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[REVISTA CONTEMPORÂNEA ] Ano 5, n° 8 | 2015, vol.2 ISSN [2236-‐4846]
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Das três opções, nenhuma: os “novos bandeirantes” contra a
“democracia Liberal”, o “comunismo desagregador” e o
“integralismo internacionalista”
George Leonardo Seabra Coelho*
O objetivo deste artigo é realizar uma reflexão histórica sobre os meios
simbólicos que o Movimento Bandeira utilizou para se colocar como a única
ideologia capaz de combater a Ação Integralista Brasileira (AIB), o Partido
Comunista Brasileiro (PCB) e a Democracia Liberal na década de 1930. Como
podemos observar ao longo deste texto, a leitura das diretrizes do ideário bandeirista1
nos oferece uma dupla observação: a apropriação política de enunciados literários
encontrados no poema Martim Cererê (1927) escrito por Cassiano Ricardo e, ao
mesmo tempo, os caminhos pelo quais esses enunciados literários se codificaram em
um projeto político nacional na década de 1930.
Apesar da escassa produção historiográfica preocupada em estudar o
Movimento Bandeira, sabemos que esse grupo foi organizado entre 1935 e 1937 por
dois dos principais poetas verde-amarelos: Menotti del Picchia (1892-1988) e
Cassiano Ricardo (1895-1974). Também constatamos que o principal meio de
divulgação dos ideais do grupo foi o jornal Anhanguera2, periódico pelo qual,
* Doutor em História pela Universidade Federal de Goiás e Professor Efetivo do curso de Licenciatura em Educação do Campo da Universidade Federal do Tocantins-Arraias. 1 Os simpatizantes do Movimento Bandeira são denominados por nós como “novos bandeirantes” ou bandeiristas. O termo bandeirista pode ser confundido com intelectuais que estudam as expedições que adentraram o interior da colônia portuguesa no século XVII, mas quando esse termo aparecer ele tem o mesmo valor de “novos bandeirantes”, ou seja, ele fará referência aos integrantes do Movimento Bandeira. 2 Esse diário foi dirigido por Cassiano Ricardo, Menotti del Picchia e Candido Motta Filho (1897-1997) e contava com a colaboração de Osmar Pimentel (1912-1969) como redator principal, Guilherme Figueiredo (1891-1997) como crítico literário e Belmonte (1891-1997) como ilustrador. Nele, eram
2
podemos encontrar apropriações políticas de vários enunciados literários verde-
amarelos. Além de destacar os fundadores do movimento e o principal meio de
divulgação do ideário, outras questões são relevantes para entender o campo de ação
política dos bandeiristas na década de 1930.
No que toca a contextualização do Movimento Bandeira, é importante ter em
mente que esse ideário foi formulado após as agitações políticas decorrentes da vitória
da Aliança Liberal contra a oligarquia paulista e a vitória das tropas federais contra a
Revolta Constitucionalista. As derrotas de 1930 e 1932 não representaram a ruína dos
valores simbólicos, políticos e econômicos de São Paulo, haja vista, que a
participação de políticos paulistas na Constituição de 34 assinala uma espécie de
reincorporação no cenário nacional (GOMES, 1980). Além da preocupação com a
reincorporação dos políticos paulistas no cenário nacional, outras questões esclarecem
o ambiente político no qual o ideário do Movimento Bandeira se constituiu. Os anos
entre 1930 e 1937 são definidos por Sônia R. de Mendonça (1990) como um período
de “crise política aberta”, e como nenhum grupo político tornou-se hegemônico, o
governo teve a possibilidade de atuar com relativa margem de autonomia face aos
interesses em disputa. Mesmo com a relativa autonomia do Governo Federal, vários
acontecimentos – Revolução de 32, Constituição de 34 e Intentona Comunista – e
movimento políticos – Integralismo, Comunismo e pressões dos liberais – foram
postos na arena de disputa política. Além dos já conhecidos grupos políticos, o
Movimento Bandeira também se lança na disputa em meados da década de 1930.
Outro caminho para compreender a organização do Movimento Bandeira é
entendê-lo como herdeiro político do ideário estético do verde-amarelismo. Para
tanto, torna-se necessário entender o poema M. C. como um documento histórico que
reflete os interesses deste grupo. Sabemos que esse poema narra a origem mítica da
Nação por meio da alegoria que representa o povo e a Pátria como “criança travessa”.
divulgadas as ações do grupo, as listas e comentários de colaboradores, a opinião sobre Getúlio Vargas, a defesa da candidatura de Armando de Salles à Presidência e o papel das Forças Armadas para a defesa da democracia brasileira e, principalmente, a oposição ao Comunismo, ao Integralismo e à Democracia Liberal. O jornal circulou diariamente entre 26 de junho de 1937 até 14 de setembro de 1937. Os redatores do jornal informam que o periódico era distribuído nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Santa Catarina e Rio de Janeiro. Infelizmente não encontramos o número de tiragem exata do periódico, apesar disso, a coleção completa desse diário foi localizada na Fundação Cultural Cassiano Ricardo em São José dos Campos-SP.
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O escoteiro disciplinado seria o contraponto desta alegoria, visto que, ao se referir ao
povo-criança, surge a necessidade de disciplinar e orientar algo que cresce. Entre as
várias modificações encontradas nas versões desse poema3, a exclusão da epígrafe4 de
Plínio Salgado na versão de 1934 merece nossa atenção, pois representa os conflitos
políticos em que Cassiano Ricardo estava envolvido. A partir desta constatação,
propomos duas questões: a) A inserção da epígrafe anunciaria que Plínio Salgado e
Cassiano Ricardo haviam lançado as bases de movimentos políticos pela defesa da
doutrinação do povo e do “Estado Forte”? b) Quanto à sua exclusão, ela
corresponderia ao rompimento político entre os escritores e as divergências entre a
AIB e o Movimento Bandeira?
Para que possamos esclarecer esses questionamentos, devemos nos ater para a
formação do campo intelectual brasileiro no início do século XX e os debates sobre o
problema do nacionalismo. Segundo Lúcia Lippi de Oliveira (1980, p. 40), essa
geração da elite intelectual estava preocupada em ordenar o mundo no “plano das
ideias” e definir o seu papel no processo de ação política através da criação da
“grande elite”. Essa nova elite seria composta por homens de cultura e ciência
capazes de exercer o domínio político “natural” sobre a “massa”, pois estavam cientes
do pressuposto de civilizar pelo alto. Frente a ação política dos literatos verde-
amarelos, Helaine Nolasco Queiroz (2010) nega as interpretações que apontam as
vertentes modernistas como antecâmara da atuação política na década de 1930. A
autora não discorda da semelhança entre as propostas literárias e políticas, mas, ao
3 O M. C. é um poema formado por materiais díspares que pretendeu abranger o país inteiro por meio da narrativa mítica da origem da Nação. Uma das peculiaridades da obra são as alterações que o poeta empreendeu no texto, ou seja, ao ler as edições, percebemos várias modificações na escrita. Cassiano Ricardo alterou não somente a escrita dos textos, mas também o número de poemas das versões 1927 (57 poemas), 1928 (42 poemas), 1929 (47 poemas), 1932 (51 poemas), 1934 (55 poemas) e 1936 (60 poemas). 4 A epígrafe: “Se ele foi o curumim das tabas, o moleque das senzalas, deve ser também o italianinho de nossas fazendas de café e o escoteiro de nossas escolas. É a criança travessa. E, como criança, é a própria imagem da Pátria”.
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estudar o verde-amarelismo se trata de estudar um grupo em atuação na década de
1920 e não como anunciação dos movimentos políticos trintistas. Apesar dessa
ressalva, concordamos com El Dine (2010) ao destacar que entre a tríade verde-
amarela era evidente o desencontro de ideias, cujo desdobramento foi a dissolução do
grupo literário em grupos políticos: o Integralismo, de Plínio Salgado, e o Movimento
Bandeira, de Menotti Del Picchia e Cassiano Ricardo.
No que se refere a polêmica entre os movimentos políticos oriundos do verde-
amarelismo – AIB e Movimento Bandeira –, Ana Lúcia F. Guelfi (1987) considera
que ambos se colocam como defensores da unidade, da felicidade da Pátria e contra a
influência estrangeiras. A autora considera que o Movimento Bandeira erigia-se como
terceira opção entre o Comunismo e o Integralismo, oferecendo um modelo de
Fascismo “mais ajustado” à condição brasileira. O próprio Cassiano Ricardo (1937, p.
111) também recorre à ideia de terceira via em seu ensaio, pois, segundo o ensaísta,
os bandeiristas “não apelava[m] para os dois extremos violentos” – Comunismo e
Fascismo – nem “martelava[m] teorias gastas em defesa de um Liberalismo já
obsoleto”. Nesse ponto, discordamos dessas proposições, pois o Movimento Bandeira
não se colocava simplesmente como terceira via, mas como uma quarta via frente ao
Comunismo, Integralismo e à Democracia Liberal. Essa reflexão é fundamental em
nosso argumento, visto que demonstramos neste artigo, como as personalidades
envolvidas com o Movimento Bandeira se colocavam como “novidade original”
frente às disputas políticas na década de 1930.
Independentemente de tratar ou não o verde-amarelismo como germe de
movimentos políticos, acreditamos que existe uma relação clara entre o campo
literário e o campo político na reescrita do poema M. C. Para reforçar nossa hipótese,
seguimos a sugestão de Nicolau Sevcenko (2003, p. 341). De acordo com o autor,
para atingir um plano mais abrangente sobre as interações dos intelectuais no campo
artístico e político, torna-se “necessário retomar as análises de conteúdos das obras e
o estudo das formas de inserção social dos autores”. Para chegar ao entendimento
proposto por Sevcenko, vale lembrar que os literatos republicanos, mesmo permeados
pelos anseios de entrar em contato com a realidade brasileira, afirmavam o divórcio
entre o “plano das ideias” e a “realidade”. Para muitos historiadores, os textos
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produzidos por esses intelectuais vinham cerceados, imediatamente, pelo contexto em
que foram produzidos, sendo “explicado” quase que exclusivamente por ele.
Acreditamos que o historiador não pode se render a essa posição, visto que, não existe
uma separação formal entre o “plano das ideias” e a “realidade”, assim como, a obra
literária não se resume ao momento de sua produção.
LaCapra (1983) oferece uma chave para romper com esse entendimento, o
autor afirmar que o historiador deve ler e interpretar os textos e formular problemas
desses textos, considerando diversos contextos. Para o autor, a oposição do que está
dentro dos textos e o que está fora deve ser encontrada pela interação entre a
linguagem e o mundo, ou seja, a intertextualidade. Considera, ainda, que os processos
textuais não se confinam nos limites dos escritos, pois a realidade é textualizada de
diversas maneiras, ou seja, deve-se pensar o “plano das ideias” (mundo aéreo) e a
“realidade” (ação prática, política) por meio da relação do texto com outros meios
simbólicos e contextuais. A partir da noção da inserção social dos autores proposta
por Sevcenko e a intertextualidade proposta por LaCapra, realizamos a leitura do
poema M. C. e do jornal Anhanguera tendo em vista as interfaces com os diversos
contextos políticos da década de 1930.
Por fim, o estudo do jornal Anhanguera e suas charges editoriais, assim como,
a leitura do poema M. C. são fundamentais neste estudo, pois demonstram a
apropriação simbólica do “mito bandeirante” (CHARTIER, 1990) e a
intertextualidade entre a literatura e a política (LACAPRA, 1998). Através desse
aparato conceitual – apropriação e intertextualidade – delineamos as trocas simbólicas
entre diversos campos (BOURDIEU, 1999) que subsidiaram o ideário dos “novos
bandeirantes”. Consideramos de antemão, que essa arquitetura discursiva –
encontrada na imprensa e na literatura – é fundamental para que o historiador
compreenda como o “pensamento bandeirante” foi posto como expressão da mística
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paulista, mística esta, que seria a única capaz de exaltar a “raça brasileira” e delinear
os destinos do Brasil contra as “ideologias forasteiras”.
A partir desses apontamentos, reforçamos que o objetivo deste artigo é abordar
alguns pontos de encontro entre posições literárias e políticas, encontros esses, que
sustentaram a denúncia bandeirista dos males que a Democracia Liberal, o PCB e
AIB poderiam trazer para a sociedade brasileira na década de 1930. Nesse sentido,
abordamos como a propaganda bandeirista combatia as “três opções” – Democracia
Liberal, PCB e AIB – através da denúncia das ações militares da Alemanha nazista,
da Itália fascista e da Rússia comunista na Península Ibérica e suas infiltrações nas
Forças Armadas brasileiras, assim como, denunciava a impossibilidade da
Democracia Liberal de barrar o avanço dos totalitarismos na Europa e no Brasil. As
abordagens encontradas neste artigo são relevantes para a historiografia, pois elas
procuram demonstrar como parte da imprensa brasileira informava os leitores sobre
os regimes totalitários na Europa pré-2ª Guerra Mundial e suas ramificações na
sociedade brasileira.
O rompimento político ideológico entre os verde-amarelos
No que se refere às posições literárias e políticas verde-amarelas, a coletânea
O Curupira e o Carão publicada em 1927 é um bom exemplo para entendermos os
pressupostos estéticos de Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo e Plínio Salgado. Por
meio dessa coletânea, a tríade verde-amarela afirmava que alguns desacordos não
deveriam refletir na constituição do grupo, uma vez que o importante era criar um
pensamento, uma arte e uma política genuinamente brasileira. Segundo esses
escritores, o verde-amarelismo estava pautado na liberdade de cada um procurar o
Brasil como quisesse.
Pouco mais de três meses após a publicação dessa coletânea, Plínio Salgado
escreve um artigo para o Correio Paulistano intitulado “Matemos o verde-
amarelismo”. Esse artigo é, na verdade, uma resposta do futuro líder integralista a
uma carta de Menotti del Picchia na qual afirma que a missão verde-amarela havia
sido cumprida. Plínio não nega que o grupo havia oferecido um “novo sentido de
nacionalidade” e a “independência mental”, mas “de tempos para cá, ‘o verde-
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amarelismo’ nos está fazendo mal”, e por isso, não “podemos mais caminhar juntos”
(CORREIO PAULISTANO, 1927, 8 de dezembro, ano 72, n. 23.108, p. 3). Para a
solução do impasse, Plínio afirma que dissolveu o verde-amarelismo e inventou a
Escola da Anta para a “integralização do nosso pensamento [...] num só corpo”
(Idem). O futuro líder integralista defende que para a construção de “uma filosofia
genuinamente brasileira” é necessário consolidar a unidade de pensamento. O notável
é que Plínio pretende promover a unidade artística e intelectual dos escritores
brasileiros por meio do rompimento verde-amarelo, visto que esta estética não mais
supre os interesses literários e políticos de Plínio Salgado.
Cassiano Ricardo (1970) lembra em seu livro de memórias que; com o “fim da
missão verde-amarela”, Plínio Salgado anunciou a autodissolução do grupo. Em lugar
do verde-amarelismo, o memorialista lembra que surgiu a Escola da Anta com os
mesmos componentes do grupo anterior. Adotando os relatos memorialistas como
fonte histórica, não podemos esquecer as considerações feitas por Noé Freire Sandes
(2009), para este historiador o relato autobiográfico ou memorialista deve ser posto
sob alguma forma de controle em virtude da marca da subjetividade que caracteriza a
construção da “verdade” encontrada nessa modalidade de escrita. Nas memórias de
Cassiano Ricardo encontramos essa marca, visto que, o poeta expõe sua versão
verdadeira sobre a dissolução do grupo. Em sua escrita memorialista, Cassiano
Ricardo afirma que a diferença entre o verde-amarelismo e a Escola da Anta, é que
este último era inspirado pelas obras de Alberto Torres (1865-1917), Barbosa
Rodrigues (1842-1909), Couto de Magalhães (1837-1898), Roquete-Pinto (1884-
1954) e Alarico Silveira (1878-1943). Sempre afirmando a sua versão como
verdadeira, Cassiano Ricardo destaca que a discussão se iniciou de forma amistosa,
mas com o tempo se tornou “renitente por parte de ambos os lados”, pois surgiu “no
próprio grupo um bate-boca: Plínio achava que o leite da nossa civilização havia
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bebido na Anta; Menotti queria que o leite fosse da loba latina” (RICARDO, 1970, p.
40).
Além da cisão dos verde-amarelos exposta por Cassiano Ricardo em suas
memórias, outros motivos explicam seu rompimento com Plínio Salgado, entre eles os
desdobramentos da viagem que Plínio fez à Europa em 1930. Rogério L. Victor
(2012) informa que Plínio foi recebido, na Itália, por Benito Mussolini (1880-1945) e,
pouco depois, escreveu para o jornal O Paiz sobre sua impressão. Segundo esse
historiador, Plínio relatava como a visão in loco da Itália e o encontro com Mussolini
estimulou-o a atuar politicamente. De acordo com o autor, o futuro líder integralista
escreveu uma carta a Manuel Pinto da Silva dizendo que o encontro significara para
ele o momento de dar início a movimento semelhante no Brasil. Como resultado,
Plínio Salgado publicou o Manifesto de Outubro e fundou a AIB em 1932.
Retornando à escrita memorialista de Cassiano Ricardo (1970, p. 114), o poeta
defende que ele e Plínio Salgado “deveriam se entender” sobre o Integralismo. Com o
intuito de solucionar esse impasse, Cassiano Ricardo convidou Plínio para dialogar
sobre “o partido que ele iria fundar”, nesta conversa, o memorialista havia lembrado
ao amigo que, se eles haviam combatido os “ismos” literários de importação na
década de 1920, então “por que [deveriam] importar” um “outro ‘ismo’ mais grave
porque político-ideológico”. Na ocasião, o poeta defendeu a opinião de que o grupo
deveria se chamar Bandeirismo ou “qualquer outro ‘ismo’ histórico” brasileiro.
Imbuído da subjetividade e veracidade pertencente a escrita memorialista, Cassiano
Ricardo afirma que Plínio prometeu “estudar melhor o problema”, mas dias depois, o
poeta viu um “grupo integralista em formação paramilitar, com seus ‘anauês’ e sinais
do sigma”. Esses relatos memorialistas expõem o ressentimento de Cassiano Ricardo
frente a recusa de Plínio Salgado em rever seu interesse em fundar o Integralismo sob
signos contrários a estética defendida pelo poeta.
Anos posteriores a fundação da AIB, Cassiano Ricardo expõe sua não adesão
ao Integralismo em seu ensaio O Brasil no original (1937, p. 136) – livro propaganda
do Movimento Bandeira – o ensaísta afirma que não sabe
por que cargas d’água o encarregado de redigir esse […] documento revolucionário de 32 foi Plínio Salgado. Só sei que convidado a
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escrevê-lo, o atual chefe do Integralismo cometeu a maior perfídia que um homem de inteligência poderia cometer: deu feição política às ideias literárias que o “Correio” […] vinha publicando desde 1922.
Menotti del Picchia (1972, p. 223) também lembra em suas memórias o
ressentimento próximo ao de Cassiano Ricardo. Menotti afirma em seu livro de
memórias que ele e Plínio eram descrentes do “liberalismo utópico”, mas Plínio “já
pendia para a direita e [ele] para o ideal trabalhista”. Picchia lembra que Plínio
tornou-se o “chefe carismático que empolgou grande parte da nossa mocidade” e, por
não concordar com sua orientação, ele juntamente com Candido Motta Filho,
Cassiano Ricardo, Alfredo Ellis Jr. (1896-1974) e outros, separaram-se do líder
integralista e organizaram o movimento da “Bandeira”. Na leitura das memórias dos
dois líderes bandeiristas vemos uma escrita ressentida quanto ao rompimento com
Plínio Salgado, e acima de tudo, os dois memorialistas expõem a versão verdadeira
típica da escrita autobiográfica referente a esse mesmo rompimento: a adoção por
parte do Integralismo das influências estrangeiras.
Além de estarem presentes no ensaio publicado em 1937 e nas memórias
desses escritores, os conflitos ideológicos entre eles também podem ser percebidos no
poema M. C. No que se refere à defesa da nacionalidade contra as influências
estrangeiras, um poema inserido na edição de 1932, o eu-poético expressa o repúdio
ao “figurino que chegou” da Europa. O eu poético narra a história da “italianinha” de
“vestido verde” e “chita amarela”, que de “tão brasileira que cheguei a supor [...] que
ela fez seu vestido e seu lenço/de uma bandeira nacional” (RICARDO, 1932, p. 124).
Conforme a concepção racial do poema, a imigração italiana participaria da formação
da “raça cósmica”5, mesmo com essa crítica, o poeta não nega a contribuição do
5 Ao lermos o Manifesto “Nhengaçu Verde Amarelo” assinado por Cassiano Ricardo, Menotti del Picchia e Plínio Salgado, esses escritores se colocam claramente simpáticos as teses da “Raça cósmica”
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italiano na composição da raça, na verdade, o poeta critica os movimentos políticos e
literários influenciados pelas experiências italianas. A tentativa de enganar a
brasilidade ao utilizar as cores nacionais é que está sendo denunciada através da
associação entre Futurismo, Fascismo e Integralismo como males para a Nação. No
poema “Crime de hoje” o poeta retoma a crítica à referência italiana:
O pequenino vendedor de jornais é um pícolo demônio pintado pela alegria de algum pintor futurista com duas pinceladas de sol no rosto e outras duas pinceladas de céu nos olhos (RICARDO, 1936, p. 189).
A inserção do “italianinho” como um “demônio” com “pinceladas de céu nos
olhos” pode ser compreendida como uma alusão direta ao movimento político de
Plínio Salgado. Para justificar nossa afirmação, temos que estar atentos para o fato de
que no pensamento político de Cassiano Ricardo, as expressões literárias e políticas
italianas são reflexos de “divagações inúteis”. Como forma de demonstrar essa
posição, Cassiano Ricardo (1937) afirma no ensaio O Brasil no Original que ontem
“eram os ‘ismos’ literários. Hoje estão aí os ‘ismos’ políticos” que se transformam em
uma “infecção social”. Repetindo os erros das elites da década de 1920, os “novos
bandeirantes”, através de seus suportes publicitários – dentre eles a revista S. Paulo6 –
, acusam as elites da década de 1930 de buscar o Brasil nas “receitas europeias” e
copiar “ismos” como “figurinos” próprios de “países gastos e decrépitos” (S. PAULO,
1936, ano 1, n. 6).
de José Vasconcelos, visto que eles exaltavam a tese de que na América se formaria uma raça superior através da miscigenação. 6 A revista S. Paulo circulou em 1936 sob a direção de Cassiano Ricardo, Menotti del Picchia e Levém Vanpre. A periodicidade da revista foi mensal até o oitavo número, passando a ser bimestral nos dois últimos. O mensário foi impresso pela Grafficars, gráfica de Romiti e Lanzara, com fotografias de Theodor Pressing (1883-1962) e Benedito Junqueira Duarte (1910-1995), o Vamp, e contava com a colaboração de Lívio Abramo (1903-1992) como responsável pela produção gráfica. Esse mensário tinha duas funções básicas: divulgar o governo de Armando de Salles e difundir o ideário do Movimento Bandeira. A leitura dessa revista é de suma importância para podermos perceber como ocorreu a interação entre várias formas de textualidade – o poema, o discurso publicitário e as imagens – e as interações entre o campo artístico e o campo político.
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Ao reinterpretar os “combates literários” da década de 1920 e criar a memória
histórica a respeito da Semana de 22, Cassiano Ricardo lembra no ensaio citado que a
vanguarda revolucionária se dividiu em duas alas: o grupo antropofágico e o grupo
verde-amarelo. Na continuidade da construção dessa memória, Cassiano Ricardo
(1970, p. 161) fortalece a relação entre a literatura e política7 ao afirma que o
movimento antropofágico, feito de um roussoniano retorno ao primitivismo [...] ou Comunismo de tribo, devia-se fatalmente colorir-se de esquerdismo bolchevista. O movimento “verdeamarelo”, vivamente nacionalista, disciplinador, era uma firme e ousada marcha para a direita e, com Plínio, devia integrar-se numa forma fascista e, com Menotti e Candido Motta Filho, no original nacionalismo da “Bandeira”.
Em campanha aberta contra a AIB, o líder bandeirista defende que
inicialmente o movimento modernista foi dividido em dois grupos, os quais poderiam
explicar “a superfetação da esquerda e da direita” (RICARDO, 1937, p. 221).
Seguindo a análise feita pelo líder bandeirista, do verde-amarelismo surgiram dois
grupos políticos: o Integralista e o Bandeirismo. Embora tendo origem no mesmo
movimento literário, Cassiano Ricardo (1937, p. 333) afirma que as diferenças são
radicais: a oposição ao “caráter internacionalista” da AIB, pois a “Bandeira” é
nacionalista; a AIB é “contra a liberdade individual” e a Bandeira é “pela valorização
do indivíduo como ser social”; a AIB é contrária à “autonomia dos Estados” e a
“Bandeira é federalista”; a AIB é pelo racismo, já a Bandeira é pela valorização das
contribuições de cada raça; e a AIB é “um partido político” enquanto a Bandeira é um
movimento cultural. De acordo com o líder bandeirista, existe, ainda, mais uma
7 Com o intuito de afirmar que revoluções políticas nascem de programas literários, Cassiano Ricardo (1937, p. 162) utiliza como exemplo o caso italiano. O Futurismo, de acordo com o ensaísta, foi um movimento romântico de libertação; por essa razão, o Fascismo “nada mais [era] do que o movimento de ideias” criado por “escritores da modernidade italiana”, fato visto que Mussolini assinou o manifesto futurista.
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ressalva na comparação entre o “chefe da Bandeira” e “o chefe fascista”; o primeiro
“dispensa o copiado figurino romano”. Por essas razões, o principal teórico do
Movimento Bandeira afirmava que tal “Fascismo redundar[ia] num artifício, numa
caricatura. Ser[ia] uma imitação desajustada e grosseira” (RICARDO, 1937, p. 234).
Por essas razões, Cassiano Ricardo (1937, p. 223) advertia que os brasileiros devem
refletir
nos erros do Integralismo, nas funestas consequências que ele acarretará para a unidade do país se não mudar de programa, se não recuar no seu propósito centralista, do seu sentido anti-individualista e anti-americano, do seu racismo anti-cristão e anti-brasileiro […] Não fossem esses erros e eu estaria com o Integralismo, contra a democracia “liberal”.
Mesmo com as semelhanças expostas por Cassiano Ricardo, vemos que o
poeta atesta o distanciamento entre as duas propostas, principalmente no que se refere
ao fortalecimento dos aspectos políticos nacionais do Movimento Bandeira frente ao
internacionalismo da AIB. Algumas modificações nas versões trintistas do poema M.
C. reforçam essa posição de Cassiano Ricardo em articulação com o Movimento
Bandeira. O poema “André de Leão e o demônio de cabelo encarnado” é um desses
exemplos. Esse texto inserido na versão de 1934 conta a história do quinto
bandeirante que “fincou o pé no mataréu medonho/(onde o Brasil não passava de um
sonho)” (RICARDO, 1934, p. 76). Perdido em seu caminho, o quinto bandeirante se
depara com “dois demônios” que pretende atrapalhar o seu destino. O poeta descreve
essa contenda e mostra que o bandeirante se vê
assaltado por dois formidáveis mistérios: como quem vai por um caminho sofrendo, e acalentando os seus sonhos mais belos quando de sopetão se vê agarrado por dois fantasmas de olhos amarelos, terrivelmente iguais (rosto de um, rosto de outro) que o querem conduzir de qualquer jeito, cada qual para o seu lado, um pelo braço esquerdo, outro pelo direito. – Sou o caminho que você procura!
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– Venha por mim, sou o caminho do eldorado! (RICARDO, 1936, p. 95-96).
Nas linhas transcritas – “agarrado por dois fantasmas […] terrivelmente
iguais” e “querem o conduzir [...] pelo braço esquerdo, outro pelo direito” –,
observamos a inclusão de tensões políticas no M. C., tensões estas que remetem a
questões fundamentais do ideário bandeirista: o combate ao Comunismo e ao
Integralismo. Ao final do ensaio O Brasil no original (1937, p. 289), Cassiano
Ricardo transcreve esse poema a fim de afirmar que o país estava “de novo, na
encruzilhada de um grande destino”. De acordo com a interpretação do líder
bandeirista, ontem “eram as forças bárbaras que cercavam o herói de botas”, hoje “são
as ideias malignas da própria civilização”, isto é, os “dois espantalhos misteriosos que
nos assaltam, um pela esquerda e outro pela direita” (RICARDO, 1937, p. 289).
Nessa “encruzilhada”, os “novos bandeirantes” deveriam impedir que o Brasil fosse
“para o despenhadeiro da esquerda” e que, muito menos, fosse conduzido “pela
violência e pela técnica” do “caminho errado da direita” (RICARDO, 1937, p. 290). A
partir desses fragmentos retirados do texto poético, podemos reiterar nossa afirmação
exposta linhas acima, ou seja, a existência de uma relação clara entre o campo
literário e político na reescrita do poema M. C., relação esta que ganhará maior fôlego
a partir da leitura do jornal Anhanguera.
Nessa procura pelo destino, o bandeirante perdido descrito no texto poético
encontra o curupira que lhe dita o caminho correto: vá “por aqui, direitinho [...] e você
encontrará o que procura!” (RICARDO, 1936, p. 98). Ao utilizar a alegoria de um
herói perdido, o poeta ressignifica a aventura do bandeirante mítico para representar
os dilemas políticos da década de 1930. Nessa aventura, a solução não é seguir o
caminho da esquerda ou o da direita, mas o caminho do centro. Segundo Cassiano
Ricardo, ir pelo centro seria a receita para que o fantasma da esquerda e da direita
14
fosse “exorcizado”. Na revista S. Paulo (1936), os redatores apropriaram-se dos
mesmos recursos poéticos para combater as “duas pragas” políticas:
Hoje, como quando o sertão era um jogo livre de forças descêntricas […] o mundo apresenta o mesmo espetáculo alarmante e agressivo. Retornar ao espírito das “bandeiras” é a única forma de recompor, dentro da disciplina e da força do comando, as energias que se anulam, se combatem e se dispersam. Não é preciso procurar fora de nossa Pátria, no exotismo de fórmulas políticas de enxerto a estrutura espiritual de nosso grupo humano, uma vez que nossa própria história contém o esquema seguro e instintivo das normas sociais que criaram uma nacionalidade (S. PAULO, 1936, ano 1, n. 1).
Conforme expresso nesse fragmento, retornar ao “espírito da bandeira” – mito
trasposto do “tempo mítico” para o “tempo profano” – constituiria a única forma de
“recompor, dentro da disciplina e da força de comando”, a dispersão da Pátria.
Segundo os bandeiristas, tal dispersão – provocada pelas “fórmulas políticas externas”
– devia ser combatida pelo “esquema seguro” que se encontrava em nossa própria
História. Segundo o corpo editorial desta revista, o Movimento Bandeira é o único
grupo que visa “uniformizar o pensamento” e dar-lhe um “objetivo útil e uma função
social” (Idem). O leitor deve estar atento para a forma como esse intelectual articula o
texto poético, ensaístico, publicitário e autobiográfico com o intuito de construir um
projeto de Nação capaz de combater as posições políticas existentes na década de
1930. Tal projeto estaria pautado no nacionalismo e na exaltação dos bandeirantes
como heróis histórico-míticos para combater os fantasmas da direita e da esquerda.
Esses foram os principais enunciados utilizados pelos bandeiristas para
demonstrar a função política do “mito bandeirante”, ideário este, que podemos
encontrar vários indícios da influência do pensamento autoritário. Segundo Boris
Fausto (2000), entre a 1ª Guerra Mundial e a crise econômica de 1929, os
movimentos e as ideias totalitárias e autoritárias começaram a ganhar força
proporcionalmente ao desprestígio da Democracia Liberal. Frente ao crescimento da
AIB e o “medo comunista”, Maria H. Capelato (1998) também percebe que os
defensores do Liberalismo não conseguiam compor um ideário homogêneo. Frente a
conjuntura exposta pelos dois historiadores citados, outra contribuição deste artigo é
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demonstrar os meios pelos quais o Movimento Bandeira se colocou como a única
ideologia que poderia combater a influência do totalitarismo europeu e suas
ramificações no território nacional, assim como, superar a fragilidade da Democracia
Liberal. Para combater esses males, os “novos bandeirantes” recuperaram o mito da
hierarquia racial e social pertencente às versões das bandeiras históricas elaboradas
por escritores paulistas.
Como o ano de 1938 seria a primeira vez em que a sociedade brasileira
passaria pela experiência eleitoral sob o Sufrágio Eleitoral estipulado pela Lei
Eleitoral de 1932, vemos – por meio da leitura do jornal Anhanguera – que a
campanha eleitoral empreendida pelos “novos bandeirantes” no ano de 1937 oferece
um indicador da opinião pública. Mesmo que a eleição para a presidência em 1938
não ocorreu no caso brasileiro, consideramos que a campanha eleitoral através do
jornal Anhanguera pode ser vista como a “entrada em operação de estratégias, [da]
interação entre os cálculos dos políticos e [dos] movimentos de opinião”
(RÉMOND,1996, p. 49). Em uma sociedade que dá prioridade à escrita, o interesse
pelas informações divulgadas pelos jornais oferece ao historiador um ponto de vista
capaz de promover a compreensão das experiências de indivíduos e grupos. Para a
leitura do jornal Anhanguera, adotamos as considerações de Ciro M. Filho (1989) e
Tania R. de Luca (2008). Para esses autores, a busca de visões difundidas pelos
jornais se torna importante, pois a imprensa é um campo de batalha, onde indivíduos e
grupos afirmam publicamente suas opiniões. Seguindo essa perspectiva, a imprensa
procura preservar certa impessoalidade capaz de afirmar seu poder e soberania através
da construção da “verdade”, da reprodução parcial da realidade, da passividade, da
acomodação e da apatia nos receptores.
E é a partir dessas posições que o jornal Anhanguera nos oferece o panorama
de um espaço privilegiado de articulação e difusão de leituras sobre o país e os
caminhos que ele deveria tomar. Veremos no tópico abaixo como os “novos
16
bandeirantes”, através desse diário, denunciaram as ações militares da Alemanha, da
Itália e da Rússia, a inoperância da Democracia Liberal, os perigos dessas infiltrações
na sociedade brasileira e a recepção do ideário bandeirista entre as esferas militares.
Os “novos bandeirantes” contra o “Comunismo desagregador, o “Integralismo internacionalista” e a “Democracia Liberal”
Como visto, um dos pontos fundamentais do ideário dos “novos bandeirantes”
era o distanciamento das “pragas políticas”. Num primeiro momento, apresentamos a
crítica ao Comunismo, para depois demonstrar a posição em relação ao Integralismo,
em meio a essas explanações, tratamos da crítica contra a Democracia Liberal.
Optamos por essa ordem, pois, para os “novos bandeirantes”, só havia Integralismo
em razão do fato de que o Comunismo persistia; sendo assim, com a aniquilação do
Comunismo, o Integralismo não teria razão de existir. Veremos que a organização da
campanha dos bandeiristas contra as “ideologias forasteiras” era organizada através
de uma espécie de uma didática doutrinária, onde o receptor é extremamente passivo.
Os redatores anhangueras perguntavam: a “Bandeira é Comunista?”. A
resposta é categórica: “Não […] porque é pela Pátria, pela religião e pela família”
(ANHANGUERA, 1937, 29 de junho, ano 1, n. 3, p. 3). Os bandeiristas questionavam:
“se a Bandeira é por Deus, pela Pátria e pela família, será acaso fascista?”. A resposta
também é direta: “Não”, pois se o Fascismo era “uma solução nacional italiana […]
não pod[ia] ser uma solução brasileira” (Idem). Menotti del Picchia (1936, p. 9), outro
líder bandeirista, considera que a tríade “Deus, Pátria e Família” era fundamento da
civilização cristã, sendo o Brasil criado sob esse signo; a Bandeira defendia esses
princípios. Completando o argumento de Picchia, Cassiano Ricardo afirma que
mesmo tendo como ponto de encontro a tríade “Deus, Pátria e Família”, existia vários
pontos de desacordo entre a AIB e o Movimento Bandeira. Como é possível perceber,
além de divulgar seu ideário, os dois líderes bandeiristas tinham outra preocupação:
provar o distanciamento entre a proposta integralista e bandeirista.
Para justificar a inadaptação do Comunismo, os bandeiristas defendem que no
Brasil não havia nobres e plebeus, ao mesmo tempo, não concordam com a tese
integralista de que havia classes lutando contra classes. Para os “novos bandeirantes”,
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no Brasil não havia luta de classes, pois elas ainda não se sedimentaram. Segundo os
bandeiristas, o argumento da “luta de classes” só servia para “o Comunismo e o
Integralismo, que precisavam dela para justificar sua presença forasteira e inútil”
(ANHANGUERA, 1937, 2 de julho, ano 1, n. 6, p. 3). Por trás desses argumentos, os
bandeiristas afirmavam que o Brasil não necessitava de uma revolução burguesa para
destruir a velha ordem feudal, uma vez que ela não existia, assim como não
necessitava de uma revolução socialista para pôr fim à divisão de classes, porque esta
também não existia.
No que concerne a transformação da ordem capitalista, o jornal Anhanguera
transcreve um editorial sobre a posição dos “novos bandeirantes” frente à tensão entre
o capital e o trabalho. Os bandeiristas criticam os que defendiam que o Comunismo
russo aboliu o capital, pois o regime soviético apenas o transferido para o Estado e
aboliu as iniciativas capitalistas particulares. Os “novos bandeirantes” também
questionavam o conceito de “ditadura do proletariado”, uma vez que, segundo eles, no
Brasil não existia um “proletariado”. Segundo os bandeiristas, para justificar sua
“sangrenta doutrina no Brasil”, os comunistas repetiam como “papagaios, as fórmulas
de sua mística”, inventando que entre nós também existe o “camponês”. O que temos,
de acordo com os “novos Bandeirantes”, são “trabalhadores, cheios de tarefa [...]
dispostos a mandar às favas todos os Lenines, Prestes, Trotzkis, Bergers e Stalins”
(ANHANGUERA, 1937, 31 de agosto, ano 1, n. 56, p. 2). Na tentativa de encobrir os
conflitos sociais na sociedade brasileira, os bandeiristas procuram desqualificar as
explicações influenciadas pelo socialismo europeu, em seu lugar, afirmam que a
sociedade brasileira ainda está em gestação e não alcançou os problemas europeus
derivados do liberalismo econômico.
De acordo com a posição dos bandeiristas, o “paraíso terreal revelado pelo
Integralismo ao operariado corre parelhas com o céu rasgado pela demagogia
bolchevista” (ANHANGUERA, 1937, 9 de agosto, n. 37, ano 1, p. 3). E concluíam:
18
“parece que foi um comunista escarlate quem concebeu a doutrina” e, “apesar dos
disfarces”, é “apenas uma denominação nova à sovietização” (Idem). Os bandeiristas
perguntavam o que seria do “operariado, sem direito de pensar, desarmado,
fiscalizado pelos capatazes do sigma, obrigados a bradar trinta ‘anauês’ por dia” e, ao
menor protesto, ser atirado “nas algemas do inferno disciplinador” (ANHANGUERA,
1937, 6 de agosto, ano 1, n. 35, p. 7). No que se refere à solução da tensão entre
trabalho e o capital defendida pela AIB, os “novos bandeirantes” afirmavam que
somente havia “promessa e divagação” e que os integralistas pretendiam transformar
o Brasil em um “Estado policial […] senhor da produção e ordenador absoluto da
atividade obreira” (Idem). Paralelamente ao argumento contra o comunismo, os
bandeiristas não elaboram uma nova argumentação contra os integralistas, mas apenas
buscam afirmar que ambos são semelhantes. A utilização do mesmo argumento para o
comunismo e o integralismo demonstra a dificuldade de elaborar justificativas mais
sistematizadas contra seus opositores, ou seja, os bandeiristas se escondem atrás de
argumentos repetitivos para se colocarem na arena da disputa política.
Os “novos bandeirantes” defendiam “que o trabalho e o capital” eram duas
forças que precisavam ser harmonizadas. Para eles, o capital tinha “seu complemento
no trabalho”, daí a necessidade de se criarem leis trabalhistas que harmonizem “os
interesses do empregador com os dos empregados”, de forma que o Estado protegesse
as “classes menos favorecidas sem atentar os interesses das classes capitalistas”
(ANHANGUERA, 1937, 30 de junho, ano 1, n. 4, p. 2). A respeito dessa posição, os
“novos bandeirantes” acusam o Comunismo de destruir a autoridade e o Integralismo
por ser irracional frente à autoridade8. Os bandeiristas afirmam que, para que se
justificasse a aplicação do Comunismo ou do Integralismo no Brasil, era preciso ter os
mesmos problemas da Rússia, Alemanha ou Itália. Além da ausência de
características para suas implantações, os “novos bandeirantes” também criticavam o
imperialismo russo, italiano e alemão na Europa.
Ao abordar o imperialismo soviético, uma manchete afirmava que Josef Stalin
(1879-1953) queria “reduzir Portugal à condição de colônia do bolchevismo”
8 A associação entre a liberdade do indivíduo em relação ao Estado poderia sugerir que os bandeiristas defendiam uma forma política próxima ao Liberalismo, o que não é correto, pois apontavam a Democracia Liberal como outra forma de governo inimiga da originalidade brasileira.
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(ANHANGUERA, 1937, 27 de julho, ano 1, n. 26, p. 1). Segundo os redatores
anhangueras, a crise espanhola também havia se tornado palco para a expansão do
imperialismo russo, pois os “carrascos de Moscou invadem a Pátria de Cervantes
porque juram que ali se implantou a ditadura de direita” (ANHANGUERA, 1937, 6 de
setembro, ano 1, n. 61, p. 4). Diziam ainda: além de ser uma “cópia terrível”, o
“Comunismo tem o satânico aspecto de Diabo numa Igreja” e afirmavam que, para
espantar esse “Diabo”, os “verdadeiros intelectuais” deviam “extirpar a praga
mongólica do seio de nossa população” (ANHANGUERA, 1937, 31 de agosto, ano 1,
n. 56, p. 2). Além da repetição de argumentos para combater seus inimigos políticos,
os bandeirista também lançam mão do discurso religioso católico como forma de
denunciar os males das “ideologias forasteiras”.
Antes de darmos continuidade a nosso estudo, cabem algumas ressalvas que
servem para todas as charges trabalhadas neste artigo. Para tanto, adotamos a sugestão
de Rozinaldo A. Miani (2012), a qual defende que a charge pode aparecer isolada no
contexto de determinada publicação, mas apesar da autonomia interpretativa da
charge, não é possível analisá-la de maneira absolutamente autônoma, uma vez que
ela tem uma natureza intertextual. Essa ocorrência é considerada pelo autor como
“charge editorial” ou “editorial gráfico”, recurso este que é encontrado em todas as
edições do jornal Anhanguera. Ao dar atenção a este recurso gráfico, algumas dessas
charges9 reforçam a crítica ao Comunismo na perspectiva cristã; como exemplo, uma
em que Stalin aparece como um “anjo da morte” sobrevoando um cemitério com o
símbolo da foice e o martelo ao fundo.
9 Não consta informação acerca do autor da charge.
20
Figura 1
Esse “anjo da morte” representa o Comunismo que, por onde passa, deixa um
rastro de morte. A charge traz a seguinte inscrição: “uma visão trágica do mundo
bolchevique. É para impedir esse espetáculo de miséria e sangue que a ‘Bandeira’
combate as ideologias contrárias á civilização brasileira” (ANHANGUERA, 1937, 24
de julho, ano 1, n. 24, p. 12). Algumas reportagens informam que “trabalhadores das
indústrias, camponeses, soldados, oficiais, comissários, escritores, jornalistas [...] são
sumariamente fuzilados” (ANHANGUERA, 1937, 2 de setembro, ano 1, n. 58, p. 1).
Segundo os “novos bandeirantes”, foram eliminados “todos os membros do Bureau
político fiel ao marxismo” e existe uma “lista interminável de altos funcionários, altas
patentes do exército, diplomatas e operários russos condenados à morte”, pois os
fuzilamentos “formam a base da segurança do bolchevismo” (Idem).
A perspectiva da violência relacionada ao comunismo também é utilizada para
combater a AIB. Ao ler o jornal bandeirista, encontramos notícias que denunciam
conflitos com mortos e feridos em passeatas e “o fornecimento de munições militares
à núcleos integralistas” (ANHANGUERA, 1937, 3 de julho, ano 1, n.7, p. 8). Frente a
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esses noticiários, os bandeiristas convocam todos a combater o grupo que “atenta
contra a Constituição” e foge da “discussão pacífica das ideias” (ANHANGUERA,
1937, 14 de agosto, ano 1, n. 42, p. 1). De acordo com os bandeiristas, frente as
“violências, os assassinatos, as promessas de extermínio”, os “novos bandeirantes”
apontavam Plínio Salgado como o outro “anjo da morte” que devia ser combatido.
Figura 2 – Jornal Anhanguera, 17 de agosto de 1937, ano 1, n. 44, p. 5.
Seguindo os argumentos bandeiristas, para pôr fim à agressão integralista –
representada pela feição diabólica da charge10 – bastava proibir o Comunismo, pois,
ao combatê-lo, a democracia apararia o “golpe da reação integralista”. Ao defender
que um movimento somente tem razão de ser em função do outro, um editorial do
jornal Anhanguera afirmava: uma “parte da tarefa está cumprida”, pois as “unhas do
urso moscovita foram cortadas” pela “lei de Segurança” (ANHANGUERA, 1937, 14
10 Não consta informação acerca do autor da charge.
22
de setembro, ano 1, n. 67, p. 1). Segundo o artigo, essas medidas tornariam “o Brasil
imune á praga vermelha. Agora é tratar outra praga. A verde” (Idem). O leitor pode
observar que no ano de maior efervescência dos bandeiristas, a campanha contra o
comunismo e o integralismo é sustentada com os mesmos argumentos e estéticas
visuais. Mesmo associando o discurso poético, visual, publicitário e político, os
bandeiristas parecem não sair do circulo vicioso da denúncia, uma vez que não
conseguem propor uma saída para os problemas nacionais. Frente a incapacidade de
propor algo realmente novo, os bandeiristas elegem mais um inimigo: a Democracia
Liberal.
Para definir o conceito de democracia, o líder bandeirista funde argumentos
contraditórios – organicistas e históricos – em uma concepção social de sistema
político. Apropriando-se de um discurso organicista, Cassiano Ricardo afirma que a
democracia está escrita no sangue de cada um de nós: “neste nós estão todos os
brasileiros, quer os que votam, quer os que não votam. Está o povo da cidade e está o
povo obscuro” do interior (RICARDO, 1937, p. 227). A respeito do “fenômeno
nacional”, Cassiano Ricardo propõe que não “se trata de uma democracia que só
funcione em razão dos partidos”, do direito ao voto concedido pelos “direitos
políticos” ou da confusão que “Fascismo e Comunismo praticam para iludir massas”
(Idem). Ressalta, ainda, que, frente a essas confusões, “o conceito de democracia” não
“pode sofrer deturpação” e que, para não haver deturpação, o Bandeirismo seria o
movimento que organizaria a democracia, “modernizando-a, limpando-a da
politicagem” (RICARDO, 1937, p. 227-228).
Frente a um regime que funcione em razão dos partidos, do direito ao voto e
das confusões das “duas pragas”, Cassiano Ricardo propõe uma “forma de governo”
que melhor “assegure a sua existência” (RICARDO, 1937, p. 228). Para os “novos
bandeirantes”, a única forma capaz de recuperar a originalidade nacional é a
Democracia Social Nacionalista. No artigo “Os três caminhos”, escrito para o jornal
Anhanguera – e como de costume, sem autor declarado –, os bandeiristas defendem o
ideal “nem bolchevismo, nem Fascismo”, nem “Democracia Liberal”, mas a
“Democracia Social Brasileira” (ANHANGUERA, 1937, 4 de agosto, ano 1, n. 33, p.
3). Ao se referir à tomada de posição para alcançar esses objetivos, esses intelectuais,
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militares, empresários e políticos reunidos em torno do bandeirismo não dão
credibilidade à disputa política organizada em torno da disputa partidária da
Democracia Liberal. Neste sentido, o diário informa sobre o perigo que as instituições
democráticas sofrem frente às doutrinas extremistas e valoriza a tomada de posição do
movimento paulista.
No ensaio O Brasil no original (1937, p. 228), Cassiano Ricardo alerta que em
razão das eleições marcadas para 1938, os integralistas vinham falando de
democracia. E por isso, o líder bandeirista defende que até nisso a AIB faz “pensar no
Fascismo e no hitlerismo que, de vez em quando, também se dizem adeptos da
democracia”. Segundo os bandeiristas, essa era outra incoerência dos integralistas,
uma vez que eles se colocavam “contra o voto, mas vota[vam]. [Eram] contra os
partidos, mas [eram] um partido. [Eram] contra a democracia, mas só exist[iam] por
favor da democracia” (RICARDO, 1937, p. 228). Paralelamente a afirmação de que
os integralistas se pareciam com o Fascismo europeu ao se aproveitarem da
democracia, os bandeiristas afirmavam que o grupo de Plínio Salgado também
imitava “os emblemas do nazismo alemão”. Em uma charge, os “novos bandeirantes”
comparam o emblema integralista com o símbolo do nazismo: o ilustrador 11
representa a suástica refletindo sua sombra no sigma integralista.
11 Não consta informação acerca do autor da charge.
24
Figura 3 – Jornal Anhanguera, 11 de agosto de 1937, ano 1, n. 39, p. 1
Além do símbolo, dos gestos, da uniformização dos indivíduos, das passeatas,
do uso do conceito de democracia, da técnica da violência, de ser uma ideologia
importada, os redatores bandeiristas consideram que a AIB copia o “centralismo
hipertrofiado”, o intervencionismo e a “supremacia do Estado” (ANHANGUERA,
1937, 31 de julho, ano 1, n. 30). Como já sugerido, a charge reflete a crítica dos
“novos bandeirantes”, pois o símbolo integralista está na sombra ou no reflexo da
suástica nazista, ou seja, o Integralismo é visto como uma cópia. De acordo com os
bandeiristas, são copiadas as camisas, o “sigma, que é um disfarce da cruz suástica”, e
o “gesto romano, que nunca foi nosso” (Idem). Para os “novos bandeirantes”, o
“Chefe verde” é o “maior plagiador” de estrangeirismos, sendo o Estado Integralista
uma “transposição ipisis literis do Estado totalitário corporativo fascista”
(ANHANGUERA, 1937, 31 de julho, n. 30, p. 1). Segundo eles, a AIB copia “a
doutrina, a organização, a técnica, o ritual”, até a “maneira de falar do seu chefe”
(Idem). Em outra charge12 os bandeiristas satirizam os integralistas, sugerindo que
quem repete os gestos nazistas são primatas.
12 Não consta informação acerca do autor da charge.
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Figura 4 – Jornal Anhanguera, 28 de agosto de 1937, ano 1, n. 54, p. 1.
Na utilização da charge como uma representação humorística, a charge
reproduzida acima, satiriza os integralistas seguidores do nazismo, pois alertam para
que os brasileiros fiquem atentos, uma vez que – como diz a inscrição da charge – era
preciso ter “a dignidade de não sermos irracionais” (ANHANGUERA, 1937, 28 de
agosto, ano 1, n. 54, p. 1). Além de associar o Integralismo ao nazismo, os redatores
anhangueras também transcrevem comentários sobre a desintegração da AIB. Desde o
final de 1936, os bandeiristas já vinham utilizando deste argumento, pois afirmavam
que o Integralismo logo se dissolveria “para fundir-se na Bandeira” (S. PAULO, 1936,
ano 1, n. 9). O grupo buscava, por todos os meios, fragilizar a coesão da AIB com
26
notícias sobre a “crise no Integralismo”. Para tanto, os bandeiristas inserem no jornal
Anhanguera entrevista com ex-integralistas, dentre eles Brasilino de Carvalho, Aber-
Atttar Neto e Jeovah Motta.
Em razão das séries de “equívocos” das duas “pragas políticas”, os
bandeiristas consideravam que nenhum brasileiro poderia “ser fascista ou comunista”,
pois, para “ser uma coisa ou outra, o brasileiro abandona a sua nacionalidade”
(ANHANGUERA, 1937, 26 de agosto, ano 1, n. 52, p. 3). Os “novos bandeirantes”
afirmam que o temor da agressividade dos totalitarismos europeus no Brasil motivam
os brasileiros “a cerrar fileiras em torno do movimento bandeirante”
(ANHANGUERA, 1937, 28 de junho, ano 1, n. 2, p. 1). E, em razão disso, núcleos
bandeiristas são criados por todo o território nacional, demonstrando a adesão de
todas as camadas sociais ao ideário bandeirista. Mesmo com a fragilidade dos
argumentos contra o comunismo e o integralismo, os “novos bandeirantes”
acreditavam que os intelectuais de consciência acabariam aderindo ao ideário
bandeirista, pois esta seria a única proposta política genuinamente brasileira.
Como no M. C. publicado em 1934, os “novos bandeirantes” se viam
assombrados por dois fantasmas: um que queria levar para a direita e outro, para a
esquerda. Uma das importâncias deste estudo é a percepção da ampliação temática do
poema ao inserir ensejos políticos posteriores à escrita inicial do M. C. A partir da
análise das versões trintistas do poema M. C. – relacionando-as com as publicações da
revista S. Paulo (1936), com o jornal Anhanguera e com o ensaio O Brasil no original
(1937) – é possível perceber a intertextualidade entre a reescrita da obra literária de
Cassiano Ricardo e os debates políticos na década de 1930. Importante registrar,
também, que o acompanhamento próximo das publicações em revistas e jornais
permite que, ao mesmo tempo, explicitemos o debate, detalhadamente, e o
identifiquemos aos interesses e perspectivas dos grupos envolvidos.
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A recepção do Movimento Bandeira militarizado: vivas à nacionalidade bandeirante em combate às “ideologias forasteiras”
Em Ensaio de exposição do pensamento bandeirante, publicado em 1936,
Menotti del Picchia (1936, p. 30) expõe qual seria o papel das Forças Armadas no
ideário dos “novos bandeirantes”. O ensaísta considera que o Exército e a Marinha
seriam guardas “de todas as realizações da Bandeira”, pois esse líder bandeirista vê,
na “disseminação do espírito militar, a forma mais sadia e operante da interpretação
da nacionalidade”. Para ele, a “caserna” seria a “melhor escola” a fim de fazer
penetrar nos espíritos as “ideias de Pátria”, de “cultura”, de “disciplina e hierarquia”
e, acima de tudo, a “consciência coletiva de brasilidade”. O ensaísta afirma que as
Forças Armadas deveriam “manter-se alheios à política”, ao mesmo tempo em que, o
“oficial dever[ia] ser para o civil como um sacerdote: uma pessoa sagrada”
(PICCHIA, 1936, p. 32). Vemos como esse líder bandeirista compartilha da tradição
republicana, e fortalecida na década de 1930, que reservaria um lugar especial para o
Militar, especialmente a figura do General, dentro da hierarquia da sociedade
brasileira.
No que se refere as modificações na escrita do M. C. – interferências estas que
apontam para a intertextualidade entre o discurso poético e o discurso político –,
vemos um processo onde a poetização das bandeiras históricas são representadas
como um grupo organizado militarmente: os “chumbos com armas de fogo”,
“batelões para transpor quantos rios topassem na viagem”, “provisões na sacola” e
“mosquetões e escopetas”. É possível apontar que a organização militar das Bandeiras
nas versões trintistas do poema coaduna com as concepções de Estado Forte e da
Democracia Social Nacionalista defendida pelo ideário bandeirista. A importância
dada à figura do General também pode ser medida com a inclusão de várias
referências no poema: os “generais do mato virgem”; São Paulo é “o quartel-general
28
dos gigantes de botas”; a soldadesca verde marcha “um dois, um dois, de batalhão em
batalhão”; todos leem e escutam a “entrevista do general Góes Monteiro”. Em razão
da importância dada aos militares no poema e nas moções de apoio ao movimento
através do jornal Anhanguera, vemos a aproximação entre essa organização cultural e
as Forças Armadas.
Ao ler o jornal Anhanguera, encontramos várias reportagens de militares sobre
o ideário bandeirista, em uma delas, o Major Carlos Villaça – ex-inspetor dos Tiros de
Guerra do Estado de São Paulo e comandante do CPORS – defende essa “entidade
Cultural” por estar “fora dos partidos” e por reconhecer o “penhor da tradição de
nossos antepassados” (ANHANGUERA, 1937, 1 de julho, ano1, n. 5, p. 3). Para esse
oficial, com esse grupo, todos poderiam ir “pela estrada do centro nos destinos da
Pátria, fugindo dos atalhos desconhecidos, acenados […] pelos extremistas” (Idem).
Ao reproduzir os comentários bandeiristas encontrados no M. C. (1934), na revista S.
Paulo (1936) e no ensaio O Brasil no Original (1937), esse militar também
demonstrava preocupação com as influências dos partidos nazifascistas e comunistas
no Brasil. Em uma charges13, os redatores ilustram as ameaças do Comunismo e do
Integralismo às Forças Armadas.
13 Não consta informação acerca do autor da charge.
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Figura 5 – Jornal Anhanguera, 20 de agosto de 1937, ano 1, n. 47, p. 1.
Assim como o Jeca Tatu foi seduzido pelos “gestos da estranja” 14 e o
bandeirante quase foi confundido pelos fantasmas da direita e da esquerda, o Exército
também se sentia ameaçado pelos extremismos. Como vemos nesta charge, um
integralista e um comunista oferecem suas armas – a espada como símbolo de virtude,
bravura e poder – para o Exército – de feições indígenas –, mas este se recusa, pois já
estava “suficientemente armado e dispensa esses ‘amáveis’ auxílios”
(ANHANGUERA, 1937, 20 de agosto, ano 1, n. 47, p. 1). Na charge em questão, a
frase que acompanha a ilustração evidencia a recusa do Exército e codifica a posição
dos “novos bandeirantes” frente às interferências dos extremismos nas Forças
Armadas. Em relação a essas ameaças, os “novos bandeirantes” parabenizam o
General Dutra e o Almirante Aristides Guilhem por tomarem medidas regulamentares
que extirparam “quaisquer infiltrações dos extremismos da esquerda e da direita” nos
quarteis (ANHANGUERA, 1937, 5 de agosto, ano 1, n. 34, p. 1).
Como o PCB e a ANL estavam impossibilitados de agir devido a Lei de
Segurança Nacional, a principal ameaça para o Movimento Bandeira passou a ser o
Integralismo. Para os “novos bandeirantes”, a “intromissão do Integralismo nas
classes militares” merecia “atenção dos poderes constituídos […] que já tomaram
atitude enérgica por ocasião de tentativa idêntica feita pelos adeptos de Moscou”
(ANHANGUERA, 1937, 18 de agosto, ano 1, n. 45, p. 1). A respeito dessa infiltração,
os redatores utilizam a alegoria de vestir uma camisa ou uma farda. Em telegrama
enviado para o jornal, o general Pargas Rodrigues – comandante da 2ª. Região Militar 14 Uma “charge editorial” do jornal Anhanguera representa o Jeca Tatu que foi surpreendido. A brasilidade do Jeca é representada pelo espanto frente aos movimentos gestuais dos dois militantes: um do Comunismo e outro do Integralismo. O Jeca responde: “Oie, moços, si ocêis continua a fazê p’ra mim esses gesto da estranja, eu acabo fazendo prôceis um gesto bem brasileiro…” (ANHANGUERA, 1937, 30 de junho, ano 1, n. 4, p. 7). No combate às “ideologias forasteiras”, a figura do caipira lobatiano é apropriada é tomada como símbolo que define e afirma a brasilidade do interior contra a “contaminação estrangeira”.
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– afirmava que, para ser brasileiro, não havia necessidade de o militar trocar sua
farda, que simboliza a bandeira e a Pátria, pela “camisa verde”. Os bandeiristas
consideravam que o Brasil é muito grande para ser colocado em uma “camisa de força
que não é nossa” (ANHANGUERA, 1937, 31 de julho, ano 1, n. 30, p. 3). A metáfora
de colocar uma camisa que não pertencia à nacionalidade foi mais um recurso para
criticar o Integralismo, o qual havia sido apropriado para inspirar outra Charge
editorial reproduzida no jornal Anhanguera.
Figura 6 – Jornal Anhanguera, 6 de julho de 1937, ano 1, n. 9, p. 1.
Nessa charge15, a metáfora de “usar uma camisa que não era nossa” é
representada pela entrega da camisa integralista a outro símbolo da nacionalidade: o
indígena. No diálogo com o integralista, o gigante indígena responde “você não vê
logo que camisa de anão não cabe em corpo de gigante?” (ANHANGUERA, 1937, 6
de julho, ano 1, n. 9, p. 1). Ao combater o Integralismo, a metáfora da camisa afirma a 15 Não consta informação acerca do autor da charge.
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retórica de combate e a defesa dos princípios do programa dos “novos bandeirantes”,
ou seja, a defesa da nacionalidade que provocou a cisão entre a tríade verde-amarela
em finais da década de 1920. Para os novos bandeirantes, não só a camisa do
Integralismo era contrária à nacionalidade, mas também a camisa da liberal-
democracia e do Comunismo. Em oposição à essas camisas, os bandeiristas
defendiam que as Forças Armadas, assim como qualquer brasileiro, devia usar a
camisa da brasilidade bandeirante.
Considerações finais
A partir desta breve explanação, vemos que o Movimento Bandeira; de um
lado, surgiu da reorganização política derivada da “Revolução de 30”, da necessidade
de reincorporação de políticos paulistas no cenário nacional e da disputa entre várias
facções políticas no cenário nacional; e de outro, deriva da tradição de criar a “grande
elite” dirigente, da inserção social dos poetas nos debates políticos e da apropriação
de enunciados literários como pressupostos políticos. Também ficou exposto que os
bandeiristas utilizaram a literatura e a imprensa como suportes linguísticos úteis para
a divulgação de seu ideário.
É fundamental ter claro que a imprensa, desde o século XIX, é uma
comunidade interpretativa e, como tal, uma mediadora cultural. Sabemos que a
imprensa não apresenta a notícia, ela a interpreta de acordo com os princípios que
defende. A imprensa produz notícias atentas à recepção que teria e à comunidade de
leitores que pretendia cultivar. Os bandeiristas conheciam esse expediente da
imprensa e utilizavam-se dele, assim como os comunistas, os integralistas e os
liberais. Em nosso caso, essa imprensa divulgava, com recorrência, a justificativa para
o Movimento Bandeira: ele – e apenas ele – defenderia a originalidade brasileira na
luta contra as infiltrações estrangeiras no Brasil. Diante dessas interfaces, é possível
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demonstrar como a arquitetura discursiva do bandeirismo estava amarrada a diversas
modalidades de escrita: poema, revista, jornal e ensaios. Com base nesse conjunto
discursivo, os “novos bandeirantes” entraram na disputa pela ideologia vencedora na
década de 1930 como salvadores.
Apesar da recusa às “ideologias forasteiras”, o ideário bandeirista abrigava o
destaque de alguns pontos positivos dos regimes totalitários europeus; todavia, esses
deviam ficar em seus países de origem. Essa argumentação era uma forma de
defender que o Brasil deveria desenvolver sua própria organização política de acordo
com sua realidade social, econômica, política e cultural, pois o Brasil não tinham as
mesmas condições históricas dos países europeus. Como podemos perceber, a crítica
às “duas pragas políticas” tem vários pontos em comum, entre eles: negavam que a
existência do latifúndio dificultava o acesso à terra, pois no Brasil havia terra demais
para pessoas de menos; não haviam conflitos e divisões de classe; as tensões entre
capital e trabalho deviam ser harmonizadas por leis trabalhistas; e ambos eram
internacionalistas e adotavam a técnica de violência dos totalitarismos europeus.
Mesmo com críticas semelhantes, em plena campanha política no segundo semestre
de 1937, os bandeiristas combatem abertamente Plínio Salgado e a AIB ao minar suas
bases ao associá-los ao fascismo europeu. Tal associação foi necessária para apontar
que a AIB destruiria a frágil democracia brasileira e, acima de tudo, contaminaria a
originalidade nacional com a “infecção nazista”.
Para auxiliar o Movimento Bandeira, os bandeiristas defendem que os
militares deveriam combater os extremismos, tanto fora quanto dentro da corporação,
haja vista que seus representantes não deveriam se envolver em política partidária.
Mesmo estando fora das disputas políticas, os “novos bandeirantes” afirmavam que as
Forças Armadas eram os únicos responsáveis por manter a ordem e defender o regime
contra os “golpes dos extremismos”. Para que fossem possíveis tais realizações, os
bandeiristas consideravam que as Forças Armadas deveriam ser compostas de pessoal
“adestrado” – cultural e tecnicamente – para servir aos interesses nacionais. Para
demonstrar essa confluência de ideias, o diário bandeirista faz uso de charges,
transcrições de telegramas, entrevistas e artigos escritos por generais, intelectuais e
políticos.
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Para os limites deste artigo, a concepção de LaCapra auxiliou no entendimento
das tensões que giram em torno da inserção de Cassiano Ricardo nas práticas da
intelectualidade brasileira das décadas de 1920 e 1930, uma vez que a trajetória do
poeta é marcada tanto pelas interações quanto pelas dissonâncias. Em síntese, o que se
constatou é que Cassiano Ricardo integra não “um” campo intelectual, mas circula
por vários. Sua capacidade de circulação lhe permite, ao longo do tempo, cultivar
obsessões (a ordem e disciplina paulista como modelo para o Brasil), escolher seu
campo intelectual e produzir aproximações e afastamentos (tal como ocorrera em sua
relação com Plínio Salgado na década de 1930).
Quanto mais se une a narrativa do poema M. C. à imagem e a outras
modalidades de escrita, Cassiano Ricardo e o grupo que o cercava aproximavam-se de
uma concepção de arte que pretendia atingir um público maior a fim de intervir na
política. Essa natureza artística dos bandeiristas aproximam-se das proposições de
Walter Benjamin (1955), na qual, no século XX ocorre o abandono da ideia de “arte
pura” (efeito ritualístico), apreendendo os mecanismos de reprodutibilidade técnica
com a finalidade de ampliar sua recepção e impacto no campo político. Ao se
proclamarem herdeiros da estética modernista e descobrirem novos suportes (poema,
ensaios, jornais e revistas) e aprenderem com eles sobre as possibilidades de
apropriação, os bandeiristas expõem uma arte que se registra na práxis da política e,
por isso, apresenta uma nova natureza em meio as disputas políticas em meados da
década de 1930.
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