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Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
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DAVI E GOLIAS: A NARRATIVA BÍBLICA EM MÚLTIPLAS MÍDIAS
Juscelino Francisco do Nascimento1 (UFPI)
Resumo: Neste trabalho, apresentamos a definição de transmídia de Jenkins (2008), aplicando-a à narrativa bíblica Davi e Golias e analisando-a em diversas mídias. Para tanto, utilizamos o conceito citado, expandido pelo conceito de hipertexto proposto por Xavier (2010) e outras definições postuladas por Coscarelli (2012), Gomes (2010), Koch (2003), Marcuschi (2001) e Moura (2011). Usamos, ainda, o conceito de letramento adotado por Soares (1998). Objetivamos analisar alguns conceitos de hipertexto, firmando-nos naquele proposto por Xavier (2010) e, ao expandirmos o conceito de Jenkins (2008), buscamos novos construtos teóricos para a construção de uma Teoria do Hipertexto. Palavras-chave: Narrativa Transmidiática, Davi e Golias, Hipertexto. Abstract: In this paper, we present Jenkins’ (2008) definition of transmedia, applying it to the biblical narrative David and Goliath and analyzing it in various
media. For this, we use the concept quoted, expanded by the concept of hypertext proposed by Xavier (2010) and other definitions postulated by Coscarelli (2012), Gomes (2010), Koch (2003), Marcuschi (2001) and Moura (2011). We also adopted the concept of literacy by Soares (1998). We aim at analyzing some concepts of hypertext, steadying us in that proposed by Xavier (2010), and expanding the concept of Jenkins (2008), we seek new theoretical constructs for the construction of a Theory of Hypertext. Keywords: Transmedia Narrative, David and Goliath, Hypertext.
Introdução
Neste trabalho, nos propomos a fazer uma breve discussão, na área do
hipertexto, voltada para a narrativa transmídia (ou transmidiática), a partir da
proposta de Jenkins (2008).
No decorrer deste artigo, apresentamos uma ampliação do conceito do autor
supramencionado, de modo que a narrativa transmída não seja apenas aquela em
que se tem partes de uma mesma história em diferentes mídias e que, juntas,
formam uma história maior dotada de significado, mas, também, aquela que pode
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ser apresentada em variados tipos de mídia, cada um com suas especificidades e
características que lhes são própria, dotados de sentido e que podem, cada um a
seu modo, alcançar o público-alvo para o qual se destina.
Como fundamentação teórica, utilizamos, dentre outros, o conceito de
hipertexto proposto por Xavier (2010) e outras definições postuladas por Coscarelli
(2012), Gomes (2010), Koch (2003) etc; assim como o conceito de letramento
adotado por Soares (1998) e alguns conceitos teológicos de Lopes (2009).
O objetivo deste trabalho foi fazer uma análise da narrativa bíblica Davi e
Golias, observando as características nela presentes em cada tipo de mídia na qual
ela foi apresentada.
Hipertexto: Alguns Pressupostos Teóricos
O termo hipertexto foi criado, no âmbito da informática, pelo norte-
americano Theodor Nelson, na década de 60 do século XX. Inicialmente, referia-se
a uma escrita não linear e não sequencial, diferentemente dos textos tradicionais,
impressos. No entanto, não utilizando esta nomenclatura, mas se referindo a
operações mentais e à maneira como elas funcionam, Vannevar Bush, em 1945, nos
Estados Unidos, publicou o artigo intitulado “As we may think”, considerado o
ponto de partida para o início da teoria hipertextual.
Bush visava à criação de um artefato baseado no funcionamento do
pensamento humano, que, segundo ele, se dava por meio de cadeias associativas.
Com essa invenção, chamada memex, poder-se-ia agilizar os métodos de
armazenamento de dados e busca de informações existentes, que, para Bush,
aconteceria com associações feitas no cérebro (MOURA, 2011).
Dentro desse aspecto, segundo Marcuschi (2001), os escritores, assim como os
leitores de hipertextos, precisam de um esquema organizacional que se baseia no
computador, para que possam se mover de uma seção de textos a outras páginas
relacionadas a eles, de forma rápida e fácil.
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Para Xavier (2010), a leitura de hipertexto não se dá apenas pela
decodificação de palavras, mas concomitantemente com sons, imagens e
diagramas, todos lançados sobre uma mesma superfície perceptual, compondo um
todo significativo no qual os sentidos são complexamente disponibilizados àqueles
que leem.
É importante destacar, aqui, que, apesar de estar mais diretamente
relacionado ao mundo digital, o hipertexto não diz respeito apenas a textos
eletrônicos. É perfeitamente aceitável que tenhamos (hiper)textos, por exemplo,
em jornais, revistas e até mesmo em artigos acadêmicos, pois não se trata apenas
de observar suas características na tela de um computador. Para Koch (2003), por
exemplo, o hipertexto não tem de necessariamente ser digital. Para ela, podemos
ter hipertextos impressos ao alcance das mãos.
Atualmente, há vários conceitos para hipertexto, no entanto, nos utilizaremos
daquele adotado por Xavier (2010, p. 208), que define o vocábulo como “uma
forma híbrida, dinâmica e flexível de linguagem que dialoga com outras interfaces
semióticas, adiciona e acondiciona à sua superfície formas outras de textualidade”.
Dentre as principais características do hipertexto, destaca-se a não
linearidade, que alguns autores, como Rouet e Levenon (1996 apud GOMES, 2010)
defendem não haver uma diferença fundamental entre o texto impresso e o
eletrônico, pois a linearidade, segundo eles, pode ser introduzida em diversos graus
e níveis, seja em formato impresso ou eletrônico, embora este último apresente
mais características não lineares disponíveis e que podem facilitar o acesso a
informações adicionais enquanto se lê.
O hipertexto não é, grosso modo, algo totalmente diferente de texto, pois ele
mantém os mesmos processos de escrita e de leitura, tendo, desse modo, a mesma
textualidade de um texto impresso numa folha de papel (COSCARELLI; SANTOS,
2007).
Para Koch (2003), o que difere o hipertexto do texto impresso é apenas o
suporte e a rapidez com que é acessado, pois é mais rápido de se encontrar
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informações num texto digital, sobretudo utilizando os recursos que a Informática
dispõe para isso.
Com o advento da informática, cada dia mais próxima de nós, temos uma
gama de informações “a um clique”. Apesar disso, para sermos leitores
competentes nesse ambiente, é necessário que tenhamos o letramento digital
necessário para ler o que está às nossas mãos, pois temos que desenvolver
habilidades de leitura nesse novo suporte (COSCARELLI; SANTOS, 2007).
Em relação a isso, Coscarelli (2012) assevera que, quando o leitor é
suficientemente familiarizado com essa tecnologia, a leitura nesse formato gera
resultados mais satisfatórios que a leitura do mesmo conteúdo em formato
contínuo. Para a mesma autora, todo texto é, em si, um hipertexto e toda leitura é
um processo hipertextual, cabendo a nós, professores, tornarmos os nossos alunos
capazes de navegar em textos de toda natureza, seja oral, impresso, digital, verbal
ou não-verbal.
A compreensão do texto, segundo Koch (2003), se dá por meio de um processo
inferencial, no qual os sentidos do texto são construídos sócio-interativamente
pelos sujeitos ativos em uma ação colaborativa. Isso nos leva a entender que o
texto é passível de vários sentidos, a partir do conhecimento do leitor e das
estratégias sociocognitivas por ele utilizadas.
Para que haja, de fato, a compreensão de um mesmo texto em diferentes
mídias, sobretudo naqueles digitais, é necessário que os leitores desse texto
tenham desenvolvido o seu letramento, entendido, aqui, não apenas como aquele
proposto por Soares (1998), baseado no uso da fala e da escrita como práticas
sociais; mas o letramento digital, que dá acesso, dentre outros, à competitividade
no mercado global e à democratização do acesso à informação, principalmente por
meio da internet (GOMES, 2010).
Finalizando este tópico, destacamos que um mesmo texto pode vir em
diferentes suportes, em diferentes mídias, cabendo ao leitor ser proficiente e
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compreender o mesmo texto em outros meios de divulgação, conforme
explicitaremos a seguir.
Nas próximas seções, apresentaremos o conceito de transmídia, proposto por
Jenkins (2008), atualizando-o na narrativa bíblica Davi e Golias e fazendo análises
dessa mesma narrativa em diversas mídias.
Transmídia: A Informação em Diversas Plataformas
A palavra transmídia é formada com o prefixo latino “trans”, que significa
“movimento para além de”. De acordo com Jenkins (2008), a narrativa
transmidiática diz respeito a uma nova estética e surgiu em resposta à
convergência das mídias (filmes, novelas, histórias em quadrinhos etc.).
Jenkins (2008) define narrativa transmidiática como um tipo de estrutura
narrativa onde partes de uma mesma história são dispersas sistematicamente por
meio múltiplas plataformas de mídia. Segundo ele, cada elemento de uma história
possui seu suporte definido em conformidade com o que este possa melhor
contribuir para relatar a história de um modo geral, permitindo que a narrativa
possa ser difundida. O autor esclarece, ainda, que, nos nossos dias, vivemos a
Cultura cultura da convergência, onde as velhas e as novas mídias colidem, onde mídia corporativa e mídia alternativa se cruzam, onde o poder do produtor de mídia e o poder do consumidor interagem de maneiras imprevisíveis (JENKINS, 2008, p. 27).
Podemos afirmar, dentro dessa perspectiva, que a narrativa transmidiática se
trata de um processo verificado em diversas áreas, como o jornalismo, a religião
(conforme explicitaremos), a educação etc., evidenciando características
diferentes da realidade de sua aplicação. Desse modo, nos propomos, neste
trabalho, a analisar, preliminarmente, na ótica da religiosidade cristã, a maneira
como a narrativa transmídia se apresenta na história bíblica “Davi e Golias”.
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Utilizaremos o conceito de transmídia adotado por Jenkins, embora, neste
trabalho, tenhamos a pretensão de ampliá-lo, pois, para o autor, uma narrativa
transmidiática é aquela que se apresenta em partes de uma mesma história
contada em diferentes meios, dotadas de sentido; apesar de todas as partes juntas
formarem uma história muito maior. Esse não é o caso de Davi e Golias, pois, por
ser uma narrativa bíblica, há uma forte ligação ao texto original, ainda que,
dependendo do meio em que ela é apresentada, as características específicas de
cada um deles se evidencie, conforme postula Jenkins (2008).
Davi e Golias: Da Bíblia às Mídias
A Bíblia Sagrada foi escrita, segundo Lopes (2009), por um longo período, nas
línguas hebraica, aramaica e grega, tanto o Antigo quanto o Novo Testamento, suas
duas maiores divisões.
O mito de Davi e Golias é narrado no Antigo Testamento, nos capítulos
dezesseis e dezessete do Primeiro Livro de Samuel, um dos dezesseis Livros
Históricos que a Bíblia contém.
Davi (ou David) foi, de acordo com a Sagrada Escritura, o segundo rei de
Israel, sucedendo o rei Saul. Sua história completa é narrada nos livros de I e II
Samuel e I Reis, mas, para este trabalho, nos deteremos à batalha em si entre Davi
e o gigante Golias.
O personagem principal deste conto, filho mais novo de Jessé, viveu por volta
do ano 1050 a.C, era pastor de ovelhas, tinha cabelos ruivos, baixa estatura, belos
olhos, formosa aparência e Deus o havia escolhido para ser ungido (cf. I Sm 16,
12ss).
Segundo a Bíblia Sagrada (2005), o exército dos filisteus se reuniu para
enfrentar os israelitas; o gigante Golias, certamente o líder daquela tropa,
desafiou, entre aqueles de Israel, alguém para enfrentá-lo, representando todo o
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povo. Se eles fossem vencedores, os filisteus seriam seus escravos; mas, se
perdessem, o oposto aconteceria.
Devido ao seu tamanho, ninguém quis enfrentá-lo, mas Davi, indignado pelas
palavras que o inimigo proferia ao seu Deus, decidiu ir ao combate. O rei Saul
ofereceu-lhe armadura, espada e escudo, mas este recusou, por não ter habilidade
com estes itens e, também, por ser pequeno em comparação a eles. Davi, então,
partiu à luta munido apenas de uma funda (arma de arremesso) e algumas pedras,
confiando que Deus lhe daria a vitória, pois, outrora, tinha lutado com leões e
ursos, saindo vitorioso (Cf. I Sm 17, 38 ss).
No início da batalha, após alguns insultos do inimigo, Davi acertou-lhe uma
pedra na fronte, derrubando-o. Vendo que ele tinha caído por terra, Davi o
decapitou com a sua própria espada. Depois da vitória, os demais soldados filisteus
fugiram, vendo seu líder derrotado (cf. I Sm 17, 49-51).
Essa narrativa, retirada de trechos bíblicos impressos (BÍBLIA SAGRADA, 2005),
apresenta, hoje, outras manifestações que vão além da Bíblica, conforme
mostraremos em revistas em quadrinhos, novela, música e desenho animado,
embora haja, ainda, outras mídias nas quais a mesma história é (re)contada.
Escolhemos essas mídias porque elas são, a nosso ver, as de mais fácil acesso à
sociedade, por estarem disponíveis na televisão, no rádio e na internet.
Analisaremos, nesse momento, um desenho animado, destinado ao público
infantil. Apesar de ser destinado especialmente às crianças, há a mesma narração,
de forma adaptada, de modo que haja compreensão por parte do público.
Nesse ambiente, a narrativa em tela é contada de acordo com o que está
escrito na Bíblia; entretanto, apresenta uma linguagem mais simples, voltada às
crianças e dotada de elementos cômicos, que são percebidos por meio da
sonorização, por exemplo. O desenho também traz os personagens representados
por crianças e, por fim, é omitida a parte da história que narra a decapitação do
Gigante. Na Bíblia, Davi corta a cabeça de Golias com uma espada, o que não é
retratado no desenho.
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Figura 1: Desenho Bíblico Davi e Golias
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=Uulk8NwCYy8. Acesso em 14/06/2012.
Em outra mídia, a música, vemos a possibilidade de se promover o
conhecimento do texto bíblico por meio de um instrumento de letramento muito
importante. A canção é útil no processo de letramento porque podemos trabalhar,
além da história retratada em si, com a letra da música e o contexto social,
comparando-o aos leitores/ouvintes.
A música “Davi e Golias”, da cantora Giselli Cristina, retrata a história
bíblica com nome homônimo. Em forma poética, a composição faz uma reescritura
do mito bíblico, evidenciando os mesmos aspectos que a Bíblia traz, conforme
apresentamos a seguir:
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“Um certo dia um gigante muito grande
Assolava o povo santo, convidava pra lutar
Mas lá não tinha um alguém com a coragem
De aquele homem numa luta enfrentar
Mas de repente vem chegando bem distante
Um menino confiante e em Deus tinha sua fé
Autoridade, unção e força ele tinha / pois ele sempre vivia exercitando sua fé
Lá vem Davi, rapaz pequeno, mas valente
Pois sabia que na frente estava o nosso general
Com uma pedra sua funda estava armada
Esperando o momento para o gigante derrubar
Refrão: E o gigante caiu, em nome de Jesus sim o gigante caiu
Não adianta, se é forte, se é valente
Se a Deus não for temente, vai para o chão sem demorar
Lá vem Davi rapaz pequeno, mas valente
Pois sabia que na frente estava o nosso General
Com uma pedra sua funda estava armada
Esperando o momento para o gigante derrubar”.
Esta música é um exemplo de leitura hipertextual, pois dialoga com outra
interface, evidenciando a intertextualidade da canção com a narrativa bíblica. A
música, aqui, pode ser vista como uma manifestação transmidiática, pois é uma
das diferentes formas de se narrar a mesma história, conforme Jenkins (2008).
Nessa mídia, a narrativa bíblica é reapresentada, não como parte significante de
um todo, segundo a proposta de Jenkins (2008), mas como uma mídia que, em si
mesma, traz uma significação que pode, inclusive, facilitar a compreensão da obra
bíblica.
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A história em quadrinhos, assim como o desenho, também é destinada às
crianças e traz as suas características próprias, abordando a narrativa segundo o
que a Bíblia descreve.
Figura 2: História em Quadrinhos de Davi e Golias
Disponível em: http://4.pb.blogspot.com/_HKBQPYrXa94/SrpHPerWd7I/AAAAAAAACx0/JgGvaW5tm _4/s400/quadrinhos_-_Davi_contra_Golias.jpg. Acesso em 14/06/2012.
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Neste ambiente, os diálogos são mais curtos, as cenas são minimizadas, a
fala do narrador é mantida e as marcações nas alterações de fala são marcadas
(grito, sussurro, tom normal), como o gênero exige. Apesar de ser direcionada ao
público infantil, há a cena que remete à decapitação de Golias, embora fique a
cargo do leitor perceber em que momento isso vai acontecer.
Por fim, trazemos a novela, ou melhor, a minissérie “Rei Davi”, transmitida
pela emissora brasileira Rede Record. Por ser uma tradução para a televisão, há
muita alteração na diegese interna da narrativa, pois são adicionados novos
personagens, romances etc. Observamos que há a inclusão de novos personagens,
envolvimentos amorosos entre alguns deles e, principalmente, alteração nas falas
descritas.
Figura 3: Novela Davi e Golias
Disponível em: http://portaldt.com/wp-content/uploads/2012/02/rei-davi-record1.jpg. Acesso em 14/06/2012
Por se tratar de uma novela, cujo público-alvo é, na maioria das vezes,
adulto, seu objetivo maior é comercial e, por essa razão, há a inclusão de uma
série de elementos que não estão presentes na narrativa bíblica, mas que, mesmo
assim, sã fáceis de ser compreendidos devido ao conhecimento de mundo que o
expectador já possui (KOCH, 2003); assim como devido à sua competência, a partir
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do letramento, para compreender a história nos difertes meios em que ela é
contada, a fim de que alguém que assista à novela, por exemplo, também
compreenda a narrativa ao ler uma revista em quadrinhos, ouça uma música ou
assista a um desenho animado infantil.
Considerações Finais
A história bíblica Davi e Golias se configura como uma narrativa transmidiática
devido às sua manifestação em diferentes mídias, conforme propusemos nesse
trabalho ao ampliarmos o conceito de transmídia adotado por Jenkins (2008.
Nos exemplos apresentados (desenho animado, música, história em
quadrinhos e minissérie televisiva), o mito bíblico é apresentado seguindo a
especificidade de cada gênero citado: ora em forma poética, ora destinado às
crianças, ora destinado a um público adulto. Entre essas formas em que a narrativa
bíblica Davi e Golias se apresenta, a compreensão se dá pelas instâncias de
letramento que o leitor já tem, tendo em vista que ele precisa ser capaz de
entender o mesmo texto em diferentes meios. O letramento não deve se fixar
apenas à prática da escrita, ao signo verbal, mas deve ser incorporado ao
letramento da imagem, pois um indivíduo letrado deve ser capaz de dar sentidos a
mensagens vindas de múltiplas fontes linguagem, assim como produzir mensagens,
incorporando outras fontes de linguagem àquilo que produz (DIONISIO, 2011).
Referências Bibliográficas BÍBLIA. A. T. I Samuel. Português. Bíblia Sagrada. Edição Pastoral. São Paulo: Paulus, 2005. Cap. 17, vers. 23-58. COSCARELLI, C. V; SANTOS, E. M. O livro didático como agente de letramento digital. Belo Horizonte: CEALE, 2007.
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______. Hipertextos na Teoria e na Prática. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012. DIONÍSIO, Ângela Paiva. Gêneros Textuais e Multimodalidade. In: KARWOSKI, Acir Mário; GAYDECZKA, Beatriz; BRITO, Karim Siebeneicher (orgs). Gêneros Textuais: Reflexões e Ensino. 4. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2011. GOMES, L. F. Hipertextos multimodais: leitura e escrita na era digital. Jundiaí: Paco Editorial, 2010. JENKINS, Henry. Cultura da convergência. São Paulo: Aleph, 2008. KOCH, I.G.V. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2003. LOPES, Mariú Moreira Madureira. Traduzindo o sagrado: a linguagem religiosa à luz de uma consciência linguística. Cadernos de Pós Graduação em Letras (Online), v. 7, p. 1, 2009. Disponível em <http://www.mackenzie.com.br/fileadmin/Pos_Gradu acao/Doutorado/Letras/Cadernos/Volume_7/9_TRADUZINDO_O_SAGRADO....pdf>. Acesso em: 29 nov. 2012. MARCUSCHI, L. A. O hipertexto como um novo espaço de escrita em sala de aula. Linguagem & Ensino, v. 4, n. 1, p. 79-111, 2001. MOURA, Cláudio Augusto Carvalho. Na trilha do hipertexto: Ítalo Calvino e as Cidades Invisíveis. Teresina: EDUFPI, 2011. SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998. XAVIER, Antonio Carlos. Leitura, Texto e Hipertexto. In: MARCUSCHI, L. A; XAVIER, Antonio Carlos. Hipertexto e gêneros digitais: novas formas de construção de sentido. São Paulo: Cortez, 2010.
1 Juscelino NASCIMENTO, Mestrando em Letras.
Universidade Federal do Piauí (UFPI) E-mail: [email protected]