o de nmero 25. Inicialmente diz que as manifestaes dos Espritos podem ser de duas maneiras, pela evocao ou espontaneamente. Fala ento das vantagens e desvantagens dos dois processos.

Nas comunicaes espontneas, esclarece, no chamar a nenhum Esprito em particular abrir a porta a todos os que queiram entrar. O contrrio acontece quando se faz a chamada direta de determinado Esprito, pois que isto constitui um lao entre ele e ns. (it.269)

Ressalta, em seguida, que as comunicaes espontneas no apresentam inconveniente algum e que dessa maneira se podem obter coisas admirveis. Nos casos de evocao, prossegue, surpreende, no raro, a prontido com que um Esprito evocado se apresenta, mesmo da primeira vez. Dir-se-ia que estava prevenido. E de fato, aduz, havendo a preocupao antecipada em evocar determinado Esprito, este convocado pelo Esprito familiar do mdium, ou do interrogante, ou ainda um dos que costumam frequentar as reunies. (it. 271)

No item 272, h uma afirmativa muito interessante: Frequentemente as evocaes oferecem mais dificuldades aos mdiuns (grifei) do que os ditados espontneos, sobretudo quando se trata de obter respostas precisas a questes circunstanciadas. Para isto, so necessrios mdiuns especiais, ao mesmo tempo flexveis e positivos (grifos do original) e j em o n 193 vimos que estes ltimos so bastante raros, por isso que, conforme dissemos, relaes fludicas nem sempre se estabelecem instantaneamente com o primeiro Esprito que se apresente. O item 193 citado est no captulo referente aos mdiuns especiais e ressalta a importncia da afinizao fludica que deve existir entre o comunicante e o medianeiro. Esta afinizao uma das leis da comunicao esprita, conforme Lon Denis, em No Invisvel.

Diante da alegao de que a identificao do Esprito mais fcil quando ele vem espontaneamente declarando o seu nome, Kardec lembra que isto no significa autenticidade, porque qualquer Esprito pode-se fazer passar por outro. Nenhuma garantia h, a no ser a anlise do contedo da mensagem e da linguagem do comunicante. So estes os meios bsicos de controle.

A propsito da identidade dos Espritos, Kardec escreveu o cap. 24 onde relaciona nada mais nada menos que 54 itens sobre o assunto, que auxiliam os mdiuns e participantes em geral dos trabalhos medinicos no tocante identificao, qualquer que seja o gnero da reunio. Infelizmente bem poucos conhecem estes itens. Todavia, a anlise das comunicaes aconselhada pelos prprios Espritos, que, se so realmente superiores, nada tm a temer.

Voltando ao cap. 25, it. 283-a , o Codificador, tratando da evocao dos animais, interroga porque algumas pessoas ao evocarem animais obtiveram respostas, ao que os Espritos declararam: Evoca um rochedo e ele te responder. H sempre uma multido de Espritos prontos a tomar a palavra sob qualquer pretexto. Em seguida h uma nota de Kardec na qual ele conta o caso dos pintassilgos, que uma graa e vale a pena ser lido.

No cap. 17, Da formao dos mdiuns, Kardec recomenda ao aspirante a mdium que no adote a evocao direta de um Esprito (it. 203), explicando as dificuldades do processo e aconselhando um apelo geral.

Estamos, portanto, diante de duas opes, dois mtodos diversos.

Em Lon Denis, todavia, encontramos um tipo de reunio bastante aproximado da atual.. Na sua extraordinria obra literria encontram-se diversas citaes sobre as sesses das quais participava. Em No Invisvel, ele declara: No indispensvel fazer evocaes determinadas. Em nosso grupo raramente as praticvamos. Preferamos dirigir um apelo aos nossos guias e protetores habituais, deixando a qualquer Esprito a liberdade de se manifestar sob sua vigilncia. O mesmo acontece em grupos de nosso conhecimento.

Assim, como conciliarmos o mtodo das evocaes praticadas por Kardec e o que lemos em O Livro dos Mdiuns, j que a soma das argumentaes apresentadas pelo prprio Kardec parecem indicar que o melhor mtodo seria o das comunicaes espontneas?

Para responder a esta pergunta imprescindvel ressaltar a natureza da misso de Allan Kardec. Ele era o missionrio escolhido e convidado para a grandiosa tarefa da codificao da Doutrina dos Espritos. A sua posio singular; as condies que o cercavam nicas e especialssimas. O seu tempo, bem curto ante a grandeza da obra.

Toda uma falange de Espritos est a postos para assessor-lo nos dois planos da vida, sob a direo do Esprito de Verdade. Kardec conta tambm com elementos encarnados em postos-chave que viriam a contribuir para o xito da misso. Mdiuns, tambm escolhidos, o rodeavam, absolutamente maleveis, seguros, confiveis, adestrados para uma psicografia mecnica pura, de altssimo nvel, em grupos familiares e posteriormente na Sociedade Parisiense de Estudos Espritas. Alm disso, h que se levar em considerao o trabalho de pesquisa que deveria efetuar.

Pode-se observar parte dessa pesquisa nas 66 comunicaes inseridas na segunda parte de O Cu e o Inferno. As evocaes eram feitas a partir de notcias de falecimentos publicadas nos jornais, ou nomes trazidos pelos participantes do grupo, desde que julgassem serem oportunos e teis para os estudos e pesquisas. Feita a evocao a comunicao quase sempre era imediata. Kardec extraa da narrativa dos Espritos as teorias compatveis, sendo esta, alis, uma das caractersticas marcantes da Doutrina: a teoria baseada em fatos. Os acontecimentos indicando os fundamentos, os princpios norteadores.

Outros fatores contriburam para que se abandonasse a prtica da evocao. Um deles foi o receio de haver induo, sugestionamento ou animismo por parte do mdium, alm de que, este acabaria quase que na obrigao de desempenhar, nesse contexto todo, o papel que dele se esperava. At mesmo para agradar ao dirigente e ao grupo. Outro aspecto o do constrangimento e inibio que, geralmente, acompanha esse tipo de prtica, decorrentes da expectativa formada em torno do mdium.

Pode-se deduzir que a mudana do mtodo nas sesses medinicas seja, inclusive, por no ter o da evocao produzido, aps Kardec, os resultados esperados. Ou por no se conseguirem mdiuns em condies apropriadas. Ou as duas coisas simultneas.

Entretanto, mesmo o processo da evocao coloca os encarnados numa certa passividade, ou seja, espera de que os guias tragam o evocado ou que ele possa ou queira atender por si mesmo, ao chamado nominal.

Acresce ainda, que s pelo fato de se chamar determinado Esprito no quer dizer que ele vir; muitas dificuldades existem a serem vencidas. E se houver resposta isto no significa que seja o evocado. Entram a os mesmos fatores que ocorrem nas comunicaes espontneas, isto , a hiptese de mistificao, animismo, induo, etc. E no caso da evocao com um peso mais forte, pois exige-se, de imediato, a identificao. No outro processo isto acontece de modo bem mais natural e s vem ao final da comunicao, o que propicia ao mdium ir-se afinizando, cada vez mais, com o Esprito, durante o transcurso da mensagem e estar mais seguro quanto a sua identidade. conveniente mencionar, contudo, que em muitos casos o mdium identifica de pronto o comunicante, mesmo antes de iniciar a transmisso. Isto varia de mdium para mdium e depende tambm das circunstncias.

O essencial que, nesse atual mtodo adotado pelas reunies, no se deixe de lado a avaliao criteriosa das comunicaes, passando-as sempre pelo crivo da razo. Que cada um exera o seu direito pessoal e intransfervel de analisar, de extrair ilaes das mensagens.

A aceitao cega e mstica que tem prejudicado a evoluo dos trabalhos medinicos. O que, em ltima anlise, evidencia a falta de estudo da Doutrina. A no assimilao dos ensinamentos, ou a sua deturpao por no compreenso dos mesmos, por ranos religiosos, opinies pessoais, etc.

Exercer a mediunidade com amor no significa, em absoluto, desprezar o estudo, a avaliao meticulosa dos trabalhos, a investigao equilibrada e benfica. Nada impede que sejam atendidas as duas partes.

No sei quem estabeleceu em nosso meio a idia de que a mediunidade com Jesus, a caridade, o amor ao prximo so incompatveis com o estudo, a pesquisa, o aperfeioamento das atividades. Este modo de pensar no se coaduna, de modo algum, com o verdadeiro sentido da mensagem do Cristo. Ao contrrio, o que se v, atravs, especialmente, das contribuies medinicas que nos chegam por intermdio de Chico Xavier, Divaldo Franco e Yvonne Pereira o conselho constante, o apelo macio dos Benfeitores Espirituais conclamando os espritas ao estudo. E a mediunidade exercida com amor, alicerada nos ensinamentos de Jesus no abdica, em momento algum, dos critrios mais rgidos de controle e adestramento da faculdade.

Lon Denis legou-nos exemplos admirveis de reunies onde se cultivava o respeito profundo aos guias, onde a mediunidade era exercida com amor sem que houvesse prejuzo ao estudo e investigao.

Assim, a evocao teve a sua poca. Como tambm o dilogo com os Espritos atravs da psicografia. O retorno ao mtodo da evocao, inclusive, no dinamizaria as atividades medinicas e nem propiciaria o surgimento de mdiuns mais aptos e seguros. No caso destes exatamente o contrrio: o surgimento de mdiuns mais adestrados que possibilitaria (talvez) as condies para as evocaes.

recomendvel tambm a leitura do it. 330 de O Livro dos Mdiuns, que fala a respeito dos dos Espritos que acompanham os participantes das reunies. muito interessante.

E Kardec conclui: Perfeita seria a reunio em que todos os assistentes, possudos de igual amor ao bem, consigo s trouxessem bons Espritos. Em falta da perfeio, a melhor ser aquela em que o bem suplante o mal. Muito lgica esta proposio, para que precisemos insistir.